SERVIÇOS BANCÁRIOS: A DIFUSÃO DOS PABs E CORRESPONDENTES BANCÁRIOS Profª. Drª. Sandra Lúcia Videira (Departamento de Geografia) [email protected] Palavras-chave: postos de atendimento bancário, rede bancária, tecnologia, Resumo: A reestruturação econômica brasileira, iniciada na década de 1980, foi marcada por uma sucessão de planos econômicos, refletindo diretamente na rede bancária brasileira. A difusão dos Postos de Atendimento Bancário e dos Correspondentes Bancários insere-se neste contexto, em que os bancos buscam alternativas para continuar seu intenso processo de acumulação, contando também com o desenvolvimento tecnológico para suas operações. Este trabalho1 tem como objetivo discutir a proliferação dos Postos de Atendimentos Bancários e dos Correspondentes Bancários. A difusão dos Postos de Atendimentos Bancários - PABs tem como marco a década de 1980, período de uma sucessão de planos econômicos que redundaram em reflexos sobre o sistema bancário. A queda da inflação posta a partir do Plano Cruzado, impôs o fechamento de várias agências que, acostumadas à inflação de dois dígitos redundando em ganhos extraordinários, se viram deficitárias. Assim, os PABs surgem como alternativa econômica de manter um ponto para captar e reger os fluxos do capital em um determinado lugar com custos baixos. Scherer-Warren (1998) aponta em seu trabalho que algumas áreas da região Norte chegaram a apresentar um distanciamento de 270 km entre uma agência e outra (caso das cidades de Santo Antonio de Iça até Benjamin Constant). Conforme Silva (1997), os PABs “são microsespaços dos bancos no interior de uma empresa”; foram instituídos pelo Banco Central, através da Resolução 122/68, quando então denominavam-se Postos Especiais de Prestação de Serviços - PEPs. Sua difusão era limitada pelo Bacen por ser vantajoso para os bancos sua abertura, pois estes entravam apenas com os funcionários e equipamentos, já que os espaços eram cedidos por empresas que tinham como vantagem em tê-los, a segurança no transporte de suas transações e as facilidades para empréstimos. A partir de 1986, com o Plano Cruzado, a Resolução nº 1.082 de 30/01/1986 do Banco Central, passou a regulamentar a instalação e funcionamento de várias modalidades de Postos de Atendimento Bancário. Liberou a abertura destes postos, e sua denominação passou a ser PAB. Juridicamente, estes são extensão da matriz e da rede de agência, e têm como características básicas: instalações em locais fechados dentro de empresa pública ou privada, não possuindo contabilidade própria, mas vinculada a agência a que está subordinado. O crescimento do número destes postos pode ser observado no Gráfico 1, onde salta aos olhos o exponencial crescimento dos Postos Eletrônicos; no período de 5 anos (2001 a 2005) os mesmos expandem em 89,61%. É vantajoso para os bancos esta modalidade de Posto tendo em vista que eles o instalam em shopping 1 Este trabalho é um recorte de uma discussão ampliada que fizemos sobre a regulamentação do sistema bancário e financeiro no Brasil em Videira (2006). centers, farmácias, supermercados, postos de gasolina entre outros lugares de grande circulação, permitindo ao cliente acesso bancário sem a preocupação com o congestionamento das agências e, ainda, sem a obrigação de dispor de funcionário para permanência nos mesmos. GRÁFICO 1 - EXPANSÃO DO NÚMERO DOS POSTOS BANCÁRIOSBRASIL - 2000 A 2005 30.000 27.405 24.367 25.000 22.428 20.000 15.000 25.595 16.748 14.453 9.495 10.241 10.140 10.045 9.837 9.527 10.000 5.000 0 2000 2001 2002 Postos Tradicionais* 2003 2004 2005 Postos Eletrônicos Fonte: Banco Central do Brasil. * São todas as modalidades de Postos, exceto os Eletrônicos Hoje, as instituições bancárias prestam serviços mais freqüentemente por meio das seguintes dependências: agências, PAA, PAB, PAE e PAP 2, além dos correspondentes bancários. Considerando os terminais dos caixas eletrônicos, aparelhos que permitem via cartão operações dos clientes com o banco, o Brasil apresentava em 2005 grande destaque, com 140 mil terminais, atrás apenas dos EUA que possuia 371 mil3. Os Correspondentes Bancários merecem atenção tendo em vista a proliferação dos mesmos, como mostra a Tabela 1. Enquanto as agências aumentaram cerca de 6,8% entre 2000 e 2005, os correspondentes bancários expandiram-se cerca de 406,5%4. As resoluções nº 3.110 de 31/07/2003 e nº 3.156 de 17/12/2003 consolidam as normas para contratação sob responsabilidade das instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central, de empresas integrantes ou não ao SFN para desempenhar a função não principal e não exclusiva de correspondente no país prestando serviços bancários (FORTUNA, 2005). São exemplos desses correspondentes as várias farmácias, supermercados, lojas e lotéricas que passaram a exercer essa atividade paralela, algumas tendo impulsionado suas vendas em até 80% após a adesão aos serviços bancários visto 2 PAA (Posto de Atendimento Avançado), PAB (Posto de Atendimento Bancário), PAE (Posto de Atendimento Eletrônico) e PAP (Posto de Arrecadação e Pagamento Bancário). 3 Em terceiro lugar estava o Japão com 110 mil, em quarto o Reino Unido com 45.500 e em seguida a Suíça, com 5 mil (Revista Veja, 08/06/2005). 4 Em 1973 esse tipo de serviço foi identificado pela primeira vez, mas só em 1999 o termo foi cunhado pelo Banco Central, período em que começa sua expansão. Em 2000 o Banco Central acaba com a limitação dos mesmos de atuarem apenas em localidades desassistidas por bancos. o aumento de pessoas que passaram a circular nas dependências desses comércios. Mas esse não é um fenômeno estritamente nacional, a Revista dos Bancários (2006) aponta a França, Alemanha, Japão, Holanda, África do Sul e México que também lidam com correspondentes para trabalhar com a população não bancarizada. Tabela 1 – Número de agências e correspondentes bancários – Brasil – 2000/2005 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Número de agências 16.396 16.841 17.049 16.829 17.260 17.627 Correspondentes 13.731 18.653 35.511 36.474 46.035 69.546 Fonte: Banco Central do Brasil e Febraban. Embora as agências bancárias sejam o principal tipo de ponto de atendimento, esta modalidade foi ultrapassada, em número, pelo atendimento dos PAEs, ainda na década de 1990. Essa inversão era esperada tanto pelo grande avanço das inovações tecnológicas do setor, que permitiam aos bancos uma redução de custos com pessoal, como também pelo caráter restritivo dos PABs que só podem funcionar em ambientes fechados de empresas (públicas ou privadas) voltadas para um público interno. Portanto, bem pertinente a contribuição de Lerda (1996, p.239): “a crescente mobilidade e desmaterialização da moeda – hoje reduzida a pura informação eletrônica transmitida de maneira instantânea e simultânea por redes de computadores (...) faz com que as atividades dos mercados financeiros se tenham transformado em paradigma da desterritorialização das atividades, característica do processo de globalização”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro – produtos e serviços. 16ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. LERDA, Juan C. Globalização da economia e perda de autonomia das autoridades fiscais, bancárias e monetárias. In: BAUMANN, Renato (org.) O Brasil e a economia global. Rio de Janeiro: Campus/Sobeet, 1996. REVISTA DOS BANCÁRIOS. Edição 110, maio de 2006. Disponível em <http://www.spbancarios.com.br/spb/rdbmateria.asp?c=535>. Acesso em 03/07/2006. SCHERER-WARREN, Morris. Evolução dos padrões de localização dos cinco maiores bancos privados no Brasil. Relatório Final de Bolsa PIBIC - CNPq. Florianópolis (texto mimeo.), 1998. SILVA, Carlos A. Franco da. Dinâmica espacial do capital bancário - difusão, integração e crise: estudo de caso do Banco Nacional S/A. UFRJ: Tese de Doutorado em Geografia. Rio de Janeiro, 1997. VIDEIRA, Sandra L. A territorialização dos bancos estrangeiros no Brasil: o caso da rede do Santander. UNESP: Tese de Doutorado em Geografia. Presidente Prudente, 2006.