MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PRPPG Coordenadoria Geral de Pesquisa – CGP Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 – Fone/Fax (86) 215-5560 E-mail: [email protected]; [email protected] QUALIDADE NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM HIV/AIDS: CARGA DE TRABALHO REAL, IDEAL E INCIDÊNCIA DE ÚLCERA POR PRESSÃO Lanara Alves Pereira (Bolsista PIBIC/CNPq), Grazielle Roberta Freitas da Silva (Orientadora, Departamento de Enfermagem – UFPI) INTRODUÇÃO: As possibilidade de intervenções de enfermagem a pacientes portadores de HIV/AIDS sob cuidados intensivos são vastas e têm como propósito o prolongamento da vida, uma vez que o curar não representa uma alternativa no cenário atual. Entretanto, ressalta-se a necessidade de melhor descrição e quantificação destes cuidados, pela utilização de instrumentos, para que se possa planejar de forma mais adequada a assistência de enfermagem e o dimensionamento da equipe. Dentre os instrumentos capazes de mensurar a demanda de cuidados intensivos de enfermagem, temos o Nursing Activities Score (NAS), que contempla tanto as atividades assistenciais como as de suporte à família e as administrativas, é composto de 23 itens e subdividido em sete grandes categorias, as quais descrevem um conjunto de atividades de cuidados de enfermagem (QUEIJO; PADILHA, 2009). Para avaliação do risco de desenvolvimento da lesão, utilizou-se a escala de Braden, por ser o instrumento previamente validado e mais amplamente utilizado. Dessa forma, conformou-se como objetivo geral da pesquisa, analisar a assistência de enfermagem ao paciente portador de HIV/AIDS com relação à carga de trabalho de enfermagem e a incidência de úlcera por pressão. METODOLOGIA: Estudo quantitativo, descritivo realizado com 88 pacientes portadores de HIV/AIDS internados, de fevereiro a maio de 2014, nas unidades de internação adulto de uma instituição hospitalar da rede pública estadual, referência no diagnóstico e tratamento para doenças infectocontagiosas e parasitárias no município de Teresina- PI e regiões circunvizinhas. Foi aplicado um formulário contendo o NAS e a escala de Braden. Os dados foram analisados estatisticamente por meio do SPSS versão 19.0. As correlações das variáveis “diferença entre a carga real e ideal”, “média do NAS real” e “média do NAS ideal” com a variável “risco de desenvolver de UPP (Braden)” foram feitas mediante utilização do teste não paramétrico de Spearman, uma vez que as variáveis não apresentaram aderência à curva de distribuição normal. Foram considerados estatisticamente significantes os resultados cujo valor de “p” foi inferior a 0,05, intervalo de confiança para 95%. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí com CAAE nº 02750012.0.0000.5214. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos 88 pacientes, 69,3% era do sexo masculino. Esse achado reflete uma tendência epidemiológica ocorrida nos pacientes infectados pelo HIV nos últimos anos. A média de idade foi de 38,9 anos sendo a mínima de 21 anos e a máxima de 70 (DP=11,9). A maioria dos pacientes estavam na faixa etária entre 40 a 49 anos (26,1%). Nos últimos 10 anos as maiores taxas de detecção de aids foram observadas entre indivíduos com 30 a 49 anos, além de ter sido observado uma leve estabilização dos casos de HIV/Aids no grupo inserido na faixa etária de 40 a 49 anos (BRASIL, 2013). A maioria dos pacientes (40,9%) do estudo foram diagnosticados com o HIV há menos de um ano, achado semelhante ao estudo de Amâncio (2010). No tocante aos motivos de internação, observou-se que maioria dos pacientes tiveram a febre como um dos motivos que o levaram a internação hospitalar (48,9%). A febre é um evento frequente na prática clínica diária com esses pacientes e existem inúmeras causas para sua ocorrência, entre elas: infecções oportunistas, febre pelo próprio HIV e pela terapêutica (LAMBERTUCCI; ÁVILA; VOIETA, 2005). Quanto ao tempo de internação, a média obtida foi de 20,2 dias, achado diferente do trabalho de NUNES et al (2008). No que concerne às internações em decorrência do HIV, verificou-se que 63,6% dos pacientes tinham um histórico com internações prévias, semelhante a dados nacionais (FIUZA et al, 2013). Tendo em vista que as reinternações acarretam um enorme ônus aos serviços em saúde, além de causarem desconforto ao paciente e familiares, pontua-se a importância de conhecer amplamente o perfil dessa população, com vistas a prestar um melhor atendimento hospitalar e, sobretudo, planejar e orientar com mais rigor os cuidados que serão necessários após a alta, a fim de evitar reinternações não programadas (BORGES et al, 2008). Quanto à presença de doenças oportunistas, 75% dos pacientes apresentaram algumas delas, percentual esperado nessa clientela (AMORIM et al, 2011). Em relação às comorbidades, apenas 26,1% dos pacientes apresentou algum desse tipo de afecção, resultado similar a outro estudo nacional (FUKUMOTO et al, 2013). Destaca-se que desse percentual, 5,6% foram de pacientes com HAS e dependência química. Quanto ao tratamento antirretroviral (TARV), maioria dos pacientes do estudo (69,3%) faziam uso da TARV, dado que converge com o estudo de Amorim et al (2011). Em relação à adesão a TARV, apenas 29,5% faziam o tratamento com regularidade. A taxa de mortalidade observada nesse estudo (12,5%) foi parcialmente semelhante a trabalhos publicados na literatura nacional (AMÂNCIO, 2010) e pouco menor que a demonstrada na realidade internacional (POWELL et al, 2009). Nos últimos dez anos, tem-se observado uma tendência de redução na proporção de casos notificados pelo critério supracitado em ambos os sexos. A melhora do prognóstico para o paciente infectado pelo HIV, provavelmente esteja relacionada ao tempo de diagnóstico precoce, associado ao uso da TARV (BRASIL, 2013). A demanda de cuidados real, segundo o NAS, nas unidades de internação do estudo foi inferior a obtida para uma realidade ideal. A exceção foi observada na UTI, onde os valores encontrados estiveram próximos. A pequena diferença obtida, conforme o NAS, está associada aos procedimentos de mobilização e posicionamento, ação ausente em algumas das observações. Pelo fato de o estudo ter sido composto na sua maioria por pacientes internados nos blocos do hospital-campo, pode-se inferir que os cuidados com maior porcentagem estão inseridos na rotina diária dos profissionais dessas unidades de internação, que conta tanto com pacientes acamados quanto com aqueles menos dependentes do serviço, que são maioria. Contudo, são também cuidados encontrados na rotina da equipe de enfermagem atuante na UTI. As ações que contribuíram para a diferença entre a demanda real e ideal, segundo o NAS, foram: observação contínua do paciente em algum plantão por razões de segurança, gravidade ou terapia; investigações laboratoriais; realização de procedimentos de higiene, como curativo de feridas e higiene corporal do paciente; mobilização e posicionamento; tratamento para melhora da função pulmonar; medida quantitativa do débito urinário e alimentação enteral por sonda gástrica. Em relação aos escores da escala de Braden, maioria dos pacientes não apresentou nenhum risco para o desenvolvimento de UPP (70,5%) e obteve-se uma baixa incidência dessas lesões (1,1%). A demanda de cuidados de enfermagem real foi correlacionada de forma significativa com o risco de desenvolvimento de UPP. CONCLUSÃO: O presente estudo permitiu observar que pacientes portadores de HIV/AIDS exigem uma alta demanda dos cuidados de enfermagem e que a elevação dessas horas de assistência requeridas por esses pacientes aumenta a chance de ocorrência de UPP. A aplicação de instrumentos que auxiliem na adequação do dimensionamento da equipe de enfermagem a fim de garantir uma assistência segura, tando para os pacientes quanto para os profissionais, e com qualidade, torna-se imperativa quando o foco dessa atenção são pacientes de alta complexidade e elevada demanda de cuidados, como é o caso dos pacientes portadores de HIV/AIDS sujeitos deste estudo. Palavras-Chave: Carga de trabalho. HIV/Aids. Úlcera por pressão. REFERÊNCIAS: AMÂNCIO, F. F. Mortalidade e Fatores Prognósticos em Pacientes HIV Positivo Internados em Unidade de Terapia Intensiva de Hospital Especializado em Doenças Infecto-Parasitárias, Belo horizonte, Minas Gerais, Brasil. Dissertação (mestrado) - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. AMORIM, M. A. S, et al. Perfil clínico-epidemiológico de pacientes com HIV/AIDS em hospital de referência de Bahia, Brasil. Rev Enferm UFPE on line, v.5, n.6, p. 1475-482, 2011. BORGES, F. K, et al. Reinternação hospitalar precoce: avaliação de um indicador de qualidade assistencial. Revista HCPA, v.28, n.3, p. 147-52, 2008. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Recomendações para terapia anti-retroviral em adultos infectados pelo HIV. Ano II, nº01. Brasília (DF): Ministério da Saúde; Secretaria de Vigilância em Saúde; Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, 2013. FUKUMOTO, A. E. C. G, et al. Evolution of patients with aids after cart: clinical and laboratory evoluition of patients with aids after 48 weeks of antiretroviral treatment. Rev Inst Med Trop, v.55, n.4, p. 267-273, 2013. LAMBERTUCCI, J. R, ÁVILA, R. E, VOIETA, I. Febre de origem indeterminada em adultos. Rev Soc Bra Med Trop, v.38, n.6, p. 507-513, 2005. NUNES, A. A. et al. Perfil clínico- epidemiológico de pacientes com HIV/AIDS internados em um hospital de ensino do Brasil. Rev Panam Infectol, v.10, n.3, p. 26-31, 2008. POWELL, K. et al. Survival for patients with HIV admitted to the ICU continues to improve in the current era of combination antiretroviral therapy. Chest, v.135, n.1, p. 11-7. 2009. QUEIJO, A. F.; PADILHA, K. G. NURSING ACTIVITIES SCORE (NAS): adaptação transcultural e validação para a língua portuguesa. Rev. esc. enferm. USP, v. 43, n. esp, p.1009-1016. 2009.