Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em

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Revisão da Literatura
Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos:
Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
Nasal Squamous Cell Carcinoma in Felines: Why Choose the Surgical
Treatment?
Simone Domit GUÉRIOS1
Melissa dos Santos PÊS2
Fabíola Vosnika GUIMARÃES3
Rogério Ribeiro ROBES4
Sabrina Marin RODIGHERI5
Thaís Rodrigues MACEDO6
GUÉRIOS, S.D.; PÊS, M. dos S.; GUIMARÃES, F.V.; ROBES, R.R.; RODIGHERI, S.M.; MACEDO, T.R. Carcinoma de células escamosas
do plano nasal em felinos: por que optar pelo tratamento cirúrgico? MEDVEP – Rev Científ Med Vet Pequenos Anim Anim Estim,
Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, jul./set. 2003.
A maioria das neoplasias do trato respiratório superior é maligna em gatos. O carcinoma de células escamosas
é a neoplasia cutânea mais comum em felinos. O objetivo do tratamento cirúrgico é ressecar a neoplasia com
ampla margem de segurança, bem como obter tecidos para realização de exame histopatológico. Os sinais
clínicos apresentados pelos gatos acometidos podem mimetizar infecções crônicas do trato respiratório,
sendo importante o diagnóstico diferencial. O objetivo desta revisão é demonstrar a simplicidade e as vantagens do procedimento cirúrgico de resseção bilateral do plano nasal, no tratamento das lesões causadas
pelo carcinoma de células escamosas do plano nasal em felinos.
PALAVRAS-CHAVE: Neoplasias de células escamosas/veterinária; Neoplasias nasais/cirurgia; Felinos.
1
MV, MS, Professora de Técnica Cirúrgica, Departamento de Medicina Veterinária – UFPR; Rua dos
Funcionários, 1540, Juvevê – CEP 80050-035, Curitiba, PR; e-mail: [email protected]
2
Acadêmica de Medicina Veterinária, Monitora de Técnica Cirúrgica – UFPR; e-mail: [email protected]
3
MV, MS, Clínica Veterinária Vita di Cani; e-mail: [email protected]
4
Médico Veterinário, Hospital Veterinário – UFPR; e-mail: [email protected]
5
Acadêmica de Medicina Veterinária – UFPR; e-mail: [email protected]
6
Acadêmica de Medicina Veterinária – UFPR; e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
A maioria dos tumores do trato respiratório em gatos são malignos e ocorrem principalmente na
cavidade nasal e nos seios paranasais (GASKELL, 1985; CARPENTER, ANDREWS & HOLZWORTH, 1987;
MedveP - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos: Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
WOLF, 1993; LEVY & FORD, 1994). O carcinoma de células escamosas é uma neoplasia maligna que surge
a partir das células do epitélio escamoso, consistindo
no tipo mais comum de tumor de pele em felinos
(WHITE, 1991; SUSANECK, 1992; LEVY & FORD, 1994).
Normalmente, a forma cutânea do carcinoma de células escamosas localiza-se na cabeça, especialmente em
áreas pouco pigmentadas e pobres em pêlos, como as
orelhas, plano nasal, lábios e pálpebras (WHITE, 1991;
GOLDSMIDT & SHOFER, 1992; SUSANECK, 1992). Este
tipo de neoplasia possui cresci­mento lento, podendo
transcorrer longos períodos até que o animal seja encaminhado para avaliação clínica (WHITE, 1991; LEVY
& FORD, 1994). O carcinoma possui comportamento
agressivo, sendo extremamente invasivo e podendo
provocar deformação facial nos gatos acometidos
(GASKELL, 1985; SUSANECK, 1993; SCOTT et al., 1995).
Apesar disso, o potencial para metástases é baixo
(SUSANECK, 1992: SCOTT et al., 1995).
Os animais afetados, na sua maioria, apresentam
idade avançada (STANNARD & PULLEY, 1978; WITHROW,
2001). O desenvolvimento das lesões está associado com
exposição continuada à radiação ultravioleta emitida
pela luz solar (WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992;
NELSON & COUTO, 1998; WITHROW, 2001). A ocorrência
do tumor é mais comum em regiões de clima quente,
bem como em gatos que têm acesso à rua (SUSANECK,
1992).
O tratamento de escolha para as lesões provocadas pelo carcinoma de células escamosas é a cirurgia
de resseção bilateral do plano nasal (GASKELL, 1985;
WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992; SUSANECK,
1993; NELSON & COUTO, 1998). Este tipo de tumor,
normalmente, é pouco responsivo à radioterapia ou à
quimioterapia isolada­mente, principalmente se houver ocorrido invasão óssea (CARPENTER, ANDREWS
& HOLZWORTH, 1987; SUSANECK, 1993; WOLF, 1993).
Apesar disso, os gatos com deformações faciais, envolvimento ósseo ou metástases não devem ser excluídos
do tratamento cirúrgico associado à radioterapia ou
quimioterapia (WHITE, 1991; SUSANECK, 1993; McKIEMAN, 1997).
Esta revisão tem como objetivos trazer informações relevantes sobre o carcinoma de células escamosas
do plano nasal em gatos; demonstrar a viabilidade e as
vantagens do procedi­mento cirúrgico de resseção bilateral do plano nasal em gatos com carcinoma de células
escamosas, em relação a outros tratamentos, bem como
a adaptabili­dade por parte do animal e a aceitabili­dade
do proprietário no que concerne à aparência estética
do paciente após a cirurgia.
Biologia
Histologicamente, as lesões consis­tem em áreas
bem demarcadas, com infiltração de queratinócitos e
204
formação intracelular de queratina (SUSANECK, 1992;
BAER & HELTON, 1993; SERAKIDES, 2000). A neoplasia
é maligna e surge a partir das células do epitélio escamoso (WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992;
LEVY & FORD, 1994). As células neoplásicas estão
inicialmente confinadas ao epitélio, sem invasão da
derme (BAER & HELTON, 1993). O diâmetro das lesões
varia, geralmente, em torno de 0,5cm, aumentando e
invadindo outros tecidos à medida que o tumor cresce
(WILLIS, 1960; BAER & HELTON, 1993; SUSANECK, 1993;
WOLF, 1993).
Na maioria das vezes, as lesões causadas pelo
carcinoma de células escamosas são solitárias, porém
podem apresentar-se em múltiplos locais, sendo denominado carcinoma multicêntrico (BAER e HELTON,
1993). A neoplasia é extremamente invasiva, mas de
crescimento lento e com baixo potencial para metástases. Estas, quando ocorrem, localizam-se geralmente
nos pulmões e linfonodos regionais (STANNARD &
PULLEY, 1978; GASKELL, 1985; WHITE, 1991; SUSANECK,
1993; LEVY & FORD, 1994).
O carcinoma de células escamosas pode estar
associado a neoplasias benignas, como o papiloma.
Quando isto ocorre, a neoplasia benigna tende à malignização (FERREIRA et al., 2002; KLIMEC et al., 2002).
As neoplasias do plano nasal são bastante comuns em felinos (BAER & HELTON, 1993; LEVY & FORD,
1994). O carcinoma de células escamosas representa
15% dos tumores cutâneos dos gatos (LEITE et al.,
2002). Os animais afetados são tipicamente idosos,
com áreas de pelagem clara. Vivem em regiões de clima quente e têm acesso à rua, expondo-se constantemente ao sol (THEILEN & MADEWELL, 1987; BEDFORD,
1992; FOOSHEE, 1991; LEITE et al., 2002).
Sinais clínicos
O carcinoma de células escamosas é geralmente
solitário e apresenta-se na forma de lesões erosivas
com bordas irregulares e endurecidas (Figura 1) (WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992; SUSANECK,
1992; LEITE et al., 2002). Os locais mais comumente
afetados são aqueles de pelagem clara e com pouca
cobertura de pêlos, principalmente o ápice das orelhas,
plano nasal, lábios e região das pálpebras (WHITE,
1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992; SUSANECK, 1992;
LEITE et al., 2002).
Os animais afetados pela doença apresentam
geralmente idade superior a cinco anos, sendo ela
mais comumente observada naqueles de idade entre nove e quinze anos (STANNARD & PULLEY, 1978;
CARPENTER et al., 1987; SUSANECK, 1992; WITHROW,
2001). Inicialmente, ocorre pigmentação das áreas
afetadas (WHITE, 1991; SUSANECK, 1992). O animal
sente desconforto e coça constantemente a lesão,
que tende a ulcerar (WHITE, 1991; SUSANECK, 1992;
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e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos: Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
LEITE et al., 2002). Devido à ulceração freqüente das
lesões neoplásicas, a ocorrência de infecção bacteriana secundária é bastante comum (GASKELL, 1985;
WHITE, 1991; SUSANECK, 1992; LEVY & FORD, 1994).
Nos casos em que a neoplasia envolve as pálpebras
e a região periocular, observam-se freqüentemente
blefaroespasmo e secreção ocular (SUSANECK, 1993;
LEVY & FORD, 1994). O carcinoma de células esca­
mosas do plano nasal está associado a sinais clínicos
como corrimento nasal e ocular, epistaxe, respiração
ruidosa nos casos mais graves, apatia e perda de peso.
A exoftalmia não é muito comum, mas pode ocorrer
em alguns casos (THEILEN & MADEWELL, 1987; WHITE,
1991; BEDFORD, 1992; SUSANECK, 1992; LEVY & FORD,
1994). Há a possibilidade de ocorrer invasão óssea,
podendo culminar em alterações como destruição do
turbinado nasal, erosão do osso vômer, destruição do
maxilar, osso frontal, palato ou zigomático (THEILEN
& MADEWELL, 1987; SUSANECK, 1993; LEVY & FORD,
1994). Nestes casos é comum observar deformidade
e assimetria facial (THEILEN & MADEWELL, 1987; LEVY
& FORD, 1994; SALISBURY, 1998).
Diagnóstico
O diagnóstico de carcinoma de células escamosas tem início com história, anamnese e exame físico
completo, evidenciando os sinais clínicos e fatores
predisponentes característicos da neoplasia (CROW,
1992; SUSANECK, 1993; LEVY & FORD, 1994; OGILVIE
& MOORE, 1995). O diagnóstico definitivo só poderá
ser obtido através do exame histopatológico (WOLF,
1993; OGILVIE & MOORE, 1995). O exame citológico
da lesão neoplásica por técnica de impressão ou
biópsia aspirativa por agulha fina também pode ser
de auxílio diagnóstico, porém a melhor técnica para
diagnóstico definitivo é a biópsia excisional (WOLF,
1993; WOLF, 1996).
Exames como a rinoscopia, radiografias de
cabeça (plano nasal e seios frontais) e tomografia
computadorizada auxiliam o diagnóstico (OGILVIE &
MOORE, 1995; FOSSUM, 1997). A destruição e proliferação óssea, assim como alterações na densidade de
tecidos moles, são sugestivas de neoplasia (OGILVIE &
MOORE, 1995; CARPENTER et al., 1987). O exame radiográfico, além de auxiliar na determinação da extensão
tumoral, direcionando procedimen­tos como cirurgia
e biópsia, também denuncia alterações nos ossos da
face (SUSANECK, 1993; LEVY & FORD, 1994; OGILVIE &
MOORE, 1995).
Como diagnóstico diferencial, devem ser considerados casos de rinite crônica, doenças virais como a
imunodeficiência felina, infecções fúngicas ou bacterianas do plano nasal, pólipos nasofaríngeos, afecções
da cavidade oral e lesões traumáticas (GASKELL, 1985;
SUSANECK, 1993; FOSSUM, 1997). Para pesquisa de rini-
te fúngica, realiza-se cultura da secreção nasal (OGILVIE
& MOORE, 1995). As culturas bacterianas raramente são
de valor diagnóstico, devido à ocorrência freqüente de
infecção bacteriana secundária associada aos casos de
neoplasia (OGILVIE & MOORE, 1995).
Antes da realização dos procedimentos de biópsia e rinoscopia, os testes para investigar desordens
nos mecanismos de coagulação ou alterações sistêmicas devem ser realizados (OGILVIE & MOORE, 1995).
O fundamental para se obter o diagnóstico de
carcinoma de células escamosas do plano nasal é a
obtenção adequada de tecido para a histopatologia.
Isto pode ser feito durante o procedimento cirúrgico, através da biópsia excisional (OGILVIE & MOORE,
1995).
Apesar da ocorrência de metástases ser rara, os
pulmões devem ser radiografados e os linfonodos palpados e biopsiados, quando aumentados de tamanho
(WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992; SUSANECK,
1992; LEVY & FORD, 1994).
Tratamento
A resseção bilateral do plano nasal é o tratamento de escolha para as lesões causadas pelo carcinoma
de células escamosas (GASKELL, 1985; WHITE, 1991;
SUSANECK, 1993; NELSON & COUTO, 1998; WITHROW,
2001). Quando não for possível a remoção completa
do tumor ou houver presença de metástases, o tratamento cirúrgico é associado com radioterapia ou
quimioterapia (Quadro 1) (SUSANECK, 1992; MOORE,
1995; MOULTON et al., 1995, CHABNER et al., 1996;
MCKIEMAN, 1997; NELSON & COUTO, 1998). A radioterapia é feita utilizando-se cobalto 60 (SALISBURY,
1998). O tratamento quimioterápico pode ser feito
através da administração de carbopla­tina, doxorrubicina, vincristina ou ciclofosfamida, existindo várias
opções para o protocolo quimioterápico (Quadro 2)
(CROW, 1992; JACOBS et al., 1992; KIRK & BONAGURA,
1992; BAER & HELTON, 1993; OGILVIE & MOORE, 1996;
VANVECTHTEN et al., 1996; GILSON; 1998; CHUN et al.,
2001). Outras opções de tratamento incluem criocirurgia, imunoterapia, fotossensibili­zação, hipertermia
e eletrocirurgia (THEILEN & MADEWELL, 1987; SCOTT
et al., 1996; MAGNE et al., 1997).
Pré-operatório
Os procedimentos pré-operatórios incluem
jejum alimentar de doze horas e hídrico de duas a
seis horas (SALISBURY, 1998). Também recomen­da-se
a reali­zação de exames como hemograma, perfil bioquímico completo, testes de coagulação, radiografias
da cabeça e do tórax, citologia da lesão tumoral e dos
linfonodos que se apresentarem com aumento de
volume à palpação (OGILVIE & MOORE, 1995).
MedveP - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
205
Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos: Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
Técnica cirúrgica
A cirurgia não está limitada ao tratamento
primário do carcinoma de células escamosas. Esta
também pode ser usada para a redução da extensão
tumoral, sendo denominada cirurgia citorredutora
(ROSEMBERG, 1987; GILSON, 1998).
O tratamento cirúrgico através da resseção
bilateral do plano nasal é o que apresenta melhor
prognóstico para os casos de carcinoma de células
escamosas localizados no plano nasal, em que é
possível a remoção completa do tumor (GASKELL,
1985; WHITE, 1991; GOLDSMIDT & SHOFER, 1992;
SUSANECK, 1993).
Depois de ser realizada a depilação ampla da área
afetada o paciente deve ser posicionado em decúbito
esternal com elevação da cabeça (Figura 2). Procedese à anti-sepsia e posiciona­mento do campo cirúrgico
(Figura 3). Na seqüência, realiza-se a incisão da pele e
cartilagem ao redor do plano nasal, em ângulo de 45°
com o palato duro (SALISBURY, 1998). É extremamente
importante que se remova ao menos 1cm de bordas
de tecido normal sob todos os aspectos (SALISBURY,
1998). A incisão pode ser estendida até a comissura
labial, de acordo com a extensão da lesão (Figura 4). A
hemorragia do plano nasal tende a ser profusa e pode
QUADRO 1: Agentes antineoplásicos indicados para o tratamento quimioterápico do carcinoma de células escamosas em felinos.
AGENTE
MODO DE AÇÃO
TOXICIDADE
COMENTÁRIOS
Ciclofosfamida Insere radical na Medula óssea, trato gastrintestinal, Metabolizado pelo fígado e tecidos
periféricos. superfície do DNA.
cistite
hemorrágica estéril. Excretado principalmente por via renal.
Doxorrubicina
Inibição do DNA, RNA e síntese protéica.
Possibilidade de anafilaxia, cardiotoxicidade, trombocitopenia.
Mitoxantrone
Inibição do DNA, RNA e síntese protéica.
Medula óssea, trato gastrintestinal. Pode apresentar efeito de cardiotoxicidade.
Carboplatina
Ligação entre as fitas de DNA.
Medula óssea e trato gastrintestinal. Usar com cuidado em animais nefropatas.
Vincristina
Inibição da mitose celular.
Excretado principalmente pelo fígado.
Medula óssea, trato gastrintestinal, Primariamente excretado pelo fígado.
neuropatia periférica, constipação.
QUADRO 2: Protocolos quimioterápicos utilizados no tratamento do carcinoma de células
escamosas em felinos.
PROTOCOLO
TERAPIA
Vincristina
0,5mg/m², IV, uma vez por semana.
Ciclofosfamida
50mg/m², PO, quatro vezes por semana.
0,5mg/m², IV, nos dias 8, 15, 22.
20-30mg/m², IV, no dia 1.
50mg/kg, PO, nos dias 15, 16, 17, 18.
VAC (ciclo de 28 dias)
Vincristina
Doxorrubicina
Ciclofosfamida
MIC (ciclo de 21 dias)
Mitoxantrone
Ciclofosfamida
4-6mg/m², IV, gotejando por 4 horas no dia 1.
200-300mg/m² PO no dia 10.
4-6mg/m², IV, gotejando por 4 horas no dia 1.
200-300mg/m² PO no dia 10.
0,5-0,6mg/m², IV, nos dias 8, 15.
MICO (ciclo de 21dias)
Mitoxantrone
Ciclofosfamida
Vincristina
Carboplatina .
200-240mg/m², IV, quatro vezes por semana, durante
três semanas
Fonte: Nelson & Couto, 1998
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e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos: Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
ser controlada por compressão indireta ou eletrocoagu­
lação. Após a hemostasia, a síntese é realizada com sutura
interrompida simples, envolvendo a pele e o tecido ao
redor das margens. O fio utilizado é o polipropileno n°4-0
(Figura 5) (SALISBURY, 1998).
Pós-operatório
A sutura é removida duas semanas após o
procedimento cirúrgico e o paciente normalmente é
anestesiado para este procedimento (Figura 6). No período pós-operatório, o animal permanece com o colar
elisabetano para que não interfira na ferida cirúrgica,
sendo mantido em observação quanto a possíveis
complicações, como hemor­ragia ou anorexia, por um
a dois dias (SALISBURY, 1998).
A antibioticoterapia nos períodos pré, trans e
pós-operatório é importante para evitar a ocorrência
de infecção bacteriana secundária ou mesmo para
controlar uma possível infecção já instalada (SALISBURY, 1998).
As complicações pós-operatórias mais comuns
são a deiscência de sutura, hemorragia, estenose das
FIGURA 1: Lesão ulcerada envolvendo plano nasal e lábio
superior em paciente com carcinoma de células escamosas.
FIGURA 2: Paciente sob anestesia geral inalatória, preparado
para cirurgia asséptica, em decúbito esternal e com elevação da
vias aéreas e metástases (WHITE, 1991; SALISBURY,
1998; SUSANECK, 1992). O acompa­nhamento do paciente por longo período é de extrema importância,
sendo que este deverá ser avaliado em 1, 3, 6, 9 e 12
meses após a cirurgia para observar a ocorrência de
possíveis complicações ou metástases (SALISBURY,
1998).
Os animais submetidos à cirurgia, especialmente
os gatos, tendem a estressar-se. O primeiro sinal de
estresse é a hiporexia. Como tentativa de minimizar
este problema pode-se manter o animal com sonda
gástrica para alimentação enteral durante o período
pós-operatório. A diminuição do apetite pode ser
causada por várias situações, incluindo estresse, alterações sistêmicas, cirurgia e inflamação. A nutrição
inade­quada em associação com qualquer distúrbio
sistêmico pode levar a inúmeras complicações, dentre
elas, queda da imunidade, retardo na reparação de
tecidos, fraqueza muscular, decréscimo de peso e óbito
(ABOOD et al., 1993).
O prognóstico para os pacientes tratados cirurgicamente geralmente é bom. O animal adapta-se
rapidamente à sua nova condição e sua aparência
FIGURA 3: Campo cirúrgico posicionado para realização da
resseção bilateral do plano nasal.
FIGURA 4: Aspecto da ferida cirúrgica após a resseção do plano
nasal e comissura labial superior.
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e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
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Carcinoma de Células Escamosas do Plano Nasal em Felinos: Por Que Optar pelo Tratamento Cirúrgico?
que este método de tratamento é superior aos demais
devido à simplicidade da cirurgia, baixo potencial para
complicações e excelente prognóstico.
GUÉRIOS, S.D.; PÊS, M. dos S.; GUIMARÃES, F.V.; ROBES, R.R.;
RODIGHERI, S.M.; MACEDO, T.R. Nasal squamous cell carcinoma
in feline: why choose the surgical treatment? MEDVEP – Rev Científ
Med Vet Pequenos Anim Anim Estim, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209,
jul./set. 2003.
Tumors of the respiratory system in cats are usually
malignant. Squamous cell carcinoma is the most
common skin cancer in cats. The aim of the surgical
treatment is to perform a complete excision, and to
determinate the histological type of disease. Clinical
signs are similar to chronic respiratory diseases, and
it is important to obtain the differential diagnosis.
The aims of this review are to show the simplicity and
the advantages of the surgical excision of the nasal
planum as a treatment of squamous cell carcinoma
in cats.
FIGURA 5: Sutura interrompida simples com fio polipropileno
cosmética após a cirurgia geralmente é muito bem
aceita pelo proprietário (Figura 7). O período de
sobrevida sem recorrência tumoral pode variar
de 8 a 27 meses, sendo que muitos pacientes não
tornam a apresentar a neoplasia (SCOTT et al., 1995;
SALISBURY, 1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recomenda-se o tratamento cirúrgico para os
casos de carcinoma de células escamosas do plano
KEYWORDS: Neoplasms, squamous cell/veterinary; Nose
neoplasms/surgery; Feline.
REFERÊNCIAS
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FERREIRA, E.B.C. et al. Ressecção endoscópica de papiloma invertido. In: 2°
FIGURA 6: Aparência da ferida cirúrgica com 15 dias de pósoperatório, no momento da remoção da sutura.
nasal em felinos, sempre que possível. Deve ser feita a
avaliação prévia das condições do paciente e pesquisas
a respeito da ocorrência de metástases ou do envolvimento dos ossos da face pelo tumor. Pode-se concluir
208
FIGURA 7: Paciente 6 meses após intervenção cirúrgica.
MedveP - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
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Recebido para publicação em: 12/03/03
Enviado para análise em: 21/03/03
Aceito para publicação em: 28/04/03
MedveP - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais
e Animais de Estimação, Curitiba, v.1, n.3, p.203-209, 2003
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