01 Porifera

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PORIFERA
——————————
1.1. PORIFERA
CARACTERÍSTICAS GERAIS E MORFOLOGIA
Os Porifera (do grego πόρος, vaso, passagem e
do latim fere, portar), ou esponjas, são os
organismos metazoários estruturados de modo
menos complexo. As suas células não se
diferenciam segundo os tipos que normalmente se
encontram nos metazoários, nem se organizam de
modo a formarem verdadeiros tecidos, conservando
uma enorme independência funcional (i.e.,
apresentam células totipotentes). Não possuem
órgãos internos, boca, aparelho digestivo ou
sistema nervoso. São, por isso, considerados
parazoários, animais constituídos por células e não
por tecidos, um modo de organização intermédio
entre os protozoários, unicelulares, e os
organismos
multicelulares
"verdadeiros",
os
eumetazoários.
Fig. 1.1 Morfologia da parede das esponjas e seus três tipos básicos de organização. Adaptado de MCKINNEY (1991).
Departamento de
GEOLOGIA
PORIFERA
Ao tipo de organização dos poríferos acima
descrito dá-se o nome de ascon. O tipo sicon é
constituído pelo agrupamento em torno de um eixo,
na mesma esponja, de um número variável de
unidades ascon, desembocando numa nova
cavidade central comum, o paragáster. Por sua vez,
da associação de unidades sicon resulta um novo
tipo de organização, o mais complexo, denominado
leucon (Fig. 1.1).
Na sua expressão mais simples uma esponja
apresenta-se como um corpo cilíndrico, erecto,
provido de uma cavidade central, denominada
paragáster, e de uma abertura exalante no topo, o
ósculo (Fig. 1.1). A parede da esponja consiste de
duas camadas de células – interna (endoderme) e
externa (ectoderme) – envolvendo uma outra, de
consistência gelatinosa e não celular, denominada
mesogleia. A parede da esponja apresenta-se
perfurada por inúmeros pequenos poros inalantes
Fig. 1.2 Tipos de espículas de esponjas e alguns exemplos. A ampliação é variável, mas as microscleras são bastante
mais pequenas que as macroscleras. Adaptado de MCKINNEY (1991).
ou ostíolos. A água penetra no corpo do animal
através dos poros inalantes, percorre um sistema
de canais até chegar a uma câmara (neste caso a
cavidade central) onde é filtrada, sendo de seguida
expelida através do ósculo. A circulação da água no
interior da esponja é mantida por inúmeras células
flageladas endodermais com colar protoplásmico –
coanócitos – que atapetam a cavidade interna do
seu corpo e são, antes de mais, responsáveis pela
captura e ingestão das partículas alimentares. A
água, na sua passagem, fornece à esponja
partículas orgânicas nutritivas (bactérias e algas
unicelulares, por exemplo) e oxigénio e arrasta para
o exterior os resíduos não assimiláveis.
As esponjas possuem, geralmente, esqueleto
interno que pode ser constituído por material
proteico córneo, com composição próxima da da
seda – esponjina – e/ou por espículas, escleras ou
escléritos, calcários (calcite) ou siliciosos (opala). As
espículas são segregadas por células esqueletógenas especiais, os esclerócitos, e a sua forma
e dimensões são bastante variadas (Fig. 1.1-1.2).
As dimensões das espículas variam de
poucas micras até alguns centímetros. As espículas
de
maiores
dimensões
denominam-se
macroscleras e as de menores dimensões,
microscleras. As macroscleras constituem o
principal elemento esquelético dos poríferos,
2
PORIFERA
podendo coalescer e dar origem a uma carcaça
esquelética de diversos tipos denominada rede. As
microscleras encontram-se disseminadas no seio da
esponja, na mesogleia, isoladas umas das outras.
Classe Calcispongea [= Calcarea]
Esponjas marinhas com esqueleto calcário, calcítico.
Espículas tipicamente monoaxónicas e/ou tetraxónicas,
normalmente
separadas,
não
originando
redes.
Tipicamente, apresentam espículas de uma única
dimensão.
A forma das espículas é definida quer pelo
número de eixos, quer pelo número de raios e pelo
tipo de terminação destes. Segundo o número de
eixos, as espículas podem ser mono-, tri-, tetra-, e
poliaxónicas. Segundo o número de raios são
conhecidas espículas birradiadas (monoaxónicas),
tetrarradiadas (tetraxónicas), tri-, penta- e hexarradiadas (triaxónicas), etc. (Fig. 1.2).
Câmbrico - actualidade.
Classe Sclerospongea
Esponjas coloniais com esqueleto basal calcário
laminar coberto por tecido vivo que segrega microscleras
siliciosas e fibras de espongina. Em muitas destas
esponjas existem sistemas de canais dendríticos que
confluem em elevações à superfície da colónia.
A terminação dos raios pode ser afilada,
arredondada ou radiculada (em forma de raiz).
Neste último caso, as espículas aparentam não
obedecer a nenhum plano estrutural definido,
designando-se por dêsmas. Na realidade, as
variadas formas destas dêsmas siliciosas derivam
de espículas mono e tetraxónicas e resultam do
crescimento irregular de agregados e de ramos de
sílica. As dêsmas unem-se entre si, dando origem a
um tipo especial de esqueleto reticulado denominado rede pétrea ou lististida.
Ordovícico - actualidade.
?Classe Stromatoporoidea [= Stromatoporata]
Organismos coloniais aparentados a esponjas,
possuidores de esqueleto basal calcário laminar. Não
possuem microscleras siliciosas.
Esqueleto carbonatado constituído, basicamente, por
lâminas paralelas ao substrato e pilares perperdiculares
às lâminas.
CLASSIFICAÇÃO
(?Câmbrico médio) Ordovícico médio - Cretácico
(?Oligocénico).
A classificação das esponjas actuais baseia-se,
fundamentalmente, nos seus tecidos moles e,
também, no esqueleto mineralizado. No estado
fóssil apenas se conserva o esqueleto mineralizado,
daí que a sua classificação se baseie na
composição do esqueleto, na forma das espículas e
no tipo de rede esquelética por elas gerado.
PALEOECOLOGIA
Os espongiários são, na sua maioria,
organismos marinhos, solitários ou coloniais,
epibentónicos sésseis, obtendo as partículas
nutritivas de que se alimentam por filtragem da água
em que esses nutrientes se encontram em
suspensão - organismos suspensívoros, filtradores.
Filo Porifera
(?Proterozóico) Câmbrico – actualidade
Classe Demospongea
Actualmente, são mais abundantes em
profundidades inferiores a 100m, mas podem ser
encontradas a grandes profundidades, nos fundos
abissais.
Esponjas com esqueleto de esponjina, silicioso ou
misto. Espículas mono, tetraxónicas (dêsmas) ou
poliaxónicas, mas nunca triaxónicas, normalmente, de
duas dimensões (micro e macroscleras). Quando o
esqueleto é silicioso e se se encontra fundido em rede
litistida ou pétrea é frequente originarem fósseis bem
preservados.
Organismos
marinhos,
salobros
e
dulciaquícolas.
De salientar a existência de esponjas
endobentónicas endolíticas, as clionas (família
Clionidae). Estas esponjas perfuram substratos
mineralizados de natureza carbonatada, sejam eles
litificados ou de origem biológica, biogénicos
(conchas, etc.), construindo um intrincado sistema
de galerias e câmaras globulares por onde fazem
circular a água a ser filtrada.
As estrututras
bioerosivas (perfurações, galerias e câmaras)
originadas pelas esponjas da família Clionidae são
atribuídas ao icnogénero Entobia BRONN.
(?Proterozóico) Câmbrico - actualidade.
Classe Hyalospongea [= Hexatinellida]
Esponjas marinhas de profundidade, com esqueleto
silicioso, normalmente formado por espículas triaxónicas,
hexarradiadas, frequentemente fundidas em rede.
Espículas, normalmente, de duas dimensões (micro e
macroscleras). É frequente originarem fósseis bem
preservados, pois o esqueleto é silicioso e pode
encontrar-se fundido em rede.
Durante o Paleozóico e o Mesozóico as esponjas
constituem um grupo exclusivamente marinho.
Apenas do Cenozóico surgem as primeiras
esponjas de água salobra e doce.
(?Proterozóico) Câmbrico superior - actualidade.
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PORIFERA
Fig. 1.3 Formas de crescimento das colónias de estromatoporóides, em secção transversal, tal como habitualmente
surgem no campo. Adaptado de KERSHAW (1988).
IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA
circunstâncias, origina-se um tipo específico de
rocha siliciosa biogénica denominado espongolito
(ou espiculito, segundo os autores de língua
inglesa).
Os primeiros vestígios inequívocos de
organismos do filo Porifera surgem em rochas do
Câmbrico inferior e persistem até à actualidade.
Os espongolitos são rochas ricas em sílica (6498%), consolidadas, compactas, de cor clara e
pouco densas, reconhecendo-se facilmente pela
aderência intensa, quando colocadas em contacto
com a língua, o que resulta da sua elevada
porosidade e extrema desidratação. É o caso do
espongolito miocénico médio de Mem Moniz,
localidade próxima de Albufeira, no Algarve.
Os Porifera, e talvez os Parazoa, não são
directamente aparentados com os eumetazoários
(cnidários e celomados) e, provavelmente, surgiram
a partir de antepassados unicelulares de forma
independente.
Devido à sua proximidade dos organismos
unicelulares e à simplicidade da sua estrutura,
alguns autores sustentam que os poríferos teriam
aparecido já no Proterozóico superior. Com efeito,
em sedimentos Rifeianos e Vendianos surgem
vários elementos mineralizados semelhantes a
espículas, bem como estruturas que lembram a
esponjina. Contudo, não é de excluir que estes
elementos tenham origem inorgânica.
Baseando-se nos padrões de distribuição das
esponjas segundo a profundidade, o estudo dos
espongolitos pode fornecer dados importantes sobre
a batimetria e o hidrodinamismo dos mares em que
esses organismos viveram, bem como sobre
aspectos da sedimentação, da diagénese, etc.
ESTUDO DOS PORIFERA FÓSSEIS
A distribuição horizontal dos fósseis de esponjas
é
muito
inconstante,
apresentando
forte
dependência facial, e, além disso, não são
prontamente identificáveis. Consequentemente, a
sua utilidade biostratigráfica é muito reduzida,
podendo, contudo, em circunstâncias excepcionais,
ser
utilizados
como marcadores
para
o
reconhecimento de determinados horizontes ou até
como “fósseis-guia” (principalmente no Jurássico e
no Cretácico), em especial quando são abundantes.
Normalmente, apenas as esponjas com
esqueleto
mineralizado
fossilizam.
Mesmo
possuindo esqueleto mineralizado estes animais
raramente são preservadas como um todo coerente:
após a morte do organismo a esponjina degrada-se
e o esqueleto mineralizado (caso não esteja
organizado em rede) dissocia-se em espículas
individuais, constituindo estas o principal registo
fóssil das esponjas.
A acumulação pós-morte dos elementos
esqueléticos desagregados das esponjas siliciosas
(espículas) pode, por vezes, ser de tal modo
importante que chega a constituir parte significativa
do sedimento, podendo facilmente ser observadas
em lâmina delgada ou em esfregaço. Nestas
Por outro lado, a forma externa do corpo das
esponjas não é uma característica específica, pois
pode variar bastante (intraspecificamente) em
4
PORIFERA
Fig. 1.4 Morfologia dos estromatoporóides. Adaptado de MCKINNEY (1991).
– e era controlado por factores muito diversos:
genética, tipo de substrato, velocidade de
sedimentação e hidrodinamismo (Fig. 1.3).
função dos parâmetros ambientais a que os animais
estão sugeitos (hidrodinamismo, iluminação, etc.).
Assim, e uma vez que a classificação dos
Porifera fósseis se baseia nas características do
esqueleto mineralizado, estes são estudados,
normalmente, em lâmina delgada, preparando um
esfregaço de espículas dissociadas ou observandoas isoladamente. As espículas isoladas podem ser
obtidas desagregando a matriz em que se
encontram com a ajuda de ácidos (nítrico ou
clorídrico).
O esqueleto colonial dos estromatoporóides (o
cenosteum) tem, normalmente, uma composição
carbonatada. Em termos gerais o cenosteum é
constituído por lâminas horizontais paralelas,
aplanadas ou onduladas, e por pilares verticais
mais ou menos alongados (Fig. 1.4). Esta estrutura
confere ao esqueleto colonial, em lâmina delgada
ou em superfícies maceradas naturalmente, um
aspecto finamente reticulado.
Os espaços definidos pelas lâminas horizontais e
os pilares verticais denominam-se galerias, que se
supõe terem albergado os tecidos moles do
organismo que ocupavam uma camada superficial
do esqueleto colonial com apenas alguns milímetros
de espessura (KERSHAW, 1988).
1.2. STROMATOPOROIDEA
CARACTERÍSTICAS GERAIS E MORFOLOGIA
Os Stromatoporoidea (do grego στρώμα, tapete,
πόρος, vaso, passagem e óide, ter aspecto de)
constituem um grupo extinto de organismos
marinhos coloniais, descritos pela primeira vez por
Goldfuss, em 1826, cujo posicionamento sistemático
é, ainda, algo controverso.
Esta estrutura é muito variável, em alguns
espécimes dominam as lâminas, noutros as
estruturas verticais e a classificação dos
estromatoporóides baseia-se, fundamentalmente,
nestas diferenças.
A superfície da colónia pode, também,
apresentar aspectos muito variados. Alguns
estromatoporóides apresentam à superfície do
esqueleto colonial uma série de elevações cónicas
arredondadas, os mamelões. Na superfície do
cenosteum, vulgarmente no topo dos mamelões, é
igualmente frequente encontrarem-se sistemas de
canais estreitos, sem paredes próprias, dispostos
radialmente em torno de um canal central vertical as astrorrizas (do grego αστέρι, estrela e ρίζα, raiz)
Os estromatoporóides construíam esqueletos
mais ou menos massivos, com aspecto estratificado
que podiam atingir dimensões consideráveis (1m ou
mais de comprimento); paralelamente encontram-se
colónias com, apenas, cerca de 1cm de diâmetro.
O aspecto exterior de uma colónia de
estromatoporóides é bastante variável – mais ou
menos tabular ou laminar (colónias encrustantes),
bolboso, semi-esférico ou em doma, dendróide, etc.
5
PORIFERA
hidrodinamismo mais fraco e são características de
sedimentos finos de lagunas protegidas pelos
recifes. As formas tabulares e em doma, de maiores
dimensões, dominavam em ambientes recifais de
forte hidrodinamismo (Fig. 1.5).
- que constituem uma das características distintivas
dos estromatoporóides (Fig. 1.4). As astrorrizas têm
expressão no interior do esqueleto colonial, sobre
cada uma das lâminas. A função das astrorrizas é
controversa. Segundo o modelo dos estromatoporóides enquanto poríferos, são interpretadas
como estruturas homólogas da cavidade central e
do ósculo dos espongiários.
Os estromatoporóides paleozóicos (com apogeu
durante o Silúrico-Devónico) são, frequentemente,
encontrados em associação com corais tabulados,
com os quais davam origem a construções de tipo
recifal (biohermas e biostromas). Em termos gerais,
os estromatoporóides suplantavam, em capacidade
bioedificadora, os corais tabulados em ambientes de
hidrodinamismo mais elevado.
AFINIDADE BIOLÓGICA DOS ESTROMATOPORÓIDES
No passado, os estromatoporóides foram
incluídos por diversos autores em grupos tão
distintos como os hidrozoários (Cnidaria), as
esponjas, os foraminíferos encrustantes, os
briozoários e as algas. Foram, ainda, considerados
um grupo incertae sedis ou como um filo
independente sem parentes próximos actuais.
Os mais espectaculares recifes de estromatoporóides são os do Silúrico de Götland (Ilha sueca
do Mar Báltico) onde formam massas recifais
enormes, com 20m de altura e 200m de diâmetro.
Nestes recifes os estromatoporóides constituem o
principal elemento bioedificador, desempenhando
os corais um papel subsidiário.
A descoberta, nos anos de 1970, no Pacífico e
ao largo da Jamaica, de um tipo particular de
esponjas encrustantes veio clarificar as afinidades
biológicas dos estromatoporóides. Estas esponjas,
que foram incluídas no grupo das Demospongea,
apresentam uma estrutura muito semelhante à dos
estromatoporóides: esqueleto aragonítico estratificado e sistema de canais organizado em estrela
muito semelhante às astrorrizas.
As rochas carbonatadas resultantes da
actividade bioedificadora dos estromatoporóides são
denominadas calcários recifais de estromatoporóides, enquanto as originadas pela acumulação
maioritária
de
restos
esqueléticos
destes
organismos
são
denominadas
calcários
biodetríticos/bioclásticos de estromatoporóides.
O acme do desenvolvimento dos recifes de
tabulados e estromatoporóides ocorreu no Devonico.
Assim, actualmente, os estromatoporóides são
considerados poríferos. De salientar que a ausência
de espículas nos estromatoporóides não os exclui
automaticamente do grupo das esponjas, uma vez
que nem todas as esponjas actuais possuem
espículas.
Os estromatoporóides mesozóicos (com apogeu
durante o Jurássico-Cretácico), sob muitos aspectos
distintos dos paleozóicos, raramente formavam
estruturas recifais.
PALEOECOLOGIA E IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA DOS
ESTUDO DOS ESTROMATOPORÓIDES
ESTROMATOPORÓIDES
Em afloramento os estromatoporóides podem
assemelhar-se, superficialmente, a outros tipos de
fósseis, em particular àqueles que originam massas
estratificadas em forma de doma e possuem microestruturas dificilmente discerníveis a olho nú:
estromatólitos, corais tabulados e briozoários.
Contudo, com a ajuda da lupa de campo, é possível
distinguir facilmente a sua estrutura reticulada
Os
estromatoporóides
eram
organismos
coloniais exclusivamente marinhos, epibentónicos
sésseis
cimentados,
vivendo
a
pequena
profundidade, em zonas tropicais a subtropicais e,
normalmente, próximo da linha de costa. Evitavam
ambientes de águas mais profundas ou sujeitos a
sedimentação terrígena (e.g., fácies arenosas,
argilosas), não ocorrendo, portanto, próximo de
paleolitorais vizinhos de fortes relevos continentais e
caracterizados, consequente, por forte acarreio
clástico para os ambientes marinhos contíguos
(KERSHAW, 1988). O seu máximo desenvolvimento
era atingido em ambientes originadores de fácies
carbonatadas, em zonas recifais fora da influência
clástica, terrígena.
A forma dos estromatoporóides dependia,
fortemente, além de condicionantes genéticas, do
ambiente onde viviam. Assim, geralmente, as
formas dendróides (mais delicadas) e as bolbosas
(mais instáveis) eram comuns em ambientes de
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PORIFERA
característica (lâminas e pilares).
Porque a maioria dos estromatoporóides ocorre,
normalmente, em rochas carbonatadas compactas e
não pode ser extraída da rocha como exemplares
isolados, discretos, e porque a sua micro-estrutura
em pilares e lâminas não pode ser estudada a olho
nú, os estromatoporóides são normalmente
estudados em secções bidimensionais, segundo
planos longitudinais, transversais e oblíquos, em
lâmina delgada ou em superfície polida, com a
ajuda da lupa binocular.
 2015/16
Fig. 1.5 Distribuição das diferentes formas de crescimento
dos estromatoporóides segundo os ambientes. Adaptado
de KERSHAW (1988).
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1.3. IDENTIFICAÇÃO DE FÓSSEIS DE
PORIFERA
Filo Porifera
Classe Demospongea
Jerea LAMOUROUX, 1821
Fig. 1.6
Jerea pyriformis Lamouroux. Cretácico sup., Europa. Adaptado de
MIKHAILOVA & BONDARENKO (1984: 83).
Esponja solitária, em forma de pêra, túlipa, ou cilíndrica,
com pedúnculo curto. Topo aplanado, apresentando
pequenas depressões osculares onde desembocam
numerosos canais subverticais (no centro da esponja) a
curvilíneos (na periferia). Canais radiais finos, com início
em poros inalantes localizados na superfície externa.
Cavidade central ausente, ou mal definida. Possui
dêsmas organizadas em rede pétrea. Não se conhecem
microscleras.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
Fig. 1.6 - Jerea
bentónicos
Distribuição estratigráfica: Cretácico.
Siphonia PARKINSON, 1822
Fig. 1.7
Siphonia sp. Cretácico sup. Adaptado de CLARKSON (1979: 69). A - Vista
da totalidade da esponja; B - Corte longitudinal mostrando estrutura
interna; C - Espículas (dêsmas).
Esponja solitária, em forma de túlipa, apresentando
pedúnculo de comprimento variável (normalmente mais
longo que o corpo da esponja) provido de rizóides.
Paragáster (cavidade central) profundo, não ocupando,
contudo, mais de metade do comprimento total do corpo
da esponja. Na cavidade central desemboca o sistema
de canais, bem visível em secções transversais.
Superfície da esponja perfurada por inúmeros ostíolos.
Possui dêsmas organizadas em rede pétrea. Não se
conhecem microscleras.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
Fig. 1.7 - Siphonia
bentónicos
Distribuição estratigráfica: Cretácico superior.
Cliona GRANT, 1826
Fig. 1.8
Cliona sp. Perfurações de tipo Entobia, produzidas por espongiário do
género Cliona, sobre concha de ostreídeo actual. De TASCH (1973).
Espongiário
incrustante.
Perfura
quimicamente
substratos carbonatados (conchas de moluscos,
colónias de corais, rochas carbonatadas, etc.) dando
origem a um intrincado sistema de galerias que
comunica com o exterior por meio de pequenas
aberturas. Através dessas aberturas projecta-se parte
do corpo da esponja, ostentando ósculos. Possuem
macroscleras e, normalmente, microscleras. As
perfurações de Clionaidae (não apenas de Cliona) são
atribuídas ao icnogénero Entobia BRONN, 1837.
Paleoecologia: Organismos marinhos, endobentónicos
litófagos, endolíticos, perfurantes. Suspensívoros.
Distribuição estratigráfica: ?Devónico. Triásico à
actualidade.
Departamento de
GEOLOGIA
Fig. 1.8 - Cliona (ou melhor,
estruturas bioerosivas atribuídas
a Clionaidae)
PORIFERA
Classe Hyalospongea
Coeloptychium GOLDFUSS, 1826
Fig. 1.9
Coeloptychium agaricoides Goldfuss. Cretácico
Adaptado de MOORE, LALICKER & FISHER (1952: 92).
sup.,
Alemanha.
Esponja solitária em forma de cogumelo ou umbrela.
Pedúnculo curto e cilídrico. Face superior com
depressão central. Face inferior apresentando poros
maiores e mais bem definidos que a superior, dispostos
ao longo de pregas radiais. Rede dictional formada por
espículas siliciosas hexarradiadas.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
bentónicos
Fig. 1.9 - Coeloptychium
Distribuição estratigráfica: Cretácico superior.
Ventriculites MANTELL, 1822
Fig. 1.10
Ventriculites striatus Smith. Cretácico. Adaptado de MOORE, LALICKER &
FISHER (1952: 92).
Esponja solitária em forma de taça alargada. Cavidade
central ampla e profunda. Superfície interna e externa
apresentando-se pregadas verticalmente. Rede dictional
formada por espículas siliciosas hexar-radiadas.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
bentónicos
Fig. 1.10 - Ventriculites
Distribuição estratigráfica: Cretácico superior.
Craticularia ZITTEL, 1877
Fig. 1.11
Craticularia cylindrica (Michelin). Cretácico sup., Rússia. Adaptado de
MIKHAILOVA & BONDARENKO (1984: 81).
Esponja solitária ou colonial. Corpo cilíndrico ou em
forma de taça, apresentando superfície interna e externa
reticulada como resultado da intersecção de fiadas
verticais e horizontais de poros inalantes e de finas
pregas. Cavidade interna ampla e profunda. Rede
dictional formada por espículas siliciosas hexarradiadas.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
Fig. 1.11 - Craticularia
bentónicos
Distribuição estratigráfica: Jurássico superior.
Classe Calcispongea
Peronidella ZITTEL, 1879
Fig. 1.12
Peronidella sp. Cretácico inferior, Crimeia. Adaptado de MIKHAILOVA &
BONDARENKO (1984: 85).
Esponja colonial e solitária, com forma cilíndrica e
cavidade central tubular, muito profunda e estreita,
prolongando-se até à base da esponja. Ósculo estreito.
Superfície externa finamente porosa. Rede faretrónica
formada pela fusão de espículas calcárias mono e
triaxónicas.
Paleoecologia: Organismos
sésseis. Suspensívoros.
marinhos,
bentónicos
Fig. 1.12 - Peronidella
Distribuição estratigráfica: Triásico ao Cretácico.
9
PORIFERA
Raphidonema HINDE, 1884
Fig. 1.13
Raphidonema farringdonense (Sharpe). A - Vista lateral; B - Vista
superior. Cretácico inferior, Inglaterra. COX (1962: est. 48).
Esponja colonial e solitária, de dimensão pequena a
média, com forma de vaso aberto a afunilada, com
pequenos canais na espessa parede do organismo,
apresentando cortex rugoso bem desenvolvido.
Esqueleto formado por rede faretrónica formada pela
fusão de espículas calcárias mono e triaxónicas.
Paleoecologia: Organismos marinhos de ambientes
pouco profundos, bentónicos sésseis. Suspensívoros.
Distribuição estratigráfica: Triásico ao Cretácico.
Fig. 1.13 - Raphidonema
?Classe Stromatoporoidea
Actinostroma NICHOLSON, 1886
Fig. 1.14
A - Actinostroma whiteavesi niagarense Parks. Devónico, Canadá;
B - A. clathratum, Devónico, Inglaterra. Adaptado de MOORE, LALICKER &
FISHER (1952: 108).
Cenosteum composto por pilares elevados e esguios
que, a intervalos regulares, dão origem a estruturas
radiais, filamentosas ou em forma de barra, geralmente,
em número de seis. Estes elementos radiais unem-se
aos pilares adjacentes, formando lâminas em forma de
rede. Podem existir astrorrizas.
Paleoecologia: Organismos marinhos, bentónicos
sésseis cimentados. Fácies carbonatadas, incluindo
fácies recifais e para-recifais. Suspensívoros.
Fig. 1.14 - Actinostroma
Distribuição estratigráfica: Devónico.
Stromatopora NICHOLSON, 1886
Fig. 1.15
Stromatopora concêntrica Goldfuss. Devónico méd.,
Adaptado de MOORE, LALICKER & FISHER (1952: 108).
Alemanha.
Cenosteum composto por um sistema amalgamado de
tecido espessado em que pilares e lâminas dificilmente
se distinguem. Galerias mais extensas em direcções
concêntricas que em radiais. Astrorrizas bem
desenvolvidas.
Paleoecologia: Organismos marinhos, bentónicos
sésseis cimentados. Fácies carbonatadas, recifais e
para-recifais. Suspensívoros.
Distribuição estratigráfica: Silúrico ao Cretácico.
BIBLIOGRAFIA
Fig. 1.15 - Stromatopora
BONDARENKO, O.B. & MIKHAILOVA, I.A. 1984. Kratkii Opredelitel’
Iskopaemykh Bespozvonotchnykh. Nedra, Moscovo,
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CLARKSON, E.N.K. 1979. Invertebrate Palaeontology and
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COX, L.R. 1962. British Mesozoic Fossils. British Museum
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10
PORIFERA
KERSHAW, S. 1988. Stromatoporoids: a beginner's guide.
Geology Today 4(6): 202-6.
MCKINNEY, F.K. 1991. Exercises in Invertebrate Paleontology.
Blackwell Scientific Publications, Boston, 272 pp.
TASCH, P. 1973. Paleontology of the Invertebrates. Data
retrieval from the fossil record. John Wiley & Sons, New
nd
York, 2 ed., 1980, 975 pp.
 2015/16
NOTAS / OBSERVAÇÕES:
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