R. Periodontia - Setembro 2009 - Volume 19 - Número 03 PERFIL CELULAR E MEDIADORES QUÍMICOS NA DOENÇA PERIODONTAL ASSOCIADA AO BIOFILME DENTAL REVISÃO DE LITERATURA Celular profile and chemical mediating in periodontal disease associated on the dental biofilm – Review of the literature Virginia Régia Souza da Silveira¹, Ana Paula Negreiros Nunes Alves² RESUMO As doenças periodontais resultam da resposta inflamatória às bactérias do biofilme dental que ativam o sistema imunológico do paciente, determinando o resultado final da doença. O presente trabalho se propõe a realizar uma retrospectiva da literatura científica sobre a população celular e os mediadores químicos endógenos que participam no desenvolvimento das gengivites e periodontites associadas ao biofilme dental. Em todas as fases da doença periodontal encontram-se neutrófilos, macrófagos, linfócitos T, linfócitos B e plasmócitos compondo o infiltrado inflamatório, com produção e liberação de mediadores como IL-1, IL-6, IL-8 e TNF-α. Na gengivite estabelecida não se encontra destruição óssea, enquanto na lesão periodontal, além de reabsorção óssea, há tecido conjuntivo com características inflamatórias semelhantes à lesão estabelecida, porém com intensa população de plasmócitos. IL-1 e TNF-α são mediadores de efeito sinérgico e estão envolvidos no processo de reabsorção óssea da periodontite. Sugere-se que nas lesões periodontais estáveis predominam os linfócitos T e nas lesões em progressão os linfócitos B e plasmócitos maduros. O conhecimento das células e mediadores que participam da patogênese da doença periodontal se faz importante para que possamos chegar a métodos terapêuticos mais específicos. UNITERMOS: gengivite; periodontite; inflamação; imunologia. R Periodontia 2009;19:73-79. 1 Especialista em Periodontia pelo Centro de Educação Continuada da Academia Cearense de Odontologia – CEC - ACO. Mestranda em Odontologia pela Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará - UFC. [email protected] 2 Mestre em Patologia pela Universidade Federal do Ceará -UFC. Doutora em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará -UFC. Professora Adjunta da Disciplina de Patologia Bucal do Curso de Odontologia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da UFC. [email protected] Recebimento: 30/06/08 - Correção: 28/11/08 - Aceite: 05/05/09 INTRODUÇÃO As doenças periodontais resultam da resposta inflamatória às bactérias do biofilme dental, embora seja a susceptibilidade inata do paciente que determina o resultado final do processo da doença. Em outras palavras, é a natureza da resposta inflamatória que define a destruição característica da doença (Gemmell et al., 2002; Cardoso et al., 2008). Na gengivite e periodontite ocorre inflamação gengival, sendo que na primeira não se identifica perda de inserção do tecido conjuntivo, e na segunda, há migração apical do epitélio juncional, acompanhada por perda de tecido conjuntivo e osso alveolar, apresentando um menor controle da resposta imune que surge em intervalos episódicos de destruição (Armitage, 1995; Kinane, 2001). Em estágios precoces de gengivite, as mudanças clínicas são sutis. Porém, encontramos acentuadas alterações histopatológicas na rede de vasos sanguíneos, capilares e também na população leucocitária. Células inflamatórias como linfócitos, macrófagos e neutrófilos são possíveis de serem detectadas (Kinane, 2001; Kinane et al., 2005). O progresso da doença periodontal é caracterizado por um infiltrado inflamatório crônico, onde os linfócitos T e B juntamente com os plasmócitos são as células 73 R. Periodontia - 19(3):73-79 predominantes (Katz & Michalek, 1998; Berglundh et al., 2007). A ativação do sistema imunológico pelos antígenos do biofilme dental é decisiva no desenvolvimento da doença periodontal (Alves et al., 2003), uma vez que os processos patogênicos da doença periodontal são, em grande parte, as respostas do hospedeiro aos microorganismos, induzindo a destruição tecidual (Kinane, 2001; Van Dyke, 2008). Essa resposta imune que por um lado é protetora, em alguns momentos contribui para a destruição tecidual (Baker et al., 2002). No presente trabalho realizamos uma restropectiva da literatura científica sobre a população celular e os mediadores químicos endógenos que participam do processo de doença para o desenvolvimento das gengivites e periodontites associadas ao biofilme dental, comparando o perfil celular e seus mediadores em cada fase da doença periodontal. Considerando-se a relevante participação dessas células e dos mediadores no sistema de defesa do organismo hospedeiro estamos contribuindo para o entendimento da patogênese da doença periodontal, e assim para o desenvolvimento de métodos diagnósticos mais específicos que possam predizer a evolução da doença bem como auxiliar na terapêutica. DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA PERIODONTAL As alterações gengivais e periodontais clássicas representam a resposta do organismo à presença do biofilme dental (Marshall, 2004) e têm sido tradicionalmente subdivididas em gengivite ou periodontite (Armitage, 1995; Kinane, 2001). Gengivite “crônica” é comumente vista em indivíduos que suspendem a escovação por um período de dez a vinte dias (Löe et al., 1965). Dependendo do indivíduo, a progressão de gengivite para periodontite requer um período de tempo (Kinane, 2001). Brecx et al. (1988) investigaram mudanças gengivais clínicas e histopatológicas, em pacientes que aboliram a higiene oral por um período de seis meses, através do estudo do fluido gengival, índice gengival e biópsia. Os resultados demonstraram que nesse período de acúmulo de placa ocorre o desenvolvimento de um quadro de gengivite crônica e sugerem que em uma situação normal, mais de seis meses podem ser necessários para que uma lesão de gengivite evolua para periodontite. Além disso, a razão pela qual alguns pacientes desenvolvem periodontite mais prontamente que outros é imprecisa e parece ser multifatorial (Kinane, 2001). Löe et al. (1986) descreveram o progresso da doença periodontal, observando indivíduos que não tinham acesso algum a 74 programas de prevenção ou tratamento dental, através dos parâmetros de perda de inserção, índices gengival e de placa, cálculo e cárie por um período de quinze anos. Concluíram que enquanto a gengivite precede a periodontite, nem toda gengivite progride para periodontite, sabendo-se que a evolução de gengivite para periodontite ocorre somente em uma parte da população. Neely et al. (2001) acessando os dados coletados em vinte anos, dos pacientes que participaram do estudo anterior, verificaram associação significante entre média de perda de inserção e os parâmetros: idade, índice gengival, índice de cálculo e tempo. Mais recentemente, outro estudo foi direcionado com o objetivo de determinar se a média de perda de inserção em indivíduos saudáveis, mas submetidos a um programa de prevenção era diferente em indivíduos que haviam sido tratados de doença periodontal e eram acompanhados em um programa de manutenção. Obser varam que nestes últimos, a perda de inserção ocorre mais rapidamente do que nos indivíduos saudáveis (Teles et al., 2008). BIOFILME DENTAL Biofilme pode ser definido como uma comunidade microbiana que está associada firmemente a uma superfície sólida úmida, não descamativa e envolto em uma matriz de polissacarídeos (Donlan, 2002; Jain et al., 2007), podendo ser encontrado sobre a superfície dentária ou qualquer outro material com essas características. A placa dental pode ser definida como uma comunidade microbiana, encontrada na superfície dentária como um biofilme, imersa em uma matriz composta principalmente de polímeros extracelulares oriundos de origem bacteriana e produtos do exsudato do sulco gengival e/ou saliva (Lang et al., 1999; Marsh, 2004). Alguns dos organismos comumente associados à doença periodontal são: Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia, Tannerella forsythia, Campylobacter rectus e Aggregatibacter (Actinobacillus) actinomycetemcomitans, assim como os treponemas (Ezzo & Cutler, 2003). Socransky et al. (1998) examinaram biofilmes subgengivais de indivíduos com periodontos saudáveis e doentes e demonstraram a presença de grupos microbianos que descreveram como cinco grandes complexos. Os microorganismos que compõem o complexo vermelho são: Tannerella forsythia, Porphyromonas gingivalis e Treponema dentícola, e se encontram relacionados com parâmetros clínicos de inflamação e destruição periodontal, sendo detectados particularmente em bolsas mais profundas com sangramento à sondagem. Em 1996, o World Workshop on Clinical Periodontics R. Periodontia - 19(3):73-79 apontou três patógenos específicos repetidamente identificados como agentes etiológicos na destruição periodontal associados à periodontite crônica. São eles: Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Tannerella forsythia e Porphyromonas gingivalis. ASPECTOS HISTOPATOLÓGICOS DA DOENÇA PERIODONTAL Classificação de PAGE & SCHROEDER / KINANE & LINDHE O estudo clássico de Page & Schroeder (1976) obtido através de biópsias em animais e adolescentes humanos, classificou clínica e histologicamente a doença periodontal, subdividindo-a em estágios que compreenderam lesões: inicial, precoce, estabelecida e avançada. Kinane et al. (2005) apresentaram uma nova classificação que divide as condições desde a gengiva normal até a periodontite, compreendendo as seguintes fases: gengiva primitiva, gengiva sadia (situação histopatológica semelhante à lesão inicial de Page & Schroeder), gengivite precoce (aspectos histopatológicos semelhantes à lesão precoce de Page & Schroeder), gengivite estabelecida e periodontite. A gengiva primitiva apresenta pouco ou nenhum infiltrado inflamatório, é encontrada em pacientes que praticam uma higiene bucal impecável e vista em excepcionais circunstâncias. A gengiva sadia é semelhante à anterior clinicamente, com um infiltrado inflamatório leve a moderado e mais presente nas situações clínicas diárias (Scannapieco, 2004; Kinane et al., 2005). A classificação de Kinane et al. (2005) será utilizada para descrever os aspectos histopatológicos da doença periodontal, não deixando de ser citados os aspectos da classificação de Page & Schroeder (1976) e a visão de outros autores. A lesão inicial A lesão inicial pode ser encontrada em uma gengiva clinicamente sadia e aparecer com quatro dias de acúmulo de placa, sendo microscopicamente representada por dilatação das arteríolas, capilares e vênulas do plexo dentogengival, aumento na permeabilidade do leito microvascular, com exsudação de fluidos e proteínas para os tecidos. O infiltrado inflamatório ocupa 5 a 10% do tecido conjuntivo gengival abaixo do epitélio, onde se encontra perda focal de colágeno e é constituído por leucócitos polimorfonucleares neutrófilos. Estes migram do plexo vascular no tecido conjuntivo e acumulam-se na região do epitélio juncional e do sulco gengival (Page & Schroeder, 1976; Kinane, 2001; Kinane et al., 2005), formando uma barreira entre a placa bacteriana subgengival e o tecido gengival e quando ativados nos tecidos produzem IL-1a (interleucina 1α), IL-1β (interleucina 1β), IL-6 (interleucina 6), IL-8 (interleucina 8), TNF-α (fator alfa de necrose tumoral), leucotrienos e MMP (metaloproteinases de matriz) (Kornman et al., 1997). O principal ataque oxidativo do neutrófilo contra a bactéria, envolve a formação de hipoclorito, clorina e ácido hipocloroso, os quais são muito efetivos na morte bacteriana. Embora esse mecanismo bactericida do neutrófilo proteja o hospedeiro da invasão microbiana, quando não controlado pode causar destruição dos tecidos (Deas et al., 2003). A fagocitose do neutrófilo resulta em morte do mesmo, havendo liberação de enzimas lisossomiais, como hidrolases, elastases e proteases ácidas que levam à destruição bacteriana e lise dos tecidos (Holland & Gallin, 2001). Todo esse processo ajuda a destruir o ligamento periodontal e o tecido conjuntivo, constituindo um importante mecanismo patogênico nas periodontites (Offenbacher, 1996). A lesão precoce A lesão gengival precoce ocorre aproximadamente após sete dias de acúmulo de placa (Page & Schroeder, 1976; Kinane et al., 2005), e as alterações inflamatórias são detectáveis através do exame clínico (Löe et al., 1965; Page & Schroeder, 1976). O infiltrado inflamatório misto composto por macrófagos, linfócitos e neutrófilos acumula-se abaixo do epitélio juncional, ocupando aproximadamente 15% do volume do tecido conjuntivo e se acomoda no espaço criado pela destruição do colágeno. Linfócitos e macrófagos predominam na periferia da lesão, com a presença de um número esparso de células plasmáticas (Page & Schroeder, 1976). A ativação da população leucocitária e dos macrófagos determinam a liberação de citocinas: IL-1β, IL-1α, IL-6, IL-8 e TNF-α (Drugarin et al., 1998), que são classificadas como citocinas inflamatórias, atuam na destruição dos tecidos periodontais e podem estar envolvidas na manutenção do turnover ou integridade dos tecidos periodontais (Okada & Muramaki, 1998). A lesão estabelecida Após duas a três semanas de acúmulo de placa, a lesão precoce poderá evoluir para uma lesão estabelecida (Kinane, 2001). Apresenta manifestações clínicas como a presença de edema e sangramento e é reconhecida como “gengivite estabelecida” sendo a forma mais prevalente na população (Kinane et al., 2005). Um maior número de macrófagos, que são células 75 R. Periodontia - 19(3):73-79 fagocitárias (Gemmell & Seymour, 2004), infiltra-se nos tecidos periodontais inflamados, liberando citocinas e prostaglandinas que exacerbam a resposta inflamatória (Kornman et al., 1997; Scannapieco, 2004), além de secretarem lisozimas, proteases neutras, hidrolases ácidas e muitos componentes do sistema complemento. Expostos aos antígenos, iniciam e incrementam a resposta imune, através da secreção de IL-1 e IL-6, quimioatraentes para neutrófilos como IL-8 e citocinas que regulam as células T como IL-10, IL-12 e TNF-α (Kornman et al., 1997; Holland & Gallin, 2001; Janeway Jr. et al., 2007). Linfócitos (B e T) são detectados na lâmina própria da bolsa gengival (Page & Schroeder, 1976; Kinane, 2001; Kinane et al., 2005) enquanto os plasmócitos e linfócitos predominam na periferia da lesão, principalmente na porção coronária do tecido conjuntivo e ao redor dos vasos (Page & Shroeder, 1976). As células T quando ativadas produzem citocinas que ajudam a estabelecer a resposta imune (Kornman et al., 1997) e têm sido implicadas na patogênese da doença periodontal inflamatória crônica, participando no controle da sua progressão (Yamazaki & Nakajima, 2004; Gemmell et al., 2007). As células B e os plasmócitos produzem e secretam imunoglobulinas como IgG, além de citocinas como IL-6 e TNF-α (Kornman et al., 1997), as quais protegem o hospedeiro através da prevenção da aderência bacteriana, inativação das toxinas de bactérias e na opsonização dos neutrófilos (Gemmell & Seymour, 2004). Uma das maiores funções da IL-6 é a indução do final da maturação das células B em plasmócitos (Offenbacher, 1996; Okada & Muramaki, 1998). Sabe-se que IL-6 e TNF-α participam de cascatas de proteção do hospedeiro, mas quando estas citocinas são produzidas de forma desordenada, como nos tecidos periodontais inflamados, elas destroem os tecidos gengivais e intensificam a reabsorção óssea. Como supracitado, IL-6 ativa as células B, resultando na produção de anticorpos não específicos e IL-1 que por sua vez ativa osteoclastos, estimula a produção de MMP e a síntese de prostaglandinas, todos participantes do processo de reabsorção óssea. Já o TNF-α mostra efeitos sinérgicos com IL-1, tendo essas citocinas sido implicadas na destruição dos tecidos periodontais na periodontite (Offenbacher, 1996; Drugarin et al., 1998; Okada & Muramaki, 1998; Ishikawa, 2007). Na lesão estabelecida apesar da produção de mediadores e células que possam desencadear o processo de reabsorção óssea, não se encontra perda óssea (Page & Shroeder, 1976), mas contínua perda de colágeno na zona de infiltração além da proliferação do epitélio juncional que não está mais 76 firmemente inserido à superfície do dente (Page & Schroeder, 1976; Kornman et al., 1997; Kinane, 2001; Kinane et al., 2005). A lesão avançada Na lesão avançada persistem as mudanças descritas na lesão gengival estabelecida, mas com diferenças importantes que resultam em periodontite (Scannapieco, 2004). O infiltrado de células inflamatórias se estende lateral e apicalmente para o tecido conjuntivo chegando ao osso alveolar e ligamento periodontal, com significante destruição dos mesmos, formação de bolsa periodontal e contínua perda de colágeno. Ocorre migração apical do epitélio juncional a partir da junção cemento-esmalte com disseminadas manifestações dos danos inflamatórios e imunopatológicos aos tecidos (Page & Schroeder, 1976; Kinane, 2001; Kinane et al., 2005). O infiltrado na lesão periodontal irá exibir as características de uma inflamação crônica (Kornman et al., 1997). Leucócitos polimorfonucleares ainda podem ser encontrados dentro do sulco gengival e migrar através do epitélio juncional em todos os estágios da doença periodontal (Gemmell & Seymour, 2004), e juntamente com os macrófagos constituem 5% de todas as células encontradas nas lesões periodontais (Berglundh & Donatti, 2005). Os macrófagos mesmo não sendo células dominantes na lesão periodontal (Chaple et al., 1998; Berglundh et al., 2007), intensificam a destruição óssea e do tecido conjuntivo (Kornman et al., 1997). Contribuem ainda para a resposta imune adaptativa atuando como células apresentadoras de antígeno (Berglundh & Donati, 2005; Janeway Jr. et al., 2007), ativando a proliferação e diferenciação das células T (Janeway Jr. et al., 2007). O progresso da gengivite para a periodontite é marcado pela mudança na predominância das células T para células B (Kinane, 2001). Tem sido levantada a hipótese de que predominam os linfócitos T em uma lesão estável, enquanto a proporção de linfócitos B e plasmócitos estão aumentados na lesão em progressão (Gemmell & Seymour, 2004; Gemmell et al., 2007; Ishikawa, 2007; Younes et al., 2008). Acredita-se que uma lesão estável simule uma reação de hipersensibilidade retardada, enquanto que a lesão progressiva envolve grande número de células B e plasmócitos, sugerindo que a lesão estável seja mediada por células T auxiliares (Th1) e a lesão em progresso pelas células T auxiliares (Th2) (Gemmell et al., 2002; Gemmell & Seymour, 2004). Igualmente postula-se a idéia que a gengivite possa estar associada com a resposta Th1, e a periodontite com a resposta Th2 (Gemmell & Seymour, 2001). R. Periodontia - 19(3):73-79 As células Th1 induzem a imunidade mediada por células quando ativam macrófagos e liberam citocinas que atraem mais macrófagos para o local da infecção, enquanto as células Th2 induzem a imunidade humoral, eliminando patógenos extracelulares mediante ativação de linfócitos B (Janeway Jr. et al., 2007). Berglundh & Donati (2005) revisando a resposta imune com relação à distribuição e proporção celular em indivíduos com periodontite através de biópsias, fluido gengival e amostras de sangue, observaram que as formas crônica e agressiva da periodontite exibem mudanças similares com relação à composição celular e que diferenças na severidade da doença podem refletir diretamente no aumento da densidade das células B e plasmócitos. Segundo os mesmos autores estes últimos constituem o tipo celular mais comum encontrado nas lesões periodontais representando em torno de 50% de todas as células, enquanto as células B compreendem em torno de 18%. A contínua ativação das células B pode levar à produção de altos níveis de IL-1 (Gemmell & Seymour, 1998). Especulase que a célula B possa ser a principal fonte de IL-1 na doença periodontal (Gemmell & Seymour, 2001), e essa produção ilimitada pode intensificar a reabsorção óssea (Okada & Muramaki, 1998; Graves, 2008), estimular a produção de MMP e prostaglandina (PGE2) (Okada & Muramaki, 1998), resultando na destruição dos tecidos (Gemmell & Seymour, 1998). Acrescenta-se o fato de que MMP como as colagenases apesar de estarem envolvidas com a renovação tecidual, quando produzidas em grande quantidade desempenham papel crucial na degradação do tecido conjuntivo e reabsorção óssea (Ryan & Golub, 2000; Sorsa et al., 2006) enquanto que as prostaglandinas E2 agem juntamente com as citocinas sobre os fibroblastos e osteoclastos, que também são levados a produzir MMP, o que estimula ainda mais a perda óssea e de inserção (Offenbacher et al., 1993; Offenbacher, 1996). CONSIDERAÇÕES FINAIS Na fase de gengivite que antecede a periodontite encontramos uma resposta inflamatória exacerbada com várias fontes produtoras de mediadores, incluindo neutrófilos, macrófagos, linfócitos T e B, bem como plasmócitos, que causam maior destruição de colágeno, sem, no entanto haver perda óssea. Nessa fase, o linfócito T provavelmente não desencadeia ativação de linfócitos B com conseqüente maturação de plasmócitos, contrário ao que ocorre na periodontite onde há intensa população plasmocitária principalmente em lesões avançadas. Dentre os principais mediadores liberados na doença periodontal, encontram-se IL-1, IL-6, IL-8 e TNF-α, sendo que IL-1 e TNF-α produzem efeitos sinérgicos estando envolvidos no processo de reabsorção óssea. O entendimento das fases de progressão da doença periodontal através da participação celular e de seus mediadores se faz necessário para que possam ser desenvolvidas novas perspectivas para o tratamento baseadas em métodos direcionados a alvos mais específicos. ABSTRACT The periodontal diseases results from the inflammatory response to bacteria in the dental biofilm, who active de immunology system, establishing the final result of the disease. This presents review propose to realize a retrospection of the scientific literature about the cellular population and the chemical mediating endogenous that participate to the development of the gingivitis and periodontits associated with the dental biofilm. In all phases of the periodontal disease are met neutrophils, macrophages, cells-T, cells-B and plasma cells in the inflammatory infiltrate with production and release of IL-1, IL-6, IL-8 and TNF-α. In the established gingivitis have not bone destruction, while in the periodontal lesion shows resorption bone and connective tissue with inflammation characteristics analogous of the established lesion, but there are a intense population of plasma cells. IL-1 and TNF-α are mediating that produced synergistic effects involved in the periodontal bone resorption in the periodontitis. It is suggested that in the stable periodontal lesions predominate the lymphocytes T and in the lesions in progression predominate the lymphocytes B and mature plasma cells. The knowledge of the cells and mediating that participated in the pathogenesis of the periodontal disease is very important. So that we can arrive to the therapy methods more specific. UNITERMS: gingivitis; periodontitis; inflammation; immunology. 77 R. Periodontia - 19(3):73-79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Gemmell E, Yamazaki K, Seymour GJ. Destructive periodontitis lesions are determined by nature of the lymphocytic response. 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