Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 CARATERIZAÇÃO DA QUALIDADE DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA NA REDE DE TRANSPORTE PORTUGUESA L. C. Pinto* A. Tavares* * REN – Rede Eléctrica Nacional, S.A. (Portugal) RESUMO A REN - Rede Eléctrica Nacional, S.A., como concessionária da Rede Nacional de Transporte (RNT) de eletricidade portuguesa, detém um papel de extrema importância na qualidade da energia fornecida aos consumidores. De modo a avaliar a qualidade da energia fornecida, são apurados regularmente indicadores de continuidade de serviço. Alguns destes indicadores, parâmetros e limites considerados, são definidos de acordo com o Regulamento da Qualidade de Serviço de Portugal (RQS) [1]. O controlo da qualidade da onda de tensão é efetuado pela REN através de um plano de monitorização que inclui a medição de características da tensão, tais como harmónicas, desequilíbrio de tensões, cavas de tensão, tremulação (flicker) e frequência. Estas medições são efetuadas em pontos de entrega aos clientes e pontos internos da rede, previamente selecionados. Segundo o RQS, a REN tem a obrigação de monitorizar todos os seus pontos de entrega, com uma periodicidade de dois em dois anos. Como muitos clientes não estão familiarizados com os conceitos de qualidade de energia elétrica, foi desenvolvida uma metodologia de classificação da qualidade da onda de tensão nos pontos de entrega, tendo como principal objetivo a simplicidade e a transparência na informação. Para fácil entendimento, recorreu-se a uma apresentação de resultados inspirada no tipo de classificação habitualmente utilizada para catalogar a eficiência energética de eletrodomésticos, com a qual a maioria dos consumidores está familiarizada. Na presente Contribuição Técnica será descrita em maior pormenor a metodologia empregue, assim como os resultados obtidos na caracterização dos pontos de entrega da RNT no período 2010-2011, assim como outros resultados de qualidade de serviço alcançados pela REN nos últimos anos. PALAVRAS-CHAVE Rede de transporte, qualidade de serviço, continuidade de serviço, qualidade da onda de tensão, pontos de entrega, harmónicas, tremulação (flicker), cavas de tensão, indicadores, energia elétrica. 1/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 1. INTRODUÇÃO A Rede Eléctrica Nacional, S.A. (REN) é detentora da concessão da Rede Nacional de Transporte (RNT) de eletricidade e é também o Operador da Rede de Transporte (TSO) em Portugal continental. Tem como principais funções: a gestão técnica do Sistema Elétrico Nacional (SEN); o transporte de eletricidade; a gestão das interligações com o TSO vizinho (Espanha); o planeamento, projeto, construção, operação e manutenção da RNT; a previsão das necessidades de novos centros electroprodutores; e a gestão do Sistema Elétrico de Serviço Público (SEP) [2]. A REN, como concessionária da RNT, desempenha um papel muito importante na qualidade da energia elétrica fornecida aos consumidores. A análise da qualidade da onda de tensão é efetuada periodicamente pela REN através de um plano de monitorização que inclui a medição de características da onda de tensão em pontos de entrega aos clientes ou pontos internos da rede. Essas características são: distorção harmónica, tremulação (flicker), desequilíbrio de tensões, tensão eficaz, frequência e cavas de tensão. Foi elaborado um estudo com o objetivo de caracterizar todos os barramentos que foram monitorizados entre 2010 e 2011. Recorreu-se a uma metodologia semelhante à utilizada na classificação do nível de eficiência energética dos eletrodomésticos. O uso deste método permite: agregar grandes quantidades de dados num único indicador; identificar rapidamente quais as melhores e piores áreas da RNT em termos de performance, para cada nível de tensão; comunicar com os clientes de uma forma simples e transparente; apoiar a empresa em futuras revisões do Regulamento da Qualidade de Serviço (RQS) e no estabelecimento de contratos de qualidade de serviço com os clientes. 2. INFORMAÇÃO GERAL 2.1 Rede de transporte de eletricidade portuguesa e consumo de eletricidade No final de 2011, o comprimento total das linhas de transporte era de 8.371 km (com 55,4 km de cabo subterrâneo), sendo 2.236 km de 400 kV, 3.492 km de 220 kV e 2.643 km de 150 kV. A rede de transporte detinha 64 subestações, 13 postos de corte, 189 transformadores e autotransformadores e, 1.297 painéis, com uma capacidade instalada total de 33.627 MVA. O consumo total em 2011 foi de aproximadamente 50,5 TWh. A RNT tinha 79 pontos de entrega: 20 na rede de Muito Alta Tensão (MAT – 220 kV e 150 kV), e 59 na rede de Alta Tensão (AT – 60 kV). 2.2 Evolução da rede elétrica Nos últimos seis anos, a RNT registou uma evolução considerável. De 2006 a 2011, o número de subestações e postos de corte aumentou em 31%. O número de transformadores e o comprimento de linhas de transporte também sofreram um aumento de 37% e 20%, respetivamente. 3. QUALIDADE DE SERVIÇO O nível global de qualidade de serviço depende do número de incidentes que afetam a rede de transporte. Apesar do aumento significativo do número de infraestruturas de rede (linhas de transporte e subestações), o número de incidentes no mesmo período (2006-2011) decresceu em 9,5% (Fig.1-1). Entre 2006 e 2011, 84% dos incidentes teve origem em linhas aéreas (Fig.1-2). As pricipais causas foram: aves (cegonha branca), descargas atmosféricas, incêndios e poluição industrial ou salina associada com neblina ou nevoeiro. 2/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 (Número) (Número) 320 300 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 2006 2007 Rede MAT 2008 2009 Rede AT 2010 2011 L400 Redes externas L220 L150 Sistema primário RNT TRF+ATR BARR. Sistemas externos EXTERIOR RNT Fig.1: 1) Número de incidentes; 2) Número de incidentes na RNT distribuidos por tipo de equipamento (20062011) 3.1 Continuidade de serviço A continuidade de serviço é a capacidade permanente da rede transportar eletricidade para todos os seus clientes. Quando esta capacidade não é garantida, significa que ocorreu uma interrupção. Em algumas situações pode mesmo ocorrer uma redução de carga. A última mais significativa ocorreu a 4 de Novembro de 2006, no seguimento de uma grande perturbação nas redes europeias de interligação, originada na Alemanha. De modo a efetuar um controlo da continuidade de serviço, um conjunto de indicadores é calculado periódicamente. Estes indicadores e parâmetros são definidos de acordo com a legislação regulatória presente no Regulamento da Qualidade de Serviço (RQS) [1]. Os indicadores gerais estão relacionados com a performance global da rede de transporte. A determinação anual destes indicadores e parâmetros permite verificar a sua evolução e tomar medidas corretivas necessárias numa perspetiva de aumentar a qualidade de serviço. Os indicadores gerais são os seguintes: Energia Não Fornecida (ENF), Tempo de Interrupção Equivalente (TIE), System Average Interruption Frequency Index (SAIFI), System Average Interruption Duration Index (SAIDI) e System Average Restoration Time Index (SARI). Os indicadores individuais, relacionados com a performance da rede de transporte em cada ponto de entrega, são os seguintes: Duração de Interrupção (DI) e Frequência de Interrupção (FI). Se os indicadores individuais não forem respeitados, a REN tem a obrigação de pagar compensações aos clientes. De referir que para os indicadores gerais e individuais apenas são consideradas as interrupções com duração superior a 3 minutos e são excluídas todas as interrupções causadas por razões fortuitas ou de força maior, razões de interesse público, razões de serviço ou segurança, circunstâncias atribuídas aos clientes e acordos com clientes. 3.1.1 Aplicação – GestInc De modo a avaliar e quantificar os indicadores e parâmetros de continuidade de serviço nos pontos de entrega, a REN desenvolveu internamente uma aplicação informática para gestão de incidentes (GestInc). Esta aplicação tem o objetivo de armazenar e organizar dados relativos a incidentes e interrupções, assim como calcular automaticamente os indicadores de qualidade de serviço definidos no RQS. Alguns dos dados presentes na GestInc têm origem em outras fontes de informação: SCADA (Supervisory, Control and Data Acquisition), dados provenientes de equipamentos de medição presentes nas subestações e informação de outras utilities, especialmente da EDP Distribuição. 3.1.2 Indicadores de continuidade de serviço - resultados A continuidade de serviço da REN alcançou ótimos valores nos últimos anos, muito à semelhança das melhores utilities europeias. Em 2011, o TIE foi de 0,27 minutos (16,2 segundos) (Fig.2). Por outras 3/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 palavras, a REN forneceu eletricidade aos seus clientes 99,99995% do tempo. Também os indicadores ENF, SAIFI e SAIDI alcançaram o melhor valor de sempre. Para além dos referidos indicadores de continuidade de serviço, existe o indicador Vulnerabilidade da Rede (Fig.3). Este indicador mede a capacidade da rede não interromper o fornecimento de energia para os consumidores após a ocorrência de um incidente, qualquer que seja a sua origem (são consideradas causas de força maior, tais como, ventos excecionalmente fortes, cheias, incêndios, descargas atmosféricas, sismos, greves, desordem pública, sabotagem, roubos ou intervenção de terceiros). É calculado através do rácio entre o número de interrupções de fornecimento de energia e o número de incidentes. Este indicador também alcançou um resultado muito favorável em 2011 (3,27%), consequência do planeamento da rede, assim como das medidas de operação e manutenção. A característica malhada da rede, a par com medidas de manutenção e estabelecimento de normas, conduz à minimização das consequências dos incidentes que afetam os consumidores. 1,50 [%] 10,0 1,00 Minutos 8,0 6,0 4,0 0,50 2,0 0,0 2007 0,00 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2008 2009 Interrupções longas 2010 2011 Interrupções curtas Fig.3: Vulnerabilidade da Rede Fig.2: Tempo de Interrupção Equivalente (TIE) 3.1.3 Disponibilidade Em 2009, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) introduziu um novo incentivo regulatório de modo a fomentar o aumento da disponibilidade dos elementos da RNT. O objetivo é promover a segurança como um fator-chave na qualidade de serviço, de acordo com as melhores práticas da União Europeia. A Taxa Combinada de Disponibilidade (Tcd) é calculada mensalmente, através da seguinte fórmula: Tcd Tdcl (1 ) Tdtp onde α=0,75, Tdcl é a taxa de disponibilidade para circuitos de linha (linhas aéreas e cabos subterrâneos) e Tdtp é a taxa de disponibilidade para transformadores de potência. A meta estabelecida é de 97,5%. Se a Tcd for inferior à meta a REN sofre uma penalização. Caso contrário, a empresa tem direito a receber um incentivo. Nas próximas figuras é possível observar o mecanismo do incentivo, assim como os valores da Tcd desde 2008. De referir que para os anos anteriores a 2009 foi efetuada uma estimativa (pois, tal como referido anteriormente, o mecanismo de incentivo apenas entrou em vigor em 2009). Em 2011 a Tcd alcançou o máximo histórico (98,06%). Max. 1.000.000 Incentive 100% 98.06% (2011) 500.000 0 96,5% 97,0% 97,5% 98,0% 98,5% 99,0% 99% 98% -500.000 97% Max. -1.000.000 Penalty Tcd Regulatory Incentive to increase the availability 96% 2008 2009 2010 2011 Fig.4: 1) Incentivo regulatório para o aumento da disponibilidade; 2) Taxa Combinada de Disponibilidade e meta (97,5%) 4/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 3.2 Qualidade da onda de tensão A qualidade da onda de tensão pode ser afetada por alguns tipos de perturbações, tais como: Perturbações contínuas: variações de frequência, variações de tensão, tremulação (flicker), desequilíbrio de tensões, distorção harmónica. Estes fenómenos são, na sua grande maioria, provocados por instalações com cargas não-lineares ou variações significativas de carga; Perturbações momentâneas: cavas de tensão ou sobretensões. Estas situações ocorrem em consequência de falhas em elementos da rede ou fatores externos (ambientais ou atmosféricos, ação de terceiros, etc.). 3.2.1 Sistema de monitorização A REN tem implementado um sistema de monitorização da onda de tensão. O Sistema Central de Monitorização (CMS) comunica com as Unidades Remotas de Aquisição (ARUs), sendo que o seu tempo de sincronização é obtido por Global Position System (GPS), de modo a que haja grande precisão no registo e correlação de incidentes. A aplicação CMS (QIS - Quality Integrated System) apresenta funcionalidades importantes, tais como o tratamento de registos de dados, a capacidade de expansão, a comunicação com o exterior, a organização da informação (através de menus) e a apresentação de resultados (gráficos e em formato de relatório). 3.2.1.1 Parâmetros de monitorização As ARUs, baseadas na amostragem de medições elétricas primárias (tensão trifásica) e nos seus registos cronológicos, permitem que o CMS quantifique os vários parâmetros da onda de tensão, mencionados no RQS, relativamente à Alta Tensão (60 kV) e à Muito Alta Tensão (400, 220 e 150 kV). As ARUs têm a capacidade de monitorizar os seguintes parâmetros definidos na EN 50160 [3]: amplitude da tensão (rms) (% de variação), frequência (limites e % de variação), tremulação (flicker) (Pst e Plt), distorção harmónica (%), desequilíbrio de tensões (% de variação na sequência de fases), cavas de tensão e sobretensões temporárias ou transitórias. 3.2.1.2 Unidades Remotas de Aquisição (ARUs) – especificações e localização As ARUs possuem as seguintes características: 3 tensões e 3 correntes, ou 6 tensões, como entradas; conversor A/D de 16 bits; taxa de amostragem de 25,6 kHz; classe de precisão A. Existem 26 unidades remotas permanentes (equipamento fixo) e 8 unidades remotas periódicas (equipamento móvel) instaladas. Fig.5: Sistema de monitorização da qualidade da onda de tensão e localização das ARUs 3.2.1.3 Sistema Central de Monitorização (CMS) O CMS trabalha em paralelo com dois servidores de modo a processar a monitorização da onda de tensão em “hot standby” segundo uma arquitetura Cliente/Servidor, permitindo o acesso a alguns 5/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 utilizadores. Corre em SQL Server, em ambiente Windows. O software instalado em cada servidor (QIS CMS) tem a capacidade de atuar através de “polling” e parametrizar as ARUs, organizar todas as bases de dados das instalações, executar e apresentar as medições em modo gráfico e em tabelas, assim como editá-lo para um modo de relatório. Uma ocorrência é registada quando os limites para determinado parâmetro são ultrapassados. Esses limites são definidos por uma norma (por exemplo, a EN 50160). Uma ocorrência é caracterizada por: nome da unidade remota, data e hora da ocorrência, tipo de ocorrência (cavas, harmónicas, etc.), fase onde se dá a ocorrência, duração total e amplitude. O formato da onda de tensão é registado por equipamentos Informa PMD-A, relativamente a cavas e outras variações da tensão. Todos os outros parâmetros são registados em períodos de 200 milissegundos até 24 horas. O módulo estatístico das unidades remotas regista valores elétricos a cada 20 milissegundos (200 milissegundos nos equipamentos Qwave Power), obtendo o valor máximo e mínimo, assim como o valor médio e o desvio do valor standard. Estas variáveis são consolidadas em conjuntos estatísticos de 1 hora, 1 dia e 1 semana. A EN 50160 define a qualidade da tensão numa rede pública. Os equipamentos remotos têm de retratar os parâmetros de acordo com a norma. Os relatórios de conformidade dão gerados automaticamente no fim de cada plano de monitorização, normalmente ao fim de uma semana. 3.2.1.4 Plano de monitorização da qualidade da onda de tensão Segundo o RQS, a REN é obrigada a monitorizar todos os pontos de entrega num período de dois anos. O plano de monitorização permite verificar o cumprimento dos standards técnicos e é constituído por medidas aplicadas à RNT e pontos de entrega aos clientes. Estas medidas são aplicadas aos barramentos nas subestações, utilizando equipamento fixo (ARUs fixas) e móveis (ARUs móveis). O plano de monitorização é definido tendo como propósitos: a cobertura de todas as regiões no país e todos os níveis de tensão na RNT, coordenar as medições em pontos estratégicos da RNT (incluindo as interligações com Espanha) com as medições efetuadas pelo operador da rede de distribuição, de modo a determinar a origem das anomalias e implementar novas ações tendo em consideração os resultados obtidos. A REN envia para a ERSE, numa base trimestral e anual, ficheiros e relatórios com os indicadores e parâmetros de qualidade de serviço. 3.2.2 Resultados da qualidade da onda de tensão Em geral, o número médio de anomalias é relativamente baixo, sendo que os limites regulatórios (indicativos) são cumpridos em cerca de 92% dos pontos de entrega. Apenas 4 pontos de entrega são afetados por distúrbios permanentes (flicker). A maioria das cavas de tensão tem duração inferior a 250 milissegundos e uma amplitude de 30% do valor da tensão rms. 3.2.3 Caracterização da qualidade da onde de tensão na RNT Muitos consumidores não estão familiarizados com os conceitos de qualidade da onda de tensão. Consequentemente é de extrema importância manter a informação simples e compreensível. Devido a este facto, os Operadores da Rede de Distribuição (DNOs) holandeses iniciaram um sistema simples de caracterização inspirado na catalogação do nível de eficiência energética de eletrodomésticos [4], [5]. A classificação pode ser vista na figura seguinte: Fig.6: Classificação das características da onda de tensão 6/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 A definição de um sistema de classificação deste tipo passa por normalizar todos os parâmetros da tensão. Para cada um, é possível calcular o nível de qualidade da onda de tensão utilizando a seguinte equação: i(p,b, f) 1 n(p,b,f) l(p) onde, i(p,b, f) e o n(p,b, f) representam o índice normalizado e o nível do parâmetro p, no barramento b, na fase f, respetivamente, e l(p) representa o limite normativo do parâmetro p. Não havendo perturbação, o índice normalizado será igual a 1 (n = 0). Se o nível da perturbação iguala o limite normativo, então o índice normalizado será igual a 0. Se a perturbação excede o limite normativo, o índice normalizado torna-se negativo. No entanto, a equação anterior não pode ser aplicada no caso das cavas de tensão em Portugal, pois não existem limites definidos. Consequentemente, foi efetuada uma análise de comparação para todos os barramentos, utilizando a seguinte metodologia: 1. A cada cava de tensão registada foi atribuído um peso consoante a sua amplitude e duração (severidade): Se 1U 1 U ref (d) onde, U é a tensão remanescente da cava, d representa a duração da cava e Uref(d) a tensão remanescente da curva de referência para a mesma duração d. A curva de referência recomendada para este método é a curva SEMI (Semiconductor Equipment and Materials International Group), que é uma variante da curva ITIC; 2. Para cada barramento, somam-se as severidades de todas as cavas e divide-se pelo número de semanas de monitorização consideradas, resultando num valor médio semanal; 3. Para os dois barramentos com o resultado mais favorável e mais desfavorável (ponto 2.) estipula-se o índice normalizado, igual a +1 e -1, respetivamente; 4. Pelo ponto anterior e segundo a definição da primeira expressão, obtém-se o valor de referência para toda a rede, como sendo o valor médio dos resultados mais favorável e mais desfavorável. 5. Utilizando a expressão de normalização, onde n é o resultado individual de cada barramento (ponto 2.) e l o valor médio de referência (ponto 3.), obtém-se o índice i de classificação de cada barramento; No entanto, é de realçar que esta classificação permite apenas avaliar o desempenho relativo dos barramentos analisados, não sendo possível utilizar estes resultados na comparação com outras redes. 3.2.3.1 Resultados Os dados de monitorização considerados são os respeitantes aos anos de 2010 e 2011. Os planos anuais de monitorização da REN contemplam a realização de medições, utilizando: Equipamento fixo (em cerca de 26 instalações), com medição dos parâmetros da onda de tensão durante as 52 semanas do ano; Equipamento móvel, instalado rotativamente em diferentes barramentos de forma a cobrir a totalidade dos barramentos da RNT no espaço de 2 anos, com períodos de medição de 4 semanas. Os dados de monitorização são constituídos pelos parâmetros de regime permanente da tensão e pelas cavas de tensão, associadas a eventos. O dados do regime permanente são obtidos pelo percentil 95 (de todas as semanas e de todos os barramentos monitorizados). Foram considerados dois tipos de percentil 95: o valor máximo e a mediana do conjunto. Esta metodologia permite alcançar dois resultados diferentes: a semana menos favorável e a semana representativa, ao longo do ano de monitorização. 7/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 Para o caso das cavas de tensão foi utilizado o método anteriormente descrito. Foram apenas considerados barramentos com monitorização permanente. As medições com duração inferior a um ano (mais concretamente as medições resultantes de equipamentos móveis) não foram consideradas devido à sazonalidade das cavas de tensão, pois os resultados obtidos não seriam consistentes. Na figura seguinte encontram-se quatro mapas de Portugal, um para cada nível de tensão (60, 150, 220 e 400 kV), representando a classificação global das instalações da RNT, para o regime permanente. Esta classificação tem por base a pior característica (o pior valor da semana representativa) para cada ponto de medição. Estas características são apenas as que possuem limites normativos. O desequilíbrio de tensões e frequência não foram considerados pois os desvios face aos limites não foram significativos. Barramento 60 kV Barramento 150 kV Barramento 220 kV Barramento 400 kV Fig.7: Classificação global da qualidade da onda de tensão, por barramento (regime permanente) Na Fig.8 é possível verificar o valor global de classificação relativo a cavas de tensão(60kV a 400 kV) Barramento 60 kV Barramento 150 kV Barramento 220 kV Barramento 400 kV Fig.8: Classificação global da qualidade da onda de tensão (cavas de tensão) 8/9 Décimo Quinto Encontro Regional Ibero-americano do CIGRÉ Foz do Iguaçu-PR, Brasil 19 a 23 de maio de 2013 6. CONCLUSÃO Nos últimos anos a REN tem alcançado níveis excelentes no que concerne à qualidade de serviço, o que é evidenciado pelos valores dos indicadores obtidos. Esta situação é uma consequência da identificação detalhada das causas dos incidentes, de uma grande melhoria nas medidas preventivas e de um significativo investimento nas infraestruturas da RNT (linhas de transporte e subestações). Estes resultados posicionam a REN entre as melhores utilities europeias. Devido ao facto de muitos consumidores não estarem familiarizados com os conceitos de qualidade da onda de tensão, é importante a utilização de um sistema simples de caracterização. A metodologia apresentada nesta Contribuição Técnica é inspirada na catalogação do nível de eficiência energética de eletrodomésticos. Os resultados apresentados são relativos aos anos 2010 e 2011, e contemplam as características de regime permanente e cavas de tensão. Com base neste método é possível: i) agregar a informação recolhida ao longo dos últimos anos de monitorizações num único indicador por carateristica da onda tensão; ii) identificar rapidamente as zonas da RNT com melhor e pior desempenho, para cada nível de tensão; iii) agilizar a comunicação com os consumidores, por intermédio de indicadores simples e facilmente compreensíveis por todos os consumidores, mesmo que não possuam conhecimento técnico sobre Qualidade da Onda de Tensão; iv) auxiliar a discussão em revisões futuras de aspetos regulatórios relacionados com a qualidade técnica de serviço, na imposição de limites normativos para cavas de tensão ou de novos limites para os parâmetros de regime permanente; v) facilitar o estabelecimento de contratos de qualidade de energia elétrica com o cliente, à semelhança do que já vem sendo feito internacionalmente por outras “utilities”. BIBLIOGRAFIA [1] ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, “Regulamento da Qualidade de Serviço”, 2006. [2] A. Meneses e L. Campos Pinto, “Quality of Supply at the Portuguese Electricity Transmission Grid”, IEEE EPQU 2011. [3] European Norm EN 50160 “Voltage characteristics of electricity supplied by public electricity networks”, 2010. [4] J.F.G. Cobben, e J.F.L. van Casteren, “Classification Methodologies for Power Quality”, Electrical Power Quality and Utilization Magazine Vol.II, No.1, 2006. [5] W.T.J. Hulshorst, E.L.M. Smeets, e J.A. Wolse, “Premium Power Quality Contracts and Labeling”, Work package 2 of the Quality of Supply and Regulation Project, KEMA Consulting, 2007. [6] A. Tavares e L. Campos Pinto, “Power Quality of Supply Characterization in the Portuguese Electricity Transmission Grid”, 8th International Conference Electric Power Quality and Supply Reliability, 2012. 9/9