AVALIAÇÃO DO FEIJOEIRO SOB TRÊS DENSIDADES DE SEMEADURA Mariéle Carolina EBERTZ1; Gilmar Silvério da ROCHA2 1Aluna do Curso Técnico em Agropecuária, Instituto Federal Catarinense, Campus Rio do Sul, Bolsista PIBIC-EM/CNPq 2 Orientador IFC-Campus Rio do Sul. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Introdução Apesar da importância, o rendimento da cultura de feijão no Brasil é considerado baixo, devido a vários fatores como, por exemplo: reduzida utilização de sementes selecionadas, baixo uso de fertilizantes e corretivos e espaçamento e densidades inadequados (Arf et al., 1996). Em relação à população, ou seja, número de plantas de feijão por hectare, Vieira (1978) baseando-se em resultados obtidos nas mais diferentes regiões do Brasil, verificou que as recomendações estão entre 200 e 375 mil sementes/ha e que a quantidade menor provoca redução do rendimento e quantidade acima de 375 mil sementes/ha provoca aumento nos custos de produção, decorrentes do maior gasto de sementes. Assim, espaçamentos de 40 a 50 cm entre fileiras com densidade de 10 a 15 sementes por metro são indicados, o que resulta em populações de 200 a 375 mil plantas/ha. Entretanto, o feijoeiro é uma espécie de planta que, geralmente, possui grande capacidade de compensação, ou seja, ocupar os espaços vazios numa área em que o número de plantas estabelecido é menor que o recomendado. As características da planta e do ambiente afetam a sua capacidade de compensação, o que resulta muitas vezes na obtenção de rendimentos que não diferem significativamente entre si, mesmo com grande amplitude de variação do número de plantas por área (Embrapa, 2005). Isto, consequentemente, permite flexibilizar, até certo ponto, a sua recomendação. Vieira (1968), comparando os espaçamentos de 40 e 50cm e 10, 13, 20 e 40 sementes por metro, e densidades de semeadura que variaram de 200 mil a um milhão de plantas por hectare, não verificou diferenças significativas na produtividade. Constatou, porém, que elas foram maiores na densidade de semeadura de 20 sementes por metro, a qual, por sua vez, produziu 11% a mais que o tratamento com dez sementes, apesar do gasto dobrado de sementes por ocasião da semeadura. Em estudos realizados por Bennett et al. (1977), foi observado, no feijão “da seca”, que o número de vagens por planta é o componente de rendimento mais sensível sob alta densidade de semeadura. Neste contexto tornou-se importante a instalação de um experimento com três densidades de semeadura para a cultura do feijoeiro no Alto Vale do Itajaí. Devido à compensação exercida pelas plantas de feijão, pode ser que uma densidade baixa (6 sementes/metro) seja suficiente para produzir tanto quanto uma densidade elevada, sendo que o produtor poderia reduzir custos ao utilizar uma menor quantidade de sementes. Material e Métodos O experimento foi conduzido na área experimental da Agronomia, pertencente ao Instituto Federal Catarinense, Campus de Rio do Sul, no ano agrícola de 2014/2015. A adubação de plantio correspondeu a 700 kg/ha do fertilizante formulado 04-14-08. Foi utilizado uma cultivar de feijão preto (Uirapuru). Em cada sulco de semeadura foram colocadas 25 sementes por metro. A maior quantidade de sementes do que o usual foi para garantir que se tenha uma população adequada de plantas, visto que animais selvagens poderiam prejudicar o experimento reduzindo o número de plantas germinadas. A área do experimento foi dividida em 18 parcelas, adotando-se o delineamento em blocos ao acaso, com seis repetições. Estas parcelas foram formadas por três linhas de 3m de comprimento espaçadas em 0,45m. A semeadura ocorreu no dia 14/11/2014 usando matracas manuais. Após 26 dias da emergência (16/12/2014) foi feito o desbaste deixando 06, 12 ou 18 sementes por metro de acordo com cada tratamento. No mesmo dia também realizou-se a adubação de cobertura distribuindo-se o equivalente a 30 kg de nitrogênio por hectare ao longo das fileiras. Tratos fitossanitários como aplicação de herbicidas, fungicidas e inseticidas foram realizados conforme o recomendado para o estado de Santa Catarina. A colheita ocorreu no dia 10/02/2015 (88 dias após a semeadura), colocando-se etiquetas para identificação das parcelas. As etiquetas das fileiras centrais foram marcadas com um asterisco visando a sua posterior identificação para tomada dos dados referentes à número de vagens por planta (NVP), número de grãos por vagem (NGV) e altura de inserção da primeira vagem (AIPV). Estes dados foram coletados em cinco plantas individuais por parcela, escolhidas ao acaso. As fileiras laterais foram usadas para as avaliações da produção de grãos (PROD) e massa de cem sementes (MCS). Após a colheita, as três linhas de uma mesma parcela, já identificadas, foram agrupadas e amarradas. No dia seguinte, o material colhido foi levado à estufa da Agronomia para secagem. Decorridas duas semanas, as linhas laterais foram debulhadas com auxílio de uma trilhadora acoplada ao trator. Em seguida, folhas e resíduos que ficaram no material foram retirados manualmente e com uso de uma peneira. Realizada a limpeza, as 18 parcelas foram levadas para o laboratório de Genética e Melhoramento Vegetal, onde ocorreu a pesagem das mesmas utilizando balança de precisão com resolução de 0,1 gramas. Neste local também realizou-se a contagem de 100 sementes de cada parcela e posterior determinação da massa (MCS). A altura de inserção da primeira vagem (AIPV) foi determinada com o auxílio de uma régua, sendo que esta altura correspondeu à distância entre a base da planta e o ápice da primeira vagem. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância (teste F, a 5% de probabilidade) e ao teste de Tukey visando a comparação entre as médias dos tratamentos para cada característica avaliada. Para a realização dessas análises foi utilizado o programa estatístico Assistat. Resultados e discussão As médias das cinco variáveis em estudo para as três densidades de semeadura estão apresentadas na Tabela 1. De modo geral, houve boa precisão experimental na avaliação das características, evidenciada pelos coeficientes de variação (CV), sendo que valores entre 10 e 20% indicam média precisão e valores abaixo de 10% significa que a variável foi avaliada com alta precisão. Tabela 1- Altura de inserção da primeira vagem (AIPV); Número de vagens por planta (NVP); Número de grãos por vagem (NGV); Produção de grãos (PROD); Massa de cem sementes (MCS) da cultivar de feijão Uirapuru submetida à três densidades de semeadura. Rio do Sul, SC (2015). Densidade de semeadura 06 Sementes 12 Sementes 18 Sementes Média Geral CV (%) AIPV (cm)* 21,07 b 27,70 a 30,53 a 26,43 15,55 Características Avaliadas NVP NGV PROD (g) 32,50 a 5,58 a 1798,2 a 23,63 ab 5,97 a 2093,8 a 16,93 b 5,45 a 1893,9 a 24,36 5,67 1928,6 23,35 9,04 18,00 MCS (g) 22,83 a 22,50 a 22,50 a 22,61 3,68 *Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. É possível constatar, pelo teste de Tukey, diferença estatística somente para os valores das médias de AIPV e de NVP. Assim, a menor altura de inserção da primeira vagem ocorreu na densidade de seis sementes por metro (21,07cm), diferindo estatisticamente dos valores das demais densidades. A observação está de acordo com os resultados alcançados por Alcântara et al. (1991) e Lemos et al. (1993), que obtiveram maior altura de inserção de vagens na maior densidade de plantas. Com o aumento do número de plantas por metro linear houve uma redução do número de vagens por planta (NVP), conforme também observado por Alcântara et al. (1991), Buzetti et al. (1992) e Lemos et al. (1993). Houve uma tendência da densidade de semeadura com 12 plantas/m proporcionar a maior produção de grãos (2093,8g). Este resultado vem ao encontro do apresentado por Vieira (1978), que aponta um valor ideal entre 10 a 15 sementes por metro. Apesar dessa tendência, as médias de produção de grãos não diferiram estatisticamente entre si. Portanto, apesar do menor valor do número de vagens por planta (NVP) na densidade de semeadura maior, houve uma compensação em função da maior população de plantas por área. Em uma menor densidade de semeadura, as plantas de feijoeiro produziram maior quantidade de vagens, já que houve menor competição individual por espaço, nutrientes, água e luz. Conforme já apresentado, essa menor densidade (6 sementes/m) resultou em produção de grãos estatisticamente equivalente ao das densidades superiores. Logo, considerando apenas a produção de grãos neste experimento, não há diferença entre utilizar 6, 12 ou 18 sementes por metro. Entretanto, é necessário fazer algumas considerações importantes. Na densidade de seis sementes/m foi obtida a menor altura de inserção da primeira vagem, o que pode favorecer perdas na colheita mecanizada. Uma semeadura utilizando somente seis sementes por metro pode implicar em perdas na produção de grãos se a germinação não for de 100%. Por sua vez, uma densidade de 18 sementes/m provoca aumento nos custos de produção, decorrentes do maior gasto de sementes. Conclusão Para produção de grãos em feijoeiro não há diferença entre utilizar 6, 12 ou 18 sementes por metro. Dentre os componentes de produção de grãos de feijão (NVP, NGV e MCS), o número de vagens por planta é o mais influenciado pelas diferentes densidades de semeadura. Tanto a densidade de 12 ou de 18 sementes por metro permitem a obtenção de plantas de feijão com maior altura de inserção da primeira vagem quando comparada com a densidade de 06 sementes por metro. Referências ALCÂNTARA, J. P.; RAMALHO, M. A. P.; ABREU, A. F. B.; SANTOS, J. B. Avaliação de cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris L.) em diferentes densidades de semeadura e condições de ambiente. Ciência e Prática, Lavras, v.15, n.4, p.375-384, 1991. ARF, O.; SÁ, M. E.; OKITA, C. S.; TIBA, M. A.; GUERREIRO NETO, G.; OGASSAWARA, F. Y. Efeito de diferentes espaçamentos e densidades de semeadura sobre o desenvolvimento do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 31, n. 9, p. 629-634, 1996. BENNETT, S. P.; ADAMS, M. N.; BURGA, C. Pod yield component variation and intercorrelation in Phaseolus vulgaris L. as affected by planting density. Crop Science, Madison, v. 17, p. 37-75, 1977. BUZETTI, S.; ROMEIRO, P. J. M.; ARF, O.; SÁ, M. E.; GUERREIRO NETO, G. Efeito da adubação nitrogenada em componentes da produção do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) cultivado em diferentes densidades. Cultura Agronômica, Ilha Solteira, v.1, n.1, p.11-19, 1992. EMBRAPA, Centro Nacional de Pesquisa Arroz e Feijão (CNPAF). Cultivo do Feijão Irrigado na Região Noroeste de Minas, 2005. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Feijao/FeijaoIrrigadoNoroesteM G/plantio.htm>. Acesso em: 15 mar. 2014. LEMOS, L. B.; FORNASIERI FILHO, D.; PEDROSO, P. A. C. Comportamento de cultivares de feijoeiro com distintos hábitos de crescimento, em diferentes populações, em semeadura de inverno. Científica, São Paulo, v.21, n.1, p.113-120, 1993. VIEIRA, C. Efeito da densidade de plantio sobre a cultura do feijoeiro. Revista Ceres, Viçosa, v. 15, 44-53, 1968. VIEIRA, C. 1978. Cultura do feijão. Viçosa: UFV. 146p.