IDADE CONTEMPORÂNEA: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL CONTEÚDOS Antecedentes A Guerra (1939-1945) O Holocausto Tratados de Paz AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS Antecedentes Os países capitalistas que enfrentavam os efeitos da crise de 1929, sentiam-se ameaçados pelo crescimento cada vez mais sólido do socialismo soviético. Assim, os países da Europa Ocidental e os Estados Unidos, fizeram vistas grossas ao rearmamento alemão, já que os nazistas se posicionavam como os defensores uma política de extrema direita, centrada no capitalismo. Assim, como a Alemanha que estava situada geograficamente entre os países capitalistas e socialistas, o seu exército poderia servir como uma espécie de “muralha” para barrar a expansão do socialismo soviético. Figura 1 - O pretexto para o rearmamento alemão Fonte: O resgate da Força Expedicionária Brasileira Nesse contexto, os bombardeiros aéreos que os nazistas fizeram sobre os grupos anarquistas, durante a Guerra Civil Espanhola, a anexação da Áustria e a invasão da Polônia e Tchecoslováquia, barrando a expansão russa, foram medidas (manobras militares), não apenas toleradas, como também aplaudidas pelos países capitalistas. Desta forma, os investimentos alemães na indústria de armas e tecnologias, se intensificaram sem que houvesse nenhuma oposição. Isto é, mesmo que proibida pelos acordos de paz, a Alemanha passou a ostentar um grande exército muito bem armado. Figura 2 - Expansionismo alemão antes do início da Segunda Guerra Fonte: Fundação Bradesco O maior problema, foi que quando os países do Ocidente perceberam as reais intenções de Hitler, já era tarde demais. O exército alemão estava com a melhor tecnologia de armamentos que o mundo conhecia e a guerra tornava-se uma realidade inevitável. A Guerra (1939-1945) As verdadeiras intenções de Hitler apareceram em 1939, quando foi assinado o “Pacto de Molotov-Ribbentrop” entre a Alemanha e a União Soviética. O acordo determinava um tratado de não agressão entre essas nações, ou seja, em uma possível guerra, Hitler não atacaria a União soviética e Stalin não atacaria a Alemanha. O tratado na época surpreendeu os países capitalistas, já que todo rearmamento alemão foi baseado no discurso de combate ao socialismo. Isto é, ao deixar claro que a Alemanha não tinha intenção de usar seu arsenal bélico contra a Rússia, o mundo ocidental estremeceu ao perceber que eram eles que estavam sob o foco do expansionismo nazista. Figura 3 - Acordo de não agressão entre Alemanha e União Soviética Fonte: O resgate da Força Expedicionária Brasileira Assim, oficialmente, a Segunda Guerra Mundial teve início em 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia, sem a oposição da União Soviética que também ocupou parte desse país. Em represália aos alemães, Inglaterra e França declaram guerra aos nazistas, dando início a um longo processo de construção das alianças formando os blocos de países que se enfrentarão nesse conflito. O bloco denominado EIXO, se formou da aliança militar da Alemanha com a Itália e mais tarde pode contar também com o apoio do Japão. Por outro lado, o bloco denominado ALIADOS, contava inicialmente com a Inglaterra e a França, uma vez que a União Soviética e os Estados Unidos (que lutaram nesse bloco na Primeira Guerra Mundial) ainda mantinham-se neutros nesse conflito. Figura 4 – Mussoline e Hitler em 1938 Fonte: Wikimedia commons Logo nas primeiras batalhas na Europa Ocidental, a Alemanha se destacou pela sua ação militar tática de extrema agilidade. A França, por exemplo, foi invadida e tomada em poucos dias de conflito. A Inglaterra só não foi tomada nesse momento, devido a sua forte marinha e por localizar-se em uma ilha, o que dificultou o acesso dos alemães. Saiba Mais: Durante os ataques alemães para conquistar a França, Hitler proibiu o bombardeio aéreo de Paris, para não correr o risco de perder as obras de arte clássica que a capital francesa abrigava. A sua paixão às artes era tamanha, que mesmo com o caos da guerra, ele tirou um dia para visitar os museus de Paris. Outra cidade que também foi poupada de bombardeiros durante a guerra foi Atenas, na Grécia, por ser considerada por ele o berço da civilização e da cultura clássica. Por outro lado, os artistas do movimento modernista (alemães ou não) eram perseguidos e tinham suas obras queimadas em praça pública. Hitler, considerava a arte moderna degenerada e insana, ou seja, para ele essa estética não representava a superioridade do povo alemão. Nesse contexto, muitos artistas foram presos e exilados, devido a não se enquadrarem ao padrão estético defendido por esse ditador. Como Hitler tinha a intenção de construir um grande museu em Linz (sua cidade natal), muitas obras de arte foram roubadas e escondidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Algumas delas ficaram perdidas por anos antes de serem recuperadas. A França, apesar de dominada, buscava se organizar em uma grande força de resistência popular não oficial, para combater os nazistas. Desse modo, a população civil contribuiu, boicotando o domínio alemão e informando ao exército aliado as possíveis ações que os nazistas estavam organizando a partir da França. Porém, mesmo assim, Hitler continua o seu processo de expansão. Em poucos meses, a Europa Ocidental estava praticamente dominada, além da França, os alemães, com o apoio dos italianos, tomaram a Dinamarca, a Noruega, a Bélgica e a Holanda, enquanto que o Japão invadia a China. A velocidade da expansão do Eixo inflava o ego de Hitler e dava força ao seu discurso de superioridade. Nesse contexto, Hitler, tornou-se tão confiante na sua vitória, que decidiu atacar também a Europa Oriental. Ao atacar a Rússia em 1941, os alemães desrespeitaram o acordo de não agressão que os dois países tinham firmado. Isso fez com que a União Soviética, que estava neutra ao conflito até então, unisse forças aos Aliados. O avanço das tropas alemãs rumo ao oriente, fez os soviéticos recuarem em seu próprio território, utilizando a tática da terra arrasada para retardar o avanço nazista. Desse modo, os soviéticos ganhavam tempo para armar um grande contra-ataque a partir da cidade de Stalingrado. Figura 5 - Soldados soviéticos na defesa da cidade de Stalingrado Fonte: Wikimedia commons A estratégia Hitler de invadir a União Soviética comprometeu seu exército, primeiro pelas baixas sofridas por consequência do rigor do inverno russo, depois devido a Alemanha ter de lutar com o seu exército dividido entre duas frentes de batalha, a ocidental (contra os aliados da Europa) e a oriental (contra a União Soviética). Até 1942, os norte-americanos mantinham-se neutros na Segunda Guerra Mundial, aproveitando-se do conflito para vender armas e suprimentos para os dois lados. Essa estratégia foi fundamental para os Estados Unidos superarem os efeitos da Crise de 1929, tornando-se uma potência econômica mundial. Assim, eles ficaram à espera do momento certo para entrar na guerra, contudo, no final do conflito e ao lado do grupo vencedor. Vale lembrar que os Estados Unidos utilizaram essa mesma estratégia durante a Primeira Guerra Mundial (quando entraram apenas no último ano do conflito). Porém, na Segunda Guerra Mundial a entrada dos Estados Unidos no conflito, antecipou-se devido ao ataque japonês à base militar de Pearl Harbor na costa oeste desse país em 1941. Figura 6 - Ataque japonês à base de Pearl Harbor nos Estados Unidos Fonte: Wikimedia commons Assim, no ano de 1942, os Estados Unidos, decidem entrar oficialmente na guerra unindo forças ao bloco dos Aliados (Inglaterra, França e União Soviética). Após ter oficialmente declarado guerra ao Eixo, os Estados Unidos, enviaram tropas para lutar na frente de combate ocidental ao lado dos países Europeus. Curiosidade: Na época da Segunda Guerra Mundial, o Brasil vivia a ditadura do Estado Novo (1937-1945) que apresentava algumas características similares a dos governos fascistas da Europa. Porém, pressionado pelos Estados Unidos, o presidente Getúlio Vargas, decidiu declarar guerra ao Eixo. Dessa forma, ele enviou tropas brasileiras da FEB (Força Expedicionária Brasileira) para lutar na Itália em 1942. Desse modo a participação brasileira na guerra contribuiu para algumas das vitórias dos aliados. Figura 7 - Símbolo da FEB (cobra fumando) Fonte: Wikimedia commons Na frente oriental, os soviéticos continuariam combatendo o Eixo sozinhos, e a vitória dos soviéticos na batalha de Stalingrado em 1943, tornou-se um marco da primeira derrota das forças nazifascistas. Figura 8 - Cidade de Stalingrado depois da derrota alemã Fonte: Wikimedia Commons Em 1944, ocorreu a maior ofensiva norte-americana, quando uma tropa de 100 mil soldados desembarcou na Normandia acompanhada por 6 mil navios e 5 mil aviões de guerra. Esse episódio ficou conhecido como o “Dia D”, e representou a retomada do ocidente pelos Aliados. Nessa reta final da Segunda Guerra Mundial, sofrendo sucessivas derrotas e impossibilitados de reagir as ofensivas dos aliados, os nazistas intensificaram sua política de extermínio das raças ditas inferiores, que ficou conhecida como o Holocausto. Ao mesmo tempo, os japoneses passaram a realizar ataques aéreos suicidas com os Kamikazes. Figura 9 - Grupo de pilotos Kamikase Fonte: Wikimedia Commons Nos momentos finais da 2ª Guerra Mundial, os russos tomam a cidade de Berlin e Hitler oficialmente se suicida. A frente ocidental chega a Alemanha logo em seguida. A Itália é ocupada e rendida, e o Japão, mesmo com a guerra praticamente encerrada, ainda sofrerá o bombardeio de duas cidades (Hiroshima e Nagasaki) com armas nucleares norteamericanas. Figura 10 - Avião e tripulação que levou a bomba atômica Figura 11 - Bomba sobre a cidade de Hiroshima Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons A bomba atômica (pensada como arma de destruição em massa) foi uma tecnologia desenvolvida pelos Estados Unidos, nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, já no final desse conflito, esse país decide utilizá-la, para apresentá-la ao mundo e testar o seu efeito destrutivo na prática. Assim, como a maioria dos países do Eixo já estavam rendidos aos Aliados, a opção para que os norte-americanos usassem essa arma ainda nessa guerra, era a não rendição do Japão. Sendo assim, a cidade de Hiroshima foi bombardeada e dois dias depois, foi a vez da cidade de Nagasaki. O resultado dessas explosões foi a morte aproximadamente 300 mil japoneses. O Holocausto Durante os anos em que a Segunda Guerra Mundial estendeu-se, Hitler promoveu uma política de extermínio de todos aqueles que eram vistos como indesejáveis frente a sua ideia de “raça pura ariana”. Assim, esses indivíduos (judeus, negros, ciganos, homossexuais, comunistas, anões, deficientes físicos e mentais) eram levados para os campos de concentração e para os campos de extermínio. Toda essa perseguição e o genocídio promovido pelos nazistas ficaram conhecidos como Holocausto. Nessas prisões, que eram localizadas longe dos centros urbanos, as pessoas que tinham condições de produzir algo, eram exploradas e o seu trabalho servia para sustentar os gastos com a guerra. Em geral, eram submetidos a trabalhos em condições degradantes, em condições análogas a de escravidão. Vale lembrar que muitas empresas alemãs que eram simpatizantes ao nazismo, aproveitaram-se da guerra para explorar essa mão de obra barata dos campos de concentração nas suas fábricas (Bayer, Basf, IBM, Siemens, BMW, Oetker, etc.) e aumentar seus ganhos. Figura 12 - Dormitório masculino de um campo de concentração na Alemanha Fonte: Wikimedia Commons Por outro lado, aqueles que não tinham essa condição de produzir, eram simplesmente mortos por meio de fuzilamento ou de envenenamento nas câmeras de gás. Nesse contexto, as famílias judias ricas eram os alvos preferidos dos nazistas. Essa predileção se explica porque, caso os membros dessas famílias acabassem todos mortos nos campos de concentração, os seus capitais ficariam para o Estado alemão, por falta de herdeiros legítimos. Dentre os absurdos que ocorriam nos campos de extermínio, observa-se inclusive a retirada de dentes de ouro, brincos e alianças que pertenciam aos mortos, para que fossem derretidos e transformados em lingotes de ouro para sustentar os gastos de guerra. Isto é, existia uma lógica financeira por trás dos extermínios que ia além da proposta de purificação racial alemã. Outro exemplo dos abusos que ocorriam nos campos de concentração, foram as experiências médicas patrocinadas pelo estado nazista. Em nome da ciência, esses médicos usavam a população que era levada aos campos de concentração, como cobaias humanas, sem nenhuma preocupação com a ética ou com os direitos humanos. Nos experimentos não havia nenhum senso de moral ou compaixão com os indivíduos envolvidos, tornando essa prática tão absurda, como qualquer outra forma de morte por meio da tortura. Figura 13 - Crianças no campo de concentração. Fonte: Wikimedia Commons Saiba mais: O maior ícone desses experimentos desumanos foi o médico nazista Josef Mengele, que dada a sua crueldade ficou conhecido como o “anjo da morte”. Dentre as experiências propostas pelos médicos e cientistas do nazismo, destaca-se: injetar azul de metileno nos olhos de humanos para ver se a substância era capaz de modificava a sua cor decepar simultaneamente os braços de irmãos gêmeos para observar se eles morreriam ao mesmo tempo. transplantar a cabeça de um irmão para o outro. tratar quimicamente as mulheres de modo a deixá-las estéreis. Esses foram apenas alguns exemplos, dentre outras tantas experiências cruéis e horripilantes, que foram praticadas com os prisioneiros dos campos de concentração. Tratados de Paz Oficialmente, a guerra se encerra em 1945 com três medidas fundamentais. A primeira delas foi a assinatura do tratado de Potsdam (que reduzia o território da Alemanha e dividia o país entre Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética). A segunda foi a assinatura do Tratado de Yalta (que reconhecia a influência Soviética sobre os países Leste Europeu). E a terceira foi a criação da ONU (Organização das Nações Unidas) como um órgão internacional que garantiria a paz do mundo. Figura 14 - Organização da Alemanha pós Segunda Guerra Mundial Fonte: Fundação Bradesco ATIVIDADES 1. Explique quais os fatores que levaram ao rearmamento da Alemanha, durante o período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. 2. (ENEM-2012) Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitão chegaria para apaziguar a agonia, o autoritarismo militar e combater a tirania. Claro que, em tempos de guerra, um gibi de um herói com uma bandeira americana no peito aplicando um sopapo no Fürer só poderia ganhar destaque, e o sucesso não demoraria muito a chegar. COSTA, C. Capitão América, o primeiro vingador: crítica. Disponível em: www.revistastart.com.br. Acesso em: 27 jan. 2012 (adaptado). A capa da primeira edição norte-americana da revista do Capitão América demonstra sua associação com a participação dos Estados Unidos na luta contra a) a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial. b) os regimes totalitários, na Segunda Guerra Mundial. c) o poder soviético, durante a Guerra Fria. d) o movimento comunista, na Guerra do Vietnã. e) o terrorismo internacional, após 11 de setembro de 2001. 3. Explique o que foi o Holocausto e por que os judeus foi o povo mais perseguido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. 4. (FUVEST-2009) As bombas atômicas, lançadas contra Hiroshima e Nagasaki em 1945, resultaram na morte de aproximadamente 300.000 pessoas, vítimas imediatas das explosões ou de doenças causadas pela exposição à radiação. Esses eventos marcaram o início de uma nova etapa histórica na corrida armamentista entre as nações, caracterizada pelo desenvolvimento de programas nucleares com finalidades bélicas. Considerando essa etapa e os efeitos das bombas atômicas, analise as afirmações abaixo. I. As bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagasaki foram lançadas pelos Estados Unidos, único país que possuía esse tipo de armamento ao fim da Segunda Guerra Mundial. II. As radiações liberadas numa explosão atômica podem produzir mutações no material genético humano, que causam doenças como o câncer ou são transmitidas para a geração seguinte, caso tenham ocorrido nas células germinativas. III. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, várias nações desenvolveram armas atômicas e, atualmente, entre as que possuem esse tipo de armamento, têm-se China, Estados Unidos, França, Índia, Israel, Paquistão, Reino Unido e Rússia. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III. LEITURA COMPLEMENTAR Arte Degenerada: Obras inimigas A exposição Arte Degenerada, promovida em Munique pelos nazistas para desmoralizar grandes nomes da arte moderna, como Picasso, Kandinsky e Klee, completa 70 anos. Havia muito tempo não se via fervor artístico como aquele, em Munique, na Alemanha. Em 19 de julho de 1937, centenas de alemães se dirigiram à tradicional galeria Hofgarten para a abertura da exposição Entartete Kunst – ou, em português, Arte Degenerada. Montada pelo Partido Nacional Socialista alemão, a mostra apresentava cerca de 650 pinturas, esculturas e gravuras, entre os mais de 5 mil trabalhos confiscados pelo governo alemão dos principais museus e galerias do país. Um dos discursos da noite foi o do nazista Adolf Ziegler: “Em torno de nós vê-se o monstruoso fruto da insanidade, imprudência, inépcia e completa degeneração. O que essa exposição oferece inspira horror e aversão em todos nós”, declamou, eufórico, aplaudido pelo público. Ficou claro que o objetivo da mostra era apresentar a arte moderna como um elemento pernicioso à estética nazista. No dia anterior, o governo tinha inaugurado na imponente Casa da Arte Alemã a Exibição da Grande Arte Alemã. A ideia era que o povo alemão comparasse a beleza da arte ariana aos devaneios das obras dos artistas modernos na Hofgarten. Mais de 2 milhões de pessoas conferiram as obras selecionadas por Goebbels, poderoso ministro da Propaganda de Hitler, na Arte Degenerada. A exposição tinha trabalhos de Pablo Picasso, Giorgio de Chirico, Georges Braque, Henri Matisse, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Piet Mondrian, Paul Klee e Edvard Munch, entre outros – artistas gigantes na história das artes plásticas. Os alemães expressionistas em evidência na época também foram chamados de degenerados e incluídos na exposição. Emil Nolde foi o campeão, com 1 052 trabalhos confiscados. Claro que uma exposição imaginada pelo ministro da Propaganda de Hitler não se limitava à seleção das obras. A maneira como elas seriam mostradas ao público também era importante. Os trabalhos foram dispostos de modo desorganizado e quadros foram pendurados tortos nas paredes, para provocar estranheza. Pinturas de doentes mentais de clínicas alemãs foram colocadas ao lado das obras de artistas consagrados. Comentários políticos moralizantes e slogans pejorativos eram apresentados em letras garrafais, ao lado. E novos títulos foram atribuídos aos trabalhos, que viraram Insulto à Feminilidade Germânica e Fazendeiros Vistos pelos Judeus. A arte moderna era, para o governo alemão, um barbarismo que precisava ser superado. E Goebbels usou a exposição para fazer parecer que esse julgamento partia do próprio público. Perseguição antiga Os eventos que culminaram no ataque nazista à arte moderna começaram a se desenhar em 1927, nos ensaios publicados por Alfred Rosenberg, ideólogo do partido de Hitler. Reunidos sob o título Der Sumpf (O Pântano), acusavam a estética de vanguarda de representar uma doença da alma, o desequilíbrio e a alienação e de resultar da conjugação entre o dinheiro do capitalismo e a cultura de massas manobrada pelos comunistas. O pensamento de Rosenberg refletia, de modo exacerbado, parte do sentimento que havia em relação aos rumos que a arte tomara desde o fim do século 19 e que atravessara a Primeira Guerra Mundial. Em 1911, o russo Wassily Kandinsky escreveu seu tratado Sobre o Espiritual na Arte, afirmando que as grandes realizações da pintura da vanguarda representavam gestos simbólicos de liberação universal. Como que prevendo o que viria pela frente, Kandinsky denunciava a existência de uma “mão negra”, o mal que procurava limitar a liberdade dos artistas com seu espírito conservador. A ela o artista contrapunha o “raio branco”, o espírito livre, construtivo, capaz de demolir preconceitos dos reacionários contra as inovações artísticas. Após a Primeira Guerra, a Alemanha viveu um momento de desgraça nacional e decadência socioeconômica. Foi nesse contexto que a arte moderna se difundiu no país. A derrocada em 1918 e o Movimento Modernista pareciam andar de mãos dadas. Grandes nomes da arte produzida na Alemanha, como Emil Nolde, Otto Dix, George Grosz, além de Klee e Kandinsky, afirmavam o princípio expressionista da manifestação dos sentimentos e retratavam em suas obras uma sociedade dilacerada, desmoralizada, atormentada pela depressão econômica e por violentas convulsões políticas. Logo a arte foi responsabilizada pelo clima derrotista e pessimista que pairava sobre a Alemanha dos anos 20. E assim voltamos a Rosenberg. Em 1929, ele aliou-se ao pintor e arquiteto Paul Schultze-Naumburg em uma campanha contra o que naquela época já chamavam de arte degenerada. A campanha culminou na estruturação da Kampfbund für Deutsche Kultur (Federação do Combate para a Cultura Alemã), instrumento do partido nazista contra a arte, contra o que chamavam cultura bolchevista. Assim, quando os nazistas chegaram ao poder, em 30 de janeiro de 1933, o destino da arte moderna já estava traçado. Artistas e intelectuais judeus ou oposicionistas foram afastados dos cargos públicos. Partidários da arte moderna foram retirados da direção de museus e instituições culturais. A Bauhaus, principal centro de ensino e divulgação das vanguardas nas artes visuais e na arquitetura, foi fechada pelo governo. O Terceiro Reich decretou o fim da diversidade das tendências artísticas, impondo um neoclassicismo ideológico como padrão. No mesmo ano, o artista alemão George Grosz pintou um contraponto à perseguição nazista: uma aquarela chamada A Bestialidade Avança. Limpeza estética Ainda em 1933, no Congresso do Partido Nazista em Nuremberg, Hitler repetiu o que já havia escrito em Mein Kampf (Minha Luta) sobre o artista moderno: “Se cada coisa a que deram à luz foi resultado de uma experiência interior, então eles são um perigo público e devem ficar sob supervisão médica. [...] Se era pura especulação, então deviam estar numa instituição apropriada para o engano e a fraude”. O que se viu a partir de então foi a utilização de preceitos estéticos para justificar objetivos políticos. Os nazistas usaram a arte como uma poderosa arma para a propaganda de seus ideais. Baseados em suas livres interpretações do darwinismo e do conceito de eugenia, resolveram dar uma mãozinha à natureza e eliminar os corpos impuros, defeituosos e perniciosos que contaminariam a busca por uma raça pura, forte e superior para toda a Alemanha. Passaram a pregar a restauração do naturalismo idealizado nas artes. O artista fiel às ideias de uma nação forte deveria, em vez de concentrar-se em abstrações complicadas, descrever o mundo que imperaria no futuro não muito distante. Um mundo pleno de beleza, idílico, clássico, virtuoso – desde que a grande causa nazista vencesse seus desafios, claro. Inicialmente, qualquer obra de arte moderna era considerada “degenerada”. Mas os critérios foram se expandindo até incluírem, como arte degenerada, qualquer objeto feito por judeus ou comunistas. Ou seja, tudo que não se adequava ao ideal nazista. A arte assumiu um papel policial, justificando prisões, confiscos e tudo que fosse necessário na discriminação dos judeus, deficientes, comunistas e outros segmentos excluídos da sociedade alemã. Reunir grandes artistas da época em uma exposição chamada Arte Degenerada não causou estranheza aos alemães, que já vinham frequentando exposições patrocinadas pelo Terceiro Reich desde 1933. O próprio Hitler só deixou de comparecer às inaugurações no auge da Segunda Guerra. Mas a exposição de 1937 reunia, pela primeira vez, um grande número de artistas e obras. Resultado da “purificação” dos museus de toda a Alemanha. A Entertate Kunst ainda seguiu de Munique para outras cidades da Alemanha, atraindo mais 1 milhão de visitantes. Exílio interno Durante a série de exposições, Hitler percebeu que a venda das obras poderia render um bom dinheiro para os cofres do partido. Parte delas foi leiloada em 1939, na Galeria Fischer, em Lucerna. Vários trabalhos importantes acabaram salvos nas mãos de colecionadores. Um deles, de Paul Klee, está exposto no Brasil, no Museu de Arte Contemporânea da USP (veja quadro na pág. 35). Já o que não possuía valor de troca ou venda graças aos padrões estabelecidos pelo nazismo era destruído. De uma só vez, em 20 de março de 1939, 1 004 pinturas, 3 825 aquarelas e outros tantos trabalhos foram queimados. Com a ascensão das ideias de Hitler sobre arte moderna, os artistas tomaram destinos diferentes. Nomes como Picasso e Matisse, que lançavam novidades estéticas a partir da escola francesa, continuaram produzindo em seus países, discutindo as vanguardas e influenciando jovens artistas. Já os alemães não tiveram outra saída a não ser refugiar-se em algum outro país. Os que ficaram preferiram uma espécie de exílio interno, como Otto Dix, que para não ser impedido de pintar na Alemanha mudou-se para o interior e dedicou-se aos temas tolerados pelos nazistas. Enquanto execravam a arte moderna, os nazistas investiam nos artistas que seguiam seus ideais de superioridade ariana. Os poucos temas escolhidos pela pintura no regime nacional-socialista eram incessantemente repetidos e expressavam a mensagem nazista. “Enquanto estamos certos de expressar corretamente na política o espírito e a fonte da vida de nosso povo, também acreditamos ser capazes de reconhecer seu equivalente cultural e realizá-lo”, afirmou Hitler, em 1935. Com o fim da Segunda Guerra e a derrota do nazismo, as artes plásticas naturalmente deixaram para trás os ideais da doutrina. Hoje, praticamente nenhum dos artistas que viraram obedientes soldados da estética nacional-socialista é lembrado. O contrário aconteceu com os perseguidos pelos nazistas. Esses, justamente, alcançaram reconhecimento histórico nas artes do século 20. MIRANDA, Sérgio. Arte Degenerada: Obras inimigas. Guia do Estudante - Aventuras na História, ed. Abril. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/arte-degenerada-obras-inimigas435433.shtml>. Acesso em: 15 set. 2016. 11h. REFERÊNCIAS BERTONHA, Joao Fabio. A Segunda Guerra Mundial: Que História é esta? São Paulo: Saraiva, 2001. COGGIOLA, Osvaldo. Segunda Guerra Mundial: Balanço Histórico. Coleção - Série Eventos, São Paulo: Xama, 1995. FUVEST. Prova de Primeira Fase do vestibular da USP de 2009. Disponível em: <http://www.fuvest.br/vest2009/provas/p1f2009v.pdf>. Acesso em: 15 set. 2016. 10h. HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Cia. das Letras, 1995. INEP. Prova Amarela do Primeiro dia do ENEM de 2012. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2012/caderno_enem2012_sa b_amarelo.pdf>. Acesso em: 15 set. 2016. 9h. LUKACS, John. O Duelo - Churchill X Hitler - 80 Dias Cruciais para a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. MIRANDA, Sérgio. Arte Degenerada: Obras inimigas. Guia do Estudante - Aventuras na História, ed. Abril. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras- historia/arte-degenerada-obras-inimigas-435433.shtml>. Acesso em: 15 set. 2016. 11h. PEDRO, Antonio. A Segunda Guerra Mundial. Coleção - Discutindo a História, São Paulo: Atual 1994. WIKIMEDIA COMMONS. Acordo de não agressão entre Alemanha e União Soviética. Disponível em: <http://henriquemppfeb.blogspot.com.br/2012/12/charges-brasileiras- sobre-segunda.html>. Acesso em: 13 set. 2016. 10h. WIKIMEDIA COMMONS. Ataque japonês à base de Pearl Harbor nos Estados Unidos. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pearl_harbour.png>. Acesso em: 13 set. 2016. 15h. WIKIMEDIA COMMONS. Avião e tripulação que levou a bomba atômica. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:B-29_Enola_Gay_w_Crews.jpg>. Acesso em: 14 set. 2016. 11h. WIKIMEDIA COMMONS. Bomba sobre a cidade de Hiroshima. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Atomic_bombing_of_Japan.jpg>. Acesso em: 14 set. 2016. 12h. WIKIMEDIA COMMONS. Cidade de Stalingrado depois da derrota alemã. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stalingrad_aftermath.jpg>. Acesso em: 14 set. 2016. 9h. WIKIMEDIA COMMONS. Crianças no Campo de Concentração. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Child_survivors_of_Auschwitz.jpeg>. Acesso em: 14 set. 2016. 16h. WIKIMEDIA COMMONS. Dormitório masculino de um campo de concentração na Alemanha. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File: Buchenwald_Slave_Laborers_Liberation.jpg>. Acesso em: 14 set. 2016. 15h. WIKIMEDIA COMMONS. Grupo de pilotos Kamikase. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Youngest_kamikaze_only_17_years_old.jpg>. Acesso em: 14 set. 2016. 10h. WIKIMEDIA COMMONS. Mussolini e Hitler em 1938. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bundesarchiv_Bild_146-1969-065-24,_ M%C3%BCnchener_Abkommen,_Ankunft_Mussolini.jpg>. Acesso em: 13 set. 2016. 11h. WIKIMEDIA COMMONS. O pretexto para o rearmamento alemão. Disponível em: <http://henriquemppfeb.blogspot.com.br/2012/12/charges-brasileiras-sobresegunda.html>. Acesso em: 13 set. 2016. 8h30min. WIKIMEDIA COMMONS. Símbolo da FEB (cobra fumando). Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazilian_Expeditionary_Forces_insignia_(smoki ng_snake).svg>. Acesso em: 13 set. 2016. 16h. WIKIMEDIA COMMONS. Soldados soviéticos na defesa da cidade de Stalingrado. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bundesarchiv_Bild_183-E04060022-001,_Russland,_Kesselschlacht_Stalingrad.jpg>. Acesso em: 13 set. 2016. 12h. GABARITO 1. Comentário: Os países capitalistas que enfrentavam os efeitos da crise de 1929, sentiamse ameaçados pelo crescimento cada vez mais sólido do socialismo soviético. Assim, os países da Europa Ocidental e os Estados Unidos, fizeram vistas grossas ao rearmamento alemão, já que os nazistas estavam se posicionando como os defensores uma política de extrema direita, centrada no capitalismo. Assim, como a Alemanha que estava situada geograficamente entre os países capitalistas e socialistas, o seu exército poderia servir como uma espécie de “muralha” para barrar a expansão do socialismo soviético. Desta forma, os investimentos alemães na indústria de armas e tecnologias, se intensificaram sem que houvesse nenhuma oposição. Isto é, mesmo que proibida pelos acordos de paz, a Alemanha passou a ostentar um grande exército muito bem armado. 2. Alternativa B. Comentário: Na capa do quadrinho o “Capitão América”, herói símbolo dos Estados Unidos, aparece dando um soco no rosto de um personagem com os trajes e afeições de Hitler. Tomando por base a interpretação da imagem, pode-se concluir que a publicação faz menção a participação norte-americana, a partir de 1942, na luta contra os países do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 3. Comentário: Durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler promoveu uma política de extermínio de todos aqueles que eram vistos como indesejáveis frente a sua ideia de “raça pura ariana”. Assim, esses indivíduos (judeus, negros, ciganos, homossexuais, comunistas, anões, deficientes físicos e mentais) foram levados para os campos de concentração e para os campos de extermínio. Toda essa perseguição e o genocídio promovido pelos nazistas ficaram conhecidos na história como Holocausto. As famílias judias ricas eram os alvos preferidos dos nazistas porque, caso os membros dessas famílias acabassem todos mortos nos campos de concentração, os seus capitais ficariam para o Estado alemão, por falta de herdeiros legítimos. 4. Alternativa E. Comentário: A bomba atômica (pensada como arma de destruição em massa) foi uma tecnologia desenvolvida pelos Estados Unidos, nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, já no final desse conflito, os Estados Unidos decidem utilizá-la, para apresentá-la ao mundo e testar o seu efeito destrutivo na prática. Assim, como a maioria dos países do Eixo estavam rendidos aos Aliados, a opção para que os norte-americanos usassem essa arma ainda nessa guerra, era a não rendição do Japão. Deste modo, a cidade de Hiroshima foi bombardeada e dois dias depois, foi a vez da cidade de Nagasaki. O resultado dessas explosões foi a morte aproximadamente 300 mil japoneses (homens, mulheres, crianças, idosos, etc). Além das mortes, a radiação espalhou-se pelos arredores dessas cidades contaminando a água e os alimentos da região, deixando-os impróprios para o consumo. As consequências da radiação da bomba atômica têm efeito prolongado para aqueles que sobreviveram ao seu ataque uma vez que ela produz uma série de mutações nos genes dessas pessoas, provocando doenças como o câncer, ou até mesmo a esterilidade (ainda não se sabe ao certo quais as reais consequências dessa exposição à radiação para as futuras gerações). Nos anos que sucederam esse ataque, outros países passaram a investir nessa tecnologia e os países mais importantes do mundo passaram a se armar com bombas atômicas.