DINÂMICA DO OCEANO NAS REGIÕES COSTEIRAS INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA A Tensão do Vento é a força de atrito, por unidade de área, causada pela acção do vento na superfície do mar, paralelamente a esta e é dada pela expressão τ=cw2, com c=ρacD, em que w é a velocidade do vento, ρa é a densidade do ar e cD é o coeficiente de atrito ou arrasto. • Para valores típicos cD=1,4 × 10-3 e ρa=1,3 kg m-3 ⇒ τ≅1.8 × 10-3 w2 (Pa ou N m-2) A tensão do vento depende dos seguintes factores: • velocidade do vento; • rugosidade da superfície do mar; • condições atmosféricas suprajacentes. A tensão do vento na superfície do mar provoca transferência de quantidade de movimento da atmosfera para o oceano, dando origem a dois fenómenos distintos: • ondas superficiais gravíticas; • correntes superficiais ou correntes de deriva. Pode-se obter uma estimativa da velocidade da corrente à superfície utilizando expressões empíricas; para valores baixos da velocidade do vento, a velocidade da corrente de deriva é aproximadamente igual a 3% da velocidade do vento. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA O movimento resultante da acção do vento na superfície do mar é transmitido às camadas inferiores do oceano através do atrito interno causado pelo escoamento turbulento da água. De uma maneira geral, no oceano a viscosidade turbulenta é bastante superior à viscosidade molecular. Diferença entre (a) fluxo laminar e (b) fluxo turbulento; as setas indicam os percursos de parcelas individuais de água. Diferença entre (a) viscosidade molecular e (b) viscosidade turbulenta (eddy viscosity); no caso da viscosidade molecular a transferência de quantidade de movimento entre camadas está associada a moléculas individuais, enquanto que para a viscosidade turbulenta está associada a parcelas de fluido. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA O Coeficiente de Viscosidade Turbulenta é o coeficiente de atrito com maior importância nos estudos oceânicos; depende do grau de turbulência e apresenta uma grande variação: • AZ - coeficiente de viscosidade turbulenta resultante da mistura vertical. Gama de valores: 10-2−102 kg m-1s-1. • AH - coeficiente de viscosidade turbulenta resultante da mistura horizontal. Gama de valores: 104−108 kg m-1s-1. O facto de AH ser muito superior a AZ reflecte a diferença na extensão segundo a qual a mistura pode ocorrer nas direcções horizontal e vertical. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Zonas de Convergência e Divergência no Oceano (e) (a) (c) (b) (d) Representação esquemática (a) de divergência de águas superficiais que conduz ao afloramento de águas sub-superficiais e (b) de convergência de águas superficiais que conduz ao seu afundamento. Representação esquemática do efeito de um vento ciclónico (a) na superfície e (b) na camada de mistura – Ekman Pumping. Representação esquemática do efeito de um vento anti-ciclónico (c) na superfície e (d) na camada de mistura. (e) Geração de uma corrente geostrófica num vórtice induzido por ventos anticiclónicos no Hemisfério Norte; esta corrente é induzida indirectamente pelo vento e persiste abaixo da camada de Ekman induzida pelo vento. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Zonas de Convergência e Divergência no Oceano Existem regiões de convergência linear, linear que são conhecidas frequentemente por Frentes Oceânicas, Oceânicas principalmente quando as propriedades da água, como por exemplo a temperatura e a produtividade, são vincadamente diferentes em cada um dos lados da convergência. Representação esquemática de diversos tipos de escoamento superficial que conduzem a movimento vertical de águas: (a) divergência conduz a afloramento de águas sub-superficiais; (b) convergência conduz ao afundamento das águas superficiais. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Existem convergências de pequena escala, frequentemente marcadas pela acumulação de detritos superficiais, por exemplo algas, plantas marinhas, espuma e manchas de petróleo. Em certas circunstâncias a convergência linear forma-se paralelamente ao vento e é designada Circulação de Langmuir ⇒ é composta por vórtices helicoidais, com eixos paralelos à direcção do vento em resultado de instabilidades causadas pela tensão do vento na água superficial bem misturada ou seja, com densidade homogénea. A Circulação de Langmuir surge em resultado da interacção entre as correntes induzidas por ventos superiores a 7 m/s e as correntes induzidas pelas ondas (Deriva de Stokes). A Circulação de Langmuir tem dimensões horizontais da ordem de quilómetros a dezenas de quilómetros. Representação esquemática da Circulação de Langmuir na camada superficial do oceano. Perspectiva da Circulação de Langmuir na camada superficial do oceano; a distância típica entre as linhas de convergência, paralelas à direcção do vento, é da ordem das dezenas de metros. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Movimento das partículas de água numa onda deriva das ondas (wave drift) ou deriva de Stokes – efeito não-linear (2ª ordem) INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Vortices alongados alinhados com o vento que podem ocorrer no oceano e em lagos Aumentam consideravelmente a mistura vertical, podem ver-se devido à acumulação de espuma à superfície em linhas de convergência Explicados através de teoria de instabilidade linear tendo como base a deriva de Stokes das ondas Explicação alternativa/complementar baseada na interacção ondas-turbulência INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA CIRCULAÇÕES DE LANGMUIR INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Zonas de Convergência e Divergência na Zona Costeira Representação de um jato costeiro produzido por um vento paralelo à costa: do lado esquerdo mostra a geração de um jato barotrópico e do lado direito mostra a geração de afloramento e de um jato baroclínico ao longo da costa. INFLUÊNCIA DO VENTO NA CIRCULAÇÃO COSTEIRA Zonas de Convergência e Divergência na Zona Costeira Esquema do afloramento (upwelling) (a) junto à costa e (b) ao longo do Equador e do (c) afundamento (downwelling) devido ao vento (a) (c) (b) O AFLORAMENTO COSTEIRO O Afloramento Costeiro é o resultado da divergência de águas superficiais para o largo nas zonas costeiras. O AFLORAMENTO COSTEIRO É característico da circulação na fronteira leste dos oceanos, em resposta à tensão do vento com componente paralela à costa que provoca uma corrente à superfície a 45º e um transporte de Ekman a 90º para a direita do vento (esquerda no H. Sul) ⇒ como o transporte de Ekman ocorre segundo um ângulo de 90º ‘cum sole' com a direção do vento, o transporte na camada superficial para o largo e o consequente afloramento de águas sub-superficiais ocorrem em resposta a ventos que sopram paralelamente à costa, em direção ao Equador. O AFLORAMENTO COSTEIRO O movimento de águas de superfície em direção ao largo conduz ao abaixamento do nível do mar junto à costa ⇒ a força do gradiente horizontal de pressão está orientada para a costa e o escoamento geostrófico ocorre no sentido do Equador. A soma da corrente geostrófica (no sentido do Equador) com a corrente de deriva (a 45º para o largo) resulta numa corrente à superfície para o largo e no sentido do Equador. tensão do vento O AFLORAMENTO COSTEIRO A partir de medições sub-superficiais disponíveis, a mais clara indicação de afloramento é a inclinação positiva em direção à costa das isotérmicas e, consequentemente, das isopicnas, o que revela a existência de condições baroclínicas. A inclinação das isóbaras, contrária à das isotérmicas em direção à costa, diminui com o aumento da profundidade, até que se tornam horizontais ⇒ a esta profundidade a força do gradiente horizontal de pressão e a corrente geostrófica são nulas. A profundidades superiores o declive das isóbaras é positivo em direção à costa o que indicia a existência de um escoamento para norte ⇒ uma contra-corrente deste tipo representa uma característica comum aos sistemas de afloramento. Transporte de Ekman Contra-corrente afloramento O AFLORAMENTO COSTEIRO O afloramento costeiro é difícil de investigar diretamente, porque ocorre episodicamente e porque a velocidade média do movimento ascendente é muito pequena, 5-10 metros por dia. Assim, para estudar o afloramento costeiro utilizam-se métodos indirectos, baseados tanto nas suas causas como nos seus efeitos: (i) a taxa a que a água aflora à superfície é a mesma a que a água na camada superficial se move para o largo ⇒ assumindo um estado estacionário, a taxa de afloramento pode ser calculada utilizando a expressão da velocidade média na camada de Ekman, V = τ Dρf (ii) embora haja indicadores químicos e biológicos de afloramento, na prática são os parâmetros físicos, como a temperatura, que se utilizam mais para identificar e investigar regiões e períodos de afloramento costeiro. A água que aflora à superfície provém de camadas sub-superficiais, a profundidades que vão desde 50 a 300 m. A água aflorada é significativamente mais fria e menos salgada; uma excepção é o que ocorre na costa oeste da América do Norte, onde a salinidade à superfície é mais baixa devido à descarga dos rios e à precipitação. O AFLORAMENTO COSTEIRO Simulação da evolução de uma situação de afloramento costeiro na costa leste dos EUA (New Jersey) O AFLORAMENTO COSTEIRO Frente Perspectiva de uma região de afloramento costeiro que ilustra o transporte de Ekman para o largo na camada superficial a ser substituido pela água que ascende da camada sub-superficial. A água aflorada, normalmente mais fria, está separada da água mais quente ao largo por uma superfície frontal paralela à costa O AFLORAMENTO COSTEIRO No afloramento costeiro existem duas escalas de comprimento horizontais com interesse: (i) a distância à costa da frente entre as águas quentes do largo e as águas frias afloradas, D; para uma camada superficial de 20 m de espessura e um vento paralelo à costa com velocidade de 7 m/s, a interface atinge a superfície do mar após 28 horas; se a velocidade for superior a 7 m/s durante as 28 horas a interface sobe à superfície e depois move-se para o largo proporcionalmente ao aumento acima dos 7 m/s. (ii) a largura da região onde a interface entre as camadas superior e inferior sobe até à superfície do mar, Ri, designada por escala de deformação interna de Rossby (raio interno de Rossby), dada pela expressão ( g'H 0 )1/ 2 Ri = f em que g’=(∆ρ/ρ)g é a gravidade reduzida e H0 é a profundidade da camada superficial. (a) Secção vertical através de uma região de afloramento costeiro em que a camada superficial de densidade ρ1 e profundidade H está sobre uma camada mais profunda de densidade ρ2. A interface entre as camadas sobe desde a profundidade H0 até à superfície ao longo da distância Ri. Na superfície a interface está a uma distância D da costa. (b) Plano horizontal das correntes paralelas à costa que são geradas pela distribuição de densidade em (a).