Mesa temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales DESARTICULAR O DISCURSO CIENTÍFICO EM CHARLES DARWIN: RAÇA-CIÊNCA-GÊNERO. Mattia Zonza Universidade de Napoles,“L’Orientale”, Filosofia e política, Napoles, Itália Univerdade Federal de Minas Gerais, Filosofia, Belo Horizonte, Brasil Email: [email protected] La modernidad y la racionalidad fueron imaginadas como experiencias y productos exclusivamente europeos. Desde ese punto de vista, las culturales relaciones entre Europa, intersubjetivas es decir y Europa Occidental, y el resto del mundo, fueron codificadas en un juego entero de nuevas categorías: Oriente-Occidente, primitivo- civilizado, mágico/mítico-científico, irracionalracional, tradicional-moderno. Anibal Quijano No momento em que nos falamos sobre Charles Darwin escolhendo uma perspectiva diferente, podemos perceber algumas considerações bem bizarras, as quais fazem compreender o que signifique a colonialidade de poder, saber, ser, gênero. No tocante do pensamento colonial, acerca da evolução e da Origem da espécie em Charles Darwin, na maioria dos casos poderíamos ouvir as categorias clássicas da ciência e do pensamento ocidental: o conceito linear da história ocidental, a ciência visada como neutral, os animais concebidos como maravilha e origem da evolução, a ciência moderna e contemporânea verdadeira e perfeita, o Homo Sapiens como fim da evolução humana universal. Todo isto acontece na contemporaneidade apontando um traço importante da colonialidade, que os estudos pós-colonias e descolonias já conseguiram criticar muito bem. Se quisermos desconstuir Charles Darwin e o pensamento científico, que assume a origem da espécie como fundamento científico do pensamento da ação e da pesquisa, devemos sem dúvida situar esse autor na história do século XIX. Durante o século em questão conseguimos enxergar o colonialismo no seu próprio horror de sangue. Os estados europeus, depois de ter colonizado Abya Yala, colonizaram e invadiram, também toda África para acrescentar a sua prória potência econômica. É preciso lembrar que no norte da África e no Oriente Médio, à partir do século XI, em força das cruzadas, o mar mediterrâneo tornou-se um lugar de atraversamento, de trocas, de invasão e de cristianização do “Outro”. A partir do século XIX a Espanha, A Itália, a França a Inglaterra, a Alemanha, o Portugal e a Belgica começaram a divisão do continente africano para uma brutal dominação do próprio continente; ao mesmo tempo, estas potências categorizaram novas teorias para criar um desenvolvimento do pensamento eurocentrico, fundamentando por conseguinte a legitimidade do colonialismo europeu. França e Inglaterra foram os primeros estados europeus que colonizaram a África: a primeira, que já tinha invadido a Argelia no ano de 1830, invadiu também os territorios na parte oeste equatorial, ao passo que a segunda, que já tinha substraido o Egito da Turchia para controlar o Canal de Suez, instituiu um sistema colonial cuja extenção que estendia-se desde o Cairo até a Cidade do Capo. Em dividir a África participaram também a Bélgica que invadiu o Congo, a Itália que invadiu a Eritrea e a Somália, a Alemanha que invadiu o Togo, Camerun, Tanzania, África Sul-Oeste. Dentro desta dinâmica do colonialismo na África, na América, na Ásia situa-se Chrles Darwin, o qual legitima e defende o colonizador branco, masculino, europeu cristão e cientista. Quando falamos sobre Darwin quase nunca levamos a sério em que medida a Origem da espécie seja o produto de um livro antecendente: Viagem de um naturalista ao redor do mundo, escrito durante a espedição conduzida por meio do navio de guerra da Real Armada Inglesa H.M.S. Beagle. A espedição de Charles Darwin partiu no dia de 27 dezembro de 1831 de Devonport, uma cidade situada no sul-oeste da Inglaterra; essa espedição teve como objetivo de mandar dados geograficos e cartograficos para a Real Marinha Militar Inglesa, a mais poderosa força militar naquela época. Isto foi o que o Reino Unido divulgou para os outros países colonizadores, mas na verdade foi uma estrategia para esconder as reais intenções do império colonial inglês. O Beagle possuia um peso de 242 toneladas, 10 canhões, extensão de 30 metros e 8 metros de largura, com 70 homens da Marinha Militar fortemente armados. Fitz Roy homem escolhido pela rainha da Inglaterra guiou a espedição do Beagle, junto com Charles Robert Darwin e o médico William Snow Harris. Na primeira vez que li Charles Darwin, quando eu era criança, já percebi algo de errado na teoria da evolução. Naquele parque de torturas chamados de zoológico, eu olhava para os olhos dos animais e o que eu pudia ver nos olhos deles não era evolução, mas uma condição de sofrimento, por ter sido encerrados numa cerca ou num espaço muito estrito, onde o homem branco ocidental pode olhar para o animal, comemorando desta maneira o sua própria dominação colonial e de colonialidade. O próprio orientalismo consiste na imagem de tigres, macacos, elefantes, leões, gazelas, ursos, zebras, avestruz, girafas, chimpanzes, gorila, tartarugas, passarinhos, papagaios e mil outros animais que foram presos nos zoológicos e que apontam a construção do imaginário da colonialidade. Elefantes, leões, gazelas, zebras, avestruz, girafas sempre são colocados em lugares do zoológico que apontem ao imaginário total da África como savana: terra pobre, selvagem, dura a ser vivida pelo homem branco, hospitaliera somente para o animal selvagem ou para o homem e a mulher negros do “terceiro mundo”. O terceiro mundo, construção do imaginario do homem branco, é concebido como território onde existiriam somente tribus com escassez de água e má nutrição; as grandes metrópolis nem figuram no imaginário do homem e da mulher europeus brancos: esta ausência é uma outra construção do imaginário colonial. Papagaios upupa, colibri, macacos são concebidos como imaginário tropical: cheios de cores, a ser descobertos, a ser investigados como maravilha selvagem. Parece que panda, coala, tigres não tenham um lugar particular e típico para construção de um orientalismo específico, que aponte para um imaginário determinado de um continente orientalizado. Parece que o Oriente asiático possua um significante particular: o Ocidente se define na base das construções que o próprio Ocidente faz do Oriente. Estas impressões sobre os parques zoológicos, que tive quando era uma criança articularam-se cada vez mais e acho que seja importante destaca-las. Estas mesmas improssões foram importantes para o meu primeiro trabalho de pesquisa, porque me conduziram para analisis cada vez mais articuladas e específicas. Mas agora voltamos para Darwin. No tocante da obra de Darwin e da espedição do Beagle, surgem algumas perguntas quasi espontâneas, a sermos curiosos e inteligentes: quem financiou a espedição de Darwin custosa assim? Porque um navio de guerra fortemente armado participaria de uma espedição marítima tendo por objetivos estudos cartográficos? Por qual razão a espedição começou no meio do Natal? Quem foram as pessoas que participaram da equipe da pesquisa? Estamos certos do que a própria equipe existia? Qual é o nome do cartógrafo? Porque num longo percurso transoceânico, que demorou quatro anos e nove meses navegaram nos ocêanos e nas regiões dos litorais da América do Sul, ao passo que realizou o percurso restante em apenas dez meses? Se se tratou de uma espedição de pesquisa, por qual razão o Beagle atirava com canhões navais cada vez que atingia um porto na América do Sul? Por qual razão, uma vez que tivessem parado, Darwin buscava por regiões cheias de recursos minerais, emquanto no mar ele buscava por santuários de baleias? Por qual razão Darwin foi três vezes nas Ilhas Malvinas e, durante esse período, o governador argentino foi assassinado? Porque, no Peru, depois de uma permanênca de quarenta dias do navio inglês, o presidente da republica Santiago Salaverry del Solar, inimigo do gorverno britanico foi assasinado? Até agora não encontrei respostas corretas para essas perguntas, só tenho hipótesis. Com certeza podemos afirmar que a espedição do Beagle teve principalmente um objetivo político e econômico, representado pelo tio e fututro sogro de Darwin, que pertencia a familia Wedgwood, um potente grupo que possuia o comércio da ceramica e que no início da revolução industrial ficou cada vez mais influente na sombra do império inglês. Qual tarefa teve que comprir o filho da alta elite inglesa, pegando em empréstimo da própria família o nome do famoso avô dele, Erasmus Darwin? A tarefa particular de Charles Darwin durante essa missão foi aquela de coordenar os interesses economicos e políticos do império colonial inglês e do seu próprio grupo familiar, saquear e usurpar, ainda mais, como já havia feito a patir do século XV, as riquezas dos países da América do Sul durante a espedição do Beagle. Durante a espedição, Charles Darwin mandou para a Europa muitos documentos fantásticos sobre as próprias “pesquisas”. Fazendo isto ele tentou esconder os objetivos principais da espedição principal marítima. Quando a espedição voltou para Inglaterra, Charles Darwin, graças a influência da sua poderosa familia foi consagrado como um naturalista revolucionário. Foi elegido membro da sociedade de Geologia e, depois, entrou no famoso clube dos maiores intelectuais brancos colonizadores ingleses: O Atheneum. Enfim, foi elegido como membro da Royal Society, a academia nacional inglesa da ciência, fundada no dia 28 novembro de 1660, instituida para delinear as bases do eurocentrismo universal. Frio, metódico e ambicioso, abandonou o noivado que tinha durado muitos anos com Fanny Owen, mulher pobre, para casar com Emma, a filha do poderoso tio Josiah Wedgwood II: eis as estratégias economicas e machistas do século XIX. Consagrado como um dos grandes da nação colonizadora inglesa, foi considerado um dos principais autores da colonialidade, em consolidar a dominação inglesa e europeia da América do Sul e na África. Durante os cinqo anos da espedição foram muitas as ações efetivas do racistacientista-machista-europeu branco para a defesa e a preservação dos interesses coloniais e imperias britânicos. Podemos fazer alguns exemplos em relação ao Brasil: o litoral bahiano era considerado como a importante área para as baleias, o que atraiu Darwin por duas vezes na cidade de Salvador, tanto na chegada quanto na volta da espedição do Beagle, foi instalada com financiamentos ingleses uma indústria de extração de gordura da baleia perto de Salvador. No estado de Minas Gerais, obtendo a hegemonia para a estração e venda do ouro, a Inglaterra fundou a empresa St. Jonh d'El Rey Minning, assim que pudesse acrescentar o capital industrial da Inglaterra. Na seguinte frase de um patriota brasileiro podemos atingir o signifado do colonialismo e o imperialismo no Brasil: “ A estração de ouro no Brasil, construiu as igrejas em Portugal, as indústrias na Inglaterra e os burracos no Brasil” ( Cajo Praio Junior). Antes de aproximarnos a crítica da Origem das Espécies e, por conseguinte, antes da desarticulação da teoria da evolução darwiniana devemos enunciar o último aspecto relativo a expedição militar do Beagle. Durante os cinco anos da viagem, quase quatro foram utilizados nos litorais do Brasil, Argentina, Patagonia, Terra do Fogo, Ilhas Malvinas, Chile, Peru e Ilhas Galapagos ( este arquipélogo era rico de guanos e santuários de baleias provenientes da Terra do Fogo). Atirando balas de canhões o navio atracou no Rio de Janeiro no dia 4 de abril de 1832, permanecendo náquela área por 93 dias. A mencionada região está próximo do estado de Minas Gerais conhecida pela sua riqueza de ouro. A intenção do império colonial inglês foi aumentar a estração de ouro e diamantes do estado de Minas Gerais, o que determinou a riqueza colonial de Portugal e da Inglaterra. Graças as pesquisas conduzidas estamos certos que o capitão Fitz Roy e os oficias dele foram até a cidade de Ouro Preto, antigamente capital de Minas Gerais, considerada como um dos maiores centros para estração de ouro no mundo. O plano principal era conhecer profudamente os recursos minerarios daquele estado, sobretudo as minas de ouro de Morro Velho, onde foi encontrada uma quantidade de 6 bilhões em toneladas de ouro. Enfim, existiu também um interesse para as minas de Maquim, onde estavam situadas os principais recursos de pedras calcárias, manganês e mármore: devemos lembrar que o tio e sogro de Charles Darwin foi o capitalista mais poderoso como referência a produção de ceramica e fusão do rame, isto é, existia um interesse familiar direto. O império colonial inglês teve a intenção de definir e explorar os recursos naturais dos países da América Latina e da África, os percusos marítimos para a navegação da armada maritima, mas especificadamente a dominação das áeras marítimas das baleias, foca e tartarugas gigantes da América Latina. Com certeza podemos concluir que o resultado da espedição militar não se esgotou somente no crescimento da economia inglesa, mas também na construção de um novo racismo que explicaremos e desarticularemos nas etapas seguintes. Mas podemos propor ao mesmos uma pergunta sobre A Origem das Espécies: com qual maneira podemos enchergar Charles Darwin? Com certeza podemos visa-lo como homem branco, cientista, burguês, racista, machista e especista. Racismo científico-epistemológico Até agora só temos dado demonstrações politíco-econômico-históricas para fazer ressurgir os vários aspectos da expedição militar inglesa que iria se esconder. Devemos observar que sem a expedição econômico militar, não teria sido possível a formulação da teoria da evolução e a publicação daquele horrível livro racista e machista: Sobre a origem das espécies a traves da seleção natural ou a preservação das raças favoritas na luta pela vida, ou melhor, Do Racismo Científico. Entretanto, seria imperdoável considerar as outras publicações de Charles Darwin desligadas dos outros livros e estremamente isolados como mónade de Leibniz. Para delinear anteriormente o ponto de vista de análise é necessário examinar o racismo como pensamento material racializante que se constituem com base na relação racial: estou falando dos parques zoológicos humanos, onde mulheres, crianças e homens negros eram exibidos aos brancos europeus. Essa situação já existia a partir do início do século XIX no qual Charles Darwin era plenamente inserido. Podemos notar que situar um autor já é uma ação de desarticulção que vai desmontar um dos conceitos fundamentais do pensamento ocidental: a abstração e a descontextualização universal. Por razões práticas nesta parte, trataremos somente um livro que todos conhecemos e poucos tem lido aprofundadamente: A Origem das Espécies. No período e lugar em que o homem pela primeira vez perdeu o seu revestimento peloso, não importa onde ou quando isto tenha acontecido, muito provavelmente habitava uma região quente. Já podemos percerber como os fundamentos da teoria da evolução já começaram vacilar, porque os dados não possuiam nenhum fundamento: não se sustentavam evidentes demonstrações certas, onde tudo se baseia sobre uma verdade já estabelecida, sobre um prejuízo racial plagiado de uma hipótese não evidenciada. “Não importa onde e quando isto tenha acontecido”, envia a um aspecto da origem construída no presente para construir uma base no passado: não se possui nenhuma certeza do passado, é nescessário construi-lo para especificar as características fundamentais do universalismo e determinar o futuro a partir de uma ciência exata, que definiria a existência de uma superioridade. O homem viveu por muito tempo nas extremas regiões do norte, sem madeiras para construir canoas ou outros objetos alimentando-se somente de gelo e bebendo neve derretido. Evidente que todos os seres viventes so podem viver sem introduzir no corpo ou na planta sais mineirais e alimento: não é sobre este ponto que devemos fixar. Esta frase tem um significado particular e dar-se conta de um dos esquemas fundamentais do famoso dezenho da evolução. Não se pretende definir uma origem exata, mas nomear a origem da vida do homem como qualquer coisa de retrogrado, primitivo, não civilizado, denileando para a separação da natureza hostil ao homem: atribuir a excelência da modernidade eurocentrica. Progredindo com a leitura, mais ou menos a metade do texto, os elementos apenas intuídos e deduzidos emergem na seguinte maneira, naquilo que poderíamos chamar pensamento ocidentalcolonial-universal: Vimos que as capacidades mentais dos animais superiores não diferem em qualidade dos homens das raças inferiores e bábaras, parece que também o seu senso do belo não é muito diferente […] do mesmo modo como os negros e os selvagem de muitas partes do mundo pintam o rosto com sinais vermelhos, azuis, brancos, assim parece que o macho do mandril ( uma espécie de macaco babuíno ) adquiriu o seu fucinho rugoso e vivamente colorido afim de se tornar atraente para a fêmea. Se alguém ainda acredita que o senhor Charles Darwin não seja racista, com este pequeno extrato da Origem das Espécies todas as dúvidas vêm confirmadas. Darwin pensa e cria uma nova condição do corpo na qual tem origem no domínio da ação e no discurso sobre a natureza. Podemos ver como o racismo epistemológico constrói um paralelo interseccional do animal-raçahumano. Essa conexão consiste no paralelo fenotípico da inteligência animal e das práticas indígenas. A intenção não é de definir uma “lei de hereditariedade genética”, mas de por os indígenas e os negros escravizados em uma condição de incapacidade de uma elaboração do pensamento para inseri-los na parte do mundo natural selvagem e não civilizado. Para comprender melhor o racismo científico-epistemológico devemos necessariamente iniciar a análise do conceito racial principal em Darwin: o atavismo, ou seja, a característica de como um caráter ancestral pode reaparecer na prole. Em base as características ancestrais que retardam a evolução nos termos de raças humanas “mais evoluídas” (homem branco – homo sapiens e homo sapiens sapiens) e “menos evoluídos” (indígena e negros). Tudo isto legitima a dominação das populações colonizadas e escravizadas: se são menos evoluídas em relação ao homem branco, o qual tem a razão, é justo dominá-los pois não possuem inteligência adequada para sobreviver a “seleção natural”, ou melhor, a seleção racial colonial. O ponto fundamental em que eu me refiro para começar uma análise possível é de pegar em exame o desenho da evolução que mostra o homo sapiens sapiens como o ponto final do homem moderno branco civilizado. No início da linha evolutiva encontramos o macaco cuja evolução é baseado na seleção natural, trocando postura e cor da pele. A intenção de Charles Darwin é de justificar a dominação da raça branca criando um novo pensamento racista. O cientista não acha desde o início da evolução mas parte desde o fim da linha evolutiva. As categorias da modernidade e as raízes do eurocentrismo foram pensados e construídos a partir do presente para definir o saber universal eurocentrico: construir o passado para definir o presente e o futuro. A origem da evolução é pensada na mesma modalidade: o ponto de partida não é o macaco, mas o homo sapiens sapiens. Se temos um ponto de vista pós-colonial e descolonial podemos ver como o racismo epistemológico da evolução, que atravessa todos os lugares da vida, faze constatar três principais oposições racistas e machistas: a oposição animal / humano (1), quer diretamente enunciar a contraposição humano / macaco (2) e além disso, uma contraposição racial entre negros indígenas / homem branco (3). Os negros e os indígenas são menos evoluídos enquanto as caracteríticas ancestrais do macaco são majoritariamente presentes. Embora, homem branco é mais evoluído porque não possui muitas características ancestrais que o ligam a um macaco e a natureza. Se queremos fazer uma correta e oportuna desconstrução é necessário pegar em exame um dos principais conceitos ocidentais que deliniam a condição da história fenomonológica universal: no tempo linear encontramos as categorias de passado, presente e futuro. Passado Presente Futuro O esquema anterior explica o procedimento das criações das categorias ocidentais para a universalisação eurocentrica. O conceito principal é: procurar desde o presente, o passado o qual define o presente mesmo para conceitualizar no presente a linha temporal da modernidade presente-futuro. Podemos ver que essa maneira de construir e de criar as categorias universais estejam presentes na teoria da evolução: parece evidente que o ponto de partida do pensamento racial em Darwin é a justificação da superioridade racial do homo sapiens e enfim do homo sapiens sapiens. Até agora expomos somente o racismo sem considerar a sexualidade, o gênero e a seleção sexual, ligada fortemente a seleção natural. Em todos os livros de Darwin a questão do sexo está ligada com a categoria da raça para justificar o que Hobbes e Locke chamam de estado de natureza, onde todos os indivíduos competem pela sobrevivência. Os indígenas são os sujeitos pricipais do discurso retórico da “lei da natureza” e da “seleção natural”. Com a seguinte citação os traços acima expostos emergem claramente: Por outro lado, as condições de vida dos selvagens e de alguns usos seus revelam favoráveis à seleção sexual. Sabese que os indígenas muito frequentemente são vítimas de carência alimentar. Eles não estão em condições de aumentar artificialmente os seus meios de subisistência […]. Em consequência, são obrigados a enfrentar duras lutas pela existência. Notamos que o paralelismo e a comparação da “seleção sexual” e “seleção natural”, que no outro ponto Darwin chamaria “seleção inconciente”, enquanto a lei da natureza que escolhe a sobrevivência do mais poderoso, é fortemente relacionada com a “luta pela existência”. O homo sapiens é o homem branco civilizado que sabia sobreviver e dominar a natureza o qual empõe a cotidianidade do estado de natureza de o Thomas Hobbes. Para desarticular este argumento é necessário escolher: ver com os próprios olhos, com o próprio olhar para interagir relacionando-se e confrontando-se com quem procurou sempre afirmar a existência própria a partir da chegada sanguinária do homem branco europeu. Eu falei com os indígenas, me confrontei com eles e nunca encherguei o que Darwin falou. A civilização e a colonização procuraram a fome entre os indígenas, a distruição da floresta, a escravização das mulheres indígenas, os filhos dos indígenas capiturados a força e levados para trabalhar nas minas ou obrigados pela construção de ferrovias funcionais a facilitação do transporte dos recursos mineirais. A seleção sexual e a luta pela existência não são parte da nartureza mas dos rios de sangue e da violência total do homem branco colonizador. A única luta pela existência dos indígenas que eu vi é aquela contra o homem branco que tinha querido sempre a não existência dos indígenas. Machismo epistemológico-científico Quando falamos de Charles Darwin devemos considerar o racismo como fundamentalmente constitutivo do pensamento e da prática machista. María Lugones em Colonialidad y gênero enuncia o caráter interseccional das várias e numerosas categorias do sistema eurocentrado de raça/classe/sexualidade/gênero dentro daquilo que ela denomina Sistema Moderno/Colonial de Gênero. Para analisar e desconstruir a teoria e a pratica evolucionista racista é necessário ter em consideração os elaborados da critica decolonial e pós-colonial feminista sem a qual seria impossível desenvolver uma crítica adequada do pensamento de Darwin. Em a Origem das Espécies é evidente que o machismo e o racismo são ligados a uma construção da inferioridade da mulher a nível biológico. Primeiramente é necessário començar daquilo que ao nosso olhar se apresenta como discurso distante do conceito machista: as observações e descrições dos animais. Os machos adultos de muitos crustáceos oceânicos têm os seus apêndices e antenas modificados à maneira extraordinária, a fim de possibilitar-lhes agarrar a fêmea […], assim precisam destes órgãos para propagar a sua espécie. O principal serviço prestado ao macho pelos seus órgãos preênseis consiste em impedir a fuga da fêmea antes que outros machos cheguem ou quando eles investem. Estes órgãos se aperfeiçoaram pela seleção sexual. Reparar qualquer coisa de estranho nesta descrição do procedimento reprodutivo dos crustáceos é, não somente evidente, mas bem visível. O cientista inglês branco, heterossexual não está desenvolvendo somente uma descrição do mundo animal como “Outro”, para definir o que é humano, branco, heterossexual, machista; esta expondo sua teoria como uma naturalização das diferenças sexuais ( María Lugones, pág. 86). Nesta parte Charles Darwin naturaliza seu prejuízo machista nos animais para falar da relação homem/mulher a nível humano: não esta descrevendo uma maneira de se relacionar entre animais, esta afirmando e construindo um machismo naturalizado para afirmar como a fêmea, no mundo animal, é sempre um objeto ou um não-sujeito passivo. Na colonialidade de gênero podemos identificar como o sexo biológico tenha sido construído socialmente e como a função reprodutiva foi considerada a característica essencial de uma mulher ( Maria Lugones, pág. 84). A “ seleção sexual” é uma construção para criar um macho que trata a fêmea como um mero objeto reprodutivo: mais o macho é dominante, melhor será o ato reprodutivo, o qual na descriçã dos crustáceos parece evidentemente um estrupo a todos os efeitos. O processo da colonialidade de gênero é descrito pela filosofa argentina segundo três características típicas do machismo: binarismo biológico, dicotomia homem/mulher, hierarquia heteronormativa. Podemos pronunciar em voz alta que estas três características são fortemente presentes na evolução darwiniana. Se houvesse dois grupos de homens e mulheres que mais sobressaíssem na poesia, na pintura, na escultura, na música, nas ciências, não poderia haver termos de comparação. Os homens são decididamente superiores às mulheres. Podemos concluir que, se em muitas disciplinas, os homens são decididamente superiores às mulheres, o poder mental médio do homem é superior àquele destas últimas. À mulher não é deixado absolutamente nada, não pode ter ocasiões para expressar-se, a sua existência é negada. Pensemos no que seria o seguinte conceito chamado “poder mental”. O pensamento ocidental separa instrumentalmente a razão, pertencente somente ao homem branco, cristão, europeu, heterossexual, e o corpo, visto como território a ser conquistado e modificado ao prazer da racionalidade moderna: a mulher não branca e o território colonial são considerados a mesma entidade de uso e prazer normativo do homem branco ( Rita Segato, Territorialidad y Cuerpo). O poder mental, aqui enunciado pelo Darwin, como poder criador produtivo e reprodutivo leva à pureza sexual , a uma essência criativa que se instaura nas relações hegemônicas: politicas, econômicas e raciais (Mc Clintock, 47). Sempre María Lugones nos faz observar que, com a teoria da evolução, se começou a definir os critérios anatômicos para determinar a posição relativa das raças da categoria aristotélica de “ser humano”. Parece oportuno deixar a palavra a Barbara Mc Clintock. El hombre inglés de clase media fue ubicado en el pináculo de la jerarquía evolutiva. Le seguían las inglesas blancas de clase media. Las trabajadoras domésticas, las trabajadoras de las minas y las prostitutas de clase trabajadora estaban colocadas en el umbral entre raza blanca y la negra. O Sistema Moderno/ raciais/machistas/sexuais Colonial específicas de e Gênero possui detalhadas, se se características dispõe dos instrumentos adequados para atuar uma oportuna desconstrução. Vemos que “ a seleção sexual”, que Darwin afirma com convicção, é racializada e naturalizada em todos os âmbitos da vida: distorce completamente a modalidade de vida da mulher indígena. Esta prática é ainda muito difundida em nossos dias e há motivo de se crer que o fosse ainda mais em tempos passados. Algumas tribos da América do Sul eliminaram tantas crianças de ambos os sexos, que estiveram a pique de se extinguir. Parece que as mulheres das ilhas da Polinésia matam de quatro a cinco até dez dos seus filhos. Esta passagem de não pouca importância, nos faz compreender o discurso eurocentrico: se para Darwin as populações inidigenas da América Latina se suicidaram e as mulheres da Polinésia mataram os proprios filhos, significa que o homem branco ( homo sapiens e homo sapiens sapiens), com seu raciocinio é destinado à sobrevivência e a propagação da sua raça. A mulher indigena é não-humana, é um monstro hipersexual que não merece proteção sexual e social ( Yen Le Espiritu 1997: 135), uma hidra que mata os proprios filhos sem alguma motivação. Somente o homem branco sabe produzir e reproduzir, a mulher indígena não possui as capacidades adequadas: é não-sujeito autodistruidor. Não se conhece exatamente todas as tribos que Darwin viu ao longo da expedição com o HMS Beagle, mas podemos ter certeza do fato que nenhuma tribo indígena possa ter atuado a seguinte ação sem alguma causa relativa ao colonialismo. Podemos demonstrar com Aníbal Quijano que os filhos das tribos indígenas eram considerados um recurso do capital humano para escravização e a racialização através do trabalho; para os colonizadores representavam um recurso para explorar e escassar. Com a acumulação originária na América começaram a assassinar e escravizar os indigenas e, ao mesmo tempo, estirpar e deportar as populações negras da África. Em Charles Darwin a violência de gênero e de raça é sistematizada e estruturada em forma epistemológica-científica, atravessando e construindo um racismo-machismo biológico social que constitui os âmbitos do pensamento e da abordagem da vida cotidiana até chegar aos dias atuais. Conclusões Na vida de todos se apresenta e se criam condições com as quais, antes ou depois, chegara o dia de se confrontar. Quando se começa a abrir um livro dos autores e das autoras dos estudos pós-coloniais e descoloniais se experimenta uma viagem de desconstrução e de reelaboração dos pensamentos e das ações desenvolvidas até aquele momento. Se torna disposto a autocriticar-se cotidianamente se chegará a um lugar de fronteira que permitirá enfrentar os caminhos de interseção entre os arames farpados, os muros e cercas metálicas. Desde os confins, das fronteiras, dos limites podemos pensar e imaginar outros lugares, olhares múltiplos e pluridirecionais. A vida é um tempo indeterminado: possui muitos sentidos, mil feições, acontecimentos desordenados, faces escondidas, novos lugares que se acharam conhecidos porque vividos por muito tempo, na mesma maneira, fortes embates que quase destroem, mas uma vez retomada a força nas próprias pernas se repara que aconteceu uma pequena metamorfose. Em uma certa maneira os três campos analisados para desmontar Charles Darwin e, sucessivamente, também as categorias do pensamento científico-epistemológico da contemporaneidade, que possuem como base a teoria evolucionista racista-machista, são traços de uma desconstrução pessoal para desestruturar as dinâmicas, as práticas e os pensamentos colonizados tomando como instrumento decolonizador uma atitude descolonizadora. Quando se quer desarticular o evolucionismo não se trata de desenvolver uma análise sem instrumentos porque não é um confronto mas um choque de frente ao qual é necessário possuir os instrumentos de interpretação mais ou menos elaborados, para não ser engajados nas categorias da rede do pensamento ocidental: descolonizar-se é desarticular-se e fazer-se autocrítica continuamente; não é envolverse mas por uma mudança metamórfica sem ter a preetensão ocidental de chegar ao ponto de descolonização universal e total. Referências Abdel Malek Sayad, 2002. La doppia assenza: dalle illusioni dell'emigrato alle sofferenze dell'immigrato. Milano, Raffaello Cortina. Achille Mbembe, 2003. Necropolitics.Public Culture Winter. Agassiz Almeida, 2012.O fenômeno humano: os reais objetivos da viagem de Charles Darwin no H.M.S. Beagle. São Paulo, Contexto. Aimé Césaire, 1955. Discours sur le colonialisme. Paris, Présence Africaine. Alejandro José Oto, 2003. Frantz Fanon : política y poética del sujeto poscolonial. México, El Colegio de México, Centro de Estudios de Asia y África, 2003. Anibal Quijano, 1994. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. Lima, Perù Indigena. Audre Lorde, 1980.Edad, raza, clase y sexo: las mujeres redefinen la diferencia. En “La hermana, la extranjera”. Artículos y conferencias. Horas y horas, Madrid, 2004. Axel Rojas, Eduardo Restrepo, 2010. Inflexión decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Popayán, Samava. Carlos Moore, 2010. O Marxismo e a questão racial: Karl Marx e Friedrich Engels frente ao racismo e à escravidão. Belo Horizonte, Cenafro, Nandyala. Carlos Moore, 2012. Racismo & Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. Belo Horizonte, Nandyala. Charles Darwin, 1937. Viagem de um naturalista ao redor do mundo. Rio de Janeiro, Cia Brasil Editora. Charles Darwin, 1981. A Origem das Espécies. São Paulo, Hemus. Charles Darwin, 2000. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo, Companhia das Letras. Charles Darwin, 2000. Autobiografia 1809-1882. Rio de Janeiro, Contraponto. Eduardo Galeano, 2014 [1940]. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre, L&PM. Edward W. Said, 2001 [1975]. Orientalismo: L'immagine europea dell'Oriente. Milano, Feltrinelli. María Lugones, 2008. Colonialidad y género. Cundinamarca, Tabula Rasa. Miguel Mellino, 2005. La critica postcoloniale: Decolonizzazione, capitalismo e cosmopolitismo nei postcolonial studies. Roma, Meltemi editore. Rita Segato, 2014. Entrevista de Karina Bidaseca: Mujer y cuerpo bajo control. Buenos Aires,Revista de Cultura. Sandro Mezzadra, Brett Neilson, 2013. Border as Method, or, the Multiplication of Labor. Durham, Duke University Press. Santiago Castro-Gómez y Ramón Grosfoguel, 2007. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá, Siglo del Hombre Editores. Stuart Hall, Miguel Mellino, 2007. La cultura e il potere. Conversazione sui cultural studies. Roma, Meltemi editore. Karina Bidaseca, 2010. Perturbando el texto (pos)coloniales en América Latina. Buenos Aires, SB. colonial. Los estudios Karina Bidaseca, 2014. Legados, genealogías y memorias poscoloniales. Buenos Aires, Ediciones Godot. Karina Bidaseca, 2013. Mondi (Post)coloniali. Considerazioni su razza, genere e sesso, soggettività e temporalità. Bologna, Scienza & Politica.