Mesa temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales

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Mesa temática: Epistemologías coloniales/des/poscoloniales
DESARTICULAR O DISCURSO CIENTÍFICO EM CHARLES DARWIN:
RAÇA-CIÊNCA-GÊNERO.
Mattia Zonza
Universidade de Napoles,“L’Orientale”, Filosofia e política, Napoles, Itália
Univerdade Federal de Minas Gerais, Filosofia, Belo Horizonte, Brasil
Email: [email protected]
La
modernidad
y
la
racionalidad
fueron
imaginadas como experiencias y productos
exclusivamente europeos. Desde ese punto de
vista,
las
culturales
relaciones
entre
Europa,
intersubjetivas
es
decir
y
Europa
Occidental, y el resto del mundo, fueron
codificadas en un juego entero de nuevas
categorías:
Oriente-Occidente,
primitivo-
civilizado, mágico/mítico-científico, irracionalracional, tradicional-moderno.
Anibal Quijano
No momento em que nos falamos sobre Charles Darwin escolhendo uma
perspectiva diferente, podemos perceber algumas considerações bem bizarras,
as quais fazem compreender o que signifique a colonialidade de poder, saber,
ser, gênero. No tocante do pensamento colonial, acerca da evolução e da
Origem da espécie em Charles Darwin, na maioria dos casos poderíamos ouvir
as categorias clássicas da ciência e do pensamento ocidental: o conceito linear
da história ocidental, a ciência visada como neutral, os animais concebidos
como maravilha e origem da evolução, a ciência moderna e contemporânea
verdadeira e perfeita, o Homo Sapiens como fim da evolução humana
universal.
Todo
isto
acontece
na
contemporaneidade
apontando
um
traço
importante da colonialidade, que os estudos pós-colonias e descolonias já
conseguiram criticar muito bem. Se quisermos desconstuir Charles Darwin e o
pensamento científico, que assume a origem da espécie como fundamento
científico do pensamento da ação e da pesquisa, devemos sem dúvida situar
esse autor na história do século XIX. Durante o século em questão
conseguimos enxergar o colonialismo no seu próprio horror de sangue. Os
estados europeus, depois de ter colonizado Abya Yala, colonizaram e
invadiram, também toda África para acrescentar a sua prória potência
econômica. É preciso lembrar que no norte da África e no Oriente Médio, à
partir do século XI, em força das cruzadas, o mar mediterrâneo tornou-se um
lugar de atraversamento, de trocas, de invasão e de cristianização do “Outro”.
A partir do século XIX a Espanha, A Itália, a França a Inglaterra, a Alemanha, o
Portugal e a Belgica começaram a divisão do continente africano para uma
brutal dominação do próprio continente; ao mesmo tempo, estas potências
categorizaram novas teorias para criar um desenvolvimento do pensamento
eurocentrico, fundamentando por conseguinte a legitimidade do colonialismo
europeu. França e Inglaterra foram os primeros estados europeus que
colonizaram a África: a primeira, que já tinha invadido a Argelia no ano de
1830, invadiu também os territorios na parte oeste equatorial, ao passo que a
segunda, que já tinha substraido o Egito da Turchia para controlar o Canal de
Suez, instituiu um sistema colonial cuja extenção que estendia-se desde o
Cairo até a Cidade do Capo. Em dividir a África participaram também a Bélgica
que invadiu o Congo, a Itália que invadiu a Eritrea e a Somália, a Alemanha
que invadiu o Togo, Camerun, Tanzania, África Sul-Oeste.
Dentro desta dinâmica do colonialismo na África, na América, na Ásia
situa-se Chrles Darwin, o qual legitima e defende o colonizador branco,
masculino, europeu cristão e cientista.
Quando falamos sobre Darwin quase nunca levamos a sério em que
medida a Origem da espécie seja o produto de um livro antecendente: Viagem
de um naturalista ao redor do mundo, escrito durante a espedição conduzida
por meio do navio de guerra da Real Armada Inglesa H.M.S. Beagle.
A espedição de Charles Darwin partiu no dia de 27 dezembro de 1831 de
Devonport, uma cidade situada no sul-oeste da Inglaterra; essa espedição teve
como objetivo de mandar dados geograficos e cartograficos para a Real
Marinha Militar Inglesa, a mais poderosa força militar naquela época. Isto foi o
que o Reino Unido divulgou para os outros países colonizadores, mas na
verdade foi uma estrategia para esconder as reais intenções do império
colonial inglês.
O Beagle possuia um peso de 242 toneladas, 10 canhões, extensão de
30 metros e 8 metros de largura, com 70 homens da Marinha Militar
fortemente armados. Fitz Roy homem escolhido pela rainha da Inglaterra guiou
a espedição do Beagle, junto com Charles Robert Darwin e o médico William
Snow Harris.
Na primeira vez que li Charles Darwin, quando eu era criança, já percebi
algo de errado na teoria da evolução. Naquele parque de torturas chamados de
zoológico, eu olhava para os olhos dos animais e o que eu pudia ver nos olhos
deles não era evolução, mas uma condição de sofrimento, por ter sido
encerrados numa cerca ou num espaço muito estrito, onde o homem branco
ocidental pode olhar para o animal, comemorando desta maneira o sua própria
dominação colonial e de colonialidade. O próprio orientalismo consiste na
imagem de tigres, macacos, elefantes, leões, gazelas, ursos, zebras, avestruz,
girafas, chimpanzes, gorila, tartarugas, passarinhos, papagaios e mil outros
animais que foram presos nos zoológicos e que apontam a construção do
imaginário da colonialidade.
Elefantes, leões, gazelas, zebras, avestruz, girafas sempre são colocados
em lugares do zoológico que apontem ao imaginário total da África como
savana: terra pobre, selvagem, dura a ser vivida pelo homem branco,
hospitaliera somente para o animal selvagem ou para o homem e a mulher
negros do “terceiro mundo”. O terceiro mundo, construção do imaginario do
homem branco, é concebido como território onde existiriam somente tribus
com escassez de água e má nutrição; as grandes metrópolis nem figuram no
imaginário do homem e da mulher europeus brancos: esta ausência é uma
outra construção do imaginário colonial.
Papagaios upupa, colibri, macacos são concebidos como imaginário
tropical: cheios de cores, a ser descobertos, a ser investigados como maravilha
selvagem.
Parece que panda, coala, tigres não tenham um lugar particular e típico
para construção de um orientalismo específico, que aponte para um imaginário
determinado de um continente orientalizado. Parece que o Oriente asiático
possua um significante particular: o Ocidente se define na base das
construções que o próprio Ocidente faz do Oriente.
Estas impressões sobre os parques zoológicos, que tive quando era uma
criança articularam-se cada vez mais e acho que seja importante destaca-las.
Estas mesmas improssões foram importantes para o meu primeiro trabalho de
pesquisa, porque me conduziram para analisis cada vez mais articuladas e
específicas. Mas agora voltamos para Darwin.
No tocante da obra de Darwin e da espedição do Beagle, surgem
algumas perguntas quasi espontâneas, a sermos curiosos e inteligentes: quem
financiou a espedição de Darwin custosa assim? Porque um navio de guerra
fortemente armado participaria de uma espedição marítima tendo por
objetivos estudos cartográficos? Por qual razão a espedição começou no meio
do Natal? Quem foram as pessoas que participaram da equipe da pesquisa?
Estamos certos do que a própria equipe existia? Qual é o nome do cartógrafo?
Porque num longo percurso transoceânico, que demorou quatro anos e nove
meses navegaram nos ocêanos e nas regiões dos litorais da América do Sul,
ao passo que realizou o percurso restante em apenas dez meses? Se se tratou
de uma espedição de pesquisa, por qual razão o Beagle atirava com canhões
navais cada vez que atingia um porto na América do Sul? Por qual razão, uma
vez que tivessem parado, Darwin buscava por regiões cheias de recursos
minerais, emquanto no mar ele buscava por santuários de baleias? Por qual
razão Darwin foi três vezes nas Ilhas Malvinas e, durante esse período, o
governador argentino foi assassinado? Porque, no Peru, depois de uma
permanênca de quarenta dias do navio inglês, o presidente da republica
Santiago Salaverry del Solar, inimigo do gorverno britanico foi assasinado?
Até agora não encontrei respostas corretas para essas perguntas, só
tenho hipótesis. Com certeza podemos afirmar que a espedição do Beagle teve
principalmente um objetivo político e econômico, representado pelo tio e
fututro sogro de Darwin, que pertencia a familia Wedgwood, um potente grupo
que possuia o comércio da ceramica e que no início da revolução industrial
ficou cada vez mais influente na sombra do império inglês. Qual tarefa teve
que comprir o filho da alta elite inglesa, pegando em empréstimo da própria
família o nome do famoso avô dele, Erasmus Darwin?
A tarefa particular de Charles Darwin durante essa missão foi aquela de
coordenar os interesses economicos e políticos do império colonial inglês e do
seu próprio grupo familiar, saquear e usurpar, ainda mais, como já havia feito a
patir do século XV,
as riquezas dos países da América do Sul durante a
espedição do Beagle.
Durante a espedição, Charles Darwin mandou para a Europa muitos
documentos fantásticos sobre as próprias “pesquisas”. Fazendo isto ele tentou
esconder os objetivos principais da espedição principal marítima. Quando a
espedição voltou para Inglaterra, Charles Darwin, graças a influência da sua
poderosa familia foi consagrado como um naturalista revolucionário. Foi
elegido membro da sociedade de Geologia e, depois, entrou no famoso clube
dos maiores intelectuais brancos colonizadores ingleses: O Atheneum. Enfim,
foi elegido como membro da Royal Society, a academia nacional inglesa da
ciência, fundada no dia 28 novembro de 1660, instituida para delinear as bases
do eurocentrismo universal.
Frio, metódico e ambicioso, abandonou o noivado que tinha durado
muitos anos com Fanny Owen, mulher pobre, para casar com Emma, a filha do
poderoso tio Josiah Wedgwood II: eis as estratégias economicas e machistas
do século XIX.
Consagrado como um dos grandes da nação colonizadora inglesa, foi
considerado um dos principais autores da colonialidade, em consolidar a
dominação inglesa e europeia da América do Sul e na África.
Durante os cinqo anos da espedição foram muitas as ações efetivas do racistacientista-machista-europeu branco para a defesa e a preservação dos
interesses coloniais e imperias britânicos.
Podemos fazer alguns exemplos em relação ao Brasil: o litoral bahiano
era considerado como a importante área para as baleias, o que atraiu Darwin
por duas vezes na cidade de Salvador, tanto na chegada quanto na volta da
espedição do Beagle, foi instalada com financiamentos ingleses uma indústria
de extração de gordura da baleia perto de Salvador.
No estado de Minas Gerais, obtendo a hegemonia para a estração e
venda do ouro, a Inglaterra fundou a empresa St. Jonh d'El Rey Minning, assim
que pudesse acrescentar o capital industrial da Inglaterra. Na seguinte frase de
um patriota brasileiro podemos atingir o signifado do colonialismo e o
imperialismo no Brasil: “ A estração de ouro no Brasil, construiu as igrejas em
Portugal, as indústrias na Inglaterra e os burracos no Brasil” ( Cajo Praio
Junior).
Antes de aproximarnos a crítica da Origem das Espécies e, por
conseguinte, antes da desarticulação da teoria da evolução darwiniana
devemos enunciar o último aspecto relativo a expedição militar do Beagle.
Durante os cinco anos da viagem, quase quatro foram utilizados nos
litorais do Brasil, Argentina, Patagonia, Terra do Fogo, Ilhas Malvinas, Chile,
Peru e Ilhas Galapagos ( este arquipélogo era rico de guanos e santuários de
baleias provenientes da Terra do Fogo).
Atirando balas de canhões o navio atracou no Rio de Janeiro no dia 4 de
abril de 1832, permanecendo náquela área por 93 dias. A mencionada região
está próximo do estado de Minas Gerais conhecida pela sua riqueza de ouro. A
intenção do império colonial inglês foi aumentar a estração de ouro e
diamantes do estado de Minas Gerais, o que determinou a riqueza colonial de
Portugal e da Inglaterra. Graças as pesquisas conduzidas estamos certos que o
capitão Fitz Roy e os oficias dele foram até a cidade de Ouro Preto,
antigamente capital de Minas Gerais, considerada como um dos maiores
centros para estração de ouro no mundo. O plano principal era conhecer
profudamente os recursos minerarios daquele estado, sobretudo as minas de
ouro de Morro Velho, onde foi encontrada uma quantidade de 6 bilhões em
toneladas de ouro. Enfim, existiu também um interesse para as minas de
Maquim, onde estavam situadas os principais recursos de pedras calcárias,
manganês e mármore: devemos lembrar que o tio e sogro de Charles Darwin
foi o capitalista mais poderoso como referência a produção de ceramica e fusão
do rame, isto é, existia um interesse familiar direto.
O império colonial inglês teve a intenção de definir e explorar os recursos
naturais dos países da América Latina e da África, os percusos marítimos para
a navegação da armada maritima, mas especificadamente a dominação das
áeras marítimas das baleias, foca e tartarugas gigantes da América Latina.
Com certeza podemos concluir que o resultado da espedição militar não
se esgotou somente no crescimento da economia inglesa, mas também na
construção de um novo racismo que explicaremos e desarticularemos nas
etapas seguintes.
Mas podemos propor ao mesmos uma pergunta sobre A Origem das
Espécies: com qual maneira podemos enchergar Charles Darwin? Com certeza
podemos visa-lo como homem branco, cientista, burguês, racista, machista e
especista.
Racismo científico-epistemológico
Até agora só temos dado demonstrações politíco-econômico-históricas
para fazer ressurgir os vários aspectos da expedição militar inglesa que iria se
esconder. Devemos observar que sem a expedição econômico militar, não teria
sido possível a formulação da teoria da evolução e a publicação daquele
horrível livro racista e machista: Sobre a origem das espécies a traves da
seleção natural ou a preservação das raças favoritas na luta pela vida, ou
melhor, Do Racismo Científico. Entretanto, seria imperdoável considerar as
outras
publicações
de
Charles
Darwin
desligadas
dos
outros
livros
e
estremamente isolados como mónade de Leibniz.
Para delinear anteriormente o ponto de vista de análise é necessário
examinar o racismo como pensamento material racializante que se constituem
com base na relação racial: estou falando dos parques zoológicos humanos,
onde mulheres, crianças e homens negros eram exibidos aos brancos
europeus. Essa situação já existia a partir do início do século XIX no qual
Charles Darwin era plenamente inserido.
Podemos notar que situar um autor já é uma ação de desarticulção que
vai desmontar um dos conceitos fundamentais do pensamento ocidental: a
abstração e a descontextualização universal. Por razões práticas nesta parte,
trataremos somente um livro que todos conhecemos e poucos tem lido
aprofundadamente: A Origem das Espécies.
No período e lugar em que o homem pela primeira vez
perdeu o seu revestimento peloso, não importa onde ou
quando
isto
tenha
acontecido,
muito
provavelmente
habitava uma região quente.
Já podemos percerber como os fundamentos da teoria da evolução já
começaram vacilar, porque os dados não possuiam nenhum fundamento: não
se sustentavam evidentes demonstrações certas, onde tudo se baseia sobre
uma verdade já estabelecida, sobre um prejuízo racial plagiado de uma
hipótese não evidenciada. “Não importa onde e quando isto tenha acontecido”,
envia a um aspecto da origem construída no presente para construir uma base
no passado: não se possui nenhuma certeza do passado, é nescessário
construi-lo para especificar as características fundamentais do universalismo e
determinar o futuro a partir de uma ciência exata, que definiria a existência de
uma superioridade.
O homem viveu por muito tempo nas extremas regiões do
norte, sem madeiras para construir canoas ou outros
objetos alimentando-se somente de gelo e bebendo neve
derretido.
Evidente que todos os seres viventes so podem viver sem introduzir no corpo
ou na planta sais mineirais e alimento: não é sobre este ponto que devemos
fixar. Esta frase tem um significado particular e dar-se conta de um dos
esquemas fundamentais do famoso dezenho da evolução.
Não se pretende definir uma origem exata, mas nomear a origem da vida
do homem como qualquer coisa de retrogrado, primitivo, não civilizado,
denileando para a separação da natureza hostil ao homem: atribuir a
excelência da modernidade eurocentrica. Progredindo com a leitura, mais ou
menos a metade do texto, os elementos apenas intuídos e deduzidos emergem
na seguinte maneira, naquilo que poderíamos chamar pensamento ocidentalcolonial-universal:
Vimos que as capacidades mentais dos animais superiores
não diferem em qualidade dos homens das raças inferiores e
bábaras, parece que também o seu senso do belo não é
muito diferente […] do mesmo modo como os negros e os
selvagem de muitas partes do mundo pintam o rosto com
sinais vermelhos, azuis, brancos, assim parece que o macho
do mandril ( uma espécie de macaco babuíno ) adquiriu o
seu fucinho rugoso e vivamente colorido afim de se tornar
atraente para a fêmea.
Se alguém ainda acredita que o senhor Charles Darwin não seja racista,
com este pequeno extrato da Origem das Espécies todas as dúvidas vêm
confirmadas. Darwin pensa e cria uma nova condição do corpo na qual tem
origem no domínio da ação e no discurso sobre a natureza. Podemos ver como
o racismo epistemológico constrói um paralelo interseccional do animal-raçahumano. Essa conexão consiste no paralelo fenotípico da inteligência animal e
das práticas indígenas. A intenção não é de definir uma “lei de hereditariedade
genética”, mas de por os indígenas e os negros escravizados em uma condição
de incapacidade de uma elaboração do pensamento para inseri-los na parte do
mundo natural selvagem e não civilizado.
Para comprender melhor o racismo científico-epistemológico devemos
necessariamente iniciar a análise do conceito racial principal em Darwin: o
atavismo, ou seja, a característica de como um caráter ancestral pode
reaparecer na prole. Em base as características ancestrais que retardam a
evolução nos termos de raças humanas “mais evoluídas” (homem branco –
homo sapiens e homo sapiens sapiens) e “menos evoluídos” (indígena e
negros). Tudo isto legitima a dominação das populações colonizadas e
escravizadas: se são menos evoluídas em relação ao homem branco, o qual
tem a razão, é justo dominá-los pois não possuem inteligência adequada para
sobreviver a “seleção natural”, ou melhor, a seleção racial colonial.
O ponto fundamental em que eu me refiro para começar uma análise
possível é de pegar em exame
o desenho da evolução que mostra o homo
sapiens sapiens como o ponto final do homem moderno branco civilizado.
No início da linha evolutiva encontramos o macaco cuja evolução é baseado na
seleção natural, trocando postura e cor da pele.
A intenção de Charles Darwin é de justificar a dominação da raça branca
criando um novo pensamento racista. O cientista não acha desde o início da
evolução mas parte desde o fim da linha evolutiva. As categorias da
modernidade e as raízes do eurocentrismo foram pensados e construídos a
partir do presente para definir o saber universal eurocentrico: construir o
passado para definir o presente e o futuro. A origem da evolução é pensada na
mesma modalidade: o ponto de partida não é o macaco, mas o homo sapiens
sapiens. Se temos um ponto de vista pós-colonial e descolonial podemos ver
como o racismo epistemológico da evolução, que atravessa todos os lugares da
vida, faze constatar três principais oposições racistas e machistas: a oposição
animal / humano (1), quer diretamente enunciar a contraposição humano /
macaco (2) e além disso, uma contraposição racial entre negros indígenas /
homem branco (3). Os negros e os indígenas são menos evoluídos enquanto as
caracteríticas ancestrais do macaco são majoritariamente presentes. Embora,
homem branco é mais evoluído porque não possui muitas características
ancestrais que o ligam a um macaco e a natureza.
Se queremos fazer uma correta e oportuna desconstrução é necessário
pegar em exame um dos principais conceitos ocidentais que deliniam a
condição da história fenomonológica universal: no tempo linear encontramos
as categorias de passado, presente e futuro.
Passado
Presente
Futuro
O esquema anterior explica o procedimento das criações das categorias
ocidentais para a universalisação eurocentrica. O conceito principal é: procurar
desde o presente, o passado o qual define o presente mesmo para
conceitualizar no presente a linha temporal da modernidade presente-futuro.
Podemos ver que essa maneira de construir e de criar as categorias universais
estejam presentes na teoria da evolução: parece evidente que o ponto de
partida do pensamento racial em Darwin é a justificação da superioridade racial
do homo sapiens e enfim do homo sapiens sapiens.
Até agora expomos somente o racismo sem considerar a sexualidade, o
gênero e a seleção sexual, ligada fortemente a seleção natural. Em todos os
livros de Darwin a questão do sexo está ligada com a categoria da raça para
justificar o que Hobbes e Locke chamam de estado de natureza, onde todos os
indivíduos competem pela sobrevivência. Os indígenas são os sujeitos pricipais
do discurso retórico da “lei da natureza” e da “seleção natural”.
Com a seguinte citação os traços acima expostos emergem claramente:
Por outro lado, as condições de vida dos selvagens e de
alguns usos seus revelam favoráveis à seleção sexual. Sabese que os indígenas muito frequentemente são vítimas de
carência
alimentar.
Eles
não
estão
em
condições
de
aumentar artificialmente os seus meios de subisistência
[…].
Em consequência, são obrigados a enfrentar duras lutas
pela existência.
Notamos que o paralelismo e a comparação da “seleção sexual” e
“seleção natural”, que no outro ponto Darwin chamaria “seleção inconciente”,
enquanto a lei da natureza que escolhe a sobrevivência do mais poderoso, é
fortemente relacionada com a “luta pela existência”. O homo sapiens é o
homem branco civilizado que sabia sobreviver e dominar a natureza o qual
empõe a cotidianidade do estado de natureza de o Thomas Hobbes. Para
desarticular este argumento é necessário escolher: ver com os próprios olhos,
com o próprio olhar para interagir relacionando-se e confrontando-se com
quem procurou sempre afirmar a existência própria a partir da chegada
sanguinária do homem branco europeu.
Eu falei com os indígenas, me confrontei com eles e nunca encherguei o
que Darwin falou. A civilização e a colonização procuraram a fome entre os
indígenas, a distruição da floresta, a escravização das mulheres indígenas, os
filhos dos indígenas capiturados a força e levados para trabalhar nas minas ou
obrigados pela construção de ferrovias funcionais a facilitação do transporte
dos recursos mineirais. A seleção sexual e a luta pela existência não são parte
da nartureza mas dos rios de sangue e da violência total do homem branco
colonizador. A única luta pela existência dos indígenas que eu vi é aquela
contra o homem branco que tinha querido sempre a não existência dos
indígenas.
Machismo epistemológico-científico
Quando falamos de Charles Darwin devemos considerar o racismo como
fundamentalmente constitutivo do pensamento e da prática machista. María
Lugones em Colonialidad y gênero enuncia o caráter interseccional das várias e
numerosas
categorias
do
sistema
eurocentrado
de
raça/classe/sexualidade/gênero dentro daquilo que ela denomina Sistema
Moderno/Colonial de Gênero. Para analisar e desconstruir a teoria e a pratica
evolucionista racista é necessário ter em consideração os elaborados da critica
decolonial e pós-colonial feminista sem a qual seria impossível desenvolver
uma crítica adequada do pensamento de Darwin. Em a Origem das Espécies é
evidente que o machismo e o racismo são ligados a uma construção da
inferioridade da mulher a nível biológico. Primeiramente é necessário començar
daquilo que ao nosso olhar se apresenta como discurso distante do conceito
machista: as observações e descrições dos animais.
Os machos adultos de muitos crustáceos oceânicos têm os
seus
apêndices
e
antenas
modificados
à
maneira
extraordinária, a fim de possibilitar-lhes agarrar a fêmea
[…], assim precisam destes órgãos para propagar a sua
espécie. O principal serviço prestado ao macho pelos seus
órgãos preênseis consiste em impedir a fuga da fêmea antes
que outros machos cheguem ou quando eles investem.
Estes órgãos se aperfeiçoaram pela seleção sexual.
Reparar qualquer coisa de estranho nesta descrição do procedimento
reprodutivo dos crustáceos é, não somente evidente, mas bem visível. O
cientista inglês branco, heterossexual não está desenvolvendo somente uma
descrição do mundo animal como “Outro”, para definir o que é humano,
branco,
heterossexual,
machista;
esta
expondo
sua
teoria
como
uma
naturalização das diferenças sexuais ( María Lugones, pág. 86). Nesta parte
Charles Darwin naturaliza seu prejuízo machista nos animais para falar da
relação homem/mulher a nível humano: não esta descrevendo uma maneira
de se relacionar entre animais, esta afirmando e construindo um machismo
naturalizado para afirmar como a fêmea, no mundo animal, é sempre um
objeto ou um não-sujeito passivo. Na colonialidade de gênero podemos
identificar como o sexo biológico tenha sido construído socialmente e como a
função reprodutiva foi considerada a característica essencial de uma mulher (
Maria Lugones, pág. 84). A “ seleção sexual” é uma construção para criar um
macho que trata a fêmea como um mero objeto reprodutivo: mais o macho é
dominante, melhor será o ato reprodutivo, o qual na descriçã dos crustáceos
parece evidentemente um estrupo a todos os efeitos.
O processo da colonialidade de gênero é descrito pela filosofa argentina
segundo três características
típicas do machismo: binarismo biológico,
dicotomia homem/mulher, hierarquia heteronormativa. Podemos pronunciar
em voz alta que estas três características são fortemente presentes na
evolução darwiniana.
Se houvesse dois grupos de homens e mulheres que mais
sobressaíssem na poesia, na pintura, na escultura, na
música,
nas
ciências,
não
poderia
haver
termos
de
comparação. Os homens são decididamente superiores às
mulheres. Podemos concluir que, se em muitas disciplinas,
os homens são decididamente superiores
às mulheres, o
poder mental médio do homem é superior àquele destas
últimas.
À mulher não é deixado absolutamente nada, não pode ter ocasiões para
expressar-se, a sua existência é negada. Pensemos no que seria o seguinte
conceito
chamado
“poder
mental”.
O
pensamento
ocidental
separa
instrumentalmente a razão, pertencente somente ao homem branco, cristão,
europeu, heterossexual, e o corpo, visto como território a ser conquistado e
modificado ao prazer da racionalidade moderna: a mulher não branca e o
território colonial são considerados a mesma entidade de uso e prazer
normativo do homem branco ( Rita Segato, Territorialidad y Cuerpo). O poder
mental, aqui enunciado pelo Darwin, como poder criador produtivo e
reprodutivo leva à pureza sexual , a uma essência criativa que se instaura nas
relações hegemônicas: politicas, econômicas e raciais (Mc Clintock, 47).
Sempre María Lugones nos faz observar que, com a teoria da evolução, se
começou a definir os critérios anatômicos para determinar a posição relativa
das raças da categoria aristotélica de “ser humano”. Parece oportuno deixar a
palavra a Barbara Mc Clintock.
El hombre inglés de clase media fue ubicado en el pináculo
de la jerarquía evolutiva. Le seguían las inglesas blancas de
clase media. Las trabajadoras domésticas, las trabajadoras
de las minas y las prostitutas de clase trabajadora estaban
colocadas en el umbral entre raza blanca y la negra.
O
Sistema
Moderno/
raciais/machistas/sexuais
Colonial
específicas
de
e
Gênero
possui
detalhadas,
se
se
características
dispõe
dos
instrumentos adequados para atuar uma oportuna desconstrução. Vemos que “
a seleção sexual”, que Darwin afirma com convicção, é racializada e
naturalizada em todos os âmbitos da vida: distorce completamente a
modalidade de vida da mulher indígena.
Esta prática é ainda muito difundida em nossos dias e há
motivo de se crer que o fosse ainda mais em tempos
passados. Algumas tribos da América do Sul eliminaram
tantas crianças de ambos os sexos, que estiveram a pique
de se extinguir. Parece que as mulheres das ilhas da
Polinésia matam de quatro a cinco até dez dos seus filhos.
Esta passagem de não pouca importância, nos faz compreender o
discurso eurocentrico: se para Darwin as populações inidigenas da América
Latina se suicidaram e as mulheres da Polinésia mataram os proprios filhos,
significa que o homem branco ( homo sapiens e homo sapiens sapiens), com
seu raciocinio é destinado à sobrevivência e a propagação da sua raça. A
mulher indigena é
não-humana, é um monstro hipersexual que não merece
proteção sexual e social ( Yen Le Espiritu 1997: 135), uma hidra que mata os
proprios filhos sem alguma motivação. Somente o homem branco sabe
produzir e reproduzir, a mulher indígena não possui as capacidades adequadas:
é não-sujeito autodistruidor.
Não se conhece exatamente todas as tribos que Darwin viu ao longo da
expedição com o HMS Beagle, mas podemos ter certeza do fato que nenhuma
tribo indígena possa ter atuado a seguinte ação sem alguma causa relativa ao
colonialismo. Podemos demonstrar com Aníbal Quijano que os filhos das tribos
indígenas eram considerados um recurso do capital humano para escravização
e a racialização através do trabalho; para os colonizadores representavam um
recurso para explorar e escassar. Com a acumulação originária na América
começaram a assassinar e escravizar os indigenas e, ao mesmo tempo,
estirpar e deportar as populações negras da África.
Em Charles Darwin a violência de gênero e de raça é sistematizada e
estruturada em forma epistemológica-científica, atravessando e construindo
um racismo-machismo biológico social que constitui os âmbitos do pensamento
e da abordagem da vida cotidiana até chegar aos dias atuais.
Conclusões
Na vida de todos se apresenta e se criam condições com as quais, antes
ou depois, chegara o dia de se confrontar. Quando se começa a abrir um livro
dos autores e das autoras dos estudos pós-coloniais e descoloniais se
experimenta
uma
viagem
de
desconstrução
e
de
reelaboração
dos
pensamentos e das ações desenvolvidas até aquele momento. Se torna
disposto a autocriticar-se cotidianamente se chegará a um lugar de fronteira
que permitirá enfrentar os caminhos de interseção entre os arames farpados,
os muros e cercas metálicas. Desde os confins, das fronteiras, dos limites
podemos pensar e imaginar outros lugares, olhares múltiplos e pluridirecionais.
A vida é um tempo indeterminado: possui
muitos sentidos, mil feições,
acontecimentos desordenados, faces escondidas, novos lugares que se
acharam conhecidos porque vividos por muito tempo, na mesma maneira,
fortes embates que quase destroem, mas uma vez retomada a força nas
próprias pernas se repara que aconteceu uma pequena metamorfose.
Em uma certa maneira os três campos analisados para desmontar
Charles Darwin e, sucessivamente, também as categorias do pensamento
científico-epistemológico da contemporaneidade, que possuem como base a
teoria evolucionista racista-machista, são traços de uma desconstrução pessoal
para desestruturar as dinâmicas, as práticas e os pensamentos colonizados
tomando como instrumento decolonizador uma atitude descolonizadora.
Quando se quer desarticular o evolucionismo não se trata de desenvolver uma
análise sem instrumentos porque não é um confronto mas um choque de
frente ao qual é necessário possuir os instrumentos de interpretação mais ou
menos elaborados, para não ser engajados nas categorias da rede do
pensamento ocidental: descolonizar-se é desarticular-se e fazer-se autocrítica
continuamente; não é envolverse mas por uma mudança metamórfica sem ter
a preetensão ocidental de chegar ao ponto de descolonização universal e total.
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