0 UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEAg – DEPARTAMENTO DE ESTUDOS AGRÁRIOS CURSO DE AGRONOMIA ALMIR GRUTZMANN VORPAGEL INOCULAÇÃO DE AZOSPIRILLUM, ISOLADO E ASSOCIADO A BIOESTIMULANTE, EM MILHO, NO NOROESTE DO RS. Ijuí - RS Julho - 2010 1 ALMIR GRUTZMANN VORPAGEL INOCULAÇÃO DE AZOSPIRILLUM, ISOLADO E ASSOCIADO A BIOESTIMULANTE, EM MILHO, NO NOROESTE DO RS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como um dos requisitos para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo, Curso de Agronomia do Departamento de Estudos Agrários da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ. Orientadora: Profa Dra Sandra Beatriz Vicenci Fernandes Ijuí Estado do Rio Grande do Sul - Brasil Julho - 2010 TERMO DE APROVAÇÃO ALMIR GRUTZMANN VORPAGEL INOCULAÇÃO DE AZOSPIRILLUM, ISOLADO E ASSOCIADO A BIOESTIMULANTE, EM MILHO, NO NOROESTE DO RS. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Agronomia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, defendido perante a banca abaixo subscrita. Ijuí (RS), 27 de julho de 2010. ______________________________________________ Profa Dra Sandra Beatriz Vicenci Fernandes DEAg/UNIJUÍ - Orientadora ______________________________________________ Profa Dra Leonir Terezinha Uhde DEAg/UNIJUÍ 3 DEDICATÓRIA Dedico esta conquista a toda a minha família, que sempre esteve ao meu lado me incentivando e apoiando para que eu pudesse concluir este curso superior. 4 AGRADECIMENTOS A Deus. Aos meus pais e demais familiares, pelo incentivo e apoio incondicional. Ao Departamento de Estudos Agrários (DEAg), professores e funcionários, pelo apoio, amizade e pelos valiosos ensinamentos prestados durante a jornada acadêmica. A professora Dra Sandra Beatriz Vicenci Fernandes pelo valioso e imprescindível acompanhamento e pela orientação dada neste trabalho de conclusão de curso. A empresa Stoller do Brasil Ltda., na pessoa de Lucas Roel Almeida, pela disponibilização dos produtos e auxilio prestado. Aos valiosos colegas de curso, em especial ao Adriano José Weber, Tiago José Jezewski, Eduardo Fronza, Fabiano Martins e demais, que de alguma ou outra forma auxiliaram na condução do experimento, pelo apoio e auxilio prestado na realização deste trabalho de pesquisa. Ao professor Dr. José Antonio González da Silva pela realização da análise estatística. Aos funcionários do Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), principalmente ao César Sartori, pelo auxilio prestado, o que possibilitou a boa condução do trabalho a campo. A todos os colegas de curso pelos bons momentos vividos, pela grande amizade compartilhada e pelo apoio dado durante esta jornada acadêmica. 5 INOCULAÇÃO DE AZOSPIRILLUM, ISOLADO E ASSOCIADO A BIOESTIMULANTE, EM MILHO, NO NOROESTE DO RS. Aluno: Almir Grutzmann Vorpagel Orientadora: Profa Dra Sandra Beatriz Vicenci Fernandes RESUMO O milho (Zea mays L.) é considerado mundialmente um dos cereais mais importantes devido ao seu elevado potencial produtivo, composição química e valor nutritivo porém, para se obter altos rendimentos a cultura exige o investimento de capital e tecnologia. Nos moldes atuais da agricultura, é inevitável não pensar em processos mais ecológicos, econômicos e eficientes de fertilização, voltados para o uso responsável dos recursos naturais. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo avaliar em condições de campo no noroeste do RS, a eficiência da inoculação do produto comercial Masterfix Gramíneas® a base de Azospirillum brasilense, separado e associado ao uso do bioestimulante Stimulate® (0,009% de Cinetina, 0,005% de Ácido Giberélico e 0,005% de Ácido Indolbutírico), com diferentes níveis de adubação nitrogenada, na cultura do milho. O experimento foi conduzido no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), situado no município de Augusto Pestana-RS, empregando delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de ausência de inoculação, inoculação com Azospirillum e inoculação com Azospirillum associado à aplicação de bioestimulante via tratamento de sementes, com três doses de nitrogênio em cobertura (50%, 70% e 100% da dose recomendada). A inoculação com Azospirillum e o uso de bioestimulante em milho não promoveram efeitos significativos no rendimento de grãos, bem como não influenciaram na massa de mil grãos, massa de grãos da espiga, número de fileiras por espiga e número de grãos por fileira. O uso da dose completa de nitrogênio em cobertura propiciou maior rendimento de grãos, por meio de aumento na massa média de grãos. Os tratamentos com 50% e 70% da dose de nitrogênio recomendada não diferiram estatisticamente quanto ao rendimento final de grãos. Palavras Chave: Azospirillum, bioestimulante, milho, nitrogênio, rendimento de grãos. 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Resultados e interpretação da análise de solo. IRDeR, Augusto Pestana – RS, 2009 ..................................................................................................................................................29 Tabela 2: Resumo da análise de variância para distintos caracteres de interesse agronômico em milho. IRDeR/Augusto Pestana-RS, 2010..........................................................................33 Tabela 3: Teste de comparação de médias entre tratamentos, para os caracteres rendimento de grãos a campo (RGC), número de plantas por parcela (NPP), número de espigas por planta (NEP), número de fileiras por espiga (NFE), número de grãos por fileira (NGF), massa de grãos da espiga (MGE), massa de mil grãos (MMG), diâmetro de sabugo (DS) e massa de sabugo (MS). IRDeR, Augusto Pestana – RS, 2010.................................................................34 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Rendimento de grãos de milho a campo com o uso de Azospirillum (Az), associado ou não a bioestimulante (St) e com distintas doses de N (%N). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010....................................................................................................................................35 Figura 2: Rendimento médio de grãos de milho, em função da inoculação com Azospirillum (Az) associado ou não a bioestimulante (St). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010..............37 Figura 3: Massa média de mil grãos de milho, em função das distintas doses de N. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010.....................................................................................................39 Figura 4: Massa média de grãos por espiga de milho, em função das distintas doses de N (%N). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010...........................................................................40 Figura 5: Número de plantas por parcela em função dos distintos tratamentos em milho. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010.....................................................................................41 Figura 6: Número de espigas por parcela em função dos distintos tratamentos em milho. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010......................................................................................42 8 LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS Apêndice A: Croqui do experimento com seus devidos tratamentos.......................................51 Apêndice B: Fotos da implantação do experimento e estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. IRDeR, Augusto Pestana – RS.....................................................................................52 Apêndice C: Fotos do experimento após ocorrência de granizo e no período final de desenvolvimento vegetativo da cultura. IRDeR, Augusto Pestana – RS..................................53 Anexo A: Dados de precipitação pluviométrica (mm) referente ao período de Outubro de 2009 a Março de 2010. IRDeR, Augusto Pestana – RS............................................................54 Anexo B: Dados de temperaturas máximas e mínimas (°C) referentes ao período de Outubro de 2009 a Março de 2010. IRDeR, Augusto Pestana – RS.......................................................55 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................10 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................0 1.1 A CULTURA DO MILHO .............................................................................................13 1.2 CARACTERÍSTICAS E ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO MILHO .............................................................................................................................15 1.3 COMPONENTES DO RENDIMENTO........................................................................16 1.4 FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO..............................................................17 1.5 BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS - AZOSPIRILLUM ................................................20 1.6 BIOESTIMULANTE ......................................................................................................24 1.6.1 Auxinas ..........................................................................................................................25 1.6.2 Giberelinas ....................................................................................................................26 1.6.3 Citocininas.....................................................................................................................26 2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................0 2.1 LOCAL, CLIMA E SOLO ..............................................................................................28 2.2 CARACTERIZAÇÃO DO EXPERIMENTO ...............................................................28 2.2.1 Caracterização do híbrido utilizado ............................................................................28 2.2.2 Análise de solo................................................................................................................29 2.3 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E TRATAMENTOS .....................................29 2.4 CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO ..............................................................................30 2.5 VARIÁVEIS MENSURADAS ........................................................................................31 2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ..............................................................................................32 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................................0 CONCLUSÕES.......................................................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................45 APÊNDICES E ANEXOS......................................................................................................50 10 INTRODUÇÃO O milho (Zea mays L.) é uma das culturas mais antigas do mundo, sendo atualmente amplamente cultivado, desempenhando também um papel fundamental no sistema de produção alimentar brasileiro. O elevado potencial produtivo, composição química e valor nutritivo fazem com que esse cereal seja considerado mundialmente como um dos mais importantes e devido a sua versatilidade de uso, é utilizado tanto na indústria, como na alimentação humana e animal. Há uma grande diversidade nas condições de cultivo do milho no Brasil. Observa-se uma grande parcela de pequenos produtores com agricultura tipicamente de subsistência, sem utilização de insumos modernos, cuja produção é voltada para consumo na propriedade e eventual excedente comercializado, e uma pequena parcela de grandes produtores com alto índice de produtividade, empregando maior área, mais capital e mais tecnologia na produção de milho, alcançando produtividades equivalentes às obtidas em países de agricultura mais avançada. O uso de tecnologia na produção de milho inclui entre outros, a melhoria na qualidade dos solos por meio de um adequado manejo com o uso da rotação de culturas, o plantio direto e o manejo da fertilidade, através da correção do solo e adubação equilibrada com macro e micronutrientes, utilizando fertilizantes químicos e/ou orgânicos. A extração de nutrientes do solo, pela planta de milho aumenta linearmente com o aumento da produtividade, sendo que as maiores exigências da cultura referem-se ao nitrogênio (N) e potássio (K), seguidos do cálcio, magnésio e fósforo. O nitrogênio é o nutriente mais requerido pelo milho, o que mais limita a produtividade e também o que mais onera a cultura. As recomendações atuais para a adubação nitrogenada em cobertura são realizadas com base em curvas de resposta, histórico da área e produtividade esperada. 11 Tomando-se como base a área cultivada com milho no Brasil, superior a 14 milhões de hectares considerando-se duas safras ao ano, e um consumo médio de 50 kg ha-1 de nitrogênio, têm-se um consumo médio anual de 700 mil toneladas de nitrogênio. O nitrogênio é o elemento mais abundante na atmosfera, porém numa forma indisponível às plantas, devido à grande estabilidade da molécula, o que torna necessária sua adição ao solo pelo uso de fertilizantes. Além disso, é um dos elementos mais frequentemente associado com o manejo inadequado e poluição ambiental. A preocupação crescente da sociedade com a preservação e a conservação ambiental tem resultado na busca pelo setor produtivo de tecnologias para a implantação de sistemas de produção agrícola com enfoques ecológicos, rentáveis e socialmente justos, com uso responsável dos recursos naturais. Na década de 70 foram ampliadas as pesquisas na área de fixação biológica de nitrogênio, sendo que culminou com a descoberta de novas espécies de bactérias associadas às gramíneas tanto na rizosfera, como no interior das plantas. As bactérias fixadoras de nitrogênio, a partir da enzima nitrogenase, catalisam a reação e fazem com que o processo de fixação biológica de N ocorra com gastos bem menores de energia, quando comparado à produção artificial de N. Assim, pode-se diminuir substancialmente o uso deste elemento na sua forma industrial e, consequentemente, reduzir os custos totais da lavoura e o consumo de energias não renováveis. Dentre os diversos grupos de bactérias estudadas, o Azospirillum, que é uma bactéria endofítica, tem se destacado na fixação biológica de nitrogênio. Além disso, apresenta antagonismo a agentes patogênicos e associa-se com diversas gramíneas (milho, trigo, sorgo, arroz, e outras) e com não-gramíneas, produzindo fito-hormônios. A inoculação com Azospirillum modifica a morfologia do sistema radicular pela produção de substâncias promotoras de crescimento, aumentando não apenas o número de radicelas, mas também o diâmetro das raízes laterais e adventícias, ampliando assim o volume de solo explorado e promovendo consequentemente ganhos em rendimento. Com ação similar aos hormônios vegetais, a aplicação de promotores de crescimento/bioestimulantes, que são compostos orgânicos, naturais ou sintéticos, provoca alterações nos processos vitais e estruturais com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade e facilitar a colheita, mesmo sob condições ambientais adversas. Essas substâncias podem ser aplicadas diretamente nas plantas (folhas, frutos, sementes), Em busca de uma agricultura sustentável é inevitável não pensar em processos mais ecológicos, econômicos e eficientes de fertilização. Assim, o emprego de bactérias fixadoras de nitrogênio e de promotores de crescimento como técnica agronômica para se incrementar a 12 produção nas diversas culturas tem tido grande destaque nos últimos anos. Em função de muitos resultados positivos divulgados pela pesquisa, algumas empresas de biotecnologia estão investindo no desenvolvimento de formulações de inoculantes para gramíneas, em especial para o milho e para o trigo. Sabe-se que já há registro no mercado e já estão sendo utilizados, principalmente na região centro-oeste e recentemente no RS, produtos comerciais à base de Azospirillum spp e de promotores de crescimento. Este trabalho objetivou avaliar o efeito do uso de Azospirillum (Masterfix Gramíneas®), separado e associado ao uso do bioestimulante Stimulate® (0,009% de Cinetina, 0,005% de Ácido Giberélico e 0,005% de Ácido Indolbutírico) com diferentes doses de N na cultura do milho, em condições de campo no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. 13 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 A CULTURA DO MILHO O milho pertence à classe Liliopsida, família Poaceae, gênero Zea, sendo classificado cientificamente como Zea mays L. Os primeiros registros do cultivo do milho datam de 7.300 anos atrás, e foram encontrados em pequenas ilhas próximas ao litoral do México. Seu nome, de origem indígena caribenha, significa "sustento da vida". Foi a alimentação básica de várias civilizações importantes ao longo dos séculos, sendo que os Olmecas, Maias, Astecas e Incas reverenciavam o cereal na arte e religião (MILHO, 2009). A domesticação ocorreu a partir de um ancestral selvagem, o teosinte. Com as grandes navegações do século XVI e o início do processo de colonização da América, a cultura do milho se expandiu para outras partes do mundo. Hoje é cultivado e consumido em todos os continentes e sua produção só perde para a do trigo e do arroz (MILHO, 2009). O milho tem um alto potencial produtivo e é bastante responsivo à tecnologia, sendo também a espécie vegetal mais utilizada em pesquisas genéticas. É um dos principais casos de sucesso da chamada revolução verde (MILHO, 2009). Além disso, é uma planta C4, sendo extremamente eficiente na conversão de CO2, apresentando altas taxas de fotossíntese líquida, mesmo em elevados níveis de luz (ALVES, 2007). As cultivares de milho são classificadas como híbridos simples, simples modificado, duplo, triplo, ou cultivares de polinização aberta (variedades). As cultivares de híbridos simples tem como vantagens maior uniformidade e potencial produtivo, além da maior uniformidade de plantas e espiga, porém a semente tem o custo mais elevado. Segundo Embrapa (2009), predominam no mercado brasileiro o uso de híbridos simples. Considerando o cultivo do milho, sabe-se que o rendimento é o resultado do potencial genético da semente, das condições edafoclimáticas, do local de semeadura e do manejo adotado na lavoura (BÁRBARO et al., 2008). A produtividade média mundial de milho tem aumentado de ano para ano, desde a introdução dos híbridos por volta da década de 30. Nos EUA, os ganhos de produtividade de milho foram proporcionais ao aumento do uso de fertilizantes minerais nitrogenados (CARDWELL1, 1982, apud BARROS NETO, 2008). O milho é uma planta de origem tropical, que exige durante o seu ciclo vegetativo temperatura, luminosidade e umidade para se desenvolver e produzir satisfatóriamente. Para 1 CARDWELL, V.B. Fifty years if Minnesota corn production: sources of yeld increase. Agronomy Journal, Madison, v.74, n.6, p. 984-990, nov./dec. 1982. 14 uma plena produtividade, há a necessidade de precipitação em torno de 350-500 mm no verão, sendo que na fase entre espigamento-maturação o gasto hídrico pode alcançar de 5,07,5 mm diários. A quantidade de água disponível para a cultura encontra-se na dependência da profundidade explorada pelas raízes, da capacidade de armazenamento de água no solo e da densidade radicular da planta (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). A formação de grãos na cultura do milho está estreitamente relacionada com a translocação de açúcares e de N de órgãos vegetativos, sobretudo das folhas para os grãos. Desta forma, o rendimento de grãos está diretamente relacionado com a área foliar fotossinteticamente ativa da planta. Folhas com adequados teores de N têm maior capacidade de assimilar CO2 e sintetizar carboidratos durante a fotossíntese, resultando em maior acúmulo de massa seca, possibilitando maior rendimento de grãos (BARROS NETO, 2008). No Brasil, rendimentos elevados tem sido obtidos com a utilização de 55.000 a 72.000 pl. ha-1, adotando-se espaçamentos variáveis de 55 a 80 cm e densidade de 3-5 pl. m-1 linear, devidamente arranjadas de forma a diminuir a competição entre plantas (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). De maneira geral, os maiores acréscimos na produtividade de milho estão associados ao incremento na quantidade de fertilizantes aplicados, e na busca por maiores eficiências de utilização das novas tecnologias. O milho constitui um dos principais insumos para o segmento produtivo, sendo utilizado com destaque no arraçoamento de animais, em especial na suinocultura, na avicultura e na bovinocultura de leite, tanto na forma “in natura”, como na forma de farelo, de rações ou de silagem. Na alimentação humana, o milho é comumente empregado na forma “in natura”, como milho verde, e na forma de subprodutos, como pão, farinha, massas (CANTARELLA, 1993) e atualmente na produção de etanol (ALVES, 2007). Na cadeia produtiva de suínos e aves são consumidos aproximadamente 70% do milho produzido no mundo e entre 70 e 80% do milho produzido no Brasil. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, com uma produção de 58,7 milhões de toneladas em uma área de 14,7 milhões de hectares. Na safra 2008/09, o rendimento médio brasileiro foi de 3.637 kg ha-1 e o rendimento médio da região Centro-Sul, onde se concentra quase 90% do milho produzido no país, atingiu 4.685 kg ha-1 (CONAB, 2009). O rendimento de uma lavoura de milho é o resultado do potencial genético da semente e das condições edafoclimáticas do local de plantio, além do manejo da lavoura (EMBRAPA, 2009). Produtores que adotam um bom nível tecnológico obtém 8 t ha-1 ou 15 mais, havendo registros de produções superiores a 16 t ha-1 em área não irrigada (CANTARELLA, 1993). A produção de milho, no Brasil tem-se caracterizado pela divisão da produção em duas épocas de semeadura. As semeaduras de verão ou primeira safra são realizadas na época tradicional, durante o período chuvoso, que varia entre fins de agosto na região Sul, até os meses de outubro e novembro no Sudeste e Centro-Oeste. Mais recentemente tem aumentado a produção obtida na safrinha ou segunda safra. A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, semeado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, predominantemente na região Centro-Oeste e nos estados do Paraná e São Paulo. As principais épocas de plantio são diferentes para cada região. A época de plantio da região Sul antecede a da região Sudeste, que consequentemente antecede a da região Centro-Oeste. O mesmo ocorre ao se comparar a época do plantio da região Centro-Oeste com as épocas das regiões Nordeste e Norte do Brasil (EMBRAPA, 2009). Do total de milho produzido no Brasil, a Região Sul participa com 47,90%, a Sudeste com 25,65%, a Centro-Oeste com 13,67%, a Nordeste com 9,65%, e a Norte com 3,13% (EMBRAPA, 2009). Dentre os sistemas de cultivo, o sistema de plantio direto (SPD) se consolidou como uma tecnologia conservacionista largamente aceita entre os agricultores, estando este fundamentado na mobilização mínima do solo, na manutenção de palhada sobre o solo, no controle químico de plantas daninhas e na necessidade de sucessão e de rotação de culturas (EMBRAPA, 2009), onde o milho entra como uma ótima opção de cultivo. 1.2 CARACTERÍSTICAS E ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA DO MILHO Nas condições brasileiras, a cultura do milho apresenta ciclo variável entre 110 e 180 dias da semeadura a colheita, em função da caracterização dos genótipos em superprecoce, pecoce e tardio (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). De acordo com Resende et al. (2003), a identificação utilizada para definir o padrão de desenvolvimento da planta em estádios é: vegetativo (V) e reprodutivo (R). Os estádios vegetativos e reprodutivos podem ser subdivididos em: 16 VE - Emergência V1 - Uma folha desenvolvida V2 - Duas folhas desenvolvidas V3 - Três folhas desenvolvidas V4 - Quatro folhas desenvolvidas Vn - n folhas desenvolvidas VT - Pendoamento R1 - Embonecamento e Polinização R2 - Grão Bolha d'água R3 - Grão Leitoso R4 - Grão Pastoso R5 - Formação de dente R6 - Maturidade Fisiológica Durante a fase vegetativa, cada estádio é definido de acordo com a formação visível do colar na inserção da bainha da folha com o colmo. Assim, a primeira folha de cima para baixo, com o colar visível, é considerada completamente desenvolvida (RESENDE et al., 2003). 1.3 COMPONENTES DO RENDIMENTO A produtividade de grãos de milho é determinada pela densidade de plantas, prolificidade ou número de espigas por planta, número médio de fileiras de grãos por espiga, número médio de grãos por fileira e massa média do grão. A densidade de plantas deve ser estabelecida de acordo com as características morfofisiológicas dos genótipos, época de semeadura e nível de manejo adotado na lavoura. Os componentes de rendimento do milho são definidos durante o desenvolvimento da planta (HANWAY2, 1966; NEL & SMITH3, 1978, apud BALBINOT JR. et al., 2005). O número de espigas por planta é definido quando as plantas apresentam cerca de cinco folhas expandidas. O número de fileiras por espiga é definido quando a planta apresenta de oito a doze folhas expandidas (aproximadamente um mês após a emergência da plântula). 2 HANWAY, J.J. Growth stages of corn (Zea mays L.). Agronomy Journal, Madison, v.55, n.5, p.487-492, 1966. 3 NEL, P.C.; SMITH, N.S.H. Growth and development stages in the growing maize plant. Farming in South Africa, p.1-7, 1978. 17 O número de grãos por fileira é afetado pelo tamanho da espiga, o qual é definido a partir das doze folhas até a fecundação. Em adição, a massa do grão é definida a partir da fecundação até a maturação fisiológica (BALBINOT JR. et al., 2005). A produtividade do milho é o resultado de vários fatores integrados, sendo que a massa de grãos e o número de grãos por planta e por unidade de área são os componentes mais importantes na predição do rendimento da cultura. A obtenção de maior número de grãos posssível é função da população e do número de espigas por planta (prolificidade) e por área (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). 1.4 FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO O nitrogênio (N) é um dos principais componentes das biomoléculas, estando presente na estrutura de ácidos nucléicos, aminoácidos, proteínas, entre outros, sendo essencial ao crescimento e desenvolvimento dos organismos. Em condições naturais, o N entra no sistema através da fixação biológica e/ou pela decomposição de resíduos de animais e vegetais. Do N contido no solo, cerca de 90% está presente na matéria orgânica numa forma estável, porém não disponível para as plantas. Este se torna disponível lentamente e em quantidades insuficientes para satisfazer as exigências das plantas de milho em crescimento (BARROS NETO, 2008), tornando necessária sua adição ao solo pelo uso de fertilizantes. O nitrogênio molecular (N2) é a forma mais abundante deste elemento na Terra e constitui 78 % da atmosfera terrestre. No entanto, os dois átomos de nitrogênio encontram-se unidos de maneira muito estável por uma tripla ligação, sendo que para que ocorra a reação básica de transformação do N atmosférico em amônia (N2 + 3H2 = 2NH3), é necessário o fornecimento de temperatura e pressão muito elevadas (fixação industrial) ou a presença de um sistema enzimático apropriado (fixação biológica). A fixação industrial do N2, chamada de processo Harber-Bosch, utiliza temperatura em torno de 400-600 °C e pressões em torno de 100-200 atm, sendo dispendiosa do ponto de vista energético (ALVES, 2007). A uréia pode ser considerada como um dos mais importantes fertilizantes nitrogenados devido à alta concentração de N (45%) e custo relativamente baixo. Porém, é uma fonte susceptível a perdas por volatilização de amônia. Nos países de clima tropical, principalmente, a agricultura é mais dependente do emprego de fertilizantes nitrogenados, pois devido às altas temperaturas, à grande quantidade de chuvas e à rápida decomposição da matéria orgânica, cerca de 50% dos adubos nitrogenados aplicados ao solo são perdidos via volatização, erosão, lixiviação, desnitrificação 18 e pela imobilização microbiana. A contaminação dos mananciais com resíduos de NO3- e NH4+ tem causado sérias preocupações uma vez que, em excesso, essas formas de nitrogênio podem causar danos à saúde dos homens e dos animais. A fixação biológica de nitrogênio consiste na redução do dinitrogênio atmosférico (N2) a amônio (NH3+) pelas bactérias diazotróficas. Esta reação ocorre no ambiente natural, com temperatura ambiente, através das bactérias fixadoras de nitrogênio, que com a presença da enzima nitrogenase, catalizam a reação e fazem com que o processo ocorra a níveis bem menores de energia. A bactéria consome energia da planta (açúcares), mas esta é compensada pelo aporte de N fornecido ao sistema. A fixação biológica de nitrogênio pode ser considerada o segundo processo biológico mais importante do planeta, depois da fotossíntese (ALVES, 2007). Este processo é de grande importância econômica, pois o nitrogênio é um dos fatores limitantes para o desenvolvimento da maioria das plantas de interesse comercial, e a fixação biológica acaba por tornar o sistema agrícola mais sustentável e produtivo. Todos os organismos fixadores de nitrogênio, chamados de organismos diazotróficos, são procariotos e utilizam para a fixação a enzima conhecida como nitrogenase. Essa enzima é sensível ao oxigênio, que pode destruí-la irreversivelmente. A reação de fixação biológica de N2 é endergônica, isto é, a amônia é mais rica em energia que o nitrogênio atmosférico, e para que a reação ocorra é necessário fornecimento de energia na forma de ATP. A FBN não é um processo realizado constantemente pelos organismos fixadores, mas ocorre apenas quando for insuficiente a concentração de nitrogênio fixado, devido ao alto gasto de energia para FBN, e quando a concentração de O2 for baixa, pois este pode inativar a nitrogenase (HOFFMANN, 2007). Nos últimos 20 anos foram feitas descobertas sobre o potencial das bactérias diazotróficas microaeróbias, do gênero Azospirillum, fixadoras de nitrogênio atmosférico, quando em vida livre. Quando associadas à rizosfera das plantas, podem contribuir com a nutrição nitrogenada dessas plantas (BÁRBARO et al., 2008). Plantas dependentes da fixação biológica de N2 geralmente possuem maior demanda de fósforo do que as plantas que recebem fertilizante nitrogenado, pois existe um aumento no consumo de ATP para o funcionamento da nitrogenase, além do necessário para transdução 19 de sinais entre a planta e os microrganismos (GRAHAM & VANCE4, 2000, apud SALA et al., 2007). O grande interesse na fixação biológica em gramíneas é devido à maior facilidade de aproveitamento de água das mesmas em relação às leguminosas e pela maior efetividade fotossintética. As gramíneas apresentam um sistema radicular fasciculado, tendo vantagens sobre o sistema pivotante das leguminosas para extrair água e nutrientes do solo. Por serem as gramíneas largamente utilizadas como alimento pelo homem, mesmo que apenas uma parte do N pudesse ser fornecida pela associação com bactérias fixadoras, a economia em adubos nitrogenados seria igual ou superior àquela verificada com as leguminosas que podem ser auto-suficientes em nitrogênio (DÕBEREINER5, 1992, apud CAMPOS et al., 2000). A fixação biológica de nitrogênio em culturas é de grande interesse tendo em vista os benefícios econômicos e ambientais dessa técnica. Sabe-se, por exemplo, que o nitrogênio é o nutriente mais requerido, o que mais limita a produtividade de milho e também o que mais onera a cultura (CASTELLEN, 2005). Assim sendo, o manejo correto dessa possível associação Azospirillum spp - Milho poderá resultar em incrementos de produtividade e em diminuição dos custos de produção, principalmente na aquisição de fertilizantes nitrogenados. Dentre os nutrientes aplicados, o nitrogênio é o que mais onera o custo da adubação, chegando a representar cerca de 40% do custo total de produção da cultura do milho. O milho é uma cultura que remove grandes quantidades de nitrogênio e por isso requer o uso de adubação nitrogenada intensiva, sendo recomendado o seu parcelamento, quando se deseja produtividades elevadas, com maior eficiência de utilização do adubo. Por estas razões, a fixação biológica de N aparece como uma alternativa de relevante importância no suprimento de nitrogênio necessário à cultura do milho. Assim, as pesquisas sobre a associação de bactérias diazotróficas com gramíneas têm avançado no caminho de um maior conhecimento das interações entre o genótipo da planta e a seletividade da população microbiana do sistema solo/planta (BARROS NETO, 2008). Existem também evidências de que a FBN possa auxiliar no sequestro de carbono, tendo impacto positivo na mitigação do aquecimento global. Em situações onde o balanço de N é positivo, a formação e a manutenção da matéria orgânica são estimuladas, levando a incorporação de carbono ao solo e diminuindo seu retorno para a atmosfera. Estudos indicam 4 GRAHAM, P.H.; VANCE C.P. Nitrogen fixation in perspective: an overview of research and extension needs. Field Crops Research, v.65, 2000. 5 DÕBEREINER, J. Fixação de nitrogénio em associação com gramíneas. In.: CARDOSO, E.J.B.N., TSAI, S.M., NEVES, M.C.P. Microbiologia do solo. Campinas : SBCS, 1992. 20 que a fixação biológica de 90 milhões de toneladas de N2 é equivalente ao sequestro adicional de 770 a 990 milhões de toneladas de carbono por ano (JUNIOR & MENDES, 2008). A exploração e a utilização da FBN em sistemas agrícolas visando à substituição ou, ao menos, a complementação do N fornecido por meio de fertilizantes industriais é uma estratégia interessante. O investimento na pesquisa e difusão da FBN, através de estudos multidisciplinares e integrados em áreas como microbiologia, ciência do solo, melhoramento de plantas, manejo de culturas, etc., pode trazer um grande benefício para o planeta, aumentando a produção de alimentos, reduzindo o uso de combustíveis fósseis e freando a contaminação dos recursos hídricos e da atmosfera (JUNIOR & MENDES, 2008). 1.5 BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS - AZOSPIRILLUM As bactérias do gênero Azospirillum são microrganismos diazotróficos, aeróbicos, capazes de se associar endofiticamente a plantas de interesse agrícola como milho, arroz, trigo e sorgo (DÖBEREINER & DAY6, 1976; DÖBEREINER7, 1991; PEDROSA8, 1988, apud CASTELLEN, 2005). A denominação de “bactéria endofítica”, comumente empregada, vem do fato de serem capazes de viver no interior da planta sem que, no entanto, induzam a uma resposta de defesa à sua presença (PETRINI9, 1991, apud SALA et al., 2007). Bactérias diazotróficas endofíticas em gramíneas possuem penetração passiva na planta, acessando o seu interior através de ferimentos, de sítios de emergência de raízes, coifa e estômatos nas folhas, espalhando-se pelos tecidos radiculares via apoplasto, colonizando os espaços intercelulares das células da hipoderme, córtex radicular e parede do aerênquima (OLIVARES et al.10, 1996, OLIVARES et al.11, 1997; JAMES et al.12, 1994; JAMES & OLIVARES13 , 1998, apud PERIN et al., 2003). 6 DÖBEREINER, J.; DAY, J. M. Associative symbioses in tropical grasses characterization of microorganisms and dinitrogen-fixing sites. In NEWTON, W. E. & NYMAN, C. J. eds. Proc. of the 1st. Intl. Symp. Nitrogen Fixation. v.2. Pullman, Washington Univ. Press. p.518-38, 1996. 7 DÖBEREINER, J. The genera Azospirillum and Herbaspirillum. In BALLOWS, A., TRUPPER, H.G., DWORKING, M., HARDER, W. The Prokaryotes. 2.ed. vol III., p.2236-3353, Springer-Verlag, 1991. 8 PEDROSA, F. O. Physiology, biochemistry and genetics of Azospirillum and other rootassociated nitrogenfixing bacteria CRC Critical Reviews in Plant Sciences. Boca Raton, v. 6, p. 345-383, 1988. 9 PETRINI, O. Fungal endophytes of tree leaves. In: ANDREWS J. and HIRANO S. (Eds). Microbial ecology of leaves. New york: Springer Verlag, 1991, p. 179-197. 10 OLIVARES, F. L.; REIS Jr., F. B. dos; REIS, V. M.; BALDANI, V. L. D.; BALDANI, J. I. & DOBEREINER, J. Infection of sugarcane roots by the endophytic diazotrophs Herbaspirillum seropedicae and H. rubrisubalbicans. International Symposium on Sustainable Agriculture for the Tropics: the Role of Biological Nitrogen Fixation, Programme and Abstracts. Angra do Reis, p. 65-66, 1996. 11 OLIVARES, F. L.; JAMES, E. K.; BALDANI, J. I. & DOBEREINER, J. Infection of mottled stripe disease susceptible and resistant varieties of sugar cane by endophytic diazotroph Herbaspirillum spp., New Phytology, Oxford, v. 135, p. 723-737, 1997. 21 A bactéria Azospirillum, além de diazotrófica, produz substâncias promotoras de crescimento como ácido indol-acético (AIA), giberelinas e citocininas, atuando na morfologia e fisiologia das raízes das plantas com as quais se associa, promovendo aumento do peso radicular, resultando numa maior superfície específica, auxiliando na melhor exploração do solo e na captação de água e nutrientes (PERIN et al., 2003). Assim sendo, bactérias diazotróficas associadas a plantas não leguminosas poderiam ser classificadas como bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCPs), uma vez que são capazes de promover benefícios às plantas, não exclusivamente pela FBN. Ao lado da FBN, o efeito de estimulação do crescimento pela bactéria no desenvolvimento das raízes, nos primeiros estádios de crescimento da planta, pode ser responsável pelo impacto positivo da inoculação (SALA et al., 2007). As pesquisas realizadas sugerem que a inoculação, portanto, não substitui o adubo nitrogenado, porém, promove a melhor absorção e utilização do N disponível (SAUBIDET et al.14, 2002, apud SALA et al., 2007) Em condições de campo, principalmente quando a bactéria é introduzida com a inoculação, a multiplicação e o estabelecimento na rizosfera são fatores importantes para obtenção dos benefícios propiciados por bactérias diazotróficas associadas a plantas não leguminosas, uma vez que precisam competir com os microrganismos nativos já existentes no solo. As bactérias diazotróficas endofíticas são favorecidas porque o interior da planta representa um hábitat mais protegido de outros microrganismos, além do maior acesso aos nutrientes disponibilizados pelas plantas (SALA et al., 2007). Segundo Didonet et al.15 (1996, apud BÁRBARO et al., 2008), são muitas as evidências de que a inoculação das sementes de milho com Azospirillum brasilense seja responsável pelo aumento da taxa de acúmulo de matéria seca, principalmente na presença de elevadas doses de nitrogênio, o que parece estar relacionado com o aumento da atividade das enzimas fotossintéticas e de assimilação de nitrogênio. 12 JAMES, E. K.; REIS, V. M.; OLIVARES, F. L.; BALDANI, J. I. & DOBEREINER, J. Infection and colonization of sugar cane by the nitrogen-fixing bacterium Acetobacter diazotrophicus. Journal of Experimental Botany, Oxford, v. 45, p. 757-766, 1994. 13 JAMES, E. K. & OLIVARES, F. L. Infection and colonization of sugar cane and other graminaceous plants by endophytic diazotrophs. Critical Review in Plant Science, Boca Raton, v. 17, p. 77-119, 1998. 14 SAUBIDET, M.I.; FATTA, N.; BARNEIX. The effect of inoculation with Azospirillum brasiliense on growth and nitrogen utilization by wheat plants. Plant and Soil, v.245, p.215-222, 2002. 15 DIDONET, A.D.; RODRIGUES, O; KENNER, M.H. Acúmulo de nitrogênio e de massa seca em plantas de trigo inoculadas com Azospirillum brasiliense. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.16, n.9, p.645-651, 1996. 22 Baseando-se em dados acumulados durante 22 anos de pesquisa com experimentos de inoculação a campo (OKON & VANDERLEYDEN16, 1997, apud BÁRBARO et al., 2008), concluíram que o gênero Azospirillum spp. promove ganhos de rendimento em importantes culturas nas mais variadas condições de clima e solo. O ganho com Azospirillum spp. não se restringe apenas ao suprimento de N pela fixação biológica do nitrogênio (FBN), mas também no aumento da superfície de absorção das raízes da planta e, consequentemente, no aumento do volume de solo explorado. Tal constatação é justificada pelo fato de a inoculação modificar a morfologia do sistema radicular, aumentando não apenas o número de radicelas, mas também, o diâmetro das raízes laterais e adventícias. Pelo menos parte, ou talvez muitos desses efeitos do Azospirillum spp. nas plantas, possa ser atribuído à produção, pela bactéria, de substâncias promotoras de crescimento, entre elas auxinas, giberilinas e citocininas, e não somente a FBN. Barros Neto (2008), utilizando Azospirillum brasiliense em um experimento com milho, num talhão comercial de uma fazenda situada no estado do Paraná, obteve aumento no rendimento de grãos de 9021 kg ha-1 para 9814 kg ha-1, ou seja, produtividade média estatisticamente 9% superior a testemunha não inoculada. Em outro experimento conduzido no estado do Paraná, Cavallet et al. (2000), com inoculação do produto comercial a base de Azospirillum spp., obtiveram aumento estatisticamente significativo na produtividade de grãos de milho, de 5211 kg ha-1 para 6067 kg ha-1, ou seja, aumento médio de 17%. Além disso, obtiveram aumento significativo no comprimento médio das espigas de milho, de 13,6 para 14,4 cm, ou seja, aumento médio de 6%, porém a inoculação não teve efeito sobre a altura de plantas nem sobre o número de fileiras de grão por espiga. Entretanto, Campos et al. (2000), avaliando o mesmo produto comercial a base de Azospirillum spp., com dois experimentos conduzidos em condições de campo no município de Cruz Alta no RS, não encontraram diferenças estatísticas para número de plantas, número de espigas, estatura de plantas e rendimento de grãos. Sala et al. (2007), afirmam que existem relatos de respostas positivas à inoculação de vários gêneros e espécies de bactérias endofíticas, como também ausência de resposta da planta à inoculação e até mesmo de efeitos negativos, dependendo da espécie vegetal, do genótipo, das condições nutricionais, assim como de fatores abióticos do meio ambiente. 16 OKON, Y.; VANDERLEYDEN, J. Root-associated Azospirillum species can stimulate plants. Applied and Environmental Microbiology, New York, v.63, n.7, p.366-370, 1997. 23 Existe o consenso de que o genótipo da planta é um fator chave para obtenção dos benefícios propiciados por bactérias diazotróficas endofíticas. Howell & Okon17 (1987, apud FREITAS, 2007) relataram grande variabilidade entre experimentos em estudos utilizando isolados de Azospirillum e de Azotobacter para verificar se tais gêneros bacterianos exerciam benefício pela fixação de nitrogênio ou por outra forma. De qualquer maneira, consideraram que para Azotobacter as respostas eram mais consistentes que para Azospirillum. Segundo Antoun et al.18 (1998, apud FREITAS, 2007), a variabilidade dos resultados é um dos maiores problemas associados a experimentos de inoculação de rizobactérias promotoras de crescimento das plantas e é devida, provavelmente, à complexidade das interações envolvidas na rizosfera entre a planta, a bactéria introduzida e o resto da microbiota rizosférica, neutra ou deletéria. O melhoramento genético é geralmente conduzido com a aplicação de quantidades elevadas de N, podendo levar à seleção de genótipos que apresentem consumo de luxo de N ou requeiram elevadas doses deste nutriente para expressarem seu potencial produtivo. Por outro lado, os baixos níveis de N podem contribuir naturalmente para a seleção de genótipos eficientes na fixação biológica do nitrogênio, o que pode representar diminuição na necessidade de fertilização nitrogenada (BODDEY et al.19, 1995 apud ROESCH et al., 2005). Este fato possibilitou no Brasil, que tradicionalmente aplica baixos níveis de nitrogênio ha-1, a seleção natural ou o melhoramento de diversos genótipos com maiores capacidades de se associarem com bactérias fixadoras de nitrogênio. Um exemplo disto é a cana de açucar, que mesmo com aplicações mínimas de fertilizante nitrogenado, mantém sua nutrição nitrogenada sem esgotamento do solo (ALVES, 2007). Uma colonização efetiva vai depender de aspectos como escolha da estirpe, estado fisiológico da planta e da bactéria, genótipo da planta, aspectos físico-químicos do solo, competição com outros microorganismos, veículo de inoculação entre outros. O genótipo de cultivares de milho influencia na colonização da planta pelas bactérias, provavelmente devido 17 HOWELL, C. R. & OKON, Y. Recent results of greenhouse and field trials on bacterialinduced plant growth promotion with no obvious symptoms of plant disease In: FIRST INTERNATIONAL WORKSHOP ON PLANT GROWTH-PROMOTING RHIZOBACTERIA, 1., 1987, Orillia. Proceedings of the First International Workshop on Plant Growth-Promoting Rhizobacteria. Orillia: Kloepper, J., 1987. p. 29-33. 18 ANTOUN, H.; BEAUCHAMP, C. J.; GOUSSARD, N.; CHABOT, R. & LALANDE, R. Potential of Rhizobium and Bradyrhizobium species as plant growth promoting rhizobacteria on nonlegumes: Effect on radishes (Raphanus sativus L.). Plant and Soil, v. 204, p. 57-67, 1998. 19 BODDEY, R.M. et al. Biological nitrogen fixation associated with sugarcane and rice: contributions and prospects for improvement. Plant and Soil, v.174, p.195-209, 1995. 24 à composição química dos exsudados liberados pelo sistema radicular do milho, que podem ou não servir como fonte de carbono para as bactérias inoculadas (QUADROS, 2009). Segundo Quadros (2009), a inoculação de Azospirillum na presença de pequenas doses de fertilizantes nitrogenados tem mostrado maior eficiência para o sistema planta/bactéria do que quando comparado ao uso isolado da bactéria. A adição de nitrogênio ao milho tem um efeito direto sobre a exsudação radicular, aumentando o fornecimento de fontes de carbono às bactérias, estimulando desta forma sua colonização e contribuindo com a efetivação da inoculação. 1.6 BIOESTIMULANTE O emprego de bioestimulantes como técnica agronômica para se otimizar a produtividade de diversas culturas, tem crescido nos últimos anos. Os hormônios contidos nos bioestimulantes são moléculas sinalizadoras, naturalmente presentes nas plantas em concentrações basicamente pequenas, sendo responsáveis por efeitos marcantes no desenvolvimento vegetal (TAIZ e ZEIGER, 2004). Os órgãos vegetais de uma planta são alterados morfologicamente pela aplicação de bioestimulantes, de modo que o crescimento e o desenvolvimento das plantas são promovidos ou inibidos, influenciando ou modificando os processos fisiológicos de modo a controlar a atividade meristemática. Os reguladores de crescimento, responsáveis por efeitos diversos nas plantas, fazem parte do grupo de substâncias vegetais denominada de hormônios vegetais. Os hormônios vegetais são agrupados em cinco classes principais: auxinas (ácido indol acético, AIB, ANA), giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico (ABA). Estes hormônios são produzidos em um sítio da planta e translocados para outros sítios para alterar o crescimento e desenvolvimento. O hormônio natural e outros materiais são essencialmente “mensageiros químicos”, que exercem influência sobre o desenvolvimento de diversos órgãos da planta (HALLMANN et al.20, 1988, apud GUERREIRO, 2008). O efeito fisiológico no vegetal, causado por certo fitohormônio, depende da associação de três fatores primários: concentração do hormônio no sítio de atuação, sensibilidade das células ou tecidos e presença de outros hormônios vegetais. Da associação 20 HALLMANN, J. et al. Similarities and differences in the mode-of-action of two rhizosphere bacteria antagonistic to Globodera pallida on potato. Biological Control of Fungal and Bacterial Plant Pathogens. IOBC Bulletin, v. 21, n. 9, p. 41-43. 1988. 25 destes fatores complexos é que resulta a resposta fisiológica a um fitohormônio (HALL et al.21, 1996, apud GUERREIRO, 2008). O Stimulate®22 é um estimulante vegetal, contendo reguladores vegetais e traços de sais minerais quelatizados. Seus reguladores vegetais constituintes são ácido índolbutírico (auxina) 0,005%, cinetina (citocinina) 0,009% e ácido giberélíco (giberelina) 0,005%. Esse produto químico incrementa o crescimento e o desenvolvimento vegetal estimulando a divisão celular, a diferenciação e o alongamento das células, também aumenta a absorção e a utilização dos nutrientes e é especialmente eficiente quando aplicado com fertilizantes foliares, sendo também compatível com defensivos (CASTRO et al., 1998). Dourado Neto et al. (2004), testando o uso deste bioestimulante na cultura do milho, obtiveram aumento significativo no rendimento de grãos quando o produto foi aplicado via tratamento de sementes, na dose de 1,5 litros do produto comercial para 100 kg de sementes. As variáveis diâmetro de colmo e número de grãos por fileira da espiga também foram afetadas positivamente pela aplicação do bioestimulante. Entretanto, Ferreira et al. (2007), com o uso associado de dois bioestimulantes/promotores de crescimento via tratamento de sementes em pré-semeadura no milho, observaram um maior desenvolvimento da cultura e consequentemente maior altura de inserção das espigas porém, para os parâmetros estande final de plantas, número de espigas e produtividade não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos avaliados. 1.6.1 Auxinas Conforme Taiz & Zieger (2004), a auxina foi o primeiro hormônio vegetal descoberto (1927), sendo necessário para a viabilidade das plantas. É sintetizada no ápice caulinar e posteriormente é transportada em direção aos tecidos localizados abaixo do ápice, sendo necessária para o alongamento contínuo dessas células. Ela promove o crescimento por alongamento, via aumento na capacidade de extensão da parede celular. A aspersão da planta com auxina exógena resulta em um modesto e breve estímulo no crescimento de caules jovens e coleóptilos. Baixos niveis de auxina são também necessários para o alongamento da raiz, sendo que altas concentrações podem inibir o crescimento desse órgão. Além de suas funções no crescimento e nos tropismos, a auxina participa na regulação da dominância apical, da iniciação das raízes laterais, da abscisão foliar, da 21 HALL, J. A. et al. Root elongation in various agronomic crops by the plant growth promoting rhizobacterium Pseudomonas putida GR 12-2. Israel Journal Plant Science, v. 44, p. 37-42, 1996. 22 Fabricado pela empresa Stoller do Brasil Ltda. 26 diferenciação vascular, da formação de gemas florais e do desenvolvimento do fruto. As aplicações comerciais de auxina incluem compostos para enraizamento e herbicidas. O milho e as demais monocotiledôneas podem rapidamente inativar auxinas sintéticas por conjugação, o que permite seu uso como herbicida. O 2,4-D e o Dicamba são herbicidas a base de auxina, para o controle de dicotiledôneas invasoras, mais amplamente utilizados (TAIZ & ZIEGER, 2004). 1.6.2 Giberelinas As giberelinas são um segundo grupo de hormônios descobertos na década de 1950. É caracterizada como um grande grupo de compostos relacionados (mais de 125), muitos dos quais biologicamente inativos, definidos mais por sua estrutura química do que por sua atividade biológica (TAIZ & ZIEGER 2004). São frequentemente associadas à promoção do crescimento do caule, e a sua aplicação às plantas intactas pode induzir a aumentos significativos nas suas alturas, principalmente nas plantas anãs e nas plantas da família poaceae. Além disso, controlam vários aspectos da germinação de sementes, incluindo a quebra de dormência e a mobilização das reservas do endosperma. Pode afetar a transição do estado juvenil para o maduro, bem como a indução da floração, a determinação do sexo e o estabelecimento do fruto. O transporte da giberelina na planta é de natureza não polar, ocorrendo na maioria dos tecidos, incluindo xilema e floema (TAIZ & ZIEGER, 2004). Um hormônio pode influenciar a biossíntese de outro, sendo que a giberelina pode induzir a síntese de auxina e vice-versa. Os fatores ambientais tais como fotoperíodo e temperatura, podem alterar os níveis de giberelinas ativas nas plantas. Os principais usos comerciais da giberelina, quando aplicadas por aspersão ou imersão, incluem o controle do cultivo de frutas (aumento no comprimento do pedúnculo de uvas sem sementes), a maltagem da cevada e o aumento da produção de açúcar em cana-deaçúcar. Em algumas plantas a redução na altura pode ser desejável, sendo que pode ser obtido por meio do uso de inibidores da síntese de giberelinas (TAIZ & ZIEGER, 2004). 1.6.3 Citocininas Segundo Taiz & Zieger (2004), as citocininas são consideradas como fatores da divisão celular em muitas células vegetais, quando cultivadas em meio de cultura que 27 contenha uma auxina. São sintetizadas nas raízes, em embriões em desenvolvimento, folhas jovens, frutos e nos tecidos da galha da coroa. Também podem ser sintetizadas por bactérias, insetos e nematóides associados às plantas. As citocininas participam na regulação de muitos processos do vegetal, incluindo a divisão celular, senescência foliar, mobilização de nutrientes, dominância apical, formação e atividade dos meristemas apicais, desenvolvimento floral, germinação de sementes e a quebra da dormência de gemas. Parecem mediar também muitos aspectos do desenvolvimento regulado pela luz, incluindo a diferenciação dos cloroplastos, o desenvolvimento do metabolismo autotrófico e a expansão de folhas e cotilédones. A razão entre auxina e citocinina determina a divisão celular e a diferenciação em raiz ou gema de tecidos vegetais cultivados, sendo que uma alta relação auxina:citocinina estimula a formação de raízes (TAIZ & ZIEGER, 2004). 28 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 LOCAL, CLIMA E SOLO O experimento foi conduzido a campo no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural (IRDeR), pertencente ao Departamento de Estudos Agrários (DEAg) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), no ano agrícola de 20092010. O IRDeR está localizado no município de Augusto Pestana (RS), sendo sua localização geográfica de 28° 26’ 30 26” de latitude Sul e 54° 00' 58' 31 de longitude W apresentando altitude aproximada de 400 metros. O clima da região, segundo a classificação de Köppen é cfa, ou seja, um clima subtropical úmido, com verão quente sem estiagem típica e prolongada, com uma média anual de precipitação pluviométrica equivalente a 1600 mm. O solo pertence à unidade de mapeamento Santo Ângelo e é classificado como um Latossolo Vermelho distroférico típico originário do basalto da formação da Serra Geral, caracteriza-se por apresentar perfil profundo de coloração vermelha escura, textura argilosa com predominância de argilominerais 1:1 e óxi-hidróxidos de ferro e alumínio. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DO EXPERIMENTO 2.2.1 Caracterização do híbrido utilizado Na execução do experimento foi utilizado o híbrido comercial P30F53 desenvolvido pela Pioneer Sementes pertencente à empresa DuPont, sendo este híbrido recomendado para a região sul do Brasil. A seguir, as principais características agronômicas do híbrido utilizado, conforme dados da Embrapa Milho e Sorgo: Híbrido: P 30F53 Tipo: Híbrido Simples Ciclo: Precoce Graus Dias: 130 Época de Semeadura: Normal Uso: Grãos Cor do Grão: Alaranjado Densidade (mil pl ha-1): 55 – 72 29 Textura do Grão: Semi-duro Resistência ao Acamamento: Baixa Altura da Espiga (m): 1,10 a 1,20 Altura da Planta (m): 2,60 a 2,80 2.2.2 Análise de solo Após a definição da área em que foi implantado o experimento, procedeu-se a coleta de uma amostra de solo, levando em consideração as recomendações de coleta de 15 sub amostras para obtenção de uma amostra composta, a fim de se ter uma boa representatividade das condições de fertilidade da lavoura. A área possui sistema de plantio direto consolidado. A cultura antecessora foi aveia preta, sendo a mesma utilizada para fenação. Tabela 1. Resultados e interpretação da análise de solo. IRDeR, Augusto Pestana – RS, 2009 Prof. (cm) Argila (%) pH Índice SMP Fósforo (mg/dm3) Potássio (mg/dm3) M.O. (%) Alumínio (cmolc/dm3) 0-10 - 56 Classe 2 6,2 Médio 6,1 - 46,2 M. Alto 215 M. Alto 2,6 Médio 00 - CTCefetiva Sat. CTCpH 7,0 por bases Cálcio Magnésio H+Al CTCpH 7,0 --------------------(cmolc/dm3)---------------------7,2 2,2 3,9 13,8 9,9 Alto Alto Médio - Sat. CTCefetiva por Al ........................(%)...................... 71,9 00 Médio M. Baixo A análise de solo teve por objetivo conhecer as características químicas do solo da área utilizada no experimento, a fim de nortear decisões no sentido de rendimento almejado, bem como definir a quantidade de fertilizante a ser utilizada. 2.3 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL E TRATAMENTOS O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições, envolvendo o modelo fatorial dose de N, inoculante a base de Azospirillum sp. e aplicação de bioestimulante. Os tratamentos foram os seguintes: 30 • Tratamento 1 - 50% da dose de Nitrogênio; • Tratamento 2 - 50% da dose de Nitrogênio + Azospirillum; • Tratamento 3 - 50% da dose de Nitrogênio + Azospirillum + Bioestimulante; • Tratamento 4 - 70% da dose de Nitrogênio; • Tratamento 5 - 70% da dose de Nitrogênio + Azospirillum; • Tratamento 6 - 70% da dose de Nitrogênio + Azospirillum + Bioestimulante; • Tratamento 7 - Dose completa de Nitrogênio; • Tratamento 8 - Dose completa de Nitrogênio + Azospirillum; • Tratamento 9 - Dose completa de Nitrogênio + Azospirillum + Bioestimulante. A parcela experimental foi constituída de 5 fileiras de 5 metros de comprimento cada, sendo utilizado espaçamento de 0,60 metros entre linhas, perfazendo 15 m² por parcela. As parcelas ficaram distanciadas a 1,2 m uma da outra e os blocos distanciados a 2 m. 2.4 CONDUÇÃO DO EXPERIMENTO A área onde foi implantado o experimento foi previamente dessecada, sendo este procedimento realizado cerca de 20 dias antes da semeadura, com Glyphosate 480 g l-1 na dose de 2 L ha-1. O experimento foi conduzido a campo com ausência de irrigação, sendo a semeadura realizada no dia 09 de outubro de 2009. Num primeiro processo foram demarcadas as linhas de semeadura e realizado a adubação no sulco de semeadura com o uso de uma semeadeira mecânica para plantio direto. A semeadura em si, foi feita manualmente, com uso de saraquá, utilizando-se 2-3 sementes por cova, com covas a cada 24 cm na linha demarcada, sendo que após as plantas terem 10 cm de estatura foi realizado um raleio para que permanecesse apenas uma planta por cova, com 4,2 plantas por metro linear e consequentemente, uma população final de 70 mil plantas ha-1. A adubação de base utilizada foi de 400 kg ha-1 de adubo químico da fórmula 5-2020 (N – P205 – K20). Já a adubação de cobertura foi realizada com uréia (45% N), parcelada em duas aplicações, sendo a primeira no estádio fenológico V4 e a segunda no estádio V7, nos dias 07/11/2009 e 21/11/2009 respectivamente. A dose de N recomendada foi de 140 kg de N ha-1 (dose cheia), baseado em uma expectativa de produtividade de grãos de 10 t ha-1. A 31 adubação seguiu a recomendação do Manual de Adubação e Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, (2004). A inoculação das sementes com Azospirillum e Bioestimulante foi realizada momentos antes da semeadura, sendo utilizada a dose de 100 ml ha-1 para o produto a base de Azospirillum e a dose de 12,5 ml kg-1 de sementes para o Bioestimulante. A aplicação dos produtos foi feita separadamente e o volume de calda foi calculado com base em 400 ml de calda para 100 kg de semente. Foi realizado um controle químico para a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), no dia 09/11/2009, com o inseticida comercial Lannate® BR (Metomil - 215 g L1 ). O controle de invasoras foi realizado manualmente por meio de capina durante o período de desenvolvimento vegetativo da cultura. No dia 10 de novembro ocorreu uma precipitação de granizo, a qual ocasionou danos à cultura, que estava em estágio inicial de desenvolvimento. Este evento promoveu uma leve desfolha e até mesmo provocou a morte de algumas plantas, sendo que culminou em alguns prejuízos no estande final de plantas. A colheita do experimento se deu no dia 17 de março de 2010. Foram colhidas de cada parcela, as três linhas centrais em sua totalidade, para posterior mensuração dos componentes de rendimento. 2.5 VARIÁVEIS MENSURADAS Para fins de estudo, foram consideradas como parcela útil as três linhas centrais de cada parcela. Foram avaliados nove caracteres de interesse agronômico, sendo estes o Rendimento de Grãos a Campo (RGc), Número de Plantas por Parcela (NPP), Número de Espigas por Parcela (NEP), Número de Fileiras por Espiga (NFE), Número de Grãos por Fileira (NGF), Massa de Grãos da Espiga (MGE), Massa de Mil Grãos (MMG), Diâmetro de Sabugo (DS) e Massa de Sabugo (MS). O NPP foi obtido a campo por meio de contagem do estande final de plantas. O NEP foi obtido por meio da contagem em laboratório, do número total de espigas da parcela. O NFE e o NGF foram obtidos em laboratório por meio da contagem do número de fileiras e do número de grãos por fileira de seis espigas de cada parcela, selecionadas aleatoriamente. Após a debulha, os grãos de cada espiga foram pesados individualmente para se obter a MGE. Os sabugos destas espigas foram pesados para se obter a MS e posteriormente foi medido o seu diâmetro na região central da espiga para determinação do DS. Com a contagem de 400 grãos 32 da massa total de grãos da parcela e o seu peso multiplicado por 2,5, obteve-se a MMG. O RGc foi obtido por meio da pesagem do total da massa de grãos obtida com a trilha da parcela, sendo esse valor transformado para kg ha-1 e o seu peso corrigido para 13% de umidade. 2.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram submetidos à análise de variância para detecção da interação entre os fatores (presença ou ausência). A partir deste, procedeu-se o teste de comparação de médias pelo método de Scott Knott para explicar a interação da inoculação com Azospirillum, associada ou não ao bioestimulante, frente às diferentes doses de nitrogênio em cobertura. O teste de médias pelo método Scott e Knott é utilizado após a rejeição da igualdade de médias em uma análise de variância e tem a finalidade de separar as médias em grupos distintos, por meio da minimização da variação dentro dos grupos e maximização da variação entre grupos. 33 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 2, são apresentados os resultados da análise de variância do conjunto de caracteres analisados, tanto a campo como em laboratório. Os coeficientes de variação (CV) foram de reduzida magnitude, ficando abaixo de 7%, o que indica alta precisão e demonstra credibilidade na condução dos procedimentos experimentais. Entre os blocos, a análise de variância não apontou diferenças significativas para nenhum dos caracteres avaliados, o que evidencia a homogeneidade da área onde o experimento foi conduzido. Já entre os tratamentos, houve diferença significativa para os caracteres rendimento de grãos a campo (RGC) e massa de sabugo (MS). Os demais caracteres não foram influenciados pelos tratamentos envolvendo inoculação com Azospirillum, bioestimulante e doses de nitrogênio. Tabela 2: Resumo da análise de variância para distintos caracteres de interesse agronômico em milho. IRDeR/Augusto Pestana-RS, 2010. QM RGC NPP NEP NFE NGF MGE MMG DS MS GL (Kg ha-1) (n) (n) (n) (n) (g) (g) (cm) (g) Bloco 3 1519261,22 Tratamento 8 1194828,19* 15,38 Erro 24 506054,08 Total 35 - Média Geral - 10186,50 CV% - 6,98 Mínimo - 8367,00 Máximo - 11786,00 Fonte de Variação 20,04 14,44 0,55 10,04 715,01 657,26 0,0015 11,21 6,47 0,24 2,04 254,85 424,59 0,0066 8,68* 10,14 9,30 0,40 2,55 127,18 181,67 0,0046 - - - - - - 56,39 51,78 15,45 36,45 198,05 357,49 2,94 31,04 5,65 2,32 5,53 48,00 46,00 14,00 31,33 170,16 314,60 2,82 25,80 61,00 59,00 16,67 39,50 219,59 382,80 3,08 34,96 5,89 4,04 4,38 5,69 - 2,95 3,77 QM = quadrado médio, RGC = rendimento de grãos a campo, NPP = número de plantas por parcela, NEP = número de espigas por planta, NFE = número de fileiras por espiga, NGF = número de grãos por fileira, MGE = massa de grãos da espiga, MMG = massa de mil grãos, DS = diâmetro de sabugo, MS = massa de sabugo, GL = graus de liberdade, * = significativo a 5% de probabilidade de erro. Os tratamentos que mais influenciaram os componentes de rendimento foram evidenciados por meio do teste de comparação de médias (Tabela 3). Foi encontrada diferença significativa para os caracteres rendimento de grãos a campo (RGC), massa de grãos da espiga (MGE), massa de mil grãos (MMG) e massa de sabugo (MS). Os demais caracteres avaliados não diferiram estatisticamente. 34 Tabela 3: Teste de comparação de médias entre tratamentos, para os caracteres rendimento de grãos a campo (RGC), número de plantas por parcela (NPP), número de espigas por planta (NEP), número de fileiras por espiga (NFE), número de grãos por fileira (NGF), massa de grãos da espiga (MGE), massa de mil grãos (MMG), diâmetro de sabugo (DS) e massa de sabugo (MS). IRDeR, Augusto Pestana – RS, 2010. RGC Tratamento 50%N 50%N+Az 50%N+Az+St 70%N 70%N+Az 70%N+Az+St 100%N 100%N+Az 100%N+Az+St -1 (Kg ha ) 9666,75 b 10073,00 b 9558,50 b 9798,25 b 10111,25 b 9908,25 b 11026,00 a 10988,25 a 10548,25 a NPP NEP (n) 58,75 a 56,75 a 55,50 a 58,50 a 58,50 a 55,00 a 56,50 a 55,00 a 53,00 a (n) 53,75 a 53,00 a 51,25 a 52,50 a 52,25 a 50,25 a 51,75 a 51,50 a 49,75 a Média NFE NGF (n) 15,17 a 15,83 a 15,42 a 15,67 a 15,67 a 15,42 a 15,50 a 15,33 a 15,08 a (n) 36,63 a 35,88 a 35,37 a 35,46 a 36,63 a 36,71 a 36,96 a 37,38 a 37,04 a MGE MMG DS MS (g) 195,69 b 192,65 b 187,09 b 187,91 b 205,29 a 195,71 b 205,65 a 207,33 a 205,13 a (g) 356,08 b 346,23 b 349,40 b 344,28 b 360,58 a 352,50 b 371,18 a 366,05 a 371,10 a (cm) 2,92 a 2,94 a 2,89 a 2,95 a 2,99 a 2,94 a 2,96 a 2,99 a 2,87 a (g) 30,45 b 28,44 b 30,91 a 29,25 b 32,26 a 31,53 a 31,61 a 33,14 a 31,81 a *Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste Scott Knot a 5% de probabilidade de erro; %N = Representa a fração da dose de N utilizada em cobertura; Az = Representa os tratamentos que fizeram uso de Azospirillum; St = Representa os tratamentos em que foi utilizado o bioestimulante; A produtividade de grãos em milho é determinada pela densidade de plantas, prolificidade ou número de espigas por planta, número médio de fileiras de grãos por espiga, número médio de grãos por fileira e massa média do grão (HANWAY23, 1966; NEL & SMITH24, 1978, apud BALBINOT JR. et al., 2005). Considerando que estatisticamente não houve diferenças significativas entre o número de espigas por parcela, número de fileiras por espiga e número de grãos por fileira, o principal componente direto de rendimento, que explica a diferença significativa no ganho de rendimento de grãos a campo, é a massa de mil grãos, que foi estatisticamente superior no tratamento com 70% da dose de N recomendada associado ao Azospirillum, e em todos os tratamentos que utilizaram dose completa de N, independentemente do uso ou não de Azospirillum ou bioestimulante. O milho é uma cultura que remove grandes quantidades de nitrogênio e por isso requer o uso de adubação nitrogenada intensiva quando se almeja alcançar produtividades elevadas (BARROS NETO, 2008). Assim, conclui-se que o uso de dose completa de N promoveu ganhos de produção, tendo efeito principal no enchimento de grãos, o que 23 HANWAY, J.J. Growth stages of corn (Zea mays L.). Agronomy Journal, Madison, v.55, n.5, p.487-492, 1966. 24 NEL, P.C.; SMITH, N.S.H. Growth and development stages in the growing maize plant. Farming in South Africa, p.1-7, 1978. 35 proporcionou maior massa média de grãos e consequentemente um maior rendimento final de grãos. Figura 1: Rendimento de grãos de milho a campo com o uso de Azospirillum (Az), associado ou não a bioestimulante (St) e com distintas doses de N (%N). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. O nitrogênio é o nutriente mais requerido, o que mais limita a produtividade e também o que mais onera a cultura do milho (CASTELLEN, 2005), sendo recomendado o seu parcelamento, quando se deseja produtividades elevadas e uma maior eficiência de utilização do adubo (BARROS NETO, 2008). A dose de N utilizada em cobertura foi de 140 kg ha-1, baseado em uma expectativa de rendimento de grãos de 10 t ha-1. Os resultados de produtividade encontram-se na figura 1, sendo que a redução em 30% e em 50% da dose de N recomendada não apresentou uma redução de magnitude proporcional na produção final de grãos, ou seja, o uso de 50%, 70% e 100% da dose de N recomendada não resultou em grandes diferenças de produtividade. A diferença de produção foi de 1.468 kg entre os tratamentos que obtiveram a maior e a menor produção de grãos, sendo que a máxima produção de grãos foi de 11.026 kg ha-1, no tratamento que utilizou a dose completa de N em cobertura, sem uso de Azospirillum e bioestimulante. Mesmo com as diferenças de produção entre os tratamentos com distintas doses de N não terem sido de magnitude muito elevada, a utilização da dose completa de N em cobertura refletiu em produtividade média estatísticamente superior quando comparado aos demais 36 tratamentos. Isso evidencia a importância da adubação nitrogenada na cultura do milho quando se almeja produtividade elevada. A pequena variação na produção, mesmo com distintas doses de N, e a produtividade estatísticamente igual com o uso de 50% e 70% da dose de N recomendada, reflete a complexa dinâmica do elemento nitrogênio no solo. Por se tratar de uma grande dose de N em cobertura, as aplicações foram parceladas para melhorar a eficiência de utilização do adubo, sendo a primeira realizada no dia 07 de novembro e a segunda no dia 21 de novembro. Mesmo assim, certamente as condições climáticas durante o período do experimento e principalmente nos períodos posteriores às aplicações das adubações nitrogenadas em cobertura, resultaram em acréscimos de produtividade de magnitude proporcionalmente menor que o esperado. Nos períodos posteriores às aplicações das adubações nitrogenadas em cobertura, as precipitações pluviométricas foram bastante elevadas na região, sendo que o total acumulado no mês de novembro foi de 471,5 mm, o que é bastante superior a média histórica da região que fica em torno de 150 mm neste período do ano. Estas condições edafoclimáticas provavelmente influenciaram nas perdas de N para o meio (lixiviação) e consequentemente, no percentual de aproveitamento do nitrogênio pelas plantas de milho. Muitos autores afirmam que existe uma grande variação no aproveitamento do N do fertilizante pelo milho, e que em regiões tropicais, este aproveitamento raramente ultrapassa 50% do N aplicado. Essas diferenças ocorrem em virtude de diversos fatores, principalmente das condições edafoclimáticas, do tipo de fertilizante e do sistema de cultivo. Cerca de 50% dos adubos nitrogenados aplicados ao solo são perdidos por erosão, lixiviação, desnitrificação (BARROS NETO, 2008) e volatilização. As bactérias promotoras de crescimento vegetal são benéficas às plantas, podendo estimular o crescimento através de diferentes mecanismos como a fixação biológica de nitrogênio e a produção de hormônios de crescimento, aumentando o desenvolvimento radicular e melhorando a absorção de água e nutrientes. Tem-se verificado uma grande variabilidade nos resultados nas mais diversas culturas testadas, sendo que a média de incremento no rendimento situa-se em torno de 20 a 30% (REIS, 2007). O incremento no sistema radicular, que é determinado no início do desenvolvimento da planta, logo após o plantio, propicia, como no caso do milho, um aumento no número de fileiras de grãos por espiga e essas vantagens iniciais podem ou não, repercutir na colheita, o que dependerá das condições posteriores de desenvolvimento da cultura. Essas vantagens iniciais das plantas infectadas poderiam ser compensadas pelas plantas não infectadas, uma 37 vez que os demais componentes do rendimento são definidos mais tardiamente (DIDONET et al. 2000). Figura 2: Rendimento médio de grãos de milho, em função da inoculação com Azospirillum (Az) associado ou não a bioestimulante (St). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. A inoculação com Azospirillum unicamente, embora evidenciasse um leve ganho de produtividade, da ordem de 227 kg/ha, em relação à testemunha, não foi estatisticamente diferente quando comparado aos demais tratamentos. Considerando o efeito do uso de inoculação com Azospirillum associado ao bioestimulante, houve um resultado com tendências negativas em termos de produtividade, apesar de não diferir estatisticamente quando comparado ao uso isolado de Azospirillum ou aos tratamentos testemunha. O uso de Azospirillum, associado ou não ao bioestimulante, não apontou diferença estatisticamente significativa para nenhum dos caracteres de rendimento avaliados quando comparado à testemunha. No Paraná, Cavallet et al. (2000) e Barros Neto (2008), obtiveram ganhos de produtividade na ordem de 17% e 9%, respectivamente, com o uso da bactéria Azospirillum spp. em milho. O mesmo não foi observado na região noroeste do RS, conforme atestam dados de Campos et al. (2000), que avaliando inoculante a base de Azospirillum spp. na cultura do milho em condições de campo em Cruz Alta, não encontraram diferenças estatísticas para número de plantas, número de espigas, estatura de plantas e rendimento de grãos. 38 Ausência de incremento no rendimento de grãos de milho também é verificado em experimentos com o uso de Stimulate® em milho. Ferreira et al. (2007), para os parâmetros estande final, número de espigas e produtividade, não observaram diferenças estatísticas com a aplicação do bioestimulante. As plantas infectadas com bactérias do gênero Azospirillum promovem um incremento significativo na biomassa e no volume radicular, principalmente nas etapas iniciais de desenvolvimento das plantas. O mesmo se espera com o uso de bioestimulante. Isso passa a ser potencialmente importante em condições de stress climático e falta de umidade no solo. Considerando que no período de condução do experimento as chuvas foram abundantes, podem os efeitos positivos do aumento da biomassa radicular, teoricamente vinculados ao uso da bactéria Azospirillum e ao bioestimulante, não terem sido efetivamente expressos devido ao fornecimento regular, e talvez excessivo de água, principalmente durante o período de desenvolvimento da cultura. Além disso, vários autores têm observado variações na resposta à inoculação com Azospirillum em função do tipo e forma de aplicação do inoculante. O maior obstáculo para a utilização desta tecnologia seria a inconsistência de resultados em experimentos a campo (REIS, 2007). Quadros (2009) afirma que a efetivação da colonização vai depender de aspectos como escolha da estirpe, estado fisiológico da planta e da bactéria, genótipo da planta, aspectos fisico-químicos do solo, competição com outros microorganismos, veículo de inoculação entre outros. Admite-se ser o genótipo da planta fator-chave para obtenção dos benefícios causados por bactérias diazotróficas endofíticas, sendo que existem variações entre genótipos de milho na resposta ao N. Interações entre a cultura do milho e bactérias diazotróficas e/ou promotoras de crescimento, são dependentes das variações genotípicas da planta e dos microrganismos envolvidos nessas associações (REIS JR. et al., 2008). As variações genotípicas da cultura afetam a exsudação radicular, sustentando comunidades microbianas diferentes não só para cada espécie vegetal como para cada variedade dentro de uma mesma espécie Além disso, a mesma espécie vegetal pode estimular comunidades microbianas diversas entre um local e outro, o que leva a respostas diferentes à inoculação de um mesmo isolado promotor de crescimento (FREITAS, 2007). Assim, há a necessidade de se buscar e testar estirpes adaptadas a cada região em termos de clima, sistema de manejo e cultivares. 39 Figura 3: Massa média de mil grãos de milho, em função de doses de Nitrogênio. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. A produtividade do milho é o resultado de vários fatores integrados, sendo que a massa de grãos e o número de grãos por espiga são os componentes mais importantes na predição do rendimento de grãos. O que mais contribui para a produção é o número de espigas por planta e a massa de grãos ( FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). A massa do grão é definida no período compreendido entre a fecundação e a maturação fisiológica (BALBINOT JR. et al., 2005). O milho possui elevado potencial e acentuada habilidade fisiológica na conversão de carbono mineral em compostos orgânicos, os quais são translocados das folhas e outros tecidos fotossinteticamente ativos para locais onde serão estocados e metabolizados (FANCELLI & DOURADO NETO, 2000). O uso de dose completa de N respondeu satisfatoriamente em rendimento de grãos de milho por meio de maior acúmulo de fotoassimilados durante o período de desenvolvimento da cultura, tendo efeito principal no período de enchimento de grãos, o que proporcionou maior massa média de grãos e consequentemente um maior rendimento final de grãos. Estatisticamente, a massa de mil grãos foi superior nos três tratamentos que fizeram uso de dose completa de N em cobertura e no tratamento com uso de 70% da dose de N recomendada em cobertura associado à inoculação com Azospirillum. A maior massa de mil grãos também explica a maior massa de grãos da espiga, já que não houve diferença significativa nos caracteres número de grãos por fileira e número de fileiras por espiga. Assim, consequentemente, os mesmos tratamentos que evidenciaram 40 maior massa de mil grãos também evidenciaram maior massa de grãos da espiga, sendo a massa de grãos da espiga um efeito direto da massa de mil grãos. Figura 4: Massa média de grãos por espiga de milho, em função das distintas doses de N (%N). IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. A figura 3 evidencia que o uso de doses crescentes de adubação nitrogenada em cobertura, até 140 kg de N ha-1, promove ganhos crescentes na massa de grãos por espiga, por meio de aumento na massa média dos grãos e resultando em maior rendimento final da cultura. A precisão experimental para a cultura do milho, nos ensaios de indicação de cultivares do estado do Rio Grande do Sul, para a variável rendimento de grãos, sofre a interferência de algumas variáveis como estande final de plantas e distribuição espacial das plantas na linha. Indica-se que para se obter uma melhor qualidade experimental deve-se manter o estande final de plantas o mais próximo do recomendado para o ensaio (LÚCIO et al25, 2002, apud DOURADO NETO et al, 2004). 25 LÚCIO, A.D; STORCK, L.; LORENTZ, L.H.; MARTIN, T.N.; HINNAH, T. Qualidade experimental nos ensaios de competição de cultivares em função da variabilidade de variáveis morfológicas. Revista de la Faculdade de Agronomia, La Plata, n. 105, v.2, 2002. 41 * %N = Fração da dose de N utilizada em cobertura; Az = Uso da bactéria Azospirillum; St = Uso do bioestimulante; Figura 5: Número de plantas por parcela em função dos distintos tratamentos em milho. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. Os tratamentos que fizeram uso de Azospirillum, especialmente aqueles que fizeram uso de Azospirillum associado ao bioestimulante, tiveram uma relativa redução no estande final de plantas, que não foi estatisticamente diferente, mas que pode explicar em parte as variações e a inconsistência nos resultados de rendimento de grãos do experimento. Não se pode atribuir a variabilidade no estande final de plantas à problemas na germinação por efeito dos tratamentos utilizados, pois na implantação da cultura foram semeadas duas a três sementes por cova com posterior raleio, para padronizar o estande de plantas nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura. Porém, os tratamentos utilizados podem ter causado mudanças estruturais na parede celular das plantas de milho e com isso tornando-as mais frágeis aos fatores deletérios do meio. Assim, a ocorrência de granizo no dia 10 de novembro de 2009, quando as plantas encontravam-se no estádio V4, e a ocorrência de chuvas pesadas acompanhadas de vento relativamente forte em alguns momentos durante o desnvolvimento da cultura, podem ter sido fatores responsáveis pelos maiores danos causados nas plantas das parcelas tratadas com Azospirillum e principalmente com Azospirillum associado a bioestimulante. Isso explica a redução no estande final de plantas das parcelas que fizeram uso de Azospirillum, associado ou não a bioestimulante, quando comparadas às testemunhas. . 42 * %N = Fração da dose de N utilizada em cobertura; Az = Uso da bactéria Azospirillum; St = Uso do bioestimulante; Figura 6: Número de espigas por parcela em função dos distintos tratamentos em milho. IRDeR – Augusto Pestana – RS, 2010. Como efeito direto da redução no estande final de plantas nas parcelas tratadas com Azospirillum, associado ou não a bioestimulante, tem-se a proporcional redução no número de espigas por parcela conforme verificado na figura 6, e a consequente redução no rendimento final de grãos para estes tratamentos. Em lavouras de milho, quando a densidade de plantas é baixa, pode ocorrer certa compensação por meio do aumento no número de espigas por planta, em razão da prolificidade do genótipo e, ou, variação no tamanho da espiga, o que poderia minimizar a diferença de produtividade. Considerando o uso de Azospirillum e do bioestimulante, a compensação se deu nestas parcelas com menor estande final de plantas, porém com magnitude insuficiente para igualar ou superar os níveis de produtividade dos tratamentos que não fizeram uso do Azospirillum associado ao bioestimulante e que possuíam maior estande final de plantas. Por fim, há que se considerar que a variação no estande, embora não tenha sido verificada diferença estatística para este atributo, seja responsável por boa parte da redução do rendimento de grãos, que também não apresentou diferença estatística entre tratamentos dentro dos grupos com a mesma dose de adubação nitrogenada, mas que foi verificada nas parcelas que fizeram uso de Azospirillum e bioestimulante. Isto reforça a importância da densidade final de plantas por área e da distribuição espacial das plantas na linha, mesmo que 43 não tenha havido diferenças estatísticas entre número de plantas por parcela e número de espigas por parcela. 44 CONCLUSÕES A inoculação com Azospirillum e o uso de bioestimulante em milho não promoveram efeitos positivos no rendimento de grãos, bem como não influenciaram na massa de mil grãos, massa de grãos da espiga, número de fileiras por espiga e número de grãos por fileira. O uso de dose completa de nitrogênio em cobertura propiciou maior rendimento de grãos, por meio de aumento na massa média de grãos. Os tratamentos com 50% e 70% da dose de N recomendada não diferiram estatisticamente quanto ao rendimento final de grãos. 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, G. C. Efeito da inoculação de bactérias Diazotróficas dos gêneros Herbaspirillum e Bulkhorderia em genótipos de milho. Fev. 2007. 65 p. Dissertação de mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Seropédica, RJ. Disponível em <http://bdtd.ufrrj.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=909> Acesso em: 15 novembro de 2009. BALBINOT JR., A. A.; BACKES, R. L.; ALVES, A. C.; OGLIARI, J. B.; FONSECA, J. A. Contribuição de componentes de rendimento na produtividade de grãos em variedades de polinização aberta de milho. Revista Brasileira Agrociência, Pelotas, v. 11, n. 2, p. 161-166, 2005. BÁRBARO, I.M; BRANCALIÃO, S.R.; TICELLI, M. É possível a fixação biológica de nitrogênio no milho?. 2008. 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Fisiologia 50 APÊNDICES E ANEXOS 51 APÊNDICE A Croqui do experimento com seus respectivos tratamentos: Tratamento 1 – 50% da dose de N; Tratamento 2 – 50% da dose de N + Azospirillum; Tratamento 3 – 50% da dose de N + Azospirillum + Bioestimulante; Tratamento 4 – 70% da dose de N; Tratamento 5 – 70% da dose de N + Azospirillum; Tratamento 6 – 70% da dose de N + Azospirillum + Bioestimulante; Tratamento 7 – 100% da dose de N; Tratamento 8 – 100% da dose de N + Azospirillum; Tratamento 9 – 100% da dose de N + Azospirillum + Bioestimulante; Estrada →N B1 B2 B3 B4 T2 T7 T9 T1 T8 T8 T3 T4 T5 T1 T6 T7 T7 T9 T4 T5 T1 T6 T7 T2 T9 T2 T5 T3 T4 T4 T2 T9 T6 T3 T8 T6 T3 T5 T1 T8 52 APÊNDICE B Fotos da implantação do experimento e estádio inicial de desenvolvimento da cultura. IRDeR, Augusto Pestana – RS 53 APÊNDICE C Fotos do experimento após ocorrência de granizo e no período final de desenvolvimento vegetativo da cultura. IRDeR, Augusto Pestana – RS 54 ANEXO A Dados de precipitação pluviométrica (mm) referente ao período de Outubro de 2009 a Março de 2010. IRDeR, Augusto Pestana – RS. Precipitação (mm) ------------------2009------------------------------------2010----------------Dias/Mês Out Nov Dez Jan Fev Mar 5,6 0 0 0 0 0 1 0 0 15,6 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 3 0 1,8 0 13,6 0 0 4 0 0 0 38,2 0 0 5 79,7 0 15,2 29,0 0,5 0 6 0 85,4 0 0 43,8 0 7 0 0 0 1,0 21,8 0 8 0 0 13,2 24,4 0 0 9 0 51,6 10,6 42,6 0 0 10 0 0 0 0 0 0 11 0 0 22,8 0 0 0 12 0 33,6 0 0 0 8,2 13 0 78,0 0 0 70,6 0 14 0 24,4 0 0 7,8 0 15 0 0 0 42,0 38,2 0 16 0 0 0 0 0 0 17 0 25,4 0 0 0 0 18 0 3,2 0 45,3 0 8,6 19 0 19,5 7,8 0 0 8,4 20 0 19,8 0 0 0 0 21 0 47,8 0,6 0 30,2 45,4 22 0 11,2 8,5 0 61,0 1,4 23 41,6 0 2,4 9,5 0 0 24 0 8,2 87,8 9,8 0 0 25 0 0 3,4 0 0 0 26 0 0 0 0 2,8 0 27 0 31,0 0 6,2 1,0 0 28 0 0 0 0 0 0 29 0 30,6 30,0 0 0 0 30 0 0 0 1,4 0 0 31 Total Acum. 126,9 471,5 217,9 262,9 277,7 72,0 Média Hist. 157 153,2 126,5 144,4 146,8 115,3 55 ANEXO B Dados de temperaturas máximas e mínimas (°C) referentes ao período de Outubro de 2009 a Março de 2010. IRDeR, Augusto Pestana – RS. Temperatura (°C) -----------------------2009-------------------------------------------2010------------------------Out Nov Dez Jan Fev Mar Dias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Média Mín. Máx. Mín. 8,6 19,2 15,4 7,2 21,2 16,0 7,0 24,8 21,0 11,0 32,9 19,0 20,8 33,2 20,6 15,0 26,6 21,2 14,2 20,0 20,0 11,6 20,4 14,6 7,8 25,2 12,8 11,2 28,6 16,9 15,4 27,0 15,0 11,8 23,2 17,8 5,2 25,6 19,6 9,4 26,2 18,2 14,2 19,7 16,4 10,8 19,0 16,4 10,4 24,8 15,0 14,2 24,4 13,8 13,1 30,9 19,2 11,0, 27,5 20,2 9,0 30,0 17,4 11,2 31,0 17,4 12,6 32,2 16,0 11,6 24,0 15,2 13,4 26,0 20,2 15,6 25,2 19,4 8,4 29,2 20,4 14,6 31,6 19,6 17,0 20,2 35,2 17,4 16,2 36,0 - Máx. 35,2 36,8 29,0 32,2 35,0 31,5 31,0 24,4 31,2 24,0 27,6 30,8 25,0 24,6 22,2 30,4 33,4 27,8 36,0 25,4 30,0 23,4 24,8 28,6 28,2 33,2 34,6 29,3 33,8 28,8 - Mín. 16,4 18,4 15,6 15,2 12,8 11,2 18,6 17,0 16,2 17,2 21,1 16,2 9,4 11,4 14,6 14,0 19,2 17,0 21,8 21,2 20,8 21,6 20,6 21,8 20,4 19,8 21,2 18,6 18,0 17,8 18,2 Máx. 32,0 29,2 28,2 27,1 31,8 31,0 26,8 30,0 30,8 32,0 29,1 23,0 26,0 29,8 32,2 34,6 29,8 33,0 34,2 32,6 31,8 33,6 32,8 33,4 33,4 33,8 33,8 34,4 33,6 31,0 29,8 Mín. 15,8 19,6 19,6 22,6 20,8 18,2 19,0 18,0 20,2 19,0 20,4 22,0 19,2 14,3 15,2 18,7 18,6 20,1 21,8 17,1 14,5 17,4 14,0 17,2 19,0 17,4 11,6 19,2 17,0 16,4 20,6 Máx. 30,4 33,4 34,0 30,8 31,8 26,2 27,9 33,0 25,8 27,8 32,4 30,0 25,6 29,7 31,6 30,2 33,8 31,5 26,7 28,2 27,8 30,1 31,2 32,4 29,4 31,0 30,8 30,6 31,8 33,4 33,4 Mín. 20,0 23,0 22,0 23,4 21,4 23,6 22,0 17,0 17,0 15,0 20,4 19,8 20,6 21,0 20,2 20,0 18,6 18,6 20,2 22,6 22,0 20,8 18,0 12,2 11,2 15,4 17,0 - Máx. 33,4 35,4 36,8 35,4 37,4 35,8 36,9 24,8 31,0 31,8 33,0 34,0 33,0 33,4 28,2 28,0 29,2 32,0 31,8 32,0 32,8 32,2 24,8 25,8 23,6 27,6 29,4 29,6 - Mín. 15,4 15,8 18,0 18,4 17,0 14,0 13,4 15,4 16,2 15,2 16,0 13,0 14,0 15,4 16,2 11,6 12,6 19,0 18,0 17,8 16,8 18,4 20,0 16,2 16,0 20,4 18,2 17,2 15,4 14,8 Máx. 30,0 30,2 30,8 32,0 31,8 30,8 28,2 29,0 29,0 30,0 32,2 30,0 28,0 26,8 27,6 28,4 32,6 33,0 31,0 25,4 25,4 26,4 25,0 31,0 31,0 30,0 31,0 30,6 33,0 11,7 29,6 17,5 31,1 18,2 30,4 18,7 30,3 16,2 29,7 26,7 17,6