1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ JOSÉ WICTO PEREIRA BORGES INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: desenvolvimento e validação de conteúdo FORTALEZA - CEARÁ 2012 2 JOSÉ WICTO PEREIRA BORGES INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: desenvolvimento e validação de conteúdo Dissertação apresentada ao Programa Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PCCLIS) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde e Enfermagem. Área de concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem Orientadora: Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira FORTALEZA - CEARÁ 2012 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Bibliotecário(a) Responsável – Giordana Nascimento de Freitas CRB-3 / 1070 B732i Borges, José Wicto Pereira Instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial: desenvolvimento e validação de conteúdo / José Wicto Pereira Borges. — 2012. CD-ROM : il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol. “CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, Fortaleza, 2012. Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem. Orientação: Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. 1. Hipertensão. 2. Cooperação do paciente. 3. Hipertensão Falha no tratamento. 4. Enfermagem. Título. CDD: 610.73 4 JOSÉ WICTO PEREIRA BORGES INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: desenvolvimento e validação de conteúdo Dissertação apresentada ao Programa Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PCCLIS) do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde e Enfermagem. Área de concentração: Enfermagem Cuidados Clínicos Aprovada em: 27 de novembro de 2012 BANCA EXAMINADORA: ____________________________________________________ Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira Universidade Estadual do Ceará - UECE Orientadora ___________________________________________________ Profa. Dra. Célida Juliana de Oliveira Universidade Regional do Cariri - URCA 1º membro efetivo ___________________________________________________ Profa. Dra. Ana Virgínia de Melo Fialho Universidade Estadual do Ceará - UECE 2º membro efetivo em 5 Aos meus Pais, Dedico! 6 AGRADECIMENTOS É difícil enumerar aqueles a quem devo agradecer. Essa conquista é parte da contribuição de várias pessoas. Agradeço a todos que compartilharam desta caminhada e que, de alguma forma, ajudaram para que eu chegasse até aqui. Em especial: A Deus e Nossa Senhora pelas suas presenças em todos os instantes, me fazendo perseverar na caminhada da vida. À Mainha (Elza Pereira Borges) e Painho (Pedro Borges de Lima), pelo amor incondicional e por ensinarem que a vida, apesar das limitações sociais impostas, pode ser vivida com dignidade e felicidade. Aos meus irmãos, Kelva Gislayne Pereira Borges e Pedro Eduardo Pereira Borges, meu cunhado, Edivan Borges, e a minha sobrinha Kaylane Borges, pelo apoio e incentivo para a minha conquista, que me deram segurança para começar uma infinita caminhada. Ao Queiroz Soares, por seu companheirismo, carinho e paciência. À tia Toinha (Antônia de Freitas Lima), por abrigar-me em sua família durante a realização deste curso. A Nádia Marques Gadelha, professora e amiga, que sempre acreditou no meu potencial intelectual e incentivou meus sonhos. A Ana Célia Caetano Souza, professora e amiga, que fez nascer em mim a semente da pesquisa. Aos amigos da “The Best of the World”, Simone, Ana Maria, Aurilene, Manuela, Graça, Bruna, Raquel, Jênifa, Jéssica, Marcelo, Rafaelly, Juliana, Sanja, Leila, Herculano, Diana, Priscila, Eryjose, Deivison, Jucy, Suzane, Cíntia pelas trocas de experiências, vivências e amizades construídas. Pelas angústias trocadas e superadas. Pela Nossa Conquista! À Malvina Thaís Pacheco Rodrigues pela parceria empreendida, resultado de uma empatia que culminou em uma amizade muito produtiva. 7 A minha orientadora, Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira, pessoa formidável, que me compreendeu a partir do meu local social, que conduziu suas orientações com ética e dedicação, respeitando o meu tempo, as minhas ideias e o meu jeito de ser, fazendo-me crescer sabiamente. Aos membros da banca examinadora, Dra. Célida Juliana de Oliveira, Dra. Ana Virgínia de Melo Fialho e Dr. Paulo César de Almeida, pelas contribuições enriquecedoras para o aprimoramento desta pesquisa. Ao Programa de Pós Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde por permitir a formação em excelência de pesquisadores em Enfermagem, comprometidos com o desenvolvimento de um novo paradigma científico, o Cuidado Clínico de Enfermagem. Ao Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Cuidado em Cronicidade e Enfermagem (GRUPECCE) pelas contribuições para a minha formação como pesquisador. Por ser um grupo coeso, que permite o desenvolvimento de cada um de seus membros de maneira autônoma e coletiva. Aos docentes do Departamento de Enfermagem do Campus Amilcar Ferreira Sobral da Universidade Federal do Piauí pelo apoio e compreensão nos momentos de ausência. Aos amigos da Clínica II-B e da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará, pelo apoio e incentivo para essa conquista. Aos especialistas que participaram deste estudo, pela parceria estabelecida, disponibilidade e por compartilharem comigo seus conhecimentos e suas experiências. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pelo apoio financeiro no início da realização deste Mestrado. Enfim a todos os que contribuíram direta ou indiretamente para a concretização desse sonho. MUITO OBRIGADO! 8 Talvez pensar em um devir clínica que desestabilize lugares e formas padronizadas. Pensar essa mistura que pode engendrar outro olhar, outra perspectiva, outra sensibilidade que excede a nossa consciência, que nos desloca de nós mesmos. Machado e Lavrador (2009) 9 RESUMO A não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é um complexo problema de saúde pública que permanece como um desafio às equipes de saúde. O desenvolvimento de instrumento específico para medi-la, considerando sua multidimensionalidade, é uma tecnologia voltada ao cuidado clínico de enfermagem eficaz e convergente aos requerimentos da pessoa com hipertensão. Objetivou-se desenvolver e validar o conteúdo de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Trata-se de um estudo metodológico, quantitativo, ancorado nos pressupostos teóricos metodológicos da Psicometria. O estudo foi desenvolvido em três fases. Na primeira fase, foi realizada uma revisão integrativa nas bases LILACS, IBECS, MEDLINE, SciELO e PubMed, para a elaboração das dimensões da não adesão ao tratamento da HAS. Foram analisados 48 estudos. Na segunda fase, realizou-se o desenvolvimento do instrumento de avaliação. Foram delineadas a dimensionalidade, as definições constitutivas, as definições operacionais e elaborados os itens do instrumento piloto. A terceira fase designou o processo de validação de conteúdo do instrumento por especialistas em não adesão. A seleção dos especialistas ocorreu a partir do banco de dados da CAPES. O critério de inclusão foi uma pontuação mínima de 5 pontos na escala adaptada do sistema Fhering. Participaram 17 especialistas em hipertensão arterial, sendo 12 enfermeiros, quatro farmacêuticos e um médico. Foram aplicados três formulários de validação de conteúdo online. Os instrumentos foram tratados e, em seguida, inclusos em um banco de dados de um programa estatístico. Foram calculados o Índice de Validade de Conteúdo total (IVCt) e dos itens (IVCi) e realizado o teste binomial das dimensões, definições constitutivas, definições operacionais e dos itens. Elucidaram-se quatro dimensões constitutivas da não adesão ao tratamento da HAS: dimensão pessoa, serviço de saúde, doença/tratamento e ambiente. Foram desenvolvidas nove dimensões constitutivas; 36 definições operacionais e 30 itens do instrumento piloto. O processo de validação de conteúdo ocorreu com um painel de especialistas de nove estados brasileiros, sendo 58,8% doutores e 41,2% mestres. A validação das dimensões constitutivas obteve IVCt de 0,88 mostrando boa compreensão sistêmica do fenômeno da não adesão. Foram validadas 19 definições operacionais com excelente IVCi; 12 obtiveram bons IVCi; e 5 foram excluídos. A validação dos itens do instrumento piloto obteve IVCt = 0,82, indicando boa formulação teórica. Foram validados 20 itens com excelentes IVCi; seis obtiveram bons IVCi; e quatro foram excluídos. A avaliação dos critérios psicométricos (comportamento, simplicidade, clareza, relevância, precisão, modalidade e tipicidade) obtiveram excelentes IVCi estatisticamente significativos. Foi possível desenvolver e validar o conteúdo do “Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial”, que consiste em uma escala tipo Likert de 5 pontos que permite mensurar em cada dimensão e seus constituintes a não adesão em três níveis: não adesão total, risco para não adesão e adesão. Desse modo disponibilizamos um instrumento multidimensional, a partir de um entendimento complexo, sendo possível pensar em cada dimensão e seus constituintes interrelacionais buscando a convergência de saberes para a construção de abordagens centradas na realidade de cada sujeito. Descritores: Hipertensão. Cooperação do paciente. Falha no tratamento. Enfermagem. 10 ABSTRAT No adherence to treatment of High Blood Pressure (HBP) is a complex public health issue that remains as a challenge to the health teams. The development of specific instrument to measure it, considering its multidimensionality, is a technology focused on clinical nursing care and effective converged to the requirements of people with hypertension. The objective was to develop and validate the contents of an instrument for assessing non-adherence to treatment of hypertension. This is a methodological study, quantitative anchored in theoretical methodology of psychometrics. The study was conducted in three phases. In the first phase, we performed an integrative review at LILACS, IBECS, MEDLINE, PubMed and SciELO, for the elaboration of the dimensions of noncompliance with treatment of hypertension. 48 studies were analyzed. In the second phase, there was the development of the evaluation instrument. We outlined the dimensionality, the constitutive definitions, operational definitions and elaborate items of the instrument pilot. The third phase designated the process of content validation of the instrument by experts in noncompliance. The selection of experts came from the database of CAPES. The inclusion criterion was a minimum score of 5 points on the scale adapted Fhering system. Participants were 17 experts in hypertension, and 12 nurses, four pharmacists and a physician. We applied three forms of online content validation. The instruments were treated and then included in a database of a statistical program. We calculated the Index of Content Validity total (ICVt) and items (ICVi) and performed the binomial test dimensions, constitutive definitions, operational definitions and items. Elucidated are four constitutive dimensions of noncompliance with treatment of hypertension: one dimension, health care, disease / treatment and environment. We developed nine constitutive dimensions, 36 items and 30 operational definitions of the instrument pilot. The content validation process occurred with an expert panel of nine Brazilian states, 58.8% of doctors and 41.2% masters. The validation of the constitutive dimensions of 0.88 obtained ICVt showing good understanding of the phenomenon of systemic noncompliance. 19 operational definitions were validated with excellent ICVi, 12 achieved good ICVi, and 5 were excluded. The validation of the instrument items pilot got ICVt = 0.82, indicating good theoretical formulation. 20 items were validated with excellent ICVi, six achieved good ICVi, and four were excluded. The evaluation of psychometric criteria (performance, simplicity, clarity, relevance, accuracy, and typicality mode) achieved excellent ICVi statistically significant. It was possible to develop and validate the contents of the "Instrument for Assessment of Non-Adherence to Treatment of Hypertension", it is a Likert scale of 5 points in each dimension allows us to measure their constituents and non-adherence at three levels: no total membership, risk for non-adherence and compliance. Thus we provide a multidimensional instrument from a complex understanding, and can think of each dimension and their constituents interrelational seeking the convergence of knowledge for building approaches focused on the reality of each subject. Keywords: Hypertension. Patient compliance. Treatment failure. Nursing. 11 RESUMEN La falta de adherencia al tratamiento de la hipertensión arterial (HTA) es un problema complejo de salud pública que se mantiene como un desafío a los equipos de salud. El desarrollo de instrumentos específicos para medir, teniendo en cuenta su carácter multidimensional, es una tecnología centrada en los cuidados de enfermería clínica y eficaz convergentes a las necesidades de las personas con hipertensión. El objetivo fue desarrollar y validar el contenido de un instrumento para evaluar la falta de adherencia al tratamiento de la hipertensión. Se trata de un estudio metodológico cuantitativo anclado en la metodología teórico de la psicometría. El estudio se realizó en tres fases. En la primera fase, se realizó una revisión integradora en LILACS, IBECS, MEDLINE, PubMed y SciELO, para la elaboración de las dimensiones del abandono del tratamiento de la hipertensión. 48 estudios fueron analizados. En la segunda fase, se produjo el desarrollo del instrumento de evaluación. Hemos esbozado la dimensionalidad, las definiciones constitutivas, las definiciones operacionales y los elementos complejos de la prueba piloto del instrumento. La tercera fase designado el proceso de validación de contenido del instrumento por expertos en incumplimiento. La selección de los expertos procedían de la base de datos de CAPES. El criterio de inclusión fue una puntuación mínima de 5 puntos en la escala adaptada sistema Fhering. Participaron 17 expertos en hipertensión, y 12 enfermeras, los farmacéuticos cuatro y un médico. Se aplicaron tres formas de validación de contenidos en línea. Los instrumentos fueron tratados e incluyó entonces en una base de datos de un programa estadístico. Se calculó el índice de contenido total validez (IVCT) y artículos (IVci) y realiza las dimensiones de pruebas binomiales, las definiciones, las definiciones operacionales constitutivas y los elementos. Dilucidado cuatro dimensiones constitutivas de incumplimiento con el tratamiento de la hipertensión: una dimensión, la atención de la salud, la enfermedad / tratamiento y el medio ambiente. Hemos desarrollado nueve dimensiones constitutivas, artículos 36 y 30 definiciones operativas de la prueba piloto del instrumento. El proceso de validación de contenido se produjo con un panel de expertos de nueve estados brasileños, el 58,8% de los médicos y 41,2% amos. La validación de las dimensiones constitutivas de 0,88 obtenido IVCT mostrando buena comprensión del fenómeno de incumplimiento sistémico. 19 definiciones operacionales fueron validados con excelente IVci, 12 IVci logrado buenos, y 5 fueron excluidos. La validación del instrumento piloto tiene artículos IVCT = 0,82, lo que indica una buena formulación teórica. 20 artículos fueron validados con excelente IVci, seis logrado IVci bueno, y cuatro fueron excluidos. La evaluación de los criterios psicométricos (rendimiento, simplicidad, claridad, relevancia modo, la precisión y la tipicidad) logró IVci excelente estadísticamente significativa. Es posible desarrollar y validar el contenido del "Instrumento para la Evaluación de la NoAdherencia al Tratamiento de la Hipertensión", es una escala de Likert de 5 puntos en cada dimensión nos permite medir sus electores y no adhesión a tres niveles: no número total de miembros riesgo, por la falta de adherencia y cumplimiento. Por lo tanto, se proporciona un instrumento multidimensional de una comprensión compleja, y puede pensar en cada dimensión y sus componentes inter-relacional búsqueda de la convergencia del conocimiento de enfoques centrados en la creación de la realidad de cada sujeto. Palabras clave: Hipertensión. Cooperación del paciente. Incumplimiento del tratamiento. Enfermería. 12 LISTA DE REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS Figuras Figura 01: Organograma para elaboração de medida psicológica. 45 Figura 02: Organograma metodológico da elaboração do Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. 54 Figura 03: Fases da Revisão Integrativa da Literatura segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008). 56 Figura 04: Processo de seleção dos estudos nas bases IBECS, SCIELO, PUBMED, MEDLINE e LILACS. Fortaleza, 2012. 59 Figura 05 Fluxo dos conceitos do pólo teórico para construção de instrumentos de medida. Fortaleza, 2012. 61 Figura 06 Diagrama relacional da Não Adesão ao Tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. 93 Quadros Quadro 01: Critérios psicométricos para elaboração de itens. 48 Quadro 02: Adaptação do sistema de pontuação de especialistas do modelo de validação de conteúdo de Fhering. Fortaleza, 2012. 66 Quadro 03: Critérios de avaliação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens. Fortaleza, 2012. 68 Quadro 04: Pontuação sobre os critérios de avaliação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens. Fortaleza, 2012. 69 Quadro 05: Pontuação para avaliação dos itens quanto aos critérios de Pasquali. Fortaleza, 2012. 69 Quadro 06: Panorama dos estudos selecionados, Fortaleza-CE, 2012. 77 Quadro 07: Variáveis de não adesão da dimensão Pessoa conforme as referências. Fortaleza, 2012. 80 Quadro 08: Variáveis de não adesão da dimensão Doença/Tratamento conforme as referências. Fortaleza, 2012. 86 Quadro 09: Variáveis da não adesão da dimensão Serviço de Saúde conforme as referências. Fortaleza, 2012. 89 Quadro 10: Variáveis da não adesão da dimensão Ambiente conforme referências. Fortaleza, 2012. 91 Quadro 11: Dimensionalidade do construto “Não adesão ao tratamento da HAS”. Fortaleza, 2012. 97 Quadro 12: Definições constitutivas e operacionais da dimensão Pessoa segundo as referências. Fortaleza, 2012. 99 Quadro 13: Definições constitutivas e operacionais da dimensão Doença/Tratamento 100 13 segundo as referências. Fortaleza, 2012. Quadro 14: Definições constitutivas e operacionais das dimensões Serviço de Saúde e Ambiente, segundo as referências. Fortaleza, 2012. 101 Quadro 15: Painel de itens para avaliação da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Fortaleza, 2012. 102 Quadro 16 Pontuação dos especialistas segundo critérios adaptados do modelo Fhering. Fortaleza, 2012. 104 Quadro 17 Definições operacionais validadas do traço latente “Não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. 135 Quadro 18 Instrumento de Avaliação de Não Adesão Ao Tratamento da Hipertensão Arterial. Fortaleza, 2012. 151 Tabelas Tabela 01 Caracterização dos especialistas. Fortaleza, 2012. 106 Tabela 02 Perfil acadêmico dos especialistas em Não adesão ao tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. 110 Tabela 03 Índice de Validade de Conteúdo (IVC) das definições constitutivas do traço latente “não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. 113 Tabela 04 Índice de Validade de Conteúdo (IVC) das definições operacionais do traço latente “não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. 120 Tabela 05 Índice de Validade de Conteúdo (IVC) dos itens do instrumento de avaliação da Não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. 137 Tabela 06 Avaliação dos critérios psicométricos (comportamento, simplicidade, clareza, relevância, precisão, modalidade e tipicidade) dos itens do instrumento de avaliação da Não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. 145 Gráficos Gráfico 01 Envolvimento com produção acadêmica em Não adesão ao tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. 111 Gráfico 02 Envolvimento com produção acadêmica em HAS. Fortaleza, 2012. 111 14 LISTA DE SIGLAS HAS Hipertensão Arterial Sistêmica OMS Organização Mundial da Saúde QAM-Q Questionário de Adesão a Medicamentos – Qualiaids NOC Nursing Outcomes Classification Questionário MBG Questionário Martín-Bayarre-Grau GRUPECCE Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidade e Enfermagem SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem IBAP Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica TRI Teoria da Resposta ao Item CCI Curva Característica do Item CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior IVC Índice de Validade de Conteúdo IVCs Índice de Validade de Conteúdo da Escala IVCi Índice de Validade de Conteúdo Item PASW Predictive Analytics Software for Windows TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido PA Pressão Arterial AVC Acidente Vascular Cerebral DCV Doença Cardiovascular FITT Frequência, Intensidade, Tempo e Tipo de exercício PAD Pressão Arterial Diastólica PAS Pressão Arterial Sistólica 15 SUMÁRIO 1 2 3 3.1 3.2 4 4.1 4.2 5 5.1 5.2 5.3 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4 5.3.5 6 6.1 6.1.1 6.1.2 6.1.3 6.1.4 6.2 7 7.1 7.2 8 8.1 8.2 8.3 8.4 8.4.1 8.5 9 INTRODUÇÃO........................................................................................................................... OBJETIVOS................................................................................................................................ REVISÃO DE LITERATURA................................................................................................... MENSURAÇÃO DA (NÃO)ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL................................................................................................................................... IMPORTÂNCIA DA MENSURAÇÃO NA CLÍNICA DE ENFERMAGEM............................ REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................................... TEÓRICO LUIZ PASQUALI....................................................................................................... A PSICOMETRIA......................................................................................................................... MÉTODO...................................................................................................................................... PRIMEIRA FASE......................................................................................................................... SEGUNDA FASE......................................................................................................................... TERCEIRA FASE......................................................................................................................... Sujeitos do estudo – os especialistas........................................................................................... Critérios de inclusão e exclusão.................................................................................................. Coleta de dados da terceira fase................................................................................................. Análise........................................................................................................................................... Aspectos Éticos............................................................................................................................. DIMENSÕES DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS........................................ CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS SELECIONADOS........................................................ Dimensão Pessoa.......................................................................................................................... Dimensão Doença/Tratamento................................................................................................... Dimensão Serviço de Saúde........................................................................................................ Dimensão Ambiente..................................................................................................................... INTEGRALIZANDO OS RESULTADOS................................................................................... DESENVOLVIMENTO DOS ITENS DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL...................................... DIMENSIONALIDADE............................................................................................................... DEFINIÇÕES E OPERACIONALIZAÇÃO DOS CONSTRUTOS............................................ VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL...................................... CARACTERIZAÇÃO DOS ESPECIALISTAS........................................................................... VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DAS DEFINIÇÕES CONSTITUTIVAS................................ VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DAS DEFINIÇÕES OPERACIONAIS.................................. VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DOS ITENS DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA............ Avaliação dos Critérios Psicométricos dos Itens...................................................................... INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL....................................................................................................... CONCLUSÃO.............................................................................................................................. REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 18 23 25 26 35 40 41 43 52 54 61 64 64 65 66 70 73 75 76 79 85 89 91 92 96 97 98 103 104 113 119 136 143 151 153 156 16 APÊNDICES Apêndice A Apêndice B Apêndice C Apêndice D Apêndice E Apêndice F Apêndice G Apêndice H ANEXO ANEXO A Instrumento Guia para elaboração de itens Instrumento de coleta de dados – Caracterização dos especialistas Validação de conteúdo das definições constitutivas, operacionais e itens Validação de conteúdo segundo os critérios psicométricos Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Segunda Validação de conteúdo Instruções para avaliação dos especialistas Carta-convite Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa 17 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 18 1 INTRODUÇÃO O problema das doenças crônicas não infecciosas na conjuntura epidemiológica atual é uma preocupação da assistência à saúde mundial e tem motivado pesquisadores em diversas áreas do conhecimento. Os altos índices de morbidade, mortalidade, incapacidade física e prejuízos na qualidade de vida das pessoas1 com esses agravos são as principais motivações dessa preocupação. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial, caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial, afetando 20% da população adulta mundial e 60% dos idosos. Mais de 30 milhões de brasileiros apresentam um quadro patológico de elevação da pressão arterial. Acidentes vasculares encefálicos, ataques isquêmicos, encefalopatias, infartos agudos do miocárdio, insuficiência cardíaca, aneurismas, insuficiência renal e morte súbita estão direta ou indiretamente relacionados à hipertensão, tornando-a um dos fatores de risco mais importantes de morbimortalidade no mundo (VI DIRETRIZES, 2010). Com elevado impacto social e econômico, acomete pessoas em plena fase produtiva da vida, provocando afastamentos, aposentadorias precoces, tempo de internação prolongado, custo de tratamento, além de controle insatisfatório da doença (MOUSINHO; MOURA, 2008). Atualmente, não faltam ensaios clínicos que apresentam novas drogas ou esquemas associativos de outras já conhecidas em busca de minimizar os efeitos devastadores dessa 1 Nesse trabalho optamos pela utilização dos termos pessoa e sujeito em detrimento ao termo paciente. Entendemos que vislumbrar mudanças no setor saúde inicia-se com a adequação dos conceitos aos cenários e aos discursos paradigmáticos. 19 morbidade. Entretanto, mesmo com todo esse investimento, quem trata de pessoas com essas condições continua esbarrando em um problema secular, a falta de adesão à terapêutica, medicamentosa ou não (GUSMÃO et al., 2009). Considera-se a adesão ao tratamento da hipertensão a medida de coincidência entre o comportamento do usuário e a prescrição do profissional de saúde que envolve medidas farmacológicas e não farmacológicas. Espera-se como resultados o controle da pressão arterial, a redução na incidência ou retardo na ocorrência de complicações cardiovasculares e a melhoria da qualidade de vida (SOUZA, 2008; GUSMÃO et al, 2009). Apesar de existirem várias estratégias para avaliar a adesão ao tratamento da hipertensão, não há consenso sobre um padrão ouro (SANTA-HELENA, 2007). Os métodos podem ser diretos, como a dosagem do princípio ativo/metabólito da droga, ou indiretos como a contagem de comprimidos e relato do usuário. Alguns autores desenvolveram questionários genéricos para mensurar a adesão ao tratamento em doenças crônicas, também utilizados em pessoas com hipertensão (BORGES et al., 2012). O desenvolvimento de instrumento específico para medir a não adesão ao tratamento da hipertensão, que considere sua multidimensionalidade, enfocando domínios relevantes dessa enfermidade, associados ao controle terapêutico, pode facilitar a detecção e aferição do cumprimento à terapêutica prescrita. A criação de instrumentos insere-se no desenvolvimento de tecnologias em saúde. Tecnologia é um processo que envolve diferentes dimensões, do qual resulta um produto, que pode ser um bem durável, uma teoria, um novo modo de fazer algo, ou bens ou produtos simbólicos (ROCHA et al., 2008). As tecnologias podem ser classificadas em leves 20 (relações), leves-duras (saberes bem estruturados) e duras (equipamentos tecnológicos) (MERHY; FRANCO, 2003). Desse modo, a criação e validação de um instrumento é uma tecnologia, pois é um modo de ação, de fazer cuidado, classificado como tecnologia leve-dura, por ser estruturado em uma série de passos ou normas, que o definem/orientam à realização do cuidado. Dessa forma, o instrumento resultante de um trabalho vivo em ato, sistematizado e organizado cientificamente culmina com um cuidado de enfermagem mais eficiente, eficaz e convergente aos requerimentos do ser com hipertensão e não adesão ao tratamento (MERHY; FRANCO, 2003; ROCHA et al., 2008). Diante de tal relevância, a não adesão ao tratamento permanece como desafio aos profissionais de saúde, principalmente na Atenção Primária, fazendo-se necessário um estudo aprofundado em busca de estratégias que subsidiem o aumento da adesão. A complexidade das altas taxas de não adesão apresentadas pelos diversos métodos de mensuração caracteriza um contexto a exigir aprofundamento de pesquisa como elemento de sustentação para a qualificação da prática dos profissionais que cuidam desses sujeitos, configurando, assim, a oportunidade da criação desse estudo. Salienta-se que a necessidade de desenvolvimento de tecnologia no contexto de doença crônica, de alta prevalência e associada aos indicadores de morbidade, mortalidade e incapacidade encontra-se inserida no caderno de prioridades em pesquisa do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006). Deste modo, tornam-se importantes estudos que subsidiem gestores e equipes de saúde no estabelecimento de estratégias para superação da não adesão, o que é 21 especificamente importante para o enfermeiro, profissional que a cada dia conquista mais espaço no cenário da atenção primária no país (BORGES, 2010). Ante o exposto, questiona-se: é possível o desenvolvimento e a validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial sedimentado nos domínios relevantes dessa enfermidade, como possibilidade de superação dos instrumentos limitados encontrados na literatura? Responder a essa pergunta pode impactar positivamente no cuidado clínico de enfermagem à hipertensão arterial, servindo de diretriz para a orientação clínica, seções de educação em saúde e mobilizações comunitárias para a melhoria do serviço de saúde. Desse modo, o interesse pelo tema surgiu durante a graduação em Enfermagem, ao participar, na iniciação científica, de pesquisas sobre hipertensão arterial, culminando com um estudo monográfico sobre a adesão ao tratamento a partir do processo de comunicação entre enfermeira e pessoa com hipertensão, e suas interfaces na potencialização do vínculo terapêutico (BORGES, 2008). Em meu exercício profissional, atuando em hospitais de tecnologias terciárias, observei empiricamente o perfil de morbimortalidade relacionado às complicações advindas da hipertensão arterial, confirmando a afirmação de ser a hipertensão arterial a doença de morbidade mais elevada no Brasil (BRASIL, 2005). Atualmente, participo do Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidade e Enfermagem (GRUPECCE) do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará, cujo projeto central trabalha com a adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Vinculado a esse grupo de pesquisas, concluí o Curso de Especialização em Enfermagem Clínica, do mesmo departamento, tendo a oportunidade de aprofundar 22 minhas pesquisas sobre a temática e de escrever um trabalho monográfico sobre os métodos de avaliação da adesão ao tratamento da hipertensão arterial (BORGES, 2010). A realização desse trabalho mostrou os limites e fragilidades dos métodos existentes, despertando-me para a construção de um novo método, construído sobre um rigor metodológico, para a avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial como uma tecnologia para o trabalho de enfermagem, sendo este, determinante para a qualificação dos cuidados prestados às pessoas com hipertensão acompanhadas na atenção primária em saúde. 23 CAPÍTULO II OBJETIVOS 24 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Desenvolver um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial e sua validação. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Elucidar as dimensões da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica; Construir um instrumento multidimensional de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial; Validar o Conteúdo do Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica; 25 CAPÍTULO III REVISÃO DE LITERATURA 26 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 MENSURAÇÃO DA (NÃO) ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Os termos utilizados para definir adesão e não adesão refletem qual a compreensão que os autores possuem sobre o papel dos atores no processo. Os termos mais utilizados em língua inglesa são compliance, que pode ser traduzido por cumprimento ou obediência, e mais recentemente adherence, traduzido como adesão ou aderência em língua portuguesa. O termo compliance pressupõe um papel passivo do sujeito com hipertensão, originário de um paradigma centrado no médico e é mais orientado ao controle. Já o termo adherence identifica uma escolha livre das pessoas que aderem ou não às recomendações, denotando uma certa interação colaborativa entre o sujeito com HAS e o provedor de cuidados (SANTA HELENA, 2007; SOUZA, 2008). Compliance é um termo muito criticado, pois permite a interpretação de que a pessoa com hipertensão encontra-se numa posição passiva no que tange às decisões a serem tomadas sobre seu tratamento, isto é, na relação profissional de saúde-sujeito o poder se encontra com o profissional, que deve assumir a responsabilidade de ditar o tratamento, enquanto, ao outro cabe apenas se submeter, cumprindo os ditames propostos. Assim o noncompliance (ou desobediência, não cumprimento em língua portuguesa) coloca-se como desvio da conduta, que deve ser cobrada pelo profissional de saúde (SANTA HELENA, 2007; UNGARI, 2007; SOUZA, 2008). 27 Para Santa Helena (2007) e Santa Helena, Nemes e Eluf-Neto (2008), se, do ponto de vista individual, o termo compliance remete a responsabilidade por tomar medicamentos para a pessoa com HAS (resultante de uma relação terapêutica não dialogada, com sentido verticalizado), do ponto de vista coletivo, a proporção de pessoas não obedientes pode expressar um serviço de saúde que não se abre ao diálogo e às opiniões dos seus adscritos. Assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso do termo adherence (adesão), que coloca a pessoa com HAS como partícipe do processo de cuidar de sua saúde, devendo estar conforme as propostas terapêuticas dos profissionais de saúde. Com o uso deste termo, há ampliação do universo da relação profissional de saúde – sujeito cuidado para outro que permite avaliar a qualidade do serviço prestado (WHO, 2003). Ante o exposto, utilizou-se neste trabalho o termo não adesão, sendo a tradução em português do termo no adherence. A não adesão é um problema de saúde pública e tem sido denominada de “epidemia invisível”, variando de 15 a 93%, com média estimada de 50%, dependendo do método empregado para a medida (SANTA HELENA, 2007; SOUZA, 2008; BLOCH; MELO; NOGUEIRA, 2008). Elucidando a magnitude da não adesão, sua prevalência em relação ao regime medicamentoso da hipertensão encontra-se em 47% na Espanha, 58,3% no Reino Unido, 11% na Suécia e 10,6% na Holanda; em Saycheles apresenta prevalência de 74%, no México de 78,5%, na Colômbia de 40,4% e no Chile de 77,3% (TUESCA MOLINA et al 2006; GOHAR et al, 2008; JOHNELL et al, 2005; WETZELS et al, 2006; BOVET et al, 2002; MELANO CARANZA, OJEDA, ÁVILA, 2008; VELANDIA-ARIAS, RIVERA- 28 ALVAREZ, 2009; MENDOZA-PARRA, MERINO, BARRIGA, 2009). No Brasil, as taxas de não adesão apresentam-se com: 49% no Rio de Janeiro, 43,4% em Porto Alegre, 86,3% em São Paulo, 25% em São Luiz e em Fortaleza essa taxa foi encontrada entre 36 e 42% (BLOCH; MELO; NOGUEIRA, 2008; DAMASCENO et al, 2008; SANTA HELENA, NEMES, ELUF NETO, 2008, DOSSE et al, 2009; MOCHEL, et al, 2007; SANTOS et al, 2005). Para a OMS (2003), a magnitude e o impacto da baixa adesão em países em desenvolvimento é ainda maior, dada à escassez de recursos para a saúde e às desigualdades de acesso aos cuidados de saúde. Vários fatores contribuem para a não adesão terapêutica, como o nível socioeconômico, crenças, complexidade do tratamento, valores, aspectos relativos aos serviços de saúde e o relacionamento profissional-usuário (MOREIRA; ARAÚJO, 2002; SANTA HELENA, 2007). Na Espanha, Vallès-Fernandes et al., (2009), descreveram quatro grupos de fatores associados ao inadequado controle pressórico: 1) fatores relacionados ao usuário; 2) relativos ao tratamento; 3) fatores relacionados ao manejo clínico e 4) relacionados aos equipamentos utilizados para verificar a pressão. Nesse sentido, a OMS expõe a adesão como um fenômeno multidimensional determinado pela conjugação de cinco grupos de fatores, denominados de "dimensões": sistema de saúde, doença, tratamento, paciente e fatores relacionados ao cuidador. Essa classificação deixa claro que a crença comum, na qual as pessoas com doenças crônicas são os únicos responsáveis por levar o tratamento, é enganosa e, na maioria das vezes, reflete uma incompreensão da forma como outros fatores afetam o comportamento das pessoas e da sua capacidade de aderir ao tratamento (WHO, 2003). 29 Apesar da não adesão ao tratamento da hipertensão representar um problema que tem recebido atenção de centros de pesquisas internacionais, há poucos estudos em nosso meio que quantifiquem sua magnitude (SANTA HELENA, 2007). Para Gusmão et al. (2009), ainda existe campo aberto para pesquisa em relação à essa temática. Existem várias estratégias para avaliar a (não) adesão ao tratamento da hipertensão, no entanto, não há consenso sobre um padrão ouro (SANTA HELENA; NEMES; ELUFNETO, 2008). Os métodos podem ser indiretos, como contagem de comprimidos, relatório do usuário, opinião do profissional de saúde, resposta clínica, monitorização eletrônica da medicação; ou diretos, dosagem em líquidos corporais do principio ativo/metabólito do fármaco (SOUZA, 2008). Alguns autores desenvolveram questionários genéricos para mensurar a adesão ao tratamento em pessoas com doenças crônicas, também utilizados em pessoas com HAS: Teste de Morisky-Green-Levine, o teste de Haynes-Sackett e o teste de Batalla (MELCHIORS, 2008). Recentemente foi desenvolvido o “Questionário de Adesão a Medicamentos-Qualiaids” QAM-Q (SANTA-HELENA, 2007; SANTA-HELENA; NEMES; ELUF-NETO, 2008). Esclarecendo os questionários utilizados, tem-se que o Teste de Morisky-GreenLevine trata-se de uma medida construída em 1986 e constitui o instrumento amplamente utilizado para medir adesão ao uso de medicamentos. A teoria fundamental desta medida abrange que o uso inadequado de medicamentos ocorre em uma, mais de uma ou todas as seguintes formas: esquecimento, falta de cuidado, interromper o medicamento quando se sentir melhor ou pior. É de fácil medida, validado, com apenas quatro questões compreensíveis, que proporcionam a verificação da atitude da pessoa frente à tomada medicamentos (UNGARI, 2007). 30 No Teste de Haynes-Sackett o sujeito faz um autorrelato da adesão ao tratamento por meio de duas perguntas com as quais se estima uma porcentagem da adesão referente ao último mês de tratamento. Na avaliação deste teste se aplicam as seguintes perguntas: “a maioria dos pacientes tem dificuldades de tomar seus comprimidos. Você tem dificuldade de tomar todos os seus?” Em caso de resposta afirmativa, realiza-se a segunda pergunta: “Neste último mês, quantas vezes você se esqueceu de tomar o seu remédio? É considerado não aderente, aquele com adesão menor que 80% e maior que 110%, de acordo com o cálculo pela fórmula: número de dias esquecidos multiplicados por 100, divididos por 30 dias (SACKETT et al., 1975 apud MELCHIORS, 2008). O Questionário de Adesão a Medicamentos – Qualiaids (QAM-Q) foi desenvolvido para medir a não adesão ao tratamento com medicamentos, em suas múltiplas dimensões, para abordar o ato (se o indivíduo toma e o quanto toma de seus medicamentos), o processo (como ele toma o medicamento no período de sete dias, se pula doses, se toma de modo errático, se faz “feriados”) e o resultado de aderir (no caso, se sua pressão estava controlada) (SANTA-HELENA; NEMES; ELUF-NETO, 2008). Os autores construíram três medidas de não-adesão: proporção de doses consumidasmedida contínua do ato de aderir: número de comprimidos consumidos multiplicado pelo número de vezes, dividido pelo número de comprimidos prescritos, multiplicado pelo número de vezes; processo de tomadas - medida ordinal do processo de aderir: freqüência de ocorrência de abandono (não tomou nenhuma dose de todos os medicamentos nos últimos sete dias), feriados (o paciente não toma qualquer medicamento naquele dia), tomada errática (deixa de tomar medicamentos em dias e horários variados), ou meia-adesão (toma corretamente um medicamento e outro de maneira incorreta); desfecho referido - medida 31 dicotômica do resultado de aderir: relato da última medida de pressão arterial, informando se estava normal ou alterada (SANTA-HELENA, 2007; SANTA-HELENA; NEMES; ELUFNETO, 2008). Além dos quatro questionários citados anteriormente, a realização de uma revisão integrativa revelou mais quatro instrumentos: Cuestionário de valoración del comportamiento de adherencia al tratamiento farmacológico y no farmacológico, o Cuestionário MBG (Martín-Bayarre-Grau), Escala de conductas em salud (escala multidimensional para doenças crônicas) e a Hill-Bone compliance to high blood pressure therapy scale. No entanto, a grande maioria mede apenas a adesão farmacológica (BORGES, 2010). O Cuestionário de valoración del comportamiento de adherencia al tratamiento farmacológico y no farmacológico trata-se de um instrumento desenvolvido para pessoas pós-infarto do miocárdio, que passou por processo de validação de conteúdo por enfermeiras experts na Colômbia, tomando como referência os indicadores e a escala semântica da Taxonomia NOC (Nursing Outcomes Classification). Consta de 14 itens tipo Likert com cinco alternativas de resposta na qual um, é igual a “nunca” significa o valor mais baixo e cinco, igual a “sempre” o valor mais alto. A escala só está disponível em espanhol (VELANDIA-ARIAS, RIVERA-ÁLVAREZ, 2009). O Questionário MBG (Martín-Bayarre-Grau) desenvolvido por Alfonso, Vea e Ábalo (2008) na Escola Nacional de Saúde Pública de Cuba foi elaborado a partir da definição de adesão terapêutica, desenvolvida pelos autores: ação ativa e voluntária do paciente a adotar um comportamento relacionado com o cumprimento do tratamento 32 acertado de mútuo acordo com o profissional de saúde. Assim, as categorias da adesão exploradas são: cumprimento do tratamento (execução pelo paciente das indicações prescritas), implicação pessoal (busca pelo paciente de estratégias para garantir o cumprimento das prescrições com a execução dos esforços necessários) e relação mútua (relação de colaboração entre o paciente e o profissional de saúde para estabelecer o tratamento e elaborar a estratégia a seguir que garanta seu cumprimento e aceitação por ambos). Possui 12 itens em forma de afirmações, com escala tipo Likert com cinco possibilidades de respostas: sempre, quase sempre, às vezes, quase nunca e nunca. Podem-se determinar três tipos de níveis de adesão: total, parcial e não adesão (ALFONSO, VEA e ÁBALO, 2008). O Questionário MBG passou por uma validação para o português a partir de um processo formal de adaptação transcultural com vistas a ser utilizado na pesquisa de avaliação do programa Remédio em Casa, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Obteve alfa de Cronbach superior a 0,70 (0,78 no teste e 0,79 no reteste) e um coeficiente de correlação intraclasse para o total do instrumento de 0,81 (indicando concordância “quase perfeita”). A validação ocorreu em pessoas em tratamento anti-hipertensivo e antidiabético (MATTA, 2010). A Escala de conductas en salud permite caracterizar a adesão ao tratamento a partir de quatro subescalas que indagam sobre a dieta, as atividades físicas, a tomada de medicamentos e se podem controlar situações de estresse em cada um dos contextos em que se desenvolve a vida diária (em casa, na recreação e nas atividades sociais). A escala original tem um formato Likert de cinco alternativas de respostas que permite alcançar um máximo de 100 pontos e conta com uma quinta subescala que indaga sobre o hábito de 33 fumar e estende-se ao âmbito laboral. A escala obteve pontuações aceitáveis de consistência interna alfa de Cronbach entre 0,70 e 0,85. Validada apenas em espanhol (MENDOZAPARRA, MERINO e BARRIGA, 2009). A escala Hill-Bone compliance to high blood pressure therapy scale (Hill-Bone compliance scale) avalia comportamentos do paciente por três importantes domínios comportamentais de tratamento de pressão arterial elevada: 1) reduzir a ingestão de sódio, 2) comparecimento a consultas e 3) tomar a medicação. Esta escala é composta por 14 itens em três subescalas. Cada item é uma escala de quatro pontos do tipo Likert e foi desenvolvida e validada pela Escola de Enfermagem da Universidade John Hopkins, Baltmoore, Estados Unidos da América (EUA) (KIM et al, 2000). Gohar et al. (2008) usaram uma versão adaptada do instrumento com oito questões em hipertensos do Reino Unido, avaliando a adesão pelo esquecimento dos pacientes em tomar medicamentos. Foi garantido que eles não ficariam sem medicação e perguntado sobre as circunstâncias em que não podem tomar sua medicação. Escala validada apenas em inglês. Um estudo realizado no Reino Unido analisou a validade e a confiabilidade do Teste de Morisky-Gree e do Hill-Bone compliance to high blood pressure therapy scale em uma amostra de adultos hipertensos. Ambas as escalas mostraram baixa aceitação e insuficiência moderada. A consistência interna alfa de Cronbach foi 0,25 e 0,73, respectivamente. Sua validade convergente resultou em um kappa = 0,39, indicando baixa convergência. Testando o poder de prever pressão arterial > 140/90 mmHg, as duas escalas mostraram precisão de 57% e 62%, respectivamente. Os autores enfatizam que o uso de ambas as escalas não deve ser recomendado (KOSCHACK et al., 2010). 34 Observou-se deliberadamente, que esses instrumentos focam-se no tratamento medicamentoso, mitigando as outras dimensões envolvidas no processo de adesão/não adesão terapêutica. Porém, estudos apontam para a multicausalidade da não adesão ao tratamento, isto é, a não adesão depende da doença, do medicamento consumido, de características e crenças pessoais, das condições socioeconômicas dos usuários e do modo como se relacionam com os serviços de saúde (MOREIRA; ARAÚJO, 2002; SANTAHELENA, 2007; GUSMÃO et al, 2009, NUNES et al, 2009). No entanto, os métodos de quantificação focalizam-se no tratamento farmacológico, permanecendo vários fatores nãofarmacológicos, importantes para a não adesão, de fora da mensuração, limitando tais métodos (BORGES, 2010). A avaliação da não adesão ao tratamento não é tarefa fácil. Cada método de quantificação descrito na literatura tem suas limitações e não há um método ideal. Para Souza (2008), o desenvolvimento de diferentes técnicas para medi-la é o indício de que nenhuma delas é a melhor, deixando-a como questão de difícil mensuração. 35 3.2 MENSURAÇÃO DA NÃO ADESÃO NA CLÍNICA DE ENFERMAGEM O desenvolvimento de tecnologia leve-dura nesse cenário para medir a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial potencializará a construção de indicadores com resultados diretos, que auxiliem no estabelecimento de ações, delineadas na clínica de enfermagem, para o resgate da adesão ao tratamento, minimizando o ônus material e humano advindo dessa morbidade. Partindo do conceito de enfermagem como uma ciência, uma arte e uma disciplina prática que envolve o cuidado, suas metas incluem o atendimento dos saudáveis, dos enfermos, a assistência nas atividades de autocuidado, o auxilio aos indivíduos para atingir seu potencial humano e a descoberta e uso das leis de saúde da natureza. As finalidades do cuidado de enfermagem incluem colocar a pessoa nas melhores condições para que a natureza restaure sua saúde, promova adaptação do indivíduo e facilite o desenvolvimento de uma interação em que as metas estabelecidas em conjunto sejam atingidas e promovam a harmonia entre o indivíduo e o ambiente (MCEWEN; WILLS, 2009). Para Renaud (2010) ainda que inclua uma dimensão de saber incidindo na prestação objetiva de um cuidado de que se pode aprender a execução, nos respectivos manuais, o cuidado de enfermagem atinge o nível de mediação em que se situa o corpo doente, ou o corpo carente de cuidados. Mas a pessoa da enfermeira ou do enfermeiro vive também nela ou nele esta dimensão de mediação, que surge entre a sua vida interior e a sua abertura ao mundo. É, portanto, um encontro de mediações, que surge entre o doente e a pessoa prestadora de cuidados, mediações que implicam sempre a presença assaz misteriosa do corpo. 36 A partir de uma compreensão filosófica, o cuidado é uma atitude prática frente ao sentido que as ações de saúde adquirem nas diversas situações em que se reclama uma ação terapêutica, isto é, uma interação entre dois ou mais sujeitos visando o alívio de um sofrimento ou o alcance de um bem-estar, sempre mediada por saberes especificamente voltados para essa finalidade. O cuidar nas práticas de saúde configura-se no desenvolvimento de atitudes e espaços de genuíno encontro intersubjetivo, de exercício de uma sabedoria prática para a saúde, apoiados na tecnologia, mas sem deixar resumir-se a ela a ação em saúde (AYRES, 2004). Desse modo, entendemos o cuidado clínico de enfermagem como uma entidade abstrata que se objetiva, empiricamente, durante as relações dos entes envolvidos, a partir de encontros intersubjetivos marcados pela ética, permitindo a elaboração de diretrizes e ações clínicas, repletas de subjetividades que são dispensadas aos sujeitos em qualquer fase do desenvolvimento humano, contemplando aspectos biopsicossociais, na polifonia das culturas e ideologias com a finalidade de contribuir com o bem estar do ser humano. O delineamento desse cuidado faz-se a partir do tripé conhecimento científico de enfermagem, rede social em que os sujeitos encontram-se inseridos e o suporte dispensado pelo serviço de saúde. Consiste numa ampla leitura da realidade, individual e coletiva, nos seus âmbitos subjetivo, social, biológico e tecnológico, assim como de uma realidade pluripotencial e imperceptível que molda as práticas sociais dos sujeitos em suas interações. A partir dessa leitura, são elaborados os cuidados, como acontecimentos devires, vislumbrando mudanças potenciais sobre a atual condição de vida dos sujeitos. 37 Este conceito propõe uma série de dispositivos e procedimentos para a remodelação dos modos de cuidado, centrado na complexidade do ser humano, buscando nas bases teóricas de enfermagem, das ciências humanas, exatas e naturais os subsídios e direcionamentos que produzam ações de cuidado a partir do entendimento complexo do ser humano. Implica em um exercício ético de remodelação, reorganização de saberes que impliquem subjetivamente em um novo ethos delineado pela enfermagem. Uma clínica que transversaliza a política, a crítica e a saúde, uma clínica que se tece nessas tensões, intensificando e fazendo vibrar esse campo problemático, afirmando a potência da clínica. Desta forma, é preciso se situar na fronteira dessa transversalidade, entendendo, por clínica, um processo de abertura às diferenças intensivas que pulsam em nós, um lidar com a tensão entre as formas postas e os estados intensivos que se insinuam, um desmanchamento das figuras atuais e a possibilidade de construção de outros modos de existência (MACHADO; LAVRADOR, 2009). Nesse sentido, pontuamos a crítica de Ayres (2004) como um movimento de reflexão sobre a construção e a utilização de tecnologias no campo da saúde na qual a pessoa, enquanto sujeito no processo saúde-doença-cuidado, deve sempre ser o centro gerador de forças na interação como um modo de interesse pela vida. A tecnologia deve ser escolhida como forma de construção de mediação, não é apenas aplicação de ciência, não é simplesmente um modo de fazer, mas é também, enquanto tal, uma decisão sobre quais coisas podem e devem ser feitas. Assim, a utilização de escalas, questionários e outros instrumentos de medida, validados dentro de padrões criteriosos e reconhecidos cientificamente permitem aos 38 enfermeiros o acesso a tecnologias científicas para a realização das práticas clínicas de enfermagem. Nos programas de hipertensão arterial do Ministério da Saúde, a utilização dessas ferramentas de trabalho com foco nas tecnologias leves e leves-duras permite uma reorientação da assistência prestada no âmbito do SUS. Para Jayasinghe (2009), enfermeiros representam uma força formidável na melhoria dos resultados de adesão e os cuidados com a compreensão da dinâmica de conformidade, empregando técnicas de avaliação e monitoramento dos problemas da falta de adesão. Enfermeiros estão bem posicionados para utilizar eficazmente as estratégias sustentáveis para melhorar a adesão, diminuindo, assim, a carga global de hipertensão. Nesse ínterim, o enfermeiro poderá, ao utilizar-se de um instrumento de mensuração da não adesão como um modo de ação de cuidado ser capaz de explicar o que ocorreu, interpretar o que está acontecendo e prever o que acontecerá, permitindo a abertura de novos horizontes interpretativos para o cuidado clínico de enfermagem. Desse modo, situamos a utilização desse instrumento durante a realização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como um dispositivo tecnológico que pode ser utilizado durante o histórico de enfermagem, a partir do qual se consolidam os dados subjetivados no discurso do sujeito com hipertensão, em dados objetivos capazes de serem armazenados em bancos de dados direcionando o cuidado de enfermagem. Na fase diagnóstica, pode auxiliar na acurácia de identificação do diagnóstico de enfermagem “falta de adesão”, subsidiando a consolidação da taxonomia de enfermagem. Poderá também influenciar na incorporação desse diagnóstico de enfermagem na prática clínica. A aplicabilidade da taxonomia de enfermagem depende, sobretudo, da 39 capacidade de definir o foco da assistência de enfermagem, fornecendo informações precisas e válidas (OLIVEIRA, 2011). Os enfermeiros ainda apresentam dificuldades na utilização da taxonomia de enfermagem em sua prática clínica, principalmente com relação à identificação das características definidoras e aos fatores relacionados. O subsídio da mensuração na clínica de enfermagem, além de contribuir com a SAE, potencializará a realização de pesquisas a partir da utilização de metodologias quantitativas aplicadas sobre dados subjetivos que se transformaram em escores a partir dos instrumentos que passaram por processo de validação. Esse panorama de mensuração abre novos caminhos para a ciência de enfermagem, pois, permite a construção de uma infinidade de instrumentos que albergam construtos subjetivos em uma linguagem matemática, capazes de serem utilizados em testes estatísticos trazendo novas interpretações à realidade do cuidado clínico de enfermagem. 40 CAPÍTULO IV REFERENCIAL TEÓRICO 41 4 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico a ser usado nesta pesquisa foi a Psicometria. Trata-se de um ramo da psicologia, que fundamenta medidas em ciências sociais, e é a base epistemológica da elaboração de instrumentos psicológicos, de uso comum, necessários às pesquisas científicas. Como fonte da Psicometria, utilizamos as obras do teórico Luiz Pasquali. 4.1 TEÓRICO LUIZ PASQUALI No campo da Psicologia, e em especial da Psicometria, o nome de Luiz Pasquali é certamente conhecido por estudiosos desta área, por psicólogos que utilizam testes para o seu exercício profissional, assim como por aqueles interessados na compreensão dos atributos que fazem dessas ferramentas, instrumentos confiáveis para a avaliação psicológica. Luiz Pasquali nasceu em Gaurama, Rio Grande do Sul (RS), em 1933. A sua formação universitária foi ampla, tendo graduações em Pedagogia, Teologia, Filosofia e Psicologia. Em 1962, dirigiu-se a Roma para completar o curso de nível superior em Teologia na Universidade de Latrão, Nápoles. Em 1967, obteve o Mestrado em Psicologia pela Faculté de Psychologie et des Sciences de l'éducat, Universite Catholique de Louvain, U.C.L. (Bélgica) e, em 1970, o Doutorado em Psicologia na mesma faculdade (PASQUALI, 2003). Em 1970, foi professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Gran Valley, no estado de Michigan, EUA. Nesse período, passou a dar aulas de Introdução à Psicologia e Higiene Mental. Em 1973, escreveu para a Pontifícia Universidade Católica do 42 Rio Grande do Sul e obteve resposta favorável para se vincular à instituição na qualidade de professor. Em 1975, foi convidado para se vincular ao departamento de Psicologia da Universidade de Brasília. A partir desse momento, dedicou-se inteiramente à Psicologia enfatizando o seu interesse por trabalhar em prol da melhoria da situação brasileira em relação aos testes psicológicos (PROFESSOR EMÉRITO LUIZ PASQUALI, 2007). As suas contribuições para o desenvolvimento da Psicologia na Universidade de Brasília são diversas, mas vale destacar que, em 1987, fundou o Laboratório de Psicologia, Avaliação e Medidas – LABPAM no âmbito do Instituto de Psicologia (IP), o qual foi equipado para executar procedimentos de análise fatorial e validação do primeiro de uma série de testes psicológicos validados pelo LABPAM: o Inventário Fatorial de Personalidade - IFP. Tal procedimento constitui uma das primeiras validações de teste psicológico no Brasil (PASQUALI, 2003). Em 1997, fundou o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP, com 26 membros, elaborou seu estatuto e tornou-se o primeiro presidente. Essa instituição agrega vários pesquisadores que se preocupam com a construção de medidas e instrumental psicológico no país. Em 2002, fundou a Revista de Avaliação Psicológica que é a publicação brasileira destinada a divulgar artigos sobre validação e mensuração psicológica e a fomentar a pesquisa e a teorização sobre Psicometria no Brasil. Em 2006, foi-lhe outorgado o Título de Professor Emérito da Universidade de Brasília (PROFESSOR EMÉRITO LUIZ PASQUALI, 2007). Pasquali possui, até 2012, 27 livros publicados, dos quais alguns expõem a teoria psicométrica: “Teoria e métodos de medida em ciências do comportamento” (1996), 43 “Psicometria: Teoria e aplicações” (1997), “Instrumentos psicológicos: Manual prático de elaboração” (1999), “Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação” (2003), “Análise Fatorial para Pesquisadores” (2005), “TRI - Teoria de Resposta ao Item: Teoria, Procedimentos e Aplicações” (2007). A partir do que foi exposto, pode-se perceber a importância do professor Luiz Pasquali para a ciência psicológica e para psicometria, sendo o mais influente teórico da área em nosso país. 4.2 A PSICOMETRIA A Psicometria estabelece o percurso metodológico necessário para se obter um instrumento revestido de qualidades métricas válidas para o que se espera. A construção de um instrumento de medida é um grande desafio (PASQUALI, 2003). Para Prieto e Badia (2001), os fundamentos da medição em saúde por questionários são apenas uma herança da metodologia usada na psicologia para a medição de outros fenômenos. Uma vez que a psicologia tem, como objeto de estudo, processos comportamentais e psíquicos, a Psicometria versa sobre a medida desses processos. Assim, como a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial é, essencialmente, um processo comportamental, objetivou-se com essa pesquisa desenvolver um teste para aferir a medida de não adesão ao tratamento nessa enfermidade, justificando o uso da Psicometria nesse trabalho. A Psicometria possui dois ramos advindos de sua evolução histórica, um fundamentado na Teoria Clássica dos Testes, no qual os parâmetros envolvidos são os comportamentos; e a Teoria da Resposta ao Item (TRI) em que, além do comportamento, 44 entram processos definidos como traços latentes. A Psicometria tradicional vai definir a qualidade dos testes psicológicos (estímulos comportamentais, ou seja, variáveis observáveis) em termos de um critério, sendo este representado por comportamentos presentes ou futuros (realidade física). Por outro lado, a TRI define a qualidade dos testes (que são comportamentos ou variáveis observáveis) em função de um critério que não é comportamento, e sim variáveis hipotéticas chamadas de traço latente (PASQUALI; PRIMI, 2003). A criação de um instrumento válido implica rigor metodológico, etapas bem definidas e procedimentos precisos (MARTIN ARRIBAS, 2004). O modelo proposto por Pasquali baseia-se em três grandes polos: procedimentos teóricos, procedimentos empíricos (experimentais) e procedimentos analíticos (estatísticos) (PASQUALI, 1998; 1999; 2003). Esse trabalho foi desenvolvido com base no primeiro, o polo teórico. O polo teórico, na elaboração de instrumentos psicológicos de medida, enfoca a questão da teoria que deve fundamentar qualquer empreendimento científico. No caso, a explicitação da teoria sobre o construto ou objeto psicológico para o qual se quer desenvolver um instrumento de medida, bem como a operacionalização do construto em itens. Esse polo explicita a teoria do traço latente, os tipos, categorias e comportamentos que constituem uma representação adequada do mesmo traço. Os procedimentos teóricos devem ser elaborados para cada instrumento, dependendo da literatura existente sobre o construto que o instrumento pretende medir (PASQUALI, 2003). A Figura 01 ilustra esquematicamente os passos de cada polo para a construção de instrumentos. 45 POLOS TEÓRICO EMPÍRICO ANALÍTICO FASES TEORIA CONSTRUÇÃO VALIDAÇÃO DO INSTRUMENTO NORMATIZAÇÃO MÉTODO Reflexão / Interesse / Livros Índice Literatura / Peritos / Experiência / Análise de Conteúdo Literatura / Experiência / Entrevista Análise Teórica / Semântica Literatura / Experiência / Peritos Seguir Planejame nto Análise Empírica Análise Fatorial Consistência Interna Teoria / Definição de Grupos Critério e Análises Estatística PASSO 1 Sistema Psicológico 2 Propriedade 3 Dimensionalidade 4 Definições 5 Operacionalização 6 Análise dos Ítens 7 Planejamento da Aplicação 8 Aplicação e Coleta 9 Dimensionalidade 10 Análise dos Itens 11 Precisão da Escala 12 Estabelecimento de Normas Atributo Fatores (Dimensões) Constitutiva Operacional Itens Instrumento Piloto Amostra / Instruções / Formato / Sistemática / Tarefa Dados (Matriz F) Fatores: Carga Fatorial Índice de Dificuldade e Discriminaçã o Índice de Precisão Ítem-Fator Normas %,Z PRODUTO Objeto Psicológico Figura 01: Organograma para elaboração de medida psicológica. Fonte: Adaptado de Pasquali, 1998. 46 O conceito de traço latente vem referido ou inferido como variável hipotética, variável fonte, construto, conceito e atitudes. Como as estruturas latentes são atributos impérvios à observação empírica, este precisa ser expresso em comportamentos para ser cientificamente abordado. Postula-se que, ao operar sobre o sistema comportamento, está se operando sobre o traço latente. Assim, a medida que se faz ao nível comportamental é a do traço latente (PASQUALI, 2003). O parâmetro fundamental da medida psicométrica (escalas, testes) é a demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo entre a ordenação nos procedimentos empíricos e a ordenação nos procedimentos teóricos do traço latente (PASQUALI, 1999). Significa mostrar que a operacionalização do atributo latente em comportamentos (itens) de fato corresponde a esse atributo. Esta demonstração é tipicamente tentada pelas análises estatísticas dos itens individualmente e do teste como um todo (PASQUALI, 2007). Este teorizar implica em resolver algumas questões básicas que permitem enveredar para a construção adequada de um instrumento de medida dos construtos, assim elaborados. Especificamente, precisa-se estabelecer a dimensionalidade do construto, defini-lo constitutiva e operacionalmente e, ao final, operacionalizá-lo em tarefas comportamentais (PASQUALI, 1998). Operacionalizado o construto pelos itens, chega-se à hipótese de que estes representam adequadamente o construto (não adesão ao tratamento da HAS). Essa será a versão da hipótese a ser testada. Contudo, é importante avaliar tal hipótese em relação à opinião de outros para assegurar que ela apresenta garantias de validade. Essa avaliação ou 47 análise da hipótese (análise dos itens) é feita por especialistas e comporta dois tipos distintos: primeiro, a análise incide sobre a compreensão dos itens (análise semântica); e segundo, sobre a pertinência dos itens ao construto que representam (propriamente chamada de análise dos juízes) (PASQUALI 1998). A análise semântica tem como objetivo precípuo verificar se todos os itens são compreensíveis para os membros da população à qual o instrumento destina-se. Nela, duas preocupações são relevantes: verificar se os itens são inteligíveis para o estrato mais baixo (de habilidade) da população e, por isso, a amostra para essa análise deve ser feita com esse estrato; segundo, para evitar deselegância na formulação dos itens, a análise semântica deve ser feita também com uma amostra mais sofisticada (de maior habilidade) para garantir a chamada "validade aparente" do teste. A população-meta é a população para a qual o item foi desenvolvido e à qual ele será aplicado para validação e posterior uso (HALFOUN; AGUIAR; MATTOS, 2008). A análise dos especialistas, às vezes, chamada de análise de conteúdo, ou análise de construto, procura verificar a adequação da representação comportamental do(s) atributo(s) latente(s). Nessa análise, aqueles devem ser peritos na área do construto, pois sua tarefa consiste em ajuizar se os itens estão se referindo ou não ao traço latente em questão (BALAN, 2008). A avaliação se faz com base nos critérios para construção de itens desenvolvidos por Pasquali (1998). Os juízes avaliam os itens seguindo os critérios listados no Quadro 01. Tais critérios são fundamentais para elaboração adequada dos itens. 48 Quadro 01: Critérios psicométricos para elaboração de itens. Critérios para a construção dos itens: O item deve expressar um comportamento, não uma abstração ou construto. Critério Deve poder permitir à pessoa uma ação clara e precisa, de sorte que se possa comportamental dizer a ela “vá e faça”. Um item deve expressar uma única ideia. Itens que introduzem explicações Critério da de termos ou oferecem razões ou justificativas são normalmente confusos simplicidade porque introduzem ideias variadas e confundem o respondente. Deve ser inteligível até para o estrato mais baixo da população-meta; utilizar frases curtas, com expressões simples e inequívocas. Frases longas e negativas incorrem facilmente na falta de clareza. O linguajar típico da Critério da população-meta deve ser utilizado na formulação dos itens. Assim, são clareza admissíveis e mais apropriadas expressões conhecidas por tal população, ainda que elas possam parecer linguisticamente menos castiças. A preocupação aqui é a compreensão das frases (que representam tarefas a serem entendidas e, se possível, resolvidas), não sua elegância artística. Pertinência, saturação, unidimensionalidade, correspondência: a expressão (frase) deve ser consistente com o traço (atributo, fator, propriedade Critério da psicológica) definido e com as outras frases que cobrem o mesmo atributo. relevância Isto é, o item não deve insinuar atributo diferente do definido, o item deve expressar o atributo que realmente deseja medir. O item deve possuir uma posição definida no contínuo do atributo e ser Critério da distinto dos demais itens que cobrem o mesmo contínuo. O item deve ser precisão útil na medida do atributo. Formular frases com expressões de reação modal, isto é, não utilizar expressões extremadas, como excelente, miserável, etc. A intensidade da Critério da reação da pessoa é dada na escala de resposta. Se o próprio item já vem modalidade apresentado em forma extremada, a resposta na escala de respostas já está viciada. Critério da Formar frases com expressões condizentes (típicas, próprias, inerentes) com tipicidade o atributo. Critérios referentes ao conjunto dos itens (o instrumento todo) Critério da Este critério afirma que o conjunto dos itens referentes ao mesmo atributo amplitude deve cobrir toda a extensão de magnitude do contínuo desse atributo. Os itens do mesmo contínuo devem cobrir igual ou proporcionalmente todos os segmentos (setores) do contínuo, devendo haver, portanto, itens fáceis, e médios difíceis (para aptidões) ou fracos, moderados e extremos (no caso Critério do das atitudes). De fato, os itens devem distribuir-se sobre o contínuo numa equilíbrio disposição que se assemelha à da curva normal: maior parte dos itens de dificuldade mediana e diminuindo progressivamente em direção às caudas (itens fáceis e itens difíceis em número menor). Fonte: Pasquali (1998). 49 Após a conclusão do polo teórico, têm início os procedimentos empíricos ou experimentais das etapas e técnicas da operacionalização do instrumento piloto e da coleta de dados. Sua função é proceder a avaliação da qualidade psicométrica do instrumento (PASQUALI, 2003). É necessário definir a população e a amostra dos sujeitos do estudo. É importante que a amostra escolhida permita ampla variação de respostas. O tamanho da amostra deve ser estimado de acordo com as exigências das análises estatísticas planejadas (PASQUALI, 2003; 1998). Os procedimentos analíticos ou estatísticos incluem análises estatísticas dos dados coletados para estimar a validade e a confiabilidade do instrumento produzido. A dimensionalidade é definida pela análise empírica dos dados com base na Curva Característica do Item (ICC) (PASQUALI, 2003; 1998). A análise dos itens implica a avaliação de uma série de parâmetros que eles devem possuir e, assim, tornarem-se adequados para o que se propõe medir. Destina-se à verificação da unidimensionalidade, dificuldade, discriminação, vieses, tendensiosidade de resposta, validade e precisão dos itens do questionário (PASQUALI, 2003). A análise dos parâmetros dos itens é realizada sobre os dados coletados de uma amostra de sujeitos, representativa da população para a qual o teste está sendo construído, utilizando-se análise estatística apropriada. A análise fatorial é o método recomendado por Pasquali (1997, 1998) para essa fase. Sua lógica permite identificar quantos construtos comuns são necessários para justificar as intercorrelações dos itens. A carga fatorial de um item no fator mostra que percentual de parentesco ou de covariância existe entre um item e o fator. Esta covariância vai de 0% a 100%. Quanto 50 maior for a covariância, maior é a validade do item, porque maior será sua representatividade do fator, sendo este traço latente e o item sua representação empírica. Esta é a validade do construto e sua função é mostrar se o instrumento de medida avalia o que se propõe avaliar mediante as correlações identificadas (DANCEY, 2006). A fidedignidade ou a confiabilidade dos testes refere-se ao índice de precisão do item em relação ao fator avaliado. A confiabilidade é definida como o grau de consistência interna, ou homogeneidade, apresentado por determinado instrumento, sendo verificada por uma descrição de todos os itens de uma escala que avaliam aspectos de um mesmo atributo ou conceito, e não de diferentes conceitos (PASQUALI, 2003; POLIT; BECK; HUNGLER, 2004). A consistência se pode comprovar pelos diferentes métodos estatísticos. O coeficiente alfa de Cronbach é muito utilizado neste caso. Seus valores oscilam entre 0 e 1. Considera-se que há boa consistência interna quando o valor de alfa é superior a 0,7 (MARTIN ARRIBAS, 2004). A estabilidade do teste (estabilidade temporal) é verificada pelo processo de testereteste, cuja função é avaliar se a medida produz o mesmo resultado em ocasiões diferentes, quando a pessoa que responde é a mesma e está em circunstâncias semelhantes. Representa a reprodutividade do instrumento. Em sua análise, é usualmente utilizado o coeficiente de correlação de Spearman e o de Pearson (PASQUALI, 2007). Após esses passos, é realizada a padronização da técnica para uniformizar os procedimentos para aplicação de um teste válido e preciso, bem como para normatizar a interpretação do teste (PASQUALI, 1998, 1999). 51 A utilização da Psicometria, como aporte teórico nesta pesquisa, viabilizou a construção de um instrumento com acurácia para a avaliação do comportamento de não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Os passos da teoria, hierarquicamente organizados, permitiram sua compreensão e sua utilização. 52 CAPÍTULO V MÉTODO 53 5. MÉTODO Esta pesquisa trata-se de um estudo metodológico, quantitativo, com base nos estudos de Polit, Beck e Hungler (2004), que conceituam a pesquisa metodológica como aquela que investiga, organiza e analisa dados para construir, validar e avaliar instrumentos e técnicas de pesquisa, centrada no desenvolvimento de ferramentas específicas de coleta de dados com vistas a melhorar a confiabilidade e a validade desses instrumentos. Pesquisa metodológica é o estudo que se refere à elaboração de instrumentos de captação ou de manipulação da realidade. Está, portanto, associada a caminhos, formas, maneiras e procedimentos para atingir determinado fim (MORESI, 2003). O desenvolvimento deste estudo para a construção e a validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial fez-se a partir das orientações de Pasquali (1997, 1998, 2003, 2007) que descreve os três polos e suas respectivas fases para a construção de instrumentos de avaliação: Polos teórico, empírico e analítico. Esta pesquisa restringiu-se ao polo teórico. O desenvolvimento deste polo neste estudo foi constituído de três fases: 1) elaboração das dimensões da não adesão ao tratamento da HAS; 2) desenvolvimento do instrumento de avaliação; e 3) validação de conteúdo do instrumento de avaliação, como mostra a Figura 02. 54 POLO TEÓRICO FASES 1ª FASE 3ª FASE 2ª FASE MÉTODO Revisão integrativa da literatura (TEÓRICA) Revisão integrativa da literatura com a Psicometria (CONSTRUÇÃO) Literatura / Reflexão Análise Teórica / Especialistas PASSO 1 Sistema Psicológico 2 Propriedade 3 Dimensionalidade 4 Definições 5 Operacionalização 6 Análise dos Itens Validação de Conteúdo Elucidação das dimensões da não adesão ao tratamento da HAS. 4 dimensões definidas conceitualmente: dimensão pessoa, doença tratamento, serviço de saúde e ambiente. 09 definições constitutivas e 36 definições operacionais elaboradas. 30 itens abrangendo toda dimensionalidade da não adesão ao tratamento da HAS foram construídos. Validação de Conteúdo das Dimensões, Definições Operacionais e dos Itens. PRODUTO Objeto Psicológico: Comportam ento de não adesão ao tratamento HAS. PRODUTO FINAL Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica Figura 02: Organograma metodológico da elaboração do Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. 5.1 PRIMEIRA FASE Nesta fase, foi realizada uma Revisão Integrativa da literatura em busca de elucidar a magnitude do construto da não adesão ao tratamento da HAS. A revisão integrativa da literatura tem como base a análise de material, pela organização e interpretação no atendimento ao objetivo da investigação. Para Polit, Beck e Hungler (2004), as tarefas centrais deste tipo de estudo são resumir e avaliar a evidência para revelar o conhecimento 55 corrente sobre um tópico. A revisão deve apontar as consistências e as contradições na literatura, e oferecer possíveis explicações para as inconsistências. A capacidade de identificar e de localizar documentos sobre um tópico de pesquisa é uma habilidade importante para o desenvolvimento de um estudo de revisão. Desse modo, a sistematização dos passos para a realização do estudo é fundamental para o desenvolvimento de um trabalho de boa qualidade. Para a realização de uma revisão integrativa, é desejável incluir todos os estudos encontrados na busca. A revisão integrativa pode abranger um número infinito de variáveis. Assim, deve-se ter clareza do objetivo da revisão. Entretanto, se o número de pesquisas for muito grande, pode-se fazer uma seleção randomizada, ou a utilização de outros métodos de amostragem (WHITTEMORE, KNAFL, 2005). A proliferação de todos os tipos de pesquisa, durante a última década, tem contribuído para métodos mais sistemáticos e rigorosos. O método de revisão integrativa é uma abordagem que permite a inclusão de metodologias diversificadas (pesquisa experimental e não experimental) e tem o potencial para o desenvolvimento da prática baseada em evidências na enfermagem (WHITTEMORE, KNAFL, 2005). Nesse estudo utilizamos o fluxograma desenvolvido por Mendes, Silveira e Galvão (2008). 56 Figura 03: Fases da Revisão Integrativa da Literatura segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008). A Revisão Integrativa foi realizada a partir do seguinte questionamento: Quais variáveis estão associadas à Não Adesão ao tratamento da HAS? A presente revisão integrativa cumpriu criteriosamente seis etapas: seleção de questão norteadora; definição das características das pesquisas primárias da amostra; seleção, por pares, das pesquisas que compuseram a amostra da revisão; análise dos achados dos artigos incluídos na revisão; interpretação dos resultados e relato da revisão, proporcionando um exame crítico dos achados (WHITTEMORE, KNAFL, 2005). 57 Realizamos uma busca pareada nas bases de dados IBECS, LILACS, MEDLINE, SciELO e PubMed. O período delimitado para a pesquisa dos artigos foi de 2001 a 2010. Foram utilizados os descritores: hypertension, patient compliance, medication adherence e treatment failure, de acordo com a terminologia DeCS, da Biblioteca Virtual em Saúde. Para sistematizar as buscas, foram utilizados os operadores booleanos com o seguinte esquema: Hypertension and patient compliance, nas buscas subsequentes utilizamos esse padrão modificando consecutivamente o último descritor, contemplando todos os descritores. Os critérios de inclusão elencados foram: artigos empíricos; disponíveis na íntegra; em língua portuguesa, inglesa ou espanhola; e que explicitassem variáveis relacionadas à não adesão ao tratamento da HAS. Foram excluídos os artigos de estudo de caso. A seleção dos artigos foi realizada por dois pesquisadores, em buscas distintas nas bases de dados supracitadas, que ocorreram em maio de 2012. A primeira busca se deu a partir dos unitermos hypertension AND patient compliance. Na IBECS surgiram 47 referências, das quais 26 foram selecionadas para análise mais aprofundada. Nesta mesma base, e utilizando os descritores acima, acrescentamos a esses o medication adherence, que fez surgirem cinco estudos que já haviam sido contemplados na busca anterior. Modificando o último descritor para treatment failure, surgiram três referências, também repetidas. Na base LILACS, surgiram 96 na primeira busca (hypertension AND patient compliance), dos quais 55 trabalhos eram potenciais para o estudo, desses, 29 foram selecionados. Nas buscas subsequentes, e acrescentando o medication adherence, surgiram 13 artigos, sendo 12 repetidos e um selecionado. Acrescentando o treatment failure surgiram quatro estudos, todos repetidos nas buscas anteriores. 58 Na SCIELO, surgiram seis artigos na primeira busca, sendo cinco repetidos e um selecionado. Nas buscas subsequentes, acrescentando medication adherence surgiu um artigo repetido, e com treatment failure não foram encontrados artigos. Na PubMed, surgiram 3895 referências. Destas, 508 estavam dentro do período de tempo estabelecido para a pesquisa, sendo selecionados 33 estudos que se adequavam aos critérios de inclusão. Nas buscas subsequentes, e acrescentando o medication adherence, surgiram 628, sendo selecionados nove. Acrescentando o treatment failure, surgiram 273 estudos repetidos nas últimas buscas. No MEDLINE, surgiram 3794 estudos com os descritores hypertension AND patient compliance. Destes, 1091 estavam relacionados à adesão ao tratamento, estando 93 dentro do período estipulado, mas apenas dois foram selecionados e o restante eram estudos repetidos nas buscas anteriores. As buscas resultaram em 101 artigos para análise mais apurada. De posse desses trabalhos, os pesquisadores 1 e 2, em separado, realizaram uma leitura flutuante dos resumos e identificaram os artigos que vinham ao encontro do objetivo da pesquisa e que se adequavam aos critérios de inclusão. Os resumos que não elucidavam as características buscadas, mas que apresentavam indícios de que poderiam se enquadrar nos critérios de inclusão, foram tomados como artigos na íntegra e lidos para consolidação da informação. O pesquisador 1 selecionou 26 artigos da IBECS, 30 da LILACS, um da SCIELO, dois da MEDLINE e 33 da PubMed. O pesquisador 2 selecionou 24 artigos da IBECS, 27 da LILACS, um da SCIELO, 02 da MEDLINE e 22 da PubMed. A figura 04 apresenta este processo de seleção. 59 Estudos identificados nas bases de dados: IBECS: 55 SCIELO: 7 PUBMED: 4796 MEDLINE: 3794 LILACS: 113 IBECS: 26 SCIELO: 01 PUBMED: 42 MEDLINE: 02 LILACS: 30 101 artigos analisados e levados para consenso. Exclusão dos estudos no processo de seleção: IBECS: 29 (6 abordavam outros temas; 3 revisões; 2 guidline; 08 repetidos; 7 outras doenças). SCIELO: 06 repetidos PUBMED: 3862 (3387 fora do período de publicação estipulado; 292 abordavam outros temas; outras doenças; 53 experimentais farmacológicos; 27 revisões; 24 repetidos); MEDLINE: 3792 (2630 abordavam outros temas; 73 outras doenças; 998 fora do período de publicação estipulado; 52 experimentais farmacológicos; 18 estudos duplicados; 16 qualitativos fora do tema; 3 hipertensão gestacional). LILACS: 83 (18 abordavam outros temas; 11 revisões; 8 qualitativos fora do tema; 6 guidline; 4 repetidos; 11 outras doenças; 5 experimentais farmacológicos; 18 fora do período estipulado; 2 hipertensão gestacional. 53 estudos que apresentavam variáveis associadas à Adesão ao Tratamento. 48 estudos incluídos na revisão que continham variáveis associadas a Não Adesão ao Tratamento. Figura 04. Processo de seleção dos estudos nas bases IBECS, SCIELO, PUBMED, MEDLINE e LILACS. Fortaleza, 2012. 60 Após essa seleção, realizou-se o consenso entre os pesquisadores sobre quais artigos iriam compor a revisão integrativa. De posse da pergunta problema e dos critérios de inclusão e exclusão, foram excluídos 53 estudos por explanarem variáveis relacionadas à adesão ao tratamento, ficando 48 artigos que mostravam variáveis associadas à não adesão ao tratamento, e que compuseram a amostra desta pesquisa. Após concluídas as busca dos artigos, foi realizada sua análise, norteada pela pergunta de pesquisa, de forma crítica e detalhada, fazendo comparação com o conhecimento teórico, identificando conclusões e implicações das variáveis relacionadas à não adesão ao tratamento da hipertensão (WHITTEMORE, KNAFL, 2005, MENDES, SILVEIRA, GALVÃO, 2008). Matrizes de dados de exibição foram desenvolvidas para mostrar os dados codificados pela análise crítica realizada. Uma síntese em forma de modelo foi desenvolvida de forma abrangente, retratando o processo de integração (WHITTEMORE, KNAFL, 2005). 61 5.2 SEGUNDA FASE A segunda fase designa a construção do instrumento de medida, a partir da elucidação dos passos da Psicometria. Esta etapa consistiu na elucidação dos conceitos do polo teórico a partir do construto “não adesão ao tratamento da HAS”. Assim, foi delineada a dimensionalidade, suas definições constitutivas, as definições operacionais e a elaboração dos itens do instrumento piloto. A figura 05 apresenta o fluxo de construção dos conceitos psicométricos. A elucidação dos conceitos do polo teórico da Psicometria foi realizada a partir da Revisão Integrativa da literatura desenvolvida na Primeira Fase deste estudo. Para o desenvolvimento dessa fase, foi utilizado um instrumento guia (APÊNDICE A), o qual possui uma estrutura de funil em fluxo de conceitos, passando da elucidação do conceito mais geral (dimensionalidade) até atingir os conceitos específicos e objetivos (itens). Figura 05: Fluxo dos conceitos do polo teórico para a construção de instrumentos de medida. Fortaleza, 2012. A Dimensionalidade diz respeito à estrutura interna e semântica. Pasquali (2003) ressalta que a teoria sobre o construto e/ou dos dados empíricos disponíveis sobre ele, sobretudo dados de pesquisas que utilizaram a análise fatorial na verificação dos dados, 62 deve ser cuidadosamente analisada, pois o que está em jogo é a questão de decidir se o construto é uni ou multifatorial. Trata-se da elucidação, a partir da literatura disponível sobre a não adesão ao tratamento da HAS, a abrangência e os limites desse construto. Após ter clareza da dimensionalidade, é necessário realizar a Definição Constitutiva da não adesão ao tratamento da HAS. Nesse caso, o construto é concebido em termos de conceitos próprios da teoria em que ele se insere. Definição constitutiva é a que tipicamente aparece como definição de termos em dicionários e enciclopédias, os conceitos são ali definidos em termos de outros conceitos, isto é, os conceitos, que são realidades abstratas, são definidos em termos de realidades abstratas (PASQUALI, 1998). As definições constitutivas são importantes no contexto da construção dos instrumentos de medida, porque elas situam o construto, exata e precisamente dentro da teoria desse construto, fornecendo as balizas e os limites que ele possui. Assim, boas definições constitutivas vão permitir, em seguida, avaliar a qualidade do instrumento, que mede o construto em termos de quanto sua extensão semântica é coberta pelo instrumento, surgindo daí instrumentos melhores e piores, à medida que medem mais ou menos da extensão conceitual, extensão essa delimitada pela definição constitutiva desse mesmo construto (PASQUALI, 2003). Após realizar a Definição Constitutiva, foram construídas as Definições Operacionais. A passagem do terreno abstrato para o concreto é precisamente viabilizada pelas definições operacionais do construto. É nessa fase que se fundamenta a validade do instrumento. Baseia-se na legitimidade da representação empírica e comportamental dos traços latentes (PASQUALI, 1998). Uma definição de um construto é operacional quando 63 ele é definido, não mais em termos de outros construtos, mas em termos de operações concretas, isto é, de comportamentos físicos pelos quais o construto se expressa. A definição operacional deve ser o mais abrangente possível do construto (BALAN, 2008). A partir da elucidação das Definições Operacionais, foram desenvolvidos os itens que compõem o instrumento piloto. Este é o passo da construção dos itens, que são a expressão da representação comportamental do construto, a saber: as tarefas (os itens do instrumento) que as pessoas deverão executar para que se possa avaliar a magnitude de presença do construto (PRIETO; BADIA, 2001; MARTIN ARRIBAS, 2004). É importante notar que, no processo de elaboração do instrumento como Pasquali o expõe, os itens não são coletados a esmo ou "chutados, adivinhados, selecionados aleatoriamente", mas são elaborados ou selecionados em função das definições operacionais do construto, exaustivamente analisado em seus fundamentos teóricos e nas evidências empíricas disponíveis. Quanto ao número de itens do instrumento final, os psicometristas sugerem que um construto, para ser bem representado, necessita de cerca de 20 itens. Dentro da técnica de construção de instrumentos baseada na teoria dos traços latentes para se salvarem 20 itens no final de toda a elaboração e validação do instrumento, não é necessário iniciar com mais do que 10% de itens além dos 20 requeridos no instrumento final. Isto porque os itens incluídos no instrumento piloto são itens que possuem validade teórica real, e não simplesmente aparente (PASQUALI, 2003). 64 5.3 TERCEIRA FASE A terceira fase designa o processo de validação de conteúdo do instrumento construído. Para Pasquali (2003) a validação de conteúdo consiste na medida em que os itens do instrumento correspondem ao conteúdo dos traços teoricamente definidos pela teoria psicológica em questão. Validade de conteúdo é o exame sistemático do conteúdo do instrumento com o objetivo de verificar se este realmente constitui uma amostra teórica representativa do comportamento que se deseja mensurar. Neste tipo de validade, os itens do teste têm de representar fielmente seus objetivos, a área do conteúdo deve ser inteiramente descrita e, em consequência, amplamente definida, sendo esta tarefa realizada por um corpo de especialistas no tema em questão (PASQUALI, 2003; ERTHAL, 2003). A análise da validação de conteúdo foi realizada a partir de questionamentos feitos a especialistas, que decidiram sobre a pertinência dos itens ao construto que representam. Na análise dos juízes, estes devem ser peritos na área do construto, pois sua tarefa consiste em decidir se os itens referem-se ou não ao traço latente em questão. 5.3.1 Sujeitos do estudo – os especialistas Para esta fase, realizamos uma busca nos bancos de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, a fim de localizar possíveis especialistas em adesão/não adesão ao tratamento da hipertensão arterial para compor a amostra. No banco de teses e dissertações da CAPES, realizamos uma busca eletrônica com os unitermos “hipertensão” e “cooperação do paciente” e obtivemos uma população de 123 especialistas nesta área do conhecimento. Para o estabelecimento do tamanho da amostra 65 (número de juízes), foram considerados os seguintes critérios estatísticos, baseados em Oliveira (2011): • Proporção mínima de 80% dos especialistas afirmando a pertinência de cada componente avaliado (P); • Diferença de 20% quanto à proporção de especialistas que afirmam como adequada a pertinência de cada componente avaliado, incluindo um intervalo de 70 a 100% na referida proporção (d); • Nível de confiança de 95% (Zα). Desse modo, para definição do tamanho amostral, foi adotada uma fórmula que leva em consideração a proporção final de especialistas em relação a uma determinada variável dicotômica e a diferença máxima aceitável dessa proporção. Assim, o número de especialistas foi determinado pelo cálculo a seguir (JECKEL; ELMORE; KATZ, 2002 citado por OLIVEIRA, 2011): n= Zα² . P . (1-P) = 1,96² . 0,80 . 0,20 = 3,8416 . 0,16 = 0,614656 = 15,4 d² 0,20² 0,04 0,04 A amostra de especialistas necessária para a validação do instrumento foi 16 especialistas. No entanto, conseguimos avaliação de 17, que compuseram a amostra de sujeitos nessa fase do estudo. 5.3.2 Critérios de inclusão e exclusão Como critério para a seleção dos especialistas foi desenvolvida uma adaptação do sistema de pontuação de Fehring (1994), o qual construiu um sistema “The Fehring model” para seleção de enfermeiros peritos para validação de diagnósticos de enfermagem. De acordo com o sistema de pontuação apresentado, os especialistas deveriam obter a 66 pontuação mínima de cinco pontos para serem incluídos como sujeitos. A adaptação foi realizada para a adequação ao objeto do presente estudo. Quadro 02: Adaptação do sistema de pontuação de especialistas do modelo de validação de conteúdo de Fhering. Fortaleza, 2012. Critérios Fehring (1994) Pontos Critérios adaptados Mestre em enfermagem Mestre em enfermagem - dissertação 4 com conteúdo relevante dentro da área clínica 1 Mestre (Critério obrigatório) Mestre com dissertação sobre adesão ao tratamento da HAS Pesquisa (com publicação) na área de diagnósticos Artigo publicado na área de diagnósticos em um periódico de referência Doutorado em diagnóstico Prática clínica de pelo menos um ano de duração na área de enfermagem em clínica médica Certificado em área clínica médica com comprovada prática clínica Pontuação Máxima 2 2 2 1 2 14 Pesquisa na área de HAS Artigo publicado na área de adesão ao tratamento da HAS em periódicos ≥B2 Doutor com tese sobre HAS Prática clínica de pelo menos um ano com pessoas com HAS Certificado de especialização na área de HAS, cardiologia, Saúde da Família/Saúde Pública ou áreas afins. Pontuação Máxima Pontos adaptados 0 2 3 2 4 2 1 14 Desse modo, foi considerado critério de inclusão do especialista, neste estudo, a aquisição de um escore ≥ 5, a partir da pontuação do Quadro 02. O critério de exclusão foi: especialista que nos últimos cinco anos tenha modificado sua linha de pesquisa e não trabalha mais com a temática hipertensão arterial. 5.3.3 Coleta de dados da Terceira Fase Como utilizamos o banco de dados nacional da CAPES para identificação dos especialistas, e estes estavam nas mais diversas cidades e estados, entramos em contato por e-mail solicitando sua participação na pesquisa. Foi encaminhada uma carta convite explicando o objetivo do estudo, a metodologia e a função do especialista nesta pesquisa. 67 Após anuência, encaminhou-se via e-mail os links dos instrumentos de coleta de dados (APÊNDICE B, C, D) e o TCLE (APÊNDICE E). Inicialmente foram desenvolvidos três formulários em formato online, a partir da ferramenta web Google Docs. Esta ferramenta permite a criação de formulários com uma interface vinculada a um arquivo XLS, que gera um banco de dados no Excel à medida que os especialistas respondem aos instrumentos. O primeiro formulário constituiu o instrumento de caracterização dos sujeitos compondo variáveis sócio demográficas e acadêmicas, além das variáveis dos critérios adaptados do modelo Ferhing (APÊNDICE B). O segundo formulário constituiu o instrumento da validação de conteúdo das definições constitutivas das dimensões da não adesão ao tratamento da HAS, das definições operacionais e dos itens (APÊNDICE C). O terceiro instrumento consistiu no instrumento de avaliação dos itens a partir dos critérios da psicometria (APÊNDICE D). A avaliação dos juízes se fez com base nos critérios para construção de itens desenvolvidos por Pasquali (1998) (Quadro 06). Após as análises dos resultados, foi necessária a elaboração de um quarto instrumento contendo as variáveis, entre dimensões, definições constitutivas, definições operacionais e itens que necessitaram de adequações para conseguir validade de conteúdo (APÊNDICE F). Além do questionário, todos os especialistas receberam informações referentes ao estudo e ao instrumento em desenvolvimento, todo o conjunto de definições elaboradas e o modo de responder aos instrumentos (APÊNDICE G). 68 Em síntese, os instrumentos elaborados e enviados para a avaliação da validade de conteúdo, permitiram a avaliação de cada item individualmente, do conjunto de itens de cada área de conteúdo, assim como, de todos os itens do instrumento. Para a avaliação isolada dos itens, julgaram a consistência em relação às definições conceituais; a representatividade/relevância em relação ao domínio de interesse; a relevância para as interpretações clínicas que poderiam ser feitas com base na sua medida; e a clareza e a possibilidade de compreensão da sua redação. Para a avaliação de cada área de conteúdo e do instrumento como um todo, julgou-se se o conjunto de itens era suficiente para representar o conteúdo total. Para fazer essas avaliações, foi utilizada uma escala categórica ordinal de quatro pontos, variando entre um e quatro, sendo as opções de resposta três e quatro consideradas adequadas, de acordo com os quadros 03 e 04. Quadro 03. Critérios de avaliação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens. Fortaleza, 2012. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens NÃO é indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é MUITO POUCO indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é CONSIDERAVELMENTE indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é MUITÍSSIMO indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. 69 A pontuação revertida para cada atributo listado no Quadro 2 foi: Quadro 04. Pontuação sobre os critérios de avaliação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens. Fortaleza, 2012. Pontuação Critério 1 Não é indicativa 2 Muito pouco indicativa 3 Consideravelmente indicativa 4 Muitíssimo indicativa Os especialistas ainda avaliaram os itens do instrumento piloto quanto à adequação aos critérios da Psicometria: comportamental, simplicidade, clareza, relevância, precisão, tipicidade e amplitude (Quadro 01), para cada determinante, atribuindo uma nota, conforme a pontuação exposta no Quadro 05, assinalando uma possibilidade de resposta por vez. Quadro 05. Pontuação para avaliação dos itens quanto aos critérios de Pasquali. Fortaleza, 2012. -1 0 Para critério não atendido, ou seja, operacionalização do construto em item não adequada. Para indecisão quanto à adequação do critério, ou seja, operacionalização do construto em item de algum modo adequada. +1 Para critério atendido, ou seja, operacionalização do construto em item adequada. 70 5.3.4 Análise Após a avaliação dos especialistas, para determinar o nível de concordância entre eles, foi calculado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) para cada um dos itens, para o conjunto de itens de cada área de conteúdo e para o conjunto total de itens do instrumento. Para Alexandre e Coluci (2011), o IVC compreende um método muito utilizado na área da saúde. Mede a proporção ou a porcentagem de especialistas que estão em concordância sobre determinados aspectos do instrumento e de seus itens. Este método emprega uma escala tipo Likert com pontuação de um a quatro de acordo com o quadro 04. O escore do índice é calculado por meio da soma de concordância dos itens que foram marcados por “3” ou “4” pelos especialistas. Os que receberam pontuação “1” ou “2” foram revisados ou eliminados. Dessa forma, o IVC tem sido também definido como a proporção de itens que recebe uma pontuação de 3 ou 4 pelos especialistas. A fórmula utilizada para calcular o IVC de cada item foi: número de respostas “3” ou “4” IVC = ___________________________ número total de respostas Para avaliar o instrumento como um todo, não existe um consenso na literatura. Polit e Beck (2006) recomendam que os pesquisadores devam descrever como realizaram o cálculo. Esses autores apresentam três formas que podem ser utilizadas. Optamos pelo seguinte cálculo: a média dos valores dos itens calculados separadamente, isto é, somam-se todos os IVC calculados separadamente e divide-se pelo número de itens considerados na avaliação. 71 Desse modo, seguiremos as recomendações de Polit, Back, Owen (2007), considerando um painel de, no mínimo, 16 especialistas, para que uma escala seja julgada como tendo validade de conteúdo excelente, deve atingir um IVC entre os ítens (IVCi) de 0,75 ou superior e uma média de ICV da escala (CVIs) de 0,90 ou superior. Considerou-se o seguinte padrão de avaliação: IVCi ≥ 0,78 excelente, IVCi entre 0,60 e 0,71 bom, e IVCi < 0,59 ruim, sendo eliminados do painel de itens. Na ausência de concordância aceitável entre os especialistas para um número suficiente de itens previstos para a versão final do instrumento, a repetição do processo de avaliação pelos especialistas foi realizada, conforme recomendado, até que este nível de concordância fosse alcançado (PASQUALI, 2003; FARIA, 2009). Na segunda avaliação, seguiremos o recomendado por Polit, Back e Owen (2007) para itens que necessitam de pequenas correções. Com base nos primeiros resultados, uma segunda avaliação de conteúdo pode ser conduzida por um pequeno grupo de especialistas (de 3 a 5). Para as autoras, a utilização de um subconjunto dos especialistas da primeira rodada apresenta vantagens distintas, pois as informações, a partir da primeira rodada de avaliação, poderão ser utilizadas para selecionar os melhores especialistas. Eliminando da segunda avaliação aqueles que na primeira deram respostas 4 a todos os itens; ou avaliações consistentemente duras, que eram incongruentes com os da maioria dos outros especialistas; considerando aqueles que deram feedback qualitativo na forma de comentários úteis sobre os itens, indicando tanto a capacidade de conteúdo, quanto um forte compromisso para com o projeto. 72 Após a validação de conteúdo, foi acoplada uma escala tipo Likert ao conjunto de itens. Tratou-se do uso de uma escala de cinco pontos, que determinou mais diretamente a existência de uma ou mais atitudes no grupo de itens considerados, e essa escala, constituída a partir desses itens, mediu o valor mais geral. Teoricamente para Richardson (1999) e Godeardo Baqueiro (1968), em uma escala Likert, os sujeitos marcam cada item em uma das seguintes categorias: SEMPRE (valor numérico 5); QUASE SEMPRE (valor numérico 4); ÀS VEZES (valor numérico 3); QUASE NUNCA (valor numérico 2); NUNCA (valor numérico 1). Os autores pontuam que, para itens negativos, os escores se invertem, uma resposta muito de acordo se codifica como 1 e uma resposta muito em desacordo como 5. Os escores totais para cada indivíduo obtêm-se somando os escores de cada item. Desse modo, como o foco do estudo é a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial e os itens foram redigidos inversamente, ou seja, negativos a escala construída obedeceu à seguinte pontuação: SEMPRE (valor numérico 1); QUASE SEMPRE (valor numérico 2); ÀS VEZES (valor numérico 3); QUASE NUNCA (valor numérico 4); NUNCA (valor numérico 5). Os instrumentos foram tratados e, em seguida, inclusos no programa estatístico IBM - SPSS versão 20.0 através do qual foram obtidos os índices de todas as variáveis. A análise estatística iniciou com listagem das frequências absolutas e relativas de cada variável, média e desvio padrão das variáveis contínuas. Em seguida, foram construídos tabelas e gráficos, apresentando os resultados da análise. 73 Para efetivar a análise das definições constitutivas, definições operacionais e dos itens foram calculados os seus respectivos IVC. Para a análise dos itens e sua adequação aos critérios psicométricos selecionados, calculada a média aritmética de cada critério, por meio da somatória das notas do indicador dividida pelo número de especialistas. Também foi realizado o Teste Binomial considerando um nível de significância de 5% (p>0,05) para estimar a confiabilidade estatística dos IVC. 5.3.5 Aspectos Éticos A presente pesquisa foi encaminhada à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, o qual avaliou a viabilidade de sua realização sendo aprovado sob parecer 11517971-2. Respeitou-se o que rege a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Pesquisa referente a pesquisas com seres humanos (BRASIL, 1996). Esse estudo encontra-se agregado ao projeto de Tese "Adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica: desenvolvimento de um instrumento avaliativo com base na Teoria da Resposta ao Item (TRI)", da Enfermeira Malvina Thais Pacheco Rodrigues, sob a orientação da Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira (ANEXO A). Durante a abordagem dos participantes, realizada via e-mail, foi explicado do que se tratava a pesquisa, seus objetivos, direitos de desistência da participação em qualquer momento e garantia do anonimato. Inicialmente enviou-se uma carta por e-mail, solicitando a participação e nela explicou-se sobre a importância da participação no estudo (APÊNDICE H). Após a anuência do sujeito, foi encaminhado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE E), os instrumentos de coleta de dados (APÊNDICE B, C, D e F) e o instrumento de orientação do especialista (APÊNDICE G). 74 A assinatura do TCLE para o estudo foi realizada por via e-mail ou o termo era encaminhado por correio a partir da solicitação do participante. Ao longo do estudo, respeitaram-se os pressupostos da bioética, contidos em resolução, que são: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. 75 CAPÍTULO VI DIMENSÕES DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS 76 6 DIMENSÕES DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS 6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS SELECIONADOS NA PRIMEIRA FASE DO POLO TEÓRICO Em busca de esclarecer a problemática da Não Adesão ao tratamento da HAS esse capítulo traz o resultado da Revisão Integrativa realizada. Foram analisados 47 artigos que apresentaram diferentes características. O quadro 06 apresenta que a problemática da avaliação da não adesão ao tratamento da HAS, considerando todo o ônus que essa morbidade traz para a sociedade, demanda esforços de especialistas de vários países em busca de estratégias que subsidiem práticas da adesão à terapêutica. Os estudos selecionados foram realizados no âmbito de 16 países. A maioria (22; 45,83%) foi dos Estados Unidos, fato intimamente relacionado com o estilo de vida norte americano, que tem aumentado a prevalência da HAS nesse país, além do incremento racial, pois vários estudos buscam elucidar as variáveis da não adesão em afro americanos, em comparação com pessoas brancas. O segundo país em publicações foi o Brasil, com (7; 14,58%), demonstrando que as pesquisas brasileiras vêm ganhando espaço nas grandes bases de dados. Além disso, notamos nos estudos brasileiros uma preocupação na realização de pesquisas que direcionem políticas públicas para os acometidos pela HAS. O terceiro país foi a Espanha, com (5; 10,41%). Canadá e Chile ficaram com 4,16% (2 artigos cada). Cuba, Suécia, Kuwait, Paquistão, Holanda, Reino Unido, Colômbia, Barbados, Suíça, Tunísia e Gana tiveram apenas um artigo selecionado cada (1; 2,1%). 77 Quadro 06: Panorama dos estudos selecionados, Fortaleza-CE, 2012. Primeiro autor / Ano País Tipo de estudo Sujeitos/Local Orueta (2001) Espanha Observacional analítico 129 hipertensos de um centro de saúde. Andrade (2002) Brasil Epidemiológico 401 hipertensos de Atenção Básica. Wang (2002) EUA Transversal analítico 496 hipertensos de dois planos de saúde. Lukoschek (2003) EUA Grupo focal 42 hipertensos afro americanos. Hospital público. Buabeng (2004) Gana Transversal 128 hipertensos de um ambulatório. Gascón (2004) Espanha Grupo focal 44 hipertensos sem adesão. Não definiu local. Chapman (2005) EUA Coorte retrospectiva 8406 hipertensos de um plano de saúde. Acosta (2005) Cuba Transversal 165 hipertensos de uma policlínica. Johnell (2005) Suécia Inquérito analítico 1288 hipertensos. Através de postal. Gazmararian (2006) EUA Coorte prospectiva 1549 hipertensos >65 anos de 4 clínicas. Gregoire (2006) Canadá Coorte prospectiva 509 hipertensos. Rede de farmácia. Tuesca-Molina (2006) Espanha Transversal analítico 4009 hipertensos > 60 anos. Domiciliar. Schmidt Rio-Valle (2006) Espanha Grupo focal 20 hipertensos em 5 grupos. Centro de saúde. Sicras Mainar (2006) Espanha Observacional analítico 9001 hipertensos em 4centros de Atenção Primária. Mendoza-Parra (2006) Chile Observacional analítico 245 hipertensos >65anos. Um centro de saúde. Morris (2006) EUA Transversal analítico 492 hipertensos de um centro de saúde. Bosworth (2006) EUA Caso-controle 569 hipertensos de um centro de saúde. Li (2006) EUA Transversal analítico 200 chineses residentes nos EUA. Domiciliar. Serour (2007) Kuwait Transversal analítico 334 hipertensos de seis centros de saúde. Hashmi (2007) Paquistão Transversal analítico 460 hipertensos de duas instituições terciárias. Kressin (2007) EUA Transversal analítico 793 hipertensos em instituição terciária. Li (2007) EUA Transversal analítico 200 chineses residentes nos EUA. Domiciliar. Constantine (2008) EUA Grupo focal 12 hipertensos, em duas clínicas. Fongwa (2008) EUA Grupo focal 20 mulheres com hipertesão. Uma clínica. Patel (2008) EUA Coorte prospectiva 4703 hipertensos de um sistema de farmácia. Lachaine (2008) Canadá Coorte retrospectiva 4561 hipertensos de um serviço farmácia. Van Wijk (2008) EUA,CAN,HOL Coorte retrospectiva 9664, EUA; 25377, CAN; 24603, Holanda. Hospital. Krousel-Wood (2008) EUA Transversal 210 hipertensos de um hospital de campanha. Islam (2008) EUA Transversal 2194 hipertensos de um sistema de saúde. Gohar (2008) UK Transversal 196 hipertensos. Em um hospital de ensino. Pires (2008) Brasil Transversal 106 hipertensos. Um centro de saúde pública. Jesus (2008) Brasil Transversal 511 hipertensos. Ambulatório hospitalar. Tilburt (2008) EUA Caso controle 183 afro americanos, PA descontrolada. Hospital. Bosworth (2008) EUA Caso controle 608 hipertensos (negros/brancos), 02 hospitais. Dosse (2009) Brasil Transversal 68 hipertensos com PA elevada. Hospitalar. Shah (2009) EUA Coorte retrospectiva 3240 hipertensos. Clínica multidisciplinar. Reiners (2009) Brasil Qualitativo 15 profissionais; 10 hipertensos. 10 centros de saúde. Schoenthaler (2009) EUA Transversal 439 hipertensos com PA elevada. Atenção Primária. Mendoza-Parra (2009) Chile Transversal 211 hipertensos de um centro de saúde. Herrero (2009) Colômbia Transversal 356 hipertensos de 24 serviços de promoção da saúde. Adams, Carter (2010) Barbados Grupo focal 13 grupos, 10 hipertensos por grupo. Policlínica. Lewis (2010) EUA Grupo focal 40 hipertensos, 03 grupos. Em Clínica. Santa-Helena (2010) Brasil Transversal analítico 667 hipertensos de 10 unidades da ESF. Santa-Helena (2010) Brasil Transversal analítico 595 hipertensos em 10 unidades da ESF. Martin (2010) EUA Intervencional 434 hipertensos de baixa renda. Telefone. Hsu (2010) EUA Survey 94 idosos imigrantes chineses. Saguner (2010) Suíça Coorte prospectiva 89 hipertensos. Em ambulatório hospitalar. Ghozzi (2010) Tunísia Epidemiológico 273 hipertensos em clínicas públicas e privadas. 78 Quanto ao ano de publicação, 20,83% eram do período de 2001 a 2005 e 79,16% de 2006 a 2010. Entre os cenários de coleta de dados, 29,16% foram realizados na atenção básica; seguido por 20,83% na atenção secundária e 20,83% na atenção terciária, outros estudos foram realizados por e-mail/telefone/postais com 8,33%; e por meio do sistema farmacêutico com 6,25%; de cadastros de plano de saúde, com 4,16%, de hospital de campanha, com 2,08% e um relatou que utilizou um local discreto, fora da universidade e fora do hospital. Quanto ao delineamento dos estudos, há aprofundamento no tema estudado, pois as pesquisas mostram desenhos observacionais e analíticos procurando conhecer o território da não adesão ao tratamento da HAS e correlacioná-lo com algumas variáveis, em busca de subsídios que minimizem o problema. Desse modo, 25% foram estudos transversais analíticos; 22,91%, transversais; 16,6% de coorte; 14,58% qualitativos; 6,25% observacionais analíticos; 4,16% de caso-controle; 4,16% epidemiológico; 2,08% de survey e 2,08% de pesquisa intervencional. Os sujeitos envolvidos nas pesquisas foram, na maioria (66,66%), adultos e idosos com hipertensão e buscou correlacionar a não adesão a características gerais dos indivíduos acometidos. Cerca de 8,33% investigaram em idosos, observando variáveis específicas da senilidade com a não adesão. As questões de raça, sexo, renda e cultura também foram critérios de seleção de amostra. Foram quatro estudos relacionados à raça (afro americanos e negros), três com imigrantes chineses, um estudo somente com mulheres e outro com pessoas de baixa renda. 79 A análise dos 48 artigos selecionados trouxe um grande número de variáveis relacionadas à Não Adesão, as quais foram classificadas em quatro dimensões: Pessoa; Doença/Tratamento; Serviço de Saúde e Ambiente. 6.1.1 Dimensão Pessoa A dimensão Pessoa foi assim nomeada por o termo denotar o ser humano em seus aspectos biológico, espiritual e social. Encontra-se dividida em cinco subdimensões interdependentes: biológico, psicológico/cognitivo, comportamental, familiar e sócio econômico. Na subdimensão biológica elencamos as variáveis relacionadas ao organismo que não são passíveis de modificações. No psicológico/cognitivo encontram-se aquelas relacionadas à psique e à capacidade de compreensão dos indivíduos. No comportamental, elencamos as variáveis relacionadas à ação, ou seja, atos do ser humano danosos à adesão ao tratamento da HAS. No familiar estão dispostas as variáveis relacionadas ao convívio na micropolítica desse grupo. No sócio econômico estão as relacionadas ao status social da pessoa e sua influência para a não adesão. O Quadro 07 mostra as variáveis de cada subdimensão. 80 Orueta et al 2001 Richard et al 2005 Mendoza-Parra et al 2006 Morris et al 2006 Hashmi et al 2007 Gohar et al 2008 Pires; Mussi, 2008 Fongwa et al 2008 Jesus et al 2008 Krousel-Wood et al 2008 Cingil; Delen; Aksuoğlu, 2009 Dosse et al 2009 Mendoza-Parra; Merino; Barriga 2009 Kressin et al 2007 Hsu; Mao; Wey et al 2010 Li; Froelicher, 2007 Familiar Andrade et al 2002 Acosta et al 2005 Schmidt et al 2006 Li et al 2006 Kressin et al 2007 Serour et al 2007 Bosworth et al, 2008 Constantine et al 2008 Li et al 2006 Serour et al 2007 Jesus et al 2008 Dosse et al 2009 Reiners, Nogueira 2009 Herrero, Badiel, Zapata 2009 Schoenthaler et al 2009 Shah et al 2009 Santa-Helena; Nemes; Eluf Neto 2010 Serour et al 2007 Krousel-Wood et al Fongwa et al 2008 2008 Jesus et al 2008 Pires, Mussi 2008 Sócio econômico Comportamental Psicológico/Cognitivo Biológico Quadro 07: Variáveis de não adesão da dimensão Pessoa conforme as referências. Fortaleza, 2012. Autores Variáveis Orueta et al 2001 Andrade et al 2002 Johnell et al 2005 Bosworth et al 2006 Hashmi et al 2007 Serour et al 2007 Fongwa et al 2008 Jesus et al 2008 Krousel-Wood et al 2008 Pires, Mussi 2008 Tilburt et al 2008 Van Wijk et al 2008 Shah et al 2009 Adams et al 2010 Lewis eta al 2010 Ter idade < ou = 49 anos; Idosos que não têm apoio para os cuidados de si; Sexo (masculino ou feminino dependendo da região onde o estudo foi realizado); Negros (EUA). Fator emocional; estado de ânimo; Descrença em ter a doença e falta de motivação para seguir as recomendações terapêuticas; O estresse como barreira para o exercício físico; Esquece de usar a medicação e de ir às consultas; Estar preocupado com a hipertensão; Baixa autonomia; Conflito entre a informação de saúde e o estilo de vida. Alcoolismo, consumo de fast food; Utilização de práticas alternativas de saúde; Falta e chega atrasado à consulta, e nunca ou raramente segue as orientações; Barreiras culturais que dificultam o entendimento do diagnóstico e prescrição. Cuidar dos filhos e netos; Dificuldade em seguir uma dieta diferente da família; Encontros sociais com famílias extensas; Homens não casados; Não compareceram à consulta por razões familiares. Problemas financeiros; Alta frequência de eventos sociais; Baixa participação social durante as últimas duas semanas; Ter empregadas domésticas tornou-os menos ativos; Baixa escolaridade; Não compareceram à consulta para evitar a falta no trabalho. 81 As variáveis relacionadas ao biológico foram a idade, o sexo e a raça. Quanto à idade, Orueta et al., (2001) em um estudo com 129 hipertensos espanhóis encontrou correlação entre homens com idade inferior a 50 anos e não adesão ao tratamento da hipertensão. Esse resultado corrobora com o estudo de Krousel-Wood et al (2008) realizado nos EUA. Alguns estudos também mostraram correlação estatística entre jovens e não adesão (HASHMI et al. 2007; SCHOENTHALER et al. 2009; PIRES; MUSSI, 2008). Outros correlacionam à idade avançada quando o idoso não possui uma rede de cuidados domiciliares que o auxiliem no autocuidado (VAN WIJK et al. 2008; MENDOZA-PARRA, et al. 2006). No estudo de Santa-Helena, Nemes e Eluf Neto (2010) realizado no Brasil com 667 hipertensos, a faixa etária maior que 50 anos mostrou correlação com não adesão (p=0,01). Quanto ao sexo, alguns estudos mostram que o feminino encontra-se associado à não adesão, como o de Richard et al., (2005), com uma coorte de 8.406 hipertensos dos EUA. Gohar et al. (2008) no Reino Unido, Mendoza-Parra et al. (2006) no Chile e Herrero, Badiel e Zapata (2009) na Colômbia corroboram com esse resultado. No entanto, Van Wijk et al. (2008), ao realizar uma coorte em três países (EUA, Canadá e Holanda) encontraram associação estatisticamente significante com o sexo masculino nos três países (p<0,001; p<0,001; p=0,025). Orueta et al. (2001) encontraram resultado semelhante. Quanto à raça, Bosworth et al. (2006), Morris et al. (2006), Bosworth et al. (2008), Van Wijk et al. (2008) e Martin et al. (2010) encontraram associação entre não adesão e negros nos EUA. Os estudos que explicam a compreensão das disparidades raciais no controle da pressão arterial são importantes, dado o declínio das mortes por doenças cardiovasculares nos Estados Unidos, que não têm sido uniformemente distribuídas entre os 82 grupos raciais, e metade da disparidade de mortalidade entre afro americanos e brancos, diretamente atribuíveis à hipertensão (BOSWORTH et al. 2006; BOSWORTH et al. 2008). As variáveis relacionadas ao Psicológico/Cognitivo foram o fator emocional, as crenças, a falta de motivação, e o esquecimento. Um estudo realizado no Brasil com hipertensos em descontrole pressórico mostrou associação entre o fator emocional e a não adesão (p=0,006) (DOSSE et al., 2009). Ainda no âmbito da emoção, Andrade et al., (2002) encontraram o sentimento medo, principalmente relacionado ao medo de misturar os medicamentos anti-hipertensivos com álcool (p=0,71) como fator para não adesão. A crença apresentou-se como variável para a não adesão em quatro estudos. Schmidt Rio-Valle, et al. (2006), em um estudo com grupo focal na Espanha, encontraram a crença em sentir-se bem como motivador para a não adesão. Outros estudos mostram resultados semelhantes. Constantine et al. (2008) encontraram a crença de não precisar adotar mudança no estilo de vida; e para Fongwa et al. (2008), a descrença que se tem em seguir as recomendações associado à descrença em ter a doença. Acosta et al. (2005) encontraram nos sujeitos pesquisados a não incorporação de crenças em saúde, que modifiquem seus estilos de vida. Li et al. (2006) encontraram em imigrantes chineses nos EUA a percepção de menor susceptibilidade para adquirir a doença [OR = 3,77 (95% CI 1,19, 12,01)]; maior benefício do uso de ervas chinesas [OR = 2,21 (95% CI 1,02, 4,81)]; menor percepção do benefício de medicamentos ocidentais para a hipertensão em orientais [OR = 2,78 (95% CI 1,13, 6,84)]. Em relação à falta de motivação, três estudos apontam-na como causa de não adesão à medidas higiênico-dietéticas (ANDRADE et al 2002; SEROUR et al 2007 DOSSE, 2009). Quanto ao esquecimento, este está intimamente relacionado à tomada de medicamentos e 83 ocorreu em quatro estudos (ANDRADE et al., 2002; JESUS et al., 2008; SCHMIDT RIOVALLE et al., 2006; ACOSTA et al., 2005). As variáveis associadas ao comportamento são aquelas relacionadas aos hábitos não saudáveis de vida, como o alcoolismo e alta frequência de consumo de fast food. Hábitos como seguir o tratamento por conta própria, como a decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas quando os sintomas aparecem, a modificação dos horários das tomadas dos medicamentos, a utilização de práticas alternativas em detrimento da realização do tratamento acordado com os profissionais de saúde. Outro aspecto foi a configuração da vida moderna que propicia às pessoas estarem sempre ocupadas negligenciando o cuidado à saúde (LI; FROELICHER, 2007; SEROUR et al., 2007; JESUS et al. , 2008; DOSSE et al., 2009; REINERS, NOGUEIRA , 2009). Além disso, Li et al., (2006) Li e Froelicher, (2007) e Hsu, Mao e Wey (2010) em estudos com imigrantes chineses nos EUA mostraram que as barreiras culturais impedem o entendimento do diagnóstico e a prescrição dos medicamentos, contribuindo para a não adesão. Nas variáveis relacionadas à família foram evidenciados no estudo de Fongwa et al. (2008) que os efeitos negativos das interações dos membros da família agem sobre a pressão arterial. Cuidar dos filhos e netos foi visto como estressor e contribui para uma pressão não controlada entre mulheres afro americanas. Outro estudo esclarece que a dificuldade em seguir um regime de dieta diferente do resto da família é um ponto crucial para a adoção de medidas dietéticas. Outro fator é o grande número de encontros sociais entre famílias, que promovem alimentação coletiva em abundância (SEROUR et al. 2007; JESUS et al. 2008). 84 Por outro lado, a composição familiar também age sobre a não adesão ao tratamento. Mulheres ou homens sem companheiro apresentam mais chance de não aderirem ao tratamento, assim como aqueles que vivem sozinhos (ORUETA et al 2001; KROUSELWOOD et al , 2008; PIRES e MUSSI, 2008). Das variáveis relacionadas aos fatores socioeconômicos, as mais prevalentes são aquelas associadas à renda e à compra de medicamentos. Quanto ao financeiro, àqueles que possuem uma renda familiar baixa apresentam associação com a não adesão, principalmente quando relacionado à compra de medicamentos (FONGWA et al. 2008; HASHMI et al. 2007; ANDRADE et al. 2002; PIRES; MUSSI 2008; TILBURT et al. 2008; LEWIS et al. 2010). Entretanto, um estudo realizado no Canadá e na Holanda encontrou a não adesão associada àqueles que possuem renda familiar média/alta associada à não adesão (VAN WIJK et al., 2008). Um ponto associado à renda é ter poder aquisitivo para contratar empregadas domésticas. Serour et al. (2007), em pesquisa realizada no Kuwait, encontrou que pessoas hipertensas com empregadas domésticas em casa não aderiam à atividade física e concluíram que a contratação das empregadas domésticas tornou-os menos ativos. Uma variável que surgiu na revisão integrativa foi a baixa participação social durante as últimas duas semanas. Tal fato associa-se a estados psicológicos afetados e indicativos de depressão. Desse modo, o autocuidado estará afetado, favorecendo a não adesão ao tratamento (JOHNELL et al., 2005). Outro fator que a literatura mostrou foi o não comparecimento às consultas para evitar a falta no trabalho (JESUS et al., 2008; ADAMS et al., 2010). A escolaridade foi outra variável associada à não adesão. Hashmi et al. (2007) e Bosworth et al, (2006) encontraram que analfabetos ou pessoas com menor nível de 85 escolaridade não eram aderentes, e Krousel-Wood et al., (2008) encontraram que pessoas que tinham menos que o ensino médio eram mais prováveis de ser não aderentes. 6.1.2 Dimensão Doença/Tratamento A dimensão Doença/Tratamento foi assim nomeada por entendermos que há uma relação de interdependência entre esses estados, o que impediria classificarmos como duas dimensões distintas. As variáveis relacionadas à dimensão Doença/Tratamento encontram-se divididas em quatro fatores: fatores relacionados à própria hipertensão, relacionados ao tratamento medicamentoso, relacionados ao acometimento do estado mental e à presença de comorbidades. O Quadro 08 apresenta as variáveis dessa dimensão. 86 Quadro 08: Variáveis de não adesão da dimensão Doença/Tratamento conforme as referências. Fortaleza, 2012. Hipertensão arterial Bosworth et al, 2008 Ghozzi et al, 2010 Saguner et al, 2010 Santa-Helena; Nemes; Eluf Neto, 2010 Antecedentes de não adesão; Níveis pressóricos descontrolados; Níveis pressóricos controlados*; Maior tempo do diagnóstico; Maior tempo do tratamento; Ausência de sintomas da HAS; Andrade et al, 2002 Richard et al, 2005 Gregoire et al, 2006 Mendoza-Parra et al, 2006 Schmidt Rio-Valle et al, 2006 Bosworth et al, 2008 Fongwa et al, 2008Tilburt et al, 2008 Lachaine et al, 2008 Patel et al, 2008 Van Wijk et al, 2008 Ghozzi et al, 2010 Hsu; Mao; Wey, 2010 Excessivo número de drogas; Efeitos colaterais dos medicamentos; Um período de dois anos com diuréticos; Temor da interação medicamentosa; Ter 2 a 3 meses de intervalo do inicio de uma droga para outra; Uso de inibidores da ECA comparando com o bloqueador do receptor da angiotensina II. Wang et al, 2002 Schmidt Rio-Valle et al, 2006 Morris et al, 2006 Fongwa et al, 2008 Van Wijk et al, 2008 Bosworth et al, 2008 Schoenthaler et al, 2009 Nível de depressão elevado; Mendoza-Parra; Altos níveis de stress; Merino; Barriga, 2009 Deterioração do estado mental; Martin et al, 2010 Santa-Helena; Nemes; Eluf Neto, 2010 Tuesca-Molina et al, 2006 Gregoire et al, 2006 Sicras Mainar et al, 2006 Hospitalização prévia; Serour et al, 2007 Ter dois ou mais fatores de risco Van Wijk et al, 2008 cardiovascular; Constantine et al, 2008 Coexistência de doenças (osteoartrite, doenças Dosse et al, 2009 músculo-esqueléticas, asma, fibrilação atrial, hipercolesterolemia e diabetes). Comorbidades Orueta et al, 2001 Andrade et al, 2002* Lukoschek, 2003 Herrero, Badiel, Zapata, 2009 Tilburt et al, 2008 Tratamento medicamentoso Variáveis Saúde mental Autores Quanto às variáveis relacionadas ao uso de medicamentos, os efeitos colaterais são os que mais contribuem para a não adesão à terapêutica (ANDRADE et AL, 2002; MENDOZA-PARRA et al. 2009; SCHMIDT RIO-VALLE et al. 2006; FONGWA et al. 2008; BOSWORTH et al. 2008; LACHAINE et al. 2008; TILBURT et al. 2008). O regime medicamentoso quanto ao número de pílulas diárias ingeridas também influencia negativamente a adesão. Patel et al. (2008) e Ghozzi et al. (2010) encontraram que pessoas com HAS com um regime de duas pílulas ou mais apresentaram mais chances de 87 interromper a terapêutica. Van Wijk et al. (2008) encontraram tolerância maior, quanto ao número de medicamentos, com associação à não adesão a prescrição de mais de duas pílulas por dia. As classes de anti-hipertensivos também influenciam a não adesão. Gregoire et al. (2006), em uma coorte prospectiva no Canadá, encontraram que o abandono foi significativamente associado com o uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina (OR ajustada [AOR] 3,0 IC 95% 1,17-7,92) em comparação com o bloqueador do receptor da angiotensina II e losartana. Lachaine et al. (2008) em coorte retrospectiva, também no Canadá, encontraram que aqueles com período de dois anos com diuréticos são mais propensos à não adesão. Por outro lado, a modificação das classes medicamentosas no tratamento da HAS também apresenta ônus para adesão. Richard et al. (2005) em uma coorte retrospectiva nos EUA, encontraram que um intervalo de 2 a 3 meses do início da utilização de uma droga para a instituição de outro medicamento associa-se à não adesão. Em relação à presença de comorbidades, ter HAS e outras doenças constitui fator para a não adesão. Tal fato associa-se tanto às incapacidades adquiridas quanto à demanda de cuidados requeridos, além do aumento do número de medicamentos a serem administrados (TUESCA-MOLINA et al., 2006; SCHMIDT RIO-VALLE et al., 2006; SEROUR et al., 2007; VAN WIJK et al., 2008; CONSTANTINE et al., 2008; DOSSE et al., 2009). Em relação ao acometimento do estado mental, a presença da depressão foi a mais relatada na literatura como associada à não adesão (WANG et al., 2002; MORRIS et al., 2006; FONGWA et al., 2008; VAN WIJK et al., 2008; SCHOENTHALER et al., 2009; MARTIN et al., 2010c) . Além disso, o Parkinson, a deterioração do estado mental e alto 88 nível de estresse também se mostraram associados à não adesão ao tratamento (VAN WIJK et al., 2008; MENDOZA-PARRA, MERINO e BARRIGA, 2009; BOSWORTH et al., 2008; SANTA-HELENA, NEMES e ELUF NETO 2010b). Os níveis pressóricos apresentam-se como variáveis relacionadas à não adesão. Herrero, Badiel e Zapata (2009); Santa-Helena, Nemes e Eluf Neto (2010a); Martin et al. (2010c) e Ghozzi et al., (2010) encontraram níveis pressóricos elevados associados à não adesão. O desenvolvimento de crises hipertensivas foi acompanhado em uma coorte na Suíça e encontrou forte associação com a não adesão ao tratamento (SAGUNER et al., 2010). No entanto, Andrade et al. (2002) encontraram a normalização da PA associada à não adesão e Sicras Mainar et al. (2006) encontraram associação da não adesão com o menor fator de risco cardiovascular. Tal fato pode estar relacionado ao errôneo conhecimento do curso da doença crônica, o que faz os doentes com HAS pela assintomaticidade nosológica, seu sintoma e abandonarem o tratamento (SCHMIDT RIOVALLE et al., 2006). Tal contexto leva à utilização de terapias complementares alternativas em detrimento da terapia institucionalizada (GOHAR et al., 2008; Li e FROELICHER, 2007; HSU, MAO e WEY, 2010). Em um estudo com grupo focal, Lukoschek (2003) encontrou a descrença no diagnóstico de hipertensão arterial devido à ausência de sintomas. Os participantes consideraram sinais da doença necessários, tais como hemorragia nasal, ou sintomas, como dor de cabeça ou sensação de mal estar. Sinais e sintomas foram interpretados como necessários à compreensão de se ter a doença. Assim, a partir do aparecimento dos sintomas, a pessoa com hipertensão passava a seguir as recomendações terapêuticas. 89 6.1.3 A dimensão Serviço de Saúde A dimensão Serviço de Saúde (Quadro 09) engloba as variáveis advindas do microespaço das unidades de saúde, as quais possuem uma estrutura expressa primariamente pelas ações das pessoas, realizadas de maneira regular e institucionalizada, advindas de uma hegemonia que molda as práticas de saúde entre profissionais e usuários (BORGES, 2008). Quadro 09: Variáveis da não adesão da dimensão Serviço de Saúde, conforme as referências. Fortaleza, 2012. Educação em saúde Acosta et al 2005 Gazmararian et al 2006 Bosworth et al 2008 Educação insuficiente sobre o controle da doença. Relacionamento Variáveis Fongwa et al 2008 Schoenthaler et al 2009 Adams et al 2010 Hsu; Mao; Wey 2010 Lewis et al 2010 Martin et al 2010 Barreira na comunicação médico-paciente; Abordagem de equipe descoordenada; O profissional não passa confiança; Sentir que as consultas foram estressantes. Gestão Autores Adams et al 2010 Tuesca-Molina et al 2006 Visita domiciliar com lapso de 2-6 meses; Falta de acesso a exames, material clínico e medicamentos; Falta de recursos humanos em policlínicas. Na presente revisão, as variáveis relacionadas ao Serviço de Saúde que se encontram associadas à não adesão foram a prática de educação em saúde deficiente; barreira na comunicação médico-paciente; falta de infra estrutura e operacionalização da equipe de saúde. Acosta et al., (2005), Gazmararian et al., (2006), e Bosworth et al., (2008) encontraram uma educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS. As atividades de educação em saúde são importantes para o conhecimento das características da doença e para a orientação da adoção de novo estilo de vida. 90 A barreira na comunicação profissional-paciente foi encontrada em três estudos (FONGWA et AL., 2008; SCHOENTHALER et AL., 2009; HSU, MAO e WEY, 2010). Caprara e Rodrigues (2004) afirmam estarem na relação entre profissional de saúde e usuário os efeitos positivos ou negativos sobre a qualidade dos serviços e a saúde dos usuários. Borges (2008), em estudo realizado com enfermeiros e pacientes com hipertensão, encontrou a assimetria na comunicação verbal e não verbais como indicadores que impedem o bom seguimento terapêutico. Esta relação exerce influência direta sobre o estado de saúde dos pacientes, como também sobre a qualidade dos serviços de saúde. Martin et al., (2010) relatam que a relação profissional de saúde-usuário desempenha papel importante no comportamento de tomada do medicamento. Pessoas com hipertensão sem adesão relataram que as consultas foram estressantes e que os profissionais de saúde estavam fazendo perguntas desconfortáveis. Lewis et al. (2010) corroboram com esse achado, pois em seu estudo uma das categorias emergentes foi a desconfiança dos profissionais de saúde em relação às ações de autocuidado dos pacientes, contribuindo para a não adesão. Martin et al. (2010) sugerem estes resultados como catalisador para pesquisas futuras sobre o exemplo, quais fatores geram desconforto durante perguntas ao sujeito com hipertensão? Para os profissionais, a resposta a esta questão pode incluir não saber que perguntas fazer; Para o usuário, o desconforto pode ser oriundo da presença de figuras de autoridade. A qualidade dos Serviços de Saúde e sua infraestrutura influenciam fortemente na adesão ao tratamento da HAS. Adams et al. (2010) encontraram que a falta de acesso a exames laboratoriais, ao material clínico, aos medicamentos, aos recursos humanos em policlínicas e a abordagem de equipe descoordenada contribuem para a não adesão. 91 Somando-se a esse panorama, Tuesca-Molina et al. (2006) relataram que uma operacionalização descoordenada quanto às visitas domiciliárias associa-se à não adesão, principalmente àquelas com lapsos entre dois e seis meses. 6.1.4 Dimensão Ambiente Nessa dimensão, elencaram-se as variáveis relacionadas ao macroespaço, que não se encaixavam nas outras dimensões pelo seu poder de generalização e de integração das outras dimensões. Tratou-se da grande estrutura necessária para suporte das três dimensões anteriores. No Quadro 05, apresentam-se as variáveis relacionadas a essas dimensões. Moradia Johnell et al 2005 Li et al 2006 Li; Froelicher 2007 Krousel-Wood et al 2008 Jesus et al 2008 Fongwa et al 2008 Lewis et al 2010 Município de residência; Chineses com maior tempo de permanência nos EUA; Bairro violento; Falta de um local conveniente para a atividade física. Clima Quadro 10: Variáveis da não adesão da dimensão Ambiente conforme referências. Fortaleza, 2012. Autores Variáveis Serour et al 2007 Islam et al 2008 Krousel-Wood et al 2008 Mendoza-Parra; Merino; Barriga 2009 O clima quente do verão interferindo em suas atividades diárias; Áreas altamente afetadas pela destruição do furacão Katrina. Passando a discutir as variáveis relacionadas ao ambiente, essas perpassam o micro ambiente dos Serviços de Saúde e atingem a grande estrutura da sociedade. Da insatisfação com o ambiente da unidade de saúde (MENDOZA-PARRA, MERINO e BARRIGA 2009) à falta de um local conveniente para a atividade física (FONGWA et al., 2008), ou até mesmo à intensidade do clima quente do verão, que interfere nas atividades físicas diárias das 92 pessoas com HAS do Kweit (SEROUR et al., 2007). Lewis et al. (2010) acrescentam, ainda, a violência no bairro de residência dos pacientes com hipertensão como potencializador de não adesão, pois atrapalha a adoção de atividades físicas e aumenta o estresse. Encontrou-se, em dois estudos, a barreira da distância entre as cidades em que as pessoas com HAS moravam e trabalhavam como variável de não adesão (JESUS et al., 2008; JOHNELL et al., 2005). Dois estudos investigaram a não adesão em imigrantes chineses radicados nos EUA e encontraram associação da não adesão com maior tempo de permanência no país estrangeiro. A permanência em um ambiente com diferentes hábitos culturais impede a aquisição de um cuidado diferente do original, apreendido culturalmente. Os autores discutiram que esse achado poderia estar relacionado à idade com que os imigrantes foram para os EUA, pois quanto mais avançada for a idade, mais difícil a adaptação ao novo ambiente (LI et al, 2006; LI e FROELICHER, 2007). Dois estudos mostraram a associação entre desastres naturais e não adesão ao tratamento da HAS. Krousel-Wood et al. (2008) e Islam et al. (2008) realizaram estudos em Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina e encontraram um panorama de destruição no serviço de saúde e, principalmente, nos serviços de distribuição de medicamentos que impediram a adesão ao tratamento. 6.2 INTEGRALIZANDO OS RESULTADOS A partir da análise das variáveis, elaborou-se um diagrama que busca, sinteticamente, relacionar as dimensões de forma pragmática. Para McEwen e Wills (2009), criando-se um modelo dos conceitos e relacionamentos é possível traçar-se o efeito de determinadas variáveis sobre o desfecho, ao invés de serem feitas asserções de que toda variável está 93 relacionada com todas as outras. Além disso, o modelo descreve um processo que inicia em algum lugar e termina em um ponto lógico. Figura 06: Diagrama relacional da Não Adesão ao tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. Relações Externas AMBIENTE Cultura SERVIÇO DE SAÚDE DOENÇA Profissionais Estrutura Insumos Comportamental Biológico PESSOA Familiar Referência Contrareferência Sócio Psicológico/ econômico Cognitivo TRATAMENTO Micropolítica Macropolítica O diagrama representa o sujeito com HAS, os círculos brancos indicam a intercomunicação das dimensões. A partir desse esquema teórico, suscitamos os seguintes pressupostos: I - A Pessoa é um todo complexo, formada pelas porções biológica, psicológica/cognitiva, comportamental, familiar e sócio econômica, inter-relacionadas com o meio onde cada subdimensão poderá expressar-se dialeticamente com a Não Adesão ao tratamento da hipertensão arterial. 94 II - A Pessoa em desordenamento das subdimensões pode adquirir doenças, comorbidades junto da HAS, as quais necessitarão de tratamento. A carga de doenças e a complexidade do tratamento demandarão esforços para o reequilíbrio orgânico. Tal demanda poderá implicar em não adesão, dependendo da rede de apoio em que o indivíduo está inserido. III - As dimensões Pessoa e Doença/Tratamento encontram-se na dimensão Serviço de Saúde. Só pode haver não adesão dos inseridos no sistema de saúde formal. IV - O Serviço de Saúde é uma estrutura que abriga pessoas (profissionais e usuários). Sua micropolítica agirá sobre os profissionais que, por sua vez, se interrelacionarão com os sujeitos hipertensos, e, dependendo da postura adotada, poderá contribuir para a não adesão ao tratamento da HAS. V - Ultrapassando os limites da micro e macropolítica, situa-se a dimensão ambiente, que externamente agirá sobre as outras dimensões de modo estrutural, pelas forças da natureza. A cultura também se encontra nessa grande dimensão, pois transversaliza todo o agir humano em seu ambiente individual ou coletivo nos serviços de saúde. Desse modo, vislumbrando a complexidade de que se trata a não adesão ao tratamento da HAS e os cinco pressupostos formulados, utilizar-se-á como conceito norteador o de Oliveira (2011, p.107) que define a não adesão ao tratamento como: “Comportamento intencional ou não intencional do indivíduo que não coincide parcial ou totalmente com um plano de promoção da saúde ou terapêutico e com as recomendações tomadas por meio de decisões partilhadas e acordadas entre profissional de saúde/equipe de saúde multidisciplinar e o indivíduo, família e/ou comunidade, incluindo dificuldade com tratamento medicamentoso, não medicamentoso e não comparecimento às atividades nos serviços de saúde (consultas, atendimentos grupais), que pode levar a resultados clinicamente não efetivos ou parcialmente efetivos”. 95 É fundamental salientar que os estudos que compõem esta revisão apresentaram diferentes desenhos metodológicos e foram realizadas em diversas realidades econômicas e culturais. Além disso, alguns estudos são realizados com indivíduos recém-diagnosticados, enquanto outros com usuários que já convivem com sua condição de hipertenso há algum tempo. Tudo isto traça um perfil bastante abrangente dos fatores que interferem na adesão. Comprova-se a interveniência multidimensional no tocante à não adesão ao tratamento da HAS por meio desta revisão integrativa. O grande número de variáveis listadas mostra a complexidade dessa temática e o desafio para as equipes de saúde. Esta revisão contribui para a eficácia na abordagem aos hipertensos que não aderem ao tratamento, além de servir como fonte para a construção de indicadores de saúde para sua monitorização. 96 CAPÍTULO VII Desenvolvimento dos Itens do Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial 97 7 DESENVOLVIMENTO DOS ITENS DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Nesta etapa, foram realizadas a dimensionalidade do construto e sua definição constitutiva e operacional, culminando com a elaboração de itens que versam sobre a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. 7.1 DIMENSIONALIDADE A partir da revisão integrativa realizada e do conceito de não adesão adotado, a dimensionalidade do construto pode ser visualizada no quadro 07. Quadro 11: Dimensionalidade do construto “não adesão ao tratamento da HAS”. Fortaleza, 2012. Conceito adotado “Comportamento intencional ou não intencional do indivíduo que não coincide parcial ou totalmente com um plano de promoção da saúde ou terapêutico e com as recomendações tomadas por meio de decisões partilhadas e acordadas entre profissional/equipe de saúde multidisciplinar e o indivíduo, família e/ou comunidade, incluindo dificuldade com tratamento medicamentoso, não medicamentoso e não comparecimento às atividades nos serviços de saúde (consultas, atendimentos grupais) que pode levar a resultados clinicamente não efetivos ou parcialmente efetivos” (OLIVEIRA, 2011). Dimensionalidade A não adesão ao tratamento da HAS encontra-se sedimentada em uma multicasualidade que se divide em quatro grandes dimensões: dimensão pessoa; doença/tratamento; serviço de saúde e ambiente. Pessoa: denota o ser humano em seus aspectos biológico, espiritual e social. Engloba as variáveis interdependentes relacionadas ao biológico, psicológico/cognitivo, comportamental e sócio econômico. Doença/tratamento: denota uma relação de interdependência entre esses estados, engloba as variáveis relacionadas aos medicamentos, a presença de comorbidades, ao acometimento do estado mental, e ao tempo de diagnóstico. Serviço de Saúde: denota o lócus onde se institucionaliza o tratamento anti-hipertensivo através da relação entre profissionais e usuários. Engloba as variáveis advindas do microespaço das unidades de saúde, as quais possuem uma estrutura expressa primariamente pelas ações das pessoas, realizadas de maneira regular e institucionalizada, além da infraestrutura material para o cuidado. Ambiente: elencamos as variáveis relacionadas ao macroespaço, que não se encaixavam nas outras dimensões pelo seu poder de generalização e de integração das outras dimensões. Trata-se da grande estrutura necessária para suporte das três dimensões anteriores. 98 A partir dessa dimensionalidade, observou-se que a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial é um atributo multidimensional alicerçado em várias dimensões da vida do ser humano que a possui. 7.2 DEFINIÇÕES E OPERACIONALIZAÇÃO DOS CONSTRUTOS Decidida a dimensionalidade do construto, foi necessário conceituá-los de forma detalhada, novamente baseando-se na literatura, nos peritos da área e na própria experiência. Nessa etapa, realizou-se a conceituação clara e precisa dos fatores relacionados à não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. A partir da revisão integrativa, construíram-se as definições constitutivas e operacionais das dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Os quadros 08, 09 e 10 apresentam as definições constitutivas e operacionais do construto não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. 99 Quadro 12: Definições constitutivas e operacionais da dimensão Pessoa, de acordo com as referências. Fortaleza, 2012. Definição Constitutiva Biológico - variáveis intrinsecamente relacionadas ao organismo que não são passíveis de modificações (ex: sexo, idade, cor da pele). Psicológico/cognitivo - variáveis relacionadas à psique, ao emocional e à capacidade de compreensão dos indivíduos. Comportamental: ação, atos do ser humano danosos à adesão ao tratamento da HAS. Familiar: variáveis relacionadas ao convívio na micropolítica desse grupo. Sócio econômico: estão as relacionadas à posição social da pessoa e a sua influência para a não adesão (renda, escolaridade) Definição Operacional Sentir-se bem faz com que o hipertenso interrompa a medicação; Crença em não precisar adotar mudança no estilo de vida; Esquecimento de tomar a medicação. Falta de motivação para adotar alimentação saudável; Alcoólicos Alta frequência de consumo de fast food. Decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas quando os sintomas aparecem; Configuração da vida moderna em estar sempre ocupado para realizar exercício físico; Baixa participação social durante as últimas duas semanas quando mostrou que os efeitos negativos das interações dos membros da família agem sobre a pressão arterial -estresse Dificuldade em seguir um regime de dieta diferente da do resto da família é um ponto crucial para a adoção de medidas dietéticas. O grande número de encontros sociais entre famílias, que promovem alimentação coletiva em abundância; Possui uma renda familiar mais baixa para a compra de medicamentos; O não comparecimento às consultas para evitar a falta no trabalho. Referências Dosse et al (2009); Serour et al (2007); Schmidt Rio-Valle et al (2006) Fongwa et al (2008); Constantine et al (2008); Li et al 2006; Acosta et al (2005) Andrade et al (2002); Jesus et al (2008); Schmidt Rio-Valle et AL (2006); Acosta et al (2005) Serour et al (2007); Mendoza-Parra; Merino; Barriga (2009); Schmidt RioValle et AL (2006) Andrade et al (2002); Dosse et al (2009) Serour et al (2007) Reiners, Nogueira (2009); Jesus et al (2008) Serour et al (2007) Serour et al (2007); Johnell et al (2005); Orueta et AL (2001); Krousel-Wood et al, (2005) Serour et al (2007); Fongwa et al (2008); Pires, Mussi (2008); Jesus et al (2008) Serour et al (2007) Fongwa et al, (2008); Hashmi et al (2007); Andrade et al (2002); Pires; Mussi (2008); Tilburt et al, (2008); Lewis et al, (2010). Jesus et al (2008); Adams et al (2010). 100 Quadro 13: Definições constitutivas e operacionais da dimensão Doença/Tratamento, de acordo com as referências. Fortaleza, 2012. Definição Constitutiva Definição Operacional Os efeitos colaterais são os que mais contribuem para a não adesão à terapêutica medicamentosa. Doença/tratamento O número de pílulas diárias ingeridas. Uso de diuréticos Uso de inibidores da ECA Intervalo de 2 a 3 meses do início de Presença ou ausência uma droga para outra. de sintomatologia da hipertensão e outras comorbidades que Presença de comorbidades alteram o regime de tratamento e consequentemente a rotina diária ao longo Acometimento do estado mental dos anos. Alterações orgânicas e modificações do cotidiano provocadas Alto nível de estresse pelo consumo dos medicamentos que levam a não adesão. Níveis pressóricos elevados Ter tido crise hipertensiva Utilizar-se de práticas alternativas ao invés de do tratamento acordado. Ausência de sintomas da HAS Menor percepção do benefício dos medicamentos. Referências Andrade et al, (2002); Mendoza-Parra et al, (2009); Schmidt Rio-Valle et al, (2006); Fongwa et al, (2008); Bosworth et al, (2008); Lachaine et al (2008); Tilburt et al, (2008) Patel et al, (2008) e Ghozzi et al (2010); Van Wijk et al (2008) Lachaine et al (2008) Gregoire et al (2006) Richard et al, (2005) Tuesca-Molina et al (2006); Schmidt Rio-Valle et al (2006); Serour et al, (2007); Van Wijk et al (2008); Constantine et al (2008); Dosse et al (2009) Wang et al, (2002); Morris et al, (2006); Fongwa et al, (2008); Van Wijk et al , (2008) ; Schoenthaler et al (2009); Martin et al, (2010) Van Wijk et al , (2008); MendozaParra; Merino; Barriga, (2009); Bosworth et al, (2008); Santa-Helena; Nemes; Eluf Neto (2010) Herrero, Badiel e Zapata (2009), Santa-Helena, Nemes e Eluf Neto (2010a), Martin et al, (2010c) e Ghozzi et al, (2010) (Saguner et al, 2010) Li; Froelicher, (2007); Gohar et al, 2008; Hsu, Mao e Wey (2010) Lukoschek (2003) Li et al (2006) 101 Quadro 14: Definições constitutivas e operacionais das dimensões Serviço de Saúde e Ambiente, de acordo com as referências. Fortaleza, 2012. Definição Constitutiva Definição Operacional Referência Dimensão Serviço de Saúde Uma educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS. Acosta et al (2005), Gazmararian et al (2006) e Bosworth et al (2008) Local onde o seguimento terapêutico é instituído por profissionais de saúde, que sofre influência direta das relações humanas entre profissionais e pacientes, da infraestrutura e da operacionalização dos serviços dispensados. A barreira na comunicação médicopaciente. Fongwa et al, (2008); Schoenthaler et al, (2009); Hsu; Mao; Wey, (2010); Martin et al, (2010), Consultas estressantes. Martin et al, (2010), Desconfiança dos profissionais de saúde em relação à fala do hipertenso. Lewis et al (2010) Qualidade deficiente do Serviço de Saúde. Adams et al (2010) Falta de acesso a exames laboratoriais, material clínico, medicamentos, recursos humanos. Adams et al (2010) Equipe descoordenada em relação à visita domiciliar. Tuesca-Molina et al (2006); Adams et al (2010) Dimensão Ambiente Da insatisfação com o ambiente da unidade de saúde. Local onde se encontra a unidade de saúde, a moradia do sujeito e o seu trabalho. Mendoza-Parra; Merino; Barriga (2009), Falta de um local conveniente para a atividade física. Serour et al (2007). Fongwa et al (2008); Violência no bairro de residência. Lewis et al (2010) Distância entre as cidades em que as pessoas com HAS moravam e trabalhavam. Jesus et al (2008); Johnell et al, (2005). Um maior tempo de permanência no país estrangeiro. Li et al, (2006); LI; Froelicher, (2007). Desastres naturais Krousel-Wood et al (2008) e Islam et al (2008) A Operacionalização do construto é o passo da construção dos itens, as tarefas (os itens do instrumento) que as pessoas deverão executar para a avaliação da magnitude de 102 presença do construto. Diante das categorias comportamentais que expressam o construto de interesse, foram construídos os itens do instrumento piloto (MARTIN ARRIBAS, 2004). Destarte, o painel de itens construído, que são a expressão da representação comportamental do construto, encontra-se no quadro 11. Quadro 15: Painel de itens para avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Fortaleza, 2012. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 OPERACIONALIZAÇÃO DO CONSTRUTO EM ITENS PESSOA Quando você está bem, deixa de tomar a medicação? Esquece-se de tomar o medicamento? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em sal? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em frituras/gordura? Com o início do tratamento, faz uso de bebida alcoólica? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em fast food? Procura o posto ou hospital sentindo-se mal devido a pressão estar alta? Possui rotina diária sem exercícios físicos? Não tem tempo para realizar exercícios físicos? Possui pouco tempo para diversão com amigos? Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão? Possui alimentação pobre em frutas e verduras? Acredita que não precisa mudar o estilo de viver? Deixa de tomar os medicamentos quando a unidade de saúde não os oferece? Falta às consultas para tratamento da hipertensão? DOENÇA/TRATAMENTO Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela? Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que ingerir mais que dois comprimidos de uma só vez? Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que fazê-lo mais de uma vez ao dia? Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada? Mantém um estilo de vida estressante? SERVIÇO DE SAÚDE Apresenta baixa participação em grupos de educação em saúde? Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde. Sente dificuldade em conversar com o Dr(a). Faltam medicamentos na unidade de saúde? Sente-se mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento? AMBIENTE Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas O clima ambiental (quente, frio, chuva) atrapalha a realização de atividade física? Dificuldade de chegar ao posto (translado, transporte) leva a faltar nas consultas. A insatisfação com o ambiente físico (infraestrutura) da unidade de saúde leva a faltar às consultas? A distância de sua residência para a unidade de saúde leva a faltar às consultas? 103 CAPÍTULO VIII VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 104 8 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL 8.1 CARACTERIZAÇÃO DOS ESPECIALISTAS Os especialistas que participaram deste estudo atenderam aos critérios de inclusão ao atingirem a pontuação acima da mínima de cinco pontos, conforme os critérios estabelecidos. Participaram 17 especialistas. O quadro 16 apresenta a pontuação obtida nos critérios adaptados do modelo Fhering. Quadro 16: Pontuação dos especialistas segundo critérios adaptados do modelo Fhering. Fortaleza, 2012. Especialista A Escore B C D E F G H I* J K L M N*2 O* P* Q* 07 08 08 08 08 08 09 09 09 12 12 13 13 13 13 13 14 Como observado, não houve a participação de especialistas com o escore mínimo admitido neste estudo, pois o menor escore foi de 7, e o maior de 14 pontos, sendo a média de 10,41, e o desvio padrão de 2,476, e mediana de 9. Diante deste quadro, percebemos que tratam de especialistas de renomado saber na temática não adesão ao tratamento da HAS. Apesar de atingir o número de especialistas necessários para validação de conteúdo, houve dificuldade para encontrá-los. Na base de dados da CAPES, existiam 123 especialistas que trabalhavam a temática. No entanto, houve dificuldade de encontrar os contatos de grande parte (86) desses profissionais. A partir de buscas online, encontraram-se os contatos de 37 deles e enviou-se uma carta convite para participar do estudo a cada um 2 *Especialistas que participaram da Primeira e da Segunda avaliação. 105 deles. Apenas 22 aceitaram participar, dos quais apenas 17 retornaram os instrumentos respondidos. Estudo realizado por Oliveira (2011), com enfermeiros especialistas na temática hipertensão arterial, revelou dificuldades na reunião de tais profissionais para avaliação de conteúdo. Galdeano e Rossi (2006) dizem ser este um dos principais problemas encontrados nos estudos de validação e o associam à dificuldade de definição dos especialistas na temática em estudo. Foi disponibilizado um tempo de 30 dias para cada especialista devolver o material respondido. No entanto, devido ao pouco retorno deles, teve-se que quadruplicar o tempo de devolução para não diminuir o número de participantes e a qualidade do estudo. Esse problema também foi relatado por Oliveira (2011), que triplicou o tempo estimado para a devolução dos questionários. Esta demora relaciona-se, provavelmente, à sobrecarga de afazeres profissionais dos especialistas, aliado ao fato de se tratar de tarefa que requer tempo e concentração para associação de ideias, reflexão e avaliação dos critérios exigidos na validação de conteúdo, além de ser um trabalho não remunerado. Conhecendo o perfil dos especialistas e buscando entender o grau de perícia deles, observar-se-á a Tabela 01. 106 Tabela 01: Caracterização dos especialistas. Fortaleza, 2012 Variáveis (n=17) Fi fr Feminino Masculino 16 1 94,1 5,9 1 5 5 1 2 3 5,9 29,4 29,4 5,9 11,8 17,6 1 2 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 5,9 11,8 5,9 5,9 5,9 5,9 5,9 5,9 23,5 5,9 5,9 5,9 5,9 12 4 1 70,6 23,5 5,9 1 9 7 5,9 52,9 41,2 5 7 3 2 29,5 41,3 17,7 11,8 9 2 3 2 1 53 11,8 17,5 11,8 5,9 Outras estatísticas Sexo Idade <30 30 – 35 36 – 40 41 – 45 46 – 50 51 – 54 Regiões e Cidades em que residem BA Salvador Fortaleza CE NE Crato PB João Pessoa PI Floriano ES Vitória MG Alfenas SE São Paulo SP Ribeirão Preto Itapeva Londrina PR S Maringá RS São Mateus Graduação Enfermagem Farmácia Medicina Maior titulação Pós-doutorado Doutorado Mestrado Tempo de formado ≥9 10-20 21-30 ≥32 Ocupação atual Enfermeiro Docentes Farmacêutico Enfermeiro Não Farmacêutico Docentes Médico Legenda: A - amplitude; x - média; s - desvio padrão; fi - frequência absoluta; fr – frequência simples fri - frequência acumulada A 27[27,54] X 39,00 S 8,972 fri 5,9 17,6 23,5 29,4 35,3 41,2 47,1 70,6 76,5 82,4 88,2 94,1 100,0 A 28[4,32] x 16,32 S 9,126 107 Quase a totalidade dos especialistas era do sexo feminino (94,1%). Outros estudos, dos mais variados tipos de validação, como o de Pires (2003) com tradução e validação de instrumento de avaliação de triagem em emergência, o de Alcântara (2009) com validação de instrumento de Sistematização da Assistência de Enfermagem em crianças com hidrocefalia e o de Oliveira (2011), com a validação do diagnóstico de enfermagem falta de adesão em pessoas com hipertensão, encontraram que mais de 95% dos especialistas foram do sexo feminino. Oliveira (2011) associa a predominância do sexo feminino ao fato de a profissão de enfermeiro ser mais procurada pelas mulheres. No entanto, durante a coleta de dados, enviaram-se os instrumentos para um número considerável de pessoas do sexo masculino, e obteve-se a resposta de apenas um deles, indicando que outros fatores estão envolvidos na aceitação deste gênero nos estudos de validação. Quanto à idade, a média encontrada foi de 39,14 anos, com mínimo de 27, máximo de 54 e amplitude de 27 anos. Faixa etária semelhante à encontrada por Galdeano (2007) e Alcântara (2009). Achado diferente foi registrado por Oliveira (2011) que encontrou uma média de 28 anos de idade, indicando ser reflexo precoce dos recém-formados em cursos de pós-graduação e, deste modo, a constituição de peritos (em determinados) assuntos mais cedo durante a vida. No tocante à região e à cidade em que os especialistas residiam, este estudo envolveu três grandes regiões (Nordeste, Sudeste e Sul); nove estados (Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná) e 14 cidades (Salvador, Fortaleza, Crato, João Pessoa, Floriano, Vitória, Alfenas, São Paulo, Ribeirão Preto, Itapeva, Londrina, Maringá e São Mateus) indicando uma multiplicidade de visões e 108 de culturas diferentes na análise do instrumento proposto, tornando esta validade de conteúdo um processo nacionalizado. Nesse ponto, Galdeano e Rossi (2006) ressaltam que é necessário considerar as barreiras relacionadas à linguagem e à cultura no processo de validação de conteúdo. Assim, tendo o instrumento sido avaliado por diferentes estudiosos de vários locais, poder-se-á ter um produto adequado à aplicação na multiplicidade cultural do povo brasileiro. Quanto ao curso de graduação dos especialistas, a maioria cursou Enfermagem (70,6), indicando que essa profissão vem se destacando na produção acadêmica sobre o tema. Participaram também quatro (23,5%) formados em Farmácia e um (5,9) em Medicina. Destaca-se que foram convidados a participarem da pesquisa nutricionistas e educadores físicos que se enquadraram nos critérios de inclusão, mas não se obteve resposta. Isso pode indicar pouca sensibilização para a participação em estudos de validação. Em relação à formação em cursos de pós-graduação stricto senso, um deles (5,9%) tinha pós-doutorado, 52,9% (9) tinham doutorado e 41,2% (7) tinham mestrado. Achados semelhantes foram encontrados por Chaves, Carvalho e Hass (2011) em um estudo de validação diagnóstica. Para Goldeano (2007) e Melo et al., (2011), um especialista deve possuir um corpo especializado de conhecimento. Quanto ao tempo de formação, houve uma média de 16,32 anos, com mínimo de 4, máximo de 32 e amplitude de 28 anos, sendo a maioria entre 11 e 20 anos. O maior tempo de formação fornece indícios de maturidade profissional. Para Galdeano (2007), trata-se de um indicador de experiência e consequente habilidade com as ações da profissão. No que diz respeito à atuação profissional, grande parte dos especialistas (64,8%) eram docentes. Desses, nove eram enfermeiros e dois eram farmacêuticos. Dos outros 35,2% 109 que não eram docentes, desenvolviam atividades na assistência à saúde como enfermeiros (17,5%), farmacêuticos (11,8%) e médico (5,9%). Essa diversificação permitiu melhor abrangência na avaliação dos itens, pois o corpo de especialistas apresentou características diversas, que convergiram para o mesmo ponto: experiência teórica e prática com pessoas com HAS. Para Melo et al. (2011), é essencial o direcionamento dos critérios de elegibilidade dos especialistas aos objetivos do estudo. Desse modo, a Tabela 3 apresenta o perfil acadêmico dos especialistas em adesão ao tratamento da HAS. Em relação à produção acadêmica na temática HAS, 58,8% tinham tese em HAS, 88,2% tinham dissertação em adesão ao tratamento da HAS e 47,1% haviam cursado especialização envolvendo a temática hipertensão. Todos os especialistas estavam envolvidos em pesquisas com hipertensão, e 76,5% haviam publicado artigos em periódicos com classificação no qualis ≥B2 sobre adesão terapêutica. Observou-se o afunilamento na temática e o envolvimento dos profissionais selecionados como especialistas nesse estudo. Como orienta Melo et al. (2011), os critérios elencados estão bem direcionados com o objetivo do presente estudo. A construção de teses, dissertações, artigos e a participação em especializações compõem atividades de aquisição de conhecimento e de habilidades no assunto em questão, servindo de direcionamento para a escolha de especialistas em estudos de validação. 110 Tabela 02: Perfil acadêmico dos especialistas em não adesão ao tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. Variável fi fr Outras estatísticas Doutor com tese em HAS Sim 10 58,8 Não 7 41,2 Mestre com dissertação em adesão ao tratamento da HAS Sim 15 88,2 Não 2 11,8 Especialização em áreas afins da HAS Sim 8 47,1 Não 9 52,9 Pesquisa na área de HAS Sim 17 100,0 Artigo sobre adesão em periódicos (Qualis ≥b2) Sim 13 76,5 Não 4 23,5 Prática clínica com HAS Sim 11 64,7 Não 5 35,3 Participação em grupos de pesquisa Sim 15 88,2 Não 2 11,8 X S Tempo de participação no grupo de pesquisa A n=15 <5 anos 4 26,7 5 – 9 anos 8 53,6 13[3;16] 6,53 3,642 10 – 15 anos 2 13,4 ≥16 anos 1 6,7 Instituição do grupo de pesquisa n=15 UFBA 1 6,7 UNIFOR 1 6,7 UNIFAL 1 6,7 USP 6 40,0 UFC 1 6,7 UFPR 1 6,7 UECE 2 13,3 UEM 1 6,7 UFPB 1 6,7 Legenda: A - amplitude; x - média; s - desvio padrão; fi - frequência absoluta; fr - frequência simples. 111 Outro critério importante é a participação em grupos de pesquisa que discutem adesão ao tratamento da HAS. A maioria (88,2%) afirmou participar de grupos de pesquisa, com média de 6,53 anos de envolvimento nele. Oliveira (2011) encontrou 70% de especialistas em grupos com essa mesma temática. Esse envolvimento é importante, pois permite constante atualização dos participantes e, deste modo, aguça o saber dos especialistas. Observa-se, ainda, diversificação nas instituições que albergam os grupos de pesquisa, sendo em sua maioria instituições públicas e uma privada, todas com reconhecido valor social na produção do conhecimento. Os Gráficos 01 e 02 apresentam a produção de trabalhos dos especialistas sobre HAS e adesão ao tratamento. Gráfico 01: Envolvimento com produção acadêmica em Não adesão ao tratamento da HAS. Fortaleza, 2012. Gráfico 02: Envolvimento com produção acadêmica em HAS. Fortaleza, 2012. Neste estudo, todos os especialistas afirmaram realizar estudos científicos sobre HAS e adesão ao tratamento, com destaque para a produção de artigos científicos. Importante 112 salientar a produção de dissertações e de teses, estudos profundos, que requerem grande dedicação. Para Oliveira (2011), o profissional precisa aprofundar-se no conhecimento científico específico, estudando seus conceitos básicos e exercitando o raciocínio lógico para subsidiar e complementar sua experiência. Quanto à prática clínica em hipertensão, 64,7% dos especialistas prestaram assistência a essas pessoas. Para Oliveira (2011), o tempo de atuação clínica tem sido empregado como indicador de experiência, haja vista sua influência no estilo de tomada de decisão. Melo et al. (2011) enfatizam que o tempo de experiência, denota preocupação em recrutar indivíduos com domínio na área, com vistas a assegurar a acurácia da avaliação. 113 8.2 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DAS DEFINIÇÕES CONSTITUTIVAS A análise da literatura revelou um construto amplo e, deste modo, a conceitualização da não adesão ao tratamento da HAS com uma compreensão sistêmica, envolvendo quatro dimensões. A Tabela 03 apresenta os IVC das definições constitutivas das dimensões. Tabela 03: Índice de Validade de Conteúdo (IVC) das definições constitutivas do traço latente “Não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. Dimensões e subdimensões Dimensão Pessoa Denota o ser humano em seus aspectos biológico, espiritual e social. Engloba as variáveis interdependentes relacionadas ao biológico, psicológico/cognitivo, comportamental e sócio econômico. Subdimensão Biológica Variáveis intrinsecamente relacionadas ao organismo que não são passíveis de modificações, associadas a alterações nos níveis pressóricos. Subdimensão Psicológico/Cognitivo Variáveis relacionadas à psique, ao emocional e à capacidade de compreensão dos indivíduos que dificultam a tomada de medicamentos e modificações no estilo de IVC Item Teste Binominal 1,0 0,000 0,76* 0,049 1,0 0,000 0,88 0,002 1,0 0,000 0,88 0,002 0,94 0,000 0,94 0,000 0,76* 0,049 vida. Subdimensão Comportamental Ação, atos do ser humanos danosos à adesão ao tratamento da HAS. Subdimensão Família Variáveis relacionadas ao convívio na micropolítica desse grupo, que dificultam modificações no estilo de vida para o sujeito com hipertensão. Subdimensão Sócio econômico Estão as relacionadas à posição social, nível sócio econômico da pessoa e sua influência para a não adesão (renda, escolaridade) ao tratamento da HAS. Dimensão Doença/Tratamento Presença ou ausência de sintomatologia da hipertensão e outras comorbidades que alteram o regime de tratamento e consequentemente a rotina diária ao longo dos anos. Alterações orgânicas e modificações do cotidiano provocadas pelo consumo dos medicamentos anti-hipertensivos que levam a não adesão. Dimensão Serviço de Saúde Local onde o seguimento terapêutico é instituído por profissionais de saúde, que sofre influência direta das relações humanas entre profissionais e os sujeitos que são atendidos, da infra estrutura e da operacionalização dos serviços dispensados. Dimensão Ambiente Local onde se encontra a unidade de saúde, a moradia do sujeito e o seu trabalho e suas interfaces com o tratamento da hipertensão arterial que dificultam o bom seguimento terapêutico. IVC total *Reavaliados 0,88 114 A busca de uma compreensão sistêmica da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial permite o exercício reflexivo deste fenômeno de difícil abordagem pelos profissionais de saúde, uma vez que alcança dimensões complexas do cotidiano dos sujeitos com hipertensão. A partir desse entendimento, é possível pensar em cada dimensão e em seus constituintes inter-relacionais buscando a convergência de saberes para a construção de abordagens centradas na realidade de cada sujeito. Na avaliação das dimensões, pode-se validar o conjunto de dimensões com IVCs de 0,88. Esse fato leva à reflexão sobre novos horizontes paradigmáticos no campo da ciência. Passa-se a entender a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial como um fenômeno sistêmico, superando uma visão biomédica. Compreender a não adesão como uma trama complexa é um exercício da contemporaneidade, em busca de respostas mais humanas para os desarranjos orgânicos, psicológicos, emocionais, cognitivos e sociais despertados pela presença dessa morbidade. Segundo Souza, Almeida e Baldissera (2012), a interferência da doença na vida das pessoas com HAS inicia-se desde o momento em que se percebe doente, pois existe uma dificuldade de convencer o sujeito, muitas vezes assintomático, de que ele tem hipertensão arterial, especialmente quando este rótulo implica na mudança de hábitos prazerosos ou ainda na obrigação de usar medicamentos de forma permanente. Goes e Marcon (2002) afirmam que o indivíduo deve apresentar mudanças permanentes de comportamento, já que disso depende seu convívio amigável com a doença. A Dimensão Pessoa obteve um excelente IVC (1,0; p<0,001). Pode-se analisar esse resultado sob uma ótica de responsabilização do sujeito frente à não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Essa compreensão ainda é forte nos profissionais de saúde, refletindo 115 ideologicamente nos discursos hegemônicos que ainda impõem-se nos serviços de saúde. Por outro lado, e analisando essa dimensão a partir das suas subdimensões biológica, psicológico/cognitiva, comportamental, família e socioeconômica, há uma quebra do pensamento tradicional e percebendo-se uma aproximação de uma ampliada compreensão do fenômeno. Das cinco subdimensões da dimensão Pessoa, a Subdimensão Biológica foi a que obteve o menor IVC (0,76; p<0,05). Associa-se esse resultado ao fato desta subdimensão restringir-se inteiramente a variáveis orgânicas e, deste modo, representar um campo de difícil elaboração de intervenções pela equipe de saúde na melhoria da adesão terapêutica. Contudo, Souza, Almeida e Baldissera (2012), e Machado, Pires e Lobão (2012) sinalizam ser importante a reflexão sobre os fatores biológicos como ferramentas para o delineamento de ações nos serviços que saúde, quer sejam grupais, educacionais ou individuais. Uma segunda avaliação de conteúdo foi realizada nessa subdimensão, obtendo IVC de 0,80, a partir do seguinte rótulo: variáveis intrinsecamente relacionadas ao organismo, associadas a alterações nos níveis pressóricos, que devem ser monitorizadas para o delineamento de ações nos serviços que saúde, quer sejam grupais, educacionais ou individuais. As subdimensões Psicológico/Cognitiva e Família também obtiveram excelente validade de conteúdo (IVC = 1,0; p<0,001). O bem estar psicológico e uma boa cognição são essenciais para um bom seguimento terapêutico. O resgate dessas condições deve sempre estar na elaboração dos planos de cuidado dos sujeitos com hipertensão. A harmonia na micropolítica familiar também é importante fator a ser considerado no acompanhamento dessas pessoas. Para Goes e Marcon (2002), é importante para o indivíduo poder contar com 116 a colaboração de todos e, principalmente, dos familiares. A relação dialógica dos membros deste grupo repercute em práticas de autocuidado e cuidado coerentes com a situação de saúde vivenciada. As subdimensões Comportamental e Socioeconômica obtiveram o mesmo IVC (0,88; p<0,05). O comportamento é um dos principais fatores observados nos processos terapêuticos, que sofre influência direta dos fatores socioeconômicos, que transita em dois polos, positivo e negativo, adesão e não adesão. No estudo de Oliveira (2011), o comportamento de falta de adesão está conceituado como o não engajamento adequado do sujeito com hipertensão em comportamentos recomendados, e/ou engajamento em comportamentos não saudáveis, ou ainda com a não demonstração de interesse em seguir as recomendações profissionais ou aquisição de conhecimento. As dimensões Doença/tratamento e Serviço de Saúde foram validadas com IVC de 0,94 (p<0,001). A convivência com a doença, o tratamento e o modo como o serviço de saúde interage com o sujeito envolve demandas objetivas e subjetivas no processo de adesão terapêutica. É nesse lócus em que são dialogados os cuidados necessários ao convívio com a hipertensão em busca de uma nova harmonia dos níveis tensionais dos processos sociais alterados. Para Borges, Pinheiro e Souza (2012), o serviço de saúde é o lócus complexo de cuidado, imbuído de representações ideológicas que moldam as práticas dos profissionais de saúde a partir da articulação de diferentes elementos sociais, científicos, culturais, antropológicos e simbólicos. O poder simbólico que textualiza o ambiente das unidades de saúde é uma faceta da estrutura de dominação do discurso biomédico, que transita transdisciplinarmente em todas as práticas sociais de saúde. 117 A dimensão ambiente obteve o menor IVC entre todas as dimensões com índice de 0,76 (p<0,05). A formulação desta dimensão foi consolidada a partir de estudos internacionais (JOHNELL et al 2005; LI et al, 2006; LI; FROELICHER 2007; SEROUR et al 2007; ISLAM et al 2008; KROUSEL-WOOD et al 2008; FONGWA et al 2008; MENDOZA-PARRA; MERINO; BARRIGA 2009; LEWIS et al 2010) e apenas um estudo brasileiro (JESUS et al, 2008) indicou variáveis que se enquadraram nesta dimensão. Desse modo, o IVC pode ser reflexo desta característica, de lacuna na literatura brasileira deixando, a respeito, as discussões que envolvem os aspectos ambientais da adesão ao tratamento da HAS com pouca visibilidade em relação às outras dimensões. É necessário o despertar dos pesquisadores brasileiros para a investigação de variáveis ambientais que se associam à não adesão. A segunda avaliação realizada resultou em um IVC de 0,80 sendo o conceito modificado para: a localização da unidade de saúde. A maior distância e o translado entre ela e a moradia da pessoa com hipertensão é pouco atraente para a comunidade adscrita, dificultando o bom seguimento terapêutico. Para Baldissera (2009), deve-se assumir que, na vivência dos indivíduos com hipertensão e seu relacionamento com os profissionais de saúde, existe uma aproximação entre os conhecimentos e as condutas, e que ambas se constroem no universo social pela interação, apropriação e determinação social. A compreensão sistêmica, a partir de uma dinâmica interdimensional, é um desafio a ser superado, e poderá ser útil para o indivíduo que sofre o agravo, para sua família, para sua comunidade, para os profissionais de saúde e para os gestores na elaboração de estratégias de superação deste problema de saúde pública. 118 119 8.3 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DAS DEFINIÇÕES OPERACIONAIS Uma definição operacional é um procedimento que atribui um significado comunicável a um conceito pela especificação de como o conceito é aplicado dentro de um conjunto específico de circunstâncias (PASQUALI, 1998). A elaboração das definições operacionais é passo imprescindível na elaboração de escalas de avaliação, pois é sobre este que serão construídos os itens do instrumento. As definições operacionais são componentes essenciais das pesquisas de diagnóstico de enfermagem, porque preenchem uma lacuna entre a observação e a investigação científica. Elas descrevem o que será mensurado e como pode ser feita essa mensuração, servindo para aumentar a confiabilidade e a validade dos dados, facilitar a replicação da pesquisa, aumentar a habilidade do pesquisador em relacionar os achados a estudos anteriores e para indicar os critérios de avaliação das intervenções de enfermagem, ao se proceder à evolução do paciente. O conhecimento obtido com a definição operacional deverá, portanto, servir para aumentar o entendimento do conceito teórico proposto, porque deve aproximar a teoria da prática (BOERY, GUIMARÃES e BARROS 2005). As quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial geraram 36 definições operacionais sendo: 13 da dimensão pessoa, 10 da dimensão doença tratamento, sete da dimensão serviço de saúde e seis da dimensão ambiente. A Tabela 4 apresenta a validade de conteúdo das definições operacionais das dimensões da não adesão ao tratamento da HAS. 120 Tabela 04: Índice de Validade de Conteúdo (IVC) das definições operacionais do traço latente “não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. Dimensão Ambiente Dimensão Serviço de Saúde Dimensão Doença/Tratamento Dimensão Pessoa Definições Operacionais Sentir-se bem faz com que o hipertenso interrompa a medicação Crença em não precisar adotar mudança no estilo de vida Esquecer-se de tomar a medicação Falta de motivação para adotar alimentação saudável Utilização de bebidas alcoólicas Alta frequência de consumo de fast food Decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas na presença de sintomas. 08 Configuração da vida moderna em estar sempre ocupado para realizar exercício físico 01 02 03 04 05 06 07 Baixa participação social durante as últimas duas semanas quando mostrou que os efeitos negativos das interações dos membros da família agem sobre a pressão arterial (estresse). Dificuldade em seguir um regime de dieta diferente da do resto da família é um ponto 10 crucial para a adoção de medidas dietéticas. O grande número de encontros sociais entre famílias, que promovem alimentação 11 coletiva em abundância. 12 Possui renda familiar baixa para a compra de medicamentos e estilo de vida saudável. 09 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 O não comparecimento às consultas para evitar a falta no trabalho. Os efeitos colaterais dos medicamentos O número de pílulas diárias ingeridas Presença de comorbidades Acometimento do estado mental Alto nível de estresse Níveis pressóricos elevados História anterior de crise hipertensiva Utilizar-se de práticas alternativas ao invés de do tratamento pactuado Ausência de sintomas da HAS Menor percepção do benefício dos fármacos Educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS Barreira na comunicação profissional - sujeito com hipertensão Consultas estressantes Desconfiança dos profissionais de saúde em relação à fala da pessoa com hipertensão Qualidade deficiente do serviço de saúde Falta de acesso a exames laboratoriais, material clínico, medicamentos, e recursos humanos. Equipe descoordenada em relação à visita domiciliar Insatisfação com o ambiente da unidade de saúde Falta de um local conveniente para a atividade física Violência no bairro de residência impedindo ir à unidade de saúde Distância entre o local em que as pessoas com HAS moravam e trabalhavam Maior tempo de permanência no país estrangeiro Desastres naturais Validados Reavaliados Eliminados IVC Item 1,0 0,88 0,94 0,94 0,76 0,76 1,0 Teste Binomial 0,000 0,002 0,000 0,000 0,049 0,049 0,000 0,76 0,049 0,65 0,332 0,94 0,000 0,59 0,629 0,71 0,81 0,94 0,94 0,75 0,81 0,69 0,81 0,81 0,69 0,88 0,88 0,88 0,88 0,82 0,76 0,76 0,143 0,021 0,000 0,000 0,077 0,021 0,210 0,021 0,021 0,210 0,004 0,004 0,004 0,004 0,013 0,049 0,049 1,0 0,000 0,88 0,81 0,71 0,53 0,53 0,24 0,29 0,002 0,021 0,143 1,000 1,000 1,049 1,143 121 Baseado nos índices de validação obtidos para as definições operacionais da dimensão Pessoa, constatou-se que sete, as de nº01 (Sentir-se bem faz com que o hipertenso interrompa a medicação), 02 (Crença em não precisar adotar mudança no estilo de vida), 03 (Esquecer-se de tomar a medicação), 04 (Falta de motivação para adotar alimentação saudável), 07 (Decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas na presença dos sintomas), e 10 (Dificuldade em seguir um regime de dieta diferente da do resto da família é um ponto crucial para a adoção de medidas dietéticas), obtiveram escores excelentes ≥ 0,78. Em um estudo com mulheres com HAS, Souza, Almeida e Baldissera (2012) relataram que a evolução assintomática da hipertensão dificultaria a percepção da doença pelo portador, embora ciente de sua condição por ocasião do diagnóstico médico. Uma consequência indireta desse fato é que alguns acabam ingerindo o medicamento apenas na presença de sintomas que os incomodam, aumentando o risco de ocorrência de complicações. Os autores enfatizam que há uma relação direta entre sentir-se doente e tratarse. A possível justificativa para esse motivo está na dificuldade de convencer o sujeito, muitas vezes assintomático, de que ele é doente, especialmente quando este rótulo implica na mudança de hábitos prazerosos, ou ainda, na obrigação de usar medicamentos permanentes. No entanto, cinco definições operacionais nº 05, (Utilização de bebidas alcoólicas), 06 (Alta frequência de consumo de fast food), 08 (Configuração da vida moderna em estar sempre ocupado para realizar exercício físico), 09 (Baixa participação social durante as últimas duas semanas quando mostrou que os efeitos negativos das interações dos membros da família agem sobre a pressão arterial (estresse)) e 12 (Possui uma renda familiar baixa para a compra de 122 medicamentos e estilo de vida saudável) tiveram IVCi considerados bons (IVC entre 0.60 e 0,78) e necessitaram de revisão e de nova avaliação por especialistas. Apesar da utilização de bebidas alcoólicas serem reconhecidamente um importante fator de risco para hipertensão arterial e para o agravamento do risco cardiovascular, essa definição operacional não obteve escore suficiente para validação. As VI Diretrizes de Hipertensão (2010) esclarecem que há associação entre a ingesta de álcool e as alterações de PA dependendo da quantidade ingerida. Claramente, uma quantidade maior de etanol eleva a PA, e está associada a maior morbidade e mortalidade cardiovasculares. A adequação da definição operacional obvete IVC de 1,0, a partir do rótulo: consumo de bebidas alcoólicas. As definições operacionais nº 06 e 08 refletem ao hábitus constituído na sociedade contemporânea, na qual o tempo de dedicação às refeições e às atividades de lazer está cada vez mais escasso, em detrimento de atividades econômico-financeiras, aliadas ao novo panorama midiático das indústrias alimentares de comidas rápidas, que permitiu a incorporação desse tipo de alimentação no cotidiano das pessoas, passando a ser encarado como um modelo moderno de viver. Jesus et al. (2008) salientam que o planejamento alimentar com redução de sal e alimentos hipercalóricos devem fazer parte da assistência prestada às pessoas com hipertensão arterial. Moreira, Santos e Caetano (2009) encontraram dificuldades na adesão ao tratamento da HAS, relacionadas à sobrecarga de trabalho, que geravam cansaço físico e mental, desmotivando-os à prática de exercício físico. As autoras discutem esse achado com a questão de gênero e pontuam que as mulheres trabalhadoras enfrentavam diariamente uma 123 sobrecarga de trabalho secundária às múltiplas jornadas, constituídas por dois ou mais subempregos indispensáveis à manutenção de si, e frequentemente da família; além de cumprirem tarefas domésticas e se envolverem na educação dos filhos. Estes são fatos que podem dificultar as atividades de autocuidado indispensáveis à promoção de sua saúde, e, em particular, a adesão às condutas terapêuticas da HAS. As definições operacionais foram renomeadas para: Alta frequência do consumo de comidas rápidas (sanduíches, pastéis, esfirras, batata frita); o tempo de dedicação às atividades de lazer está cada vez mais escasso em detrimento às atividades econômico financeiras da pessoa com hipertensão, obtendo IVC de adequação de 1,00 e 0,80, respectivamente. A definição operacional nº 09 trata do estresse em situação peculiar, aquele gerado na convivência familiar. A participação da família é altamente relevante na aquisição de hábitos e mudanças no estilo de vida, assim como no seguimento do tratamento. Uma importante ação dos seus membros é o gerenciamento do estresse, que também integra a demanda do tratamento da HAS. Acredita-se que essa definição operacional não obteve pontuação suficiente para validação, por se apresentar como restrita a um lócus. O estresse hodiernamente integra-se a vida dos indivíduos nos mais variados ambientes, seja familiar ou no trabalho, agindo sobre a pressão arterial. Desse modo, a definição operacional foi revisada, obtendo IVC de adequação de 1,0, sendo conceituada em: a convivência em ambientes com alto nível de estressores, seja em convívio familiar ou comunitário, age sobre a pressão arterial, devendo ser encarado como alvo do tratamento não medicamentoso. 124 Rocha et al (2002) argumentaram que o estresse ambiental é um importante fator a ser considerado na avaliação da PA, adicionalmente às medidas usuais de repouso como agente desmascarador de indivíduos predisponentes à hipertensão arterial e que é possível que o estresse ambiental crônico constitua mais um fator na gênese da hipertensão arterial. No entanto, pesquisas indicam que a relação entre estresse e hipertensão arterial ainda não está totalmente esclarecida e necessita de realização de estudos longitudinais para consolidação dessa informação (ALVEZ, 2004; HöKERBERG, 2010). A definição operacional nº12 (Possui uma renda familiar baixa para a compra de medicamentos e estilo de vida saudável) obteve um bom IVCi, mas insuficiente para sua validação. Supõe-se que essa definição operacional não foi bem formulada por associar sucintamente a renda a dois fatores distintos: compra de medicamentos e estilo de vida saudável. Deste modo, redefinimos essa definição operacional para uma nova avaliação de conteúdo: Possuir renda familiar com baixo potencial de compra que dificulta o acesso a medicamentos, quando estes não são fornecidos pelas unidades de saúde, uma alimentação balanceada e a realização de alguns tipos de atividades físicas (natação, hidromassagem, ginástica, etc.). O índice de adequação dessa definição operacional foi baixo (IVC de 0,60), culminando com a eliminação desta do painel de definições operacionais. Para as VI Diretrizes de HAS (2010), a influência do nível socioeconômico na ocorrência da HAS é complexa e difícil de ser estabelecida. No entanto, são evidentes os estudos que associam variáveis desse estrato à problemática da não adesão ao tratamento. O estudo de Jesus (2008) é um bom exemplo. Nele o motivo mais apontado para a interrupção foi o preço dos medicamentos, que se categorizou como reflexo do acesso gratuito insatisfatório ao tratamento medicamentoso. 125 Goes e Marcon (2002) são enfáticos nas questões socioeconômicas envolvidas na adesão ao tratamento. Há que se considerar, contudo, que, em um país em desenvolvimento como o nosso, onde as pessoas de menor poder aquisitivo são consideradas por sua condição social, é compreensível a dificuldade para mudança de estilo de vida, principalmente quando nos referimos a indivíduos com idade superior a 50 anos. Portanto, para que se obtenha melhor adesão ao tratamento é necessário considerar as reais condições de vida desses indivíduos. A definição operacional nº 11 (O grande número de encontros sociais entre famílias, que promovem alimentação coletiva em abundância) obteve avaliação ruim, com um IVCi de 0,59, o que equivale dizer que ele não foi considerado válido, sendo eliminado do estudo. No que tange às definições operacionais da dimensão doença tratamento, houve sete definições validadas com IVCi ≥ 0,78 (p>0,05). A presença da hipertensão arterial, comorbidades e o relacionamento do sujeito com o seu tratamento constitui um dos focos nevrálgicos da não adesão ao tratamento. Tornar o sujeito consciente do seu diagnóstico, para que possa exercer a gerência do seu cuidado é algo complexo para a equipe de saúde, familiares e a comunidade envolvida, principalmente devido à multiplicidade de fatores a qual a hipertensão está ligada e a sua clínica silenciosa. Nessa dimensão, três definições operacionais necessitam de revisão e de nova avaliação de conteúdo: nº 16 (Presença de comorbidades), nº 18 (Alto nível de estresse) e nº 21 (Utilizar-se de práticas alternativas ao invés de do tratamento acordado). A presença de outras doenças torna mais complexo o seguimento terapêutico, aumentando a carga de fármacos e elevando, assim, os efeitos colaterais deles. Além disso, é indício de não adesão ao tratamento, pois a má condução dele é um dos principais fatores 126 desencadeadores de lesão em órgão alvo. Problematizou-se também a presença de lesões cerebrais derivadas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), muitas vezes com sequelas que tornam a vida dos sujeitos dependentes de cuidados de outras pessoas, tornando complexo o regime terapêutico e os cuidados demandados. Assim, renomeou-se a definição operacional nº 16 para “Presença de outras doenças ou condições de saúde, além da hipertensão arterial, demandando o aumento do número de medicamentos prescritos, efeitos colaterais desses fármacos e suporte de cuidado”, resultando em excelente índice de adequação (IVC = 1,0). O Alto nível de estresse (definição operacional 18), quando presente no indivíduo, pode desencadear reatividade cardiovascular que são descargas do sistema nervoso simpático que aumentam os níveis tensionais. Para Lipp (2007), o estresse emocional tem sido o principal elemento desencadeador da reatividade cardiovascular de indivíduos hipertensos, principalmente no âmbito interpessoal. Em seu estudo, foi verificada maior magnitude dos aumentos pressóricos quando o hipertenso era levado a expressar os sentimentos de modo direto. Dessa forma, e vislumbrando a validação de conteúdo desta definição operacional, ela foi renomeada para: Alto nível de estresse emocional percebido, porém, o índice de adequação obtido foi baixo (IVC = 0,60), sendo eliminada. A utilização de práticas alternativas em detrimento do tratamento convencional da hipertensão (definição operacional 21) está atrelada aos valores culturais dos sujeitos, bem como ao seu nível de conhecimento e de entendimento sobre a doença. Estudo realizado por Oliveira e Araújo (2002) revelou que a utilização de plantas medicinais por idosos para o tratamento da hipertensão advinha do conhecimento adquirido com as mães ou com algum 127 outro parente, como avós, irmãos, tios. Além da influência dos hábitos culturais dos familiares, as autoras encontraram que alguns dos idosos aprenderam a utilizar as plantas com amigos ou com vizinhos da mesma faixa etária. Para Anderson e Taylor (2012), terapias complementares e medicina alternativa são, muitas vezes, utilizadas como adjuvantes ao tratamento convencional por indivíduos com doença cardiovascular (DCV) ou com fatores de risco cardiovascular, como hipertensão e colesterol alto. Padrões de utilização de práticas complementares representam dados importantes na prestação de assistência adequada. As categorias mais comuns utilizadas por indivíduos com diagnóstico auto referido de fatores de risco para DCV são produtos naturais e práticas mente-corpo (Shiatso, yoga). Renomeando essa definição operacional, tem-se: Utilização de práticas alternativas de saúde e de medicina complementar ao invés do tratamento pactuado. A reavaliação resultou em um IVC de 0,60, sendo eliminada. Na dimensão Serviço de Saúde a maioria das definições operacionais, as de nº 24 (Uma educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS), 25 (A barreira na comunicação profissional – sujeito com hipertensão), 26 (Consultas estressantes), 29 (Falta de acesso a exames laboratoriais, material clínico, medicamentos e recursos humanos) e 30 (Equipe descoordenada em relação à visita domiciliar) obtiveram excelentes IVC na avaliação dos especialistas (IVC≥0,78; p<0,005). A organização do serviço de saúde e sua micropolítica formam engrenagens discursivas que delineiam a movimentação dos sujeitos nesse espaço de cuidado. A convivência entre pessoas com hipertensão arterial e provedores de cuidado está intrinsecamente relacionada ao bom seguimento terapêutico. O modo como o serviço de 128 saúde se organiza, na maioria das vezes sob uma lógica hierarquizada, tornando o relacionamento terapêutico pautado em discursos engessados, modalizados em uma só direção, escamoteia o viver da pessoa com hipertensão, restringindo-o a uma abordagem terapêutica não condizente com suas reais demandas de saúde. Para Didier e Guimarães (2007), o cuidado a pessoas com HAS demanda por uma gestão do modelo assistencial e habilidades de integração da equipe de saúde. A reversão desse quadro requer política governamental que inclua modelos assistenciais eficientes de cuidado primário, por meio da melhor gestão da rede assistencial básica, formada pelas Unidades Básicas de Saúde. Requer, ainda, mudanças no modelo assistencial que otimizem os recursos humanos e logísticos existentes. Investir financeiramente em estruturas desorganizadas e ineficientes incentiva o círculo vicioso da falência assistencial, com elevados custos e comprometimento da qualidade assistencial da rede de assistência à saúde. Para Mendes (2012, p.144-5) A melhoria da saúde das pessoas portadoras de condições crônicas requer transformar um sistema de atenção à saúde que é essencialmente fragmentado, reativo e episódico, respondendo às demandas de condições e eventos agudos, focado na doença, em um outro sistema que seja proativo, integrado, contínuo, focado na pessoa e na família e voltado para a promoção e a manutenção da saúde. Isso exige não somente determinar que atenção à saúde seja necessária, mas definir papéis e tarefas para assegurar que as pessoas usuárias tenham uma atenção estruturada, planejada e provida por uma equipe multiprofissional. Significa introduzir novas formas de atenção que vão além da consulta presencial face-a-face, como atenção compartilhada a grupo, atenção contínua, atenção por pares e atenção à distância. Requer, também, um monitoramento padronizado e regular, para que as pessoas usuárias não fiquem abandonadas depois de deixar uma unidade de saúde. Há que se buscar o incremento dos atendimentos previamente programados em relação aos não programados feitos por demanda espontânea. As pessoas portadoras de condições de saúde de maiores riscos e complexidades necessitam de cuidados mais intensivos. A alfabetização sanitária e a sensibilidade cultural são dois conceitos centrais na atenção à saúde. Os prestadores de serviços de saúde devem responder efetivamente às diversidades culturais das pessoas usuárias. 129 Cuidado em hipertensão arterial compreende esse complexo entendimento que transcende a abordagem piramidal dos serviços de saúde e sua interlocução com a acessibilidade e integralidade consoantes os conceitos do Sistema Único de Saúde a partir de uma reflexão horizontalizante, que permita a formação de redes de cuidado como novo arcabouço, engrenagem e discurso do sistema de saúde. Passando a discutir a definição operacional nº 27 (Desconfiança dos profissionais de saúde em relação à fala da pessoa com hipertensão), que obteve um IVCi de 0,76 (p>0,05). Essa definição remete ao processo de diálogo estabelecido entre o profissional e a pessoa com hipertensão. É nesse momento de encontro em que há o acordo do tratamento proposto, sendo a comunicação eficaz um pré-requisito para o sucesso desse acordo. Nesse contexto, Jolles, Clark e Braam (2012) criaram um modelo teórico de comunicação no contexto do tratamento da hipertensão, que compreende três fases: compreensão e aceitação (fase 1) na qual ocorre o diálogo para transferência de informação do prestador de cuidados, e a pessoa com hipertensão, visando a compreensão e aceitação da situação pessoal e do risco associado. Tradução em ação (fase 2) que inclui a iniciação do tratamento medicamentoso e mudanças do estilo de vida (dieta, exercício, cessação do tabagismo, dentre outros). Retenção a longo prazo (fase 3) que abrange o reforço de uma comunicação eficaz, a repetição e acompanhamento sistemático do aumento da adesão ao plano terapêutico. Desse modo, a confiança interpessoal deve estar presente em todos os encontros terapêuticos em prol do bem viver dessas pessoas durante os seus papéis sociais. Assim, renomeamos a definição operacional para: O sujeito com hipertensão percebe que o 130 profissional de saúde não esboça confiança nas falas e atitudes dele (pessoa com hipertensão). Obteve IVC de adequação de 0,80. A definição operacional 28 (Qualidade deficiente do serviço de saúde) obteve IVC 0,76, sendo submetida a reavaliação, a qual resultou em IVC de adequação de 0,40, sendo eliminada. Continuando a análise, abordaram-se as definições operacionais da dimensão ambiente. Nessa dimensão, não houveram definições operacionais validadas a contento. A maioria delas obtive IVCi ruim, abaixo de 0,60, culminando com a exclusão de quatro definições: nº 33 (Violência no bairro de residência impedindo ir à unidade de saúde), 34 (Distância entre o local em que as pessoas com HAS moravam e trabalhavam), 35 (Maior tempo de permanência no país estrangeiro) e 36 (Desastres naturais). Essas definições apresentaram-se abrangentes, necessitando de um processo de abstração para sua visualização no complexo campo da hipertensão arterial. Entende-se que por esse motivo os IVCi foram abaixo do esperado. A busca de uma compreensão sistêmica deve entremear as discussões do tratamento da hipertensão arterial, objetivando um reordenamento das variáveis ambientais impeditivas do bom seguimento terapêutico. Observou-se lacuna na literatura brasileira de pesquisas envolvendo a discussão sobre o ambiente de moradia e sua relação com a hipertensão arterial. Estudo realizado no Japão mostrou evidências de que, quanto mais afastada a residência do sujeito do serviço de saúde frequentado, maior o risco do acometimento pela hipertensão arterial (HAMANO et al., 2012). 131 Apenas uma definição operacional obteve validação de conteúdo na primeira análise (nº31 “Da insatisfação com o ambiente da unidade de saúde”) e uma (nº 32 “Falta de um local conveniente para a atividade física”) obteve IVC que a conduziu para uma segunda análise. A insatisfação com o ambiente de saúde é um dos fatores que desmotiva a participação nas atividades desenvolvidas nesse ambiente. Para Paiva, Bersusa e Escuder (2006), a resolutividade dos serviços e a satisfação do cliente são maneiras de se avaliar os serviços de saúde, a partir dos resultados obtidos no atendimento ao usuário. A satisfação com os serviços oferecidos por qualquer que seja o sistema de saúde, sobretudo os de caráter público, são importantes na aderência ao tratamento e às consultas, no controle da doença e, consequentemente, na qualidade de vida, principalmente nas doenças crônicas (HOLFOUN et al., 2005). A falta de um local conveniente para a prática de atividades físicas desencoraja a realização dessa modalidade de tratamento não farmacológico da hipertensão arterial. As atividades físicas moderadas devem ser orientadas quanto à quantidade e à intensidade mínima necessária para atingir os benefícios e encorajar as pessoas a se tornarem mais ativas e, não necessariamente, mais condicionadas, permitindo a inclusão de programas mais flexíveis em suas vidas cotidianas (COELHO, BRURINI, 2009). O American College of Sports Medicine afirma que a atividade física constitui a “pedra angular” na prevenção primária e no controle da hipertensão arterial. Referindo-se à Frequência, Intensidade, Tempo e Tipo de exercício (FITT), considerando-se a individualidade biológica (idade, gênero e grupo étnico) (FERREIRA FILHO et al., 2007). No entanto, a falta de um local adequado, estruturado e com instrutor pode levar à prática de 132 exercícios não indicados para cada caso, podendo ser danoso à saúde ao invés de terapêutico. Desse modo, renomeamos a definição operacional de nº 32 para: “Falta de local adequado, estruturado e com instrutor para realização de atividade física torna essa atividade pouco atraente às pessoas com hipertensão”. No entanto, o índice de readequação dessa definição foi de 0,40, sendo eliminada. A validação das definições operacionais traz grandes contribuições no campo de estudo da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, podendo subsidiar a construção de indicadores epidemiológicos, elaboração de organogramas, de algoritmos e o delineamento de pesquisas visando o conhecimento e a elaboração de intervenções nesse campo da saúde coletiva. A delimitação e validação do construto não adesão ao tratamento da HAS é de grande valia para a saúde coletiva e para os profissionais que a vivenciam em seu cotidiano de trabalho. O conhecimento é uma das premissas de um bom desempenho laboral. Deste modo, refletir sobre as dimensões operacionais que delineiam a não adesão ao tratamento no momento de interação entre profissional e sujeito no âmbito das unidades básicas de saúde permitirá que lacunas da vida do sujeito sejam investigadas, desmistificadas e transformadas a partir de intervenção elaborada pelos profissionais. Para a enfermagem, o conhecimento das definições operacionais permitirá ir além do diálogo ingênuo com a pessoa que tem hipertensão. A utilização desse conhecimento deverá permitir uma reflexão em teia, construída por um diálogo reflexivo com as teorias que engendram o fazer do enfermeiro da Atenção Primária. 133 Coaduna-se desse modo, com o conceito de cuidado clínico de enfermagem como eixo integralizador dessas definições operacionais, a medida que essas expandem os percursos que poderão ser delineados pelos enfermeiros na realização de um cuidado clínico, que demanda a sensibilização do profissional no tocante aos aspectos subjetivos advindos de uma realidade pluripotencial, marcados pela cultura e ideologias, sendo esse cuidado realizado de forma paradigmática em busca de novas práticas clínicas fortalecidas enquanto devir da enfermagem, culminando com o delineamento de um novo ethos do agir do enfermeiro na clínica. Partimos do princípio de que o ser humano em sua complexidade, não se esgota em um encontro raso, no qual o intercâmbio de mensagens restringe-se a ordens de como viver com hipertensão, longe dos afetos e da estrutura que delineiam esse encontro. A aquisição de um corpo de definições operacionais, validado a partir de uma compreensão multidimensional, como um modo de reflexão sistêmica do real vivido pelos hipertensos do fazer e do saber dos profissionais de saúde que assumem o papel de provedores de um cuidado institucionalizado, e do contexto no qual as interações sociais ocorrem, permitem novos horizontes no entendimento e na abordagem terapêutica no contexto da HAS. Para Felipe et al. (2012), é fundamental que se reflita acerca da influência gerada pelo encontro entre o profissional de saúde e a pessoa com HAS. Os autores analisam o cuidado ao sujeito com hipertensão a partir dos conceitos de presença implicada e presença em reserva. A presença implicada refere-se ao ato de fazer coisas, de realizar procedimentos e de atuar constantemente, enquanto a presença em reserva é caracterizada pelo não fazer, dando tempo e espaço ao outro, mas se mantendo disponível, sem que haja necessidade de intromissão excessiva. Ao atuar segundo esses princípios, o enfermeiro abriria espaço para 134 que a pessoa com HAS viesse a se implicar em seu processo educativo, agindo como sujeito, a partir de conhecimentos e de experiências próprias de vida. O diálogo, de fato, não se encontra presente nas práticas assistenciais de modo geral, mas pode passar a existir, ser construído e fortalecido, diminuindo as distâncias entre quem cuida e quem precisa de cuidado/orientação. Para isso, assumir uma postura consciente de abertura do eu para compreender o outro é importante (ARAÚJO; PAZ; MOREIRA, 2010). Levando em consideração os estudos em terminologias e a prática de enfermagem, temos nas definições operacionais construídas e validadas importantes fontes de conhecimento para o embasamento das ações clínicas de enfermagem desempenhadas com esses sujeitos. Para Malucelli et al, (2010), a constituição de uma linguagem de especialidade constitui a base para a estruturação do conhecimento, pela sistematização de conceitos, instrumento de comunicação entre especialistas e como canal de transferência de tecnologia. A fundamentação de uma linguagem comum na ciência, em geral, e, especificamente na enfermagem, é um laborioso campo de enfrentamento de conceitos entre ciência e não ciência, entre o que é e o que não é enfermagem, ou seja, entre o que a constitui, em termos epistemológicos, e o que não faz parte da demarcação dessa ciência. Constitui no processo de entendimento complexo uma atividade de demarcação do campo do saber da enfermagem, que norteia os espaços para ações de cuidado nos seus aspectos individuais e comunitários.Vislumbrar a formulação das definições operacionais de não adesão ao tratamento da hipertensão arterial e sua validação de conteúdo é contribuir com a construção de um sistema de taxonomias de enfermagem, uma vez que se trata de uma 135 profissão que também se fundamenta no (inter)relacionamento com pessoas com esse agravo. Dimensão Ambiente Dimensão Serviço de Saúde Dimensão Doença/Tratamento Dimensão Pessoa Quadro 17. Definições operacionais validadas do traço latente “não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica”. Fortaleza, 2012. Definições Operacionais 01 Sentir-se bem faz com que o hipertenso interrompa a medicação 02 Crença em não precisar adotar mudança no estilo de vida 03 Esquecer-se de tomar a medicação 04 Falta de motivação para adotar alimentação saudável 05 Consumo de bebidas alcoólicas 06 Alta frequência de consumo de comidas rápidas (sanduíches, pastéis, esfirras, batata frita) 07 Decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas na presença de sintomas. O tempo de dedicação às atividades de lazer está cada vez mais escasso em detrimento às 08 atividades econômico financeiras da pessoa com hipertensão A convivência em ambientes com alto nível de estressores, seja em convívio familiar ou comunitário, 09 age sobre a pressão arterial, devendo ser encarados como alvo do tratamento não medicamentoso. Dificuldade em seguir um regime de dieta diferente da do resto da família é um ponto 10 crucial para a adoção de medidas dietéticas. 11 O não comparecimento às consultas para evitar a falta no trabalho. 12 Os efeitos colaterais dos medicamentos 13 O número de pílulas diárias ingeridas Presença de outras doenças ou condições de saúde, além da hipertensão arterial, 14 demandando também o aumento do número de medicamentos prescritos, dos efeitos colaterais dessas drogas e do suporte de cuidado. 15 Acometimento do estado mental 16 Níveis pressóricos elevados 17 História anterior de crise hipertensiva 18 Ausência de sintomas da HAS 19 Menor percepção do benefício dos fármacos 20 Educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS 21 Barreira na comunicação profissional - sujeito com hipertensão 22 Consultas estressantes O sujeito com hipertensão percebe que o profissional de saúde não esboça confiança nas 23 falas e atitudes dele (pessoa com hipertensão). 24 Falta de acesso a exames laboratoriais, material clínico, medicamentos, e recursos humanos 25 Equipe descoordenada em relação à visita domiciliar 26 Insatisfação com o ambiente da unidade de saúde 136 8.4 VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DOS ITENS DO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA Os itens dizem respeito a estruturas semântica e pragmática que compõem a escala de avaliação. Estrutura semântica, porque os itens são constituídos por conceitos que imprimem um conhecimento contextual e enciclopédico, que o localiza, nos vários domínios cognitivos que povoam os itens e seu conjunto. Estrutura pragmática designa os significados que as constituições semânticas adquirem no espaço social, como manifestações linguísticas da práxis. Pragmática, no plano etimológico, deve ser relacionada com o termo grego “práxis” e com o que este considera como prioridade, ou seja, as relações de sujeito a sujeito. Os itens têm estrutura pragmática porque representam ações da vida cotidiana dos sujeitos. Para Vesterinen (2006), a compreensão de uma expressão linguística inclui o nosso conhecimento enciclopédico, assim como o conhecimento contextual de um evento. No que diz respeito ao conhecimento enciclopédico, tem-se a sua importância semântica com o conceito [Hipertensão Arterial Sistêmica] e a sua localização em vários domínios cognitivos. Em primeiro lugar, o conceito evoca um domínio que caracteriza a sua forma, [valores de pressões arteriais sistólicas e diastólicas]. Mas também é localizado em domínios que, por exemplo, caracterizam sua patogenia e, a partir dessa classificação, como tendo um curso crônico. Finalmente, o conhecimento sobre este conceito envolve que é uma doença, classificada como síndrome clínica, que acomete os vasos sanguíneos, está envolvida com grande número de comorbidades, que transforma radicalmente a vida dos indivíduos que a têm. Do mesmo modo, o conhecimento contextual de certo evento desempenha uma função primordial para a compreensão de uma expressão linguística. 137 Desse modo, foram construídos 30 itens, após passarem por processo de validação de conteúdo. A tabela 5 apresenta o painel de itens e seus IVC. Tabela 05: Índice de Validade de Conteúdo (IVC) dos itens do instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. Item 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Quando você está bem deixa de tomar a medicação? Esquece-se de tomar o medicamento? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em sal? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em frituras/gordura? Com o início do tratamento, faz uso de bebida alcoólica? Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em fast food? Procura o posto ou hospital sentindo-se mal devido à pressão estar alta? Possui rotina diária sem exercícios físicos? Não tem tempo para realizar exercícios físicos? Possui pouco tempo para diversão com amigos? Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão? Possui alimentação pobre em frutas e verduras? Acredita que não precisa mudar o estilo de viver? Deixa de tomar os medicamentos quando a unidade de saúde não os oferece? Falta às consultas para tratamento da hipertensão? Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela? Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que ingerir mais que dois comprimidos de uma só vez? Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que fazê-lo mais de uma vez ao dia? Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada. Mantém um estilo de vida estressante? Apresenta baixa participação em grupos de educação em saúde? Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde. Sente dificuldade em conversar com o Doutor(a). Faltam medicamentos na unidade de saúde? Sente-se mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento? Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas O clima ambiental (quente, frio, chuva) atrapalha a realização de atividade física? Dificuldade de chegar ao posto (translado, transporte) leva a faltas nas consulta. 1º IVC 0,88 1,0 0,88 0,82 0,82 0,82 0,76 0,94 0,81 0,41 P 0,002 0,000 0,002 0,013 0,013 0,013 0,049 0,000 0,021 0,629 0,82 0,013 0,88 0,94 1,0 0,94 0,94 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,94 0,000 1,0 0,000 0,76 0,82 0,88 0,76 0,76 0,94 0,94 0,76 0,049 0,013 0,002 0,013 0,013 0,000 0,000 0,049 0,50 1,000 0,75 0,077 2º IVC 1,0 0,80 0,60 0,80 0,80 0,40 29 A insatisfação com o ambiente físico (infraestrutura) da unidade de saúde leva a 0,59 0,629 faltar às consultas? 30 A distância de sua residência para a unidade de saúde leva a faltar às consultas? 0,59 0,629 IVC total 0,82 Validado 1º IVC; Validado 2º IVC; Eliminado; Eliminado 2º IVC; p - teste binominal 138 Conforme se verifica na Tabela 5, a validação de conteúdo inicial revelou 20 itens com excelentes IVCi (≥0,78), apresentando valor de p<0,05 no teste binomial. Seis itens apresentaram IVCi considerados bons (IVCi entre 0,60 e 0,71), necessitando de nova avaliação por especialistas; e quatro obtiveram índices considerados ruins (IVCi <0,59), sendo eliminados do painel de itens. O resultado de 20 itens válidos sem necessidade de ajustes mostra que o processo de construção deles foi realizado com base em sólido conhecimento compilado a partir de estudos mundiais, permitindo uma validade aparente dos itens a partir do processo de construção, confirmando-se tal fato na avaliação dos especialistas. Os itens prontamente validados pelos especialistas integram uma gama de características discutidas na literatura e nas instituições de saúde associadas ao processo de não adesão à terapêutica. Esse fato vincula-se às discussões que centralizam os atuais paradigmas de saúde que coexistem nos espaços sociais. Nota-se claramente o reflexo do paradigma da medicalização, pois grande parte dos 20 itens refere-se intrinsecamente à não adesão ao tratamento medicamentoso. No entanto, vê-se por sua vez, que uma compreensão social e humanística do problema também se apresenta, uma vez que alguns itens que abordam essa vertente também foram validados. Essa reflexão é sustentada a partir dos itens que obtiveram IVC bons e ruins. Observou-se que os seis itens que necessitam de avaliações e os quatro itens eliminados problematizam uma compreensão abrangente do fenômeno da não adesão ao tratamento da HAS, como reflexo de novos contextos de pensamentos a partir dos paradigmas de cuidado que, hodiernamente, se fazem presentes na conjuntura pós-moderna. 139 Segundo Ficher (2011), do processo cambiante entre paradigmas emerge uma conscientização aguda de mudança, sutil e dramática, que vem forçando o desenvolvimento de novas normas institucionais, de uma nova movimentação do homem no mundo. A partir dessa reflexão, passa-se a discutir a validação dos itens. No tocante aos itens que necessitam de nova avaliação, os de nº07 (Procura o posto ou hospital sentindo-se mal devido à pressão estar alta) e nº19 (Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada), ressalta-se que, apesar da não adesão ao tratamento ser um dos principais fatores para crises hipertensivas e elevação da pressão arterial, esses eventos podem ocorrer mesmo quando o sujeito está com bom seguimento terapêutico. Segundo Varon, Marik (2006) e Souza et al. (2008), apesar da realização de ações que visam diminuir os índices elevados da hipertensão arterial, estudos referem que 75% das pessoas com a doença mantêm a pressão arterial não controlada, mesmo utilizando terapia anti-hipertensiva. Desses, 1% desenvolve um ou múltiplos episódios de crise hipertensiva. No entanto, a adequação e consequente presença dos itens são importantes para a constituição do instrumento, pois, segundo Souza (2007), muitos indivíduos com HAS, especialmente na idade adulta, têm a pressão arterial persistentemente elevada e a progressão da doença está diretamente associada às falhas na adesão, acarretando em hospitalizações evitáveis, morte e invalidez. Desse modo, renomeamos para: nº07 (Procura com frequência a unidade de saúde porque sua pressão arterial está alta?) e nº19 (Quando aferida, sua Pressão Arterial encontrase elevada?), que obtiveram índices de readequação de 1,0 e 0,80, respectivamente. 140 Os itens de nº 22 (Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde) e 23 (Sente dificuldade em conversar com o(a) Doutor(a)) designam tanto dificuldades no processo cognitivo do usuário, quanto de interação entre os sujeitos. Para Felipe (2011), ao buscar utilizar uma linguagem que se aproxime do contexto cultural do usuário, a enfermeira assume como importante e, mais do que isso, como primordial, o respeito a esse contexto ao invés de tentar simplesmente inserir novos elementos advindos de sua própria cultura. Trata-se da manifestação de uma relação dialética que considera a identidade e o estilo dos sujeitos envolvidos, para, a partir desse contexto identitário, imprimir compreensão nas mensagens trocadas no processo de comunicação terapêutica (BORGES; PINHEIRO; SOUZA, 2012). O cuidado, inerente à profissão da enfermeira, pode ser colocado em prática por meio de diversas maneiras. Ao utilizar uma linguagem acessível ao entendimento do usuário, ou de um grupo de usuários, ela estabelece uma comunicação adequada e, dessa forma, desenvolve um cuidado pautado em uma interação de qualidade (PIRES; MUSSI, 2009). Desse modo, vislumbramos na relação onde o cuidado clínico de enfermagem ocorre, principalmente nos centros de Atenção Primária, que toda mensagem emanada do enfermeiro carrega consigo a informação e a argumentação, que tentam incontestavelmente, ao longo do tempo, provocar reais tomadas de consciência, objetivando modificar os saberes, as ideias, e as atitudes do ser que vivencia a hipertensão. Trata-se de um agir comunicativo no qual um é motivado racionalmente pelo outro para uma ação de adesão e isso em virtude do efeito ilocucionário de comprometimento que a oferta de um ato de fala suscita. Graças à base de validez da comunicação voltada ao 141 entendimento mútuo, um falante pode, por conseguinte, ao assumir a garantia de resgatar uma pretensão de validade criticável, mover um ouvinte à aceitação de sua oferta de ato de fala e assim alcançar para o prosseguimento da interação um efeito de acoplagem, assegurando a adesão (BORGES; PINHEIRO; SOUZA, 2012). Para Habermas (1989), chamam-se comunicativas as interações nas quais as pessoas envolvidas põem-se de acordo para coordenar seus planos de ação, o acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento intersubjetivo de pretensões de validez que os atores erguem com seus atos de fala. Assim, renomeamos o item 22 para “Entende pouco as palestras oferecidas pela equipe de saúde?” e o 23 para “Sente dificuldades em conversar com os profissionais de saúde que o atendem?”. O item 22 obteve índice de adequação de 0,60, sendo eliminado e o 23 obteve IVC de 0,80, mantendo-se no estudo. Os itens nº 26 (Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas) e nº 28 (Dificuldade de chegar ao posto (translado, transporte) leva a faltas nas consultas) são da dimensão ambiente. Ambos designam dificuldades no seguimento terapêutico a partir de limitações de infraestrutura. O ambiente influencia nas questões motivacionais da adesão ao exercício físico. Embora não haja estudos que relacionem a adequação do ambiente à prática de exercícios físicos em pessoas com hipertensão arterial, um artigo de revisão concluiu que o acesso a instalações é, provavelmente, uma variável ambiental que interfere na escolha da pessoa em se exercitar. A riqueza na oferta de instalações para a prática do exercício, além de servir de estímulo visual, chamando a atenção das pessoas para a questão da prática do exercício, 142 reduz barreiras físicas e psicológicas associadas ao exercício, pois a proximidade do local de exercitação diminui o tempo de deslocamento da pessoa (FERREIRA, NAJAR, 2005). O translado entre a residência e a unidade de saúde influencia a frequência nas atividades terapêuticas da unidade. Um estudo etnográfico realizado com hipertensos em Manaus revelou dificuldade para o acesso ao serviço de saúde, vencer obstáculos como ladeiras, chuva, lama, longas distâncias, tornando esse translado “penoso” para quem busca cuidados de saúde. O estudo ainda mostrou que unidades de saúde localizadas onde existe tráfico de drogas e prostituição nos arredores também gera dificuldade de acesso à unidade (SOUZA, GERNELO 2008). O item nº 26 foi renomeado para “Falta local conveniente para realização de atividades físicas?” e obteve adequação de 0,80. O item nº 28 renomeado para “A dificuldade de chegar à unidade de saúde (translado, transporte) o leva a faltar às consultas?” obteve IVC de adequação 0,40 sendo eliminado. Dos quatro itens excluídos a partir da primeira avaliação dos especialistas, um era da dimensão Pessoa (nº 10 - Possui pouco tempo para diversão com os amigos) e três da dimensão Ambiente: nº 27 - O clima ambiental (quente, frio, chuva, dentre outros) atrapalha a realização de atividade física; nº 29 - Insatisfação com o ambiente físico (infraestrutura) da unidade de saúde leva à falta às consultas; e nº 30 - A distância da moradia ao posto de saúde leva a falta às consultas. O item nº10 foi formulado a partir do entendimento de que maior participação em atividades envolvendo grupos de amigos contribui com a diminuição dos níveis de estresse gerados no cotidiano. Estudos têm demonstrado que o estresse emocional é o principal 143 elemento desencadeador da reatividade cardiovascular, ou seja, de mudanças na pressão arterial ou frequência cardíaca que ocorrem em resposta a uma situação ou evento específico (LIPP, FRARE, URBINI, 2007). No entanto, lidar com situações cotidianas desse tipo depende da habilidade e da capacidade de trabalhar com o estresse, da forma como indivíduo foi criado e de como ele aprendeu a trabalhar com o estresse no decorrer de sua vida. Esses fatores podem fazer com que haja variações consideráveis de um indivíduo para outro. Tudo dependerá do equilíbrio existente entre a pressão que a situação traz e a habilidade que o indivíduo tem de trabalhar seu estresse (CASTRO, SCATENA, 2004). O item nº 27 assemelha-se ao item nº 26, mas com uma vertente climática e não estrutural da realização de exercícios físicos. Os itens nº 29 e nº 30 designam uma infraestrutura que apoia a realização da equipe de saúde, bem como o acesso a esse serviço. Como se tratam de itens abrangentes, nota-se a dificuldade de abstração dessas variáveis como influentes da não adesão ao tratamento da HAS e sua permanência em um instrumento avaliativo desse construto. Assim, salienta-se a realização de novas pesquisas que desmistifiquem as ações desses elementos como forma de agregar conhecimento a uma compreensão sistêmica. 8.4.1 Avaliação dos Critérios Psicométricos dos Itens O desenvolvimento de itens de avaliação para compor instrumentos deve ser realizado a partir de critérios bem estabelecidos pela teoria psicométrica para que esses itens consigam, em conjunto, dar a resposta adequada ao instrumento do qual eles fazem parte. Segundo Pasquali (1998), é preciso seguir algumas regras ou critérios fundamentais para a 144 elaboração adequada dos itens. Essas regras aplicam-se, em parte, à construção de cada item individualmente, e, em parte, ao conjunto dos itens que medem um mesmo construto. Além disso, dependendo do tipo de traço a ser medido, se de aptidão ou de personalidade, algumas das regras aplicam-se e outras não. Desse modo, a tabela 6 apresenta a validação de conteúdo dos especialistas quanto a sete critérios psicométricos de Pasquali (1998): Comportamental, Simplicidade, Clareza, Relevância, Precisão, Tipicidade e Amplitude, ou seja, quanto à proporção de especialistas que concordam na adequação de cada critério para o item. Nesse estudo não se avaliou o critério de equilíbrio, pois deve ser tratado no polo analítico. 145 Tabela 06: Avaliação dos critérios psicométricos (comportamento, simplicidade, clareza, relevância, precisão, modalidade e tipicidade) dos itens do instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica. Fortaleza, 2012. Painel de itens Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Critérios Psicométricos Avaliados Comportamento IVC p Quando você está bem deixa de tomar a medicação? 1,0 0,000 Esquece-se de tomar o medicamento? 1,0 0,000 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em sal? 1,0 0,000 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em frituras/gordura? 0,93 0,002 Com o início do tratamento, faz uso de bebida alcoólica? 1,0 0,000 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em fast food? 0,93 0,002 Procura o posto ou hospital sentindo-se mal devido a pressão estar alta? 0,93 0,002 Possui rotina diária sem exercícios físicos? 1,0 0,000 Não tem tempo para realizar exercícios físicos? 0,93 0,002 Possui pouco tempo para diversão com amigos? 0,93 0,002 Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão? 0,93 0,002 Possui alimentação pobre em frutas e verduras? 1,0 0,000 Acredita que não precisa mudar o estilo de viver? 0,86 0,013 Deixa de tomar os medicamentos quando a unidade de saúde não os oferece? 0,93 0,002 Falta às consultas para tratamento da hipertensão? 1,0 0,000 Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela? 1,0 0,000 Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que ingerir mais que dois 0,86 0,013 comprimidos de uma só vez? Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que fazê-lo mais de uma vez ao dia? 0,93 0,002 Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada? 0,86 0,013 Mantém um estilo de vida estressante? 0,93 0,002 Apresenta baixa participação em grupos de educação em saúde? 1,0 0,000 Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde? 0,93 0,002 Sente dificuldade em conversar com o(a) Doutor(a)? 0,79 0,057 Faltam medicamentos na unidade de saúde? 0,71 0,180 Sente-se mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento? 0,93 0,002 Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas 0,79 0,057 O clima ambiental (quente, frio, chuva) atrapalha a realização de atividade física? 0,86 0,013 Dificuldade de chegar ao posto (translado, transporte) leva a faltas nas consultas? 0,93 0,002 A insatisfação com o ambiente físico (infraestrutura) da unidade de saúde leva a faltar 0,93 0,002 às consultas? A distância da residência para a unidade de saúde leva a faltar às consultas? 0,93 0,002 Avaliação do critério de AMPLITUDE do instrumento Item IVC (Índice de Validade de Conteúdo); p (teste binomial); característica reavaliada; Simplicidade IVC P 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 0,86 0,013 0,86 0,013 0,64 0,424 0,86 0,013 0,93 0,002 0,93 0,002 0,86 0,013 0,86 0,013 1,0 0,000 0,86 0,013 1,0 0,000 0,86 0,013 1,0 0,000 0,71 0,180 Clareza IVC P 0,86 0,013 1,0 0,000 0,71 0,180 0,79 0,057 0,86 0,013 0,64 0,424 0,93 0,002 1,0 0,000 0,93 0,002 0,86 0,013 0,86 0,013 1,0 0,000 0,79 0,057 1,0 0,000 0,93 0,002 1,0 0,000 0,71 0,180 0,86 0,79 0,64 0,86 1,0 0,86 1,0 1,0 0,86 0,86 0,93 1,0 0,013 0,057 0,424 0,013 0,000 0,013 0,000 0,000 0,013 0,013 0,002 0,000 0,93 0,86 0,64 0,93 0,93 0,86 1,0 1,0 0,86 0,93 0,86 0,93 0,002 0,013 0,424 0,002 0,002 0,013 0,000 0,000 0,013 0,002 0,013 0,002 0,93 0,93 0,86 0,93 0,93 0,86 1,0 1,0 0,79 0,79 0,93 1,0 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,93 0,002 item validado; Relevância IVC p 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,93 0,002 1,0 0,000 0,86 0,013 0,93 0,002 1,0 0,000 0,86 0,013 0,79 0,057 0,93 0,002 1,0 0,000 0,93 0,002 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,86 0,013 0,002 0,002 0,013 0,002 0,002 0,013 0,000 0,000 0,057 0,057 0,002 0,000 item reavaliado; Precisão IVC p 0,93 0,002 0,86 0,013 0,86 0,013 0,79 0,057 0,93 0,002 0,79 0,057 0,93 0,002 0,92 0,002 0,93 0,002 0,86 0,013 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 1,0 0,000 0,93 0,002 1,0 0,000 0,86 0,013 1,0 0,93 0,79 0,86 0,93 0,86 1,0 1,0 0,86 0,93 1,0 0,93 Modalidade IVC p 1,0 0,000 0,93 0,002 0,86 0,013 0,79 0,057 0,93 0,002 0,71 0,180 0,93 0,002 1,0 0,000 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,93 0,002 Tipicidade IVC P 0,93 0,002 0,93 0,002 1,0 0,000 0,79 0,057 1,0 0,000 0,93 0,002 0,93 0,002 1,0 0,000 0,93 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 1,0 0,000 0,86 0,013 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,86 0,013 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 0,057 0,86 0,013 0,86 0,013 0,013 0,93 0,002 0,79 0,057 0,002 0,93 0,002 0,86 0,013 0,013 0,93 0,002 0,93 0,002 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,013 0,93 0,002 0,93 0,002 0,002 0,93 0,002 0,93 0,002 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 0,002 1,0 0,000 1,0 0,000 item eliminado 1,0 0,000 1,0 0,000 1,0 0,000 146 A partir da tabela 6, foi percebido que os itens construídos são de boa qualidade, pois a maioria obteve índices de validade de conteúdo excelentes nos critérios psicométricos e valor de p<0,05 no resultado do teste binomial. Apenas sete itens (nº 3, 6, 17, 20 e 24) apresentaram baixos índices de validade de conteúdos dos critérios psicométricos e necessitaram de readequação para nova avaliação dos especialistas. O item nº 03 (Com o início do tratamento, o(a) senhor(a) faz uso de alimentação rica em sal) obteve IVC no critério clareza de 0,71 (p= 0,180), em busca de melhorar essa característica modificamos o item para: nº 03 – Com o início do tratamento faz uso de alimentação rica em sal? Obtendo clareza de 1,0 na adequação. A relação causal entre a ingestão de sal na dieta habitual e a pressão arterial foi estabelecida pelos estudos de intervenção experimentais e epidemiológicos (HASAN, HUSSEIN, HAJI, 2011; DIRETRIZES, 2010). Populações adultas ao redor do mundo têm consumo médio de sal diário superior a 6 g por dia, embora as recomendações internacionais sugiram que o consumo médio de sal deve ser inferior a 5-6 g por dia (MEDEIROS et al., 2012). Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010), a população brasileira apresenta um padrão alimentar rico em sal, açúcar e gorduras. Expõe que a necessidade nutricional de sódio para os seres humanos é de 500 mg (cerca de 1,2 g de sal), tendo sido definido recentemente, pela Organização Mundial de Saúde, em 5 g de cloreto de sódio ou sal de cozinha (que corresponde a 2 g de sódio) a quantidade considerada máxima saudável para ingestão alimentar diária. O consumo médio brasileiro corresponde ao dobro do recomendado (DIRETRIZ 2010). No entanto, Hasan, Hussein e Haji (2011) acreditam que a participação de sal na hipertensão é mais complexa do que o relatado em estudos anteriores e concluem que o 147 postulado da sobrecarga de sal leva em longo prazo, mudanças estruturais e funcionais dos órgãos-alvo, independentemente de seu efeito sobre os níveis tensionais, representando uma das principais razões para o difícil controle e tratamento da pressão arterial, ocasionando complicações tardias, como doença isquêmica cardíaca e acidente vascular cerebral. O item nº 06 (Com o início do tratamento o(a) senhor(a) faz uso de alimentação rica em fast food) obteve IVC de 0,64 (p=0,424) nos critérios de simplicidade e clareza e 0,71 no critério modalidade. Dois especialistas solicitaram a adequação do termo fast food para termos em português, mais compreensíveis à população brasileira. Esse item foi ajustado para: nº 06 - Com o início do tratamento faz uso de alimentação como pizzas, sanduíches, pastéis, batatas fritas, salgadinhos em geral e empanados? Os índices de readequação nesses critérios foram 1,0 e 1,0 respectivamente para simplicidade e clareza e para modalidade o IVC foi 0,80. Há muito tem sido demonstrado que o aumento do consumo de gordura exerce influência direta sobre fatores de risco cardiovascular, tais como a concentração de lípides e de lipoproteínas plasmáticas, atribuída, em parte, à adoção de padrões ocidentais de dieta e atividade física (LOTTENBERG, 2009). Segundo as IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias (2007), a terapia nutricional deve ser adotada na prevenção e no tratamento das dislipidemias, nos quais o plano alimentar deverá contemplar questões culturais, regionais, sociais e econômicas, devendo ser agradável ao paladar e visualmente atraente. No entanto, há evidências de que o aconselhamento nutricional, mesmo modesto, pode influenciar os hábitos alimentares e reduzir os parâmetros de risco cardiovascular, sendo potencializados a partir de modelos baseados em gestão de processos (MELLEN, 2008). 148 Para reduzir a ingestão de colesterol, deve-se diminuir o consumo de alimentos de origem animal, em especial as vísceras, leite integral e seus derivados, embutidos, frios, pele de aves e frutos do mar (camarão, ostra, marisco, polvo, lagosta). Para diminuir o consumo de ácidos graxos saturados, aconselha-se a redução da ingestão de gordura animal (carnes gordurosas, leite e derivados), de polpa e leite de coco e de alguns óleos vegetais, como os de dendê (IV DIRETRIZ, 2007). Como os indivíduos com HAS apresentam, frequentemente, outras comorbidades de risco cardiovascular, essas intervenções clínicas podem ser uma forma eficaz de reduzir o risco global em pessoas de alto risco. Além disso, Mellen et al., (2008) discutem que as disparidades demográficas na qualidade da dieta são conduzidas, em parte, pelo acesso inadequado aos alimentos saudáveis às comunidades urbanas de alto risco e ao incentivo das indústrias alimentícias que lucram com a venda de alimentos não saudáveis. O item nº 17 (Sente dificuldade em tomar os comprimidos, quando são para tomar mais que dois de uma só vez) obteve IVC de 0,71 (p=0,180) nos critérios de simplicidade e clareza. Esse item foi modificado para: nº 17 – Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que ingerir mais que dois comprimidos de uma só vez? Seus índices de adequação foram 1,0 para ambas as características psicométricas reavaliadas. A terapia combinada é um dos artifícios presentes quando a HAS não consegue ser controlada com monoterapia ou na presença de comorbidades. Além disso, quando o risco cardiovascular se eleva, a terapia medicamentosa é necessária, obrigatoriamente envolvendo a associação de, pelo menos, dois fármacos (VI DIRETRIZ, 2010). Desse modo, aumentam também os efeitos colaterais dos medicamentos e, consequentemente, pode levar à não adesão ao tratamento. 149 O item nº 20 (Mantém estilo de vida estressante?) obteve IVC de 0,64 (p=0,424) nos critérios de simplicidade e clareza. Esse item foi modificado para: nº 20 – Sente dificuldades em controlar os níveis de estresse diários aos quais é exposto? O IVC de adequação da simplicidade foi 1,0, e da clareza foi 0,80. O potencial excitatório do estresse emocional na reatividade cardiovascular de indivíduos hipertensos está descrito na literatura, principalmente nas pesquisas que averiguaram o impacto do estresse interpessoal. Em revisão realizada por Lipp (2007), verificou-se que as variáveis psicológicas, como inassertividade/alexitimia (dificuldades de identificar e expressar emoções) e o estresse emocional foram fatores importantes na determinação da magnitude da reatividade cardiovascular ocorrida em contatos sociais estressantes de pessoas com hipertensão estágio 1. As pessoas inassertivas e/ou alexitímicas mostraram reatividade de PAD maior quando solicitadas a expressarem seus sentimentos. Entretanto, pessoas com essas características tendem a ter uma reatividade de PAS quando levadas a regularem suas emoções, inibindo sua demonstração. O item nº 24 (Faltam medicamentos no posto de saúde) obteve IVC do critério comportamento de 0,71 (p=0,180). Esse item foi ajustado e obteve IVC de 0,80 a partir do rótulo “Faltam medicamentos na sua unidade de saúde?”. A infraestrutura da unidade de saúde e a falta de insumos medicamentosos para a continuidade do tratamento influenciam na terapêutica. Esse item associa-se tanto à influência estrutural (no quesito insumos para a saúde), quanto na atitude da pessoa com hipertensão frente a essa situação. A tabela 6 ainda apresenta a avaliação dos critérios psicométricos dos itens que foram excluídos da escala (nº 10 - Possui pouco tempo para diversão com amigos?; nº 27 - O clima ambiental (quente, frio, chuva, etc.) atrapalha a realização de atividade física?; nº 29 - A 150 insatisfação com o ambiente físico (infraestrutura) da unidade de saúde o leva a faltar às consultas?; nº 27 - A distância de sua residência para a unidade de saúde o leva a faltar às consultas?) e mostra que, apesar de terem sido avaliados como não representantes do traço latente da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, foram itens bem construídos e poderão ser utilizados em pesquisas futuras que forem tratar dessa temática. O critério de amplitude designa se o conjunto dos itens referentes à não adesão ao tratamento da hipertensão arterial cobre a magnitude do contínuo desse atributo. Obtivemos um IVC de amplitude de 1,0 (p=0,000), demonstrando que o Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica é consistente e válido de conteúdo. 151 8.5 Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial Quadro 18. Instrumento de Avaliação de Não Adesão Ao Tratamento da Hipertensão Arterial. Fortaleza, 2012. ITENS 01 Quando você está bem, deixa de tomar a medicação? 02 Esquece-se de tomar o medicamento? 03 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em sal? 04 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação rica em frituras/gordura? 05 Com o início do tratamento, faz uso de bebida alcoólica? 06 Com o início do tratamento, faz uso de alimentação como pizzas, sanduíches, pastéis, batatas fritas, salgadinhos em geral e empanados? 07 Procura com frequência a unidade de saúde porque sua pressão arterial está alta? 08 Possui rotina diária sem exercícios físicos? 09 Não tem tempo para realizar exercícios físicos? 10 Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão? 11 Possui alimentação pobre em frutas e verduras? 12 Acredita que não precisa mudar o estilo de viver? 13 Deixa de tomar os medicamentos quando a unidade de saúde não os oferece? 14 Falta às consultas para tratamento da hipertensão? 15 Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela? 16 Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter de ingerir mais que dois comprimidos de uma só vez? 17 Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter de fazê-lo mais de uma vez ao dia? 18 Quando aferida, sua Pressão Arterial encontra-se elevada? 19 Mantém um estilo de vida estressante? 20 Apresenta baixa participação em grupos de educação em saúde? 21 Sente dificuldades em conversar com os profissionais de saúde que o atendem? 22 Faltam medicamentos na unidade de saúde? 23 Sente-se mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento? 24 Falta local conveniente para realização de atividades físicas? Total SEMPRE QUASE SEMPRE ÀS VEZES QUASE NUNCA NUNCA 1 2 3 4 5 152 Para calcular a pontuação obtida por cada pessoa, assinalou-se o valor 1 para a coluna Sempre, 2 quase sempre, 3 às vezes, 4 para quase nunca e 5 para nunca, sendo 170 a totalidade de pontos possíveis a alcançar. A classificação foi estabelecida a partir de uma estimação de pontuação que dividiu em proporções a totalidade de pontos obtidos por cada pessoa que responder a escala, considerando: Não adesão total os que obtiverem 24 a 48 pontos; Risco para não adesão de 49 a 72 pontos; Adesão de 73 a 120 pontos. 153 CAPÍTULO IX CONCLUSÃO 154 9 CONCLUSÃO Neste estudo, procurou-se desenvolver e validar o conteúdo de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica fundamentado na Psicometria e julgamento de especialistas em HAS. Desenvolver instrumentos sobre comportamento de saúde é uma tarefa complexa, que requer o empenho em compreender todo o construto teórico que sustenta o tema pesquisado. Como evidenciado, a construção do instrumento foi alicerçada na compreensão sistêmica da não adesão ao tratamento da HAS. A busca de uma compreensão sistêmica permite o exercício reflexivo deste fenômeno de difícil abordagem pelos profissionais de saúde, uma vez que alcança dimensões complexas do cotidiano dos sujeitos com hipertensão. O grande número de variáveis listadas mostra a complexidade dessa temática e o desafio para as equipes de saúde. Elucidaram-se quatro dimensões constitutivas da não adesão ao tratamento da HAS: dimensão Pessoa, Serviço de Saúde, Doença Tratamento e Ambiente. Foram desenvolvidas 36 definições operacionais e 30 itens no instrumento piloto. O processo de validação de conteúdo ocorreu com um painel de 17 especialistas de nove estados brasileiros, sendo 58,8% doutores e 41,2% mestres. A validação do conjunto das dimensões constitutivas obteve IVCs de 0,88, mostrando boa compreensão sistêmica do fenômeno da não adesão. Foram validadas 19 definições operacionais com excelente IVCi; 12 sofreram adequações e foram reavaliadas, resultando em sete validadas e cinco foram excluídas na primeira avaliação. A validação dos itens do instrumento piloto obteve IVCt de 0,82 indicando excelente formulação teórica. Foram validados 20 itens com excelentes IVCi na primeira avaliação dos especialistas; seis obtiveram bons IVCi e sofreram adequações, foram reavaliados, sendo quatro validados e dois excluídos. A avaliação dos critérios psicométricos (comportamento, 155 simplicidade, clareza, relevância, precisão, modalidade e tipicidade) obteve excelentes IVCi estatisticamente significativos. Conclui-se que foi possível desenvolver e validar o conteúdo do “Instrumento de Avaliação da Não Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial”. Trata-se de uma escala tipo Likert de cinco pontos que permite mensurar em cada dimensão e seus constituintes a não adesão em três níveis: não adesão total, risco para não adesão e adesão. Na realização deste estudo, a principal dificuldade encontrada esteve relacionada à busca e aceitação dos especialistas para participarem da pesquisa, além do tempo de retorno dos instrumentos respondidos, sendo necessário triplicar o tempo inicialmente acordado. A aceitação de especialistas graduados em Nutrição e em Educação Física também constituiu em dificuldade, ficando evidente ser necessário sensibilizar outras profissões para estudos de validação de conteúdo. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com a eficácia na abordagem aos sujeitos com hipertensão que não têm adesão ao tratamento, servindo como fonte para a construção de indicadores de saúde e para sua monitorização. Pretende-se, ainda, oferecer um instrumento abrangente, multidimensional, que supere os instrumentos unidimensionais farmacologistas. A partir desse entendimento, é possível pensar em cada dimensão e seus constituintes interrelacionais buscando a convergência de saberes para a construção de abordagens centradas na realidade de cada sujeito. Desse modo, vislumbrando o conceito de cuidado clínico de enfermagem que norteou esse estudo, pontuamos que o subsídio da mensuração na clínica de enfermagem, potencializará a realização de pesquisas a partir da utilização de metodologias quantitativas aplicadas sobre dados subjetivos que se transformaram em escores a partir do instrumento proposto. 156 Esse panorama de mensuração abre novos caminhos para a ciência de enfermagem, pois, permite a construção de uma infinidade de instrumentos que albergam construtos subjetivos em uma linguagem matemática, capazes de serem utilizados em testes estatísticos trazendo novas interpretações à realidade do cuidado clínico de enfermagem. CAPÍTULO X REFERÊNCIAS 157 REFERÊNCIAS ACOSTA GONZÁLEZ, M; DEBS PÉREZ, G; NOVAL GARCÍA, R et al. Conocimientos, creencias y prácticas en pacientes hipertensos, relacionados con su adherencia terapêutica. Rev Cubana Enferm, v.21, n.3, sept.-dic. 2005. ADAMS OP; CARTER AO. 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APÊNDICE A: Instrumento Guia para elaboração de itens 170 APÊNDICE A 171 APÊNDICE B INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS Instrumento de coleta de dados - caracterização dos especialistas Sexo Masculino Feminino Idade (em anos) Cidade em que trabalha Qual a sua formação (graduação) Tempo de formação (em anos) Maior titulação Mestrado Doutorado Pós doutorado Livre docente Critérios adaptados do modelo FehringNa listagem abaixo escolha sim ou não Sim Não 172 Sim Não Mestre com dissertação sobre adesão ao tratamento da HAS Pesquisa na área de HAS Artigo publicado na área de adesão ao tratamento da HAS em periódicos ≥B2 Doutor com tese sobre HAS Prática clínica de pelo menos um ano no âmbito da Atenção Primária em Saúde Certificado de especialização na área de HAS, cardiologia, Saúde da Família/Saúde Pública ou áreas afins. Desenvolveu ou está desenvolvendo, como autor (a) ou orientador (a), estudo na temática Adesão ao tratamento da hipertensão arterial na forma de: Monografia de graduação Monografia de especialização Dissertação Tese Artigos científicos Outro: Desenvolveu ou está desenvolvendo, como autor (a) ou orientador (a), estudo na temática Hipertensão na forma de: Monografia de graduação Monografia de especialização Dissertação Tese Artigos científicos Outro: 173 Participa ou participou de grupos/projetos de pesquisa que envolve/envolveu a temática Adesão ao tratamento da hipertensão arterial? Sim Não Por quanto tempo participa ou participou de grupos/projetos de pesquisa que envolve/envolveu a temática Adesão ao tratamento da hipertensão arterial?responder em anos completos Qual a instituição do grupo de pesquisas? Enviar Tecnologia Google DocsDenunciar abuso-Termos de Serviço-Termos Adicionais 174 APÊNDICE C INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO: ETAPA DE AVALIAÇÃO GERAL DOS ITENS Nessa etapa você avaliará a pertinência de cada item ao traço latente (Não adesão ao tratamento da HAS). As questões que se seguem requer apenas que você escolha uma opção entre as quatro que existem. A seguir, as definições constitutivas das quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial elaboradas de acordo com as variáveis encontradas na literatura, encontramse listadas, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, seja assinalada a opção mais adequada sobre a adequação das definições constitutivas e o traço latente não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Desse modo, as opções são: Não é indicativa, Muito pouco indicativa; Consideravelmente indicativa; e Muitíssimo indicativa, que valem respectivamente 1, 2, 3 e 4 pontos. Encontram-se listadas as definições constitutivas de cada dimensão da não adesão ao tratamento da HAS que devem ser avaliadas.lembramos que nesse trabalho identificamos a não adesão ao tratamento da HAS como multidimensional e classificamos nas seguintes dimensões: pessoa; doença/tratamento; serviço de saúde e ambiente. Não é indicativa DIMENSÃO PESSOA: Denota o ser humano em seus aspectos biológico, espiritual e social. Engloba as variáveis interdependentes relacionadas ao biológico, psicológico/cognitivo, comportamental e sócio econômico. DIMENSÃO DOENÇA/TRATAMENTO: Presença ou ausência de sintomatologia da hipertensão e outras comorbidades que alteram o regime de tratamento e consequentemente a rotina diária ao longo dos anos. Alterações orgânicas e modificações do cotidiano provocadas pelo consumo Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 175 Não é indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa dos medicamentos anti-hipertensivos que levam a não adesão. DIMENSÃO SERVIÇO DE SAÚDE: Local onde o seguimento terapêutico é instituído por profissionais de saúde, que sofre influencia direta das relações humanas entre profissionais e os sujeitos que são atendidos, da infra estrutura e da operacionalização dos serviços dispensados. DIMENSÃO AMBIENTE: Local onde se encontra a unidade de saúde, a moradia do sujeito e o seu trabalho e suas interfaces com o tratamento da hipertensão arterial que dificultam o bom seguimento terapêutico. Devido a complexidade da Dimensão Pessoa, essa foi dividida em subdimensões. Avalie cada uma delas. Não é indicativa Biológico - variáveis intrinsecamente relacionadas ao organismo que não são passíveis de modificações (ex: sexo, idade, cor da pele), associadas a alterações nos níveis pressóricos. Psicológico/cognitivo - variáveis relacionadas a psique, ao emocional e a capacidade de compreensão dos indivíduos que dificultam a tomada de medicamentos e modificações no estilo de vida. Comportamental: ação, atos do ser humano danosos à adesão ao tratamento da HAS. Familiar: variáveis relacionadas ao convívio na micropolítica desse grupo, que dificultam modificações no estilo de vida para o sujeito com hipertensão. Sócio econômico: estão as relacionadas a posição social, nível sócio econômico da pessoa e sua Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 176 Não é indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa influência para a não adesão (renda, escolaridade) ao tratamento da HAS. Definições operacionais: a passagem do terreno abstrato para o concreto, ou seja saímos dos conceitos das dimensões e adentramos em cada dimensão, constituindo suas representações empiricas A seguir, as definições operacionais das quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, elaboradas de acordo com as variáveis encontradas na literatura, encontram-se listadas, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, seja assinalada a opção mais adequada sobre a adequação das definições operacionais ao traço latente não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Definições operacionais da Dimensão Pessoa Não é indicativa Setir-se bem faz com que o hipertenso interrompa a medicação Crença em não precisar adotar mudança no estilo de vida Esquecer de tomar a medicação Falta de motivação para adotar alimentação saudável Utilização de bebidas alcoólicas Alta freqüência de consumo de fast food Decisão de não tomar a medicação ou tomá-la apenas quando os sintomas aparecem. Configuração da vida moderna em estar sempre ocupado para realizar exercício físico Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 177 Não é indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Baixa participação social durante as últimas duas semanas quando mostrou que os efeito negativos das interações dos membros da família agem sobre a pressão arterial (stress) Dificuldade em seguir um regime de dieta diferente da do resto da família é um ponto crucial para a adoção de medidas dietéticas. O grande número de encontros sociais entre famílias, que promovem alimentação coletiva em abundância. Possui uma renda familiar baixa para a compra de medicamentos e estilo de vida saudável. O não comparecimento às consultas para evitar a falta no trabalho. Definições operacionais da Dimensão Doença/tratamento Não é indicativa Os efeitos colaterais dos medicamentos O número de pílulas diárias ingeridas Presença de comorbidades Acometimento do estado mental Alto nível de stress Níveis pressóricos elevados Muito pouco indicativa 178 Não é indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Ter tido crise hipertensiva Utilizar-se de práticas alternativas ao invés de do tratamento acordado Ausência de sintomas da HAS Menor percepção do benefício dos medicamentos Definições operacionais da Dimensão Serviço de Saúde Não é indicativa Uma educação em saúde deficiente sobre o controle da HAS A barreira na comunicação profissional-paciente Consultas estressantes Desconfiança dos profissionais de saúde em relação a fala do hipertenso Qualidade deficiente do serviço de saúde Falta de acesso a exames laboratoriais, material clínico, medicamentos, recursos humanos Equipe descoordenada em relação a visita domiciliar Definições operacionais da Dimensão Ambiente Não é indicativa 179 Não é indicativa Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa Da insatisfação com o ambiente da unidade de saúde Falta de um local conveniente para a atividade física Violência no bairro de residência impedindo ir a unidade de saúde Distância entre o local em que as pessoas com HAS moravam e trabalhavam Um maior tempo de permanência no país estrangeiro Desastres naturais Operacionalização do construto em itens: trata-se da passagem do campo teórico para o operacional, cada item consiste na execussão de um comportamento. A seguir, encontram-se listados os itens do instrumento piloto, constantes das quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, elaborados a partir das definições constitutivas e operacionais, derivadas das variáveis encontradas na literatura, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, seja assinalada a opção mais adequada sobre a adequação dos itens ao traço latente não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Análise dos itens que irão compor o instrumento Não é indicativa Quando você estar bem deixa de tomar a medicação Esquece de tomar o medicamento Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em sal Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 180 Não é indicativa Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em frituras/gordura Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de bebida alcoólica Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em fast food Procura o posto ou hospital sentindose mal devido a pressão estar alta Possui uma rotina diária sem exercícios físicos Não tem tempo para realizar atividade física Possui pouco tempo para diversão com os amigos Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão Possui uma alimentação pobre em frutas e verduras Acredita que não precisa mudar o estilo de viver Deixa de tomar os medicamentos quando o posto não os oferece Falta às consultas para tratar a hipertensão Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela Sente dificuldade em tomar os comprimidos, quando são para tomar mais que dois de uma só vez Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 181 Não é indicativa Sente dificuldade em tomar os comprimidos, quando é mais de uma vez ao dia Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada Mantém estilo de vida estressante Baixa participação em grupos de educação em saúde Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde Sente dificuldade em conversar com o Dr(a) Faltam medicamentos no posto de saúde Frequentemete sente que é mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas O clima ambiental (quente, frio, chuva, etc.) atrapalha a realização de atividade física Dificuldade de chegar no posto (translado, transporte) leva a faltas nas consulta Insatisfação com o ambiente físico (infra estrutura) da unidade de saúde leva a falta às consultas A distância da moradia para o posto de saúde leva a falta às consultas Enviar Muito pouco indicativa Consideravelmente indicativa Muitíssimo indicativa 182 Tecnologia Google DocsDenunciar abuso-Termos de Serviço-Termos Adicionais 183 APÊNDICE D VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO 2: INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS Nesta etapa será realizado a avaliação dos itens de acordo com os critérios da psicometria. Avaliação dos itens segundo os critérios da psicometria. A seguir, encontram-se listados os itens do instrumento piloto, constantes das quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, elaborados a partir das definições constitutivas e operacionais, derivadas das variáveis encontradas na literatura, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, você deverá classificar cada item, quanto à sua adequação aos critérios da psicometria propostos por Pasquali (1998), assinalando uma possibilidade de resposta por vez. -1 Para critério não atendido, ou seja, operacionalização do construto em item não adequada 0 Para indecisão quanto à adequação do critério, ou seja, operacionalização do construto em item de algum modo adequada +1 Para critério atendido, ou seja, operacionalização do construto em item adequada Quando você estar bem deixa de tomar a medicação +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão 0 -1 184 +1 0 -1 Modalidade Tipicidade Esquece de tomar o medicamento +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em sal +1 Comportamental Simplicidade Clareza 0 -1 185 +1 0 -1 Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em frituras/gordura +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de bebida alcoólica +1 Comportamental 0 -1 186 +1 0 -1 Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Com o início do tratamento o senhor(a) faz uso de uma alimentação rica em fast food +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Procura o posto ou hospital sentindo-se mal devido a pressão estar alta 187 +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Possui uma rotina diária sem exercícios físicos +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade 0 -1 188 Não tem tempo para realizar atividade física +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Possui pouco tempo para diversão com os amigos +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade 0 -1 189 +1 0 -1 Tipicidade Tem dificuldades quanto às pessoas da sua família ajudarem no tratamento da hipertensão +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Possui uma alimentação pobre em frutas e verduras +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância 0 -1 190 +1 0 -1 Precisão Modalidade Tipicidade Acredita que não precisa mudar o estilo de viver +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Deixa de tomar os medicamentos quando o posto não os oferece +1 Comportamental Simplicidade 0 -1 191 +1 0 -1 Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Falta às consultas para tratar a hipertensão +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Para de tomar a medicação por sentir-se mal com ela +1 0 -1 192 +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Sente dificuldade em tomar os comprimidos, quando são para tomar mais que dois de uma só vez +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade 0 -1 193 +1 0 -1 Tipicidade Sente dificuldade em tomar os comprimidos, quando é mais de uma vez ao dia +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Quando aferida, a Pressão Arterial encontra-se elevada +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância 0 -1 194 +1 0 -1 Precisão Modalidade Tipicidade Mantém estilo de vida estressante +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Baixa participação em grupos de educação em saúde +1 Comportamental Simplicidade 0 -1 195 +1 0 -1 Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Pouco entende as palestras que são oferecidas pela equipe de saúde +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Sente dificuldade em conversar com o Dr(a) +1 0 -1 196 +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Faltam medicamentos no posto de saúde +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade 0 -1 197 Frequentemete sente que é mal atendido na unidade de saúde onde faz acompanhamento +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Falta de um local conveniente para realização de atividades físicas +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade 0 -1 198 +1 0 -1 Tipicidade O clima ambiental (quente, frio, chuva, etc.) atrapalha a realização de atividade física +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade Dificuldade de chegar no posto (translado, transporte) leva a faltas nas consulta +1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância 0 -1 199 +1 0 -1 Precisão Modalidade Tipicidade Insatisfação com o ambiente físico (infra estrutura) da unidade de saúde leva a falta às consultas +1 0 -1 Comportamental Simplicidade Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade A distância da moradia para o posto de saúde leva a falta às consultas +1 Comportamental Simplicidade 0 -1 200 +1 0 -1 Clareza Relevância Precisão Modalidade Tipicidade PENSANDO NO CONJUNTO DE ITENS E SUA RELAÇÃO COM A NAO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS AVALIE A AMPLITUDE +1 0 -1 Amplitude Enviar Tecnologia Google DocsDenunciar abuso-Termos de Serviço-Termos Adicionais 201 APÊNDICE E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado (a): Meu nome é José Wicto Pereira Borges, sou enfermeiro e aluno do Curso de Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará. Estou desenvolvendo uma pesquisa intitulada “Construção e Validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial”, sob a orientação da professora Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. O objetivo geral da pesquisa é validar um instrumento para a avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial no âmbito da atenção primária em saúde. Inicialmente agradecemos a sua concordância em participar do nosso estudo. Sua participação é fundamental em virtude da dificuldade de encontrar experts nessa temática. Sua colaboração envolverá a apreciação e o julgamento da adequação das definições constitutivas e das definições operacionais das dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, bem como avaliará a passagem desses conceitos abstratos para o campo da representação comportamental, ou seja, o da operacionalização do construto em itens. O material respondido poderá ser devolvido via correio ou e-mail. Garanto que as informações obtidas serão utilizadas exclusivamente para a execução desta pesquisa, com garantia do sigilo das respostas. O(a) senhor(a) terá acesso as mesmas caso as solicite. Asseguro ainda que o(a) senhor(a) será informado quanto aos procedimentos e benefícios do estudo, sendo esclarecido possíveis dúvidas que possam ocorrer. Além disso, o(a) senhor(a) tem a liberdade de retirar o seu consentimento a qualquer momento e não participar do estudo sem qualquer prejuízo. Solicitamos sua colaboração para que nos envie o material analisado de volta em um período máximo de 30 dias, pois os resultados desta etapa serão essenciais para a execução da validação empírica. Para contato que se façam necessários, informamos-lhe meu nome e da minha orientadora, números de telefone, endereços postais e eletrônicos. Nome do pesquisador: José Wicto Pereira Borges Endereço:Praça Cel Borges, n50, Apto 401, Floriano - PI Telefone: (85) 85021956/(89)99173916; E-mail: [email protected] Nome da orientadora: Thereza Maria Magalhães Moreira Telefone: 31019806 Esse estudo encontra-se agregado ao projeto de Tese "Adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica: desenvolvimento de um instrumento avaliativo com base na Teoria da Resposta ao Item (TRI)", da Doutoranda Malvina Thais Pacheco Rodrigues, sob a orientação da Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. O referido projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE sob parecer 11517971-2. Se julgar conveniente, outro contato poderá ser feito com o Comitê de Ética em Pesquisa – (085) 31019890. Considero sua colaboração muito valiosa, pelo que agradeço seu aceite quanto ao convite formulado. CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Declaro que após esclarecido (a) pela pesquisadora e tendo entendido o que me foi explicado concordo em participar da Pesquisa que tem como título: “Construção e Validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial”. Fortaleza, CE de 06 de Abril de 2012. ______________________________________________________________ Assinatura do(a) especialista ______________________________________________________________ Assinatura do pesquisador _______________________________________________________________ Assinatura da orientadora 202 APÊNDICE F ADEQUAÇÕES - INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA NÃO ADESÃO AO TRATAMENTO DA HAS VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO DAS DIMENSÕES, DEFINIÇÕES OPERACIONAIS E ITENS QUE OBTIVERAM INDICES DE VALIDADE DE CONTEÚDO (IVC) PASSÍVEIS DE REAVALIAÇÃO *Obrigatório Definições constitutivas A seguir, as definições constitutivas das dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial que foram reelaboradas de acordo com as variáveis encontradas na literatura, e com a avaliação dos especialistas, encontram-se listadas, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, seja assinalada a opção mais adequada sobre a adequação das definições constitutivas e o traço latente não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Desse modo, as opções são: Não é indicativa, Muito pouco indicativa; Consideravelmente indicativa; e Muitíssimo indicativa, que valem respectivamente 1, 2, 3 e 4 pontos. Validação da subdimensão biológica e dimensão ambiente* Não é indicativo Sub dimensão Biológica: Variáveis intrinsecamente relacionadas ao organismo, associadas a alterações nos níveis pressóricos que devem ser monitorizadas e observadas para o delineamento de ações nos serviços que saúde, quer sejam grupais, educacionais ou individuais. A localização da unidade de saúde, bem como a distância e o translado entre ela e a moradia da pessoa com hipertensão são pouco atraentes para a comunidade adscrita dificultado o bom seguimento terapêutico. Muito pouco indicativo Consideravelmente indicativo Muitíssimo indicativo 203 Validação das definições operacionais: passagem do terreno abstrato para o concreto, ou seja saímos dos conceitos das dimensões e adentramos em cada dimensão, constituindo suas representações empiricas A seguir, as definições operacionais que necessitaram de alterações após a primeira avaliação dos especialistas. Validação das definições eperacionais* Não é indicativo Consumo de bebidas alcoólicas. O tempo de dedicação às atividades de lazer está cada vez mais escasso em detrimento às atividades econômico financeiras da pessoas com hipertensão. A convivência em ambientes com alto nível de estressores, seja em convívio familiar ou comunitário, age sobre a pressão arterial, devendo ser encarados como alvo do tratamento não medicamentoso. Possuir renda familiar com baixo potencial de compra que dificulta o acesso a medicamentos, quando estes não são fornecidos pelas unidades de saúde, a alimentação balanceada e a realização de alguns tipos de atividades físicas (natação, hidromassagem, ginástica, etc.). Presença de outras doenças ou condições de saúde, além da hipertensão arterial, demandando também o aumento do número de medicamentos prescritos, dos efeitos colaterais dessas drogas e do suporte de cuidado. Alto nível de estresse emocional percebido. Utilização de práticas alternativas de saúde e medicina complementar como substituição total ao tratamento convencional. Muito pouco indicativo Consideravelmente indicativo Muitíssimo indicativo 204 Não é indicativo Muito pouco indicativo Consideravelmente indicativo Muitíssimo indicativo O sujeito com hipertensão percebe que o profissional de saúde não esboça confiança nas falas e atitudes dele (pessoa com hipertensão). Insatisfação com as instalações do serviço de saúde, sua logística de organização, acarreta em desmotivação para a frequência e assiduidade neste ambiente. Falta de local adequado, estruturado e com instrutor para realização de atividade física, torna essa atividade pouco atraente para as pessoas com hipertensão. Operacionalização do construto em itens: trata-se da passagem do campo teórico para o operacional, cada item consiste na execussão de um comportamento. Validação das readequações dos itens* Não é indicativo Procura com frequência a unidade de saúde porque sua pressão arterial está alta? Quando aferida, sua Pressão Arterial encontra-se elevada? Entende pouco as palestras oferecidas pela equipe de saúde? Sente dificuldades em conversar com os profissionais de saúde que o atendem? Falta local conveniente para realização de atividades físicas? A dificuldade de chegar à unidade de saúde (translado, transporte) o leva a faltar às consultas? Muito pouco indicativo Consideravelmente indicativo Muitíssimo indicativo 205 Avaliação dos itens segundo os critérios da psicometria. A seguir, encontram-se listados os itens do instrumento piloto, constantes das quatro dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, elaborados a partir das definições constitutivas e operacionais, derivadas das variáveis encontradas na literatura, para que de acordo com seu conhecimento e experiência, você deverá classificar cada item, quanto à sua adequação aos critérios da psicometria propostos por Pasquali (1998), assinalando uma possibilidade de resposta por vez. -1 Para critério não atendido, ou seja, operacionalização do construto em item não adequada 0 Para indecisão quanto à adequação do critério, ou seja, operacionalização do construto em item de algum modo adequada +1 Para critério atendido, ou seja, operacionalização do construto em item adequada Com o início do tratamento faz uso de alimentação rica em sal?* +1 0 -1 Clareza Com o início do tratamento faz uso de alimentação como pizzas, sanduíches, pastéis, batatas fritas, salgadinhos em geral, empanados?* +1 0 -1 Simplicidade Clareza Modalidade Sente dificuldades para tomar a medicação ao ter que ingerir mais que dois comprimidos de uma só vez?* +1 Simplicidade Clareza 0 -1 206 Sente dificuldades em controlar os níveis de estresse diários aos quais é exposto?* +1 0 -1 Simplicidade Clareza Faltam medicamentos na sua unidade de saúde?* +1 0 -1 Comportamento Enviar Tecnologia Google DocsDenunciar abuso-Termos de Serviço-Termos Adicionais 207 APÊNDICE G INSTRUÇÕES PARA AVALIAÇÃO DOS ESPECIALISTAS 1. Descrição sumária dos objetivos da pesquisa intitulada “Desenvolvimento e validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial”. A finalidade dessa pesquisa é desenvolver e validar um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial no âmbito da atenção primária em saúde. O interesse pelo tema surgiu a partir de uma pesquisa anterior sobre os métodos de avaliação da adesão ao tratamento da hipertensão arterial (BORGES, 2010), que mostrou os limites dos métodos de avaliação da adesão ao tratamento da hipertensão arterial e suas fragilidades despertando-me para a construção de um novo método, para a avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial como uma tecnologia para o trabalho de enfermagem, sendo este, determinante para a qualificação dos cuidados prestados às pessoas com hipertensão acompanhadas na atenção primária em saúde. Vários fatores interferem no processo terapêutico, contribuindo com a não adesão, como o nível socioeconômico, crenças, complexidade do tratamento, valores, aspectos relativos aos serviços de saúde, e o relacionamento profissional-usuário (MOREIRA; ARAÚJO, 2002; SANTA HELENA, 2007). Vallès-Fernandes et al (2009) descreveu quatro grupos de fatores associados ao inadequado controle da pressão: 1º fatores relacionados ao usuário; 2º fatores relacionados ao tratamento; 3º fatores relacionados ao manejo clínico e 4º fatores relacionados aos equipamentos utilizados para verificar a pressão. A realização de um revisão integrativa nos mostrou um cenário multidimensional da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, o qual classificamos em quatro dimensões: Pessoa; Doença/Tratamento; Serviço de Saúde e Ambiente. Ante o exposto, questiona-se: a construção e validação de um instrumento multidimencional para medir a não adesão ao tratamento da hipertensão, enfocando domínios relevantes dessa enfermidade associados ao controle dos níveis pressóricos pode facilitar a detecção e aferição do cumprimento da terapêutica prescrita? 208 Responder a essa pergunta pode impactar positivamente no cuidado clínico de enfermagem à hipertensão arterial, servindo de diretriz para a orientação clínica, seções de educação em saúde e mobilizações comunitárias para a melhoria do serviço de saúde. Portanto, a seguir, indicamos algumas definições fundamentais sobre a linguagem que utilizamos em nosso trabalho para que facilite sua avaliação. Ademais, apresentamos as orientações de preenchimento do instrumento. 2. Conceito de “não adesão” Antes de elucidarmos o conceito de não adesão adotado neste estudo é importante discutirmos os conceitos de “adesão” encontrados na literatura. Considera-se a adesão ao tratamento da hipertensão a medida de coincidência entre o comportamento do usuário e a prescrição do profissional de saúde que envolve medidas farmacológicas e não farmacológicas. Espera-se como resultados o controle da pressão arterial, a redução na incidência ou retardo na ocorrência de complicações cardiovasculares e a melhoria da qualidade de vida (SOUZA, 2008; GUSMÃO et al, 2009). Os termos utilizados para definir adesão e não adesão refletem qual a compreensão que os autores possuem sobre o papel dos atores no processo. Os termos mais utilizados em língua inglesa são compliance, que pode ser traduzido por cumprimento ou obediência, e mais recentemente adherence, traduzido como adesão ou aderência em língua portuguesa. O termo compliance pressupõe um papel passivo do paciente, originário de um paradigma centrado no médico e é mais orientado ao controle. Já o termo adherence identifica uma escolha livre das pessoas que aderem ou não a certas recomendações, denotando uma certa interação colaborativa entre profissional e paciente (SANTA HELENA, 2007; SOUZA, 2008). Compliance é um termo muito criticado, pois permite a interpretação de que o paciente encontra-se numa posição passiva no que tange às decisões a serem tomadas sobre seu tratamento, isto é, na relação profissional de saúde-paciente o poder se encontra com o profissional, que deve assumir a responsabilidade de ditar o tratamento, enquanto, ao paciente cabe apenas se submeter, cumprindo os ditames propostos. Assim o non-compliance (ou desobediência, não cumprimento em língua portuguesa) se coloca como desvio de conduta que deve ser cobrado pelo profissional de saúde (SANTA HELENA, 2007; UNGARI, 2007; SOUZA, 2008). 209 Para Santa Helena (2007) e Santa Helena, Nemes e Eluf-Neto (2008), se do ponto de vista individual o termo compliance remete à responsabilidade por tomar medicamentos para o paciente (resultante de uma relação profissional de saúde-paciente não dialogada, de um único sentido), do ponto de vista coletivo, a proporção de pessoas não obedientes pode expressar um serviço de saúde que também não se abre ao diálogo e às opiniões dos pacientes. Assim, a Organização Mundial da Saúde recomenda o uso do termo adherence (adesão), que coloca o paciente como partícipe do processo de cuidar de sua saúde, isto é, o paciente deve estar de acordo com as propostas terapêuticas dos profissionais de saúde. Há uma ampliação do universo da relação profissional de saúde-paciente para a qualidade do serviço prestado (WHO, 2003). Ante o exposto utilizaremos nesse trabalho o termo não adesão, sendo a tradução em português do termo no adherence. Assim, o conceito adotado como norteador para a construção do instrumento desse estudo é o de Oliveira (2011) que define a não adesão ao tratamento como: “Comportamento intencional ou não intencional do indivíduo que não coincide parcial ou totalmente com um plano de promoção da saúde ou terapêutico e com as recomendações tomadas por meio de decisões partilhadas e acordadas entre profissional de saúde/equipe de saúde multidisciplinar e o indivíduo, família e/ou comunidade, incluindo dificuldade com tratamento medicamentoso, não medicamentoso e não comparecimento às atividades nos serviços de saúde (consultas, atendimentos grupais), que pode levar a resultados clinicamente não efetivos ou parcialmente efetivos”. (p.107). 3. Construção de instrumentos de medida O referencial teórico a ser usado nesta pesquisa se fará pela Psicometria. Trata-se de um ramo da psicologia, que fundamenta medidas em ciências sociais, e é a base epistemológica da elaboração de instrumentos psicológicos de uso comum necessários às pesquisas científicas. Como fonte da Psicometria, utilizaremos as obras do teórico Luiz Pasquali. A psicometria estabelece o percurso metodológico necessário para se obter um instrumento revestido de qualidades métricas válidas para o que se espera. A construção de um instrumento de medida é um grande desafio (PASQUALI, 2003). Como a psicologia tem como objeto de estudo processos comportamentais e psíquicos, a psicometria versa sobre a medida desses processos. Desse modo, como a não adesão ao tratamento da hipertensão arterial é, essencialmente, um processo comportamental, deseja-se 210 com essa pesquisa desenvolver um teste para aferir a medida de não adesão ao tratamento nessa enfermidade, justificando o uso da Psicometria nesse trabalho. A criação de um instrumento válido implica rigor metodológico, etapas bem definidas e procedimentos precisos (MARTIN ARRIBAS, 2004). O modelo proposto por Pasquali baseia-se em três grandes pólos: procedimentos teóricos, procedimentos empíricos (experimentais) e procedimentos analíticos (estatísticos) (PASQUALI, 1998; 1999; 2003). O pólo teórico na elaboração de instrumentos psicológicos de medida enfoca a questão da teoria que deve fundamentar qualquer empreendimento científico. No caso, a explicitação da teoria sobre o construto ou objeto psicológico para o qual se quer desenvolver um instrumento de medida, bem como a operacionalização do construto em itens. Esse pólo explicita a teoria do traço latente, bem como os tipos, categorias e comportamentos que constituem uma representação adequada do mesmo traço. Os procedimentos teóricos devem ser elaborados para cada instrumento, dependendo da literatura existente sobre o construto que o instrumento pretende medir (PASQUALI, 2003). O conceito de traço latente vem referido ou inferido como variável hipotética, variável fonte, construto, conceito, atitudes e outros. Como as estruturas latentes são atributos impérvios à observação empírica, então o traço latente precisa ser expresso em comportamentos para ser cientificamente abordado. Postula-se que, ao operar sobre o sistema comportamento, está se operando sobre o traço latente. A assim, à medida que se faz ao nível comportamental é a medida dos traços latentes (PASQUALI, 2003). O parâmetro fundamental da medida psicométrica (escalas, testes) é a demonstração da adequação da representação, isto é, a demonstração do isomorfismo entre a ordenação nos procedimentos empíricos e a ordenação nos procedimentos teóricos do traço latente (PASQUALI, 1999). Significa mostrar que a operacionalização do atributo latente em comportamentos (itens) de fato corresponde a esse atributo. Esta demonstração é tipicamente tentada pelas análises estatísticas dos itens individualmente e do teste como um todo (PASQUALI, 2007). Este teorizar implica em resolver algumas questões básicas que permitem enveredar para a construção adequada de um instrumento de medida dos construtos, assim elaborados. Especificamente, precisa-se estabelecer a dimensionalidade do construto, defini-lo constitutiva e operacionalmente e, ao final, operacionalizá-lo em tarefas comportamentais (PASQUALI, 1998). Este é o passo da construção dos itens, que são a expressão da 211 representação comportamental do construto, a saber: as tarefas (os itens do instrumento) que as pessoas deverão executar para que se possa avaliar a magnitude de presença do construto (atributo) (PRIETO; BADIA, 2001; MARTIN ARRIBAS, 2004). Operacionalizado o construto pelos itens, chega-se à hipótese de que estes representam adequadamente o construto não adesão ao tratamento da HAS. Essa será a versão da hipótese a ser testada. Contudo, é importante avaliar tal hipótese em relação à opinião de outros para ssegurar que ela apresenta garantias de validade. Essa avaliação ou análise da hipótese (análise dos itens) é feita por juízes e que avaliam a pertinência dos itens ao construto que representam (propriamente chamada de análise dos juízes) (PASQUALI 1998). A análise semântica tem como objetivo precípuo verificar se todos os itens são compreensíveis para todos os membros da população à qual o instrumento se destina. Nela, duas preocupações são relevantes: verificar se os itens são inteligíveis para o estrato mais baixo (de habilidade) da população-meta e, por isso, a amostra para essa análise deve ser feita com esse estrato; segundo, para evitar deselegância na formulação dos itens, a análise semântica deverá ser feita também com uma amostra mais sofisticada (de maior habilidade) da população-meta (para garantir a chamada "validade aparente" do teste). A população-meta é a população para a qual o item está sendo desenvolvido e à qual ele será aplicado para validação e posterior uso (HALFOUN; AGUIAR; MATTOS, 2008). A análise dos juízes, procura verificar a adequação da representação comportamental do(s) atributo(s) latente(s). Nessa análise, os juízes devem ser peritos na área do construto, pois sua tarefa consiste em ajuizar se os itens estão se referindo ou não ao traço latente em questão (BALAN, 2008). 4. Critérios a serem considerados na adequação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens do instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial Quadro 2. Critérios de avaliação das definições constitutivas, definições operacionais e operacionalização do construto em itens. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens NÃO é indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é 212 MUITO POUCO indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é CONSIDERAVELMENTE indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. As definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens é MUITÍSSIMA(O) indicativa(o) da Não adesão ao tratamento da hipertensão arterial. A pontuação que será revertida para cada atributo listado no Quadro 2 será: Quadro 3. Pontuação sobre os critérios de avaliação das definições constitutivas, operacionais e operacionalização do construto em itens. Pontuação Critério 1 Não é indicativa 2 Muito pouco indicativa 3 Consideravelmente indicativa 4 Muitíssimo indicativa 5. Critérios a serem considerados na avaliação dos itens conforme Pasquali A avaliação dos juízes se realizará com base nos critérios para construção de itens desenvolvido por Pasquali (1998). Os juízes avaliarão os itens seguindo os critérios listados no Quadro 01 tais critérios são fundamentais para elaboração adequada dos itens. Quadro 04: Critérios para a elaboração de itens. Critérios para a construção dos itens: Critério comportamental O item deve expressar um comportamento, não uma abstração ou construto. Deve poder permitir à pessoa uma ação clara e precisa, de sorte que se possa dizer a ela “vá e faça” Critério da simplicidade Um item deve expressar uma única idéia. Itens que introduzem explicações de termos ou oferecem razões ou justificativas são normalmente confusos porque introduzem idéias variadas e confundem o respondente. Critério da clareza Deve ser inteligível até para o estrato mais baixo da população-meta; utilizar frases curtas, com expressões simples e inequívocas. Frases longas e negativas incorrem facilmente na falta de clareza. O linguajar típico da população-meta deve ser utilizado na formulação dos itens. Assim, são admissíveis e mais apropriadas expressões conhecidas por tal população, 213 ainda que elas possam parecer lingüisticamente menos castiças. A preocupação aqui é a compreensão das frases (que representam tarefas a serem entendidas e se possível resolvidas), não sua elegância artística. Critério da relevância Pertinência, saturação, unidimensionalidade, correspondência: a expressão (frase) deve ser consistente com o traço (atributo, fator, propriedade psicológica) definido e com as outras frases que cobrem o mesmo atributo. Isto é, o item não deve insinuar atributo diferente do definido, o item deve expressar o atributo que realmente deseja medir. Critério da precisão O item deve possuir uma posição definida no contínuo do atributo e ser distinto dos demais itens que cobrem o mesmo contínuo. O item deve ser útil na medida do atributo. Critério da modalidade Formular frases com expressões de reação modal, isto é, não utilizar expressões extremadas, como excelente, miserável, etc. A intensidade da reação da pessoa é dada na escala de resposta. Se o próprio item já vem apresentado em forma extremada, a resposta na escala de respostas já está viciada. Critério da tipicidade Formar frases com expressões condizentes (típicas, próprias, inerentes) com o atributo. Critérios referentes ao conjunto dos itens (o instrumento todo) Critério da amplitude Este critério afirma que o conjunto dos itens referentes ao mesmo atributo deve cobrir toda a extensão de magnitude do contínuo desse atributo. Fonte Pasquali (1998). Com base nesses critérios você deverá avaliará os itens. Para tanto, considere cada critério de adequação antes exposto (comportamental, simplicidade, clareza, relevância, precisão, tipicidade, amplitude) para cada determinante e atribua uma nota: -1 Para critério não atendido, ou seja, operacionalização do construto em item não adequada 0 Para indecisão quanto à adequação do critério, ou seja, operacionalização do construto em item de algum modo adequada +1 Para critério atendido, ou seja, operacionalização do construto em item adequada 6. Prazo Como esta etapa é essencial para o desenvolvimento do nosso estudo, o qual se torna inviável sem a sua contribuição, solicitamos que nos envie o instrumento preenchido em um prazo máximo de 30 dias para que os resultados das avaliações sejam analisados e, assim, seja possível a execução da próxima fase. Esta devolução pode ser feita por resposta eletrônica, por meio postal (Correios). A devolução do Termo de Consentimento Livre e 214 Esclarecido assinado também poderá ser por via eletrônica (digitalizado) ou por meio postal. Caso escolha a via postal será enviado um envelope previamente selado e endereçado para que, em seguida, ser devolvido assinado, conforme acordado anteriormente, na carta-convite. 7. Referências BALAN, M.A.J. Construção de um questionário para análise do conhecimento Sobre o atendimento inicial ao queimado. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade Estadual de Maringá. Maringá, PR, 2008. BORGES, J.W.P. Métodos de avaliação da adesão ao tratamento da hipertensão arterial: uma revisão integrativa da literatura. 2010. 70f. Monografia (Especialização em Enfermagem Clínica) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2010. GUSMÃO JL., GINANI GF; SILVA GV; ORTEGA KC; et al. Adesão ao tratamento em hipertensão arterial sistólica isolada. Rev. Bras Hipertens, v.16, n.1, p. 38-43, 2009. HALFOUN, V.L.R.C; AGUIAR, O.B; MATTOS, D.S. Construção de um instrumento de avaliação de satisfação da Atenção Básica nos Centros Municipais do Rio de Janeiro. Rev. Bra Educ Medica, v.32, n.4, p.424-43, 2008. MARTIN ARRIBAS, M.C. Diseño y validación de cuestionarios. Matronas Profesion, v.5, n.17, s/p, 2004. MOREIRA, TMM; ARAÚJO, TL. O modelo conceitual de Sistemas Abertos Interatuantes e a Teoria de Alcance de Metas de Imogene King. Rev. Latino -Am. Enfermagem, v.10, n.1, p. 97 -107, 2002. OLIVEIRA, CJ. Revisão do diagnóstico de enfermagem “Falta de Adesão” em pessoas com hipertensão arterial. Tese (Doutorado) - . Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza-CE, 2011. PASQUALI, L. (Org.). Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. 1 ed. Brasília, DF: Universidade de Brasília, v.141, p. 188-188, 1999 PASQUALI, L. Princípios de elaboração de escalas psicológicas. Revista de Psiquiatria Clínica, Rio de Janeiro, v. 25, n. 5, p. 206-213, 1998. PASQUALI, L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. 1. ed. v.1. Petrópolis: Vozes, 2003. PASQUALI, L. Validade dos testes psicológicos: será possível reencontrar o caminho? Psic. Teor. e Pesq, Brasília, DF, v. 23, Número especial, p. 99-107, 2007. PRIETO, L.; BADIA, X. Cuestionarios de salud: concepto y metodología. Atención Primaria, v.28, n.3, p. 201-09, 2001. 215 SANTA HELENA, E.T. Adesão ao tratamento farmacológico de usuários com hipertensão arterial em unidades de saúde da família em Blimenau, SC. Tese (Doutorado em Ciências) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. SANTA HELENA, E.T; NEMES, M.I.B; ELUF-NETO, J. Desenvolvimento e validação de questionário multidimensional para medir não-adesão ao tratamento com medicamentos. Rev Saúde Pública, v.42, n.4, p. 764-7, 2008. SOUZA, W.A. Avaliação da adesão ao tratamento e dos resultados clínicos e humanísticos na investigação da hipertensão arterial resistente, Tese (Doutorado) Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP: 2008. UNGARI, AQ. Adesão ao tratamento farmacológico de pacientes hipertensos seguidos nos núcleos de saúde da família do município de Ribeirão Preto, SP. Universidade de São Paulo, [dissertação] Mestrado em Ciências Médicas. Ribeirão Preto, 2007. VALLÉS-FERNANDEZ, R. A quality improvement plan for hypertension control: the INCOTECA Project (INterventions for COntrol of hyperTEnsion in CAtalonia). BMC Public Health, v. 9, n. 89, [on line] 2009. Acesso [Ago 2011]. Disponível em: [http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2676268/] WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Adherence to long term therapies: evidence for action. WHO, Geneva, 2003. 216 APÊNDICE H CARTA-CONVITE Fortaleza, 06 de abril de 2012. Prezada/o Dr(a)., Meu nome é José Wicto Pereira Borges, sou mestrando do Curso de Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em Saúde da Universidade Estadual do Ceará. Estou desenvolvendo o projeto de pesquisa intitulado “Construção e Validação de um instrumento de avaliação da não adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial”, sob a orientação da Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. Solicitamos por meio desta, a sua colaboração como especialista em hipertensão arterial. Sua colaboração envolverá a apreciação e o julgamento da adequação das definições constitutivas e das definições operacionais das dimensões da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial, bem como avaliará a passagem desses conceitos abstratos para o campo da representação comportamental, ou seja, o da operacionalização do construto em itens. Caso deseje participar, pedimos que responda este e-mail o mais rápido possível, expressando o veículo de comunicação de sua preferência (e-mail ou correspondência convencional). Caso manifeste a sua concordância, enviaremos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, as instruções para o preenchimento do instrumento e o link do instrumento propriamente dito. Caso opte pela correspondência convencional, solicitamos ainda que nos remeta seu endereço postal completo e atualizado para o envio do material acima descrito. Esclareço que esse estudo encontra-se agregado ao projeto de Tese "Adesão ao tratamento da Hipertensão Arterial Sistêmica: desenvolvimento de um instrumento avaliativo com base na Teoria da Resposta ao Item (TRI)", da Doutoranda Malvina Thais Pacheco Rodrigues, sob a orientação da Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira. O referido projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE sob parecer 11517971-2. Gostaríamos, se possível, que você indicasse mais especialistas nesta área que possam colaborar com nosso trabalho. Aguardamos sua resposta e, desde já, agradecemos o seu valioso apoio, oportunidade em que me coloco à sua disposição para qualquer esclarecimento. Atenciosamente, José Wicto Pereira Borges [email protected] 217 ANEXO A