o coração do faraó um estudo das narrativas sobre as dez

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Anais do V Congresso da ANPTECRE
“Religião, Direitos Humanos e Laicidade”
ISSN:2175-9685
Licenciado sob uma Licença
Creative Commons
O CORAÇÃO DO FARAÓ
UM ESTUDO DAS NARRATIVAS SOBRE AS DEZ PRAGAS (EX 7–12*)
Fernando Gross
Pós-graduação em Cultura Judaico-Cristã, História e Teologia.
Centro Cristão de Estudos Judaicos, CCEJ, Brasil
[email protected]
ST 15 – CIÊNCIAS BÍBLICAS: TEORIA E PRÁTICA
Resumo: A comunicação aqui apresentada se propõe a insistir numa leitura mais exata de Ex
7–12*, focando, especificamente, o motivo literário e histórico-teológico do coração do faraó.
Prevê-se o estudo de um motivo – no caso, do motivo do coração do faraó – que perpassa o
conjunto das dez narrativas sobre as pragas sofridas pelo faraó e pelo povo dele, sendo que
esse motivo ganha presença no final de todas as histórias aqui mencionadas. Observa-se,
portanto, que a história o êxodo, nas narrativas das dez pragas, olha para o coração do faraó de
três maneiras. Inicialmente, é dito que o coração do faraó se tornou duro, pesado ou
endurecido. Ou seja, nas frases sobre o coração do faraó, o coração é trabalhado como sujeito.
Mais para frente, por sua vez, as narrativas das dez pragas se expressam de forma diferente.
Agora é dito que o faraó endureceu o seu coração. Quer dizer, muda o sujeito nas formulações.
Foca-se a atuação do faraó. Ele se torna sujeito. Ele age. No final, porém, ocorre outra
mudança ao contemplar o coração do faraó. Agora se formula que o SENHOR, Deus de Israel,
endureceu o coração do faraó.
Uma leitura mais objetiva dos textos bíblicos é possível,
mas metodologicamente exigente. No caso, após ter estabelecido o texto hebraico
provavelmente mais original (crítica textual), se impõem estudos literários, observando-se os
diversos elementos estilísticos, as linguagens próprias e os gêneros literários. Além disso, são
necessárias pesquisas histórico-geográficas, uma vez que o ouvinte-leitor das tradições
bíblicas, inevitavelmente, vai ao encontro da cultura do antigo Israel e do Oriente Próximo. No
final, será possível descrever, de forma mais exata, a reflexão teológica promovida pela Bíblia,
descrevendo o que, neste caso, os textos veterotestamentários pensam sobre Deus, o homem
e a sociedade. guardando-se o princípio da sensibilidade literária e fugindo do perigo dos
anacronismos. O que podemos hoje aprender ou não com o coração do faraó e com o agir de
Deus?
Palavras-chave: Tradições bíblicas; O Coração do faraó; As pragas do Egito.
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1505
Introdução
Na primeira parte da história do êxodo (Ex 1,1–13,16), narrando-se a estada dos
filhos de Israel no Egito, o personagem do faraó recebe maior atenção. Isso vale ainda
para a segunda parte da narrativa do êxodo, quando é apresentada a saída dos
hebreus das terras do rio Nilo (Ex 13,17–15,21). É, pois, no Mar dos Juncos que a
história do rei do Egito chega a seu fim (Ex 14,28; 15,4).1 Contudo, ao acompanhar o
que está sendo dito sobre o faraó, um elemento ganha maior destaque. Repetidamente,
a história do êxodo foca o coração do rei do Egito. Levando em consideração que, nas
culturas do antigo Egito e também do antigo Israel, existe uma ampla reflexão sobre o
coração do homem, o olhar específico das tradições do êxodo para o coração do faraó
chama ainda mais fortemente a atenção do ouvinte-leitor.
Na pesquisa aqui comunicada, o interesse se dirige, sobretudo, ao processo que
envolve o coração do faraó durante as narrativas das pragas (Ex 7–12*). Eis a
organização interna do estudo presente: inicialmente, serão elencadas as notícias
sobre o coração do faraó oferecidas pela narrativa bíblica. Em seguida, será
apresentado um resumo da reflexão antropológico-teológica no que se refere ao
coração nas culturas do antigo Egito e Israel. Finalmente, é preciso acompanhar de
perto as notícias sobre o coração do faraó, a fim de ser compreendido mais exatamente
como o SENHOR, Deus de Israel, age com quem governa o Egito, sendo que este
oprime os hebreus. Justamente aqui há de se enfrentar certo desafio proposto pela
reflexão teológica contida nas tradições do êxodo.
1 - Elenco das notícias sobre o coração do faraó nas narrativas das pragas
A seguinte tabela se propõe a visualizar todas as notícias sobre o coração do
faraó no decorrer das narrativas que apresentam as pragas (Ex 7–12*). O texto bíblico
é apresentado em hebraico e com tradução própria para o português. Além disso, será
observado, de forma pormenorizada, quem é o sujeito que atua. Com isso, será
possível enxergar com, surpreendentemente, ocorrem mudanças de sujeito.
Primeira praga
A transformação das
águas e a morte dos
peixes
13
Ex 7,14-24
14
E o coração do faraó endureceu.
(h[or>P; ble qz:x/y<w:).
Sujeito atuante: o coração do faraó.
E o SENHOR disse a Moisés: “O coração do faraó
ficou/está pesado”
(h[or>P; ble dbeK').
1
Cf. Leonardo Fernandes AGOSTINI; Matthias GRENZER, Êxodo 15,22–18,27, p.209. Veja também Jean
Louis SKA, Introdução à leitura do Pentateuco, p. 42, e Erich ZENGER, Introdução ao Antigo
Testamento, p. 45.
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Sujeito atuante: o coração do faraó.
22
E o coração do faraó endureceu
(h[or>P;-ble qz:x/y<w:).
Sujeito autnaut: o coração do faraó.
23
E (o faraó) também não pôs seu coração nisto
(taOzl'-~G: wOBli tv'-aOlw>).
Sujeito atuante: o faraó.
As rãs
Ex 8,1-11
11
Os mosquitos
Ex 8,12-15
15
As moscas
Ex 8,16-28
28
A peste
Ex 9,1-7
7
As úlceras
Ex 9,9-12
12
A chuva de pedras
Ex 9,13-35
14
(O faraó) tornou seu coração pesado/fez seu coração
pesar (wOBli-ta, dBek.h;w>).
Sujeito atuante: o faraó.
E o coração do faraó endureceu
(h[or>P;-ble qz:x/Y<w:).
otitjuS atuante: o coração do faraó.
E o faraó tornou pesado/fez pesar seu coração
(wOBli-ta< h[or>P; dBek.Y:w:).
Sujeito atuante: o faraó.
O coração do faraó tornou-se pesado
(h[or>P; ble dB;k.YIw:).
nutnaut otitjuS : o coração do faraó.
E o SENHOR endureceu o coração do faraó.
(h[or>P; ble-ta< hwhy qZEx;y>w:).
Sujeito atuante: o SENHOR.
"Porque desta vez sou eu quem envia todas as
minhas pragas ao teu coração"
(^B.li-la, yt;poGEm;-lK'-ta, x:lefoO ynIa])
Sujeito atuante: o SENHOR
35
E o coração do faraó endureceu
(h[or>P; ble qz:x/Y<w:).
Sujeito atuante: o coração do faraó
Os gafanhotos
20
O SENHOR endureceu o coração do faraó
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Ex 10,1-20
(h[or>P; ble-ta< hwhy qZEx;y>w:).
Sujeito atuante: o SENHOR
As trevas
Ex 10,21-29
27
A morte dos
primogênitos
Ex 11,1-10; 12,29-42
10
O SENHOR endureceu o coração do faraó.
(h[or>P; ble-ta< hwhy qZEx;y>w:).
Sujeito atuante: o SENHOR.
O SENHOR endureceu o coração do faraó.
(h[or>P; ble-ta< hwhy qZEx;y>w:).
Sujeito atuante: o SENHOR.
2 - Estudo histórico-cultural da metáfora do coração
O que representa o coração nas duas culturas dos povos que se confrontam na
história do êxodo? Imagina-se no Egito que o coração do morto sofra uma pesagem,
sendo ele colocado sobre um dos dois pratos de uma balança, enquanto fica na ‘Sala
da Justiça Plena’; ali, pois, o tribunal divino tem sua sede, estando em contato o
submundo e o além. No caso, o prato da balança com o coração do morto fica sob a
vigilância de Anúbis e Tot, o deus-escriba. “Para os egípcios, o coração é o centro real
da personalidade, o assento da razão, da vontade e da consciência moral”. 2
No outro prato da balança se encontra uma pluma, símbolo de Maât, a ordem
divina. Se os dois pratos se equilibrarem, o defunto será absolvido. Todos temem esse
momento, pois, ao lado da balança, está presente a grande devoradora, um monstro
híbrido de crocodilo, pantera e hipopótamo, pronto para devorar o defunto, caso o
coração dele estiver endurecido e pesado. “Esse seria o pior dos castigos imagináveis,
o aniquilamento total, a morte absoluta sem esperança de ressurreição”. 3
Já em Israel, o coração é visto como órgão que, de um lado, possibilita a
mobilidade de todos os demais membros do corpo. Trata-se, portanto, do órgão no
interior do corpo humano que oferece vitalidade à pessoa. De outro lado, por sua vez, o
coração, sendo ele inescrutável e inacessível, é contemplado como lugar onde ocorrem
as decisões mais importantes. É aqui que se tem a sede da razão. O homem raciocina
com ou em seu coração, sendo que Deus conhece os segredos do coração humano (Sl
44,22). No mais, o coração é a sede das disposições do homem, ou seja, de ânimo e
alegria, onde se processam também a coragem e o medo numa situação marcada pela
aflição. Assim, o coração pode cair em desânimo (1Sm 17,32) ou se levantar em
orgulho (Dt 8,14). Todavia, ao meditar o coração como sede das funções intelectuais e
racionais do homem, “o coração deixa de cumprir a sua função mais própria quando,
obstinado, se nega à compreensão”.4
3 Estudo teológico do que acontece com o coração do faraó
2
Rose-Marie & Rainer HAGEN. Egito. Pessoas, deuses, faraós, p. 167.
Rose-Marie & Rainer HAGEN. Egito. Pessoas, deuses, faraós, p. 166.
4
Hans Walter WOLFF. A Antropologia do Antigo Testamento, p. 89.
3
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1505
Ao acompanhar as narrativas sobre as dez pragas sofridas pelos egípcios (Ex 7–
12*), é interessante observar o que é pensado mais exatamente sobre o coração do
faraó. Este, pois, está presente em cada uma das dez narrativas. Percebe-se, pois, um
processo surpreendente, ou seja, um avanço no que está pensado sobre o coração de
quem governa o Egito e insiste na opressão dos filhos de Israel.
As primeiras notícias são formuladas de forma que o coração do faraó é
apresentado como sujeito atuante. É dito que o coração do faraó endureceu (Ex
7,13.22) ou se tornou pesado (Ex 7,14). Essa mesma perspectiva, mais para frente,
pode ser adotada novamente pelas narrativas sobre as dez pragas (Ex 8,15; 9,7.35).
Quer dizer, foca-se, com essas notícias, mais especificamente o órgão do coração do
faraó. De certo, este último é de fundamental importância e amplamente representativo.
No entanto, é uma parte do faraó.
Observando, por sua vez, as outras notícias dadas pelas narrativas sobre as dez
pragas, percebe-se duas interessantes mudanças no que se refere ao sujeito atuante.
Em vez de falar do coração do faraó como órgão que sofre mudanças, os textos
insistem, de repente, no próprio faraó como aquele que mexe com o seu coração.
Assim sendo, se diz que o faraó não pôs o seu coração no que estava acontecendo (Ex
7,23) ou que o faraó tornou seu coração pesado, respectivamente, fez o seu coração
pesar (Ex 8,11.28).
A maior mudança, por sua vez, ocorre quando as pragas promovem uma
mudança de sujeito maior. Mais para o final das narrativas sobre as pragas, pois, o
SENHOR, Deus Israel, é apresentado como quem endurece o coração do faraó (Ex
9,12; 10,20.27; 11,10). Além disso, formula-se que o SENHOR teria enviado todas as
pragas ao coração do faraó (Ex 9,14). Teologicamente, essas últimas notícias sobre o
coração do faraó, destacando como sujeito atuante o próprio SENHOR, Deus de Israel,
como quem influencia aparentemente de forma negativa ou até desastrosa o coração
do faraó, se tornam um desafio grande para a compreensão do ouvinte-leitor das
narrativas sobre as dez pragas.
Isso pode ser verificado também quando se acompanha a ‘Tradição Oral’ dos
sábios de Israel, os quais, ao longo dos séculos, igualmente procuraram pelo sentido do
texto bíblico. Estes se perguntam, sobretudo, se Deus teria retirado o livre-arbítrio do
faraó, como se pode ter a impressão quando se leem as narrativas sobre as pragas.
Sejam verificados alguns comentários dos sábios de Israel:
Comentário de RASHI (Chumash – comentário clássico do sábio judeu francês, no
século XII):
“E eu endurecerei (Ex 7,3) Rashi diz sobre este versículo: Sendo que se
comportou mal e com disputa contra mim, e está revelado diante de mim que as nações
não gostam de dar seu coração por completo para se arrepender (das suas más
ações), é melhor que endureça seu coração (do faraó), para que possa multiplicar nele
os meus sinais, e reconheçam a minha força (...) E apesar disto, nas cinco primeiras
pragas não está dito: ‘e D’us endureceu o coração do faraó’, senão: ‘e endureceu-se o
coração do faráo’ (Tanhuma) ”5
5
Comentário de Rashi sobre o Livro de Shemot (Êxodo) – CHUMASH. Tel Aviv, p: 29
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Comentário de SHEMOT RABBAH 13,4:
“Cale-se a boca dos heréticos! Mas, ‘no que se refere aos escarnecedores, Ele
os despreza’ (Pr 3,34). O Santo espera o homem uma vez, duas vezes, e, em seguida,
uma terceira vez, não mais. Ele fecha o seu coração para o arrependimento, a fim de
puni-lo exatamente por causa do seu pecado. Assim também aconteceu com o ímpio
faraó. O Santo lhe deu cinco chances, mas ele não prestou atenção a isso. Diante
disso, o Santo lhe disse: Eu vou endurecer o teu pescoço e endurecer o teu coração.
Eis que devo adicionar ainda mais profanação a sua própria contaminação” 6
Comentário de RAMBAM MAIMÔNIDES no Código do Judaísmo (Mishneh Torah 5,23):
“Assim sendo poderia Deus privar o faraó do poder do arrependimento, do livre
arbítrio? Mas um olhar mais atento esclarece a questão. A decisão final está sempre na
decisão do ser humano. No início, porém, o ser humano é livre para escolher qualquer
caminho que ele deseje. A ele é oferecido a igual oportunidade para fazer o bem ou o
mal. Mas em seguida, tão logo ele tenha feito sua primeira escolha, então as
oportunidades que estão diante dele já não são tão mais equilibradas. Quanto mais
persista ele no primeiro caminho de sua escolha, diríamos, o caminho do mal, mais
duro será para ele reverter essa situação para o bom caminho, mesmo que pense que
sua liberdade de escolha na essência não tenha sido afetada. Em outras palavras, não
foi o Todo-Poderoso que dificultou a sua liberdade, e colocou obstáculos para o
caminho do arrependimento.
Foi ele próprio, por sua própria escolha e persistência
no mau caminho, que colocou os obstáculos que impedem o seu caminho de volta...” 7
Ao continuar a refletir sobre o livre arbítrio do faraó, sendo que este se manifesta,
por excelência, no que está sendo pensado pelo rei do Egito, ou seja, no que se passa
no coração dele, há de se observar primeiramente que é ele mesmo quem favorece ou
causa o endurecimento de seu coração, no sentido de torná-lo pesado. Quer dizer,
durante um bom tempo, o faraó é o sujeito atuante em relação ao seu coração. Nada
lhe é diretamente imposto por parte do SENHOR, Deus de Israel. É o faraó que decide.
Contudo, surge a impressão de que o faraó, com a sua insistência num raciocínio
duro e pesado em relação à proposta de os israelitas saírem do Egito, entre numa
dinâmica de ele causar, cada vez mais, abrangentes catástrofes para si mesmo e para
o seu povo. Com isso, por sua vez, nasce outra possibilidade de se realizar o projeto do
êxodo. Na impossibilidade de o faraó aceitar esse projeto, por raciocinar e descobrir a
necessidade de os israelitas como oprimidos recuperarem a sua liberdade, pondo o seu
coração no que deveria pô-lo, sobra o caminho de conseguir o almejado através de
acontecimentos catastróficos, sendo que estes podem derrubar aquele que endurece o
seu coração. Ou, com outras palavras, caso o convite à conversão for rejeitado, Deus
pode permitir que o opressor, através de sua falta de compreensão, se autodestrua.
Enfim, justamente dessa forma, o SENHOR, Deus de Israel, respeita mais uma
vez o livro arbítrio da pessoa.
Alias, esse processo pode ser experimentado ainda hoje. “Todos os homens
perversos agem como o faraó. Quando Deus lhes envia um castigo, prometem
melhorar. Mas quando termina o sofrimento, se esquecem por completo da decisão de
6
7
Veja o texto em: Nehama Leibowitz, Studies em Shemot, p.159.
Nehama Leibowitz, Studies em Shemot, p.156.
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serem bons e se arrependerem. Esta é a lição do faraó: como não devemos agir!”8
Semelhantemente, Anselm Grün se refere a mesma questão: “É assim que as pragas
do Egito mostram que nossa vida está sempre em mutação. Se não nos deixamos
transformar por Deus, então nossa vida tomará o caminho da ruína e todas as forças de
nossa alma se voltarão contra nós. Nas pragas do Egito, a Bíblia nos mostra como um
homem pode se tornar mau e doente. Assim a Bíblia quer nos convidar a tomar o
caminho da mudança que Deus pensou para nós. É o caminho para a vida e para a
liberdade, para a luz e para a beleza”.9
Resumindo: A história do êxodo apresenta o SENHOR, Deus de Israel, como
não disposto a negociar a liberdade dos oprimidos, no caso, dos filhos de Israel. O
opressor não é permitido a insistir, de forma definitiva, na opressão dos que subjugou
ao seu poder. Pelo contrário, o faraó há de pôr seu coração na liberdade de quem é
oprimido por ele. Caso contrário, ao insistir no endurecimento seu coração, o SENHOR,
Deus dos oprimidos, pode até contribuir com tal endurecimento, sendo que assim se
aproxima a catástrofe e a autodestruição de quem se obstina.
Todavia, ninguém obriga o faraó a endurecer o seu coração. Nem o Deus de
Israel. Os próprios servos conterrâneos do faraó, pois, se tornam o melhor exemplo
disso. Houve egípcios que temeram a palavra do SENHOR e, dessa forma, se
salvaram, sendo que conseguiram também proteger os seus bens no momento da
praga (cf. Ex 9,20). Com isso, surge a pergunta decisiva do profeta: Por que
endureceríeis o vosso coração como o fizeram (alguns) egípcios e o faraó? (1Sm 6,6).
O Deus de Israel, por sua vez, parece até tolerar demais a opção do faraó. Já que este
último insiste, de forma inegociável, na dureza de seu coração, no final, o SENHOR o
ajuda justamente nisso. Contudo, Deus definitivamente não está disposto a negociar a
liberdade de seu povo dos oprimidos. Ou seja: a última palavra a respeito da liberdade
dos miseráveis não pertence ao opressor, mesmo que isso inclua a morte antecipada
de quem oprime.
Referências
AGOSTINI, Leonardo Fernandes; GRENZER, Matthias. Êxodo 15,22–18,27. São
Paulo: Paulinas, 2011.
GROSS, Fernando. O Ciclo de Leituras da Torah na Sinagoga. São Paulo:
Distribuidora Loyola. 2014.
GRÜN, Anselm. Imagens de transformação. Impulsos bíblicos para mudar sua vida.
São Paulo:Vozes, 2007.
HAGEN, Rose-Marie; HAGEN, Rainer. Egito: Pessoas, deuses, faraós. South Korea:
Taschen, 2006.
LEIBOWITZ, Nehama. New Studies in SHEMOT (Exodus). Part I Shemot – Yitro.
Israel: The Jewish Agency, 1996.
SKA, Jean Louis. Introdução à leitura do Pentateuco. São Paulo: Loyola, 2003.
ZENGER, ERICH. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003.
WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos,
2013.
8
9
Fernando GROSS, O ciclo de leituras da Torah na Sinagoga, p. 277.
Anselm GRÜN, Imagens de transformação. Impulsos bíblicos para mudar a sua vida. Editora Vozes
Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST1505
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