AVALIAÇÃO DO POTENCIAL PROBIÓTICO DA COMUNIDADE BACTERIANA PRESENTE NO SISTEMA DE BIOFLOCOS DE ENGORDA DE CAMARÃO Postai, Maiara1; Krüger, Karina Eliza2; Mello, Carlos³; Silva, Bárbara Priscila Pereira4 ; Teixeira, Bruna Letícia5 ; Ferro, Daniel Paulo Damin6;Schleder, Delano Dias7 Instituto Federal Catarinense, Araquari/SC INTRODUÇÃO As enfermidades têm causado grande impacto no cultivo de camarões marinhos no Brasil. Pode-se destacar a Doença da Mancha Branca, que praticamente dizimou a produção catarinense de camarões e vem atingindo, atualmente, vários estados do nordeste brasileiro (COSTA, 2013; CARVALHO FILHO, 2014).Torna-se, portanto, imprescindível o desenvolvimento de alternativas que reduzam o impacto das enfermidades no setor da carcinicultura. Neste sentido, importantes avanços científicos e tecnológicos têm sido observados no desenvolvimento de sistemas de cultivos biosseguros. Dentre os quais o cultivo em sistema de bioflocos (Bio-Floc Technology- BFT) tem se destacado,por se tratar de um sistema de cultivo fechado, que utiliza pouca, ou nenhuma troca de água, e permite uma elevada densidade de camarões por tanque. Que além de reduzir os riscos de contaminação ambiental, causada por efluentes, incrementa a produtividade e a biossegurança das fazendas de cultivo (BURFORD et al., 2004). Em 2013, a fazendaYakult da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), localizada no município de Barra do Sul/SC, e a Fazenda Camanor no Rio Grande do Norte realizaram seus primeiros ciclos de produção em sistema BFT e apresentaram índices de produção expressivos (80-93% de sobrevivência e 15-24ton/ha de produtividade), ambas com 1 Curso de bacharelado em Medicina Veterinária Curso de bacharelado em Medicina Veterinária. 3 Gerente regional Concepto Azul 4 Curso de bacharelado em Medicina Veterinária. 5 Curso Técnico em Informática 6 Técnico em química 7 Docente do Instituto Federal Catarinense – Câmpus Araquari Fomento: edital 045- 2012IFC – CâmpusAraquari – bolsa de iniciação científica 2 históricos de surto de mancha branca (VIEIRA, 2014, comunicação pessoal;CARVALHO FILHO, 2014). O sistema BFT depende significativamente da comunidade bacteriana para manter a estabilidade e a ciclagem dos nutrientes na água (WASIELESKY et al., 2006), sendo imprescindível que os flocos microbianos sejam constituídos por bactérias benéficas ao sistema e aos animais. Para tanto, o desenvolvimento de pesquisas voltadas à avaliação do potencial de micro-organismos isolados do cultivo de camarão em sistema BFT, pode gerar bases para o aprimoramento deste tipo de sistema de cultivo. Face ao exposto, o presente trabalho teve como objetivo contribuir com o desenvolvimento da carcinicultura catarinense através da seleção de bactérias benéficas para o cultivo de camarão marinho em sistema BFT. MATERIAL E MÉTODOS As cepas avaliadas no presente projeto foram isoladas a partir do cultivo de camarões marinhos em sistema BFT realizado na estufa experimental no IFC – campus Araquari, identificadas molecularmente (16sRNAr) e armazenadas em glicerol e TSB (ágar triptona soja) (1:3 v/v) a -20ºC, conforme descrito por Krüger et al. (2013). Primeiramente avaliou-se a capacidade de degradação de matéria orgânica das diferentes cepas identificadas. Para tanto, as cepas foram previamente reativadas em meio TSB (1,5% de NaCl) a 30°C por 24h e em seguida semeadas em seu respectivo ágar seletivo (1,5% de NaCl). Na avaliação da degradação de amido, foram semeadas em meio Starchagar(Himedia®),incubadas a 30°C durante 24h, e então inundadas com solução de Lugol 1%. Na avaliação da degradação de proteínas e lipídio as cepas foram semeadas em meio SkinMilk (Himedia®) e Spirit Blue (Himedia®), respectivamente, e incubadas a 30°C durante 24h. A degradação foi evidenciada através do surgimento de halos translúcidos em torno das colônias (halo de degradação). Com base nas identificações moleculares e nas informações obtidas no procedimento anteriormente descrito, foi feita uma pré-seleção das cepas a serem testadas quanto à capacidade de inibição in vitro de bactérias patogênicas Vibrioparahaemolyticusstrain ATCC 17802 (P1), Vibriorotiferianusstrain K-W10 (P2) e VibrioharveyistrainTCPp (P3). As inibições in vitro foram realizadas em placas contendo Mueller Hinton (MH) salino (1,5% de NaCl), as quais foram primeiro semeadas com as cepas patogênicas, e em seguida, receberam 2 discos (1cm de diâmetro) de MH contendo as cepas pré-selecionadas, para então serem incubadas a 30ºC por 24h. Para uma melhor acurácia na leitura dos resultados foram utilizados discos de antibiótico (penicilina, enrofloxacina, e tetraciclina) como controle positivo. RESULTADOS E DISCUSSÃO No total foram testadas 90 cepas quanto à capacidade de degradar amido, proteínas e lipídios. As cepas que apresentaram resultado positivo para determinada enzima demonstraram halos translúcidos em torno de suas colônias, indicando que o nutriente (amido, lipídio e proteína) ali presente foi utilizado/degradado. Das 90 cepas testadas, 69 eram lipolíticas, 36 amilolíticas e 20 proteolíticas, e apenas cinco delas apresentaram as três capacidades, sendo uma de cada dos gêneros Shewanella, Víbrio, Bacillus e duas de Exiguobacterium. Os gêneros que apresentaram maior número de cepas com capacidade de degradação dos substratos avaliados foram Vibrio e Shewanella (Gráfico 1). Segundo Pedrotti et al. (2013) os nutrientes fornecidos na ração afetam a comunidade bacteriana do trato digestivo de peixes, de modo que a mudança da fonte de carboidratos na ração pode afetar a comunidade de bactérias amilolíticas. Tratando-se do sistema BFT, o acúmulo de restos de ração, fezes e carapaças dos camarões, juntamente com a adição do melaço, disponibiliza uma grande quantidade de proteínas, lipídios e amido na água, sendo imprescindível a presença de bactérias capazes de degradar estes compostos orgânicos. Grafico1. Quantidade de cepas com capacidade de degradar amido, lipídio e proteína classificados por gênero. Para os teste de inibição in vitro foram pré-selecionadas 24 cepas, destas apenas quatro foram capazes de inibir as cepas patogênicas (Tabela 1). A inibição do crescimento de 3 bactérias patogênicas pode ser realizada por exclusão competitiva ou pela liberação de compostos antimicrobianos. As bactérias do gênero Bacillus são conhecidas por produzir diversos destes compostos e por inibir in vitro o crescimento de vibrionáceas. Tabela 1 Cepas pré-selecionadas que apresentaram resultado positivo na inibição in vitro contra as cepas patogênicas do gênero Vibrio avaliadas. P1 P2 P3 Bacillussp. NBRC 101249 + + + Bacillus purgatioresistensstrain DS22 + - - Exiguobacteriumindicumstrain HHS 31 - + - Bacillushorneckiae - + - Cepas avaliadas Fonte: Autor. (+) inibiu o crescimento da patogênica e (-) não inibiu. Neste sentido, pode-se destacar três cepas do gênero Bacillus avaliadas no presente projeto, a Bacillus sp. NBRC 101249 por inibir todas as cepas patogênicas testadas e ainda ser lipolítica, a B. horneckiae por inibir uma das cepas patogênicas e ser lipolítica e amilolítica, e a B. subtilis por ser lipolítica, amilolítica e proteolítica. O gênero Exiguobacterium também demonstrou grande potencial, pois foram identificadas duas cepas lipolíticas, amilolíticas e proteolíticas, sendo uma capaz de inibir uma cepa de Vibrio testada,e ainda três outras que além de serem capazes de degradar os três substratos avaliados, produzem lactonase, conforme constatado por Krüger et al. (2013). A lactonase é uma enzima capaz de degradar as N-acilhomoserinaslactonas (AHLs), que estão envolvidas na produção de toxinas e fatores de virulência de bactérias Gram negativas patogênicas, como as vibrionáceas (KALIA,2013). Portanto, o uso de bactérias probióticas capazes de produzir essa enzima poderia diminuir o fator de virulência da população bacteriana presente nos bioflocos, aumentando a sobrevivência dos animais durante o cultivo. Adicionalmente, não foram encontrados relatos de patogenicidade em crustáceos por bactérias desse gênero, reforçando ainda mais o potencial benéfico das cepas desse gênero. CONCLUSÕES Das 90 cepas avaliadas, foram identificadas oito cepas com potencial para aplicação no sistema BFT, as quais já estão sendo avaliadas em escala de produção pelo grupo de 4 pesquisa. Desta forma, espera-se contribuir para o avanço e consolidação desse sistema de produção de camarão na realidade catarinense e brasileira. REFERÊNCIAS BURFORD, M.A.; THOMPSON, P.J.; MCINTOSH, R.P.; BAUMAN, R.H.; PEARSON, D.C.The contribution off locculated material toshrimp (Litopenaeusvannamei) nutrition in a high - intensity, zero - exchange system. Aquaculture, v.232, p.525 - 537, 2004. CARVALHO FILHO, J. Camanor se reinventa e lucra mesmo com o vírus da mancha branca. Revista Panorama da Aquicultura, Rio de Janeiro, v. 24, n. 143, p. 45-51, maio. 2014. COSTA, S. W. Mancha Branca em Santa Catarina: Passados seis anos do seu surgimento doença continua impactando a carcinicultura. Panorama da Aquicultura. Disponível:http://www.panoramadaaquicultura.com.br/novosite/?p=2054. Acesso: 22/07/14. KALIAV.C. Quorum sensing inhibitors: An overview. Biotechnology Advances, v.31, 2013. KRÜGER, K.E.; SCHLEDER, D.D.; Seleção de bactérias benéficas presentes no cultivo do camarão marinho em sistema de bioflocos. In Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnologia Multidisciplinar do IFC , 6, 2013, Camboriú. Anais... Blumenau: IFC, 201 PEDROTTI, F.S.; DAVIES, S.; MERRFIEL, D.L.; MARQUES, M.R.F.; FRAGA, A.P.M.; The autochthonous microbiota of the freshwater omnivores jundia (Rhamdia quelen) and tilapia (Oreochromis niloticus) and the effect of dietary carbohydrates. Aquaculture, 2013 VIEIRA, Felipe do Nascimento. Seleção e utilização de bactérias probióticas na carcinicultura marinha. 2010. 133 f.Tese (Doutorado em Aquicultura) – Curso de PósGraduação em Aquicultura, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. WASIELESKY, W.; ATWOOD, H.; STOKES, A.; BROWDY, C. Effect of natural production in a zero exchange suspended microbial floc based super-intensive culture system for white shrimp Litopenaeusvannamei. Aquaculture, v.258, p.396-403, 2006. 5