matosinhos amp O regresso do histórico Constantino Nery Texto: Marta Almeida Carvalho Fotos: Francisco Teixeira / CMM Consciente da importância do Cine-Teatro Constantino Nery na memória e na herança cultural de Matosinhos, a câmara adquiriu, em 2001, o equipamento onde está instalado iniciando-se então o processo de recuperação de velho teatro. O investimento total, co-financiado pelo Programa Operacional de Cultura, representou um esforço financeiro de 3,5 milhões de euros. 98 99 matosinhos amp A entrada no teatro é feita pelo átrio que dá acesso directo ao foyer, um espaço amplo com pé direito duplo. Deste ponto acede-se a todos os espaços, nomeadamente, à sala principal. Palco principal A sala principal é, certamente, o espaço mais nobre do teatro onde se destacam dois grandes espaços - palco e plateia. A sala foi pensada no sentido de permitir o máximo de mobilidade e versatilidade, para que a infra-estrutura funcione em perfeição com as mais variadas artes, nomeadamente teatro, cinema e música, nas suas diversas vertentes. Do foyer acede-se, ainda, ao espaço polivalente do piso 3, com vistas para a Avenida Serpa Pinto, onde se realizam actividades paralelas para públicos menores e funciona um espaço do tipo café-concerto, com comunicação versátil com a plateia. Para além destes espaços meramente técnicos, foi prevista uma sala para ensaios com uma dimensão muito semelhante à do palco principal. O grande objectivo desta obra é a revitalização do equipamento cultural, fazendo dele um espaço polivalente capaz de acolher os mais diversos espectáculos. Inaugurado a 10 de Junho de 1906, o CineTeatro Constantino Nery foi, durante décadas, o ponto de encontro da comunidade matosinhense, tendo entrado em decadência nos anos 80 até ficar praticamente em ruínas. O autor do projecto de recuperação, levada a cabo na centenária sala de espectáculos, foi o arquitecto 100 Alexandre Alves Costa que, do antigo Cine-Teatro, apenas manteve a fachada - desmontada e armazenada em estaleiro para ser novamente reconstruída no mesmo local - e a volumetria. O piso inferior está dotado de uma sala polivalente para conferências, exposições e pequenos concertos, e o superior de uma sala de espectá- culos funcional e de vanguarda composta por 240 cadeiras amovíveis, permitindo a adaptação de acordo com o tipo de espectáculo a apresentar. A cobertura do novo teatro é em cobre e, no cimo da torre, com 14 metros de altura, há uma espécie de farol com luz que irá funcionar como símbolo do novo espaço. 101 matosinhos amp Memória de outras épocas O Teatro Constantino Nery foi construído numa época em que a existência de uma casa de espectáculos era considerada mais do que um equipamento de lazer, uma verdadeira marca da civilização. A inauguração ocorreu em 10 de Junho de 1906. Construído por iniciativa de Emidio José Ló Ferreira, e baptizado com o nome do então governador do estado brasileiro de Manaus, o que evidencia as fortíssimas relações que na época havia entre Matosinhos e o Brasil, o Constantino Nery foi, ao longo de oito décadas, a grande casa de espectáculos do concelho. Na época, era forte a tradição teatral na localidade, confirmada pelo grande número de grupos de teatro amador existentes, particularmente na época balnear, altura em que Matosinhos e Leça se animavam com numerosos veraneantes, que 102 acorriam para os banhos de mar e se multiplicavam os espectáculos teatrais. Foi neste teatro que se realizaram, em Novembro de 1906, as primeiras exibições cinematográficas e que consistiam essencialmente nos chamados filmes panorâmicos, ou seja, pequenos documentários. A partir da década de 30, deu-se uma expansão significativa do cinema, com um considerável movimento de abertura de novas salas em vários locais do concelho. Em 1937, a empresa Sousa &Filho, proprietária do Constantino Nery, passou também a explorar um cinema ao ar livre situado nos jardins da Confraria do Senhor de Matosinhos, abrindo, ainda, em 1948 um novo cinema ao ar livre, na Rua Brito Capelo, com uma lotação de 360 lugares. O período áureo do Constantino Nery foi nas décadas de 50 e 60, quando a sala mantinha uma programação cinematográfica regular e di103 matosinhos amp versificada, onde se destacam os grandes êxitos do cinema da época, nomeadamente os filmes de aventura de origem americana e os dramas históricos italianos. Passado e futuro No entanto, a partir dos anos 70, a falta de filmes em estreia, uma vez que eram apenas exibidas reposições, e a crescente degradação da sala, que conduziu mesmo ao encerramento temporário por falta de condições de segurança, levaram ao progressivo afastamento do público que passou a preferir cinemas da cidade do Porto. Na década de 80 era já apenas uma pálida sombra da grandiosa casa de espectáculos inaugurada no início do século. A incapacidade de inverter a Mensagem de boas-vindas de Guilherme Pinto, presidente da Câmara de Matosinhos situação, levou a que o histórico teatro entrasse num progressivo processo de degradação e decadência, que iriam culminar no seu encerramento e abandono. Continuou, no entanto, na memória das várias gerações que viveram os dias gloriosos do Constantino Nery, as recordações de inesquecíveis momentos de emoção vividos na tela do cinema, assim como o desejo desta sala recuperar o seu lugar como uma das principais infra-estruturas culturais da cidade. A sua requalificação vai contribuir, de certo, para o regresso aos tempos áureos. Q 104 “É com particular satisfação que digo: sejam bem vindos ao Cine-Teatro Constantino Nery, o Teatro Municipal de Matosinhos, localizado no coração da quadra marítima, na Avenida Serpa Pinto. Matosinhos sempre se orgulhou das suas capacidades, da sua riqueza humana e actividade empresarial e económica, do seu invejável dinamismo cultural. O teatro faz parte da alma de Matosinhos, cidade-berço de Passos Manuel, o incontornável estadista do século XIX que revolucionou o teatro em Portugal, incumbindo Almeida Garrett de fundar e organizar o teatro nacional, integrando, assim e pela primeira vez, as artes cénicas na política cultural portuguesa. Sala emblemática, há mais de um século, da cidade, este equipamento cultural, pelas suas novas e únicas características e potencialidades, está predestinado a tornar-se num espaço incontornável de referência cultural da Área Metropolitana do Porto. É esse o nosso desafio, o nosso objectivo, a nossa certeza!” 105