3132 UMA ANÁLISE DO CONTEÚDO SOBRE VÍRUS ABORDADO

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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
UMA ANÁLISE DO CONTEÚDO SOBRE VÍRUS ABORDADO NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE BIOLOGIA (PNLEM 2015)
Mariane Beatriz Karas (UFFS – Bolsista PROBIC/FAPERGS)
Erica do Espirito Santo Hermel (UFFS)
Resumo
Os vírus, relativamente abstratos por serem microscópicos, são de difícil compreensão. Como
os livros didáticos são o principal recurso utilizado em sala de aula, o conteúdo sobre vírus
presente em três coleções de livros didáticos de Biologia recomendadas pelo PNLEM 2015
foi analisado. O conteúdo é abordado de modo fragmentado, priorizando dos aspectos
morfológicos aos funcionais, diminuindo a qualidade pedagógica do livro e limitando uma
perspectiva interdisciplinar. Ainda, o vírus está principalmente associado à doenças e
epidemias, gerando uma imagem nociva, e ignorando seus outros papéis positivos no meio
ambiente. Assim, são necessárias certa reflexão e criticidade dos professores para o uso
adequado do livro em sala de aula.
Palavras-chave: Significação conceitual; Currículo; Recurso didático.
Introdução
O conteúdo acerca dos vírus é ensinado no Ensino Fundamental, na disciplina de
Ciências, e no Ensino Médio, na disciplina de Biologia. Segundo Pelczar Jr., Chan e Krieg
(1997):
[...] Os vírus são entidades infecciosas não-celulares, cujo genoma pode ser DNA ou
RNA. Replicam-se somente em células vivas, utilizando toda a maquinaria de
biossíntese e de produção de energia da célula para a síntese e transferência de
cópias de seu próprio genoma para outras células (p. 378).
Por tratar-se de seres microscópicos, a concepção sobre os vírus limita-se à
imaginação, o que os torna relativamente abstratos e de difícil compreensão. Crianças
cursando a sexta série do Ensino Fundamental não conseguem caracterizá-los adequadamente.
Para elas
[...] “O vírus é parecido com um mosquito comprido, tem duas asinhas e vive em
água parada, ele é muito pequeno”. “O vírus deve ter muitas células, deve ser como
um grão de areia”. “Parece um ovo quebrado, é muito pequeno e pode provocar
muitas doenças”. “O vírus é redondo, incolor”. “O vírus vive no computador”
(COLOMBARI; MELO, 2006).
Mas, geralmente, os vírus são reconhecidos por estarem associados a doenças e
epidemias. No presente momento, a disseminação de epidemias é uma grande preocupação,
visto a extensa divulgação nas mídias a respeito das mesmas (dengue, febre Chikungunya,
zika vírus, gripe aviária, H1N1, AIDS, entre outras), bem como as campanhas organizadas
para o combate ou prevenção a elas no Brasil e no mundo.
Porém, além da área da saúde, o estudo dos vírus abrange também uma grande
diversidade de ramos do conhecimento, como as áreas de Biotecnologia, Bioética e
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Economia. Sendo assim, o estudo dos vírus tem grande potencial de gerar discussões, além de
ser de vital interesse para a humanidade.
A Virologia tem alcançado um grande desenvolvimento devido, principalmente, aos
avanços nos conhecimentos sobre a biologia molecular dos vírus e técnicas
moleculares de diagnóstico. Além disso, a Virologia é uma das áreas das Ciências
Biológicas que mais tem atraído novos profissionais e pesquisadores. Esse interesse
deve-se a emergência de novas viroses, incluindo a AIDS, e à reemergência de
antigas viroses, por exemplo, a dengue, considerando-se também a preocupação com
o potencial da pandemia de gripe provocada pelo vírus influenza (SANTOS;
ROMANOS, 2008, p. 532).
Com relação a essa temática, acredita-se que o Livro Didático (LD) desempenha um
importante papel no ambiente escolar, pois é um material de apoio tanto para o professor,
quanto para os estudantes, mas que por vezes é o único recurso utilizado nas aulas, o que o
torna singular no processo de ensino-aprendizagem. Conforme Choppin (2004, p. 553), o LD
se estabelece como um referencial, sendo “o suporte privilegiado dos conteúdos educativos, o
depositário dos conhecimentos, técnicas ou habilidades que um grupo social acredita que seja
necessário transmitir às novas gerações”.
Sabe-se sobre a importância dos LDs, pois em 1929 foi criado um órgão denominado
Instituto Nacional do Livro (INL), que é o mais antigo dos programas voltados à distribuição
de obras didáticas aos estudantes da rede pública de ensino brasileira. Em 1985, o Ministério
da Educação (MEC) estabeleceu como prioridade o aprimoramento dos LDs criando o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e, em 2007, o Programa Nacional do Livro
Didático para o Ensino Médio (PNLEM), para que os professores das diversas áreas de
conhecimento pudessem se orientar na escolha do livro didático a serem usados na escola. Os
livros são avaliados pelo MEC conforme critérios previamente discutidos. Esse procedimento
foi aperfeiçoado, sendo aplicado até hoje. Os livros que apresentam erros conceituais, indução
a erros, desatualização, preconceito ou discriminação de qualquer tipo são excluídos do Guia
do Livro Didático. No entanto, sabe-se que ainda é possível encontrar livros que apresentam
alguns problemas, como, por exemplo, erros conceituais, erros imagéticos e informações
equivocadas (CAIMI, 2014).
LDs de Biologia publicados entre 1997 e 2002 apresentam problemas relacionados aos
conceitos empregados e à contextualização dos vírus, possivelmente levando à aquisição de
um conhecimento equivocado por parte dos alunos, interferindo assim no processo adequado
da aprendizagem. As obras baseiam-se em uma aprendizagem mecânica, desconsiderando os
conhecimentos prévios, não explicitando a importância de se estudar o vírus e não associando
esse conteúdo à realidade (BATISTA; CUNHA; CÂNDIDO, 2010).
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Atualmente, o ensino nas escolas está direcionado a educar em termos de construção
de conhecimento e a formação de cidadãos críticos e autônomos. Dessa forma, é essencial que
os LDs acompanhem esse progresso, com o propósito de facilitar professores e alunos no
processo de ensino-aprendizagem. Com relação a isso, o Guia do Livro Didático traz em sua
proposta:
Nesse processo inovador de ensino e aprendizagem, no qual tanto o aluno quanto o
professor estão cada vez mais se apropriando de ferramentas da Ciência para a
reconstrução do conhecimento e da linguagem científica, o livro didático aparece
como um instrumento de apoio, problematização, estruturação de conceitos, e de
inspiração para que os alunos, e o próprio professor, investiguem os diversos
fenômenos que integram o seu cotidiano (BRASIL, 2010, p. 12).
No entanto, Vasconcelos e Souto (2003) dizem que as informações nele são
apresentadas de forma linear e fragmentada, além de conter muitas informações que acabam
por virar um problema, além de dificultar a perspectiva interdisciplinar. Faz-se necessária,
portanto, uma postura crítica por parte dos professores, no momento da escolha dos LDs e,
também, ao utilizar este material no decorrer de suas aulas. Afinal, é importante interferir e
esclarecer eventuais interpretações equivocadas, para que isso não afete o processo de ensinoaprendizagem. Segundo Libâneo (1990, p. 52):
Ao selecionar os conteúdos da série em que irá trabalhar, o professor precisa analisar
os textos, verificar como são abordados os assuntos, para enriquecê-los com sua
própria contribuição e a dos alunos, comparando o que se afirma com fatos,
problemas, realidades da vivência real dos alunos. (...) Ao recorrer ao livro didático
para escolher os conteúdos, elaborar o plano de ensino e de aulas, é necessário ao
professor o domínio seguro da matéria e bastante sensibilidade crítica.
Como o LD exerce uma grande influência no trabalho dos professores de Biologia,
torna-se cada vez mais necessário a avaliação destes exemplares. Assim, conhecendo-se a
relevância dos LDs como recurso didático e a importância dos vírus no nosso cotidiano, a
presente pesquisa analisou o conteúdo sobre vírus apresentado nos LDs de Biologia
recomendados pelo PNLEM 2015.
Metodologia
No presente estudo foi realizada uma pesquisa qualitativa, do tipo documental
(LUDKE; ANDRÉ, 2001), onde foram analisados os conteúdos sobre vírus em 9 LDs (três
coleções) de Biologia recomendados pelo PNLEM 2015, os quais foram denominados L1,
L2... L9, sucessivamente (Quadro 1). Para tanto, foram analisadas as coleções de LDs de
Biologia mais distribuídas, segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(BRASIL, 2015).
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Quadro 1: Livros didáticos de Biologia analisados neste trabalho.
LIVRO
REFERÊNCIAS
L1
LOPES, Sônia; ROSSO, Sergio. Bio. Ensino Médio, v. 1. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
L2
LOPES, Sônia; ROSSO, Sergio. Bio. Ensino Médio, v. 2. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
L3
LOPES, Sônia; ROSSO, Sergio. Bio. Ensino Médio, v. 3. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
L4
AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia em contexto. Vol. 1. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
L5
AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia em contexto. Vol. 2. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
L6
AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia em contexto. Vol. 3. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
L7
LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje. Vol 1. 2. Ed. São Paulo: Ática, 2013.
L8
LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje. Vol 2. 2. Ed. São Paulo: Ática, 2013.
L9
LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia Hoje. Vol 3. 2. Ed. São Paulo: Ática, 2013.
A análise dos livros didáticos foi realizada em etapas, de acordo com a análise de
conteúdos (BARDIN, 2011), seguindo os preceitos éticos da pesquisa em Educação:
primeiramente, foi realizada uma leitura exploratória em cada livro, para verificar como o
conteúdo é apresentado. Após esta etapa, para a análise, considerou-se os tópicos existentes
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sobre vírus, que defendem o estudo dos modos
de transmissão, prevenção e sintomas das doenças sexualmente transmissíveis, enfatizando as
formas de contágio, disseminação e prevenção da Aids (BRASIL, 1998). Para tanto,
utilizamos os parâmetros (adequação à série; clareza do texto; nível de atualização do texto;
grau de coerência entre as informações apresentadas; e se apresenta ou não textos
complementares) e critérios (fraco; regular; bom; e excelente) propostos por Vasconcelos e
Souto (2003). As atividades propostas (questões propostas; atividades práticas; estímulo a
novas tecnologias; trabalhos em grupo; entre outros) e os recursos adicionais ou
complementares (glossários; atlas; cadernos de exercícios; guias de experimentos; guia do
professor; entre outros) também foram analisadas de acordo com eles.
Resultados e Discussão
Foi possível perceber algumas diferenças com relação à organização nas três coleções
de livros didáticos analisadas. L1, L2 e L3 encontram-se divididos em unidades e dentro das
mesmas há a subdivisão em capítulos. Já os livros L4, L5 e L6 estão organizados em módulos
e dentro destes estão os capítulos. Por fim, os livros L7, L8 e L9 estão organizados em
unidades, que estão subdivididas em capítulos. Com relação a sua organização, L3 foi o LD
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que mais dedicou páginas para o ensino sobre vírus, tanto em relação ao percentual, quanto ao
número de páginas. Já L1 não apresentou páginas dedicadas à temática (Quadro 2).
Quadro 2: Dados obtidos dos livros didáticos de Biologia analisados quanto ao número de
unidades, de capítulos, do total de páginas e das páginas relacionadas à temática vírus.
Número de
unidades –
módulos
Número de
capítulos temas
Número total
de páginas
Páginas sobre
a temática
vírus
%
L1
2
12
320
0
0
L2
3
11
320
1
0,31
L3
3
15
320
21
6,56
L4
4
12
280
1
0,36
L5
4
11
320
1
0,31
L6
4
12
320
9
2,81
L7
7
23
306
7
2,29
L8
5
25
315
12
3,81
L9
4
20
309
6
1,94
Livro
Também foi verificado como o conteúdo científico é apresentado (Quadro 3). É
possível perceber que todos os LDs analisados estão classificados com conceitos “bom” ou
“excelente” no que diz respeito à adequação do conteúdo e à clareza do texto. Em relação ao
grau de coerência e integração das informações, a maioria dos resultados aponta para o
conceito “bom”. Megid Neto (2002, sem página) observou melhorias nos últimos anos
relacionadas ao “aspecto gráfico e visual, na correção conceitual, [...] na supressão de
informações ou ilustrações que podem propiciar riscos à integridade física do aluno”. No
entanto as informações acerca dos vírus ainda são abordadas de forma muito simplista nestes
livros e, muitas vezes, e não se relacionam com nosso cotidiano.
Quadro 3: Análise do conteúdo teórico sobre vírus nos livros didáticos de Biologia.
Parâmetros
Adequação
do conteúdo
Clareza
do texto
Induz a
interpretação
incorreta?
Grau de
coerência e
integração das
informações
Apresenta
textos
complementares
L1
-
-
-
-
-
L2
4
4
Não
3
Sim
L3
4
4
Não
3
Sim
L4
4
4
Não
3
Sim
L5
4
4
Não
3
Sim
L6
4
3
Não
3
Sim
L7
4
4
Não
3
Sim
L8
4
4
Não
3
Sim
L9
4
4
Não
3
Sim
Classificação: (1) ruim, (2) regular, (3) bom, (4) excelente. Se apresentar ou ter (sim) se não apresentar ou
não ter (não).
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Neste estudo, nenhum dos livros apontou possíveis interpretações erradas, ou seja, os
conceitos apesar de simplistas, não induzem a erros. Todos os LDs, exceto L1, apresentaram
textos complementares. “Textos complementares podem garantir uma abordagem mais
atualizada, uma vez que em sua maioria tratam de questões presentes de forma mais direta na
realidade do aluno e que necessariamente não são contempladas pelos programas oficiais”
(VASCONCELOS; SOUTO, 2003, p. 97).
Ainda, com relação ao conteúdo, analisamos a presença ou ausência e o grau de
abordagem dos seguintes assuntos: estrutura viral; ciclos de replicação; bacteriófagos; vírus
de plantas; vírus de animais; e saúde humana.
L1 não aborda a temática virologia. L2 aborda somente a saúde humana no capítulo1,
intitulado “Reprodução e desenvolvimento embrionário humano”. Neste espaço são
abordadas algumas DST’s, entre elas o HPV. Brevemente, é explicado o que significa a
doença e quais são os sintomas. Não há nenhuma imagem. Estrutura viral, ciclos de
replicação, bacteriófagos, vírus de plantas e de animais e retrovírus também não foram
abordados neste livro.
L3, por sua vez, é o que mais dedica páginas para a temática, são 21 páginas no
capítulo 2, intitulado “Vírus”. A estrutura viral é descrita como uma “cápsula proteica
(capsídeo) envolvendo o material genético” (p. 30). Há uma figura exemplificando a estrutura,
mostrando o aspecto interno e em corte mediano. Além disso, em relação à estrutura, o
mesmo livro explica que “alguns vírus são chamados envelopados porque apresentam um
envelope lipoproteico que envolve o nucleocapsídeo” (p. 31), e apresenta uma imagem
exemplificando um vírus envelopado. Os ciclos de replicação são abordados neste livro, os
ciclos lítico e lisogênico são exemplificados com um desenho esquemático. Os bacteriófagos
também são abordados neste livro, inclusive, fazem parte da explicação do ciclo lítico. Com
relação aos vírus de plantas, o livro aborda a estrutura destes vírus, quais são os efeitos que
causam e como ocorre a transmissão. Por exemplo, são citados os vírus do mosaico do tabaco
e da batata. A descoberta dos vírus é abordada exemplificando o vírus do mosaico do tabaco,
como se deram os estudos e como ocorre a infecção viral. Apresenta também uma imagem do
vírus do mosaico do tabaco.
Vírus de animais também foram abordados de forma muito completa, explicando
como ocorre a penetração destes vírus em células animais. Além disso, são explicadas duas
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situações que podem ocorrer, dependendo do tipo de ácido nucleico do vírus. Ou seja,
“quando o ácido nucleico é o DNA, o processo de transcrição e tradução é o tradicional, como
é o caso do adenovírus e dos vírus da varíola, da herpes e da hepatite” (p. 34). E, quando o
ácido nucleico é o RNA, duas situações podem ocorrer, dependendo do tipo de vírus. Assim,
ou “o RNA é transcrito em várias outras moléculas de RNA que passarão a controlar a síntese
proteica, como é o caso dos vírus da gripe, da raiva, da encefalite e da poliomielite” (p. 34).
Ou,
o RNA é inicialmente transcrito em DNA por meio da enzima transcriptase reversa,
e essas moléculas de DNA recém-formadas incorporam-se ao DNA da célula, e
podem ser transcritas em moléculas de RNA, que passarão a comandar a síntese
proteica. Esse é o caso dos retrovírus, como é o caso do vírus da AIDS (p. 34).
Dessa forma, pode-se perceber que o livro aborda o que são também os retrovírus.
Em relação à saúde humana, o livro aborda de forma muito completa esse assunto.
Inicialmente, há explicações sobre o que é um agente etiológico, o que significa o termo
transmissão e o que é o hospedeiro. O livro dedica uma página para explicar e exemplificar o
que são doenças emergentes (febre hemorrágica, pneumonia asiática, gripe aviária e gripe
suína), e doenças reemergentes (dengue). O livro dedicou duas páginas para explicações sobre
a AIDS, caracterizando a doença e a sua manifestação no organismo, além de explicar
detalhadamente como pode ocorrer a transmissão e quais são as medidas preventivas. Há uma
imagem que explica o ciclo reprodutivo do vírus HIV, acompanhada de um texto explicativo.
Além da AIDS, são abordadas outras doenças virais, como por exemplo: gripe, dengue, febre
amarela, varíola, herpes simples, catapora, herpes zoster, mononucleose, verrugas, condiloma
acuminado, câncer genital, rubéola, resfriado, poliomielite, hepatite (B, C, D e E), sarampo,
caxumba e raiva. Todas as doenças são abordadas de forma detalhada, quanto à causa,
prevenção, sintomas e tratamento. Este foi o único livro que contemplou todos os assuntos, e
dedicou explicações detalhadas a respeito dos mesmos.
L4 não tem nenhum capítulo dedicado à temática, mas aborda os vírus no capítulo 2,
intitulado “O que caracteriza a vida?”, a partir de um texto complementar intitulado “Vírus:
vivos ou não vivos?”. O texto aborda a descoberta dos vírus, cita exemplos de doenças
provocadas por vírus e que afetam os seres humanos e, no seu decorrer, o texto responde à
pergunta do título.
L5 também não tem um capítulo sobre a temática vírus, abordando-o no capítulo 8
intitulado “Aplicações do conhecimento genético”. A partir do assunto clonagem do DNA, os
bacteriófagos são abordados como sendo vetores de clonagem. Assim sendo, em uma página
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é explicada a estrutura de um bacteriófago, bem como a necessidade do mesmo aderir-se a
bactérias. Assim, o texto afirma que o vírus mais utilizado como vetor de clonagem é o fago
lambda e explica como ocorre a clonagem molecular em um vírus bacteriófago. Os outros
assuntos não foram abordados neste livro.
Já L6 destina um capítulo para a temática “Vírus e bactérias”. A estrutura viral é
descrita citando que: “Os vírus são constituídos por uma ou algumas moléculas de ácido
nucleico, que pode ser DNA ou RNA, protegidas por um envoltório denominado capsídeo. Os
ácidos nucleicos virais, envoltos pelas proteínas do capsídeo, constituem o nucleocapsideo”
(p. 28). Além disso, o livro ainda aborda os significados de envelope viral e vírion. Também
há imagens (representações e micrografias) do vírus do mosaico do tabaco, adenovírus, vírus
da gripe e bacteriófago T4. Nas representações estão indicadas as estruturas. Ciclos de
replicação (ciclo lítico e lisogênico) não são abordados, mas o livro mostra o ciclo
reprodutivo de um bacteriófago. Bacteriófagos são brevemente abordados e são exemplos
para a multiplicação de um vírus e há também uma imagem que representa o ciclo reprodutivo
de um bacteriófago. Vírus de plantas não são abordados, há uma imagem sobre a estrutura do
vírus do mosaico do tabaco, porém, não há nenhuma menção sobre ele. Vírus de animais
foram abordados neste livro, a partir da exemplificação de zoonoses virais, e também dos
vírus que são transmitidos por animais (arbovírus). Com relação a saúde humana, o livro
conceitua os termos epidemias, endemias e pandemias. Além disso, aborda de maneira geral o
tratamento e prevenção de doenças virais, mas sem exemplificar. A única doença que foi
aprofundada foi a gripe, abordada em duas páginas. Inicialmente, há um resgate histórico
sobre a doença e depois são detalhados os diferentes tipos de vírus da gripe. Os retrovírus
também não foram abordados neste livro.
L7 aborda os vírus no capítulo 7, intitulado “Uma visão geral da célula”. Inicialmente,
são citadas algumas doenças causadas por vírus, demonstrando sua importância, e após, a
estrutura viral é definida: “Sua organização é muito simples: são cápsulas de proteína (às
vezes há outras substâncias, como lipídios e glicídios) com material genético (DNA ou RNA)
em seu interior” (p. 81). Após, o livro explica porque os vírus são parasitas intracelulares
obrigatórios. No capítulo 16, intitulado “Reprodução”, são abordadas algumas DST’s, como
por exemplo, herpes genital, condiloma acuminado, hepatite B e AIDS. As causas, sintomas,
prevenção e tratamento são contemplados nas doenças citadas. Outros assuntos, como
bacteriófagos, vírus de plantas e de animais, ciclos de replicação e retrovírus não foram
abordados.
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L8 dedicou o capítulo 2 para a temática vírus e definiu a estrutura viral como:
“formados por uma cápsula de proteína, o capsídeo (capsa = caixa), com várias subunidades,
os capsômeros (meros = parte). No interior do capsídeo há um ácido nucleico (DNA ou
RNA). A esse conjunto damos o nome de nucleocapsídeo” (p. 23). Os ciclos reprodutivos
(ciclo lítico e lisogênico) não são abordados, mas o livro exemplifica a reprodução dos
bacteriófagos. Os bacteriófagos são abordados e seu ciclo reprodutivo é explicado e
exemplificado através de uma imagem. Os retrovírus são também abordados neste livro e
definidos como “vírus de RNA”, mas esta abordagem é simplificada, em comparação ao L3.
Sobre os vírus de plantas, somente na introdução do capítulo, o vírus do mosaico do tabaco é
abordado, em um contexto histórico. Vírus de animais são abordados de forma indireta, a
partir do assunto: “doenças causadas por vírus”, onde são citadas a dengue, febre amarela e
raiva, que são transmitidas por animais. Em relação a saúde humana, são exemplificadas as
seguintes doenças: gripe e resfriado comum, poliomielite, dengue, febre amarela, raiva,
condiloma acuminado, herpes e AIDS. Sobre estas há uma breve explicação sobre a causa,
sintomas, prevenção e tratamento.
E, por fim, L9 não dedicou nenhum capítulo para a temática, entretanto, aborda os
vírus em diversos momentos. No capítulo 7, intitulado “As aplicações da genética molecular”,
os vírus servem de exemplos para a atividade das enzimas de restrição, no sequenciamento de
genomas e de plantas transgênicas, citando que a “Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) produz mamão, batata e feijão imunes a certos vírus” (p. 101). No
capítulo 9, intitulado “A teoria sintética: variabilidade genética e seleção natural”, os vírus são
exemplos para os assuntos relacionados à resistência de bactérias aos antibióticos, em um
texto complementar sobre a evolução da AIDS. No capitulo 11, intitulado: “Evolução:
métodos de estudo”, o sequenciamento do RNA do vírus da AIDS é abordado, pois ele ajudou
a decifrar sua origem. E, finalmente, no capítulo 20, intitulado “Poluição”, encontramos
exemplos de vírus de plantas: “O combate biológico com parasitas é muito eficiente, pois
muitos deles são altamente específicos. Alguns exemplos: o baculovírus (Baculovirus
anticarsia), vírus não tóxico que ataca apenas a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis)” (p.
285).
Também foi investigado se existem questões relacionadas à temática, quando esta é
abordada nos livros, e como estas questões estão sendo apresentadas. Além disso, verificou-se
se os objetos de pesquisa indicam fontes complementares de informação. É possível perceber,
que todos os livros contêm em seus capítulos algumas atividades, que tem relação direta com
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a temática. Na maioria dos livros, existem atividades multidisciplinares e que priorizam a
problematização. Em relação a fontes complementares de informação, não há outras fontes
para que o aluno possa aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto (Quadro 4).
Quadro 4: Atividades propostas nos livros didáticos de Biologia para complementação
da aprendizagem.
ATIVIDADES
SIM
NÃO
Propõe questões ao final de cada capitulo/tema?
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
Os que propõem as questões são: multidisciplinares?
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
As questões priorizam a problematização?
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
Atividades tem relação direta com o conteúdo trabalhado?
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
L1, L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e
Indica fontes complementares de informação?
L9.
Sim = exemplares que apresentam. Não = exemplares que não apresentam.
Quanto à presença de recursos complementares nos LDs, todos os livros apresentam
propostas para atividades de pesquisa e textos informativos. No entanto, a maioria dos livros
não apresenta experimentos, nem sugestões de leitura (Quadro 5) e isso limita a formação
adequada do aluno, pois
[...] o desenvolvimento da capacidade investigativa e do pensamento científico são
diretamente estimulados pela experimentação. Através de um experimento, o aluno
tem oportunidade de formular e testar suas hipóteses, coletar dados, interpretá-los e
elaborar suas próprias conclusões, baseadas na literatura sobre o tema
(VASCONCELOS; SOUTO, 2003, p. 100).
Quadro 5: Recursos complementares apresentados nos livros didáticos de Biologia analisados.
RECURSOS COMPLEMENTARES
SIM
NÃO
Experimentos
L3, L4 e L5.
L1, L2, L6, L7, L8 e L9.
Textos informativos
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
Sugestões de leituras
L1, L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
Atividades de pesquisa propostas
L2, L3, L4, L5, L6, L7, L8 e L9.
L1
Sim= quais exemplares apresentavam. Não= quais exemplares não apresentavam.
A temática vírus não está homogeneamente distribuída entre os LDs analisados de
uma mesma coleção e nem mesmo entre as diferentes coleções. O conteúdo é mais bem
desenvolvido nos terceiros livros das coleções de Lopes e Rosso (2013) e Amabis e Martho
(2013) e no segundo livro da coleção de Linhares e Gewandsznajder (2013). Isso pode
significar a existência de currículos distintos nas escolas, considerando-se que o LD é um
material amplamente utilizado para o planejamento anual, a programação e o
desenvolvimento das aulas pelos professores, principalmente, por meio do uso de textos,
imagens e exercícios (GUIMARÃES; MEGID NETO; FERNANDES, 2011), dificultando,
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assim, o processo de aprendizagem do aluno quando troca de escola, exigindo certa atenção
dos professores.
Também foi possível perceber que o conteúdo sobre vírus prioriza os aspectos
morfológicos aos fisiológicos, promovendo uma visão fragmentada do vírus pelo aluno. Essa
fragmentação diminui a qualidade pedagógica dos livros didáticos, pois pontos importantes e
essenciais do conteúdo podem estar omitidos, o que dificulta muitas vezes a compreensão dos
conceitos envolvidos (CALDAS; SALTIEL 2001), limitando uma perspectiva interdisciplinar
(VASCONCELOS; SOUTO, 2003).
Todos os LDs analisados associam o vírus à doenças e epidemias, gerando uma
imagem negativa, nociva. Essa abordagem está de acordo com as preocupações humanas em
relação a questões de saúde e comerciais ao longo da história (UJVARI, 2003). No entanto, é
importante salientar que eles também apresentam papéis positivos atuando como agente
inseticida (MOSCARDI; SOUZA, 2002), vetores vacinais (QUEIROZ, 2011) e na evolução
humana (VAN BLERKOM, 2003). Informações como estas deveriam estar presentes ao
longo do texto, ou mesmo em quadros complementares nos LDs. Apenas L9 abordou estas
questões de forma mais ampla.
Considerações finais
O livro didático atua como mediador na construção do conhecimento e com a criação
do PNLD, avaliando-o e distribuindo-o às escolas, observou-se uma melhoria em relação ao
conteúdo abordado. No entanto, alguns erros conceituais ainda podem ser encontrados. Os
LDs de Biologia ainda apresenta o conteúdo de modo fragmentado, dificultando o
desenvolvimento de uma aprendizagem mais integrada dos fenômenos estudados. Então, o
professor ainda assume um papel importante na escolha do LD, refletindo, criticando e
modificando seu conteúdo, a fim de utilizá-lo adequadamente em sua prática pedagógica.
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