85 APÊNDICE A - MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO (APOSTILA) INTRODUÇÃO Como falar da terapia medicinal utilizando as plantas sem de fato conhecê-las? Diferenciar o veneno do remédio está relacionado aos critérios de utilização das plantas medicinais. A identificação correta (científica) do vegetal é um dos critérios mais importantes para o uso eficaz. Justifica-se aí a elaboração de um curso direcionado à Botânica das espécies medicinais. Considerando os processos de mudança na área de educação para profissionais da saúde e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, busca-se com este curso uma inovação com o estudo dos vegetais na Fitoterapia. No Brasil a adoção da Política Nacional de Práticas Integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), abriu um novo acesso ao conhecimento das plantas medicinais brasileiras e ao emprego correto para recuperação e manutenção da saúde. Foi um avanço no processo de fusão do saber do povo com o saber do técnico conhecido pela sigla PPPM (Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais). Esse Programa desenvolvido por pesquisadores brasileiros apoiados pelo Ministério da Saúde, por meio do setor de pesquisas da antiga Ceme (Central de Medicamentos), foi muito importante na padronização do uso das plantas medicinais. Sua aplicação pelo SUS dá início ao disciplinamento do emprego da fitoterapia de base científica extraída do conjunto de plantas colecionadas por gerações sucessivas de uma população que às vezes tem como única opção para o tratamento de seus males o uso empírico das plantas medicinais de fácil acesso em cada região do país. Várias espécies de plantas medicinais foram estudadas e submetidas a pesquisas relativas a ensaios pré-clínicos, clínicos, atividade biológica e toxicidade, resultando em 71 espécies. Essas espécies serão priorizadas no curso em questão. Com o objetivo de facilitar o estudo das plantas medicinais, este curso mostra características botânicas, químicas, atividades biológicas e formas de uso das espécies medicinais indicadas no SUS para a produção de fitomedicamentos e ou fitofármacos. 86 RENISUS – Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS Espécies vegetais Quadro 1 - Lista de plantas medicinais de interesse do SUS Espécies vegetais 1 Achillea millefolium 37 Lippia sidoides 2 Allium sativum 38 Malva sylvestris 3 Aloe spp* (A. vera ou A. barbadensis) 39 Maytenus spp* (M.aquifolium ou M.ilicifolia) 4 Alpinia spp* (A.zerumbet ou A.speciosa) 40 Mentha pulegium 5 Anacardium occidentale 41 Mentha spp* (M.crispa, M. piperita ou M. villosa) 6 Ananas comosus 42 Mikania spp* (M. glomerata ou M. laevigata) 7 Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea * 43 Momordica charantia 8 Arrabidaea chica 44 Morus sp* 9 Artemisia absinthium 45 Ocimum gratissimum 10 Baccharis trimera 46 Orbignya speciosa Passiflora spp* (P. alata, P. edulis ou P. Bauhinia spp* (B. affinis, B. forficata ou B. 47 11 incarnata) variegata) 12 Bidens pilosa 48 Persea spp* (P. gratissima ou P. americana) 13 Calendula officinalis 49 Petroselinum sativum Phyllanthus spp* (P. amarus, P.niruri, P. tenellus 14 Carapa guianensis 50 e P. urinaria) 15 Casearia sylvestris 51 Plantago major Chamomilla recutita = Matricaria 52 Plectranthus barbatus = Coleus barbatus 16 chamomilla = Matricaria recutita 17 Chenopodium ambrosioides 53 Polygonum spp* (P. acre ou P. hydropiperoides) 18 Copaifera spp* 54 Portulaca pilosa Cordia spp* (C. curassavica ou C. 55 Psidium guajava 19 verbenacea) * 20 Costus spp* (C. scaber ou C. spicatus) 56 Púnica granatum 21 Croton spp(C.cajucara ou C.zehntneri) 57 Rhamnus purshiana 22 Curcuma longa 58 Ruta graveolens 23 Cynara scolymus 59 Salix alba 24 Dalbergia subcymosa 60 Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira 25 Eleutherine plicata 61 Solanum paniculatum 26 Equisetum arvense 62 Solidago microglossa 27 Erythrina mulungu 63 Stryphnodendron barbatimão 28 Eucalyptus globulus 64 Syzygium spp* (S.jambolanum ou S.cumini) 29 Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana* 65 Tabebuia avellanedeae 30 Foeniculum vulgare 66 Tagetes minuta 31 Glycine max 67 Trifolium pratense 32 Harpagophytum procumbens 68 Uncaria tomentosa 33 Jatropha gossypiifolia 69 Vernonia condensata 34 Justicia pectoralis 70 Vernonia spp* (V.ruficoma ou V.polyanthes) 35 Kalanchoe pinnata = Bryophyllum 71 Zingiber officinale calycinum* 36 Lamium album Fonte: BRASIL, 2009 87 O conhecimento botânico é indispensável na terapêutica medicinal, para evitar que muitas espécies sejam utilizadas de maneira incorreta. O primeiro critério para a utilização das plantas medicinais é a identificação botânica. Um dos aspectos mais delicados na fitoterapia está na identidade das plantas. Por ser baseada em nomes vernaculares, a verdadeira identidade de uma planta recomendada pode variar enormemente de região para região. “Plantas, completamente distintas, podem ter o mesmo nome popular, algumas acumulam elevado número deles para a mesma espécie” (LORENZI; MATOS, 2002). A espécie Chenopodium ambrosioides L., por exemplo, conta com 27 nomes populares. As interpretações taxonômicas errôneas podem não só induzir o usuário a utilizar uma planta sem o princípio ativo desejado, como também induzi-lo a fazer uso de uma espécie perigosa. Outro critério importante a ser considerado é relativo à parte da planta medicinal a ser usada como remédio, uma vez que os princípios ativos não são distribuídos igualmente em todos os órgãos da planta. Na maioria das vezes, somente se emprega uma parte da planta para fins medicinais, sendo as demais consideradas inertes ou mesmo substâncias tóxicas. Como exemplo dessa situação pode ser citada a Lantana câmara que suas folhas são indicadas para afecções do sistema respiratório, ao passo que seus frutos são considerados tóxicos (GUIÃO et al., 2004, p. 45). De acordo com a Política Nacional de Plantas Medicinais, o Ministério da Saúde tem como objetivo garantir o acesso às plantas medicinais e fitoterápicos, com serviços eficazes e de qualidade. Conhecer o vegetal é fundamental para obter essa qualidade desejada. O estudo taxonômico ou as relações entre famílias botânicas e a constituição química são pouco focalizados nos cursos de graduação em saúde. A utilização do Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte como laboratório das aulas de campo é uma estratégia diferenciada e motivadora, pois transforma um fato abstrato, o que concerne à identificação das plantas a processos concretos, visuais, interpretativos e dinâmicos. A Botânica nos cursos de graduação ou extensão é de extrema importância e esse conhecimento passa a ser um diferencial na Fitoterapia. O assunto do curso é ministrado com base em unidades didáticas, pois a fitoterapia é extremamente abrangente e a metodologia aplicada pode ordenar e 88 facilitar o ensino-aprendizagem. Com a demanda no SUS de especialistas nessa área, esse material é uma iniciativa que prioriza a Botânica nos cursos de Fitoterapia, mostrando os critérios de utilização das plantas medicinais, seu cultivo e um pouco do misticismo que envolve a manutenção do homem nesse universo natural. Vale salientar que, do mesmo modo que as plantas curam, podem matar. Na maioria das vezes, conhece-se o efeito medicinal popular, mas, como todos os remédios, existem contraindicações. Portanto, o uso das plantas deve ser controlado e conhecê-las é indispensável. A atenção dada às plantas talvez seja o início de uma nova visão do mundo, um despertar para nossa capacidade de entender a evolução da vida. 89 UNIDADE DIDÁTICA 1 Plantas medicinais e História Objetivos: Identificar e localizar o uso das plantas medicinais ao longo da história. Promover aprofundamento conceitual sobre o tema. Relacionar a importância do uso das plantas medicinais na saúde a partir de 3000 a.C. Identificar algumas espécies usadas desde a Antiguidade até a atualidade. ESPÉCIES MEDICINAIS Histórico A utilização das plantas como medicamento é tão antiga quanto o próprio homem. Muito antes de aparecer qualquer forma de escrita, o homem já usava as plantas como alimento e remédio. É difícil delimitar as etapas que marcaram a evolução da arte de curar, já que a Medicina esteve por muito tempo associada a práticas mágicas, místicas e ritualísticas. O conhecimento histórico do uso de plantas medicinais mostra ao longo da história da humanidade que, pela própria necessidade humana, as plantas foram os primeiros recursos terapêuticos usados. A história da terapêutica começa provavelmente por Mitrídates, rei de Ponto, de 120 a 63 a.C., o primeiro farmacologista experimental. A lenda conta que, procurando imunizar-se contra um eventual envenenamento, tomava doses crescentes (mas nunca letais) dos venenos de que tinha conhecimento, até que fosse capaz de tolerar até mesmo a dose letal. Prática do mitridatismo. Após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito, devido à sua imunidade. Teria então, forçado um de seus servos a matá-lo com a espada (Peça Mitrídates, 1673, Racine e na ópera Mitrídates, di Ponto 1770, de Mozart). Consideradas ou não seres espirituais, as plantas, por suas propriedades terapêuticas ou tóxicas, adquiriram fundamental importância na medicina popular. 90 Todos os médicos e feiticeiros antigos eram herboristas e nesse campo a Botânica e a magia se confundiam. Os mais antigos documentos médicos datam do ano 3700 a.C. e vêm da China. Atualmente, a China mantém laboratórios de pesquisa e cientistas trabalhando exclusivamente para desenvolver produtos farmacêuticos com ervas medicinais de uso popular. Em 2300 a.C., egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas ervas e traziam de suas expedições tantas outras. Criavam purgantes, vermífugos, cosméticos e especiarias para a cozinha, além de líquidos e gomas utilizados no embalsamento de múmias. Na Babilônia (600 a.C.), Nabucodonosor mandou plantar em seus jardins, além de flores e árvores, alecrim cheiroso e açafrão. Na Grécia (460-377 a.C.), Hipócrates, “Pai da medicina”, resumiu em sua obra, “Corpus Hipocratium”, a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo, indicando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado. No começo da Era Cristã, Dioscórides, ao acompanhar os exércitos romanos na Península Ibérica, no norte da África e na Síria, recolheu abundante informação sobre plantas dessas regiões. Escreveu o tratado “De Matéria Médica”, que representa um marco histórico no conhecimento de numerosos fármacos, muitos dos quais são usados ainda hoje. Nele foram descritos cerca de 600 produtos de origem vegetal com indicações sobre seu emprego terapêutico. Essa obra foi escrita no ano 78 da nossa era e passou a ser usada como guia de ensino, no mundo romano e árabe. Em vigor até finais da Idade Média, ainda no século XV eram feitas cópias em latim dessa obra. Na Idade Média, o estudo das plantas medicinais estagnou por longo período. Com a queda do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica, os tratados sobre o poder das plantas foram esquecidos ou mesmo perdidos e foram parcialmente recuperados no início do século XVI. Os mosteiros tornaram-se centros de estudos e os monges, que se apoderaram do saber antigo, cultivavam ao redor dos conventos e igrejas maravilhosos jardins de ervas que eram utilizadas como alimento, bebidas e medicamentos. 91 No século XVI, Theophrastus (Paracelso) viajou por toda a Europa à procura de plantas e minerais. Ouviu feiticeiros, curandeiros e parteiras e comparava estudos médicos com a sabedoria popular. No reinado de Elizabeth I (1558-1603) o saber das ervas pertencia a seres sobrenaturais (fadas, príncipes, duendes e bruxas) que habitavam pântanos e florestas. Na América, o primeiro registro data de 1552, quando o médico mexicano de origem índia, Juan Badianus, escreveu seus estudos que eram procurados por muitos estudiosos. De 1790 a 1850 predominava na Europa e nos Estados Unidos a chamada “medicina heroica”. Um dos arautos dessa modalidade terapêutica foi exatamente Willian Cullen, que recomendava, contra a febre, o chamado “antiflogístico”, à base de sangria e purgativos. Postulava-se a “unidade das doenças”, todas as doenças deveriam ter um único tipo de tratamento. A “medicina heroica” preconizava como terapêutica a eliminação dos venenos internos pelo aumento das excreções do organismo. Assim, durante mais de meio século a venissecção - “abertura de veias para a drenagem de sangue” - era ensinada praticamente em todas as escolas médicas americanas e europeias. Não havia limites para a quantidade de sangue a ser retirada. Além da sangria, usavam purgativos, eméticos para a eliminação das impurezas que tomariam o corpo. O uso do calomelano (cloreto de mercúrio) era obrigatório para quase tudo. E a posologia era pródiga: devia-se aumentar a dose até que o paciente salivasse profundamente, o que sabemos, hoje, ser o primeiro sinal de envenenamento pelo cloreto de mercúrio. Foi nesse contexto histórico da Medicina oficial que surgiu a Homeopatia. Utilizada em 1848 nos Estados Unidos na grande epidemia de cólera, um número muito mais alto de pacientes tratados com a Homeopatia sobreviveu em comparação com a Medicina tradicional. Na Homeopatia, além de plantas são usadas estruturas animais e minerais. No século XVIII, Lineu (naturalista sueco) criou a nomenclatura e a sinonímia botânica dividindo as plantas em 24 classes, o que permitiu estudo mais completo e abrangente. No século XIX, com a Revolução Industrial, tornou-se ridículo acreditar no poder curativo das plantas. 92 Hoje, depois de tanto tempo, na busca de melhor qualidade de saúde física e mental, o mundo está tentando redescobrir os verdadeiros valores da vida por meio das plantas. 93 UNIDADE DIDÁTICA 2 Taxonomia vegetal (espécies medicinais) Objetivos: Diferenciar os vários grupos de seres vivos com atividades terapêuticas, erroneamente, chamados ”plantas”. Caracterizar morfolologicamente espécies com atividades medicinais. Conhecer as principais espécies medicinais de cada divisão taxonômica. A DIVERSIDADE BIOLÓGICA O homem primitivo, ao procurar plantas para seu sustento, foi descobrindo espécies com ação tóxica ou medicinal, dando início a uma sistematização empírica dos seres vivos, de acordo com o uso que podia fazer deles. Indícios do uso de plantas medicinais e tóxicas foram encontrados nas mais antigas civilizações. A grande diversidade de formas vegetais tornou necessária uma sistematização, muitas vezes artificial, com base em critérios de mais fácil utilização, agrupando aquelas formas com mais semelhança externa e interna em níveis hierárquicos, dependentes do grau de uniformidade de suas características. A hierarquização e a caracterização dos diferentes grupos de vegetais originaram os sistemas de classificação. Os sistemas mais antigos baseavam-se em características morfológicas externas, agrupando as espécies em divisões naturais, tais como algas, briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Os sistemas artificiais dos quais o mais conhecido foi o de Lineu baseavam-se apenas em algumas características morfológicas, utilizando como regra a teoria da imutabilidade das espécies (SIMÕES et al., 2004, cap. 4). Com Wallace e Darwin, os sistemas filogenéticos foram baseados na teoria da evolução e refletem a história evolutiva dos táxons, arranjando-os de acordo com afinidades existentes entre eles (BEZERRA; FERNANDES,1984, p. 100). Desses sistemas, o que alcançou mais divulgação na primeira metade do século XX foi o de Engler, em várias edições modificadas. Os sistemas de classificação são sempre questionados, sofrendo alterações a cada nova descoberta. Atualmente, os sistemas usuais, elaborados com base em dados morfológicos, fitoquímicos, micromorfológicos, isto é, ultraestruturais, entre outros (como, por exemplo, para 94 angiospermas, os de Cronquist (1988) e outros autores estão sendo alvo de novas propostas de modificações, baseadas principalmente no conhecimento da biologia molecular, cujos dados são obtidos do sequenciamento de porções do genoma de cada táxon. A biologia molecular é considerada uma boa ferramenta para a formulação e o entendimento de hipóteses e teorias evolutivas, proporcionando consciência aos sistemas ultimamente propostos. Essa nova metodologia não exclui todas as outras ferramentas clássicas utilizadas na caracterização dos táxons, como os caracteres morfológicos comparativos, externos e internos, os embriológicos, os paleontológicos, entre outros (DALY; CAMERON; STEVENSON, 2001, p. 13281333). As características morfológicas externas possibilitam, via de regra, a classificação de uma espécie vegetal em qualquer nível hierárquico. No entanto, algumas vezes são necessárias observações complementares da organização interna, estudos embriológicos e/ou análise dos metabólitos secundários, para estabelecer fidedignamente tal classificação (SIMÕES et al., 2004). O mundo vivo é constituído por significativa variedade de organismos. Para estudar e compreender tamanha variedade, foi necessário agrupar os indivíduos de acordo com suas características comuns. Utilizando a evidência molecular, o sistema de classificação adotado neste curso reconhece os três domínios: Bactéria, Archaea e Eukarya. Protistas, fungos, plantas e animais são agora vistos como reinos dentro do domínio Eukaria. Portanto domínios, não reinos são categorias taxonômicas mais elevadas. Para facilitar a identificação, é necessário caracterizar cada organismo diferenciando plantas de outros seres vivos que também apresentam substâncias ativas usados nas terapias para a saude. Principais características que distinguem os três Domínios Características Bactéria Archaea Eukarya Tipo de célula Procariota Procariota Eucariota Envotório nuclear Ausente Ausente Presente Organelas (mitocôndria e plastídios ) Ausente Ausente Presente Citoesqueleto Ausente Ausente Presente Fotossíntese baseada em clorofila Presente Ausente Presente Fonte: Raven, 2010 95 I. Bactéria e Archaea Seres mais simples de todos os seres vivos, unicelulares que não apresentam carioteca (membrana nuclear), dotados de parede celular rígida, reprodução assexuada por divisão transversal ou por esporos. Reprodução sexuada a partir de recombinação genética. Exemplo de bactéria utilizada na terapêutica médica: Streptomyces bactérias produtoras de antibióticos como a actinomicetina e a aureomicina. II. Eukarya Incluem todos os eucariotos. Reino Fungi, Reino Protista, Reino Plantae Seres unicelulares eucariontes (apresentam membrana nuclear), pluri ou unicelulares, autótrofos (algas) ou heterótrofos (protozoários), não possuem tecidos. Constituintes: algas e protozoários. Exemplos de protistas utilizados na terapêutica medicinal: Laminaria - alga parda Sargassum, Fucus vesiculoso - alga parda Indicação: escrofulismo, obesidade e gota. Composição: Iodo Indicação: dilatação de vasos sanguíneos. Chondrus crispus - musgo da Irlanda - alga vermelha rica em mucilagem. Indicação: emoliente e laxante. III. Reino Fungi: Eucariontes, uni ou pluricelulares, heterotróficos, membrana de celulose ou quitina, corpo vegetativo formado por hifas. Fungos usados na medicina: Penicillium notatum (antibiótico) Saccharomyces cerevisiae (tônico regulador do intestino, laxante suave) IV. Reino Vegetal: Eucariontes, autotróficos, pluricelulares. IV.1 Divisão Bryophyta 96 Criptógamas (plantas sem sementes, sem flores, sem frutos, sem vasos condutores). Musgos: Marchantia polymorpha (utilizada para problemas hepáticos). IV.2 Pteridophyta Criptógamas (plantas sem sementes, flores, sem frutos, com vasos condutores). Lycopodium clavatum (combater catarros e inflamações das vias urinárias). Selaginella denticulata (virtude: anti-helmíntica). Equisetum arvense (diurético). IV.3 Divisão Spermathophyta IV.3.1 Gimnospermas São plantas que possuem flores carpelares e sementes, não possuem frutos. Cupressus sempervirens (resina utilizada nas prisões de ventre e hemorroidas). Pinus silvestris (reumatismo e dores). IV.3.2 Angiospermas São vegetais que apresentam flores, frutos e sementes. UNIDADE DIDÁTICA 3 Metabolismo Secundário Objetivos: Conhecer os mecanismos de produção de substâncias ativas pelas plantas. Identificar os principais grupos químicos resultantes do metabolismo secundário. Identificar a ação no organismo humano dos alcalóides, flavonóides, terpenos, antraquinonas, glicosídeos cardioativos, taninos e óleos essenciais. PLANTA MEDICINAL Conceitos Plantas - constituem o reino vegetal (Plantae). São elas: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. 97 Medicinal - É a planta que possui um ou mais de um princípio ativo, conferindo-lhe atividade terapêutica. Princípio ativo - as plantas sintetizam compostos químicos a partir dos nutrientes da água e luz que recebem. Esses compostos podem provocar reações nos organismos, são os princípios ativos. São compostos sintetizados a partir do metabolismo secundário. A síntese dos compostos essenciais para a sobrevivência das espécies faz parte do metabolismo primário fotossíntese. Os compostos sintetizados por outras vias e que aparentam não ter grande utilidade na sobrevivência das espécies fazem parte do metabolismo secundário, por isso são chamados compostos secundários. De acordo com Mann, os pontos de origem e produção dos compostos secundários diferenciados são: a) Ácido shiquímico b) Aminoácidos precursor de compostos aromáticos. fonte de alcaloides peptídeos. c) Acetato malonato origina poliacetilenos, terpenos, esteroides e outros. Síntese dos metabólitos secundários compostos ativos. CO2 + H2O (Fotossíntese) Glicose Eritrose Piruvato Shiquimato + Policetídeos =Flavonoide Shiquimato - Outros compostos Aromáticos (lignanas) Ciclo do Ác. Cítrico Aminoácidos Aromáticos 98 Aminoácidos - Alcaloide Policetídeos Acetato malonato Ac. Graxos Mevalonato - Terpenos, esteroides e carotenos Policetilenos e Antibióticos Alcaloides e terpenos são as classes químicas com mais potencialidades de fornecer compostos com atividade farmacológica. Alcaloides: nicotina, pilocarpina, vincristina, vimblastina, emetina, morfina, beberina, catequina, dopamina, efedrina, etc. Terpenos: citral, linalol, cânfora, carvacrol, carotenoides. Flavonoides: flavus amarelo das flores (atração de polinizadores). São exclusivos de plantas superiores. Anti-inflamatório, fortalecem vasos capilares, antibacterianos, diuréticos, etc. Taninos: proteção da planta contra herbívoros, são adstringentes, provocam a contração de vasos capilares, cicatrização de queimaduras e antidiarreico. Óleos essenciais: substâncias voláteis conhecidas pelo aroma que caracteriza certas plantas, ex: mentol, eucaliptol. Propriedades: bactericida, antivirótico, antiespasmódico, analgésico, cicatrizante, expectorante, relaxante, vermífugo, etc. Cumarinas: gramíneas e umbelíferas são particularmente ricas em cumarinas, podem apresentar odor. Propriedades: antibacteriano, estimulam a pigmentação da pele. Antraquinonas: são purgativos, estimulam os movimentos peristálticos. Ácidos orgânicos: málico, cítrico, tartárico, oxálico, tartárico. Os ácidos têm ação laxativa, outros aumentam o fluxo de saliva, contribuindo para reduzir o número de bactérias que causam cáries. Geralmente os ácidos são laxativos e diuréticos. O ácido oxálico estimula o surgimento de cálculos renais e reduz a proporção de cálcio no sangue, afetando o coração. Mucilagens: laxativos, aumentam a secreção de muco. 99 Substâncias amargas: estimula no organismo o funcionamento das glândulas, produzindo vários efeitos: Aumenta a secreção de sucos digestivos, aguçando o apetite, e a produção e fluxo da bílis. Saponinas: formam espuma em água. Ação anti-inflamatória, laxativo suave, diurético e expectorante. Compostos fenólicos: originam diversos outros, como os taninos Ex: ácido salicílico, que tem ação antisséptica, analgésica e anti-inflmatória. Compostos inorgânicos: sais de cálcio e potássio Cálcio Formação da estrutura óssea. Sais de silício Fortalecimento do tecido conjuntivo. diuréticos. 100 UNIDADE DIDÁTICA 4 Identificação botânica das espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos Objetivos: Identificar as principais famílias que caracterizam as 71 espécies de plantas medicinais indicadas pelo SUS. Conhecer as famílias consideradas mais tóxicas para o organismo humano entre as que constituem as plantas medicinais estudadas. Conhecer a importância das famílias em relação à produção de metabólitos secundários. Conhecer características básicas das famílias que caracterizam essas espécies de plantas medicinais. CRITÉRIOS DE UTILIZAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS As plantas podem ser usadas como remédio desde que utilizadas com critério. Esses critérios referem-se à identificação da doença, à escolha correta da planta (identificação botânica) a ser utilizada e à preparação adequada. Na medida do possível, devem-se utilizar plantas cujos efeitos tóxicos sejam bem conhecidos, evitando-se os excessos. É importante tomar cuidados quanto à forma de uso (banhos, infusão, etc.) das plantas a serem usadas. Outro critério que deve ser levado em conta é a dose. O uso contínuo de determinada planta, mesmo sem referência toxicológica, deve ser evitado. Sempre procurar orientação de um profissional de saúde. Famílias botânicas Caesalpiniaceae(Leguminosae), (Labiatae), Myrtaceae, estudadas: Compositae Fabaceae(Leguminosae), Zingiberaceae, Euforbiaceae, (Asteraceae), Lamiaceae Anacardiaceae, Umbeliferae (Apiaceae), Phyllanthaceae. Asteraceae (Compositae) Características botânicas: ervas ou subarbustos, menos frequente arbustos, pequenas árvores ou lianas, látex às vezes presente; espinhos presentes em algumas espécies. Folhas alternas, simples, sem estípulas, margem inteira ou mais 101 frequente serreada. Inflorescência do tipo capítulo envolvido por brácteas. Flores todas iguais entre si ou diferenciadas em flores do raio (as mais externas) e flores do disco (as mais internas). Corola geralmente pentâmera, gamopétala, estames cinco, ovário ínfero, bicarpelar. Fruto geralmente aquênio, com papilo normalmente persistente, auxiliando na dispersão. Características químicas: principais constituintes - flavonóides, lactonas, terpenos, sesquiterpenos e substâncias amargas. Fabaceae (Leguminosae) Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas, folhas alternas, raramente opostas, geralmente compostas, com estípulas às vezes transformadas em espinhos. Inflorescência geralmente racemosa; flores vistosas ou não, geralmente bissexuadas, zigomorfas, diclamídeas ou raramente monoclamídeas (copaíba). Cálice pentâmero, dialissépalo ou gamossépalo. Estames geralmente em número duplo ao das pétalas, ocasionalmente em número menor, iguais ou numerosos (neste caso frequentemente vistoso), livres ou unidos entre si. Ovário súpero. Fruto legume. Características químicas: Esteróis, flavonoides, glicosídeos, antraquinonas, taninos, saponinas e alcaloides. Lamiaceae (Labiatae ) Características botânicas: ervas, arbustos ou árvores, folhas simples opostas ou verticiladas com limbo inteiro, denteado, lobado ou partido, revestidas de pelos glandulares que normalmente secretam essências aromáticas. Flores pequenas ou grandes, geralmente vistosas, reunidas em inflorescência derivada de ramos cimosos. São hermafroditas, diclamídeas, pentâmeras, bilabiadas com marcante zigomorfia (que em alguns casos é pouco pronunciada, ex: lavandula e mentha. Cálice tubuloso apresentando geralmente diferenciado em lábio superior (labrum) e inferior (labíolo). Androceu formado por dois a quatro estames. Fruto geralmente baga ou esquizocapo. Características químicas: óleos essenciais, terpenos e esteróis, flavonoides e raramente alcaloides. 102 Myrtaceae Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente subarbustos, tronco geralmente com córtex esfoliante; folhas opostas ou menos frequente alternas, raramente verticiladas, simples, margem inteira geralmente coriácea. Inflorescência geralmente cimosa, às vezes reduzida a uma única flor; flores vistosas, geralmente de coloração branca, bissexuada, raramente unissexuada, actinomorfa, diclamídea. Estames em geral em número duplo ao das pétalas. Fruto: baga, drupa, cápsula ou núcula. Características químicas: taninos, flavonoides, óleos essenciais, vitaminas B e C. Zingiberaceae Características botânicas: ervas rizomatosas; folhas alternas, peniparalelinérveas; bainha geralmente aberta. Inflorescência cimosa; flores vistosas, bissexuada, zigomorfa, diclamídea, heteroclamídea; cálice trímero, gamossépalo, corola trímera com uma pétala maior que as demais. Fruto: cápsula com semente com arilo ou baga. Características químicas: óleos essenciais, flavónoides, ácido oxálico, taninos e mucilagens. Euphorbiaceae Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas geralmente com látex; folhas alternas, raramente opostas ou verticiladas, simples ou menos frequente opostas, com estípulas, margem geralmente inteira, frequentemente com nectários extraflorais no pecíolo ou na face abaxial. Inflorescência cimosa ou racemosa, às vezes reduzida, formando uma estrutura semelhante à única flor. Flores não vistosas, unissexuada, actinomorfa, aclamídea às vezes envolvidas por brácteas vistosas. Cálice geralmente 3-6 mero, dialissépalo ou gamossépalo. Corola dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto geralmente cápsula, raramente baga, drupa ou sâmara. Características químicas: aminoácidos, di e triterpenos, óleos essenciais, taninos, alcalóides, esteróis. 103 Phyllanthaceae Características botânicas: ervas, arbustos, árvores não latescentes; folhas alternas geralmente trifoliadas, com estipulas, margem geralmente inteira, sem nectários extraflorais. Inflorescência racemosa, às vezes uniflora. Flores não vistosas, unissexuada(plantas monóicas ou dióicas), actinomorfa, monoclamídea ou raramente diclamídea. Cálice geralmente 2-8(12)-mero, geralmente gamossépalo, perfloração valvar ou umbricada. Corola 5-mera, dialipétala; estames 2-14 frequentemente unidos entre si, anteras rimosas; ovário supero . Corola dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto cápsula, com deiscência elástica (tricoca) semente sem carúncula. Ausência de latex e nectários extraflorais nas folhas. Características químicas: óleos essenciais, taninos, alcalóides, esteróis. Anacardiaceae Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente lianas ou ervas aromáticas; folhas geralmente alternas, compostas ou menos frequente simples, sem estípulas, margem inteira ou serreada. Flores pouco vistosas, geralmente unissexuada, actinomorfa, diclamídea. Cálice pentâmero, dialissépalo ou gamossépalo; corola pentâmera, dialipétala ou gamopétala. Fruto: em geral drupa ou sâmara. Características químicas: compostos fenólicos (taninos, chalconas, flavonóides), esteroides, vitamina C. Apiaceae (Umbelifareae) Características botânicas: ervas, muito raramente arbustos ou árvores geralmente aromáticos; folhas alternas, simples ou compostas. Inflorescência do tipo umbela, mais frequentemente composta. Flores não vistosas, bissexuadas ou raramente unissexuadas, actinomorfa, diclamídea ou raramente monoclamídea. Cálice pouco desenvolvido e pentâmero, dialissépalo; corola em geral pentâmera dialipétala. Fruto: esquizocárpicos com mericarpos semelhantes a aquênios. Características químicas: óleos essenciais, alcaloides, flavonoides, ácidos, tanino, mucilagens, esteroides, vitaminas do complexo B. 104 UNIDADE DIDÁTICA 5 Formas farmacêuticas Objetivos: Conhecer os mecanismos de extração dos princípios ativos das plantas medicinais. Identificar as formas farmacêuticas de algumas plantas entre as 71 estudadas como as substâncias ativas agem no organismo humano. Conhecer os efeitos prejudiciais no organismo humano, resultado da manipulação e/ou formas farmacêuticas erradas. Conhecer a legislação sobre quem pode manipular, registrar, prescrever e formular produtos fitoterápicos. Vide Anexo E : Portaria 6 de 31 de janeiro de 1995 (ANVISA)- Institui e normatiza o registro de produtos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Portaria 123 de 19 de outubro de 1994 (M.S.)- Normas para o registro de produtos fitoterápicos. Portaria 22 de 30 de outubro de 1967(M.S) Normas para o emprego de preparações fitoterápicas 105 UNIDADE DIDÁTICA 6 Prática de identificação Objetivos: Identificar no Jardim Botânico in natura as espécies medicinais da lista do SUS. Material: livros, textos, data show, computador, coleção de plantas medicinais (jardim), herbário e ervanário da FZB-BH. 106 PLANTAS MEDICINAIS Achilea millefolium L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: mil folhas, macelão, milefólio, erva dos carpinteiros, atroveram, aquiléa. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: diurético, anti-inflamatório, antiespasmódico, cicatrizante, carminativo, antidiarreico, no tratamento de hemorroidas, contusões, doenças da pele, feridas e dores musculares. Constituição química: óleo essencial com terpenos (cineol, cânfora, pinenos), taninos, mucilagens, resinas, saponinas, esteroides, flavonoides e cumarinas. Partes da planta a serem usadas: folhas e inflorescências. Como pode ser usada: infusão, decocção, suco, emplasto e pomadas. Curiosidade: da mitologia grega Aquiles foi ferido no calcanhar por uma flecha envenenada atirada por Páris. Afrodite usou essa planta para estancar a hemorragia. Também chamada de erva-do-carpinteiro. De acordo com a lenda, São José, trabalhando como carpinteiro, um dia feriu-se e o Menino Jesus foi buscar uma erva para curá-lo e trouxe a mil folhas. 107 Aloe vera (L.) Bum. F. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: erva-babosa, aloe-do cabo, babosa, babosa grande. Família: Aloeaceae (Liliaceae). Origem: sul da África. Usos: cicatrizante nos casos de queimaduras e ferimentos superficiais da pele, pela aplicação local do sumo fresco. Hemorroidas, contusões e dores reumáticas. Usado pelas mulheres no tratamento dos cabelos para dar brilho e força. Indicação confirmada: tratamento de queimaduras (1º e 2º graus) e de radiação. Constituição química: antraquinonas, aloinas e mucilagem constituída do polissacarídeo aloeferon. Partes usadas: gel mucilaginoso das folhas. Como pode ser usada: sumo fresco, alcoolatura e in natura. Uso tópico. Curiosidade: esta é uma das plantas de uso tradicional mais antigo que se conhece, inclusive pelos judeus, que costumavam envolver os mortos em lençol embebido no sumo de aloe, para retardar a putrefação, e no extrato de mirra, para encobrir o cheiro da morte. A babosa foi um dos ingredientes secretos da beleza de Cleópatra. Obs: ingerida em altas doses pode provocar nefrite aguda. 108 Artemisia absintium L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: losna, absinto, erva-dos-vermes, erva-santa, alvina, gotas-amargas. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Ásia, Europa e Norte da África. Usos: estimulante, tônico, vermífugo, distúrbios digestivos causados pelo mau funcionamento do fígado. Constituição química: óleo (tujona), sesquiterpenos (absintina), ácidos graxos, vitaminas B e C, flavonoides. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: infusão e maceração das folhas, compressas e decocção. Curiosidade: seu nome vem do grego e significa: “privado de doçura”. Essa planta é citada num papiro egípcio que data de 1600 a.C. Os celtas e árabes aconselhavam seu uso e os médicos da Antiguidade tinham-na como símbolo das dificuldades e tristezas da vida. Obs: gestantes e crianças não podem usar. Pode causar (em altas doses) convulsões, perda de consciência, câimbras e alucinações. 109 Baccharis trimera (Less) D.C. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: carqueja, carqueja-do-mato, carqueja amarga, vassoura, tiririca-de-barbado. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Brasil. Usos: confirmado - dispepsias. Outros usos: tônico, estomáquico, afecções estomacais, intestinais e do fígado. Constituição química: polifenóis (proantocianinas), flavonoides, lactonas sesquiterpênicas, alcaloides, óleos voláteis, taninos, saponinas. Partes usadas: caule alados. Como pode ser usada: infusão. Curiosidade: cresce em terras secas, pedregosas, à beira das estradas. Há séculos é usada pelos índios para o tratamento de várias doenças. O primeiro registro sobre seu uso data de 1931, para o tratamento de esterilidade feminina e impotência masculina. Obs: não é recomendado o uso durante a gravidez. O uso constante pode causar diminuição do potássio no organismo. 110 Bauhinia forficata Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: pata de vaca, bauínia, miriró, capa de bode, pata de boi, pata de veado, unha de vaca. Família: Fabaceae (Leguminosae). Origem: Brasil. Usos: antidiabético, diurético, purgante e usado no tratamento da cistite e do diabetes. Constituição química: esteroides, flavonoides livres e glicosilados, alcaloides (trigonelina), antocianidinas, sistosterol, mucilagens, saponinas, taninos, triterpenoides. Partes usadas: toda a planta. Como pode ser usada: folhas, flores e cascas. Curiosidade: os primeiros estudos que confirmaram a atividade hipoglicemiante foram refutados por um estudo mais recente, publicado em 1990. A árvore apresenta espinhos, as flores são brancas com folhas coriáceas com aspecto de uma pata de vaca. Gênero dedicado aos irmãos Bahuin, botânicos suíços do século XVI. Obs: atividade mutagênica induzindo a formação de tumores. O consumo crônico pode levar ao hipotiroidismo e à formação de bócio. 111 Bidens pilosa Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: erva-picão, picão-do-campo, carrapicho, guambu, cuambu, carrapicho de duas pontas, carrapicho-agulha, piolho de padre. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: América tropical (Brasil: Pampa e Mata Atlântica). Usos: problemas hepáticos (icterícia e hepatite). Propriedades diuréticas e depurativas. Bactericida, anti-inflamatório e externamente no tratamento de micoses. Constituição química: flavonoides, esteróis ácidos graxos, taninos, poliacetilenos, fenilheptatrina (antibiótico citotóxico através da fotosensibilização). Partes usadas: toda a planta. Como pode ser usada: infusão e banho. Curiosidade: o picão é um tipo de carrapicho comum de terrenos baldios e estradas. Para disseminar suas sementes, tem a estratégia de grudar nos animais. O extrato bruto inibe a síntese da protaglandina, que é parte de um processo metabólico ligado à dor de cabeça e doenças inflamatórias. 112 Bryophyllum pinnatum Kurz. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica Nomes populares: folha grossa, roda-da-fortuna, fortuna, folha-da-costa. Família: Crassulaceae. Origem: Ilhas Maurício ou África. Usos: emoliente, cicatrizante e anti-inflamatório (uso externo). Usado também no tratamento de úlceras gástricas e gastrite. Constituição química: hidrocarbonetos, álcoois, triterpenos, esteróis, flavonoides livres: quercetina. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: cataplasma e suco. Curiosidade: a espécie Kalanchoe brasiliensis pode ser confundida com a Bryophyllum pinnatum, K. brasiliensis pode causar hipotiroidismo, por isso a importância da identificação correta da planta. Dizem que a folha da fortuna traz dinheiro a quem possuí-la. Mas seu valor está mesmo nas indicações medicinais, não há dinheiro que pague a saúde. 113 Calendula officinalis L. Fonte: Fernando Fernandes. Nomes populares: calêndula, malmequer e maravilha-dos-jardins, maravilha dos jardins. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: ação cicatrizante e antisséptica (uso externo), sudorífica, analgésica, anti-inflamatória e tonificante da pele (contra acne), manchas da pele, queimaduras. Constituição química: óleos essenciais, carotenoides, flavonoides (rutina e heperidina, mucilagens, saponinas, resinas e princípio amargo). Partes usadas: flores e folhas. Como pode ser usada: pomadas e tintura das flores e folhas, cataplasma e infusão. Curiosidade: na Espanha era considerada uma planta mágica. Para obter proteção contra todos os perigos, os feiticeiros aconselhavam a usar um talismã de calêndulas colhidas quando o sol estivesse entrando no signo de virgem, embrulhadas junto com um dente de lobo e várias flores de louro. Uma guirlanda de calêndulas na porta impede à entrada de qualquer tipo de mal. A menina que andar descalça em cima das pétalas de calêndula vai conseguir entender a linguagem dos pássaros. Obs: o uso interno dessa planta é proibido nos Estados Unidos e Europa. 114 Chamomilla recutita (L.) Rauschert Matricaria chamomilla L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: camomila, maçanilha, matricária, camomila- verdadeira. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Europa. Usos: sedativo, carminativo, carminativo, antiespasmódico, digestivo, cicatrizante, antivirótico (herpes), antisséptico, como cosmético (clareador dos cabelos). Constituição química: óleo essencial azul (abisabolol), polissacaridios, ésteres, flavonoides. Partes usadas: capítulos florais. Como pode ser usada: infusão, pomadas, cremes, loções e xampus. Curiosidade: os egípcios dedicavam a camomila ao sol e adoravam-na mais do que qualquer outra erva, pelas suas propriedades curativas. O nome “Matricaria” deriva do latim, “Mater”, ou talvez de “Matrix”, útero, por ser utilizada em doenças femininas. "Olho gordo". Obs: pode provocar dermatite de contato. 115 Chenopodium ambrosioides L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: ambrosina, mentruz, erva formigueira, mastruz, mastruço, erva-de-santa-maria, quenopódio. Família: Chenopodiaceae. Origem: América Central e América do Sul (Brasil). Usos: estomáquica, diurética, vermífuga, sudorífera, infecções pulmonares, cicatrizante. Constituição química: óleo essencial (ascaridol), proteínas, compostos flavônicos, vitamina C, ácidos e carotenoides. Partes usadas: folhas e flores. Como pode ser usada: infusão, sumo, cataplasma. Curiosidade: Chenopus - que tem os pés espalmados como de ganso. A estrutura da planta inteira é de pé de ganso, explicando a etimologia da planta. Colocar ramos da erva de santa maria debaixo dos colchões ou varrer a casa utilizando suas folhas como vassoura elimina e repele pulgas e percevejos. Obs: o óleo essencial da planta pode causar vômitos, lesões hepáticas e renais. A dose letal em ratos é de 0,075 mg/kg. 116 Cynara Scolymus L. Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica. Nomes populares: alcachofra, cachofra. Família: Asteraceae (Compositae). Origem: Mediterrâneo. Usos: depurativa do sangue, colagoga, hipoglicemiante, laxante, ativa a vesícula biliar, abaixa os níveis de colesterol (HDL) e açúcar do sangue e facilita a digestão Constituição química: flavonoides livres e glicosilados, óleos essenciais, cinarina e ácido cafeico. Partes usadas: folhas. Como pode ser usada: decocção, tintura, vinho e extrato. Curiosidade: a alcachofra não é só uma planta alimentícia, mas uma erva medicinal que recebeu dos médicos árabes o nome de “al-kharsaf”. O nome genérico “cynara” vem do latim “canina” e refere-se à semelhança dos espinhos que a envolvem com os dentes de cachorro. As folhas devem ser colhidas antes da floração.