c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o ORDEM DOS FARMACÊUTICOS A vacina da gripe Os vírus Influenza pertencem à família Orthomyxoviridae, vírus com envelope, de ARN em cadeia simples segmen‑ tada,1 contendo à sua superfície duas glicoproteínas, a hemaglutinina (HA) e a neuraminidase (NA). A família é composta por quatro géneros diferentes: A, B, C e Tho‑ goto,2 sendo os tipos A e B particularmente importantes por estarem associados à ocorrência de pandemias e epidemias humanas. Os vírus do tipo A são ainda clas‑ sificados em subtipos, com base nas características an‑ tigénicas da HA e da NA. A hemaglutinina é responsável por mediar a ligação da partícula viral aos receptores da célula hospedeira e por promover a libertação do ARN viral através da fusão membranar.3 A neuraminidase é de vital importância no ciclo de replicação dos vírus Influenza. Facilita a libertação da progenia de viriões das células infectadas, previne a sua agregação e permite a penetração dos vírus através do muco protector das vias respiratórias.4 Actualmente são conhecidos 16 subtipos de HA e 9 subtipos de NA.3 Os vírus Influenza, sobretudo os vírus do tipo A, são ca‑ racterizados por uma elevada taxa de alteração das suas características antigénicas. Pode acontecer que estas mutações originem proteínas suficientemente diferentes para que não sejam reconhecidas pelos anticorpos do hospedeiro, evitando a neutralização dos vírus e resultan‑ do numa nova variante capaz de causar doença.5,6 Este é o tipo de alteração mais frequente, responsável pelas vulgares gripes e pela necessidade de revisão anual da composição das vacinas. A segunda alteração é menos frequente e conduz a alterações antigénicas significativas.6 Surge quando dois vírus diferentes, na maioria dos casos provenientes de espécies hospedeiras diferentes, infec‑ tam conjuntamente um único hospedeiro, que funciona como “vaso de mistura”.5 Forma‑se então um novo vírus, resultado da recombinação entre segmentos de ambos os genomas. Este novo vírus possui uma patogenicidade im‑ previsível, podendo ter a capacidade de causar epidemias ou mesmo pandemias devido à ausência de imunidade da população. As pandemias e epidemias ocorridas no último século resultaram deste tipo de acontecimento. A primeira pandemia e mais conhecida ocorreu em 1918­‑1919 e ficou conhecida como “gripe espanhola”. Foi causada por um vírus H1N1 e causou a morte a pelo menos 40 milhões de pessoas. Outras pandemias de menor severidade ocorre‑ ram em 1957 (“gripe asiática”, causada por vírus H2N2), em 1968 (“gripe de Hong Kong”, causada por vírus H3N2) e em 1977 (“gripe russa”, causada por vírus H1N1).3,7 Desde 1947 a Organização Mundial de Saúde (OMS) monitoriza a actividade dos vírus Influenza através da avaliação de dados epidemiológicos colhidos em 110 centros Influenza espalhados por 82 países e 4 centros de colaboração da OMS, localizados em Atlanta (EUA), Londres (Reino Unido), Melbourne (Austrália) e Tóquio (Japão).8 A monitorização tem por base análises antigé‑ nicas e genéticas das estirpes virais circulantes e serve de fundamento à escolha das estirpes de vírus Influenza a integrarem a vacina para uma determinada época. A vAcinA interpAnDémicA A vacinação é uma das formas mais eficazes de controlo da gripe, mas a sua eficácia é reduzida no caso de as estirpes virais que a compõem serem diferentes das circulantes. Assim, e tendo por base as estirpes virais que circularam durante a época anterior (no caso do Hemisfério Norte, período que vai de Outubro a Janeiro/Fevereiro), a OMS emite em Fevereiro de cada ano as recomendações para a composição das vacinas contra a gripe da época seguinte. Após a emissão das recomendações pela OMS segue‑se um período em que são desenvolvidas e testadas diversas estirpes de vírus de elevada capacidade de crescimento, potencialmente utilizáveis na produção de vacinas. Com base na informação da OMS e dos 4 centros de colabora‑ ção da OMS, relativamente à capacidade de crescimento das estirpes virais, às suas características antigénicas e ainda a dados de estudos serológicos, a Agência Euro‑ peia de Medicamentos (EMEA) emite as recomendações sazonais para a composição das vacinas, após o que são fornecidas as estirpes de referência aos produtores para a produção das mesmas. Assim, a composição aprovada para a época 2006/2007 é a seguinte: A/New Caledonia/20/99 (H1N1); A/Wisconsin/67/2005 (H3N2); B/Malaysia/2506/2004. As vacinas contra a gripe habitualmente utilizadas são vacinas inactivadas, podendo ser de virião total, virião fragmentado, ou de antigénios de superfície. Indepen‑ dentemente do tipo, a sua composição deverá obedecer às recomendações da OMS e da EMEA, e terá de ser anu‑ almente avaliada e autorizada pela autoridade nacional, o INFARMED. Apesar de nem sempre associada a um diagnóstico correc‑ to, as infecções por vírus Influenza são responsáveis por uma taxa de mortalidade anual nos países desenvolvidos superior à originada por todas as outras doenças respira‑ tórias em conjunto.9 Encontra‑se descrita uma eficácia da vacina contra a gripe entre 70‑90%, em indivíduos adultos, para vacinas contendo estirpes idênticas às circulantes.8 Julho/Agosto 2006 Boletim do CIM Director: J. A. Aranda da Silva Boletim do CIM Julho/Agosto 2006 No Hemisfério Norte as vacinas são normalmente admi‑ nistradas entre Outubro e Novembro de cada ano, tendo os seguintes grupos populacionais como alvo:10 crianças dos 6 aos 23 meses e pessoas com idade su‑ perior a 65 anos; pessoas com doenças crónicas dos sistemas pulmonar e cardiovascular; pessoas que possam vir a estar grávidas durante a época habitual de gripes; residentes de instituições prestadoras de cuidados de saúde, independentemente da sua idade; pessoas ou crianças que necessitaram durante o decorrer do ano anterior de cuidados médicos ou hospitalização devido a desordens metabólicas crónicas, disfunção renal, hemoglobinopatias ou imunossupressão; crianças e adolescentes (6 meses‑18 anos) que rece‑ beram terapia prolongada com ácido acetilsalicílico, e assim em risco de desenvolverem o síndroma de Reye após infecção pelo vírus Influenza. A vAcinA pAnDémicA Enquanto a composição das vacinas interpandémicas tem por base uma previsão das estirpes que irão circular na época seguinte, no caso da vacina pandémica essa pre‑ visão é impossível pelo facto de se desconhecer qual irá ser a estirpe (ou estirpes) pandémica. Existem actual‑ mente algumas estirpes potencialmente pandémicas, cujo reservatório habitual são as aves aquáticas mas que, ao transporem a barreira das espécies, se tornam altamen‑ te patogénicas para o Homem. Exemplos são as estirpes H5N1 ou H7N7, que até à data causaram 62 mortes.2 Os desenvolvimentos na produção de vacinas pandémicas conduziram no final de 2005/início de 2006 à submissão, para apreciação pela EMEA, de dois dossiês de vacinas pandémicas.11,12 Ambos seguiram o procedimento recen‑ temente instituído ao nível da Agência Europeia, de ava‑ liação e aprovação de um “core dossier” pandémico em período interpandémico. A esta etapa seguir‑se‑á, em caso de pandemia, uma aprovação rápida da vacina pandémica baseada na submissão de uma variação pandémica (alte‑ ração das estirpes). Este processo é baseado na produção de uma vacina “mock­‑up”, vacina que tem o mesmo sis‑ tema de produção da vacina pandémica, o mesmo con‑ teúdo em antigénios, o mesmo adjuvante e igual forma de administração. Os antigénios desta vacina deverão ser diferentes dos correntemente em circulação de modo a simular uma situação em que a população não se encontra imune.13 O objectivo deste procedimento é o de agilizar o processo de autorização das vacinas em caso de pandemia. Existem actualmente em desenvolvimento 31 vacinas pan‑ démicas de diferentes tipos (inactivadas com antigénios de superfície, de virião total, de virião fragmentado, e vivas atenuadas), com produção em sistema celular ou recorren‑ do à forma mais tradicional (em ovos embrionados), con‑ tendo ou não adjuvante,14 à espera da próxima pandemia. OS AntivirAiS A alternativa à prevenção é a terapêutica, e no caso das infecções por Influenza, a utilização de agentes antivirais. Existem duas classes de agentes antivirais: os inibidores M2 e os inibidores da neuraminidase. Os inibidores M2, de que são exemplos a amantadina e rimantadina, actuam por inibição da replicação dos vírus, através do bloqueio da actividade do canal iónico M2.15 Têm a desvantagem de se limitarem ao tratamento das infecções por vírus tipo A e causarem alguns efeitos secundários, nomeadamen‑ te neurológicos. Os inibidores na neuraminidase, como o zanamivir e o oseltamivir, encontram‑se indicados para o tratamento de infecções por vírus quer do tipo A, quer B. Ao inibirem a acção da neuraminidase, previnem a li‑ bertação dos vírus das superfícies celulares e impedem a sua movimentação através das mucosas.16 Os fármacos antivirais não devem substituir as vacinas como medida preventiva primária contra o vírus Influenza, mas são recomendados em algumas situações de saúde pública como adjuvantes à vacinação. Em caso de pandemia, es‑ tes fármacos ganham particular importância; num cenário em que não haja disponibilidade de vacinas para toda a população, ou em caso de ineficácia das mesmas, serão certamente um recurso viável. Como foi anteriormente referido, as vacinas são a forma mais eficaz de prevenir a infecção por vírus Influenza. As vacinas sazonais contra a gripe são vendidas em farmá‑ cias, mediante apresentação de receita médica. O papel do farmacêutico passará não só por aconselhar a vacinação a determinados grupos de risco, como forma eficaz de evitar a disseminação das infecções causadas por estes agentes, mas também eventualmente por avaliar a necessidade/ adequabilidade dessa vacinação, nomeadamente tendo em consideração a época do ano mais adequada. Alexandra Safara inverno1, Helder mota‑Filipe2 Bióloga, Lab. Biologia e Biotecnologia (INFARMED) 1 Farmacêutico, Prof. Farmacologia (FFUL) 2 e Vice‑Presidente CA (INFARMED) Bibliografia 1. Lamb R.A, Krug R.M. Orthomyxoviridae: The viruses and Their Replication. In: Fields B.N., Knipe D.M., Howley P. M. et al. eds. Fiel‑ ds Virology, Philadelphia, Lippincott – Raven Publishers, 1996. 2. Luke C.J., Subbarao K. Emerg Infect Dis, 2006; 12(1): 66‑72. 3. Horimoto T., Kawaoka Y. Nat Rev Microbiol, 2005; 3: 591‑600. 4. Colman P.M. J Antimicrob Chemother, 1999; 44: 17‑22. 5. Zambon M.C. J Antimicrob Chemother, 1999; 44: 3‑9. 6. Krug R.M. 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A gripe constitui um grande problema de saúde pública.1 É uma doença altamente infecciosa que pode causar mor‑ bilidade e mortalidade significativas,2 bem como grandes perdas económicas,1,3 resultantes tanto do uso de recursos de saúde, como de perdas de produtividade.3 O vírus influenza (VI) pertence à família Orthomyxoviridae dos vírus ARN.1,4 Os 3 tipos mais importantes são A, B e C;5,6 os VI de tipo A são geralmente responsáveis por infecções mais graves do que os VI de tipo B; o de tipo C provoca apenas uma sintomatologia benigna. O VI de tipo A é o único que possui subtipos, caracterizados consoante as propriedades antigénicas das duas glicoproteínas de superfície,5 a hemaglutinina e a neuraminidase.1,4,5 O VI transmite‑se por meio de inalação de gotículas de secreções respiratórias infectadas,2,5,7,8 por contacto di‑ recto, ou indirecto através de autoinoculação no tracto respiratório superior ou mucosa conjuntival.7,8 Após um período de incubação de 1 a 2 dias, os sintomas iniciam‑ ‑se abruptamente4 pela aparição de febre, tosse, dores musculares, cefaleias2,4,5 arrepios,4,5 dor de garganta, ri‑ nite, astenia,2,5 anorexia e mal‑estar.4 Na maioria dos casos a doença é autolimitada;4 contudo, a gripe pode acarretar uma elevada incidência de morbi‑ lidade e mortalidade em populações como crianças muito novas,4,5,7 indivíduos com mais de 65 anos,1,5,7 grávidas,4 indivíduos com patologias crónicas do sistema respira‑ tório, cardiovascular, endócrino ou imunitário,1,4,5,7 com doença crónica renal1,5,7 ou hepática,1 doença neoplási‑ ca,1,5 doentes transplantados ou com doença crónica do tecido conjuntivo.1 As complicações são principalmente de natureza respiratória5,7 – pneumonia viral primária4 ou bacteriana secundária1,4 e os doentes crónicos podem sofrer um agravamento da sua patologia.5,7 Existem 2 classes de fármacos que interferem com o VI: os inibidores da proteína M2 (IM2) – amantadina e riman‑ tadina, e os inibidores da neuraminidase (INA) – zanami‑ vir e oseltamivir.1,4,7,9,10 inibiDOreS DA prOteínA m2 Inibem a função da proteína M2, que permite a entrada de iões H+ dentro do vírus,1,2 necessários para a liberta‑ ção do seu genoma a partir da célula infectada.4,5 O canal iónico do VI de tipo B é estruturalmente diferente e por isso não é bloqueado pelos IM2.1,2,4,11,12 Apresentam uma eficácia semelhante contra o VI de tipo A, tanto em tratamento como em profilaxia, mas a rimanta‑ dina possui um melhor perfil de efeitos adversos.2,10 Uma vez que a rimantadina não se encontra disponível no nosso país, não será abordada com mais pormenor. Amantadina – Os ensaios clínicos têm demonstrado uma redução dos sintomas gripais em cerca de 1 dia.1,5,10 Em profilaxia, mostrou ser eficaz13 na população geral, em residentes em lares e também em crianças.2,5 Apresen‑ ta menor eficácia em profilaxia pós‑exposição, devido a que o uso em tratamento conduz à selecção de estirpes resistentes.12 Não existem evidências de que previna as complicações associadas à gripe.5,10 Os efeitos adversos da amantadina são dependentes da dose. Ocorrem frequentemente perturbações digestivas – anorexia, náuseas, vómitos ou obstipação,5 e do SNC – nervosismo, dificuldades de concentração,2,5 insónias1,2 e, em casos mais graves, pesadelos,1 delírio, convulsões2,5 e alucinações,1,2,5 especialmente em doentes idosos ou com insuficiência renal,1,2,5 nos quais a dose deve ser reduzida.1,5 Os factores limitantes ao uso da amantadina são o seu es‑ pectro limitado,1,2,9 rápido desenvolvimento de estirpes resis‑ tentes1‑3,5,6,9,10,12,14 em cerca de 30% dos doentes,1,5,6,10‑12,14 com transmissibilidade e virulência semelhantes às das estirpes sensíveis,2,6,9,10,14 e os seus efeitos adversos e estreita margem terapêutica.1,2,9 inibiDOreS DA neurAminiDASe Ligam‑se ao sítio activo da neuraminidase viral, dificultando a libertação e dispersão dos vírus recém‑formados, o que diminui a disseminação da infecção no tracto respirató‑ rio.1,4,5,9,11 São activos contra os VI de tipo A e B.1,5‑7,9 Os ensaios demonstraram uma redução na duração dos sintomas da gripe entre 1 a 2 dias1,9 quando iniciados até 36‑48 h após o seu aparecimento,3,9 reduzindo também a sua gravidade.1,3 O início precoce do tratamento parece ser o determinante mais importante para a eficácia dos INAs.1,3,9 Parecem também eficazes em profilaxia;7,9,12,15 estudos em adultos saudáveis demonstraram uma eficácia de 70‑90%7,9,15 em prevenção sazonal ou pós‑exposição.7,9 Os INAs são também eficazes na prevenção de complica‑ ções; contudo, não previnem infecções assintomáticas e diminuem mas não interrompem a excreção nasal de VI.13 Os INAs são muito menos susceptíveis de promover o desenvolvimento de resistências.9,14 A emergência de re‑ sistência durante o tratamento com zanamivir tem sido rara.9,10,14 A frequência de isolamento de vírus resistentes ao oseltamivir é superior,5,9 parecendo particularmente ele‑ vada em crianças,6,9,10,16 o que pode constituir um problema sério,9,10 uma vez que estas são uma importante fonte de transmissão da gripe na comunidade.9 Dados recentes rela‑ tam o isolamento de estirpes resistentes em indivíduos não tratados com INAs,10,17 o que indicia que possam ser trans‑ missíveis,17 facto já sugerido por estudos em animais.9,10,14 Zanamivir – A sua fraca biodisponibilidade oral requer que seja administrado através de pó para inalação.9,10,12 Ensaios clínicos demonstraram uma redução dos sintomas em 15 a 1,5 dias.10 Aparenta maior benefício em doentes mais graves ou mais velhos,12 mas ensaios em crianças tam‑ bém mostraram uma diminuição na duração e gravidade dos sintomas.9 Em análises retrospectivas não demonstrou benefício relativamente ao risco de complicações da gripe.5 Contudo, alguns estudos indicam que pode reduzir o ris‑ co de complicações do tracto respiratório inferior.14 Parece eficaz em profilaxia,5,9,12 tanto sazonal como pós‑exposição em meio familiar,5,9 bem como em residentes em lares.10 O zanamivir é geralmente bem tolerado.4,9 Os seus efeitos adversos são principalmente sintomas pseudogripais;5,10 contudo, também pode ocorrer broncoespasmo,5,9,10 por vezes mortal,5 diminuição da função respiratória4,5,9 e tosse.9 Estes efeitos ocorrem essencialmente em doentes asmáticos ou com doença pulmonar obstructiva crónica,4,5,10 mas não só.5 A inalação oral requer uma boa coordenação motora e destreza,11 o que pode ser difícil em alguns doentes idosos.1 Oseltamivir – Tem eficácia demonstrada no tratamento da gripe,9,13 especialmente quando iniciado nas primeiras 12 horas após o aparecimento dos sintomas.1,9 Parece di‑ minuir a incidência de complicações respiratórias.9,10,13,14 Julho/Agosto 2006 Antivíricos na gripe Boletim do CIM Julho/Agosto 2006 Contudo, numa síntese de vários ensaios, não provou re‑ duzir a incidência de pneumonia e a taxa de hospitalização de doentes em risco elevado de complicações.5 Diversos estudos demonstraram a sua eficácia profiláctica, tanto na gripe sazonal como pós‑exposição familiar em adultos e crianças.9,10 Alguns dados indicam que também possa ser eficaz na profilaxia da gripe em doentes com ris‑ co de complicações, como idosos residentes em lares.5,9,10 Os efeitos adversos mais frequentes do oseltamivir são digestivos: náuseas, vómitos e dores abdominais.4,5,9 O consumo de alimentos não interfere com a absorção do fármaco9 e pode reduzir as náuseas e vómitos.4,9 recOmenDAçõeS De uSO A vacinação, que constitui o aspecto essencial do controlo da gripe,1,3,4,9 tem sido dirigida aos grupos de alto risco.1,3 Quando existe concordância antigénica entre a vacina e a estirpe circulante, aquela previne a doença em cerca de 70% dos adultos saudáveis.3,4,12,15 No entanto, em idosos, a eficácia da vacina pode ser de apenas 40%1,3,4 ou infe‑ rior,3,4 bem como em doentes com imunossupressão, já que podem não formar anticorpos suficientes.1,12 O uso de antivíricos pode ser adequado em: tratamento de doentes de alto risco não vacinados1,12 ou de infecções que surjam apesar da vacinação, controlo de surtos em lares e instituições, profilaxia em situações nas quais a estirpe circulante difere da estirpe vacinal1,2 ou enquanto a vacina não gera imunidade, ou em indivíduos que não se podem vacinar (ex. alergia a constituintes da vacina).12 Os indivíduos não vacinados em ocupações críticas tam‑ bém podem beneficiar com o tratamento.1 As principais vantagens dos INAs sobre os IM2 são a sua actividade contra os VI A e B, melhor perfil de seguran‑ ça1,2,11,12 e menor potencial de indução de resistências.2,11,12 O uso dos IM2 não é actualmente aconselhado no trata‑ mento da gripe.1,13 Em profilaxia, o uso dos INAs também parece preferível2,9 mas a amantadina pode ser adequada em profilaxia sazonal na comunidade se a estirpe circulante for do tipo A.9 O oseltamivir pode ser utilizado em profilaxia pós‑exposição em indivíduos não vacinados5,9 e durante surtos em instituições (p. ex. lares), em complemento a outras medidas.5 Os antivíricos não devem ser prescritos se os sintomas estão presentes há mais de 36‑48 horas,1 excepto em doentes críticos. Os INAs devem idealmen‑ te ser iniciados até 12 horas após o começo da doença.9 Gripe AviáriA As pandemias de gripe são surtos globais da doença causados por um vírus com novos subtipos antigénicos e com 3 características importantes: capacidade para infectar humanos, população vulnerável sem imunidade preexistente e transmissão eficiente entre humanos.7,9 O vírus da gripe aviária altamente patogénico H5N1 já cumpre os 2 primeiros critérios – apesar de relatos de provável transmissão entre humanos, não foi ainda docu‑ mentado que tal aconteça de forma sustentada,8,9 e pare‑ ce o candidato mais viável para originar uma pandemia.6 Os antivíricos constituem uma importante parte da estra‑ tégia para lidar com uma epidemia de gripe causada por um novo VI, dado que vacinas específicas para uma estir‑ pe emergente requerem diversos meses de preparação.6,9 O rápido desenvolvimento de resistência durante o tratamen‑ to e os efeitos adversos limitam a utilidade dos IM2 durante uma pandemia.7 Estirpes do VI H5N1 isoladas recentemente são resistentes aos IM2 mas sensíveis aos INAs.6,7,9,14 Assim, estes são actualmente as únicas opções para tratamento ou profilaxia.9 Em pandemias anteriores os IM2 atingiram eficácias protectoras de cerca de 70%; espera‑se que a eficácia dos INAs seja pelo menos tão alta.8,9 Contudo, a informação existente sobre a eficácia dos INAs em infecção pelo VI H5N1 é limitada,6,7 havendo autores que afirmam que não existem evidências credíveis da sua eficácia em es‑ tirpes de VI aviares.13 A OMS recomenda preferencialmente o uso do oseltamivir devido aos níveis séricos relativamente baixos do zanamivir e ausência de dados referentes à sua eficácia, bem como pelo modo de administração, que pode ser problemático em crianças muito novas e idosos, doen‑ tes intubados ou gravemente doentes.6 Há relatos recen‑ tes de aparecimento de estirpes do VI H5N1 com elevada resistência ao oseltamivir.7,8,17 Isto sugere que ambos os INAs devam ser incluídos numa estratégia de preparação contra uma pandemia,6,9 dado que, ao contrário do osel‑ tamivir, a molécula do zanamivir não requer um rearranjo antes de se ligar ao seu alvo,7 mantendo‑se provavelmen‑ te eficaz contra estirpes resistentes ao oseltamivir.7,11,14 Doentes com suspeita de infecção pelo VI H5N1 devem ser tratados com oseltamivir enquanto se aguarda confirma‑ ção laboratorial. Em profissionais de saúde com possível exposição não protegida recomenda‑se profilaxia com o oseltamivir,8 bem como a contactos próximos de casos confirmados.7,8 O zanamivir pode ser equacionado para profilaxia em profissionais de saúde a cuidar de doentes em tratamento com oseltamivir e no tratamento de do‑ entes menos graves que podem não necessitar de níveis séricos elevados.6 Deve ser ponderada profilaxia de longa duração em indivíduos com funções essenciais na socie‑ dade.7 Existem recomendações nacionais sobre o uso dos antivíricos na doença humana por VI H5N1.18 O uso dos INAs numa situação de pandemia só deve ser considerado com medidas de saúde pública concomitan‑ tes.13,14 O seu uso indiscriminado no tratamento da gripe deve ser desencorajado, já que vai promover a emergên‑ cia de estirpes resistentes.6 A dependência excessiva de soluções farmacológicas pode alterar comportamentos e facilitar a disseminação do vírus, além de impedir o de‑ senvolvimento e implementação de estratégias de inter‑ venção baseadas em medidas de saúde pública.13 Ana paula mendes Bibliografia 1. 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