21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil ASPERSÃO TÉRMICA DE ZrO2-8Y2O3 PARA BARREIRA TÉRMICA EM COLETORES DE EXAUSTÃO DE VEÍCULOS DE ALTA PERFORMANCE (FÓRMULA SAE). W. Giallonardo¹, C. Zavaglia¹ Av. Melchert, 985 apto.82, Chácara Seis de Outubro , São Paulo, SP - Brasil, 03508-000, [email protected] ¹Departamento de Engenharia de Manufatura e Materiais - DEMM - Faculdade de Engenharia Mecânica - FEM - Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP RESUMO O presente trabalho propõe um método para obtenção de barreira térmica em coletores de exaustão para veículos de alta performance. O método consiste na deposição cerâmica de Zircônia estabilizada 8% com Ítria (ZrO2-8Y2O3) pelo método de Plasma Spray, melhorando assim o isolamento térmico do conjunto. Para verificar a eficiência da barreira térmica foram feitos estudos em corpos de prova de aço inoxidável AISI 304 aspergidos com Zircônia Ítria, em corpos de prova revestidos com fita térmica composta por fibra cerâmica e em corpos de prova com ambas aplicações. Assim obteve-se parâmetros de comparação entre os métodos convencionais (barreiras metálicas e materiais isolantes térmicos) e o método de deposição de Zircônia estabilizada 8% com Ítria. Concluiu-se que os experimentos com recobrimento cerâmico e fita térmica quando usados em conjunto teve a melhor eficiência, seguido do experimento onde foi feito apenas recobrimento cerâmico e do que foi usado a fita térmica. Palavras-chave: Zircônia Ítria, aspersão térmica a plasma spray, coberturas cerâmicas, fórmula SAE. INTRODUÇÃO Em motores de combustão interna um dos maiores problemas encontrados é o calor gerado e a refrigeração, principalmente em veículos de alta performance que geralmente são levados a situações mais críticas e trabalham em faixas de rotação bem maiores que veículos convencionais. Os gases de exaustão podem chegar a temperaturas de 1000K em veículos de competição(1). 1023 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil A dissipação de calor e a diferença de temperatura na saída dos cilindros pode trazer inúmeros aspectos negativos para o bom funcionamento do mesmo, como disparidade na velocidade dos gases de saída e disparidade de carga nos cilindros, ainda há o aumento de temperatura no cofre do motor, aquecendo o sistema de admissão e demais componentes ao redor do sistema de exaustão. No caso de veículos de Fórmula SAE, devido ao seu tamanho, o motor está posicionado atrás do condutor, com os dutos do coletor de exaustão posicionados em direção às costas do condutor, estudos em anos anteriores com termopares mostraram que os gases no coletor de exaustão próximo ao cabeçote chegam a temperaturas de até 720ºC, havendo um problema ergonômico e podendo gerar desconforto e até mesmo queimaduras ao condutor. Há ainda ganhos, pois ao isolar de maneira mais eficiente o coletor de exaustão ocorre um aumento da velocidade dos gases de escape devido à diminuição da densidade, que é benéfica para o motor termodinamicamente e que resulta numa melhora de desempenho do motor e num menor aquecimento do bloco e do sistema de arrefecimento, entre outros. Uma nova solução depois de estudo foi formulada: materiais cerâmicos podem ter diversas finalidades, uma delas é como barreira térmica, e um dos métodos mais eficientes para recobrir uma superfície metálica com cerâmica é o processo de "Aspersão térmica a Plasma Spray" que será chamado nesse trabalho de ATPS. A solução foi recobrir o substrato metálico de aço inoxidável AISI 304 pela Zircônia estabilizada com 8% de Ítria (ZrO2-8Y2O3), que se mostrou muito eficiente quando usada como barreira-térmica em outros usos. O objetivo principal então é verificar e atestar que a barreira térmica tida por ATPS é mais eficiente para o uso em questão do que os métodos convencionais (fita térmica de fibra de vidro, fita térmica de fibra cerâmica e metal sem proteção). Seu maior uso se dá a nível industrial e aeronáutico, usada principalmente no recobrimento cerâmico de palhetas de turbinas, e já há usos no setor energético. (2) MATERIAIS E MÉTODOS Materiais O pó de zircônia estabilizada com ítria escolhido foi o Sulzer Metco manufaturado por aglomeração e densificação (HOSPtm - Hollow Oven Spherical 1024 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Powder) de código 204B-NS(2), fornecido pelo Laboratório de Aspersão do LABIOMEC que adquiriu diretamente da Sulzer Metco.Suas características são: Um pó com excelente fluência, homogeneidade química, estabilidade estrutural e alta pureza. Voltado para ser utilizado como proteção térmica em temperaturas de até 1250ºC (o que atende a utilização em coletores de exaustão). A Tabela 1 mostra as características desse material. Tabela 1 - Características e recomendações para o pó 204B-NS(3 e 4) Para o substrato foi usado aço inoxidável AISI 304 ASTM A554 em perfil tubular com diâmetro externo de 50,8mm e parede com espessura de 2mm, fornecido pela equipe FSAE Unicamp que adquiriu com a empresa Carbinox, de Mogi das Cruzes - SP. Mesmo material da confecção do coletor de exaustão do protótipo F2011 fabricado pela equipe e amplamente utilizado para a confecção de coletores de exaustão personalizados pois apresenta características de ductilidade adequadas para o processo de dobras, resistência à corrosão para evitar oxidação excessiva, e temperatura de fusão adequada(1400ºC-1455ºC). A fita térmica utilizada para comparação foi a Fita Térmica SPA de cód. ACTERM07, com largura de 25,4mm, espessura de 1,7mm, adquirida em rolos de 10m de comprimento. Adquirida na SPA Turbo, de São Paulo - SP. Fabricada em fios de fibra cerâmica, tem alta capacidade de isolamento térmico, com temperatura 1025 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil máxima de trabalho de 1.260°C e carga de ruptura de 20 kgf/cm. Suas propriedades atendem os requisitos de isolamento de um coletor de exaustão. A ATPS foi feita no Laboratório de Aspersão Térmica do LABIOMEC - DEMM, um sistema Sulzer-Metco com aplicador MBN 3MB-II, alimentador de pó 4MP, trocador de calor 4ME e unidade de controle MCN. As abraçadeiras utilizadas para fixar a fita térmica foram Flexil Jet de 50,8mm, fabricadas em aço inoxidável 304 e fabricada pela Metalúrgica Suprens LTDA, adquiridas na loja O Seringueiro, de Campinas - SP. Métodos A ideia para os experimentos foi simular a situação de um duto de exaustão utilizando-se de um maçarico oxi-acetileno com ponta de solda como fonte para os gases e para atingir a temperatura exigida. O planejamento experimental foi elaborado tomando como base um experimento teste para achar os parâmetros adequados e condizentes com a situação real de um coletor de exaustão, achando também os pontos de calibração da mistura oxigênio/acetileno do maçarico, distâncias e posições de termopares e comprimentos de dutos. Para isso foi tomada uma amostra teste de 1,2m sem nenhum tipo de barreira térmica, simulando um sistema sem isolamento, e foram colocados termopares na região interna e na região externa do tubo, para verificar a eficiência do isolamento. Assim com o auxílio do equipamento para aquisição de dados configurado a 5Hz, dois pares de termopares e um computador, chegou-se nos seguintes parâmetros: Amostras teste com 300mm de comprimento, tempo de duração do teste de 20 minutos para estabilização das temperaturas internas e externas (duração da maior prova na competição de um Fórmula SAE), chama rica da mistura oxigênio/acetileno (devido às altas temperaturas da chama estequiométrica), termopares internos e externos posicionados a 130mm da entrada da chama, todo o sistema isolado com o auxílio de mantas de lã de rocha para que as variações ambiente não influenciem nos termopares. No final dos 20 minutos o isolamento foi retirado para se aquisitar e verificar como a temperatura se comportava quando o sistema estivesse exposto ao ambiente. Para a preparação do substrato, as oito amostras de 300mm foram cortadas com a ajuda da serra horizontal do laboratório de solidificação, depois de terminados os cortes foram retiradas as rebarbas em escova de aço no esmeril, e por último foi 1026 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil feito uma limpeza das amostras com água e detergente, para a retirada do óleo de corte. Foi utilizada Alumina (99% Al2O3)(5) para jatear as amostras para que tivessem total limpeza superficial e aumento da rugosidade superficial, os processos finais antes da ATPS foram uma posterior limpeza com jato de água e secagem ao ar, o equipamento utilizado foi o do LABIOMEC da UNICAMP. Os parâmetros de ATPS foram: Aplicação em atmosfera não controlada, corrente de arco 600A, tensão de arco 70V, fluxo primário (Ar) de 40L/min, secundário (H2) de 12L/min, distância de aplicação de 100mm. O pó foi colocado num forno elétrico antes da deposição a 350K por 2h para a secagem do mesmo. Como o processo de ATPS foi feito em amostras tubulares, utilizou-se uma castanha para fixar as amostras e efetuar a revolução da mesma, facilitando a ATPS e deixando-a mais homogênea no decorrer do processo. Foram feitas 6 amostras: duas com ATPS, duas com fita térmica, e duas com ATPS + fita térmica. RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir serão apresentadas as curvas Temperatura x Tempo dos 6 experimentos com medições dos termopares internos e externos. Figura 1 - Curva Temperatura(ºC) x Tempo(min) - Tubos com ATPS de ZrO2-8Y2O3. 1027 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Figura 2 - Curva Temperatura(ºC) x Tempo(min) - Tubos com fita térmica. Figura 2- Curva Temperatura(ºC) x Tempo(min)- Tubos com ambas aplicações. 1028 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Tabela 2 - Resumo dos resultados e principais pontos. ΔTm ΔTm Tmax Tmax Experimento Isolado Exposto* interno externo 1 95ºC 180ºC 730ºC 655ºC Tubos com ATPS 2 105ºC 550ºC ** 700ºC 595ºC 3 52,5ºC 250ºC 730ºC 600ºC Tubos com "fita térmica" 4 55ºC 200ºC 740ºC 648ºC 5 260ºC 300ºC 820ºC 645ºC Tubos com ATPS + "Fita térmica" 6 270ºC 450ºC 870ºC 625ºC * Resultados desta coluna são mais suscetíveis a variações ambientes ** Termopar foi mantido a 10mm da parede externa para análise de componentes nessa distância CONCLUSÕES Analisando a tabela 2 verificou-se que os tubos com os dois tipos de barreira térmica apresentaram diferenças de temperatura no intervalo isolado de 265ºC (média dos dois experimentos). Isso significa uma diferença 5 vezes maior que as médias dos tubos com fita térmica e 2,6 vezes maior que os tubos com ATPS. Por sua vez os tubos com ATPS apresentaram ΔTm nessa região 2 vezes maior que os tubos com fita térmica. No intervalo exposto verifica-se um ΔTm dos ensaios com os dois tipos de barreira 1,6 vezes maior que os ensaios com fita térmica e 2 vezes maior que o ensaio 1 com ATPS. A eficiência do ensaio com fita térmica nesse intervalo ter sido maior que nos ensaios com ATPS se deve provavelmente ao fato de quando há a retirada do isolamento o experimento fica propício a variações do ambiente. No ensaio 2 do tubo com ATPS foi feito um experimento a parte nesse intervalo, e concluiu-se que os componentes deixados a 10mm da superfície do tubo com algum tipo de barreira térmica tem um ΔTm até 3,05 vezes maior que os encostados na parede externa do tubo, verificando assim a importância de não deixar componentes em contato com o coletor de exaustão do veículo. Verifica-se com as temperaturas máximas que todos os experimentos atingiram temperaturas semelhantes para os termopares externos, e os tubos que apresentaram maiores ΔTm atingiram maiores temperaturas também nos termopares internos. Com isso concluiu-se também que o método com duas barreiras térmicas consegue isolar o calor no interior do tubo de maneira mais eficiente que os outros dois métodos, aumentando as velocidades de gases de escape sem aquecer demasiadamente o ambiente externo. Sendo assim conclui-se que o método mais apropriado entre os três para o uso em veículos de competição é a utilização de dois métodos em conjunto, a ATPS de 1029 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil Zircônia Ítria 8% recoberta com fita térmica, seguido pelo método com aplicação de ATPS somente e pelo método com aplicação de fita térmica. REFERÊNCIAS 1. PROVASE, I.S. Análise térmica e dos efeitos de ressonância dos gases de exaustão de um Fórmula 1 . 2011. 1p. Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Politécnica da USP. 2. STOVER, D., FUNKE, C., Directions of the development of thermal barrier coatings in energy applications. Journal of Materials Processing Technology, v. 92-93, p. 195-202, 1999. 3. SULZER METCO - Thermal Spray Material Guide . Technical Bulletin Issue: May 2012. 4. SULZER METCO . Thermal Spray Material Guide . Technical Bulletin Issue: Feb 2012. 5. LIMA, C .R. P. Caracterização de Coberturas Depositadas Por Aspersão Térmica a Plasma. 2001. 56p. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) Universidade Estadual de Campinas. PLASMA SPRAY COATING OF ZrO2-8Y2O3 FOR THERMAL BARRIER PURPOSE IN EXHAUST MANIFOLD OF HIGH PERFORMANCE VEHICLES (FORMULA SAE). ABSTRACT This paper proposes a method for obtaining a thermal barrier in exhaust manifold of high performance vehicles. The method consists in the deposition of 8% Yttria Stabilized Zirconia (ZrO2-8Y2O3) by the Plasma Spray method, thereby improving the thermal insulation of the system. To verify the efficiency of the thermal barrier, studies were made on samples of AISI 304 Stainless Steel sprayed with Yttria Stabilized Zirconia, in samples coated with thermal tape composed of ceramic fiber and samples with both applications. Thus we obtained parameters for comparison between conventional methods (metal barriers and thermal insulation materials) and the Yttria Stabilized Zirconia coating method. It was concluded that the experiments with ceramic coating and thermal tape when used in combination has the best efficiency, followed by the experiment where only ceramic coating has been made by that where the thermal tape has been used. Key-words: Yttria Zirconia, Plasma Spray, Ceramic Coatings, Formula SAE. 1030