180 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise Revisão/Atualização em Diálise: Água para hemodiálise Ana Maria Misael da Silva, Carmen Tzanno Branco Martins, Rosiani Fer raboli, Vanda Jor getti, João Egidio Romão Junior Disciplina de Nefrologia do Hospital das Clínicas da F.M.U.S.P. Endereço para correspondência: Dr. João Egidio Romão Jr. Av. Dr. Enéas C. Aguiar, 255 05403-000 São Paulo - SP Fone: (011) 853-5350 Fax: (011) 883-7683 Introdução O tratamento dialítico que modificou o prognóstico e o futuro dos pacientes com insuficiência renal crônica é também responsável por complicações cuja freqüência e importância são cada vez mais descritas. Até a década de 70, acreditava-se que a água potável também servisse para a hemodiálise. Com o aumento do número de pacientes em tratamento dialítico e de sua sobrevida, acumularam-se evidências que permitiam correlacionar os contaminantes da água com efeitos adversos do procedimento. Pacientes urêmicos, em tratamento por hemodiálise, são expostos a volumes de água que variam entre 18.000 a 36.000 litros por ano. Portanto, se a água não for corretamente tratada vários contaminantes químicos, bacteriológicos e tóxicos, poderão ser transferidos para os pacientes, levando ao aparecimento de efeitos adversos, às vezes letais. 1 Um dos primeiros eventos mórbidos relacionados à qualidade da água foi a chamada síndrome da água dura, que se caracterizava pelo aparecimento - durante as sessões de diálise - de náuseas, vômitos, letargia, fraqueza muscular intensa e hipertensão arterial. Tal quadro estava diretamente associado à presença de grandes quantidades de cálcio e magnésio na água não tratada. A remoção desses elementos por equipamentos denominados abrandadores acompanhava-se do desaparecimento dos sintomas e sinais descritos acima. 2 Em 1980, na cidade de Maryland, 3 ocorreu um acidente por excesso de flúor na água (fluoração da água para prevenção da cárie dentária) que provocou complicações graves em 8 pacientes, e óbito em um deles. Oito anos depois, na Filadelfia, foram descritos 44 casos de hemólise devido à remoção inadequada de cloro da água destinada à diálise. 4 Além da fluoração e cloração, o uso de sais de alumínio como agentes clarificantes são exemplos de procedimentos realizados pela comunidade para melhorar a qualidade da água para consumo e, conseqüentemente, a saúde da população; entretanto estes elementos são deletérios para a saúde dos renais crônicos. 5,6 O alumínio, um dos metais mais abundantes da crosta terrestre, em estado natural encontra-se sob forma de microcristais de silicato de alumínio, constituinte essencial das argilas e caolins. Nas águas de superfície, o alumínio está presente sob forma de micropartículas de argilas em suspensão. A clarificação dessas águas se faz pela adição de sais de alumínio, que vão levar à precipitação do elemento, conferindo assim um aspecto mais límpido e adequado ao consumo. Essas técnicas de clarificação são conhecidas e utilizadas desde 3000 A.C., na China, Egito e Grécia, e ainda são praticamente as mesmas empregadas pelos serviços de tratamento e fornecimento de água na maior parte do países. 7 Até o início da década de 70, acreditava-se que o alumínio não fosse tóxico. Entretanto, em 1972, Alfrey, 8 descreveu uma síndrome denominada encefalopatia da diálise que se caracterizava por distúrbios da fala, apráxia, miodonias, convulsões, evoluindo geralmente para óbito. Nos inúmeros relatos que se seguiram a esse, associava-se a esta síndrome uma alta taxa de complicações ósseas e piora da anemia já existente no urêmico. Em 1973, Kerr et col., 9 sugeriram que a presença de A publicação desta seção foi possível graças à colaboração da Cilag Farmacêutica Ltda. J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 181 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise grandes concentrações de alumínio na água era a responsável pelo aparecimento da síndrome. As complicações decorrentes da intoxicação alumínica foram seguramente o grande fator de conscientização mundial da necessidade de um tratamento padronizado da água. No final dos anos 80, Misael da Silva 10 realizou em nosso meio estudo no qual analisou durante 1 ano amostras de água de 19 centros de diálise da cidade de São Paulo. Desses, 17 dispunham de tratamento (15 deionizadores; 2 abrandadores) e 2 não tratavam a água. Esse estudo revelou que durante todo o período, a água oferecida aos centros apresentava boa potabilidade, porém era inadequada para diálise. Dos elementos analisados, o alumínio, cálcio, flúor e zinco, estavam acima dos valores recomendados. Somente os níveis de zinco normalizavam-se após passagem pelo deionizador, o abrandador normalizou os níveis de cálcio em 45% das amostras, enquanto os elementos alumínio e flúor permaneceram elevados, a despeito dos tratamentos. O reconhecimento do risco potencial que representava a ausência de um tratamento específico levou à criação, em todo o mundo, de vários órgãos e comissões que acabaram estabelecendo critérios para a composição adequada da água a ser utilizada para a preparação dos banhos de diálise. Dessas normas, as mais conhecidas são as seguidas pela Comunidade Européia e as sugeridas pela Association for the Advancement of Medical Instrumentation (AAMI) nos E.U.A., ambas estabelecidas em 1982. Em nosso meio, o Ministério da Saúde regulamenta as características da água potável (Portaria 36GM de 19/01/90) e a Portaria 38 determina que os centros devam quantificar alumínio na água trimestralmente; entretanto não há estudos específicos destinados a estabelecer qual a qualidade exigida para a água de hemodiálise. Contaminantes da Água Os contaminantes mais freqüentemente encontrados nas águas de superfície são materiais orgânicos, minerais e bactérias. 1 - Poluentes e micropoluentes orgânicos São compostos derivados do nitrogênio que podem ter origem vegetal, animal, industrial ou urbana. São exemplos o amoníaco na zona rural e os óxidos de azoto na zona urbana, estes últimos oriundos de indústrias de alimentos, papel, produtos químicos, têxteis, etc. Estas matérias orgânicas, em quantidade elevada, são índices de poluição ambiental. A água potável para consumo humano tolera a presença de até 2mg/L de substâncias orgânicas. 11 As conseqüências da poluição orgânica são o odor desagradável, exacerbado pela cloração, o desenvolvimento de algas, bactérias e fungos que podem se fixar nas tubulações da rede. A amônia favorece a proliferação bacteriana e os nitratos e nitritos, quando ingeridos causam dor abdominal, vômitos, tonturas, cianose e choque pela formação de metahemaglobina. Os métodos utilizados para diminuição dos materiais orgânicos são a oxidação por ozônio ou a clarificação por carvão ativado. Os materiais orgânicos são também eliminados por deionizador ou osmose reversa. 2 - Poluentes e micropoluentes minerais A presença de flúor na água potável varia conforme a fluoração praticada nos diferentes países, sendo rotineira na cidade de São Paulo. Quando o dialisato é preparado com água fluorada, o íon atravessa a membrana de diálise facilmente. A presença do flúor em concentrações iguais ou superiores às do alumínio pode levar à formação de complexo de flúor, que em presença de sódio formaria o mineral conhecido como criolita, difícil de ser retirado do sistema de tratamento. A sobrecarga crônica por fluoretos ocasiona quadros de osteomalacia. 12,13 O Cloro livre e seus derivados (dióxido, hipocloritos, cloramina) são adicionados às águas naturais para eliminar microorganismos e/ou oxidar certos íons indesejáveis, como íon ferro e manganês. A cloramina, resultante da combinação de clorina e amônia, quando presente em concentrações elevadas, leva à metahemoglobinemia, hemólise e anemia severa. 4,14 O Cobre vem da poluição industrial ou tratamentos agrícolas (usado como antifúngico). Pode também provir de tratamento para algas ou da corrosão das canalizações. Foram descritos casos de hemólise severa e lesões hepáticas por contaminação pelo cobre. 15,16,17 O Bismuto quando em quantidades superiores a 200 µg/l leva a quadro de encefalopatia. 18 A Prata provém de dejetos da fabricação de objetos, jóias, filmes para fotografia e radiografias. A intoxicação crônica leva a argirose cutânea, que se caracteriza por pele acinzentada e formação de linha acinzentada gengival. 19 O Arsênico se origina de detergentes à base de fosfatos, produtos sanitários, pigmentos e corantes. Pode ocasionar problemas digestivos, neurológicos e cutâneos (melanomas). Altera o DNA no processo de divisão celular resultando num efeito cancerígeno. 19 O Cádmio, produto de revestimentos metálicos, pinturas e matérias plásticas é um elemento extremamente tóxico, tem efeito carcinogênico, lesa túbulos renais, provoca doença óssea (osteomalácia) e hipertensão arterial. 20 O Zinco, em excesso no banho de diálise, pode 182 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise levar ao aparecimento de anemia hemolítica, além de náuseas e vômitos. O acúmulo crônico está relacionado a casos de encefalopatia. 21 Se a água potável for rica em Chumbo, o metal pode persistir mesmo após o tratamento. Os sintomas de intoxicação por chumbo são anemia hipocrônica, síndrome abdominal (dor abdominal, anorexia: cólica do chumbo), síndrome neuro-muscular (astemia, dores musculares e articulares: gota saturnina) até a encefalopatia saturnina que se constitui por sintomas de agitação e tremores, podendo evoluir para convulsões, coma e morte. 20 O Alumínio se difunde através da membrana semipermeável do filtro de diálise através da ligação dos grupos hidroxila e sulfídrica. A contaminação da água, acima dos níveis permitidos, leva ao acúmulo do metal e intoxicação alumínica nos pacientes renais crônicos e pode causar osteomalácia, anemia microcítica e lesão funcional aos hepatócitos, sendo que nos casos mais severos pode evoluir com um quadro de encefalopatia, demência da diálise, catatonia e morte. O Mercúrio provém da contaminação ambiental pelas fábricas de cimento, siderúrgicas, além de fungicidas organomercuriais. A grande lipossolubilidade do metal leva ao acúmulo do mesmo no sistema nervoso central causando tremores, paralisias, manifestações psiquiátricas. 19 Níveis elevados de potássio e sódio geralmente provém de contaminação industrial. Os casos de hipercalemia relacionada com água para hemodiálise são extremamente raros. As águas naturais contêm quantidades variáveis de cálcio conforme o solo. A utilização de água com conteúdo acima de 80 mg/L de cálcio (água dura) provoca cefaléia, náuseas, vômitos, hiperemia das conjuntivas, hipertensão e convulsões. O magnésio é um íon abundante que representa 2,1% da crosta terrestre. Também confere dureza à água. Quando em excesso na água do dialisato causa diminuição da sensibilidade da placa motora à acetilcolina e provoca bloqueio da transmissão neuro-muscular. Na análise da água a ser usada na hemodiálise, os possíveis poluentes minerais presentes podem ser divididos em três grandes grupos: A. Constituintes normais da solução de hemodiálise: É um grupo de elementos necessários na composição final do dialisato, geralmente em concentrações relativamente elevadas. Assim, torna-se seguro aceitarmos também concentrações relativamente consideráveis destas substâncias na água usada para diálise. Os elementos aqui incluídos são o sódio, o cloreto, o cálcio, o magnésio e o potássio. Os valores máximos sugeridos para este grupo de elementos estão baseados nas variações clinicamente aceitáveis destas substâncias no dialisato. Como exemplo, podemos citar que para o cálcio variações de 2 mg/l, o Constituintes Normais do Dialisato Elemento Sódio Cloreto Potássio Magnésio Cálcio Nível Máximo 70 70 08 04 02 (mg/l) (3,0 mEq/l) (2,0 mEq/l) (0,2 mEq/l) (0,3 mEq/l) (0,1 mEq/l) que corresponderia a 0,1 mEq/l, é o aceitável, visto que variações correspondentes na concentração de cálcio na composição final do dialisato (normalmente de 2,0 a 4,0 mEq/l) são clinicamente irrelevantes e mesmo difíceis de serem mensuradas. B. Contaminantes tóxicos para água potável: Estes elementos químicos apresentam toxicidade conhecida e são regulamentados pelas normas para água potável (Ministério da Saúde - portaria 36). Assim, a água fornecida pela rede pública deverá apresentar uma concentração máxima aceitável para arsênio, bário, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, selênio e prata. Como segurança, para os contaminantes tóxicos da Contaminantes Tóxicos para Água Potável Elemento Arsênio Bário Cádmio Cromo Chumbo Mercúrio Prata Selênio Nível Máximo (mg/l) 0,005 0,01 0,001 0,014 0,005 0,0002 0,005 0,09 água potável, as normas adotadas pela AAMI escolheram para a água a ser usada na hemodiálise um valor máximo a ser observado de um décimo daquele sugerido como máximo para a água potável, observando-se os valores máximos detectáveis pelos métodos de dosagem utilizados e a capacidade de transferência do determinado contaminante através da membrana dialisadora. C. Contaminantes tóxicos na hemodiálise Este grupo é constituído de substâncias citadas na Contaminantes Tóxicos em Hemodiálise Elemento Alumínio Cloramina Cloro Livre Cobre Fluoreto Nitrato (como N) Sulfato Zinco Nível Máximo (mg/l) 0,01 0,10 0,5 0,1 0,2 2,0 100 0,10 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 183 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise legislação para água potável, com níveis máximos aceitáveis acima daqueles conhecidos como tóxicos para água de hemodiálise. Todos apresentam toxicidade conhecida e documentada para pacientes portadores de insuficiência renal crônica e mantidos em hemodiálise. Os valores máximos aceitáveis comumente são definidos como sendo os menores níveis nos quais a toxicidade de contaminante foi documentada. Os contaminantes químicos apresentam extrema variação mensal, portanto devem ser verificados mensalmente no início e, quando são usados deionizadores e osmose reversa, um exame a cada 4-6 meses é suficiente. Quando se adicionam cloraminas à água distribuída pela comunidade, a presença de cloraminas na água deve ser verificada diariamente. 3 - Poluentes e micropoluentes biológicos A água usada nos centros de hemodiálise é geralmente obtida do reservatório de água da comunidade. A água pode vir da superfície ou de leitos subterrâneos. Ambas as fontes podem conter altas concentrações de endotoxina e bactéria. O tratamento de água da comunidade reduz o número de bactérias na água, mas, geralmente, não reduz significantemente a concentração de endotoxinas. Tabela 1 Padrões microbiológicos e de endotoxinas para líquidos de diálise Tipo de Líquido Contagem Microbiológica (cfu*/mL) Endotoxina (ng/mL) < 200 sem padronização < 2000 sem padronização Água para preparo do dialisato Dialisato *cfu = unidades formadoras de colônia Em função do fato do sangue e dialisato serem separados apenas por uma membrana semipermeável, a qualidade microbiológica da água da diálise e dialisato são Tabela 2 Bactérias comumente encontradas na água de diálise Bactérias Gram-negativas Pseudomonas Acinetobacter Flavobacterium Alcaligenes Xantomonas Serratia Micobactérias não tuberculosas Mycobacterium Mycobacterium Mycobacterium Mycobacterium abscessus fortuitum gordonae scrofulacem extremamente importantes. Os fluídos não precisam ser estéreis, mas o número máximo de microorganismos deve ser controlado. A Tabela 1 resume os padrões estabelecidos pela AAMI e adotados pela Health Care Financing Administration (HCFA) como adequados para diálise. Os principais contaminantes dos fluídos de diálise são bactérias gram-negativas e micobactérias não tuberculosas (Tabela 2) Todos os componentes do tratamento de água podem se constituir em multiplicadores de bactérias e fontes de contaminação por endotoxinas e, portanto, devem ser substituídos ou desinfectados conforme uma rotina pré estabelecida. O sistema de distribuição de água nos centros de diálise, em geral, é construído em tubulação plástica de polivinilclorida (PVC). Tubos galvanizados ou de cobre não devem ser usados porque contaminariam a água com concentrações tóxicas de zinco e cobre. Tubos de grande diâmetro e longos acarretam uma diminuição do fluxo da água e aumentam o potencial de contaminação bacteriana. Conexões grosseiras, pontos cegos, e ramos de tubulação sem uso, também se constituem em reservatórios potenciais e devem ser eliminados. Embora a contaminação por bactérias e endotoxinas não seja comum no concentrado de acetato, o mesmo ocorre com extrema rapidez no concentrado de bicarbonato. O dialisato deve ser preparado poucas horas antes do uso e o tanque ou equipamento drenado e desinfectado ao final de cada dia de tratamento. A estratégia para controle da contaminação do sistema de hemodiálise deve incluir a desinfecção dos componentes como um todo, ou seja, a rotina de desinfecção nos tanques, tubulações e máquinas deve ser realizada a um só tempo para que se considere a desinfecção eficaz. Tanto a central única quanto as máquinas de diálise tem tubulações e canais facilmente colonizáveis com bactérias e, geralmente, se constituem numa fonte para contaminação por bactérias e endotoxinas. Durante a sessão de diálise com fluxo de dialisato contínuo, as bactérias não colonizam ou aderem as superfícies das tubulações, tornando a desinfecção interturnos desnecessária se a máquina trabalha ininterruptamente. Como o dialisato não recircula numa única passagem, as conexões internas não são consideradas fontes importantes de contaminação entre um paciente e o próximo. Qualquer agente infeccioso presente no sangue do paciente que passa para o dialisato é drenado, não se constituindo em ameaça para o próximo paciente. A frequência e a rotina de desinfecção das conexões internas das máquinas de diálise podem ser ditadas pelas recomendações dos fabricantes e pelos resultados das quantificações do número de bactérias na água e dialisato. Soluções aquosas de formaldeído produzem bons 184 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise resultados de desinfecção. O formaldeído não é corrosivo e pode permanecer no sistema de hemodiálise por períodos prolongados impedindo o crescimento bacteriano, mesmo quando o sistema está fora de operação. O formaldeído produz vapores irritantes que podem causar danos à saúde da equipe técnica se a contaminação do ar ultrapassar os padrões de segurança. Existem diversos testes comerciais para detecção de resíduos de formaldeído na água para que se assegure a limpeza e retirada do germicida antes do início do tratamento dialítico. A maioria dos estudos demonstra que o formaldeído a 4%, ou outro desinfetante não formaldeído com potência equivalente, elimina a maioria das bactérias, inclusive as micobactérias não tuberculosas e Pseudomonas aeroginosa e Pseudomonas cepacia. 22 Os desinfectantes, como o hipoclorito de sódio, são efetivos na maioria dos sistemas de hemodiálise, quando utilizados em concentração de aproximadamente 500 partes por milhão. Em função de sua natureza corrosiva, o desinfectante deve ser retirado do sistema após um período de exposição de no máximo 30 minutos. Esta prática se contrapõe ao procedimento de desinfecção visto que a água da lavagem contém invariavelmente bactérias, as quais se multiplicam imediatamente e contaminam as vias internas de fluxo até a manhã seguinte. A desinfecção semanal assegura o controle, entretanto, estes desinfectantes são mais eficazes quando usados pouco tempo antes do uso do sistema. 23,24,25,26 Germicidas químicos contendo glutaraldeído ou peróxido de hidrogênio/ácido peroxiacético são disponíveis comercialmente e específicos para os sistemas de diálise. Quando usados conforme as instruções dos fabricantes, estes germicidas não são lesivos às máquinas de diálise e se constituem bons desinfectantes, sobretudo por não se associarem a vapores irritantes como o formaldeído. 25 Algumas máquinas de diálise usam água quente para controle da contaminação bacteriana. Nesse tipo de sistema, a temperatura da água excede 80 graus Celsius. É um procedimento excelente para eliminação da contaminação bacteriana sem os efeitos colaterais dos germicidas químicos. 27 Segundo a AAMI (1995), a monitorização microbiológica da água e do dialisato deve ser realizada no mínimo mensalmente ou imediatamente nos casos de reação pirogênica ou septicemia no paciente em diálise e, também, após modificação do tratamento de água ou sistema de distribuição. As mesmas normas recomendam que nos casos de sistemas novos, as amostras devam ser monitorizadas semanalmente até que dados suficientes sejam coletados, para assim estabelecer a freqüência de desinfecção do sistema. As amostras da água devem ser coletadas em tubo estéril o mais próximo possível do ponto de mistura com o concentrado de diálise e após um fluxo de 30 segundos. Embora as bactérias gram-negativas e as micobactérias não tuberculosas sejam os contaminantes biológicos mais frequentes, devemos ter em mente a possibilidade de outros tipos de contaminantes, como por exemplo, as cianobactérias, que somente vieram à tona, como mais um ítem no controle de qualidade de água para diálise, após a morte de mais de 50 pacientes em um centro de diálise de Caruaru, Pernambuco, neste ano de 1996. A fatalidade deste acontecimento deve ser encarada como um alerta das possibilidades mais inusitadas de contaminação da água. Devemos lembrar que outras substâncias como pesticidas, herbicidas, elementos radioativos e toxinas não foram estudados até o presente momento, não se conhecendo a prevenção para tal eventualidade. Até 1950, as cianobactérias eram conhecidas como bluegreen algae devido a cor turqueza característica e a similaridade entre elas e as algas verdadeiras (ambas realizam fotossíntese e vivem em ambiente aquático). Em 1971, Stanier demonstrou que as blue-green algae não eram algas verdadeiras e foram reconhecidas como microorganismos procariotas (unicelulares) e denominadas cianobactérias. As cianobactérias são células anucleadas envoltas por duas membranas de forma similar ao envelope das bactérias gram-negativas. Possuem um sistema interno de membranas com várias ficobiliproteínas de diferentes características espectrais e cujos níveis podem aumentar ou diminuir em resposta à luz (adaptação cromática). 28 As cianobactérias crescem rapidamente e formam verdadeiros tapetes sobre as águas quando quatro condições climáticas se fazem presentes: brisa, temperatura da água entre 15 e 30o C, pH neutro ou alcalino e abundância de nutrientes, como nitrogênio e fósforo (poluentes orgânicos). A toxicidade das algas e cianobactérias é reconhecida desde a antiguidade. 29 Já foram encontradas em diversos ambientes aquáticos e têm sido relacionadas com o envenenamento e morte de peixes, animais selvagens e domésticos. Nos últimos 100 anos foram identificadas 12 espécies, pertencentes a 9 gêneros de cianobactérias. Epidemias de gastroenterites atribuídas à contaminação dos reservatórios de água por cianobactérias foram descritas em países como Estados Unidos, Índia e Filipinas. Porém, até 1996, ainda não havia sido confirmado nenhum caso de morte em humanos, cuja causa pudesse J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 185 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise ser atribuída ao envenenamento por cianobactérias. 30,31 Olsen (Minnesota), entre 1948-50, demonstrou a existência de uma grande quantidade de espécies de cianobactérias do gênero Microcystis e Anabaena e concluiu que estas induziam intoxicação em animais. Os animais morriam após o consumo de águas provenientes de lagos, lagoas ou represas cobertas por algas verdeazuladas. A partir da década de 60, em Otawa, foram identificados os dois tipos mais tóxicos de cianobactérias: Anabaena flos-aquae e a Microcystis aeruginosa, bem como suas toxinas. A quantidade de cianobactérias presentes na água necessária para matar um animal depende do tipo e da quantidade de toxina produzida por suas células, bem como da espécie, tamanho, sexo e idade do animal. O volume de água ingerido para morte pode variar de poucos mililitros até vários litros. A intoxicação em humanos pode advir do consumo de água não tratada contendo cianobactérias e/ou toxinas oriundas das mesmas ou de água tratada de forma ineficiente. Foram descritas na literatura 4 tipos de neurotoxinas. Dentre estas, a anatoxina-a e a anatoxinaa(s) são produzidas exclusivamente por cianobactérias dos gêneros Anabaena e Oscillatoria. A saxitoxina e a neosaxitoxina podem também ser produzidas por algas marinhas. As neurotoxinas interferem no funcionamento do sistema nervoso central e freqüentemente causam a morte em poucos minutos, em função de anóxia por paralisia dos músculos respiratórios. As hepatotoxinas são conhecidas como pequenos peptídeos cíclicos com peso molecular entre 500-1700 daltons. Podem ser constituídas por 7 aminoácidos, e denominadas microcistinas, pois foram descritas inicialmente como produto das cianobactérias Microcystis aeruginosa, ou podem ser formadas por 5 aminoácidos, e chamadas nodularinas, quando produzidas pela Nodularia spumigena. Ambas podem causar a morte, quer em poucas horas, por choque circulatório devido a hemorragias puntiformes hepáticas ou, em alguns dias, por insuficiência hepática. 32 O controle da proliferação das algas e cianobactérias na água é feita pelo uso de algicidas. Os mais comumente utilizados são o sulfato de cobre e o peróxido de hidrogênio. Entretanto, os algicidas são tóxicos para peixes e outros microorganismos. Em 1991, Falconer descreveu na Austrália que 150 pessoas foram hospitalizadas com complicações hepáticas e gastrointestinais, após ingestão de água de um reservatório tratado com sulfato de cobre. O algicida provoca a lise das cianobactérias permitindo a liberação das toxinas em grandes quantidades. O tratamento da água por carvão ativado permite a retirada da toxina presente na água, aumentando a segurança quanto à toxicidade nos casos de ingestão pelo homem. Zagatto demonstrou em 1995 (tese apresentada na Universidade de Metz, França) que nas estações de tratamento de água na fase de floculação eram necessários 15 mg de carvão para reter neuro e hepatotoxinas equivalentes à produção de 5 mg de algas (peso seco). A relação de retirada carvão/alga foi de 3:1. As concentrações de carvão necessárias para retenção daquelas toxinas na água utilizada para hemodiálise não são conhecidas. 33 Principais Componentes do Tr a t a m e n t o d e Á g u a A eficiência do equipamento de tratamento de água depende da capacidade dos componentes do equipamento, da natureza da água a ser tratada, além de variações sazonais. A água fornecida pela rede pública passa por filtros, abrandadores, filtros de carvão, deionizadores e osmose reversa. A seguir, comentaremos cada um desses componentes bem como suas principais funções. 1 - Filtros Mecânicos A principal função dos filtros é a remoção de partículas em suspensão, além de proteger os outros componentes do tratamento de água, especialmente as membranas do aparelho de osmose reversa. Os principais tipos de filtro são: filtro de areia, capaz de remover partículas entre 25 e 100 µ e filtros cujas membranas são capazes de remover partículas a partir de 0.25 µ. O risco associado aos filtros de areia consiste na colonização e crescimento de algas resultando no aumento da pressão interna e queda do fluxo de água e da filtragem. Filtros de Carvão O papel dos filtros de carvão no tratamento de água é adsorver cloretos, cloraminas e substâncias orgânicas. Os filtros de carvão são porosos e têm alta afinidade por matéria orgânica, o que facilita contaminação e proliferação bacteriana quando os mesmos não são mantidos adequadamente. O conteúdo de um tanque de carvão ativado deve ser calculado levando-se em conta o conceito conhecido, como tempo de contato entre o carvão e a substância a ser eliminada. No caso do cloro, esse tempo é de 6 minutos e da cloramina 10 minutos. O tempo de contato pode ser calculado através da fórmula: 186 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise TC (tempo de contato) = V x 7.48 Q Onde V= volume de carvão em pés cúbicos e Q= fluxo da água em galões/minuto. O controle de qualidade é realizado através da dosagem de cloramina após passagem pelo filtro de carvão. A concentração deve ser menor que 0,1 mg/L. As normas americanas recomendam 2 tanques de carvão em série, cada tanque com TC de 3 a 5 minutos nos casos em que a concentração de cloramina, após a passagem por um tanque, exceder a concentração máxima permitida. 2 - Abrandadores São equipamentos que removem principalmente cálcio, magnésio e outros cátions polivalentes. Os abrandadores contêm resinas que trocam sódio por cálcio e magnésio. Se a concentração desses elementos na água a ser tratada for elevada, a quantidade de sódio liberada pelo aparelho pode ser elevada levando a riscos de hipernatremia. A concentração de sódio liberada pode ser calculada pela fórmula : Na (mEq/L) = dureza total (CaCO3 mg/L) / 50 Os abrandadores, além de controlar a dureza da água (cálcio e magnésio), protegem as membranas do sistema de osmose, pois a deposição de cálcio e magnésio nas membranas leva a um mal funcionamento do aparelho. 3 - Deionizadores Os deionizadores são constituídos por resinas capazes de eliminar praticamente todos os sais minerais, além de matérias orgânicas e partículas coloidais. As resinas trocadoras de íons - catiônicas e aniônicas - podem estar em tanques separados ou único (leito misto). A resina catiônica fixa cátions liberando íons H + , e a aniônica fixa ânions fortes e fracos liberando OH +. A eficiência do equipamento é monitorizada pela medida da resistividade do efluente, a qual varia conforme a temperatura. A deionização apresenta os seguintes inconvenientes: contaminação bacteriana e química. A contaminação bacteriana pode ocorrer pois as resinas, especialmente as aniônicas, captam materiais orgânicos favorecendo a proliferação das bactérias. Essa complicação é evitada com as regenerações frequentes, cloração e evitando-se a estagnação das águas. Quanto à contaminação química, ela decorre do fato de que no final do ciclo de utilização as resinas podem liberar os íons que estavam fixos. Daí, a necessidade de regeneração das resinas antes de sua saturação total. As resinas podem ser alteradas por substâncias oxidantes como o cloro e a água oxigenada. Dessa forma, a própria regeneração que utiliza produtos químicos como sodas e ácidos concentrados pode representar fonte de contaminação química. 4 - Osmose Reversa A osmose é um fenômeno natural físico-químico no qual duas soluções com diferentes concentrações são colocadas num mesmo recipiente separadas por uma membrana semi-permeável, na qual ocorre naturalmente a passagem do solvente da solução mais diluída para a mais concentrada, até que se atinja o equilíbrio. Neste ponto, o nível da coluna do lado da solução mais concentrada estará acima do nível da coluna do lado da solução mais diluída. A esta diferença de nível entre colunas se denominou Pressão Osmótica. A Osmose Reversa é obtida através da aplicação mecânica de uma pressão superior à pressão osmótica, do lado da solução positiva concentrada. Assim sendo, Osmose Reversa é a denominação do processo pelo qual a água pura pode ser retirada de uma solução salina por meio de uma membrana semi-permeável, contanto que a solução em questão se encontre a uma pressão superior à Pressão Osmótica relacionada à sua concentração salina. Os principais tipos de membranas utilizadas nesse processo são: acetato de celulose, poliamidas aromáticas e TFC (membranas de camada delgada). Esta última oferece vantagens sobre as demais pois produz melhor qualidade de água e é mais resistente aos processos de desinfecção química. A osmose reversa propicia uma água extremamente pura do ponto de vista físico, químico e bacteriológico. Retém entre 95 a 99% dos contaminantes químicos praticamente todas as bactérias, fungos, algas e vírus, além de reter pirogênios e materiais protéicos de alto As recomendações para manutenção adequada do equipamento de tratamento de água pode ser resumida em: Equipamento Recomendação Abrandadores regeneração automática, checagem da dureza da água antes da diálise Filtros de sedimento invólucro opaco e monitorização da pressão Filtro de carvão carvão descartável, monitorização bacteriana e da exaustão Osmose reversa pré-tratamento e monitorização da operação Deionizador não utilizar resinas industriais, controle da resistividade, adsorção com carvão para proteção contra nitrosaminas Reservatório de água não utilizar cobre e/ou ferro galvanizado monitorização bacteriológica J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 187 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise peso molecular. Riscos do tratamento incluem a rotura da membrana, deterioração progressiva e colonização bacteriana das membranas. As duas primeiras causam passagem de grandes quantidades de contaminantes químicos e microbiológicos. Além disso, os equipamentos de osmose reversa consomem grandes quantidades de água e necessitam de pré tratamento. As exigências da AAMI (1995) quanto aos requisitos a serem exigidos pelos centros de diálise dos fabricantes de equipamentos de tratamento de água para garantir a qualidade do serviço são: 1. nome e endereço do fabricante e distribuidor 2. marca e tipo do aparelho 3. modelo e número de série 4. manual detalhado do funcionamento do equipamento 5. características das substâncias (por exemplo, desinfectantes) que são utilizados para limpeza e que devem ser eliminados antes do uso da água para diálise 6. listagem dos desinfectantes utilizados, bem como suas características químicas 7. identificações específicas de todos os componentes para evitar conexões impróprias Outra norma de boa prática seria a exigência periódica de relatórios contendo análise da composição dos contaminantes da água potável, vendida pela companhia pública de água à Unidade de Diálise. Finalmente, para análise dos contaminantes tóxicos para hemodiálise deve-se escolher laboratórios que apresentem boa qualificação técnica e tenham rotina específica para análise de água para hemodiálise, visto que a maioria tem rotina para análise da potabilidade da água. Referências 1. Ihle B, Buchanan M, Stesens B, Marshal A, Kincaid-Smith P. Aluminium associated bone disease: clinic-pathologic correlations. Am J Kidney Dis. 1982; 11:255-263 29 (Studes in Environmental Science) 8. Alfrey AC, Mishell JM, Burks J. Syndrome of dyspraxia and multifocal seizures associated with chronic hemodialysis. Trans Am Soc Artific Int Organs. 1972; 18:257-261 9. Kerr DNS. Can renal bone disease be presented? Proc EDTA. 1973; 10:109-111 1 0 . Misael Silva, AM. Avaliação da qualidade da água usada na hemodiálise na cidade de São Paulo. Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina da USP. 1990 1 1 . Portaria de 36 de 19.01.90. Ministério da Saúde - D.O.U. Executivo. 16.03.90, pág. 1051. Legislação de Água para Consumo Humano 1 2 . Johnson W, Taves R. Exposure to excessive fluoride during hemodialysis. Kidney Int. 1974; 5:451-454 1 3 . Siddiqui JY, Simpson SW et als. Fluoride and bone disease in patients on regular hemodialysis. Proc Eur Dial Transpl Assoc. 1971; 8:149 1 4 . Kjellstrand CM, Eaton JW, Yamata Y, Kolpin CF, Buselmeir TJ. Hemolysis in dialysed patients caused by chloramines. Nephron. 1974; 13:427 1 5 . Knijnik R, Grillo MF, Biernat JC, Kuwer B. Variações do cobre plasmático após osmose reversa em pacientes em hemodiálise. J Bras Nefrol. 1982; 4 (1):5-8 1 6 . Lyle WH. Chronic dialysis and copper poisoning. N Engl J Med. 1967; 276 (21):1209-1210 1 7 . Ziemkley H, Bertram HP, Lyson A, Losse H. Aluminum, zinc and copper concentration in plasma in chronic renal insufficiency. Cl Nephrol. 1979; 12 (1):18-21 1 8 . Becker A, Becker A, Guelfi MC, Petiot J, Farinoti R, Lebas M, Pradean D. Leau pour hemodyalise - Paris, A.P.H.I. 1982 1 9 . Association for the Advancement of Medical Instrumentation - American National Standard for Hemodialysis System. Arlington, AAMI. 1982, p. 24 2 0 . Becker A, Becker A, Guelfi MC, Petiot J, Farinoti R, Lebas M, Pradean D. Leau pour Hemodyalise - Paris, A.P.H.I. 1982, p. 123-124 2 1 . Gallery EAM, Blomfield JD, Dixon SR. Acute zinc toxicity in hemodialysis. Br Med J. 1972; 4:331-333 2 2 . Tokars JL, Alter MJ, Favero MS. National surveillance of hemodialysis. Associated Diseases in the United States. 1990. ASAIO J. 1993; 39:71-80 2. Freeman RM, Hawton R, Chamberlain MA. Hard water syndrome. N Engl J Med. 1987; 276 (20):1113-1117 3. Ganzi G, Tice JE. Water treatment for home dialysis. Part J Dial. Transpl. 1984; 13:223 4. Eaton JW, et al. Chlorinated urban water: a cause of dialysis induced hemolytic anemia. Science. 1974; 181:463-464 5. Cordy PE, Gagnon R, Taves DR, Kay M. Bone disease in hemodialysis patients with particular reference to the effect of fluoride. Trans Am Soc Artif Int Organs. 1974; 20:197-202 6. Scrivner RE, Favero M, Calpin JA, Ulchek D. Issues in water treatment. Dial & Transpl. 1987; 16 (11):592-594 2 5 . Bland LA, Favero MS, Danielson JW. Effect of chemical germicides on the integrity of hemodialyzer membranes. ASAIO. 1988; 34:172-175 7. Alaerts G, Vanhante A: Stability if colloid types and optimal dosing in water flocculation. In Phisico-chemical methods for water and waster water treatment. Pawloski L. 1982, p. 13- 2 6 . Carson LA, Petersen NJ, Favero MS, Aguero SM. Growth characteristics of atypical mycobacteria in water and their comparative resistence to desinfectants. Appl Envidron 2 3 . Beck-Sague CM, Jarvis WR, Bland LA, Arduino MJ, Aguero MS, Verosic G. Outbreak of gram-negative bacteremia and pyrogenic reations in a hemodialysis center. Amer J Nephrol. 1990; 10:397-403 2 4 . Bland LA, Alter MJ, Favero MS, Carson LA, Cusick LB. Hemodializer reuse: practices infection control. Trans Amer Soc Artif Internal Organs (ASAIO). 1985; 31:556-559 188 J. Bras. Nefrol. 1996; 18(2): 180-188 A.M. Misael da Silva/ C.T.B. Martins/ R. Ferraboli/ V. Jorgetti/ J.E.Romão Jr. - Revisão/Atualização em Diálise Microbiol. 1978; 36:839-846 2 7 . AAMI - Standards and Recomended Practices. Dialysis. 1993; 3:293-300 2 8 . Methods in Enzimology, vol 167. Cyanobacteria, edited by Lester Packer et al., Academic Press, 1988 2 9 . Echlin P. The blue-g reen algae. Scient American. June, 1966 3 0 . Main DC, Berry PH, Peet RL, Robertson JP. Sheep mortalities associated with the blue green algae. Austrl Vet J. 1977; 53: 579-581 3 1 . Car michael WW, Bent PE. Hemag glutination method for detection of freshwater cyanobacteria (blue-green algae) toxins. Appl Envidronm Microbiol. 1981; 41(6):1383-1388 3 2 . Camichael WW. The toxins of cyanobacteria. Scient Am. Jan, 1994; 78-86 3 3 . Zagatto PA. Evaluation ecotoxicologique du reservoir Guarapiranga, SP - Bresil, en relation avec le probleme des algues toxiques et des algicides. Tese de Doutorado apresentada na Univesite de Metz - França. Dezembro, 1995