BOLETIM SBNp Nesta edição: Gestão 2011-2013 -Edição Junho - 2012 Editorial Texto Inicial: A inflamação da dor social Relato de pesquisa I Adaptação transcultural do Teste de Conhecimento Emocional Prezados leitores do Boletim da SBNp, Mais uma vez o Boletim da SBNp está recheado com informações e curiosidades sobre a Neuropsicologia brasileira! Na primeira sessão, temos o prazer apreciar o texto intitulado “A inflamação da dor social” escrito por Pedro Pinheiro-Chagas, mestrando pela Universidade Federal de Minas Gerais e aluno visitante no Departamento de Neuropsicologia da Universidade de Graz Relato de pesquisa II Funções Executivas em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) (Austria). Seguindo nossa tradicional sessão de entrevistas, nesse mês de junho, o entrevistado do mês é o Dr. Paulo Brito, Professor de Neurologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e o primeiro presidente da SBNp fora do eixo Rio - Entrevista do mês São Paulo. Paulo Roberto de Brito Marques No primeiro relato de pesquisa, contamos com a colaboração dos autores Nara Côrtes Andrade e Neander Abreu Universidade Federal da Bahia - UFBA com os dados preliminares do estudo: “Adaptação transcultural do Teste de NEUROeventos III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento Conhecimento Emocional avaliação neuropsicológica das emoções”. Já o segundo relato intitulado: “Funções Executivas em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)”, é escrito pela doutoranda Fernanda Rasch Czermainski da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. SBNp! Aproveitem bastante! Equipe Boletim da SBNp Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br A inflamação da dor social “Doem-me a cabeça e o universo.” Fernando Pessoa A semelhança entre a dor física e dor social não é apenas metafórica, mas também neurofisiológica. Uma das teorias mais importantes sobre os mecanismos psicológicos da dor propõe uma distinção entre dois componentes: o sensorial e o afetivo (Rainville et al, 1997). O primeiro está relacionado à intensidade do estímulo doloroso, enquanto que o segundo está associado às sensações emocionais derivadas da dor. No trabalho seminal de Rainville et al. (1997), os autores apresentam uma evidência empírica dessa dissociação, mostrando que o córtex cingulado anterior, mas não o córtex somatosensorial, é ativado quando o desconforto do estímulo doloroso varia e a sua intensidade permanece a mesma. O conceito de dor social foi inicialmente proposto por Panksepp (1998) para explicar a emergência de um sistema de integração emocional para afetos sociais em mamíferos. Com o aumento exponencial na complexidade das estruturas sociais de cooperação ao longo do processo evolutivo, a necessidade de ligação social tornou-se inexorável para os seres humanos (Macdonald & Leary, 2005). Consequentemente, qualquer estímulo que ameaça a estabilidade dos laços sociais se reverte de um caráter extremamente aversivo. Por exemplo, Bolby (1969) mostrou que a separação de um bebê de seu cuidador produz um profundo estresse emocional, provocando comportamentos como gritar e chorar, os quais também são manifestações comuns na experiência de dor física. No primeiro trabalho que sistematicamente investigou a relação entre dor física e social (Eisenberger & Lieberman, 2003), os autores mostraram que uma experiência de rejeição social, eliciada por meio de um paradigma experimental que simulava uma interação lúdica entre indivíduos, associou-se a ativações das porções dorsais do córtex cingulado anterior. Crucialmente, essas regiões são superponíveis àquelas recrutadas pela dor crônica em pacientes com câncer, por exemplo. Mais recentemente, foi mostrado que doses do analgésico paracetamol reduzem o sentimento de dor social (DeWall et al., 2010). Mas quais são os mecanismos neurofisiológicos e neurocognitivos da sobreposição entre dor física e dor social? Uma boa pista está na investigação da interação entre sistema imune e sistema neurológico, particularmente nos mecanismos fisiológicos do estresse. Um trabalho recente apostou nessa direção e encontrou resultados muito interessantes. Slavich, Way, Eisenberger & Taylor (2010) mediram a concentração de citocinas próinflamatórias em participantes depois de um paradigma indutor de estresse. Semanas depois, parte dos participantes foi submetida a um paradigma de exclusão social dentro da máquina de ressonância magnética funcional. Os resultados mostraram que a indução de estresse provoca um aumento da concentração de citocinas pró-inflamatórias e, replicando dados anteriores, a indução de rejeição social ativa regiões do córtex cingulado anterior e da insula anterior. Finalmente, os autores encontraram uma correlação positiva entre aumento da concentração de citocinas pró-inflamatórias e atividade do córtex cingulado anterior e da insula anterior. Isto é, aqueles indivíduos que foram mais sensíveis (mais aumento da atividade inflamatória) ao estressor psicológico, também foram mais sensíveis (maior atividade do córtex cingulado anterior e insula anterior) à rejeição social. Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Continua Boletim SBNp—Junho—2012 Por: Pedro Pinheiro-Chagas o aumento de riscos ambientais indica que estímulos psicológico (violência pública) explicam parte estressores modulam a circuita- significativa da maximização dos ria envolvendo o giro do cíngulo níveis de ansiedade na sociedade anterior e a ínsula anterior rela- americana nos últimos 50 anos cionada tanto ao processamen- (Twenge, 2000). to da dimensão afetiva da dor física, quanto da dor social. Es- A consiliência entre neurociência sa circuitaria teria um papel de e imunologia certamente irá nos regulação da atividade imunoló- ajudar a entender melhor os me- gica, atuando na produção de canismos subjacentes à sobrepo- citocinas pró-inflamatórias atra- sição entre dor física e dor social. vés de suas projeções para o Consequentemente, intervenções hipotálamo. O hipotálamo pos- neuropsicológicas e psiquiátricas sui conexões com regiões do mais eficazes poderão ser desen- tronco cerebral (substância cin- volvidas para o tratamento de zenta periaquedutal, ponte e psicopatologias nervo vago), estruturas respon- bem como para o manejo de sin- sáveis pela produção de acetil- tomas internalizantes comuns nas colina que atua na expressão doenças que provocam dor crôni- de citocinas. A atividade infla- ca. Rainville, P., Duncan, G. H., Price, D. D., Carrier, B., Bushnell, M.C. (1997). Pain affect encoded in human anterior cingulate but not somatosensory cortex. Science, 277 (5328), 968-971. Slavich, G. M., Way, B.M., Eisenberger, N. I., Taylor, S. E. (2010). "Neural sensitivity to social rejection is associated with inflammatory responses to social stress." Proc Natl Acad Sci USA 107(33): 1481714822. Twenge, J. M. (2000) The Age of Anxiety? Birth Cohort Change in Anxiety and Neuroticism, 1952-1993. Journal of Personality and Social Psychology, 79 (6) 1007-1021. Boletim SBNp—Junho—2012 De maneira geral, a literatura internalizantes, matória, por sua vez, desencadearia sintomas internalizantes (sickness behavior), a qual cronificada, poderia contribuir para o aparecimento de psicopatologias tais como ansiedade e de- Referências: pressão. HaBolby, J. (1969). Attachment & Lost, Vol. I: Attachment. New York: Basic Books. As sociedades contemporâ- neas, nas quais o raciocínio individualista é intensamente cultivado, contêm muitos riscos para a manutenção dos vínculos sociais. Depressão, por exemplo, pode ser definida como um mecanismo que atua na diminuição do risco social quando a probabilidade percebida de exclusão é alta (Macdonald & Leary, 2005). Uma importante meta-análise mostrou que a diminuição das interações sociais e DeWall, C. N., MacDonald, G., Webster, G. D., Masten, C. L., Baumeister, R. F., Powell, C., Combs, D., et al. (2010). Acetaminophen Reduces Social Pain. Psychological Science, 21(7), 931-937. Eisenberger, N. I., Lieberman, M. D., Williams, K. D. (2003). Does rejection hurts? An fMRI study of social exclusion. Science, 302(5643), 290-292. Macdonald, G., Leary, M. R. (2005). Why does social rejection hurt? The relationship between social and physical pain. Psychological Bulletin, 131(2), 202-223. Panksepp, J. (1998). Affective neuroscience: The foundations of human and animal emotions. New York: Oxford University Press. Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Pedro Pinheiro-Chagas Possui Graduação em Psicologia (UFMG) com período sanduiche na Universidade de Wisconsin - Madison (EUA), onde trabalhou no Lab for Affective Neuroscience coordenado pelo Prof. Richard Davidson. Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFMG sob a orientação do Prof. Vitor Haase e aluno visitante no Departamento de Neuropsicologia da Universidade de Graz (Austria). Paulo Roberto de Brito Marques Recife, 27 de maio de 2012. SBNp: Olá Paulo, tudo bem? Gostaríamos que você falasse um pouco para os leitores do Boletim, sobre sua atuação dentro da neuropsicologia. Paulo: A minha atuação hoje dentro na neuropsicologia ocorre no Núcleo de Neurologia do Comportamento da Universidade de Pernambuco, criado por mim em 1996. Nesse núcleo, trabalho com protocolo de avaliação adaptado por mim do protocolo de Montreal em doenças neurodegenerativas; estudado na comunidade, cidade de Olinda, em população com idades entre 60 e 92 anos. O mesmo protocolo é utilizado no Instituto Paulo Brito, atendendo pacientes com doenças neurodegenerativas e em clínica privada, no processo de avaliação com fins de tentativa de reabilitação. SBNp: Como foi o caminhoformação na sua área (neurologia) e na neuropsicologia? Paulo: Minha formação em Neurologia foi feita em Recife e Barcelona; em Recife, com o Professor Alcides Codeceira Jr. e, em Barcelona, com meu mestre, o Professor Lluís Barraquer i Bordas da Universidade Autônoma de Barcelona e do Hospital de San Pablo. Minha formação em Neuropsicologia foi realizada em dois momentos: primeiro em Barcelona, tanto pelo meu mestre, Lluís Barraquer i Bordas como pela Professora Carmen Junqué i Plaza da Universidade Autônoma de Barcelona e do Hospital de San Pablo e; no segundo momento, Laboratoire Théophile-Alajouanine du Center de Recherche du Center Hospitalier Côtes-des-Neiges da Universidade de Montreal sob a orientação do Professor Yves Joanette, Bernadette Ska, Arlette Poissant e demais estudiosos. Estudei neuropsicologia das demências, especialmente das doenças neurodegenerativas. SBNp: Atualmente Paulo, qual sua linha de pesquisa, trabalho e filiação? Paulo: Minha linha de pesquisa é feita por mim e pelo meu grupo de trabalho para estudar a correlação entre a avaliação cognitiva que faço e os resultados de necropsia dos pacientes em doenças neurodegenerativas. Procedendo assim, tenho hoje, 90 autópsias, que foram acompanhadas de forma pregressa a partir de um diagnóstico clínico, com avaliação neuropsicológica, estudo de neuroimagem, taxas sanguíneas, evolução, complicações e óbito. O meu grupo de trabalho Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br é constituído por neuropatologista, imunologista, psicólogo e estatístico. Como Professor, tenho orientado trabalhos com os estudantes a cada ano. SBNp: Como foi o desafio de ser o primeiro presidente da SBNp fora do eixo RJ-SP? Paulo: Não sei o que estava acontecendo com a SBNp na época que aceitei ser presidente. Parecia que as pessoas presentes na reunião queriam se ver livre da responsabilidade, esse foi o sentimento que tive naquele momento. Foi difícil presidi-la sem dinheiro e sem ajuda dos colegas que fazem parte da mesma: após a decisão do novo presidente, todos desapareceram para cuidar de suas obrigações. Na mesma época, ocorreu a superposição com o Congresso Latino Americano de Neuropsicologia (SLAN) e nosso Congresso Brasileiro de Neuropsicologia. Na realidade, o sentimento final é o de que funcionei como um “testa de ferro”, mesmo sabendo disso tentei divulgar a neuropsicologia no Norte e Nordeste do Brasil. Sabendo por onde andava, consegui juntar a nossa SBNp com a SLAN, e realizamos congresso único das duas sociedades, sem grandes dificuldades. Os maiores problemas estavam nas relações emocionais entre as pessoas e, não, na SBNp, exceto, a situação financeira. Continua Boletim SBNp—Junho—2012 Por: Cristina Yumi N. Sediyama Paulo: Não sei dizer como está a neuropsicologia brasileira, eu estou isolado, mas a pernambucana poderia ir melhor: o meu pronunciamento sobre o assunto, refere-se especificamente a neuropsicologia das doenças neurodegenerativas. Na área que trabalho como Professor de Neurologia da Universidade de Pernambuco, MédicoNeurologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Diretor Científico do Instituto Paulo Brito, Membro da Comissão Estadual de Dispensação de Medicação Excepcional para doença de Alzheimer, Parkinson e na Clínica Privada a neuropsicologia tem assumido uma responsabilidade na cidade do Recife, da qual, ela não tem competência. O assunto aqui chegou ao ponto do Conselho Regional de Psicologia (CRP) se manifestar, de forma ética e educativa, a tentar orientar os psicólogos sobre a disciplina Neuropsicologia; por outro lado, o Conselho Regional de Medicina também está envolvido nos questionamentos entre esse divisor de águas. Fui convidado pelo Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco para fazer conferência, para comemorar 50 anos de Psicologia no Estado. O tema será para discutir as questões neuropsicológicas frente ao diagnóstico de doenças neurodegenerativas. Eu e o CRP tentaremos fazer um curso de Educação Continuada para orientar a grande população de psicólogos que, ainda não estão devidamente orientados e não percebem o risco legal ao qual estão submetidos. As perspectivas para a neuropsicologia pernambucana poderia começar a partir da primeira avaliação neuropsicológica e acompanhar a evolução das alterações funcionais do córtex cerebral para tentar melhorar a qualidade de vida dos pacientes e da família. Sabe-se que quando circuitos corticais específicos, tanto em áreas terciárias como quaternárias do córtex cerebral, são corretamente estimulados surge uma resistência no seu declínio durante a neurodegeneração. Esse trabalho necessita de um conhecimento profundo de neuroanatomia e neurofisiologia cortical, aplicados aos sintomas clínicos, os quais são dificilmente vistos como sinais clínicos, principalmente na fase leve das doenças neurodegenerativas. A etiologia das doenças neurodegenerativas necessita de uma nosologia para que possa ser classificada. Portanto, a neuropsicologia pernambucana deveria limitar-se a sua competência, pois, um ser humano, não é uma máquina que se examina apenas com testes. Paulo: Seria de bom alvitre, em primeiro lugar, definir o que é neuropsicologia clínica, se é que é possível. Qual seria o lugar da linguagem na neuropsicologia; onde começa e termina a memória ou a praxia; quais os componentes cognitivos e funcionais que estão envolvidos nas funções executivas. O que se está avaliando? A partir dessa formação profissional se poderia entender melhor o papel da neuropsicologia no contexto multidisciplinar. Boletim SBNp—Junho—2012 SBNp: Atualmente, como você percebe a neuropsicologia brasileira hoje e suas perspectivas? Obrigado ao atual Presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia pelo trabalho de resgatar a história da nossa sociedade. SBNp: Qual o diferencial de sua área de formação para a sua prática clínica? Paulo: Não existe diferencial entre a minha área de formação e a minha prática clínica porque sempre acreditei que, em neurologia, o conhecimento tem que partir do ponto específico até atingir o objetivo: assim todas as variáveis estão correlacionadas. SBNp: Qual a opinião do profissional sobre a neuropsicologia no contexto multidisciplinar? Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Paulo Roberto de Brito Marques Professor de Neurologia da Universidade de Pernambuco (UPE). Médico-Neurologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da UPE. Médico-Neurologista Membro da Comissão Estadual da Secretaria de Saúde de Dispensação de Medicação Excepcional de doença de Alzheimer e Parkinson. Diretor Científico do Instituto Paulo Brito. Adaptação transcultural do Teste de Conhecimento Emocional (EMT): avaliação neuropsicológica das emoções - dados preliminares Nara Côrtes Andrade & Neander Abreu tação da espécie humana, sendo elementos estruturantes das interações sociais. Elas “são o centro das relações das crianças, de seu bem-estar, senso de self e sensibilidade moral e são centralmente ligadas à sua compreensão de mundo e crescimento”. O conhecimento ou compreensão emocional se refere à capacidade de conhecer “expressões, rótulos e funções das emoções”. Ele favorece o desenvolvimento de uma relação saudável do indivíduo com seu contexto e está vinculado a inúmeras e importantes dimensões do funcionamento cognitivo e sócio-relacional dos seres humanos. Maior habilidade em conhecimento emocional correlaciona-se a uma melhor regulação emocional, habilidade social, controle inibitório, habilidade verbal e desempenho escolar; além de menores níveis de agressividade, interações negativas entre pares e problemas de comportamento. Entretanto, uma revisão acerca dos testes psicológicos para crianças no Brasil evidencia uma escassez deste tipo de medida. Entre os 135 instrumentos aprovados para utilização pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia, nenhum se dedica a mensurar aspectos referentes ao conhecimento emocional em crianças. O presente trabalho teve por objetivo: traduzir, adaptar culturalmente e validar o Teste de Conhecimento Emocional - EMT e encontra-se em fase de desenvolvimento. Participarão deste estudo 420 crianças de escolas particulares e públicas dos municípios de Salvador, Belo Horizonte e São Paulo. O EMT, dirigido a crianças de três a seis anos de idade, é composto de quatro tarefas que visam a mensurar os componentes do conhecimento emocional receptivo (reconhecimento de expressões emocionais), expressivo (rotulação destas expressões), além de conhecimentos referentes a situações que provocam emoção e expressão emocional5, . Com a finalidade de avaliar a validade de critério deste instrumento, estão sendo aplicadas uma escala de regulação emocional, Emotion Regulation Checklist; um teste de habilidade verbal, Teste de Vocabulário Auditivo USP, além do Child Behavior Checklist. A adaptação transcultural do EMT foi feita com base no guia da International Test Commission. A tradução foi realizada por três profissionais bilíngües com experiência na atuação com neuropsicologia infantil, dois deles com doutorado na área. A retrotradução foi avaliada pelos autores do instrumento através de uma escala Likert, além de quatro juízes bilíngües doutores em psicologia ou medicina. Uma etapa de análise semântica foi realizada junto a adultos brasileiros e crianças entre três e seis anos, e verificou-se uma boa compreensão dos itens por parte da população alvo. O estudo piloto já está em andamento no município de Salvador. Dados preliminares de 28 crianças, 50% do sexo masculino e 50% do sexo feminino, apontam que o desempenho no EMT correlaciona-se significativamente com a idade (rs= 0,667, p < 0,001), indicando que este instrumento possui sensibilidade às diferentes faixas etárias e, possivelmente uma boa validade desenvolvimental. Crianças com melhor habilidade em conhecimento emocional apresentaram melhor desempenho em tarefas de habilidade verbal (rs= 0,566, p = 0,002). Entretanto, não foram verificadas correlações significativas com a regulação emocional. Estes dados são preliminares e refletem a primeira etapa do trabalho de adaptação transcultural, validação e normatização do Teste de Conhecimento Emocional – EMT. Três equipes em diferentes capitais do Brasil, Salvador – BA, Belo Horizonte - MG e São Paulo – SP, estão finalizando o treinamento e coletando dados, coordenados pelos autores do presente estudo. Referências Denham, S. A. (1998). Emotional development in young children. New York: Guilford Press. Denham, S. a, Caverly, S., Schmidt, M., Blair, K., DeMulder, E., Caal, S., Hamada, H., et al. (2002). Preschool understanding of emotions: contributions to classroom anger and aggres- Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br sion. Journal of child psychology and psychiatry, and allied disciplines, 43(7), 901-16. Garner, P., & Waajid, B. (2008). The associations of emotion knowledge and teacher–child relationships to preschool children’s school-related developmental competence. Journal of Applied Developmental Psychology, 29 (2), Bennett, D. S.; Bendersky, M. & Lewis, M. (2005). Antecedents of emotion knowledge: predictors of individual differences in young children. 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Translating Tests : Some Practical Guidelines. Options, 1(2), 89-99. Nara Côrtes Andrade Psicóloga formada pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. Professora da Universidade Católica do Salvador. Mestranda em Psicologia do Desenvolvimento pela UFBA Membro do Grupo de Pesquisa em Neuropsicologia Clínica e Cognitiva – Neuroclic Neander Abreu Professor Adjunto – Instituto de Psicologia. Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Neuropsicologia Clínica e Cognitiva – Neuroclic Boletim SBNp—Junho—2012 As emoções são fundamentais à adap- Avaliação Neuropsicológica das Funções Executivas em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) O autismo é um transtorno neurodesenvolvimental que compromete o desenvolvimento global infantil, caracterizado por prejuízos qualitativos envolvendo os domínios interação social, comunicação e comportamento (American Psychiatric Association, 2002; Wing, Gould, & Gillberg, 2011). A expressão Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem sido usada como referência aos transtornos do desenvolvimento que compartilham características do autismo (Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação), sendo esse termo consoante com as propostas de mudanças quanto à classificação diagnóstica desses transtornos (American Psychiatric Association, 2012). Pesquisas sobre o papel das funções executivas (FE) no TEA tiveram início a partir da constatação de semelhanças entre os sintomas cognitivos e comportamentais de indivíduos autistas e de sujeitos com transtornos frontais (Pennington & Ozonoff, 1996). As FE englobam processos cognitivos complexos, necessários para a organização e adaptação do comportamento ao ambiente em constante mudança (Jurado & Rosselli, 2007). Diversas pesquisas têm apontado evidências de disfunções executivas no TEA, tanto em crianças quanto em adultos (Chan et al., 2009; Geurts et al., 2004; Hill & Bird, 2006; Towgood et al., 2009). No entanto, há uma carência de estudos que avaliem as FE em termos de componentes, auxiliando na compreensão dos aspectos executivos prejudicados e preservados nesse transtorno. Ressalta-se que esse enten- dimento poderia contribuir para a realização do diagnóstico diferencial entre o TEA e outros transtornos do desenvolvimento e entre indivíduos com diferentes perfis neuropsicológicos dentro do espectro, como também para a formulação de estratégias clínicas e pedagógicas mais adequadas às necessidades dessa população clínica. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa como parte do meu trabalho de Mestrado em Psicologia (UFRGS), sob orientação das Profas Jerusa Fumagalli de Salles (Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva – NEUROCOG) e Cleonice Alves Bosa (Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisa em Transtornos do Desenvolvimento – NIEPED), com o objetivo de avaliar as FE em um grupo de crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA (n=11), comparado a um grupo de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico (n=19) de mesma idade, escolaridade e desempenho de QI. O grupo TEA apresentou desempenho inferior ao grupo controle em todas as tarefas utilizadas, sugerindo prejuízos envolvendo os componentes executivos do planejamento, da inibição, da flexibilidade cognitiva, da fluência verbal (semântica e ortográfica) e da memória de trabalho. O estudo concluiu que prejuízos nesses componentes executivos podem estar relacionados às dificuldades observadas nos domínios interação social, comunicação e comportamento, em indivíduos com TEA. Referências rate Diagnosis and Treatment. Retrieved in January, 20, 2012, from http:// www.dsm5.org/Documents/12-03% 20Autism%20Spectrum%20Disorders% 20-%20DSM5.pdf American Psychiatric Association (2002). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais . Porto Alegre: Artes Médicas. Chan, A. S., Cheung, M., Han, Y. M. Y., Sze, S. L., Leung, W. W., Man, H. S. & To, C. Y. (2009). Executive function deficits and neural discordance in children with Autism Spectrum Disorders. Clinical Neurophysiology, 120, 1107-1115. Geurts, H. M., Verté, S., Oosterlaan, J., Roeyers, H. & Sergeant, J. A. (2004). How specific are executive functioning deficits in attention deficit hyperactivitie disorder and autism? Journal of Child Psychology and Psychiatry, 45(4), 836-854. Hill, E. L., & Bird, C. M. 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Fernanda Rasch Czermainski Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) American Psychiatric Association (2012). DSM-5 Proposed Criteria for Autism Spectrum Disorder to Provide more Accu- Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Boletim SBNp—Junho—2012 Fernanda Rasch Czermainski e Comportamento A III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento (IBNeC) será realizado em Florianópolis, na bela Ilha da Magia, entre 20 e 22 de Setembro de 2012. A programação do evento conta com cursos pré-reunião envolvendo diversas áreas da neuropsicologia e neurociências, bem como temas de palestras envolvendo desde aspectos moleculares à aspectos comportamentais com representantes de várias universidades brasileiras e internacionais de renome . Durante a Reunião ocorrerá a NeuroBright - Olimpíada em neuropsicologia e neurociência comportamental, que tem como objetivo principal promover o diálogo entre diferentes grupos de pesquisa, estimulando o aperfeiçoamento a formação dos alunos e premiando as equipes vencedoras. A data limite para envio de Resumos para a Reunião é o dia 16/07/2012. Para maiores informações sobre a Reunião e o regulamento para inscrição no mesmo e na NeuroBright, acesse o site: http://www.ibnec.org/ Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Boletim SBNp— Junho —2012 III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia TORNE-SE SÓCIO DA SBNp! Para você que quer se tornar sócio da SBNp, confira algumas das vantagens: Desconto no Congresso Brasileiro de Neuroposicologia Acesso ao conteúdo em áudio e vídeo do XI Congresso Brasileiro de Neuropsicologia Desconto de 20% em livros sobre neuropsicologia da editora Artmed E muito mais! Para maiores informações, consulte: www.sbnp.com.br SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp) GESTÃO 2011-2013 Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG) Presidente: Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MGUFMG) Vice-Presidente: Santa Catarina: Rachel SchlindweinZanini. São Paulo: Juliana Góis Conselho Fiscal: Carina Chaubet D’Alcante (SP-USP) Lúcia Iracema Zanotto Mendonça (SPPUC-SP;USP) Gabriel C. Coutinho D`OR) (RJ– Instituto Neander Abreu (BA-UFBA) Secretário: Equipe do Boletim SBNp: Coordenadora: Cristina Yumi N. Sediyama (MG— Coordenadora) Alexandre Nobre (RS) Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP) Representações Regionais: Carina Chaubet D’Alcante (SP) Alagoas: Katiúscia Karine Martins da Silva Gabriel Coutinho (RH) Deborah Azambuja (SP) Secretária Geral: Bahia: Tuti Cabuçu Jessica Fernanda (RO) Camila Santos Batista (SP) Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade Jonas Jardim de Paula (MG) Tesoureira Geral: Centro Oeste: Leonardo Caixeta Juliana Burges Sbicigo (RS) Eliane Fazion dos Santos (SP) Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula Maicon Albuquerque (MG) Paraná: Amer Cavalheiro Handan Marcus Vinicius Costa Alves (SP) Pernambuco: Lara Sá Leitão Ricardo Franco de Lima (SP) Tesoureira: Conselho Deliberativo: Daniel Fuentes (SP-USP) Jerusa Fumagalli UFRGS) de Paulo Mattos (RJ-UFRJ) Salles (RS- Rio de Janeiro: Flávia Miele Rio Grande do Norte: Katie Almondes Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonseca Giuliano Ginani (York-UK) Sabrina Magalhães (PR) Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br Tel: 0xx(11) 3031-8294 Fax: 0xx(11) 3031-8294 Email: [email protected]