do Boletim - Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

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BOLETIM SBNp
Nesta edição:
Gestão 2011-2013 -Edição Junho - 2012
Editorial
Texto Inicial:
A inflamação da dor social
Relato de pesquisa I
Adaptação transcultural
do Teste de Conhecimento Emocional
Prezados leitores do Boletim da SBNp,
Mais uma vez o Boletim da SBNp está recheado com informações e curiosidades sobre a Neuropsicologia brasileira! Na primeira sessão, temos o prazer
apreciar o texto intitulado “A inflamação da dor social” escrito por Pedro Pinheiro-Chagas, mestrando pela Universidade Federal de Minas Gerais e aluno
visitante no Departamento de Neuropsicologia da Universidade de Graz
Relato de pesquisa II
Funções Executivas em
crianças e adolescentes
com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
(Austria).
Seguindo nossa tradicional sessão de entrevistas, nesse mês de junho, o entrevistado do mês é o Dr. Paulo Brito, Professor de Neurologia da Universidade de Pernambuco (UPE) e o primeiro presidente da SBNp fora do eixo Rio -
Entrevista do mês
São Paulo.
Paulo Roberto de Brito
Marques
No primeiro relato de pesquisa, contamos com a colaboração dos autores Nara Côrtes Andrade e Neander Abreu Universidade Federal da Bahia - UFBA
com os dados preliminares do estudo: “Adaptação transcultural do Teste de
NEUROeventos
III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia e Comportamento
Conhecimento Emocional avaliação neuropsicológica das emoções”. Já
o segundo relato intitulado: “Funções Executivas em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)”, é escrito pela doutoranda Fernanda Rasch Czermainski da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS.
SBNp!
Aproveitem bastante!
Equipe Boletim da SBNp
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A inflamação da dor social
“Doem-me a cabeça e o universo.”
Fernando Pessoa
A
semelhança entre a dor física
e dor social não é apenas metafórica, mas também neurofisiológica. Uma das teorias mais importantes sobre os mecanismos
psicológicos da dor propõe uma
distinção entre dois componentes: o sensorial e o afetivo
(Rainville et al, 1997). O primeiro
está relacionado à intensidade do
estímulo doloroso, enquanto que
o segundo está associado às
sensações emocionais derivadas
da dor. No trabalho seminal de
Rainville et al. (1997), os autores
apresentam uma evidência empírica dessa dissociação, mostrando que o córtex cingulado anterior, mas não o córtex somatosensorial, é ativado quando o desconforto do estímulo doloroso
varia e a sua intensidade permanece a mesma.
O conceito de dor social foi inicialmente proposto por Panksepp
(1998) para explicar a emergência de um sistema de integração
emocional para afetos sociais em
mamíferos. Com o aumento exponencial na complexidade das
estruturas sociais de cooperação
ao longo do processo evolutivo, a
necessidade de ligação social
tornou-se inexorável para os seres humanos (Macdonald & Leary, 2005). Consequentemente,
qualquer estímulo que ameaça a
estabilidade dos laços sociais se
reverte de um caráter extremamente aversivo. Por exemplo,
Bolby (1969) mostrou que a separação de um bebê de seu cuidador produz um profundo estresse
emocional, provocando comportamentos como gritar e chorar, os
quais também são manifestações
comuns na experiência de dor
física.
No primeiro trabalho que sistematicamente investigou a relação
entre
dor
física
e
social
(Eisenberger & Lieberman, 2003),
os autores mostraram que uma
experiência de rejeição social,
eliciada por meio de um paradigma experimental que simulava
uma interação lúdica entre indivíduos, associou-se a ativações
das porções dorsais do córtex
cingulado anterior. Crucialmente,
essas regiões são superponíveis
àquelas recrutadas pela dor crônica em pacientes com câncer, por
exemplo. Mais recentemente, foi
mostrado que doses do analgésico paracetamol reduzem o sentimento de dor social (DeWall et
al., 2010).
Mas quais são os mecanismos
neurofisiológicos e neurocognitivos da sobreposição entre dor
física e dor social? Uma boa pista está na investigação da interação entre sistema imune e sistema neurológico, particularmente
nos mecanismos fisiológicos do
estresse. Um trabalho recente
apostou nessa direção e encontrou resultados muito interessantes. Slavich, Way, Eisenberger &
Taylor (2010) mediram a concentração
de
citocinas
próinflamatórias em participantes
depois de um paradigma indutor
de estresse. Semanas depois,
parte dos participantes foi submetida a um paradigma de exclusão social dentro da máquina de
ressonância magnética funcional.
Os resultados mostraram que a
indução de estresse provoca um
aumento da concentração de
citocinas pró-inflamatórias e, replicando dados anteriores, a indução de rejeição social ativa
regiões do córtex cingulado anterior e da insula anterior. Finalmente, os autores encontraram
uma correlação positiva entre
aumento da concentração de
citocinas pró-inflamatórias e atividade do córtex cingulado anterior
e da insula anterior. Isto é, aqueles indivíduos que foram mais
sensíveis (mais aumento da atividade inflamatória) ao estressor
psicológico, também foram mais
sensíveis (maior atividade do
córtex cingulado anterior e insula
anterior) à rejeição social.
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Continua
Boletim SBNp—Junho—2012
Por: Pedro Pinheiro-Chagas
o aumento de riscos ambientais
indica que estímulos psicológico
(violência pública) explicam parte
estressores modulam a circuita-
significativa da maximização dos
ria envolvendo o giro do cíngulo
níveis de ansiedade na sociedade
anterior e a ínsula anterior rela-
americana nos últimos 50 anos
cionada tanto ao processamen-
(Twenge, 2000).
to da dimensão afetiva da dor
física, quanto da dor social. Es-
A consiliência entre neurociência
sa circuitaria teria um papel de
e imunologia certamente irá nos
regulação da atividade imunoló-
ajudar a entender melhor os me-
gica, atuando na produção de
canismos subjacentes à sobrepo-
citocinas pró-inflamatórias atra-
sição entre dor física e dor social.
vés de suas projeções para o
Consequentemente, intervenções
hipotálamo. O hipotálamo pos-
neuropsicológicas e psiquiátricas
sui conexões com regiões do
mais eficazes poderão ser desen-
tronco cerebral (substância cin-
volvidas para o tratamento de
zenta periaquedutal, ponte e
psicopatologias
nervo vago), estruturas respon-
bem como para o manejo de sin-
sáveis pela produção de acetil-
tomas internalizantes comuns nas
colina que atua na expressão
doenças que provocam dor crôni-
de citocinas. A atividade infla-
ca.
Rainville, P., Duncan, G. H., Price, D.
D., Carrier, B., Bushnell, M.C.
(1997). Pain affect encoded in human anterior cingulate but not somatosensory cortex. Science, 277
(5328), 968-971.
Slavich, G. M., Way, B.M., Eisenberger, N. I., Taylor, S. E. (2010).
"Neural sensitivity to social rejection
is associated with inflammatory responses to social stress." Proc Natl
Acad Sci USA 107(33): 1481714822.
Twenge, J. M. (2000) The Age of Anxiety? Birth Cohort Change in Anxiety and Neuroticism, 1952-1993.
Journal of Personality and Social
Psychology, 79 (6) 1007-1021.
Boletim SBNp—Junho—2012
De maneira geral, a literatura
internalizantes,
matória, por sua vez, desencadearia sintomas internalizantes
(sickness behavior), a qual cronificada, poderia contribuir para
o aparecimento de psicopatologias tais como ansiedade e de-
Referências:
pressão.
HaBolby, J. (1969). Attachment &
Lost, Vol. I: Attachment. New
York: Basic Books.
As
sociedades
contemporâ-
neas, nas quais o raciocínio
individualista
é
intensamente
cultivado, contêm muitos riscos
para a manutenção dos vínculos
sociais. Depressão, por exemplo, pode ser definida como um
mecanismo que atua na diminuição do risco social quando a
probabilidade percebida de exclusão é alta (Macdonald & Leary, 2005). Uma importante meta-análise mostrou que a diminuição das interações sociais e
DeWall, C. N., MacDonald, G., Webster, G. D., Masten, C. L., Baumeister, R. F., Powell, C., Combs, D.,
et al. (2010). Acetaminophen Reduces Social Pain. Psychological
Science, 21(7), 931-937.
Eisenberger, N. I., Lieberman, M. D.,
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Macdonald, G., Leary, M. R. (2005).
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The relationship between social
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Panksepp, J. (1998). Affective neuroscience: The foundations of
human and animal emotions. New
York: Oxford University Press.
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Pedro Pinheiro-Chagas
Possui Graduação em Psicologia (UFMG)
com período sanduiche na Universidade
de Wisconsin - Madison (EUA), onde trabalhou no Lab for Affective Neuroscience
coordenado pelo Prof. Richard Davidson.
Atualmente é mestrando no Programa de
Pós-Graduação em Neurociências da
UFMG sob a orientação do Prof. Vitor
Haase e aluno visitante no Departamento
de Neuropsicologia da Universidade de
Graz (Austria).
Paulo Roberto de Brito Marques
Recife, 27 de maio de 2012.
SBNp: Olá Paulo, tudo bem?
Gostaríamos que você falasse
um pouco para os leitores do
Boletim, sobre sua atuação
dentro da neuropsicologia.
Paulo: A minha atuação hoje dentro na neuropsicologia ocorre no
Núcleo de Neurologia do Comportamento da Universidade de Pernambuco, criado por mim em
1996. Nesse núcleo, trabalho com
protocolo de avaliação adaptado
por mim do protocolo de Montreal
em doenças neurodegenerativas;
estudado na comunidade, cidade
de Olinda, em população com idades entre 60 e 92 anos. O mesmo
protocolo é utilizado no Instituto
Paulo Brito, atendendo pacientes
com doenças neurodegenerativas
e em clínica privada, no processo
de avaliação com fins de tentativa
de reabilitação.
SBNp: Como foi o caminhoformação
na
sua
área
(neurologia) e na neuropsicologia?
Paulo: Minha formação em Neurologia foi feita em Recife e Barcelona; em Recife, com o Professor
Alcides Codeceira Jr. e, em Barcelona, com meu mestre, o Professor Lluís Barraquer i Bordas da
Universidade Autônoma de Barcelona e do Hospital de San Pablo.
Minha formação em Neuropsicologia foi realizada em dois momentos: primeiro em Barcelona, tanto
pelo meu mestre, Lluís Barraquer i
Bordas como pela Professora
Carmen Junqué i Plaza da Universidade Autônoma de Barcelona e do Hospital de San Pablo e;
no segundo momento, Laboratoire Théophile-Alajouanine du Center de Recherche du Center Hospitalier Côtes-des-Neiges da Universidade de Montreal sob a orientação do Professor Yves Joanette, Bernadette Ska, Arlette
Poissant e demais estudiosos.
Estudei neuropsicologia das demências, especialmente das doenças neurodegenerativas.
SBNp: Atualmente Paulo, qual
sua linha de pesquisa, trabalho
e filiação?
Paulo: Minha linha de pesquisa é
feita por mim e pelo meu grupo
de trabalho para estudar a correlação entre a avaliação cognitiva
que faço e os resultados de necropsia dos pacientes em doenças neurodegenerativas. Procedendo assim, tenho hoje, 90 autópsias, que foram acompanhadas de forma pregressa a partir
de um diagnóstico clínico, com
avaliação neuropsicológica, estudo de neuroimagem, taxas sanguíneas, evolução, complicações
e óbito. O meu grupo de trabalho
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é constituído por neuropatologista, imunologista, psicólogo e estatístico. Como Professor, tenho
orientado trabalhos com os estudantes a cada ano.
SBNp: Como foi o desafio de
ser o primeiro presidente da
SBNp fora do eixo RJ-SP?
Paulo: Não sei o que estava
acontecendo com a SBNp na
época que aceitei ser presidente.
Parecia que as pessoas presentes na reunião queriam se ver
livre da responsabilidade, esse
foi o sentimento que tive naquele
momento. Foi difícil presidi-la
sem dinheiro e sem ajuda dos
colegas que fazem parte da
mesma: após a decisão do novo
presidente, todos desapareceram para cuidar de suas obrigações. Na mesma época, ocorreu
a superposição com o Congresso Latino Americano de Neuropsicologia (SLAN) e nosso
Congresso Brasileiro de Neuropsicologia. Na realidade, o
sentimento final é o de que funcionei como um “testa de ferro”,
mesmo sabendo disso tentei
divulgar a neuropsicologia no
Norte e Nordeste do Brasil. Sabendo por onde andava, consegui juntar a nossa SBNp com a
SLAN, e realizamos congresso
único das duas sociedades, sem
grandes dificuldades. Os maiores problemas estavam nas relações emocionais entre as pessoas e, não, na SBNp, exceto, a
situação financeira.
Continua
Boletim SBNp—Junho—2012
Por: Cristina Yumi N. Sediyama
Paulo: Não sei dizer como está
a neuropsicologia brasileira, eu
estou isolado, mas a pernambucana poderia ir melhor: o meu
pronunciamento sobre o assunto, refere-se especificamente a
neuropsicologia das doenças
neurodegenerativas. Na área
que trabalho como Professor de
Neurologia da Universidade de
Pernambuco,
MédicoNeurologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Diretor
Científico do Instituto Paulo Brito, Membro da Comissão Estadual de Dispensação de Medicação Excepcional para doença
de Alzheimer, Parkinson e na
Clínica Privada a neuropsicologia tem assumido uma responsabilidade na cidade do Recife,
da qual, ela não tem competência. O assunto aqui chegou ao
ponto do Conselho Regional de
Psicologia (CRP) se manifestar,
de forma ética e educativa, a
tentar orientar os psicólogos
sobre a disciplina Neuropsicologia; por outro lado, o Conselho
Regional de Medicina também
está envolvido nos questionamentos entre esse divisor de
águas. Fui convidado pelo Conselho Regional de Psicologia de
Pernambuco para fazer conferência, para comemorar 50
anos de Psicologia no Estado.
O tema será para discutir as
questões
neuropsicológicas
frente ao diagnóstico de doenças neurodegenerativas. Eu e o
CRP tentaremos fazer um curso
de Educação Continuada para
orientar a grande população de
psicólogos que, ainda não estão devidamente orientados e
não percebem o risco legal ao
qual estão submetidos.
As perspectivas para a neuropsicologia pernambucana poderia
começar a partir da primeira avaliação neuropsicológica e acompanhar a evolução das alterações
funcionais do córtex cerebral para
tentar melhorar a qualidade de
vida dos pacientes e da família.
Sabe-se que quando circuitos corticais específicos, tanto em áreas
terciárias como quaternárias do
córtex cerebral, são corretamente
estimulados surge uma resistência no seu declínio durante a neurodegeneração. Esse trabalho
necessita de um conhecimento
profundo de neuroanatomia e
neurofisiologia cortical, aplicados
aos sintomas clínicos, os quais
são dificilmente vistos como sinais
clínicos, principalmente na fase
leve das doenças neurodegenerativas. A etiologia das doenças
neurodegenerativas necessita de
uma nosologia para que possa
ser classificada. Portanto, a neuropsicologia pernambucana deveria limitar-se a sua competência,
pois, um ser humano, não é uma
máquina que se examina apenas
com testes.
Paulo: Seria de bom alvitre, em
primeiro lugar, definir o que é neuropsicologia clínica, se é que é
possível. Qual seria o lugar da linguagem na neuropsicologia; onde
começa e termina a memória ou a
praxia; quais os componentes cognitivos e funcionais que estão envolvidos nas funções executivas. O
que se está avaliando? A partir
dessa formação profissional se
poderia entender melhor o papel
da neuropsicologia no contexto
multidisciplinar.
Boletim SBNp—Junho—2012
SBNp: Atualmente, como você percebe a neuropsicologia
brasileira hoje e suas perspectivas?
Obrigado ao atual Presidente da
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia pelo trabalho de resgatar a
história da nossa sociedade.
SBNp: Qual o diferencial de sua
área de formação para a sua
prática clínica?
Paulo: Não existe diferencial entre a minha área de formação e a
minha prática clínica porque sempre acreditei que, em neurologia,
o conhecimento tem que partir do
ponto específico até atingir o objetivo: assim todas as variáveis estão correlacionadas.
SBNp: Qual a opinião do profissional sobre a neuropsicologia
no contexto multidisciplinar?
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Paulo Roberto de Brito Marques
Professor de Neurologia da Universidade de
Pernambuco (UPE). Médico-Neurologista
do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da
UPE. Médico-Neurologista Membro da Comissão Estadual da Secretaria de Saúde de
Dispensação de Medicação Excepcional de
doença de Alzheimer e Parkinson. Diretor
Científico do Instituto Paulo Brito.
Adaptação transcultural do Teste de Conhecimento Emocional (EMT):
avaliação neuropsicológica das emoções - dados preliminares
Nara Côrtes Andrade & Neander Abreu
tação da espécie humana, sendo elementos estruturantes das interações
sociais. Elas “são o centro das relações
das crianças, de seu bem-estar, senso
de self e sensibilidade moral e são centralmente ligadas à sua compreensão de
mundo e crescimento”. O conhecimento
ou compreensão emocional se refere à
capacidade de conhecer “expressões,
rótulos e funções das emoções”. Ele
favorece o desenvolvimento de uma
relação saudável do indivíduo com seu
contexto e está vinculado a inúmeras e
importantes dimensões do funcionamento cognitivo e sócio-relacional dos seres
humanos. Maior habilidade em conhecimento emocional correlaciona-se a uma
melhor regulação emocional, habilidade
social, controle inibitório, habilidade verbal e desempenho escolar; além de menores níveis de agressividade, interações negativas entre pares e problemas
de comportamento.
Entretanto, uma revisão acerca dos testes psicológicos para crianças no Brasil
evidencia uma escassez deste tipo de
medida. Entre os 135 instrumentos aprovados para utilização pelo Sistema de
Avaliação de Testes Psicológicos
(SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia, nenhum se dedica a mensurar
aspectos referentes ao conhecimento
emocional em crianças. O presente trabalho teve por objetivo: traduzir, adaptar
culturalmente e validar o Teste de Conhecimento Emocional - EMT e encontra-se em fase de desenvolvimento. Participarão deste estudo 420 crianças de
escolas particulares e públicas dos municípios de Salvador, Belo Horizonte e São
Paulo.
O EMT, dirigido a crianças de três a
seis anos de idade, é composto de quatro tarefas que visam a mensurar os
componentes do conhecimento emocional receptivo (reconhecimento de expressões
emocionais),
expressivo
(rotulação destas expressões), além
de conhecimentos referentes a situações
que provocam emoção e expressão
emocional5, . Com a finalidade de avaliar a validade de critério deste instrumento, estão sendo aplicadas uma escala de
regulação emocional, Emotion Regulation
Checklist; um teste de habilidade verbal,
Teste de Vocabulário Auditivo USP, além
do Child Behavior Checklist.
A adaptação transcultural do EMT foi
feita com base no guia da International
Test Commission. A tradução foi realizada
por três profissionais bilíngües com experiência na atuação com neuropsicologia
infantil, dois deles com doutorado na área.
A retrotradução foi avaliada pelos autores
do instrumento através de uma escala
Likert, além de quatro juízes bilíngües
doutores em psicologia ou medicina. Uma
etapa de análise semântica foi realizada
junto a adultos brasileiros e crianças entre
três e seis anos, e verificou-se uma boa
compreensão dos itens por parte da população alvo.
O estudo piloto já está em andamento no
município de Salvador. Dados preliminares de 28 crianças, 50% do sexo masculino e 50% do sexo feminino, apontam que
o desempenho no EMT correlaciona-se
significativamente com a idade (rs= 0,667,
p < 0,001), indicando que este instrumento possui sensibilidade às diferentes faixas etárias e, possivelmente uma boa
validade desenvolvimental. Crianças com
melhor habilidade em conhecimento emocional apresentaram melhor desempenho
em tarefas de habilidade verbal (rs=
0,566, p = 0,002). Entretanto, não foram
verificadas correlações significativas com
a regulação emocional.
Estes dados são preliminares e refletem a primeira etapa do trabalho de adaptação transcultural, validação e normatização do Teste de Conhecimento Emocional
– EMT. Três equipes em diferentes capitais do Brasil, Salvador – BA, Belo Horizonte - MG e São Paulo – SP, estão finalizando o treinamento e coletando dados,
coordenados pelos autores do presente
estudo.
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Translating Tests : Some Practical
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Nara Côrtes Andrade
Psicóloga formada pela Universidade
Federal da Bahia - UFBA. Professora
da Universidade Católica do Salvador. Mestranda em Psicologia
do Desenvolvimento pela UFBA
Membro do Grupo de Pesquisa em
Neuropsicologia Clínica e Cognitiva
– Neuroclic
Neander Abreu
Professor Adjunto – Instituto de Psicologia. Universidade Federal da
Bahia. Coordenador do Grupo de
Pesquisa em Neuropsicologia Clínica
e Cognitiva – Neuroclic
Boletim SBNp—Junho—2012
As emoções são fundamentais à adap-
Avaliação Neuropsicológica das Funções Executivas em crianças e adolescentes com
diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
O autismo é um transtorno neurodesenvolvimental que compromete
o desenvolvimento global infantil,
caracterizado por prejuízos qualitativos envolvendo os domínios interação social, comunicação e comportamento (American Psychiatric Association, 2002; Wing, Gould, & Gillberg, 2011). A expressão Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
tem sido usada como referência aos
transtornos do desenvolvimento que
compartilham características do autismo (Transtorno Autista, Transtorno de Asperger e Transtorno Global
do Desenvolvimento Sem Outra Especificação), sendo esse termo consoante com as propostas de mudanças quanto à classificação diagnóstica desses transtornos (American
Psychiatric Association, 2012).
Pesquisas sobre o papel das funções executivas (FE) no TEA tiveram início a partir da constatação de
semelhanças entre os sintomas
cognitivos e comportamentais de
indivíduos autistas e de sujeitos
com
transtornos
frontais
(Pennington & Ozonoff, 1996). As
FE englobam processos cognitivos
complexos, necessários para a organização e adaptação do comportamento ao ambiente em constante
mudança (Jurado & Rosselli, 2007).
Diversas pesquisas têm apontado
evidências de disfunções executivas
no TEA, tanto em crianças quanto
em adultos (Chan et al., 2009;
Geurts et al., 2004; Hill & Bird, 2006;
Towgood et al., 2009). No entanto,
há uma carência de estudos que
avaliem as FE em termos de componentes, auxiliando na compreensão dos aspectos executivos prejudicados e preservados nesse transtorno. Ressalta-se que esse enten-
dimento poderia contribuir para a
realização do diagnóstico diferencial
entre o TEA e outros transtornos do
desenvolvimento e entre indivíduos
com diferentes perfis neuropsicológicos dentro do espectro, como
também para a formulação de estratégias clínicas e pedagógicas
mais adequadas às necessidades
dessa população clínica.
Nesse sentido, foi realizada uma
pesquisa como parte do meu trabalho de Mestrado em Psicologia
(UFRGS), sob orientação das Profas Jerusa Fumagalli de Salles
(Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva – NEUROCOG) e
Cleonice Alves Bosa (Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisa em
Transtornos do Desenvolvimento –
NIEPED), com o objetivo de avaliar
as FE em um grupo de crianças e
adolescentes com diagnóstico de
TEA (n=11), comparado a um grupo
de crianças e adolescentes com
desenvolvimento típico (n=19) de
mesma idade, escolaridade e desempenho de QI. O grupo TEA
apresentou desempenho inferior ao
grupo controle em todas as tarefas
utilizadas, sugerindo prejuízos envolvendo os componentes executivos do planejamento, da inibição,
da flexibilidade cognitiva, da fluência verbal (semântica e ortográfica)
e da memória de trabalho. O estudo
concluiu que prejuízos nesses componentes executivos podem estar
relacionados às dificuldades observadas nos domínios interação social, comunicação e comportamento,
em indivíduos com TEA.
Referências
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better or worse than the DSM-IV? Research in Developmental Disabilities, 32,
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Fernanda Rasch Czermainski
Psicóloga, Mestre e Doutoranda em
Psicologia pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS)
American Psychiatric Association (2012).
DSM-5 Proposed Criteria for Autism
Spectrum Disorder to Provide more Accu-
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Boletim SBNp—Junho—2012
Fernanda Rasch Czermainski
e Comportamento
A III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia
e
Comportamento
(IBNeC) será realizado em
Florianópolis, na bela Ilha da
Magia, entre 20 e 22 de Setembro de 2012.
A programação do evento
conta com cursos pré-reunião
envolvendo diversas áreas da
neuropsicologia e neurociências, bem como temas de palestras envolvendo desde aspectos moleculares à aspectos comportamentais com representantes de várias universidades brasileiras e internacionais de renome .
Durante a Reunião ocorrerá a
NeuroBright - Olimpíada em
neuropsicologia e neurociência comportamental, que
tem como objetivo principal
promover o diálogo entre diferentes grupos de pesquisa,
estimulando o aperfeiçoamento a formação dos alunos
e premiando as equipes vencedoras.
A data limite para envio de
Resumos para a Reunião é o
dia 16/07/2012. Para maiores informações sobre a Reunião e o regulamento para
inscrição no mesmo e na
NeuroBright, acesse o site:
http://www.ibnec.org/
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia - www.sbnp.com.br
Boletim SBNp— Junho —2012
III Reunião Anual do Instituto Brasileiro de Neuropsicologia
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROPSICOLOGIA (SBNp)
GESTÃO 2011-2013
Vitor Geraldi Haase (MG-UFMG)
Presidente:
Leandro Fernandes Malloy-Diniz (MGUFMG)
Vice-Presidente:
Santa Catarina: Rachel SchlindweinZanini.
São Paulo: Juliana Góis
Conselho Fiscal:
Carina Chaubet D’Alcante (SP-USP)
Lúcia Iracema Zanotto Mendonça (SPPUC-SP;USP)
Gabriel C. Coutinho
D`OR)
(RJ–
Instituto
Neander Abreu (BA-UFBA)
Secretário:
Equipe do Boletim SBNp:
Coordenadora:
Cristina Yumi N. Sediyama (MG—
Coordenadora)
Alexandre Nobre (RS)
Thiago S. Rivero (SP-UNIFESP)
Representações Regionais:
Carina Chaubet D’Alcante (SP)
Alagoas: Katiúscia Karine Martins da
Silva
Gabriel Coutinho (RH)
Deborah Azambuja (SP)
Secretária Geral:
Bahia: Tuti Cabuçu
Jessica Fernanda (RO)
Camila Santos Batista (SP)
Ceará: Silviane Pinheiro de Andrade
Jonas Jardim de Paula (MG)
Tesoureira Geral:
Centro Oeste: Leonardo Caixeta
Juliana Burges Sbicigo (RS)
Eliane Fazion dos Santos (SP)
Minas Gerais: Jonas Jardim de Paula
Maicon Albuquerque (MG)
Paraná: Amer Cavalheiro Handan
Marcus Vinicius Costa Alves (SP)
Pernambuco: Lara Sá Leitão
Ricardo Franco de
Lima (SP)
Tesoureira:
Conselho Deliberativo:
Daniel Fuentes (SP-USP)
Jerusa Fumagalli
UFRGS)
de
Paulo Mattos (RJ-UFRJ)
Salles
(RS-
Rio de Janeiro: Flávia Miele
Rio Grande do Norte: Katie Almondes
Rio Grande do Sul: Rochele Paz Fonseca
Giuliano Ginani (York-UK)
Sabrina Magalhães
(PR)
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Tel: 0xx(11) 3031-8294
Fax: 0xx(11) 3031-8294
Email: [email protected]
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