Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 O CONHECIMENTO DE ADOLESCENTES ACERCA DOS FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO The Knowledge of Adolescents About the Risk Factors and Prevention of Cervical Cancer Samuel Oliveira da VERA1 Gilson Nunes de SOUSA2 Marcelo Victor Freitas NASCIMENTO3 Janaira da Silva LIRA4 Tamires dos Santos GOMES5 Keila Rodrigues de ALBUQUERQUE6 RESUMO O presente estudo teve como objetivo descrever e analisar o conhecimento de adolescentes acerca dos fatores de risco e prevenção do câncer do colo de útero. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa do tipo exploratório-descritivo que foi desenvolvido na Unidade Básica de Saúde de Todos os Santos, localizada na região sudeste do município de Teresina/Piauí com adolescentes na faixa etária de 14 a 19 anos que compareceram a UBS em busca dos serviços disponibilizados pela instituição. Foi utilizada uma entrevista semiestruturada, que consiste em perguntas fechadas e abertas, gravadas em um aparelho MP4 player e transcrita de acordo com as falas dos sujeitos da pesquisa. A amostra do estudo foi definida através da saturação dos dados coletados que foram divididos em três categorias: Déficit no conhecimento sobre os fatores de risco para o câncer de colo uterino, Uso dos métodos de barreira de contracepção como medida de prevenção do câncer de colo de útero e Consulta com o profissional da saúde e exame citológico do colo de útero como medida preventiva ao câncer de colo. A partir deste estudo constatou-se que em relação às medidas de prevenção do câncer de colo de útero, as adolescentes demonstraram ter conhecimento no saber sobre os métodos de prevenção desta neoplasia uterina, porém quanto aos fatores de risco podemos detectar uma deficiência no saber dessas adolescentes. Palavras-chave: Neoplasias do Colo do Útero. Adolescente. Fatores de risco. Prevenção de Câncer de Colo Uterino. 1 Acadêmico de enfermagem pela Associação de Ensino Superior do Piauí. Teresina. Piauí. Brasil. Email: [email protected] 2 Acadêmico de enfermagem pela Associação de Ensino Superior do Piauí. Teresina. Piauí. Brasil. Email: [email protected] 3 Acadêmico de enfermagem pela Associação de Ensino Superior do Piauí. Teresina. Piauí. Brasil. Email: [email protected] 4 Enfermeira graduada pelo Curso de Enfermagem da Associação de Ensino Superior do Piauí. E-mail: [email protected] 5 Enfermeira graduada pelo Curso de Enfermagem da Associação de Ensino Superior do Piauí. Email:[email protected] 6 Mestranda em Enfermagem. Professora do Curso de Graduação da Associação de Ensino Superior do Piauí. Email: [email protected] Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 113 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 ABSTRACT The objective of this study was to describe and analyze the knowledge of adolescents about risk factors and prevention of cervical cancer. It is a qualitative study of exploratory descriptive that was developed at the Basic Health Unit of Todos os Santos located in the southeastern region of the municipality of Teresina/Piauí with adolescents in the age group of 14 to 19 years who attended the UBS in search of services provided by the institution. It was used a semi-structured interview, which consists of open and closed questions, recorded in a MP4 player and transcribed in accordance with the speech of the subjects of the research. The study sample was defined through the saturation of the data collected and were divided into three categories: a Deficit in knowledge about the risk factors for cancer of the uterine cervix, Use of the methods of barrier contraception as a measure for the prevention of cervical cancer and consultation with the health professional and cytological examination of the cervix of the uterus for have knowledge about the methods of prevention this uterine neoplasm, but in terms of risk factors we can detect a deficiency in knowledge of these adolescents as a result. Keywords: Uterine Cervical Neoplasms. Adolescent. Risk Factors. Cervix Neoplasms Prevention. INTRODUÇÃO As neoplasias são a terceira maior causa de morte no Brasil, atrás apenas das doenças do aparelho circulatório e das causas externas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2012, ocorreram 14,1 milhões de casos novos e, aproximadamente, 8,2 milhões de mortes por câncer no mundo. Assim, o câncer, em suas diferentes formas, representa um grande problema de saúde pública, merecendo a atenção das autoridades de saúde, governantes, políticos, profissionais e da população em geral. Desta forma, a prevenção da doença e o diagnóstico precoce, que permita evitar o máximo de óbitos, com o mínimo de efeitos adversos, representam os alvos do investimento realizado na luta contra o câncer (BRASIL, 2014). Se tratando de canceres que atingem a população feminina, o Câncer de colo do Útero (CCU), também conhecido como cervical, está entre as neoplasias que mais acomete as mulheres, apenas superado pelo câncer de pele não melanoma e da mama. São inúmeros os fatores de risco que podem predispor o desenvolvimento desta neoplasia em mulheres, dentre eles: o início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, uso de contraceptivos orais, baixas condições socioeconômicas, baixa imunidade, más condições de higiene e o uso irregular de preservativo (BRASIL, 2007). As adolescentes constituem uma população de alta vulnerabilidade para este agravo na medida em que o início precoce da vida sexual e multiplicidade de parceiros as aproximam de problemas de saúde da esfera reprodutiva e sexual. Cirino, Nichiata e Borges, 2010 revelam que o contágio pelo HPV (papiloma vírus humano), principal agente oncogênico do câncer de colo uterino, ocorre no início da vida sexual na adolescência ou por volta dos 20 anos. Considerando essa realidade e as altas taxas de incidência do CCU na população feminina, o Ministério da Saúde tornou a partir de março de 2014, as vacinas contra o HPV como parte do calendário nacional de vacinação, sendo inicialmente disponibilizadas para meninas entre 11 e 13 anos. Uma dessas vacinas é quadrivalente, ou seja, previne contra quatro tipos de HPV: o 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer, e o 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. A outra é bivalente, sendo específica para os subtipos de HPV 16 e 18 (ARAÚJO et al., 2013). Para a detecção precoce do HPV, o método mais utilizado é o exame citopatológico ou também conhecido como Papanicolau, sendo que as unidades básicas de saúde (UBS), são o meio pelo qual a população tem maior acesso às informações sobre o rastreamento. Além disso, as equipes de saúde têm maior facilidade para a identificação de mulheres na faixa etária elegível para Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 114 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 o programa e as com maior risco de desenvolvimento do evento, além da convocação das mulheres para a realização dos exames periódicos e da busca das faltosas (VALE et al., 2010). Diante deste cenário, este estudo teve como objetivo identificar o conhecimento, atitude e prática na prevenção do câncer de colo uterino e infecção pelo HPV na população adolescente e avaliar as situações que as tornam vulneráveis. Para a realização deste estudo foi delimitada como questão norteadora: Qual o conhecimento das adolescentes acerca dos fatores de risco e prevenção do Câncer do Colo de Útero? A justificativa pelo referido tema despertou-se através da vivência em contato com grupos de adolescentes durante a disciplina estágio curricular, quando foi possível perceber que as adolescentes mostravam pouco conhecimento sobre o CCU, a importância da vacina HPV, assim como desconheciam o verdadeiro significado do que seria o HPV, surgindo então o interesse acadêmico de esclarecer a relevância para o público adolescente feminino sobre os fatores predisponentes de medidas de prevenção ao CCU, e assim incentivar e direcionar ações de promoção à saúde destinada ao público adolescente, de forma a contribuir com a prevenção do CCU. METODOLOGIA Foi realizado um estudo de caráter exploratório-descritivo de natureza qualitativa. Segundo Gil (2008), este tipo de abordagem perfaz características de uma população ou variáveis, com o objetivo de expô-las. Visam fazer um levantamento de opiniões, atitudes e preocupação com a atuação prática do grupo em questão. A abordagem qualitativa, por sua vez, aplica-se a estudo histórico, das sensações, relações, crenças, percepções, opiniões e valores de um determinado grupo. Busca compreender as percepções e pensamentos dos atores a partir da análise de seus discursos (MINAYO, 2008). A pesquisa foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Todos os Santos, localizada na região sudeste do município de Teresina, Piauí, onde atuam quatro equipes da estratégia saúde da família, que tem como responsabilidade assistir às necessidades de saúde da população das respectivas áreas de abrangência, que compreendem aproximadamente 1000 famílias por equipe. Neste estudo foram entrevistadas 20 adolescentes do sexo feminino que estavam na faixa etária de 14 a 19 anos, destas, quatro com a idade de 14 anos, três com a idade de 15 anos, oito com a idade de 18 anos e cinco com a idade de 19 anos que compareceram a UBS em busca dos serviços disponibilizados pela instituição e cujos pais ou responsáveis concordaram com a participação no estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para preservar o anonimato dos sujeitos, atribuiu-se a cada um deles nomes fictícios de flores. A finalização da participação dos sujeitos deste estudo ocorreu quando os pesquisadores identificaram a saturação das respostas, método pelo qual a pesquisa é encerrada a partir do momento em que houve reincidência de informações (FONTANELLA, 2011). A coleta de dados foi realizada no mês de outubro de 2014 por meio da técnica de entrevista semiestruturada que se utilizou de um roteiro elaborado pelas autoras do trabalho. Segundo Minayo (2010) a entrevista semiestruturada consiste em perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão compreendendo à indagação formulada. As entrevistas foram realizadas em ambiente privativo definido pelos enfermeiros e administrador da UBS. O questionário aplicado dividiu-se em duas partes: a primeira apresentava perguntas que objetivavam descrever as características sociodemográficas e econômicas das adolescentes e a segunda, avaliava o conhecimento sobre o câncer de colo e infecção pelo HPV e apresentava questões que buscavam identificar os fatores que dificultavam ou facilitavam a Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 115 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 realização do Papanicolau. Durante a aplicação do roteiro de entrevista, as falas foram gravadas através de um aparelho MP4 player. Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas na íntegra e depois analisadas conforme a técnica de análise do conteúdo, dividida em três pólos cronológicos, que são definidas por Minayo (2010, p. 91) como: “Pré-análise; Exploração do material e Tratamento dos resultados/Inferência/Interpretação”. A pesquisa atendeu às exigências éticas e científicas fundamentais das pesquisas envolvendo seres humanos, definidas na Resolução nº 466, de 12 de Dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde, tendo sido autorizada pela Comissão Científica da Fundação Municipal de Saúde de Teresina, Piauí, e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista (UNIP), autorizado conforme CAAE 36523814.3.0000.5512. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação à ocupação das participantes, grande parte referiu ser estudante, especificamente, 16 depoentes e apenas quatro referiu trabalhar. Quanto ao estado civil, 16 pessoas relataram serem solteiras e quatro casadas. A partir da análise da coleta de dados foi possível construir as seguintes categorias: O déficit no conhecimento sobre fatores de risco para o câncer de colo uterino; Uso dos métodos de barreira de contracepção como medida preventiva do câncer de colo de útero; Consulta com o profissional da saúde e exame citológico do colo de útero como medida preventiva ao câncer de colo. Déficit no conhecimento sobre fatores de risco para o câncer de colo uterino O desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais favoráveis à saúde em todas as etapas da vida encontra-se entre os campos de ação da promoção da saúde. Para tanto, é imprescindível a divulgação de informações sobre a educação para a saúde, o que deve ocorrer nos diferentes tipos de ambientes, dentre eles: o lar, a escola, o trabalho e muitos outros espaços coletivos (BIM et al, 2010). É necessário encorajar a população feminina a determinar suas próprias metas de saúde e comportamentos, a aprender sobre saúde e doenças, com estratégias de intervenção e de apoio, com aconselhamentos e supervisão contínua. As áreas de interesse especial na promoção de saúde da mulher incluem a higiene pessoal, estratégias para detectar e prevenir doenças, em particular as DSTs, tais como infecção pelo vírus HIV, e aspectos relacionados à sexualidade e ao funcionamento sexual, como contracepção, menopausa, entre outros (CAMARGO; FERRARI, 2009). Na adolescência, a gravidez e as DSTs são fatos constatados e que reforçam a hipótese de que a repressão, a desinformação, o medo, o silêncio e outros sentimentos negativos parecem limitar as escolhas dos jovens ante a vida sexual e reprodutiva, criando situações de difícil atuação para pais e profissionais que com eles lidam (BIM et al, 2010). Costa et al. (2001) afirma em seu estudo que a educação sexual deve começar o mais rápido possível, sendo uma decisão consciente e de responsabilidade não só dos pais, mas construída ao longo da vida. Considerando essa linha de pensamento, esse processo educativo deve propiciar que no fim da adolescência, o indivíduo tenha apreendido elementos básicos de sua identidade sexual, em um processo intimamente vinculado à socialização e construção de sua identidade total. Neste estudo percebeu-se que há entrevistadas que demonstram não ter conhecimento sobre os fatores de risco que podem levar ao câncer de colo de útero, conforme evidencia-se nas falas a seguir: Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 116 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 [...] Não conheço, eu vi só falando na televisão mesmo [...] falando sobre o câncer [...] sobre o útero [...] (Hortência). [...]Não conheço a doença, assim não, detalhes [...] mais não sei não [...] (Orquídea). Fica evidente nas falas a seguir, que as depoentes não sabem fazer o autoexame das mamas, observa-se ainda que existe uma certa confusão quanto a diferenciação entre o câncer de colo de útero e o câncer de mama. Os relatam abaixo confirmam isso: [...]É o autoexame[...]da mama[...]Então não sei[...] (Margarida). [...]Eu sei mais ou menos, o câncer de útero pega? [...]o que é causando pelo o que? [...] Eu não sei [...] (Dália). [...]O câncer de mama é o mesmo câncer de colo?[...] (Orquídea). Identificou-se nesta categoria que existe uma deficiência no saber de uma parte das depoentes entrevistadas sobre os fatores que podem levar a esta patologia. Diante disso, detectouse que é importante que se tenha estratégias mais adequadas a cada realidade, o que consequentemente venha a favorecer informações para esse público, no que se diz respeito à prevenção do câncer do colo de útero. É importante também ressaltar que a equipe multidisciplinar da atenção básica de saúde avance na melhoria de saúde no processo educativo as adolescentes. Uso dos métodos de barreira de contracepção como medida de prevenção do câncer de colo de útero. Com a implantação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), em 1984, criou-se uma política de saúde que visava atender à saúde básica da mulher. Segundo o MS, o PAISM tem como um dos objetivos implantar ou ampliar as atividades de diagnóstico precoce do câncer cervical, bem como promover ações educativas na prevenção dessa doença e de outras, como o câncer de mama, prestando uma assistência para a saúde da mulher além dos limites gravídicopuerperais (BRASIL, 2006) A prevenção primária do CCU está relacionada à diminuição do risco de contágio pelo HPV. A transmissão da infecção pelo HPV ocorre por via sexual, presumidamente através de abrasões microscópicas na mucosa ou na pele da região anogenital. Consequentemente, o uso de preservativos durante a relação sexual com penetração protege parcialmente do contágio pelo HPV, que também pode ocorrer através do contato com a pele da vulva, região perineal, perianal e bolsa escrotal (MONTEIRO, 2004). Neste estudo percebeu-se que algumas das entrevistadas mostraram ter conhecimento sobre a importância do uso do preservativo, conforme relata as falas a seguir: [...] Fazer relação sexual com camisinha, fazer o exame de prevenção, ir ao ginecologista [...](Hortência). [...] Não fazer sexo sem se prevenir né? Ir ao médico [...](Orquídea) [...]Usar o preservativo, ir fazer o exame [...] (Margarida). [...]Eu acho que é usar preservativos, fazer consultas [...](Dália). Diante das falas ficou evidente que as adolescentes têm conhecimento dos métodos contraceptivos como medida de prevenção do CCU, mas ainda é necessário esclarecer estratégias de promoção à saúde destas, tais como higiene intima satisfatória e o não compartilhamento de objetos de uso pessoal com outras pessoas. Para tanto, é imprescindível a divulgação de ações educativas Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 117 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 voltadas para a saúde da mulher, tais como palestras, campanhas educativas e a criação de redes de apoio, com o maior incentivo para as adolescentes. Consulta com o profissional da saúde e exame citológico do colo de útero como medida preventiva ao câncer de colo Diante do público questionado acerca da consulta e do exame citológico, contatou-se que as depoentes entrevistadas tiveram entendimento sobre as necessidades de fazer acompanhamento através de consultas e a realização do exame citológico, para que possam precocemente detectar o câncer de colo uterino. Araújo et al. (2010) revela que apesar do exame Papanicolau ser um exame simples e de fácil acesso, muitas mulheres ainda se negam submeter-se a ele por diversos fatores e várias causas, dentre elas a falta de informação quanto à sua importância, constituindo um desafio para os serviços de saúde. Portanto, é necessário promover a educação do público feminino e cabe aos profissionais de saúde dialogar, informar e conscientizar sobre a importância da realização do exame. É imprescindível que a população feminina conheça os métodos e que pratique os cuidados rotineiros, afastando-se dos fatores de risco e realizando o exame periodicamente. O Papanicolau pode ser realizado gratuitamente nos postos de saúde, entre outros serviços, e deve ser realizado por toda mulher que já teve relação sexual, mas, grande parte da população feminina ainda desconhece o exame e sua importância, ou ainda teme o exame por motivos de constrangimento, desconforto e relatos de dor, dificultando, assim, diagnósticos precoces (CRUZ; JARDIM, 2013). Podemos notar nas falas das entrevistadas, que elas conhecem a importância de uma consulta e a realização do exame de prevenção. Os depoimentos a seguir confirmam isso: [...]Ir ao ginecologista, fazer exame de prevenção[...] a enfermeira disse que tenho que fazer em 6 em 6 meses[...] (Hortência). [...] Não [...] nunca me aprofundei sobre essa doença [...](Orquídea). [...]Ter cuidado com a higiene pessoal da gente [...] e vim no médico sempre [...] ginecologista a cada 6 meses, pelo menos 1 vez ao ano tem que vim[...](Margarida). [...]se não se cuidar pode levar a morte (Dália). Foi criada recentemente outra forma de prevenção desta neoplasia de útero, a vacina HPV com o objetivo de prevenir a infecção pelo vírus papiloma humano e com finalidade de diminuir o número de clientes que venham a desenvolver tal patologia. Apesar da minoria das depoentes entrevistadas relatarem conhecer esta vacina, percebeu-se que existe uma carência no conhecimento do objetivo e finalidade da mesma. As falas das depoentes a seguir confirmam isso: [...]Se prevenir, tomar vacina que passa na televisão, que disse que é do câncer de útero, mas não tomei [...](Amarílis). [...]Tomar vacinas, ir ao médico, [...] tomar remédios, fazer o exame de prevenção, [...]a enfermeira do posto disse que tenho que fazer por que eu sempre tenho dores no pé da barriga, ai vim hoje para Fazer[...](Jasmim). Por meio das adolescentes entrevistadas percebeu-se que é de extrema relevância que os servidores em especial os profissionais de saúde promovam estratégias de saúde que facilite o acesso destas adolescentes a procurarem a Unidade Básica de Saúde para a realização de consultas e consequentemente o exame de prevenção. Vivências. Vol. 11, N.21: p.113-120, Outubro/2015 118 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 CONSIDERAÇOES FINAIS De acordo com os resultados obtidos nesse estudo, observou-se que em relação às medidas de prevenção do CCU, a maioria das depoentes entrevistadas demonstrou ter conhecimento sobre os métodos de prevenção dessa neoplasia uterina, sendo os mais citados o uso de preservativos e a realização do exame citológico. Apesar das iniciativas em termos de políticas de saúde voltadas à saúde da mulher, como as campanhas de conscientização e divulgação para realização do Papanicolau, com acesso facilitado e gratuito, considera-se que este é um grupo altamente vulnerável às DSTs e ao câncer de colo de útero. São necessários investimentos no desenvolvimento de práticas de promoção à saúde para modificar este quadro. Nesse sentido, é preciso que seja revista a educação sexual nas instituições de ensino para que essas ofereçam suporte educacional em saúde para estas adolescentes. Também é preciso associar às campanhas de coleta de Papanicolau às atividades educativas com o enfoque adequado a cada faixa etária, e com uma linguagem direita e apropriada, quebrando mitos e desmistificando tabus. É preditivo que se invista também em novas pesquisas sobre a sexualidade e saúde reprodutiva desta população, analisando as influências sociais, econômicas e culturais e, principalmente, as questões de gênero que perpassam todas elas. Vale salientar que, houve como limitações deste estudo, a sua realização em apenas uma única UBS, não permitindo generalizações dos dados, o que instiga a aprofundar estudos na área, buscando analisá-los sob outras óticas. Entretanto, a pesquisa atingiu o objetivo proposto, servindo de alerta para reflexão dos atores envolvidos e aprimoramento do ensino acerca dos fatores de risco e prevenção do câncer de colo de útero. REFERÊNCIAS ARAUJO, C.S et al. Exame preventivo de Papanicolau: percepção das acadêmicas de enfermagem de um centro universitário do interior de Goiás v. 15, n.3, p. 2010. Disponível em: <http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/48>. Acesso em: 20 nov. 2014 ARAUJO, S. C. F. de et al. 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