“Campo artístico” e a emergência do papel de artista em Florença no século XV Arthur Custódio Pecini (Ciências Sociais/UFF) Orientador: Prof. Dr. Luciano Vinhosa Simão (PPGCA/UFF) Instituição Financiadora: FAPERJ Apresentação Metodologia Esta pesquisa surgiu da interseção de duas áreas de estudos, a Sociologia da Arte e a História da Arte. Tendo como campo de estudos, o mundo artístico renascentista, tema privilegiado pela História da Arte, propusemos um análise sociológica da cidade de Florença no século XV, pois se trata de um espaço privilegiado de produção artística, reconhecido como berço de artistas consagrados, como Da Vinci, Brunelleschi e Ghiberti. Embora algumas análises atuais tomem como base os tratados e estudos produzidos neste período, os artistas são qualificados em termos contemporâneos, como indivíduos com “talento nato”, que expressam em suas obras a inspiração divina. (WALKER 2005; HELLER 1982). Tais construtos indicam a ênfase que estudos dão aos artistas e suas obras, deixando de observar as relações sociais necessárias para a criação dos artefatos. A metodologia baseou-se na leitura de estudos historiográficos sobre o período delimitado, buscando perceber a dinâmica da produção, a divisão de trabalho e o consumo dos artefatos. Uma leitura prévia de estudos sociológicos que tomam a arte como objeto de estudos de diferentes perspectivas (BOURDIEU 2001; GEERTZ 1999; BECKER 1977) possibilitou uma avaliação crítica dos conteúdos. Objetivos A pesquisa traz uma reflexão acerca da emergência do estatuto de artista e gênese social de um “campo” (BOURDIEU 2001) artístico profissional relativamente autônomo. Procurou-se colocar em cena os principais agentes institucionais que, naquela sociedade, estavam implicados diretamente na promoção das artes, buscando compreender de forma contextual a organização social da produção artística. Propusemos refletir sobre a “divisão do trabalho” artístico (BECKER 1997: 207) e os agentes que participam da produção e do consumo das obras. Como são criadas as “convenções” artísticas que operam na legitimação de critérios de julgamento da qualidade artística dos artefatos neste período? Segundo Baxandall (1991), os estilos pictórico e cognitivo dos artistas e do público são socialmente definidos a partir da vida cotidiana destes atores sociais. Buscamos compreender as posições relativas dos produtores de arte e em que medida participavam de um “campo artístico”, condição necessária para a legitimação de alguns agentes enquanto “artistas” em oposição a outros, com menos status e reconhecimento social. Resultados A análise da configuração social do mundo artístico florentino possibilitou localizar os agentes envolvidos na produção social artística bem como de seu consumo e valoração. Dentre os agentes envolvidos na produção, estão os produtores das obras (artistas, mestres-artesãos, assistentes e aprendizes), os consumidores (comerciantes, nobres e membros de ordens religiosas, e o público em geral) e os estudiosos das artes e os próprios artistas daquele período. Se à primeira vista, não se percebe diferentes papéis na produção artística, uma análise dos agentes que operam o campo possibilitou localizá-los de acordo com sua posição no campo. Percebemos que uma série de critérios artísticos (como a “habilidade” de um artista específico e os materiais utilizados nas obras) estavam envolvidos na qualificação de um artefato em obra artística. Uma análise minuciosa dos estudos produzidos por artistas neste período, como Da Vinci (1480-1518), Alberti (1452) e Ghiberti (1447) e tratados sobre pintura de historiadores e teóricos das artes, como Manetti (1480), Vasari (1550), indica que emergia um novo personagem, especialista nas “ciências humanistas” - matemática, história, filosofia, anatomia etc. O desenvolvimento da “perspectiva”, técnica pictórica que marcou o período, pode ser explicado a partir do empreendimento de artistas em busca de novas práticas de representação pictórica. Referências Bibliográficas ALBERTI, L.B., Da Pintura, Campinas: Unicamp, 1988. BAXANDALL, M. O Olhar Renascente. Pintura e experiência social na Itália da Renascença. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. BECKER, H. S. Uma teoria da ação coletiva. Rio de Janeiro: Zahar. 1997. BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. DA VINCI, L. Os Escritos de Leonardo da Vinci sobre a Arte da Pintura. Brasília: Editora UnB, 2000. GEERTZ, C. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Editora Vozes. 1999. GHIBERTI, Lorenzo. “Primeiro Comentário”. Cadernos de Tradução. São Paulo: Departamento de Filosofia da USP, 2000. WALKER, P. R. A Disputa que mudou a Renascença. Rio de Janeiro: Record, 2005.