Variabilidade genética de características morfológicas da palma forrageira¹ Vanda Lúcia Arcanjo Pereira2*, Djalma Cordeiro dos Santos2, Maria da Conceição Silva2, Francisco Abel Lemos Alves3, Fernando Lucas Torres de Mesquita4, Antônio Félix da Costa3 e Luciana Moura da Rocha5 1 Trabalho financiado pelo IPA. Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Estação Experimental de Arcoverde, s/n, BR-232, km 253, Zona Rural, CEP:56.500-000. Arcoverde-PE. [email protected] 3 Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Av. General San Martin, 1371, Bongi, CEP: 50.761-000. Recife-PE. 4 Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Estação Experimental de Sertânia/PE, Fazenda Cachoeira, s/n, Zona Rural, CEP: 56.600-000. 5 Zootecnista com especialidade em gestão e controle ambiental. *Autor apresentador. 2 Resumo: O trabalho objetivou avaliar a diversidade genética de características morfológicas da palma forrageira em Sertânia/PE. Foram avaliados 72 genótipos de palma. As características observadas foram: sobrevivência, desejabilidade, infestação de Dactylopius opuntiae e incidência de doenças. O método de agrupamento de Tocher e UPGMA permitiram a formação de cinco grupos. A desejabilidade e a infestação por D. opuntiae foram os que mais contribuíram para a divergência genética. Palavras-chave: banco de germoplasma, cactaceae, cochonilha do carmim, semiárido Genetic variability of characteristics morphological of cactus pear Abstract: The work aimed to evaluate the genetic diversity of characteristics morphological of the cactus pear in Sertânia/PE. Were evaluated 72 cactus pear genotypes. The characteristics observed were: survival, desirability, infestation of Dactylopius opuntiae and incidence of disease. The grouping method of Tocher and UPGMA allowed the formation of five groups. The desirability and infestation per D. opuntiae were the ones that contributed most to the genetic divergence. Keywords: cactaceae, cochineal carmine, germplasm bank, semiarid Introdução A palma forrageira tem contribuído para o desenvolvimento socioeconômico do Semiárido brasileiro, por ser uma cultura adaptada às condições climáticas da região. Por ser uma cactácea, apresenta inúmeras características anatômicas e morfofisiológicas de adaptação às condições ecológicas de ambientes secos, tornando-se uma das principais plantas forrageiras utilizada na alimentação de ruminantes, sejam eles caprinos, ovinos ou bovinos no Semiárido Nordestino (OLIVEIRA et al., 2010). No Brasil, segundo Dubeux-Júnior et al. (2013), estima-se que há, atualmente, aproximadamente 600.000 ha cultivados com cultivares de palma, mas, apesar dos recentes esforços governamentais para diversificar o uso da cultura, a maioria das áreas plantadas ainda é dedicada à produção de forragem. A análise das respostas das plantas a diversos ambientes e/ou localidades são importantes para selecionarmos plantas mais resistentes, com potencial para cultivos em áreas marginalizadas. Até mesmo para utilização desses genótipos ou variedades em programas de melhoramento genético, o IPA vem desenvolvendo pesquisas com a palma desde 1958, os estudos se concentram no comportamento das espécies em diferentes espaçamentos, níveis de adubação mineral e orgânica, manejo de colheita, tratos culturais e uso de herbicidas, valor nutritivo e utilização, bem como na seleção e melhoramento genético de cultivares. Nesse contexto, o trabalho objetivou avaliar a diversidade genética de características morfológicas da palma forrageira no semiárido Brasileiro. Material e Métodos A pesquisa foi realizada na Estação Experimental de Sertânia, pertencente ao Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA, na latitude 08°04’25” sul e longitude 37°15’52” oeste, na microrregião do Moxotó a 600 m acima do nível do mar, em ecossistema de caatinga, com clima semiárido quente, temperatura anual média de 25 °C, tendo de março a junho como os meses mais chuvosos. As observações foram realizadas em Fevereiro/2014, em 72 acessos de palma forrageira dos gêneros Opuntia e Nopalea do Banco de Germoplasma do IPA. O plantio foi realizado em Março de 2006, manualmente, utilizando um cladódio/cova e quatro plantas/genótipos, com espaçamento de 1,0 m entre linhas e 0,5 m entre plantas dentro da linha. Os cladódios foram obtidos de clones da coleção do IPA, onde alguns foram importados do México e da África, pelo IPA e pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido-CPATSA, além de variedades de palma cultivadas no estado de Pernambuco. O solo foi adubado 30 dias após o plantio com 20 t/ha de esterco de ovinos, distribuídos entre as linhas. Periodicamente foram realizados tratos culturais. As características avaliadas foram: sobrevivência, desejabilidade (aspecto geral do genótipo, que inclui brotação, produtividade e aspecto fitossanitário), infestação por cochonilha do carmim (D. opuntiae) e incidência de doenças. A sobrevivência foi obtida por meio do quociente entre número de plantas vivas no momento observado e número de plantas implantadas, expresso em percentagem. Utilizou-se para desejabilidade, nota 1 (alta), nota 2 (média), nota 3 (Baixa). Considerou-se para infestação por cochonilha do carmim e incidência de doenças, nota 0 (ausência), nota 1 (baixa), nota 2 (média), nota 3 (alta) e nota 4 (altíssima). A Variabilidade genética foi estimada utilizando a medida de dissimilaridade expressa pela distância Euclidiana. Realizou-se o agrupamento pelo método hierárquico UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean) e método de Otimização de Tocher (CRUZ et al., 2012). A importância relativa dos caracteres em relação à diversidade genética foi estudada segundo Singh (1981) (CRUZ et al., 2012). As análises dos dados foram realizadas com o auxílio do programa estatístico GENES®- Aplicativo Computacional em Genética e Estatística (CRUZ, 2001). Resultados e Discussão A análise de agrupamento gerado pelo método de Tocher reuniram os acessos de palma forrageira dos gêneros Opuntia e Nopalea em cinco grupos (dados não mostrados). Sendo o grupo I (3, 15, 6, 13, 31, 54, 89, 108, 9, 14, 62, 92, 93, 27, 33, 38, 40, 64, 109, 111, 119, 126, 76, 12, 19, 24, 28, 30, 39, 53, 59, 20, 41, 51, 5, 26, 58, 95, 86, 123, 32, 94 e 124), grupo II (11, 16, 42, 43, 44, 46, 47, 50, 81, 83, 87, 118, 122, 48, 78, 80, 107, 117, 52, 110 e 91), grupo III (213, 331, 352, 371 e 406), grupo IV (255 e 358) e grupo V (35). De acordo com o dendrograma obtido pelo método de agrupamento hierárquico UPGMA, os acessos de palma foram reunidos em cinco grupos, considerando-se o corte de 50% da distância genética relativa, conforme o critério mencionado por Cruz et al. (2012) (Figura 1). Essa distribuição foi similar ao obtido pelo método de Tocher. No entanto, os acessos 3 e 15 que estavam agrupados no grupo III foram agrupados no grupo I. Pelo método de Singh (1981) citado por Cruz et al. (2012) foi possível verificar que a desejabilidade foi a característica que mais contribuiu para a divergência genética entre os acessos de palma, contribuindo com 55,09%, seguida por infestação por (D. opuntiae) (21,10%), sobrevivência (14,77%) e incidência de doenças (9,04%) (Tabela 1). Os resultados evidenciam variabilidade genética entre os acessos. Essa diversidade era esperada, pois os genótipos existentes são constituídos de espécies de dois gêneros. A formação de grupos de palma fornece informações relevantes para a conservação de material genético como fonte para programas de melhoramento. Os cruzamentos entre genótipos de grupos distintos fornecem linhagens superiores para o melhoramento de características de interesse, Silva et al. (2011). Conclusões Existe variabilidade genética entre os acessos de palma forrageira avaliados. Os caracteres desejabilidade e a infestação por D. opuntiae foram os que mais contribuíram para a divergência genética. Referências DUBEUX-JÚNIOR, J.C.B.; SANTOS, M.V.F. dos.; CAVALCANTE, M.; SANTOS, D.C. dos. Potential of cactus pear in South America. Cactusnet Newsletter, v.13, ed. esp., p.29-40, 2013. CRUZ, C.D. Programa GENES: Aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: UFV, 2001. 648p. CRUZ, C.D.; REGAZZI, A.J.; CARNEIRO, P.C.S. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. 4. Ed. Viçosa: UFV, 2012. 514p. OLIVEIRA, F.T.; SOUTO, J.S.; SILVA, R.P.; ANDRADE-FILHO, F.C.; PEREIRA-JÚNIOR, E.B. Palma forrageira: adaptação e importância para os ecossistemas áridos e semiáridos. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.5, n.4, p.27-37, 2010. SILVA, J.A.G. da.; SCHWERTNER, D.V.; CARBONERA, R.; KRUGUER, C.A.M.B.; CRESTANI, M.; GAVIRAGHI, F.; SCHIAVO, J.; ARENHARDT, E.G. Distância genética em genótipos de girassol. Revista Brasileira de Agrociência, v.17, n.3-4, p.326-337, 2011. Grupo IV Grupo I Grupo II Grupo III Grupo V Figura 1. Dendrograma representativo do agrupamento pelo método UPGMA dos acessos de palma forrageira cultivadas na região semiárida em Sertânia/PE Tabela 1. Contribuição relativa de características morfológicas da palma forrageira cultivadas na região semiárida em Sertânia/PE, por meio da metodologia de Singh (1981) (CRUZ et al., 2012) Características Sobrevivência Incidência de doenças Infestação por (D. opuntiae) Desejabilidade Contribuição relativa (%) 14,77 9,04 21,10 55,09