Queimaduras - Canal Unigranrio

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Queimaduras
Definição:
Toda e qualquer lesão tecidual decorrente da ação do calor,
substâncias corrosivas, irritantes e emanações radioativas.
Etiologia:
- Contato direto com chama, brasa ou fogo
- Vapores quentes
- Líquidos em ebulição ou aquecidos
- Sólidos aquecidos ou incandescentes
- Substâncias químicas - ácidos, soda cáustica, fenóis, nafta
- Emanações radioativas
- Radiações infravermelhas e ultravioletas
- Eletricidade - raios
Queimaduras
A queimadura resultante dependerá:
- da INTENSIDADE E DURAÇÃO DA APLICAÇÃO DO CALOR
- da CONDUTIVIDADE DOS TECIDOS ENVOLVIDOS QUE
VARIAM COM SUA DENSIDADE, CONTEÚDO AQUOSO E
OUTROS
O significado clínico dependerá:
- da PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA
- da PERCENTAGEM DA SUPERFÍCIE CORPORAL ATINGIDA
- da POSSÍVEL PRESENÇA DE LESÕES POR INALAÇÃO DE
VAPORES QUENTES OU TÓXICOS
- da RAPIDEZ E EFICÁCEA DA TERAPIA-CONTROLE
HIDROELETROLÍTICO
- da PREVENÇÃO E CONTROLE DAS INFECÇÕES
Classificação das Queimaduras
1º grau - superficial
Morfologia:Desvitalização de camadas superficiais da
epiderme, dilatação e congestão das vias intradérmicas.
AP Clínica: Eritema
Causa: Exposição ultra violeta (sol), infravermelho
Classificação das Queimaduras
2º grau - média espessura
Morfologia:Destruição de profundidade variável da
epiderme com necrose por coagulação. Destacamento da
pele com formação de bolhas. Congestão e coagulação no
plexo subdérmico. Alguns elementos permanecem viáveis
(apêndices dérmicos) e pode haver regeneração.
AP Clínica: Eritema, edema,dor e bolhas. As camadas
superficiais podem ser destacadas. Os elementos
remanescentes são branco-polidos, secos e insensíveis
Causa: Escaldaduras, curtas exposições
Classificação das Queimaduras
3º grau - espessura total
Morfologia:Destruição de todos os elementos da pele. Há
coagulação do plexo subdérmico.
AP Clínica: Seca, dura, inelástica com trombose venosa
visível, branca
Causa: Chama, imersão em líquidos, contato químico,
eletricidade.
Classificação das Queimaduras
4º grau - calcinação
Medidas Imediatas
1) AVALIAÇÃO DAS VIAS AÉREAS
- indicações de lesão inalatória aguda:
Queimaduras faciais
Chamuscagem de cílios e pêlos nasais
Depósitos de carbono e alterações inflamatórias no orofaringe
Escarro carbonado
Explosão
Confinamento em locais de incêndio ou confusão mental
2) PARAR O PROCESSO DA QUEIMADURA
3) ACESSO VENOSO
4) COLETA DE SANGUE PARA EXAMES,
GASOMETRIA
Avaliação do Queimado
1) Informações do acidente - lesões associadas
H.P.P. - uso de medicamentos
2) Avaliação da superfície corporal queimada regra dos nove
Fisiopatologia das Queimaduras
1) Tecido queimado
- Redução imediata e transitória no fluxo sangüíneo dos tecidos
afetados.
- Vasodilatação arteriolar no restante da microcirculação
permeável.
- Restauração do fluxo para os vasos lesados pelo calor com
formação de edema. Em pequenas feridas edema máximo em 812h. Feridas grandes pela hipovolemia em 18 a 24 horas.
- Perda plasmática pela deterioração microvascular com aumento
da permeabilidade tanto pela lesão térmica direta como pela
liberação de substâncias vasoativas dos tecidos primários.
- Aumento da permeabilidade do microvaso. O aumento da pressão
hidrostática na ressuscitação volêmica acarreta aumento das perdas
de líquidos e proteínas para o interstício.
Fisiopatologia das Queimaduras
2) Tecido não queimado
- Hipoproteinemia com edema
- Redução no gradiente da pressão oncótica entre plasma e
interstício
- Aumento da passagem de líquidos e espaço vascular para
o interstício por depressão da proteína intersticial
Fisiopatologia das Queimaduras
3) Membrana basal alterada
- Redução do potencial transmembrana, principalmente no
músculo
- Desvio do sódio extracelular e da água para a célula causando
tumefação celular pela redução ATPase, pela perda de volume e
isquemia tecidual
Complicações Locais da Injúria Térmica
Perda das funções
- Homeotérmica - meio ambiente
- Impermeabilidade - barreira a evaporação
- Perda de calor
- Perda da proteção contra microorganismos
Sepse por Queimadura
Em 48h - 10 milhões de bactéria por grama de tecido
superficial (estafilococos)
Após 5º dia - Predomíneo de gram(-) - 100 mil bactérias ou
mais por grama de tecido - pseudomonas
Quadro Clínico:
Raro antes do 3º dia ou após 14º
Deterioração local da ferida
Distensão abdominal, ileo
Desorientação, hipotensão e oligúria
Alterações na Defesa
- Aumento na taxa metabólica basal
- Desnutrição proteico-calórica
- Balanço nitrogenado negativo
- Aumento de catecolaminas, cortizol, glucagon
- Aumento da proteólise e lipólise para produção de glicose via
gliconeogênese
- Perda do trofismo da mucosa intestinal
- Modificação da flora intestinal pelo uso de antibióticos com
possibilidade de translocação bacteriana e endotoxinas para a circulação
sistêmica - quadro séptico
Alterações na Defesa
- Prejuízo da resposta imunológica
da marginalização de polimorfonucleares
da fagocitose
Diminuição
da função do SRE
de IgG, IgA e complemento (C3/C4)
da atividade opsônica
de linfócitos
Aumento
da sensibilidade à supressão pela
prostaglandina E2
Alterações Sistêmicas
1) Cardiovasculares
- alterações arteriolares transitórias
- perda de hemácias pela hemólise ou pelo calor
- aumento da permeabilidade capilar, com perda de proteína para o espaço
extracelular. Metade pela ferida e metade sequestrada no espaço extracelular
- inversão da relação albumina-globulina
- perda de eletrólitos do compartimento vascular
- diminuição
do DC
do volume circulante
- aumento
do pulso
da RVP
- depressão miocárdica
Alterações Sistêmicas
2) Renal
- Aumento da permeabilidade glomerular - proteinúria
- Necrose Tubular Aguda
- Mioglobinúria - insuficiência renal
3) Gastrointestinal
- Íleo paralítico
- Vômito em borra de café
- Hematemese rutilante e Melena maciça - úlcera de Curling
Alterações Sistêmicas
4) Pulmonar ( 20 a 84% dos óbitos)
- Aumento da ventilação -min
- Aumento da resistência respiratória
- Aumento do consumo de O2 e diminuição de pO2
- Diminuição da complascência em queimaduras circulares
- Edema, inflamação de vias aéreas, necrose mucosa, chamusqueamento,
alteração das provas de função respiratória, rouquidão e obstrução de VAS
Lesão Pulmonar nos Queimados
Critérios para lesão por inalação:
- Broncoscopia positiva
- Necessidade de apoio ventilatório
Lesão Pulmonar nos Queimados
Diagnóstico
- Achados de queimaduras faciais, de pêlos nasais, broncorréia,
escarro fuliginoso, sibililos e estertoração associados a
antecedentes de exposição a fumaça em ambientes fechados,
especialmente torporosos ou inconscientes.
- A maioria dos pacientes apresenta sintomas 24-48h após
- A intoxicação por CO é a causa de morte mais imediata por
incêndio
- Broncoscopia para avaliar VAS
- Mapeamento por Xe133 para VAI
- Raio X de pouca valia até surgir edema
Evolução Clínica
1° Estágio) Insuficiência Respiratória Aguda
- característica das 1ªs 36h:
consumo de O2 aumentado - asfixia
exposição ao CO - 210 vezes mais afinidade pela Hb que O2
efeito irritante dos produtos da combustão
atelectasia
edema laríngeo e VAS
- 12-36h após
Insuficiência respiratória não aliviada pela intubação é fatal
Evolução Clínica
2° Estágio) Edema pulmonar
- de 6 a 72h pós acidente (taxa de mortalidade = 60/70%)
3° Estágio) Broncopneumonia (mortalidade de 50 a 86%)
- formação de secreção na árvore traqueo brônquica de três a dez
dias após o acidente
- Infecção incial por estafilococos e a posteriori por pseudomonas
SEQUELAS: Bronquiectasias
Estenose subglótica pós intubação
Bronquiolite obliterante
Alterações Pulmonares em
Queimaduras Cutâneas
- Aumento do fluxo linfático
- Formação de edema
- Edema pulmonar com lesão térmica isolada é raro, manifesta-se
com alterações microvasculares que tornam o pulmão mais sensível
à sobrecarga líquida
- Lesões por inalação
Lesões por Inalação - Agentes
Causadores
- Ar aquecido: importância das trocas calóricas no orofaringe e
reflexos laringeos
- Vapor: possui capacidade térmica 4 mil vezes maior que o ar
- Fumaça: partículas revestidas por aldeídos, cetonas e ácidos
orgânicos irritantes
- Produtos tóxicos de materiais sintéticos: os óxidos de enxofre e
nitrogênio se combinam com a água no pulmão e produzem ácidos e
álcalis corrosivos
- Monóxido de carbono: Fixação da Hemoglobina e da Mioglobina
Lesões por Inalação - Aspecto das
Lesões
- Congestão
- Edema intersticial
- Necrose com descamação epitelial
- Formação de cilindros pseudomembranosos com obstrução de
VAS
- Infiltração de polimorfonucleares e quimiotaxia pelos
macrófagos
- Hemorragias intra-alveolares
- Atelectasia
- Pneumonia
Queimaduras na Cabeça
A cabeça por sua exposição, presença de orifícios e apêndices é
a parte mais freqüentemente queimada. Apesar das pálpebras e
lágrimas, o globo ocular pode sofrer lesões diretas por contato,
cáusticas ou elétricas. Pode ser atingido posteriormente por
contiguidade.
- Tarsorrafia
- Queimaduras de pavilhão auricular
Queimaduras nas Mãos
- Cuidados para evitar retrações e sinéquias
- Elevar as mãos
- Estimular o uso precoce assim que possível
TRATAMENTO:
1) Sedação (inversamente proporcional a profundidade da
queimadura) - deve ser mínima e raramente necessária pós 48h uso venoso
2) Manutenção das vias aéreas
- Suporte ventilatório
- Intubação endotraqueal
- Traqueostomia
Tratamento
1) Sedação (inversamente proporcional a profundidade da
queimadura) - deve ser mínima e raramente necessária pós 48h
- uso venoso
2) Manutenção das vias aéreas
- Suporte ventilatório
- Intubação endotraqueal
- Traqueostomia
Tratamento
3) Ressuscitação venosa
- Ringer lactato (2 a 4mL por Kg de peso vezes a SCQ) - nas
primeiras 24h - metade nas primeiras 8h e o restante nas 16h
seguintes
- Manter débito urinário de 0,5 a 1 mL por Kg de peso por hora no
adulto e 1 mL por Kg de peso por hora na criança. A gasometria
dá uma boa medida da perfusão. Um déficit de base persistente
indica perfusão inadequada. Após 24h acrescenta-se proteína albumina ou plasma - esperando obter diurese de 30 a 50 mL por
hora no adulto e 1mL por Kg de peso na criança até 30 Kg.
Tratamento
4) Suporte Nutricional
O início da alimentação enteral durante as 1ªs 6h pós injúria é
considerado seguro e efetivo, revertendo mais rapidamente várias
das mais importantes alterações metabólicas e hormonais
(Chiarelle e cols, 1990).
Glicose e proteínas devem ser ministrados em quantidade
suficiente para atender as necessidades metabólicas aumentadas
dos queimados (Wolfe 1996).
Glutamina, arginina e ácidos graxos ômega 3 em quantidades duas
a sete vezes maiores que para pessoas saudáveis
Tratamento
5) Profilaxia do Tétano
6) Uso de antibióticos - indicados profilaticamente em poucas
situações incluindo período pré e pós operatório com excisão e
autoenxertia e queimaduras iniciais em crianças.
Orientações Básicas para o Uso de
Antibióticos
1) O queimado apesar de todos os esforços, estará exposto aos
microorganismos (MO)
2) Nenhum agente único ou combinado consegue destruir todos os
MO aos quais o queimado fica exposto
3) Primeiro identificar o MO responsável pela sepse clínica
escolhendo o antibiótico indicado
4) As combinações de ATB nem sempre são sinérgicas ou aditivas
5) A terapia múltipla pode predispor para superinfecção por leveduras,
fungos ou MO resistentes
6) Os ATB terão que ser utilizados por longos períodos para haver um
efeito, mas não tão longos para promover resistência ou superinfecção
7) As doses devem ser ajustadas com base nas concentrações séricas
Tratamento
7) Terapia Tópica - microorganismos predominantes:
S.Aureos, Flora entérica aeróbica, Gram negativos,
Enterococos, Pseudomonas Aeruginosa. A colonização
anaeróbica é rara, a não ser na queimadura elétrica profunda.
A colonização por cândida é menos freqüente, mas
importante nos casos graves.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
1) Atividade antimicrobiana
2) Absorção e toxicidade
3) Baixa resistência adquirida
4) Necessidade de troca de curativos
Tratamento
Eficácea clínica dos agentes tópicos
1) retardar colonização
2) Manter a densidade bacteriana em níveis mais baixos e
resultar em flora homogênea
Agentes tópicos
- Sulfadiazina de prata
- Nitrato de prata a 0,5%
- Nitrato de cério-sulfadiazina de prata
- Clorexidine a 4%
- PVPI
Conduta Cirúrgica no Queimado
- Balneoterapia com desbridamento sob anestesia geral
- Escarotomia
- Escarectomia
- Enxertia cutânea
CLASSIFICAÇÃO DOS ENXERTOS
Haloenxerto
Autoenxerto (fragmentados, laminares e expandidos)
Homoenxerto
Heteroenxerto
Xenoenxerto
Membranas Amnióticas
Curativos biológicos
Bilaminados (com base em colágeno)
Queratinócitos autólogos cultivados
Conduta Cirúrgica no Queimado
Excisão tangencial com enxertia precoce
- Abordar queimaduras acima de 40% de SCQ, sem infecção,
apenas colonizada, realizada entre o 3° e o 5° dia após insulto,
não ultrapassando 20% da SCQ.
Fisioterapia
CINESIOTERAPIA
MASSOTERAPIA
OBJETIVOS:
- Manter e recuperar a amplitude dos movimentos
- Reduzir o edema
- Diminuir a hipoxemia na área atingida
- Melhorar a circulação no local
- Manter ou recuperar os movimentos funcionais
- Alinhar fibras cicatriciais
- Manter e recuperar o trofismo muscular/
- Evitar seqüelas
- Estimular nutrição
- Proporcionar o retorno as atividades
Complicações
Pneumonia
Insuficiência Renal
Embolia Pulmonar
Infecção Urinária
Anemia
Pancreatite
Colecistite Aguda Alitiásica
Lesões Hepáticas
Síndrome da A. Mesentérica Superior
Lesões Intestinais
Arritmia cardíaca
IAM
Tromboflebite supurativa
Choque Tóxico
Endocardite Bacteriana
Úlcera de Marjolin
Insuficiência Arterial periférica
Tétano
Íleo
Esofagite
Diarréia
Complicações transfusionais
Complicações neurológicas e músculo-esqueléticas
Desequilíbrio de doenças pré-existentes
Indicação de Internações
Queimaduras leves
primeiro grau - em qualquer extensão
segundo grau - menores que 10%
terceiro grau - menores que 2%
Queimaduras moderadas
segundo grau - entre 10 e 20%
terceiro grau - entre 3 e 10%
- A indicação depende de outros fatores
Sem indicação
Indicação de Internações
Queimaduras Graves
segundo grau - maior que 20%
terceiro grau - maior que 10%
- Internar sempre
Fatores para queimaduras moderadas
- Menores de 2 anos
- Elétricas ou químicas
- Doenças concomitantes
- Impossibilidade de alimentação oral
- Problemas sociais
- Queimaduras de face e genitália
- outros traumas associados
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