História de Roma e da língua latina

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História de Roma e da língua latina:
O reino
Prof. Me. Miguel Afonso Linhares
Sumário
 A fundação lendária
 A pesquisa histórica
 Os documentos mais antigos em latim
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- Latim I
Aquecimento
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- Latim I
A fundação lendária
Mas, a meu parecer, deveram-se ao fado a origem de tamanha cidade e o começo do maior poder após
o poderio dos deuses. Tomada à força, a Vestal, como tivera um parto de gêmeos, ou porque crido assim
ou porque um deus era um autor mais honroso para a falta, declara Marte o pai da incerta cepa. Mas
nem os deuses nem os homens poupam da crueldade real ou a ela ou a cepa: a sacerdotisa é dada
amarrada à prisão; manda que os meninos sejam arremessados em água corrente. De certa maneira por
um acaso vindo dos deuses, o Tibre, derramado sobre as margens em remansos suaves, de algum modo
não podia achegar-se ao curso da corrente certa e dava a esperança aos que levavam as crianças de elas
poderem afogar-se na água mesmo que esmorecida. Assim, como se estivessem quites com o mandado
do rei, abandonam os meninos no alagamento mais próximo, onde está agora a figueira Ruminal –
contam que chamada Romular –. Havia então vastas solidões nesses lugares. O rumor sustenta que,
como a água rasa deixara no seco a cuba boiante em que os meninos tinham sido abandonados, uma
loba sedenta tomou o rumo dos montes que havia ao redor para o berro meninil; ofereceu as tetas
abaixadas às crianças tão dócil que um maioral do rebanho real – contam ter tido o nome de Fáustulo –
a terá achado lambendo com a língua os meninos, dados por ele à sua esposa Larência para serem
educados junto às estrebarias. Há quem considere que Larência, de corpo devassado, era chamada loba
entre os pastores, donde o que deu lugar à lenda e ao milagre. Assim gerados e assim educados, tão logo
aumentou a idade, ao invés de estarem vadios ou nas estrebarias ou junto aos rebanhos, percorrem os
bosques caçando. Ganho disto vigor para os corpos e para as almas, já não afrontam apenas feras, mas
fazem assaltos a ladrões carregados de presa e dividem os roubos com os pastores, e crescendo de dia
em dia a grei de jovens, celebram com eles jogos e coisas sérias.
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A fundação lendária
 Tito Lívio
 Nasceu em Patávio (hoje Pádua) em 64 ou 59 a.C.
 Morreu em 17 d.C.
 Ab Vrbe condĭtā
 142 livros, dos quais remanesceu mais ou menos um quarto:
 do I ao X (desde o exílio de Eneias até o ano de 293 a.C.);
 do XXI ao XLV (desde o ano de 218 a.C. até o de 167 a.C.).
 “Períocas” (resumos) de quase todos;
 Um compêndio similar de uns poucos;
 Mais de oitenta fragmentos.
 Salvo o primeiro livro, que abrange toda a história antes do estabelecimento
da República, cada livro está preenchido com os acontecimentos de um ano.
 O conjunto está ordenado em seções de cinco livros, ou “pêntalas”.
 Se a possuíssemos inteira, essa obra ocuparia umas doze mil páginas em uma
edição de hoje.
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A fundação lendária

Primeiro capítulo:
 saída de Antenor e Eneias de Troia, a quem os aqueus pouparam as vidas após conquistar a cidade.
 Aquele, junto com uma multidão de ênetos aportou nos confins do mar Adriático, onde deu origem ao
povo vêneto.
 Este, após passar pela Macedônia e pela Sicília, entrevistou-se com Latino, rei da cidade de Laurento,
com cuja filha, Lavínia, se casou e em cuja homenagem fundou a cidade de Lavínio.

Segundo capítulo:
 Turno, rei dos rútulos, a quem Lavínia estava prometida antes da chegada de Eneias, sentindo-se
ofendido, declarou guerra a este e a Latino.
 Eneias e Latino venceram a guerra, mas à custa da morte deste.
 Turno aliou-se, então, a Mezêncio, rei dos etruscos.
 Perante tamanha ameaça, Eneias uniu a sua gente e a de Latino sob o nome de latinos, que assim
conseguiram defender-se, vitória que foi o derradeiro ato de Eneias.

Terceiro capítulo:
 Ascânio, filho de Eneias, como Lavínio crescera muito, fundou uma colônia que se prolongava pelo
monte Albano, daí o seu nome: Alba Longa.
 Doze gerações de reis sucederam-se aí até Numitor, que foi destronado pelo seu irmão Amúlio, quem
extinguiu todos os seus herdeiros varões e obrigou a sua filha, Reia Sílvia, a tornar-se uma vestal.
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A fundação lendária

Quinto capítulo:
 Os ladrões tomaram Remo e o entregaram a Amúlio sob a acusação de desrespeitar as propriedades de
Numitor, a quem foi encaminhado.
 Com medo, Fáustulo revelou a Rômulo a sua origem, enquanto Numitor, desconfiado, quase
reconheceu o neto preso.
 Rômulo levantou, então, uma revolta contra Amúlio, a quem matou.

Sexto capítulo:
 Numitor convocou a assembleia, perante a qual denunciou os crimes do seu irmão e reconheceu os
seus netos, e esta lhe devolveu a dignidade de rei.
 Rômulo e Remo desejaram, então, fundar uma cidade no lugar onde tinham sido abandonados e
educados, mas como eram gêmeos, surgiu o impasse de quem deveria dar nome à nova cidade e regêla.
 Rômulo subiu ao monte Palatino e Remo ao Aventino para tomar os agouros dos deuses.

Sétimo capítulo:
 o agouro veio primeiro para Remo: seis abutres, mas a Rômulo apareceu o dobro de aves, de modo
que cada multidão saudou um como rei.
 Travada uma discussão, desatou a matança, na qual Remo foi morto.
 Todavia, segundo Lívio, estava mais divulgada a versão de que Rômulo matou Remo porque este,
desdenhoso, trespassou os muros da nova cidade, que foi chamada, então, com o nome do seu
fundador.
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A pesquisa histórica

Reinado de Rômulo (753-716 a.C.):
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Reinado de Numa Pompílio (716-674 a.C.):
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traçou o perímetro sagrado da cidade (o pōmoerĭum) em torno do Palatino;
assegurou a continuidade da comunidade, por meio do rapto das sabinas;
ordenou a população (dez familĭae formavam uma gēns; dez gentēs, uma curĭa; dez curĭae, uma tribus, que eram três; as
pessoas livres à margem desse ordenamento formavam a plēbs, e todos compunham o popŭlus Rōmānus);
ordenou o exército (cem infantes e dez cavaleiros por cada cúria);
empreendeu as primeiras conquistas, sobre as cidades vizinhas, e acomodou a primeira colônia romana na cidade de
Fidenas;
estabeleceu os Comícios (inicialmente representantes das cúrias) e o Senado (um órgão consultivo composto de cem
patrēs seniōrēs, depois trezentos, eleitos pelo rei);
ajustou o calendário lunar ao ano solar e deslindou os dias fastos e nefastos;
instituiu os três flâmines maiores, sacerdotes de Júpiter, Marte e Quirino (este era Rômulo divinizado);
fundou o colégio dos pontífices, encabeçado pelo pontífice máximo, que vigiava tudo que dizia respeito à fé e ao
costume, e os colégios das vestais e dos sálios, que demarcavam os tempos de guerra e paz.
Reinado de Tulo Hostílio (674-642 a.C.):

ter-se-ia conquistado a hegemonia sobre o Lácio após a destruição de Alba Longa e a incorporação da sua população a
Roma;
Reinado de Anco Márcio (642-616 a.C.):
 ter-se-ia fundado a colônia que veio servir de porto marítimo a Roma: Óstia.

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O rapto das sabinas
 Diz a lenda que após fundar a Cidade, Rômulo não tinha mais que alguns
companheiros seus para povoá-la. Dispôs, então, que um bosque que havia no
monte Palatino serviria de asilo a quem tivesse a sua liberdade ameaçada:
escravos, endividados, malfeitores. A população cresceu, mas faltavam mulheres.
Os vizinhos recusavam que desposassem as suas filhas, o que levou Rômulo a
procurar resolver a questão por outro meio. Convidou, então, os sabinos a
assistir a uns jogos em honra ao deus Netuno; os romanos aproveitaram que os
homens estavam atentos às corridas de carros e raptaram-lhes as filhas. No
outro dia, Rômulo desatendeu as queixas dos pais, que foram, então, procurar
Tito Tácio, o rei mais poderoso dos sabinos, quem decidiu confrontar os
romanos. No dia do combate, os sabinos eram mais numerosos e os romanos,
mais jovens; durante a manhã, ambos os lados tiveram de recuar ante o avanço
ora de um ora do outro. Antes que a batalha ficasse mais sangrenta, as sabinas
desceram dos montes de onde assistiam a tudo e puseram-se no meio dos dois
exércitos. Com pranto e gritaria, rogaram aos pais que embora os seus maridos
as tivessem desposado contra a vontade, eles as tratavam com respeito, e
preferiam estar casadas a serem viúvas. Comovidos, os sabinos fizeram as pazes
com os romanos e vieram viver em Roma.
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A intervenção das sabinas, de
Jacques-Louis David (1799)
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Os Horácios
 Diz a lenda que a conquista de Alba Longa, durante o reinado de
Tulo Hostílio, não aconteceu por mor da guerra, mas por um trato
que os dois lados convieram: um combate até a morte entre três
campeões albanos e três romanos. Por Alba Longa escolheram-se
os irmãos Curiácios e por Roma, os irmãos Horácios. Ao primeiro
embate, dois Horácios tombaram, o que deixou o campeão
romano sobrevivente em forte desvantagem, mas ele percebeu que
dois Curiácios estavam feridos. Fingiu, então, fugir; os Curiácios
foram persegui-lo, mas os ferimentos deixou-os desencontrados.
De repente, o Horácio parou de correr e golpeou o primeiro
Curiácio; não foi difícil matar o segundo, mais cansado pela dor,
muito menos o terceiro, que o alcançou já esgotado. Cumprindo o
trato, Alba Longa submeteu-se a Roma.
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O juramento dos Horácios, de JacquesLouis David (1784-1785)
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A pesquisa histórica
 Reinado de Tarquínio Prisco (616-579 a.C.):
 Os alagadiços foram drenados, quando se construiu, entre
outros edifícios de alvenaria, a Cloaca Máxima, o que permitiu a
pavimentação do Fórum.
 Reinado de Sérvio Túlio (579-535 a.C.):
 Levantou a muralha de pedra que cingiu as aldeias de que se
formou Roma, além de ter reformado o ordenamento do povo
e do exército.
 Reinado de Tarquínio o Soberbo (535-509 a.C.):
 Passou à história como o rei que foi deposto em virtude da
tirania com que governou.
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O Septimōntĭum
 Diz a lenda que Roma foi construída sobre sete colinas (em latim,
mōntēs): o Aventino, o Capitólio, o Célio, o Esquilino, o Palatino, o
Quirinal e o Viminal. Daí o nome da liga: Septimōntĭum. No
entanto, as aldeias que deram origem a Roma estavam sobre o
Palatino, o Gérmalo, o Vélia, o Esquilino, o Ópio, o Císpio, o
Fagutal e o Célio, e depois é que a cidade se estendeu sobre os
outros morros, o que contradiz a conta de sete colinas. É que o
elemento septi- não deve corresponder ao número septem, ‘sete’,
mas à palavra sēptum, que significa ‘paliçada’ (perceba que a palavra
sebe em português significa ‘cerca viva’, e vem precisamente da
palavra latina sēpēs). Assim, o Septimōntĭum não foi a liga dos sete
montes, mas das aldeias cercadas por uma paliçada.
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O Septimōntĭum
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A pesquisa histórica
 Cumpre lembrar que o latim fazia parte da família de línguas à qual se conveio chamar
indo-europeia.
 O lugar donde partiram os indo-europeus para alcançar as terras que vieram ocupar ao
aparecerem na história é hipotético.
 Hipótese dos kurgans: proposta pela arqueóloga lituana Marija Gimbutas, identifica os
indo-europeus com o povo que construiu os kurgans.
 Segundo a pesquisa de Gimbutas, os kurgans mais antigos estendem-se pelas estepes entre
os rios Volga e Dnieper, nas atuais Rússia e Ucrânia, e remontam a 4500 a.C.
 Por volta de 3500 a.C., desgarrou-se para o sul a primeira grei, que veio falar as línguas anatólias.
 Até cerca de 2500 a.C., o resto se espalhou para fora das estepes alcançando, ao oriente, os montes Urais
e, ao ocidente, os montes Cárpatos, na atual Romênia.
 Desde então, os indo-europeus desligaram-se,
 primeiro para o sul, movimento que separa os falantes do que depois serão o grego, as línguas
indo-iranianas e as indo-arianas;
depois para o oeste, até a região chinesa de Xinjiang, e para o leste, até a Europa central, e daí até as
praias do Atlântico, movimento que separa os falantes do que depois serão,
o no oriente, as línguas tocarianas
o e, no ocidente, as germânicas, célticas e itálicas.
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A hipótese dos kurgans
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A pesquisa histórica
 Na atual Itália, os sinais de indo-europeização mais antigos remontam a cerca de 1200
a.C.
 Seis séculos depois, no princípio da história de Roma, a península apresentava uma
composição multiétnica.
 Ao nordeste viviam os vênetos, cuja língua – indo-europeia – estava aparentada com a
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dos ilírios, que habitavam a península dos Bálcãs junto ao mar Adriático;
ilírica também era a língua falada no sudeste: o messápio.
No noroeste habitavam os lígures, de origem desconhecida;
desconhecida é também uma língua atestada em quatro inscrições ao norte do Piceno.
No vale do rio Pó assentaram-se gauleses vindos de além dos Alpes durante o século VI
a.C.
Ao norte do rio Tibre até os montes Apeninos e além em direção ao nordeste até o Pó,
habitavam os etruscos, de origem desconhecida.
Em toda a costa meridional e também nas costas da Sicília havia colônias que compunham
a Magna Grécia.
O povo latino vivia no território que lhes dava nome: o Lácio (em latim, Latĭum, daí
latīnus), a planície entre o rio Tibre e o monte Circeu.
Os seus parentes, falantes das línguas umbra e osca, habitavam os montes Apeninos.
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Povos da península Itálica antes da
conquista romana
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A pesquisa histórica
 Os latinos federaram-se a Roma no começo do século V a.C.
 Também desde as origens houve lides contra os etruscos.
 Forte influência etrusca no processo fundacional de Roma:
 os reis não lendários;
 o ordenamento na forma de uma cidade-Estado onde a constituição estava
fundada em laços de parentesco que favoreciam os homens mais ricos, os
quais se articulavam em assembleias que escolhiam o rei e intervinham no
governo;
 os símbolos do poder:
 a toga, o cetro e os feixes de lictor;
 a crença na adivinhação:
 pelo auspício e também pelo haruspício;
 os combates de gladiador.
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Os documentos mais antigos em latim
 Uma inscrição sobre um cipo, conhecido como Lapis Niger ‘Pedra
Negra’, encontrado junto ao túmulo de um rei que foi enterrado na
baixa do Fórum nos primeiros tempos da Cidade, presumivelmente do
próprio Rômulo.
 Outra foi feita sobre um vaso triplo, chamado de “Duenos”, pois o vaso
(isto é, a inscrição) diz que foi feito por um Duenos, que pode ser uma
forma arcaica de bonus ‘bom’.
 Seja como for, o Estado romano demandou o uso da escrita desde cedo:
 o pontífice máximo relatava o que acontecera de mais importante durante o
ano em uns Annālēs ‘Anais’;
 o direito foi compilado pela primeira vez em 451 e 450 a.C., compilação
conhecida como as Leis das Doze Tábuas (Duodĕcim Tabulārum Lēgēs);
 escritos também eram os tratados com outros povos.
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Os documentos mais antigos em latim
Lapis Niger
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Vaso de Duenos
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