EF B7 ciência+saúde Quarta-Feira, 5 De abril De 2017 CASAMENTO INESPERADO Entenda a mistura entre as duas espécies de raposas Daniel Kantek Marina O. Favarini Lycalopex vetulus (raposinha-do-cerrado) e L. gymnocercus (graxaim-do-campo), que, por causa do desmatamento, estão cruzando entre si e produzindo filhotes híbridos As áreas de vegetação aberta do Brasil abrigam duas espécies de raposas, a Lycalopex vetulus (raposinhado-cerrado) e a L. gymnocercus (graxaim-do-campo). A segunda espécie costuma ser de maior porte 1 BRASIL Mapa com distribuição original dos dois bichos BOLÍVIA PARAGUAI Raposinhado-cerrado Graxaimdo-campo 2 URUGUAI As duas espécies originalmente estavam separadas pelas áreas de floresta fechada da mata atlântica... Mapa da área atual .... mas é possível que o desmatamento tenha permitido que os bichos, antes separados, passassem a se encontrar estão 3 Pesquisadores achando, graças a testes de DNA, animais híbridos das duas espécies. No Estado de São Paulo, nenhum animal estudado mostrou ser “puro” –praticamente todos parecem ser filhos ou netos do cruzamento dos dois animais Espécies antes separadas pela mata atlântica hoje produzem filhotes híbridos Raposinha-do-campo, típica do cerrado, e o graxaim-do-campo, do Sul, podem sumir, afirmam pesquisadores REINALDO JOSÉ LOPES coLABoRAÇÃo PARA A FOLHA ARGENTINA Mapa da área original Desmatamento leva raposas a iniciar perigoso ‘namoro’ E DAÍ? Se essa tendência continuar, há o risco de que boa parte da riqueza genética dessas espécies se perca, formando-se uma única grande população híbrida amalgamada Fonte: “Filogeografia e história populacional de Lycalopex vetulus, incluindo sua hibridação com L. gymnocercus” Duas espécies de raposas do Brasil, separadas há muitos milhares de anos pela mata atlântica, estão cruzando entre si e produzindo filhotes híbridos, talvez porque a derrubada da maior parte da floresta tenha eliminado a principal barreira que existia entre elas. As protagonistas desse estranho namoro são a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), típica do cerrado, e o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), natural dos pampas gaúchos. Segundo pesquisadores da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), é no território do Estado de São Paulo que as duas espécies estão se misturando, e a situação inspira cuidados: dependendo de como o processo continuar, boa parte da riqueza genética original dos bichos pode acabar se perdendo. Um dos autores da pesquisa, o doutorando maranhense Fabricio Silva Garcez, conta que a primeira pista de que havia algo estranho acontecendo veio de um trabalho anterior (da mestranda Marina Favarini, na PUC-RS), no qual dois bichos que tinham sido classificados morfologi- camente (ou seja, com base na aparência física) como L. vetulus acabaram apresentando material genético de L. gymnocercus. PAPAI E MAMÃE Para ser mais exato, os misteriosos animais tinham mtDNA (DNA mitocondrial) da espécie sulina. Ocorre que o mtDNA, presente apenas nas mitocôndrias, as usinas de energia das células, quase sempre é transmitido das mães para seus filhos ou filhas —em geral, nenhum animal herda o mtDNA do pai. O dado, portanto, parecia indicar que ao menos uma fêmea de graxaim havia tido filhotes com um macho de raposinha-do-campo. Durante seu mestrado, orientado por Eduardo Eizirik (da PUC-RS) e Ligia Tchaicka (da Universidade Estadual do Maranhão), Garcez analisou amostras de DNA de dezenas de indivíduos de ambas as espécies, colhidas numa área ampla, que vai do Maranhão ao Rio Grande do Sul. (As aná- “ Se todos se tornarem híbridos, vai ser algo muito ruim porque, na prática, duas espécies vão acabar desaparecendo por causa da intervenção humana FAbriciO siLvA gArcez Um dos autores do estudo Pirâmide desconhecida é achada no Egito lises genéticas foram feitas a partir do sangue colhido de bichos capturados e de amostras da carcaça de raposas atropeladas Brasil afora, coisa que infelizmente é comum). Além do mtDNA, a equipe estudou ainda trechos do DNA do núcleo das células, conhecidos como microssatélites (que parecem uma “gagueira” de letras químicas de DNA, com pequenos trechos que se repetem várias vezes). Tais análises confirmaram a suspeita inicial: seis bichos paulistas tinham toda a pinta de ser híbridos, inclusive de segunda geração (ou seja, netos do cruzamento original entre as duas espécies). Cinco deles tinham, de novo, mtDNA de graxaim, enquanto o sexto indivíduo apresentou sinais de hibridização apenas no DNA do núcleo das células. Ou seja, por enquanto parece que o cruzamento de machos de raposinha-do-campo com fêmeas de graxaim é mesmo mais comum, embora não seja a única possibilidade. “Isso é curioso porque, em outras zonas híbridas de canídeos [o grupo dos cães, lobos e raposas], normalmente o macho é o da espécie de maior porte, mas no nosso caso o L. gymnocercus é maior”, diz Garcez. Ainda é cedo para dizer com exatidão o que tem levado essas fêmeas a se deslocar rumo a São Paulo e por que o mesmo não estaria acontecendo com os machos da espécie sulina. Agora no doutorado, Garcez está ampliando as análi- ses para tentar entender em detalhes o que está acontecendo no contato entre as duas espécies, as quais formam a primeira zona híbrida de canídeos confirmada na América do Sul (na América do Norte, há o exemplo muito estudado da zona híbrida entre lobos e coiotes). Os dados de DNA também podem confirmar a hipótese de que a hibridização é culpa da ação humana —se ela for um evento recente, cresce a possibilidade de um elo com a derrubada da mata atlântica. Afinal, as duas espécies são típicas de ambientes abertos, sem floresta densa. “Quando você remove essa barreira, com o aparecimento de pastagens e plantações no lugar da mata, a tendência é que elas acabem entrando em contato”, diz Garcez. O gênero Lycalopex, ao qual ambas as raposas pertencem, diversificou-se há relativamente pouco tempo em termos evolutivos (a partir de cerca de 1 milhão de anos atrás). Mesmo assim, apesar de serem fisicamente parecidas e de conseguirem cruzar entre si, as espécies possuem hábitos consideravelmente diferentes. A raposinha-docampo normalmente se alimenta de cupins e frutas do cerrado, enquanto o graxaim, como bom gaúcho, inclui uma proporção maior de carne em sua dieta. “Se todos se tornarem híbridos, vai ser algo muito ruim porque, na prática, duas espécies vão acabar desaparecendo por causa da intervenção humana”, diz Garcez. AFP Arqueólogos descobriram corredor que leva ao interior da obra e à entrada de uma sala DA AFP Pesquisadores egípcios encontraram vestígios de uma pirâmide de 3.700 anos em bom estado de conservação no sítio arqueológico de Dahshur, perto do Cairo, afirmou o Ministério de Antiguidades egípcio em um comunicado. A pequena pirâmide foi construída durante a 13ª dinastia faraônica (que durou de aproximadamente 1.803 a cerca de 1.649 a.C.). Os arqueólogos descobriram um corredor que leva ao interior da pirâmide, prolongado por uma rampa, e a entrada para uma sala, segundo o ministério. A equipe continuará as escavações no sítio para descobrir o resto da pirâmide, afirmou o comunicado. Os arqueólogos acharam um pequeno bloco de alabastro no qual é possível ver inscrições em hieróglifos. Foram encontrados também uma viga de granito e blocos de pedra que permitem conhecer melhor a arquitetura interna do monumento. As escavações estão em seu início e o tamanho da pirâmide ainda é desconhecido. Nas fotos divulgadas pelo ministério, é possível ver blocos de pedra e também a entrada para o corredor. A descoberta ocorreu per- to da Pirâmide Curvada de Dahshur, construída pelo faraó Seneferu, fundador da 4ª dinastia (2.600 A.C.) e também pai do faraó Quéops, que deu seu nome a uma das pirâmides mais famosas do Egito, na planície de Gizé. O Egito conta com 123 pirâmides, segundo o arqueólogo Zahi Hawas, ex-ministro de Antiguidades. Hawass afirmou que as ruínas encontradas parecem indicar que o monumento pertencia a “uma rainha enterrada próxima a seu marido ou filho”. Em outubro de 2015, o país africano anunciou um projeto ambicioso denominado “Scan Pyramids” (escanear pirâmides, em tradução livre). O intuito do projeto é descobrir as câmaras secretas nas pirâmides de Gizé e Dahshur, e tentar desvendar os mistérios relacionados a sua construção. Esses estudos estão sendo realizados na pirâmide de Quéops, a última das sete maravilhas do mundo antigo que ainda permanece preservada. As autoridades egípcias também lançaram, em 2015, uma análise da tumba do faraó Tutancâmon, no Vale dos Reis, perto de Luxor, no sul do país. Há a esperança de descobrir no local uma câmara secreta, que poderia abrigar a tumba da rainha Nefertiti. Corredor que dá acesso ao interior da pirâmide descoberta