Folha de Pernambuco - PE 19/11/2015

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Folha de Pernambuco - PE
19/11/2015 - 07:32
Zika pode atacar sistema nervoso
PESQUISA, que analisou pacientes com adoecimento neurológico após quadro viral,
apontou infecção pelo vírus
Aumenta cada vez mais a suspeita de que o zika pode provocar, em casos graves, danos
ao sistema nervoso central. Isso aconteceria tanto na formação do feto, quanto na
alteração das funções neuromotoras do adolescente ou adulto. As duas hipóteses são
baseadas em achados médicos que apontam para uma tendência do vírus causar
complicações neurológicas em algumas pessoas. As evidências de microcefalia em fetos
de duas gestantes paraibanas indicaram a presença do vírus no líquido aminiótico. Já em
Pernambuco, uma pesquisa com cerca de 30 pacientes que apresentaram adoecimento
neurológico após quadro viral também começou a demonstrar infecção por zika como
possível causa.
A suspeita de que a doença poderia afetar o sistema nervoso central já havia sido
levantada pela Folha de Pernambuco no mês de julho, quando os quadros da Síndrome
Guillian-Barré (SGB), agravo autoimune que pode surgir após infecções por vírus ou
bactérias, aumentraam em 42% no primeiro semestre do ano na comparação com o
mesmo período e 2014. A chefe do departamento de neurologia do Hospital da
Restauração (HR), Maria Lúcia Brito, faz parte do grupo que monitora o aumento de
doenças neurológicas pós-virose. Segundo ela, a amostra de quase 130 pacientes do HR,
oito já positivaram para o vírus. “O resultado é preliminar e será preciso aguardar o
resultado de uma amostra maior. Precisamos esperar o restante. Estamos aguardando o
resultado de exames complementares”, disse.
O material biológico desses pacientes foi enviado para a Fiocruz. Entre as doenças
detectadas e que podem ser relacionadas ao zika estão a Síndrome Guillian-Barré, a
neurite ótica, a mielite, a meningite e a meningoencefalite. A informação extraoficial é
de que o RNA do vírus já foi encontrado nesses pacientes, o que é um forte indicativo
de que essas pessoas com quadro neurológico estavam infectadas pelo zika.
O infectologista e membro do Comitê Técnico do Ministério da Saúde (MS) para apurar
Dengue, Chicungunya e Zika, Carlos Brito, comentou que já há na literatura médica
uma associação entre zika e o aparecimento posterior de doença neurológica. “O que
existe de associação no mundo é a descrição da Polinésia Francesa. Lá houve 72 casos
de pacientes com quadros neurológicos que aconteceram após o período de epidemia de
zika. Mas eles não tiveram nenhuma confirmação laboratorial desses casos. Foi
sugerido, mas não conseguiram mostrar a relação nexo-causal”, contou.
O infectologista destacou que o vírus tem demonstrado ter um neurotropismo, ou seja,
tendência a se localizar no sistema nervoso central como complicação e não como
forma habitual. “A dengue tem complicação hemorrágica, a chicunkunya tem
complicação articular e hemorrágica, mas a zika parece que a complicação tem a
tendência de neurotropismo”, comentou. Foi Brito quem lançou o alerta sobre o
aumento de pessoas com problemas neurológicos em junho deste ano, principalmente
casos de SGB. Na época o diretor geral de Controle de Doenças e Agravos da Secretaria
Estadual de Saúde (SES), George Dimech, informou que em 2012 foram 28 registros da
síndrome, 81 em 2013, 45 em 2014 e até junho de 2015 os casos somavam 64
ocorrências. A SES preferiu não comentar por enquanto a descoberta do zika entre os
pacientes investigados no HR, nem informou novos dados sobre a Guillian-Barré.
Folha de Pernambuco - PE
19/11/2015 - 07:32
Pesquisa quer desvendar agravamentos
Conhecer como a biologia do zika pode gerar os agravamentos da microcefalia e
acometimentos neurológicos como a Síndrome Guillian-Barré é um dos objetivos da
pesquisa “The emergence of Zika Virus in Brazil: investigating viral features and host
responses to design preventive strategies”, encabeçada pelo professor e pesquisador da
Fiocruz Rafael França. O estudo foi contemplado no edital do Fundo Newton sobre
doenças infecciosas e negligenciadas. Com financiamento da Fundação de Amparo à
Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) e da Medical Research Council (MRC
UK) do Reio Unido, a investigação visa desvendar o vírus, desenvolver novos insumos
para o diagnóstico, potenciais vacinas e novos produtos.
França explicou que até hoje pouco se sabe sobre o vírus, que tipo de célula ele infecta e
quais os mecanismos da doença. Isso porque no mundo nenhum surto teve a dimensão
que a doença trouxe para o Brasil. “É um projeto de colaboração internacional onde
vamos estudar a biologia do vírus em si. Com o vírus no laboratório a gente consegue
fazer modelos de células in vitro e infectar com o vírus, para depois avaliar a resposta
dessas células frente à infecção. A gente objetiva, mas não sabe ainda se é possível,
infectar experimentalmente camundongos e avaliar a sintomatologia do animal, avaliar
os processos patológicos”, explicou.
Essas avaliações podem desencadear a formação de kits diagnósticos simplificados e
específicos para a zika. Hoje a detecção da doença é feita mais pelo diagnóstico clínico.
O pesquisador destacou a pesquisa começou, mas que na prática, não há prazo para que
os insumos e produtos cheguem à população.
Folha de Pernambuco - PE
19/11/2015 - 07:32
Declaração de ministro gera mais polêmica sobre gestação
“Sexo é para amador, gravidez é para profissional. A pessoa que vai engravidar precisa
tomar os devidos cuidados”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, aumentando
a polêmica sobre a gestação neste período de aumento de casos de microcefalia. A nova
declaração, ontem, reforçou o discurso de contraindicação que o MS adotou e depois
negou sobre decisão de engravidar, mas que parece ser a tônica do governo. O ministro
reforçou ainda que “ninguém deve engravidar ao acaso. E que deve ser feito um
planejamento para uma maternidade responsável”.
Marcelo Castro destacou ainda que se o zika for confirmado como causa do aumento
dos casos de microcefalia, há possibilidade de outros estados também enfrentarem um
surto dessas malformações congênitas e até mesmo outros países. Até o momento os
estados de Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Ceará e Bahia
confirmam volume atípico da microcefalia e juntos somam 399 notificações.
Pernambuco concentra a maioria das ocorrências: 268. Diante da situação de alerta
nacional, o ministério adotou a notificação obrigatória de bebês que nascem com essa
condição. Os estados também vão passar a notificar gestantes com fetos já
diagnosticados com a malformação.
Jornal do Commercio - PE
19/11/2015 - 08:17
Voz do Leitor
Diagnósticos tardios
A questão da microcefalia, com acentuado aumento da incidência em Pernambuco,
levanta uma série de indagações que perpassam a necessidade urgente da descoberta das
causas desse mal: por que a Secretaria de Saúde e o Ministério de Saúde só começaram
a se preocupar em outubro deste ano, quando já havia 90 casos detectados? É óbvio que,
mais cedo, no primeiro semestre, já tinham aparecido pelo menos 50 casos, cinco vezes
acima da ocorrência usual. A detecção só foi feita este ano ou a falta de condições das
maternidades públicas simplesmente não levou à priorização da questão e os bebês
foram liberados sem os devidos exames? Ou não houve notificação de todos os casos?
Há outros problemas de saúde dos bebês e mães que não são ou não foram devidamente
diagnosticados, pela quase falência do sistema estadual de saúde? Janice Albuquerque,
por e-mail
Jornal do Commercio - PE
19/11/2015 - 08:17
As incertezas da microcefalia
SAÚDE Chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Oswaldo Cruz afirma que Estado
precisa organizar uma rede multiprofissional para acompanhar crianças com anomalia
Teoricamente a quarta-feira não é dia de o Ambulatório de Infectologia Pediátrica do
Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) oferecer atendimento aos bebês com
microcefalia (tamanho da cabeça menor que o normal para a idade). O acolhimento é
feito todos os dias da semana, exceto às quartas. Ontem, no entanto, cinco famílias
foram à unidade de saúde, com seus bebês diagnosticados com essa malformação, sem
agendar consulta. No ambulatório, também chegaram duas gestantes que receberam a
informação, durante realização de ultrassonografia, de que o filho que esperam
apresenta a anomalia.
"Apesar de fazermos a marcação das consultas, não podemos deixar de atender as
famílias que vêm de forma espontânea, sem encaminhamento dos serviços de origem.
Outro detalhe é que, apesar de o ambulatório não ser referência para acompanhar as
gestantes, muitas vêm até a unidade para tirar dúvidas. O momento tem sido de estresse
para elas", informa a chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Huoc, Ângela Rocha,
que percebe limitações nesse cenário atual de mudança no padrão de ocorrência da
microcefalia.
"Às vezes, vem um sentimento de impotência em nós, médicos", diz Ângela, referindose às incertezas relacionadas a possíveis causas do avanço da anomalia congênita e
consequências que a malformação pode trazer para o bebê.
"No ambulatório, já vivenciamos surtos de cólera e momentos de alerta em relação ao
H1N1 (vírus da influenza), mas não se comparam à situação que vivemos hoje com a
microcefalia. É uma experiência inusitada em saúde pública, que gera uma situação
delicada. Tudo isso faz a gente se envolver emocionalmente com os casos que temos
acompanhado", salienta Ângela.
A médica também vê o avanço da microcefalia como um problema social que requer
agilidade das autoridades públicas. "O Estado precisa estar preparado para dar
acompanhamento de forma contínua a essas crianças. É preciso organizar uma rede
multiprofissional de acolhimento." Obebê do casal José Genésio Oliveira, 37 anos, e
Joseana da Silva, 19, é um dos que precisam desse suporte. O diagnóstico de
microcefalia foi dado logo após o nascimento, há dois meses.
"Fiz o pré-natal, mas os médicos não perceberam problemas nos exames", conta
Joseana, que mora em Manari, município do Sertão de Pernambuco. "Agora quero dar o
melhor de mim para cuidar do meu filho", conta José Genésio.
No início da gestação, Joseana conta que apresentou manchas avermelhadas na pele, um
dos sintomas da zika - doença identificada em 14 Estados brasileiros este ano e
transmitida pelo mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti. Na terça-feira (17), o
Ministério da Saúde informou ser "altamente provável" a correlação entre o aumento
incomum dos casos de microcefalia com uma possível infecção das gestantes pelo vírus
da zika, embora ainda não seja possível comprovar essa ligação.
Jornal do Commercio - PE
19/11/2015 - 08:17
Plano para 2016 ainda em elaboração
Em novembro de 2014, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) já havia elaborado o Plano
de Contingência da Chicungunha e da Dengue para este ano, a fim de conter a
transmissão de casos em solo pernambucano e atender aos pacientes infectados por
ambas as doenças, transmitidas pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictu. A
SES informa que, para 2016, o plano de contingência está sendo finalizado para que seja
lançado com a maior brevidade possível, mas não dá um prazo.
Segundo o diretor-geral de Controle de Doenças e Agravos da SES, George Dimech, as
ações englobarão dengue e chicungunha, pois "a zika é indiferenciável da dengue".
Até o dia 7 deste mês, 117.250 pessoas apresentaram sintomas de dengue no Estado.
Desse total, distribuído em 184 municípios, 41.961 pacientes tiveram o diagnóstico da
doença confirmado. Isso representa um aumento de 577,16% em relação ao mesmo
período de 2014, quando foram notificados 17.315 casos suspeitos (6.494 desses foram
confirmados).
Além disso, até o momento, foram notificados 141 casos de dengue com agravamento,
com 118 confirmações. No mesmo período de 2014, foram 98 confirmações. A SES
também já confirmou 21 mortes por dengue (no mesmo período do ano passado, esse
número chegou a 45), e 48 óbitos estão em investigação.
Em relação à chicungunha, até o dia 7 deste mês, 785 pessoas adoeceram com sintomas
da doença no Estado. Desse total, 194 foram confirmados - três importados, sendo dois
no município de Iguaraci e um em Itaíba, todos com infecção na Bahia. Outros 191 são
autóctones (infecção ocorreu em Pernambuco), sendo 113 na Região Metropolitana do
Recife e 78 no Agreste do Estado. Até agora, 228 casos foram descartados.
Em2014, segundo a SES, 23 pessoas apresentaram sintomas de chicungunha em
Pernambuco. Desse total, 19 casos foram descartados e quatro foram confirmados como
importados (um de ocorrência em Brejo Santo, no Ceará, e outro do município de Feira
de Santana, na Bahia, além de dois casos da Colômbia).
Diario de Pernambuco - PE
19/10/2015 - 08:05
Tudo aponta ao zika vírus
Boletim reforça a tese de que o zika é o responsável pelos casos de microcefalia
Mais um aspecto pode reforçar a tese de que os casos de microcefalia registrados no
Nordeste neste ano têm ligação com a proliferação do zika vírus na região. Boletim do
Centro Controle e Doenças de Infecciosas da Europa de 2014 sugeriu que 72 casos de
doenças neurológicas em adultos poderiam estar relacionados ao vírus. Esses casos
foram registrados no final de 2013 e agora servem de apoio às novas pesquisas. Esse
fator demonstraria que o vírus parece ter neuropropismo (afinidade) pelo sistema
nervoso.
Pesquisador da Fiocruz,o médico Carlos Brito integra a equipe que analisa a relação
entre o microorganismo e a malformação. Segundo ele, é como se o zika tives se uma
"predileção" por atacar o sistema nervoso central. Para Brito, outro indício que reforça a
ligação entre zika e microcefalia é a alta dispersão dos casos da anomalia, registrados
em mais de 70 cidades pernambucanas e sete estados do Nordeste. Só um mosquito teria
a capacidade de dispersar um vírus dessa forma. "O que faltava era uma confirmação de
que o zika poderia levar à microcefalia.
Agora, com esses dois casos na Paraíba,se confirma que sim,o zika pode levar.Mas não
é só um aspecto que consolida atese, são vários", explicou Carlos Brito. O pesquisador
se referiu às grávidas paraibanas cujos bebês foram diagnosticados com microcefalia
durante a gestação. Amostras coletadas nas duas confirmaram a presença de zika no
líquido amniótico.
Em visita ao Brasil, a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret
Chan, afirmou ontem que a entidade está acompanhando de perto a investigação.
Folha de Pernambuco - PE
19/11/2015 - 07:32
Plástica repadora no SUS
A Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou
no final da tarde de ontem uma proposta que determina a realização pelo Sistema Único
de Saúde (SUS) de cirurgia plástica reparadora em sequelas de lesões causadas por atos
de violência contra a mulher. Relatora na CCJ, a deputada Tia Eron (PRB-BA)
apresentou parecer pela constitucionalidade e juridicidade da proposta - Projeto de Lei
(PL)123/07, do deputado Neilton Mulim (PR-RJ) -, bem como das emendas
apresentadas do Senado Federal.
O texto original foi aprovado pela Câmara em abril de 2009. Para ser autorizada,
contudo, é preciso que a vítima apresente registro de ocorrência oficial da agressão e o
diagnóstico de um médico.
O Senado, contudo, trocou a expressão “cirurgia plástica reparadora a mulheres vítimas
de violência”, prevista no texto original que veio da Câmara, por “cirurgia plástica
reparadora de sequelas de lesões causadas por atos de violência contra a mulher”. Outra
emenda do Senado corrige erros de redação, substituindo a palavra “edição” por
“publicação”, uma vez que as leis são publicadas e não editadas. O Senado também
acrescentou a possibilidade de os gestores serem punidos, caso deixem de cumprir com
a obrigação de informar a mulheres vitimadas sobre seus direitos.
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