Edição nº 5 Ano 2008 Editorial Onde é que o meu animal tem maior risco de se infectar? O Hospital Veterinário Montenegro dedica esta sua edição da Newsletter aos parasitas externos e às doenças transmitidas por vectores. Habitualmente o seu aparecimento ocorria a partir dos meses de Primavera e Verão devido às condições de calor e humidade que necessitam para o seu desenvolvimento. No entanto, esta verdade tem sido alterada devido às modificações que o clima que o nosso país tem evidenciado. Sendo assim, a prevalência das doenças transmitidas por estes agentes tem aumentado mesmo nos meses de Inverno pelo que é fundamental um bom esclarecimento para uma melhor prevenção desses parasitas e doenças. Rui Pereira De acordo com um estudo efectuado, as zonas de maior incidência da doença em Portugal são o Ribatejo, o Alentejo, o Algarve e a ilha da Madeira, no entanto as áreas de incidência têm aumentado nos últimos anos devido às alterações no clima. Por exemplo, há 2 anos ocorreu um surto no Minho e desde então a incidência nesta região tem sido mais elevada. A prevalência da dirofilariose depende da distribuição dos mosquitos transmissores. Como estes se reproduzem em meios húmidos e quentes; lagos, charcos, piscinas, águas estagnadas, zonas portuárias, jardins são zonas que apresentam um elevado risco para os animais que perto delas habitem. Dirofilariose A Dirofilariose é uma doença cardiopulmonar que cada vez afecta mais cães e gatos no nosso país. É causada por um parasita chamado Dirofilaria imitis, também conhecido como o parasita do coração, pois é lá que este se aloja na sua forma adulta e onde permanece por longos períodos de tempo até que, se não diagnosticado, pode acabar por matar o animal por paragem cardíaca. A doença é transmitida por uma picada de mosquito que tenha ingerido sangue de um outro animal infectado. Ao picar, enquanto o mosquito se alimenta, as larvas, designadas por microfilárias, saem do aparelho bucal destes insectos e escavam galerias na pele do animal, atingindo a corrente sanguínea. Aqui sofrem diversas alterações até que atingem a forma adulta. É nesta fase que elas se deslocam para o coração, mais precisamente para o lado direito e onde se reproduzem. As filárias adultas podem atingir os 35 cm de comprimento e produzem mihares de novas pequenas larvas por dia. Quais os sintomas e como se detecta? A grande incidência desta doença está intimamente ligada com o facto de esta não apresentar sintomas até já estar numa fase bastante avançada. Alguns sinais podem aparecer um ano após o animal ser picado pelo mosquito infectado. Estes parasitas ao se alojarem no lado direito do coração e nos vasos que dele saem causam obstruções que vão diminuir o volume de sangue que é bombeado e oxigenado nos pulmões, podendo o primeiro sinal ser uma pequena tosse que é agravada com o exercício e que pode não ser detectada pelos donos. No entanto, a tosse intensifica-se e o cão poderá mesmo desmaiar com o esforço. O cão cansa-se facilmente, enfraquece, torna-se apático, perde peso e forma física e poderá expectorar sangue. A respiração torna-se mais difícil à medida que a doença progride. Para além dos sinais respiratórios o animal pode aparecer também com ascite (acumulação de líquido abdómen) e com alterações hepáticas. A morte dos parasitas pode levar à ocorrência de tromboses em vários órgãos. Na ausência de tratamento, a dirofilariose pode ser fatal. ________________________________________________________________________________ Hospital Veterinário Montenegro R. Pereira Reis, 191 – Porto www.hospvetmontenegro.com Edição nº 5 Ano 2008 Para detectar Dirofilariose podemos utilizar vários métodos. Um deles, bastante simples, consiste em colher um pouco de sangue periférico e fazer o que se chama o exame de gota fresca. Ao observar esta gota de sangue ao microscópio podemos detectar a presença de microfilárias através do seu movimento. Mas também as podemos identificar através de um esfregaço sanguíneo. Outra forma, é através da recolha de uma amostra de sangue para pesquisar antigénios de parasitas adultos. Este teste só deve ser efectuado cerca de 6 a 7 meses após a infecção. Como prevenir e tratar a Dirofilariose? O melhor tratamento da Dirofilariose é a prevenção, pois o tratamento médico ou cirúrgico é muito arriscado. Se a infestação for pequena, o tratamento é médico e baseia-se na morte e desintegração dos parasitas. Mas se a doença já estiver num estado muito avançado, o coração já vai estar repleto de várias centenas de vermes adultos que ao morrerem poderiam causar uma embolia pulmonar ou uma rotura da artéria pulmonar e levar à morte do animal. Nestes casos, é de pensar na possibilidade cirúrgica, que apesar de um enorme risco, se apresenta mais vantajosa. A prevenção pode ser feita com comprimidos mensais ou com spot-on, que devem ser iniciados com alguma antecedência em relação ao início da época anual de actividade dos mosquitos transmissores da dirofilariose. Uma simples medicação mensal pode eliminar a larva transmitida pelos mosquitos no mês anterior. Assim, o ciclo de vida do parasita é quebrado. É bastante positivo fazer a prevenção mensal em cachorros com mais de 8 semanas de idade. Mas não se deve iniciar nenhum programa preventivo antes que um veterinário determine se animal tem ou não vermes no coração. Há também que relembrar que quanto maior o número de animais que recebam esta protecção, menores serão as possibilidades de os mosquitos se contaminarem e irem infectar outros animais. Um cão pode ser o portador responsável por todo um surto local da doença. Por último existem também no mercado coleiras indicadas para a protecção contra a picada do mosquito, que libertam substâncias ectoparasiticidas, mas que não descartam a obrigatoriedade da desparasitação mensal. Carolina Guardado Leishmaniose A Leishmaniose canina é uma doença grave e fatal para os cães, podendo ser transmitida a outros animais como os roedores e até mesmo ao Homem, na qual tem o nome de Calazar. O Calazar afecta habitualmente crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas. Como a doença não se transmite na ausência do vector, o risco de saúde pública ocorre nas áreas endémicas. Como se transmite? A Leishmania é um parasita microscópico do sangue transmitido através da picada de pequenos mosquitos (flebótomos), não podendo ocorrer a transmissão directa entre animais afectados na ausência do vector. As regiões mais problemáticas em Portugal são Trásos-Montes e Alto Douro, Coimbra e Beira Litoral, Algarve e estuários dos rios Sado e Tejo. A época de maior risco de infecção está directamente relacionada com as condições para o desenvolvimento do insecto vector (flebótomo), que começa com o calor, normalmente em Abril e estende-se até Setembro. Em anos mais quentes pode iniciar-se em Março e terminar em Novembro. Durante o Inverno, os flebótomos permanecem no estado larvar. Estes são insectos nocturnos pelo que as horas de maior actividade são ao amanhecer e ao entardecer. ________________________________________________________________________________ Hospital Veterinário Montenegro R. Pereira Reis, 191 – Porto www.hospvetmontenegro.com Edição nº 5 Ano 2008 Quais os sintomas e como se detecta? A sintomatolgia é muito variada e por vezes inespecífica, no entanto destacam-se as lesões de pele, patologias articulares e alterações vasculares e renais. A progressão da doença leva a perda de condição corporal e sinais generalizados de doença. De acordo com a apresentação clínica podem ser realizados vários exames nomeadamente pesquisa de anticorpos no sangue, punção de medula óssea, biópsia de pele, entre outros. Como prevenir e tratar a Leishmaniose? Tal como na Dirofilariose o melhor tratamento é a prevenção, pois os tratamentos existentes não conseguem erradicar o agente infeccioso, apesar de algumas drogas que permitirem controlar a evolução da doença em algumas situações. Como não existem vacinas, a prevenção do contacto com o vector possui um papel decisivo na luta contra esta doença. Esta prevenção baseia-se no uso de repelentes de mosquitos como coleiras, spot-on ou sprays. Renata Lima Babesiose e Erliquiose A babesiose é uma doença causada por um protozoário, Babesia canis/Babesia gibsoni, transmitida pela picada de uma carraça (Rhipicephalus sanguineus). Este parasita ataca os glóbulos vermelhos causando a sua destruição, provocando, se não detectada a tempo, uma grave anemia nos animais infectados. A erliquiose é uma doença provocada por várias bactérias, podendo afectar as plaquetas (E. platis) ou as plaquetas e os monócitos (E. canis). São também transmitidas pela carraça. É uma zoonose, dado que uma carraça infectada pode picar um ser humano podendo provocar febre, dores de cabeça e musculares, vómitos e anemia, vulgarmente conhecida por Febre da Carraça Estas doenças são raras nos gatos. A transmissão ocorre quando uma carraça fêmea pica um animal contaminado tornando-se portadora do parasita no seu sangue, sendo o parasita inoculado noutros animais. No entanto, a infecção também poderá ocorrer no momento de transfusões sanguíneas, através de agulhas ou outros utensílios contaminados. Os sinais habituais da Babesiose são letargia, perda de apetite, prostração, febre e mucosas pálidas ou amareladas (ictéricas). Um sinal frequente é urina escura, muitas vezes comparada a vinho do porto. Com o agravamento da doença, o animal começa a perder peso, a apresentar sinais gastrointestinais e por vezes falência renal. A erliquiose pode ter 3 estadios distintos, fase aguda, fase sub-clínica e fase crónica. Na fase aguda pode ocorrer febre, pequenas hemorragias, aumento dos gânglios linfáticos, prostração e perda de apetite. Na fase crónica ocorre perda de peso, sangramentos nasais, dores articulares e alterações oculares e neurológicas. A fase sub-clínica não apresenta sinais clínicos. Como se diagnosticam estasenfermidades? A presença da carraça pode aumentar a suspeita clínica destas doenças. A confirmação da Babesiose poderá ser efectuada a partir da visualização directa dos protozoários dentro dos glóbulos vermelhos no esfragaço sanguíneo. Outro método é a imunofluorescência directa, que faz a mensuração dos anti-corpos anti-babésia. No entanto, existem muitos resultados falsos negativos. A visualização dos agentes etiológicos da erliquiose nos esfragaços sanguíneos exige mais experiência. A realização de testes sorológicos rápidos auxilia o diagnóstico. O tratamento destas doenças deverá ter o acompanhamento médico por forma a efectuar os fármacos apropriados. No entanto o mais importante é a prevenção, sendo o uso de desparasitação externa crucial. A aplicação deverá ser mensal para diminuir a probabilidade de contacto com as carraças. Catarina Maia ________________________________________________________________________________ Hospital Veterinário Montenegro R. Pereira Reis, 191 – Porto www.hospvetmontenegro.com Edição nº 5 Ano 2008 Parasitas Externos Cuidados a ter As pulgas e carraças são os parasitas externos com maior importância nos nossos animais de companhia. Para além da componente higiénica apresentam também um importante papel na transmissão de doenças para os animais assim como para os seus donos. As pulgas são parasitas hematófagos que causam constante incómodo e irritação nos cães e gatos. Através da injecção da saliva podem provocar alergias, causando dermatites normalmente localizadas na região ventral, na face interna das coxas e região lombar, com lesões cutâneas como eritema, formação de pústulas e lesões provocadas pelas mordeduras e arranhadelas dos próprios animais. São também transmissores de parasitas como o Dipylidium caninum, e em casos de sereva infestação podem levar a graves anemias. As carraças são também parasitas externos que se alimentam de sangue (hematófagos) que podem ser encontrados nos nossos animais de companhia. Procuram locais para se alojarem e introduzem o seu aparelho bucal na pele do animal e iniciam o processo de alimentação. Localizam-se preferencialmente na região da cabeça e pescoço, mas podem estar presentes por todo o corpo do animal. Causam lesões cutâneas no local da picada e alergia. Através da picada podem introduzir microrganismos na pele e causar infecções secundárias, assim como a introdução de toxinas paralisantes e transmissão de doenças. Uma infestação sereva pode causar debilidade por perda de sangue. As pulgas e as carraças preferem os animais como hospedeiros mas podem infestar o Homem transmitindo doenças como Dipilidíase (parasitose), Febre botonosa ou exantemática mediterrânea, Bartonelose, Febre bubónica, Tifus murino, Tungíase e Borreliose. Estes parasitas proliferam na natureza nos períodos de maior calor, quando as condições para o seu desenvolvimento atingem os valores ideais. Contudo com a presença dos nossos animais no nosso ambiente familiar, com uma temperatura, humidade e luz relativamente constantes pode favorecer o desenvolvimento destas parasitoses todo o ano. Desta forma é aconselhado efectuar a desparasitação externa de uma forma regular de modo a manter uma protecção constante dos nossos animais e das nossas casas contra as parasitoses. Existem várias apresentações de desparasitantes externos que podemos utilizar, dependendo da facilidade de aplicação e necessidades do animal. Podemos utilizar o spray para aplicações em aninais de exterior e amplamente parasitados, conseguindo assim uma cobertura completa e uma mais rápida morte dos parasitas. Apresenta como desvantagem a dificuldade na contenção do animal e de aplicação por todo o corpo do. A aplicação de pipetas é cómoda e rápida podendo ser utilizada facilmente em animais pouco parasitados visto que apresenta um tempo de difusão por todo o animal de 24-48 horas. As coleiras são bastante eficazes na prevenção de infestações de carraças e mosquitos, sendo a sua acção limitada no controlo das pulgas. Os banhos e os pós insecticidas podem ser utilizados em animais fortemente parasitados, visto que eliminam os parasitas presentes no animal, mas, pelo facto de não possuírem efeito residual, o risco de reinfestação é elevado Ana Cecília Cota ________________________________________________________________________________ Hospital Veterinário Montenegro R. Pereira Reis, 191 – Porto www.hospvetmontenegro.com