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Interbio v.2 n.1 2008 - ISSN 1981-3775
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ATIVIDADE ANTIMICROBIANA IN VITRO DAS RAÍZES DE DUAS ESPÉCIES DA
FAMÍLIA AMARANTHACEAE (Pfaffia glomerata e Gomphrena elegans)
ANTIMICROBIAL ACTIVITY “IN VITRO” ROOTS OF THE TWO SPECIES OF THE
AMARANTHACEAE FAMILY (Pfaffia glomerata e Gomphrena elegans)
SCHNEIDER, Juliana *1 ; NEVES, Marinez 1; EBERHARDT, Gláucia N.; MUSSURY,
Rosilda M. 2; MELO, Adriana M. M. F. de 1.
1
Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. Endereço eletrônico:
[email protected] Telefone: (67) 3411-4141* Rua Balbina de Matos, 2121, Dourados Mato Grosso do Sul - MS, CEP: 79.824-900
2
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Introdução
(MS).
As descobertas de substâncias ativas
em plantas medicinais impulsionaram uma
revolução científica e tecnológica na
pesquisa de novos fármacos, mesmo depois
do avanço dos fármacos sintéticos
(Korolkovas, 1996). Porém, talvez pela
influência de fatores econômicos, sociais e
culturais tem-se verificado um aumento na
demanda mundial do uso de plantas e
preparações de origem vegetal como recurso
terapêutico (Calixto, 2001). A família
Amaranthaceae
compreende
aproximadamente 65 gêneros e 1000
espécies, dentre as quais se destacam os
gêneros Pfaffia Mart. com aproximadamente
100 espécies e Gomphrena Mart. com
aproximadamente 120 espécies (Salvador et
al., 2004). Desde 1982, Barros (1982) já
citava a utilização das raízes de G.
arborescens, no Distrito Federal, no
combate à febre, asma e bronquite. De
acordo com Siqueira (1992) o uso das raízes
de Gomphrena é empregada em infecções
das vias respiratórias, especialmente para as
espécies G. arborescens L.f, G. globosa L.,
G. leucocephala Mart., G. mollis Mart., G.
vaga Mart. e G. pohlii Moq. Já Pomilio et
al. (1992) tem estudado a atividade
antimicrobiana de G. martiana e G.
boliviana e, mais recentemente, MOURA et
al. (2004) pesquisaram a mesma propriedade
em G. celosioide proveniente de Paranaíba
Gomphrena elegans é abundante no
Estado do Mato Grosso do Sul,
principalmente no município de Bonito, nas
margens e o leito do rio Sucuri (Pott; Poot,
2000), e merece destaque pela escassez de
estudos que investiguem suas atividades
biológicas. Já Pfaffia Mart. trata-se de um
gênero que tem recebido destaque pelas
propriedades medicinais de algumas das
suas 20 espécies distribuídas em todo o
território brasileiro. A espécie Pfaffia
glomerata (Spreng.) Pedersen, também
conhecida por “Ginseng brasileiro”, tem
sido utilizada pela medicina popular devido
sua ação na regeneração celular, purificação
do sangue, inibição de células cancerígenas,
regulação das funções hormonais e,
principalmente, por apresentar ação em
funções
sexuais,
sendo
o
poder
bioenergético um dos seus usos mais
conhecidos.
Diante das potenciais atividades
dessas duas espécies vegetais, o objetivo
principal desta pesquisa foi investigar
propriedades antimicrobianas dos extratos
(aquoso e hidroalcoólicos) das raízes de
Pfaffia glomerata e Gomphrena elegans
frente às bactérias Staphylococcus aureus,
Streptococcus pyogenes, Escherichia coli e
Pseudomonas aeruginosa, e especificamente
para P. glomerata comparar esta
propriedade em dois momentos de coleta da
planta.
SCHNEIDER, J. et al.
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Materiais e Métodos
As raízes de Pfaffia glomerata e
Gomphrena elegans foram coletadas no
horto do Centro Universitário da Grande
Dourados (UNIGRAN), Dourados, Mato
Grosso do sul (Brasil), em dezembro de
2006. Para Pfaffia glomerata outra coleta foi
realizada em maio de 2007. As espécies
foram identificadas pelo Prof. Dr. Josafá
Carlos
de
Siqueira
da
Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro por
meio de exsicatas que se encontram
depositadas no Herbário da Cidade
Universitária de Dourados na Universidade
Federal da Grande Dourados (DDMS) sob
número 192 (P. glomerata) e 2187 (G.
elegans). Após a retirada do excesso de
terra, as raízes foram lavadas e divididas em
pedaços menores para serem levadas para a
estufa de secagem (2 dias). O material
vegetal foi triturado com o auxílio de um
liquidificador industrial com intervalos de
tempos, de modo a não promover um
superaquecimento. A extração foi realizada
em forma de decocção (extrato aquoso) e
por maceração com etanol (extrato
hidroalcoólico), de acordo com os
procedimentos
preconizados
pela
Farmacopéia Brasileira (1988) e por Simões
et al. (2004).
Para
o
preparo
do
extrato
hidroalcoólico de P. glomerata utilizou-se
20 g da droga vegetal e 100 mL de álcool
80% e para G. elegans 20 g da droga vegetal
e 100 mL de álcool 50%. Em seguida a
solução foi colocada em um frasco revestido
por papel alumínio, permanecendo em
repouso ao abrigo do calor e da luz por sete
dias, sendo agitada a cada dois dias (Simões
et al., 2004).
Posteriormente, ambos os extratos
foram esterilizados a partir da filtração em
filtro Milipore®, com membranas de acetato
de celulose com porosidade de 0,2 e 0, 8 µ m
e 47 mm de diâmetro. Os extratos foram
acondicionados em frasco âmbar estéril,
com capacidade de 100 mL e armazenados
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em local fresco e protegido da luz,
devidamente identificados.
Anteriormente aos testes de atividade
biológica,
as
cepas
bacterianas
Staphylococcus aureus (ATCC 25929),
Streptococcus pyogenes (ATCC 25922),
Escherichia coli (ATCC 19615) e
Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853)
foram reativadas segundo orientação do
fabricante (Newprov®) e padronizadas com
o auxílio do cartão de Wickman para
alcançar o padrão 0,5 da escala de Mac
Farland (1 x 108 UFC/mL).
Para a realização da técnica de difusão
em disco (Andrade et al., 2005) o inóculo
bacteriano foi semeado na placa de ágar
Mueller Hinton (4 mm de profundidade)
com auxílio de um Swab estéril e após
alguns minutos os discos de papel filtro (6
mm) embebidos com 20 µl das substâncias
testes, controle negativo e positivo foram
acrescidos
(antibiótico
comercial
penicilina 10 U.I.; ciprofloxacina 5 µg;
gentamicina 10µg). Após a impregnação, as
placas foram armazenadas em estufa com
temperatura de 35 – 37ºC, por 24h. A
primeira leitura dos halos de inibição do
crescimento bacteriano foi realizada com 24
horas com auxilio de régua, sendo
confirmada a leitura com 48 horas.
Resultados e Discussão
O extrato hidroalcoólico de Pfaffia
glomerata (Spreng.) Pedersen apresentou
atividade
antimicrobiana
frente
aos
microorganismos nas duas épocas de coleta
(dez/2006 e maio/2007) frente a E. coli e P.
aeruginosa, enquanto apenas o extrato
preparado com a planta da primeira coleta
(dez/2006) foi capaz de inibir os
microorganismos Gram-positivos.
Desta forma, a época de colheita de P.
glomerata mostrou interferir na produção de
princípios fitoquímicos. Segundo Vigo et al.
(2004) a interferência na produção dos
metabólitos secundários é mais proeminente
quando se trata de raízes.
O extrato aquoso de Pfaffia glomerata
não apresentou halo de inibição tanto frente
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às bactérias Gram-positivas (S.aureus e S.
pyogenes) quanto às Gram-negativas (E.
coli, P. aeruginosa). Entretanto, isso não
invalida pesquisas futuras, visto que não
foram esgotadas diferentes concentrações do
extrato, o que pode explicar a inexistência
dos halos de inibição, bem como a
realização de testes quantitativos, como a
determinação da concentração inibitória
mínima (CIM).
Em Gomphrena elegans Mart. tanto o
extrato hidroalcoólico quanto o extrato
aquoso,
não
apresentaram atividade
antimicrobiana frente os microorganismos
testados. Acredita-se, portanto, que mesmo
com halos discretos seja interessante à
continuidade de pesquisas mais detalhadas
para esta propriedade, pois se testou apenas
uma concentração dos respectivos extratos.
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FARMACOPÉIA Brasileira. São Paulo:
Atheneu, 1988.
KOROLKOVAS A. A riqueza potencial de
nossa flora. Rev Bras Farmacogn, v. 1, p.
1-7, 1996.
MOURA R.M.X. et al. Antimicrobial
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celosioides by TLC-Densitometry. Chem
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v. 36, p.155-161, 1992
POTT VJ, POTT A. Plantas aquáticas do
pantanal. Brasília: Embrapa, 2000.
Considerações Finais
O extrato hidroalcoólico das raízes
Pfaffia glomerata, coletadas em dez/2006,
apresentou
atividade
antimicrobiana
pronunciada para todas as bactérias testadas
pela técnica de disco-difusão frente à
Staphylococcus
aureus,
Streptococcus
pyogenes, Escherichia coli e Pseudomonas
aeruginosa, enquanto o extrato obtido da
segunda coleta (maio/2007) foi ativa apenas
frente à Staphylococcus aureus e
Streptococcus pyogenes.
Novos testes que determinem à
concentração inibitória mínima (CIM) dos
extratos devem ser realizados.
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usos e tradições em Brasília. Brasília:
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CALIXTO,
J.B.
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SCHNEIDER, J. et al.
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