ASSOCIAÇÃO ENTRE CASOS DE CÂNCER DE COLO UTERINO

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ASSOCIAÇÃO ENTRE CASOS DE CÂNCER DE COLO UTERINO EM CIDADES
COM DIFERENTES IDH NO PERÍODO DE 2009-2012
Jéssica Guimarães Gomes1, Jéssica Neri Brito1, Edilson Ribeiro Alves Filho2
1
Graduanda do Curso de Biomedicina. Faculdade Guanambi – FG. Guanambi – BA. E-mail:
[email protected]
2
Biomédico. Mestre em Genética e Biologia Molecular. Docente Faculdade Guanambi – FG/CESG.
RESUMO: O câncer do colo do útero (CCU) está em terceiro lugar como o mais incidente na
população feminina brasileira, sendo responsável em 2010 pelo óbito de 4.986 mulheres,
apresentando uma estimativa de 17.540 novos casos em 2012/2013. Alguns fatores indiretos
estão relacionados à incidência de CCU, como escolaridade, assistência médica, renda,
expectativa de vida, entre outros. Esses pontos são identificados pelo IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano. Assim, o presente artigo tem como objetivo correlacionar o
número de casos de CCU e o IDH de três municípios brasileiros: São Caetano do Sul (SP) que
possui o maior IDH, Itupiranga (PA) que possui o menor IDH e o município de
Guanambi/BA, intermediário entre ele,a fim de investigar de que forma o IDH pode interferir
na incidência de CCU nos três municípios. Para o estudo, foram utilizados dados obtidos no
Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISColo). Assim, a pesquisa verificou
que o IDH tem uma possívelrelação com a incidência de câncer na população estudada, pois
quanto menor o IDH, maior foi a quantidade de casos positivos. Entretanto, quanto à procura
para realização do exame preventivo,o IDH parece não ter relação, visto que nas três cidades
estudas, houve grande variação de um ano para outro. Políticas voltadas para a saúde da
mulher é de fundamental importância a diminuição de doenças de grande mortalidade como o
CCU. Entretanto, para isso é preciso a melhoria dos serviços de atenção básica, escolaridade e
distribuição de renda, o que reflete no índice de desenvolvimento humano (IDH).
Palavras-Chave: Desenvolvimento Humano. Guanambi. Neoplasia. SISColo.
ASSOCIATION BETWEEN CERVICAL CANCER CASES IN CITIES WITH
DIFFERENT HDI IN THE PERIOD 2009-2012
ABSTRACT: Cervical Cancer (CC) is in third place as the most frequent among women in
Brazil, and is responsible, in 2010, for the death of 4,986 women per year, with an estimated
17,540 new cases in 2012/2013. Some indirect factors are related to the incidence of CC, such
as education, medical care, income, life expectancy, among others.These points are identified
by the HDI - Human Development Index.Thus, this article aims to correlate the number of CC
cases and the HaDI than three municipalities: Sao Caetano do Sul (SP) that has the highest
HDI, Itupiranga (PA) that has the lowest HDI andGuanambi (BA), midway between them, in
order to investigate how the HDI can interfere in the CC incidence in the three
municipalities.Used data was obtained from the Information System of Cervical Cancer
(SISColo) for the study.Thus, the research verified that the HDI has a possible relation to
cancer incidence in the population studied, because the lower the HDI, the greater the positive
cases amount. However, regarding the demand for the preventive test, the HDI does not seem
2
to be related, as in the three cities studied, there was great variation from one year to another.
Policies for women’s health are of fundamental importance to decrease the high mortality
diseases such as CC.Though, this requires the improvement of basic health care services,
education and income distribution, which reflects the Human Development Index (HDI).
Key words: Guanambi. Human Development. Neoplasia. SISColo.
INTRODUÇÃO
O câncer do colo do útero (CCU), ou câncer cérvico-uterino, está em segundo lugar
como o mais incidente na população feminina brasileira, sendo responsável em 2010 pelo
óbito de 4.986 mulheres, apresentando uma estimativa de 17.540 novos casos em 2012/2013.
A incidência de CCU no Brasil corresponde a 0,009% da população feminina. A região Norte
esta classificada em primeiro lugar com a maior incidência, apresentando (24 casos/100.000),
o Nordeste com (19 casos/100.000) ocupa a segunda posição mais frequente e a região
Sudeste está com quarto lugar obtendo (10 casos/100.000) (INSTITUTO NACIONAL DE
CÂNCER - INCA, 2012).
No Brasil, a estratégia de rastreamento recomendada pelo Ministério da Saúde é o
exame citopatológico prioritariamente em mulheres de 25 a 64 anos (INCA, 2013). Segundo
Cruz & Loureiro (2008), as campanhas de prevenção ao câncer cérvico-uterino ministradas
pelo Ministério da Saúde ainda não conseguiram uma adesão significativa, acredita-se que
poderá haver maior contribuição para o envolvimento das mulheres nas campanhas, se fossem
focalizados temas que abordam o CCU.
O CCU é uma afecção progressiva que surge através das transformações intraepiteliais que podem evoluir para um processo invasor num período de 10 a 20 anos
(MOURA et al., 2010), podendo surgir a partir de uma lesão intra-epitelial escamosa de baixo
grau (LIEBG), até a lesão intra-epitelial escamosa de alto grau (LIEAG). A principal alteração
que pode levar ao CCU é a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), que é considerada
uma condição necessária para desenvolvimento do câncer de colo do útero. Assim, cofatores
que acrescentam à infecção viral, são: fatores comportamentais, fatores relacionados ao
hospedeiro, como idade, resposta imune, predisposição genética e fatores relacionados ao
vírus, como tipo, variante e carga viral (FERRAZ et al., 2012).
Além disso, alguns fatores indiretos estão relacionados à incidência de CCU, como
escolaridade, assistência médica, renda, expectativa de vida, entre outros. Esses pontos são
identificados pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. Assim, a utilização deste
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índice em correlação com número de casos de CCU pode indicar municípios, estados e/ou
países que estão sujeitos a uma maior ou menor incidência desta doença. Visto que quanto
mais baixo for o nível de educação e de assistência médica, menor será a procura da
população por ações preventivas de doenças (CONASS, 2007).
Assim, o presente artigo tem como objetivo correlacionar o número de casos de CCU
e o IDH de três municípios brasileiros: o que possui o melhor IDH, o que possui o menor IDH
e o município de Guanambi/BA, a fim de investigar de que forma o IDH pode interferir na
incidência de CCU nos três municípios.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo de abordagem retrospectiva, quantitativa e explicativa. A
partir de pesquisa realizada no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
foram obtidas informações sobre as cidades com maior e menor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) do Brasil, sendo elas São Caetano do Sul (SP) e Itupiranga (PA),
respectivamente. Além disso, para fins de comparação, obteve-se o IDH de Guanambi (BA).
A coleta de dados sobre a incidência dos casos de câncer de colo uterino das cidades
selecionadas anteriormente, foram obtidas a partir do Sistema de Informação do Câncer do
Colo do Útero (SISColo) do Ministério da Saúde. No programa do SISColo, os dados foram
coletados a partir de pesquisa online, tendo como critério todas as mulheres que realizaram o
exame preventivo e que foram notificadas no programa no período de janeiro a dezembro de
2009 a 2012.
Foram coletados dados de todas as pacientes acima de 12 anos notificadas no site no
período descrito, perfazendo então um total por cidade de 1.285 mulheres em Itupiranga (PA),
9.319 em Guanambi (BA) e 14.735 em São Caetano do Sul (SP).
As idades categorizaram-se em faixas etárias pré-estabelecidas pelo Ministério da
Saúde e apresentadas no site, ordenadas da seguinte forma: 12 a 14; 15 a 19; 20 a 24; 25 a 29;
30 a 34; 35 a 39; 40 a 44; 45 a 49; 50 a 54; 55 a 59; 60 a 64 e acima de 64 anos.
A partir dos resultados foram construídos dados e tabelas utilizando o programa
Excel 2007 da Microsoft®, versão para Windows 7.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o IDH
varia de 0 a 1, e quanto mais próxima de 1 melhor o IDH. O índice se baseia na expectativa de
vida da população, refletindo nas condições de saúde, educação e renda. A cidade que
apresenta maior IDH, no Brasil, é São Caetano do Sul, com 0,862 pontos, localizada no
Estado de São Paulo. Itupiranga, no Pará, apresenta o pior IDH, com 0,528 pontos e
Guanambi, município baiano, apresenta 0,701 pontos (IBGE, 2013).
É importante salientar que no Brasil, a cidade que apresenta o pior IDH é Melgaço,
no Arquipélago de Marajó, no interior do Pará, com 0,418 pontos. Entretanto, não existem
informações sobre este município no SISColo, inviabilizando assim o uso desta cidade para
comparação dos dados de incidência de câncer de colo do útero com o IDH. Desta forma,
buscou-se a cidade brasileira que apresentava o menor IDH e que tivesse informações no
sistema.
O IDH, indicador ordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU), é usado
para medir a qualidade de vida das pessoas em várias regiões do mundo. Neste índice, a saúde
é avaliada pela expectativa de vida ao nascer dentre outros fatores. A educação é verificada
pela taxa de matrícula combinada com a taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou
mais e a renda é avaliada pelo PIB real per capita. Desta forma, analisando apenas o IDH, o
município de Itupiranga deve apresentar graves problemas de saúde pública e altas taxas de
analfabetismo. Em contrapartida, São Caetano do Sul, deve apresentar melhor acesso aos
serviços de saúde e um maior índice de escolaridade da população. Já o município de
Guanambi, que apresenta IDH entre as duas cidades, deve possuir assim taxas que avaliam a
saúde e a educação melhor que Itupiranga e inferiores a São Caetano do Sul.
Em relação ao número de exames realizados e de casos confirmados para lesão intraepitelial escamosa de alto grau (LIEAG) durante os quatros anos do estudo, foi possível
perceber que na cidade de Itupiranga há uma quantidade pequena de exames realizados, 1.285
exames em uma população de 18.432 mulheres em idade para realização do exame preventivo
(25 a 64 anos). Durante o período, foram encontrados 4 casos de CCU para este município.
Guanambi apresentou 20 casos de CCU no mesmo período. A cidade conta com uma
população de 34.757 mulheres na mesma idade e teve 9.319 exames realizados. No município
de São Caetano do Sul, onde a população feminina na referida faixa etária, é de 73.424 e a
realização de exames foi de 14.735, foram contabilizados 13 casos. Quando os dados foram
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comparados entre as três cidades, Itupiranga apresentou a maior incidência de casos, seguida
por Guanambi e São Caetano do Sul (Figura 1).
Figura 1-Comparativo de Diagnósticos Positivos para Câncer de Colo entre (2009 e 2012)
60%
50%
51%
40%
35%
30%
20%
14%
10%
0%
ITUPIRANGA
GUANAMBI
SÃO CAETANO DO SUL
Fonte: SISColo, 2013.
Segundo os dados de incidência de casos de CCU apresentados pelo INCA (2012),
0,38% da população baiana deveria ter adquirido a doença. Extrapolando este dado para
Guanambi, observa-se que, segundo os dados obtidos pelo SISColo, apenas 0,057% da
população feminina foram acometidas pelo CCU. No Estado de São Paulo, a incidência
deveria ser de 0,28%. Entretanto, apenas 0,016% da população de São Caetano do Sul teve a
doença. Já no Pará, que deveria possuir 0,38% de incidência, apresentou 0,021% para a
população de Itupiranga. Os dados demonstram que os resultados encontrados estão muito
aquém dos esperados. Segundo Zurita & Formaio (2012), o SISColo parece não fornecer os
dados de forma fidedigna, o mesmo parece acontecer para os municípios estudados.
Segundo Menezes et al. (2007), os tumores relacionados aos adultos jovens, como,
por exemplo, os cânceres de boca, de pênis e de colo uterino são mais encontrados em áreas
menos desenvolvidas e de baixas condições socioeconômicas e culturais. O INCA (2013)
reafirma isso, informando que as causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou
internas ao organismo, estando inter-relacionados fatores sociais, ambientais e hábitos de
vida, baixas condições socioeconômicas, poucos hábitos de higiene, dentre outros fatores.
Desta forma, os resultados mostram que pode haver, de fato, uma associação entre a
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incidência de casos de CCU e o IDH nos três municípios, pois Itupiranga apresentou o pior
IDH e o maior índice de CCU, já São Caetano do Sul, que apresenta o maior IDH, obteve o
menor índice de casos de CCU, estando Guanambi em uma posição mediana em relação às
duas cidades.
De acordo com estudos realizados por Corrêa et al. (2012), na região Norte do Brasil
é constatada a situação mais desafiadora em relação ao controle do CCU, na qual a
mortalidade por essa neoplasia é duas vezes maior que na Região Sudeste, e a incidência é
quase o dobro, demonstrando que a desigualdade social entre essas duas regiões devem estar
associada às diferenças de distribuição da doença.
A realização do exame preventivo de Papanicolaou é de fundamental importância
para a prevenção de casos de CCU, como preconiza o Ministério da Saúde. Durante o estudo,
observou-se que o número de mulheres que realizaram o exame anualmente apresentou uma
variação razoável. Na cidade de Guanambi, entre 2010 e 2011 houve a maior variação dentre
os quatro anos. Em São Caetano do Sul, houve um grande aumento do número de casos
também de 2010 para 2011 e uma queda deste ano para 2012. Em Itupiranga, de 2009 para
2010 houve um aumento de mais de 890% na realização de exames. Entretanto, o número de
realização de exames de 2011 para 2012 caiu quase 70% (Tabela 1).
Tabela 1 - Tabela com a quantidade de Exames Citopatológico Cérvico-Vaginal e
Microflora realizada no período de (2009-2012)
ANO
LOCALIDADE
ITUPIRANGA
GUANAMBI
SÃO CAETANO DO SUL
ATIVIDADE
2009
2010
2011
2012
Número de exames
46
410
640
189
Número de casos
01
01
02
--
Número de exames
2.221
1.864
2.808
2.426
Número de casos
05
07
05
03
Número de exames
2.799
3.639
5.066
3.231
Número de casos
03
04
02
03
Fonte: SISColo, 2013.
De acordo pesquisa realizada por Zurita & Formaio (2012), na cidade de Maringá
(PR), em 2010 ocorreu uma diminuição dos exames realizados, apesar do aumento da
população. Durante seus estudos, os autores concluíram que deve ter ocorrido uma das
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seguintes situações: nenhuma meta de campanha informativa foi alcançada ou o sistema de
informação no SISColo não foi fidedigno com o número de casos apresentados. Esta
associação pode ser aplicada também às cidades estudas, pois averacidade dos dados
fornecidos ao sistema SISColo acarreta resultados que geram dúvidas.
Segundo Freitas et al. (2012), no estado do Mato Grosso do Sul, quando foi realizada
uma campanha em 1998 houve uma participação de 100% de seus municípios, atingindo uma
meta de 81,45%, enquanto o Brasil registrava 55,73%, outra manifestação realizada em 2002
também obteve um índice acima do total registrado no país. Desta forma, os dados referentes
aos três municípios podem estar relacionados a campanhas realizadas ou não durante os
períodos analisados.
A realização do preventivo do câncer de colo através do Papanicolaou é de
fundamental importância para um diagnóstico seguro de CCU. Neste quesito, o IDH das
cidades parece não estar diretamente envolvido na taxa de realização do exame. De fato,
Itupiranga, que possui o menor IDH apresentou também, a menor taxa de realização do
preventivo. Entretanto, São Caetano do Sul, que tem o melhor IDH, não apresenta a maior
taxa de realização de preventivos, quando comparada com as três cidades estudas. Guanambi
é o município que se destaca com a maior taxa de realização de exames entre as cidades
pesquisadas (Figura 2).
Figura 2 - Taxa de Realização de Exames de Papanicolau entre (2009 – 2012)
13%
GUANAMBI
50%
37%
SÃO CAETANO DO SUL
ITUPIRANGA
Fonte: SISColo, 2013.
8
Apesar de Guanambi apresentar IDH intermediário entre as outras cidades estudadas,
seu destaque em relação à realização de exames pode ser justificado devido o fato de que o
Nordeste está em segundo lugar como a região mais frequente de acometimentos de casos de
câncer de colo uterino, levando a uma alta quantidade de exames e campanhas (INCA, 2012).
Parada et al. (2008), abordam que a atenção primária à saúde tem responsabilidade
quanto a ações de promoção, prevenção, detecção precoce e cuidados paliativos em todos os
níveis de prevenção da história natural da doença, que envolve a disponibilização de
informações à população sobre os fatores de risco para o câncer e de estratégias para diminuir
a exposição aos mesmos. Esta prevenção transcorre todos os níveis de atenção à saúde, mas é
na atenção primária que se torna possível um alcance maior das ações, em função de sua
abordagem mais próxima da comunidade. A partir dessa preparação e conhecimento amplo,
pode se acompanhar um resultado mais satisfatório dessas ações.
A Promoção da Saúde pode ser entendida como uma forma permanente de
transformação na vida dos indivíduos, através de mudanças na maneira de articular e utilizar
os conhecimentos na construção de práticas que visem estender o bem-estar, individualmente
ou de forma coletiva, e sem se fixar a uma patologia específica. O usuário do serviço passa a
incorporar os conceitos e ações de saúde em sua vida, adequando os seus hábitos diários e em
co-responsabilidade aos profissionais do setor de saúde. Com isso, ao invés de realizar ações
específicas de prevenção de uma única patologia, o indivíduo é conduzido à reflexão de sua
rotina diária, colaborando para adoção de hábitos que levariam a melhoria de suas condições
de vida e do meio que o cerca (CZERESNIA, 2003).
As ações de prevenção primária podem ser divididas em inespecíficas e específicas,
são consideradas inespecíficas para o câncer do colo uterino o envolvimento de situações de
risco presentes em diversas outras neoplasias e, por isso, são de extrema relevância para a
prática em saúde pública. Dentre elas se destacam as ações para o controle do tabagismo,
dietas hipolipídicas, uso racional de medicamentos, proteção da exposição a agentes
carcinogênicos e agentes infecciosos e parasitários. Já as ações de prevenção específica são
aquelas que visam intervir diretamente nos fatores de risco envolvidos em determinada
doença, neste caso o CCU (FIGUEIREDO, 2005).
Quando se compara a taxa de realização de exames e a incidência de CCU nos três
municípios, pode-se observar que Guanambi apresenta 0,21% de casos positivosdentre os
exames realizados, São Caetano do Sul 0,08% dos exames preventivos são positivos e
Itupiranga apresenta 0,31% de casos (Figura 3). Desta forma, mais uma vez parece haver
associação entre o IDH e a incidência do câncer de colo nas cidades estudadas. Itupiranga que
9
apresenta o menor IDH possuiu a maior taxa de incidência de câncer, enquanto São Caetano
do Sul, a menor taxa possuindo o maior IDH.
De acordo Uchimura et al. (2009), o Programa Viva Mulher - Programa Nacional de
Controle do Câncer de Colo do Útero e de Mama, lançado em 1997 pelo Ministério da Saúde
antevê dentre outras coisas, a prevenção, detecção precoce e tratamento das lesões precursoras
do câncer de colo, neste sentido, o exame preventivo é priorizado para a faixa etária de 25 a
59 anos com periodicidade preconizada para um exame a cada três anos, após dois exames
normais consecutivos com intervalo de um ano, o que justifica essa diferença no resultado dos
exames realizados.
Figura 3- Incidência de Lesão Intra-Epitelial Escamosa de Alto Grau entre (2009 e 2012)
0,35%
0,30%
0,31%
0,25%
0,21%
0,20%
0,15%
0,10%
0,08%
0,05%
0,00%
ITUPIRANGA
GUANAMBI
SÃO CAETANO DO SUL
Fonte: SISColo, 2013.
Como o exame de Papanicolaou é um diagnóstico preventivo, é importante avaliar ao
longo do tempo, a prevalência da idade com casos positivos, para que medidas em saúde
pública sejam tomadas antecipadamente. Em Guanambi, a incidência de casos positivos para
CCU, acometeu a faixa etária de 35 a 39 anos. Já em São Caetano do Sul, acometeu mulheres
maiores que 64 anos e por fim, em Itupiranga prevaleceua faixa etária de 50 a 54 anos (Tabela
2).
A Organização Mundial de Saúde – OMS (2013) preconiza que a população alvo
para realização do preventivo seja mulheres com idade entre 30 e 39 anos. Já o Programa
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Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e Mama do Ministério da Saúde
(BRASIL,2013), determina que seja entre 25 a 59 anos.
Excetuando-se São Caetano do Sul, as duas outras cidades apresentam um maior
diagnóstico de positividade dentro da faixa esperada para diagnóstico do CCU pelo Programa
Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e Mama do Ministério da Saúde (BRASIL,
2013). A incidência do CCU manifesta-se a partir da faixa etária de 20 a 29 anos, aumentando
seu risco rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos. Uma das explicações mais
prováveis para as altas taxas de incidência em países em desenvolvimento seria a inexistência
ou a pouca eficiência dos programas de rastreamento. Esse tumor é o que apresenta maior
potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente (INCA, 2012). Desta
forma, o IDH parece não ter relação com a incidência por faixa etária. Visto que, São Caetano
do Sul, que apresenta o melhor IDH, possui maior quantidade de casos na faixa acima dos 64
anos indo de encontro à idade preconizada pelo INCA (2012).
Somado a isso, o término da idade fértil parece resultar numa redução no
cumprimento de consultas ginecológicas, levando ao afastamento das práticas de prevenção
em um período do ciclo de vida quando a incidência e gravidade das neoplasias são mais
elevadas. Entretanto, essa população adere a outros serviços de saúde que poderiam ser
aproveitados para a condução da realização do Papanicolaou sob uma visão de integralidade
da assistência (BORGES, 2012).
Tabela 2 – Tabela de casos de CCU e faixa etária acometida entre (2009 e 2012)
ANO
2009
GUANAMBI
SÃO CAETANO DO SUL
ITUPIRANGA
Nº
de
Faixa Etária
Casos
Nº de Casos
Faixa Etária
Nº
de
Faixa Etária
Casos
1
35 a 39
1
45 a 49
1
50 a 54
3
40 a 44
2
> 64
-
-
1
45 a 49
-
-
-
-
1
20 a 24
1
25 a 29
1
50 a 54
1
25 a 29
1
50 a 54
-
-
2
30 a 34
1
55 a 59
-
-
1
35 a 39
1
60 a 64
-
-
1
55 a 59
-
-
-
-
1
60 a 64
-
-
-
-
2010
11
2011
2012
1
25 a 29
1
45 a 49
1
30 a 34
1
35 a 39
1
> 64
1
50 a 54
3
> 64
-
-
-
-
1
15 a 19
1
40 a 44
-
-
1
20 a 24
1
55 a 59
-
-
1
35 a 39
1
> 64
-
-
Fonte: SISColo, 2013.
De acordo Moura et al. (2010), os maiores problemas observados nas jovens está
relacionado à procura para realização do exame de Papanicolaou apenas alguns anos depois
de iniciada a vida sexual, e após uma variada troca de parceiros, tornando essa procura tardia.
Já em mulheres acima de 40 anos, observa-se que a procura decresce com a idade, isto é,
quanto maior a idade, menor a procura para realização dos exames, fazendo com que essas
pacientes tornem-se um grupo de risco para esse tipo de câncer. Os resultados encontrados
não são conclusivos para estabelecer o mesmo raciocínio do autor citado.
O diagnóstico positivo em uma faixa etária avançada para São Caetano do Sul pode
ser justificada pelo autor ou pode-se sugerir que, por o município apresentar um alto IDH, o
que sugere melhor acesso às políticas de saúde públicas, os casos de CCU são diagnosticados
preventivamente, em um estágio inicial da doença, tendo uma baixa incidência na faixa etária
mais comum para este tipo de doença (35 a 39 anos).
Em Guanambi, cidade que tem IDH médio entre as outras duas pesquisadas, a
incidência acomete a faixa prevalente no Brasil. Já em Itupiranga, a maior incidência de casos
em uma faixa etária mais avançada, pode ser justificada pelos estudos de Santos et al. (2004)
revelando que o baixo índice de escolaridade das mulheres torna-se um fator impeditivo para
um melhor desenvolvimento das ações de saúde, devido a má compreensão dessas
orientações, limitando o desenvolvimento das ações de saúde da equipe. Fator este, que é
avaliado no IDH e que interfere indiretamente no acometimento do câncer. Ainda segundo o
autor, sem escolaridade, não se tem um entendimento de que se devem fazer exames
rotineiramente e dos problemas que uma alteração anormal pode resultar, assim não se tem
uma procura por uma vida saudável, associadas com a não evolução da doença ou tratamentos
precoces.
Segundo Derossi et al (2001), O câncer cérvico-uterino é uma doença de evolução
gradativa, que se inicia com alterações neoplásicas intra-epiteliais, as quais podem evoluir
para um processo invasivo em um período médio de 10 a 20 anos. Como possui etapas bem
12
definidas e evolução lenta, permite a interrupção do seu curso a partir de um diagnóstico
precoce e tratamento oportuno. Sendo assim, a forma mais eficaz de controlar esse tipo de
tumor é diagnosticar e tratar as lesões precursoras (neoplasias intra-epiteliais), e as lesões
tumorais invasoras em seus estágios iniciais, quando a cura é possível em praticamente 100%
dos casos. Desta forma, políticas públicas devem ser realizadas para que a população tenha
acesso a um diagnóstico rápido, seguro e precoce.
De acordo Pinho et al. (2003), a razão para a permanência da situação de
morbimortalidade por câncer do colo do útero está, provavelmente, na ineficiência dos
programas de rastreamento em alcançar as mulheres de risco para a patologia, aquelas que
nunca realizaram o exame ou realizaram há mais de cinco anos, e de garantir um seguimento e
tratamento adequado aos casos detectados. O êxito dos programas de prevenção depende da
reorganização da assistência clínico-ginecológica, da capacitação dos profissionais de saúde,
da continuidade e qualidade das ações de prevenção e do estabelecimento de intervenções
mais humanizadas que respeitem as diferenças culturais entre as mulheres e sejam focalizadas
em eliminar as barreiras no acesso e utilização dos serviços preventivos.
A partir disso, o IDH é de extrema importância, pois seu cálculo aborda questões de
saúde em uma contextualização complexa, influenciando na incidência de diversas doenças,
dentre elas o câncer de colo uterino.
CONCLUSÕES
A partir da análise dos dados é possível sugerir que o SISColo não vem sendo
fidedigno, o que torna os dados obtidos pouco confiáveis. Entretanto, a partir dos dados
pesquisados, pode-se indicar que o IDH se relaciona de alguma forma com a incidência de
câncer de colo uterino, pois quanto menor o IDH, maior a incidência da doença. É importante
observar ainda que a idade com maior incidência do câncer nas três cidades variou e isto não
parece estar relacionado diretamente com o IDH.
Apesar da disponibilidade dos exames de prevenção do câncer cérvico uterino na
atenção básica serem previstos pelo Ministério da Saúde, a realização do preventivo nas três
cidades não apresentam uma uniformidade durante os quatro anos estudados. Desta forma,
políticas voltadas para a saúde da mulher é de fundamental importância para a diminuição de
doenças de grande mortalidade como o CCU. Entretanto, para isso é preciso a melhoria dos
serviços de atenção básica, escolaridade e distribuição de renda, o que reflete no índice de
desenvolvimento humano (IDH).
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