VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Perspectivas para pensar o álbum conceitual no cenário musical contemporâneo Lucas Waltenberg1 Resumo O objetivo deste trabalho é discutir a definição de álbum conceitual a partir de alguns casos coletados em críticas musicais e em trabalhos acadêmicos. Em nossa análise, entendemos que esse formato reflete estratégias de agregação de valor e de legitimação cultural, a partir do que é entendido e classificado como “música de entretenimento” e “música séria”. Percebemos também que o álbum conceitual é articulado em três eixos: a ideia de uma história amarrando as canções para contextualizar a obra, a sua construção sonora e os aspectos materiais da música. Palavras-chave álbum conceitual; formatos fonográficos; materialidade “Faltam cinco anos para o fim do mundo. Foi anunciado que o mundo acabará por falta de recursos naturais. Ziggy está em uma posição onde todos os garotos têm acesso a coisas que eles achavam que queriam. As pessoas mais velhas perderam toda a conexão com a realidade e os garotos estão sozinhos, prontos para saquear qualquer coisa. Ziggy tocava em uma banda de rock-and-roll, mas os garotos não querem mais rock-and-roll. Não há eletricidade para tocá-lo. O conselheiro de Ziggy fala para ele 1 Possui graduação em Estudos de Midia pela Universidade Federal Fluminense (2008) e é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), com a pesquisa "Cultura da música na era digital: Pato Fu e a reconfiguração da indústria fonográfica em tempos de participação". Atualmente, é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde desenvolve a pesquisa "Álbum de música 2.0: remediações e a reconfiguração da indústria fonográfica". Participa também do grupo de pesquisa LabCULT, coordenado pela Prof. Dra. Simone Pereira de Sá. www.conecorio.org 1 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. reunir notícias e cantá-las, porque não há mais novidades. Então, Ziggy faz isso e encontra notícias terríveis.”2 – David Bowie 6 de junho de 1972. David Bowie lançava no Reino Unido The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars. O disco estreou no 19º lugar da parada de sucessos, onde ficou por volta de dois anos, oscilando entre várias posições. Com quatro discos solo já gravados, este álbum catapultou a carreira do músico. Acompanhado dos Spiders From Mars, David Bowie incorporou o extra-terrestre roqueiro Ziggy Stardust no disco e nos shows para cantar sobre o fim do mundo, problematizar a cultura pop e trazer mensagens de esperança. Marc Spitz (2010), um dos muitos biógrafos do cantor, diz que o nome do personagem pode ser uma referência direta a Iggy Pop. Já o sobrenome remonta ao Legendary Stardust Cowboy, cantor americano de country. Outra teoria aponta que “Stardust” vem de uma canção de Hoagy Carmichael 3. O fato é quando se trata de Ziggy Stardust, existe uma série de divergências quanto à origem de seu nome e às pessoas que serviram de inspiração para David Bowie criar o roqueiro do espaço. Como se fosse um musical ou um livro, The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars conta a história de um alienígena que chega à Terra para fazer contato com seus habitantes. As onze faixas do álbum dão corpo a essa narrativa. Five Years, por exemplo, a música que abre o disco, fala do planeta em vias de extinção; Starman faz o anúncio da vinda do “homem do espaço” que trará a nossa salvação; fechando o álbum, Rock’n’roll Suicide, retrata o declínio de Ziggy Stardust e sua eventual queda.4 2 Entrevista de David Bowie para William Burroughs, publicada na revista Rolling Stone, em fevereiro de 1974. Tradução do autor. Disponível em: <http://www.5years.com/bgmgk.htm>. Acesso em: 10 de julho de 2013. 3 Marc Spitz conta parte dessa história na biografia escrita sobre o artista. No site “The Ziggy Stardust Companion”, pode-se encontrar mais histórias sobre as origens de Ziggy. Disponível em: <http://www.5years.com/>. Acesso em 15 de julho de 2013. 4 Fonte: FAQ do site “The Ziggy Stardust Companion”. Disponível em: <http://www.5years.com/faq.htm>. Acesso em: 15 de julho de 2013. www.conecorio.org 2 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Ainda que a história contada no álbum não siga uma ordem linear e esteja em debate até hoje, é fácil perceber que há um fio condutor amarrando as canções. Essa ligação manifesta-se não somente nas letras, mas também na capa do disco e no figurino usado pela banda nos shows, criando uma unidade entre os diversos elementos que compõem a história de Ziggy Stardust. Por se articular em torno de um tema que amarra as músicas, pode-se falar que este é um álbum conceitual. Para Shuker (1999, p. 17), álbuns conceituais são “unificados por um tema que pode ser instrumental, compositivo, narrativo ou lírico. Deixam de ser uma coleção de canções heterogêneas para tornarem-se obras narrativas, com uma sequência de canções individuais em torno de um tema único”. Para o autor, a origem desse tipo de abordagem em relação ao álbum surgiu no anos 60, “quando o rock buscava o status de arte” (idem). Apesar do recorte oferecido por Shuker, sua definição não dá conta da complexidade do termo “álbum conceitual”. Em primeiro lugar, não há um consenso quanto à origem do formato. Em segundo, o termo desliza por diversos gêneros musicais, tornando difícil pensá-lo somente no universo do rock. Posto isso, o objetivo deste trabalho é apresentar alguns casos e problematizar como o álbum conceitual, com suas especificidades, reflete as estratégias de agregação de valor e de legitimação cultural que tiveram início no fim dos anos 40, com as disputas entre o single de 45 rpm (rotações por minuto) e o Long-play (LP) de 33⅓ rpm. Na primeira parte, retomamos a discussão sobre a consolidação do álbum de música como um formato cultural e o debate entre “música de entretenimento” e “música séria”. Em seguida, exploramos a noção de álbum conceitual, ancorados por críticas musicais e pela pouca bibliografia encontrada sobre o assunto. Por fim, pensamos como a ideia de narrativa, os “Estudos de Som” e as reflexões sobre a materialidade da música podem nos fornecer pistas para colocar o álbum conceitual à frente dos debates sobre música e Comunicação. Disputas acerca do álbum de música enquanto um formato cultural www.conecorio.org 3 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Em “Capturing Sound”, Katz (2004) discorre sobre os “efeitos fonográficos” para entender a influência causada pelas tecnologias de gravação sonora. Sem cair na falácia do determinismo tecnológico, seu trabalho deixa claro que é “a relação entre a tecnologia e seus usuários que determinam o impacto da gravação” (KATZ, 2004, p. 3). Assim, o autor discorre sobre algumas características definidoras das tecnologias de gravação sonora a fim de mostrar seus efeitos. Um desses traços é a tangibilidade, que aponta para a fisicalidade do suporte fonográfico. Um segundo, seria o da portabilidade, indicando que a gravação tornou qualquer música portátil. Por sua vez, a temporalidade diz respeito à consolidação de uma condição temporal para o registro de música. Além de nos permitirem perceber os efeitos fonográficos das tecnologias de gravação, esse traços também oferecem pistas para pensarmos sobre os efeitos dos próprios suportes usados para registro musical. A inscrição da música em cilindros e discos tem como consequência, por exemplo, a separação entre a performance e o som. Para ser ouvida, a música precisava ser tocada. Os suportes sonoros, acoplados aos seus respectivos aparelhos de reprodução, ofereceram aos ouvintes a possibilidade de “fazer” música em casa, sendo a atividade mais uma questão de consumo, do que técnica (FRITH, 2001). Além disso, Attali (1985, p. 84) afirma que “o amor à música, um desejo crescentemente enclausurado no consumo de música para escuta, não consegue encontrar na performance o que a gravação fonográfica oferece: a possibilidade de guardar, de acumular em casa e de destruir a bel prazer.” Chanan (1995), em “Repeated Takes”, traça uma história das tecnologias de gravação e de seus efeitos na música. Para o autor, a gravação transformou a música em um objeto material, tangível. Este registrou e assumiu grande parcela de responsabilidade nas mudanças em estilos de interpretação, de performance e de criação musical. Antes do LP, por exemplo, a limitação temporal dos discos de 78 rpm determinou que as músicas gravadas no suporte precisariam ter no máximo cerca de quatro minutos (KATZ, 2004). Como essa era uma limitação do próprio suporte, as músicas precisariam ser cortadas para caber no disco ou compostas atentando-se a esta limitação. www.conecorio.org 4 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Durante as primeiras décadas do século XX, o disco de 78 rpm era o principal suporte disponível para os consumidores de música (KEIGHTLEY, 2004). Em 1948, a Columbia lançou o disco Long Play (LP), de 33⅓ rpm. Este suporte, de 12 polegadas, permitia que mais músicas fossem inscritas em cada lado. No ano seguinte, a RCA-Victor introduziu no mercado o disco de 45 rpm, de 7 polegadas. Enquanto o primeiro deu origem à estética do álbum, o segundo originou a estética do single (DE MARCHI, 2005; CARVALHO & RIOS, 2009). Enquanto um formato cultural, o álbum possui uma série de características materiais que foram exploradas de formas bem peculiares por seus usuários. O álbum representa uma totalidade, constituída não somente pelas músicas inscritas no disco, mas também pelos seus “paratextos” (STRAW, 2012, p. 234), ou seja, os elementos não musicais incorporados ao suporte, como a embalagem, a arte da capa, o encarte, os textos de apresentação, a ordem das faixas, o título, as informações técnicas etc. Esse material remete-nos à ideia do álbum como um “produto fechado” (SÁ, 2006, p. 8), onde “os discos passam a serem vistos como uma obra de arte em si” (DE MARCHI, 2005, p. 13). Por conta do fortalecimento dessa estética nos anos 50, Carvalho & Rios (2009, p. 81), atentam para a sua permanência, mesmo com a digitalização da música em suportes como o CD.5 Quando foi lançado, Keightley (2001, 2004) conta que o álbum estava associado a um nicho do mercado e a tipos específicos de música que atendiam a esse público. Enquanto o disco de 45 rpm, o single, estava alinhado com o público adolescente e com os hits contemporâneos, o LP, mais caro, era voltado para os consumidores adultos. Segundo o autor, “este alinhamento entre formato e conteúdo contribuiu para a crescente distinção entre gostos adultos e adolescentes” (KEIGHTLEY, 2001, p. 113). Artistas e gêneros de apelo para o universo adulto, que já eram culturalmente legitimados, usavam o disco de 33⅓ rpm como veículo para a 5 Neste trabalho, Carvalho & Rios (2009) argumentam que os consumidores estariam ficando desinteressados pelo “álbum comercial”, uma vez que o mp3 apontaria para um consumo de música que remete à estética do single. Em outra direção, optamos por nos aproximar de perspectivas que pensam as continuidades de certas práticas na cultura da música, como a permanência do álbum apesar dos novos suportes de reprodução musical, tanto no âmbito da produção quanto do consumo, como trabalhadas em Dantas (2005), Janotti Jr (?) e Waltenberg (2012). www.conecorio.org 5 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. sua música, “onde temas maduros e sofisticados poderiam ser explorados em profundidade” (idem). A música adolescente, tida como mero entretenimento, circulava no disco de 45 rpm. Assim, os dois suportes não diferiam somente em tamanho, mas implicavam estratégias distintas de valoração e de legitimação cultural, pois “um formato (33⅓ LP) e um segmento da audiência/do mercado monopolizava a „boa música‟, com um concomitante rebaixamento do formato e da audiência „opostos‟” (KEIGHTLEY, 2004, p. 378). Adiante, o autor vai mostrar como o rock vai utilizar as “instituições do longplay” – LPs, catálogos, intérpretes com carreiras longas etc. – para se legitimar culturalmente. Nessa estratégia de revalorização, o formato álbum e o LP foram elementos centrais. Correlato ao argumento de Keightley, Montgomery (2002) oferece duas explicações para a centralidade do LP no processo de legitimação cultural do rock: a apresentação do produto e o seu valor econômico. Desde os anos 50, as gravadoras investiam no design, de forma a unificar o álbum com o conteúdo de forma atraente para o consumidor. E quando os LPs passaram a vender mais que os singles, as gravadoras perceberam o potencial econômico do produto. Ainda que o álbum pudesse demorar mais que o single para “emplacar”, quando isso acontecia, havia uma arrecadação contínua por um tempo maior. Segundo, Keightley (2004, p. 381), [O] mercado dos álbums representava uma base econômica para a indústria fonográfica e um lugar para valorizar tradições “ortodoxas” que resistiam à novidade e ao consumo “descerebrado”. Esse entrelaçamento e interdependência entre valorizações industriais e culturais são a chave para entender de que forma a instituição do álbum contribuiu para a legitimização da música dos anos 50 em diante. 6 Como vimos, a experiência de consumo oferecida pelo álbum aponta para a ideia de uma obra completa. Nele, artistas podem trabalhar suas músicas em maior profundidade e quantidade, em um produto que entrelaça sons, textos e imagens. O 6 Tradução do autor para: “Thus the album Market represented at once an economic foundation for the record industry and a site for the valuing of „orthodox‟ traditions that resist novelty and „mindless‟ consumption. This intertwining and interdependence of industrial and cultural valorization are key to the ways in which the institution of the album contributed to the legitimization of popular music in the 1950s and beyond.” www.conecorio.org 6 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. preço do LP, mais caro que o do single, era bancado principalmente pela fatia do público dotada de maior poder aquisitivo, os adultos. O repertório que circulava no suporte era aquele consumido por esse nicho: trilhas sonoras de musicais da Broadway, jazz e os standards americanos, que já eram legitimados culturalmente. Assim, a adoção do suporte por gêneros musicais “adolescentes”, que circulavam no single, tidos como música de entretenimento, é parte de uma estratégia de legitimação cultural. Assim, os LPs e os álbuns tornam-se objetos de agregação de valor a partir dos usos feitos dele, do seu preço no mercado e dos seus aspectos materiais. Posto isso, podemos pensar como os álbuns conceituais atualizam essa lógica e inserem outros elementos no processo. O problema do álbum conceitual Logo de início, é preciso reconhecer que há um problema com a ideia de álbum conceitual. Afinal, todo álbum é um projeto intencional de artistas, produtores e gravadoras, um produto “fechado” e materializado na forma de um “pacote”, que integra músicas, imagens e textos. Logo, sempre há um conceito, seja ele mais frouxo ou mais rígido, em sua confecção. Por isso, perguntamos: qual a especificidade do álbum conceitual? Em sua tese sobre o álbum conceitual de rock, Montgomery (2002) ressalta a relativa escassez de reflexão acadêmica sobre o assunto. Poucos são os trabalhos que se debruçam sobre o objeto, sendo este apenas pontuado em discussões mais amplas. Quando muito, aparecem na forma de verbetes enciclopédicos, como no Vocabulário de Música Pop, de Shuker (1999). A fim de instrumentalizar sua discussão, Montgomery (2002) define o termo como “um estilo de apresentação ou formato aplicados na criação, marketing e distribuição de discos de vinil LP” (MONTGOMERY, 2002, p. 33). Apesar de realizar estudos de caso densos e entrevistas sobre o assunto, sua abordagem faz um recorte em cima dos discos de vinil e do gênero musical rock. Esse recorte apresenta-se como um problema porque, em primeiro lugar, dificulta pensar o álbum conceitual articulado a outros suportes www.conecorio.org 7 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. fonográficos. Se o formato álbum pode ser configurado também em CDs, mp3s7 e até em aplicativos móveis8, precisamos de uma abordagem que dê conta da variedade dos suportes em circulação. Em segundo lugar, sua tese privilegia o rock. Ainda que o gênero tenha uma visibilidade maior na categoria, é necessário expandir a análise a fim de considerar álbuns conceituais de outros universos sonoros. Assim, não ficamos presos a uma definição restrita e fazemos um esforço reflexivo que dê conta da riqueza do termo. Por isso, propomos dar continuidade à discussão feita até aqui e pensar o álbum conceitual também como mais uma estratégia de legitimação cultural no universo da música. Frank Sinatra é tido como um dos primeiros músicos a gravar um álbum com um conceito amarrando as canções. Em In The Wee Small Hours, de 1955, o cantor entoa canções de Cole Porter, Duke Ellington e Hoagy Carmichael, entre outros, com arranjos de Nelson Riddle. Will Fulford-Jones escreve que: In The Wee Small Hours foi lançado pouco depois de o romance entre Sinatra e Ava Gardner ter terminado, e esse rompimento talvez tenha tornado este o melhor álbum de todos os tempos sobre o tema da separação. O Sinatra do imaginário popular, aquele sujeito meio malandro, sempre com uma piada na ponta da língua, não aparece aqui – ele é um homem, apenas. Os vendedores de discos, que costumavam colocar Sinatra na prateleira de easy listening certamente nunca o tinham ouvido cantar as confissões de bêbado de “Can‟t We Be Friends?”, e muito menos suplicar como em “What Is This Thing Called Love”, de Cole Porter. E “Mood Indigo”, de Duke Ellington, nunca havia soado tão melancólica (DIMERY, 2007, p. 23). Sem considerar casos como o de Sinatra, Stimeling (2011, p. 389) localiza o surgimento dos álbuns conceituais no rock dos anos 60. Em um esforço de definição, o autor pontua que “[t]anto no discurso acadêmico quanto no da crítica, o termo „álbum conceitual‟ é usado para descrever discos LP ou, mais recentemente, discos compactos [CDs] que são marcados por uma unidade narrativa e uma estrutura 7 PINTO, Rodrigo. Álbuns superam faixas e se reafirmam como carro-chefe da indústria fonográfica. BBC Brasil. Junho de 2012. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120620_album_rp_2.shtml>. Acesso em: 4 de agosto de 2013. 8 Cf. Waltenberg (2012). www.conecorio.org 8 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. musical de grande escala”. Para o autor, o álbum conceitual seria um símbolo das aspirações artísticas e da retórica “anti-mercado” do rock. Posto isso, Stimeling (2011) vai pensar o álbum conceitual na música country, analisando três discos de Willie Nelson: Yesterday’s Wine, de 1971; Phases and Stages, de 1974 e Red Headed Stranger, de 1975. Segundo o autor, o primeiro conta a história de um homem assistindo ao próprio funeral e revendo a sua vida. Phases and Stages fala sobre o tema da separação. Enquanto um lado do disco traz o discurso do homem, o outro representa o componente feminino do relacionamento. Como Stimeling (2011, p. 398) argumenta, “uma análise do álbum enquanto um objeto físico revela que Nelson explorou o fato do disco ter dois lados como um dispositivo de enredo e usou a embalagem que o acompanhava para destacar a narrativa”. O terceiro álbum, ao contrário dos outros, não traz uma história delineada, com personagens. Em vez disso, apresenta uma coleção de músicas escritas por compositores country de gerações anteriores a de Willie Nelson. Shuker (1999, p. 17) define os álbuns conceituais e as óperas-rock como discos “unificados por um tema que pode ser instrumental, compositivo, narrativo ou lírico.” Para o autor, o álbum conceitual surgiu na década de 60, quando o rock buscava sua legitimidade artística, daí o fato de alguns desses álbuns serem denominados como “ópera-rock”. Segundo Shuker, Tommy, lançado pelo The Who em 1969, é geralmente aceito como o pioneiro do formato. Para Joel McIver, Tommy, “[n]a aparência, trata-se da história de um garoto surdo, retardado e cego nascido numa família desequilibrada (ele é aterrorizado pelo primo e pelo tio), que se revela no fliperama e na música e se torna um ícone messiânico no melhor estilo do final dos anos 60.” (DIMERY, 2007, p. 164). A história de Tommy não ficou restrita aos discos, sendo levada também para os palcos de teatro e para a tela do cinema.9 De fato, é importante reconhecer – e problematizar – o fato do rock “passar na frente” de outros gêneros quando se fala sobre o álbum conceitual. Em uma lista de 9 Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Tommy_(album)#Other_incarnations>. Acesso em: 4 de agosto de 2013. www.conecorio.org 9 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. melhores álbuns conceituais compilada pelo site da revista Rolling Stone,10 encontramos apenas discos de rock. Tommy, do The Who; The Rise and Fall Of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, de David Bowie; American Idiot, do Green Day; Dark Side of the Moon, do Pink Floyd e Village Green Preservation Society”, do The Kinks, são algumas das obras presentes na lista. Na edição do programa “Top Top”11, da MTV, que foi ao ar em 5 de agosto de 2008, os VJs Léo Madeira e Marina Person apresentaram os “Top 10” discos conceituais. Novamente, todos os álbuns comentados eram de bandas e artistas roqueiros. A lista abarcava obras dos anos 60 e 70, como os álbuns do The Who, David Bowie e Pink Floyd e também os lançamentos mais recentes, como os discos do Flaming Lips, My Chemical Romance, Green Day e The Smashing Pumpkins. Mellon Collie and the Infinite Sadness, que ficou com a 5ª posição no “Top Top”, é um disco duplo lançado em 1995 pelo Smashing Pumpkins, banda americana liderada pelo vocalista e guitarrista Billy Corgan. O álbum é conceitual não por ter história linear, mas por causa de um tema que articula as 28 canções. Para Jim Derogatis, as músicas estão conectadas pela ideia “de tomar parte no dia de um adolescente típico, alienado”.12 “Dividido em dois discos, intitulados respectivamente „Dawn to Dusk‟ e „Twilight to Starlight‟, o álbum cobre o amplo espectro das emoções humanas” (DIMERY, 2007, p. 756), analisa a crítica de Emily Kelly. “Não quero ser um idiota americano”. É com esse verso que Billy Joe Armstrong dá início ao álbum American Idiot, do Green Day. Lançado em 2004, a 10 “List of the day: best concept albums”. Disponível em: <http://www.rollingstone.com/music/blogs/staff-blog/list-of-the-day-best-concept-albums-20060718>. Acesso em: 4 de agosto de 2013. 11 Top Top foi um programa da MTV Brasil, apresentado pelos VJs Marina Person e Léo Madeira. A cada programa, os apresentadores listavam “os 10 mais” de uma lista temática, começando pela 10ª posição e encerrando a transmissão com o 1º lugar. Os temas eram dos mais variados, como “mortes bizarras”, “clipes inovadores”, “coroas enxutos”, “não é gay”, “filhinhos de papai”, entre outros. Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Top_Top_MTV>. Acesso em: 15 de agosto de 2013. 12 DEROGATI, Jim. “Album review: Mellon Colie and the Infinite Sadness”. Disponível em: <http://www.rollingstone.com/music/albumreviews/mellon-collie-and-the-infinite-sadness-19951130>. Acesso em: 4 de agosto de 2013. www.conecorio.org 10 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. ópera-rock apresenta o personagem Jesus of Suburbia, “que sofre através do declínio do sonho americano.13” Em contraposição ao extenso trabalho do Smashing Pumpkins mencionado acima, American Idiot possui apenas nove faixas. No entanto, Green Day compensa as poucas músicas ao “exagerar” na duração de algumas delas. Esse é o caso de Jesus of Suburbia. Com mais de nove minutos, a música é inclusive dividida em capítulos, como City of the Damned, Dearly Beloved e Tales of Another Broken Home. Para Bruno MacDonald, “[p]oucos teriam apostado que o Green Day iria criar o grande sucesso do hard-rock no início do século 21” (DIMERY, 2007, p. 936). American Idiot, que ganhou um Grammy de “Best Rock Album” em 2005, deu origem também a um musical. American Idiot – The Musical, que estreou em 2009, adaptou o conceito do álbum para o palco e trouxe outras músicas da banda para compor o repertório. Em 2010, a peça ganhou dois prêmios Tony e, no ano seguinte, um Grammy de “Best Musical Show Album”. Assim como no caso acima, os outros exemplos apresentados também parecem apontar para a conexão entre o álbum conceitual e a busca por legitimação cultural. No caso de Willie Nelson, o formato possibilitou que o cantor agradasse tanto o público associado à música country, quanto a sua crescente “audiência contracultural” (STIMELING, 2011). Sobre Mellon Collie and the Infinite Sadness, o crítico Jim Dorigati diz que “[m]usicalmente, Mellon Collie solidifica a posição de Corgan como um dos mais ambiciosos compositores de sua geração – ninguém no estrato do rock alternativo havia tentado criar um álbum de tal duração, muito menos desse escopo, e que pode até se equiparar a The Wall”. Ziggy Stardust and the Spiders From Mars foi um dividor de águas na carreira de David Bowie e, talvez, seja o álbum mais importante de sua discografia. Para Robert Dimery, “Ziggy... é o único disco de glam rock que resistiu à passagem do tempo” (DIMERY, 2007, p. 280). Álbuns conceituais: entre histórias, sons e materialidade 13 SHEFFIELD, Rob. “Album review: American Idiot.” Disponível em: <http://www.rollingstone.com/music/albumreviews/american-idiot-20040930>. Acesso em: 4 de agosto de 2013. www.conecorio.org 11 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Sendo o álbum conceitual uma estratégia de legitimação na cultura fonográfica, pensamos como esse objeto articula-se em três eixos: a ideia de uma história amarrando as canções para contextualizar a obra, a sua construção sonora e os aspectos materiais da música. Em todos os casos mencionados ao longo deste trabalho, há a menção a uma narrativa, que manifesta-se em graus diferentes. The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, American Idiot e Tommy, por exemplo, tentam sustentar uma ficção a partir das músicas. Para isso, os autores criam personagens e os inserem em enredos intrincados, que são revelados pouco a pouco, à medida que o álbum é executado. Mellon Collie and the Infinite Sadness e In The Wee Small Hours, por outro lado, não possuem uma história específica. Ao invés disso, ambos objetivam “criar um clima” e, com essa finalidade, tentam amarrar as canções em torno de um tema. Por isso, refletir sobre a construção sonora desses objetos pode nos ajudar a perceber como a música em si ajuda a apreensão da proposta dos álbuns conceituais. Pensar o som, entretanto, apresenta-se já de imediato como um problema. Pinch & Bjsterveld (2004) falam da facilidade com que livros e artigos acadêmicos reproduzem imagens. No entanto, o mesmo não vale para os sons. Quais os termos e a linguagem usados para descrever os fenômenos sonoros? Tentando preencher essa lacuna, os “Estudos de Som” propõem discussões em torno da articulação entre sons, música, artefatos tecnológicos e mediações (SÁ, 2010; SÁ & COSTA, 2012). (...) [A] contribuição original dos Estudos de Som é, primeiramente a de centrar o foco no estudo das sonoridades, propondo uma abordagem da audibilidade moderna – entendida como a história do contexto e das condições de consolidação do regime de escuta da modernidade; reconhecendo, concomitantemente, o papel das tecnologias de comunicação nesse processo (SÁ, 2010, p. 92, ênfase no original). No diálogo entre sons e propostas narrativas, cabe pensar os aspectos materiais nesse processo. Straw (2012, p. 227) chama a atenção para as contradições e paradoxos em sua reflexão sobre a materialidade da música. Ao mesmo tempo que ela é “tida como uma das formas culturais mais etéreas e abstratas”, é permeada por um www.conecorio.org 12 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. amplo conjunto de “infraestruturas materiais”, como instrumentos, partituras, discos, aparelhos eletrônicos, corpos e casas de show, entre outros. Localizando os tipos de estudos que tratam desse conjunto de questões, o autor fala das abordagens que discutem as “extensões materiais” da música. Outras perspectivas são as que tratam das formas materiais de agregação musical, como as coleções e o próprio álbum. Para Straw, o álbum confere coerência à identidade do intérprete através do conjunto de canções agrupado no formato. Em outras palavras, “[c]ada performance em um LP alimentava e iluminava as outras, familiarizando os ouvintes tanto com as particularidades de uma dada voz, quanto com as características mais amplas de um estilo musical nacional” (STRAW, 2012, pp. 233 – 234). As questões da materialidade da música tornam-se ainda mais complexas quando consideramos a variedade de suportes acessíveis aos consumidores. Enquanto o disco de vinil e o CD possuem um certo caráter agregador em relação ao álbum, o mp3 seria potencialmente desagregador (BØDKER, 2004; DANTAS, 2005; CARVALHO & RIOS, 2009). Ao oferecer a possibilidade de um consumo individualizado de música, o mp3 desconsidera tanto a ideia do “pacote fechado”, quando os “paratextos” do álbum. Bødker (2004) argumenta que, nesse contexto, as faixas de um determinado álbum estão desconectadas do produto oferecido pela indústria. Por isso, elas “podem ser acumuladas, organizadas e consumidas obedecendo a critérios e mecanismos diversos” (BØDKER, 2004, p. 13). Dessa forma, o autor pontua que a questão deve ser sobre o que se percebe como a “unidade musical básica”. Se o álbum é visto como uma “imposição”, onde o consumidor é obrigado a pagar por todas as faixas, mesmo que seu interesse recaia somente sobre uma ou outra, então o consumo individualizado de música torna-se mais atraente. Caso o álbum seja percebido levando-se em conta certas preocupações estéticas e artísticas em termos de unidade e integralidade, então é este formato a “unidade musical básica”. www.conecorio.org 13 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Além dos músicos citados ao longo deste trabalho, existem outros casos de artistas contemporâneos investindo no lançamento de álbuns conceituais.14 Partindo do conjunto de reflexões feitas até aqui, questionamo-nos se é possível falar em álbum conceitual no contexto das novas tecnologias da comunicação. Se aceitamos a ideia de que esse formato é parte de uma estratégia de legitimação cultural, então devemos não apenas retomar a discussão sobre ele, mas sobretudo pensar como o álbum conceitual pode ganhar contornos ainda mais complexos nas redes online de circulação musical e em novos suportes, como o mp3 e os aplicativos móveis. Referências bibliográficas ATTALI, Jacques. Noise: the political economy of music. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1985. BØDKER, Henrik. The changing materiality of music. Aarhus: The Centre for Internet Research, 2004. CARVALHO, Alice Tomaz de & RIOS, Riverson. O mp3 e o fim da ditadura do álbum comercial. SILVEIRA, Sergio Amadeu (Org.). 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