Odeon, 100 anos de MPB no país

Propaganda
PORTO ALEGRE, SÁBADO, 1O DE NOVEMBRO DE 2003
Odeon, 100 anos de MPB no país
Os lançamentos
nos cinemas
contam com “Era
uma vez no
México”, com
Antonio Banderas;
o musical
“Salomé”, de
Carlos Saura; e o
canadense
“As invasões
bárbaras”.
Página central
A música é atração
neste final de
semana em shows
como o de Fagner
e Zeca Baleiro, o
do veterano
músico alemão
Schneider TM e de
bandas gaúchas
que animam o
circuito noturno de
Capital e Interior.
Página 3
Tiaraju Brockstedt
Marcos Valle, Antonio Adolfo e A Brazuca, Sérgio
Ricardo, Rosa Maria, Nadinho da Ilha e Dilermando
Pinheiro são alguns dos artistas da antiga gravadora
Odeon cujo trabalho
ganhou uma sobrevida através de outro
inspirado e rico pacote (“Odeon cem anos”)
que traz um total de
25 raridades recuperadas das décadas de
1950, 60, 70 e 80, remasterizadas e transformadas em CD pela
gravadora EMI. Neste
processo de recuperar a memória da
MPB, a gravadora
EMI, até o final do
ano passado, tinha
chegado ao total de
70 long-plays relançados na forma de
CD. Esta nova coleção foi lançada para
comemorar 100 anos
de música no Brasil e uma cada vez maior divulgação
do acervo histórico remasterizado da gravadora.
A música “Mustang cor de sangue
ou Corcel cor de mel”, lançada em
1969, foi fundamental para a transformação que ocorria naquela época na
carreira de Marcos Valle, momento
muito especial em que nossa MPB se
despedia da bossa nova e mergulhava
na Tropicália. A canção também dava
título ao álbum que está voltando agora em CD. Inventor de grooves, o bossa-novista Valle investia na toada moderna (“Diálogo”, em dueto com Milton
Nascimento, “Dia de vitória”, com participação do grupo Golden Boys) e reforçava o charme deste álbum com o
soul de “Azimuth”, além da badalada
“Tigre da Esso, que sucesso” ou ainda
“Os dentes brancos do mundo”.
Antonio Adolfo e o grupo A Brazuca, realmente, marcaram época na
MPB com seu som animado e pessoal.
Formada em 1969 por Antonio Adolfo
(teclados), A Brazuca era formada por
Luiz Claudio Ramos, Luizão, Vitor
Manga, Bimba e Julie (nos vocais). O grupo repaginou a valsa, o baião e a toada moderna misturados
com o psicodelismo e toques do ainda forte movimento da Jovem Guarda. O álbum apresenta, pelo me-
nos, dois clássicos da MPB: “Juliana”
e “Teletema” (tema que Regininha tornaria popular na trilha da antiga novela de Janete Clair, “Véu de noiva”). Entre outras faixas, confira “Futurama”,
“Moça”, “Dois tempos” e “Pelas ruas do
meu bairro”.
O mais famoso arremessador de
violão em platéia da história dos festivais de música no Brasil, Sérgio Ricardo, também está no pacote da EMI
com seu primeiro trabalho “Não gosto
mais de mim – A bossa romântica de
Sérgio Ricardo”. Nascido em Marília,
interior de São Paulo, Ricardo teve
uma estréia considerada “fulminante”
com esse projeto produzido por Aloísio
de Oliveira, em 1960, com extremo requinte. Romantismo é a base da maioria das canções (todas assinadas, letra
e música, pelo cantor), como “Pernas”,
“Poema azul”, “O nosso olhar” e “Ausência de você”. O tom de protesto,
que mais tarde marcaria a carreira do compositor e
cantor, pode ser encontrado na faixa “Zelão”.
Com o CD “Uma rosa com bossa”, a cantora Rosa
Maria, descoberta em 1966 por Wilson Simonal (na
época em plena ascensão), apresentava ao Brasil
uma das vozes mais melodiosas, personalíssimas e
belas do período. De início, a carreira
da artista filiou-se ao movimento de
antiprotesto da bossa (com ênfase nas
músicas “A resposta” e “Vê”); ela gravou também autores pouco procurados, como Mário Castro Neves (“Vivendo Só”), ou novos (“Capoeira de Oxalá”,
do iniciante Luis Carlos Sá, do futuro
Sá, Rodrix e Guarabyra), além de dividir uma das faixas do disco, “Fica comigo”, com o padrinho Simonal. Muitos anos depois, Rosa Maria encontraria, finalmente, o sucesso com a gravação de “California Dreaming”, divulgada num comercial.
Os CDs “Cabeça feita”, com Nadinho da Ilha; “Batuque na palhinha”,
com Dilermando Pinheiro; “Noites cariocas”, com Ribamar; e “Minha Portela querida – Sambas de terreiro –
1972” são outros títulos que integram
o pacote. Famoso por seu vozeirão e
por sua incrível semelhança com Monsueto, o talento de Nadinho é representado por um disco produzido em 1977 pelo mago
do violão afro João de Aquino. Com adesão de bambas como Wilson Moreira, Délcio Carvalho, Tia Hilda
e Walter Sousa, Nadinho trafega por sambas de todos
os calibres.
“Batuque na palhinha” é um álbum original do selo Regency, muito
ativo entre o final dos anos 50 e o início dos 60. Com arranjos de Amancio
Cardoso, o disco tinha produção de
Paulo Gesta e do noviço Baden Powell;
seria reeditado em 1977 pela gravadora Marcus Pereira. O álbum é um resgate do sincopado e ágil som do discípulo de Luis Barbosa e seu “stradivarius de palha”. Entre as músicas, “Lulu de madame”, “Teu olhar me inspirou”, “Tragédia na Lapa”, “Ando cheio
de conversa”, “Falsa bacana”, “Espanador da Lua”, “Não precisa pagar”,
“Madureira, não”, “Beija-me”, “Disseme adeus” e “Tentativa de suicídio”.
Ribamar foi parceiro de Dolores
Duran e um pianista brilhante e militante na noite que percorreu as
principais boates da zona Sul do Rio
de Janeiro. Em 1975, já com 25 anos
de carreira, ele gravou “Noites cariocas”, CD documento de seu talento no samba-canção de fossa. Entre outros destaques, o CD traz um “Tributo a Dolores Duran”, com as músicas “Castigo”, “Fim de caso”,
“A noite do meu bem” e “Solidão”. Ele interpreta ainda “Gauchinha bem-querer” (de Tito Madi), “Apanheite cavaquinho” e “Tudo cabe num beijo”.
O coro dos compositores da Portela defende o álbum “Minha Portela querida – Sambas de terreira –
1972”. Entre mortos e ainda vivos, participam Candeia, Paulinho da Viola, Joãozinho da Pecadora, Alberto Lonato, Monarco, Norival Reis, Velhas, Catoni, Cabana
e Casquinha. Músicas: “Voltei”, “Paz”,
“Conversa fiada”,
“Não chora meu
amor” e “Meu dinheiro não dá”.
No pacote, ainda,
CDs de Os Reis do
Ritmo, Celly Campello, Cassiano, César
Camargo Mariano e
Hélio Delmiro, Doris
Monteiro e Lucio Alves, Edu Lobo, Eliana
Pitman, Elsa Soares,
Golden Boys, Lô Borges, Pixinguinha,
Skowa e A Máfia, Som
Imaginário, Wagner
Tiso e Wanderléia.
A rainha do jazz brasileiro mostra o seu novo trabalho
Misturando os padrões clássicos do jazz norteamericano com alguns sons originais, além de um
toque musical brasileiro indiscutível, Flora Purim
gravou “Speak no evil”, lançado no Brasil pela Virgin Music. O álbum mais uma vez prova o sucesso
da mistura da voz sedutora e ao mesmo tempo brincalhona desta cantora brasileira que também faz
um incrível sucesso lá fora, principalmente nos Estados Unidos. Apoiada com uma verdadeira seção
de percussão, liderada pelo lendário mestre Airton
Moreira, Flora empresta um jeito todo brasileiro de
cantar para uma seleção imperdível de melodias
imortais compostas por nomes consagrados do jazz
internacional como Cole Porter, George e Ira Gershwin, Wayne Shorter, entre outros.
A cantora elegeu como uma de suas músicas
prediletas de “Speak no evil” a faixa 2, “You go to my
head”, de Haven Gillespie e J. Fred Coots, com arranjos de Gary Meek. No lançamento do álbum nos
EUA, Flora declarou à imprensa: “Tive certeza de
que tinha escolhido uma faixa que merecia mais reconhecimento, mas fico feliz em dizer que uma série
de novos lançamentos têm essa música”. Flora interpreta ainda em seu novo álbum clássicos como
“It ain’t necessarily so”, de Gershwin; “This magic”,
de Don Grusin e Diana Booker; e “Don’t say a word”
e “I feel you”, de Bill Cantos.
O álbum “Speak no evil” contém,
ainda, outros atrativos, como a faixa
título (que tem o subtítulo de “All for
one”), de Wayne Shorte, e um sucesso musical ainda muito em voga no
Brasil: uma gravação do clássico de
Cole Porter, “I’ve got you under my
skin”, que todos gostavam com
Frank Sinatra, entre outros, e agora
adoram em versão feminina, após a
interpretação sensualíssima de Diana Krall, badalada na trilha da novela da Rede Globo “Mulheres apaixonadas”. Embora
sua voz não vá embalar o romance de nenhum personagem de Manoel Carlos, o fãs de Porter ou da
própria Flora podem conferir agora a sua versão da
música e concluir quem tem mais charme e sensua-
lidade: La Purim, ou a senhora Elvis Costello?
A voz seis oitavas de Flora Purim já rendeu a ela
duas indicações ao Grammy por Melhor Performance Feminina de Jazz; quatro vezes o prêmio de Melhor Cantora pela revista Downbeat; e uma ilustre
lista de parceiros famosos, que adoravam dividir seu som com a bela voz
da cantora, entre outros, Gil Evans,
Stan Getz, Chick Corea, Dizzy Gillespie e Airto Moreira.
Airto dá o tom do “núcleo brasileiro” do novo CD da diva, representado pelas faixas “Tamanco no samba”, de Orlan Divo e Helton Menezes;
“Primeira estrela”, da dupla formada
por Airto Moreira e Yutaka Yokokura; além de “O sonho” (“Moons
dreams”), de Egberto Gismonti. Os fãs e críticos
consideram que Flora tem um faro todo especial para detectar pérolas da música brasileira, ainda não
devidamente divulgadas tanto no Brasil como no
exterior. Confira essa fama neste novo álbum.
Últimas
apresentações da
comédia hilariante
“Homens de
perto”, no Teatro
da Amrigs.
Com os atores
Oscar Simch,
Zé Victor Castiel e
Rogério Beretta.
Na direção, Néstor
Monastério.
Página 2
Download