A Linguagem da Lógica de Predicados Definição 1. O alfabeto da Lógica de Predicados é constituído por: • Símbolos de pontuação: (, ), ,. Introdução • Símbolo de verdade: ■, □ Nesta segunda unidade considera-se o estudo da Lógica de Predicados. Os passos a serem seguidos são análogos àqueles considerados na primeira unidade. • Um conjunto enumerável de símbolos para constantes: a, b, c,... Inicialmente, é definida a linguagem da Lógica de Predicados analisando-a do ponto de vista sintático e semântico. Também são considerados os mecanismos que verificam fórmulas válidas. • Um conjunto enumerável de símbolos para predicados: p, q, r, p1,... Em seguida são considerados os sistemas de dedução da Lógica de Predicados, que são extensões dos sistemas da Lógica Proposicional. O alfabeto da linguagem da Lógica de Predicados é uma extensão do alfabeto da Lógica Proposicional. A linguagem da Lógica de Predicados é mais rica que a da Lógica Proposicional, pois além de conter os objetos desta, a linguagem da Lógica de Predicados contém quantificadores, símbolos funcionais e de predicados. As variáveis. Os símbolos para variáveis formam um novo conjunto que não ocorre na Lógica Proposicional. Têm um papel importante na Lógica de Predicados. • Um conjunto enumerável de símbolos para variáveis: x, y, z, x1, y1,... • Um conjunto enumerável de símbolos para funções: f, g, h, f1, g1,... • Conectivos: ∼, ∧, ∨, →, ↔, ∀, ∃. Neste sentido, a Lógica de Predicados é uma extensão da Lógica Proposicional, o que lhe confere um maior poder de representação. As funções e os predicados. Os símbolos para funções e para predicados não ocorrem na Lógica Proposicional. Possibilita um maior poder de representação em relação à Lógica Proposicional. Existem vários tipos de inferências, que não possuem representações adequadas na Lógica Proposicional, mas podem ser representadas na Lógica de Predicados. Exemplo: As constantes e símbolos proposicionais. Funções com aridade nula representam constantes. Predicados com aridade zero representam símbolos proposicionais. • Todo homem é mortal. Uma vez que Confúcio é um homem, ele é mortal. Os conectivos. São usados os mesmo conectivos da Lógica Proposicional (∼, ∧, ∨, →, ↔). Há também ∀ e ∃, que representam os quantificadores universal e existencial, respectivamente. Tais quantificadores ampliam o poder de representação da Lógica de Predicados, como também a complexidade das demonstrações. O raciocínio acima é intuitivamente correto. Porém, a dificuldade em representar tais inferências na Lógica Proposicional se deve à quantificação indicada pela palavra “todo”. Sintaxe da Lógica de Predicados Alfabeto O alfabeto Σ da linguagem da Lógica de Predicados é definido pelo conjunto de símbolos descritos a seguir. Elementos Básicos da Linguagem Na língua portuguesa há sentenças cuja interpretação é um valor de verdade e outras um objeto. A sentença A capital de Minas Gerais é Belo Horizonte? é uma questão cujo resultado da interpretação é um valor de verdade. Por outro lado, o resultado da interpretação da sentença Qual a capital do Brasil? não é um valor de verdade. Definição 2. Termos são expressões (palavras, cadeias) sobre Σ usadas para denotar (representar) elementos do domínio e são definidos da seguinte forma: • se a ∈ CΣ então a é um termo. • se x ∈ VΣ então x é um termo. • se f ∈ FΣ e tem aridade n, e t1, ..., tn são termos, então f(t1, ... ,tn) também é um termo. Exemplos: a) x, 9, y, 10 são termos. b) +(5, 8) é um termo. c) +(−(8, 7), 3) também é um termo. Definição 3. Os átomos da linguagem da Lógica de Predicados são construídos segundo as regras: • o símbolo de verdade □ é um átomo. • se t1, t2, ..., tn são termos e p é um símbolo para predicado n-ário, então, p(t1, t2, ..., tn) é um átomo. Fórmulas A construção das fórmulas é feita a partir da concatenação de átomos e conectivos. Entretanto, como ocorre na Lógica Proposicional, não é qualquer concatenação de símbolos que é uma fórmula. Definição 4. As fórmulas da Lógica de Predicados são expressões sobre Σ usadas para se estabelecer propriedades ou relacionamentos entre elementos do domínio e são definidas da seguinte forma: • todo átomo é uma fórmula. • se t1, ..., tn são termos sobre Σ e p é um símbolo predicativo n-ário de Σ, então p(t1, ..., tn) é uma fórmula sobre Σ (chamada fórmula atômica). • se α e β são fórmulas sobre Σ, então (∼α), (α ∧ β), (α ∨ β), (α → β) e (α ↔ β) também são fórmulas sobre Σ. • se α é uma fórmula sobre Σ e x ∈ VΣ, então ∀x(α) e ∃x(α) também são fórmulas sobre Σ. Exemplos: a) os átomos p(x), R e □ são fórmulas. b) Como R e p(x) são fórmulas, ((∼p(x) como (p(x) → R). ∨ R) é uma fórmula, assim c) Como (p(x) → R) é uma fórmula, então (∀x(p(x) → R)) também é uma fórmula. a) a expressão aritmética >(+(5, 8), 3) representa um átomo. Definição 5. Um literal na Lógica de Predicados é um átomo ou a negação de um átomo. Um átomo é um literal positivo. A negação de um átomo é um literal negativo. b) a expressão aritmética ≠(−(8, 7), 3) é um átomo. Definição 6. seja α uma fórmula da Lógica de Predicados. Exemplos: Observe que nestes exemplos os resultados das interpretações dos átomos são valores de verdade. Já os resultados das interpretações dos termos são objetos. • α está na forma normal conjuntiva, FNC, se é uma conjunção de disjunções de literais. • α está na forma normal disjuntiva, FND, se é uma disjunção de conjunções de literais. Notação. No que se segue, analogamente à Lógica Proposicional, os parênteses das fórmulas são omitidos quando não há problemas sobre suas interpretações. Os quantificadores existencial ∃ e universal ∀ se relacionam pelas correspondências ∼∀x(α) ⇔ ∃x(∼α) Na Lógica de Predicados, há uma ordem de precedência entre os conectivos que também possibilita a simplificação das fórmulas. A ordem de precedência dos conectivos ∼, ∨, ∧, →, ↔ e ∼∃x(α) ⇔ ∀x(∼α) é a mesma considerada na Lógica Proposicional e os conectivos ∀ e ∃ possuem precedências equivalentes. Exemplo: Considere p(x) representando “x é bonita”. Além disso, suponha que o domínio das pessoas consideradas seja o conjunto dos alunos da turma. Então a afirmação Definição 7. Na Lógica de Predicados, a ordem de precedência dos conectivos é a seguinte: Existe uma aluna que não é bonita. é representada pela seguinte fórmula • maior precedência: ∼ ∃x(∼p(x)) • precedência intermediária superior: ∀, ∃ • precedência intermediária inferior: ∧, ∨ como vimos nas equivalências acima, esta fórmula é equivalente a • precedência inferior: →, ↔ ∼∀x(p(x)) Como na Lógica Proposicional, a ordem de precedência dos conectivos é utilizada para simplificar as fórmulas, retirando símbolos de pontuação. que significa Nem todas as alunas são bonitas. Exemplo: A concatenação de símbolos β = ∀x∃y(p(x,y)) → ∃z(∼q(z)) ∧ r(y) representa a fórmula α = ((∀x)((∃y)(p(x,y))) → ((∃z)(∼q(z)) ∧ r(y))) A obtenção de α a partir de β é feita considerando a ordem de precedência dos conectivos. Correspondência entre quantificadores. Conforme verificado na Lógica Proposicional, os conectivos ∧, →, ↔ podem ser definidos a partir dos conectivos ∼ e ∨. Analogamente, é possível definir o quantificador existencial ∃ a partir do quantificador universal ∀ e vice-versa. Portanto são afirmações equivalentes representadas por fórmulas equivalentes. A segunda equivalência pode ser demonstrada considerando a seguinte afirmação Não existe uma aluna bonita. é representada pela fórmula ∼∃x(p(x)) esta fórmula é equivalente a ∀x(∼p(x)) que significa Nenhuma aluna é bonita. Novamente são afirmações equivalentes representadas por fórmulas equivalentes. Observe que as ocorrências das variáveis dos quantificadores não são livres nem ligadas, isto é, a variável x em ∀x e ∃x não é classificada. Classificações de Variáveis. As variáveis que ocorrem nas fórmulas da Lógica de Predicados possuem várias classificações. Exemplo: Considere a fórmula do exemplo anterior. Elas podem ocorrer na forma livre ou ligada. Antes é necessário determinar os escopos dos quantificadores que ocorrem na fórmula. Definição 8. Seja α uma fórmula da Lógica de Predicados. • Se ∀x(β) é uma sub-fórmula de α, então o escopo de ∀x em α é a sub-fórmula β. • Se ∃x(β) é uma sub-fórmula de α, então o escopo de ∃x em α é a sub-fórmula β. A palavra escopo significa também abrangência. Exemplo: Considere a fórmula a seguir. α = ∀x∃y(∀z(p(x,y,w,z)) → ∀y(q(z,y,x,z1))) Neste caso a) o escopo do quantificador ∀x em α é ∃y(∀z(p(x,y,w,z)) → ∀y(q(z,y,x,z1))) b) o escopo do quantificador ∃y em α é ∀z(p(x,y,w,z)) → ∀y(q(z,y,x,z1)) c) o escopo do quantificador ∀z em α é p(x,y,w,z) d) o escopo do quantificador ∀y em α é q(z,y,x,z1) Dada uma variável x em uma fórmula α, esta pode ocorrer livre ou ligada em α. Definição 9. Sejam x uma variável e α uma fórmula. α = ∀x∃y(∀z(p(x,y,w,z)) → ∀y(q(z,y,x,z1))) identificar as ocorrências livres e ligadas. Observe que a variável z ocorre ligada em p(x,y,w,z) e livre em q(z,y,x,z1) A ocorrência de z em p(x,y,w,z) está no escopo de ∀z e a ocorrência de z em q(z,y,x,z1) não está no escopo de nenhum quantificador. A ocorrência da variável y em q(z,y,x,z1) é uma ocorrência ligada. Neste caso, y está no escopo de dois quantificadores ∃y e ∀y. Quando isto acontece, a ocorrência da variável y está ligada pelo quantificador mais próximo. Definição 10. Sejam x uma variável e α uma fórmula que contém x. • a variável x é ligada em α se existe pelo menos uma ocorrência ligada de x em α. • a variável x é livre em α se existe pelo menos uma ocorrência livre de x em α. Exemplo: Considere a fórmula α do exemplo anterior. • uma ocorrência de x em α é ligada se x está no escopo de um quantificador ∀x ou ∃x em α. a) as variáveis x, y e z são ligadas em α. • uma ocorrência de x em α é livre se não for ligada. c) a variável z é livre e ligada em α. b) as variáveis z e z1 são livres em α.