o thíasos apresenta Contactos Associação Cultural Thíasos Instituto de Estudos Clássicos Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Largo da Porta Férrea, 3004-530 Coimbra [email protected] / 91 4590423 / 239 859981 Apoios FESTEA – Tema Clássico Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da FLUC Instituto de Estudos Clássicos Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Teatro Académico de Gil Vicente Fundação Calouste Gulbenkian Museu Nacional Machado de Castro Associação Cultural Thíasos A Associação Cultural Thíasos é um grupo universitário de reflexão, estudo e produção de teatro clássico, membro da linha de Pragmática Teatral da UI&D Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, da Universidade de Coimbra. Em atividade constante desde 1992, é formada por um grupo de professores, alunos e funcionários da Faculdade de Letras e de outras faculdades, movendo-se pelo o intuito de encenar e refletir sobre o teatro clássico ou esse outro nele inspirado. Em Março de 1992, um grupo de alunos do 4º ano apresentou parte do Soldado fanfarrão de Plauto, com encenação de C. A. Louro Fonseca, também autor da versão portuguesa da comédia. Somente em 1996 se retomou o projeto com a rodagem, em Conímbriga, da versão em vídeo da comédia de Aristófanes As Mulheres no Parlamento, sob a direção de Delfim Leão, com o objectivo de aproveitar aquele espaço arqueológico privilegiado. O passo seguinte foi a encenação do Auto da Alma de Gil Vicente (1997), por José Luís Brandão, no seguimento do que se formalizou a existência do grupo. Desde então o Thíasos apresentou o Epídico de Plauto (1998), encenado por Paulo Sérgio Ferreira, Os Heraclidas de Eurípides (2001) por Delfim Leão, o Anfitrião de Plauto (2002) por Victor Torres, As Traquínias de Sófocles (2003) por Delfim Leão, Marcial em Trajes de Cena (2004) por Carlos de Jesus e Carla Brás, Teócrito e Virgílio (2005) pelos mesmos, As Mulheres no Parlamento de Aristófanes (2005) por José Luís Brandão, As Suplicantes de Eurípides (2006) por Carlos de Jesus e Carla Brás, o Agamémnon de Ésquilo (2007) por Lia Nunes, As Vespas de Aristófanes (2008) por Carlos de Jesus, o Fulaninho de Cartago (2009) por José Luís Brandão, o Hipólito de Eurípides (2010) por Carlos de Jesus, A Sogra de Terêncio (2011) por José Luís Brandão e Suplicantes de Ésquilo (2012) por Lia Nunes. Com o surgimento da Associação Promotora de Teatro de Tema Clássico FESTEA, em atividade desde 1998 mas apenas formalizada em 2003 (da qual o grupo é membro promotor), tem início a participação periódica em dois festivais com realização anual: o Festival Escolar de Teatro de Tema Clássico e o Festival Internacional de Verão de Teatro de Tema Clássico. Percorrendo o país com as suas produções, o Thíasos teve ainda a possibilidade de apresentar o seu trabalho ao público estrangeiro, deslocando-se a Segóbriga em 2000 (XVII Festival Juvenil Europeo Grecolatino) e 2001 (XVII Festival Juvenil Europeo Grecolatino), a Itália (XVI Rassegna Internazionale del Teatro Classico Antico - 2001), a Mérida (2002), Puerto de Santa Maria (2004), Tours (2004), Nantes (2005), Málaga (2008) e Madrid (2012). Lis í trata de Aristófanes Comédia e política Quando, em 411 a.C, a Lisístrata de Aristófanes foi apresentada, cumpriam-se 20 anos da Guerra do Peloponeso, um conflito que dividia o mundo grego em nome de uma supremacia reivindicada por dois blocos: Atenas e o seu império e Esparta e as cidades da sua Liga. Este já demasiado longo período de tempo tornava agora patente que as armas eram incapazes de solucionar uma polémica, a que só uma diplomacia efetivamente empenhada podia garantir o termo; até porque as feridas abertas e a profundidade das divergências atingiram um ponto delicado e irresolúvel pela força. Com uma isenção e objetividade louváveis, Aristófanes, ainda uma vez arauto de paz, trazia à consideração do público ateniense alguns pontos nevrálgicos do problema. Era agora possível fazer um balanço global da guerra e constatar como as vitórias e derrotas somadas tinham, acima de tudo sabor a uma exasperante instabilidade e decadência. Dos primeiros tempos do conflito, Esparta conservava ainda posições na ilha de Eubeia e na costa fronteiriça do Pelopoeneso, ganhas através de incursões frequentes na Ática; Equino, o golfo da Mália e Mégara são exigências colocadas por Atenas para uma negociação de tréguas, embora haja, neste caso, que reconhecer que é sobretudo o sentido duplo destes topónimos que os recomenda numa cena onde política e sexo se articulam. Para além do que são os sintomas da crise política ou financeira, a Lisístrata abriu-se ao espaço do doméstico e do social para avaliar a repercussão do conflito sobre o cidadão e sobre os alicerces de uma sã estrutura cívica. A Atenas que se projeta como um cenário modelo dos efeitos da guerra não é uma abstração, nem uma mera entidade política ou militar; é uma sociedade que se compõe de famílias e, em última análise, de indivíduos, de homens e de mulheres que vivem a guerra num sofrimento pessoal a que o poeta dá rosto. Vale-se, para tal, de um conflito de sexos, que exprime sobretudo uma divergência de propósitos e de mentalidades: aos homens, que na ficção cómica desejam em uníssono a guerra e a aniquilação plena no adversário, opõe-se a vontade das mulheres que aspiram à paz. O propósito das revoltosas não é a reivindicação da igualdade de direitos ou do acesso ao poder público como um fim em si; o que a “libertadora dos exércitos” pretende é tão só o regresso à paz, que a gestão masculina se mostrou incapaz de conseguir e que as mulheres, hábeis administradoras do património, se sentem capazes de obter pelos seus meios, os da sua feminilidade, e condição natural. As cidadãs levam a melhor por tudo aquilo que representam, comida e bebida, festas e sexo, tranquilidade e conforto familiar, que elas forçam os maridos a preferir aos riscos do combate. Lisístrata e a greve de sexo Apresentada pela primeira vez em 411 a. C., num ambiente de desgaste emocional e físico devido ao confronto militar e político da Guerra do Peloponeso, a Lisístrata de Aristófanes põe em cena conflitos familiares para problematizar conflitos sociais e políticos. Lisístrata propõe às companheiras Calonice, Mírrina e Lâmpito fazer uma greve de sexo para que os maridos voltem para casa e façam tréguas à guerra. Se de início ficam relutantes com a ideia, logo juram sobre uma taça de vinho cheiroso que todas assinarão esse pacto. Os semicoros da Lisístrata são cúmplices nesta guerra de sexos. Coro de velhos para um lado e coro de velhas para o outro, durante a maior parte da peça, agridem-se verbal e fisicamente, sem pejo de linguagem ou gestos obscenos com o intuito único de atingir o ideal de paz proposto por Lisístrata. É que o sacrilégio das mulheres deve ser repreendido pela força masculina – mas a sua atuação é fraca, deixando-as livres para a sua própria “defesa”. Depois da intervenção, falhada, do Comissário, que pretende subsidiar equipamento militar com dinheiro público guardado na Acrópole pelo coro de mulheres, eis que finalmente o encontro entre Mírrina e Cinésias marca o ponto de viragem para a realização da paz: homem e Maria de Fátima Sousa e Silva, tradutora Elisabete Cação, encenadora mulher encontram-se para “o coiso”. A chegada, por fim, de arautos e delegados para a paz, tanto Atenienses como Espartanos, dita um fim utópico para os acontecimentos militares. Depois de bem bebidos, fazem finalmente tréguas, numa dança conjunta entre homens e mulheres, Atenienses e Espartanos. A Lisístrata hoje Não vivemos em ambiente de guerra civil; o sufrágio é universal; as mulheres ocupam cargos de chefia, ocupam cargos que antes eram apenas ocupados por homens. Mas o que fizeram elas até atingir esse estatuto? Por que lutas sociais e políticas tiveram elas de passar para chegar ao lugar em que estão? Esta peça pretende também ser um louvor a essas mulheres que lutaram pelos direitos já conquistados e a tantas outras que hão-de lutar pelos estão por conquistar. Por que razão, ainda hoje, uma mesma posição de trabalho, ocupada por um homem e uma mulher, tem por vezes diferente remuneração? Por que razão as mulheres necessitam de dar ainda mais provas das suas capacidades? Ficha técnica Tradução: Maria de Fátima Sousa e Silva Encenação: Elisabete Cação Produção: Carlos Jesus Direção de atores: Andreia Morado, Patrícia Grigolleto, Tânia Mendes Coreografia: Andreia Morado Vídeo: Tiago Cravidão Luminotecnia: Luís Carvalho Sonoplastia: Ricardo Neiva Programação visual: Carlos Jesus Música original: Elisabete Cação Figurinos: Mariana Fonseca Elenco: Carina Fernandes (Lisístrata), Iolanda Mendes (Calonice), Dávilla Ferreira/ Tânia Mendes (Mírrina), Inês Lopes (Lâmpito), Diego Broniszak (Cinésias), Pedro Sobral (Comissário), Diogo Ribeirinha (Arauto/ Delegado Espartano), António Oliveira (Delegado Ateniense), Lucas Galho, Renan Serralvo, Bruno Pereira, Claudio Ramos, Douglas Rabelo (Semicoro masculino), Cláudia Sousa, Mariana Almeida, Elvira Fueta, Daniela Fernandes, Cátia Coelho (Semicoro feminino). Maria de Fátima Sousa e Silva, tradutora Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Investigadora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da mesma Universidade. A pesquisa que tem realizado reparte-se entre traduções e estudos sobre o teatro grego, Aristófanes e Menandro, Ésquilo e Eurípides, historiografia grega e Heródoto em particular, além de estudos dedicados à pervivência de temas clássicos em textos dramáticos portugueses. Tem colaborado regularmente com diversas Universidades estrangeiras, em Espanha, França, Grécia e Brasil, como docente e conferencista. Elisabete Cação, encenadora Doutoranda em Estudos Clássicos – Poética e Hermenêutica, na Universidade de Coimbra. Terminou o Mestrado em 2010 com a tradução do grego das duas primeiras Filípicas de Demóstenes. Trabalha em oratória grega, especialmente com o cânone dos oradores áticos, e de momento dedica-se especialmente ao estudo das Tetralogias de Antifonte. No Thíasos, integrou o elenco do Hipólito de Eurípides (2010) e das Suplicantes de Ésquilo (2012).