Willian Rojo Libuy Por meio deste, gostaria de expressar meus agradecimentos a todos os meus colegas da SQM e da Yara, como também às seguintes instituições por suas relevantes contribuições com fotos e/ou gráficos: North Carolina State University. The University of Georgia. Yara (Norway). Willian Rojo Libuy Introdução A SQM é uma companhia líder na produção de fertilizantes especiais, elaborados através de processos que não prejudicam ao meio ambiente. Fortemente comprometida com o desenvolvimento da agricultura mundial, e em busca constante de novas informações agronômicas, a SQM decidiu editar Crop Kits para diferentes cultivos agrícolas, para que sirvam como diretivas para a obtenção de maiores volumes e melhor qualidade de produção, desta forma beneficiando os produtores, os profissionais da agricultura e os distribuidores. Este trabalho é uma síntese de informações teóricas e práticas, desenvolvidas pelo mundo da pesquisa e pelos grupos de pesquisadores técnicos da SQM, em nível mundial. Importantes comentários e contribuições vieram dos departamentos técnicos do Brasil e do México, sem esquecer a relevante contribuição da equipe técnica de nosso sócio YARA, os quais colocaram todas as suas informações à nossa disposição para a obtenção de um melhor resultado. Por isso, a todos o nosso mais profundo reconhecimento e nossa gratidão. Também gostaríamos de agradecer a todas as instituições de pesquisas agronômicas que foram citadas, garantindo o tão necessário rigor científico a esta publicação. Este Crop Kit tem por objetivo auxiliar no manejo agronômico do cultivo. No entanto, para uma maior exatidão técnica, devido às muitas condições diferentes de cultivo no mundo, é recomendável entrar em contato com as equipes técnicas da SQM e da YARA em seus respectivos países, que, sem dúvida, irão contribuir para a obtenção de uma melhor produção e de um maior rendimento. Este guia de manejo nutricional vegetal especializado foi elaborado em estreita colaboração com nosso sócio YARA. 3 4 Conteúdos Apresentação 6 1 Relação entre o Estado Nutricional do Cultivo e seu Desempenho Produtivo 7 2 Descrição Do Cultivo 8 2.1 Origem 8 2.2 Descrição Botânica 9 2.3 Tipos De Tabaco 9 2.4 Áreas De Cultivo 13 2.5 Solo 14 2.6 Condição Climática 19 2.7 Irrigação 21 2.8 Morfologia Da Planta 26 2.9 Fenologia Da Planta 29 2.9.1 Germinação E Preparação Da Muda 29 2.9.2 Transplante E Crescimento Na Lavoura 32 2.10 Parâmetros De Qualidade 37 2.10.1 Indicadores Objetivos Da Qualidade Do Tabaco 38 2.10.2 Cura 41 2.10.3 Nitrosaminas 46 2.11 Principais Doenças 48 2.11.1 Doenças de Raiz 48 2.11.2 Doenças Fúngicas Da Parte Aérea 50 2.11.3 Doenças Bacterianas 51 2.11.4 Doenças Virais 52 3 Função Dos Nutrientes 53 3.1 Nitrogênio 53 3.2 Fósforo 54 3.3 Potássio 54 3.4 Cálcio 56 3.5 Magnésio 57 3.6 Enxofre 58 3.7 Microelementos 59 4 Informações Sobre Manejo Nutricional Management 62 5 Deficiências Nutricionais Visuais do Cultivo 74 6 Nutição Especial para as Plantas e Principais Características Dos Fertilizantes 81 7 Prácticas a Considerar no Plano Nutricional 88 88 7.1 Momento Da Aplicação 7.1.1 Nitrogênio 88 7.1.2 Fósforo 89 7.1.3 Potássio 89 7.1.4 Cálcio 90 7.1.5 Magnésio 91 7.2 Alternativas Para o Programa Nutricional 91 7.2.1 Programa Nutricional Granular 91 7.2.2 Programa Nutricional Via Irrigação e Granular 93 8 Resultados Das Pesquisas 94 9 Testes De Campo 100 10 Refêrencia Bibliógrafica 103 5 6 Apresentação Este Crop Kit aborda o cultivo do tabaco, e abrange 10 capítulos. O capítulo 1 começa por assinalar a importância da nutrição para um bom resultado econômico da safra. Segue com o nº 2, com informações sobre os principais países produtores, sua produtividade, e depois vem a descrição do cultivo, suas necessidades climáticas, edáficas e hídricas. Acrescenta ainda sua morfologia e fisiologia, tipos distintos de tabaco e seus parâmetros de qualidade e, por último, detalhes sobre suas principais doenças. A seguir, no nº 3, há uma descrição da função de cada nutriente no cultivo, continuando com informações sobre um adequado manejo nutricional, assinalando a função específica de cada nutriente no cultivo (capítulo 4). Mais adiante, no capítulo 5, aparecem comentários e descrições das principais deficiências nutricionais, a fim de que sejam facilmente reconhecidas na lavoura. No capítulo 6 aparecem as diferentes alternativas de fertilizantes disponíveis para serem utilizados na lavoura, suas principais características, vantagens e desvantagens de cada um deles. O capítulo 7 apresenta as principais considerações técnicas para uma nutrição adequada e completa, além de distintas alternativas de programas nutricionais. O capítulo 8 mostra os resultados de pesquisas sobre o cultivo do tabaco, com ênfase na produtividade e na qualidade, e na utilização de programas nutricionais completos. O capítulo 9 apresenta alguns resultados de testes de campo e, por último, o capítulo 10 enumera a literatura citada. 1Relação entre o Estado Nutricional do Cultivo e seu Desempenho Produtivo A atividade agrícola na atualidade é muito dinâmica e exige muita competência; em conseqüência, os produtores em qualquer parte do mundo podem produzir e exportar suas safras. Assim, cada dia os agricultores precisam ser mais eficientes em sua produção; isso quer dizer produção e qualidade cada vez melhores e aos menores custos possíveis. Para alcançar este objetivo, são múltiplas as variáveis que precisam ser manejadas corretamente, como a adequada escolha da espécie a ser cultivada e a variedade apropriada à região do cultivo, o manejo correto da irrigação, a sanidade das plantas etc. Um papel fundamental para alcançar uma produção maior e qualidade melhor, com relação aos aspectos antes mencionados, é um manejo nutricional adequado. Em vista disto, este manual pretende mostrar alguns elementos técnicos que permitem um manejo melhor do cultivo. Na agricultura atual, é impossível conseguir boas safras, de maneira sustentada, temporada após temporada, sem que se faça o restabelecimento nutricional do solo, que é afetado pela absorção da planta, além de perdas por volatização, lixiviação e absorção, ciclo após ciclo. O manejo balanceado dos nutrientes implica em vários aspectos, como a aplicação dos 13 elementos que a planta absorve via solo e que são definidos como essenciais para seu crescimento. Mas, ao aplicá-los, é preciso levar em consideração as condições edáficas, que podem influir na disponibilidade dos nutrientes no solo. Também devem ser aplicados no momento oportuno e na quantidade exata, o que implica em conhecer os distintos estados fenológicos e as extrações da planta em cada um deles, e é preciso ainda considerar as fontes mais adequadas para cada etapa de crescimento da cultura. Insistimos nisso, porque um manejo correto e balanceado dos nutrientes resultará numa planta sadia, capaz de expressar todo seu potencial genético. É por isso que se pode potencializar o crescimento que seja mais relevante para o objetivo do produtor em cada etapa. Em outras palavras, é uma planta que irá produzir mais e com maior qualidade. Do contrário, sem um programa nutricional bem balanceado, o comportamento da planta fica prejudicado, sendo este um fator determinante para diminuir o rendimento econômico do cultivo, visto que se pode ter uma produção menor, ou uma planta mais propensa a doenças, o que irá resultar em maiores custos de produção, e/ou em qualidade inferior da safra. Portanto, como a nutrição correta é muito relevante para uma planta sadia, uma boa produção e uma alta qualidade são possíveis através de um manejo adequado, resultando 7 8 numa melhor relação custo/benefício. Investir um pouco mais em nutrição gera mais lucros para o produtor, que assim diminui o custo unitário da produção, mantendo a qualidade. 2 Descrição do Cultivo 2.1 Origem O Centro de Origem do N. tabacum (Espino, 1988), determinado segundo a distribuição de seus antepassados, em estado silvestre, se considera que sejam os altiplanos do Peru, do Equador e da Bolívia, nos arredores do Lago Titicaca, lugar onde estavam assentadas as antigas civilizações dos Incas e dos Chinchas, que foram as primeiras a cultivar o tabaco, uma vez que ele estava incorporado a suas culturas e mitologias. Embora a origem do tabaco (Nicotiana tabacum L.) se localize nos planaltos Andinos, nos arredores do lago Titicaca, sua difusão como cultivo comercial ocorreu a partir das Antilhas (Cuba e República Dominicana) e na costa leste dos Estados Unidos (Flórida e Virgínia). A produção e o consumo de tabaco pelos índios americanos estavam fundamentalmente baseados na espécie N. tabacum em toda a região sul americana e nas Antilhas, ao passo que a espécie N. rústica era produzida e consumida no México, nos Estados Unidos e no Canadá. Destes lugares, ele foi levado para a Europa por dois tripulantes da primeira expedição de Cristóvão Colombo, Rodrigo de Xerez e Luis de Torres, em meados de novembro de 1492. A cronologia da difusão mundial do tabaco parece estar muito bem definida. Nos primeiros anos após o seu descobrimento, as principais referências ao tabaco parecem estar relacionadas com sua difusão e suas formas de utilização pelos habitantes do Novo Mundo, uma vez que já em 1556 o tabaco está presente na França, chegando a Portugal em 1558, à Espanha em 1559 e à Inglaterra em 1565. No século XVI, o tabaco chegava à Itália, à Alemanha, aos Países Baixos, à Escandinávia, à Rússia, ao Iran, à África Ocidental e ao Extremo Oriente. Um século após, o tabaco já havia alcançado a Nova Zelândia e a Austrália, sendo assim um cultivo mundialmente difundido, presente nos cinco continentes. O tabaco que começou a ser cultivado pela França e pela Espanha era da espécie N. tabacum, de origem antilhana, ao passo que na Inglaterra e em Portugal foi introduzida a espécie N. rústica, procedente, respectivamente, do Brasil e da Virgínia. Alguns autores consideram que a difusão do tabaco a partir de seu centro de origem começou a uns dois ou três mil anos antes da Nossa Era e que os contatos entre as culturas autóctones resultaram na difusão do milho na direção sul, e do tabaco, na direção norte. A produção, a comercialização e o consumo do tabaco estão fundamentalmente baseados no cultivo da espécie Nicotiana tabacum L., e, em proporção e importância menores, na espécie Nicotiana rústica L., a qual é somente cultivada na Rússia e em alguns países da Ásia. As demais 64 espécies do gênero Nicotiana somente apresentam interesse sob o ponto de vista científico, e algumas delas como plantas ornamentais. 2.2 Descrição Botânica O tabaco (Nicotiana tabacum L.) é um anfidiplóide natural entre a espécie Nicotiana sylvestris Spegazzini e a Comes, e uma das espécies da seção Tomentosae, sendo as espécies N. tomentosa e Pavon, N. tomentosiformis Goodspeed e N. Otophora Griseback as mais freqüentemente consideradas o segundo progenitor. É uma planta perene, que se cultiva anualmente. Sua dotação cromossômica é de vinte e quatro pares de cromossomos. Gerstel (1960), depois de investigações minuciosas, conseguiu determinar que o genoma de N. Tomentosiformis é o que está mais proximamente relacionado com o N. tabacum, de acordo com a freqüência de segregação. Outras evidências parecem apoiar a hipótese de que os progenitores do tabaco são as espécies N. sylvestris e N. tomentosiformis (Espino, 1988; Sheen, 1972). Kung (1976), com base na análise eletroforética da fração I das proteínas do tabaco, estabeleceu que a espécie N. tabacum surgiu em conseqüência da hibridação sob condições naturais do N. sylvestris e N. tomentosiformis, dos quais primeiro resultou o progenitor feminino e a seguir o masculino. Goodspeed (1954) classificou o gênero Nicotiana em três subgêneros, 14 seções e 64 espécies, 45 das quais são de origem americana e 15 são autóctones da Austrália (Garner, 1946). 2.3 Tipos de Tabaco De acordo com as finalidades de sua utilização, diferentes tipos de tabaco foram estabelecidos no decorrer dos anos, e como resultado desta seleção surgiram tipos específicos de tabacos, relativamente diferenciados entre si por sua morfologia, sua composição química e suas propriedades organolépticas. 9 10 As características distintivas dos principais tipos de tabaco são: Virgínia Também conhecido por Flue-Cured, apresenta plantas altas, de folhas grandes e lanceoladas, que adquirem uma tonalidade amarela característica, ao serem secadas em atmosfera artificial a 60º - 70º C; tem sabor e aroma suaves, com conteúdo médio de nicotina e elevado de açúcares. A fumaça de sua combustão é doce e ácida. É utilizado para a fabricação de cigarros e para blends de cachimbo. Sua colheita é feita folha por folha e secado em estufas na base do calor. Burley São plantas de porte alto e folhas grandes, que adquirem tonalidades vermelhas bonitas quando secadas ao ar e acondicionadas ao calor. Se caracterizam por suas propriedades físicas: boa combustão, bom preenchimento e capacidade de absorver os flavores picantes nos blends dos cigarros. Seu sabor é neutro, o que resulta numa vantagem na utilização dos blends nas tabacarias e para cachimbos. Colhe-se a planta inteira, que é secada e curada ao ar. Curado a fogo São plantas de bom porte e folhas de tamanho variável, e quando secadas ao fogo direto adquirem tonalidades escuras e um sabor muito forte. São empregadas para blends de cachimbo, na produção de rapé e tabaco de mascar. Escuro São plantas de porte alto e folhas grandes, as quais, secadas ao ar, em atmosfera natural, e depois de um processo de fermentação, adquirem tonalidades que vão da cor do café com leite ao marrom escuro. Tendem a ter sabor e aroma fortes, alto conteúdo de nicotina, e uma reação alcalina da fumaça. Seu cultivo sob baixas condições de luminosidade resulta em capas para charutos de alta qualidade, que é a mais especializada de todas as produções no universo do tabaco. São usadas nas tabacarias, em blends para cachimbo e em capas para charutos premium. Oriental São plantas de porte baixo, folhas pequenas e numerosas, e que, curadas ao sol, adquirem tonalidades amarelas. Sua principal qualidade é o aroma característico que confere aos blends dos cigarros e de cachimbos nos quais é utilizado. Estes tipos de tabaco são cultivados em grandes áreas, como mostra a figura nº 1. O tabaco do tipo Virginia é responsável por mais da metade do tabaco produzido no mundo, 60%, seguido pelo Burley, com 13%, vindo depois o Oriental, com 12%, e, finalmente, o tabaco escuro, com 6%. Os demais são tabacos distintos, que, juntos, alcançam 9% da produção mundial. Participação mundial dos diferentes tipos de tabaco Oriental 12% Escuro 6% Burley 13% Outros 9% Virginia 60% Figura 1. Participação mundial dos diferentes tipos de tabaco. Sob o ponto de vista das partes do charuto, o tabaco é cultivado para produção de: Miolo É o blend de folhas que forma o interior do charuto e é nesta parte que está a força do mesmo, quer dizer, onde se aplicam as combinações secretas de folhas para conseguir o sabor específico de cada marca. O miolo se forma dobrando as folhas em forma de leque, criando passagens horizontais de ar para facilitar a tragada, assegurando em cada uma das tragadas a totalidade dos sabores do tabaco. É formado por meio de longas folhas de tabaco, que ocupam toda a longitude do charuto (em charutos mecanizados, o miolo é formado por folhas cortadas em pequenos pedaços); nos charutos premium de qualidade, o miolo é formado com folhas grandes para que o charuto tenha o mesmo sabor em toda a sua extensão e para que sua cinza seja consistente. Capote São as folhas do charuto que envolvem o miolo e o mantêm unido, contribuindo para uma boa combustão. O miolo é envolvido com uma folha chamada capote; ela influi no sabor, no aroma e na combustão do charuto, e seu sabor deve ser compatível com o do miolo e da capa. 11 12 Capa É a cobertura externa do charuto, que fica à vista e é formada por folhas especiais que dão ao tabaco seu aspecto, cor e aroma. Deve ser atrativa e bem constituída, de textura uniforme e suave ao tato. Figura 2. As partes do charuto: capa, miolo e capote. 2.4 Áreas de Cultivo O tabaco está amplamente espalhado pelo mundo, e é cultivado em mais de 120 países. A área total cultivada é de quase 3,9 milhões de hectares, nos cinco continentes. A produtividade média mundial é de 1,64 tonelada por hectare. Os vinte países que mais produzem são responsáveis por 87,7% da área plantada no mundo, correspondendo a 87,6% da produção mundial, como mostra o quadro nº 1. Tabela 1. Os vinte países com as maiores áreas de tabaco. País Produtor Superfície (ha) China 1.352.000 Brasil 469.678 Índia 438.000 Turquia 183.954 Estados Unidos 165.130 Indonésia 145.000 Malawi 122.000 Argentina 66.000 Grécia 56.006 Paquistão 46.800 Coréia, Rep. Dem. do Pov 45.000 Bulgária 40.000 Zimbábue 40.000 Tailândia 39.500 Itália 36.500 Tanzânia, Rep Unida da 34.000 Cuba 33.942 Filipinas 33.771 Bangladesh 33.000 Myanmar 26.000 Nigéria 22.000 TOTAL DOS PAÍSES DE MAIOR ÁREA 3.428.281 Produção Produtividade (ton.) (ton./ha) 2.409.500 1,78 928.338 1,98 598.000 1,37 160.000 0,87 398.810 2,42 141.000 0,97 69.500 0,57 118.000 1,79 121.000 2,16 83.700 1,79 64.000 1,42 60.000 1,50 80.000 2,00 80.000 2,03 102.765 2,82 24.500 0,72 34.494 1,02 47.800 1,42 40.000 1,21 49.000 1,88 9.200 0,42 5.619.607 1,64 TOTAL MUNDIAL 6.416.067 3.906.897 1,64 Fonte: Stat. da FAO, 2004. China, Brasil e Índia concentram mais de 65% de toda área mundial. O tabaco é cultivado em climas tropicais, subtropicais e temperados, e nas latitudes mais amplas, que vão desde os 45º de latitude Norte aos 37º de latitude Sul. E nas mais variadas altitudes, que vão desde o nível do mar até a 2 mil metros de altura. 13 14 2.5 Solo Quando se fala dos solos para o tabaco, realmente se fala das condições edáficas específicas que, dependendo da localização, resultam num tipo determinado de tabaco de excepcional qualidade. No entanto, há características comuns, que sempre estão presentes nos solos aptos para o cultivo do tabaco. Em primeiro lugar, o tabaco exige boas qualidades físicas: uma aeração adequada/ água e, acima de tudo, uma boa drenagem interna, uma vez que este cultivo é muito suscetível a deficiência de oxigenação no entorno da raiz e reage mal tanto ao excesso, como a carência de umidade. Por outra, o tabaco não tolera a presença de lençóis de água perto da superfície. Como regra, o tabaco exige uma reação ácida de moderada a neutra. Nos solos ácidos, a toxicidade provocada por alumínio e manganês baixa a produtividade e, sobretudo, a qualidade das folhas. Em solos onde existem carbonatos, poderá haver deficiência de potássio, que afeta a combustibilidade da folha. O pH ótimo para a produção de tabacos varia entre 5,2 e 6,5. Conforme mostra a figura 3, valores pH subácidos a neutros representam maior disponibilidade nutricional. Influência do pH do solo sobre a disponibilidade de nutrientes 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 GRAU DE ACIDEZ 7.5 8.0 8.5 9.0 9.5 10.0 GRAU DE ALCALINIDADE Nitrogênio Fósforo Potássio Enxofre Cálcio Magnésio Ferro Manganês Boro Cobre & Zinco Molibdênio Figura 3. Influência do pH do solo sobre a disponibilidade de nutrientes. Fonte: Yara. Com pH altos (acima de 7,5), o Fósforo (P), o Ferro (Fe), o Zinco (Zn), o Manganês (Mn), o Cobre (Cu) e o Boro (B) baixam notadamente sua disponibilidade. Com pH menores de 5,5, a disponibilidade geral dos nutrientes diminui no solo. Particularmente, tem-se uma disponibilidade mínima de Fósforo (P) e nenhuma de Molibdênio (Mo). Além do mais, com este pH (ácido) o cultivo poderá ser afetado pela toxicidade do Manganês (Mn), do Alumínio (Al) ou de alguns metais pesados. Esta toxicidade por Manganês é comum em solos ácidos, provocando crescimento lento na planta, folhas cloróticas, ou eventualmente a queda das mesmas. E, ainda, com a alta absorção deste elemento, a planta diminui sua absorção de outros íons, como o Ferro (Fe), o Cálcio (Ca) e o Magnésio (Mg) (Sims e Wells, 1985). Por outra, o comportamento dos fertilizantes no solo permite certa mudança no pH, através de sua reação ácida ou alcalina, que é medida através do índice de acidezalcalinidade (IAB), o qual pode variar a disponibilidade de nutrientes em solução (dentro de certos limites). Se o fertilizante provoca reação ácida, o IAB tem um sinal negativo e equivale aos kg de CaCO3 necessários para neutralizar o efeito de acidez da aplicação de 100 kg deste produto. Se o fertilizante provoca reação alcalina, o IAB tem sinal positivo e equivale aos kg de CaCO3 gerados pelo fertilizante em questão ao ser aplicado. Para efeitos de comparação de fontes, o IAB se expressa por kg de N aplicado, como mostra o quadro 2. Tabela 2. AAI de comparação de fertilizantes. Fertilizante Boronato 32 AG Cloreto de potássio Fosfato diamônico Fosfato monoamônico Nitrato de amônio Nitrato de potássio Nitrato de sódio Nitrato simples de potássio Sulfato de amônio Sulfato de cálcio Sulfato de potássio Sulfato de zinco Sulfato ferroso Sulpomag Superfosfato triplo Uréia AAI/100Kg A AI/100Kg 55 0 -70 -65 -61 20 26 29 28 -110 0 0 0 0 0 -83 -3,9 -5,9 -1,8 1,3 1,9 1,8 1,9 -5,2 -1,8 Fonte: Ortega R. 15 16 A respeito dos efeitos das exigências do tabaco com relação às condições do solo, os diferentes tipos de tabaco podem ser divididos em dois grandes grupos: os tabacos claros, que incluem o Virgínia e os orientais, e os tabacos escuros, sejam curados ao ar ou ao fogo. Para estes efeitos, o tabaco Burley ocupa posição intermediária, aproximando-se dos tabacos claros por suas exigências físicas e de textura, e aos tabacos escuros por suas exigências nutricionais. Os tabacos claros preferem solos de textura mais leve, com menor capacidade de intercâmbio iônico e menor disponibilidade de nutrientes. Os tabacos escuros respondem melhor em solos de textura mais pesada, com alto conteúdo de argila, e níveis medianos de matéria orgânica (M.O.), ao passo que sua reação pode chegar perto da neutralidade. De qualquer forma, a aplicação de matéria orgânica no solo é muito importante para melhorar suas características físicas (estrutura), desta forma favorecendo o aumento da capacidade de intercâmbio iônico (CIC), como pode ser observado na figura 3, e para incrementar a atividade microbiológica, melhorar a capacidade de retenção de água e evitar a lixiviação dos nutrientes em solução. CIC em mqe*100gr Relação entre CIC e MO no solo 50 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 % de Matéria Orgânica Figura 4. Relação entre CIC e MO no solo. Fonte: Casanova, O, 1999 – Faculdade de Agronomia, Montevidéu, Uruguai. Por sua vez, uma melhor capacidade de intercâmbio iônico pode gerar aumento de pH no solo, como pode ser visto na figura 4, o que permite aumentar a disponibilidade dos elementos do solo para sua absorção por parte das plantas. Figura 5. Relação entre CIC e pH. Fonte: Casanova, O, 1999 – Faculdade de Agronomia, Montevidéu, Uruguai. As bases de intercâmbio que normalmente são encontradas no solo, são mostradas na tabela 3: Tabela 3. Bases de intercâmbio no solo. Bases de intercâmbio (CIC) Base Proporção da CIC Cálcio 65-85% Magnésio 6-12% Potassio 2-5% Alumínio Less than 5% mg/kg Zinco 0,5-1 Ferro 4-5 Cobre 0,5-1 Manganés 0,2 Boro 1,0 17 18 Por outra, a salinidade afeta o cultivo de formas distintas, através do conteúdo salino total e através das toxicidades específicas dos distintos íons (Cloro, Sulfatos, e Carbonatos). O tabaco é uma planta sensível ao excesso de sais, e este problema se expressa num menor tamanho das plantas e das folhas, como resposta à dificuldade crescente de absorver água. Os conteúdos mais altos de sais (cloro e/ou sódio) nas folhas são também prejudiciais para a qualidade do tabaco colhido. Neste sentido, o uso racional dos fertilizantes é muito importante por causa de seu impacto no solo, uma vez que todos os fertilizantes são sais que contêm um índice salino, conforme mostra a tabela 4. De modo que, para evitar um excesso de sais no solo, recomendase o uso de fertilizantes de baixa salinidade. Tabela 4. Indice de Salinidade dos Fertilizantes. Fertilizante Cloreto de potássio Nitrato de amônio Nitrato de sódio Uréia Sulfato de amônio Nitrato de Potássio Amoníaco anidro Sulfato de potássio Sulfato diamônico Fosfato monoamônico Superfosfato triplo N P2 O5 K2O Índice salino 0 34 16 46 21 13 82 0 18 11 0 0 0 0 0 0 0 0 0 46 52 46 60 0 0 0 0 45 0 50 0 0 0 116 102 100 73 69 66 47 43 29 26 10 Fonte: Adaptado de Rader L., White L. e Whittaker C. 2.6 Condição Climática O tabaco é uma cultura tropical. Por isso, é sensível a temperaturas baixas e a geadas. Ele é cultivado num grande número de climas. No entanto, precisa de 90 a 120 dias sem geadas para um bom desenvolvimento. Na etapa do canteiro, ele precisa de temperaturas superiores a 16º C, ao passo que durante o seu desenvolvimento na lavoura a temperatura ideal situa-se entre 19º C e 28º C, segundo Burke, citado por Comis (1996). A temperatura tem grande influência sobre o tabaco, a tal ponto que influencia a área foliar da planta, como se pode observar na figura 6: Figura 6. Efeito da temperatura na superfície foliar. Fonte: Raper et al. E Agron J., 1971. Mais precisamente, culturas sob um regime de temperaturas mais altas (entre 26º C e 30º C) apresentam superfície foliar maior do que as cultivadas em temperaturas mais baixas (entre 14º C e 18º C). Especialmente na parte superior das plantas, a situação em questão, assinalada na mesma figura, é constatada a partir da 8ª folha até a parte extrema superior. Ao passo que na parte baixa da planta (da 8ª folha para baixo), as plantas não apresentam diferenças em sua superfície foliar, independente do regime térmico ambiental. Ao mesmo tempo, temperaturas mais altas geram maior número de folhas na planta, como mostra a figura nº 6. Nela podemos ver que o número de folhas aumenta em proporção direta com a temperatura do cultivo, chegando a mais de 40 folhas por planta quando a temperatura média do dia é de 34º C, e a média noturna é de 30º C. 19 20 Figura 7. Efeito da temperatura no número de folhas por planta. Fonte: Raper et al. E Agron J., 1971. Por outra, também foi estudado o efeito da temperatura no peso específico da folha e os resultados são mostrados na figura nº 8: Figura 8. Efeito da temperatura no peso específico da folha. Fonte: Raper et al. E Agron J., 1971. O quadro nos mostra que plantas cultivadas num regime térmico entre 14º C e 18º C produzem folhas com peso específico maior que aquelas plantas cultivadas em temperaturas mais elevadas. Independentemente da posição das folhas no pé, e à medida que aumenta o regime de temperaturas, o peso específico vai diminuindo. O tabaco é um cultivo de dia neutro e, por isso, não é influenciado pelo comprimento do dia para desenvolver seus processos e suas etapas fenológicas. No entanto, o tabaco requer dias claros para expressar melhor seu potencial produtivo. Durante o período da colheita, o ideal é um clima seco, que facilita a expressão aromática da planta. Também facilita o processo da cura da folha. Além de influir na duração do ciclo vegetativo, o clima afeta a qualidade do produto e a produtividade da safra (Marinez, 2005). 2.7 Irrigação Como planta de grande desenvolvimento vegetativo e de ciclo de crescimento curto, o tabaco é exigente tanto em termos de água como em elementos nutritivos. A irrigação é um importante componente para a produção de tabaco de qualidade. A planta é geralmente tida como tolerante à seca. E produz melhor com a falta de água do que com o excesso. Isto acontece porque a raiz é muito suscetível a condições de solos saturados. Contudo, ambos os fenômenos, a falta e o excesso de água, geram problemas para o cultivo. Na medida em que a falta de água resulta numa redução da produtividade e num produto de pouca combustibilidade, o excesso gera diminuição de nitrogênio protéico nas folhas, aumento do conteúdo de Potássio e diminuição de Cálcio e Magnésio. O uso da irrigação pode modificar as propriedades físicas e químicas na cura das folhas. A irrigação pode aumentar os níveis de açúcar da folha de tabaco e diminuir os níveis de nicotina. Segundo Jones G., 1996, uma seca tende a causar um aumento dos níveis de nicotina e uma folha mais encorpada, além de melhorar o sabor. Ao passo que um excesso de água gera redução nos níveis de nicotina, tornando a folha mais fina e de sabor inferior. Com a irrigação se consegue melhor desenvolvimento das raízes, que pode levar a aumento de 15% em volume de produção, por causa da maior absorção de água e de nutrientes. Folhas maiores são produzidas em comparação com cultivos que dependem unicamente da água da chuva para seu desenvolvimento. Um manejo adequado da irrigação para uma colheita máxima implica em manter o solo sempre a 50% de sua Capacidade de Campo nos primeiros 60 centímetros de profundidade. De modo que a planta não tenha dificuldade em extrair a água, mas também não fique inundada. 21 22 A Capacidade de Campo (como se pode ver na figura 9) varia de solo a solo, mas se encontra aproximadamente em 30kPa e pode variar entre 5-40kPa). Para o controle disto pode-se usar tensiômetros, que indicam quando o solo necessita de água. Potencial Hídrico do solo (kPa, log) - 100000 - 10000 Água retida pelo solo - 3100 - 1500 - 100 Ponto de Murchamento Permanente Capacidade de Campo - 10 -1 10 20 30 40 Conteúdo de Umidade (%vol) 50 Figura 9. Potencial Hídrico do solo. Moore e Tyson, 1998, reportam que a irrigação do tabaco antecipa a floração e resulta num menor número de brotos secundários depois de cortar a inflorescência floral. Os mesmos autores assinalam que, depois do transplante, para as condições de Geórgia (USA), a irrigação das plantas pode ser dividida em várias etapas: crescimento precoce, que vai do transplante até atingir 30 cm de altura (2 a 4 semanas após o transplante), onde a demanda de água é crescente, mas sem chegar ao máximo; crescimento rápido, a partir dos 30 cm de altura (4 a 10 semanas depois do transplante) até o botão floral, quando a demanda de água é máxima e onde um suprimento adequado resulta numa boa produção; finalmente, a etapa da colheita, quando a aplicação de água é novamente diminuída. A primeira irrigação deve preferivelmente ser feita após o transplante, para evitar a compactação do solo. Neste caso, recomenda-se aplicar meia polegada (12,5 mm) de água, a fim de umedecer o perfil até abaixo das raízes. Depois, se recomenda continuar com 15 a 20 mm por semana. Após isto, os suprimentos de água vão aumentando até o ponto de demanda máxima (5 a 6,5 mm por dia), num período que vai desde a sexta semana até a décima semana após o transplante, conforme mostra a figura n° 10. Durante este período, um adequado suprimento hídrico é de vital importância para uma boa produtividade e boa qualidade. Uso da água por dia (cm) 0.62 0.50 0.38 0.25 0.12 2 4 6 8 10 Semanas após o transplante 12 Figura 10. Manejo da água no tabaco. Fonte: Harrison e Whitty, 1971, citado por Moore e Tyson 1998. Quando a planta tiver atingido seu tamanho final e durante a colheita, ela deve receber suprimento hídrico, embora em quantidades menores em comparação às etapas anteriores. Isto ajuda a produzir uma folha mais grossa e mais encorpada. A safra toda pode chegar a consumir entre 4 e 6 mil metros cúbicos de água por hectare, dependendo da duração da safra, das características do solo, da condição climática e do manejo. Uma das formas para definir quando se deve regar o cultivo é pela utilização da bandeja de evapotranspiração classe A, cuja forma correta de instalação foi definida internacionalmente. A água a ser aplicada corresponde à evapotranspiração real do cultivo (Etc), que é calculada considerando-se a evaporação da bandeja (mm/dia) (Eb) multiplicado por um coeficiente de cultivo (Kc) e multiplicado por um coeficiente de bandeja (Kp). Etc = Kc x Kp x Eb 23 24 O coeficiente de cultivo (Kc) para cada etapa do tabaco é como segue: • durante o estado inicial (primeiros 10 dias), 0,3 a 0,4 • durante o estado de desenvolvimento (entre 20 e 30 dias), é 0,7 a 0,8 • ao atingir a metade do período de cultivo (entre 30 e 35 dias), é 1,0 a 1,2 • no período final do cultivo (entre 30 e 40 dias), é 0,75 a 0,85 Enquanto isso, o coeficiente de bandeja (Kp) normalmente se situa entre 0,6 e 0,8. Por outra, Maw, Standell e Mullinix, 1997, nos reportam uma curva de evapotranspiração do cultivo para as condições de Geórgia, conforme mostra a figura n° 11, onde as temperaturas mínimas foram de 10° C no começo do período e chegaram a 22° C no final. As temperaturas máximas chegaram a 26° C no começo da temporada, alcançando a 35 C no final. A precipitação pluviométrica foi de 371 mm durante as 20 semanas após o transplante. Figura 11. Evapotranspiração do Cultivo e Evaporação de Bandeja no Tabaco. Fonte: Maw, Standell e Mullinex, 1997. Neste caso, os autores diretamente indicam a evapotranspiração da safra – E(t), mas também a evaporação de bandeja – E(p), porque, ao dividir E(t) por E(p), podemos imediatamente conseguir o produto de Kc x Kp (a multiplicação de ambas as constantes) para fazer o cálculo de lâmina de água a ser aplicada de forma direta, isto é, somente usando a evaporação da bandeja e a constante que aparece na tabela 5: Tabela 5. O constante (Kc x Kp) no tabaco da Geórgia. Semana E (t)/E(p)=Kc*kp 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 0,19 0,54 0,76 0,94 1,09 1,02 1,05 0,90 0,98 0,92 0,83 Fonte: Elaboração própria a partir de Maw, Standell e Mullinex,1997. Neste caso, devemos levar em conta que as condições climáticas são distintas, fazendo com que os valores possam variar, permanecendo no entanto como um excelente guia para trabalhar. 25 26 2.8 Morfoligia da Planta A raiz principal da planta de tabaco se ramifica rapidamente para formar um sistema radicular densamente fasciculado e não muito profundo, como mostra a figura nº 11. Todavia, sob condições apropriadas de cultivo, ela pode chegar a uma profundidade e a um raio (crescimento lateral) de 1,5 metros. Figure 12. O tabaco tem um sistema radicular densamente fasciculado. O desenvolvimento do sistema radicular e sua morfologia sofrem forte influência das propriedades do solo e das técnicas de transplante; e talvez por esta razão 90% a 100% do peso das raízes se encontra distribuído nos primeiros 30 centímetros do solo. O peso das raízes é determinado pela característica das variedades, pela fertilidade do solo e pelas práticas culturais, entre as quais as de maior importância são a fertilização, a irrigação, o desbaste e a forma e o momento de fazer o camaleão. O talo apresenta uma seção poliédrica, que é muitas vezes definida como o resultado da fitotecnia empregada (desponte). Sua resistência mecânica não é elevada e freqüentemente não resiste ao volume de folhas produzidas pela planta. Sob condições normais de cultivo, a planta chega a uma altura de um a dois metros, com uma produção de folhas variando entre quinze a vinte e cinco por planta (Martinez, 2005). A planta de tabaco tem a propriedade de produzir gemas axilares endógenas, as quais, ao se desenvolverem, podem se transformar em flores perfeitas. A inflorescência do tabaco é uma panícula terminal. A corola cresce a uma grande distância do cálice, o que é muito característico; ela não tem pétalas e seu formato se parece com um cilindro alongado, dividido em cinco lóbulos em seu distal final. A cor das pétalas da espécie N. tabacum é rosada, e raras vezes branca ou amarelo-pálida. Os cinco estames estão unidos à base da corola e possuem anteras de formato oval. O estigma se encontra no final de um grande estilo, que cresce sobre a abertura da corola. O comprimento dos estames é variável, mas geralmente estão acima do estigma. As folhas do tabaco têm predominantemente um formato oval, brotam diretamente do talo e têm uma aparência fosca, com pilosidade abundante. Sua cor varia do verde claro nas variedades “Virgínia” a verde intenso nas variedades do tipo “Escuro Curado ao Ar”. O formato da folha, seu ângulo de inserção, a forma de união com o talo (peciolada ou séssil), a simetria da folha, suas dimensões e a relação entre seu comprimento e sua largura são as peculiaridades mais importantes da folha que caracterizam e diferenciam os diferentes tipos de tabacos e, freqüentemente, as variedades dentro de um mesmo tipo. O tabaco é uma planta dicotiledônea e vivaz, que rebrota ao ser cortada. Suas folhas, como mostra a figura nº 12, são lanceoladas, alternadas e pecioladas. Suas flores são hermafroditas, freqüentemente regulares. Suas raízes são penetrantes, embora a maioria delas se encontre na parte superior e mais fértil do solo. 27 28 Figura 13. Parte aérea da planta de tabaco. Por suas dimensões, a densidade da safra utilizada comercialmente vai de 10 mil a 25 mil plantas por hectare, dependendo da latitude, do tipo de tabaco e do destino da produção. O número normal para o Flue-Cured são 16 mil plantas por hectare. Distâncias menores entre as fileiras na lavoura (maior densidade) geram um tabaco de folhas de menor tamanho, mais finas e com menor conteúdo de nicotina, ao passo que, com menores densidades na lavoura, obtém-se o efeito contrário (Jones. G, 1996). A posição das folhas é de grande importância na planta, uma vez que ela representa diferentes graus de produtividade. De acordo com a figura 14, a posição da folha no pé representa uma determinada parte da produção da planta, dependendo da altura ou da posição em que se encontra. Na figura anterior pode-se verificar que quase 80% da produção está concentrada entre a 5ª e a 18ª folha. Porcentagem da colheita (%) Efeito da posição da folha no rendimento 14 12 10 8 6 4 2 0 1,2 3,4 5,6 7,8 9,10 11,12 13,14 Posição da folha 15,16 17,18 19,20 Porcentagem da colheita Figura 14. Efeito da posição da folha no rendimento. Fonte: Brown e Terril, 1972. 2.9 Fenologia da Planta 2.9.1 Germinação e Preparação da Muda O processo de crescimento e de desenvolvimento da planta de tabaco começa com a germinação das sementes, que são minúsculas em tamanho, e 10 mil sementes pesam apenas um grama (Agenda do Salitre, 2001). Para uma germinação acima de 90%, é preciso usar sementes peletizadas de alta qualidade, com garantia de alta porcentagem de germinação (Smith, Peedin, Yelverton Y Saccer, 1988). Os mesmos autores assinalam que, para uma boa germinação, a semente necessita de umidade e de temperaturas uniformes, entre 21º C e 24º C, por um período de sete a dez dias. E logo depois que a maior parte da semente tiver germinado, a temperatura poderá variar entre 13º C e 15º C durante a noite, e entre 27º C e 29º C durante o dia. O processo de germinação e o primeiro estágio de crescimento, até que a muda chegue até o ponto de ser transplantada, leva entre 6 a 8 semanas, conforme mostra a figura 15. 29 30 Estágios de desenvolvimento da Muda 45 a 80 dias Semente Estágio 0 7 a 20 dias Duas folhas Quatro folhas expandidas expandidas Estágio 1 Estágio 2 Muda Estágio 3 Transplante Estágio 4 40 a 60 dias Figura 15. Estágios de desenvolvimento da Muda. Fonte: North Carolina State University. Atualmente, existem sistemas avançados para o desenvolvimento das mudas, e estes incluem a utilização de estufas, os sistema float e o sistema de bandejas aéreas para a produção de mudas, conforme mostra a figura 16. Figura 16. Sistemas para o desenvolvimento de mudas. As mudas também podem ser produzidas em canteiros, um sistema com menos tecnologia, mas que produz resultados aceitáveis. Neste caso, recomendam-se 200 metros quadrados de sementeira por hectare de tabaco a ser cultivado, com densidade de 400 plantas por metro quadrado, a fim de garantir o transplante num período curto de tempo e com mudas de tamanho adequado. De qualquer modo, um número suficiente de mudas deve ser garantido, caso haja problemas de germinação. Juntamente com a temperatura, a umidade e a nutrição são fundamentais nesta etapa. É importante usar um substrato capaz de drenar os excessos de água, tendo em vista que as irrigações devem ser freqüentes neste período, a fim de evitar que as plantas desidratem. Este substrato deve ser umedecido totalmente antes da semeadura. A planta de tabaco é sensível ao excesso de sais; por isso, é conveniente conhecer as características da água que temos à disposição, desta forma evitando a presença de bicarbonatos, cloretos e o excesso de sódio, uma vez que estes poderiam queimar a folhagem da muda em crescimento. Durante esta etapa, a muda desenvolve tanto a parte aérea como suas raízes. O manejo técnico deve tentar intensificar o crescimento do sistema radicular, de modo que seja capaz de suportar o estresse do transplante, provocando crescimento rápido das raízes, que se refletirá no desenvolvimento da planta na lavoura. Segundo estudos realizados por Caruso, Pearce e Bush, 2000, a maior taxa de crescimento do sistema radicular, em mudas desenvolvidas em estufas, ocorre entre os dias 24 e 40 após a emergência, com temperaturas entre 21º C e 24º C. A nutrição, nesta etapa, segundo recentes pesquisas, deve ser feita a partir da segunda semana após a germinação, com elementos solúveis, numa relação de N:P2O5:K2O 3:1:3.; acrescentando uma concentração de 100 e 150 ppm de N., e quatro semanas depois a mesma relação deve ser aplicada, com 100 ppm de N. Como prática cultural, a folhagem da planta é podada durante as primeiras semanas de crescimento, conforme mostra a figura 17. De acordo com Smith, Peedin, Yelverton e Saccer, 1988, isto é recomendado para aumentar a resistência das plantas na hora do transplante e para obter uniformidade no comprimento e no diâmetro do talo. Este último é especialmente importante no caso de transplantes mecanizados. 31 32 Figura 17. Exemplo sobre a poda das folhas na planta. Fonte: X Seminário Tabaco SQM. Os mesmos autores também assinalam que a poda pode ser utilizada para retardar o transplante, caso a lavoura não esteja em condições favoráveis. Eles também afirmam que o mais apropriado para maximizar as plantas utilizadas é fazer três a cinco podas. No entanto, há produtores que fazem bem mais podas. Não obstante, é preciso ter cuidado com a severidade da poda, uma vez que pesquisas realizadas na Virgínia, por David Reed, demonstraram que podas severas (a 1,25 cm acima da gema de crescimento), diminuem o comprimento do talo, e não aumentam seu diâmetro. Isto pode acarretar crescimento menor na lavoura e retardamento da época de floração. Atualmente, recomenda-se iniciar a poda com intervalos de três a cinco dias, quando as mudas estão 5,0 a 7,5 cm acima da bandeja, e fazer o corte a 3,5 cm acima da bandeja. 2.9.2 Transplante e Crescimento Na Lavoura Uma vez que a lavoura e as mudas estão prontas, como mostra a figura 18, elas devem ser levadas ao campo. Effect of the Position of the Leaf on Yield Figura 18. Diferentes sistemas de mudas. Fonte: Willani S. X Seminário Tabaco SQM. Ocorre um estado de estresse pós-transplante, que pode durar até 15 dias, dependendo das condições climáticas e das mudas. Uma vez que este processo estiver superado, as mudas começam a desenvolver sua estrutura rapidamente, conforme mostra a figura 19. Esquema dos distintos estágios fenológicos 30 days 50 days 30 days Semana pós-transplante 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Figura 19. Esquema dos distintos estágios fenológicos. A raiz tem uma etapa de crescimento que dura pelo menos os três primeiros meses do ciclo de crescimento, conforme mostra a figura 20, e durante os quais, em cinco semanas – quer dizer, da 7ª a 12ª –, quase quintuplica sua matéria seca, fato que mostra que há uma taxa muito elevada de crescimento durante este período. 33 34 Figura 20. Média de Matéria Seca do sistema radicular da Planta de Tabaco. Fonte: Ensaio de Anton Scholtz, South African Golden Leaf, África do Sul. Estes fatos são confirmados por testes realizados no Brasil, onde as raízes de plantas produzidas de formas distintas dobraram seu peso in natura entre o segundo e o quarto mês após o transplante (Sérgio Willani, Seminário Tabaco – 2005). Também testes feitos na Geórgia, pelos autores Maw W., Standell J. e Mullinix G, 1997, indicam que a principal época de crescimento das raízes ocorre antes da 11ª semana após o transplante (dois meses e meio após o transplante). A quantidade de raízes desenvolvidas define o crescimento da etapa seguinte, que é o crescimento aéreo (Collins, 2001). Logo após o começo do crescimento das raízes, com uma certa defasagem de tempo, inicia-se um rápido desenvolvimento da folhagem, a partir do segundo mês após o transplante. Isto também é confirmado por um estudo realizado na Geórgia, onde os autores indicam que, logo depois que o principal crescimento das raízes ocorre, se desencadeia o crescimento da folhagem, enfatizando a necessidade do crescimento das raízes antes que se inicia o crescimento aéreo. O crescimento aéreo se intensifica nesta etapa, alcançando sua maior expressão entre a quinta e a duodécima semana após o transplante, conforme pode ser visto na figura 21, período em que 86% da matéria seca aérea é formada, de acordo com informações encontradas em tabaco Flue-Cured na África do Sul. E é novamente intensificada logo após a aparição e a poda dos botões florais, que acontece na nona semana, durante a qual há um acúmulo de crescimento de matéria seca nas folhas. Durante este período (entre a 9ª e a 12ª semana) há um acúmulo aéreo acima de 40%. Figura 21. Média de Matéria Seca nas Partes Aéreas da Planta de Tabaco. Fonte: Ensaio de Anton Scholtz, South African Golden Leaf, África do Sul. Segundo Collins, 2001, quando o tabaco Virgínia inicia a floração (como mostra a figura 22), é o momento de fazer o desponte (remoção do botão floral) e o controle dos brotos. Por sua vez, a colheita deverá começar duas semanas mais tarde. 35 36 Figura 22. Sinergia e antagonismo na toma de nutrientes na zona da raiz da planta entre cation E as fontes de nitrato e amônia. A remoção do botão floral permite um maior crescimento ao resto da planta, uma vez que toda a água e os nutrientes para seu desenvolvimento se redistribuem, tanto para a raiz como para a folhagem. Da mesma forma, a remoção dos brotos (crescimentos secundários) permite uma maior expansão às folhas em crescimento e uma folhagem mais vigorosa. Tão logo que estes procedimentos são finalizados, a planta entra numa fase importante de crescimento aéreo, seja em altura, em tamanho ou extensão das folhas. Normalmente, a planta de tabaco Virgínia atinge seu ciclo de crescimento em mais ou menos 90 dias, ao passo que o tabaco Burley leva 120 dias, após os quais a colheita começa. O processo de colheita poderá levar de 5 a 7 semanas, dependendo do estado do cultivo e das condições climáticas. Sob condições normais, segundo Hawks, 1980, as folhas de tabaco amadurecem da parte basal até a parte apical da planta, mais ou menos de duas a quatro folhas por semana. Isto significa que o ritmo da colheita é de duas a quatro folhas por semana. Em outras palavras, os extremos da colheita (dependendo da densidade das plantas e do número de folhas maduras por semana) poderiam estar entre 20 e 100 mil folhas por hectare por semana. Segundo o mesmo autor, este processo é o que mais exige mão-de-obra e deve, portanto, ser devidamente preparado para evitar atrasos na colheita. Uma folha de tabaco está pronta para ser colhida logo que tiver atingido seu tamanho máximo e seu peso ideal, e quando começa a sentir “falta de nitrogênio”, isto é, quando começa a dar sinais de clorose, como mostra a figura 23. Figura 23. Estado de Maturação das Folhas para serem Colhidas. 2.10 Parâmetros de Qualidade A qualidade do tabaco, definida como complexo de propriedades químicas, físicas e organolépticas, que se transformam durante a pirólise e produzem um determinado conjunto de sensações, que um fumante considera prazerosas, é o resultado da produção agrícola da matéria-prima (folha de tabaco) e sua transformação ocorre durante os processos de cura, fermentação e tecnológicoindustrial. Tem sido dito muitas vezes que o processo de produção do tabaco, da sementeira à indústria (especialmente quando é destinado à fabricação de cigarros), está mais próximo da arte do que da tecnologia; embora a ciência e a técnica moderna possam dar melhorias substanciais às tecnologias tradicionais. Praticamente todas as práticas agrícolas têm influência sobre a qualidade do tabaco, a começar pela escolha do ecossistema (clima, solo e vegetação) no qual a folha será produzida, passando pela seleção do tipo de tabaco e das variedades usadas, até o sistema de fertilização, infra-estrutura da lavoura, uso da irrigação e práticas fitotécnicas (manejo técnico). 37 38 2.10.1 Indicadores Objetivos da Qualidade do Tabaco Os indicadores que caracterizam a qualidade dos diferentes tipos de tabaco são vários, mas em geral podem ser agrupados em três grupos de critérios (Tso, 1990): Critérios organolépticos • Tamanho das folhas • Cor • Uniformidade • Presença de matérias estranhas • Danos foliares • Textura • Corpo • Maturidade • Odor • Sabor • Nível foliar Critérios físicos • Fator de enchimento • Resistência mecânica • Higroscopicidade • Rendimento em fibra • Combustibilidade Critérios químicos • Conteúdo de açúcares • Nicotina • Extrato de éter de petróleo • Alcalinidade do extrato aquoso da cinza • Nitrogênio total • Nitrogênio protéico • Amido • Acidos voláteis • Bases voláteis totais A qualidade da capa Nos tabacos escuros, a avaliação da qualidade depende do destino industrial final do produto. No caso da produção de charutos, existem diferenças marcantes entre os critérios de valorização das folhas que se destinam a capas e ao preenchimento. A produção de capas para charutos premium é provavelmente a mais especializada das produções da agroindústria tabaqueira. A folha para este fim se valoriza de acordo com seu/sua: • Tamanho • Forma • Cor • Textura • Corpo • Combustibilidade • Elasticidade • Oleosidade • Brilho • Ausência de danos e manchas na superfície A qualidade do filler As folhas destinadas para filler ou preenchimento dos charutos são avaliadas por: • Tamanho • Cor • Combustibilidade • Textura • Corpo • Força • Conteúdo de nicotina Muitas variáveis influem na qualidade das folhas de tabaco. E para as mencionadas anteriormente, é preciso acrescentar que cada parte da planta cultivada produz folhas de qualidades distintas, conforme mostra a figura 24. 39 40 Figura 24. Qualidade das folhas de tabaco. A classificação dos grupos mostra que as folhas da parte mais baixa da planta são chamadas “Primings” (P) e contêm de 1,5% a 2% de nicotina e de 5% a 10% de açúcares. São folhas de formato e de pontas arredondadas, sendo as primeiras a amadurecer na lavoura, em parte pela redução gradativa no fornecimento de nutrientes, e são de cores claras e pálidas. No estágio seguinte estão as folhas chamadas “Lugs” (X), que contêm 2,5% de nicotina e de 12% a 20% de açúcares. São folhas com pontas um tanto achatadas, apresentam cor mais intensa que as anteriores, e corpo de fino a médio. Mais acima vêm as chamadas “Cutters” (C), que contêm 2,5% de nicotina e entre 12% a 22% de açúcares. São folhas que crescem no meio da planta, ou logo abaixo. Elas têm mais de 40 centímetros de comprimento, com pontas arredondadas e extremidades onduladas, de corpo fino a médio, e sabor suave e aromático. A seguir vêm as folhas chamadas “Leaf” (B), que contêm de 3% a 3,5% de nicotina e acima de 15% de açúcares. Desenvolvem-se na metade superior da planta, são mais estreitas que as anteriores e suas extremidades são em ponta, com mais cor, mais corpo e ricas em aromas e óleo. Por último, no extremo superior da planta, estão as folhas chamadas “Smoking Leaf” (H) que contêm 3% de nicotina e entre 12% a 20% de açúcares. Elas são as de combustibilidade mais elevada, devido a sua estrutura aberta; e apresentam um altíssimo grau de maturidade, de onde provém seu aroma característico. São muito difíceis de conseguir. É importante assinalar que esta última classificação pode variar de uma propriedade para outra; em outras palavras, o conteúdo de nicotina de uma folha B de uma lavoura pode ser menor do que o conteúdo de folha X de outra lavoura, o que não poderá ocorrer quando são comparadas folhas da mesma lavoura. Por outra, Hawks Jr., 1980, menciona que no tabaco Flue-Cured, a qualidade e o aroma podem depender da variedade do tabaco cultivado. E que as folhas da parte inferior do talo têm sabor e aroma menos intensos do que as folhas da parte superior. O mesmo autor indica que a capacidade de enchimento do tabaco é definida como a quantidade de tabaco que preenche um determinado espaço, isto é, o tubo de papel do cigarro. E, em geral, o tabaco que provém da parte inferior do talo tem maior poder de preenchimento do que o tabaco da parte alta, mas estas folhas por sua vez têm maior poder de preenchimento do que as da posição central do talo. Fatores como o tamanho e o formato das folhas, sua integridade, a tonalidade da cor e sua intensidade, a elasticidade e a suavidade da folha, nos indicam quais foram os métodos de cultivo e de cura e as condições climáticas sob as quais o tabaco se desenvolveu e de qual posição do talo as folhas provêm. Uma parte importante com relação à qualidade do tabaco é definida na lavoura, em função das condições de cultivo, de solo e de clima. Sem dúvida, após a colheita a qualidade do tabaco pode variar de maneira determinante durante o processo da secagem. 2.10.2 Cura Segundo Hawks, 1980, a cura tem duplo objetivo. Inicialmente, criar as condições de temperatura e de umidade para que se possam processar nas folhas as mudanças químicas e biológicas desejadas. Depois, conseguir que as folhas, por meio de uma secagem apropriada, mantenham seu potencial de qualidade. 41 42 A cura do tabaco Virgínia (Flue-Cured). A primeira condição para se obter uma cura uniforme é iniciar com tabaco uniformemente maduro. Quando se antecipa a colheita, a qualidade pode diminuir, e quando ela é retardada, a produção poderá diminuir. No começo do processo da secagem, as folhas têm entre 80% a 90% de água, e o resto corresponde a matéria seca. E desta matéria seca, uns 25% são açúcares e os demais 75% são pigmentos, componentes bioquímicos, minerais etc. Com uma cura e uma secagem adequadas, somente podemos manter a qualidade alcançada na lavoura, mas não podemos melhorá-la, embora se possa piorá-la se a cura é feita de maneira inadequada. O processo de cura do tabaco Virgínia consta de três fases: 1ª Fase da Amarelação 2ª Fase da Secagem da Folha 3ª Fase da Secagem do Talo Durante a primeira fase, a da amarelação, as folhas adquirem a tonalidade amarela, vão perdendo umidade e passam por vários processos biológicos. O pigmento amarelo aparece pela destruição da clorofila na folha. Para uma amarelação apropriada, o oxigênio precisa ingressar na folha, o que acontece através dos estômatos. A penetração de oxigênio acelera a transformação do amido em açúcares simples (glicose, frutose e sacarose). Uma pequena parte destes açúcares é consumida nos processos respiratórios da folha, através dos quais a energia calórica é gerada, a qual tem como efeito indesejado o aquecimento do tabaco não curado; por isso, uma boa ventilação se faz necessária. Os processos de desaparecimento de clorofila e de formação de açúcares simples ocorrem simultaneamente e, por isso, a mudança de cor pode servir como visualização destes açúcares. Nesta etapa, a folha perde muito pouca umidade e a temperatura de cura não passa de 35º C, e sua duração é de mais ou menos 36 horas, conforme mostra a figura 25. Figura 25. Curva da Umidade Relativa e Temperatura utilizada na cura do Tabaco Flue-Cured. Tabela de transformação: ºF=1,8(ºC) + 32 0ºC é igual a 32ºF e 100ºC é igual a 212ºF Fase da Secagem da Folha: Durante esta fase, que dura aproximadamente entre 44 e 48 horas, a umidade da folha baixa consideravelmente até 40%. Por sua vez, a temperatura de cura tem seu maior aumento, passando de 35ºC (segun especialista 38C) para 54ºC. Só depois que a folha perdeu entre 40% a 50% de umidade é possível aumentar a temperatura de cura; caso contrário, poderá ocorrer o escaldamento, e a folha poderá ficar completamente marrom em poucos minutos. Fase da Secagem do Talo: Este processo ocorre a uma temperatura não superior a 75ºC, embora seja recomendado não ultrapassar os 71ºC. Nesta etapa, quando a folha está completamente seca, as mudanças bioquímicas quase já cessaram; o que se busca é extrair a umidade da nervura sem estragar a lâmina da folha. Sua duração é de mais ou menos 48 horas, e é a parte mais difícil em termos de extração de umidade; é por isso que se trabalha com uma diferença térmica de pouco mais de 40ºC entre o termômetro de bulbo seco e o de bulbo úmido, e assim se consegue baixar a umidade de 40% a 20%. 43 44 No processo da cura existem três fatores que são determinantes e que devem ser manejados apropriadamente, como a temperatura do ar, a umidade ambiental e a circulação do ar (como mostra a figura 26). Entrada do Ar Saída do Ar Aumento do fluxo de ar Fornalha Diminuição do fluxo de ar Figura 26. Durante o cuidado, a temperatura do ar, a umidade do ambiente e a circulação do ar devem ser cuidadosamente gerenciadas. Fonte: IX Seminário de tabaco SQM. A utilização dum instrumental apropriado para sua medição garante o bom manejo destas variáveis. Para esta finalidade, atualmente se utiliza o “Psicômetro”, que consiste num conjunto de dois termômetros, um com bulbo seco e outro com bulbo úmido. Este último está conectado a um contêiner de água através de um pavio, conforme mostra a figura 27. O resultado disto é que quando a água da coluna evapora, ela resfria o bulbo úmido, e desta forma o termômetro indica uma temperatura menor do que a do bulbo seco. Isto é de extrema importância porque a diferença entre ambos os termômetros indica o potencial de cura; isto é, quanto maior a diferença entre ambos, tanto maior será o potencial de cura. Temperatura Bulbo Seco Temperatura máxima durante a fase da secagem do talo 70 68 Temperatura Bulbo Úmido °C 70 60 Temperatura Máxima Fase da Secagem da Folha 50 Temperatura Máxima Fase da Amarelação 40 30 60 52 42 50 43 39 37 32 Temperatura Máxima Fase da Secagem da Nervura 32 40 30 Temperatura Máxima Fase da Secagem da Folha Temperatura Máxima Fase da Amarelação Figura 27. Psicômetro Fonte: IX Seminário de Tabaco SQM. Uma vez que a água evapora das folhas de tabaco durante a cura numa proporção semelhante de sua evaporação do bulbo úmido, a leitura deste bulbo pode servir como indicador da temperatura das folhas. A temperatura das folhas pode se tornar crítica durantes as fases de amarelação e de secagem. Como critério podemos mencionar aqui que durante o processo de amarelação a leitura do termômetro seco não deve exceder os 38ºC; ao passo que a leitura do termômetro úmido deve estar 1 ou 2 graus abaixo da temperatura do termômetro seco. Durante a secagem da folha, o termômetro de bulbo seco não deve exceder os 54ºC. Por isso, deve-se ir aumentando a temperatura ao ritmo de um grau por hora, enquanto o termômetro de bulbo úmido deve estar mais ou menos em 40ºC. E durante a etapa da secagem do talo, o bulbo seco não deve exceder os 71ºC, e a temperatura deve ser aumentada numa proporção de um grau por hora. A temperatura do bulbo úmido deve estar ao redor de 43ºC. De qualquer forma, estes valores são apenas referenciais e devem ser revistos de acordo com as condições de cada lugar. 45 46 A Cura do Tabaco Escuro. Por definição, o tabaco escuro é um tabaco curado ao ar e este processo difere do processo de cura dos tabacos colhidos folha por folha. Na primeira etapa da cura, a folha perde a umidade, o que acontece rapidamente durante os primeiros 8 a 15 dias do processo, de tal forma que a umidade inicial, de 85% a 90%, baixa para 20% a 25%. É neste período que acontece a destruição metabólica dos pigmentos verdes, que ocorre de maneira muito rápida, quando também os pigmentos amarelos começam a ser destruídos; mas este processo é mais lento. Durante a segunda fase do processo de cura ocorre a fixação das cores carameladas que caracterizam o tabaco escuro, produzidas pela oxidação dos polifenóis, principalmente o ácido clorogênico. Durante o processo de cura também ocorrem transformações químicas importantes na folha do tabaco escuro, que resultam em seu aroma e seu sabor característicos. Também fazem parte deste processo uma drástica redução do conteúdo de proteínas e de carboidratos, e uma rápida redução dos níveis de alcalóides. O resultado final do processo de cura inclui uma perda de matéria seca da folha de tabaco. A cura do tabaco escuro é feita em “galpões de secagem”, nos quais a temperatura e a umidade são controladas de alguma maneira, mediante a circulação de ar externo. Nos últimos anos, para os tabacos capeiros foram introduzidas instalações de cura controlada, nas quais as variações de temperatura e de umidade que melhor convêm para o processo da capa são feitas de forma controlada. Nestas instalações, o processo de cura do tabaco escuro transcorre mais rápido que em condições normais (aproximadamente a metade do tempo) e o rendimento em folhas para fins de capa é consideravelmente superior, fato que justifica o investimento nas construções e os custos em energia. 2.10.3 Nitrosaminas As nitrosaminas são compostos químicos presentes em inúmeros produtos de consumo no mundo, dos quais muitos são alimentos. Estes compostos constituem um risco para a saúde humana, visto que são potencialmente cancerígenos, embora seu uso seja internacionalmente permitido. Para o caso dos alimentos, o problema é controlado pelo uso destes produtos em pequenas quantidades, fato que minimiza mas não elimina o perigo. No caso do tabaco, se o processo de cura não for realizado corretamente, este tipo de substâncias podem ser produzidas. Por isso a importância de um adequado processo de cura, evitando sua formação durante o mesmo, assim tornando sua concentração cada vez mais baixa. Tudo o que se sabe até o momento é que estes compostos se sintetizam a partir do nitrato presente nas folhas na hora da colheita, conforme mostra a figura 27. Isto não significa que deixando de utilizar fontes nítricas na nutrição das plantas possa diminuir o problema; muito pelo contrário, isto só tende a aumentá-lo, porque as fontes amoniacais são transformadas em nitrato no solo e são então absorvidas pela planta. Uma vez que esta absorção pode ser tardia, a tendência é que haja altos níveis de nitrato nas folhas no estágio mais avançado da safra. Figura 28. Hipóteses sobre a formação de Nitrosaminas (TSNA) no tabaco. Por outra, ao usar fontes nítricas diretamente, a planta as absorve mais rapidamente e tem mais tempo para transformá-las em compostos orgânicos (proteínas), e, por este motivo, no momento da colheita, os níveis de nitrato nas folhas podem estar mais baixos, isto porque a planta absorveu o nitrogênio mais cedo durante a temporada. Por causa disto, a estratégia nutricional das companhias tende a fazer as aplicações de nitrogênio mais cedo, o que, entre outros motivos, procura evitar a formação destas substâncias. Nitrosaminas também podem ser produzidas quando o produto entra em contato direto com o fogo, o que na verdade acontece com muitos processos de produção de alimentos. Igualmente no tabaco, se o fogo direto for usado, a concentração de nitrosaminas aumenta. Por isso, se recomenda o fogo indireto no processo da cura. 47 48 Nitrosaminas também aparecem no tabaco através da transformação da nicotina (alcalóide), como mostra a figura 29. Isto significa que, a partir da nicotina que está presente na folha de tabaco se formam os alcalóides secundários, e, destes, as nitrosaminas são formadas (NNK, NNN, NAB e NAT). Sabe-se também que as nervuras da folha concentram maiores níveis de nitrosaminas totais do que as lâminas das folhas. Igualmente, períodos de chuva e de alta umidade durante o processo da cura são precursores da formação destes compostos. Figura 29. Formação de Nitrosaminas a partir de Alcalóides Secundários. 2.11 Principais Doenças 2.11.1 Doenças de Raiz Uma das doenças produzidas por fungos fitopatógenos do solo é conhecida em países de língua espanhola como “canela preta” (Black Shank para os de língua inglesa). Esta doença, produzida por um fungo, Phythophtora Parasítica var Nicotianae, afeta principalmente as raízes e as partes basais do talo. Mas sob condições ambientais favoráveis e sob forte pressão do inóculo, pode afetar todas as partes da planta. Os sintomas variam com a idade do plantio: em mudas novas, que são particularmente sensíveis, ela provoca uma murchadeira generalizada nas raízes, e na porção basal do talo se observam lesões que vão de pardas a negras (que dão o nome à doença) e chegam a destruir o sistema vascular da planta. Sob condições favoráveis, a doença se propaga rapidamente talo acima até alcançar as folhas superiores. O murchamento foliar típico abrange todas as folhas e progride durante o dia, alcançando seu máximo durante as horas do meiodia, mas durante os estágios iniciais se observa uma recuperação do inchaço das folhas durante a noite. Na medida em que a infecção avança, as folhas começam a amarelar e murchar ao longo do talo. No seu estágio final, o enegrecimento chega a uma altura de 30 cm ou mais no caule, acima do colo da planta. Surtos severos de “canela preta” ocorrem quando a temperatura do solo é superior a 20º C; e os surtos mais rápidos ocorrem em temperaturas entre 28º C e 30º C. Altos níveis de umidade do solo também favorecem a propagação desta doença. Propriedades do solo, como o nível de pH, e conteúdos de cálcio, magnésio e alumínio também têm influência na disseminação da doença, que é extremamente agressiva, uma vez que um propágulo por grama de solo é o suficiente para provocar um surto da epidemia. Para o controle da canela preta nos canteiros (viveiros) e na lavoura, sistematicamente fungicidas e desinfetantes de solo de grande alcance são empregados, mas os melhores resultados são obtidos mediante o uso de sistemas integrados de combate à doença, os quais incluem o uso de variedades resistentes e a rotação de culturas para diminuir a pressão do inóculo, além de outras medidas. As doenças causadas pelo Pythium Spp. incluem a perda de plantas nos canteiros, a podridão do caule e das raízes em plantas novas, e a necrose das raízes ativas em plantas de qualquer idade. As perdas nos canteiros causadas por esta doença podem ser severas e requerem medidas de controle integrado. A aplicação de fungicidas pode ser economicamente viável, de acordo com as recomendações das autoridades locais. A podridão negra da raiz, produzida pelo Thielaviopsis Basícola, é um verdadeiro flagelo em muitas das regiões do mundo onde o tabaco é produzido. A doença foi detectada no final do século XIX nos Estados Unidos e na Itália, simultaneamente. Esta doença se caracteriza por uma podridão negra da raiz, com lesões que variam de discretas a muito fortes ao longo da raiz. Enquanto as infestações são leves ou estão na sua fase inicial, as partes aéreas da planta não mostram nenhum sintoma. À medida que a doença progride, as plantas começam a crescer de maneira desigual, e as mais afetadas mostram murchadeira mais severa durante o dia. A infestação de lavouras inteiras não é uma característica desta doença. Para controlar a “podridão negra”, recomenda-se o uso de sistemas integrados de controle, com medidas que vão desde o uso de variedades resistentes a rotação de culturas, e até mesmo a aplicação de pesticidas industriais. Em áreas onde a doença é endêmica, e em solos ácidos, deve-se evitar a aplicação de excesso de calcário, uma vez que com valores de pH acima de 6 o efeito estimulante sobre o patógeno supera qualquer efeito positivo sobre o crescimento e sobre o desenvolvimento do tabaco. 49 50 Em quase todas as regiões produtoras de tabaco são freqüentes os efeitos de sua presença, sobretudo em canteiros, causadas pelos fungos Rhizoctonia Solani e por outras espécies deste gênero e por vários membros do gênero Fusarium. Em ambos os casos são predominantemente doenças que afetam os canteiros; para tanto, quarentenas e rotação de culturas podem manter a doença sob controle. 2.11.2 Doenças Fúngicas da Parte Aérea Nesta categoria, a mais devastadora das doenças é o mofo azul do tabaco, causada pelo fungo Peronospora Tabacina. Esta doença pode aparecer com características epifíticas, e em poucas horas pode destruir uma lavoura que custou ao agricultor incalculáveis esforços e recursos de todos os tipos. Ao apresentar-se com características epifíticas, o mofo azul pode destruir colheitas inteiras de grandes extensões territoriais. No caso da epifitia de 1979 em Cuba, mais de 90% da safra daquele ano foi perdida. Situações semelhantes foram observadas em outros países da região e em todo o mundo. Os sintomas da doença variam com a idade da planta. Em mudas novas pode-se observar a presença de manchas em mudas moribundas, com folhas eretas. Na mudas maiores a presença da doença se evidencia pela aparição de manchas amarelas circulares nas folhas, e em muitos casos podemos também observar a presença de fungos com uma cor cinzenta a azulada, que dá origem ao nome da doença. Em plantas maiores na lavoura observa-se a aparição de manchas amareladas, que chegam a unir-se e, assim, desenvolvem uma necrose que deforma a folha até desintegrá-la. A infecção pode se tornar sistemática e destruir total ou parcialmente a planta. O agente causador desta doença pode sobreviver o ano todo e consegue disseminar-se por longas distâncias através do ar, o que resulta em diferentes padrões de infestação desta doença. Condições de clima úmido e frio, com dias nublados, favorecem a disseminação da doença. Para o controle do mofo azul, sistemas integrados de controle de doenças são necessários, tendo em vista que o fungo é capaz de transmutar e ficar resistente a pesticidas de uso comum e a superar as barreiras imunológicas das variedades resistentes. Em qualquer caso, é indispensável seguir as recomendações das autoridades locais, as quais seguramente seguem uma política de âmbito nacional, uma vez que o fungo ultrapassa as fronteiras de muitos países e adquire magnitude continental. O míldio ou mofo branco do tabaco, causado pelo Erisiphe Chicoracearum, é uma doença que aparece somente em algumas regiões e raramente ataca o tabaco escuro, mas suas conseqüências são devastadoras. Sua aparição mais característica acontece quando as folhas terminaram sua expansão e, então, uma camada em forma de pó acinzentado aparece em ambos os lados e nos talos. Depois, estas camadas se transformam em manchas que crescem rapidamente na parte inferior da folha e em manchas pardas na parte superior. As folhas afetadas perdem seu corpo e não são mais adequadas para o seu uso na indústria, particularmente para o charuto. A mancha parda (Brown Spot), causada pela Alternaria Alternata, é a mais característica doença foliar do tabaco. A doença afeta primeiro as folhas inferiores da planta, mas em condições favoráveis se alastra pelas folhas mais novas talo acima. Seu sintoma específico é a aparição de manchas cinzentas na superfície da folha, as quais, sob condições favoráveis, se multiplicam em quantidade e crescem em tamanho. Um clima quente e úmido, com neblina densa, favorece o desenvolvimento desta doença. A mancha parda freqüentemente aparece cercada por um halo amarelo, causado pela disseminação das toxinas fúngicas no tecido que está ao redor. O uso de variedades resistentes, como parte de um programa de controle integrado de doenças, parece ser o segredo para combater esta doença. Uma outra doença característica do tabaco é a cercospora, causada pelo fungo Cercospora Nicotianae, que aparece em canteiros e nas lavouras, causando lesões circulares de cor parda e cinza. Durante muitos anos, os fumantes mais experientes de charutos puros procuravam na capa a presença da mancha característica da cercosporosis, como prova de um tabaco produzido em condições naturais, sem o uso exagerado de pesticidas. Agora, existem programas de controle químico da doença, mas a utilização de sementes livres do patógeno é fundamental para seu controle na lavoura. 2.11.3 Doenças Bacterianas O Fogo Selvagem é a principal doença bacteriana que afeta o tabaco. Seu agente causador é o Pseudomonas Tabaci e os sintomas são manchas de bordas angulares nas superfícies foliares, primeiro aquosas e depois necróticas, e então adquirem uma cor parda e escura, até que os tecidos finalmente secam. As manchas individuais são pequenas, mas podem sobrepor-se e formar grandes lesões. Uma característica é a formação de uma auréola clorótica ao redor das lesões. Nos estágios finais da doença, as folhas ficam destruídas e perdem totalmente seu valor comercial. Para o controle do Fogo Selvagem requer-se a utilização integrada de práticas de quarentena, a utilização de variedades resistentes e controles químicos. 51 52 2.11.4 Doenças Virais São mais de 20 os vírus que afetam o tabaco sob condições normais, e sob condições de experimentação este número sobe a mais de 100. De todos eles, somente uns poucos têm importância econômica para o tabaco, e existem grandes diferenças entre as localidades. É, sem dúvida, difícil encontrar estimativas exatas de danos econômicos causados por estas doenças. As estimativas mais confiáveis freqüentemente variam de 1% a 10% do total da colheita estimada. Na América Central e na América do Norte, a doença viral de maior impacto no tabaco é o Vírus do Mosaico (TMV). A importância deste vírus é global, e ele aparece em quase todas as regiões onde se cultivam variedades suscetíveis. Geralmente se considera que as plantas afetadas pelo Vírus Mosaico do Tabaco sofram redução de 15% em seu rendimento, mas esta perda pode ser significativa no caso das variedades capeiras do tabaco escuro, em que as folhas que apresentam os sintomas da doença não podem mais ser utilizadas como capa. A sintomatologia típica é o Mosaico Clássico, uma vez que ele pode causar danos às nervuras das folhas, lesões necróticas e deformações à planta. O TMV deve ser controlado por medidas de quarentena, rotação de culturas e pelo uso de variedades resistentes. Nas variedades capeiras torna-se indispensável fazer o saneamento das plantas afetadas, uma vez que a doença se transmite facilmente pelas mãos dos trabalhadores e através de implementos agrícolas. O Vírus do Mosaico do Pepino (CMV) é também um problema que afeta todas as regiões produtoras de tabaco, mas sua importância econômica é menor; é, porém, considerado relevante em algumas regiões da Ásia e na Espanha. A sintomatologia visual varia muito, dependendo do tipo e da variedade do tabaco afetado. No entanto, o sintoma mais freqüente é um mosaico que seguidas vezes é confundido com o TMV. Sua transmissão é feita por afídios. O controle do vetor e o saneamento das lavouras são as bases para o controle desta doença. O vírus Vira Cabeça (Broto Crespo) é também um problema mundial, mas infestações sérias só são conhecidas em regiões tropicais. Seus sintomas incluem o encrespamento das folhas e a atrofia das plantas afetadas nas etapas iniciais do crescimento. Seu vetor é a mosca branca (Bemicia Tabaci) e seu controle se baseia no controle do vetor. O vírus Y da batata (PVY) aparece em todas as regiões onde o tabaco é cultivado e adquire alguma importância econômica em certas localidades. Sua transmissão é por afídios e seu controle se baseia no controle do vetor. 3 Função Dos Nutrientes O tabaco é uma planta de crescimento rápido, poder-se-ia até dizer explosivo, e a absorção de nutrientes segue a mesma tendência. Por este motivo, o tabaco requer uma disponibilidade adequada de nutrientes assimiláveis durante todo o ciclo vegetativo; portanto, e principalmente, a partir das primeiras semanas após o transplante. Somente uma nutrição adequada pode levar a uma safra grande de folhas de alta qualidade. O tabaco absorve quantidade relativamente grande de nutrientes, e estes variam de acordo com o tipo de tabaco cultivado. Os tabacos escuros acumulam maior variedade de nutrientes que os tipos Virgínia e Orientais, diferença que é ainda mais importante para o nitrogênio. O conteúdo de nutrientes nos tecidos do tabaco é mais elevado do que em outros cultivos, numa razão de 20% a 26% com base na matéria seca dos tabacos escuros, enquanto para os tabacos Virgínia estes valores andam ao redor de 15% (Bennet et al, 1954; Schmidt, 1951). Por outra, o fato de grandes quantidades de tabacos de alta qualidade serem colhidas folha por folha, ou em grupos de folhas, na medida que alcançam sua maturidade técnica, é uma dificuldade adicional para os processos nutricionais do tabaco, uma vez que esta prática limita as possibilidades de transferência de alguns nutrientes das folhas mais velhas para as mais novas da planta, como normalmente acontece em todos os demais cultivos. 3.1 Nitrogênio O nitrogênio é um elemento essencial para o crescimento da planta e das folhas de tabaco, uma vez que cabe a ele a responsabilidade pelo processo de fotossíntese e sua contribuição direta quanto à produção. Tomado individualmente, seu impacto é maior do que o de qualquer outro nutriente. O que é confirmado por Hawk, 1980, quando ele afirma que o nitrogênio é o elemento que mais influencia o desenvolvimento da planta do tabaco. Jones, 1996, sustenta que a nicotina é um dos fatores de qualidade mais importantes nas variedades Burley, Escuro e Flue-Cured. O nitrogênio faz parte da molécula de nicotina e, por sua vez, a fertilização afeta diretamente o conteúdo de nicotina na planta. Um manejo adequado deste elemento é de fundamental importância neste 53 54 cultivo, pois tanto sua falta como seu excesso geram problemas de produtividade e de qualidade. Sendo assim, uma deficiência de nitrogênio provocará a aparição de plantas espigadas, com folhas pálidas e pequenas, que irão crescer formando um ângulo agudo com o talo, que por sua vez ficará delgado. Após a cura, estas folhas ficarão pálidas, delgadas e com uma textura indesejável, e seus tecidos serão frágeis. Ao contrário, um excesso de nitrogênio provocará a aparição de cores escuras, intensas, ao lado de um grande desenvolvimento vegetativo e um aumento da proporção relativa de talos e nervuras, mas os primeiros terão menos resistência mecânica. A maturação também fica retardada, igualmente ocorrendo diminuição dos níveis de açúcar. A folha curada terá tonalidades escuras, com textura indesejável, pouco corpo, excesso de nicotina, baixa combustibilidade e sabor ruim (Akehurst, 1973). Assume-se que a partir do momento em que as folhas alcançaram seu crescimento máximo, as disponibilidades de nitrogênio são prejudiciais. 3.2 Fósforo A fotossíntese, a fosforização e todos os processos vitais relacionados com o metabolismo energético da planta estão todos subordinados aos efeitos dos compostos fosforados. O metabolismo das proteínas também depende da presença deste elemento. A função principal do fósforo é de promover a maturação, que está relacionada com um aumento de carboidratos. O fósforo acelera a maturação das folhas de tabaco (Whitey et al, 1966). A deficiência de fósforo, além de retardar a maturação, provoca uma diminuição dos teores de nitrogênio e de magnésio (McEvoy, 1951) e a amputação foliar (Leggett et al, 1971). Assume-se que o fósforo melhora a cor dos tabacos Virgínia e está diretamente relacionado com seus níveis de açúcar (Merker, 1959). Uma deficiência extrema de fósforo pode ser a causa de uma tonalidade verde escura das folhas de tabaco, que se apresentam atrofiadas, de forma pontiaguda e com tendência a aumentar seu ângulo de inserção com o talo até o ponto de atingir quase uma posição horizontal. A planta então adquire uma forma um tanto achatada e com altura reduzida, resultando em grandes retardamentos de maturação. As folhas curadas carecem de brilho e freqüentemente as folhas da parte alta do pé apresentam manchas pardo-escuras. 3.3 Potássio O potássio é um elemento essencial para o tabaco, que o absorve em grandes quantidades, mas a função precisa do potássio no metabolismo da planta ainda não foi totalmente explicada. O potássio é o principal componente da cinza do tabaco e sua função parece ter relação com alguns sistemas enzimáticos. A deficiência do potássio reduz o peso e o comprimento das raízes mais do que qualquer outro elemento (Agenda del Salitre, 2001). Considera-se que o potássio influi definitivamente na cor da folha, em sua textura, na combustibilidade e na higroscopicidade da mesma. A fertilização com potássio tem decididamente maior influência sobre a qualidade do que sobre a produtividade (Bowling e Bowman, 1947). O efeito do potássio sobre a combustibilidade tem sido discutido amplamente e numerosos autores chegaram a um consenso sobre o assunto. (Coolhas, 1936; Chouteau J. e A. Reiner, 1959; Geus, de, 1967; Jacob, A. e H. von Uexkull, 1968; Llanos, 1983). O potássio é considerado um elemento importante para aumentar a tolerância do tabaco contra doenças fúngicas e para melhorar sua resistência contra o estresse hídrico, resultando isto numa melhor regulação dos processos fisiológicos (Akenhurst, 1973), e também por seu papel na abertura e no fechamento dos estômatos, como mostra a figura 30. Portanto, fica demonstrado que o cátion que apresenta maiores mudanças em sua concentração nas células guardiãs, durante a abertura e durante o fechamento estomático, é o potássio. Concentração de cátions em células guardiãs K (a) CI P Estoma aberto Ca CI P K Ca Estoma fechado (b) Figura 30. Concentração de cátions em células guardiãs. Fonte: Langer et al., 2004, Jornal da Planta, 37:828-838. 55 56 O potássio tem um papel importante na síntese e na translocação de açúcares e de amido. Ele diminui o dano causado pelas geadas por ser um solvente mais ativo dentro da célula, diminuindo o ponto de congelamento da solução celular. O potássio também promove a formação de proteínas e, como cátion, o K acompanha o nitrato desde as raízes até a folha, onde é reduzido a amônio para ser incorporado ao amidoácido. Depois disto, o K retorna às raízes junto com o malato (Marschner, 1995). Uma deficiência aguda de potássio provoca a aparência reforçada da planta, juntamente com uma clorose muito peculiar, que avança desde a ponta e as bordas da folha até a nervura central, e o tecido foliar se cobre de manchas necróticas, e nelas o tecido se desintegra facilmente. Em casos de deficiências menos graves, um pouco antes da maturação aparece uma mancha amarelada na folha, a qual se concentra em direção do ápice e das bordas. 3.4 Cálcio O cálcio está presente na planta do tabaco principalmente na forma de sais insolúveis de ácidos orgânicos e nas paredes celulares. Na verdade, 90% do cálcio presente na planta se encontra na lâmina mediana das paredes celulares, formando parte com as pectinas na superfície exterior da membrana e nos vacúolos. O cálcio toma parte de numerosos processos metabólicos dentro da planta e é necessário para o fortalecimento dos tecidos de suporte e na divisão celular. Foi sugerida a hipótese de que este elemento desempenha de certa forma papel desintoxicante (Chouteau J. e A. Reiner, 1959), em vista da acumulação de outros íons, resultando num regulador do equilíbrio ácido – base do metabolismo celular (Wallace et al, 1966; Wolts et al, 1949).O cálcio não se move muito dentro da planta (Kasai e Konishi, 1960). Hawks, 1980, indica que o cálcio é o elemento mais exigido em termos de qualidade pela planta depois do potássio, e habitualmente uma folha curada contém entre 1,5% e 2% de cálcio, enquanto outros autores assinalam que o segundo em importância por sua demanda é o nitrogênio. No entanto, sem dúvida, o potássio, o nitrogênio e o cálcio são os três elementos mais exigidos pela planta de tabaco. Há indícios de uma estreita relação inversa entre os níveis de nutrição cálcica e a rapidez e a severidade da aparição dos sintomas de infecção por Phytophthora Parasítica (Ferraro et al, 1989). Desse modo, o cálcio melhora a infiltração da água e ajuda na aeração dos solos compactos ao estimular a floculação das partículas dos mesmos. A deficiência severa de cálcio vem acompanhada de danos às folhas superiores, as quais se deformam, tomando um formato de coração, com o desaparecimento do ápice e severos danos às bordas. Não são observados incrementos no crescimento radicular. Uma deficiência tardia provocará clorose nas folhas e, no momento da floração, levará ao aparecimento de necroses na corola, provocando a queda das flores. Nas plantas com deficiência de cálcio observa-se um aumento de aminoácidos livres, causados pela inibição da síntese das proteínas e pela destruição metabólica das já formadas. A deficiência de cálcio pode aparecer nas plantas durante os períodos de crescimento mais intenso, e tem sido freqüentemente observado que há diferenças entre variedades em termos de severidade e momento do aparecimento destes sintomas (Peedin y McCant, 1977). 3.5 Magnésio O magnésio é um componente da clorofila; por isso, sua grande importância na fotossíntese. Também influi no metabolismo dos hidratos de carbono. No tabaco, o aumento dos teores de magnésio na folha até um ou dois por cento melhora a combustibilidade e a aparência (cor e textura) das cinzas, dando lugar a uma cinza porosa, solta e de cor clara, que melhora a combustão. Mas um aumento superior destes valores afeta ambos os indicadores (Anderson et al, 1929). A grande superfície foliar e o rápido crescimento do cultivo, fazem com que esta planta seja realmente sensível à carência do magnésio. As folhas com carência de magnésio, depois de curadas, têm uma cor desbotada, sem brilho e de tonalidade marrom clara, sendo anormalmente delgadas, não são elásticas e têm uma textura semelhante ao papel (Hawks, 1980). A resposta do tabaco às aplicações de magnésio é muito forte, e quando este nutriente falta, o crescimento e o desenvolvimento da planta são afetados, a cor das folhas piora e os teores de amido nos tecidos diminuem. O peso das sementes, dos talos, das raízes e das folhas diminui na mesma ordem. A aplicação de magnésio como fertilizante eleva os conteúdos de gordura na semente (Matusiewicz, 1964). A deficiência de magnésio é freqüente em solos muito leves. No momento em que aparece, uma clorose típica se manifesta, afetando os pigmentos verdes e amarelos da folha de tabaco. A clorose começa no vértice e nas bordas da folha e avança para o centro, e os tecidos condutores se mantêm verdes. No mais, áreas necróticas não aparecem na lâmina da folha. Ao serem curadas, as folhas apresentam uma aparência suja, fosca e sem brilho. 57 58 3.6 Enxofre O enxofre faz parte de alguns aminoácidos essenciais, como a cistina e a metionina. Por sua vez, o excesso de enxofre afeta a combustibilidade do tabaco, e existem evidências de que este elemento diminui o índice de alcalinidade das cinzas (Oerti, 1966). Os diferentes tipos e as variedades de tabaco se diferenciam por sua suscetibilidade às deficiências de enxofre. O excesso de enxofre também pode afetar o aroma, com níveis acima de 1% em termos foliares, e isto é fundamental no tabaco Virgínia, porque ele é usado como aromatizante e saborizante nos blends de cigarros. Ainda que a deficiência de enxofre não seja freqüente nas condições normais do cultivo do tabaco, quando se manifesta as pontas das folhas superiores desenvolvem uma clorose, a qual, ao secar, apresenta coloração mais clara que o resto da lâmina. No caso de uma deficiência de enxofre, os componentes normais de todos os compostos orgânicos nos tecidos foliares do tabaco são afetados (Gilmore, 1954). Em resumo, o nitrogênio, o potássio e o cálcio concentram 79% da absorção mineral da planta de tabaco Virgínia, ao passo que os demais macroelementos (fósforo, magnésio e enxofre) perfazem os outros 21%, conforme mostra a figura 31: Composição dos nutrientes absorvidos pelo tabaco Virgínia Magnésio 9% Enxofre 7% Nitrogênio 27% Cálcio 21% Potássio 31% Fósforo 5% Figura 31. Composicão dos nutrientes absorvidos pelo tabaco Virgínia. Fonte: Collins, W. and Hawks, Jr. 1983. 3.7 Microelementos Boro Administrações normais de boro aumentam a produtividade, melhoram a combustibilidade e a coloração das folhas, e, ao mesmo tempo, diminuem os teores de nicotina. As deficiências de boro estão normalmente relacionadas a solos de baixo conteúdo de matéria orgânica, ácidos, arenosos e em regiões de muita precipitação pluviométrica. As deficiências de boro estão associadas a períodos de secas, durante os quais a atividade radicular diminui e não há muito fluxo transpiratório através da planta. O boro atua sobre o metabolismo dos ácidos nucléicos, pois sua deficiência interrompe o desenvolvimento e a maturação das células. E tem sido comprovado que o boro participa da síntese de bases nitrogenadas como uracilo. O boro intervém no mecanismo das auxinas, e os tecidos que sofrem da deficiência de boro apresentam uma clara acumulação de AIA (ácido indol-acétcio), que inibe o crescimento. Foi demonstrado que o dano que o alumínio provoca dentro da planta num solo ácido resulta de uma deficiência induzida de boro, o que pode ser corrigido pela aplicação de boro durante a fase de crescimento. Isto se deve à semelhança do ácido bórico (H3BO3) com a forma que o alumínio assume dentro da planta depois que nela penetra (AL(OH)3). Nos casos mais severos, a deficiência de boro na planta de tabaco pode provocar a morte da gema terminal, provocando o aparecimento de plantas achatadas, com internódulos curtos e desenvolvimento demorado. A conseqüência é uma brotação ativa de gemas axilares. A planta deficiente em boro apresenta fraco desenvolvimento radicular, emite muito menos folhas, que por sua vez são menores e mais estreitas e com tecidos frágeis; freqüentemente com formatos irregulares, bem diferente da forma característica da variedade em questão. A clorose é também uma característica, embora as nervuras mantenham sua coloração normal, enquanto uma coloração esbranquiçada avança da base da folha para o ápice. Zinco O zinco tem influência na absorção de nitrogênio e no metabolismo para a formação de amidos, além de ter uma função importante na divisão e no elongamento celular, assim como na promoção da síntese de auxinas. A deficiência de zinco ainda não foi constatada em plantações comerciais de tabaco. Provocada artificialmente, sua deficiência provoca o aparecimento de manchas cloróticas na superfície da folha, as quais freqüentemente se necrosam, provocando a destruição dos tecidos. As folhas mais antigas são as primeiras a serem afetadas. 59 60 Ferro O ferro é um microelemento essencial, e faz parte dos citocromos, proteínas e participa de reações de oxi-reduções. Nas folhas, quase todo o ferro se encontra nos cloroplastos, onde desempenha uma função importante na síntese de proteínas cloroplásticas. Ele também faz parte de uma grande quantidade de enzimas respiratórias, como peroxidase, catalase, ferrodoxina e citocromo oxidase. Sua deficiência é particularmente notada em solos ácidos alcalinos, com pH acima de 7,5. Em solos ácidos, poderá haver deficiência. Isso não se deve à falta de ferro no solo, mas ao excesso de manganês: o desequilíbrio entre os dois impede que a planta absorva o ferro. Cobre Estima-se (Llanos, 1983) que na folha curada do tabaco o cobre atua como um catalisador, que melhora a combustão, prolongando-a. Na fase da plantação, o cobre melhora o crescimento e a sanidade das raízes, ao mesmo tempo em que estimula a maturação das folhas, que secam com melhor coloração. Seu efeito sobre as propriedades organolépticas é notável, uma vez que reduz os teores de nitrogênio e aumenta os níveis de açúcar, que é desejável nos tabacos Virgínia. Manganês Em quantidades normais (a toxicidade atribuída ao manganês é comum em solos ácidos), o manganês estimula os processos metabólicos da planta, ativa a respiração das raízes, reduz as nervuras das folhas, melhora a elasticidade da lâmina e promove a formação de cinzas claras, assim como uma fumaça também mais clara. O excesso de manganês reduz a combustibilidade do tabaco e provoca o aparecimento de manchas na lâmina, que continuam mesmo depois que a folha foi curada. Cloro O efeito do cloro sobre o tabaco encontra-se muito melhor descrito na literatura especializada pelas conseqüências adversas de seu acúmulo do que por sua condição de elemento indispensável para o crescimento e para o desenvolvimento da planta. O excesso de cloro (mais de 1% na folha curada) afeta de maneira severa a combustibilidade do tabaco, as bordas das folhas se encrespam e a maturação é consideravelmente retardada. Níveis ainda maiores afetam também a cor, a textura e o aroma do tabaco. Sumário das principais funções: Nitrogênio (N) Fósforo (P) Potássio (K) Cálcio (Ca) Enxofre (S) Magnésio (Mg) Ferro Manganês (Mn) Boro (B) Zinco (Zn) Cobre (Cu) Molibdênio (Mo) Síntese de proteínas (crescimento, desenvolvimento e rendimento). Divisão celular, formação de estruturas energéticas e promoção da maturação. Influi na cor da folha, na textura e na combustibilidade. Garante a resistência a enfermidades e fortalece os tecidos de suporte. Síntese de aminoácidos essenciais, cistina e metionina. Melhora a combustibilidade e a aparência,produz uma cinza solta e de cor clara. Síntese de clorofila, participa de reações de oxirreduções. Ativa a respiração das raízes e os processos metabólicos. Melhora a combustibilidade e a cor das folhas, síntese de bases nitrogenadas (Uracilo). Síntese de auxinas, divisão e elongação celular. Prolonga a combustão das folhas, estimula a maturação e melhora a cor das folhas. Faz parte da enzima nitrato redutase e nitrogenase. 61 62 4 Informações Sobre o Manejo Nutricional Management O cultivo do tabaco é extremamente exigente quanto à disponibilidade nutricional. A nutrição é muito importante a partir da preparação das plantas, uma vez que elas apresentam altas taxas de crescimento desde as etapas iniciais. As raízes, por exemplo, crescem de forma muito rápida a partir do 24º ao 32º dia depois da germinação da semente (Caruso, Pearce e Bus, 2000), conforme mostra a figura 32. Figura 32. Taxa de crescimento das raízes antes do transplante (em pés). Fonte: Caruso, Pearce e Bush, 2000. Uma vez transplantado para a lavoura, o tabaco requer um apropriado suprimento de nutrientes para sustentar o crescimento da planta. Porque, uma vez superado o estresse do transplante, o tabaco começa a desenvolver rapidamente seu sistema radicular, como mostra a figura 33. Figura 33. Taxa de Crescimento das Raízes (em pés). Fonte: Caruso, Pearce e Bush, 2000. A raiz principal da planta se ramifica rapidamente para formar um sistema radicular densamente fasciculado e não muito profundo. Este primeiro crescimento radicular póstransplante é fundamental para dar sustentabilidade ao crescimento aéreo que vem a seguir, o qual será nossa colheita nas semanas a seguir. Este crescimento das raízes continua pelo menos por várias semanas, pois, em medições feitas no Brasil, a planta dobra o peso de suas raízes entre os dias 60 e 135 após o transplante, como se pode ver na figura 34: Peso das raízes por planta (g) Peso das Raízes no Cultivo do Tabaco 500,0 450,0 400,0 350,0 300,0 250,0 200,0 150,0 100,0 50,0 0,0 60 135 Dias após o transplante Peso das Raízes (gr) Figura 34. Peso das Raízes no Cultivo do Tabaco. 63 64 O desenvolvimento do sistema radicular e sua morfologia sofrem forte influência das propriedades do solo e das técnicas de transplante. Os primeiros 30 centímetros de profundidade concentram entre 90% a 100% do peso das raízes. Já a partir do primeiro mês de crescimento, a planta começa a desenvolver sua área vegetativa, e isto continua por seis a oito semanas. É de se notar que da quarta à oitava semana póstransplante o crescimento aéreo e o radicular se equivalem. Sem dúvida, temos que assinalar que, ainda que os dois crescimentos se dão em período igual, é a parte aérea da planta que tem a maior concentração de nutrientes e o maior acúmulo de matéria seca, conforme mostram os testes realizados na África do Sul, onde, por meio da presença de todos os macroelementos e microelementos inorgânicos, 12 semanas após o transplante a parte aérea concentra mais de 75% da matéria seca total da planta, como mostra a figura 35: Distribuição de matéria seca na planta do tabaco Raízes 23% Talo 23% Folhas 54% Figura 35. Distribuição de matéria seca na planta do tabaco. Fonte: Ensaio de Antón Schultz, South African Golden Leaf, África do Sul. Do ponto de vista nutricional, os elementos mais demandados são o potássio, o nitrogênio e o cálcio, sendo os dois primeiros exigidos em grandes quantidades nas primeiras etapas do cultivo, segundo a curva de acumulação destes elementos, como mostra a figura 36. De um total de aproximadamente treze semanas que o cultivo permanece na lavoura, 85% do potássio é absorvido antes da oitava semana após o transplante e, por sua vez, mais de 90% do nitrogênio é absorvido também antes da oitava semana. Figura 36. Acumulação de matéria seca, N,P,K,Ca e Mg no tabaco. Fonte: Raper e McCants, 1966. Por sua vez, o cálcio é exigido de maneira um pouco mais uniforme pela planta entre a quinta e a décima semana, alcançando a absorção de 60% na oitava semana após o transplante. Vale ressaltar que o cálcio não tem movimento floemático, razão pela qual não é móvel dentro da planta, conforme indica a figura 37. Para que toda a parte aérea se nutra de cálcio, precisamos ter este elemento na solução do solo durante toda a época da absorção. 65 66 O cálcio se move via xilemática, seguindo o movimento da água até as folhas e até os frutos. Mas ele não se transloca das folhas velhas para as folhas novas, para as frutas e outras estruturas. Ca Figure 37. O cálcio se move via xilemática, seguindo o movimento da água até as folhas e até os frutos. Mas ele não se transloca das folhas velhas para as folhas novas, para as frutas e outras estruturas. Hawks, 1980, assinala que todo o nitrogênio deve ser aplicado antes da terceira semana após o transplante. Isto se deve ao fato de que a planta realiza uma absorção muito rápida entre a 4ª e a 7ª semana. O nitrogênio aplicado depois deste período pode ser absorvido pela planta em sua fase final de crescimento, desta forma retardando sua maturação e influindo negativamente em sua qualidade. Logo depois da absorção mais importante destes nutrientes, durante as primeiras semanas, começa a etapa mais importante de acumulação de matéria seca por parte da planta, e esta acumulação fica mais concentrada entre a sexta e a décima semanas após o transplante. Este período concentra quase 75% da matéria seca total da planta, o que se pode ver na figura 38. Figura 38. Curva de absorção semanal de matéria seca N, P, K, Ca e Mg no tabaco. Fonte: Raper e McCants, 1966. Os demais macroelementos são também importantes tanto para a qualidade como para a produção, mas são exigidos em menores quantidades. Sua aplicação também deverá se concentrar nas primeiras semanas do crescimento do cultivo. Isto porque 70% do magnésio e 66% do fósforo são absorvidos antes da oitava semana após o transplante. O conteúdo de nicotina das folhas de tabaco depende da fertilização utilizada, dos procedimentos fitotécnicos seguidos, do grau de maturação das folhas no momento da colheita e do clima durante o período vegetativo (Watson, 1966). O conteúdo ideal de nicotina na matéria-prima depende do destino previsto e das tendências do mercado. Nos Estados Unidos, a preferência é por tabacos com 2,0 – 2,5 % de nicotina, ao passo que na Austrália a preferência é por tabacos com conteúdos de nicotina inferior a 2,0%. O que se observa na atualidade é uma tendência de diminuição dos conteúdos de nicotina nas matérias-primas, como conseqüência das muitas legislações sanitárias que entraram em vigor. 67 68 Como resultado de pesquisas realizadas nas principais zonas tabaqueiras, foi possível estabelecer que a combustibilidade, qualidade essencial das folhas de tabaco, é definida pela relação entre o conteúdo de potássio nos tecidos foliares e os conteúdos de cálcio e de magnésio. Anteriormente, já afirmamos que o conteúdo de nutrientes nos tecidos do tabaco é mais elevado que em outros cultivos, encontrando-se entre 20% a 26%, com base na matéria seca, nos tabacos escuros e mais ou menos 15% nos tabacos Virgínia (Bennett et al, 1954; Schmidt, 1951). A tabela 6 mostra a absorção de cada macroelemento pelos tipos distintos de tabaco, tomando-se por base, neste caso, uma produção de 2.913 kg por ha. Tabela 6. Absorção por macroelementos nos diferentes tipos de tabaco (kg/ha). Nutriente Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Manganês Boro Ferro Zinco Cobre Molibdênio Burley (1) Virgínia (2) Escuro (3) Traces Traces Traces Fonte: (1) IFA. Manual Mundial de Uso do Fertilizante. 1993 (para uma produção de 2.913 kg/ha). (2) Principles of Tobacco Production. C.B. McCants and W.G. Woltz. N.C.S. University. (3) Chouteau, 1969; Tobacco. (Produção de 2.740 kg/ha a 27% de umidade). IIP, 1993. Bowl. 11. Sucessivas pesquisas mostraram que cada macroelemento passa certas características para as folhas do tabaco, tanto físicas como características de qualidade. Conforme pode ser visto na figura 38, o nitrogênio se associa com a produção de folhas e com a concentração de alcalóides (nicotina) nelas. O fósforo está associado com a produção de raízes e de carboidratos solúveis dentro da planta. O potássio se associa com a produção de folhas e de carboidratos solúveis, e o cálcio com a concentração de alcalóides dentro da planta. Figura 39. Relação entre características da safra e elementos absorvidos. Fonte: Bafallui R., Seminário Internacional de Tabaco, SQM-2001. Por outra, Hawks, 1980, destaca que a nicotina se sintetiza no ápice das raízes, de onde se move para a parte aérea da planta, e é por isso que qualquer estresse ou doença que as raízes possam sofrer irá repercutir no conteúdo de nicotina da planta. O mesmo autor também acrescenta que a capacidade de síntese da nicotina aumenta depois do desponte das plantas. Para uma maturidade adequada, é essencial que a absorção de nitrogênio seja reduzida rápida e drasticamente logo depois do desponte. Uma vez que as folhas tiverem alcançado o máximo de seu desenvolvimento, o nitrogênio facilmente assimilável deverá estar esgotado no solo. O mesmo autor reporta que, devido à baixa temperatura do solo, que é normal no momento do transplante, recomenda-se que haja altos conteúdos de fósforo disponíveis neste momento, tendo em vista que foi notado que a planta tem um crescimento rápido quando este elemento está disponível. Mas, por sua vez, a disponibilidade deste elemento também fica muito afetada por estas baixas temperaturas, conforme se pode ver na figura 40. 69 Disponibilidade Relativa de P (%) 70 100 73 43 31 21 18 16 13 Temperatura do Solo (°C) Figura 40. Disponibilidade Relativa de P. Fonte: Phosyn, workshop Yara-2003. Quando a temperatura do solo baixa de 21°C a 13°C, a disponibilidade do elemento diminui em 70%. Portanto, é de suma importância aplicar o fósforo muito perto da raiz, no momento da plantação, e utilizar as fontes mais rapidamente disponíveis, uma vez que a planta somente absorve este elemento a menos de 2 mm de distância dos pêlos radiculares. Com respeito ao potássio, fica evidente que há uma correlação entre o conteúdo de potássio na folha curada e na combustibilidade. Além do mais, em numerosos estudos onde foram comparadas distintas fontes de potássio, o cloreto apresentou os piores resultados, provavelmente devido aos efeitos negativos que o íon cloro tem sobre o cultivo (Hawks, 1980). É preciso lembrar que menos de 2% do potássio que está presente no solo está em condições de ser absorvido pela planta, como pode ser visto na figura 41. Por causa disto, as plantas normalmente apresentam uma resposta clara a sua aplicação na lavoura, e em solos argilosos com argilas do tipo 2:1 os colóides têm a propriedade de absorver alguns cátions, entre os quais se encontra o potássio. Por isso, necessita-se de uma quantidade maior de potássio de intercâmbio para assegurar uma absorção normal por parte da planta. Figura 41. Dinâmica do K no solo. Fonte: Adaptado de Havin et al, 2005. p.199. Os níveis foliares normais em plantas de tabaco Virgínia, medidos na décima folha no momento do desponte, podem ser vistos na tabela 7: Tabela 7. Níveis foliares normais em Tabaco Virgínia. Elemento Proporção normal em % Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Elemento Boro Ferro Zinco Manganês Molideno Cobre Proporção normal em ppm Fonte: Ontário Publication. 71 72 A absorção dos nutrientes ocorre por mecanismos distintos, como mostra a tabela 8. Por isso, é importante saber, por exemplo, que em dias nublados a absorção de nitrogênio, cálcio, enxofre e boro fica afetada, e o contrário acontece em dias claros. Da mesma forma, com um bom nível de umidade no solo a planta tem maior facilidade para absorver o fósforo e o potássio, uma vez que, nestas condições, estes elementos se difundem melhor no solo. Tabela 8. Importância das formas de absorção dos diferentes nutrientes na planta (%). Importância das formas de absorção dos diferentes nutrientes na planta (%) Nutriente Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Boro Cobre Ferro Manganês Molibdênio Zinco Intercepção pelas raízes Fluxo de Massa Difusão Fonte: Alarcón A. 2000. Por outra via, as plantas absorvem os nutrientes com maior ou menor dificuldade dependendo da distância entre os íons em solução e os pêlos radiculares, como se pode observar na figura 42, e a planta pode absorver o nitrogênio até a uma distância máxima de 20 milímetros, ao passo que para potássio, cálcio e magnésio esta distância é de 5 e 7 milímetros. A maior dificuldade é apresentada pelo fósforo, pois ele é absorvido a uma distância não maior do que 1 milímetro. Distância de absorção (mm) Distância máxima de absorção entre o elemento em solução e os pêlos radiculares 20 15 10 5 0 Nitrogênio Elementos Potássio Cálcio Magnésio Fósforo Figura 42. Distância máxima de absorção entre o elemento em solução e os pêlos radiculares. Fonte: Adaptado de Mendoza, H. 2003. Para Westermann, 1993, existe uma grande interação entre os nutrientes, o que explica o fato de que, quando há um excesso de cloro, tanto a concentração de nitrato no pecíolo da folha como a absorção de fosfato diminuem. Um excesso de potássio reduz a absorção de cálcio e de magnésio, e vice-versa. Segundo Hanks, 1980, altos conteúdos de amônio anulam a absorção de potássio, de cálcio e de magnésio e facilitam a lixiviação destes cátions na solução do solo. Excessivas quantidades de ferro provam deficiências de magnésio, assim como elevadas aplicações de fósforo causam deficiências de zinco. Precipitações também ocorrem por alta afinidade de cargas, que impedem a absorção por parte da planta, por exemplo, entre cálcio e fosfato e entre cálcio e sulfato. Disto se deduz que é de fundamental importância balancear a nutrição do cultivo para evitar qualquer deficiência nutricional induzida. 73 74 5 Deficiências Nutricionais Visuais do Cultivo McMurtrey (1933) publicou um código detalhado para identificar os sintomas visuais de deficiências nutricionais do tabaco. De forma bastante geral, os sintomas podem ser classificar em dois grupos: os que aparecem nas folhas baixas, mais velhas, e que correspondem aos elementos mais móveis na planta (nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio); e os que aparecem nas folhas superiores, mais novas, e nos pontos de crescimento mais ativos, os quais correspondem a elementos relativamente imóveis na planta (cálcio, boro, manganês, enxofre e ferro). A chave para identificar as deficiências nutricionais no tabaco mediante a sintomatologia visual é apresentada a seguir. Nitrogênio Clorose geral, além do amarelamento e da morte das folhas mais baixas. E as plantas ficam verde-pálidas, as folhas inferiores amarelam e, ao secar, adquirem uma cor caramelo-claro. Figura 43. Deficiencia de Nitrogênio. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. Figura 44. Deficiencia de Nitrogênio. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. Fósforo As plantas ficam verde-escuras, as folhas são estreitas em relação a seu comprimento e as plantas são imaturas. Figura 45. Deficiencia de Fósforo. 75 76 Potássio Os efeitos aparecem nas folhas velhas e mais baixas, ou mais ou menos generalizados por toda a planta. Efeitos Locais: Ocorrem em forma de manchas ou cloroses, com ou sem a aparição de manchas necróticas nas folhas mais baixas; mas praticamente não há folhas baixas secas. As folhas baixas se apresentam curvadas e com manchas amareladas nas pontas e nas bordas, e necróticas nas pontas e nas bordas. Figura 46. Deficiência de Potássio. Figura 47. Deficiência de Potássio. Gentileza: The University of Georgia. Cálcio Os efeitos estão localizados nas gemas terminais, nas folhas superiores. Morte da gema terminal, a qual é precedida por uma distorção peculiar e por necrose nos ápices ou na base das folhas novas. As folhas mais novas que formam a gema terminal ficam mais claras, depois se retorcem até abaixo do ápice, seguido de necrose, de tal forma que se depois o crescimento continua, os ápices e as bordas das folhas novas irão faltar. Figura 48. Deficiência de Cálcio. Gentileza: The University of Georgia. Figura 49. Deficiência de Cálcio. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. 77 78 Magnésio As folhas baixas se apresentam cloróticas entre as nervuras principais e os ápices, e nas bordas aparece uma coloração verde-clara ou branca. Tipicamente, não há pontos necróticos. Figura 50. Deficiencia de Magnésio. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. Enxofre As folhas novas não apresentam manchas cloróticas, a clorose pode ou não alcançar as nervuras, e dá-lhes uma aparência clara ou escura. As folhas novas têm nervuras de cor verde clara ou do mesmo matiz que o tecido intervenoso. A coloração sempre é verde-pálida, nunca branca ou amarela. As folhas inferiores nunca secam. Figura 51. Deficiencia de Enxofre. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. Boro As folhas novas ficam restringidas, cor verde-pálida, acompanhada com certa decomposição na base. Quando o crescimento continua, as folhas se apresentam retorcidas, e as folhas quebradas mostram tecidos vasculares enegrecidos. Figura 52. Deficiencia de Boro. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. Manganês A gema terminal permanence viva, há clorose nas folhas superiores, com ou sem pontos necróticos, e as nervuras são de cor verde clara ou escura. Nas folhas novas há manchas necróticas distribuídas sobre o fundo clorótico, e as nervuras mais finas tendem a permanecer verdes. Figura 53. Deficiencia de Manganês. Gentileza: J. Michael Moore, The University of Georgia. 79 80 Ferro As folhas novas ficam cloróticas, as nervuras principais aparecem caracteristicamente com uma cor verde mais intensa que o tecido entre elas. Quando as nervuras perdem a cor, os tecidos ao redor ficam brancos e amarelos. Figura 54. Deficiência de Ferro. 6 Nutrição Especial Para As Plantas e Principais Características Dos Fertilizantes A nutrição de uma lavoura de tabaco pode ser feita de distintas formas: * Somente com produtos granulares. * Somente com produtos solúveis. * Com produtos granulares e solúveis. * Com produtos granulares e foliares. * Com produtos solúveis e foliares. * Com produtos granulares, solúveis e foliares. Atualmente, na agricultura mundial, existem fertilizantes para todas estas alternativas. O importante é conhecer as características de todos estes produtos, bem como os processos mais importantes de transformação, volatização, lixiviação, absorção, interação, competição e adsorção que ocorrem no solo, a fim de maximizar seu uso e a produtividade da safra. Nitrogêno Este elemento em forma inorgânica se apresenta de três formas distintas: nitrato, amônia e uréia (nitrogênio nitrito, amoníaco e uréico). Tanto o nitrogênio amoníaco como o uréico sofrem mudanças no solo, as quais são realizadas pelas bactérias chamadas nitrificantes (Nitrossomonas e Nitrobactérias). Estas bactérias finalmente terminam transformando o nitrogênio amoniacal em nitrogênio nítrico. Dependendo das condições climáticas e do solo, esta transformação pode levar alguns dias ou até um mês. As plantas em geral, e o tabaco em particular, absorvem preferencialmente o nitrogênio em forma nítrica. Acima de 80% da absorção do nitrogênio se dá desta forma. Além do mais, o cultivo pode ser afetado por aplicações de amônio, uma vez que permanece disponível para a planta na etapa final do cultivo, momento inadequado para a incorporação do nitrogênio. As principais fontes de nitrogênio são: Nitrato de Potássio, Nitrato de Cálcio, Nitrato de Magnésio e Nitrato de Amônio, como fontes de nitratos. A Uréia, o Sulfato de Amônio, Amoníaco e Nitrato de Amônio são fontes amoníacas e uréicas, como mostra a tabela 9. 81 82 Tabela 9. Principal nitrato, amônia y fontes de uréia. Principais formas de N nos fertilizantes Nome comum Fórmula Nitrato Nitrato de Potássio KNO3 Nitrato simples de Potássio KNO3. NaNO3 Nitrato de Cálcio sólido (5(Ca(NO3 )2). NH4NO3)10 H2O Amônio Uréia Nitrato de Cálcio líquido Ca(NO3)2 in solution Nitrato de Magnésio Mg (NO3)2 6H2O Nitrato de Amônio NH4NO3 Ácido Nítrico HN03 Sulfato de Amônio (NH4)2SO4 Fosfato Monoamônico (MAP) NH4H2PO4 Fosfato Diamônico (DAP) (NH4)2HPO4 Uréia CO(NH2)2 Uréia-Fosfato CO(NH2)2 H3PO4 Para escolher as alternativas mais apropriadas, devemos considerar vários aspectos, tais como condições climáticas (temperatura e precipitação). Isto se deve ao fato de que, com temperaturas baixas no solo, as fontes amoníacas levam tempo para se transformar em nitrato, como mostra a tabela 10: Tabela 10. Taxa de Nitrificação do Amônio. Taxa de Nitrificação do Amônio Temp. Solo (ºC) % de Nitrificação 0 4 10 16 21 27 32 38 0 5 12,5 25 70 95 97 100 Fonte: The Fertilizer Handbook – Fertilizer Institute – Washington, p. 93. Por sua vez, a absorção de amônio é mais rápida com temperaturas baixas, fato que pode provocar toxicidade, uma vez que, nessas condições, as plantas têm baixos níveis de atividade fotossintética para produzir carboidratos em quantidades suficientes para assimilar este amônio. No entanto, se há muita precipitação, as fontes nítricas podem lixiviar-se com maior facilidade (o que também pode ocorrer com o amônio em zonas de alta precipitação, texturas leves e baixo CIC do solo). É ainda necessário considerar o efeito sobre outros cátions do solo, pois o amônio pode incrementar a lixiviação tanto do potássio como do cálcio e do magnésio, como mostra a figura 56. Pois, ao aplicar este cátion no solo, se gera uma concorrência pelos sítios de absorção nas argilas, e, quando está mais concentrado, ele se movimenta de suas posições para estes outros cátions, deixando-os na solução do solo e, assim, facilitando sua lixiviação. Quantidade perdida em kg/ha Perda de bases em função de tipo de nitrogênio utilizado 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 K Ca Sem N Mg Bases N nitrato Na N Amoniacal-Uréico Figura 55. Perda de bases em função de tipo de nitrogênio utilizado. Fonte: B. Silva et al, 1987 – Universidad Austral de Chile. Deve-se também levar em consideração o pH do solo, tendo em vista que ele tem influência na velocidade de transformação do amônio em nitrato, bem como na disponibilidade geral dos nutrientes no solo. Em geral, pode-se afirmar que, com aplicações amoniacais de nitrogênio, perde-se o controle do momento de aplicação do elemento ao cultivo, fato que é vital no caso do tabaco. Devemos ainda considerar o estado fenológico do cultivo, tendo em vista que em alguns momentos a planta necessita da disponibilidade imediata do elemento (fase de crescimento rápido, entre a 4ª e a 9ª semanas depois do transplante) e não se pode esperar transformações no solo. Na verdade, o tabaco absorve 90% do nitrogênio antes de completar a 7ª semana do cultivo na lavoura. Ao mesmo tempo, deve-se considerar que, quando se trata do início da safra, sua demanda por nutrientes é menor, e a planta pode esperar por esta transformação, conforme indica a figura 57, e fontes amoniacais podem ser incluídas. 83 84 VOLATIZAÇÃO UREA Hidrólise NH NH4 NH 4 NH4 4 NH4 NH4 Absorção NH4 Nitrificação NO3 NO3 NH4 NO3 NO3 NO3NO3 NO 3 NO3 NO3 NO3 NONO 3 3 NONO NO 3 3 NO33 NO3 3 NO3 NO3 NONO 3 NO3 NO3 NO3 NO3 NO3 NO3 NITRATO Movimento ascendente da água do solo Dessorção Lixiviação Complexo de permuta de cátion Lixiviação NO3 NO3 Figura 56. O processo de transformação química no solo quando os fertilizantes contem uréia, amônio e nitrato. Por outra, a competição entre os cátions: assim, por exemplo, o nitrato compete com o cloro (um íon muito prejudicial para a qualidade do tabaco) para entrar na planta, e o amônio compete com potássio, cálcio e magnésio, três macronutirentes essenciais, como mostra a figura 58. Além de favorecer sua lixiviação. O que significa dizer que, se a proporção de amônio é aumentada, está-se impedindo a absorção de potássio, cálcio e magnésio e, além do mais, favorecendo a lixiviação destes cátions e facilitando a absorção do cloro, que prejudica tanto o rendimento como a qualidade da safra. Antagonismo Sinergia Nitrogênio Amoniacal Nitrogênio Nítrico NO3 (Anião) NH4 K NO3 K NH4 + (Cátion) K NO3 NO3 NO3 K NH4 K Ca , Mg , K (Cátion) 2+ 2+ NH4 K NH4 + Figura 57. O estado da flor no tabaco. Ca2+, Mg2+, K+ (Cátion) E, finalmente, o custo, sendo que em geral as fontes amoniacais são mais baratas que as nítricas. No entanto, é preciso considerar as perdas durante a nitrificação e através da volatização do amônio, e a absorção deste cátion pelos colóides do solo, que reduzem as unidades de fato absorvidas pela planta. Quanto ao impacto no cultivo, muitas experiências têm demonstrado que altos conteúdos de amônio no solo geram uma absorção tardia de nitrogênio por parte da planta, o que é prejudicial para a safra, uma vez que retarda a maturidade e aumenta os níveis de nitrogênio nas folhas muito próximo da colheita, prejudicando a qualidade das folhas. Fósforo As principais fontes deste elemento são o fosfato diamônico, o fosfato monoamônico, o superfosfato triplo, o super fosfato simples, a uréia fosfato, o fosfato monoamônico (grau técnico) e o fosfato monopotássico. Através da irrigação, as fontes mais confiáveis são o fosfato monoamônico (grau técnico), o fosfato de uréia e o fosfato monopotássico, se o solo tiver pH alcalino. Mas se o solo tiver pH ácido, as fontes são o fosfato monoamônico (grau técnico) e o fosfato monopotássico. Isto é mostrado na tabela 11. Tabela11. A principal fonte de fósforo. Nome Comum Fórmula Características Fosfato Monoamônico NH4H2PO4 Para solos com pH > 7.5 Fosfato Diamônico (NH4)2HPO4 Para solos com pH entre 6-7.5 Fosfato Monopotássico KH2PO4 Para todo tipo de solos Superfosfato Triplo (TSP) Ca(H2PO4)2 Para solos com pH < 6 Fosfato de Uréia CO(NH2)2.H3PO4 Poderoso Acidificador Ácido Fosfórico H3PO4 Poderoso Acidificador Líquido Este elemento é imóvel no solo e, com temperaturas baixas, todas as fontes tendem a ter problemas para serem absorvidas. O pH é determinante na absorção porque na presença de solos ácidos o fósforo se une ao ferro, formando compostos que não podem ser absorvidos. Mas se o solo é alcalino, o fósforo se une ao cálcio, formando também compostos insolúveis. O importante, neste caso, é aplicar o elemento muito perto das raízes (embora não em contato com elas), já que a absorção ocorre a uma distância não maior do que 2 mm dos pêlos radiculares. 85 86 Potássio As principais fontes são o Nitrato de Potássio, o Sulfato de Potássio, o Sulfato de Potássio e Magnésio e o Cloreto de Potássio, conforme mostra a tabela 12. Tabela12. As principais fontes de potássio. Nome Comum Nitrato de potássio Nitrato Simples de Potássio Sulfato de Potássio Fórmula KNO3 KNO3 - NaNO3 K2SO4 Sulfato de Magnésio e Potássio Bicarbonato de Potássio K2SO4 2MgSO4 Cloreto de Potássio KCI KHCO3 Características Por sua alta concentração de K, pode ser aplicado como base ou como cobertura, só ou em misturas. Proporciona uma resposta rápida em termos de crescimento da safra, e é uma fonte ideal pela importância que o N e o K têm para o tabaco. Por sua alta solubilidade e relação N:K, 1:1, é ideal para épocas de fertilização de cobertura, quando se precisa de uma rápida resposta da fonte nutricional. Além disso, a presença de sódio em solos ácidos ajuda a incrementar o pH e a evitar a lixiviação de Ca e do Mg. Ideal para a fase final do crescimento, quando é inconveniente aplicar N. Por sua baixa solubilidade, é recomendado somente para o início do cultivo. Usado principalmente para corrigir o pH (tem um efeito alcalinizante). Veja comentários sobre o cloro. A fonte mais rápida em termos de disponibilidade para a planta é o potássio de nitrato, que é um fertilizante essencial e quase exclusivo durante a fase do rápido crescimento foliar do tabaco. Graças a esta rapidez, ele está imediatamente disponível para ser dissolvido no solo. Devido ao íon acompanhante (nitrato), ele também é essencial durante esta fase do crescimento. E, graças a sua alta solubilidade, ele exige níveis mínimos de umidade do solo para ser dissolvido, estando assim disponível para a planta. Quando outras fontes de potássio são usadas, perde-se certas características que o nitrato de potássio possui. Por exemplo, o sulfato de potássio é menos solúvel que o nitrato. Ou ainda, o cloreto de potássio supre grandes quantidades de cloro ao potássio, e este elemento, em grandes quantidades, é tóxico para a planta, além de ter conseqüências negativas sobre a combustão da folha. Quanto ao Sul-Po-Mag, ele é demasiado lento para ficar disponível. Devido a todos estes fatos, estas fontes (sulfato e Sul-Po-Mag) são recomendadas em quantidades moderadas, mas somente no início do cultivo, para que haja tempo suficiente para estarem disponíveis. As principais desvantagens causadas pela presença do cloreto, além dos problemas de qualidade que gera nas folhas de tabaco colhidas, consistem no fato de que este íon compete com o nitrato, o fosfato e os sulfatos para entrar na planta. Isto quer dizer que, quanto mais cloreto na planta, tanto menor as quantidades de outros íons. O cloreto também aumenta o nível de sais no solo, assim aumentando a condutividade elétrica, a qual, por sua vez, irá impedir a absorção de água pelas plantas, uma vez que certos níveis de sais tiverem sido ultrapassados. Este fenômeno pode redundar em estresse hídrico, resultando em folhas de menor tamanho e com menor rendimento. Cálcio As principais fontes deste elemento são o nitrato de cálcio e o cloreto de cálcio, conforme mostra a tabela 13. A fonte disponível mais rápida é o nitrato de cálcio, sendo também a fonte mais solúvel. Em geral, o cloreto de cálcio é uma fonte mais barata, mas com as já mencionadas desvantagens dos íons acompanhantes (Cloreto). Tabela13. A principal fonte de cálcio. Nome Comum Fórmula Nitrato de Cálcio sólido (5(Ca(NO3)2).NH4NO3).10H2O Nitrato de Cálcio líquido Cloreto de Cálcio Características É a fonte de cálcio mais utilizada no mundo por sua alta concentração e rápida disponibilidade para a planta. Contém N- Nítrico e uma pequena quantidade de N- Amoniacal. Ca(NO3)2 en solución Tem as mesmas características que o produto sólido, mas não contém NAmoniacal; por isso, é utilizado quando não se quer esta fonte de nitrogênio. CaCl2 Veja comentários sobre o cloreto. Magnésio As principais fontes deste elemento são o nitrato de magnésio, o sulfato de magnésio e o Sul-Po-Mag, como indica a tabela 14. A fonte mais rapidamente disponível é o nitrato de magnésio, que é também a fonte com melhor desempenho em temperaturas baixas. Por causa de seu baixo custo e por sua alta eficiência, o sulfato de magnésio é amplamente utilizado. Em fertirrigação, o nitrato de magnésio pode ser misturado com qualquer outro macronutriente. Em compensação, o sulfato de magnésio não pode ser misturado com o nitrato de cálcio em altas concentrações (no tanque-mãe), pois se precipitam. Por sua vez, o sulfato de potássio e magnésio em ambas as apresentações, para a lavoura ou para fertirrigação, é o que apresenta a menor solubilidade; quer dizer, é mais lento para ficar disponível para a planta, depois de aplicado. Tabela14. A principal fonte de magnésio. Nome Comum Fórmula Características Sulfato de Magnésio MgSO4 . 7H2O É uma fonte muito utilizada. No entanto, no tanque- mãe, em fertirrigação, não pode ser misturada com cálcio, pois leva à formação de gesso (CaSO4). Nitrato de Magnésio Mg(NO3)2 . 6H2O Tem a mais alta solubilidade e pode misturar-se com todas as fontes utilizadas em fertirrigação. Sulfato de Potássio e Magnésio K2SO4 . 2MgSO4 É um produto de menor solubilidade, e sua disponibilidade é lenta. 87 88 7 Práticas a Considerar No Plano Nutricional 7.1 Momento da Aplicação Para formular as recomendações básicas para um bom programa de nutrição, um grande número de informações são necessárias. Igualmente é preciso uma análise do solo (nutrientes em solução, textura do solo, Capacidade de Intercâmbio Catiônico, matéria orgânica) e a análise da água (no caso de fertirrigação) são fundamentais para um planejamento adequado. Depois, durante o cultivo, uma análise foliar poderá ajudar a corrigir problemas de nutrição, caso apareçam. 7.1.1 Nitrogênio O nitrogênio deve ser aplicado em doses. No caso de nutrição granular, duas aplicações devem, pelo menos, ser feitas para o tabaco Virgínia. Uma no momento do transplante, com a aplicação de 60% do elemento, podendo-se usar fontes nítricas amoniacais, pois será o nitrogênio que a planta irá usar nos primeiros 20 dias. Desta maneira, teremos um nitrogênio imediatamente disponível via nitrato, e outro, que necessita ser transformado para seu uso, via amônio. Para o tabaco Burley e para o Escuro, recomenda-se fazer três aplicações, mantendo os critérios das fontes utilizadas para o tabaco Virgínia. Quando estamos trabalhando com um solo fumigado, temos que diminuir os suprimentos amoniacais, uma vez que, ao fumigar, as colônias de bactérias encarregadas do processo de nitrificação ficam diminuídas no solo, com o que este processo será muito mais lento. A segunda aplicação para o tabaco Virgínia (no máximo três semanas após o transplante), dos 40% restantes, coincide com o começo do rápido crescimento foliar, a partir da 4ª semana. Nesta etapa, o nitrogênio tem que estar imediatamente disponível. É entre a 4ª e a 7ª semanas depois do transplante que acontecem as maiores taxas de absorção do elemento, e a absorção de nitrogênio antes da 8ª semana póstransplante alcança mais ou menos 90%. Além disso, entre a 6ª e a 10ª semanas de cultivo, temos as maiores taxas de acumulação de matéria seca, e o sistema radicular terá se desenvolvido até o ponto de absorver grandes quantidades de nutrientes, minimizando as perdas por lixiviação. Para o caso do tabaco Escuro e do Burley, a segunda aplicação é recomendada para 15 dias após o transplante, e a última, antes de 30 dias depois do transplante. 7.1.2 Fósforo Este elemento é absorvido durante todo o cultivo, mas, por causa de sua baixa mobilidade no solo e pela importância que tem para o crescimento das raízes, o fósforo deve ser aplicado em sua totalidade na primeira aplicação de fertilizantes (transplante), para todos os tipos de tabaco, de modo a deixar o elemento exatamente no lugar onde a planta desenvolverá as raízes mais tarde. Deve-se aplicar quantidades muito acima da demanda do cultivo, principalmente em solos com pH ácido e alcalinos, pois, nestas circunstâncias, grande parte do fósforo aplicado anteriormente é fixado pelo solo, e fica indisponível para as plantas. 7.1.3 Potássio O potássio deve ser aplicado em doses: a primeira, durante o transplante (entre 50% e 60%); e a segunda, antes da 3ª semana depois do transplante, isto é, os restantes 40% ou 50%, no caso de tabaco Virgínia. A primeira aplicação pode ser feita com diferentes tipos de fontes de potássio, dependendo da velocidade disponível para a safra, uma vez que a planta utilizará potássio durante a brotação e nos 20 dias seguintes. Esta parte da aplicação será utilizada pela planta tanto para o crescimento da folhagem como para o crescimento das raízes. A segunda aplicação de potássio coincide com o momento mais rápido de crescimento da folhagem (etapa crítica), e é por isso que a única fonte a ser usada neste caso é o nitrato de potássio, porque ele está 100% imediatamente disponível. Sem prejuízo a estas aplicações do elemento, a segunda pode ser complementada com aplicações aéreas do mesmo elemento, com a finalidade de assegurar uma melhor qualidade das folhas. De outra parte, para os tabacos Burley e Escuro, os quais têm demanda maior de nutrientes, particularmente de potássio, também se recomenda fazer três aplicações, respeitando o critério utilizado para o tabaco Virgínia em relação às fontes. Com relação aos momentos, a segunda aplicação deve ser feita 15 dias depois do transplante, e a última, antes de 30 dias após o transplante. 89 90 Tabela 15. Sumário de fontes e épocas para aplicar fertilizantes granulares no solo para tabacos Virgínia. Nitrogênio Fontes Fonte Por aplicação (pH solo) Fonte por pH Pré-Transplante ou Transplante 2ª Aplicação (antes da 3ª semana após o transplante) Tabela 16. Sumário de fontes e épocas para aplicar fertilizantes granulares no solo para tabacos Escuros e Burley. Fontes Per. Application Fonte Pré-Transplante ou Transplante 1ª Cobertura 2ª Cobertura Nitrogênio % NO3 NH4 35 65 NO3 NH4 NO3 NH4 70 30 100 0 P2O5 (pH solo) as por pH < 6 = SFT 6 - 7.5 = DAP > 7.5 = MAP K2O Fonte % KNO3 K2SO4 50 50 KNO3 100 15-0-14 100 Tabela 17. Sumário de unidades N-P-K recomendadas para Tabaco Virgínia, Escuro e Burley. Tipo de Tabaco Escuro e Burley Virgínia Colheita Esperada Média Alta Média Alta Nutrientes (Kg/ha) K2O N P2O5 180 240 85 100 80 100 60 80 160 220 160 190 7.1.4 Cálcio Uma importante aplicação de cálcio deve ser feita no momento do transplante para dar sustento ao crescimento geral da planta, especialmente em solos com pH elevado, tendo em vista que este elemento será usado pela planta durante as primeiras semanas da fase do crescimento. Além do suprimento de cálcio para a folha, ele também precisa ser aplicado durante fertilização de cobertura, através de uma fonte rápida, como é o nitrato de cálcio. 7.1.5 Magnésio O magnésio deve ser aplicado em doses: uma parte no transplante, 35%, e o resto, em uma segunda aplicação, 65%, antes que a etapa de rápido crescimento se inicia. 7.2 Alternativas Para o Programa Nutricional 7.2.1 Plano Nutricional Granular Recomendações para o tabaco Escuro e Burley Para estes tipos de tabaco se recomendam três aplicações, onde fontes nítricas e amoniacais são usadas para o nitrogênio, e uma fonte rápida, ou uma de rapidez mediana, para o potássio, como mostram as tabelas 18 e 19. Tabela 18. Programa de nutrição para o tabaco Escuro e/ou Burley (nível médio de produção). Nível MÉDIO de Produção PERÍODO DE Doses PRODUTO/FERTILIZANTE APLICAÇÃO (Kg/ha) N P2O5 K2O S MgO CaO B2O3 Transplante 500 60 90 90 23 10 23 1 Cropmix de Cobertura 20-00-13-2Mg-7Ca 1ª Cobertura 500 100 0 65 0 10 35 Cropmix de Cobertura (15-0-14) 2ª Cobertura 300 45 0 42 1.300 205 90 197 23 20 58 Cropmix de Base 12-18-18-5-2-5+B FERTILIZAÇÃO TOTAL NUTRIENTES (Kg/Ha) 1 Tabela 19. Programa de nutrição de tabaco Escuro e/ou Burley (nível alto de produção). Doses (Kg/ha) NUTRIENTES (Kg/Ha) P2O5 K2O S MgO CaO B2O3 Nível ALTO de Produção PRODUTO/FERTILIZANTE PERÍODO DE APLICAÇÃO Cropmix de Base 12 - 18 - 18 - 5 - 2 - 5 + B Cropmix de Cobertura 20 - 00 - 13 - 2Mg-7Ca Nitrato Simples de Potássio (15-0-14) Transplante 600 72 108 108 27 12 27 1ª Cobertura 500 100 0 65 0 10 35 2ª Cobertura 500 75 0 70 1.600 247 108 243 27 22 62 FERTILIZAÇÃO TOTAL N 1 1 91 92 Neste caso, são feitas duas recomendações, uma para um nível produtivo alto e a outra para um nível médio. O importante é que a primeira aplicação seja no transplante, a segunda oito dias depois, e a última, 21 dias depois, o mais tardar. Isto tem a finalidade de evitar absorções tardias de nitrogênio por parte das plantas, fato que poderia retardar ou prejudicar a qualidade da colheita. Também se recomenda o uso de nitrato simples de potássio na segunda fertilização de cobertura, porque o produto tem mostrado resultados ótimos em solos ácidos e em tempos de muita chuva. Isto basicamente se deve ao fato de que o sódio presente nesta fonte nutricional substitui o cálcio e o magnésio na solução do solo, desta forma evitando sua lixiviação, permitindo, assim, uma maior absorção destes cátions pela planta. Esta recomendação compreende todos os macroelementos, mais alguns microelementos, com a finalidade de prover um programa completo e balanceado de nutrição, a fim de assegurar uma safra de qualidade. Recomendação para o tabaco Virgínia. Este tipo de tabaco é menos exigente quanto ao suprimento nutricional; por isso, recomenda-se aplicar uma quantidade menor de unidades totais. No entanto, os momentos de aplicação, assim como as fontes utilizadas, correspondem aos mesmos critérios dos tabacos anteriormente mencionados, como mostram as tabelas 20 e 21. Por isso, se sugere a primeira aplicação na hora do transplante e a segunda antes da terceira semana depois do transplante. Tabela 20. Programa de Nutrição para o tabaco Virgínia (nível médio de produção). Nível MÉDIO de Produção PRODUTO/FERTILIZANTE Cropmix de Base PERÍODO DE APLICAÇÃO Doses (Kg/ha) N P2O5 K2O S Transplante 500 45 60 120 35 10 20 1 300 45 0 42 800 90 60 162 35 10 20 1 9 - 12 - 24 - 7S - 2Mg - 4Ca + B Nitrato Simples de Potássio (15-0-14) FERTILIZAÇÃO TOTAL Cobertura NUTRIENTES (Kg/Ha) MgO CaO B2O3 Tabela 21. Programa de Nutrição para o tabaco Virgínia (nível alto de produção). Nível ALTO de Produção PRODUTO/FERTILIZANTE Doses (Kg/ha) N P2O5 Transplante 600 54 72 144 Cobertura 300 45 0 42 900 99 72 186 PERÍODO DE APLICAÇÃO Cropmix de Base 9 - 12 - 24 - 7S - 2Mg - 4Ca + B Nitrato Simples de Potássio (15-0-14) FERTILIZAÇÃO TOTAL NUTRIENTES (Kg/Ha) K2O S MgO CaO B2O3 42 12 24 1 42 12 24 1 7.2.2 Plano Nutricional Via Irrigação e Granular As aplicações são recomendadas até a 5ª semana depois do transplante para evitar uma absorção tardia do nitrogênio. Em geral, a aplicação via irrigação é bem mais eficiente porque são doses periódicas que suprem a demanda cotidiana do cultivo. As recomendações cobrem a totalidade dos macronutrientes em quantidades apropriadas e balanceadas, de modo a assegurar uma correta nutrição. Tabela 22. Recomendação para tabaco Burley e Escuro. Fase de Desenvolvimento Número de dias Transplante Desenvolvimento da Raiz No de apl. Fertilizantes Kg/ha a apl. TOTAL (Kg/ha) Nutrientes (Kg/ha) Cropmix 12-18-18-5S-2Mg+4Ca+B Desenvolvimento Vegetativo e Radicular Ultrasol 15-30-15 Nitrato de Magnésio Ultrasol Produção Fase de Crescimento Rápido Nitrato de Cálcio Sulfato de Magnésio Ultrasol Crescimento Ultrasol Produção Fase de Crescimento Rápido Nitrato de Cálcio Sulfato de Magnésio Ultrasol 13-06-40 Fertirrigação Total Tabela 23. Recomendação para tabaco Virgínia. Kg/ha TOTAL a Apl. (Kg/ha) NUTRIENTES (Kg/ha) Fase de Desenvolvimiento Numero de días Fertilizantes Nº de Apl. Transplante Desenvolvimiento da Raiz 0-14 Cropmix 12-18-18-5S-2Mg+4Ca+B 1 400 400 48 72 72 20 8 16 Desenvolvimiento Vegetativo e Radicular 14-21 Ultrasol 15-30-15 Nitrato de Magnésio Ultrasol Produção 6 8 8 5 12 8 30 96 64 5 11 8 9 0 4 5 0 26 0 0 0 0 14 0 0 0 0 Fase de Crescimento Rápido 21-28 Nitrato de Cálcio Sulfato de Magnésio Ultrasol Produção 5 6 8 10 10 5 50 60 40 8 0 5 0 0 2 0 0 16 0 8 0 0 10 0 13 0 0 Fase de Crescimento Rápido 28-35 Nitrato de Cálcio Sulfato de Magnésio Ultrasol 13-08-40 8 10 10 12 8 8 96 80 80 15 0 10 0 0 5 0 0 32 0 10 0 0 14 0 25 0 0 Fertirrigação 62 20 78 18 38 38 Total 110 92 150 38 46 54 N P2O5 K2O S MgO CaO 93 94 8 Resultados das Pesquisas Tabela de conversões: 1 acre (a) equivale a 0,4048 hectares (ha). 1 libra (lb) equivale a 0,454 kilogramas (kg). 1 libra (lb/a) equivale a 1,1215 kilogramas (kg/ha). O que segue é uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Carolina do Norte, USA, por McCants, C. e Woltz G., citado por Hawks, Jr. Collins W. 1983. A pesquisa investiga o efeito da fonte de nitrogênio no rendimento e no conteúdo de cálcio e de potássio nas folhas de tabaco Flue-Cured. Os resultados mostram que, à medida em que a proporção de nitrogênio nítrico aumenta no cultivo, o rendimento também aumenta de maneira consistente, conforme mostra a tabela 24. Tabela 24. Relação entre Nitrogênio Nítrico e o rendimento da safra. Relação entre Nitrogênio Nítrico e o rendimento da safra % Nitrogênio Nítrico Ca K Rendimento Kg/Ha 0 60,8 61,2 2.313 33 65,2 62,6 2.387 66 68,9 63,3 2.431 100 72,3 66,6 2.504 Além disso, também aumenta o conteúdo de cálcio e de potássio nas folhas, como mostra a figura 58 (os conteúdos do elemento estão em quilos por hectare de tabaco curado). Este fato é de suma importância, tendo em vista que o nitrogênio, o potássio e o cálcio são os elementos mais exigidos pelo cultivo de tabaco, e, juntos, constituem 79% dos minerais absorvidos pela planta. Efeito da fonte de nitrogênio no rendimento e no conteúdo de K e Ca na folha curada de tabaco Flue-Cured. Conteúdo de K e Ca na folha (Kg/Ha) 72,0 2.500 70,0 68,0 2.450 66,0 2.400 64,0 2.350 62,0 60,0 2.300 58,0 Rendimento (kg/Ha) 2.550 74,0 2.250 56,0 2.200 54,0 0 33 66 100 % de Nitrogênio Nítrico Ca K Rendimento Figura 58. Efeito da fonte de nitrogênio no rendimento e no conteúdo de K e Ca na folha curada de tabaco Flue-Cured. Isto vem confirmar o que foi comentado por vários autores em relação ao fato de que o amônio no solo compete com alguns cátions, como cálcio, magnésio e potássio, ao mesmo tempo favorecendo sua lixiviação (particularmente do cálcio e do magnésio), dificultando sua absorção por parte da planta. O seguinte teste foi realizado no Brasil pelo engenheiro agrônomo Sérgio Willani e apresentado no IX Seminário Internacional do Tabaco. Nele se trabalhou com doses crescentes de nitrogênio (5 doses distintas, 70, 100, 130, 160 e 190 Kg/ha) e com três variedades distintas de Flue-Cured (K-326, Ult163 e Ult-106). O teste ocorreu durante a safra 2000/01, com blocos aleatoriamente escolhidos, e foi repetido três vezes. A distância da plantação foi de 1,2 metro por 0,5 metro (16.666 plantas por ha). A fertilização de pré-plantio foi com a mistura 10-1620, em doses de 600 kg/ha. E a fertilização de cobertura foi com nitrato simples de potássio (15-0-14). O desponte foi realizado com 18 a 20 folhas por planta. Os resultados são os seguintes: O primeiro, conforme se pode ver na tabela 25, é que todas as variedades apresentam um alto rendimento, chegando a superar três toneladas por hectare, em alguns casos. Também se pode ver que os rendimentos estão diretamente relacionados com as taxas de nitrogênio aplicadas, isto é, quanto mais nitrogênio, tanto maior o rendimento obtido. Ao passo que os melhores resultados neste parâmetro de qualidade se alcançam com 100 unidades de N por ha, nas três variedades estudadas. 95 96 Tabela 25. Relação entre as doses de nitrogênio, rendimento e qualidade. Doses de Nitrogênio (Kg/Ha) K 326 (Rend.) ULT 163 (Rend.) ULT 106 (Rend.) K 326 ULT 163 ULT 106 (Qualidade) (Qualidade) (Qualidade) 70 2214 2367 2479 79,1 77,3 76 100 2551 2647 2839 78,8 79,2 77,6 130 2837 3082 2864 78,5 78,2 77,5 160 3029 3252 3341 77,1 77,6 79,2 190 3315 3584 3671 75,8 77,2 76,6 No entanto, quanto à porcentagem de folhas de qualidade superior, a resposta não é muito clara na variedade Ult-160, como mostra a figura 46. Sem dúvida, nas outras duas variedades existe uma clara relação entre as taxas de nitrogênio e a qualidade obtida. E os melhores resultados neste parâmetro de qualidade se alcançam com 100 unidades de N por ha, nas três variedades estudadas. Figura 59. Relação entre distintas doses de N e seus efeitos na qualidade do tabaco Flue-Cured. Por outra, ao medir os alcalóides totais e os açúcares presentes nas folhas, os resultados são os seguintes: As três variedades mostram uma relação direta entre os níveis de nitrogênio aplicado e a porcentagem de alcalóides totais presentes nas folhas, como mostra a figura 60. Ou seja, quanto maior a quantidade de nitrogênio, tanto maior a quantidade de alcalóides nas folhas. No entanto, com os açúcares presentes nas folhas ocorre o contrário. Há uma relação inversa entre os níveis de açúcar nas folhas e os níveis de nitrogênio utilizados. O interessante é que, com níveis de 70 a 100 unidades de N por ha, ainda há mais de 20% de açúcares nas folhas. Ao aplicar 130 unidades por N, há uma forte queda. Ao passo que os níveis de alcalóides com doses de 100 a 130 unidades de N por ha, estão 2% acima nas folhas, e somente aumentam para mais de 3% com doses mais elevadas em uma só variedade (Ult-163), como mostra a mesma figura. Segundo o autor, o melhor equilíbrio químico para as condições de cultivo (clima e solo) no Brasil foi alcançado com mais ou menos 130 unidades de nitrogênio por hectare. Figura 60. Relação entre distintas doses de N e seu efeito nos açúcares redutores e nos alcalóides no tabaco Flue-Cured. Neste caso, mediu-se o efeito de cinco doses distintas de nitrogênio (130, 170, 200, 230, 260 e 290 unidades por hectare), em quatro variedades distintas (TN-86, TN-90, Ult 661 e Ult 682). O teste foi feito em blocos escolhidos aleatoriamente e foi repetido três vezes. A distância entre as plantas foi de 1,2 metro por 0,45 metro (18.518 plantas por ha). A fertilização do pré-plantio foi com a mistura 10-18-20, em doses de 600 kg/ha. E a cobertura foi com nitrato simples de potássio (15-0-14). O desponte foi realizado com 20 a 22 folhas por planta. Os resultados são mostrados na tabela 26. 97 98 Tabela 26. Relação entre doses de nitrogênio, qualidade da folha, porcentagem de alcalóides e produtividade no tabaco Burley. Doses Nitrogênio (Kg/ha) % de folhas de Qualidade Superior % de alcalóides nas folhas Rendimento em ton/ha TN 90 ULT 661 ULT 673 TN 86 TN 90 ULT 661 ULT 673 TN 86 140 95,1 93,9 95,0 94,4 3,8 3,3 3,7 3,0 2.085 2.318 2.088 2.163 170 94,8 95,2 94,1 95,1 3,4 3,7 3,6 3,5 2.159 2.220 2.189 2.244 200 96,1 95,0 95,5 95,2 3,3 3,4 3,9 3,0 2.416 2.106 2.229 2.358 230 94,0 95,8 95,6 95,6 3,5 3,8 3,2 3,1 1.949 2.148 2.150 2.207 260 96,1 95,3 95,4 96,8 3,9 3,4 3,5 3,2 2.583 2.498 2.586 2.532 TN 90 ULT 661 ULT 673 TN 86 Três das quatro variedades mostram uma trajetória crescente de rendimento à medida em que aumenta a dose de nitrogênio, como mostra a figura 61. Figura 61. Efeito das doses de N no rendimento do tabaco Burley. A única variedade que mostra uma tendência em forma de ziguezague é a TN-90, pois aumenta seu rendimento com 200 UM/ha, mas diminui com a aplicação de 230 UM, e volta a aumentar com 260 UM. Além disso, as variedades mostram a mesma tendência com 260 unidades de N por hectare. Com relação à porcentagem de folhas de qualidade superior, a tendência mostra que, à medida em que se aumenta a dose de nitrogênio utilizada, também aumenta a porcentagem de folhas de qualidade superior, o que pode ser visto na figura 62. Figura 62. Efeito das doses de N nas folhas de Alta Qualidade do tabaco Burley. A única exceção foi novamente a variedade TN-90, a qual apresenta uma considerável queda quando a dose aplicada chega a 230 unidades de nitrogênio por hectare. Por último, com relação à porcentagem de alcalóides totais na folha, as doses distintas que foram aplicadas mostram resultados semelhantes, isto é, os níveis de alcalóides nas folhas permaneceram relativamente estáveis (entre 3% e 4%), independente das doses de nitrogênio aplicadas, conforme mostra a figura 63. Figura 63. Efeito das doses de N nas folhas de Alta Qualidade do tabaco Burley. 99 100 9 Testes de Campo Os seguintes testes foram feitos na China, em temporadas distintas, e foram apresentados pelo Dr. Heman Tejeda no Seminário Internacional de Tabaco 2001. Neles se mediu a resposta do tabaco Flue-Cured a diferentes doses de nitrogênio, quanto ao rendimento (Kg/ha), à porcentagem de alcalóides totais e à qualidade da safra (% de folhas de qualidade superior). Em ambos os casos, como mostra a figura 61, pode-se constatar que, à medida em que aumenta a dose de nitrogênio, há melhoras no rendimento, na porcentagem de folhas de qualidade superior e na porcentagem de alcalóides totais. Figura 64. Efeito das doses de N sobre o rendimento e sobre a qualidade do tabaco Flue-Cured, Henan-1986. Especificamente, na figura anterior, pode-se constatar que, à medida em que aumenta a quantidade de nitrogênio utilizada, aumenta também o rendimento, mas somente até a aplicação de 73 unidades, e depois disto o rendimento diminui. Com relação aos alcalóides, estes praticamente aumentam de maneira linear na proporção em que aumentam as doses de nitrogênio. Na figura 65 pode-se ver o efeito de doses crescentes de nitrogênio sobre o rendimento e sobre a qualidade das folhas. Pode-se ver que doses crescentes de nitrogênio aumentam o rendimento e a porcentagem de folhas de qualidade superior, mas seus máximos são alcançados em doses distintas, uma vez que o rendimento atingiu seu máximo com 67 unidades de nitrogênio por hectare, e a porcentagem melhor de folhas de qualidade superior foi conseguida com 82 unidades de nitrogênio. Figura 65. Efeito das doses de N sobre o rendimento e sobre a qualidade do tabaco Flue-Cured, Guizhou-1987. A experiência seguinte também foi realizada na China, em temporadas distintas, e foi apresentada pelo Dr. Hernán Tejeda no mesmo seminário. Ela consistiu em medir o efeito do tipo de nitrogênio aplicado (nítrico ou amoniacal) sobre o rendimento e sobre a qualidade do tabaco Flue-Cured. Nele, no primeiro tratamento foi aplicada a totalidade do nitrogênio como nitrato; no seguinte, 75% foram de nitrato e 25% como amônio; a seguir, metade por metade; e, por último, 75% como amônio e 25% como nitrato; e, para finalizar, todo ele foi aplicado como amônio. Ambos os resultados mostram de maneira inquestionável que, à medida em que aumenta a proporção de nitrogênio nítrico, a safra responde com melhor rendimento e com melhor qualidade, como mostra a figura 66. Portanto, o uso da fonte de nitrogênio nítrico, que inicialmente parece mais cara, é de fato mais conveniente para o produtor, uma vez que o aumento de rendimento e de qualidade resulta em maiores lucros, pagando com juros os gastos mais altos. 101 102 Figura 66. Efeito da fonte de N sobre o rendimento e sobre a qualidade do tabaco Burley, Guizhou-1987. Em ambos os testes, realizados em safras distintas, pode-se ver que, de maneira consistente, à medida em que aumenta a proporção de nitrogênio nítrico utilizado no cultivo, aumenta também o rendimento alcançado e a porcentagem de folhas de qualidade superior, como mostra a figura 67. Figura 67. Efeito da fonte de N sobre o rendimento e sobre a qualidade do tabaco Flue-Cured, Jiangchuan, 1985. Entretanto, as máximas ocorrem com distintas doses de nitrogênio nítrico: o máximo rendimento foi assegurado com a maior dose de nitrogênio nítrico (100%); e a máxima porcentagem de folhas de qualidade superior foi com 75% de nitrogênio nítrico. À luz destes resultados, podemos discutir se é preciso aplicar 75% ou mais de nitrogênio em sua forma nítrica, mas o que é certo é que o tabaco prefere nitrogênio nítrico como fonte nutricional, e que sua aplicação resulta no melhor rendimento e na melhor qualidade que a planta pode expressar. 10 Referência Bibliográfica Akehurst, B. C. El tabaco. 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