miragens do progresso a organizacao da primeira

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MIRAGENS DO PROGRESSO: A ORGANIZAÇÃO DA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO
ESTADUAL DO PIAUI, 1923.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI
Autor (a) - Nathália Nádja Sobrinho
Orientador (a) – Mairton Celestino da Silva
A Economia do Piauí se olhada dentro de um panorama singular se deu de forma
bem dinâmica, é a partir dessa organização que daremos subsídios para a realização desse
trabalho. Pretendemos perceber tal dinamização através das Exposições Universais, mais
precisamente da Exposição Estadual do Piauí, 1923.
No entanto antes do aprofundamento da discussão precisamos esclarecer dois
pontos. Primeiro o que é Exposições Universais, e depois quais os pilares da economia
piauiense no período estudado.
Na visão de Sandra Pesavento, as exposições funcionaram como síntese e
exteriorização da modernidade dos “novos tempos” e como vitrina de exibição dos
inventos e mercadorias postos á disposição do mundo pelo sistema de fábrica. Mas do que
isso as Exposições serviam para mostrar o que cada país tinha de melhor, tanto no âmbito
da economia e de diversos outros setores de cada sociedade participante.
Se tomarmos Francisco Foot Hardmam em o Trem Fantasma veremos as
Exposições eram verdadeiros centros de férteis para o estudo da ideologia articulada à
imagem da riqueza das nações.
Do deslumbramento Palácio de Cristal em Londres (1851) à sublime
Torre Eiffel em Paris (1889): entre a transparência do vidro e a
maleabilidade do ferro, desvela-se, muito mais do que um ensaio de
combinação dos materiais, a própria exhbitio universal da civilização
burguesa __ didática em sua nova taxionomia dos produtos do trabalho
humano, magnífica em seu mosaico ilusionista de curiosidade nacionais,
insuperável na construção de santuários destinados ao fetiche-mercadoria.
Já no tocante da economia piauienses várias posições historiográficas que se
debruçaram em pesquisar a formação econômica do Piauí a partir de um viés, fazendo com
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que diversos setores fossem desvalorizados por terem sido vistos no seu declínio o seu fim.
Apesar de vários estudos sobre a economia piauiense no período explorado, esse trabalho
tem por finalidade partir de um mesmo pressuposto, que é a economia piauiense, mas não
seguir o mesmo caminho que a bibliografia consultada trilhou.
Teresinha de Queiroz no seu livro Economia Piauiense da Pecuária ao
Extrativismo vai pontuar vários produtos, tais como a borracha de maniçoba, o coco
babaçu e a cera de carnaúba, e afirma que a pecuária foi superada pelas atividades
extrativas.
É nessa perspectiva que na visão da autora e de muitos contemporâneos que se
deu a dinâmica da economia piauiense. No entanto percebemos que se formos olhar a
documentação existente sobre a primeira Exposição Estadual do Piauí de 23 de janeiro de
1924, veremos que a pecuária já não exercia papel impulsionador na economia, no entanto
ele não foi simplesmente superado pelo extrativismo.
Apesar da nítida fragilização desse setor ele ainda dava fôlego para economia
piauiense com investimento alto dos pecuaristas piauienses na compra de gado na
exposição. Tais documentos foram encontrados no Arquivo Público do Piauí em Teresina.
Dentro do que foi analisado podemos perceber que a organização da exposição
possibilitou um grandioso reflexo daquilo que estava acontecendo dentro da economia
piauiense. Os escritos referentes estão agregados no relatório de apresentação da feira:
Apezar dos persistentes esforços empregados pela digna Commissão
promotora do centenário da Independência do Piauh foi insignificante o
concurso dos criadores do Estado, á Exposição por Ella organizada. O
diminuto numero de animaes que concorreram ao certamem daria uma
desanimadora prova do estado da nossa industria pecuária, si tomado para
base julgamento.Com effeito apenas seis criadores no município desta
capital, e um em cada um dos de Urussuhy, São João, Pedro Segundo,
União e Campo Maior, enviaram produtos de suas fazendas de criação
para figurarem naquella exposição. A simples inspeção do quadro
alludido, denota desde logo que dos criadores de gado bovino foram
maiores concurrentes os coroneis A. Covour de Miranda e Juvencio
Alves de Carvalho, ambos desta capital.
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Dado isso vemos que a pecuária apesar dos contratempos econômicos ainda
estava sendo um alto investimento dos criadores na implantação de gado puro sangue.
Expositor CAVOUR DE MIRANDA ___ Este criador foi o pioneiro da
introdução systematica de animaes estrangeiros puro sangue, para o
melhoramento da criação do gado bovino no município desta capital. As
raças por elle preferidas são __a andina (Guzeral) para os reprodutores e
a hollandeza, comprehendida nesta ultima a turina, para as vaccas de
leite. Os resultados não são desanimadores. Verdade é que ainda não ha
elementos para um julgamento definitivo, porquanto os animaes levados
à Exposição pelo coronel Cavour são produtos do cruzamento de zebú
puro sangue com vacas turinas e hollandezas, também puro sangue.
Segundo Teresinha de Queiroz “A pecuária piauiense, enquanto atividade
extensiva, era desenvolvida em grandes propriedades e não tinha muitas exigências quanto
à mão-de-obra, quer em termos quantitativos, quer qualitativos. Estas características,
aliadas à sua importância também como economia de subsistência, induziam a ocupação de
extensas áreas de terras, em que ela se tomava a atividade principal. Como da criação de
gado derivaram os principais produtos alimentadores de comercio interprovincial.”
A pecuária vista como atividade de importante cunho de desenvolvimento não era
vista por todos os historiadores que se voltam nos estudos da economia piauiense, como é
o caso de Felipe Mendes de Oliveira, vê a pecuária somente como instrumento de
ocupação do território:
A criação de gado nos sertões piauienses, desde meados de 1674, quando
Mafrense estabeleceu as primeiras fazendas na região dos rios Piauí e
Canindé, teve êxito apenas como instrumento de ocupação do território.
Como atividade produtiva, foi um fator determinante para a formação de
um sistema econômico frágil e incapaz de fazer germinar outras
atividades produtivas. A pecuária extensiva, tal como se implantou no
Piauí, resultou um uma economia primitiva, tradicional e passiva dentro
do sistema econômico em formação no Brasil, do qual cada vez mais se
distancia.
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Percebemos que no seu texto Formação Econômica. Felipe Mendes caracteriza a
indústria da pecuária como algo sem relevância alguma, explana sobre a tecnologia
rudimentar utilizada pelos criadores, gado criado solto sem cuidados especiais de manejo,
tratamento sanitário ou melhoramento genético.
Não é o que nos deparamos ao observar O Catálogo dos Productos Piauhyenses da
Exposição de 24 janeiro de 1923, onde se ver um grande investimento do cruzamento de
gado puro sangue. Sabemos que grande maioria dos gados piauienses era da raça pé duro,
isso é fato, no entanto isso não acarreta em entendermos que predominava gados de raça
inferior. Aqui no Piauí tivemos uma associação de culturas pecuaristas, indo do mais
rudimentar tratamento até altos investimentos.
Na visão de Teresinha de Queiroz a partir da década de 1870 já estava bem
caracterizada a perda do espaço do Piauí, em termos nacionais. Enquanto no centro-sul as
transformações econômicas se faziam de forma acelerada, no Piauí não ocorriam
transformações básicas na produção, não havia diversificação na composição do comércio
e nem se evidenciavam quaisquer sintomas de mudanças qualitativas das atividades
econômicas tradicionais.
A pecuária apesar de continuar sendo a atividade mais importante e de absorver
grande parte da força de trabalho, perdia rapidamente posição no mercado regional em
decorrência do crescimento e melhoria dos rebanhos das demais províncias e das perdas
qualitativas do próprio rebanho por falta de inovações no sistema de criação.
Ao contrario disso vejamos a foto tirada no Arquivo Público de Teresina do
Catálogo de apresentação da exposição uma vaca holandesa, puro sangue da propriedade
do coronel Cavour de Miranda tal documentação vai de encontro com o citado acima por
Teresinha de Queiroz, pois em sua obra vai nos mostrar que a frágil economia piauiense
sustentava-se numa atividade pecuarista de pouco poder, e que por muitas vezes era apenas
uma atividade de subsistência.
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Temos ainda a descrição de outras raças que estavam sendo exibidas na
exposição:
Do município de Theresina, ainda concorreram o Sr. Irineu Carvalho com
um boi ½ sangue zebú de peso morto superior a 400 kilos, o Dr. Miguel
de PAIVA Rosa com uma vacca zebú-crioula, o coronel José Liberato
Pereira de Araujo com um magnífico cavallo de sella, de 4 ½ annos de
idade, neto de um reprodutor de raça hespanhola aqui introduzido pelo
saudoso Dr. Marcos Pereira de Araujo; o Dr. Pedro de Alcantara Teixeira
com um bode; o Dr. Manoel Castelo Branco e o Sr. Areolino Bandeira,
cada um com um cavallo de corrida.
O império do Brasil segundo Foot Hardman fez-se representar nas exposições
universais desde os primeiros eventos. Os relatórios oficias feitos pelos comitês
organizadores instituídos por Dom Pedro II fornecem indicadores relevantes dos
significativos econômicos, políticos e culturais subjacentes á presença do país naqueles
certames. Até o fim da monarquia, o Brasil participou das exposições de 1862 (Londres),
1867 (Paris), 1873 (Viena), 1876 (Filadélfia) e 1889 (Paris). Cumpre ainda acrescentar o
comparecimento a algumas de caráter internacional mais restrito, como a de Buenos Aries
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(1882) e de São Petersburgo, na Rússia (1884). Já no inicio do século XX, há fontes
referentes à participação brasileira nas exibições de Saint-Louis, EUA (1904), Bruxelas
(1910) e Turim (1911). Não se descartam, alem dessas, outras sugestivas presenças,
inclusive em mostras mais especializadas, como exemplo na Exposição dos Caminhos de
Ferro, em Paris (1887) ou na Exposição de Higiene e Educação, em Londres (1885).
Outras exposições tiveram patrocínio e impulso diversos. É o caso, por
exemplo, da Exposição Industrial do Rio de Janeiro, em 1881, voltada
especificamente para promover produtos e equipamentos manufatureiros
e dirigida por uma entidade de classe: a Associação Industrial.
Portanto as exposições são o reflexo daquilo que estava acontecendo no mundo
naquela época, todos os países do mundo estavam imbuídos em mostrar suas riquezas e
inventos, quanto maior os pavilhões e mais luxuosos maior poder político e econômico
aquele país passava para seus visitantes. Todos os estados do Brasil sempre realizaram
exposições em suas capitais, para se organizar das exposições nacionais e por fim reunir
aquilo que mais caracterizava o Brasil para as grandiosas e belíssimas Exposições
Universais.
Ainda mais serviram e ainda servem para mostrar além de traços culturais de uma
determinada sociedade, nos atenta também para configurações econômicas que podem ser
observadas dentro das entrelinhas os relatórios feitos pelos dirigentes das exposições, tanto
municipais, estaduais, nacionais e universais.
Vemos isso como a observação sob as documentações, com um olhar
historiográfico nos leva a entender e até desmistificar posições ultrapassadas de superação
econômica de um produto por outro. Como é o caso do Piauí.
Segundo Foot Hardman sempre houve criticas as Exposições Nacionais. Livrecambistas como Tavares Bastos, por exemplo, consideravam-nas um luxo desnecessário,
tanto mais que protegidas sob o manto do Estado. Era, nessa versão, uma iniciativa que
tentava “precipitar” artificialmente o industrialismo entre nós. Eventuais manufaturas não
passavam de acidentes fortuitos.
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Nem sempre os mercadores viam as exposições estaduais como importante para o
desenvolvimento de propaganda de seus produtos. Refletimos a passagem de Foot
Hardman:
Havia ainda muita resistência, entre empresários, em participar desses
eventos. Além de problemas sérios de organização e propaganda __ os
fabricantes não viam estímulos mercadológicos imediatos em expor seus
produtos, já que os eventos em cada província eram meros ensaios para a
exposição nacional, que por sua vez era preparatória da participação
brasileira nos certames mundiais. Não tendo chance alguma de disputar o
acesso ao mercado internacional com os países europeus e os EUA,
muitos produtores recolhiam-se á dispersão dos negócios no interior e à
fragmentação dos mercados entre as regiões.
Essa configuração não pôde ser vista no cenário da Primeira Exposição do Piauí
de 23 de janeiro de 1924, comemorativa do primeiro centenário de adesão a independência
do Piauí, onde os pecuaristas viram na exposição um lugar para tentar intensificar a tão
sofrida participação da criação de gado na economia piauiense. Apesar de já mostrar traços
de declínio da cultura da pecuária a exposição serviu pra vermos que os criadores viam na
mostra um passo para delinear novamente a brilhosa participação da pecuária na economia
do estado.
Exposto a discussão desse trabalho é relevante a iniciação de uma nova visão da
economia piauiense, para compreendermos que a fato da pecuária não ser mais o carro
chefe das exportações piauienses, devido diversos fatores internos como a entrada da
borracha de maniçoba, da cera de carnaúba e do coco babaçu e fatores externos como o
aumento na cultura da pecuária em outros estados. A mesma ainda continuou exercendo
um papel econômico significativo no Piauí.
Entendemos que a exposição do Piauí aqui retratada é de suma importância para
percebemos a organização da sociedade piauiense frente ao fascínio das novas formas de
vermos o mundo e a modernização do mesmo.
Portanto com tais exposições o Brasil era posto dentro dos grandes feitos e
consequentemente o Piauí não podia ser diferente, se coloca dentro da modernização com a
Primeira Exposição do Piauí de 24 de janeiro de 1923, mas que isso, nos faz ter uma nova
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visão de vários setores na sociedade piauiense, principalmente no âmbito na economia,
com a mostra da pecuária no período estudado.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICO
HARDMAM, Francisco Foot. Trem Fantasma: A Modernidade na Selva. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988
.PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições Universais. Espetáculos da Modernidade do
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QUEIROZ, Teresinha de J. M. A importância da borracha de maniçoba na economia do
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SEVCENKO, Nicolau. Orfeu Extático na metrópole: São Paulo, sociedades e culturas nos
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SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na
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