A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO TELECONEXÕES ATMOSFÉRICAS EM EPISÓDIOS DE ENSO E SUAS INFLUÊNCIAS NA VARIABILIDADE CLIMÁTICA DO PANTANAL 1 CARLOS BATISTA SILVA 2 MARIA ELISA SIQUEIRA SILVA Resumo: O objetivo dessa pesquisa foi analisar a existência de possíveis padrões de teleconexões para fases neutra, positiva e negativa de ENSO e suas possíveis consequências na variabilidade climática da região central da América do Sul. Para isso foram utilizados dados médios de vento zonal e meridional, umidade específica e precipitação para a realização de compósitos para os anos de 1982/1983 (El Niño), 1988/1989 (La Niña) e 1980 (fase neutra) e dados de vazão mensal do Pantanal, no centro-oeste do Brasil. Os resultados das análises mostraram que algumas regiões dos compósitos de TSM se comportam como forçantes térmicas, possivelmente, associadas às anomalias de linha de corrente em 250 hPa e as modificações nos padrões de divergência (convergência) do ar em altos (baixos) níveis da atmosfera. Além disso, observamos que o posicionamento das áreas de TSM no Pacífico é fundamental dentro das relações de variabilidade do clima. Palavras-chave: Teleconexões atmosféricas; ENSO; Pantanal; Variabilidade Climática. Abstract: The objective of this research was to analyze of possible teleconnections standards for neutral, positive and negative phases of ENSO and its possible consequences in climate variability in the central region of South America. For this we used medium data zonal and meridional wind, humidity specific and precipitation for conducting composites for the years 1982/1983 (El Niño), 1988/1989 (La Niña) and 1980 (neutral phase) and monthly flow data of the Pantanal, in the Midwest of Brazil. The analysis results showed that some regions of the SST composite behave like thermal driving forces possibly associated with the line current of 250 hPa anomalies and changes in the divergence of standards (convergence) of the air at high (low) levels of the atmosphere . In addition, we observed that the positioning of the TSM areas in the Pacific is one of the crucial climate variability relations. Keywords: atmospheric teleconnections; ENSO; Pantanal; Climate Variability 1 - Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. E-mail de contato: [email protected] 7526 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1. Introdução Tratada como um fluído dinâmico (Lorenz, 1963; Walker e Bliss (1932), a atmosfera é marcada por um conjunto de elementos complexos, dentro de uma perspectiva não-linear, num todo integrado em que há uma relações de trocas de energia entre suas camadas e com outros meios naturais do sistema terrestre. Um dos exemplos desta complexidade pode ser observado dentro da Teoria das Teleconexões Atmosféricas (Walker e Bliss, 1932; Bjernkes, 1969, Hoskins e Karoly, 1981, Karoly, 1989, Müller e Ambrizzi, 2007), marcada pelo desencadeamento de anomalias atmosféricas em um ponto e com capacidade de se propagar para áreas remotas. As contribuições de Walker (1924) e de Walker e Bliss (1932) já haviam ressaltado a importância da interação da atmosfera com os oceanos dentro de um conjunto de integração dinâmica. Essas duas contribuições científicas mostraram a preocupação em compreender a sucessão de tempos dos lugares como produto de interações no espaço tri-dimensional e os efeitos das temperatura da superfície do mar, tratados como forçantes atmosféricas (Bjerknes, 1969), dentro do sistema climático. De fato, inúmeros trabalhos já mostraram algumas das repercussões desencadeadas pelas alterações da temperatura da superfície do mar (TSM) em diversas regiões do globo. Dentre estes, podemos citar aqueles que se dedicaram em demonstrar as interferências diretas e indiretas da atmosfera no comportamento temporal das chuvas na América do Sul, como os desenvolvidos por Coelho, et al., (2002) e Aceituno (1987 e 1988), além daqueles que observaram o comportamento dentro dos campos fluviais de rios na América do Sul, como os desenvolvidos por Cardoso e Dias. (2006), Cardoso e Dias (2002), Cardoso (2005) e (Silva, 2012). As contribuições de Hoskins e Karoly (1981), Horel e Wallace (1981), Karoly (1989), Mo e Higgins (1987), Müller e Ambrizzi (2007), Saji e Yamagata (2003), Saji et al., (2005), Taschetto e Ambrizzi (2011) dentre outros, trouxeram uma série de conhecimentos específicos e detalhados das consequências causadas na atmosfera pela existência de anomalias de temperatura nas superfícies oceânicas (forçantes térmicas). Estas anomalias podem ser representadas por diversas manifestações e padrões, como os que ocorrem com a formação dos dipolos, por exemplo. 7527 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Os padrões de dipolo de TSM nos oceanos tropicais são capazes de gerar diversas alterações nos campos atmosféricos, as quais podem ser observadas pelas análises de anomalias da função de corrente em altos níveis e na propagação de "trens de ondas" de Rossby a partir das regiões-fontes e, em direção a regiõesremotas, como mostraram Hoskins e Karoly (1981). Um exemplo de como isto ocorre foi mostrado por Saji et al., (2005) em um estudo com o uso de um modelo baroclínico. Com base nos resultados obtidos por Saji e Yamagata (2003a) e por aqueles descritos nas contribuições de Saji, et al., (2005), surgiram as motivações para a realização desse estudo e, a partir de então, traçados campos da componente zonal do vento em 250 hPa para os períodos de El Niño (1982/83), La Niña (1988/89) e de TSM neutro (1980/81). Os resultados de análises obtidos supostamente mostram a formação de "trens de ondas", associadas à supostas regiões de forçantes térmicas de TSM do Pacífico, as quais se deslocassem até atingir a região central da América do Sul, onde está inserido o Pantanal. 2. Metodologia 2.1. Dados e metodologia A metodologia empregada dentro desse estudo foi dividida em 5 partes: (1) análise das anomalias de TSM, (2) análise da componente zonal do vento em 250hPa, (3) análise de linha de corrente e divergência em 250hPa, (4) análise da integral vertical da divergência do fluxo de umidade para os nível de 1000-700hPa e (5) análise das anomalias de precipitação sobre a América do Sul. Todas os resultados obtidos foram para dados médios dos segmentos temporais de 1980/81 (ano neutro), 1982/83 (El Niño) e 1988/89 (La Niña) e foram representados nos conjuntos de Figuras 1, 2 e 3. (1) Análise das anomalias de TSM: Para a realização dessa etapa foram necessários dados de temperatura da superfície do mar (TSM) para os episódios de 1980/1981 (episódio neutro), 1988/1989 (episódios de La Niña) e 1982/1983 (episódios de El Niño). Os dados de TSM foram descritos por Kaplan et al (1998) e obtidos junto ao site 7528 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.kaplan_sst.html/. Esses dados apresentam resolução espacial em grade 5 x 5 graus. Todos esses dados foram tratados estatisticamente com a retirada do ciclo sazonal e tendência. (2) Análise da componente zonal do vento em 250hPa: Para a realização dessa etapa foram necessários dados da componente zonal de vento em 250hPa, coletados junto ao site http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.ncep.reanalysis.surfaceflux.html, para os mesmos períodos dos episódios de TSM. Também foram retirados o ciclo sazonal e a tendência de longo termo e em seguida realizada a remoção da média zonal da componente zonal do vento escrita como (a), com o intuito de observar os padrões de escoamento em possíveis "trens de ondas" dentro dos altos níveis da atmosfera ̅ (a) em que u é a média zonal e u’ a anomalia em relação à média zonal. (3) Análise de linha de corrente e divergência em 250hPa: Para a realização dessa etapa foram necessários dados da componente zonal e meridional de vento em 250hPa, coletados junto ao site http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.ncep.reanalysis.surfaceflux.html, para os episódios de 1980/1981 (episódio neutro), 1988/1989 (episódios de La Niña) e 1982/1983 (episódios de El Niño). Esses dados foram submetidos a retirada da tendência e do ciclo sazonal. A linha de corrente mais usual dentro da meteorologia e oceanografia é expressa por Holton (2004). 𝑧. ∇𝜓 ≡ ( 𝜓𝑦, 𝜓𝑥, 0) em que Z é um vetor unitário +z direção e os subscritos ψx e ψy indicam derivadas parciais. (4) Análise da integral vertical da divergência do fluxo de umidade para os nível de 1000-700hPa: Para a realização dessa etapa do estudo foram necessários dados de umidade específica, coletados junto ao site 7529 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.ncep.reanalysis.derived.pressure.htm l, e dados da componente zonal e meridional de vento. Esses dados foram submetidos a retirada do ciclo sazonal e tendência e integrados (somados seus níveis verticais) de 1000-700hPa. (5) Análise das anomalias de precipitação: Esses dados foram compilados e obtidos juntos à Universidade de (http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/gridded/data.UDel_AirT_Precip.htm), Delaware com 0.5 grau de resolução espacial para o período de 1900-200, usando o método descrito de Legates e Willmott (1990). Esses dados foram submetidos aos cálculos de retirada da tendência e de seu ciclo sazonal. 3. Resultados e Discussões Os resultados das anomalias de TSM para o episódio de ENSO-neutro (ano de 1980/81) mostram sinais positivos dentro da bacia do Pacífico Sul, próximo à costa da América do Sul, e sinais negativos mais à oeste, na mesma faixa latitudinal, dentro da bacia equatorial do Pacíico (Figura 1a). No setor extratropical do Pacífico Sul, verificam-se anomalias positivas próximo ao mar de Ross e dentro da bacia do oceano Índico é possível verificar anomalias positivas de TSM, com máximos próximo à longitude de 60E. As anomalias negativas no hemisfério sul foram observadas no setor centro-oeste do Pacífico subtropical, a oeste da costa da Austrália e ao sul de Madagascar. Inserida dentro da teoria de ondas, a presença dessas anomalias de TSM indicam a presença de possíveis forçantes oceânicas acopladas aos sistemas climáticos (Hoskins e Karoly, 1981). De fato, essas forçantes oceânicas são capazes de interferir nos padrões de escoamento zonal e em outros campos atmosféricos locais e em suas áreas adjacentes, por meio da propagação de "trens de ondas" preferencialmente deslocados para leste (Rossby, 1945). Na Figura 1a, supostamente a área destacada com a letra "F" exerça um papel de forçante atmosférica. Nos resultados de anomalia do escoamento zonal em 250hPa (Figura 1b) é possível observar uma intensa anomalia negativa do escoamento zonal sobre a região indicada pela letra "F", associado a sinais positivos, supostamente, sendo 7530 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO propagadas de oeste para leste em um padrão de "trens de ondas" em direção à América do Sul, especificamente sobre toda a região centro-oeste e sudeste do Brasil. a) c) b) d) 7531 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO e) Figura 1. (a) Composição de Anomalias de TSM 1980/81. Letra " F" área de possível forçante 6 térmica. (b) Anomalia mensal de vento zonal (m/s) em 250 hPa x10 .(c) Anomalia de linha de corrente -8 1 (m/s) e divergência de vento (x10 s- ) para 250 hPa. (d) Integral vertical da divergência do fluxo de -8 1 umidade (x10 s- ). Áreas cinzas com 85% de significância estatística. (e) Anomalia de precipitação para o período de 1980/81. Sobre a região centro-oeste brasileira, sobretudo nos estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, é possível verificar movimentos anticiclônicos em altos níveis da atmosferas, com ventos deslocando de sul para nordeste e com sinais de divergência mais abrangente em altos níveis, supostamente, associados à enfraquecimentos de movimentos convergentes em baixos níveis (Figura 1c). Quando comparados os sinais mostrados (Figura 1c), com as dos mesmos campos para os episódios de El Niño (Figura 2c) e La Niña (Figura 3c), é possível notar, respectivamente, sinais mais fracos e mais extensos. Para os resultados integrados verticais em baixos níveis da atmosfera (1000-700 hPa) da divergência do fluxo de umidade, nota-se a presença de valores positivos e negativos bem zonais e de sinais positivos sobre o estado sul-matogrossense (Figura 1d). Supostamente isso estaria associado à um período mais seco (Figura 1e). Todos esses resultados revelam que durante o episódios de ENSO-neutro, supostamente forçantes 7532 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO oceânicas negativas tenham interferido no escoamento em altos níveis atmosféricos e contribuído com períodos mais secos sobre a região centro-oeste do Brasil. Para o episódio de Niño (1982/83) é possível observar padrões de anomalias de TSM, escoamento zonal e variáveis atmosféricas distintos daqueles observados para episódios de ENSO-neutro. Os resultados das anomalias de TSM para o episódio de El Niño (1982/83) mostram valores acima da média para quase toda a bacia equatorial do Pacífico e para partes da porção tropical sul, próximo ao continente sul-americano (Figura 2a). Os sinais positivos mais expressivos observados para esse período foram encontrados dentro da região de Niño1+2, próximo à costa oeste do Peru (Figura 2a). Em trabalhos anteriores, Drummont e Ambrizzi 2000 e Ambrizzi (2003) evidenciaram a importância de considerar o posicionamento das anomalias ou forçantes oceânicas durante os eventos de Niño, pois em distintos eventos de El Niño, as ondas de Rossby apresentam diferentes fases e, consequentemente, influenciam a atmosfera de formas distintas. Para o evento de El Niño de 1982/83 é possível ver sinais muito expressivos de anomalias dentro da região de Niño1+2 e Niño3 (regiões mais próximas à América do Sul), sugerindo uma possível área de forçantes atmosféricas. Ainda sobre os padrões de TSM é possível observar, circundando essas anomalias positivas, sinais negativos configurando um padrão descrito por Cayan et al (2001), como horseshoes (padrão ferradura). A presença destas anomalias negativas com intensidades relevantes, com valores absolutos máximos entre 0,6 e 0,9, deve provavelmente perturbar os campos atmosféricos, o que reforça a argumentação de Drummond e Ambrizzi (2003) e Ambrizzi (2003) sobre as particularidades observadas em cada evento ENSO. Os padrões de anomalia do escoamento zonal em 250hPa (Figura 2b) evidenciam, supostamente, dois "trens de ondas" que se propagam em direção à América do Sul, como mostrado na Figura 2b (Trem-A e Trem-B). Adicionalmente a formação desses padrões de "trens de ondas", observa-se suas transferências de oeste para leste, das latitudes tropicais mais baixas para latitudes tropicais mais altas, próximas aos subtrópicos, como mostra o Trem-A. Esses padrões de anomalias do escoamento zonal em altos níveis atinge a região central da América do Sul com anomalias positivas de escoamento zonal em altos níveis (Figura 2b). 7533 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A Figura 2c mostra um forte escoamento de oeste em altos níveis, girociclônico sobre a região centro-oeste do Brasil e sinais positivos de divergência, supostamente, indicando enfraquecimentos dos movimentos convergentes do fluxo de umidade. Os resultados da integral dos movimentos verticais da divergência do fluxo de umidade (1000-700) evidenciam sinais positivos em partes da faixa leste do território brasileiro (concentrados nos estados do Sul-Sudeste) e em boa parte da faixa central do país. Para a região do Pantanal é possível verificar sinais positivos da divergência do fluxo de umidade mais concentrada em sua porção norte e sinais negativos em suas extremidades sul e oeste. Os sinais negativos são claramente observados dentro da região norte e em parte da região nordeste do país (Figura 2d). Os sinais positivos, supostamente estariam associados à períodos mais secos e os sinais negativos à períodos mais chuvosos. Os resultados da Figura 2e evidencia sinais positivos de chuva para partes associadas aos sinais negativos do fluxo de umidade e anomalias negativas de chuva para algumas regiões associadas à sinais positivos do fluxo de umidade (Figura 2e). Para as porções mais à oeste e sul do Pantanal, identificadas diante de sinais negativos da divergência do fluxo de umidade, é possível verificar sinais positivos de anomalia de precipitação (Figura 2e), já para as regiões mais ao norte, marcadas por sinais positivos da divergência do fluxo de umidade, verificam-se sinais negativos de anomalias de chuva (Figura 2e). a) b) 7534 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO c) d) e) Figura 2. (a), (b), (c), (d) (e), idem das Figuras 1a, 1b, 1c, 1d e 1e, para o episódio de El Niño de 1982/83 Por fim, para o episódio de La Niña registrada entre os anos de 1988/89 é possível ver sinais negativos de anomalias de TSM distribuídas zonalmente dentro das região de Niño1+2 até próximo às regiões de Niño3.4 (Figura 3a). Além disto, verifica-se a presença de campos que configuram a formação do padrão 7535 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO horseshoes, na porção central tropical/subtropical do Pacífico Norte e Sul como anomalias positivas (Figura 3a). Considerando essas anomalias de TSM como forçantes atmosféricas é possível notar dentro da bacia equatorial do Pacífico o surgimento de intensos sinais de anomalia negativa de vento zonal em altos níveis que se estende dentro da bacia Sul do Pacífico em direção as regiões subtropicais, promovendo a formação de um "trem de ondas" que se propaga em direção ao continente sul-americano e oceano Atlântico, como indicado no Trem-A (Figura 3b). Os resultados de linha de corrente em 250hPa (Figura 3c) indicam um giro anti-ciclônico, associado à um forte escoamento de leste dentro da região norte, nordeste e ao norte da região centro-oeste do Brasil. Sobre as regiões sul e quase toda a região sudeste é possível observar giros-ciclônicos de linhas de correntes em altos níveis da atmosfera. Os sinais da integral vertical da divergência do fluxo de umidade (Figura 3d) indicam sinais positivos sobre partes do Pantanal, sugerindo um enfraquecimento dos movimentos de convergência ou o fortalecimento dos movimentos de divergência, o que supostamente estaria associado à períodos mais secos sobre o Pantanal. A Figura 3d também mostra que para boa parte da região sul, sudeste, sobre toda a costa litorânea do norteste, partes da região norte e toda a porção centro-norte da região centro-oeste do país estiveram sobre o predomínio de sinais negativos da divergência do fluxo de umidade, sugerindo uma intensificação da convergência ou enfraquecimento da divergência, o que supostamente estaria associado à períodos mais úmidos dentro dessas áreas (Figura 3e). a) b) 7536 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO c) d) e) Figura 3. (a), (b), (c), (d) (e), idem das Figuras 1a, 1b, 1c, 1d e 1e, para o episódio de La Niña de 1988/89. 4. Conclusões Estudos sobre os padrões atmosféricos em episódios distintos de eventos de ENSO foram realizados. Foi verificado que os padrões de escoamento zonal em 250hPa, supostamente, estiveram ligados às anomalias de TSM para os episódios de El Niño (La Niña) e em episódios neutros, o que configuraria possíveis 7537 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO associações com a propagação de "trens de ondas" e alterações nos campos climáticos regionais da América do Sul. De fato, os resultados discutidos evidenciam que os episódios de El Niño (La Niña) selecionados se apresentaram com padrões contrários nos campos atmosféricos para as análises de linha de corrente acoplada à divergência e escoamento de vento em altos níveis. As manifestações dos sinais sobre essas variáveis podem ser materializadas dentro dos campos de precipitação sobre a região do Pantanal com anomalias positivas (negativas). De fato, todos esses sinais contrários, supostamente, podem ser associados aos diferentes padrões de TSM (associados às fases de ENSO) e aos possíveis padrões de "trens de ondas" que se deslocam com sinais contrários da região do Pacífico equatorial/tropical para dentro do continente Sul-Americano, modificando os padrões de escoamento sobre a região de estudo, assim como em muitas outras regiões do país. 5. Referências Bibliográficas ACEITUNO, P. (1987). The Interannual Variability of South American Climate and the Southern Oscillation.Thesis (PH.D.) - The University of Wisconsin – Madison. ACEITUNO, P. (1988). On the functioning of the southern oscillation in the South American sector. Part I: surface climate. Monthly Weather Review, 116, 505-524. AMBRIZZI, T. (2003). El Niño/La Niña; Teleconexão Atmosférica. 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