Menção Honrosa - O oceano - Rui Rodrigues

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Câmara Municipal de Redondo
Prémio Literário Hernâni Cidade 1998
O OCEANO
O oceano, verde e imenso. A contar-me histórias de navegantes e caravelas. História
imortal feita da gesta lusitana do Infante, Gil Eanes, Vasco da Gama, Álvares Cabral,
Bartolomeu e tantos outros heróis marinheiros retratados na luta do meu povo pescador,
eternamente a dobrar o Cabo das Tormentas para vencer a fome; esse novo Adamastor.
Mar profundo!... Com as “lágrimas de Portugal” (como dizia Fernando Pessoa). Mar
dolorido, com marés de crude e peixes em agonia. Mar do futuro. Que futuro?... Mar de
Portugal e dos poetas: Camões, Pessoa, Gedeão, Torga e Vitorino Nemésio. Vitorino…meu
poeta amigo! Desperta do teu sono imortal e vem comigo, novamente, canta o mar, pois eu,
tal como tu…
*“…quando penso no mar
a linha do horizonte é um fio de asas
e o corpo das águas é o luar.”
Vem, poeta, anda ver, outra vez, as velas brancas a cruzarem o mar da nossa memória!
*“De puro esforço as velas são memórias!
E o porto e as casa
Uma ruga de areia transitória...”
Anda viajar comigo, Vitorino, no meu veleiro de fantasia. Vamos percorrer as margens
dos oceanos do mundo, pois eu…
*“… sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais é mar, que o remo indica,
e o bombeado do céu cheio de astros avulsos.”
Menção honrosa (Prémio Juventude)
Rui Miguel Guerra Rodrigues
Página 1
Câmara Municipal de Redondo
Prémio Literário Hernâni Cidade 1998
Fecha os olhos, poeta! E imagina o mar eternamente verde, sem detritos, a deixa, no
céu dos nossos olhos deslumbrados, gaivotas a voar e…
*“Eu, ali, uma coisa imaginada
que o eterno pica!
Vou na onda, de tempos carregada,”
a
onda levou as frotas de Vasco da Gama, constantemente, a sulcarem este mar da
imaginação. Desfraldando velas onde me espraio e
*“…desenrolo
Sou movimento e terra delineada
Impulso de sol de pólo a pólo.”
Este sol português do meu país, debruado a verde-mar! E, às vezes, a um mar de
chamas e de crude. Mar de angústia, onde os buscam, ansiosas, as marés do pão, com o
sangue dos meus egrégios avós a correr-lhe dentro das veias salgadas.
*“…quando penso no mar, o mar regressa
a certa forma que teve em mim –
que onde ele acaba, o coração começa.”
Este luso coração marinheiro, dolorosamente sangrando quando vê o oceano ofendido
por tantas mãos criminosas que deixam os peixes agonizantes a naufragarem, no ventre do
oceano onde começa a minha dor…
*“…Começa pelo aro das estrelas
a compasso retido em mente pura –
e avivado nos vidros das janelas.”
Menção honrosa (Prémio Juventude)
Rui Miguel Guerra Rodrigues
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Câmara Municipal de Redondo
Prémio Literário Hernâni Cidade 1998
As janelas da minha angústia onde batem as ondas da revolta com seus dedos de
náufrago e onde a espuma rendilhada…
*“…começa pelo peito das baías
Ao rosar-se e crescer na madrugada
que lhe passa ao de leve as orlas frias.”
Anda, meu poeta navegante! Embarca comigo nesta nau de luar à procura do cais de
abrigo que existe na imaginação do meu povo pescador e marinheiro. Vem, pois é na alma
desta gente que o mar começa…
*“E a rosa-dos-ventos baralhada
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade do pensamento…”
O pensamento de temer pelo futuro do oceano que, um dia, mais tarde, eu deixarei
como herança à geração vindoura e onde os pezinhos infantis das crianças hão-de correr,
libertos, nas praias do nosso encantamento, sem gaivotas mortas nos seus olhos da cor do
mar…
(* - Excertos do “Correspondência ao Mar” de Vitorino Nemésio)
Menção honrosa (Prémio Juventude)
Rui Miguel Guerra Rodrigues
Página 3
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