Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Saúde Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências Genômicas e Biotecnologia Estratégia molecular aplicada ao controle do bicudo-doalgodoeiro: superexpressão de toxina Cry e moléculas de dsRNA Autora: Stéfani Kárita Lima da Silva Martins Orientadora: Profa. Dra. Maria Fátima Grossi de Sá Co-orientador: Prof. Dr. Leonardo Lima Pepino Macedo Brasília - DF 2014 II STÉFANI KÁRITA LIMA DA SILVA MARTINS ESTRATÉGIA MOLECULAR APLICADA AO CONTROLE DO BICUDO-DOALGODOEIRO: SUPEREXPRESSÃO DE TOXINA CRY E MOLÉCULAS DE dsRNA Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Ciências Genômicas e Biotecnologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciências Genômicas e Biotecnologia. Orientador (a): Profa. Dra. Maria Fátima Grossi de Sá Co-orientador: Prof. Dr. Leonardo Lima Pepino Macedo Brasília 2014 III IV Dedico este trabalho ao Deus que se importa com os detalhes de tudo o que faz. V AGRADECIMENTO Agradeço ao meu Deus, por me escolher para conquistar os sonhos que Ele sonhou para mim. Eu sou muito grata por tanto amor demonstrado em cada passo que eu dei. Passos estes, guiados na dependência Dele. Obrigada Pai, por acreditar em mim. Agradeço ao meu esposo abençoado, pelo companheirismo durante esses 730 dias de fortes emoções!!! A certeza de poder abraçá-lo ao fim de todos os dias, me fortaleceu bastante, acredite! À minha família: Mãe e pai, amo vocês. Agradeço por tudo mesmo. Irmã, obrigada por me ajudar a ensaiar cada apresentação e me fazer repetir mil vezes a mesma frase, até que ficasse “bonito” (risos), obrigada! Agradeço às minhas colegas, que se tornaram amigas, “psicólogas”, “professoras”, irmãs e muito mais: Liana, Uriele, Rayssa, Rayanne, Rayanne Luzia, Kellyane, Jéssica, Isis, Thuanne, Priscila, Vânia, Isabela, Janaína, Katiane, Fernanda, Alessandra, Sineide, Maria Eugênia, Regina e Janny. Por todos os momentos de estudo, conversa e pelo carinho durante esses anos. Aos amigos que lutaram comigo até o fim: Laene, Ítalo, Amanda, Meiry, Victor Hugo, Aloísa, Fran, Cestari, Samara, Gabrielle, Carolina, Shaiene, Camila, Daniela, Wanda, Lorena. Obrigada!!!! Agradeço aos meus professores e orientadores, Maria Fátima e Leonardo, por esta oportunidade única. Obrigada pela paciência e pela confiança que depositaram em mim. Agradeço aos demais companheiros por toda ajuda que me deram. VI RESUMO MARTINS, Stéfani Kárita Lima da Silva. Estratégia molecular aplicada ao controle do bicudo-do-algodoeiro: superexpressão de toxinas Cry e silenciamento gênico. 2014. 76 folhas. Mestrado em Ciências Genômicas e Biotecnologia – Universidade Católica de Brasília, 2014. O Algodão (Gossypium hirsutum) é uma das principais commodities agrícolas, sendo o Brasil o quinto maior produtor mundial. Dentre os diversos insetos-praga que atacam a cultura, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é o mais destrutivo e, devido a seu hábito endofítico, a ação de agrotóxicos é dificultada. Além disso, não há no mercado, nenhum evento transgênico resistente a este inseto-praga. O presente estudo tem por objetivo validar, em plantas de algodão geneticamente modificadas, o potencial uso de genes envolvidos na toxicidade e no desenvolvimento do inseto, por meio de duas abordagens biotecnológicas piramidizadas: a superexpressão de moléculas inseticidas e o silenciamento gênico. A estratégia de piramidização de genes foi construída de modo que a expressão da toxina Cry8Ka5 está controlada pelo promotor específico de botão floral- (GhPGFS1) e a expressão do dsRNA para o silenciamento gênico, por meio do RNAi da Quitina sintase II (CHS2) e da vitelogenina do bicudo, que está sob controle do promotor constitutivo UCeA 1.7. Ademais, o gene de seleção ahas, que confere resistência ao herbicida Imazapir, faz parte do cassete gênico utilizado na transformação das plantas. Foram bombardeados 3.500 embriões, os quais originaram 19 eventos positivos detectados por PCR, conferindo uma eficiência de transformação de 0,54%. Destes, onze eventos mostraram expressão da proteína Cry8Ka5 quantificada pela técnica de ELISA, cujos níveis variaram entre 8-90 g/g de tecido fresco. Na geração T1, obtida por autofecundação, sete eventos mostraram a presença dos três transgenes e, dentre estes, foram selecionados os eventos T1 do parental número 7 (T0), que expressou 60 g de toxina Cry8Ka5/g de tecido floral. A caracterização molecular avaliada por análises de qRT-PCR mostrou que larvas/insetos que ingeriram tecidos dessas plantas tiveram uma redução da expressão quantitativa de CHS2 em larvas de A. grandis alimentadas com o evento 7.5 (T1), que foi 6 vezes menor do que no controle. Estes resultados demonstraram que a tecnologia de piramidização de genes pode ser usada para engenheirar cultivares de algodão resistentes a este inseto-praga. Palavras-chaves: Cry8Ka5. algodão GM. Anthonomus grandis. RNA interferente VII ABSTRACT Applied molecular strategy in the control of the cotton boll weevil: overexpression of Cry toxins and gene silencing. Cotton (Gossypium hirsutum) is one of the main agricultural commodities and Brazil is the fifth major producer worldwide. Among several insect pest that attacks the crops, the cotton boll weevil (Anthonomus grandis) is the most destructive and due its endophytic habit, the pesticide action is hampered. Moreover, there is no transgenic plant resistant to this particular insect pest current on the market. The present study aimed to validated, in genetic modified cotton plant, the potential use of genes involved in the insect’s toxicity and development, by using two biotechnological approaches: the overexpression of inseticides and gene silencing. The gene pyramiding strategy was built such as, a flower bud specific promoter (GhPGFS1) controlled the Cry8Ka5 toxin expression, and the constitutive promoter UCeA 1.7, controlled the dsRNA expression for the RNAi gene silencing of the quitin sintase II (CHS2) and vitelogenin of the cotton boll weevil. Furthermore, the ahas selection gene, which confers resistance to the herbicide Imazapir, is part of the gene cassett used in the processing plant. 3.500 embryos were bombarbed, which originated 19 positive events detected by PCR, granting a 0.54% of transformation efficiency. Of those, eleven events showed Cry8Ka5 protein expression quantified by ELISA, whose levels ranged from 8-90 g/g of fresh tissue. After obtaining the T1 generation by self-pollination, only seven events showed the presence of the tree transgenes, and, among them, the T1 events from the parental number 7 (T0) were selected, for expressing 60 g of Cry8Ka5 toxin per gram of bud tissue. The molecular characterization by qRT-PCR analysis showed that the ingestion of these plants reduced the CHS2 quantitative expression of A. grandis larvae feed by the 7.5 (T1) event, which was 6 times lower than the control. These results show that the gene pyramiding technology could be used to engineer cotton cultivars resistant to this insect pest. Keywords: Cry8Ka5. GM cotton. Anthonomus grandis. RNA interference. VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 3. Estrutura tridimensional da toxina Cry1Aa..........................................................................................................................8 Figura 4. Esquema ilustrando o modelo de formação de poros para a ação das toxinas Cry....................................................................................................................9 Figura 5. Esquema ilustrando o modelo de transdução de sinal para a ação das toxinas Cry..................................................................................................................10 Figura 6. Esquema do mecanismo molecular da via do RNAi...................................13 Figura 7. Representação esquemática do cassete de expressão contendo o gene de seleção Ahas, o gene para super-expressão do dsRNA-CHS2vit e Cry8Ka5......................................................................................................................23 Figura 8. Placa para cultura de células contendo botões florais inoculados por larvas de bicudo-do-algodoeiro.............................................................................................31 Figura 9. Organograma metodológico da transformação, caracterização e desafio de plantas de algodão GM..............................................................................................34 Figura 10. Eventos T0 detectados por PCR para o gene dsRNA........................................................................................................................37 Figura 11. Eventos T0 detectados por PCR para o gene Cry8Ka5...........................37 Figura 12. Eventos T0 detectados por PCR para o gene AHAS................................37 Figura 13. Avaliação da expressão da entomotoxina Cry8Ka5 pela técnica de ELISA.........................................................................................................................38 Figura 14. Análise morfológica de larvas de instar III de insetos de A. grandis após serem alimentados com plantas de algodão GM contendo a construção pBSKdsRNAvitCHS2Cry8Ka5.............................................................................................40 Figura 15. Análise do silenciamento gênico por qPCR de CHS2 em larvas instar III de A. grandis após ingestão de botão floral de plantas de algodão GM contendo a construção pBSKvitCHS2Cry8Ka5 por um período de sete dias............................................................................................................................40 IX Figura 16. Organograma de resultados da caracterização molecular das plantas de algodão GM................................................................................................................41 X LISTA DE TABELAS Tabela 1. Eventos de algodão GM aprovados no Brasil........................................... 18 Tabela 2. Lista de oligonucleotídeos utilizados na análise de plantas de algodão por PCR.......................................................................................................................... 28 Tabela 3. Oligonucleotídeos utilizados nas reações de PCR em tempo real para análise de CHS2........................................................................................................ 33 Tabela 4. Plantas T0 positivas resultantes da análise por PCR para os genes AHAS, Cry8Ka5 e dsRNA.................................................................................................... 36 Tabela 5. Plantas de algodão geração T1 positivas resultantes da análise por PCR para os genes AHAS, Cry8Ka5 e dsRNA................................................................ 39 XI LISTA DE ABREVIATURAS µg Micrograma µL Microlitro Algodão GM Algodão Geneticamente Modificado Bt Bacillus thuringiensis cDNA DNA complementar CHS2 Quitina Sintase II DNA Ácido desoxirribonucléico dNTP Deoxinucleotídeo dsRNA RNA dupla fita GM Geneticamente modificado kb Quilobase - 1000 pares de bases miRNAs dsRNA com 21 a 26 nucleotídeos com bases despareadas mRNA RNA mensageiro ºC Graus Celsius pb Pares de bases PCR Reação em cadeia da polimerase ("polymerase chain reaction") PIB Produto Interno Bruto Primers Oligonucleotídeos iniciadores qRT-PCR RT-PCR quantitativa (em tempo real) RNA Ácido ribonucléico RNAi RNA interferente RT-PCR Transcrição reversa seguida de PCR siRNA dsRNA pequeno com 21 a 26 nucleotídeos com 100% de complementaridade XII SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 1.1 A biodiversidade de insetos ........................................................................... 1 1.1.1 Os insetos-praga e os danos agrícolas ........................................................ 1 1.2 O bicudo-do-algodoeiro e a cotonicultura....................................................... 2 1.3 Estratégias moleculares para a obtenção das plantas geneticamente modificadas para o controle de insetos-praga ...................................................... 4 1.3.1 Superexpressão de δ-endotoxinas de Bacillus thuringiensis (Bt) ................ 6 1.3.2 O uso do RNA interferente (RNAi) em plantas para o controle de insetospraga................ ................................................................................................... 10 1.3.3 Silenciamento gênico por RNAi da Quitina Sintase II e da Vitelogenina do bicudo-do algodoeiro ...........................................................................................13 1.3.4 Expressão tecido-específica com a utilização de promotores...........................................................................................................16 1.4 Métodos de transformação genética de plantas mediada por agrobacterium tumefaciens e por biobalística ............................................................................. 16 1.5 Algodão GM .................................................................................................. 17 1.6 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 20 2. OBJETIVO .......................................................................................................... 22 2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 22 2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 22 3. METODOLOGIA ................................................................................................. 23 3.1. Construção gênica ....................................................................................... 23 3.2 Transformação genética via biobalística ....................................................... 23 3.3.2 Aplicação da técnica de bombardeio de DNA ............................................ 24 3.3.3 Cultivo de plantas selecionadas por herbicida ........................................... 26 XIII 3.4. CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE PLANTAS POTENCIALMENTE TRANSFORMADAS ........................................................................................... 26 3.4.1 Extração de DNA ....................................................................................... 26 3.4.2 Verificação da amplificabilidade do DNA extraído de folhas de plantas de algodão ................................................................................................................26 3.4.3 Extração e determinação de proteínas totais ............................................. 28 3.4.4 Quantificação da expressão da entomotoxina Cry8Ka5 por meio de ensaio imunoenzimático do tipo ELISA .......................................................................... 28 3.5 DESAFIO DAS PLANTAS T1 COM O INSETO-PRAGA ............................. 29 3.5.1 Extração de RNA total de larvas de A. grandis alimentadas por botão floral transgênico. ........................................................................................................ 30 3.5.2 Síntese de cDNA........................................................................................ 31 3.5.3 Confirmação da síntese do DNA complementar (cDNA) ........................... 32 3.5.4 Análise do silenciamento do gene alvo do ds RNA por qPCR ................... 32 4. RESULTADOS ................................................................................................... 35 4.1 Bombardeamento de embriões ..................................................................... 35 4.3 Quantificação da expressão de entomotoxina Cry8Ka5 por meio do ensaio imunoenzimático do tipo elisa ............................................................................. 38 4.4 Identificação de genes por pcr de geração T1 .............................................. 38 4.5 Desafio das plantas gm com o inseto-alvo.................................................... 39 5. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 43 6. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ..................................................................... 48 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 49 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 A BIODIVERSIDADE DE INSETOS Os insetos compõem um grupo de animais muito diversificado (TRIPLEHORN; JOHNSON, 2005), visto ser três vezes maior que os demais grupos de animais (RUPERT; BARNES, 1996). Estima-se que sejam descritos aproximadamente um milhão de espécies de insetos, classificados em 32 ordens e cerca de 762 famílias (DELVARE; ABERLENC, 1989; DALY et al., 1998; GALLO et al., 2002). Trata-se do grupo mais bem sucedido evolutivamente, devido às características adaptativas, incluindo, presença de exoesqueleto quitinoso, alta taxa reprodutiva em curto ciclo de vida, desenvolvimento indireto (metamorfose), dentre outros (GULLAN; CRANSTON, 1994; RUPERT; BARNES, 1996; ALMEIDA et al., 2002; GILLOTT, 2005). Podendo interagir de modo benéfico ou maléfico com o homem e outros organismos, os insetos executam papéis importantes e intransferíveis. Dentre os insetos considerados benéficos, encontram-se os que são capazes de produzir mel, seda e laca, os capazes de polinizar plantas, os que atuam como agentes de controle biológico, além dos que auxiliam na decomposição de matéria orgânica. Contrariamente, além de atuarem como vetores de patógenos para diferentes organismos, existem também insetos que se tornaram os grandes inimigos dos agricultores pelas incontáveis perdas, ano após ano, em diversos cultivares, resultando em prejuízos significativos para a agricultura (GILLOTT, 2005). 1.1.1 Os insetos-praga e os danos agrícolas Segundo Gordh & Headrick (2001), pragas são organismos que reduzem a qualidade ou a produção de culturas ou outros produtos. De modo abrangente, pragas são insetos e/ou organismos capazes de causar danos tanto ao homem quanto às suas criações, culturas ou posses (HILL, 1997). Na visão agrícola, a praga sempre estará relacionada aos efeitos econômicos, causados pela permanência do inseto na lavoura (NAKANO, 1981). O que realmente tornará um inseto prejudicial 2 para a agricultura é o nível dos danos e perdas que a população de determinado inseto será capaz de gerar, sem que haja controle, baseando-se na relação entre praga e dano (HILL, 1997). Os aspectos problemáticos, resultantes de pragas agrícolas, têm sua principal razão devido à prática de monoculturas, visto que, se reduz intensamente a variedade faunística e simplifica-se a flora do local (LUTZENBERGER, 1978). Diversas são as plantações que sofrem com o descontrole de insetos que, por sua vez, já se tornaram pragas. A ação descontrolada dos insetos altera os processos fisiológicos da planta e reflete no custo de produção, causando danos diretos ao atacar o produto a ser comercializado; ou indiretos, quando atacam estruturas vegetais que não poderão ser comercializadas (BENTO, 1999; GALLO et al., 2002; GILLOTT, 2005). 1.2 O BICUDO-DO-ALGODOEIRO E A COTONICULTURA No Brasil, o cultivo do algodão é considerado uma das plantações mais susceptíveis ao desenvolvimento e ataque de insetos-praga, com mais de 20 espécies relatadas e conhecidas (GALLO et al., 2002). A planta de algodão possui inúmeras glândulas denominadas nectários, que, por sua vez, têm a capacidade de produzir uma secreção líquido-resinosa açucarada, tornando o algodoeiro bastante atrativo aos insetos (MONNERAT et al., 2000). Os insetos-praga que atacam o algodoeiro podem ser divididos em dois grupos: os que ocorrem no estabelecimento da cultura (broca-da-raiz, bronca-do-ponteiro, pulgão) e as que ocorrem no florescimento e na frutificação (curuquerê, mosca branca, bicudo-do-algodoeiro) (MAPA, 2007). O bicudo-do-algodoeiro, da subfamília Anthonominae, Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), é considerada uma das ameaças agrícolas mais prejudiciais para a cotonicultura do Brasil. Esta praga foi encontrada, em meio às plantações de algodão, inicialmente no México e nos Estados Unidos, em meados do século XIX e, quase um século depois, no Brasil (BRAGA SOBRINHO et al., 1983). Desde a sua introdução no Brasil, este tem ocasionado enormes perdas econômicas, além de refletir 3 diretamente na desvalorização de propriedades, no desemprego e na emigração de produtores para regiões onde se concentram as grandes cidades (RAMALHO, et al. 2000). O bicudo-do-algodoeiro, chega a medir aproximadamente 7 mm de comprimento na fase adulta. Uma fêmea adulta com uma vida média de 20-40 dias é capaz de ovipositar cerca de 300 ovos, que poderá produzir outros 10.000 insetos ao final de uma safra (BARBOSA et al., 1983). Seu hábito endofítico resulta em perdas exorbitantes da cultura de algodão, visto que estes insetos se desenvolvem no interior de botões florais e maçãs de plantas de algodão, destruindo-o totalmente (HAYNES; SMITH, 1992). Uma vez que a oviposição das fêmeas ocorre no interior destas estruturas vegetais, a progênie encontra-se relativamente protegida, até a sua emergência em fase adulta, devido à sua permanência no interior do botão floral (BRAGA SOBRINHO; LUKEFAHR, 1983). A detecção de densidades populacionais deste inseto-praga acima dos níveis aceitáveis, quando não é seguido da medida de controle, pode inviabilizar o cultivo do algodoeiro (BASTOS et al., 2005), devido à sua alta capacidade de proliferação. Além disso, a migração e a dispersão deste inseto é bastante facilitada pelo vento, o que tem levado a atingir o status de praga chave da cotonicultura (STADLER; BUTELER, 2007). Apesar de não ser totalmente eficaz, o controle do bicudo-do-algodoeiro é largamente voltado para a aplicação de produtos químicos, os quais resultam em danos significativos à entomofauna benéfica, além dos riscos toxicológicos ao homem e, elevação do custo de produção (DEGRANDE et al., 2003; RAMALHO; DIAS, 2003). Adicionalmente, também tem sido usada pelos agricultores, a catação manual de botões florais e maçãs caídos no solo, a eliminação de plantas nas margens de estradas, a limpeza severa de máquinas e veículos de transporte, além do intenso monitoramento e detecção de populações do bicudo (AMPASUL, 2014). Dentre os maiores consumidores mundiais de agroquímicos, o Brasil ocupa o terceiro lugar, chegando a consumir cerca de 5.500 toneladas/ano de fungicidas e inseticidas, superando os Estados Unidos e o Japão. A cultura de algodão é responsável pela utilização de aproximadamente 27% do total de inseticidas 4 utilizados no Brasil e, ainda mais alarmante é que grande parte desses produtos são usados para o controle do bicudo-do-algodoeiro (JAMES, 2013). 1.3 ESTRATÉGIAS MOLECULARES PARA A OBTENÇÃO DAS PLANTAS GENETICAMENTE MODIFICADAS PARA O CONTROLE DE INSETOSPRAGA Controlar a população de A. grandis nas plantações de algodão tem sido considerado prioritário para a cotonicultura do Brasil. Devido ao hábito endofítico do inseto, mais especificamente em botão floral, as atuais formas de controle são ineficientes, demandando a utilização de meios alternativos (ALMEIDA; SILVA, 1999; DEGRANDE et. al, 2002). O uso de ferramentas biotecnológicas, visando o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas (GM) resistentes a insetospraga tem se mostrado uma alternativa eficaz para evitar o intenso uso de agroquímicos. Há quase duas décadas (de 1996 a 2013), a economia de diversos países tem desfrutado dos benefícios decorrentes da adoção das tecnologias GM em níveis, sem precedentes. No último ano, 175,2 milhões de hectares de variedades transgênicas foram cultivadas mundialmente, tornando a tecnologia agrícola mais adotada na história moderna. O Brasil tornou-se um forte líder global na produção de transgênicos, ocupando uma área de 40,3 milhões de hectares (ha), ou seja, 23% da área mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos. O algodão é a terceira principal cultura transgênica produzida no mundo, sua adoção comercial por quase todos os cultivares é resultado dos diversos benefícios gerados após a utilização desta tecnologia, o que resultou num aumento considerável da produção, redução da exposição dos cultivares a inseticidas e, por conseqüência, diminuição dos custos de produção (JAMES, 2013). Atualmente há 47 eventos algodão GM disponíveis comercialmente, porém no Brasil apenas 12 estão regulamentados, como pode ser observado na Tabela 1 (ISAAA, 2012; CTNBIO, 2014). 5 Tabela 1. Eventos de algodão GM aprovados no Brasil. Evento Gene inserido Característica Companhia Bollgard Cry1ac Resistência a insetos Monsanto Resistência a insetos Monsanto Bollgard II Cry1Ac + Cry2Ab2 Resistência a insetos/Tolerância a WideStrike Cry1ac + Cry1f GlyTol™ 2mepsps Tolerância a herbicida Bayer CropScience 2mepsps + Bar Tolerância a herbicidas Bayer CropScience GlyTol™ Liberty Link™ 2mepsps + Bar Glytol™ x Twinlink™ + Cry1Ab +Cry2ae Fibermax™ Liberty Link™ RoundUp Ready (RR) Roundup Ready™ Bollgard II™ Cotton Roundup Ready™ Flex™ Cotton herbicida Bayer CropScience Tolerância a herbicidas Bayer CropScience CP4 epsps Tolerância a herbicida Monsanto CP4 epsps+ Cry1Ac + Cry2ab2 CP4 epsps CP4 epsps+ Flex™ Cry1Ac + TwinLink™ Cotton Resistência a insetos/Tolerância ao Dow AgroSciences Bar Roundup Ready™ Bollgard II™ Cotton herbicida Cry2ab2 Resistência a insetos/Tolerância a herbicida Tolerância a herbicida Resistência a insetos/Tolerância a herbicida Bar + Cry1Ab Resistência a insetos/Tolerância a +Cry2ae herbicida Monsanto Monsanto Monsanto Bayer CropScience (CTNBIO, 2014). 6 Apesar das inúmeras variedades transgênicas de algodão disponíveis no mercado, atualmente não existe nenhum evento disponível comercialmente que apresente resistência ao A. grandis. Dessa forma, há forte demanda para o desenvolvimento de estratégias específicas para o controle deste inseto-praga. A busca por moléculas que resultem em variedades transgênicas de algodão resistentes ao bicudo-do-algodoeiro tem sido o alvo de diversos investimentos. Dentre as diferentes estratégias, visando à obtenção de plantas GM resistentes a insetos-praga, a equipe do Laboratório de Interação Planta Praga da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (LIMPP/Cenargen) tem focado tanto em estratégias baseadas na superexpressão de proteínas entomotóxicas, como na interrupção da expressão de proteínas essenciais do inseto alvo, por meio do silenciamento genético, utilizando a tecnologia do RNA interferente (RNAi). A manipulação de promotores específicos que promovam a expressão de proteínas heterólogas, em níveis adequados para a letalidade do inseto-praga, também tem sido utilizada no desenvolvimento de plantas transgênicas. Essa especificidade restringe a expressão da proteína somente (ou em maior quantidade) no tecido de interesse (ZHENG; MURAI, 1997; GREEN et al., 2002; NEUTEBOOM et al., 2002). 1.3.1 Superexpressão de δ-endotoxinas de Bacillus thuringiensis (Bt) O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria anaeróbia facultativa, Grampositiva, esporulante, que habita naturalmente o solo. Esse microrganismo possui atividade entomopatogênica devido à presença da inclusão cristalina produzida durante a esporulação. Esse cristal é composto por proteínas denominadas: entomotoxinas Cry. Tais proteínas possuem ampla atividade inseticida por serem extremamente tóxicas a insetos de diversas ordens. Dentre as estratégias de obtenção de plantas GM resistentes a insetos, destaca-se a inserção dessas proteínas Cry (SCHNEPF et al., 1998; MONNERAT; BRAVO, 2000; BRAVO et al., 2007). As proteínas Cry pertencem a um grupo de toxinas formadoras de poros, visto que seus efeitos tóxicos são devido à formação de poros iônicos na membrana das 7 células intestinais do inseto-alvo. Existem mais de 120 diferentes genes que codificam para proteínas Cry, distribuídas em 22 classes. Essas toxinas vêm sendo utilizadas como uma ferramenta biotecnológica para o controle de pragas, por meio de sua expressão em plantas GM (MONNERAT; BRAVO, 2000; BRAVO et al., 2005; HECKMANN et al., 2006). Conforme relacionado na Tabela 1, todos os eventos de algodão GM resistentes a insetos, cultivados no Brasil, expressam genes derivados da bactéria Bt. As estruturas tridimensionais de algumas entomotoxinas Cry (Cry1Aa, Cry1Ac, Cry2Aa, Cry3A, Cry3Bb1, Cry4Aa, Cry4Ba, Cry8Ea1) já foram determinadas (BOONSERM et al., 2005; BOONSERM et al., 2006; DERBYSHIRE et al., 2001; GALITSKY et al., 2001; GROCHULSKI et al., 2005; GUO et al., 2009; LI et al., 1991; MORSE et al., 2001) e, são formadas por três domínios (Figura 1). O domínio I consiste em um feixe de sete hélices antiparalelas, com hélice central hidrofóbica (LI et al., 1991); o domínio II é formado por três folhas antiparalelas e duas hélices curtas, conferindo especificidade de ligação aos receptores (DEAN et al., 1996); e o domínio III consiste de duas folhas antiparalelas, altamente envelopadas, contendo a região C-terminal na maioria das proteínas, e está fortemente envolvido na estabilidade estrutural da molécula inteira, além da especificidade ou formação de poro juntamente com o domínio I (RUKMINI et al., 2000). Figura 1. Estrutura tridimensional da toxina Cry1Aa, mostrando seus domínios. Adaptado de Piggot e Ellar, 2007. Domínio I Domínio III Domínio II 8 Uma vez que essas proteínas são ingeridas pelo inseto susceptível, estas são solubilizadas e clivadas por proteases intestinais capazes de localizar os sítios de clivagem da toxina, tornando-se ativas. Receptores específicos presentes no epitélio intestinal são reconhecidos pelas proteínas Cry, permitindo passagem de água e íons livremente nas células, desencadeando na turgidez, lise e morte do inseto-alvo (KNOWLES; ELLAR, 1987; GILL, 1995; GILL et al., 1992). São descritos pelo menos 3 modelos para a ação das proteínas Cry. O modelo de formação de poros (Figura 2) é baseado nos experimentos de interação entre Cry1Ab e as vesículas da membrana apical do epitélio intestinal do inseto lepdóptero Manduca sexta (BRAVO et al., 2004; GÓMEZ et al., 2002; ZHUANG et al., 2002).Este modelo sugere que, após a interação dos monômeros da toxina ao receptor de membrana, a mesma sofre uma mudança conformacional que facilita a clivagem da hélice por proteases ligadas à membrana. Esta forma da toxina se oligomeriza a fim de formar um pré-poro tetramérico que se liga a um receptor aminopeptidase N, dando início ao processo de formação do poro e morte do inseto. Figura 2. Esquema ilustrando o modelo de formação de poros para a ação das toxinas Cry. (1) Solubilização do cristal; (2) ativação proteolítica da protoxina; (3) ligação do monômero ao receptor Bt-R1 e clivagem da α-hélice 1; (4) formação da estrutura oligomérica pré-poro; (5) ligação do oligômero a um receptor aminopeptidase e mobilização aos microdomínios; (6) formação do poro nos microdomínios. Adaptado de Bravo et al. 2004. 9 O modelo de transdução de sinal (Figura 3) baseia-se na ligação entre a Cry e o receptor BT-R, iniciando uma cascata de sinalizações dependente de Mg 2+, promovendo a morte celular (ZHANG et al., 2005). Figura 3. Esquema ilustrando o modelo de transdução de sinal para a ação das toxinas Cry. O modelo prediz que a citoxicidade associada com as toxinas Cry depende estritamente de respostas celulares dependentes de Mg 2+ que são iniciadas após a ligação da toxina ao receptor BT-R, levando à morte celular. Adaptado de Zhang et al. 2005. Devido a essa atividade entomotóxica, os genes Cry vêm sendo cada vez mais estudados para o desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes a insetos-praga. comercialização Versões e das foram proteínas inseridas em Cry já se diversos tornaram organismos passíveis de transgênicos, destacando-se: Cry1Ac (Dekalb DBT418 – Bt XtraTM), Cry9C (Avenis ACS-ZM4-3, StarLink TM ) e Cry1Ab (Syngenta Bt176, Bt11; Monsanto Mon80100, Mon802, Mon809, Mon810) para o milho GM. Para o algodão GM, destacam-se: Cry1Ac (Monsanto, Mon531-Bollgard®) e Cry1Ac associado ao Cry2Ab (BollgardII®, DOW 3006, Calgene 31807). A fim de obter plantas de algodão resistentes ao A. grandis, diversos estudos têm auxiliado na descoberta de genes que codifiquem para proteínas nocivas ao 10 inseto, provenientes de B. thuringiensis. Dessa maneira, em trabalhos anteriores, o grupo de pesquisa do LIMPP/ Cenargen, isolou e caracterizou três diferentes genes Cry, cujas toxinas codificadas são eficientes no controle de A. grandis: Cry1Ba, Cry1Ia12 (MAGALHÃES, 2006) e Cry8K (OLIVEIRA, 2008). Em 2008, Oliveira e colaboradores construíram uma biblioteca combinatória de mutantes cujos variantes foram isolados do gene Cry8, proveniente da estirpe S811 de Bt, visando selecionar as variantes com atividade melhorada para pragas da cotonicultura, principalmente, o bicudo-do-algodoeiro. A partir disso, foi gerada uma biblioteca recombinada de variantes dessas toxinas, permitindo a seleção de toxinas mais eficazes para o controle de A. grandis. 1.3.2 O uso do RNA interferente (RNAi) em plantas para o controle de insetos-praga A estratégia de silenciamento gênico, via RNAi, é uma das alternativas que vem sendo utilizada para o controle de pragas, baseando-se na interrupção da síntese protéica de genes vitais para o inseto, por meio da inserção de RNA dupla fita em organismos alvo, através de microinjeção ou ingestão (FIRE et al., 1998). Um dos primeiros estudos realizados para silenciamento gênico foi com o nematóide e organismo modelo Caenorhabditis elegans, onde se observou a capacidade de moléculas de dsRNA em interromper a expressão de determinado gene com sequência similar ao dsRNA (PRICE e GATEHOUSE, 2008; LILLEY et al., 2012). Este fenômeno de silenciamento de genes tem sido considerado como uma estratégia potencial para o controle de insetos-praga, pois a seleção do gene alvo e a síntese de dsRNA resultam o componente crucial da aplicação dessa tecnologia (KATOCH; THAKUR, 2012). Desde a identificação do RNA dupla fita (dsRNA) como a molécula gatilho do processo de silenciamento gênico, uma década de trabalho resultou na elucidação do mecanismo molecular da via "clássica" do RNAi. O processo básico da via "clássica" do RNAi pode ser dividido em três etapas principais (TOMARI e ZAMORE, 2005). Na primeira etapa, um dsRNA endógeno ou exógeno, que é expresso ou introduzido na célula é processado em pequenas moléculas de dsRNA com 21 a 26 11 nucleotídeos, denominados siRNA (do inglês - short interfering RNA), por uma ribonuclease do tipo RNAse III, a Dicer. Dependendo do organismo pode existir uma ou mais DICER’s, cada uma responsável pela produção por um diferente tipo de dsRNA (MEISTER e TUSCHL, 2004). Por exemplo, em D. melanogaster, Dicer-1 está envolvida, principalmente, na produção de miRNA; enquanto, Dicer-2 é responsável pelo processamento de dsRNAs longos em siRNA (LEE et al., 2004). Durante a segunda etapa do mecanismo de RNAi, esses duplexs são transportados para o complexo efetor RISC (do inglês - RNA-induced silencing complex), onde ocorre a separação das fitas e uma delas, denominada de fita guia, é preferencialmente acoplada no complexo proteico RISC. Na última etapa, a fita guia é utilizada para reconhecer os RNAm alvos pelo pareamento de bases WatsonCrick. O silenciamento do gene é um resultado da degradação do RNAm alvo pela enzima Argonaute (Ago), uma RNaseH que faz parte do complexo RISC (GAYNOR et al., 2010). Se o duplex siRNA/mRNA contém bases despareadas no sítio de clivagem, muitas vezes o caso de miRNAs, o RNAm não é clivado. Neste caso, o silenciamento do gene é um resultado da inibição da tradução (HAMMOND, 2005; GHILDIYAL e ZAMORE, 2009). Uma visão geral do mecanismo de ação do RNAi é mostrada na figura 4. 12 Figura 4. Esquema do mecanismo molecular da via do RNAi. A via do RNAi é iniciada pela presença de moléculas de dsRNA, as quais podem ser endógenas ou introduzidas experimentalmente. Moléculas de dsRNAs podem ser produzidas pela transcrição de RNA. Todos esses dsRNAs são digeridos pela enzima DICER, em siRNA ou miRNA. Uma das fitas desses pequenos dsRNAs são incorporados ao complexo RISC e induzem a destruição do mRNA alvo ou reprimem sua tradução. Reimpresso de Mello e Conte, 2004. Com permissão de Nature Publishing Group. Há mais de uma década, diversos trabalhos têm demonstrado a possibilidade das plantas produzirem o dsRNA. Dois estudos mostraram a eficiência de plantas transgênicas expressarem dsRNA, visando o controle de insetos-praga, por meio da suplementação de dsRNA na dieta dos insetos. As plantas GM, expressando o dsRNA para genes essenciais do trato digestivo do inseto alvo, causou a morte dos mesmos em 24 h após contato com o dsRNA. Estas plantas apresentaram resistência aumentada contra duas pragas importantes para a agricultura, a Helicoverpa armigera e a Diabrotica vergifera vergifera. Após a ingestão de dsRNA, formado por sequência homóloga ao gene alvo do inseto, houve uma intervenção na 13 expressão do transcrito, resultando no silenciamento gênico pós-transcricional e, por fim, na morte do inseto-alvo pela interrupção de genes específicos e vitais para sua proliferação (BAUM, et al., 2007; MAO, et al., 2007). A utilização da tecnologia do RNAi tem permitido a compreensão sobre a funcionalidade de genes, bem como sua função regulatória em rotas metabólicas que controlam importantes características, colaborando para a produção de plantas transgênicas que produzam transcritos de interesse (KATOCH; THAKUR, 2013). Diversos são os trabalhos que descrevem o processo de silenciamento gênico como participante da regulação da expressão gênica em alguns eucariotos, inclusive plantas (LILLEY, et al., 2007). Nestes, a interferência por RNA acontece por meio da inserção de vetores capazes de transcreverem o dsRNA (HORIGUCHI, 2004; BELLES, 2010; NOH et al., 2012). Além do entendimento sobre a regulação da expressão gênica, o dinamismo dessa tecnologia tem surgido como uma poderosa ferramenta para aumento da produção agrícola, como por exemplo, o incremento dos níveis nutricionais em plantas de interesse comercial (KATOCH; THAKUR, 2013). Ademais, a metodologia da interferência por RNA tem sido bastante visada para o controle de insetos seja esta por meio de ingestão de dsRNA ou por microinjeção (ZHOU et al., 2008; WALSHE et al., 2009; CHEN et al., 2010; LI et al., 2011). Nos últimos anos, o silenciamento gênico tem provado seu potencial em inúmeras espécies de importância para o agronegócio, como resultado de um futuro promissor para a agricultura (ZHA et al., 2001; BAUM et al., 2007; MAO et al., 2007). Mao e colaboradores (2011) demonstraram que, plantas de algodão transgênicas expressando o dsRNA do gene do citocromo P450 (CYP6AE14) de H. armigera, resultaram em maior resistência a esta praga, que causa grandes prejuízos não apenas para o algodoeiro, mas também para diversas espécies de importância econômica. 1.3.3 Silenciamento gênico por RNAi da Quitina Sintase II e da Vitelogenina do bicudo-do-algodoeiro Os mais diversos aspectos ecológicos e fisiológicos sobre o bicudo-do-algodoeiro estão disponíveis em literatura (BRAGA SOBRINHO et al., 1983; HEDIN et al., 1995). Com base na anotação funcional do transcritoma do bicudo-do-algodoeiro foi 14 possível identificar rotas metabólicas imprescindíveis ao desenvolvimento deste inseto-praga (FIRMINO et al., 2013). Estudos anteriores relataram a possibilidade de gerar danos no desenvolvimento de insetos, a partir de alterações no metabolismo da quitina, tornando-a excelente candidata para a estratégia de controle específico de insetos-praga (ALVES et al., 2010; AMPASALA et al., 2011; NOH et al., 2012). Outro evidente candidato, conforme dados experimentais, é a vitelogenina que está associada ao ciclo reprodutivo do inseto-alvo (COELHO, 2013). A quitina é o segundo biopolímero mais abundante na natureza, sendo encontrado na parede celular de fungos, no exoesqueleto de vários crustáceos, dentre outros, principalmente no exoesqueleto de diversas espécies de artrópodes (MUZZARELLI, 1980; MERZENDORFER; ZIMOCH, 2003; MERZENDORFER, 2006). Esse polissacarídeo é formado por uma cadeia linear composta por unidades N-acetil-2-dioxi-D-glicopiranose, interligadas por ligações glicosídicas (1-4), sendo capaz de estruturar diversas porções anatômicas dos insetos. Encontra-se presente na constituição da cutícula, traquéia, na membrana peritrófica, a qual reveste o epitélio intestinal, nas glândulas salivares e nas estruturas bucais, tanto em larvas quanto em adultos de inúmeros insetos, incluindo A. grandis (MUTHUKRISHNAN et al., 2012; MACEDO, 2012). Conforme análises realizadas por difração de raios- X, a quitina pode apresentar de três formas cristalinas diferentes denominadas e O que caracteriza as diferenças de seu polimorfismo é o grau de hidratação resultando na diferenciação de suas propriedades físicas. É previsto que haja diferença funcional decorrente dessa diferenciação. A forma é a forma mais dominante e estável, podendo ser encontrada em estruturas que exigem maior resistência, como as cutículas dos artrópodes. No entanto, as formas e encontram-se onde há maior necessidade de flexibilidade, devido à sua estrutura mais relaxada, e essas são encontradas na membrana peritrófica de insetos (RUDALL; KENCHINGTON, 1973; PETERS, 1992). A outra sequência alvo do presente trabalho é o precursor do vitelo denominada vitelogenina. Esta é armazenada no interior dos ovos, sendo a principal fonte proteica para o embrião durante o seu desenvolvimento. Os insetos são capazes de produzir a vitelogenina nos corpos gordurosos, secretando-a para a hemolinfa e sendo estocada na formação dos ovos (RAIKHEL; DHADIALLA, 1992; 15 SNIGIREVSKAYA et al., 1997). Sendo uma das principais reservas de aminoácidos de vertebrados e invertebrados no período inicial de sua formação (TREWITT et al., 1992), a interrupção da produção de vitelogenina no interior dos ovos de A. grandis é uma estratégia promissora para o controle desse inseto-alvo (COELHO, 2013). 1.3.4 Expressão tecido-específica com a utilização de promotores A manipulação de promotores é uma ferramenta importante para a biotecnologia a fim de garantir que a expressão do gene de interesse seja efetiva. Os promotores mais utilizados na produção de plantas GM são o promotor 35S do Vírus do Mosaico da Couve Flor (CaMv 35S), nopalina sintetase (NOS) e octopina sintetase (OCS), ambos promotores de genes de Agrobacterium tumefaciens, além do promotor de gene presente no milho que codifica para ubiquitina (Ubi-1). Apesar da utilização desses promotores, a expressão de transgenes sob o domínio dos mesmos, é indefinida, podendo ser baixa em certos casos, não havendo garantia de expressão no tecido de interesse. A utilização de promotores de genes constitutivos, como os que codificam a ubiquitina, por exemplo, não é desejável em todos os casos, já que ativam a expressão gênica do transgene em todos os tecidos da planta (ZHENG; MURAI, 1997; GREEN et al., 2002; NEUTEBOOM et al., 2002). Portanto, a expressão tecido-específica de transgenes é de grande importância para insetos de hábitos endofíticos, como A. grandis, por exemplo, visto que é possível direcionar a expressão dos transgenes para os botões florais, local de oviposição e desenvolvimento do inseto-praga (BRAGA SOBRINHO; LUKEFAHR, 1983). Em busca de novas sequências regulatórias, foi isolado e, posteriormente caracterizado pelo grupo do LIMPP/Cenargen, o promotor constitutivo proveniente do gene de conjugação à ubiquitina (UceA 1.7) em algodoeiro (GROSSI-DE-SA et al., 2008). Plantas modelo de A. thaliana transformadas com este promotor mostraram expressão desse gene em diversos tecidos, principalmente em raiz e botão floral, quando comparado ao promotor 35S (GROSSI-DE-SA et al., 2008; VIANA, 2011). Além deste, outro promotor, denominado GhPGFS1, foi isolado de G. hirsutum e, por análises de qRT-PCR foi caracterizado como um promotor altamente expresso e específico de botão floral (ARTICO et al., 2010; ALVES et al., 2014). 16 A partir desse conjunto de informações será possível viabilizar o controle de insetos-praga, principalmente visando a obtenção de eventos transgênicos expressando altos níveis de RNAi e/ou entomotoxinas Cry direcionados ao botão floral. 1.4 MÉTODOS DE TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA DE PLANTAS MEDIADA POR AGROBACTERIUM TUMEFACIENS E POR BIOBALÍSTICA A. tumefaciens é uma bactéria fitopatogênica, encontrada no solo, pertencente à família Rhizobiaceae (LIPP-NISSINEN, 1993). Essa bactéria causa a doença conhecida como galha da coroa e a síndrome da raiz em cabeleira (VAN SLUYS, 1999) e tem sido utilizada para a introdução de genes em células vegetais, mediada por suas cepas manipuladas (RIVA et al., 1998). A transformação genética via A. tumefaciens permite a inserção de transgenes em plantas de interesse (ALIMOHAMMADI; BAGHERIEH-NAJJAR, 2009). Entretanto, a transformação via A. tumefaciens se limita a espécies que não apresentam características vegetais recalcitrantes. De outro modo, a metodologia de aceleração de partículas até o meristema alvo tem sido utilizada para transformar plantas que não apresentam esse potencial (CHENG et al., 2009). Na transformação via bombardeamento de partículas (biobalística), micropartículas de metal são revestidas com DNA de interesse e, em seguida projetadas ao meristema (ZIOLKOWSKI, 2007). Na fase de separação os aglomerados dessas partículas são acelerados até o tecido alvo, reduzindo-se a partículas ainda menores. Em seguida, essas partículas sofrem desaceleração, visto que adentraram ao tecido a ser transformado movendo-se mais lentamente até atingirem as células-alvo (ZHANG et al., 2007). A sequência a ser inserida, normalmente, apresenta o gene de seleção que confere resistência ao Imazapyr (ahas). Este gene, isolado a partir de A. thaliana, contém uma mutação que confere resistência especifica a este herbicida pertencente à classe das imidazolinas. Este marcador de resistência é o primeiro método de seleção no cultivo in vitro, no qual a molécula do herbicida é capaz de se translocar sistemicamente através dos eixos embrionários radiculares, de modo não-letal, porém seletiva, se concentrando na 17 região do meristema. O mecanismo de ação do Imazapyr se dá através da inibição da enzima aceto-hidroxi-acido-sintase, que catalisa, na região apical meristemática, os passos iniciais da biossíntese de três aminoácidos essenciais: isoleucina, leucina e valina, impedindo o crescimento apical da futura planta. Como consequência, após o bombardeamento das micropartículas, contendo a construção de interesse, juntamente com gene conferindo resistência ao Imazapyr, as possíveis células transgênicas da região apical dos eixos embrionários podem ser efetivamente selecionadas entre as células não transgênicas. Tal seleção se dá pela capacidade natural de que as células transgênicas têm de crescer quando expressando o gene ahas, mesmo em presença de Imazapyr (RECH et al., 2008). Um dos aspectos negativos da utilização da biobalística é a integração indeterminada de cópias do transgene de interesse (BARAMPURUM; ZHANG, 2011). Entretanto, a biobalística é uma ferramenta biotecnológica bastante eficiente, uma vez que facilita a transferência de genes para o interior de células vegetais e além do mais, é o único método de transformação aproveitável para algumas espécies (TAYLOR; FAUQUET, 2002; ZIOLKOWSKI, 2007). 1.5 ALGODÃO GM A agricultura no Brasil é um forte contribuinte econômico direta, seja relacionado à capacidade de gerar empregos ou à comercialização de produtos (AVELAR; VILELA, 2006), o que tem providenciado destaque brasileiro para o agronegócio. Dentre as culturas que mais se destacam no Brasil (cana-de-açúcar, soja, milho, feijão, café e algodão), a cotonicultura foi uma das primeiras atividades agrícolas desenvolvidas no País e tem contribuído de forma significativa no aumento do PIB (CEPEA/USP, 2011; MAPA, 2012). O cultivo e a utilização da fibra do algodão pelo homem foram apresentados há mais de vinte séculos por diversas comunidades espalhadas por diferentes continentes, sendo as principais localizações: Índia, Egito e Peru (BELTRÃO, 1999; HUCKELL, 1993; MOULHERAT et al., 2002). A partir de então, o algodão se tornou a principal fibra natural utilizada no mundo principalmente na indústria têxtil (SANTOS et al., 1999). 18 No Brasil, os índios utilizavam para fiar e tecer o algodão no início do século XVI. Em 1576, deu-se início aos relatos de suas utilizações: o português Gandavo relatou que as camas eram feitas de teias de fios de algodão, entretanto para os indígenas o algodão tinha muitas utilidades, inclusive se tratando de alimentação (caroço esmagado e cozido) e tratamento de feridas (sumo das folhas) (FREIRE, 1999). De 1960 a 1970, estima-se que a cotonicultura no Brasil atingiu mais de três milhões de hectares plantados nas regiões centro-sul e nordeste, conhecida como agricultura de pequenas áreas e tecnologia remota. No entanto, na década de 80 deu-se início à grande dificuldade de produção desencadeada pela entrada de uma nova praga, o bicudo-do-algodoeiro (A. grandis), o que reduziu a produtividade nacional e tornou o Brasil de maior exportador de algodão para o maior importador mundial (CONAB, 2006). A partir de então, a cotonicultura migrou para a região centro-oeste, traçando novas metas para a agricultura nacional. No entanto, para o melhor desenvolvimento e estabilidade da cultura, tornava-se necessário o aprimoramento de tecnologias voltadas para as novas condições oferecidas pela região promissora para a cotonicultura (BELTRÃO, 1999). O surgimento de problemas financeiros e de manejo fitossanitário resultou na mudança de local de produção para uma nova região com ausência da praga, o que promoveu um progresso econômico inesperado: o estado do Mato Grosso conseguiu alcançar um crescimento de aproximadamente 536, 25%, passando de 42,26 mil hectares para 268,87 mil hectares, entre 1998 e 2000, gerando um aumento de produção de 82,21%. Tamanho sucesso pôde ser justificado pela utilização dos cultivares adaptados, bem como de novas técnicas de cultivo, promovendo o controle temporário dos danos causados por pragas (RICHETTI; MELO FILHO, 2002; CONAB, 2006). Com a expansão da cultura, entre as décadas de 80 e 90, como resposta às mudanças regionais, a cotonicultura passou a se concentrar nas regiões sul, sudeste e nordeste. No entanto, após esse período sua disseminação pela região centrooeste revelou seu perfil produtivo no cerrado brasileiro, espalhando consigo um crescimento espantoso para a cotonicultura nacional. Em números, o que antes correspondia a 8,8% de área de algodão do país, passou em 2002, para 63% do 19 total dessa área. Atualmente, somando-se a produção do centro-oeste com a produção da Bahia e do Maranhão, o algodão representa mais de 80% da produção nacional (AMPASUL, 2014). O algodão é uma das culturas que mais tem se beneficiado dos avanços da biotecnologia, sendo o terceiro principal cultivo transgênico no mundo (JAMES, 2013). Atualmente, a resistência a inseto e tolerância a herbicida são as duas características agronômicas aprovadas e amplamente comercializadas que foram introduzidas no algodão através de engenharia genética (MEHBOOB-UR-RAHMAN, et al., 2012). Nas variedades resistentes a insetos foram incorporados ao genoma do algodoeiro genes que codificam proteínas entomotóxicas provenientes da bactéria Bt. Esses eventos GM foram genericamente denominados algodoeiros Bt (MOREIRA et al., 1999). Já as variedades resistentes a herbicida visam aumentar a facilidade de manejo de plantas invasoras, nas quais o transgene inserido é um homólogo do gene alvo insensível ao herbicida ou codifica uma enzima que degrada o herbicida (SAROHA et al., 1998; BECKIE, 2011; ICAC, 2012). O avanço tecnológico e o aumento da produtividade do algodão permitiram ao Brasil passar de maior importador de algodão do mundo para o terceiro maior exportador do produto em apenas 12 anos. Destinada à indústria têxtil, a produção nacional de algodão no Mato Grosso e na Bahia é responsável por, cerca de, 82% da produção nacional e se destaca pelo investimento em biotecnologia, gerenciamento do setor e novas técnicas de manejo. Apenas a indústria têxtil do Brasil é capaz de consumir mais de um milhão de toneladas do algodão produzido no Brasil, totalizando 70% da produção total de 1,5 milhões de toneladas (MAPA, 2012). No caso do algodão GM, a grande maioria das plantas resistentes a insetospraga, expressa toxina Cry. A utilização dessa entomotoxina tem resultado em eventos capazes de promover a cultura dessa planta, entretanto, além disso, novas alternativas vêm sendo estudadas para o controle de insetos. Dessa maneira, na última década a técnica do RNA interferente tornou-se uma importante ferramenta genética que fez com que o estudo funcional de genes em insetos não-modelos se tornasse possível. Estudos de validação funcional por RNAi de genes que codificam para enzimas da via de síntese de quitina mostraram que esses genes são essenciais para o desenvolvimento de insetos (ALVES et al., 2010; ZHANG et al., 20 2010; AMPASALA et al., 2011; ARAKANE et al., 2011). Quando a expressão desses genes foi inibida no coleóptero modelo, Tribolium castaneum, fenótipos letais foram observados (ARAKANE et al., 2008). Ademais, a validação da vitelogina, proteína precursora do vitelo presente no interior dos ovos de insetos, evidenciou a importância de se estudar o possível silenciamento desse gene em progênies de A. grandis, resultando na inviabilidade de parte dos ovos decorrentes da diminuição significativa da síntese dessa proteína (COELHO, 2013). Portanto, uma vez que a quitina está ausente em plantas e vertebrados, e o desenvolvimento e crescimento dos insetos dependem da biossíntese deste polímero, a identificação, a caracterização e o uso do silenciamento de genes envolvidos na síntese de quitina, assim como na síntese de vitelogenina, apresentam-se como estratégia promissora para desenvolvimento de novos métodos mais seguros e eficazes de controle desta praga. 1.6 JUSTIFICATIVA Há muitos séculos a cotonicultura nacional tem sofrido com ataques e perdas graves causados por A. grandis. Mesmo com o surgimento de medidas de controle, principalmente, agrotóxicos, não tem sido muito eficaz pela grande quantidade necessária para controlar a emergência das infestações, o que implica em onerar o produto. O bicudo-do-algodoeiro possui uma estrutura adaptada para se nutrir e ovipor nos botões florais de plantas de algodão e, é completamente dependente dessa estrutura para a garantia de desenvolvimento de sua progênie, o que torna difícil o acesso e o desenvolvimento de um inseticida alvo especifico que interfira no metabolismo e no ciclo de vida do inseto. Dessa forma, os agrotóxicos ainda apresentam certa toxicidade para o humano, além do que, ocorre o desenvolvimento de variantes resistentes de outros insetos e de ciclos biológicos concomitantes. Por esta razão, é imperativo o desenvolvimento de novas alternativas biotecnológicas que não apresentem efeitos colaterais extremos. Nesse sentido, estudos envolvendo a inserção de transgenes em plantas de algodão que apresentem a capacidade de interferir no ciclo de vida e/ou na atividade desse inseto-praga têm demonstrado o potencial de serem utilizados como bioinseticidas. Assim, o presente estudo visa obter eventos GM de plantas de algodão resistentes ao A. grandis, por meio da 21 expressão de genes que codificam a proteína Cry e do silenciamento gênico por RNAi dos genes da quitina sintase II e da vitelogenina. Além disso, o estudo objetiva a caracterização molecular dos eventos transgênicos e a validação in planta dos referidos genes por meio de bioensaios. 22 2 OBJETIVO 2.1 OBJETIVO GERAL Validar genes essenciais de A. grandis, o bicudo-do-algodoeiro, e a entomotoxina Cry8Ka5, a fim de obter plantas de algodão GM resistentes ao insetopraga. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Sintetizar a construção pBSKdsCH2vitCry8Ka5, contendo dsRNA para os genes Quitina Sintase II e Vitelogenina, sob controle do promotor constitutivo UCeA 1.7 e, sequência do gene que expressa a proteína Cry8Ka5, sob domínio do promotor tecido-específico GhPGFS1; 2. Transformar embriões de sementes de algodão da variedade BRS-372, através da técnica de biobalística com a construção pBSK-dsCH2vitCry8Ka5, visando a superexpressão da toxina Cry e o silenciamento gênico de quitina e vitelogenina; 3. Caracterizar molecularmente as plantas de algodão GM por meio das técnicas PCR, ELISA e qRT-PCR; 4. Desafiar os eventos transgênicos com o inseto alvo, bicudo-do-algodoeiro, visando o seu controle. 23 3. METODOLOGIA 3.1. CONSTRUÇÃO GÊNICA Foi utilizado o cassete pBSK-dsCHSvitCry8Ka5 para transformação de plantas de algodão, contendo dsRNA para os genes CHS2 e vitelogenina, sob domínio do promotor constitutivo, UceA 1.7, visando o silenciamento dos dois genes alvo de A. grandis. Agrupados in tandem (figura 5), na construção pBSKdsCHSvitCry8Ka5, os transcritos dos genes alvos contêm 200pb específicos para cada um dos genes, cujos agrupamentos possuem direção invertida interrompida por intron, o que promove a formação de alça após a obtenção do transcrito, auto anelamento e dsRNA resultante. Além disso, o cassete contém a sequência que codifica para a proteína Cry8Ka5 sob domínio do promotor botão floral-específico GhPGFS1 para expressão direcionada para botão-floral. Como marca de seleção, o cassete possui o gene AHAS que confere resistência ao herbicida, Imazapyr. Figura 5. Representação esquemática do cassete de expressão contendo o gene de seleção AHAS, que confere resistência ao herbicida Imazapyr e o gene para super-expressão do dsRNA-CHS2vit, sob domínio do promotor UCeA 1.7 e o gene para a proteína Cry8Ka5 controlado pelo promotor tecido-específico GhPGFS1. 3.2 TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA VIA BIOBALÍSTICA A metodologia desse trabalho foi baseada no protocolo de transformação genética via biobalística utilizado por Rech et al. (2008). Sementes de algodão da cultivar BRS 372 foram deslintadas com ácido sulfúrico concentrado (3mL/g de 24 semente) por 1 minuto, em constante homogeneização com bastão de vidro. Em seguida, as sementes foram transferidas para 5 litros de água destilada, lavadas por três vezes com água destilada e secas em papel toalha. As sementes foram desinfestadas com etanol 70%, por 10 minutos, lavadas com água destilada estéril, por três vezes. Em seguida, foram colocadas em banho de hipoclorito de sódio 2,5% por 30 minutos e novamente, lavadas por três vezes com água destilada estéril. O recipiente contendo as sementes submersas em água destiladas estéril foi vedado e encoberto por papel alumínio, afim de permitir a germinação no escuro, durante 16 a 18 horas. Após esse período, as sementes foram lavadas por três vezes com água estéril, secadas e vedadas em recipiente estéril e ambiente escuro por mais 16 a 18 horas. Posteriormente, os cotilédones de cada semente foram pressionados até que os eixos embrionários germinados fossem expulsos da casca da semente. Os eixos embrionários foram excisados, onde o meristema apical foi seccionado na região das primeiras folíolas, utilizando-se bisturi completamente estéril. Dez eixos embrionários foram posicionados em círculo para placas de Petri de 5 cm de diâmetro, a uma distância de 6 a 12 mm do centro da placa com a região meristêmica apical voltada para cima. O meio de cultura para combardeamento foi composto de sais basais para meio MS, suplementado com 3% de glicose, 0,8 % de Phytagel e pH ajustado para 5,7 antes da autoclavagem). 3.3.2 Aplicação da técnica de bombardeio de DNA O cassete de transformação foi inserido no genoma da planta por meio de microparticulas de tungstênio, pela técnica de biobalística que com consiste na aceleração de microprojéteis envoltos de material genético de interesse de forma não letal à célula. Para a técnica atribuída, seguiu-se o protocolo subseqüente. Foram pesadas 60mg de partículas de tungstênio que, posteriormente, foram transferidas para tubos de microcentrífuga, adicionando-se 1mL de etanol 70%. Com o auxílio do vortex, as partículas foram misturadas por 15 minutos, centrifugadas a 3000g por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado por meio de micropipeta, sem que o sedimento fosse tocado. Foi adicionado 1 mL de água estéril às partículas, agitando vigorosamente por mais 15 minutos com auxílio do vortex, seguido de 25 centrifugação a 3000g por 5 minutos. Este procedimento foi repetido por mais 2 vezes. Finalizadas as lavagens, o sobrenadante foi descartado e as partículas foram ressuspendidas em 1 mL de glicerol 50% autoclavado. Posteriormente, as micropartículas foram distribuídas em tubos de microcentrífuga em 50 µL e agitadas vigorosamente como o auxílio do vortex por aproximados 30 segundos, anteriormente sonicadas por 5 minutos, a fim de garantir total desagregação das partículas. No momento de cada bombardeamento, as partículas receberam o DNA de interesse numa proporção de 8 µL de DNA para cada 50 µL de partículas de tungstênio. O DNA de interesse foi previamente pesado e dosado a 1 µg/ µL. Após 2 segundos de rápida agitação em vortex, foram adicionados 50 µL de CaCl 2 2.5 M e mais uma vez homogeneizadas. Em seguida, 20 µL de espermidina a 0,1 M, mais uma vez homogeneizados. Deixou-se agitar por 10 minutos em velocidade mínima no vortex, seguida de centrifugação por 10 segundos a 3000 x g. Descartou-se sobrenadante, sem que o pellet fosse tocado. Foram adicionados 150 µL de etanol absoluto e rapidamente homogeneizado e centrifugado a 3000 x g. O sobrenadante foi descartado e finalmente, adicionou-se 24 µL de etanol absoluto e homogeneizouse mais uma vez. Sonicou-se por 3 segundos cada conteúdo preparado. Este conteúdo foi distribuído em alíquotas de 3,2 µL para cada membrana carreadora em sua região central, membrana esta, específica para a realização da técnica de biobalística. Essas membranas foram encaixadas em seu suporte e assim, transferidos para placas de sílica gel a fim de evitar umidade. Após aproximadamente 5 minutos, as placas contendo os suportes e suas membranas foram retiradas e utilizadas para bombardeamento. Por meio do equipamento de biobalística, as micropartículas envoltas por DNA foram projetadas sobre as placas contendo os eixos embrionários, conforme relatado no item 3.3.1. Após o bombardeamento, as placas contendo os eixos embrionários pósmicroprojetados foram armazenadas por 48 horas em ambiente escuro. Em seguida, os embriões foram transferidos para caixas tipo Magenta® contendo meio de cultura e seleção (sais basais para meio MS, glicose 3%, BAP (benzylaminopurina) 13.3µM, Imazapyr 300nM, carvão ativado 0,1%, Agar 0,6 e pH ajustado para 5.7). 26 3.3.3 Cultivo de plantas selecionadas por herbicida Após o período de 30 dias, foram descartadas as plantas que apresentaramse necrosadas por ação do Imazapyr. As plantas que demonstraram desenvolvimento diferenciado perceptível alcançando uma média de 10 cm de comprimento, foram transferidas e mantidas por 15 dias em copo plástico envolvido por saco plástico assegurado por elástico, contendo vermiculita, em sala de cultivo in vitro, sob temperatura (24-28 ºC) e luminosidade (16/8h), controladas. Após este período, as plantas foram aclimatadas em casa de vegetação, onde permaneceram por mais 15 dias. Posteriormente, o saco plástico foi retirado e, em mais 15 dias as plantas foram transferidas para sacos plásticos contendo solo, onde permaneceram por mais 30 dias até que fossem definitivamente transferidas para vasos. As análises de caracterização das plantas foram iniciadas assim que suas raízes foram aprofundadas resultando na garantia de sua adaptação ao solo a que foram submetidas. 3.4. CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE PLANTAS POTENCIALMENTE TRANSFORMADAS 3.4.1 Extração de DNA Neste trabalho, para a extração de DNA genômico foi utilizado o kit DNeasy Plant (QIAGEN). A extração seguiu-se conforme instruções do fabricante. As amostras foram tratadas com 1 µl de solução RNase (10 µg/µl) e aquecidas a 37º C por 45 minutos. Posteriormente, foram armazenadas em -80ºC. 3.4.2 Verificação da amplificabilidade do DNA extraído de folhas de plantas de algodão Foi verificada a amplificabilidade do DNA extraído das folhas de plantas de algodão por meio de reações de PCR qualitativo, utilizando-se os primers para AHAS, RNAi e Cry8Ka5 (tabela 2). Os fragmentos amplificados na PCR foram 27 separados por eletroforese em gel de agarose 1% (p/v) contendo 0,3 µg/ml de brometo de etídio imerso por tampão TBE 1X (0,1M Trizma base; 90mM ácido bórico; 2,5mM EDTA ). A PCR para todos os genes foi realizada em um volume final de 10 µl contendo 5 µl de PCR ReadyMix, 0,4 µl de cada primer 10 µM, 1 µl de extrato de DNA. As temperaturas de anelamento específicas para cada primer, foram: 65ºC para AHAS, 55ºC Cry8Ka5 e 55ºC para RNAi . Para todos os genes obedeceram-se os seguintes passos, alterando-se apenas a temperatura específica do anelamento de cada primer: 1- desnaturação inicial a 94ºC por 5 minutos; 2- 40 ciclos de 94ºC por 45 segundos, 65ºC por 45 segundos e 72º C por 1 minuto; 3- extensão final a 72ºC por 10 minutos, para o gene AHAS. Tabela 2. Lista de oligonucleotídeos utilizados nas análises por PCR. Nome do Oligonucleotídeo Cry8Ka5_F7 400pb Cry8Ka5_R7 Ahas_term_fw3 Sequência (5’– 3’) Tamanho (pb) 600pb Temperatura de Anelamento GTTACACCCAAGCAGACATCGACC 55° CAATGAAGGAGCAGGAATAGCAAC 55° GTCACTGGGTTAATATCTCTCGAATCTT 60° GCA Ahas_term_rev3 CCTACTTCCAATGTCTGATTAGTGCTTC 60° TGG dsRNA-CHS2vitFw 200pb CGTCATCAAATCTATATGGCTGGTTATG 55° ACAAG dsRNA-CHS2vitRv CTTCTGTGAATTGCTGCCAAAGTTTTCC TAGG 55° 28 3.4.3 Extração e determinação de proteínas totais Para extração de proteínas totais de plantas de algodão foram utilizados 60mg de macerado de botão floral congelado. Adicionou-se ao material macerado 1ml de tampão de extração de proteínas (Tris-HCl 0,5 M, EDTA 50 mM, sacarose 0,7 M, KCl 0,1 M, Triton 0,1%, PMSF 10mM, DTT 1mM e PVPP 0,5%) e inverteu-se as amostras à 4ºC por 60 minutos, seguida de centrifugação por 45 minutos a 13200 x g. Após isso, coletou-se sobrenadante e transferiu-se para novos tubos de microcentrífuga. A concentração das proteínas totais foi estabelecida segundo a metodologia de Bradford (1976), onde utilizou-se como padrão o BSA (Bovine Serum Albumin), com leitura em espectrofotômetro a 595 nm. 3.4.4 Quantificação da expressão da entomotoxina Cry8Ka5 por meio de ensaio imunoenzimático do tipo ELISA A determinação da expressão de toxina Cry8Ka5 das plantas de algodão potencialmente transformadas foi feita por ensaio imunoenzimático do tipo ELISA indireto. Foram utilizadas microplacas de 96 cavidades de fundo plano que, por sua vez, foram sensibilizadas com 125ng/poço de proteínas totais do extrato de botão floral. A placa foi sensibilizada com aproximadamente 125 ng de proteínas totais, dispostas em triplicata, provenientes da extração de proteínas de botão floral e mantidas à 4ºC over night. Após esse período, descartou-se o conteúdo excedente não retido à placa. Bloqueou-se os poços com BSA 1% diluído em solução PBS 1X e tween 0,05% por 2 horas sob homogeneização. Lavou-se a placa por 3 vezes com solução PBS 1% e tween 0,05%. Cada lavagem foi seguida de batidas fortes em todos os passos após o bloqueio, a fim de que não houvesse fixação dos anticorpos na placa. O anticorpo para a proteína Cry8Ka5 foi utilizada na proporção de 1:1000 diluído em solução PBS 1X e distribuídos em 100 µl de solução por poço, onde permaneceu-se homogeneizando-se a placa por 2 horas. Em seguida, descartou-se todo o conteúdo da placa, lavou-se novamente com solução PBS 1X e tween 0,05% 29 por 3 vezes. Foi adicionado o segundo anticorpo conjugado com peroxidase, antirabbit, na proporção de 1:3000 diluído em PBS 1X e distribuídos em 100 µl por poço e homogeneizando por 1 hora. Posteriormente, descartou-se todo o conteúdo da placa, lavou-se novamente com solução PBS 1X e tween 0,05% por 3 vezes. A solução de revelação foi preparada, calculando-se o volume a ser preparado de acordo com o número de cavidades (100 µl/cavidade). Foram adicionados ao tampão de revelação (ácido cítrico 0,1M e fosfato de sódio dibásico 0,2M, pH 5,0) 10 µl de peróxido de hidrogênio e 1 pastilha de substrato enzimático para cada 10 ml de solução. Distribuiu-se 100 µl de solução reveladora por cavidade e esperou-se que a reação acontecesse em ambiente escuro por 30 minutos. Em seguida, foram distribuídas alíquotas a 50 µl de ácido sulfúrico 2M por cavidade. A leitura foi realizada em um aparelho de espectrometria de luz UV/visível, utilizando um filtro específico de 450nm. 3.5 DESAFIO DAS PLANTAS T1 COM O INSETO-PRAGA Sementes de plantas T1 GM, obtidas por auto-fecundação de indivíduos T0, foram plantadas e analisadas por PCR utilizando as mesmas condições do item 3.4.2. Para determinar o efeito da interferência do RNA no bicudo-do-algodoeiro, larvas de segundo instar foram inoculadas em botões florais de 6mm, de eventos GM T1, os tratamentos foram separados e mantidos em placas para cultura de células de 6 poços onde permaneceram por 7 dias a 26ºC, em placas para cultura de células de 6 poços, fundo chato com tampa (Figura 6). Após esse período, as larvas coletadas dos botões florais foram colocadas em tubos de microcentrífuga de 1,5ml estéreis, congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas a -80ºC até que fossem utilizadas. 30 3.5.1 Extração de RNA total de larvas de A. grandis alimentadas por botão floral transgênico. O RNA total das larvas de A. grandis foi extraído separadamente em tubos de microcentrífuga de 1,5 ml estéreis. Foram acrescentados aos tubos 500 µL do reagente Trizol (INVITROGEN, USA) e 5 µL de βetamercaptoetanol para até 100mg de tecido do inseto macerado em nitrogênio com auxílio de pistilo. Em seguida, inverteu-se as amostras por 10 minutos e centrifugou-se por 12000 x g por 10 minutos a 4ºC. Transferiu-se sobrenadante para novos tubos de microcentrífuga, a fim de separá-lo de restos teciduais. Foram adicionados 200µL de clorofórmio aos tubos e agitados vigorosamente por 15 segundos, incubando-os por 3 minutos em temperatura ambiente. Após essa etapa, centrifugou-se a 12000 x g por 15 minutos a 4ºC, a fim de que se formassem três fases. A fase superior foi coletada e transferida para novo tubo de microcentrífuga, resultando em aproximadamente 300µL, ao qual foi adicionado o mesmo volume de isopropanol. Incubou-se as amostras a -20ºC over night para melhor precipitação do RNA. Posteriormente, as amostras foram centrifugadas a 12000 x g por 15 minutos a 4ºC. O sobrenadante, por sua vez, foi descartado e o pellet foi lavado com 200µL de etanol 70% gelado seguindo de centrifugação a 12000 x g por 10 minutos à 4ºC. O pellet foi dissolvido em 100µL de tris-HCl 10mM pH 7,5. A quantificação foi realizada por espectrometria, utilizando-se 3µL de RNA, variando entre 300 ng/µL e 1000 ng/µL e por sua qualidade e integridade em gel de agarose 1%. As amostras contendo RNA foram armazenadas a -80ºC até que fossem utilizadas. 31 Figura 6. Placa para cultura de células contendo botões florais inoculados com larvas de bicudo-doalgodoeiro. 3.5.2 Síntese de cDNA A reação de síntese de DNA complementar (cDNA) ocorre a partir de um molde de RNA utilizando-se a enzima transcriptase reversa, na realização desse papel. O cDNA foi sintetizado utilizando-se kit Superscript First-Strans Synthesis System for RT-PCR (Invitrogen) a partir de 2µg de RNA total extraído de larvas de A. grandis alimentadas por botões florais de plantas de algodão potencialmente transgênicas, 2 µL de oligo dT a 10µM, completando-se com água estéril para 11 µL de volume final. As amostras foram incubadas a 70ºC por 3 minutos, colocadas rapidamente em gelo por mais 3 minutos, adicionando-se, em seguida, mix contendo 4 µL de tampão 5x, 2 µL de ditiotreitol (DTT), 1 µL de dNTP e 1 µL de RNase out. Prosseguiu-se em 2 minutos de incubação a 42ºC. Em seguida, foram acrescentadas 40 unidades de transcriptase reversa - Superscript First-Strans Synthesis System for RT-PCR (Invitrogen). O restante da reação ocorreu em termociclador obedecendo os passos: 90 minutos a 42ºC, 15 minutos 70ºC e 4ºC. O cDNA foi armazenado a -20 ºC. 32 3.5.3 Confirmação da síntese do DNA complementar (cDNA) Foi realizada reação de PCR para o gene constitutivo que transcreve para Actina, proteína normalmente sintetizada em A. grandis, a fim de confirmar síntese do cDNA. A PCR foi realizada em um volume final de 20 µL contendo 2 µL de tampão 10X para Taq DNA polimerase, 0,8 µL de MgCl 50mM, 0,4 µL de dNTP 10 mM, 0,4 µL de cada iniciador (senso e anti-senso) 10 mM, 0,4 µL de Taq DNA Polimerase 5 u/µL e 1 µl de DNA complementar, diluído em 1:20. A reação de PCR foi realizada em termociclador obedecendo os seguintes passos: 1- desnaturação inicial a 94ºC por 2 minutos; 2- nova desnaturação a 94ºC por 20 segundos; 3- anelamento de iniciadores a 55ºC por 20 segundos; 4- extensão a 72ºC por 45 segundos; 5voltando ao passo 2 (repetindo por 30 ciclos sob as mesmas condições anteriormente descritas). Por fim, foi realizado um último ciclo de extensão a 72ºC, por 5 minutos. Como controle negativo foi utilizado para a PCR amostra que não continha cDNA. O produto amplificado foi analisado através de uma eletroforese em gel de agarose 1% acrescido de brometo de etídio (0,5 µL/ml), utilizando como padrões de peso molecular de DNA 1 Kb plus DNA ladder. 3.5.4 Análise do silenciamento do gene alvo do ds RNA por qPCR O silenciamento de um dos genes alvos foi analisado por qPCR a partir do cDNA sintetizado de larvas de A. grandis alimentadas de botões florais potencialmente transgênicos durante 7 dias. Foram utilizados iniciadores para CHS2 e também iniciadores para o gene constitutivo codificador para -actina (Tabela 3), que por sua vez, foi utilizado como controle interno da reação e referência para cálculo da expressão relativa de todos os genes. A reação foi realizada em um volume final de 10 µl contendo 2,5 µl de SyBrGreen, 0, 5 µl de PVP 20%, 0,2 µl de primers foward e reverse 10mM e 2 µl de cDNA em uma diluição de 1:20. O programa para qRT-PCR consistiu em um passo inicial a 95ºC por 10 minutos, seguidos por 40 ciclos de 95ºC por 20 segundos, 60ºC por 30 segundos e 72ºC por 33 30 segundos. Para a análise das amplificações, a Ct (do inglês - cycle of the threshold) e a eficiência de amplificação de cada oligonucleotídeo (variando de 90% a 100%) foram determinadas pelo programa Real-time PCR Miner. RNA total extraído de larvas de A. grandis alimentadas por plantas botões florais de plantas de algodão potencialmente transgênicas, 2 µL de oligo dT a 10µM, completando-se com água estéril para 11 µL de volume final. Foram incubadas as amostras a 70ºC por 3 minutos, colocadas rapidamente em gelo por mais 3 minutos e adicionou-se, em seguida, mix contendo 4 µL de tampão 5x, 2 µL de ditiotreitol (DTT), 1 µL de dNTP e 1 µL de RNase out. Prosseguiu-se em 2 minutos de incubação a 42ºC. Após isso, foram acrescentadas 40 unidades de transcriptase reversa - Superscript First-Strans Synthesis System for RT-PCR (Invitrogen). O restante da reação ocorreu em termociclador obedecendo os passos: 90 minutos a 42ºC, 15 minutos 70ºC e 4ºC. Tabela 3. Oligonucleotídeos utilizados nas reações de PCR em tempo real para análise de CHS2. Nome do oligonucleotídeo Sequência do oligonucleotídeo senso (5’-3’) Sequência oligonucleotídeo antisenso (5’-3’) Tamanho do amplicom (pb) Eficiência (%) AntgCHS2-RT AAGGCATTAACGGTGACGAC TCCAAGTCGTTGATGACTGC 120 101 B-Actina-RT CCTTTAACACCCCTGCTATG TGAGGTAGTCGGTCAAGTCA 192 102 Uma visão geral da metodologia empregada na clonagem, caracterização e avaliação do efeito funcional da estratégia de transformação é mostrada na figura 7. 34 Figura 7. Organograma metodológico da transformação, caracterização e desafio de plantas de algodão GM. 35 4. RESULTADOS 4.1 BOMBARDEAMENTO DE EMBRIÕES A técnica de biobalística foi utilizada no intuito de inserir em plantas de algodão os genes que codificassem para a entomotoxina Cry8Ka5 e para o dsRNA de sequência homóloga aos genes alvos de A. grandis, cujo silenciamento resultaria na interrupção da produção da CHS2 e da vitelogenina, resultando em fenótipos letais. Foram bombardeados 3500 embriões de algodão, variedade BRS-372, dos quais foram obtidas 186 plântulas contendo o gene de seleção ahas para resistência ao herbicida Imazapyr. 4.2 CARACTERIZAÇÃO Para confirmar a presença dos genes de interesse nas 186 plantas T0 resistentes ao herbicida, foram realizadas reações de PCR para os três módulos gênicos: ahas, Cry8Ka5 e RNAi, das quais, 19 plantas mostraram-se positivas para a presença dos três genes simultaneamente (Tabela 4). Nas figuras 8, 9 e 10 podem ser observados os produtos de PCR nos eventos positivos para os genes de dsRNA (200pb), Cry8Ka5 (400pb) e ahas (600pb), respectivamente. 36 Tabela 4. Plantas T0 positivas resultantes da análise por PCR para os genes AHAS, Cry8Ka5 e dsRNA. Plantas ahas Cry8Ka5 dsRNA 2 + + + 3 + + + 7 + + + 9 + + + 11 + + + 12 + + + 13 + + + 15 + + + 32 + + + 44 + + + 51 + + + 52 + + + 53 + + + 55 + + + 58 + + + 63 + + + 120 + + + 144 + + + 156 + + + Total de 19 plantas 37 Figura 8. Eventos T0 detectados por PCR para o gene dsRNA. Gel de agarose 1% demonstrando reação de PCR. Poços 3, 7, 9, 11, 15, 32, 44, 51 e 120 amplificação do fragmento de dsRNA Vitelogenina e CHS2, presença do gene para as nove plantas analisadas; C+: controle positivo (plasmídeo utilizado no bombardeamento); PM: Padrão de peso molecular em pares de bases (pb). 200pb NT H20 3 7 9 11 15 32 44 51 120 C+ PM Figura 9. Eventos T0 detectados por PCR para o gene Cry8Ka5. Gel de agarose 1% demonstrando reação de PCR. Poços 3, 7, 9, 11, 15, 32 e 44 amplificação do fragmento de Cry8Ka5 - presença do gene para as sete plantas analisadas; C+: controle positivo (plasmídeo utilizado no bombardeamento); PM: Padrão de peso molecular em pares de bases (pb). 400pb 3 7 9 11 15 32 44 NT H2O C+ PM Figura 10. Eventos T0 detectados por PCR para o gene ahas. Gel de agarose 1% demonstrando reação de PCR. Poços 3, 7, 9, 11, 15 e 32 amplificação do fragmento de AHAS - presença do gene para as seis plantas analisadas; C+: controle positivo (plasmídeo utilizado no bombardeamento); PM: Padrão de peso molecular em pares de bases (pb). 600pb NT H2O 3 7 9 11 15 32 C+ PM 38 4.3 QUANTIFICAÇÃO DA EXPRESSÃO DE ENTOMOTOXINA CRY8KA5 POR MEIO DO ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO DO TIPO ELISA A concentração de proteína Cry8Ka5 expressa nas plantas de algodão consideradas positivas por PCR foi medida por ELISA em extrato de tecido do botão floral. Os níveis de proteína Cry8Ka5 foram detectados utilizando-se plantas de algodão não transgênico como controle (Figura 11). Figura 11. Avaliação da expressão da entomotoxina Cry8Ka5 em amostras de botão floral macerado de plantas potencialmente transgênicas. Das 17 plantas avaliadas pela técnica de ELISA, 11 plantas (amostras: 3, 7, 9, 11, 13, 44, 52, 3, 55 e 156) demonstraram significativa expressão da entomotoxina avaliada da construção pBSKdsCH2vitCry8Ka5. . 100,0 ug de toxina Cry8Ka5/ g de tecido fresco 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 1 2 3 7 9 11 12 13 32 44 51 52 53 55 58 120 156 NT8 4.4 IDENTIFICAÇÃO DE GENES POR PCR DE GERAÇÃO T1 As onze plantas de geração T0 que apresentaram expressão significativa de proteína Cry8Ka5 foram autofecundadas e dez sementes de cada evento foram semeadas para obtenção da geração T1. Após a caracterização molecular dessas linhagens por PCR, foram selecionadas sete plantas contendo a presença dos três 39 genes de interesse (ahas, RNAi e Cry8Ka5), sendo duas oriundas do evento 7 (7.1 e 7.5), duas do evento 11 (11.1 e 11.9), uma do evento 13 (13.10), uma do evento 55 (55.4) e uma do evento 156 (156.1). Tabela 5. Plantas de algodão geração T1 positivas resultantes da análise por PCR para os genes ahas, Cry8Ka5 e dsRNA. Plantas ahas Cry8Ka5 dsRNA 7.1 + + + 7.5 + + + 11.1 + + + 11.9 + + + 13.10 + + + 55.4 + + + 156.1 + + + Total de 7 plantas 4.5 DESAFIO DAS PLANTAS GM COM O INSETO-ALVO Para analisar o silenciamento de CHS2 nas plantas GM foi determinada a expressão quantitativa desse transcrito pela técnica de qRT-PCR. O RNA total foi extraído de larvas de A. grandis alimentadas por botões florais de plantas GM e seu controle (Figura 12) e o cDNA obtido foi utilizado para a realização do experimento de qRT-PCR. A expressão dos transcritos alvo em larvas alimentadas por botão floral do evento 7.5 apresentou uma redução de cerca de 6 vezes na expressão do gene-alvo (Figura 13), em comparação ao controle, apesar de não ter alterado o tamanho das larvas (Figura 12). Este resultado sugere que este evento é um potencial candidato para controle do bicudo-do-algodoeiro pela utilização da metodologia do RNAi. Na 40 figura 14 são apresentadas as etapas para obtenção e seleção do evento transgênico. Figura 12. Análise morfológica de larvas de terceiro instar de insetos de A. grandis após serem alimentados com plantas de algodão GM contendo a construção pBSKvitCHS2Cry8Ka5. As larvas foram maceradas após 7 dias de inoculação em botão floral. LARVA CONTROLE 7.1 7.2A 7.2B 7.5 Figura 13. Análise do silenciamento gênico por qPCR de CHS2 em larvas de terceiro instar de A. grandis após ingestão de botão floral de plantas de algodão GM com a construção pBSKdsvitCHS2Cry8Ka5 por um período de sete dias. -actina foi utilizado como gene de referência. (NT: expressão de CHS2 em larva que ingeriu botão floral não transformado, ou seja, amostra controle; 7.5: expressão de CHS2 em larva que ingeriu botão floral da planta T1 transformada 7.5; 7.1: expressão de CHS2 em larva que ingeriu botão floral da planta T1 transformada 7.1; 7.2A: expressão de CHS2 em larva que ingeriu botão floral da planta T1 transformada 7.2; 7.2B: expressão de CHS2 em larva que ingeriu outro botão floral da planta T1 transformada 7.2. 41 Uma visão geral dos resultados obtidos distribuídos entre caracterização e avaliação do efeito funcional da estratégia de transformação é mostrada na figura 14. 42 Figura 14. Organograma de resultados da caracterização molecular das plantas de algodão GM. 3500 embriões bombardeados 186 eventos selecionadas por herbicida Caracterização 19 eventos T0 detectadas por PCR (AHAS, Cry8Ka5 e dsRNA) 11 eventos T0 expressando a proteína Cry8Ka5 pela técnica de 7 eventos GM T1 9 sementes de cada planta GM T1 foram plantadas detectadas por PCR (ahas, Cry8Ka5 e dsRNA) Elisa Evento 7.5 apresentando evidências de silenciamento quando ingerida por larvas de A. grandis Bioensaio de 2 eventos transgênicos 43 5. DISCUSSÃO As ferramentas biotecnológicas têm permitido a comercialização de plantas GM capazes de expressar altos níveis de resistência específica a pragas em culturas diversificadas (PERLAK et al, 1993). A principal vantagem da implantação de eventos transgênicos resistentes a insetos no mercado é a grande redução do uso de pesticidas químicos sendo estes causadores de riscos à saúde e ao meioambiente (SHELTON et al, 2002; CATANNEO et al., 2006). Até o momento, há 47 eventos de algodão GM disponíveis comercialmente, porém no Brasil apenas 12 estão regulamentados (ISAAA, 2012). Entretanto, nenhum desses expressam qualquer resistência ao bicudo-do-algodoeiro. A cotonicultura é uma das principais commodities do mundo, sendo responsável pelo desenvolvimento socioeconômico das regiões centro-oeste e nordeste do Brasil (FREIRE, 2007). Há alguns anos, a cultura tem sofrido um declínio em sua produção decorrente de intensos ataques de diversas pragas. Segundo a literatura, pelo menos, trinta espécies de insetos e três ácaros são declarados como pragas específicas do algodoeiro (GONDIM et al., 2001). Dentre as principais pragas que assolam as plantações de algodão, destaca-se o bicudo-doalgodoeiro, A. grandis. A partir da adoção comercial de algodão Bt em 1996 nos Estados Unidos e Austrália, o número de países que o produzem comercialmente e a área cultivada vêm aumentando consistentemente. Em 2011, o algodão Bt foi cultivado em 17,9 milhões ha, o que corresponde a mais de 72 % área total do algodão cultivado em todo o mundo (JAMES, 2011). A Índia é hoje o país com a maior área plantada de algodão Bt (8,4 milhões de ha), seguido pela China (3,7 milhões ha) e os EUA (2 milhões ha). Cerca de 8,25 milhões de produtores de algodão utilizam plantas GM, dos quais 90% são pequenos agricultores. Segundo estudo realizado na Índia, o algodão Bt foi responsável pelo aumento do rendimento da produção e da lucratividade em 24% e 50%, respectivamente (QAIM, 2010; KOUSER; QAIM, 2011; KATHAGE). Com relação ao bicudo-do-algodoeiro, somente 4 toxinas foram relatadas na literatura como sendo tóxicas a esse inseto, são elas a Cry1Ba, a Cry1Ia12, a Cry10Aa e a Cry8Ka5 (GROSSI-DE-SA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2011; AGUIAR et al., 2012). No entanto, as doses efetivas para essas toxinas variam de 5,6 – 610 44 g/mL, o que é uma concentração muito elevada para fins de aplicação biotecnológica, já que em algodão, os níveis de expressão protéica em eventos transgênicos variam entre 0,2-0,29g de toxina/g de tecido fresco (TORRES et al., 2006). Entretanto, um estudo recente demonstrou que o nível de expressão de toxina Cry1Ac é de 0,7g da toxina/g de tecido vegetal fresco de algodão transgênico Bt (YU et al., 2014). Das proteínas Cry inseridas em plantas de algodão que já se tornaram passíveis de comercialização são: a Cry1Ac (Monsanto, Mon531-Bollgard®) e a Cry1Ac associado a Cry2Ab (BollgardII®, DOW 3006, Calgene 31807) (MONSANTO, 2008). Além da utilização das proteínas Cry como modo de controle aos insetospraga, a elucidação do mecanismo de silenciamento gênico por RNA de interferência tem demonstrado resultados promissores em diversos estudos, abrindo caminhos para uma segunda alternativa biotecnológica para a produção de transgênicos (PRIDGEON et al., 2008). O silenciamento gênico refere-se a uma série de mecanismos envolvidos na repressão da expressão de genes-alvo, por meio da inibição da transcrição ou da tradução. O silenciamento gênico transcricional pode ocorrer através de metilação na região promotora do gene, causando a inibição da transcrição, e o pós-transcricional ocorre através da destruição do transcrito ou inibição da tradução (GORDON; WATERHOUSE, 2007; PRICE; GATEHOUSE, 2008). Várias pesquisas utilizando RNAi têm sido realizadas visando a degradação de RNAm essenciais para a sobrevivência de insetos considerados pragas para a agricultura (GHANIM; KONTSEDALOV; CZOSNEK, 2007; MAO et al., 2007). Baum et al. (2007) demonstraram a possibilidade de silenciar genes essenciais para a sobrevivência do coleóptero Diabrotica virgifera virgifera, praga prejudicial às plantações de milho, por meio da produção de plantas de milho GM, com a metodologia do RNAi. Essas plantas de milho GM contendo RNAi homólogo ao gene da V-ATPase A apresentaram supressão da expressão desse gene quando desafiadas com o inseto-alvo, resultando na diminuição dos danos causados às raízes. No caso do algodão foi obtido um evento GM pela metodologia de RNAi para resistência ao lepdóptero H. armigera, praga também bastante prejudicial à cultura, 45 por meio do silenciamento do gene do citocromo P450 que resultou na perda de resistência ao gossipol e morte de larvas (MAO et al., 2007). Em trabalhos anteriores foi demonstrada a capacidade de silenciar genes em insetos por meio da metodologia do RNAi (BAUM et al., 2007; MAO et al., 2007) e a capacidade letal que as proteínas Cry apresentam sobre insetos (BRAVO et al., 2004; GÓMEZ et al., 2002; ZHUANG et al., 2002). Entretanto, nenhum desses trabalhos propôs qualquer modo de controle ao inseto A. grandis. A partir dos dados da análise do transcritoma do inseto (FIRMINO, 2013) determinou-se a viabilidade de manipular genes que fossem essenciais para o ciclo de vida do inseto-praga. Dentre estes, foram destacados a importância da quitina sintase II (CHS2) (MACEDO, 2012) e da vitelogenina (COELHO, 2013) para o desenvolvimento do bicudo-do-algodoeiro. Estes genes foram patenteados a fim de serem utilizados como genes alvo para silenciamento, visando o controle de A. grandis, por meio da transformação genética de plantas de algodão. Baseado nos resultados destes estudos, no presente trabalho foi realizada a transformação genética de algodoeiro por meio da técnica de biobalística, utilizando uma construção gênica contendo, de forma piramidizada, dois módulos gênicos, um módulo gênico visando a expressão de dsRNA e no outro, a superexpressão da entomotoxina Cry8Ka5, a fim de induzir resistência ao inseto A. grandis. Tratando-se de uma espécie de planta economicamente importante que, por sua vez, tem sofrido inúmeros ataques por esta praga, foram selecionados dois genes de suma importância para o ciclo biológico e desenvolvimento de A. grandis a fim de serem silenciados: CHS2 e vitelogenina (MACÊDO, 2012; COELHO, 2013). Além disso, dentre as entomotoxinas Cry foi escolhida para este trabalho aquela que melhor apresentasse potencial de ação em coleópteras, por isso, a proteína Cry8Ka5 (OLIVEIRA, 2008). Dessa maneira, foi sintetizado um cassete contendo ambas as estratégias, com seleção para o herbicida Imazapyr, utilizado nos meios de seleção. A metodologia de inserção do vetor nos embriões (biobalística) garantiu a eficiência esperada de transformação para o evento transgênico 0,54%. Segundo Rech et al. (2008), a eficiência do bombardeamento deve ser maior ou igual a 0,5% do total de embriões bombardeados, baseando-se na razão entre o número de plantas transgênicas e o número de embriões bombardeados. 46 A técnica de transformação utilizada nesse trabalho apresentou eficiência e maior do que a de transformação de algodão via tubo polínico que foi de 0,1% (OLIVEIRA NETO et al., 2005), reforçando a viabilidade da utilização da mesma para a transformação do algodão. As variedades de algodão GM resistente a alguns lepdópteros, expressando Cry2Ab2 e Cry2Ab2i, que é comercializado livremente no Brasil, foram obtidas em 2009 (BRASIL, 2009). Portanto, esse fato reforça a viabilidade do desenvolvimento e o lançamento de novas variedades de algodão GM para o controle de outros insetos-praga. Das 186 plantas de algodão que apresentaram resistência Imazapyr, 19 plantas continham as três sequências gênicas detectadas por PCR. Destas, apenas 11 expressaram a entomotoxina Cry8Ka5 detectada por ELISA variando entre 8 e 90 µg/g de tecido vegetal da entomotoxina em botões florais. De acordo com a literatura, a expressão de proteína Cry pode variar em função do tecido analisado, sendo maior para folhas apicais. Nos demais tecidos, o nível de expressão pode ser reduzido em até 44% em botão floral, 50% nos óvulos e 58% no pólen, quando comparados aos níveis de expressão em folhas apicais (GRENPLATE, 1999; SIVASUBRAMANIAM et al., 2008). Entretanto, no presente estudo, a utilização do promotor tecido-específico (GhPGFS1) aumentou a expressão de Cry8Ka5 nos botões florais, onde quase que 60% da plantas analisadas expressaram essa entomotoxina. Para a metodologia do RNAi não foram realizados experimentos demonstrando os níveis de expressão dos genes nas plantas de algodão GM. Entretanto, a partir da geração T1, foi realizado um desafio entre plantas GM e o inseto-alvo que revelaram uma possível atividade do silenciamento. Nas larvas de A.grandis alimentadas por 7 dias com botões florais de algodão GM, detectou-se pela técnica de qRT-PCR a diminuição da expressão de um dos genes alvo. A expressão de CHS2 da larva que se alimentou de botão floral do evento GM 7.5 foi seis vezes menor que a expressão na larva controle alimentada por botão floral não transgênico durante o mesmo período. Curiosamente, este evento T1 (7.5) é oriundo do parental T0 (7) que, dentre as plantas PCR positivas para os três genes, foi o que conferiu maior nível de expressão de Cry8Ka5 (60 µg/g). A larva alimentada com o evento 7.1 teve expressão de CHS2 semelhante ao controle. Isto demonstra o potencial do evento 7.5 para o controle de A. grandis. O fato dos outros eventos transgênicos T1 (7.1 e 7.2) originários do mesmo parental T0 (7) não terem 47 mostrado o silenciamento da CHS2 nas larvas, pode ser inferido pela possível inserção do transgene em alguma região não codificadora do genoma da planta. Apesar de não haverem sido concluídos todos os experimentos esperados para a caracterização das plantas de algodão resultantes desse trabalho, esses resultados demonstram a viabilidade da técnica de RNAi para obtenção de plantas de algodão GM resistentes ao bicudo-do-algodoeiro, contribuindo para o melhoramento genético desta cultura e, consequentemente, para o agronegócio brasileiro. 48 6. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que a técnica de biobalística foi eficiente no processo de transformação da cultivar de algodão BRS 372. Dos eventos PCR positivos para os três genes, 11 expressaram a entomotoxina Cry8Ka5 em níveis variando de 8 a 90 µg/g de tecido de botão floral, destacando-se para os eventos T0 3 e 156 (~90 µg/g) e o evento 7 (60 µg/g). Os dados mostraram que, houve redução na expressão de CHS2 nas larvas alimentadas com o evento transgênico 7.5 (T1), sendo 6 vezes menor, quando comparado com o controle. A transformação por meio da expressão de duas diferentes estratégias demonstrou ser eficiente e a piramidização de toxina Cry e dsRNA realizada, pode representar uma ferramenta eficaz para o controle do bicudo-do-algodoeiro. Futuros experimentos serão realizados para a caracterização molecular desses eventos transgênicos, assim como a avaliação da viabilidade das progênies das larvas alimentadas com botões florais oriundos dessas plantas. 49 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, R. W. D. S.; MARTINS, E. S.; RIBEIRO, B. M.; MONNERAT, R. G. Cry10Aa Protein is Highly Toxic to Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), an Important Insect Pest in Brazilian Cotton Crop Fields. Bt Research. v. 3, n. 4. p. 20-28. 2012. ALMEIDA, R. P.; SILVA, C. A. D. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. O Agronegócio do Algodão no Brasil. Brasilia, DF: Embrapa Informação Tecnológica. v. 2. p. 753-820, 1999. ALMEIDA, F.A.C.; MORAIS, A.M.; CARVALHO, J.M.F.C.; GOUVEIA, J.P.G. Crioconservação de sementes de mamona das variedades nordestina e pernambucana. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v.6. n.2, p.295-302, 2002. ALIMOHAMMADI, M.; BAGHERIEH-NAJJAR, M. B. 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