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Passadas firmes
Caminhar ajuda a controlar e aumentar fluxo de sangue para o cérebro, aponta
pesquisa
“O que é mais surpreendente é que demoramos tanto para finalmente medir estes óbvios efeitos hidráulicos no fluxo
sanguíneo para o cérebro” Ernest Greene Pesquisador americano
Caminhar ajuda a controlar e aumentar o fluxo de sangue para o cérebro, revela estudo. Praticamente todo
mundo já ouviu falar que caminhar faz bem para a saúde, mas um grupo de pesquisadores da Universidade
Highlands do Novo México, EUA, encontrou mais um inusitado benefício da prática. Segundo eles, o impacto dos
pés no chão produz ondas de pressão nas artérias que alteram significativamente o suprimento de sangue para o
cérebro, podendo ajudar a aumentá­lo.
MARCIA FOLETTO/ 31­3­2011
Bons hábitos. Homem caminha em Copacabana: testes em adultos saudáveis andando em ritmo
constante a 3,6 km/h mostraram a ação do impacto suave dos pés nas artérias
Até pouco tempo atrás, achava­se que o fluxo de sangue para o cérebro era regulado de forma involuntária
pelo corpo, sendo pouco afetado por mudanças na pressão causadas por exercícios. Recentemente, no entanto,
cientistas da mesma universidade americana e de outras instituições descobriram que o impacto dos pés no chão
durante a corrida geravam forças equivalentes a entre quatro e cinco vezes a da gravidade terrestre. Estas forças,
por sua vez, produziam ondas de pressão nas artérias que se sincronizavam com a frequência cardíaca e o ritmo
das passadas, regulando a circulação de sangue no cérebro de forma dinâmica. EXPERIMENTO COM ULTRASSOM
Diante disso, os pesquisadores decidiram verificar se algo parecido acontecia nas caminhadas. Para tanto, eles
usaram ultrassons para calcular o fluxo sanguíneo em ambos hemisférios cerebrais a partir de medidas tanto da
velocidade destas ondas quanto do calibre das artérias carótidas de 12 jovens adultos saudáveis enquanto
ficavam parados em pé ou andavam de forma constante num ritmo tranquilo, de cerca de 3,6 km/h. Eles então
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constataram que embora o impacto dos pés no chão durante uma caminhada seja muito menor do que numa
corrida, andar calmamente ainda produzia ondas de pressão poderosas o bastante para elevar o fluxo de sangue
para o cérebro.
— O que é mais surpreendente é que demoramos tanto para finalmente medir estes óbvios efeitos hidráulicos
no fluxo sanguíneo para o cérebro — diz Ernest Greene, líder do estudo, que apresentou seus resultados em
palestra ontem durante a reunião anual da Sociedade Americana de Fisiologia (APS, na sigla em inglês) como
parte da conferência Experimental Biology 2017, que acontece desde sábado e vai até amanhã em Chicago. — Há
uma otimização de ritmo entre o fluxo sanguíneo cerebral e o caminhar. Tanto o ritmo das passadas quanto seus
impactos com os pés estão dentro da gama de uma frequência cardíaca normal, de até cerca de 120 batimentos
por minuto, quando nos movemos de forma apressada.
Cardiologista e diretor de pesquisas da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), Claudio Gil Araújo lembra
que o fluxo de sangue para o cérebro não é regulado por um único mecanismo, mas reconhece que a descoberta
do grupo americano, embora aparentemente em caráter preliminar, reforça a noção de que o corpo busca
sincronizar seus ritmos para atingir um equilíbrio entre o metabolismo e a atividade motora.
— Nosso corpo é um mecanismo complexo que nenhuma máquina conseguiu imitar ainda, com um
acoplamento entre a respiração e a atividade cardíaca e entre a ação motora e a resposta cardiorrespiratória —
destaca. — Assim, num organismo saudável, o cérebro tem uma espécie de comando central, uma função alta e
sofisticada, que informa o corpo para realizar uma atividade motora e depois “ouve” as respostas do próprio corpo
para modular esta atividade em busca, em última instância, da homeostasia, isto é, de manter todos seus
parâmetros constantes, como a quantidade de oxigênio disponível para os músculos, mesmo em situações de
estresse físico, como durante a prática de exercícios.
Outro que não se surpreendeu com a constatação dos pesquisadores americanos foi o especialista em
preparação física e coaching em tempo integral Nuno Cobra Júnior. Segundo ele, o benefício das caminhadas para
o fluxo sanguíneo cerebral já era conhecido desde a Grécia antiga, embora ele também admita que a descoberta
de um mecanismo hidráulico envolvido neste processo seja um importante passo para aprofundar nossa
compreensão da causa e do modo como isso acontece.
— Aristóteles já dizia que andar é a melhor forma de pensar — cita. — Sabemos também, por exemplo, que a
atividade física leve ou moderada promove a neurogênese, isto é, a produção de novos neurônios, e que criamos
novas conexões intraneurais através do aprendizado de movimentos novos. Tudo isso mostra a importância da
atividade motora para a saúde cerebral. E é por isso também que os efeitos da atividade física no cérebro estão
sendo cada vez mais estudados pela neurociência.
Já o neurologista Daniel de Souza e Silva, pesquisador em neurofisiologia na Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj), ressalta que, embora o mecanismo descrito pelos cientistas americanos seja de uma simplicidade
surpreendente, o material disponível sobre o estudo ainda é limitado, não trazendo, por exemplo, uma
quantificação do efeito das caminhadas sobre o fluxo sanguíneo cerebral.
— Depois de demonstrado, este mecanismo se mostra um tanto óbvio, mas a falta de mais dados coloca em
dúvida seu real impacto na saúde e funcionamento do cérebro — considera. — Por isso quem faz a prática clínica
como eu fica muito cauteloso na hora de abraçar uma conclusão dessas. Ainda assim, prevejo para o futuro uma
série de outros artigos e estudos se baseando e ampliando esta descoberta, já que estes achados costumam
começar assim, como algo observacional.
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