Introdução

Propaganda
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
Introdução
Um animal que consiga prever o futuro possui uma grande vantagem em
relação a outro que não consiga. A previsão, e até certo ponto o controlo do futuro, é
do que se trata a aprendizagem. Através da aprendizagem, o animal adquire a
oportunidade de responder a sinais a sua volta, por exemplo a reacção de uma galinha
ao som de um besouro, antes que qualquer coisa ocorra, quando o besouro aparece é
capturado.
Os animais aprendem, e podem mesmo mudar os seus comportamentos de
modo a evitar situações indesejadas e a provocar as situações desejadas.
Se se perceber a função da aprendizagem como uma ajuda dos animais a prever e a
controlar próximos acontecimentos, é mais fácil a compreensão dos princípios que se
descrevem seguidamente.
Conhecimento
O conhecimento é descrito como um processo psíquico, não observável
directamente, mas que se pode inferir através de provas científicas. O problema está é
que estas provas variam muito de cientista para cientista e portanto são também muito
variáveis as capacidades que se atribuem aos animais. A posição tomada neste
capítulo é o cepticismo: um princípio científico muito popular que diz que se deve optar
pela explicação mais simples quando nos é apresentada mais do que uma.
Cânon de Lloyd Morgan:
“Em caso nenhum se deve interpretar uma acção como consequência da
implementação de uma elevada potência física, ela pode ser interpretada como o
resultado de uma potência que está abaixo do nível psicológico”
A consciência é um tema que de que se fala muitas vezes quando se discute
sobre o conhecimento. A explicação mais lógica é que os animais, pelo menos os
vertebrados, são conscientes do que ocorre à sua volta. Contudo isto não constitui
uma razão válida cientificamente. Praticamente foi demonstrado que é quase
impossível definir ou demonstrar a consciência dos animais, e ainda os cientistas
actuais variam entre os que consideram que grande variedade dos animais são
conscientes (Griffin, 1992) e os que consideram que apenas o Homem é consciente
(MacPhail, 1998). Entre os cientistas cognitivos, excepto os que estudam os primatas,
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
há uma maior tendência ao estudo do uso da informação e sua codificação do que à
consciência em si.
É fácil relacionar condutas complexas com habilidades mentais ou cognitivas
complexas. Um exemplo conhecido, que mostra os perigos disto é as variedades
higiénicas e não higiénicas nas abelhas. As abelhas higiénicas destapam os alvéolos e
retiram de lá as larvas mortas, as não higiénicas não o fazem. O cruzamento entre
abelhas
higiénicas
e
não
higiénicas
resultou
descendência
com
os
dois
comportamentos, havendo descendentes que se comportavam como as higiénicas e
outras como não higiénicas, no entanto apareceram também abelhas que só
destapavam os alvéolos e outras que só retiravam as larvas, mesmo sem tirar os
alvéolos. A existência de apenas metade do comportamento higiénico em alguns
indivíduos, defende, claramente, contra qualquer explicação sobre a representação de
objectivos muito complexos.
É importante recordar que ainda que não exista prova científica para uma
determinada qualificação, não significa que os animais não tenham capacidade
cognitiva. Além disso, não se tem prova científica para a auto-consciência em frangos,
no entanto não se pode negar completamente que não a tenham, só não é possível
demonstrá-lo. É importante diferenciar entre o provado cientificamente e o que se
provará no futuro quando nos referimos a questões de bem-estar animal. Dar aos
animais o benefício da dúvida não é uma questão científica mas de humanidade.
Aprendizagem experimental
Aprendizagem experimental é o processo de aprendizagem pelo qual a
reacção do animal perante um acontecimento vai depender de se ele já tinha estado
perante o mesmo acontecimento anteriormente. Ao contrário da aprendizagem
associativa, aqui não há ligação entre dois eventos diferentes. A aprendizagem
experimental inclui a habituação e a sensibilização.
Habituação: é o tipo de aprendizagem mais fácil e é ubiquitário em todo o reino animal.
Define-se como a diminuição da resposta inata pela aparição repetida de um
determinado estimulo
Habitualmente ocorre numa de duas maneiras:
 Uma delas é por exemplo quando um cavalo ouve pela primeira vez o sussurro
do vento a passar pelas folhas. Isto faz com que o cavalo fuja, no entanto se o
sussurro do vento permanecer sem que aconteça mais nada, por exemplo
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
aparecimento de lobos ou outro predador atrás das árvores, o cavalo acaba por
deixar de responder desta forma ao estímulo. Tem relação estreita com os
fenómenos de extinção que serão abordados mais à frente.
 A outra é a diminuição da resposta quando se apresenta um estímulo hedónico
(está num intervalo entre desejável e indesejável), ou quando se apresenta
continuamente um recurso (comida ad libitum em galinhas). Se medirmos a
quantidade de comida ingerida pela galinha durante 10min, tendo esta a
comida sempre a disposição, e depois de se lhe retirar a comida voltarmos a
medir a quantidade comida durante 1min vamos verificar um aumento da
quantidade ingerida, uma vez que o retirar a comida aumentou a atenção da
galinha sobre esta quando lhe e recolocada.
Sensibilização: é o outro tipo de aprendizagem observacional. Aqui o animal vai estar
rodeado de estímulos hedónicos, como a luta contra um predador, isto torna mais
provável a reacção do animal a qualquer novo estímulo, como se de um novo ataque
se tratasse. Este tipo de aumento de sensibilidade também se dá por outros sistemas
motivacionais, como por exemplo a procura de comida. Por exemplo um galo que
encontro um besouro poderá interpretar qualquer som ou movimento à sua volta como
um sinal de presença de comida. Num momento de stress é frequente o animal reagir
de maneira brusca a mudanças à sua volta, uma vez que está sensibilizado, quando
os níveis de stress baixam o animal começa a adaptar-se ao ambiente em seu torno.
Aprendizagem associativa
Na aprendizagem associativa o animal relaciona eventos. No condicionamento
clássico a relação é entre dois estímulos, enquanto que no condicionamento
instrumental a relação ocorre entre um estímulo e uma resposta.
Condicionamento Clássico
Um bom melro é um melro que sabe encontrar minhocas. Para que seja capaz
de prever onde encontrá-las deve associar dois eventos um com o outro, assim tem de
associar as características do habitat natural e se há ou não minhocas. Este tipo de
aprendizagem onde há associação de dois acontecimentos\estímulos chama-se
condicionamento clássico ou pavloviano.
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
Aqui vai ser associado um estímulo condicionado a outro que é incondicionado,
esta associação é detectada quando o animal responde ao estímulo condicionado
como se tratasse do estímulo incondicionado. No caso do cão do Pavlov começava a
salivar quando este tocava uma campainha (EC), resposta que daria perante a
apresentação de comida (EI). É importante lembrar que durante a experiência os dois
estímulos foram sendo associados um com o outro para que o cão produzisse esta
mesma resposta.
Associação EC-EI-R:
O estímulo condicionado evoca o estímulo incondicionado e este desencadeia a
resposta, associação denominada de estímulo-estímulo.
Associação EC-R:
O estímulo condicionado provoca a mesma resposta que o estímulo incondicionado,
no caso a campainha já só por si provocaria salivação no cão.
No primeiro caso o animal “sabe” que a campainha precederá a apresentação
de comida (importante explicitar o tipo de conhecimento e se o animal é consciente
dele), contudo no segundo caso o animal reage à campainha como reagiria à
apresentação de comida logo não é necessário postular nenhum tipo de conhecimento
para explicar esta resposta. A segunda situação é uma situação mais behaviorista,
enquanto que a primeira é mais cognitiva.
Experiências demonstram que a associação EC-EI-R se desenrola com
facilidade. Holland e Straub realizaram uma experiência com ratas para associar o
som de uma explosão com a caída de um novo tipo de alimento no comedouro, sendo
a resposta incondicionada a aproximação delas ao comedouro, e mal ouviam o som as
ratas logo se acercavam do comedouro. Se em vez de se lhes oferecer comida estas
forem injectadas com LiCl, provocando-lhes náuseas, na vez seguinte uma de duas
coisas pode acontecer. Assim se foi desenvolvida uma associação EC-R, o
desconforto causado pelo LiCl não vai afectar a sua resposta e as ratas acercar-se-ão
do comedouro, no entanto se foi desenvolvida uma associação EC-EI-R e devido ao
novo alimento não ser considerado comestível elas não desenvolverão esse
comportamento de se dirigirem aos comedouros. Esta ultima situação é muito mais
fácil de ocorrer do que a primeira.
Através da associação EC-EI-R o animal é capaz de alterar o seu
comportamento de forma muito flexível, e inclusive levar a uma resposta adaptada a
uma nova situação.
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
Os animais são capazes de imaginar que um estímulo condicionado pode
predizer diferentes consequências. Numa experiência realizada com macacos que
tinham de seleccionar uma entre duas fontes de alimentação, eles eram
recompensados com bananas, no entanto por vezes estes eram recompensados com
folhas de alface. Em muitos casos o macaco recusava a folha de alface e observava a
sua volta, por vezes irado o macaco começava mesmo a uivar para os observadores.
Isto advém da possibilidade do animal criar expectativas, e quando essas expectativas
não se cumprem há frustração do animal. Isto não é exclusivo dos macacos assim em
galinhas a quem se retirou o alimento que esperavam, foi notório um aumento dos
comportamentos agressivos.
A hipótese EC-R é mais significativa que a hipótese EC-EI-R, sendo ao mesmo tempo
menos intuitiva. É difícil pensar que o cão de Pavlov não soubesse que a campainha
predizia a presença de comida.
Na verdade parece que nas aves e mamíferos se formulam os dois tipos de
associação e que a força relativa de um em relação ao outro vai determinar o
comportamento do animal.
A força de cada associação depende de varias coisas como a espécie do animal e a
circunstâncias específicas, e portanto vem determinada por cada caso. Contudo
falando no geral, um treino prolongado favorece a associação EC-R.
Condicionamento operante, instrumental, tentativa-erro
Um esquilo para abrir uma avelã tem de roê-la, no entanto se nunca se
deparou com esta situação o esquilo vai roê-la aleatoriamente demorando mais tempo
a chegar ate à noz, no entanto um esquilo mais experiente abrirá a noz muito mais
rápido, facilmente e com esforço mínimo. Portanto o esquilo vai aprendendo as
consequências dos seus actos e vai mudá-lo em função destas.
Enquanto que no condicionamento clássico o animal associa dois estímulos, no
condicionamento operante o comportamento do animal depende dos resultados
prévios desse comportamento. Se o resultado for desejável o animal repetirá o
comportamento, se não o animal executará menos essa conduta.
Comportamento Animal
Nome
Aprendizagem e Conhecimento
Consequência
Resultado
Exemplo
Comportamento
Reforço positivo
produz
Animal tende a repetir
consequências
comportamento
Castigo positivo
produz
consequências
Diminuição
da
repetição
do
comportamento
indesejadas
Comportamento
Reforço negativo
previne
ou
evita Animal tende a repetir
situações
comportamento
Castigo negativo
previne
ou
consequências
desejadas
evita
Diminuição
da
repetição
do
comportamento
cão
obedece
é
lhe
O dono gritar ao cão
quando este morde
Se o cão se mostra
submisso os outros
não lhe mordem
desagradáveis
Comportamento
o
oferecido um biscoito
desejáveis
Comportamento
Quando
Se o cão ladra não
lhe é dado o biscoito
O comportamento por si só é frequentemente insuficiente para obter o
resultado desejado no caso, às vezes o animal prefere realizar o comportamento e
obter um estímulo discriminativo. Sentar-se não garante ao cão uma bolacha, no
entanto a realização deste comportamento quando alguém o manda sentar-se é
garantia de uma bolacha. Os estímulos discriminativos podem ser únicos (como
“senta-te”), mas também pode ser todo o contexto no qual tem lugar o
condicionamento, por exemplo o lugar, o cheiro, o som. Por exemplo se ensinamos um
cão a sentar-se, e o condicionamento ocorrer sempre debaixo de tecto, este poderá ter
tendência a não obedecer a esta ordem quando ao ar livre. Isto não significa que o cão
seja desobediente, só que lhe faltam parte dos estímulos discriminativos que lhe
indicam que se realizar o comportamento será recompensado.
As associações neste caso podem ser:
 E-R: A rata vê uma alavanca, e pressiona-a
 E-R-EI: A rata sabe que pressionando a alavanca será fornecido alimento
No segundo caso o animal é capaz de prever o resultado do seu comportamento ainda
que não o tenha realizado. Isto significa que se, e só se, uma espécie for capaz de
formular a associação E-R-EI, então pode dizer-se que atinge o seu objectivo através
do seu comportamento.
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
No condicionamento operante podem haver associações pavlovianas quando
o animal está atento a estímulos discriminativos, por vezes o animal acaba mesmo por
realizar associações pavlovianas em vez de instrumentais. Exemplo é quando se
ensina um cão a correr para a frente quando dizemos a palavra “forward” e dando-lhe
um biscoito como recompensa. O animal pode relacionar:
 Comportamento e reforço
o
“Forward” e o reforço
o
Treinador e o reforço
Isto significa que há uma tendência do cão em correr para a frente, para longe do
treinador, já que só desta forma será recompensado. No entanto existe outra
tendência para explicar a corrida para a frente do cão. Assim inatamente o animal
aproxima-se da comida, não se afasta, no entanto a resposta correr para a frente
passa a ser a RC ao EC, “forward” e o treinador. A conduta do animal depende da
força relativa de ambos os processos. O comportamento do animal terá sempre de
estar mais perto do reforço do que o estímulo discriminativo. Neste caso se o animal
estiver esfomeado estará relutante em correr e a fazê-lo será sempre uma pequena
distancia, ainda que se pensasse que este facto faria com que o animal realiza-se o
comportamento mais facilmente de modo a ser recompensado.
Um tipo de condicionamento operante a que se deve dar atenção especial é o
caso da evitação activa de comportamentos. Neste caso o comportamento impede ou
para a ocorrência de um estimulo (reforçado negativamente). Infelizmente algumas
espécies usarão rapidamente comportamentos agressivos como evitação de
respostas. Uma ratazana pode tornar-se agressiva enquanto está a ser condicionada,
a resposta será a hesitação do treinador, logo o comportamento da ratazana inibiu a
aproximação do treinador. Comportamentos agressivos estabelecem-se rapidamente e
são de difícil extinção.
Extinção
Extinção é um tipo especial de aprendizagem que ocorre quando um
determinado de comportamento deixa de ser recompensado. A primeira reacção do
animal será um aumento da realização do comportamento, mas após algum tempo
acaba por desaparecer. O animal não esquece o que aprendeu, mas sabe que a
associação anterior não está mais em vigor. Isto pode verificar-se no fenómeno de
recuperação espontânea.
Nem todas as associações são igualmente fáceis de extinguir. Geralmente um
animal que durante o treino seja reforçado ao acaso terá mais facilmente exposição à
Comportamento Animal
Aprendizagem e Conhecimento
extinção do que um que possui um horário e actividades definidas (efeito de extinção
parcial do reforço). O EEPR pode ser usado para que o animal continue a exibir
determinado comportamento mesmo sem qualquer reforço.
Download