Relato de Caso Carcinoma Renal Cromófilo Hereditário – Relato de Caso Chromophilic Hereditary Renal Cell Carcinoma Luis Alberto Batista Peres1, Sérgio Luiz Bader2, Júlio Ricardo Ramos3, Alexandre Galvão Bueno4 1Professor Assistente da Disciplina de Nefrologia da UNIOESTE, 2Professor auxiliar da disciplina de Urologia da UNIOESTE, 3Acadêmico do Curso de Medicina da UNIOESTE, 4Patologista do ANATON - Laboratório de Patologia de Cascavel - PR RESUMO O carcinoma renal papilar é uma neoplasia maligna que representa 5 a 10% de todos os carcinomas de células renais, ocorrendo bilateralmente em 0,4 a 5% dos casos. Descrevemos o caso de um paciente de 43 anos, do sexo masculino, branco, história familiar positiva para carcinoma renal papilar, com diagnóstico incidental de tumor cístico múltiplo bilateral, que foi, em um primeiro tempo, submetido a nefrectomia unilateral esquerda. O paciente recusou-se a seguir a orientação de nefrectomia contralateral e terapia renal substitutiva regular e seu acompanhamento foi perdido. (J Bras Nefrol 2005;27(4):226-227) Descritores: Carcinoma. Renal. Cromófilo. Papilar. Tumor. ABSTRACT Papillary renal cell carcinoma is a malignant neoplasia which represents 5-10% of all renal cell carcinomas, occurring bilaterally in 0.4–5%. We describe a case of a papillary renal cell carcinoma in a 43-year-old man who was admitted after an incidental diagnosis of a bilateral multiple-cystic tumor. He had a positive familial history for papillary renal cell carcinoma. As a first step, the patient was submitted to unilateral left nephrectomy. He refused to undergo contralateral nephrectomy and maintenance dialysis and his follow-up was lost. (J Bras Nefrol 2005;27(4):226-227) Keywords: Carcinoma. Kidney. Chromofilic. Papillary. Tumor. INTRODUÇÃO O carcinoma renal papilar ou cromófilo corresponde a 10 a 15% dos tumores de células renais, sendo o segundo tipo mais freqüente e caracterizado por metástases freqüentes. É mais comum em indivíduos idosos e naqueles residentes em zonas urbanas1. Pode ocorrer esporadicamente ou devido à transmissão genética autossômica dominante, cujo gene se localiza no cromossomo 7q31.1-34, 17, por perda no cromossomo Y e ganhos nos cromossomos 3q, 8p, 12q, 16q e 20q. A forma familiar frequentemente se apresenta multifocal e bilateral1-3. Relatamos, a seguir, um caso de carcinoma renal papilar multifocal e bilateral em paciente jovem do sexo masculino com história familiar. RELATO DO CASO Paciente de 43 anos, branco, sexo masculino, submetido a ecografia de rotina que revelou rim direito com massa heterogênea em pólo superior medindo 4,2 x 3,3cm e rim esquerdo com contorno lobulado e massa heterogênea em pólo superior medindo 5,5 x 4,7cm, sem aparente comprometimento extra-renal. História familiar (irmã) positiva para carciRecebido em 18/02/05 / Aprovado em 25/04/05 Endereço para correspondência: Luis Alberto Batista Peres R. São Paulo 769, apto. 901 85801-020 Cascavel, PR Telefone: (45) 3327-2295 Fax: (45) 3327-3413 E-mail: [email protected] J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 4 - Dezembro de 2005 227 Figura 1. Rim esquerdo medindo 13,2 x 10,1cm, com formações nodulares em meio ao parênquima, medindo entre 0,5 e 1,7cm, com infiltração de cápsula e tecido adiposo subjacente, com margens cirúrgicas livres. Figura 2. Neoplasia de origem epitelial com arranjos papilares, corpos psamomatosos e células contendo núcleos hipercromáticos e pleomórficos. noma papilar. Submetido à tumorectomia que revelou, ao exame microscópico, presença de neoplasia de origem epitelial com arranjos papilares, células contendo núcleos hipercromáticos e pleomórficos, além de corpos psamomatosos, confirmando o diagnóstico de carcinoma de células renais papilífero. Submetido 40 dias depois à nefrectomia radical esquerda (figura 1), devido a controle ecográfico que revelou recidiva de múltiplos nódulos tumorais de diâmetros > 4cm, cujo anátomo-patológico revelou infiltração da cápsula e tecido adiposo subjacente, estroma com focos de calcificação (figura 2), margens cirúrgicas livres, sendo classificado como carcinoma de células renais cromófilo papilar de grau 2 e estadiado como T2N0Mx. Após indicação pela equipe de nefrectomia contralateral e tratamento dialítico crônico, perdemos o seguimento do paciente. A cirurgia conservadora pode ser feita com baixo risco de recidiva em tumores menores de 4cm, únicos, com rim contralateral não comprometido; no entanto, em síndromes tumorais bilaterais, a cirurgia conservadora apresenta alto risco de recidiva, muitas vezes optando-se por nefrectomia radical bilateral seguida por tratamento dialítico definitivo6. No caso aqui descrito foi realizada nefrectomia unilateral e houve perda de seguimento do paciente, que se apresentou resistente à nefrectomia bilateral e ao tratamento dialítico. DISCUSSÃO Descrevemos o caso de um carcinoma renal papilar ou cromófilo hereditário. É o tumor mais comum em indivíduos idosos, ocorrendo geralmente após a quarta década de vida. Consideramos este caso como a forma hereditária, pelo fato de o paciente ter história familiar de tumor renal bilateral e multifocal do tipo papilar. O carcinoma de células renais bilateral pode apresentar-se de forma sincrônica ou assincrônica, e estima-se que representa 0,4 a 5% de todos os casos de carcinomas renais4. Há casos descritos de carcinoma renal bilateral familiar, com acometimento de vários membros de uma mesma família. O diagnóstico diferencial se faz com a enfermidade de Von Hippel-Lindau, carcinoma de células renais papilar hereditário, síndrome de Birt-Hogg-Dube e oncocitoma renal familiar5. REFERÊNCIAS 1. Kuroda N, Toi M, Hiroi M, Enzan H. Review of papillary renal cell carcinoma with focus on clinical and pathobiological aspects. Histol Histopathol 2003;18:487-94. 2. Gunawan B, von Heydebreck A, Fritsch T, Huber W, Ringert R, Jakse G, et al. Cytogenetic and morphologic typing of 58 papillary renal cell carcinomas: evidence for a cytogenetic evolution of type 2 from type 1 tumors. Cancer Res 2003;63:6200-5. 3. Zbar B, Tory K, Merino M, Schmidt L, Glenn G, Choyke P, et al. Hereditary papillary renal cell carcinoma. J Urol 1994;151(3):561-6. 4. Petritsch PH, Rauchenwald M, Zechner O, Ludvik W, Pummer K, Urlesberger H, et al. Results after organ-preserving surgery for renal cell carcinoma an Australian multicenter study. Eur Urol 1990;18:84. 5. Herring JC, Enquist EG, Chernoff A, Linehan WM, Choyke PL, Walther MM. Parenchimal sparing surgery in patients with hereditary renal cell carcinoma: 10-year experience. J Urol 2001;165(3):777-81. 6. Domínguez MD, Rodríguez RQ, Suárez RI, Maestre JM, González JE. Carcinoma de células renales bilateral sincrónico. Presentación de un caso. Actas Urol Esp 2002;26(10):796-80.