FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER BUCAL NA POPULAÇÃO IDOSA DO CASCAVEL VELHO Khenya Vieira Coutinho 1 Adriane de Castro Martinez Martins RESUMO A população brasileira de idosos irá aumentar 16 vezes entre 1950 e 2025, sendo que hoje os brasileiros com mais de 60 anos representam 8,6% da população. Dentro deste panorama, a prevenção do câncer bucal passa a ser um ponto extremamente importante a ser discutido, uma vez que é nessa faixa etária onde encontramos a maior incidência. O presente estudo teve como objetivo realizar o levantamento dos fatores de risco para câncer bucal. A coleta de dados foi realizada durante visita domiciliar das Agentes Comunitárias de Saúde e após realização de palestra direcionada aos grupos de Idosos do bairro. Através do exame clínico identificamos a presença de doenças crônicas, história médica e odontológica e a presença de hábitos nocivos que podem levar ao desenvolvimento de lesões cancerizáveis. Foram avaliados 48 idosos, com idades entre 60 e 87 anos, sendo 68,75% do gênero feminino. Fatores de risco para o câncer bucal foram identificados em 67% (n=32) dos pacientes avaliados, representados pela má higiene, etilismo, tabagismo, consumo diário de chimarrão e alterações teciduais. A necessidade de atendimento odontólogico foi observada em 85% da população. Desta forma concluímos, que é extremamente importante o desenvolvimento de ações de saúde bucal direcionadas aos idosos, que ainda representam um segmento da população que não possui a assistência adequada dos serviços de saúde , representada pela alta necessidade de tratamento que encontramos e pela presença de fatores de risco que podem aumentar a incidência de várias doenças , entre elas o câncer bucal. 1 Trablaho de Conclusão de Curso, Colegiado de Odontologia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel/PR . Rua Arquitetura, 1069 quitinete- 2 tel:8406 24 79 [email protected] PALAVRAS-CHAVE: idosos, câncer bucal, fatores de risco INTRODUÇÃO A população brasileira de idosos de acordo com a OMS irá aumentar 16 vezes entre 1950 e 2025, sendo que hoje os brasileiros com mais de 60 anos representam 8,6% da população. Esta proporção chegará a 14% em 2025, representando a sexta maior população idosa do mundo, com cerca de 32 milhões de pessoas com idade acima de 60 anos (OLIVEIRA; ODELL, 2001; BRASIL, 2003). Essa realidade é fruto da melhora das condições de vida e do acesso aos avanços da medicina como medidas profiláticas, saneamento básico, controle de doenças parasitárias, imunização de doenças infecciosas, controle das infecções por antibióticos e tratamentos preventivos das doenças fatais. Com o aumento da expectativa de vida da população, o conceito na saúde de qualidade de vida, passou a ser visto no sentido ampliado, apoiado na compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais, tendo no conceito de promoção da saúde seu foco mais relevante, e estando centrado na capacidade do idoso viver sem doenças ou de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidade (MINAYO, 2000). A saúde bucal é parte integrante e inseparável da saúde geral do indivíduo e está relacionada diretamente com as condições de saneamento, alimentação, moradia, trabalho, educação, renda, transporte e lazer, liberdade e acesso e posse de terra ao serviço de saúde e informação. O atendimento a um indivíduo idoso apresenta características peculiares sendo necessário o conhecimento de alguns princípios básicos e essenciais. O envelhecimento constitui-se em um processo biológico, necessitando-se diferenciar entre o que é patologia e o que é conseqüência normal da idade; um dos principais critérios utilizados para identificar um idoso bem sucedido é a manutenção por toda a vida de sua dentição natural, saudável e funcional, e todos os benefícios biológicos e sociais que possam advir dela com estética, conforto e capacidade mastigatória (PUCCA JR, 2002). A odontogeriatria foi reconhecida como especialidade pelo conselho federal de odontologia do ano de 2001, e foi definida, segundo Werner et al (1998), como o ramo da odontologia que enfatiza o cuidado bucal da população idosa, especificamente tratando do atendimento preventivo e curativo de pacientes com doenças ou condições de caráter sistêmico e crônico associados a problemas fisiológicos, físicos e psicológicos. É importante que a saúde bucal, antes negligenciada, passe a fazer parte dos requisitos necessários para se alcançar uma qualidade de vida adequada para os idosos, uma vez que quando há comprometimento da mesma, verificamos um reflexo negativo no nível nutricional, no bem estar físico e mental, e também no convívio social desta população. Para tanto, um programa de saúde bucal coletiva direcionado às pessoas idosas deve incluir a detecção de problemas nos tecidos moles, no periodonto e nos dentes remanescentes, além de avaliar a higiene bucal, a necessidade de próteses e a condição das existentes (BRUNNETTI, 2003). Dentro deste panorama, a prevenção do câncer de boca passa a ser um ponto extremamente importante a ser discutido, uma vez que a faixa etária onde encontramos a maior incidência é a terceira idade (PUCCA JR, 1999). Embora seja considerado de fácil diagnóstico, uma vez que na maioria dos casos podemos visualizar a lesão na cavidade bucal, o câncer de boca em mais de 80% dos casos ao serem atendidos em serviços especializados pela primeira vez, encontramse em fase avançada da doença - estádio III e IV, fato que prejudica o prognóstico da doença (WECKX, 1993). A estimativa de incidência para 2005 no Brasil aponta este tumor como sendo o oitavo mais freqüente entre os homens e o nono entre as mulheres, reafirmando sua posição de destaque entre os tumores malignos do organismo (INCA, 2005). No Estado do Paraná observou-se um aumento na taxa de mortalidade por câncer de boca, sendo que nos homens essa taxa era de 3,88% no período de 1979-1983 e passou para 4,25% no período de 1995-1999. Neste último período as taxas consolidadas apresentadas pelo estado, 3,98%, não apresentam diferença estatística da encontrada para o Brasil, 4,06% (BRASIL, 2002). Dentre os fatores responsáveis pelo diagnóstico tardio do câncer bucal está o fato da maioria dos pacientes serem idosos, desdentados e que não possuem o hábito de visitar o cirurgião-dentista. No entanto o medo e/ou a falta de conhecimento, a inacessibilidade aos serviços de saúde, a falha do profissional no diagnóstico precoce e a inexistência de sintomas nas lesões iniciais também contribuem para este quadro (OLIVEIRA;ODELL, 2000). Com etiologia multifatorial e complexa, a ocorrência do câncer de boca pode ser influenciada tanto por fatores ambientais como por fatores relacionados ao hospedeiro. Dentre os fatores de risco para o seu desenvolvimento estão o tabagismo, o etilismo, a exposição profissional, os traumatismos crônicos, os hábitos de higiene bucal, fatores nutricionais, estados de imunodeficiência, infecções fúngicas e virais, a radiação ultravioleta, o uso de fogão a lenha, o grupo étnico e as condições socioeconômicas (PUCCA JR, 1999; OLIVEIRA; ODELL, 2000; KOWALSI; NISHIMOTO, 2000). Além dos fatores de risco existem também as lesões cancerizáveis, que é definida pela Organização Mundial de Saúde, “como sendo um tecido morfologicamente alterado no qual é mais provável a ocorrência de câncer do que no tecido local normal“. São consideradas lesões cancerizáveis de alto risco a leucoplasia, eritroplasia, estomatite nicotínica e líquen plano, e de baixo risco a hiperplasia gengival, periodontite, lesões brancas reativas e a candidose hiperplásica crônica (OLIVEIRA; ODELL, 2000; TAVARES, 2000). A prevenção e o diagnóstico precoce do câncer bucal cabe ao cirurgião-dentista realizar durante a sua rotina de atendimento, através da realização de um correto exame clínico, afastamento os fatores de risto do idoso, diagnosticando e tratando as lesões cancerizáveis, realizando exames complementares e orientando e estimulando a realização do auto-exame bucal. OBJETIVOS O presente estudo teve como objetivo realizar o levantamento dos fatores de risco para câncer bucal na população idosa residente no Bairro Cascavel Velho na cidade Cascavel/PR. METODOLOGIA Participaram deste estudo indivíduos de ambos os gêneros, maiores de 60, que residiam no Bairro Cascavel Velho, no município de Cascavel/PR e que são atendidos pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da Unidade Básica de Saúde (UBS) do referido bairro. O desenvolvimento dessa pesquisa seguiu as normas da Resolução 196/96-CNS, garantindo a integridade dos sujeitos mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná CEP/Unioeste. A coleta de dados foi realizada durante visita domiciliar das Agentes Comunitárias de Saúde e também após a realização de palestras direcionadas aos idosos, os quais foram convidados a participar pelas ACS da UBS do bairro. Após realização da palestra realizou-se a coleta de dados através do exame clínico odontológico, ou seja, anamnese e exame físico intra-bucal. Para a semiografia dos dados utilizou-se a ficha padrão da Clínica Odontológica da Unioeste. Na anamnese buscou-se identificar a presença de doenças crônicas, a história médica e odontológica e a presença de hábitos nocivos como exposição solar, tabagismo, etilismo, que são considerados fatores de risco para o câncer bucal. Foram também coletados dados demográficos (sexo, idade e grupo étnico) dos idosos. O exame físico intra-bucal foi realizado na UBS, com luz natural e espátula de madeira. Durante o exame intra-bucal buscou-se identificar as alterações na mucosa bucal, nos elementos dentários, nas próteses e as condições de higiene de cada indivíduo. Todos os idosos que apresentavam lesões na mucosa, ou que necessitavam de exame complementar para o diagnóstico, foram encaminhados para atendimento na Clínica Odontológica da Unioeste na Disciplina de Estomatologia. RESULTADOS Foram avaliados 48 idosos, com idades entre 60 e 87 anos, com idade média de 70,16 anos, sendo 68,75% (n=33/48) do gênero feminino e 31,25% (n=15/48) do gênero masculino. Quarenta e seis por cento (n=22) eram portadores de prótese removível e destes, 56% (n=12/22) apresentavam problemas de estabilidade. Gráfico 1 - Percentual do fatores de risco identificados nos idosos do Bairro Cascavel Velho (n=32) 40 29 15 12 4 Má Higiene Alteração tecidual Tabagismo Fatores de risco para o câncer bucal foram Hábito nocivo Etilismo identificados em 67% (n=32) dos pacientes avaliados, representados pela má higiene (n=21), etilismo (n=2), tabagismo (n=8), consumo diário de chimarrão (n=6) e alterações no tecido mucoso (n=15). No Gráfico 1 observamos a distribuição percentual destes fatores. As alterações no tecido mucoso (Gráfico 2) apresentaram-se como lesões vermelhas (n=7), lesões brancas (n=4), lesões nodular (n=3) e úlcera (n=1). A necessidade de atendimento odontólogico foi observada em 85% (n=41) da população, sendo os procedimentos na área de prótese, estomatologia e periodontia, os mais prevalentes. Gráfico 2 - Alterações na mucosa identificadas nos idosos do Bairro Cascavel Velho (n= 15) 6,67% 20,00% 46,67% 26,67% Lesões Vermelhas Lesões Brancas Lesões Nodulares Úlcera DISCUSSÃO A proporção de idosos avaliados com relação ao gênero, foi compatível aos relatos da literatura, apresentando proporção maior de mulheres (68,75%) em relação aos homens. Fato semelhante também foi relatado por Assis e cols. (2003), onde o gênero feminino representou 55,8% dos indivíduos e por Silva e cols (2004), onde a proporção foi de 61,4%. Neste trabalho encontramos os fatores de risco para o câncer bucal presente em 67% da população, sendo as aterações de tecido responsáveis por 47% (n=15/32) desses fatores e estando presente em 31%(n=15/48), índice bem maior que o os 13,49% encontrado por Reis e cols.(2005) em idosos institucionalizados e 18,2% de Assis et al (2003) em idosos que são atendidos em clínica odontológica universitária. Apesar da população avaliada não apresentar altos índices de tabagismo e etilismo, é importante salientar que a incidência do câncer de boca aumenta com a piora do estado dentário sendo os tabagistas e etilistas crônicos geralmente portadores de dentição inadequada e apresentando risco para o câncer bucal oito vezes maior que aqueles que não apresentam essas características (KOWALSI; NISHIMOTO, 2000). O alta necessidade de tratamento apresentada pelos pacientes, 85%, reflete o difícil acesso aos serviços odontológicos nesta comunidade, que supera o índice de 60,48% encontrados pelo Projeto SB Brasil 2002-2003, para a população idosa da Região Sul (BRASIL, 2005) e confirma a necessidade do serviço público reformular suas ações para atender as especificidades da terceira idade (COLUSSI; FREITAS, 2002). CONCLUSÃO Desta forma concluímos que é extremamente importante o desenvolvimento de ações de saúde bucal direcionadas aos idosos, que ainda representam um segmento da população que não possui a assistência adequada dos serviços de saúde, representada pela alta necessidade de tratamento que encontramos e pela presença de fatores de risco que podem aumentar a incidência do câncer bucal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, Marcelo Dias e cols. Condição da mucosa bucal em idosos usuários da clínica odontogeriátrica da FACS/UNIVALE. Odontologia.com.br, 10 nov 2003. Disponível em: http://www.odontologia.com.br/artigos.asp?id=405. Acessado em 19 set 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso / Ministério da Saúde. - 1. ed., 2.ª reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev. 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