Instituto Babcock para Pesquisa e Desenvolvimento da Pecuária Leiteira Internacional Essenciais em Gado de Leite University of Wisconsin-Madison 15) PRINCÍPIOS DE SELEÇÃO Michel A. Wattiaux Babcock Institute As características quantitativas em bovinocultura de leite como a produção de leite, gordura e proteína, são econômicamente importantes para muitos fazendeiros em todo mundo. Estas características são diferentes das características qualitativas como a cor do pêlo, pois ao invés de estarem em categorías discretas (vermelho, branco, preto), os valores das características quantitativas variam em uma escala contínua de infinitos valores. O grande número de possibilidades para características quantitativas é devido a: • A grande quantidade de genes envolvidos na expressão de uma característica, o que possibilita vários genótipos; • O efeito significante do ambiente pode adicionar alguma variabilidade nos possíveis valores de uma característica. O objetivo do melhoramento genético na bovinocultura de leite é de modificar a proporção de certos genes sendo que, dependendo do ambiente em que o animal será criado, esta(s) característica(s) de interesse serão expressadas de modo a maximizar os lucros do fazendeiro. Por exemplo, o melhoramento genético para produção de leite procura aumentar o número de genes que irão maximizar a produção de leite dentro de um ambiente (clima, alimentação, manejo, etc.) no qual a vaca vai expressar seu potencial. Existem basicamente quatro forças que alteram a frequência de alguns genes em uma população animal. Mutação (mudança na estrutura do material genético) e modificação aleatória (ocorrem ao acaso, especialmente em populações pequenas) não podemos predize-las, portanto não são úteis. Porém, em um ponto de vista prático, seleção e migração (acasalamentos cruzados) são as ferramentas disponíveis aos inseminadores para mudar o valor genético do seu rebanho para uma característica em particular. Seleção é um processo que permite com que certos animais se reproduzam mais que outros. Deste modo, animais com um genótipo desejado produzirão uma prole maior. Quando a seleção é feita durante várias gerações, alguns genes se tornam mais frequentes dentro de uma população. Portanto, a seleção genética se baseia em duas etapas. Primeiro, os animais com um genótipo superior precisam ser identificados e, em uma segunda etapa, estes animais devem servir como reprodutores da próxima geração. Migração envolve o transporte de animais de uma população para outra população que têm uma frequência de genes diferente. O cruzamento de raças zebuínas locais (Bos indicus) com raças Européias (Bos taurus) é um exemplo de migração. A forma mais importante de migração de genes entre raças bovinas atualmente é o comércio internacional (importação e exportação) de sêmen. FORÇAS QUE MODIFICAM A FREQUÊNCIA DE CERTOS GENES As mudanças no material genético dos dos animais ocorrem naturalmente. 57 Essenciais em Gado de Leite—Reprodução e Melhoramento Genético OS CONCEITOS BÁSICOS DA SELEÇÃO Para entender como a seleção para características quantitativas funciona, precisamos entender alguns conceitos importantes. A variação em uma característica em particular nos animais é a chave do processo de seleção. Em um rebanho com uma média anual de produção de leite de 5.500 kg, algumas vacas podem produzir 9.000 kg, enquanto que outras podem estar produzindo somente 2.000 kg. Estes podem ser exemplos extremos, mas a produçaõ de leite de uma vaca neste rebanho pode ser de qualquer valor entre estes dois extremos. Mesmo dentro de um rebanho, onde alguns podem pensar que o ambiente é parecido para todos os animais, somente cerca de 25% da variação total na produção de leite é devido a variação genética (consulte herdabilidade na Tabela 1). Distribuição normal Distribuição dos dados de produção leiteira As vacas poduzem diferentes quantidades de leite, ainda assim, seus dados podem ser agrupados em categorias. A Figura 1 mostra um exemplo de distribuição das produções de leite de 200 vacas categorizadas em 28 grupos. Neste gráfico, cada bloco representa uma vaca. Vacas produzindo 2.000 a 2.500 kg pertencem ao primeiro grupo (barra do lado esquerdo do gráfico); a direita desta barra, cada grupo é definido tendo como base o grupo anterior. O último grupo (barra do lado direito do gráfico) inclui vacas produzindo entre 8.875 e 9.000 kg de leite. Esta representação, chamada de histograma, nos da uma idéia da média e da variação da produção de leite. No nosso exemplo, 19 vacas produzem 5.250 a 5.500 kg, uma vaca produz 2.250 a 2.500 kg e nenhuma vaca produz mais que 8.750 kg. Quando uma linha é desenhada passando sobre o topo de cada barra de um lado ao outro da figura, obtemos uma linha na forma de um sino. A maioria das características quantitativas seguem este tipo de curva, que é chamada de “curva normal” ou “distribuição normal”. A análise de dados 58 (produção de leite, escore de tipo, etc.) que se distribuem seguindo uma “curva normal” é a base do nosso conhecimento sobre o mérito genético de uma vaca ou de um touro para uma determinada característica. Em uma distribuição normal, a maioria dos animais estão espalhados aos arredores da média (a barra mais alta), e quando olhamos para produções maiores ou menores de leite, o número de animais nos grupos diminui. A maneira em que os dados se distribuem ao redor do ponto central é chamada de variância ou desvio padrão. Por exemplo, a distribuição da produção de leite das filhas de um touro formam uma distribuição normal. Um animal na extrema direita desta distribuição, provavelmente, tem um alto mérito genético. Porém, isto pode não ser totalmente real pois uma vaca com um alto mérito genético pode ter tido sua produção de leite afetada por um baixo nível nutricional, uma dificuldade no parto, um outro problema de manejo ou ainda ter sofrido algum efeito do ambiente. Do Figura 1: Distribuição da produção de leite—curva de distribuição normal. 15—Princípios de Seleção expostas a uma gama pequena de efeitos do ambiente. Porém, o teste de progênie permite obter alta precisão na determinação do mérito genético dos touros. Se um número suficiente de filhas é criado em vários rebanhos, a avaliação da capacidade de transmissão dos touros pode ser obtida quase que com perfeição. Herdabilidade ou h2 Define-se herdabilidade de uma característica como a proporção da variância da expressão fenotípica do animal que é de origem genética. Em geral, maior é a herdabilidade de uma característica, maior a acurácia da seleção e maior a resposta à seleção. As herdabilidades indicadas na Tabela 1 podem ser interpretadas da seguinte maneira: • Menos de 0.10—baixa herdabilidade; • Entre 0.10 e 0.30—herdabilidade moderada; Figura 2. Média e variância são as duas principais características da distribuição normal. mesmo modo, uma vaca pode ter tido sua produção de leite artificialmente aumentada se comparado com outras vacas do rebanho por tratamentos preferenciais. Portanto, é necessário fazer uma correta análise dos dados e reconhecer efeitos do ambiente no desempenho do animal. Desta maneira podemos nos certificar do mérito genético que esta sendo passado para a próxima geração. PONTOS CHAVES PARA A MUDANÇA GENÉTICA ATRAVÉS DA SELEÇÃO GENÉTICA Através da seleção, a mudança do valor genético dos animais em uma população pode ser afetada pela variação genética de uma população, intensidade de seleção, acurácia da seleção e pelo intervalo entre duas gerações. A mudança no valor genético pode ser resumida em uma simples equação: Mudança genética por ano = Acurácia x Intensidade x Variação genética Intervalo de gerações Assim a mudança genética anual será maior quando a acurácia, a intensidade de seleção e a variação genética forem tão grandes quanto possíveis e o intervalo entre geraçõs for tão pequeno quanto possível. Acurácia na seleção de vacas e touros O maior fator limitante para a acurácia das estimativas de mérito genético em vacas é que todos os animais estão no mesmo rebanho, ou seja, elas estão Tabela 1: Herdabilidade e importância econômica de algumas características em gado leiteiro. Herdabi- Correlação genética1 lidade Características Características de produção: Produção deleite 0.25 1 Produção de gordura 0.25 0.75 Produção de proteína 0.25 0.82 Sólidos totais 0.25 0.92 % gordura 0.50 –0.40 % proteína 0.50 –0.22 Características de tipo: Escore de tipo 0.30 –0.23 Altura 0.40 — Pernas (lateral) 0.16 — Ângulo dos pés 0.10 — Profundidade de úbere 0.25 — Suporte de úbere 0.15 — Colocação dos tetos 0.20 — Outras características: Velocidade de ordenha 0.11 — Contagem de celula 0.10 — 2 somatica Dificuldade de parto 0.05 — Peso ao nascimento 0.35 — Dias em aberto 0.05 — 1 2 Correlação genética com produção de leite. Medida de susceptibilidade à mastite. 59 Essenciais em Gado de Leite—Reprodução e Melhoramento Genético • Maior que 0.30—alta herdabilidade. Intensidade de seleção A intensidade de seleção depende exclusivamente da fração da população que é escolhida para serem os pais. Ela reflete quanto a média da fração selecionada excede a média da população antes de se praticar a seleção. Mesmo quando o desempenho reprodutivo é bom, a intensidade de seleção das vacas em um rebanho é minima se comparada à intendidade de seleção aplicada aos touros. Como resultado, a maioria do progresso genético em um rebanho provém do sêmen de touros altamente selecionados disponíveis. O ganho genético potencial devido a seleção das vacas é limitado pois a maioria das vacas precisa ser mantida no rebanho para manter o tamanho do rebanho. Assim, o número de bezerras que podem ser testadas no teste de progênie é muito mais limitada em vacas que em touros. Variação genética (desvio padrão) Variação genética pode ser bem ilustrada pela distribuição dos dados da curva normal (em forma de sino) em torno da média. Uma pequena variação resulta em uma estreita curva e uma grande variação em uma ampla curva. A variação genética influencia o ganho genético obtido em um programa de seleção—maior variação genética, maior será a resposta a seleção. Contudo, o desvio padrão genético é uma particularidade da população e não pode ser mudado pelo criador ou melhorista. Nos EUA o desvio padrão para a produção de leite, gordura e proteína são 560, 22.5 e 19 libras, respectivamente. O menor desvio padrão para a produção de proteína que a de gordura indica que é mais difícil se conseguir um progresso genético em produção de proteína que em produção de gordura. Em países onde a média de produção de leite é menor que a dos EUA, os desvios padrões provavelmente são proporcionalmente menores. 60 Intervalo entre gerações Define-se intervalo de gerações como a idade média dos pais quando do nascimento de sua prole. Idade à puberdade e duração da gestação são imutáveis; contudo, intervalo de gerações pode ser significtivamente aumentado quando a taxa de mortalidade é alta ou a taxa de gestação é baixa. Um intervalo de geração típico é o tempo da primeira avaliação genética de um touro usado em inseminação artificial: nove meses de prenhez para se obter um bezerro, mais dois anos para a vaca começar a produzir leite e mais outros dez meses de lactação. Portanto, o intervalo de gerações é de quarto anos. Quanto mais curto é o intervalo de gerações, maior é o progresso genético por ano. Porém, um longo intervalo entre gerações pode aumentar a exatidão da seleção, pois um maior número de informações estarão disponíveis com o passar do tempo (produção de leite das filhas de um touro). RESPOSTA CORRELACIONADA Correlação entre duas características mede a tendêndia delas variarem na mesma direção (correlação positiva) ou na direção oposta (correlação negativa). A interpretação da magnitude de correlação entre duas características, como mostrado na Tabela 1, são as seguintes: • Entre 0.7 e 1.0—correlação alta; • Entre 0.35 e 0.7—correlação moderada; • Entre 0 e 0.35—correlação pequena. Por exemplo a correlação negativa entre a quantidade de leite e a porcentagem de gordura no leite (Tabela 1) torna mais difícil a seleção de vacas para ambas, alta produção de leite e alta porcentagem de gordura no leite. Em contraste, a correlação entre produção de leite e consumo de alimento é altamente positiva (+0.80). Deste modo, vacas selecionadas para produzir mais leite tendem a consumir mais alimento.