Adolf.Hitler.-.Minha..

Propaganda
Minha LutaHomeLivrosBibliotecaEmail
Minha Luta
(Mein Kampf)
Adolf Hitler
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Prefácio
Dedicatória
PRIMEIRA PARTE
I - Na casa paterna
II - Anos de aprendizado e de sofrimento em Viena
III - Reflexões gerais sobre a política da época de minha estadia em Viena
IV - Munique
V - A Guerra Mundial
VI - A propaganda da guerra
VII - A Revolução
VIII - Começo de minha atividade política
IX - O Partido Trabalhista Alemão
X - Causas primárias do colapso
XI - Povo e raça
XII - O primeiro período de desenvolvimento do Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães
SEGUNDA PARTE
I - Doutrina e partido
II - O Estado
III - Cidadãos e "súditos" do Estado
IV - Personalidade e concepção do Estado Nacional
V - Concepção do mundo e organização
VI - A luta nos primeiros tempos - A importância da oratória
VII - A luta com a frente vermelha
VIII - O forte é mais forte sozinho
IX - Idéias fundamentais sobre o fim e a organização dos trabalhadores
socialistas
X - A máscara do federalismo
XI - Propaganda e organização
XII - A questão sindical
XIII - Política de aliança da Alemanha após a Guerra
XIV - Orientação para leste ou política de leste
XV - O direito de defesa
Posfácio
APRESENTAÇÃO
Nélson Jahr Garcia
Minha Luta (Mein Kampf) foi a melhor obra já escrita contra o nazismo. Já
se escreveram livros, artigos, crônicas; fizeram-se filmes, peças de teatro. Por
mais que demonstrassem o totalitarismo, a crueldade e a desfaçatez daquele
regime, nada conseguiu superar o original.
A comunidade judaica, pelo menos alguns de seus setores, batalham por
proibir a divulgação do livro. Não entendo. Quanto mais se conhecer, maior se
tornará o repúdio e aversão.
É certo que os filhos de Israel foram perseguidos, mas não só. Também o
foram os negros, os eslavos, membros das "Resistências", maçons, todos
originários de qualquer raça que não fossem considerados "arianos". Em suma,
perseguiu-se tantos quanto se opuseram aos planos megalomaníacos do pequeno
austríaco que resolveu tornar-se rei do universo.
Certa vez perguntei a um ex-capitão do exército mecanizado nazista: "Como
foi possível que um dos povos mais cultos da Europa apoiasse um projeto
neurótico e genocida como o dos nazis?" Respondeu-me, com certa simplicidade:
"Perdêramos a I Grande Guerra, engenheiros, médicos e tantos reviravam latas de
lixo para encontrar comida, os judeus, comerciantes em sua maioria, expunham
suas mercadorias sugerindo serem beneficiados pela situação, era solo fértil
para as pregações anti-semitas".
Quanto ao anti-semitismo, além da postura racista inquestionável e
confessa, havia uma estratégia de propaganda. Hitler entendia que qualquer
movimento precisava de inimigos para fortalecer-se. Subestimando a capacidade
intelectual do povo, afirmava explicitamente, que as massas tinham dificuldades
de entendimento e compreensão. Daí a necessidade de reduzir os vários
adversários a um inimigo único: os judeus. As críticas da imprensa eram escritas
por judeus, que também dominavam a literatura, as artes e o teatro. França e
Inglaterra estavam controladas pelo capitalismo judaico. Os judeus levavam
imigrantes negros para contaminar as raças européias. Os marxistas e
revolucionários russos eram judeus. A maçonaria era controlada por judeus. Uma
generalização absurda que, infelizmente, funcionou.
Penso que "Minha Luta" deva ser amplamente conhecido, um texto
preconceituoso, presunçoso e que traz embutidos neuroses e psicoses
indiscutíveis, conhecê-lo talvez seja a melhor forma de impedir que aquelas
idéias ressuscitem. Além disso sou contra qualquer forma de censura. Os romanos
incendiaram a Biblioteca de Alexandria, Hitler e Stalin queimaram livros,
Getúlio Vargas também, os militares de nossa recente ditadura inclusive, e
outros tantos, a humanidade só perdeu.
Por isso tudo divulgo o livro, uma peça de propaganda bastante eficiente,
mas apenas no seu tempo e contexto. Devemos ler, analisar, discutir e produzir
vacinas. Como os vírus, as idéias absurdas tendem a retornar fortalecidas e
resistentes; só conhecendo poderemos enfrentá-las.
PREFÁCIO
No dia 1.° de abril de 1924, por força de sentença do Tribunal de Munique,
tinha eu entrado no presídio militar de Landsberg sobre o Lech.
Assim se me oferecia, pela primeira vez, depois de anos de ininterrupto
trabalho, a possibilidade de dedicar-me a uma obra, por muitos solicitada e por
mim mesmo julgada conveniente ao movimento nacional socialista.
Decidi-me, pois, a esclarecer, em dois volumes, a finalidade do nosso
movimento e, ao mesmo tempo, esboçar um quadro do seu desenvolvimento.
Nesse trabalho aprender-se-á mais do que em uma dissertação puramente
doutrinária.
Apresentava-se-me também a oportunidade de dar uma descrição de minha vida,
no que fosse necessário à compreensão do primeiro e do segundo volumes e no que
pudesse servir para destruir o retrato lendário da minha pessoa feito pela
imprensa semítica.
Com esse livro eu não me dirijo aos estranhos mas aos adeptos do movimento
que ao mesmo aderiram de coração e que aspiram esclarecimentos mais
substanciais.
Sei muito bem que se conquistam adeptos menos pela palavra escrita do que
pela palavra falada e que, neste mundo, as grandes causas devem seu
desenvolvimento não aos grandes escritores mas aos grandes oradores.
Isso não obstante, os princípios de uma doutrinação devem ser estabelecidos
para sempre por necessidade de sua defesa regular e contínua.
Que estes dois volumes valham como blocos com que contribuo à construção da
obra coletiva.
O AUTOR
Landsberg sobre o Lech
Presídio Militar
DEDICATÓRIA
No dia 9 de novembro de 1923, na firme crença da ressurreição do seu povo,
às 12 horas e 30 minutos da tarde, tombaram diante do quartel general assim como
no pátio do antigo Ministério da Guerra de Munique os seguintes cidadãos:
Alfarth (Felix). Negociante, nascido a 5 de julho de 1901.
Bauriedl (Andreas). Chapeleiro, nascido a 4 de maio de 1879.
Casella (Theodor). Bancário, nascido a 8 de agosto de 1900.
Ehrlich (Wilhelm). Bancário, nascido a 19 de agosto de 1894.
Faust (Martin). Bancário, nascido a 27 de janeiro de 1901.
Hechenberger (Ant.). Serralheiro, nascido a 28 de setembro de 1902.
Kõrner (Oskar). Negociante, nascido a 4 de janeiro de 1875.
Kuhn (Karl). Garção.Cehfe, nascido a 26 de julho de 1897.
Laforce (Karl). Estudante de engenharia, nascido a 28 de outubro de 1904.
Neubauer (Kurt). Doméstico, nascido a 27 de março de 1899.
Pope (Claus von). Negociante, nascido a 16 de agôsto de 1904.
Pforden (Theodor von der). Membro do Supremo Tribunal, nascido a 14 de maio
de 1873.
Rickmers (Joh.). Capitão de Cavalaria, nascido a 7 de maio de 1881.
Scheubner-Richter (Max Erwin von). Engenheiro, nascido a 9 de janeiro de
1884.
Stransky (Lorenz Ritter von). Engenheiro, nascido a 14 de março de 1899.
Wolf (Wilhelm). Negociante, nascido a 19 de outubro de 1898.
As chamadas autoridades nacionais recusaram aos heróis mortos um túmulo
comum.
Por isso eu lhes dedico, para a lembrança de todos, o primeiro volume desta
obra, a fim de que esses mártires iluminem para sempre os adeptos do nosso
movimento.
Landsberg sobre o Lech, Presídio Militar, 16 de outubro de 1924.
Adolf Hitler
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I - NA CASA PATERNA
Considero hoje como uma feliz determinação da sorte que Braunau no Inn
tenha sido destinada para lugar do meu nascimento. Essa cidadezinha está situada
nos limites dos dois países alemães cuja volta à unidade antiga é vista, pelo
menos por nós jovens, como uma questão de vida e de morte.
A Áustria alemã deve voltar a fazer parte da grande Pátria germânica, aliás
sem se atender a motivos de ordem econômica. Mesmo que essa união fosse, sob o
ponto de vista econômico, inócua ou até prejudicial, ela deveria realizar-se.
Povos em cujas veias corre o mesmo sangue devem pertencer ao mesmo Estado. Ao
povo alemão não assistem razões morais para uma política ativa de colonização,
enquanto não conseguir reunir os seus próprios filhos em uma pátria única.
Somente quando as fronteiras do Estado tiverem abarcado todos os alemães sem que
se lhes possa oferecer a segurança da alimentação, só então surgirá, da
necessidade do próprio povo, o direito, justificado pela moral, da conquista de
terra estrangeira. O arado, nesse momento será a espada, e, regado com as
lágrimas da guerra, o pão de cada dia será assegurado à posteridade.
Por isso, essa cidadezinha da fronteira aparece aos meus olhos como o
símbolo de uma grande missão. Sob certo aspecto, ela se apresenta como uma
exortação nos tempos que correm. Há mais de cem anos, esse modesto ninho,
cenário de uma tragédia cuja significação todo o povo alemão compreende,
conquistou, pelo menos, na história alemã, o direito à imortalidade. No tempo da
maior humilhação infligida à nossa Pátria, tombou ali, por amor à sua idolatrada
Alemanha, Johannes Palm, de Nuremberg, livreiro burguês, obstinado nacionalista
e inimigo dos franceses. Tenazmente recusara-se, como Leo Schlagter, a denunciar
os seus cúmplices, ou melhor os cabeças do movimento. Como este, ele foi
denunciado à França, por um representante do governo. Um chefe de polícia de
Ausburgo conquistou para si essa triste glória e serviu assim de modelo às
autoridades alemãs no governo de Severing.
Nessa cidadezinha do Inn, imortalizada pelo martírio de grandes alemães,
bávara pelo sangue, austríaca quanto ao governo, moravam meus pais no fim do ano
80 do século passado, meu pai como funcionário público, fiel cumpridor dos seus
deveres, minha mãe toda absorvida nos afazeres domésticos e, sobretudo, sempre
dedicada aos cuidados da família. Na minha memória, pouco ficou desse tempo,
pois, dentro de alguns anos, meu pai teve que deixar a querida cidadezinha e ir
ocupar novo lugar em Passau, na própria Alemanha.
A sorte de empregado aduaneiro austríaco se traduzia, naquele tempo, por
uma constante peregrinação. Pouco tempo depois, meu pai foi para Linz, para onde
finalmente se dirigiu também depois de aposentado. Essa aposentadoria não devia,
porém, significar um verdadeiro descanso para o velho funcionário. Filho de um
pobre lavrador, já noutros tempos ele não tolerava a vida inativa em casa. Ainda
não contava treze anos e já o jovem de então fazia os seus preparativos e
deixava a casa paterna no Waldviertel. Apesar dos conselhos em contrário dos
"experientes" moradores da aldeia, o jovem dirigiu-se para Viena, como objetivo
de aprender um ofício manual. Isso aconteceu entre 1850 e 1860. Arrojada
resolução essa de afrontar o desconhecido com três florins para as despesas de
viagem. Aos dezessete anos, tinha ele feito as provas de aprendiz. Não estava,
porém, contente. Muito ao contrário. A longa duração das necessidades de
outrora, a miséria e o sofrimento constantes fortaleceram a resolução de
abandonar de novo o ofício, para vir a ser alguma coisa mais elevada. Naquele
tempo, aos olhos do pobre jovem, a posição de pároco de aldeia parecia a mais
elevada a que se podia aspirar; agora, porém, na esfera mais vasta da grande
capital, a sua ambição maior era entrar para o funcionalismo. Com a tenacidade
de quem, na meninice, já era um velho, por eleito da penúria e das aflições, o
jovem de dezessete anos insistiu na sua resolução e tornou-se funcionário
público. Depois dos Vinte e três anos, creio eu, estava atingido o seu objetivo.
Parecia assim estar cumprida a promessa que o pobre rapaz havia feito, isto é,
de não voltar para a aldeia paterna sem que tivesse melhorado a sua situação.
Agora estava atingido o seu ideal. Na aldeia, porém ninguém mais dele se
lembrava e a ele mesmo a aldeia se tornara desconhecida.
Quando, aos cinqüenta e seis anos, ele se aposentou, não pôde suportar esse
descanso na ociosidade. Comprou, então, uma propriedade na vila de Lambach, na
alta Áustria, valorizou-a e voltou assim, depois de uma vida longa e trabalhosa,
à mesma origem dos seus pais.
Nesse tempo, formavam-se no meu espírito os primeiros ideais. As correrias
ao ar livre, a longa caminhada para a escola, as relações com rapazes
extremamente robustos - o que muitas vezes causava a minha mãe os maiores
cuidados - esses hábitos me poderiam preparar para tudo menos para uma vida
sedentária. Embora, mal pensasse ainda seriamente sobre a minha futura vocação,
de nenhum modo as minhas simpatias se dirigiam para a linha de vida seguida por
meu pai. Eu creio que já nessa. época meu talento verbal se adestrava nas
discussões com os camaradas.
Eu me tinha tornado um pequeno chefe de motins, que, na escola, aprendia
com facilidade, mas era difícil de ser dirigido.
Quando, nas minhas horas livres, eu recebia lições de canto no coro
paroquial de Lambach, tinha a melhor oportunidade de extasiar-me ante as pompas
festivas das brilhantíssimas festas da igreja. Assim como meu pai via na posição
de pároco de aldeia o ideal na vida, a mim também a situação de abade pareceu a
aspiração mais elevada. Pelo menos temporariamente isso se deu.
Desde que meu pai, por motivos de fácil compreensão, não podia dar o devido
apreço ao talento oratório do seu bulhento filho, para daí tirar conclusões
favoráveis ao futuro do seu pimpolho, é óbvio que ele não concordasse com essas
idéias de mocidade. Apreensivo, ele observava essa disparidade da natureza.
Na realidade a vocação temporária por essa profissão desapareceu muito
cedo, para dar lugar a esperanças mais conformes com o meu temperamento.
Revolvendo a biblioteca paterna, deparei com diversos livros sobre assuntos
militares, entre eles uma edição popular da guerra franco-alemã de 1870-1871.
Eram dois volumes de uma revista ilustrada daquele tempo. Tornaram-se a minha
leitura favorita. Não tardou muito para que a grande luta de heróis se
transformasse para mim em um acontecimento da mais alta significação. Daí em
diante, eu me entusiasmava cada vez mais por tudo que, de qualquer modo, se
relacionasse com guerra ou com a vida militar. Sob outro aspecto, isso também
deveria vir a ser de importância para mim. Pela primeira vez, embora ainda de
maneira confusa, surgiu no meu espírito a pergunta sobre se havia alguma
diferença entre estes alemães que lutavam e os outros e, em caso afirmativo,
qual era essa diferença. Por que a Áustria não combateu com a Alemanha nesta
guerra? Por que meu pai e todos os outros não se bateram também? Não somos
iguais a todos os outros alemães? Não formamos todos um corpo único? Esse
problema começou, pela primeira vez, a agitar o meu espírito infantil. Com uma
inveja intima, deveria às minhas cautelosas perguntas aceitar a resposta de que
nem todo alemão possuía a felicidade de pertencer ao império de Bismarck. Isso
era inconcebível para mim.
Estava decidido que eu deveria estudar.
Considerando o meu caráter e, sobretudo o meu temperamento, pensou meu pai
poder chegar à conclusão de que o curso de humanidades oferecia uma contradição
com as minhas tendências intelectuais. Pareceu-lhe que uma escola profissional
corresponderia melhor ao caso. Nessa opinião, ele se fortaleceu ainda mais ante
minha manifesta aptidão para o desenho, matéria cujo estudo, no seu modo de ver,
era muito negligenciado nos ginásios austríacos. Talvez estivesse também
exercendo influência decisiva nisso a sua difícil luta pela vida, na qual, aos
seus olhos, o estudo de humanidades de pouca utilidade seria. Por princípio, era
de opinião que, como ele, seu filho naturalmente seria e deveria ser funcionário
público. Sua amarga juventude fez com que o êxito na vida fosse por ele visto
como tanto maior quanto considerava o mesmo como produto de uma férrea
disposição e de sua própria capacidade de trabalho. Era o orgulho do homem que
se fez por si que o induzia a querer elevar seu filho a uma posição igual ou, se
possível, mais alta que a do seu pai, tanto mais quando por sua própria
diligência, estava apto a facilitar de muito a evolução deste.
O pensamento de uma repulsa aquilo que, para ele, se tornou o objetivo de
uma vida inteira, parecia-lhe inconcebível. A resolução de meu pai era, pois,
simples, definida, clara e, a seus olhos, compreensível por si mesma. Finalmente
para o seu temperamento tornado imperioso através de uma amarga luta pela
existência, no decorrer da sua vida inteira, parecia coisa absolutamente
intolerável, em tais assuntos, entregar a decisão final a um jovem que lhe
parecia inexperiente e ainda sem responsabilidade.
Seria impossível que isso se coadunasse com a sua usual concepção do
cumprimento do dever, pois representava uma diminuição reprovável de sua
autoridade paterna. Além disso, a ele cabia a responsabilidade do futuro do seu
filho.
E, não obstante, coisa diferente deveria acontecer. Pela primeira vez na
vida fui, mal chegava aos onze anos, forçado a fazer oposição.
Por mais firmemente decidido que meu pai estivesse na execução dos planos e
propósitos que se formara, não era menor a teimosia e a obstinação de seu filho
em repelir um pensamento que pouco ou nada lhe agradava.
Eu não queria ser funcionário.
Nem conselhos nem "sérias" admoestações conseguiram demover-me dessa
oposição.
Nunca, jamais, em tempo algum, eu seria funcionário público.
Todas as tentativas para despertar em mim o amor por essa profissão,
inclusive a descrição da vida de meu pai, malogravam-se, produziam o efeito
contrário.
Era para mim abominável o pensamento de, como um escravo, um dia sentar-me
em um escritório, de não ser senhor do meu tempo mas, ao contrário, limitar-me a
ter como finalidade na vida encher formulários! Que pensamento poderia isso
despertar em um jovem que era tudo menos bom no sentido usual da palavra? O
estudo extremamente fácil na escola proporcionava-me tanto tempo disponível que
eu era mais visível ao ar livre do que em casa.
Quando hoje, meus adversários políticos examinam com carinhosa atenção a
minha vida até aos tempos da minha juventude para, finalmente, poder apontar com
satisfação os maus feitos que esse Hitler já na mocidade havia perpetrado,
agradeço aos céus que agora alguma coisa me restitua à memória daqueles tempos
felizes.
Campos e florestas eram outrora a sala de esgrima na qual as antíteses de
sempre vinham à luz.
Mesmo a freqüência à escola profissional que se seguiu a isso em nada me
serviu de estorvo.
Uma outra questão deveria, porém, ser decidida.
Enquanto a resolução de meu pai de fazer-me funcionário público encontrou
em mim apenas uma oposição de princípios, o conflito foi facilmente suportável.
Eu podia, então dissimular minhas idéias íntimas, não sendo preciso contraditar
constantemente. Para minha tranqüilidade, bastava-me a firme decisão de não
entrar de futuro para a burocracia. Essa resolução era, porém, inabalável. A
situação agravou-se quando ao plano de meu pai eu opus o meu. Esse fato
aconteceu já aos treze anos. Como isso se deu, não sei bem hoje, mas um dia
pareceu-me claro que eu deveria ser artista, pintor.
Meu talento para o desenho, inquestionavelmente, continuava a afirmar-se, e
foi até uma das razões por que meu pai me mandou à escola profissional sem
contudo nunca lhe ter ocorrido dirigir a minha educação nesse sentido. Muito ao
contrário. Quando eu, pela primeira vez, depois de renovada oposição ao
pensamento favorito de meu pai, fui interrogado sobre que profissão desejava
então escolher e quase de repente deixei escapar a firme resolução que havia
adotado de ser pintor, ele quase perdeu a palavra.
"Pintor! Artista!" exclamou ele.
Julgou que eu tinha perdido o juízo ou talvez que eu não tivesse ouvido ou
entendido bem a sua pergunta.
Quando compreendeu, porém, que não tinha havido mal-entendido, quando
sentiu a seriedade da minha resolução, lançou-se com a mais inabalável decisão
contra a minha idéia.
Sua resolução era demasiado firme. Inútil seria argumentar com as minhas
aptidões para essa profissão.
"Pintor, não! Enquanto eu viver, nunca!" terminou meu pai.
O filho que, entre outras qualidades do pai, havia herdado a teimosia,
retrucou com uma resposta semelhante mas no sentido contrário.
Cada um ficou irredutível no seu ponto de vista. Meu pai não abandonava o
seu nunca e eu reforçava cada vez mais o meu não obstante.
As conseqüências disso não foram muito agradáveis. O velho tornou-se
irritado e eu também, apesar de gostar muito dele. Afastou-se para mim qualquer
esperança de vir a ser educado para a pintura. Fui mais adiante e declarei então
absolutamente não mais estudar. Como eu, naturalmente, com essa declaração teria
todas as desvantagens, pois o velho parecia disposto a fazer triunfar a sua
autoridade sem considerações de qualquer natureza, resolvi calar daí por diante,
convertendo, porém, as minhas ameaças em realidade.
Acreditava que quando meu pai observasse a minha falta de aproveitamento na
escola profissional, por bem ou por mal consentiria na minha sonhada felicidade.
Não sei se meus cálculos dariam certo. A verdade é que meu insucesso na
escola verificou-se. Só estudava o que me agradava, sobretudo aquilo de que eu
poderia precisar mais tarde como pintor. O que me parecia sem significação para
esse objetivo ou o que não me era agradável, eu punha de lado inteiramente.
Nesse tempo os meus certificados de estudos, apresentavam sempre notas
extremas, de acordo com as matérias e o apreço em que eu as tinha. Digno de
louvor e ótimo, de um lado; sofrível ou péssimo do outro.
Incomparavelmente melhores eram os meus trabalhos em geografia e,
sobretudo, em história. Eram essas as duas matérias favoritas, nas quais eu
fazia progressos na classe.
Quando, depois de muitos anos, examino o resultado daqueles tempos, vejo
dois fatos de muita significação:
1.° Tornei-me nacionalista.
2.° Aprendi a entender a história pelo seu verdadeiro sentido.
A antiga Áustria era um "estado de muitas nacionalidades".
O cidadão do império alemão, pelo menos outrora, não podia, em última
análise, compreender a significação desse fato na vida diária do indivíduo, em
um Estado assim organizado como a Áustria.
Depois do maravilhoso cortejo triunfal dos heróis da guerra
franco-prussiana, os alemães que viviam no estrangeiro eram vistos como cada vez
mais estranhos à vida da nação, que, em parte, não se esforçavam por apreciar ou
mesmo não o podiam.
Confundia-se, na Alemanha, sobretudo em relação aos austro-alemães, a
desmoralizada dinastia austríaca com o povo que, na essência, se mantinha são.
Não se concebe como o alemão na Áustria - não fosse ele da melhor têmpera pudesse possuir força para exercer a sua influência em um Estado de 52 milhões.
Não se concebe também, sem essa hipótese, que, até na Alemanha, se tenha formado
a opinião errada de que a Áustria era um Estado alemão, disparate de sérias
conseqüências que constitui, porém, um brilhante atestado em favor dos dez
milhões de alemães da fronteira oriental.
Só hoje, que essa triste fatalidade caiu sobre muitos milhões dos nossos
próprios compatriotas, que, sob o domínio estrangeiro, acham-se afastados da
Pátria e dela se lembram com angustiosa saudade e se esforçam por ter ao menos o
direito à sagrada língua materna, compreende-se, em maiores proporções, o que
significa ser obrigado a lutar pela sua nacionalidade.
Só então um ou outro poderá, talvez, avaliar a grandeza do sentimento
alemão na velha fronteira oriental, sentimento que se manteve por si mesmo, e
que, durar te séculos, protegera o Reich na fronteira oriental para finalmente
se resumir a pequenas guerras destinadas apenas a conservar as fronteiras da
língua. Isso se dava em um tempo em que o governo alemão se interessava por uma
política colonial, enquanto se mantinha indiferente pela defesa da carne e do
sangue de seu povo, diante de suas portas.
Como sempre acontece em todas as lutas, havia na campanha pela língua três
classes distintas: os lutadores, os indiferentes e os traidores.
Já na escola se começava a notar essa separação, pois o mais digno de nota
na luta pela língua é que é justamente na escola, como viveiro das gerações
futuras, que as ondas do movimento se fazem sentir mais vibrantes.
Em torno da criança empenha-se a luta, e a ela é dirigido o primeiro apelo:
"Menino de sangue alemão, não te esqueças de que és um alemão; menina,
pensa que um dia deverás ser mãe alemã".
Quem conhece a alma da juventude poderá compreender que são justamente os
moços que com mais intensa alegria ouvem tal grito de guerra. De centenas de
maneiras diferentes costumam eles dirigir essa luta em que empregam os seus
próprios meios e armas. Eles evitam canções não alemães, entusiasmam-se pelos
heróis alemães, tanto mais quanto maior é o esforço para deles afastá-los,
sacrificam o estômago para economizarem dinheiro para a luta dos grandes Em
relação ao estudante não-alemão, são incrivelmente curiosos e ao mesmo tempo
intratáveis. Usam as insígnias proibidas da nação e sentem-se felizes em ser por
isso castigados ou mesmo batidos. São, em pequenas proporções, um quadro fiel
dos grandes, freqüentemente com melhores e mais sinceros sentimentos.
A mim também se ofereceu outrora a possibilidade de, ainda relativamente
muito jovem, tomar parte na luta pela nacionalidade da antiga Áustria. Quando
reunidos na associação escolar, expressávamos os nossos sentimentos usando lóios
e as cores preta, vermelha e ouro, que, entusiasticamente, saudávamos com urras.
Em vez da canção imperial, cantávamos "Deutschland über alles", apesar das
admoestações e dos castigos. A juventude era assim politicamente ensinada em um
tempo em que os membros de uma soi-disant nacionalidade, na maioria da sua
nacionalidade conhecia pouco mais do que a linguagem. Que eu então não pertencia
aos indiferentes, compreende-se por si mesmo. Dentro de pouco tempo, eu me tinha
transformado em um fanático Nacional-Alemão, designação que, de nenhuma maneira,
é idêntica à concepção do atual partido com esse nome.
Essa evolução fez em mim progressos muito rápidos, tanto que, aos quinze
anos, já tinha chegado a compreender a diferença entre patriotismo dinástico e
nacionalismo racista. O último conhecia eu, então, muito mais.
Para quem nunca se deu ao trabalho de estudar as condições internas da
monarquia dos Habsburgos, um tal acontecimento poderá não parecer claro. Somente
as lições na escola sobre a história universal deveriam, na Áustria, lançar o
germe desse desenvolvimento, mas só em pequenas proporções existe uma história
austríaca específica.
O destino desse Estado é tão intimamente ligado à vida e ao crescimento do
povo alemão, que uma separação entre a história alemã e a austríaca parece
impossível. Quando, por fim, a Alemanha começou a separar-se em dois Estados
diferentes, até essa separação passou para a história alemã.
As insígnias do Imperador, sinais do esplendor antigo do Império,
preservadas em Viena, parecem atuar mais como um poder de atração do que como
penhor de uma eterna solidariedade.
O primeiro grito dos austro-alemães, nos dias do desmembramento do Estado dos
Habsburgos, no sentido de uma união com a Alemanha, era apenas efeito de um
sentimento adormecido mas de raízes profundas no coração dos dois povos o anelo
pela volta à mãe-pátria nunca esquecida.
Nunca seria isso, porém, compreensível, se a aprendizagem histórica dos
austro-alemães não fosse a causa de uma aspiração tão geral. Ai está a fonte que
nunca se estanca, a qual, sobretudo nos momentos de esquecimento, pondo de parte
as delícias do presente, exorta o povo, pela lembrança do passado, a pensar em
um novo futuro.
O ensino da história universal nas chamadas escolas médias ainda hoje muito
deixa a desejar. Poucos professores compreendem que a finalidade do ensino da
história não deve consistir em aprender de cor datas e acontecimentos ou obrigar
o aluno a saber quando esta ou aquela batalha se realizou, quando nasceu um
general ou quando um monarca quase sempre sem significação, pôs sobre a cabeça a
coroa dos seus avós. Não, graças a Deus não é disso que se deve tratar.
Aprender história quer dizer procurar e encontrar as forças que conduzem às
causas das ações que vemos como acontecimentos históricos. A arte da leitura
como da instrução consiste nisto: conservar o essencial, esquecer o dispensável.
Foi talvez decisivo para a minha vida posterior que me fosse dada a
felicidade de ter como professor de história um dos poucos que a entendiam por
esse ponto de vista e assim a ensinavam. O professor Leopold Pötsch, da escola
profissional de Linz, realizara esse objetivo de maneira ideal. Era ele um homem
idoso, bom mas enérgico e, sobretudo pela sua deslumbrante eloqüência, conseguia
não só prender a nossa atenção mas empolgar-nos de verdade. Ainda hoje,
lembro-me com doce emoção do velho professor que, no calor de sua exposição,
fazia-nos esquecer o presente, encantava-nos com o passado e do nevoeiro dos
séculos retirava os áridos acontecimentos históricos para transformá-los em viva
realidade. Nós o ouvíamos muitas vezes dominados pelo mais intenso entusiasmo,
outras vezes comovidos até às lágrimas. O nosso contentamento era tanto maior
quanto este professor entendia que o presente devia ser esclarecido pelo passado
e deste deviam ser tiradas as conseqüências para dai deduzir o presente. Assim
fornecia ele, muito freqüentemente, explicações para o problema do dia, que
outrora nos deixava em confusão. Nosso fanatismo nacional de jovens era um
recurso educacional de que ele, freqüentemente apelando para o nosso sentimento
patriótico, se servia para completar a nossa preparação mais depressa do que
teria sido possível por quaisquer outros meios. Esse professor fez da história o
meu estudo favorito. Assim, já naqueles tempos, tornei-me um jovem
revolucionário, sem que fosse esse o seu objetivo.
Quem, com um tal professor, poderia aprender a história alemã, sem ficar
inimigo do governo que, de maneira tão nefasta, exercia a sua influência sobre
os destinos da nação?
Quem poderia, finalmente, ficar fiel ao imperador de uma dinastia que no
passado e no presente sempre traiu os interesses do povo alemão, em beneficio de
mesquinhos interesses pessoais?
Já não sabíamos, nós jovens, que esse Estado austríaco nenhum amor por nós
possuía e sobretudo não podia possuir?
O conhecimento histórico da atuação dos Habsburgos foi reforçado pela
experiência diária. No norte e no sul, o veneno estrangeiro devorava o nosso
sentimento racial, e até Viena tornava-se, a olhos vistos e cada vez mais,
estranha ao espírito alemão.
A Casa da Áustria tchequizava-se, por toda parte, e foi por efeito do punho
da deusa do direito eterno e da inexorável lei de Talião que o inimigo mortal da
Áustria alemã, arquiduque Franz Ferdinando, foi vítima de uma bala que ele
próprio havia ajudado a fundir. Era ele o patrono da eslavização da Áustria, que
se operava de cima para baixo, por todas as formas possíveis.
Enormes foram os ônus que se exigiam do povo alemão, inauditos os seus
sacrifícios em impostos e em sangue, e, não obstante, quem quer que não fosse
cego, deveria reconhecer que tudo isso seria inútil.
O que nos era mais doloroso era o fato de ser esse sistema moralmente
protegido pela aliança com a Alemanha, e que a lenta extirpação do sentimento
alemão na velha monarquia até certo ponto tinha a sanção da própria Alemanha.
A hipocrisia dos Habsburgos com a qual se pretendia dar no exterior a
aparência de que a Áustria ainda era um Estado alemão, fazia crescer o ódio
contra a Casa Austríaca, até atingir a indignação e, ao mesmo tempo, o desprezo.
Só no Reich os já então predestinados" nada viam de tudo isso.
Como atingidos pela cegueira, caminhavam eles ao lado de um cadáver e, nos
sinais da decomposição, acreditavam descobrir indícios de nova vida.
Na fatal aliança do jovem império alemão com o arremedo de Estado austríaco
estava o germe da Grande Guerra, mas também o do desmembramento.
No decurso deste livro terei que me ocupar mais demoradamente deste
problema. Basta que aqui se constate que, já nos primeiros anos da juventude, eu
havia chegado a uma opinião que nunca mais me abandonou, mas, pelo contrário,
cada vez mais se fortificou. E essa era que a segurança do germanismo
pressupunha a destruição da Áustria e que o sentimento nacional não era idêntico
ao patriotismo dinástico e que, antes de tudo, a Casa dos Habsburgos estava
destinada a fazer a infelicidade do povo alemão.
Dessa convicção eu já tinha outrora tirado as conseqüências: amor ao meu
berço austro-alemão, profundo ódio contra o governo austríaco.
A arte de pensar pela história, que me tinha sido ensinada na escola, nunca
mais me abandonou. A história universal tornou-se para mim, cada vez mais, uma
fonte inesgotável de conhecimentos para agir no presente, isto é, para a
política. Eu não quero aprender a história por si, mas, ao contrário, quero que
ela me sirva de ensinamento para a vida.
Assim como logo cedo tornei-me revolucionário, também tornei-me artista.
A capital da alta Áustria possuía outrora um teatro que não era mau. Nêle
se representava quase tudo. Aos doze anos, vi pela primeira vez "Guilherme Te!!"
e, alguns meses depois, "Lohengrin", a primeira ópera que assisti na minha vida.
Senti-me imediatamente cativado pela música. O entusiasmo juvenil pelo mestre de
Bayreuth não conhecia limites.
Cada vez mais me sentia atraído pela sua obra, e considero hoje uma
felicidade especial que a maneira modesta por que foram as peças representadas
na capital da província me tivesse deixado a possibilidade de um aumento de
entusiasmo em representações posteriores mais perfeitas.
Tudo isso fortificava minha profunda aversão pela profissão que meu pai me
havia escolhido. Essa aversão cresceu depois de passados os dias da meninice,
que para mim foram cheios de pesares. Cada vez mais eu me convencia que nunca
seria feliz como empregado público. Depois que, na escola profissional, meus
dotes de desenhista se tornaram conhecidos, a minha resolução ainda mais se
afirmou.
Nem pedidos nem ameaças seriam capazes de modificar essa decisão.
Eu queria ser pintor e, de modo algum, funcionário público.
E, coisa singular, com o decorrer dos anos aumentava sempre o meu
interesses pela arquitetura.
Eu considerava isso, outrora, como um natural complemento da minha
inclinação para a pintura e regozijava-me intimamente com esse desenvolvimento
da minha formação artística.
Que outra coisa, contrário a isso, viesse acontecer, não previa eu.
O problema da minha profissão devia, porém, ser decidido mais rapidamente
do que eu supunha.
Aos treze anos perdi repentinamente meu pai. Ainda muito vigoroso, foi
vítima de um ataque apoplético que, sem provocar-lhe nenhum sofrimento, encerrou
a sua peregrinação na terra, mergulhando-nos na mais profunda dor.
O que mais almejava, isto é, facilitar a existência de seu filho, para
poupar-lhe a vida de dificuldades que ele próprio experimentara, não havia sido
alcançado, na sua opinião. Apenas sem o saber, ele lançou as bases de um futuro
que não havíamos previsto, nem ele, nem eu.
Aparentemente, a situação não se modificou logo.
Minha mãe sentia-se no dever de, conforme aos desejos de meu pai, continuar
minha educação, isto é, fazer-me estudar para a carreira de funcionário. Eu,
porém, estava ainda mais decidido do que antes, a não ser burocrata, sob
condição alguma. A proporção que a escola média, pelas matérias estudadas ou
pela maneira de ensiná-las, afastava-se do meu ideal, eu me tornava indiferente
ao estudo.
Inesperadamente, uma enfermidade veio em meu auxílio e, em poucas semanas,
decidiu do meu futuro, pondo termo à constante controvérsia na casa paterna.
Uma grave afecção pulmonar fez com que o médico aconselhasse a minha mãe,
com o maior empenho, a não permitir absolutamente. que, de futuro, eu me
entregasse a trabalhos de escritório. A freqüência à escola profissional deveria
também ser suspensa pelo menos por um ano.
Aquilo que eu, durante tanto tempo, almejava, e por que tanto me tinha
batido, ia, por força desse fato, uma vez por todas, transformar-se em
realidade.
Sob a impressão da minha moléstia, minha mãe consentiu finalmente em
tirar-me, tempos depois, da escola profissional e em deixar-me freqüentar a
Academia.
Foram os dias mais felizes da minha vida, que me pareciam quase que um sonho e
na realidade de sonho não passaram.
Dois anos mais tarde, o falecimento de minha mãe dava a esses belos
projetos um inesperado desenlace.
A sua morte se deu depois de uma longa e dolorosa enfermidade que, logo de
começo, pouca esperança de cura oferecia. Não obstante isso, o golpe atingiu-me
atrozmente. Eu respeitava meu pai, mas por minha mãe tinha verdadeiro amor.
A pobreza e a dura realidade da vida forçaram-me a tomar uma rápida
resolução. Os pequenos recursos econômicos deixados por meu pai foram quase
esgotados durante a grave enfermidade de minha mãe. A pensão que me coube como
órfão, não era suficiente nem para as necessidades mais imperiosas. Estava
escrito que eu, de uma maneira ou de outra, deveria ganhar o pão com o meu
trabalho.
Tendo na mão unia pequena mala de roupa e, no coração, uma vontade
imperturbável, viajei para Viena.
O que meu pai, cinqüenta anos antes, havia conseguido, esperava eu também
obter da sorte. Eu queria tornar-me "alguém", mas, em caso algum, empregado
público.
CAPÍTULO II - ANOS DE APRENDIZADO E DE SOFRIMENTO EM VIENA
Quando minha mãe morreu, meu destino sob certo aspecto já se tinha
decidido.
Nos seus últimos meses de sofrimento eu tinha ido a Viena para fazer exame
de admissão à Academia. Armado de um grosso volume de desenhos, dirigi-me à
capital austríaca convencido de poder facilmente ser aprovado no exame. Na
escola profissional eu já era sem nenhuma dúvida, o primeiro aluno de desenho da
minha classe. Daquele tempo para cá a minha aptidão se tinha desenvolvido
extraordinariamente. de maneira que, contente comigo mesmo, esperava, orgulhoso
e feliz, obter o melhor resultado da prova a que me ia submeter.
Só uma coisa me afligia: meu talento para a pintura parecia sobrepujado
pelo talento para o desenho, sobretudo no domínio da arquitetura. Ao mesmo
tempo, crescia cada vez mais meu interesses pela arte das construções. Mais vivo
ainda se tornou esse interesse quando, aos dezesseis anos incompletos, fiz minha
primeira visita a Viena, visita que durou duas semanas. Ali fui para estudar a
galeria de pintura do "Hofmuseum", mas quase só me interessava o próprio
edifício do museu. Passava o dia inteiro, desde a manhã até tarde da noite,
percorrendo com a vista todas as raridades nele contidas, mas, na realidade, as
construções é que mais me prendiam a atenção. Durante horas seguidas, ficava
diante da Ópera ou admirando o edifício de Parlamento. A "Ringstrasse" atuava
sobre mim como um conto de mil-e-uma noites.
Achava-me agora, pela segunda vez, na grande cidade, e esperava com ardente
impaciência, e, ao mesmo tempo, com orgulhosa confiança, o resultado do meu
exame de admissão. Estava tão convencido do êxito do meu exame que a reprovação
que me anunciaram feriu-me como um raio que caísse de um céu sereno. Era, no
entanto, uma pura verdade. Quando me apresentei ao diretor para pedir-lhe os
motivos da minha não aceitação à escola pública de pintura, assegurou-me ele
que, pelos desenhos por mim trazidos, evidenciava-se a minha inaptidão para a
pintura e que a minha vocação era visivelmente para a arquitetura. No meu caso,
acrescentou ele, o problema não era de escola de pintura mas de escola de
arquitetura.
Não se pode absolutamente compreender, em face disso, que eu até hoje não
tenha freqüentado nenhuma escola de arquitetura nem mesmo tomado sequer uma
lição.
Abatido, deixei o magnífico edifício da "Shillerplatz", sentindo-me. pela
primeira vez na vida, em luta comigo mesmo. O que o diretor me havia dito a
respeito da minha capacidade agiu sobre mim como um raio deslumbrante a revelar
uma luta íntima, que, de há muito, eu vinha sofrendo, sem até então poder dar-me
conta do porquê e do como.
Em pouco tempo, convenci-me de que um dia eu deveria ser arquiteto. O
caminho era, porém, dificílimo, pois o que eu, por teimosia, tinha evitado
aprender na escola profissional, ia agora fazer-me falta. A freqüência da Escola
de Arquitetura da Academia dependia da freqüência da escola técnica de
construções e a entrada para essa exigia um exame de madureza em uma escola
média. Tudo isso me faltava completamente. Dentro das possibilidades humanas, já
não me era mais lícito esperar a realização dos meus sonhos de artista.
Quando, depois da morte de minha mãe, pela terceira vez, e desta vez para
demorar-me muitos anos, fui a Viena, a tranqüilidade e uma firme resolução
tinham voltado a mim, com o tempo decorrido nesse intervalo.
A antiga teimosia também tinha voltado e com ela a persistência na
realização do meu objetivo. Eu queria ser arquiteto. Obstáculos existem não para
que capitulemos diante deles mas para os vencermos. E eu estava disposto a
arrostar com todas essas dificuldades, sempre tendo, diante dos olhos, a imagem
de meu pai, que, de simples aprendiz de sapateiro de aldeia, tinha subido até ao
funcionalismo público. O chão sobre que eu pisava era mais firme, as
possibilidades na luta, maiores. O que, outrora, me parecia aspereza da sorte,
aprecio hoje como sabedoria da Providência. Enquanto a necessidade me oprimia e
ameaçava aniquilar-me, crescia a vontade de lutar. E, finalmente, foi vitoriosa
a vontade. Agradeço àqueles tempos o ter-me tornado forte e poder sê-lo ainda. E
ainda mais agradeço o ter-me livrado do tédio da vida fácil e ter-me tirado do
conforto despreocupado do lar, para dar-me o sofrimento como substituto de minha
mãe e lançar-me na luta de um mundo de misérias e de pobreza, que aprendi a
conhecer e pelo qual mais tarde deveria lutar.
Nesse tempo, abriram-se-me os olhos para dois perigos que eu mal conhecia
pelos nomes e que, de nenhum modo, se me apresentavam nitidamente na sua
horrível significação para a existência do povo germânico: marxismo e judaísmo.
Viena, a cidade que para muitos reputada como um complexo de inocentes
prazeres, como lugar para homens que se querem divertir, vale para mim,
infelizmente, como uma viva lembrança dos mais tristes tempos da minha vida.
Ainda hoje, essa capital só desperta em mim pensamentos sombrios. Cinco anos de
miséria e de sofrimentos, eis o que significa a minha estadia nessa cidade de
prazeres. Cinco anos em que, primeiro como ajudante de operário, depois como
aprendiz de pintor, vime forçado a trabalhar pelo pão quotidiano, mesquinho pão
que nunca bastava para saciar a minha fome habitual, A fome era então minha
companheira fiel que nunca me deixava sozinho e que de tudo igualmente
participava. Cada livro que eu comprava aumentava a sua participação na minha
vida. Uma visita à Ópera fazia com que ela me fizesse companhia o dia inteiro.
Era uma eterna luta com o meu impiedoso companheiro. E, não obstante isso, nesse
tempo aprendi mais do que nunca. Além do meu trabalho em construções, das raras
visitas à Ópera, - feitas com o sacrifício do estômago - tinha como único prazer
a leitura. Li muito e profundamente. No tempo livre, depois do trabalho, subia
imediatamente ao meu quarto de estudo. Em poucos anos, lancei os alicerces de
conhecimentos de que ainda hoje me utilizo. Mais importante do que tudo isso:
naqueles tempos adquiri uma noção do mundo que serviu de fundamento granítico
para o meu modo de agir de então. A essa noção precisei acrescentar pouca coisa,
mudar nada.
Ao contrário.
Estou firmemente convencido de que, em conjunto, várias idéias criadoras
que hoje possuo, já na mocidade apareciam fundadas em princípios. Faço diferença
entre a sabedoria da velhice, que vale pela sua maior profundidade e prudência,
resultantes da experiência de uma longa vida, e a genialidade da juventude que,
em inesgotável proliferação, cria pensamentos e idéias sem poder logo
elaborá-las definitivamente, em conseqüência do tumulto em que elas se sucedem.
A mocidade fornece o material de construção e os pia-nos de futuro, dos quais a
velhice toma os blocos, trabalha-os e levanta a construção, isso quando a
chamada sabedoria dos velhos não sufoca a genialidade dos moços.
A vida que eu até ali tinha levado na casa paterna diferenciava-se em pouco
ou em nada da vida dos outros. Sem cuidados, podia esperar pelo dia seguinte, e
para mim não havia questão social. As relações da minha juventude compunham-se
de pequenos burgueses, por conseguinte de um mundo que mantinha muito poucas
relações com o verdadeiro operário. Por mais estranho que isso possa parecer à
primeira vista, o abismo entre essa camada social, cuja situação econômica nada
tem de brilhante, e o trabalhador manual, é freqüentemente mais profundo do que
se pensa. A razão dessa quase inimizade jaz no receio que tem um grupo social
que, apenas há pouco tempo, elevou-se acima do nível do proletariado, de descer
à antiga e pouco prezada posição ou de, pelo menos, ser visto como pertencendo a
essa classe. A isso se acrescente, entre muitos, a desagradável lembrança da
ignorância dessa baixa classe, a constante brutalidade nas suas relações uns com
os outros e compreender-se-á porque a pequena burguesia, em uma posição social
ainda inferior, considera todo contato com essas ínfimas camadas sociais como um
fardo insuportável.
Isso explica porque é mais freqüente a uma pessoa altamente colocada, do
que a um parvenu, nivelar-se, sem afetação, com os mais humildes. O parvenu é o
que, por sua própria força de vontade, passa, na luta pela vida, de uma posição
social a outra mais elevada. Essa luta, as mais das vezes áspera, mata a
compaixão no coração humano e estanca a simpatia pelos sofrimentos dos que ficam
atrás.
Sob esse aspecto, a sorte foi comigo compassiva. Enquanto me compelia a
voltar para esse mundo de pobreza e de incertezas, que, no decurso de sua vida,
meu pai já havia abandonado, punha, ao mesmo tempo, diante dos meus olhos, com
todos os seus aspectos repugnantes, a educação estreita dos pequenos burgueses.
Só então aprendi a conhecer os homens, aprendi a fazer a diferença entre ocas
aparências, exteriorizações brutais e a essência íntima das coisas.
Já no fim do século passado, Viena pertencia ao número das cidades em que
era visível o desequilíbrio social.
Brilhante riqueza e degradante pobreza revezavam-se em contrastes
violentos. No centro da cidade e nas suas adjacências sentia-se o bater do pulso
do Império de cinqüenta e dois milhões, com todo o seu poder mágico de atração,
nesse Estado de várias nacionalidades. A Corte no seu deslumbrante esplendor,
agia como ímã sobre a riqueza e a inteligência do resto do Estado. A isso
deve-se juntar a forte centralização da política da monarquia dos Habsburgos.
Nessa concentração, estava a única possibilidade de manter-se em firme união
essa salada de povos. A conseqüência disso foi, porém, uma exagerada
concentração das autoridades governamentais na capital, na residência da Corte
Além disso, Viena era, não só espiritual e politicamente, mas também
economicamente, o centro da antiga monarquia danubiana. Em frente ao exército de
oficiais superiores, funcionários públicos, artistas e sábios, estendia-se um
exército ainda maior, composto de trabalhadores; em frente da riqueza da
aristocracia e do comércio, uma pobreza atroz. Diante dos palácios da
Ringstrasse perambulavam milhares de sem-trabalho e, por baixo dessa via
triunfal da velha Áustria, amontoavam-se os sem-teto, no lusco-fusco e na
imundície dos canais.
Dificilmente em uma cidade alemã se poderia tão bem estudar a questão
social como em Viena. Mas ninguém se iluda. esse estudo não pode ser feito de
cima para baixo. Quem não se viu nas garras dessa víbora nunca aprenderá a
conhecer os seus dentes venenosos. Sem essa etapa, tudo redunda em palavreado
superficial ou sentimentalismo hipócrita. Um e outro caso são de conseqüências
nocivas: no primeiro, porque não se pode descer ao âmago da questão, no segundo,
porque se passa sobre ela.
Não sei o que é mais desolador: a indiferença pela miséria social que se
nota diariamente na maioria dos que foram favorecidos pela sorte ou que subiram
pelos seus próprios méritos, ou a afabilidade soberba, importuna, sem tato,
embora sempre compassiva, de certas senhoras da moda que afetam sentir com o
povo. Essa gente peca por falta de instinto mais do que se pode supor. Por isso,
com surpresa sua, o resultado de sua atividade social é sempre nulo,
freqüentemente provoca repulsa, o que é interpretado como prova da ingratidão do
povo.
Dificilmente entra na cabeça dessa gente que uma atividade social não
consiste nisso e que, sobretudo, não se deve esperar gratidão, pois, no caso,
não se trata de distribuição de favores mas apenas de restabelecimento de
direitos.
Por isso, escapei de entender a questão social por essa forma. Quando ela
me arrastou aos seus domínios parecia não me convidar para aprender mas sim para
pôr-me à prova. Não foi por seu merecimento que a cobaia, ainda sadia, suportou
a operação.
Na maior parte dos casos não era muito difícil, naquele tempo, encontrar
trabalho, uma vez que eu não era operário técnico, mas devia conquistar o pão de
cada dia, como ajudante de operário e muitas vezes como trabalhador de.
emergência.
Colocava-me, por isso, no ponto de vista daqueles que sacodem dos pés a
poeira da Europa, com o irremovível propósito de, rio Novo Mundo, criar uma nova
vida, construir uma nova pátria. Libertados de todas as noções até aqui falhas
sobre profissão, ambiente e tradições, pegam-se a todo ganho que se lhes
oferece, agarram-se a todo trabalho, lutando sempre, com a convicção de que
nenhuma atividade envergonha, pouco importando de que natureza esta possa ser.
Assim estava eu também decidido a lançar-me de corpo e alma no mundo para mim
novo e abrir-me um caminho, lutando.
Cedo me convenci de que trabalho há sempre, mas perdemo-lo com a mesma
facilidade com que o encontramos.
A incerteza do ganho do pão quotidiano, dentro de pouco tempo pareceu-me
ser o aspecto mais sombrio da nova vida.
O operário técnico não é lançado tão freqüentemente na rua, como os que não
o são, mas ele também não está inteiramente ao abrigo dessa sorte. Entre eles,
ao lado da perda do pão por falta de trabalho, podem concorrer o chômage e as
suas próprias greves.
Nesses casos, a incerteza do ganho do pão diário tem fortes reações sobre
toda a economia.
O camponês que se dirige às grandes cidades atraído pelo trabalho que
imagina fácil ou que o é realmente, mas sempre trabalho de pouca duração, ou o
que é atraído pelo esplendor da grande cidade, o que sucede na maioria dos
casos, esse ainda está habituado a uma certa segurança do pão. Ele costuma só
abandonar os antigos postos, quando tem outro pelo menos em perspectiva.
A falta de trabalhadores do campo é grande e, por isso, a probabilidade de
falta de trabalho é ali muito pequena.
É pois, um erro acreditar que o jovem trabalhador que se dirige à cidade
seja inferior ao que fica trabalhando na aldeia. A experiência mostra que
acontece o contrário com todos os elementos de emigração, quando são sadios e
ativos. Entre esses emigrantes devem-se contar não só os que vão para a América
mas também os jovens que se decidem a abandonar sua aldeia para se dirigirem as
grandes capitais desconhecidas. Esses também estão dispostos a aceitar uma sorte
incerta. Na maioria, trazem algum dinheiro, e, por isso, não se vêem na
contingência de ser arrastados ao desespero logo nos primeiros dias, se, por
infelicidade, de começo não encontram trabalho. O pior é, porém, quando perdem,
em pouco tempo, o trabalho que haviam encontrado. Encontrar outro, sobretudo no
inverno, é difícil, se não impossível. Nas primeiras semanas, a situação é ainda
insuportável, pois ele recebe da caixa do sindicato a proteção dada ao seu
trabalho e atravessa como pode os dias de desemprego. Quando o seu último vintém
é gasto, quando a caixa, em conseqüência da longa duração da falta de trabalho,
também suspende o pagamento, vem a grande miséria. Então, faminto, erra para
cima e para baixo, empenha ou vende os objetos que lhe restam e cada vez mais
sensível se lhe torna a falta de roupas. Desce a uma Convivência que acaba por
envenenar-lhe o corpo e a alma. Fica sem casa e, se isso acontece no inverno
como é comum, então a miséria aumenta. Finalmente, encontra algum trabalho, mas
o jogo se repete. Uma segunda vez atingiu de maneira semelhante à primeira, a
terceira vez as coisas se tornaram ainda mais difíceis, e assim, pouco a pouco,
ele aprende a suportar com indiferença a eterna insegurança. Por fim, a
repetição adquire força de hábito.
E assim o homem, outrora diligente, abandona inteiramente a sua antiga
concepção da vida, para, pouco a pouco, transformar-se em um instrumento cego
daqueles que dele se utilizam apenas na satisfação dos mais baixos proveitos.
Sem nenhuma culpa sua ele ficou tantas vezes sem trabalho, que, mais uma vez,
menos uma vez, pouco lhe importa. Assim mesmo quando não se trata da luta pelos
direitos econômicos do operariado mas de destruição dos valores políticos,
sociais ou culturais, ele será então, quando não entusiasta de greves, pelo
menos indiferente a elas.
Essa evolução eu tive oportunidade de acompanhar cuidadosamente em milhares
de exemplos. Quanto mais eu observava esses fatos, tanto mais aumentava a minha
aversão pela cidade dos milhões que os homens, cheios de cobiça, acumulavam
para, depois, tão cruelmente, desperdiçá-los.
Eu também fui fustigado pela vida na grande metrópole e à minha própria
custa submeti-me a essa provação, experimentando, uma por uma todas essas
dolorosas sensações.
Observei ainda que essa rápida mudança do trabalho para a ociosidade
forçada e vice-versa, essa eterna oscilação do emprego para o desemprego, com o
tempo, haveria de destruir o sentimento de economia e as razões para um prudente
equilíbrio de vida. Lentamente o corpo parece acostumar-se a viver à farta nos
bons tempos e a passar fome nos maus. A fome destrói todos os projetos dos
operários no sentido de um melhor e mais razoável modus vivendi. Nos bons tempos
eles se deixam embalar por uma constante miragem pelo sonho de uma vida melhor,
sonho que empolga de tal modo a sua existência que eles esquecem as antigas
privações, logo que recebem os seus salários. Dai resulta que o que consegue
trabalho, imediatamente, da maneira mais desrazoável, esquece uma prudente
distribuição de suas despesas, para viver à larga, apenas nos dias imediatos.
Isso conduz ao transtorno da manutenção da casa durante a semana, tornando não
mais possível uma razoável distribuição da receita. O dinheiro da semana, de
começo, dá para cinco dias em vez de sete, mais tarde para três em vez de
quatro, finalmente apenas para um dia e, por fim, logo na primeira noite é
inteiramente gasto em prazeres.
Em casa, as mais das vezes, há mulher e crianças. Também elas recebem a
influência dessa maneira de viver, principalmente se o chefe de família é bom
para os seus. Nesse caso, o ganho da semana é esbanjado com todos em casa nos
três primeiros dias. Come-se e bebe-se enquanto o dinheiro dura, e, nos últimos
dias, todos passam fome. Então a mulher percorre humildemente a vizinhança e os
arredores, pede emprestado alguma coisa, faz pequenas dividas no vendeiro e
procura assim manter-se com os seus nos últimos dias da semana. Ao meio-dia,
sentam-se todos juntos, diante de magros pratos, muitas vezes até esses faltam,
e, fazendo planos, esperam pelo dia do pagamento. Enquanto passam fome sonham de
novo com a felicidade. E assim as crianças desde a mais tenra idade,
acostumam-se a essa miséria, o pior, porém, é quando, desde o começo, o marido
segue o seu caminho e a mulher, por amor aos filhos, levanta-se contra isso.
Então surgem as brigas, as disputas constantes. E à proporção que o marido se
afasta da mulher, aproxima-se do álcool. Todos os sábados ele se embriaga. Por
instinto de conservação, por si e pelos filhos, a mulher briga para tomar os
últimos vinténs do marido quando este se dirige da fábrica para a espelunca. Por
fim, domingo ou segunda-feira, à noite, ele volta para casa, embriagado e
brutal, sempre sem vintém. Então desenrolam-se freqüentemente cenas lastimáveis.
Assisti tudo isso em centenas de casos. No começo sentia-me enojado ou
irritado para, mais tarde, compreender toda a tragédia dessa miséria e as suas
causas mais profundas. Infelizes vitimas de péssimas condições sociais.
Tão tristes, talvez, eram, outrora, as condições das habitações. A crise de
casas para os ajudantes de operários de Viena era horrível. Ainda hoje sinto
calafrios quando penso naqueles horríveis covis, as estalagens e nas habitações
coletivas, naqueles sombrios quadros de sujeira e de escândalos. Que poderia
resultar daí, quando desses covis de miséria a torrente de escravos abandonados
se lançasse sobre a outra parte da humanidade, livre de cuidados, despreocupada?
Sim, o resto do mundo é despreocupado. Despreocupado fica, deixando que as
coisas sigam o seu caminho, sem pensar que, na sua falta de intuição, a revanche
terá lugar, mais cedo ou mais tarde, se em tempo os homens não modificarem essa
triste realidade.
Quanto agradeço hoje à Providência o ter-me lançado nessa escola! Aí eu não
podia mais sabotar o que não me era agradável. Essa escola educou-me depressa e
solidamente.
A menos que eu não quisesse perder a esperança nos homens com quem convivia
outrora, deveria fazer a diferença entre a vida que aparentavam e as razões da
mesma. Tudo isso deveria, pois, ser suportado sem desânimo. Então, de toda essa
infelicidade e miséria, de toda essa sujidade e degradação, deveriam surgir na
minha mente não mais homens, mas miseráveis produtos de leis miseráveis. Por
isso, a gravidade da luta pela vida que sustentei, evitou que eu capitulasse por
mero sentimentalismo ante os pecos resultados desse processo de evolução.
Não, isso não deveria ser compreendido assim.
Já, naqueles tempos, eu havia chegado à conclusão de que só um caminho
duplo poderia conduzir ao objetivo da melhoria dessa situação: um mais profundo
sentimento de responsabilidade no sentido do estabelecimento de melhores bases
para a nossa evolução, combinado isso com a brutal resolução de demolir todas as
incorrigíveis excrescências.
Assim como a natureza concentra os seus maiores esforços não na conservação
do que existe mas no cultivo do que cria, para continuação da espécie, assim
também na vida humana trata-se menos de melhorar artificialmente o que há de mau
- o que, pela natureza humana, em noventa e nove por cento dos casos é
impossível - do que, desde o início, assegurar, por melhores métodos, a evolução
das novas criações
Já durante a minha luta pela vida em Viena, tornou-se evidente ao meu
espírito que a atividade social nunca deverá ser vista como uma obra de proteção
sem- finalidade e irrisória, mas sim na remoção de defeitos substanciais na
organização de nossa vida econômica e cultural que possam concorrer para a
degeneração dos indivíduos ou pelo menos para o seu desvio.
A dificuldade dessa maneira de proceder em face dos últimos e brutais meios
contra os delitos dos inimigos do Estado, jaz justamente na incerteza do
julgamento sobre os. motivos íntimos ou causas principais dos fenômenos
contemporâneos.
Essa incerteza é fundada na convicção da culpa de cada um nessas tragédias
do passado e inutiliza toda séria e firme resolução. Causa ao mesmo tempo, a
fraqueza e a indecisão na execução até mesmo das mais necessárias medidas de
conservação.
Quando um tempo vier não mais empanado pela sombra da consciência da
própria culpabilidade, a conservação de si mesmo criará a tranqüilidade íntima,
a força exterior, brutal e sem considerações, para matar os maus rebentos da
erva ruim.
Como o Estado Austríaco praticamente desconhecia qualquer legislação
social, sua incapacidade para o combate de morte aos maus germes saltava diante
dos nossos olhos em toda sua evidência.
Eu não sei o que naqueles tempos mais me horrorizava, se 'a miséria
econômica dos meus camaradas, se a sua grosseria espiritual .e moral e o nível
baixo de sua cultura.
Quantas vozes não se tomava de cólera a nossa burguesia, quando, da boca de
algum miserável vagabundo, ouvia a declaração de que lhe era indiferente ser ou
não alemão, contanto que ele tivesse a sua subsistência garantida.
Essa falta de orgulho nacional, é, então, censurada da maneira mais
incisiva e a repulsa por um tal modo de sentir é expressa em termos enérgicos.
Quantos, porém, já se fizeram a pergunta sobre quais eram as causas de
possuírem eles próprios melhores sentimentos?
Quantos compreendem a infinidade de recordações pessoais sobre a grandeza
da pátria, da nação,' em todas as fronteiras da vida artística e cultural que
lhes inspiram o justo orgulho de poderem pertencer a um povo tão favorecido?
Quantos pensam na dependência do orgulho nacional em relação ao
conhecimento das grandezas da Pátria em todos esses domínios?
Refletem nossos círculos burgueses em que irrisória extensão esses motivos
de orgulho nacional se apresentam ao povo?
Ninguém se desculpe com o argumento de que "em outros países a coisa não se
passa de outra maneira" e que, não obstante, o trabalhador orgulha-se da sua
nacionalidade. Mesmo que isso fosse assim, não poderia servir como desculpa para
a nossa própria negligência. Tal, porém, não se dá. O que nós sempre pintamos
como uma educação "chauvinística" dos franceses, por exemplo, não é mais do que
a exaltação das grandezas da França em todos os domínios da Cultura, ou da
"civilisation", como a denominam os nossos vizinhos.
O jovem francês não é educado para o objetivismo, mas para as opiniões
subjetivas, que a gente só pode avaliar, quando se trata da significação das
grandezas políticas ou culturais da sua pátria.
Essa educação terá que ser sempre restrita aos grandes e gerais pontos de
vista que, se preciso, por meio de eterna repetição, se gravem na memória e nos
sentimentos do povo.
Entre nós, aos erros por omissão, junta-se ainda a destruição do pouco que
o indivíduo tem a felicidade de aprender na escola. O envenenamento político do
nosso povo elimina ainda esse pouco do coração e da memória das vastas massas,
quando a necessidade e os sofrimentos já não o tinham feito.
Pense-se no seguinte.
Em um alojamento subterrâneo, composto de dois quartos abafados, mora uma
família proletária de sete pessoas. Entre os cinco filhos, suponhamos um de três
anos. É esta a idade em que a consciência da criança recebe as primeiras
impressões. Entre os mais dotados encontra-se, mesmo na idade madura, vestígio
da lembrança desse tempo. O espaço demasiado estreito para tanta gente não
oferece condições vantajosas para a convivência. Brigas e disputas, só por esse
motivo, surgirão freqüentemente. As pessoas não vivem umas com as outras, mas se
comprimem umas contra as outras. Todas as divergências, sobretudo as menores,
que, nas habitações espaçosas, podem ser sanadas por um ligeiro isolamento,
conduzem aqui a repugnantes e intermináveis disputas. Para as crianças isso é
ainda suportável. Em tais situações, elas brigam sempre e esquecem tudo depressa
e completamente. Se, porém, essa luta se passa entre os pais, quase todos os
dias, e de maneira a nada deixar a desejar em matéria de grosseria, o resultado
de uma tal lição de coisas faz-se sentir entre as crianças. Quem tais meios
desconhece dificilmente pode fazer uma idéia do resultado dessa lição objetiva,
quando essa discórdia recíproca toma a forma de grosseiros desregramentos do pai
para com a mãe e até de maus tratos nos momentos de embriaguez. Aos seis anos,
já o jovem conhece coisas deploráveis, diante das quais até um adulto só horror
pode sentir. Envenenado moralmente, mal alimentado, com a pobre cabecinha cheia
de piolhos, o jovem "cidadão" entra para a escola.
A custo ele chega a ler e escrever. Isso é quase tudo. Quanto a aprender em
casa, nem se fale nisso. Até na presença dos filhos, mãe e pai falam da escola
de tal maneira que não se pode repetir e estão sempre mais prontos a dizer
grosserias do que pôr os filhos nos joelhos e dar-lhes conselhos. O que a
criança ouve em casa não é de molde a fortalecer o respeito às pessoas com que
vai conviver. Ali nada de bom parece existir na humanidade; todas as
instituições são combatidas, desde o professor até às posições mais elevadas do
Estado. Trata-se de religião ou da moral em si, do Estado ou da sociedade, tudo
é igualmente ultrajado da maneira mais torpe e arrastado na lama dos mais baixos
sentimentos. Quando o rapazinho, apenas com quatorze anos, sai da escola, é
difícil saber o que é maior nele: a incrível estupidez no que diz respeito a
conhecimentos reais ou a cáustica imprudência de suas atitudes, aliada a uma
amoralidade que, naquela idade, faz arrepiar os cabelos.
Esse homem, para quem já quase nada é digno de respeito, que nada de grande
aprendeu a conhecer, que, ao contrário, conhece todas as vilezas humanas, tal
criatura, repetimos, que posição poderá ocupar na vida, na qual ele está à
margem?
De menino de treze anos ele passou, aos quinze, a um desrespeitador de toda
autoridade.
Sujidade e mais sujidade, eis tudo o que ele aprendeu. E isso não é de
molde a estimulá-lo a mais elevadas aspirações.
Agora entra ele, pela primeira vez, na grande escola da vida.
Então começa a mesma existência que nos anos da - meninice ele aprendeu de
seus pais. Anda para cima e para baixo, entra em casa Deus sabe quando, para
variar bate ele mesmo na alquebrada criatura que foi outrora sua mãe, blasfema
contra Deus e o mundo e, enfim, por qualquer motivo especial, é condenado e
arrastado a uma prisão de menores.
Lá recebe ele os últimos polimentos.
O mundo burguês admira-se, no entanto, da falta de "entusiasmo nacional"
deste jovem "cidadão".
A burguesia vê, como no teatro e no cinema, no lixo da literatura e na
torpeza da imprensa, dia a dia, o veneno se derramar sobre o povo, em grandes
quantidades, e admira-se ainda do precário "valor moral", da "indiferença
nacional" da massa desse povo, como se a sujeira da imprensa e do cinema e
coisas semelhantes pudessem fornecer base para o conhecimento das grandezas da
Pátria, abstraindo-se mesmo a educação individual anterior. Pude então bem
compreender a seguinte verdade, em que jamais havia pensado:
O problema da "nacionalização" de um povo deve começar pela criação de
condições sociais sadias como fundamento de uma possibilidade de educação do
indivíduo. Somente quem, pela educação e pela escola, aprende a conhecer as
grandes alturas, econômicas e, sobretudo, políticas da própria Pátria, pode
adquirir e adquirirá, certamente, aquele orgulho íntimo de pertencer a um tal
povo. Só se pode lutar pelo que se ama, só se pode amar o que se respeita e
respeitar o que pelo menos se conhece.
Logo que o interesses pela questão social foi em mim despertado, comecei a
estudá-la profundamente. Aos meus olhos surgia um novo mundo até então
desconhecido.
No ano de 1909 para 1910, minha própria situação modificou se um pouco
porque não precisava mais ganhar o pão de cada dia como ajudante de operário. Já
trabalhava, por minha conta, como desenhista e aquarelista. Continuava a ganhar
muito pouco - o essencial para viver - mas em compensação tinha lazeres para
aperfeiçoar-me na profissão que havia escolhido. Já não entrava em casa, à
noite, como antigamente, cansado ao extremo, incapaz de parar a vista em um
livro sem adormecer dentro de pouco tempo. Meu trabalho de agora corria paralelo
com a minha profissão artística. Podia, então, como senhor do meu próprio tempo,
dividi-lo melhor do que antes.
Eu pintava para ganhar o pão e estudava por prazer.
Assim foi possível às minhas observações sobre a questão social juntar o
complemento teórico indispensável. Eu estudava quase tudo que sobre esse assunto
se podia assimilar em livros, dando assim às minhas próprias idéias base mais
sólida.
Creio que os que comigo conviviam naquele tempo tinham-me por um tipo
esquisito.
Era natural que eu, com ardor, satisfizesse à minha paixão pela
arquitetura. Ao lado da música, a arquitetura me parecia a rainha das artes.
Minha atividade, em tais condições, não era um trabalho, mas um grande prazer.
Podia ler ou desenhar até tarde da noite, sem cansar-me absolutamente. Assim
fortalecia-se a convicção de que o meu belo sonho, depois de longos anos,
transformar-se-ia em realidade. Estava inteiramente convencido de um dia
conquistar um nome como arquiteto.
Não me parecia muito significativo que eu também tivesse o maior interesse
por tudo que se relacionasse com a política. Ao contrário, isso era, em minha
opinião, um dever natural de cada ser pensante. Quem nada entende de política
perde o direito a qualquer critica, a qualquer reivindicação.
Também sobre esse assunto li e aprendi muito.
Sob o nome de leitura, concebo coisa muito diferente do que pensa a grande
maioria dos chamados intelectuais.
Conheço indivíduos que lêem muitíssimo, livro por livro letra por letra, e
que, no entanto, não podem ser apontados como "lidos". Eles possuem uma multidão
de "conhecimentos", mas o seu cérebro não consegue executar uma distribuição e
um registro do material adquirido. Falta-lhes a arte de separar, no livro, o que
lhes é de valor e o que é inútil, conservar para sempre de memória o que lhes
interessa e, se possível, passar por cima, desprezar o que não lhes traz
vantagens, em qualquer hipótese não conservar consigo esse peso sem finalidade.
A leitura não deve ser vista como finalidade, mas sim como meio para alcançar
uma finalidade. Em primeiro lugar, a leitura deve auxiliar a formação do
espírito, a despertar as disposições intelectuais e inclinações de cada um. Em
seguida, deve fornecer o instrumento, o material de que cada um tem necessidade
na sua profissão, tanto para o simples ganha-pão como para a satisfação de mais
elevados desígnios. Em segundo lugar, deve proporcionar uma idéia de conjunto do
mundo. Em ambos os casos, é, porem, necessário que o conteúdo de qualquer
leitura não seja confiado à guarda da memória na ordem de sucessão dos livros,
mas como pequenos mosaicos que, no quadro de conjunto, tomem o seu lugar na
posição que lhes é destinada, assim auxiliando a formar este quadro no cérebro
do leitor. De outra maneira, resulta um bric-á-brac de matérias aprendidas de
cor, inteiramente inúteis, que transformam o seu infeliz possuidor em um
presunçoso, seriamente convencido de ser um homem instruído, de entender alguma
coisa da vida, de possuir cultura, ao passo que a verdade é que, a cada
acréscimo dessa sorte de conhecimentos, mais se afasta do mundo, até que acaba
em um sanatório ou, como "político", em um parlamento.
Nunca um cérebro assim formado conseguirá, da confusão de sua "ciência",
retirar o que é apropriado às exigências de determinado momento, pois seu lastro
espiritual está arranjado não na ordem natural da vida mas na ordem de sucessão
dos livros, como os leu e pela maneira por que amontoou os assuntos no cérebro.
Quando as exigências da vida diária dele reclamam o justo emprego do que outrora
aprendeu então precisará mencionar os livros e o número das páginas e, pobre
infeliz, nunca encontrará exatamente o que procura.
Nas horas críticas, esses "sábios", quando se vêem na dolorosa contingência
de pesquisar casos análogos para aplicar às circunstâncias, só descobrem
receitas falsas.
Não fosse assim e não se poderiam conceber os atos políticos dos nossos
sábios heróis do Governo que ocupam as mais elevadas posições, a menos que a
gente se decidisse a aceitar as suas soluções não como conseqüências de
disposições intelectuais patológicas, mas como infâmias e trapaçarias.
Quem possui, porém, a arte da boa leitura, ao ler qualquer livro, revista
ou brochura, dirigirá sua atenção para tudo o que, no seu modo de ver, mereça
ser conservado durante muito tempo, quer porque seja útil, quer porque seja de
valor para a cultura geral.
O que por esse meio se adquire encontra sua racional ligação no quadro
sempre existente que a representação desta ou daquela coisa criou, e corrigindo
ou reparando, realizará a justeza ou a clareza do mesmo. Se qualquer problema da
vida se apresenta para exame ou contestação, a memória, por esta arte de ler,
poderá recorrer ao modelo do quadro de percepção já existente, e por ele todas
as contribuições coligidas durante dezenas de anos e que dizem respeito a esse
problema são submetidas a uma prova racional e ao nosso exame, até que a questão
seja esclarecida ou respondida.
Só assim a leitura tem sentido e finalidade.
Um leitor, por exemplo, que, por esse meio, não fornecer à sua razão os
fundamentos necessários, nunca estará na situação de defender os seus pontos de
vista ante uma contradita, correspondam os mesmos mil vezes à verdade. Em cada
discussão a memória o abandonará desdenhosamente. Ele não encontrará razões nem
para o fortalecimento de suas afirmações, nem para a refutação das idéias do
adversário. Enquanto isso acarreta, como no caso de um orador o ridículo da
própria pessoa, ainda se pode tolerar; de péssimas conseqüências é, porém, que
esses indivíduos que "sabem" tudo e não são capazes de coisa alguma, sejam
colocados na direção de um Estado.
Muito cedo esforcei-me por ler por aquele processo e fui, da maneira mais
feliz, auxiliado pela memória e pela razão. Observadas as coisas por esse
aspecto, foi me fecundo e proveitoso, sobretudo o tempo que passei em Viena. A
experiência da vida diária servia de estímulo para sempre novos estudos dos mais
diversos problemas. Quando eu, por fim, cheguei à situação de poder fundamentar
a realidade na teoria e tirar a prova da teoria na experiência, na prática,
estava em condições de evitar o excesso de apego à teoria, ou descer demais à
realidade.
Assim, a experiência da vida diária, nesse tempo, em dois dos mais
importantes problemas, além do social, tornou-se definitiva e serviu de
estimulante para sólido estudo teórico.
Quem sabe se eu algum dia me teria aprofundado na teoria e na vida do
marxismo, se, outrora, eu não tivesse quebrado a cabeça com esse problema? O que
eu, na minha mocidade, conhecia sobre a social democracia era muito pouco e
muito errado.
Causava-me intenso prazer que a social democracia dirigisse a luta pelo
direito do voto secreto e universal. A minha razão já me dizia, porém, que essa
conquista deveria levar a um enfraquecimento do regime dos Habsburgos, por mim
já tão odiado.
Na convicção de que o Estado danubiano nunca se manteria sem o sacrifício
do espírito alemão, e que o mesmo prêmio de uma lenta eslavização do elemento
germânico de modo algum ofereceria garantia de um governo verdadeiramente
viável, pois a força criadora do Estado dos eslavos é muito hipotética, via eu
com prazer todo movimento que, na minha imaginação, poderia contribuir para o
desmembramento desse Estado de dez milhões de alemães, inviável e condenado à
morte. Quanto mais o palavrório corroía o parlamento, mais próximo deveria estar
a hora da ruína desse Estado babilônico e com ela também a hora da libertação
dos meus compatriotas austro-alemães. Só assim se poderia voltar à antiga
anexação à mãe-pátria.
Por isso, a atividade da social-democracia não me parecia antipática. Como
esse movimento se preocupava em melhorar as condições vitais do operariado como eu acreditava na minha ingenuidade de outrora - pareceu-me melhor falar a
seu favor do que contra. O que mais me afastava da social-democracia era sua
posição de adversária em relação ao movimento pela conservação do espírito
germânico, a deplorável inclinação em favor dos "camaradas" eslavos que só
aceitavam esse alerta quando era acompanhado de concessões práticas,
repelindo-o, arrogantes e orgulhosos, quando não viam interesses. Davam, assim,
ao importuno mendigo a paga merecida.
Na idade de dezessete anos, a palavra marxismo era-me pouco conhecida,
enquanto socialismo e social-democracia pareciam-me concepções idênticas. Foi
preciso, também, nesse caso, que o punho forte do destino me abrisse os olhos
para essa maldita maneira de ludibriar o povo.
Até então eu só tinha contato com a social-democracia como observador em
algumas demonstrações coletivas, sem possuir nenhuma idéia da mentalidade de
seus adeptos ou da essência da doutrina. De repente. pude sentir os efeitos de
sua doutrinação e de sua maneira de encarar o mundo. O que, talvez só depois de
dezenas de anos, tivesse acontecido, aprendi agora no decurso de poucos meses,
isto é, a verdadeira significação de uma peste ambulante sob a máscara de
virtude social e amor ao próximo e da qual se deve depressa libertar a terra,
pois, ao contrário, muito facilmente a humanidade será por ela imolada.
No serviço de construções teve lugar o meu primeiro encontro com os
sociais-democratas. Logo de começo, não foi muito agradável. Minhas roupas ainda
estavam em ordem, minha linguagem era cuidada, minha vida comedida. Tinha tanto
que lutar com a minha sorte que pouco podia cuidar do que me cercava. Só
procurava trabalho para não passar fome e para ter a possibilidade de continuar,
mesmo lentamente, a minha educação. Talvez eu não me tivesse absolutamente
preocupado com o novo meio em que me achava, se, 1á no terceiro ou quarto dia,
não se tivesse dado um fato que me forçou a tomar imediatamente uma posição
definida: fui intimado a entrar no sindicato.
Meus conhecimentos sobre organização sindical eram então quase nulos. Nem a
sua utilidade nem a sua inutilidade podia eu aquilatar. Quando me esclareceram
que eu deveria entrar, recusei-me. Fundamentava a minha resolução com a razão de
que eu não entendia do assunto e que, sobretudo, não me deixava levar à força
para parte alguma. Talvez fosse a primeira a razão por que não me puseram
imediatamente na rua. Talvez esperassem que, dentro de alguns dias, eu estivesse
convertido ou pelo menos mais dócil.
Haviam-se enganado radicalmente.
Depois de quatorze dias, eu não poderia mais entrar para o sindicato, mesmo
que o tivesse desejado. Nestes quatorze dias, pude conhecer de mais perto os que
me cercavam, de modo que nenhuma força do mundo poderia mais arrastar-me a uma
organização, cujos esteios me apareceram sob uma luz tão desfavorável.
Nos primeiros dias fiquei indignado.
Ao meio-dia, uma parte dos
operários ia para a estalagem próxima, enquanto a outra ficava no local daconstrução e aí tinha o seu magro almoço. Estes eram casados, para os quais as
mulheres, em miseráveis vasilhas, traziam a sopa do meio-dia. Para o fim da
semana, o número desses era sempre maior. A razão disso só mais tarde
compreendi.
Então conversava-se política.
Eu bebia minha garrafa de leite e comia o meu pedaço de pão, conservando-me
sempre afastado, e estudava com atenção meus novos conhecidos ou refletia sobre
a minha triste sorte. Não obstante isso, ouvia mais do que o suficiente.
Pareceu-me freqüentemente que se aproximavam de mim de propósito para me
forçarem a tomar uma posição. Em todo caso, como vim a saber, isso visava o
efeito de me provocar.
Ali tudo se negava: a nação era uma invenção das classes capitalistas (que
número infinito de vezes ouvi essa palavra!); a Pátria era um instrumento da
burguesia para exploração das massas trabalhadoras; a autoridade da lei era
simples meio de opressão do proletariado; a escola era instituto de cultura do
material escravo e mantenedor da escravidão; a religião era vista como meio de
atemorizar o povo para melhor exploração do mesmo; a moral não passava de uma
prova da estúpida paciência de carneiro do povo. Não havia nada, por mais puro,
que não fosse arrastado na lama mais asquerosa.
De começo, tentei manter-me em silêncio. Por fim, não podia mais. Comecei a
tomar posição, comecei a contraditar. Então passei a compreendei- que essa
oposição de nada valia, enquanto eu não possuísse conhecimentos seguros sobre os
pontos debatidos. Comecei a pesquisar nas próprias fontes, de onde eles extraíam
a sua fictícia sabedoria. Li livros sobre livros, brochuras sobre brochuras. No
local do serviço, as coisas chegavam freqüentemente à exaltação. Eu discutia
cada vez melhor, até que um dia foi empregado um meio que facilmente levava de
vencida a razão: o terror, a força. Alguns dos defensores do lado contrário
intimaram-me a abandonar a construção imediatamente ou a ser jogado do andaime.
Como estava sozinho e a resistência seria impossível, preferi seguir o primeiro
alvitre, adquirindo assim mais uma experiência.
Saí, enojado, mas, ao mesmo tempo, tão impressionado que já agora seria
inteiramente impossível para mim abandonar a questão. Não. Depois da eclosão da
primeira revolta, a obstinação de novo venceu. Estava firmemente resolvido a
voltar, apesar de tudo para outro serviço de construção. Essa decisão foi
fortalecida pela situação precária em que me encontrei algumas semanas mais
tarde, depois de gastar as pequenas economias. Não me restava outra saída, quer
eu quisesse quer não. E cena idêntica desenrolou-se, para acabar da mesma forma
que a primeira.
Travou-se uma luta no meu íntimo, que se define nesta pergunta: isso é
gente digna de pertencer a um grande povo?
Eis uma pergunta angustiosa. Se a respondermos afirmativamente, a luta por
uma nacionalidade merecerá os trabalhos e os sacrifícios que os melhores fazem
por um tal rebotalho? Se a resposta for negativa, então o nosso povo já está
muito pobre em homens.
Com desânimo inquietador via eu, naqueles dias críticos e atormentados, a
massa, que já não pertencia a seu povo, tornar-se um exército ameaçador.
Com que sentimentos diferentes fitava, então, as filas sem fim dos
trabalhadores vienenses em um dia de demonstração coletiva! Durante quase duas
horas, de pé, um dia, observei, com a respiração suspensa, a monstruosa onda
humana que rolava lentamente. Tomado de um desânimo inquieto, abandonei a praça
e dirigi-me para casa. No caminho, vi em uma tabacaria o "Arbeiterzeitung",
órgão central da antiga social-democracia. Em um café popular, que eu
freqüentava constantemente a fim de ler os jornais, esse periódico também era
exposto à venda. Eu não podia, porém, fazer o sacrifício de passar uma vista por
mais de dois minutos na folha infame, que, para mim, tinha o efeito do vitríolo.
Debaixo da acabrunhadora impressão que a demonstração coletiva havia
produzido, senti uma voz íntima que me incitava a comprar o jornal e lê-lo
inteiramente. À noite tratei disso, vencendo a crescente repulsa que sempre
experimentava ao ver essa torneira de mentiras concentradas. Melhor do que em
toda a literatura teórica, pude, pela leitura diária da imprensa
social-democrática, estudar a essência do movimento e o curso das suas idéias.
Que diferença entre as cintilantes frases de liberdade, beleza e dignidade
da literatura teórica, entre o fogo-fátuo do palavrório que, laboriosamente,
aparenta a mais profunda e irresistível sabedoria, pregada com uma segurança
profética, e a brutal virtuosidade da mentira da imprensa diária que trabalhava
pela salvação da nova humanidade sem recuar ante nenhuma objeção, usando de
todos os recursos da calúnia!
Uma é destinada aos estúpidos das camadas intelectuais médias e superiores,
a outra às massas.
A meditação sobre a literatura e a imprensa dessa doutrinação, servia-me
para descobrir de novo a minha gente.
O que, a princípio, me parecia um abismo intransponível, devia tornar-se
motivo para amar cada vez mais o meu povo.
Só um louco poderia, depois de conhecer esse monstruoso trabalho de
envenenamento, condenar ainda as vítimas do mesmo. Quanto mais independente eu
me tornava nos anos seguintes, tanto mais longe alcançava a minha vista as
causas íntimas do êxito da social-democracia. Então compreendendo a significação
da exigência brutal feita ao operário para só ler jornais vermelhos, só
freqüentar assembléias vermelhas, só ler livros vermelhos, etc., vi, muito
claro, os efeitos violentos dessa doutrinação da intolerância.
A psique das massas é de natureza a não se deixar influenciar per meias
medidas, por atos de fraqueza.
Assim como as mulheres, cuja receptividade mental é determinada menos por
motivos de ordem abstrata do que por uma indefinível necessidade sentimental de
uma força que as complete e, que, por isso preferem curvar-se aos fortes a
dominar os fracos, assim também as massas gostam mais dos que mandam do que dos
que pedem e sentem-se mais satisfeitas com uma doutrina que não tolera nenhuma
outra do que com a tolerante largueza do liberalismo. Elas não sabem o que fazer
da liberdade e, por isso, facilmente sentem-se abandonadas.
A impudência do terrorismo espiritual passa-lhes despercebida, assim como
os crescentes atentados contra a sua liberdade que as deveriam levar à revolta.
Elas não se apercebem, de nenhum modo, dos erros intrínsecos dessa doutrinação.
Elas vêem apenas a força incontrastável e a brutalidade de suas resolutas
manifestações externas, ante as quais sempre se curvam.
Se uma doutrina que encerrasse mais inveracidade ao lado de idêntica
brutalidade na propaganda, fosse oposta à social-democracia, triunfaria, do
mesmo modo, por mais áspera que fosse a luta.
Em menos de dois anos, não só a doutrina da social-democracia mas também o
seu emprego como instrumento prático, tornaram-se-me claros.
Eu compreendi o infame terror espiritual que esse movimento exerce
especialmente sobre a burguesia.
A um dado sinal, os seus propagandistas lançam um chuveiro de mentiras e
calúnias contra o adversário que lhes parece mais perigoso, até que se rompam os
nervos dos agredidos que, para terem tranqüilidade, se rendem ao inimigo.
Mas é do destino dos tolos nunca alcançarem o sossego.
O jogo recomeça e repete-se inúmeras vozes, até que o pavor ante os
monstros selvagens provoca uma significativa imobilidade do adversário.
Como a social democracia, por experiência própria, conhece muito bem o
valor da força, lança-se mais violentamente contra aqueles em cuja
individualidade descobre algum sistema de resistência. Por outro lado, incensa
todos os fracos do lado oposto, a princípio cautelosamente e depois abertamente,
conforme essas qualidades morais sejam reais ou imaginárias.
Eles receiam menos um gênio impotente e sem vontade do que uma natureza
forte, mesmo intelectualmente modesta.
A social-democracia se recomenda sobretudo aos fracos de espírito e de
caráter.
Esse partido sabe aparentar que só ele conhece o segredo da paz e
tranqüilidade, enquanto, cautelosamente mas de maneira decidida, conquista uma
posição depois da outra, ora por meio de discreta pressão, ora através de
requintadas escamoteações em momentos em que a atenção geral está dirigida para
outros assuntos, não quer por ele ser despertada ou tem a oportunidade como não
merecendo grande interesses ou receia provocar o perverso adversário.
Essa é uma tática que, tendo em conta exatamente tidas as fraquezas
humanas, é coroada de êxito matemático, quando o adversário não aprende a usar
gás venenoso contra gás venenoso, isto é, as mesmas armas do agressor.
É preciso que se diga às naturezas fracas que se trata de uma luta de vida
ou de morte.
Não menos compreensível para mim tornou-se a significação do terror
material em relação aos indivíduos e às massas.
Aqui também havia um cálculo exato de atuação psicológica. O terror nos
lugares de trabalho, nas fábricas, nos locais de reunião e por ocasião das
demonstrações coletivas, era sempre coroado de êxito, enquanto um terror maior
não se lhe opunha.
Quando acontece essa última hipótese, o partido, em gritos de pavor, embora
habituado a desrespeitar a autoridade do Estado, em altos berros pedirá seu
auxílio, para, na maioria dos casos, no meio da confusão geral, alcançar o seu
verdadeiro objetivo, isto é: encontrar covardes autoridades que, na tímida
esperança de poder de futuro contar com o temível adversário, auxiliem-no a
combater o inimigo.
Que impressão um tal êxito exerce sobre o espírito das vastas massas e dos
seus adeptos, assim como sobre o vencedor, só pode avaliar quem conhece a alma
do povo, não através de livros mas pelo estudo da própria vida, pois, enquanto,
no círculo dos vencedores, o triunfo alcançado é tido como uma vitória do
direito de sua causa, o adversário batido, na maioria dos casos, duvida do êxito
de uma outra resistência.
Quanto melhor eu conhecia os métodos da violência material, tanto mais me
inclinava a desculpar as centenas de milhares de proletários que cediam ante a
força bruta.
A compreensão desse fato devo principalmente aos meus antigos tempos de
sofrimentos, os quais me fizeram entender o meu povo e fazer a diferença entre
as vítimas e os seus condutores.
Como vítimas devem ser vistos os que foram submetidos a essa situação
corruptora. Quando eu me esforçava por estudar, na vida real, a natureza íntima
dessas camadas "inferiores", não podia delas fazer uma idéia justa, sem a
segurança de que, nesse meio, também encontrava qualidades recomendáveis, como
sejam capacidade de sacrifício, fiel camaradagem, extraordinária sobriedade,
discreta modéstia, virtudes essas muito comuns, sobretudo nos antigos
sindicatos. Se é verdade que essas virtudes se diluíam cada vez mais nas novas
gerações, sob a atuação das grandes cidades, incontestável é também que muitas
conseguiam triunfar sobre as vilezas comuns da vida. Se esses homens, bons e
bravos, na sua atividade política, entravam nas fileiras dos inimigos do nosso
povo e a estes auxiliavam, era porque não compreendiam e nem podiam compreender
a vileza da nova doutrina ou porque, em ultima ratio, as injunções sociais eram
mais fortes do que todas as vontades em contrário. As contingências da vida a
que, de um modo ou de outro, estavam fatalmente sujeitos, faziam-nos entrar no
acampamento da social-democracia.
Como a burguesia, inúmeras vezes, da maneira mais inepta e também a mais
imoral, fazia frente às mais justas aspirações coletivas, sem muitas vezes
retirar ou esperar retirar qualquer proveito de uma tal atitude, mesmo o mais
ordeiro trabalhador saia da organização sindical para tomar parte na atividade
política.
Milhões de proletários, na intimidade, foram, sem dúvida, de começo,
inimigos do partido social-democrático. Foram, porém, derrotados na sua oposição
pela conduta idiota do partido burguês combatendo todas as reivindicações da
massa dos trabalhadores.
A impugnação cega da burguesia a todos os ensaios por uma melhoria nas
condições do trabalho, tais como um aparelhamento de defesa contra as máquinas,
a proteção ao trabalho das crianças e a proteção da mulher, pelo menos nos
últimos meses de gravidez, tudo isso auxiliou a social-democracia a pegar as
massas nas suas redes. Esse partido sabia aproveitar todos os casos em que
pudesse manifestar sentimentos de piedade para com os oprimidos. Nunca mais
poderá a nossa burguesia política reparar os seus erros, pois, enquanto ela se
opunha a todas as tentativas por uma remoção dos males sociais, semeava ódio e
justificava mesmo as afirmações dos inimigos da nacionalidade, segundo as quais
só o Partido Social Democrata defendia os interesses das classes produtoras.
Aí estão as razões morais da resistência dos sindicatos e os motivos por
que prestaram os melhores serviços àquele partido político.
Nos meus anos de aprendizado em Viena fui forçado, quer quisesse quer não,
a tomar posição no problema dos sindicatos.
Como eu os via como parte integral e indivisível do Partido Social
Democrata, minha decisão foi rápida e falsa.
Como era natural, recusei-me a entrar para o sindicato.
Também nesta importante questão foi a vida real que me serviu de mestre.
O resultado foi uma reviravolta nos meus primeiros julgamentos.
Aos vinte anos, já fazia a diferença entre o sindicato como meio de defesa
dos direitos sociais dos empregados e de luta pela melhoria das condições de
vida dos mesmos e o sindicato como instrumento do partido na luta política de
classes.
Como a social-democracia compreendeu a enorme significação do movimento
sindicalista, assegurou para si a colaboração desse instrumento e dai o seu
êxito; como a burguesia não a compreendeu, isso lhe custou a sua posição
política. Na sua teimosa oposição, imaginou a burguesia fazer parar uma evolução
fatal e, na realidade, conseguiu apenas forçá-la a tomar um caminho ilógico.
Dizer-se que o movimento sindical em si é inimigo da Pátria é uma idiotice, e
além disso, uma inverdade. O contrário é que é a verdade. Se uma atividade
sindical tem como objetivo a melhoria de uma classe que constitui uma das
colunas mestras da nação e se esforça por realizá-lo, essa atividade não só não
se exerce contra a Pátria e o Estado mas, no verdadeiro sentido da palavra,
consulta os interesses nacionais. É fora de qualquer dúvida que essa atuação
auxilia a criar programas sociais, sem o que nem se deve pensar em uma educação
nacional coletiva. Esse movimento atinge seu maior mérito quando, pelo combate
aos cancros sociais existentes, ataca as causas das moléstias do corpo e do
espírito, contribuindo para a conservação da saúde do povo. É ociosa a discussão
sobre as vantagens dessas agitações.
Enquanto, entre os que distribuírem trabalho, houver homens que não
compreendam a questão social ou possuam idéias erradas de direito e de justiça,
é não só direito mas dever dos por eles empregados, - que aliás formam uma parte
do nosso povo - proteger os interesses da quase totalidade contra a avidez ou a
irracionalidade de poucos, pois a manutenção da fé na massa do povo é para o
bem-estar da nação tão importante quanto a conservação da sua saúde.
Ambos esses interesses serão seriamente ameaçados pelos indignos
empregadores que não têm os mesmos sentimentos da coletividade, de que vivem
divorciados. Devido à sua condenável atitude, inspirada na ambição ou na
intransigência, nuvens ameaçadoras anunciam tempestades futuras.
Remover as causas de uma tal evolução é conquistar um mérito em relação à
Pátria. Agir ao contrário é trabalhar contra os interesses da nação.
Não se diga que cada um tem independência suficiente para tirar todas as
conclusões das injustiças reais ou fictícias que lhe são feitas. Não, isso é
hipocrisia e deve ser visto como tentativa para desviar a atenção das soluções
justas.
A alternativa é a seguinte: evitar acontecimentos nocivos à coletividade
consulta ou não os interesses da nação? Na primeira hipótese, a luta deve ser
aceita com todas as armas que possam assegurar o triunfo.
O trabalhador, individualmente, não está nunca em condições de empenhar-se,
com êxito, em uma luta contra o poder do grande empregador. Nesse conflito não
se trata do problema da vitória do direito. Se assim fosse, o simples
reconhecimento desse direito faria cessar toda luta, pois desapareceria, em
ambas as partes, o desejo de combater. Trata-se, porém, de uma questão de força.
Naquele caso, o sentimento de justiça por si só faria terminar a luta de modo
honroso, ou melhor, nunca se chegaria a ela. Se atos indignos ou contrários aos
interesses sociais arrastam à -reação, a luta só poderá ser decidida em favor do
lado mais forte, salvo se a justiça se dispuser à solução desses males.
Além disso, é evidente que o empregador, apoiado na força concentrada de
suas empresas, terá que enfrentar o corpo de empregados, se não quiser ser
compelido a perder, desde o início, qualquer esperança de vitória.
Assim a organização sindical pode produzir o fortalecimento dos ideais
sociais por unia atuação mais prática e, com isso, o afastamento de causas de
irritação que sempre dão motivo a descontentamentos e a queixas. Se isso não
acontece deve-se em grande parte àqueles que a todas as soluções legais das
dificuldades do povo julgam opor obstáculos ou impedi-las por meio de sua
influência política.
Enquanto a burguesia não compreendia a significação da organização
sindical, ou, melhor, não queria entendê-la, e insistia em fazer-lhe oposição, a
social-democracia punha-se ao lado do movimento combatido.
Vendo longe, ela criou para si uma base firme que nos momentos críticos, já
lhe havia servido de último esteio. A verdade, porém, é que a antiga finalidade
era, pouco a pouco, abandonada, para dar lugar a outros objetivos.
A social-democracia nunca pensou em solucionar os problemas reais do
movimento profissional.
Em poucas décadas, nas mãos espertas da social-democracia, o movimento
sindical de instrumento de defesa dos direitos sociais passou a ser instrumento
de destruição da economia nacional.
Os interesses dos trabalhadores não deveriam em nada obstar a sua ação,
pois, politicamente, o emprego de meios de compressão econômica sempre permite a
extorsão e o exercício de violências a toda hora, sempre que, de um lado, há a
necessária falta de escrúpulos e, do outro, a suficiente estupidez junta a uma
paciência de cordeiro. E isso acontece nos dois campos em luta.
Já no começo deste século o movimento sindical, de há muito, havia deixado
de servir ao seu objetivo de outrora.
De ano a ano, ele, cada vez mais, caía nas mãos dos políticos da
social-democracia, para, por fim, ser utilizado apenas como pára-choque na luta
de classes. Em conseqüência de permanentes conflitos deveria, finalmente, levar
à ruína toda a organização econômica, pacientemente construída, arrastando o
edifício do Estado à mesma sorte, pela destruição de suas fundações econômicas.
Cogitava-se cada vez menos da defesa de todos os interesses reais do
proletariado, até chegar-se à conclusão de que a prudência política considerava
como não aconselhável melhorar as condições sociais e culturais das grandes
massas, pois, ao contrário, corria-se o perigo de que essas, tendo seus desejos
satisfeitos, não mais poderiam ser eternamente utilizadas como tropas de combate
facilmente manejáveis.
Essa evolução atemorizou de tal maneira os guias da luta de classes que
eles, por fim, se opuseram a todas as salutares reformas sociais e, da maneira
mais decidida, tomaram posição de combate às mesmas.
Na justificação dos fundamentos dessa atitude negativa e incompreensível
nada deviam recear.
No campo burguês estava se escandalizado com essa visível falta de
sinceridade da tática da social democracia, sem que, porém, dai se tirassem as
mínimas conclusões para um acertado plano de ação. Justamente o receio da
social-democracia diante de cada melhoria real da situação do proletariado em
relação à profundidade de sua até então miséria cultural e social, talvez
tivesse concorrido a arrancar esse instrumento das mãos dos representantes de
classes
Isso não aconteceu, porém. Em vez de tomar a ofensiva, a burguesia deixou
apertar-se cada vez mais o cerco em torno de si para, enfim, adotar providências
inadequadas que, por muito tardias, tornaram-se sem eficiência, e, por isso
mesmo, eram facilmente repelidas. Assim ficou tudo como antes, apenas o
descontentamento tornou-se cada vez maior.
Os "sindicatos independentes", como uma nuvem tempestuosa, obscureciam o
horizonte político, ameaçando também a existência dos indivíduos. Essas
organizações se transformaram no mais temível instrumento de terror contra a
segurança e independência da economia nacional, a solidez do Estado e a
liberdade dos indivíduos.
Foram eles, sobretudo, que transformaram a concepção da democracia em uma
frase asquerosa e ridícula, que profanava a liberdade e escarnecia, de maneira
imperecível, da fraternidade, nesta proposição: "Se não quiseres ser dos nossos,
nós te arrebentaremos a cabeça".
Assim começava eu a conhecer esses inimigos do "gênero humano".
No decurso dos anos, a opinião sobre eles desenvolveu-se e aprofundou-se,
sem modificar-se, porém.
Quanto mais eu estudava o aspecto exterior da social-democracia, tanto mais
crescia o desejo de penetrar na estrutura íntima dessa doutrina.
A literatura oficial do Partido de pouca utilidade me poderia ser na
realização desse objetivo. Ela é, no que diz respeito a questões econômicas,
falsa nas suas afirmações e conclusões e mentirosa quanto à finalidade política.
Daí a razão por que eu me sentia, de coração, afastado dos novos modos de
expressão da eterna rabulice política e da sua maneira de descrever as coisas.
Com um inconcebível luxo de palavras de significação obscura, gaguejavam
sentenças que deveriam ser ricas de pensamento como eram falhas de senso.
Só a decadência dos nossos intelectuais das grandes cidades poderia, neste
labirinto da razão, sentir-se confortavelmente, para, no nevoeiro deste dadaismo
literário, compreender a "vida íntima", apoiado na proverbial inclinação de uma
parte do nosso povo, para sempre farejar a sabedoria profunda no meio dos
paradoxos pessoais.
Enquanto eu, na realidade de suas demonstrações, pesava todas as mentiras e
desatinos teóricos dessa doutrina, chegava, pouco a pouco, a uma compreensão
mais clara da sua vontade.
Nestas horas apoderavam-se de mim idéias tristes e maus presságios. Vi
diante de mim uma doutrina, constituída de egoísmo e de ódio, que, por leis
matemáticas, poderá ser levada à vitória mas arrastará a humanidade à ruína.
Nesse ínterim, eu já tinha compreendido a ligação entre essa doutrina de
destruição e o caráter de uma certa raça para mim até então desconhecida.
Só o conhecimento dos judeus ofereceu-me a chave para a compreensão dos
propósitos íntimos e, por isso, reais da social-democracia. Quem conhece este
povo vê cair-se-lhe dos olhos o véu que impedia descobrir as concepções falsas
sobre a finalidade e o sentido deste partido e, do nevoeiro do palavreado de sua
propaganda, de dentes arreganhados, vê aparecer a caricatura do marxismo.
Hoje é-me difícil, senão impossível, dizer quando a palavra judeu pela
primeira vez foi objeto de minhas reflexões. Na casa paterna, durante a vida de
meu pai, não me lembro de tê-la ouvido. Creio que ele já via nessa palavra a
expressão de uma cultura retrógrada. No curso de sua vida, ele chegou a uma
concepção mais ou menos cosmopolita do mundo combinada a um nacionalismo radical
que, também, exercia seus efeitos sobre mim.
Na escola também não encontrei oportunidade que me pudesse levar a uma
modificação desse modo de encarar as coisas, que me havia transmitido meu pai.
É verdade que, na escola profissional, eu havia conhecido um jovem judeu
que era tratado por nós com certa prevenção, mas isso somente porque não
tínhamos confiança nele, devido ao seu todo taciturno e a vários fatos que nos
haviam escarmentado. Nem a mim nem aos outros despertou isso quaisquer
reflexões.
Só dos meus quatorze para os quinze anos deparei freqüentemente com a
palavra judeu, ligada em parte a conversas sobre assuntos políticos. Sentia
contra isso uma ligeira repulsa e não podia evitar essa impressão desagradável
que, aliás, sempre se apoderava de mim quando discussões religiosas se travavam
na minha presença.
Nesse tempo eu não via a questão sob qualquer outro aspecto.
Em Linz havia muito poucos judeus. Com o decorrer dos séculos, o aspecto do
judeu se havia europeizado e ele se tornara parecido com gente. Eu os tinha por
alemães, Não me era possível compreender o erro desse julgamento, porque o único
traço diferencial que neles via era o aspecto religioso diferente do nosso.
Minha condenação a manifestações contrárias a eles, a perseguição que se lhes
movia, por motivos de religião como eu acreditava, levavam-me à irritação, Eu
não pensava absolutamente na existência de um plano regular de combate aos
judeus.
Com essas idéias vim para Viena.
Absorvido pela avalancha de impressões que a arquitetura despertava,
abatido pelo peso da minha própria sorte, eu não tinha olhos para observar a
estrutura da população da grande cidade.
Embora Viena, já naquele tempo, possuísse duzentos mil judeus em uma
população de dois milhões, não me apercebi desse fato. Nas primeiras semanas, os
meus sentidos não puderam abarcar o conjunto de tantos valores e idéias novas.
Só depois que, pouco a pouco, a serenidade voltou e as imagens confusas dos
primeiros tempos começaram a esclarecer-se, é que mais acuradamente pude ver em
torno de mim o novo mundo que me cercava e, então, deparei também com o problema
judaico.
Não quero afirmar que a maneira por que eu os conheci me tenha sido
particularmente agradável. Eu só via no judeu o lado religioso. Por isso, por
uma questão de tolerância, considerava injusta a sua condenação por motivos
religiosos. O tom, sobretudo da imprensa anti-semítica de Viena, parecia me
indigno das tradições de cultura de um grande povo, Causava-me mal-estar a
lembrança de certos fatos da Idade Média, cuja reprodução não desejava ver. Como
esses jornais não valiam grande coisa - e a razão disso eu então não conhecia via neles mais o produto de mesquinha inveja do que o resultado de uma questão
de princípios, embora falsos.
Fortaleci-me nessa maneira de pensar pela forma infinitamente mais digna
(assim pensava eu então) por que a grande imprensa respondia a todos esses
ataques ou - o que me parecia de mais mérito ainda pelo silêncio de morte em que
se mantinha.
Lia com fervor a chamada grande imprensa ("Neue Freie Presse", "Wiener
Tageblatt", etc.) e ficava admirado ante a extensão dos assuntos que oferecia ao
leitor assim como diante da objetividade das suas manifestações em cada caso
particular. Apreciava o seu estilo elegante, distinto. Os exageros de forma não
me agradavam, chocavam-me.
Porque eu tenha visto Viena assim, apresento como desculpa o esclarecimento
que me dei a mim mesmo.
O que repetidamente me causava repugnância era a maneira indigna pela qual
a imprensa bajulava a corte.
Não havia acontecimento na corte que não fosse comunicado aos leitores em
tom do mais intenso entusiasmo ou da mais lamurienta consternação, prática essa
que, mesmo tratando-se do "mais sábio monarca" de todos os tempos, podia ser
comparada aos excessos incontidos de um galo silvestre.
Isso me parecia exagerado e era por mim visto como uma mancha para a
Democracia liberal.
Pretender as graças desta corte e de maneira tão indigna era o mesmo que
trair a dignidade da nação.
Esta foi a primeira sombra que devia perturbar as minhas afinidades
espirituais com a grande imprensa de Viena.
Como sempre, também em Viena, eu acompanhava todos os acontecimentos da
Alemanha com o maior ardor, quer se tratasse de questões políticas ou de
problemas culturais.
Com uma admiração a que se juntava o maior orgulho, eu comparava a elevação
do Reich com a decadência do Estado austríaco, Enquanto os acontecimentos da
política externa, na sua maior parte, provocavam geral contentamento, a política
interna freqüentemente dava margem a sombrias aflições. A campanha que, naquele
tempo, se movia contra Guilherme II, não tinha a minha aprovação, Nele eu não
via só o Imperador dos Alemães mas também o criador da frota alemã. A imposição
feita pelo Reichstag de não permitir ao Kaiser fazer discursos indignava-me de
modo tão extraordinário, porque essa proibição partia de uma fonte que, aos meus
olhos, nenhuma autoridade possuía, atendendo a que, em um só período de sessão,
esses gansos do parlamento haviam grassitado mais idiotices do que o poderia
fazer, durante séculos, uma inteira dinastia de imperadores, dado o seu muito
menor número.
Eu me encolerizava com o fato de, em um país em que qualquer imbecil não só
reivindicava para si o direito de crítica mas, no Parlamento, tinha até a
permissão de decretar leis para a Pátria, o detentor da coroa imperial pudesse
receber admoestações da mais superficial das instituições de palavrório de todos
os tempos.
Irritava-me ainda mais com o fato de ver que a mesma imprensa "vienense"
que, diante de um cavalo da corte, se desfazia nas mais respeitosas mesuras a um
acidental movimento da cauda do mesmo, aparentando cuidados que para mim não
passavam de mal encoberta maldade, pudesse exprimir o seu pensamento contra o
imperador dos alemães!
Em tais casos o sangue me subia à cabeça.
Foi isso o que, pouco a pouco, me fez olhar com mais atenção a grande
imprensa.
Fui forçado a reconhecer uma vez que um dos jornais anti-semíticos, o
"Deutsche Volksblatt", em uma oportunidade idêntica, portara se de maneira mais
decente.
O que também me enervava era a nojenta bajulação com que a grande imprensa
se referia à França.
Éramos forçados a nos envergonhar de sermos alemães quando nos chegavam aos
ouvidos esses açucarados hinos de louvor à "grande nação da cultura".
Essa lastimável galomania mais de uma vez me levou a deixar cair das mãos
um desses grandes jornais.
Freqüentemente, procurava o "Volksblatt" que, apesar de muito menor,
parecia-me mais limpo nesses assuntos.
Não concordava com a sua atitude radicalmente anti-semítica, mas, de vez em
quando, eu encontrava argumentações que me faziam refletir.
De qualquer modo, por meio de "Volksblatt", eu pude conhecer aos poucos o
homem e o movimento de que dependiam a sorte de Viena: o Dr. Karl Lueger e o
Partido Social Cristão.
Quando vim para Viena era francamente contrário a ambos.
O movimento e o seu líder me pareciam reacionários.
O habitual sentimento de justiça deveria, porém, modificar esse julgamento,
à proporção que se me oferecia oportunidade de conhecer o homem e a sua atuação.
Com o tempo, tornei-me de franco entusiasmo por ele. Hoje, vejo-o, mais do que
antes, como o mais forte burgo-mestre alemão de todos os tempos,
Quantas de minhas arraigadas convicções caíram por terra com essa mudança
de modo de ver a respeito do movimento social-cristão!
A minha maior metamorfose foi, porém, a que experimentei em relação ao
movimento anti-semítico.
Isso me custou, durante meses, as maiores lutas íntimas, entre os meus
sentimentos e as minhas idéias, luta em que as idéias acabaram por triunfar.
Por ocasião dessa áspera luta entre a educação sentimental e a razão pura,
a observação da vida de Viena prestou-me serviços inestimáveis.
Eu já não errava pelas ruas da importante cidade como um cego que nada vê.
Com os olhos bem abertos, observava não mais somente os monumentos
arquitetônicos mas também os homens.
Um dia em que passeava pelas ruas centrais da cidade, subitamente deparei
com um indivíduo vestido em longo caftan e tendo pendidos da cabeça longos
caches pretos.
Meu primeiro pensamento foi: isso é um judeu?
Em Linz eles não tinham as características externas da raça.
Observei o homem, disfarçada mas cuidadosamente, e quanto mais eu
contemplava aquela estranha figura, examinando-a traço por traço, mais me
perguntava a mim mesmo: isso é também um alemão?
Como acontecia sempre em tais ocasiões, tentei remover as minhas dúvidas
recorrendo aos livros. Pela primeira vez na minha vida, comprei, por poucos
pfennigs, alguns panfletos anti-semíticos. Infelizmente, todos partiam do ponto
de vista de já ter o leitor algum conhecimento da questão semítica. O tom da
maior parte desses folhetos era tal que, de novo, fiquei em dúvida. As suas
afirmações eram apoiadas em argumentos tão superficiais e anticientíficos que a
ninguém convenciam.
Durante semanas, talvez meses, permaneci na situação primitiva.
O
assunto parecia-me tão vasto, as acusações tão excessivas, que, torturado pelo
receio de fazer uma injustiça, de novo fiquei em um estado de incerteza e
ansiedade.
Não me era lícito duvidar que, no caso, não se tratava de uma
questão religiosa, mas de raça, pois logo que comecei a estudar o problema e a
observar os judeus, Viena apareceu-me sob um aspecto diferente. Já agora, para
qualquer parte que me dirigisse, eu via judeus e quanto mais os observava mais
firmemente convencido ficava de que eles eram diferentes das outras raças.
Sobretudo no centro da cidade e na parte norte do canal do Danúbio, notava-se um
verdadeiro enxame de indivíduos que, por seu aspecto exterior, em nada se
pareciam com os alemães. Mesmo, porém, que me assaltassem ainda algumas dúvidas,
todas as hesitações se dissipavam em face da atitude de uma parte dos judeus.
Surgiu entre eles um grande movimento de vasta repercussão em Viena que
muito concorreu para um juízo seguro sobre o caráter racial dos judeus. esse
movimento foi o Sionismo.
Parecia, à primeira vista, que só uma parte dos judeus aprovava essa
atitude e que a grande maioria condenava aquele princípio e o rejeitava
decididamente. Após observação mais acurada, verificava-se que essa aparência se
traduzia em um misto de teorias, para não dizer de mentiras, apresentadas por
motivos tácitos, pois o chamado judeu liberal rejeitava os pontos de vista dos
sionistas, não porque esses fossem não judeus mas porque eram judeus que
pertenciam a um credo pouco prático e talvez mesmo perigoso para o próprio
judaísmo.
Essa discórdia em nada alterava, porém, a solidariedade íntima entre os
adversários.
A luta aparente entre os sionistas e os judeus liberais muito cedo me
despertou nojo. Comecei a vê-la como hipócrita, uma deslavada miséria, de começo
a fim, e, sobretudo, indignada da tão proclamada pureza moral desse povo.
De mais a mais, essa pureza moral ou de qualquer outra natureza era uma
questão discutível. Que eles não eram amantes de banhos podia-se assegurar pela
simples aparência. Infelizmente não raro se chegava a essa conclusão até de
olhos fechados, Muitas vezes, posteriormente, senti náuseas ante o odor desses
indivíduos vestidos de caftan. A isso se acrescentem as roupas sujas e a
aparência acovardada e tem-se o retrato fiel da raça.
Tudo isso não era de molde a atrair simpatia. Quando, porém, ao lado dessa
imundície física, se descobrissem as nódoas morais, maior seria a repugnância.
Nada se afirmou em mim tão depressa como a compreensão, cada vez mais
completa, da maneira de agir dos judeus em determinados assuntos.
Poderia haver uma sujidade, uma impudência de qualquer natureza na vida
cultural da nação em que, pelo menos um judeu, não estivesse envolvido?
Quem, cautelosamente, abrisse o tumor haveria de encontrar, protegido
contra as surpresas da luz, algum judeuzinho. Isso é tão fatal como a existência
de vermes nos corpos putrefatos.
O judaísmo provocou em mim forte repulsa quando consegui conhecer suas
atividades, na imprensa, na arte, na literatura e no teatro.
Protestos moles já não podiam ser aplicados. Bastava que se examinassem os
seus cartazes e se conhecessem os nomes dos responsáveis intelectuais pelas
monstruosas invenções no cinema e no drama, nas quais se reconhecia o dedo do
judeu, para que se ficasse por muito tempo revoltado. Estava-se em face de uma
peste, peste espiritual, pior do que a devastadora epidemia de 1348, conhecida
pelo nome de Morte Negra. E essa praga estava sendo inoculada na nação.
Quanto mais baixo é o nível intelectual e moral desses industriais da Arte,
tanto mais ilimitada é a sua atuação, pois até os garotos, transformados, em
verdadeiras máquinas, espalham essa sujeira entre os seus camaradas. Reflita-se
também no número ilimitado das pessoas contagiadas por esse processo, Pense-se
em que, para um gênio como Goethe, a natureza lança no mundo dezenas de milhares
desses escrevinhadores que, portadores de bacilos da pior espécie, envenenam as
almas.
É horrível constatar, - mas essa observação não deve ser desprezada.-.ser
justamente o judeu que parece ter sido escolhido pela natureza para essa
ignominiosa tarefa.
Dever-se-ia procurar na ignomínia dessa missão o motivo de haver essa
escolha recaído nos judeus?
Comecei a estudar cuidadosamente os nomes de todos os criadores dessas
podridões artísticas fornecidas ao povo. O resultado foi aumentar as minhas
prevenções na atitude em relação aos judeus. Por mais que isso contrariasse meus
sentimentos, eu era arrastado pela razão a tirar as minhas conclusões do que
observava.
Não se podia negar - porque era uma realidade - o fato de correrem por
conta dos judeus nove décimos da sordidez e dos disparates da literatura, da
arte e do teatro, fato esse tanto mais grave quanto é sabido que esse povo
representa um centésimo da população do país.
Comecei também a examinar debaixo do mesmo ponto de vista a grande imprensa
de minha predileção.
À proporção que o meu exame se aprofundava diminuía o motivo de minha
antiga admiração por essa imprensa. O estilo desses jornais era insuportável, as
idéias eu as repelia por superficiais e banais e as afirmações pareciam aos meus
olhos conter mais mentiras do que verdades honestas. E os editores dessa
imprensa eram judeus!
Muitas coisas que até então quase me passavam despercebidas agora me
chamavam a atenção como dignas de ser observadas, outras que já tinham sido
objeto de minhas reflexões passaram a ser melhor compreendidas.
Comecei a ver sob outra luz as opiniões liberais desses periódicos. O tom
de distinção das réplicas aos ataques, assim como o seu completo silêncio em
certos assuntos, revelavam-se agora como truques inteligentes e vis. As suas
brilhantes criticas teatrais sempre favoreciam os autores judeus e as
apreciações desfavoráveis só atingiam os autores alemães.
Suas ligeiras alfinetadas contra Guilherme II, assim como os elogios à
cultura e à civilização francesa, evidenciavam a persistência nos seus métodos.
O conteúdo das novelas era de repelente imoralidade e na linguagem via-se
claramente o dedo de um povo estrangeiro. O sentido geral dos seus escritos era
tão evidentemente depreciador de tudo quanto era alemão, que não se podia deixar
de nisso ver uma intenção deliberada.
Quem teria interesses nessa campanha?
Seria tanta coincidência mero acaso?
A dúvida foi crescendo em meu espírito.
Essa evolução mental precipitou-se com a observação de outros fatos, com o
exame dos costumes e da moral seguidos pela maior parte dos judeus.
Aqui ainda foi o espetáculo das ruas de Viena que me proporcionou mais uma
lição prática.
As ligações dos judeus com a prostituição e sobretudo com o tráfico branco
podiam ser estudadas em Viena, melhor do que em qualquer cidade da Europa
ocidental, como exceção, talvez, dos portos do sul da França.
Quem à noite passeasse pelas ruas e becos de Viena seria, quer quisesse
quer não, testemunha de fatos que se conservaram ocultos a grande parte do povo
alemão, até que a Guerra deu aos lutadores oportunidade de poderem, ou melhor,
de serem obrigados a assistir a cenas semelhantes.
Quando, pela primeira vez, vi o judeu envolvido, como dirigente frio,
inteligente e sem escrúpulos, nessa escandalosa exploração dos vícios do
rebotalho da grande cidade, passou-me um calafrio pelo corpo, logo seguido de um
sentimento de profunda revolta.
Então não mais evitei a discussão sobre o problema semítico.
Como procurava aprender a vida cultural e artística dos judeus sob todos os
aspectos, encontrei-os em uma atividade que jamais me tinha passado pela mente.
Agora que me tinha assegurado de que os judeus eram os líderes da
social-democracia, comecei a ver tudo claro. A longa luta que mantive comigo
mesmo havia chegado ao seu ponto final.
Nas relações diárias com os meus companheiros de trabalho, já minha atenção
tinha sido despertada pelas suas surpreendentes mutações, a ponto de tomarem
posições diferentes em torno de um mesmo problema, no espaço de poucos dias e,
às vezes, de poucas horas.
Dificilmente eu podia compreender como homens que, tomados isoladamente,
possuem visão racional das coisas, perdem-na de repente, logo que se põem em
contato com as massa. Era motivo para duvidar de seus propósitos.
Quando, depois de discussões que duravam horas inteiras, eu me tinha
convencido de haver afinal esclarecido um erro e já exultava com a vitória,
acontecia que, com pesar meu, no dia seguinte, tinha de recomeçar o trabalho,
pois tudo tinha sido debalde. Como um pêndulo em movimento, que sempre volta
para as mesmas posições, assim acontecia com os erros combatidos, cuja
reaparição era sempre fatal.
Assim pude compreender: 1.° que eles não estavam satisfeitos com a sorte
que tão áspera lhes era; 2.° que odiavam os empregadores que lhes pareciam os
responsáveis por essa situação; 3.° que injuriavam as autoridades que lhes
pareciam indiferentes ante a sua deplorável situação; 4.° que faziam
demonstrações nas ruas sobre a questão dos preços dos gêneros de primeira
necessidade.
Tudo isso podia-se ainda compreender, pondo-se a razão de lado. O que,
porém, era incompreensível era o ódio sem limites à sua própria nação, o
achincalhamento das suas grandezas, a profanação da sua história, o enlameamento
dos seus grandes homens.
Essa revolta contra a sua própria espécie, contra a sua própria casa,
contra o seu próprio torrão natal, era sem sentido, inconcebível e contra a
natureza.
Durante dias, no máximo semanas, conseguia-se livrá-los desse erro Quando,
mais tarde, encontrávamos o pretenso convertido, já os antigos erros de novo se
haviam apoderado de seu espírito. A monstruosidade tinha tomado posse de sua
vítima.
Pouco a pouco, compreendi que a imprensa social-democrática era, na sua
grande maioria, controlada pelos judeus. Liguei pouca importância a esse fato
que, aliás, se verificava com os outros jornais. Havia, porém, um fato
significativo: nenhum jornal em que os judeus tinham ligações poderia ser
considerado como genuinamente nacional, no sentido em que eu, por influência de
minha educação, entendia essa palavra.
Vencendo a minha relutância, tentei ler essa espécie de imprensa marxista,
mas a repulsa por ela crescia cada vez mais. Esforcei-me por conhecer mais de
perto os autores dessa maroteira e verifiquei que, a começar pelos editores,
todos eram judeus.
Examinei todos os panfletos sociais-democráticos que pude conseguir e,
invariavelmente, cheguei à mesma conclusão: todos os editores eram judeus. Tomei
nota dos nomes de quase todos os líderes e, na sua grande maioria, eram do "povo
escolhido", quer se tratasse de membros do "Reichscrat", de secretários dos
sindicatos, de presidentes de associações ou de agitadores de rua. Em todos
encontravam-se sempre a mesma sinistra figura do judeu. Os nomes de Austerlitz,
David, Adler, Ellenbogen etc., ficarão eternamente na minha memória.
Uma coisa tornou-se clara para mim. Os líderes do Partido Social Democrata,
com os pequenos elementos do qual eu tinha estado em luta durante meses, eram
quase todos pertencentes a uma raça estrangeira, pois para minha satisfação
íntima, convenci-me de que o judeu não era alemão. Só então compreendi quais
eram os corruptores do povo.
Um ano de estadia em Viena tinha sido suficiente para dar-me a certeza de
que nenhum trabalhador deveria persistir na teimosia de não se preocupar com a
aquisição de um conhecimento mais certo das condições sociais. Pouco a pouco,
familiarizei-me com a sua doutrina e dela me utilizava como instrumento para a
formação de minhas convicções íntimas.
Quase sempre a vitória se decidia para o meu lado.
Todo esforço devia ser tentado para salvar as massas, ainda com grandes
sacrifícios de tempo e de paciência.
Do lado dos judeus nenhuma esperança havia, porém, de libertá-los de um
modo de encarar as coisas.
Nesse tempo, na minha ingenuidade de jovem, acreditei poder evidenciar os
erros da sua doutrina. No pequeno círculo em que agia, esforçava-me, por todos
os meios ao meu alcance, por convencê-los da perniciosidade dos erros do
marxismo e pensava atingir esse objetivo, mas o contrário é o que acontecia
sempre. Parecia que o exame cada vez mais profundo da atuação deletéria das
teorias sociais democráticas nas suas aplicações servia apenas para tornar ainda
mais firmes as decisões dos judeus.
Quanto mais eu contendia com eles, melhor aprendia a sua dialética. Partiam
eles da crença na estupidez dos seus adversários e quando isso não dava
resultado fingiam-se eles mesmos de estúpidos. Se falhavam esses recursos, eles
se recusavam a entender o que se lhes dizia e, de repente, pulavam para outro
assunto, saíam-se com verdadeiros truismos que, uma vez aceitos, tratavam de
aplicar em casos inteiramente diferentes. Então quando, de novo, eram apanhados
no próprio terreno que lhes era familiar, fingiam fraqueza e alegavam não
possuir conhecimentos preciosos.
Por onde quer que se pegassem esses apóstolos, eles escapuliam como enguias
das mãos dos adversários. Quando, um deles, na presença de vários observadores,
era derrotado tão completamente que não tinha outra saída senão concordar, e que
se pensava haver dado um passo para a frente, experimentava-se a decepção de, no
dia seguinte, ver o adversário admirado de que assim se pensasse. O judeu
esquecia inteiramente o que se lhe havia dito na véspera e repetia os mesmos
antigos absurdos, como se nada, absolutamente nada, houvesse acontecido.
Fingia-se encolerizado, surpreendido e, sobretudo, esquecido de tudo, exceto de
que o debate tinha terminado por evidenciar a verdade de suas afirmações.
Eu ficava pasmo.
Não se sabia o que mais admirar, se a sua loquacidade, se o seu talento na
arte de mentir.
Gradualmente comecei a odiá-los.
Tudo isso tinha, porém, um lado bom. Nos círculos em que os adeptos, ou
pelo menos os propagadores da social-democracia, caíam sob as minhas vistas,
crescia o meu amor pelo meu próprio povo.
Quem poderia honestamente anatematizar as infelizes vítimas desses
corruptores do povo, depois de conhecer-lhes as diabólicas habilidades?
Como era difícil, até mesmo a mim, dominar a dialética de mentiras dessa
raça!
Quão impossível era qualquer êxito nas discussões com homens que invertem
todas as verdades, que negam descaradamente o argumento ainda há pouco
apresentado para, no minuto seguinte, reivindicá-lo para si!
Quanto mais eu me aprofundava no conhecimento da psicologia dos judeus,
mais me via na obrigação de perdoar aos trabalhadores.
Aos meus olhos, a culpa maior não deve recair sobre os operários mas sim
sobre todos aqueles que acham não valer a pena compadecer-se da sua sorte, com
estrita justiça dar aos filhos do povo o que lhes é devido, mas poupar os que os
desencaminham e corrompem.
Levado pelas lições da experiência de todos os dias, comecei a pesquisar as
fontes da doutrina marxista. Em casos individuais, a sua atuação me parecia
clara. Diariamente, eu observava os seus progressos e, com um pouco de
imaginação, podia avaliar as suas conseqüências. A Única questão a examinar era
saber se os seus fundadores tinham presente no espírito todos os resultados de
sua invenção ou se eles mesmos eram vitimas de um erro.
As duas hipóteses me pareciam possíveis.
No primeiro caso, era dever de todo ser pensante colocar-se à frente da
reação contra esse desgraçado movimento, para evitar que chegasse às suas
extremas conseqüências; na segunda hipótese, os criadores dessa epidemia
coletiva deveriam ter sido espíritos verdadeiramente diabólicos, pois só um
cérebro de monstro - e não o de um homem - poderia aceitar o plano de uma
organização de tal porte, cujo objetivo final conduzirá à destruição da cultura
humana e à ruína do mundo.
Nesse último caso, a solução que se impunha, como última tábua de salvação,
era a luta com todas as armas que pudesse abraçar a razão e a vontade dos
homens, mesmo se a sorte do combate fosse duvidosa.
Assim comecei a entrar em contato com os fundadores da doutrina a fim de
poder estudar os princípios em que se fundava o movimento marxista. Consegui
esse objetivo mais depressa do que me seria lícito supor, devido aos
conhecimentos que possuía sobre a questão semítica, embora ainda não muito
profundos. Essa circunstância tornou possível uma comparação prática entre as
realidades do mesmo e as reivindicações teóricas da social-democracia, que tanto
me tinha auxiliado a entender os métodos verbais do povo judeu, cuja principal
preocupação é ocultar ou pelo menos disfarçar os seus pensamentos. Seu objetivo
real não está expresso nas linhas mas oculto nas entrelinhas.
Foi por esse tempo que se operou em mim a maior modificação de idéias que
devia experimentar. De inoperante cidadão do mundo passei a ser um fanático
anti-semita. Mais uma vez ainda - e agora pela última vez - pensamentos sombrios
me arrastavam ao desânimo.
Durante meus estudos sobre a influência da nação judaica, através de longos
períodos da história da civilização, o tétrico problema se armou diante de mim
não teria inescrutável destino, por motivos ignorados por nós, pobres mortais,
decretado a vitória final dessa pequena nação?
A esse povo não teria sido destinado o domínio da Terra como uma
recompensa?
À proporção que me aprofundava no conhecimento da doutrina marxista e me
esforçava por ter uma idéia mais clara das atividades do marxismo, os próprios
acontecimentos se encarregavam de dar uma resposta àquelas dúvidas.
A doutrina judaica do marxismo repele o princípio aristocrático na
natureza. Contra o privilégio eterno do poder e da força do indivíduo levanta o
poder das massas e o peso-morto do número. Nega o valor do indivíduo, combate a
importância das nacionalidades e das raças, anulando assim na humanidade a razão
de sua existência e de sua cultura. Por essa maneira de encarar o universo,
conduziria a humanidade a abandonar qualquer noção de ordem. E como nesse grande
organismo, só o caos poderia resultar da aplicação desses princípios, a ruína
seria o desfecho final para todos os habitantes da Terra.
Se o judeu, com o auxilio do seu credo marxista, conquistar as nações do
mundo, a sua coroa de vitórias será a coroa mortuária da raça humana e, então, o
planeta vazio de homens, mais uma vez, como há milhões de anos, errará pelo
éter.
A natureza sempre se vinga inexoravelmente de todas as usurpações contra o
seu domínio.
Por isso, acredito agora que ajo de acordo com as prescrições do Criador
Onipotente. Lutando contra o judaísmo, estou realizando a obra de Deus.
CAPÍTULO III - REFLEXÕES GERAIS SOBRE A POLÍTICA DA ÉPOCA DE MINHA ESTADA EM
VIENA
Estou convencido de que, a menos que se trate de indivíduos dotados de dons
excepcionais, o homem, em geral, não se deve ocupar, publicamente, de política,
antes dos trinta anos de idade. Não o deve, porque só então se realiza, o mais
das vezes, a formação de uma base de idéias, de acordo com a qual, ele examina
os diferentes problemas políticos e determina a sua atitude definitiva em
relação aos mesmos. Só depois de adquirir uma tal concepção fundamental e de
alcançar, por meio dela, firmeza no- modo de encarar as questões particulares do
seu tempo, deve ou pode o homem, intelectualmente amadurecido, tomar parte na
direção da coisa pública.
A não ser assim, corre ele o perigo de um dia mudar de atitude sobre
questões essenciais ou, contra as suas idéias e sentimentos, permanecer fiel a
uma maneira de ver desde muito tempo repelida pela sua razão, pelas suas
convicções. O primeiro caso, é, para o indivíduo pessoalmente doloroso, porque,
quem vacila não tem mais o direito de esperar que a fé de seus adeptos tenha a
inabalável firmeza que dantes tinha; e, para os seus dirigidos, a fraqueza do
chefe sempre se traduz em perplexidade e não raro no sentimento de um certo
vexame em face daqueles que até então combatiam. Em segundo lugar, sobrevem o
que. sobretudo hoje, é muito freqüente: à medida que o chefe não dá mais crédito
ao que ele próprio disse, a sua defesa torna-se mais fraca e, por isso mesmo,
vulgar quanto à escolha dos meios. Ao passo que ele próprio não pensa mais em
defender os seus pontos de vista políticos (ninguém morre por aquilo em que não
crê), as suas exigências junto aos seus partidários, tornam-se proporcionalmente
cada vez mais imprudentes até que, afinal, ele sacrifica as suas últimas
qualidades de chefe para converter-se num "político", isto é, nesse tipo de
homem cujo único sentimento verdadeiro é a falta de sentimento, ao lado de uma
arrogante impertinência e uma descarada arte de mentir.
Se, por infelicidade dos homens decentes, um sujeito desses chega ao
Parlamento, deve saber-se desde logo que, para ele, a essência da política
consiste apenas numa luta heróica pela posse duradoura de uma "mamadeira" para
si e para a sua família. Quanto mais dependam dele mulher e filhos, tanto mais
aferradamente lutará pelo seu mandato. Qualquer outro homem de verdadeiros
instintos políticos é, por isso mesmo, seu inimigo pessoal. Em qualquer novo
movimento, fareja ele o possível começo do fim de sua carreira, e em cada homem
superior a probabilidade de um perigo que ameaça.
Adiante, falarei mais detalhadamente dessa espécie de percevejos
parlamentares.
O homem de trinta anos ainda terá de aprender muito, no curso de sua vida,
mas isso será apenas o complemento e acabamento do quadro doutrinário traçado
pela concepção por ele já aceita. Para ele, aprender não é mais mudar de método,
mas enriquecer os seus conhecimentos; e seus partidários não terão de suportar a
angústia de até então terem recebido dele ensinamentos errôneos, mas, ao
contrário, a evidente evolução do chefe lhes dará satisfação, porque o que este
aprende significa o aprofundamento da doutrina deles. E isso é uma prova da
justeza de suas intuições.
Um chefe político que se vir na contingência de abandonar as suas idéias,
reconhecendo-as como falsas, só procederá com decência se, ao reconhecer a
falsidade das mesmas, estiver disposto a ir até às últimas conseqüências. Em tal
caso, deve, no mínimo, renunciar ao exercício público de uma futura atividade
política. Porque, tendo admitido o reconhecimento de um erro fundamental, fica
aberta a possibilidade de uma segunda descaída. De modo algum, pode mais
pretender ou exigir a confiança de seus concidadãos.
Atesta quão pouco se atende hoje a esse decoro a vileza da canalha que, por vezes, se julga chamada a "fazer" política.
Da regra geral quase ninguém escapa.
Outrora, sempre me abstive de ingressar publicamente na vida pública, se
bem que sempre me tivesse preocupado com a política, mais que muitos outros. Só
a círculos restritos falava eu do que me impelia ou atraia. E o falar em
pequenos grupos tinha, em si, de certo modo, muita utilidade. No mínimo, eu
aprendia a "falar" e com isso a conhecer os homens nas maneiras de ver e de
objetar, às vezes extremamente simplistas. Assim, sem perder tempo nem
oportunidade, aperfeiçoava o meu espírito. A ocasião era, nesse tempo, em Viena,
mais favorável do que em qualquer parte da Alemanha.
As idéias políticas em voga, na velha Monarquia do Danúbio, eram de mais
interesses que na velha Alemanha da mesma época, exceto em parte da Prússia, em
Hamburgo e nas costas do Mar do Norte. Sob a denominação de "Áustria" entendo
nesse caso, o domínio do grande Império dos Habsburgos, em que a população alemã
era, sob todos os aspectos, não somente o motivo histórico da formação daquele
Estado, mas a força que, por si só, durante séculos, tornara possível a formação
cultural do país. Quanto mais o tempo passava, mais dependiam da conservação
dessa "célula mater" a estabilidade e o futuro daquele Estado.
Os velhos domínios hereditários eram o coração do Império, que sempre
fornecia sangue fresco à circulação da vida do Estado e da sua cultura. Viena
era, então, ao mesmo tempo, cérebro e vontade.
Só pelo seu aspecto exterior, Viena se impunha como a rainha daquele
conglomerado de povos. A magnificência de sua beleza fazia esquecer o que ali
havia de mau.
Por mais violentamente que palpitasse o Império, no interior, em sangrentas
lutas das diferentes raças, o estrangeiro e, em particular, os alemães, só viam,
na Áustria, a imagem agradável de Viena. Maior ainda era a ilusão porque, a esse
tempo, Viena parecia ter atingido a sua fase de maior prosperidade. Sob o
governo de um burgomestre verdadeiramente genial, despertava a venerável
residência do soberano do velho Império, mais uma vez, para uma vida
maravilhosa. O último grande alemão, o criador do povo de colonizadores da
fronteira oriental, não era tido oficialmente entre os chamados "estadistas". O
Dr. Lueger, tendo prestado inauditos serviços como burgomestre da "cabeça do
Estado" e "cidade residência" (Viena), fazendo-a progredir, como por encanto, em
todos os domínios econômicos e culturais, fortalecera o coração do Império,
tornando-se assim, indiretamente, maior estadista que todos os "diplomatas" de
então reunidos.
Se o aglomerado de povos a que se dá o nome de "Áustria" fracassou, isso
nada quer dizer contra a capacidade política do germanismo na antiga fronteira
oriental, mas é o resultado forçado da impossibilidade em que se encontravam dez
milhões de indivíduos de conservarem duradouramente um Estado de diferentes
raças com cinqüenta milhões de habitantes, a não ser que ocorressem na ocasião
oportuna determinadas circunstâncias favoráveis.
O alemão austríaco teve que enfrentar um problema acima das suas
possibilidades. Ele sempre se acostumou a viver no quadro de um grande Estado e
nunca perdeu o sentimento inerente à sua missão histórica. Era o único, naquele
Estado, que, além das fronteiras do apertado domínio da coroa, via ainda as
fronteiras do Império. Quando, afinal o destino o separou da pátria comum, ele
tentou tomar a si a grandiosa tareia de tornar se senhor e conservar o
germanismo que seus pais, outrora, em infindos combates, haviam imposto ao
leste. A propósito, convêm não esquecer que isso aconteceu com forças divididas,
pois, no espírito dos melhores descendentes da raça alemã, nunca cessou a
recordação da - pátria comum de que a Áustria era uma parte.
O horizonte geral do alemão-austríaco era proporcionalmente mais amplo. As
suas relações econômicas abrangiam quase todo o multiforme Império. Quase todas
as empresas verdadeiramente grandes se achavam em suas mãos e o pessoal
dirigente, técnicos e funcionários, era na maior parte colocado por ele. Era
também o detentor do comércio exterior em tudo o que o judaísmo ainda não havia
posto a mão, nesse campo de suas preferências. Só o alemão conservava o Estado
politicamente unido. Já o serviço militar o punha fora do lar. O recruta alemão
austríaco ingressaria talvez, de preferência, num regimento alemão, mas o
regimento poderia estar tanto na Herzegovina como em Viena ou na Galícia. o
corpo de oficiais era sempre alemão, prevalecendo sobre o alto funcionalismo.
Alemãs, finalmente, eram a arte e a ciência. Abstração feita do "kitsch" que é o
novo processo na Arte, cuja produção podia ser sem dúvida também de um povo de
negros, era só o alemão o possuidor e vulgarizador do verdadeiro sentimento
artístico. Em música, literatura, escultura e pintura, era Viena a fonte que
inesgotavelmente abastecia, sem cessar, toda a dupla monarquia.
O germanismo era enfim o detentor de toda a política externa, abs.
traindo-se um pouco da Hungria.
Portanto, era vã toda tentativa de conservar o Império, Visto faltar, para
isso, a condição essencial.
Para o Estado de povos austríacos só havia uma possibilidade: vencer as
forças centrifugas das diferentes raças. O Estado, ou tornava-se central e
interiormente organizado, ou não podia existir.
Em vários momentos de lucidez nacional, essa idéia chegou às "altíssimas"
esferas, para logo ser esquecida ou ser posta de lado por inexeqüível. Todo
pensamento de um reforço da Federação, forçosamente teria de fracassar em
conseqüência da falta de um núcleo estatal de força predominante. A isso
acrescentem-se as condições intrinsecamente diferentes do Estado austríaco em
face do Império alemão, segundo o conceito de Bismarck. - Na Alemanha tratava-se
apenas de vencer as tradições políticas, pois sempre houve uma base comum
cultural. Antes de tudo, possuía o Reich, à exceção de pequenos fragmentos
estranhos, um povo único.
Inversa era a situação da Áustria.
Lá a recordação da própria grandeza, em cada raça, desapareceu inteiramente
ou foi apagada pela esponja do tempo ou pelo menos tornou-se confusa e
indistinta. Por isso, desenvolveram-se, então, na era dos princípios
nacionalistas, as forças racistas. Vencê-las tornava-se relativamente mais
difícil, visto que, à margem da monarquia, começaram a formar-se Estados
nacionais, cujos - povos, racialmente aparentados ou iguais às nações
desmembradas, podiam exercer mais força de atração, ao contrário do que
acontecia com o austro-alemão.
A própria Viena não podia resistir por muito tempo a essa luta.
Com o desenvolvimento de Budapeste, que se tornou grande cidade tinha ela,
pela primeira vez, uma rival, cuja missão não era mais a concentração de toda a
monarquia, mas antes o fortalecimento de uma parte da mesma. Dentro de pouco
tempo, Praga seguiu o exemplo e depois Lemberg, Laibach, etc. Com a elevação
dessas cidades, outrora provincianas, a metrópoles nacionais, formaram se
núcleos culturais mais ou menos independentes. E dai as tendências nacionalistas
das diferentes raças. Assim devia aproximar-se o momento em que as forças
motrizes desses Estados seriam mais poderosas que a força dos interesses comuns
e, então, extinguir-se-ia a Áustria.
Essa evolução tomou feição definida depois da morte de José II, dependendo
a sua rapidez de uma série de fatores em parte inerentes à própria monarquia,
mas que por outro lado eram o resultado da atitude do Reich na política
internacional de então.
Se se pretendesse seriamente admitir a possibilidade da conservação daquele
Estado e lutar por ela, só se poderia ter por objetivo uma centralização
absoluta e obstinada. Depois, primeiro que tudo, se devia acentuar, pela fixação
de uma língua oficial una, a homogeneidade pura e formal, cuja direção, porém,
deteria nas mãos os expedientes técnicos, pois sem isso não pode subsistir um
Estado uno. Depois, com o tempo, tratar-se-ia de desenvolver um sentimento
nacional uno, por meio das escolas e da instrução. Isso não se alcançaria em dez
ou vinte anos, mas em séculos, pois em todas as questões de colonização a
pertinácia vale mais que a energia do momento.
Compreende-se, sem maiores explicações, que a administração, bem como a
direção política, deveriam ser conduzidas com a mais rigorosa unidade de vistas.
Era para mim imensamente instrutivo examinar porque isso não aconteceu, ou
melhor, porque não se fez isso. O culpado por essa omissão foi o culpado pelo
desmoronamento do Reich.
Mais que qualquer outro Estado estava a antiga Áustria dependente da
inteligência dos seus guias. A ela faltava o fundamento do Estado nacional, que
possui, na base racista, sempre uma força de conservação.
O Estado racionalmente uno pode suportar a natural inércia de seus
habitantes (e a força de resistência a ela inerente), a pior administração, a
pior direção, por períodos de tempo espantosamente longos, sem por isso
subverter-se. Muitas vezes, tem-se a impressão de que em tal corpo não há mais
vida, é como se estivesse morto e bem morto. De repente, o suposto cadáver se
levanta e dá aos homens surpreendentes sinais de sua força vital.
Assim não acontece com um Estado composto de raças diferentes, mantido, não
pelo sangue comum, mas por um só pulso. Nesse caso, qualquer fraqueza na direção
pode não só conduzir o Estado à estagnação como dar causa ao despertar dos
instintos individuais, que sempre existem, sem que em tempo oportuno possa
exercer-se uma vontade predominante. Só por via de uma educação comum, durante
séculos, por uma tradição comum, por interesses comuns, pode esse perigo ser
atenuado. Por isso, tais formações estatais, quanto mais jovens, mais
dependentes são da superioridade da direção; e quando são obras de homens
violentos ou de heróis espirituais, logo desaparecem após a morte de seu grande
fundador. Mas, mesmo depois de séculos, esses perigos não devem ser considerados
como vencidos; apenas adormecem, para, às vezes, despertarem de repente, quando
a fraqueza da direção comum e a força da educação e a sublimidade de todas as
tradições não podem mais dominar o impulso da própria vitalidade das diferentes
raças.
Não ter compreendido isso é talvez a culpa, de tão trágicas conseqüências,
da casa dos Habsburgos.
Só a um deles o destino apresentou o fanal, que logo depois se apagou para
sempre, do destino da sua pátria.
José II, imperador católico-romano, viu, angustiosamente, que, um dia, no
redemoinho de uma Babilônia de povos que se comprimiam à fronteira do Império,
desapareceria a sua Casa, a não ser que, à última hora, fossem sanados os
descuidos dos antepassados. Com sobre-humana força, o "amigo dos homens" tentou
remediar a negligência de seus antecessores e procurou recuperar em décadas o
que se havia perdido em séculos. Se para a realização de sua obra, ao menos duas
gerações, depois dele, tivessem continuado, com o mesmo afinco, a tarefa
iniciada, provavelmente se teria realizado o milagre. Mas quando, após dez anos
de governo, faleceu, exausto de corpo e de espírito, com ele caiu a sua obra no
túmulo, para não mais despertar, para adormecer para sempre na sepultura.
Os seus sucessores não estavam à altura da tarefa, nem pela inteligência,
nem pela energia.
Quando, através da Europa, flamejavam os primeiros sinais da tempestade
revolucionária, começou também a Áustria a pegar fogo, pouco a pouco. Quando,
porém, o incêndio irrompeu afinal, já a fogueira era atiçada menos por causas
sociais ou políticas que por forças impulsoras de origem racial.
Em outra parte qualquer, a revolução de 1848 podia ser uma luta de classes,
mas na Áustria já era o começo de um novo conflito racial. Quando o alemão
daquele tempo, esquecendo ou não reconhecendo essa origem, se colocava a serviço
da sublevação revolucionária, traçava ele próprio o seu destino. Com isso
auxiliava o despertar do espírito da democracia ocidental, que, dentro de pouco
tempo, teria de subverter-se-lhe a base da própria existência.
Com a formação de um corpo representativo parlamentar, sem o prévio
estabelecimento e fixação de uma língua oficial, foi colocada a pedra
fundamental do fim do domínio do germanismo na monarquia dos Habsburgos. Desde
esse momento, estava perdido também o próprio Estado. O que se seguiu foi apenas
a liquidação histórica de um Império.
Era tão comovente quão instrutivo acompanhar essa decomposição. Sob
milhares de formas realizava-se aos poucos a execução dessa sentença histórica.
O fato de que parte dos homens se agitava às cegas através dos acontecimentos
prova apenas que estava na vontade dos deuses o aniquilamento da Áustria.
Não desejo perder me aqui em minúcias, pois esse não é o fim deste livro.
Apenas quero incluir no quadro geral de uma observação aqueles acontecimentos
que, como causas sempre invariáveis da decadência de povos e Estados, também têm
significação para o nosso tempo e finalmente se fazem sentir, em apoio dos
fundamentos de meu pensamento político.
Entre as instituições que, aos olhos mesmo pouco perspicazes do cidadão
comum, mais claramente podiam - mostrar a decomposição da monarquia austríaca,
estava, em primeiro lugar, aquela que parecia dever procurar na força a razão de
sua própria existência, isto é, o Parlamento ou, como se dizia na Áustria, o
Conselho do Império ("Reichsrat").
Evidentemente, o modelo dessa corporação encontrava-se na Inglaterra, o
país da "democracia" clássica. De lá transportaram essa maldita instituição e
estabeleceram-na em Viena, tanto quanto possível sem modificá-la.
Na Abgeordnetenhaus e na Herrenhaus, o sistema bicameral inglês festejava a
sua ressurreição. As "casas" eram, porém, algo diferentes. Quando, outrora,
Barry fez surgir das ondas do Tâmisa o seu palácio do Parlamento, mergulhou na
História do Império Britânico e retirou dela ornatos para os 1200 nichos,
consolos e colunas de sua monumental construção. Assim as Câmaras dos Comuns e
dos Lordes se tornaram, pelas suas esculturas e pinturas, o templo da glória
nacional.
Aí surgiu a primeira dificuldade para Viena. Quando o dinamarquês Hansen
acabava de colocar a última cumeeira da casa de mármore para os novos
representantes do povo, só lhe restava, para decoração, recorrer a empréstimos à
arte clássica. Os estadistas e filósofos gregos e romanos embelezaram esse
teatro da "democracia ocidental" e, com ironia simbólica, avançam sobre as duas
casas quadrigas em direção aos quatros pontos cardeais, expressando melhor,
dessa maneira, as tendências divergentes então existentes no interior.
As várias raças tomariam como ofensa e provocação que nessa obra se
glorificasse a História da Áustria, exatamente como no império Alemão foi
preciso vir o ribombar das batalhas da guerra mundial para que se ousasse
consagrar ao povo alemão a obra de Wallot - o Reichstag.
Quando, com menos de 20 anos de idade, penetrei no majestoso palácio de
Franzensring, para assistir, como ouvinte e espectador a uma sessão da Câmara
dos Deputados, senti-me possuído dos mais desencontrados sentimentos.
Sempre odiei o Parlamento, mas não a instituição em si. Ao contrário, como
homem de sentimentos liberais, eu não podia imaginar outra possibilidade de
governo, pois a idéia de qualquer ditadura, dada a minha atitude em relação à
casa dos Habsburgos, seria considerada um crime contra a liberdade e contra a
razão.
Não pouco contribuiu para isso uma certa admiração pelo Parlamento inglês,
que adquiri insensivelmente, devido à abundante leitura de jornais de minha
juventude - admiração que não poderia perder facilmente. Causava-me enorme
impressão a gravidade com que a Câmara dos Comuns cumpria a sua missão (como de
maneira tão atraente costuma descrever a nossa imprensa). Poderia haver uma
forma mais elevada de self .government de um povo?
Justamente por isso é que eu era um inimigo do Parlamento austríaco.
Considerava a sua forma de atuação indigna do grande modelo. Além disso,
acrescia o seguinte:
O destino do germanismo (Deutschtum) no Estado Austríaco dependia de sua
posição no Reichsrot. Até à introdução do sufrágio universal e secreto, os
alemães, no Parlamento, estavam em maioria, embora pequena. Já esse estado de
coisas era grave, pois não merecendo a social-democracia a confiança nacional,
esta, para não afugentar os adeptos não alemães, era sempre, nas questões
críticas referentes ao germanismo, contrária às aspirações alemãs. Já naquela
época a social-democracia não podia ser considerada um partido alemão. Com a
introdução do sufrágio universal cessou a supremacia alemã, numericamente
falando. Não havia, pois, nenhum empecilho no caminho da futura desgermanização
do Estado.
Já naquele tempo, o instinto de conservação nacional fazia com que eu me
sentisse pouco inclinado pela representação popular, na qual a raça alemã, em
vez de ser representada, era sempre traída. Entretanto, esses defeitos, como
muitos outros, não deviam ser atribuídos ao sistema em si, mas ao Estado
austríaco. Eu pensava outrora que, com o restabelecimento da maioria alemã, nos
corpos representativos, não haveria mais necessidade de uma atitude doutrinária
contra aquela instituição,. enquanto perdurasse o velho Estado austríaco.
Com essa disposição interior entrei pela primeira vez nos tão sagrados quão
disputados salões. É verdade que para mim eles só eram sagrados devido à beleza
da magnífica construção. Uma obra-prima helênica em terra alemã.
Mas, dentro de pouco tempo, sentia verdadeira indignação ao assistir ao
lamentável espetáculo que se desenrolava ante meus olhos.
Estavam presentes centenas desses representantes do povo, que tinham de
tomar atitude sobre uma questão de importância econômica.
Bastou para mim esse primeiro dia para fazer refletir durante semanas e
semanas sobre a situação.
O conteúdo mental do que se discutia era de uma "elevação" deprimente, a
julgar pelo que se podia compreender do falatório, pois alguns deputados não
falavam alemão e, sim línguas eslavas, ou melhor, seus dialetos. O que, até
então, só conhecia através da leitura de jornais, tinha agora oportunidade de
ouvir com os meus próprios ouvidos. Era uma massa agitada que gesticulava e
gritava em todos os tons. Um velhote inofensivo se esforçava, suando por todos
os poros, para restabelecer a dignidade da casa, agitando uma campainha, ora
falando com benevolência, ora ameaçando.
Tive de rir.
Algumas semanas mais tarde, tornei a aparecer na Câmara. O quadro estava
mudado a ponto de não ser reconhecido. A sala completamente vazia. Dormia-se lá
em baixo. Alguns deputados se encontravam em seus lugares e bocejavam. Um deles
"falava". Estava presente um vice presidente da Câmara, o qual, visivelmente
aborrecido, percorria a sala com os olhos.
Surgiram-me as primeiras dúvidas. Cada vez que se me oferecia uma
oportunidade, corria para lá. e observava silenciosa e atentamente o quadro,
ouvia os discursos, sempre que podia compreendê-los, estudava as fisionomias
mais ou menos inteligentes desses eleitos das raças daquele triste Estado e, aos
poucos, fazia as minhas próprias reflexões.
Bastou um ano dessa calma observação para modificar ou afastar
definitivamente o meu juízo sobre o caráter dessa instituição. No meu íntimo já
tinha tomado atitude contra a forma adulterada que essa instituição tomava na
Áustria. Já não podia mais aceitar o Parlamento em si. Até então eu vira o
insucesso do Parlamento austríaco na falta de uma maioria alemã: agora, porém,
eu reconhecia a fatalidade na essência e caráter dessa instituição.
Naquela ocasião apresentou-se-me uma série de questões. Comecei a
familiarizar-me com o princípio da resolução por maioria como base de toda a
Democracia. Entretanto, não dispensava menor atenção aos valores mentais e
morais dos cavalheiros que, como eleitos do povo, deviam servir a esse
desideratum..
Aprendi assim a conhecer ao mesmo tempo a instituição e os seus
representantes.
No decurso de alguns anos, desenvolveu-se em minha mente o tipo
plasticamente claro do fenômeno mais respeitável dos nossos tempos, o homem
parlamentar. Começou-se a gravar de tal forma em minha memória, que não sofreu
modificação essencial daí por diante.
Desta vez também o ensino intuitivo da realidade prática evitou que eu
aceitasse uma teoria que, à primeira vista, tão sedutora parece a muitos e que,
entretanto, deve ser contada entre os sinais de decadência da humanidade.
A atual Democracia do ocidente é a precursora do marxismo, que sem ela
seria inconcebível Ela oferece um terreno propicio, no qual consegue
desenvolver-se a epidemia. Na sua expressão externa - o parlamentarismo apareceu como um mostrengo "de lama e de fogo", no qual, a pesar meu, o fogo
parece ter-se consumido depressa demais. Sou muito grato ao destino por ter-me
apresentado essa questão a exame, anteriormente em Viena, pois cismo que, na
Alemanha, não poderia tê-la resolvido tão facilmente. Se eu tivesse reconhecido
em Berlim, pela primeira vez, o absurdo dessa instituição chamada Parlamento,
teria talvez caldo no extremo oposto e, sem aparente boa razão, talvez me
tivesse enfileirado entre aqueles a cujos olhos o bem do povo e do Império está
na exaltação da idéia imperial e que assim se põem, cegamente, em oposição à
humanidade e ao seu tempo.
Isso seria impossível na Áustria.
Lã não era tão fácil cair de um erro no outro. Se o Parlamento nada valia,
menos ainda valiam os Habsburgos. Lá a rejeição do parlamentarismo, por si só,
não resolveria nada, pois ficaria de pé a pergunta: e depois? A eliminação do
Reichsrat deixaria ficar, como único poder governamental, a casa dos Habsburgos,
- idéia que se me afigurava intolerável.
A dificuldade desse caso particular conduziu-me a estudar o problema de
maneira mais profunda do que, de outra forma, teria feito em tão verdes anos.
O que mais que tudo e com mais insistência me fazia refletir no exame do
parlamentarismo era a falta evidente de qualquer responsabilidade individual dos
seus membros.
O Parlamento toma qualquer decisão - mesmo as de conseqüências mais
funestas - e ninguém é por ela responsável, nem é chamado a prestar contas.
Pode-se, porventura, falar em responsabilidade, quando, após um colapso sem
precedentes, o governo pede demissão, quando a coalizão se modifica, ou mesmo o
Parlamento se dissolve?
Poderá, por acaso, uma maioria hesitante de homens ser jamais
responsabilizada?
Não está todo conceito de responsabilidade intimamente ligado à
personalidade?
Pode-se, na prática, responsabilizar o dirigente de um
governo pelos atos cuja existência e execução devem ser levadas à conta da
vontade e do arbítrio de um grande grupo de homens?
Porventura consistirá a tarefa do estadista dirigente não tanto em produzir
um pensamento criador, um programa, como na arte com que torna compreensível a
natureza de seus planos a um estúpido rebanho, com o fim de implorar-lhe o final
assentimento? Pode ser critério de um estadista que ele deva ser tão forte na
arte de convencer como na habilidade política da escolha das grandes linhas de
conduta ou de decisão?
Está provada a incapacidade de um dirigente pelo fato de não conseguir ele
ganhar, para uma determinada idéia, a maioria de uma aglomeração reunida mais ou
menos por simples acaso?
Já aconteceu que essas câmaras compreendessem uma idéia antes que o êxito
se tornasse o proclamador da grandeza dessa mesma idéia?
Toda ação genial neste mundo não é um protesto do gênio contra a inércia da
massa?
Que pode fazer o estadista que só consegue pela lisonja conquistar o favor
desse aglomerado para os seus planos?
Deve ele comprar o apoio desses representantes do povo ou deve - em lace da
tolice da execução das tarefas consideradas vitais - retrair-se e permanecer
inativo?
Em tal caso, não se dá um conflito insolúvel entre a aceitação desse estado
de coisas e a decência ou, melhor, a opinião sincera.
Onde está o limite que separa o dever para com a coletividade e o
compromisso da honra pessoal?
Qualquer verdadeiro dirigente não deverá abster-se de degradar-se assim em
aproveitador político?
E, inversamente, não deverá todo aproveitador estar destinado a "fazer"
política, desde que a responsabilidade não caberá, afinal, a ele, mas à massa
intangível?
O princípio da maioria parlamentar não deve conduzir ao desaparecimento da
unidade de direção?
Acreditamos, acaso, que o progresso neste mundo provenha da ação combinada
de maiorias e não de cérebros individuais?
Ou pensa-se que, no futuro, podemos dispensar essa concepção de cultura
humana?
Não parece, ao contrário, que a competência hoje seja mais necessária do
que nunca?
Negando a autoridade do indivíduo e substituindo-a pela soma da massa
presente em qualquer tempo, o princípio parlamentar do consentimento da maioria
peca contra o princípio básico da aristocracia da natureza; e, sob esse ponto de
vista, o conceito do princípio parlamentar sobre a nobreza nada tem a ver com a
decadência atual de nossa alta sociedade.
Para um leitor de jornais judeus é difícil imaginar os mais que a
Instituição do controle democrático pelo parlamento ocasiona, a não ser que ele
tenha aprendido a pensar e a examinar o assunto com independência. Ela é a causa
principal da incrível dominação de toda a vida política justamente pelos
elementos de menos valor. Quanto mais os verdadeiros chefes forem afastados das
atividades políticas, que consistem principalmente, não em trabalho criativo e
produção, mas no regatear e comprar os favores da maioria, tanto mais a atuação
política descerá ao nível das mentalidades vulgares e tanto mais essas se
sentirão atraídas para a vida pública.
Quanto mais tacanho for, hoje em dia, em espírito e saber, um tal mercador
de couros, quanto mais clara a sua própria intuição lhe fizer ver a sua triste
figura, tanto mais louvará ele um sistema que não lhe exige a força e o gênio de
um gigante, mas contenta-se com a astúcia de um alcaide e chega mesmo a ver com
melhores olhos essa espécie de sapiência que a de um Péricles. Além disso, um
palerma assim não precisa atormentar-se com a responsabilidade de sua ação. Ele
está fundamentalmente isento dessa preocupação, porque, qualquer que seja o
resultado de suas tolices de estadista, sabe ele muito bem que, desde muito
tempo, o seu fim está escrito: um dia terá de ceder o lugar a um outro espírito
tão grande quanto ele próprio. Uma das características de tal decadência é o
fato de aumentar a quantidade de "grandes estadistas" à proporção que se contrai
a escala do valor individual. O valor pessoal terá de tornar-se menor à medida
que crescer a sua dependência de maiorias parlamentares, pois tanto os grandes
espíritos recusarão ser esbirros de ignorantões e tagarelas, como, inversamente,
os representantes da maioria, isto é, da estupidez, nada mais odeiam que uma
cabeça que reflete.
Sempre consola a uma assembléia de simplórios conselheiros municipais saber
que tem à sua frente um chefe cuja sabedoria corresponde ao nível dos presentes.
Cada um terá o prazer de fazer brilhar, de tempos em tempos, uma fagulha de seu
espírito; e, sobretudo, se Sancho pode ser chefe, por que não o pode ser
Martinho?
Mas, ultimamente, essa invenção da democracia fez surgir uma qualidade que
hoje se transformou em uma verdadeira vergonha, que é a covardia de grande parte
de nossa chamada "liderança". Que felicidade poder a gente esconder-se, em todas
as verdadeiras decisões de alguma importância, por trás das chamadas maiorias!
Veja-se a preocupação de um desses salteadores políticos em obter a rogos o
assentimento da maioria, garantindo-se a si e aos seus cúmplices, para, em
qualquer tempo, poder alienar a responsabilidade. E eis aí uma das principais
razões por que essa espécie de atividade política é desprezível e odiosa a todo
homem de sentimentos decentes e, por. tanto, também de coragem, ao passo que
atrai todos os caracteres miseráveis - aqueles que não querem assumir a
responsabilidade de suas ações, mas antes procuram fugir-lhe, não passando de
covardes pulhas. Desde que os dirigentes de uma nação se componham de tais entes
desprezíveis, muito depressa virão as conseqüências. Ninguém terá mais a coragem
de uma ação decisiva: toda desonra, por mais ignominiosa, será aceita de
preferência à resolução corajosa. Ninguém mais está disposto a arriscar a sua
pessoa e a sua cabeça para executar uma decisão temerária.
Uma coisa não se pode e não se deve esquecer: a maioria jamais pode
substituir o homem. Ela é sempre a advogada não só da estupidez, mas também da
covardia, e assim como cem tolos reunidos não somam um sábio, uma decisão
heróica não é provável que surja de um cento de covardes.
Quanto menor for a responsabilidade de cada chefe individualmente, mais
crescerá o número daqueles que se sentirão predestinados a colocar ao dispor da
nação as suas forças imortais. Com impaciência, esperarão que lhes chegue a vez;
eles formam em longa cauda e contam, com doloridos lamentos, o número dos que
esperam na sua frente e quase que calculam a hora quando possivelmente
alcançarão o seu desiderato. Daí a ânsia por toda mudança nos cargos por eles
cobiçados e daí serem eles gratos a cada escândalo que lhes abre mais uma vaga.
Caso um deles não queira recuar da posição tomada, quase que sente isso como
quebra de uma combinação sagrada de solidariedade comum. Então é que eles se
tornam maldosos e não sossegam enquanto o desavergonhado, finalmente vencido,
não põe o seu lugar novamente à disposição de todos. Por isso mesmo, não
alcançará ele tão cedo essa posição. Quando uma dessas criaturas é forçada a
desistir do seu posto, procurará imediatamente intrometer-se de novo na fileira
dos que estão na expectativa, a não ser que o impeça, então, a gritaria e as
injúrias dos outros.
O resultado disso é a terrível rapidez de mudança nas mais altas posições e
funções, em um Estado como o nosso, fato que é desfavorável, de qualquer modo, e
que freqüentemente opera com efeitos absolutamente catastróficos, porque não só
o estúpido e o incapaz são vitimados por esses métodos de proceder, mas mesmo os
verdadeiros chefes, se algum dia o destino os colocar nessas posições de mando.
Logo que se verifica o aparecimento de um homem excepcional, imediatamente
se forma uma frente fechada de defesa, sobretudo se um tal cabeça, não saindo
das próprias fileiras, ousar, mesmo assim, penetrar nessa sublime sociedade. O
que eles querem fundamentalmente é estarem entre si, e é considerado inimigo
comum todo cérebro que possa sobressair no meio de tantas nulidades. E, nesse
sentido, o instinto é tanto mais agudo quanto é falho a outros respeitos.
O resultado será assim sempre um crescente empobrecimento espiritual das
classes dirigentes. Qualquer um, desde que não pertença a essa classe de
"chefes", pode julgar quais sejam as conseqüências para a nação e para o Estado.
O regime parlamentar na velha Áustria já existia em germe.
É verdade que cada chefe de gabinete ministerial era nomeado pelo imperador
e rei, porém essa nomeação nada mais era do que a execução da vontade
parlamentar. O hábito de disputar e negociar as várias pastas já era democracia
ocidental do mais puro quilate. Os resultados correspondentes também aos
princípios em voga. Em particular, a mudança de personalidades se dava em
períodos cada vez mais curtos, para transformar-se, finalmente, numa verdadeira
caçada. Ao mesmo tempo decaía crescentemente a grandeza dos "estadistas" de
então, até que só ficou aquele pequeno tipo de espertalhão parlamentar, cujo
valor se aquilatava e reconhecia pela capacidade com que conseguia promover as
coligações de então, isto é, com que realizava os pequeninos negócios políticos
- únicos que justificavam a vocação desses representantes do povo para um
trabalho prático
Nesse terreno oferecia a escola de Viena as melhores perspectivas ao
observador.
O que me impressionava também era o paralelo entre a capacidade e o saber
desses representantes do povo e a gravidade dos problemas que tinham de
resolver. Quer se quisesse, quer não, era preciso também atentar mais de perto
para o horizonte mental desses eleitos do povo, sendo ainda impossível deixar de
dar a atenção necessária aos processos que conduzem ao descobrimento desses
impressionantes aspectos de nossa vida pública
Valia a pena também estudar
e examinar a fundo a maneira pela qual a verdadeira capacidade desses
parlamentares era empregada e posta a serviço da pátria, ou seja o processo
técnico de sua atividade.
O panorama da vida parlamentar parecia tanto mais lamentável quanto mais se
penetrava nessas relações íntimas e se estudavam as pessoas e o fundamento das
coisas, com desassombrada objetividade. E isso vem muito a propósito,
tratando-se de uma instituição que, por intermédio de seus detentores, a todo
passo se refere à "objetividade" como única base justa de qualquer atitude.
Examinem-se esses cavalheiros e as leis de sua amarga existência e o resultado a
que se chegará será espantoso.
Não há um princípio que, objetivamente considerado, seja tão errado quanto
o parlamentar.
Pode-se mesmo, nesse caso, abstrair inteiramente a maneira pela qual se
realiza a escolha dos senhores representantes do povo, mesmo os processos por
que chegam a seu posto e à sua nova dignidade, Considerando que a compreensão
política da grande massa não está tão desenvolvida para adquirir por si opiniões
políticas gerais e escolher pessoas adequadas, chegar-se-á com facilidade à
conclusão de que, nos parlamentos, só em proporção mínima, é que se trata da
realização de um desejo geral ou mesmo de uma necessidade pública.
A nossa concepção ordinária da expressão "opinião pública" só em pequena
escala depende de conhecimento ou experiências pessoais, mas antes do que outros
nos dizem. E isso nos é apresentado sob a forma de um chamado "esclarecimento"
persistente e enfático.
Do mesmo modo- que o credo religioso resulta da educação, ao passo que o
sentimento religioso dormita no íntimo da criatura, assim a opinião política da
massa é o resultado final do trabalho, às vezes incrivelmente árduo e intenso,
da inteligência humana.
A quota mais eficiente na "educação" política, que, no caso, com muita
propriedade, é chamada "propaganda", é a que cabe à imprensa, a que se reserva a
"tarefa de esclarecimento" e que assim se constitui em uma espécie de escola
para adultos. Todavia, essa instrução não está nas mãos do Estado, mas é
exercida por forças em geral de caráter muito inferior. Quando ainda jovem, em
Viena, eu tive as melhores oportunidades para adquirir conhecimento seguro sobre
os chefes e sobre os hábeis operários mentais dessa máquina destinada à educação
popular.
O que primeiro me impressionou foi a rapidez com que aquela força
perniciosa do Estado conseguia fazer vitoriosa uma definida opinião, muito
embora essa opinião implicasse no falseamento dos verdadeiros desejos e idéias
do público. Dentro de poucos dias um absurdo irrisório se tornava um ato
governamental de grande importância, ao mesmo tempo que problemas essenciais
caíam no esquecimento geral ou antes eram roubados à atenção das massas.
Assim, no decurso de algumas semanas, alguns nomes eram como que
magicamente tirados do nada e, em torno deles, se erguiam incríveis esperanças
no espírito público; dava-se-lhes uma popularidade, que nenhum verdadeiro homem
jamais esperaria conseguir durante toda a sua vida. Ao mesmo tempo, perante os
seus contemporâneos, velhos e dignos caracteres da vida pública e administrativa
eram considerados mortos, quando se achavam em plena eficiência, ou eram
cumulados de tantas injúrias que seus nomes pareciam prestes a tornar-se
símbolos de infâmia. Era necessário estudar esse vergonhoso método judeu de,
como por encanto, atacar de todos os lados e lançar lama, sob a forma de calúnia
e difamação, sobre a roupa limpa de homens honrados, para aquilatar. em seu
justo valor, todo o perigo desses patifes da imprensa.
Não há nenhum meio a que não recorra um tal salteador moral para chegar aos
seus objetivos.
Ele meterá o focinho nas mais secretas questões de família e não sossegará
enquanto o seu faro não tiver descoberto um miserável incidente que possa
determinar a derrota da infeliz vítima. Caso nada seja encontrado, quer na vida
pública quer na vida particular, o patife lança mão da calúnia, firmemente
convencido, não só de que, mesmo depois de milhares contestações, alguma coisa
sempre fica, como também de que devido a centenas de repetições que essa
demolição da honra encontra entre os cúmplices, impossível é à vítima manter a
luta na maioria dos casos. Essa corja nem mesmo age por motivos que possam ser
compreensíveis para o resto da humanidade.
Deus nos livre! Enquanto um bandido desses ataca - o resto da humanidade,
essa gente esconde-se por trás de uma verdadeira nuvem de probidade e frases
untuosas, tagarela sobre "dever jornalístico" e quejandas balelas e alteia-se
até a falar em "ética" de imprensa, em assembléias e congressos, ocasiões em que
a praga se encontra em maior número e em que a corja mutuamente se aplaude.
Essa súcia, porém, fabrica mais de dois terços da chamada "opinião
pública", de cuja espuma nasce a Afrodite parlamentar.
Seria necessário escrever volumes para poder pintar com exatidão esse
processo e representá-lo na sua inteira falsidade. Mas, mesmo abstraindo tudo
isso e observando somente os efeitos da sua atividade, parece-me isso suficiente
para esclarecer o espírito mais crédulo quanto à insensatez objetiva dessa
instituição.
Mais depressa e mais facilmente compreenderemos a falta de senso e perigo
dessa aberração humana se compararmos o sistema democrático parlamentar com uma
verdadeira democracia germânica.
Na primeira, o ponto mais importante é o número. Suponhamos que quinhentos
homens (ultimamente também mulheres), são eleitos e chamados a dar solução
definitiva sobre tudo. Praticamente, porém, só eles constituem o governo, pois
se é verdade que dentro deles é escolhido o gabinete, o mesmo, só na aparência,
pode fiscalizar os negócios públicos. Na realidade, esse chamado governo não
pode dar um passo sem que antes lhe seja outorgado o assentimento geral da
assembléia. O Governo contudo não pode ser responsável por coisa alguma, desde
que o julgamento final não está em suas mãos mas na maioria parlamentar.
Ele só existe para executar a vontade da maioria parlamentar em todos os
casos. Propriamente só se poderia ajuizar de sua capacidade política pela arte
com que ele consegue se adaptar à vontade da maioria ou atrair para si essa
mesma maioria. Cai, assim, da posição de verdadeiro governo para a de mendigo da
maioria ocasional. Na verdade, o seu problema mais premente consistirá, em
vários casos, em garantir-se o favor da maioria existente ou em provocar a
formação de uma nova mais favorável. Caso consiga isso, poderá continuar a
"governar" por mais algum tempo; caso não o consiga, terá de resignar o poder. A
retidão de suas intenções, por si só, não importa.
A responsabilidade praticamente deixa de existir.
Uma simples consideração mostra a que ponto isso conduz.
A composição intima dos quinhentos representantes do povo, eleitos, segundo
a profissão ou mesmo segundo a capacidade de cada um, resulta em um quadro tão
disparatado quanto lastimável. Não se irá pensar por acaso que esses eleitos da
nação sejam também eleitos da inteligência. Não é de esperar que das cédulas de
um eleitorado capaz de tudo, menos de ter espírito, surjam estadistas às
centenas. Ademais, nunca é excessiva a negação peremptória à idéia tola de que
das eleições possam nascer gênios. Em primeiro lugar, só muito raramente aparece
em uma nação um verdadeiro estadista e muito menos centenas de uma só vez; em
segundo lugar, é verdadeiramente instintiva a antipatia da massa contra qualquer
gênio que se destaque. É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha
que ser "descoberto" um grande homem por uma eleição. O indivíduo que realmente
ultrapassa a medida normal do tipo médio costuma fazer-se anunciar, na história
universal, pelos seus próprios atos, pela afirmação de sua personalidade.
Quinhentos homens, porém, de craveira abaixo da medíocre, decidem sobre os
negócios mais importantes da nação, estabelecem governos que em cada caso e em
cada questão têm de procurar o assentimento da erudita assembléia. Assim é que,
na realidade, a política é feita pelos quinhentos.
Mas, mesmo pondo de lado o gênio desses representantes do povo,
considere-se a quantidade de problemas diferentes que esperam solução, muitas
vezes em casos opostos, e facilmente se compreenderá o quanto é imprestável uma
instituição governamental que transfere a uma assembléia o direito de decisão
final - assembléia essa que possui em quantidade mínima conhecimentos e
experiência dos assuntos a serem tratados. As mais importantes medidas
econômicas são assim submetidas a um foro cujos membros só na porcentagem de um
décimo demonstraram educação econômica. E isso não é mais que confiar a decisão
última a homens aos quais falta em absoluto o devido preparo.
Assim acontece também com qualquer outra questão. A decisão final será dada
sempre por uma maioria de ignorantes e incompetentes, pois a organização dessa
instituição permanece inalterada, ao passo que os problemas a serem tratados se
estendem a todos os ramos da vida pública, exigindo, pois, constante mudança de
deputados que sobre eles tenham de julgar e decidir. É de todo impossível que os
mesmos homens que tratam de questões de transportes, se ocupem, por exemplo, com
uma questão de alta política exterior. Seria preciso que todos fossem gênios
universais, como só de séculos em séculos aparecem. Infelizmente trata-se, não
de verdadeiras "cabeças", mas sim de diletantes, tão vulgares quanto convencidos
do seu valor, enfim de mediocridade da pior espécie. Daí provém a leviandade
tantas vezes incompreensível com que os parlamentares falam e decidem sobre
coisas que mesmo dos grandes espíritos exigiriam profunda meditação. Medidas da
maior relevância para o futuro de um Estado ou mesmo de uma nação são tomadas
como se se tratasse de uma simples partida de jogo de baralho e não do destino
de uma raça.
Seria certamente injusto pensar que todo deputado de um tal parlamento
tivesse sempre tão pouco sentimento de responsabilidade. Não. Absolutamente não.
Obrigando esse sistema o indivíduo a tomar posição em relação a questões
que não lhe tocam de perto, ele corrompe aos poucos o seu caráter. Não há um
deles que tenha a coragem de declarar: "Meus senhores, eu penso que nada
entendemos deste assunto. Pelo menos eu não entendo absolutamente". Aliás, isso
pouco modificaria, pois certamente essa maneira de ser franco seria inteiramente
incompreendida e, além disso, não se haveria de estragar o brinquedo por caso de
um asno honesto. Quem, porém, conhece os homens, compreende que em uma sociedade
tão ilustre ninguém quer ser o mais tolo e, em certos círculos, honestidade é
sempre sinônimo de estupidez.
Assim é que o representante ainda sincero é jogado forçosamente no caminho
da mentira e da falsidade. Justamente a convicção de que a reação individual
pouco ou nada modificaria, mata qualquer impulso sincero que porventura surja em
um ou outro. No final de contas, ele se convencerá de que, pessoalmente, longe
está de ser o pior entre os demais e que com sua colaboração talvez impeça
maiores males.
É verdade que se fará a objeção de que o deputado pessoalmente poderá não
conhecer este ou aquele assunto, mas que a sua atitude será guiada pela fração a
que pertença; esta, por sua vez, terá as suas comissões especiais que serão
suficientemente esclarecidas pelos entendidos. À primeira vista, isso parece
estar certo. Surgiria, porém, a pergunta: por que se elegem quinhentos, quando
só alguns possuem a sabedoria suficiente para tomarem atitude nas questões mais
importantes?
Aí é que está o busilis.
Não é móvel de nossa atual Democracia formar uma assembléia de sábios, mas,
ao contrário, reunir uma multidão de nulidades subservientes, que possam ser
facilmente conduzidas em determinadas direções definidas, dada a estreiteza
mental de cada uma delas. Só assim pode ser feito o jogo da política partidária,
no mau sentido que hoje tem. Mas isso, por sua vez, torna possível que os que
manobram os cordéis fiquem em segurança por trás dos bastidores, sem
possibilidade de serem tornados pessoalmente responsáveis. Atualmente, uma
decisão, por mais nociva que seja ao povo, não pode ser atribuída, perante os
olhos do público, a um patife único, ao passo que pode sempre ser transferida
para os ombros de todo um grupo.
Praticamente, pois, não há responsabilidade, porque a responsabilidade só
pode recair sobre uma individualidade única e não sobre as gaiolas de tagarelice
que são as assembléias parlamentares.
Por isso esse tipo de Democracia se tornou o instrumento da raça que, para
a consecução de seus objetivos, tem de evitar a luz do sol, agora, e sempre.
Ninguém, a não ser um judeu, pode estimar uma instituição que é tão suja e falsa
quanto ele próprio.
Em contraposição ao que precede, está a verdadeira democracia germânica.
que escolhe livremente o seu chefe, sobre quem recai a inteira responsabilidade
de todos os atos que pratique ou deixe de praticar. Nela não há a votação de uma
maioria no que se refere às várias questões, sem a determinação de um indivíduo
único que responda com seus bens e vida por suas decisões.
Caso se objete que em tais condições só dificilmente haverá alguém que
queira dedicar a sua pessoa a tão arriscada tarefa, poder-se-á retrucar:
O verdadeiro sentido da democracia germânica reside, justamente, graças a
Deus, no fato de não ser possível ao primeiro ambicioso, indigno ou impostor,
chegar, por caminhos escusos, ao governo de seu povo. A extensão da
responsabilidade assumida afasta os incompetentes e os fracos.
Na hipótese de um indivíduo dessa estofa tentar insinuar-se, fácil será
ir-lhe ao encontro com esta apóstrofe: Para fora, covarde, patife. Retira o pé,
tu maculas os degraus da escada, pois a ascensão ao panteon da história não é
para os que rastejam e, sim, para os heróis!
Após dois anos de freqüência ao parlamento de Viena já havia chegado a essa
conclusão.
Não me aprofundei mais sobre o assunto.
O regime parlamentar teve, como seu principal mérito, enfraquecer, nos
últimos anos, o velho Estado dos Habsburgos. Quanto mais se enfraquecia, pela
sua ação, o predomínio do germanismo, tanto mais se caía em um regime de choque
entre as várias raças. No próprio Reichsrat isso se dava sempre à custa do
Império, pois, por volta da passagem do século, o mais inocente indivíduo veria
que a força de atração da monarquia não conseguia mais banir as tendências
separatistas dos diferentes povos.
Ao contrário.
Quanto mais mesquinhos se tornavam os meios empregados pelo Estado para a
sua conservação, tanto mais aumentava o desprezo geral pelo mesmo Estado. Não só
na Hungria, como também nas várias províncias eslavas, o sentimento de
fidelidade à monarquia era tão frágil que a sua fraqueza não era considerada uma
vergonha. Esses sinais de declínio que apareciam provocavam até alegria, pois
era mais desejada a morte que a convalescença do antigo regime.
No parlamento conseguiu-se evitar o colapso total por uma renúncia indigna
e pela realização de toda sorte de opressão sobre o elemento germânico. No
interior jogava-se, habilidosamente, um povo contra o outro. Entretanto, nas
linhas gerais, a atuação política era dirigida contra os alemães. Sobretudo,
desde que a sucessão ao trono começara a dar ao arquiduque Fernando uma certa
influência, estabeleceu-se um plano regular na tchequização praticada pelo
governo. Aquele futuro soberano da dupla monarquia procurava, por todos os meios
possíveis, fazer progredir a desgermanização, promovendo-a por todos os modos
ou, no mínimo, defendendo-a. Localidades puramente alemãs eram, por via
indireta, na burocracia oficial, devagar porém seguramente, incluídas na zona
perigosa das línguas mistas. Na própria Baixa Áustria esse processo progredia
mais ou menos rapidamente e muitos tchecos consideravam Viena como a sua
principal cidade.
O pensamento predominante desse novo Habsburgo, cuja família falava o theco
de preferência (a esposa do arquiduque era uma condessa tcheca e casara com o
príncipe morganaticamente, sendo o meio em que ela nascera tradicionalmente
anti-germânico), era estabelecer gradualmente um Estado eslavo na Europa
central, em linhas estritamente católicas, como uma proteção contra a Rússia
ortodoxa. Nesse sentido, como tantas vezes aconteceu aos Habsburgos, a religião
era mais uma vez arrastada a servir a uma concepção puramente política,
concepção lamentável, quando encarada do ponto de vista germânico.
A vários respeitos, o resultado foi mais que trágico. Nem a casa dos
Habsburgos nem a Igreja Católica tiraram o proveito que esperavam.
O Habsburgo perdeu o trono, Roma perdeu um grande Estado.
Chamando forças religiosas a servirem a seus fins políticos, a coroa
provocou um estado de espírito que ela própria inicialmente julgou ser
impossível. A tentativa de exterminar o germanismo na velha monarquia despertou
o movimento pangermanista na Áustria.
Na década de 80 o liberalismo manchesteriano, de origem judaica, atingira,
se não ultrapassara, o seu ponto culminante na monarquia. A reação contra ele,
entretanto, não proveio como em tudo, na Áustria, de pontos de vista sociais e,
sim, de pontos de vista nacionais. O instinto de conservação obrigou o
germanismo a pôr se em guarda, da maneira mais viva. Só em segundo plano é que
as considerações econômicas começaram a ganhar influência apreciável. Assim- é
que desabrocharam, da confusão política, dois partidos, um mais nacionalista,
outro mais socialista, ambos porém altamente interessantes e Instrutivos para o
futuro.
Após o fim deprimente da guerra de 1866 a Casa Habsburgo preocupava-se com
a idéia de uma revanche no campo de batalha. Só a morte do imperador
Maximiliano, do México, cuja expedição infeliz se atribuiu em primeira linha a
Napoleão III e cujo abandono, por parte dos franceses, provocou geral
indignação, evitou uma aliança mais íntima com a França. Entretanto, os
Habsburgos estavam de alcatéia na ocasião. Caso a guerra de 1870-71 não se
tivesse transformado numa expedição triunfal, única no gênero, a corte de Viena
teria ousado tentar um golpe sangrento de vingança por causa de Sadowa. Quando,
porém, chegaram as primeiras narrações dos feitos heróicos dos campos de
batalha, maravilhosos e quase incríveis e, no entretanto, verdadeiros, o mais
"sábio> de todos os monarcas reconheceu que a hora não era propícia e aparentou
alegrar-se com o que, na realidade, contrariava os seus planos.
A luta de heróis desses dois anos conseguira milagre muito mais formidável,
pois, quanto aos Habsburgos, a sua atitude modificada jamais correspondia a um
impulso íntimo de coração, mas sim à força das circunstâncias. O povo alemão, na
velha Marca oriental, foi arrastado pela embriaguez da vitória do Reich e via,
profundamente comovido, a ressurreição do sonho dos antepassados convertido em
maravilhosa realidade.
Que ninguém se engane, porém. O Austríaco de sentimento verdadeiramente
germânico reconhecera, dessa hora em diante, em Königratz, a condição tão
trágica quanto indispensável da restauração do império, o qual não devia estar
ligado ao marasmo podre da antiga aliança, e não o estava.
Sobretudo ele, aprendeu a sentir, à sua própria custa, que a casa dos
Habsburgos terminara a sua missão histórica e que o novo Império só poderia
eleger imperador quem, pelo seu sentimento histórico, fosse capaz de oferecer
uma cabeça digna à "coroa do Reno". Tanto mais era, pois, de louvar o destino
por ter realizado essa investidura no rebento de uma dinastia que, com
Frederico, o Grande, já dera à nação, em tempos perturbados, um exemplo
eloqüente para inspirar a grandeza da raça.
Quando, porém, após a grande guerra, a casa dos Habsburgos se lançou
decididamente no caminho da destruição lenta porém inexorável, da perigosa
germanização da dupla monarquia (cujas intenções intimas não podiam deixar
dúvidas) - e esse tinha de ser o fim da política de eslavização - irrompeu a
resistência do povo condenado ao extermínio e de maneira nunca vista na história
alemã dos tempos modernos.
Pela primeira vez, homens de sentimentos nacionalistas e patrióticos se
fizeram rebeldes. Rebeldes, não contra a nação ou contra o Estado, e sim contra
uma forma de governo que, segundo as suas convicções, tinha de conduzir ao
aniquilamento da própria raça.
Pela primeira vez, na história alemã, contemporânea, o patriotismo
corrente, dinástico, se divorciou do amor à pátria e ao povo.
Deve-se ao movimento pangermanista da Áustria alemã da década de 90 o ter
constatado de maneira clara e insofismável que uma autoridade pública só tem
direito de exigir respeito e proteção, quando ela corresponde aos desejos de uma
nacionalidade ou pelo menos quando não lhe causa dano.
Não pode haver autoridade pública que se justifique pelo simples fato de
ser autoridade, pois, nesse caso, toda tirania neste mundo seria inatacável e
sagrada.
Quando, por força da ação do governo, uma nacionalidade é levada à
destruição, a rebelião de cada um dos indivíduos de um tal povo não é só um
direito, mas também um dever. Quando um caso assim se apresenta a questão não se
decide por considerações teóricas, mas pela violência e - pelo êxito.
Como todo poder público, naturalmente, chama a si o dever de conservar a
autoridade do Estado, mesmo que ela seja má e traia mil vozes os desejos de uma
nacionalidade, o instinto de conservação, em luta com esse poder pela conquista
da liberdade ou da independência, terá de usar das mesmas armas com as quais o
adversário procura manter-se. A luta será, portanto, travada com o recurso aos
meios "legais". enquanto o povo não deverá recuar mesmo diante de meios ilegais,
quando o opressor colocar-se fora da lei.
De um modo geral, não se deve esquecer nunca que a conservação de um Estado
ou de um governo não é o mais elevado fim da existência humana, mas o de
conservar o seu caráter racial. Caso este se ache em perigo de ser dominado ou
eliminado, a questão da legalidade terá apenas importância secundária. Mesmo que
o poder dominante empregue mil vezes os meios "legais" na sua ação, o instinto
de conservação dos oprimidos é sempre uma justificação elevada para a luta por
todos os meios.
Só admitindo essa hipótese é que se pode compreender porque os povos deram
tão formidáveis exemplos históricos nas lutas pela liberdade, contra a
escravização, quer seja interna, quer externa.
Os direitos humanos estão acima dos direitos do Estado.
Se, porém, na luta pelos direitos humanos, uma raça é subjugada, significa
isso que ela pesou muito pouco na balança do destino para ter a felicidade de
continuar a existir neste mundo terrestre, pois quem não é capaz de lutai pela
vida tem o seu fim decretado pela providência.
O mundo não foi feito para os povos covardes.
Quanto é fácil a uma tirania proteger-se com o manto da "legalidade", ficou
clara e eloqüentemente demonstrado com o exemplo da Áustria.
O poder legal do Estado baseava-se, então, no anti-germanismo do
parlamento, com a sua maioria não-germânica e na casa reinante, também
germanófoba. Nesses dois fatores, estava encarnada toda a autoridade pública.
Querer modificar o destino do povo teuto-austríaco dessa posição era tolice.
Assim, porém, segundo o parecer dos veneradores da autoridade do Estado e da
legalidade, toda resistência deveria ser abandonada por não ser exeqüível por
meios legais. Isso, porém, significaria o fim do povo alemão na monarquia,
necessariamente, forçosamente, e dentro de breve tempo. Efetivamente só pela
derrocada daquele Estado foi o germanismo salvo desse destino.
Os teoristas de óculos, preferem, porém, morrer por sua doutrina a morrer
pelo seu povo.
Como os homens, primeiro, criam as leis, pensam, depois, que estas estão
acima dos direitos humanos.
Foi mérito do movimento pangermanista de então na Áustria o ter varrido de
uma vez essa tolice, para desespero de todos os cavaleiros andantes e
fetichistas da teoria do Estado.
Enquanto os Habsburgos tentavam perseguir o germanismo, este partido
atacava - e impavidamente - a sublime, Casa soberana. Pela primeira vez, ele
lançou a sonda nesse Estado apodrecido, abrindo os olhos a centenas de milhares
de pessoas. Foi seu mérito ter libertado a maravilhosa noção de amor pátrio da
influência dessa triste dinastia.
Aquele partido, nos seus primeiros tempos, contava com muitos adeptos,
ameaçando mesmo transformar-se em verdadeira avalanche. Entretanto, o êxito não
durou. Quando cheguei a Viena, o movimento há muito já havia sido ultrapassado
pelo Partido Cristão Socialista, que alcançara o poder e se encontrava em estado
de decadência.
Esse processo de evolução e desaparecimento do movimento pangermanista de
um lado e da incrível ascensão do partido socialista, de outro, deveria
tornar-se, para mim, da maior importância como objeto de estudo.
Quando cheguei a Viena, minhas simpatias estavam inteiramente do lado da
orientação pangermanista.
Que se tivesse a coragem de exclamar no parlamento - viva Hohenzollern! me impunha respeito e me causava contentamento; que se considerasse esse Partido
como parte apenas momentaneamente separada do Império alemão e se proclamasse
esse sentimento publicamente, a cada momento, despertava-me alegre confiança;
que se admitissem impavidamente todas as questões referentes ao germanismo e
nunca se entregassem a compromissos parecia-me o único caminho ainda acessível
para a salvação de nosso povo; que, porém, o movimento, depois de sua magnifica
ascensão, tornasse a decair, não podia eu compreender. Menos ainda compreendia
que o Partido Cristão Socialista conseguisse alcançar nessa mesma época, tão
grande violência. Este havia chegado exatamente ao auge de sua glória.
Ao comparar os dois movimentos, deu-me o destino o melhor ensinamento,
apressado pela minha aliás triste situação, para que eu compreendesse as causas
desse enigma.
Preliminarmente, começarei o meu exame por dois homens que podem ser
considerados os chefes e fundadores dos dois partidos: Georg von Schönere e o
Dr. Karl Lueger.
Quanto ao ponto de vista do caráter, ambos se elevam muito acima da média
das chamadas personalidades parlamentares. No pantanal de uma corrupção política
generalizada, a minha simpatia pessoal de início dirigia-se ao pangermanista
Schönere e só pouco a pouco também ao chefe cristão social.
Comparados quanto às suas' capacidades, já naquele tempo, Schönere me
parecia o melhor e mais sólido pensador dos problemas básicos. Melhor que
qualquer outro, ele reconheceu, de modo mais certo e claro, o fim fatal do
Estado austríaco. Se as suas advertências tivessem achado eco, sobretudo no
Reichstag, no que dizia respeito à monarquia dos Habsburgos, a desgraça da
guerra da Alemanha contra a Europa jamais teria acontecido.
Mas se Schönere compreendia os problemas, na sua essência Intima, errava
muito quanto aos homens.
Nesse conhecimento estava, ao contrário, a força do Dr. Lueger.
Este era um raro conhecedor dos homens, que se precavia de vê-los melhores
do que eles são na realidade. Por isso contava ele mais com as reais
possibilidades da vida, de que conhecimento tinha Schönere. Tudo o que pensava o
pangermanista estava teoricamente certo, mas faltava-lhe a força e a habilidade
de transmitir à massa o conhecimento teórico, pois essa capacidade é e sempre
será limitada. Essa falta de real reconhecimento dos homens conduziu, com o
correr dos anos, a um engano na avaliação de vários movimentos, bem como de
instituições antiquíssimas.
Finalmente reconheceu Schönere, sem dúvida, que se tratava, no caso, de
questões de concepção universal, porém não entendeu que a grande massa se presta
admiravelmente para detentora dessas convicções quase religiosas.
Infelizmente, teve ele uma percepção muito imperfeita das extraordinárias
limitações da disposição da burguesia para a luta. Devido a sua situação
econômica, os burgueses são tímidos, não se arriscam a prejuízos, o que sempre
os impede de agir.
Essa incompreensão da importância das camadas baixas da sociedade foi a
causa da extrema ineficiência de suas opiniões sobre questões sociais.
Em tudo Isso o Dr. Lueger era o oposto de Schönere.
O profundo conhecimento dos homens fazia com que aquele não só fizesse
juízo certo das forças aproveitáveis, como também ficasse a coberto de uma
avaliação demasiadamente baixa das instituições existentes, sendo que, talvez
por esse motivo, aprendesse a empregá-las em auxilio da consecução de seus
intentos.
Ele compreendeu perfeitamente que a força combativa da burguesia superior,
hoje em dia, é pequena, é insuficiente para conseguir a vitória de um grande e
novo movimento. Dai vem que atribuía grande importância, na sua atividade
política, à conquista das camadas cuja existência estava ameaçada e, nas quais,
por isso mesmo, a vontade de lutar servia de estímulo em vez de ser motivo de
inércia. Além disso, ele era inclinado a empregar todos os meios violentos para
atrair a si as fortes instituições existentes com o fito de tirar, dessas velhas
fontes de poder, todo o proveito para o seu movimento.
Por isso, baseou o seu novo partido, em primeira linha na classe média.
ameaçada de extinção, e assegurou-se, assim, uma classe de adeptos extremamente
difíceis de serem abalados e dotados de tão grande espírito de sacrifício como
de vontade de lutar. A sua atitude extremamente hábil em relação à Igreja
Católica conquistou-lhe, em pequeno espaço, a mais nova geração do clero, e de
tal maneira que o antigo partido clerical foi forçado a retirar-se do campo ou,
mais avisadamente, a aderir ao novo partido a fim de, paulatinamente, ganhar
posição a posição.
Grande injustiça seria feita a esse homem, se se considerasse essa como a
sua única característica, pois, além da qualidade de um tático inteligente, ele
possuía as de um reformador verdadeiramente grande e genial. Entretanto, também
nessa grande personalidade não era completo o conhecimento das possibilidades
existentes bem como de sua própria capacidade pessoal.
Os objetivos que esse homem verdadeiramente notável se tinha proposto eram
eminentemente práticos. Ele queria conquistar Viena. Viena era o coração da
monarquia. Dessa cidade partia ainda o último alento de vida para o corpo
doentio e envelhecido do império decadente. Quanto mais saudável se tornasse o
coração, mais facilmente reviveria o resto do corpo. Uma idéia correta em
princípio, que, porém, só podia ter aplicação durante um tempo determinado e
limitado.
Aí é que estava a fraqueza desse homem. O que ele realizou como burgomestre
na cidade de Viena é imortal no melhor sentido da palavra. Mesmo assim, não
conseguiu, porém, salvar a monarquia - era tarde demais.
Seu rival Schönere vira mais claramente.
Na sua atuação prática o Dr. Lueger obtinha admirável êxito. O efeito,
porém, do que ele esperava sempre deixava de realizar-se.
O que Schönere desejava, ele não o conseguia; o que ele temia,
realizava-se, infelizmente, de uma maneira terrível.
Assim, os dois homens não realizaram o seu objetivo. Lueger não pôde mais
salvar a Áustria e Schönere não conseguiu evitar a ruína do povo alemão.
É infinitamente instrutivo para o nosso tempo estudar a causa do fracasso
desses dois partidos. É essencial, sobretudo, para os meus amigos, pois, em
muitos pontos, as condições de hoje são semelhantes às daquele tempo,
podendo-se, por isso, evitar erros que conduziram à morte de um. movimento e à
esterilidade do outro.
O colapso do movimento pangermanista na Áustria teve, a meu ver, três
causas:
Primeira; a noção pouco clara da importância do problema social, justamente
tratando-se de um partido novo essencialmente revolucionário.
Enquanto Schönere e seus adeptos se dirigiam em primeira linha às camadas
burguesas, o resultado só podia ser fraco, inofensivo.
A burguesia alemã é, sobretudo nas suas camadas superiores, embora que não
o pressintam os indivíduos, pacifista a ponto de renunciar a si mesma,
principalmente quando se trata de questões internas da nação ou do Estado. Nos
bons tempos, isto é, nos tempos de um bom governo, tal disposição é uma razão do
valor extraordinário dessas camadas para o Estado; em épocas de governos maus,
porém, ela age de maneira verdadeiramente maléfica. Para conseguir a realização
de uma luta séria, o movimento pangermanista tinha de lançar-se á conquista das
massas. O fato de não se ter agido assim tirou-lhe, de começo, o impulso inicial
que uma tal onda necessita para não desfazer-se.
Quando, inicialmente, não se tem em mira e não se executa esse princípio
básico, o novo partido perde, para o futuro, toda possibilidade de evitar os
efeitos do erro de começo. Aceitando, em número excessivo, elementos moderados
burgueses, a atitude do movimento será dirigida por estes, ficando assim
excluída a possibilidade de recrutar forças apreciáveis no seio da grande massa
popular. Tal movimento não passará mais de pálidos mexericos e críticas. Nunca
mais se poderá criar a fé quase religiosa aliada a idêntico espírito de
sacrifício; surgirá, porém, em seu lugar, a tendência de, por meio de cooperação
"positiva" - neste caso isso significa o reconhecimento do statu quo - aos
poucos, aparar a dureza da luta para finalmente chegar a uma paz podre.
Foi o que aconteceu ao movimento pangermanista, pelo fato de não ter, desde
o princípio, acentuado principalmente a conquista de seus adeptos entre os
círculos da grande massa. Tornou-se um movimento "burguês, distinto,
moderadamente radical".
Desse erro decorreu, porém, a segunda causa de seu rápido desaparecimento.
A situação na Áustria, para o germanismo, no tempo do aparecimento do
movimento pangermanista, já não dava lugar a esperanças. De ano a ano, o
parlamento se tornava, cada vez mais, uma instituição destinada ao aniquilamento
lento do povo alemão. Toda tentativa de salvação na décima-segunda hora só podia
oferecer uma probabilidade, embora pequena, de êxito, na extinção dessa
instituição.
Com isso surgiu, junto ao movimento, uma questão de importância teórica.
Para destruir o parlamento, dever-se-ia ir ao parlamento, a fim de
esvaziá-lo "de dentro para fora" ou devia-se conduzir essa luta de fora,
atacando aquela instituição.
Os pangermanistas entraram no parlamento e foram derrotados.
Verdade é que se devia penetrar ali.
Conduzir uma luta contra tal potência, do lado de fora, significava
armar-se de coragem inabalável é estar também disposto a sacrifícios infinitos.
Agarra-se o touro pelos cornos e recebe-se fortes marradas. As vezes se cairá
por terra, podendo levantar-se com os membros partidos, somente depois da mais
áspera luta é que a vitória sorrirá ao ousado atacante. Somente a grandeza dos
sacrifícios conquistará novos lutadores para a causa, até que a persistência
garanta sucesso.
Para isso, porém, são necessários os filhos do povo, tirados da grande
massa.
Só eles são suficientemente decididos e tenazes para conduzir essa luta ao
seu fim sangrento.
O movimento pangermanista, porém, não possuía essa grande massa; nada mais
lhe restava, pois, que ir ao parlamento.
Seria falso pensar que essa resolução tivesse sido o resultado de longos
sofrimentos íntimos ou mesmo de meditações; não, não se pensava absolutamente em
outra coisa.
Essa tolice, nada mais era que o reflexo de noções pouco claras sobre a
importância e o efeito de tal participação numa instituição reconhecida, já em
princípio, como falsa. Esperava-se, geralmente, facilitar o esclarecimento da
grande massa popular, uma vez que se tinha a oportunidade de falar diante do
"foro da nação inteira". Parecia também claro que o ataque à raiz do mal teria
mais êxito que o ataque feito de fora. Pensava-se que a proteção das imunidades
fortaleceria a segurança dos vários lutadores, de sorte que o ataque se tornaria
mais forte.
Na realidade, porém, as coisas tomaram outro aspecto.
O "foro" perante o qual falavam os deputados pangermanistas em vez de
tornar-se maior, tornara-se menor, pois cada um só fala diante do círculo que é
capaz de ouvi-lo ou que, por meio dos comunicados da imprensa, recebe uma
reprodução do que foi dito.
O maior foro de ouvintes é representado não pela sala de um parlamento e,
sim, por um grande comício público.
No comício se encontra um grande número de pessoas que vieram somente para
ouvir o que o orador tem a dizer-lhes, ao passo que no salão de sessões da
Câmara dos Deputados só há algumas centenas de indivíduos que estão em geral
apenas para receberem o seu subsídio e não para receber esclarecimentos da
sapiência de um ou outro senhor "representante do povo".
Antes de tudo, porém, trata se, no caso, do mesmo público que nunca está
disposto a aprender algo de novo, pois, além de faltar-lhe inteligência,
falta-lhe a necessária vontade para isso.
Jamais um desses representantes fará por si mesmo honra à melhor verdade
para, em seguida, pôr-se a seu serviço. Não. Nenhum fará isso, a não ser que
tenha razão de esperar que tal mudança possa salvar o seu mandato por mais uma
legislatura. Só quando pressentem que o seu partido sairá mal nas próximas
eleições é que essas glórias da humanidade se mexem para verificar como se
poderá mudar para um partido de orientação mais segura, sendo que essa mudança
de atitude se processa sob um dilúvio de justificações morais. - Daí, acontecer
sempre que quando um partido decai em grande escala do favor público e que há
ameaça provável de uma derrota fulminante, começa a grande migração: os ratos
parlamentares abandonam o navio partidário.
Isso nada tem que ver com o saber e o querer, mas é um índice daquele dom
divinatório que adverte, ainda em tempo oportuno, o tal percevejo parlamentar,
fazendo com que ele se abrigue em outra cama partidária mais quente.
Falar perante um tal "foro" significa, na verdade, jogar pérolas a porcos.
De fato, isso não vale a pena! Nesse caso o êxito não pode ser senão igual a
zero.
E assim era, na realidade. Os deputados pangermanistas poderiam falar até
rebentar: o efeito, porém, seria nulo.
A imprensa, por sua vez, conservava-se muda ou mutilava os discursos de tal
maneira que qualquer conexão era impossível e mesmo o sentido era deturpado,
quando não se perdia inteiramente. E por isso a opinião pública só recebia uma
imagem muito imperfeita das intenções do novo movimento. Era inteiramente
destituído de importância o que dizia cada um dos deputados: a importância
estava naquilo que se dava a ler como sendo deles. Consistia isso em extratos de
seus discursos, que, mutilados, só podiam e deviam provocar impressão errônea.
Assim o público perante o qual eles falavam realmente era os escassos quinhentos
parlamentares. E isso nos diz bastante.
O pior, porém, era o seguinte: o movimento pangermanista só poderia contar
com sucesso caso tivesse compreendido, desde o primeiro dia, que não se deveria
tratar de um novo partido e, sim, de uma nova concepção política do mundo. Só
esta conseguiria provocar as forças internas para essa luta gigantesca. Para
esse fim, porém, só servem para chefes as melhores e mais corajosas cabeças.
Caso a luta por um sistema universal não seja conduzida por heróis prontos
ao sacrifício, em curto espaço de tempo será impossível encontrar lutadores
preparados para morrer. Um homem que combate exclusivamente por sua existência
pouco terá de sobra para a causa geral. A fim de que se possa realizar aquela
hipótese, é necessário que cada um saiba que o novo movimento trará honra e
glória ante a posteridade e que, no presente, nada oferecerá. Quantos mais
postos tenha um movimento a distribuir, maior será a concorrência dos
medíocres., até que estes políticos oportunistas, sufocando pelo número o
partido vitorioso, o lutador honesto não mais reconheça o antigo movimento e os
novos adesistas o rejeitem decididamente como um intruso" incômodo.
Com isso, porém, estará liquidada a "missão" de tal movimento.
Logo que a agitação pangermanista aceitou o parlamento, começou a dispor de
"parlamentares" em vez de guias e lutadores de verdade. O partido baixou ao
nível de qualquer das facções do tempo e, por isso, perdeu a força necessária
para enfrentar o destino com a audácia dos mártires. Em vez de lutar, aprendeu
também a "falar" e a "negociar". Em breve tempo, o novo parlamentar sentia como
mais nobre dever, - porque menos arriscado - combater a nova concepção do mundo
com as armas "espirituais" da eloqüência parlamentar, em vez de lançar-se numa
luta com o risco da própria vida - luta de resultado incerto e que nada rende
para os seus líderes.
Como eles estavam no parlamento, os adeptos, lá fora, começaram a esperar
milagres, que naturalmente não se realizaram e nem poderiam realizar-se. Dentro
em pouco, apareceu a impaciência, pois, mesmo o que se conseguia ouvir dos
próprios deputados de modo algum correspondia às esperanças dos eleitores. Isso
era de fácil explicação, pois a imprensa inimiga evitava transmitir ao público
uma imagem exata da ação dos representantes pangermanistas.
Quanto mais crescia o gosto dos novos representantes do povo pela maneira
ainda suave da luta "revolucionária" no parlamento e nas dietas, tanto menos se
achavam eles dispostos a voltar ao mais perigoso trabalho de propaganda, no seio
das camadas populares.
Os comícios, que eram o único meio eficiente de influir sobre as pessoas e,
portanto, capaz de atrair grandes massas populares, eram cada vez menos
utilizados.
Desde que as reuniões nas casas públicas foram definitivamente substituídas
pela tribuna do parlamento, para, deste foro, derramar os discursos sobre as
cabeças do povo, o movimento pangermanista deixou de ser um movimento popular e
desceu, em curto tempo, à categoria de um clube de dissertações acadêmicas, de
caráter mais ou menos sério.
A má impressão propagada pela imprensa não era, de maneira alguma,
corrigida pela atividade das assembléias parlamentares. Assim, a palavra
"pangermanista" passou a soar mal aos ouvidos populares. É preciso que os
literatelhos e peralvilhos de hoje saibam que as maiores revoluções deste mundo
nunca foram dirigidas por escrevinhadores!
Não. A pena sempre se limitou a traçar as bases teóricas das revoluções.
O poder, porém, que pôs em movimento as grandes avalanchas históricas, de
caráter religioso e político, foi, desde tempos imemoriais, a força mágica da
palavra falada.
Sobretudo a grande massa de um povo sempre só se deixa empolgar pelo poder
da palavra. Todos os grandes movimentos são movimentos populares, são erupções
vulcânicas de paixões humanas e de sensações psíquicas provocadas ou pela deusa
cruel da necessidade ou pela tocha da palavra atirada entre a massa e não por
meio de jorros de literatos açucarados metidos a estetas e a heróis de salão.
Só uma tempestade de paixão escaldante é que consegue torcer o destino dos
povos: mas só consegue provocar entusiasmo quem o possua no seu íntimo. Só esse
entusiasmo inspira aos seus eleitos as palavras que, como golpes de martelo,
conseguem abrir as portas do coração de um povo.
Não é escolhido para anunciador da vontade divina aquele a quem falta a
paixão e mantém-se em um silêncio cômodo.
Por isso, todo escritor devia restringir-se ao seu tinteiro, para trabalhar
"teoricamente", se não lhe faltam inteligência e saber. Para chefe não nasceu
ele, porém, nem para tal foi escolhido.
Um movimento de grandes objetivos, deve, pois, diligenciar para não perder
o contato com a massa do povo.
Esse ponto deve ser examinado em primeiro lugar e as decisões devem ser
tomadas sob essa orientação. Deverá ser evitado tudo o que posse diminuir ou
enfraquecer a capacidade de ação sobre a coletividade, não por motivos
"demagógicos", mas pelo simples reconhecimento de que sem a força formidável da
massa de um povo não se pode realizar uma grande idéia, por mais elevada e
sublime que ela pareça. A dura realidade é que deve determinar o caminho para o
objetivo visado; não querer palmilhar caminhos desagradáveis significa neste
mundo desistir do Ideal, quer se queira, quer não.
Logo que o movimento pangermanista, por sua atitude parlamentar, colocou o
seu ponto de apoio no parlamento e não no povo, perdeu o futuro e ganhou, em
troca, o êxito barato e passageiro.
Escolheu a luta mais fácil, e, por isso mesmo, deixou de merecer a vitória
final.
Justamente essas questões foram por mim estudadas em Viena, da maneira mais
profunda, notando, então, que, no seu não reconhecimento, estava um dos
principais motivos do colapso do movimento, que, a meu ver, era destinado a
tomar em suas mãos a direção do germanismo.
Os dois primeiros erros que fizeram com que fracassasse o movimento
pangermanista completavam-se, um era conseqüência do outro. A falta de
conhecimento das forças impulsoras das grandes revoluções deu lugar à errada
avaliação da importância das grandes coletividades; daí proveio o pouco
interesses pela questão social, o medíocre aliciamento das camadas inferiores da
nação, bem como também a atitude favorável em relação ao parlamento.
Caso tivesse sido reconhecido o incrível poder que cabe à massa como
portadora da resistência revolucionária em todos os tempos, ter-se-ia trabalhado
de outra maneira, tanto socialmente como com relação à propaganda. Não se teria
também, então, acentuado o movimento em direção ao parlamento e sim em direção à
oficina e à rua.
O terceiro erro, porém, se caracterizou ainda mais pelo não reconhecimento
do valor da massa, que, uma vez movimentada em determinada direção, por
espíritos superiores, mais tarde, como um volante, dá impulso à força e
tenacidade uniforme do ataque.
A áspera luta que o movimento pangermanista teve de sustentar com a Igreja
católica só se explica devido à falta de compreensão da psicologia do povo.
As causas do ataque violento do novo partido contra Roma estavam no
seguinte:
"Logo que a Casa dos Habsburgos se decidira definitivamente a transformar a
Áustria em um Estado eslavo, foram utilizados todos os meios que pareciam
próprios para esse fim. As instituições religiosas foram também
inescrupulosamente postas ao serviço da nova idéia oficial, por essa
inconscientíssima dinastia. A utilização de paróquias tchecas e de seus curas
era somente um dos muitos meios de chegar a este fim, isto é, uma eslavização
generalizada da Áustria".
O processo desenrolava-se mais ou menos assim:
"Os padres tchecos eram mandados para paróquias puramente alemãs. Esses
sacerdotes lenta, mas seguramente, começavam a sobrepor os interesses do povo
tcheco aos interesses da Igreja, tornando-se assim a célula mater do processo de
desgermanização".
O clero germânico, ante esse processo, fracassou quase completamente. E
assim aconteceu não só porque esses próprios sacerdotes eram inteiramente
incapazes de uma semelhante luta, no sentido do germanismo. como por não
conseguirem opor a necessária resistência ao- ataque dos outros. Dessa maneira o
germanismo era lenta, mas irresistivelmente, repelido por um lado, pela ação
desabusada de parte do clero que se lhe opunha e pelo outro pela insuficiência
da defesa. Se, como vimos, isso se dava em pequena escala, em grande escala não
seria outra a situação.
Aí também as tentativas antigermânicas dos Habsburgos não encontraram,
sobretudo de parte do alto clero, a resistência exigida, e, assim, a defesa dos
interesses alemães passava a plano secundário.
A impressão geral era de que havia uma ofensa grosseira aos direitos
alemães da parte do clero católico.
Parecia com isso que a Igreja não sentia com o povo alemão e se colocava,
de maneira injusta, ao lado do inimigo do mesmo. A raiz de todo o mal, porém,
estava, segundo a opinião de Schönere, no fato de a direção da Igreja católica
não estar na Alemanha, bem como na animosidade, proveniente desse fato, contra
os anseios de nossa nacionalidade.
Os chamados problemas culturais passaram, como quase tudo na Áustria, para
segundo plano. O que valia, na atitude do movimento pangermanista, com relação
à- Igreja católica, era menos a atitude desta relativamente à ciência que a sua
insuficiente compreensão dos interesses alemães e, inversamente, uma constante
fomentação das pretensões e da cobiça eslavas.
George Schönere não era homem que fizesse as coisas pela metade. Iniciou a
luta contra a Igreja, convencido de que somente por ela é que a raça alemã
poderia salvar se. O movimento de libertação contra Roma (Los von Rom") parecia
o mais formidável, porém também o mais difícil processo de ataque, que teria de
destruir a cidadela inimiga. Fosse ele vitorioso estaria vencida, para sempre, a
infeliz cisão religiosa na Alemanha e a força interior do Reich e da nação alemã
poderia, com uma tal vitória, lucrar de maneira formidável.
Entretanto, nem a previsão nem as conclusões dessa luta estavam certas.
Incontestavelmente a força de resistência do clero católico, de
nacionalidade alemã, era inferior, em todas as questões referentes ao
germanismo, às de seus irmãos não alemães, sobretudo tchecos.
Ao mesmo tempo, só um ignorante não veria que ao clero alemão jamais
ocorreu uma defesa agressiva dos interesses da sua raça.
Demais, quem quer que não estivesse ofuscado pelas aparências, deveria
reconhecer que esse fato deve ser atribuído primeiro que tudo a uma
circunstância que todos nós alemães devemos lastimar: a "objetividade" com que
encaramos os problemas raciais, assim como todos os outros.
Assim como o sacerdote tcheco era subjetivo em relação ao seu povo e
somente objetivo em relação A Igreja, o sacerdote alemão era dedicado
subjetivamente à Igreja e permanecia objetivo com relação à nação. Esse é um
fenômeno que em mil outros casos podemos constatar, para infelicidade nossa.
Isso não é de maneira alguma só uma herança especial do catolicismo, mas
ataca, entre nós, em curto espaço de tempo, quase toda a organização do Estado.
Compare-se, por exemplo, a atitude que o nosso funcionalismo público assume
em face das tentativas de um renascimento nacional com a do funcionalismo de
qualquer outra nação em circunstâncias semelhantes. Imagina-se, acaso, que o
corpo de funcionários de qualquer outro país do mundo preteriria de maneira
semelhante os desejos da nação ante a frase oca "autoridade do Estado", como é
corrente entre nós desde cinco anos, sendo até considerado particularmente digno
de elogios, quem assim procede? Não assumem os dois credos, hoje em dia, na
questão judaica, uma atitude que não está em harmonia nem com os desejos da
nação nem com os verdadeiros interesses da própria religião? Compare-se, por
exemplo, a atitude de um rabino, em todas as questões, mesmo de somenos
importância do judaísmo como raça, com a do clero de ambos os credos cristãos
com relação à raça germânica.
Isso acontece conosco toda vez que se trata de defender uma idéia abstrata.
A "autoridade do Estado", a "democracia", o "pacifismo", a "solidariedade
internacional", etc., são idéias que sempre convertemos em concepções fixas,
puramente doutrinárias, de sorte que todo julgamento sobre as necessidades
vitais da nação é feito exclusivamente por esse critério.
Essa maneira infeliz de considerar todas as aspirações pelo prisma de uma
opinião preconcebida destrói toda a capacidade de aprofundar-se o homem num
assunto subjetivamente por contradizer objetivamente a própria teoria e conduz
finalmente a uma inversão de meios e de finalidades. Toda tentativa de levantar
a nação será repelida, desde que implique na extinção de um regime, mesmo mau,
desde que seja uma infração ao "princípio de autoridade". O "princípio de
autoridade" não é, porém, um meio para um fim, antes, aos olhos desses fanáticos
da objetividade, representa o próprio fim, o que é suficiente para explicar a
triste vida desse princípio. Assim é que, por exemplo, toda tentativa por uma
ditadura seria recebida com indignação, mesmo que o seu executor fosse um
Frederico, o Grande, e que os artistas políticos de uma maioria parlamentar
momentânea não passassem de anões incapazes ou de indivíduos medíocres. A lei da
democracia parece mais sagrada para um desses doutrineiros que o bem da nação.
Um protegerá, portanto, a pior tirania que aniquila um povo, desde que o
"princípio de autoridade" se corporiza nela, ao passo que o outro rejeita mesmo
o mais abençoado governo, desde que este não corresponda à sua concepção de
democracia.
Da mesma maneira o nosso pacifista alemão silenciará diante do mais
sangrento atentado contra o povo, mesmo que ele parta das mais rudes Forças
militares; silenciará desde que a mudança desse destino só seja possível por
meio de uma resistência, portanto, de uma violência, pois isso contraria o seu
espírito pacifista. O socialista alemão internacional, entretanto, pode ser
saqueado solidariamente pelo resto do mundo; ele mesmo retribui com simpatia
fraternal e não pensa em reparações ou mesmo protestos, pois que ele é - um
alemão.
Isso pode ser deplorável, porém quem quiser modificar uma situação deve
reconhecê-la primeiramente.
O mesmo acontece com a defesa dos anseios do
povo alemão por uma parte do clero. Por si, isso não representa nem má vontade,
nem é provocado, por exemplo, por ordem "de cima". Vemos, porém, nessa fraqueza
nacional, o resultado de uma educação também falha no sentido da germanização da
juventude como também, por outro lado, uma submissão irrestrita à idéia tornada
ídolo.
A educação para a democracia, para o socialismo de feitio internacional,
para o pacifismo, etc., é tão rígida e radical, portanto considerada por eles
puramente subjetiva que, com isso, a imagem geral do resto do mundo é
influenciada por essa noção fundamental, ao passo que a atitude para com o
germanismo desde a juventude sempre se caracterizou pelo seu objetivismo. Dessa
maneira o pacifista alemão que se submete subjetivamente à sua idéia, procurará
sempre primeiro os direitos objetivos, mesmo em casos de ameaças injustas e
pesadas a seu povo e nunca se colocará, por puro instinto de conservação, na
fileira de seu rebanho para lutar ao lado dele.
Quanto isso vale para os vários credos, pode ser mostrado pelo seguinte:
O protestantismo representa, por si, melhor, as aspirações do germanismo,
desde que esse germanismo esteja fundamentado na origem e tradições da sua
igreja; falha, entretanto, no momento em que essa defesa dos interesses
nacionais tenha de realizar-se num domínio em discordância com a sua tradicional
maneira de conceber os problemas mundiais.
O protestantismo servirá para promover tudo o que é essencialmente
germânico, sempre que se trate de pureza interior ou, de intensificar o
sentimento nacional, ou de defesa da vida alemã, da língua e também da
liberdade, uma vez que tudo isso é parte essencial nele; mas é mais hostil a
qualquer tentativa de salvar a nação das garras de seu mais mortal inimigo,
porque a sua atitude em relação ao judaísmo foi traçada mais ou menos como um
dogma. Nisso ele gira indecisamente em torno da questão e, a não ser que essa
questão seja resolvida, não terá sentido ou possibilidade de êxito qualquer
tentativa de um renascimento alemão.
Durante minha estadia em Viena, eu tive bastante prazer e oportunidade de
examinar essa questão, sem espírito preconcebido e, pude ainda verificar
milhares de vezes, no convívio diário, a correção desse modo de ver.
Nessa cidade em que estão em foco as mais variadas raças, era evidente, a
todos parecia claro, que somente o pacifista alemão procura considerar sempre
objetivamente as aspirações de sua própria nação, porém nunca o faz assim o
judeu em relação às do seu povo; que somente o socialista alemão é
"internacional", isto é, é proibido de fazer justiça a seu próprio povo de outra
maneira que não seja com lamentações e choro entre os companheiros
internacionais. Nunca agem assim o tcheco, o polaco, etc. Enfim, reconheci desde
então, que a desgraça só em parte está nessas teorias e, por outra parte, em
nossa insuficiente educação com relação ao nacionalismo e numa dedicação
diminuída, em virtude disso, em relação ao mesmo.
Por essas razões, falhou o primeiro fundamento puramente teórico do
movimento pangermanista contra o catolicismo.
Eduque-se o povo alemão, desde a juventude, no reconhecimento firme dos
direitos da própria nacionalidade e não se empestem os corações infantis com a
maldição de nossa "objetividade", mesmo em coisas relativas à conservação do
próprio eu, e em pouco tempo, verificar-se-á que (supondo-se um governo radical
nacional), assim como na Irlanda, na Polônia ou na França, o católico alemão
será sempre alemão.
A mais formidável prova disso foi fornecida naquela época em que, pela
última vez, o nosso povo, em defesa de sua existência, se apresentou, diante da
justiça da História, em uma luta de vida e de morte.
Enquanto naquele momento não faltou a direção de cima, o povo cumpriu o seu
dever do modo mais decisivo.
Pastor protestante ou padre católico, ambos contribuíram infinitamente para
uma longa conservação de força de resistência, não só no "front" mas, sobretudo,
no interior do país. Nesses anos, e sobretudo nos primeiros momentos de
entusiasmo, só existia na realidade um único império alemão sagrado nos dois
campos e para cuja subsistência e futuro cada um se dirigia ao seu céu.
O movimento pangermanista na Áustria deveria ter-se proposto a seguinte
pergunta: É ou não possível a conservação do germanismo austríaco sob uma fé
católica? No caso afirmativo, o partido político não se deveria ter incomodado
com a questão religiosa ou de credo. Em caso contrário, seria necessária uma
reforma religiosa e nunca um partido político.
Aquele que pensa poder chegar, pelo atalho de uma organização política, a
uma reforma religiosa, mostra somente que lhe falta qualquer vislumbre da
evolução das noções religiosas ou mesmo das dogmáticas e da atuação prática do
clero.
Na realidade não se pode servir a dois senhores, sendo que eu considero a
fundação ou destruição de uma religião muito mais importante do que a fundação
ou destruição de um Estado, quanto mais de um partido.
Não se diga que os aludidos ataques foram a defesa contra ataques do lado
contrário!
É certo que, em todas as épocas, houve indivíduos sem consciência que não
tiveram pejo de fazer da religião instrumento de seus interesses políticos (pois
é disso que se trata quase sempre e exclusivamente entre esses pulhas).
Entretanto, é falso tornar a religião ou o credo responsável por um bando de
patifes que dela fazem mau uso, da mesma forma por que poriam qualquer outra
coisa a serviço de seus baixos instintos.
Nada pode melhor servir a um tratante e mandrião parlamentar do que a
oportunidade que assim se lhe oferece de, ao menos posteriormente, conseguir a
justificação de sua esperteza política. Pois logo que a re1igião ou o credo é
responsabilizado por uma maldade pessoal e por isso atacados, o maroto chama,
com berreiro formidável, o mundo inteiro para testemunhar quão justa fora a sua
atuação e como, graças a ele e à sua loquacidade, foram salvas a religião e a
igreja. Os contemporâneos, tão tolos quanto esquecidos, não reconhecem o
verdadeiro causador da luta, devido ao grande berreiro que se faz ou não se
lembram mais dele e assim atinge o patife o seu objetivo.
Essas astuciosas raposas sabem bem que isso nada tem a ver com a religião.
Por isso mais rirá ele consigo mesmo, enquanto que o seu adversário, honesto
porém inábil, perde a cartada e retira-se de tudo, desiludido da lealdade e da
fé nos homens.
Em outro sentido, seria também injusto tomar a religião ou mesmo a igreja
como responsável pelos desacertos de quaisquer indivíduos.
Compare-se a grandeza da organização visível com a defeituosidade média dos
homens em geral e será necessário admitir que a relação do bem para o mal é
melhor entre nós do que em qualquer outra parte. É certo que há também, mesmo
entre os próprios padres, alguns para os quais a sua função sagrada é apenas um
meio para a satisfação de sua ambição- política e que chegam mesmo a esquecer,
na luta política, muitas vezes de maneira mais do que lamentável, que deveriam
ser os guardas de uma verdade superior e não os representantes da mentira e da
calúnia. Entretanto para cada indigno desses há, por outro lado, milhares e
milhares de curas honestos, dedicados da maneira mais fiel à sua missão que, em
nossos tempos atuais, tão mentirosos como decadentes, se destacam como pequenas
ilhas num pântano geral.
Tão pouco condeno ou devo condenar a igreja pelo fato de um sujeito
qualquer de batina cair em falta imunda contra os costumes, quando muitos outros
mancham e traem a sua nacionalidade, em uma época em que isso ocorre
freqüentemente. Sobretudo hoje em dia, é bom não esquecer que para cada Efialtes
há milhares de pessoas que, com o coração sangrando, sentem a infelicidade de
seu povo e, como os melhores de nossa nação, desejam ansiosamente a hora em que
para nós o céu possa sorrir também.
A quem, porém, responde que, no caso, não se trata de pequenos problemas da
vida diária, mas sobretudo de questões de verdade fundamental e de conteúdo
dogmático, pode-se dar a devida resposta com outra questão:
"Se te considerares feito pelo destino a fim de proclamar a verdade,
faze-o; tem, porém, também, a coragem de não quereres fazer isso pelo talho de
um partido político - pois constitui também esperteza, mas coloca, em lugar do
mal de agora, o que lhe parece melhor para o futuro.
Se porventura te faltar a coragem ou se não conheceres bem o que em ti há
de melhor, não te metas; em todo caso, não tentes, pelo recurso de um movimento
político, conseguir astuciosamente aquilo que não tens coragem de fazer de
viseira erguida".
Os partidos políticos nada têm a ver com os problemas religiosos, a não ser
que estes, estranhos ao povo, venham solapar os costumes e a moral da própria
raça. A religião também não se deve imiscuir em intrigas do partidarismo
político.
Quando os dignitários da igreja se servem de instituições ou doutrinas
religiosas para prejudicar a sua nacionalidade, nunca deverão ser seguidos nessa
trilha e sim combatidos com as mesmas armas.
As doutrinas e Instituições religiosas de seu povo devem ser intangíveis
para o chefe político; ao contrário, este não deveria ser político e sim
reformador!
Qualquer outra atitude conduziria a uma catástrofe, especialmente na
Alemanha.
Nas minhas observações sobre o movimento pangermanista em sua luta contra
Roma, cheguei, naquela ocasião e, sobretudo posteriormente, à seguinte
conclusão: devido a sua fraca compreensão da significação do problema social, o
movimento perdeu a força combativa da massa popular. Indo ao parlamento, perdeu
a sua força de impulsão e sobrecarregou-se com toda a fraqueza inerente àquela
instituição. A sua luta contra a igreja desacreditou-o perante muitas camadas
das classes baixa e média e privou-o de muitos dos melhores elementos que se
poderiam indicar como essencialmente nacionais.
Os resultados da "Kulturkampf" na Áustria foram praticamente nulos.
É verdade que foi possível arrancar perto de cem mil membros à igreja,
porém sem que ela por isso tivesse sofrido dano sensível. Realmente, nesse caso,
não havia necessidade de chorar pelas "ovelhinhas" perdidas; ela só perdeu o que
há já muito tempo intimamente lhe não pertencia. Essa era a diferença entre a
nova reforma e a antiga. Outrora, muitos dos melhores elementos da igreja se
tinham afastado dela por convicção religiosa íntima, ao passo que agora só os
"mornos" é que se foram e por "considerações" políticas.
Justamente do ponto de vista político o resultado foi muito ridículo e
deplorável.
Mais uma vez fracassara um promissor movimento político da
nação alemã por não ter sido conduzido com a necessária sobriedade, mas
perdera-se um campo que forçosamente teria de conduzir a um desagregamento.
A verdade, pois, é que:
O movimento pangermanista jamais teria cometido esse erro, se não possuísse
pouca compreensão da psicologia da massa. Se os seus chefes tivessem sabido que
para conseguir êxito não se deve nunca mostrar a massa dois ou mais adversários,
por considerações puramente psíquicas, pois isso conduziria de outra maneira ao
desagregamento da força combativa, só por esse motivo o movimento pangermanista
deveria ter sido principalmente dirigido contra um só adversário. Nada mais
perigoso para um partido político que deixar-se levar nas suas decisões por
levianos que tudo querem sem conseguir jamais coisa alguma.
Mesmo que nos vários credos haja muita coisa a eliminar o partido político
não deve perder de vista um minuto o fato de que, a julgar por toda a
experiência da história até hoje, nunca um partido político conseguiu, em
situações semelhantes, chegar a uma reforma religiosa. Não se estuda, porém, a
história para não recordar os seus ensinamentos quando é chegada a hora de
aplicá-la praticamente ou para pensar que as coisas agora são outras e que,
portanto, as suas verdades não são mais aplicadas, mas aprende-se dela
justamente o ensino útil para o presente. Quem não consegue isso, não deve ter a
pretensão de ser chefe político. Esse é na realidade um idiota superficial e
muito convencido e toda boa vontade não desculpa a sua incapacidade prática.
A arte de todos os grandes condutores de povos, em todas as épocas,
consiste, em primeira linha, em não dispersar a atenção de um povo e sim em
concentrá-la contra um único adversário. Quanto mais concentrada for a vontade
combativa de um povo, tanto maior será a atração magnética de um movimento e
mais formidável o ímpeto do golpe. Faz parte da genialidade de um grande
condutor fazer parecerem pertencer a uma só categoria mesmo adversários
dispersos, porquanto o reconhecimento de vários inimigos nos caracteres fracos e
inseguros muito facilmente conduz a um princípio de dúvida sobre o direito de
sua própria causa.
Logo que a massa hesitante se vê em luta contra muitos inimigos, surge
imediatamente a objetividade e a pergunta de se realmente todos estão errados ou
só o próprio povo ou o próprio movimento é que está com o direito.
Com isso aparece também o primeiro colapso da própria força. Daí ser
necessário que uma maioria de adversários internos seja sempre vista em blocos,
de sorte que a massa dos próprios adeptos julgue que a luta seja dirigida contra
um inimigo único. Isso fortalece a fé no próprio direito e aumenta a irritação
contra o inimigo.
O fato de o movimento pangermanista não ter compreendido isso lhe custou a
derrota.
O seu objetivo estava certo. A vontade era pura. O caminho seguido, porém,
estava errado. Ele se assemelhava a um alpinista que tem em vista o pico a ser
galgado e que se põe a caminho com decisão e força, sem porém dedicar atenção a
esse último, tendo a vista sempre voltada para o objetivo, sem atentar na trilha
que segue. Por isso, fracassa.
Inversamente, parecia passarem-se as coisas nas fileiras do adversário - no
Partido Socialista Cristão.
O caminho seguido por este foi sábia e seguramente escolhido. Entretanto,
faltou-lhe a compreensão exata do objetivo.
Em quase todos os pontos em que o movimento pangermanista falhou, eram bem
e corretamente pensadas as disposições do Partido Socialista Cristão.
Ele compreendia exatamente a importância das massas e, desde o seu início,
atraiu a si uma certa camada popular, pela ostensiva afirmação de seu caráter
social. E desde que se dispôs a ganhar a classe média e a classe dos artesãos,
ganhou permanentes e fiéis sectários, prontos para o sacrifício de si mesmos. O
partido evitou combater contra quaisquer organizações representadas pela Igreja,
assegurando-se, assim, o apoio dessa poderosa organização. Possuía, por isso, um
único adversário verdadeiramente grande. Compreendeu o valor da propaganda em
larga escala e especializou-se em influenciar psicologicamente os instintos da
grande maioria de seus adeptos.
O fato de ter o partido falhado em seu sonho de salvar a Áustria foi devido
aos seus métodos, que eram errados em dois sentidos, assim como à obscuridade de
seus objetivos.
Em vez de ser fundado sobre base racial, o seu anti-semitismo tinha
fundamento religioso. A razão por que esse erro se insinuou foi a mesma que
causou o segundo erro.
Se o Partido Socialista Cristão quisesse salvar a Áustria não se deveria
apoiar, na opinião de seu fundador, no princípio racial, desde que, de qualquer
modo, em breve prazo, ocorreria a dissolução geral do Estado. Os chefes do
partido entenderam que a situação em Viena exigia que se evitassem as tendências
para a dispersão e se apoiassem todos os pontos de vista conducentes à unidade.
Naquela época, Viena se achava fortemente impregnada de elementos tchecos e
nada a não ser a extrema tolerância nos problemas raciais poderia evitar que
aquele partido fosse anti-germânico desde o início. - Para salvação da Áustria,
aquele partido não poderia ser dispensado. Por isso fizeram esforços especiais
para ganhar o grande número de pequenos negociantes tchecos de Viena pela
oposição à escola liberal de Manchester e, com isso, julgavam haver descoberto
um grito de guerra para a luta contra o judaísmo, luta baseada na religião, que
deixaria na sombra todas as diferenças de raça da velha Áustria.
Claro é que um combate em tal base molestaria muito pouco os judeus. Na
pior das hipóteses, um pouco de água benta bastaria para salvar os seus negócios
e, ao mesmo tempo, o seu judaísmo.
Com essa base leviana, nunca foi possível tratar de maneira séria e
científica do problema, mas apenas perderam-se muitos adeptos que não
compreendiam essa espécie de anti-semitismo. Com isso a força de aliciar adeptos
ficaria circunscrita quase exclusivamente a círculos intelectuais restritos, a
não ser que se quisesse passar do puro sentimento para um verdadeiro do
problema. A atitude das classes intelectuais era de franca negação. A questão
parecia cada vez mais limitar-se a uma nova tentativa de conversão dos judeus.
Tinha-se até a impressão de tratar-se de uma certa inveja de concorrente. Com
isso a luta perdeu o caráter de um movimento superior e para muitos - e
justamente não para os piores - tomou a aparência de imoral e reprovável.
Faltava a convicção de que se tratava de uma questão vital de toda a humanidade,
de cuja solução dependia o destino de todos os povos não judeus.
As meias medidas, a indecisão, haviam destruído o valor da posição
anti-semítica do Partido Socialista Cristão.
Era um anti-semitismo aparente, era pior do que nada, porque o povo tinha a
ilusão de segurar firmemente o seu inimigo nas mãos, quando este é que o guiava.
O judeu, porém, em curto espaço de tempo, de tal maneira se acostumara a
essa espécie de anti-semitismo, que a sua supressão certamente lhe teria feito
mais falta do que incômodos lhe dava a sua existência.
Se o Estado constituído de diferentes raças já exigia um sacrifício, maior
ainda o exigia a defesa do germanismo.
Não se podia ser "nacionalista", a não ser que, mesmo em Viena, se quisesse
deixar de sentir a terra debaixo dos pés. Esperava-se salvar o Estado dos
Habsburgos contornando suavemente essa questão e, assim, o atiravam diretamente
à ruína. Com isso, porém, perdeu o movimento a única poderosa fonte, de energia
que pode fornecer força, duradouramente, a um partido político. O movimento
cristão social tornou-se, com isso, um partido como qualquer outro. Eu havia
seguido atentamente os dois movimentos, um por impulso íntimo do coração, o
outro arrastado pela admiração pelo homem raro que já então me aparecia como um
símbolo amargo de todo o germanismo austríaco.
Quando o formidável cortejo fúnebre conduzia o falecido burgomestre da
Rathaus para a Ringstrasse, também me encontrava entre as muitas centenas de
milhares de pessoas que assistiam ao espetáculo fúnebre. Intimamente comovido,
dizia-me o sentimento que também a obra desse homem tinha de ser em vão, devido
à fatalidade que irrecusavelmente teria de conduzir aquele Estado ao
aniquilamento.
Se o Dr. Karl Lueger tivesse vivido na Alemanha, teria sido incluído entre
os maiores homens de nossa raça. Foi infelicidade sua e de sua obra que tivesse
vivido naquele Estado insustentável que era a Áustria.
Ao mesmo tempo de sua morte, já começava a espalhar-se vivamente, cada mês
que se passava, aquela pequena chama dos Balcãs, de maneira que, por uma
gentileza do destino, foi lhe poupado ver aquilo que ele acreditava poder
evitar.
Eu, porém, tentei encontrar as causas do insucesso de ambos os movimentos e
cheguei à convicção firme de que, abstraindo inteiramente a impossibilidade de
ainda conseguir na velha Áustria o fortalecimento do Estado, os erros dos dois
partidos eram os seguintes:
O partido pangermanista teoricamente tinha toda razão quanto ao objetivo da
regeneração germânica, mas era infeliz na escolha de seus métodos. Era
nacionalista, mas, infelizmente, não bastante social para ganhar a adesão da
massa popular. O seu anti-semitismo era baseado na verdadeira apreciação da
importância do problema racial e não em- teorias religiosas. Por outro lado, a
sua luta contra um credo definido estava errada tanto quanto aos fatos como
quanto à tática.
As idéias do movimento cristão socialista acerca do objetivo do
renascimento germânico eram demasiadamente vagas, mas, como partido, era feliz e
inteligente na escolha de seus métodos. Compreendia a importância da questão
social, mas laborava em erro na sua luta contra os judeus e ignorava
inteiramente a força do sentimento nacional.
Se o Partido Socialista Cristão possuísse, além de sua inteligente
compreensão da grande massa, uma noção certa da importância do problema da raça,
como a tinha apanhado o movimento pangermanista, e tivesse ele também sido
nacionalista ou tivesse o movimento pangermanista adotado, além da sua
compreensão certa do objetivo da questão judaica e da importância do sentimento
nacional, também a inteligência prática do Partido Socialista Cristão, sobretudo
quanto à atitude em relação ao socialismo - ter-se-ia produzido aquele movimento
que, já então - estou convencido - poderia ter influído no destino do
germanismo.
Se isso assim não aconteceu, foi devido, em grande parte, ao caráter do
Estado austríaco.
Como não via a minha convicção realizada em nenhum outro partido, eu não
podia me decidir a ingressar em uma das organizações existentes ou mesmo
colaborar na luta. Já naquele tempo eu considerava todos os movimentos políticos
falhados e incapazes de realizar o grande renascimento nacional do povo alemão.
A minha antipatia pelo Estado dos Habsburgos crescia cada vez mais, naquela
época.
Quanto mais eu começava a preocupar-me sobretudo com questões de política
externa, tanto mais ganhava terreno a minha convicção de que aquela estrutura
estatal tinha de tornar-se- a desgraça do germanismo. Cada vez mais claramente
via, enfim, que o destino da nação alemã não mais seria decidido desse lugar e,
sim, do próprio Reich. Isso, porém, não dizia respeito apenas às questões
políticas, mas também a todas as questões da vida cultural propriamente.
O Estado austríaco mostrava também no campo das atividades puramente
culturais ou artísticas todos os sintomas de decadência, ou, pelo menos, a sua
insignificância para o futuro da nação alemã. No campo da arquitetura era que
mais isso se fazia sentir. A arquitetura moderna, por isso mesmo, não tinha
grande êxito na Áustria, pois, após a construção da Ringstrasse, as obras, pelo
menos em Viena, eram insignificantes relativamente aos grandes planos que
surgiam na Alemanha.
Comecei assim a levar cada vez mais uma vida dupla; a razão e a realidade
fizeram-me passar por uma tão amarga quanto abençoada escola na Áustria.
Entretanto o coração andava por outros lugares. Um angustioso descontentamento
me empolgara à medida que eu reconhecia a vacuidade em torno desse Estado e a
impossibilidade de salvá-lo, sentindo, ao mesmo tempo, com toda a certeza, que,
em tudo e por tudo, ele só poderia representar a desgraça do povo alemão.
Eu estava convencido de que o Estado se encontrava em situação de poder
dominar e inutilizar qualquer alemão verdadeiramente grande e de apoiar qualquer
coisa que fosse contra o germanismo.
Odiava o conglomerado de raças, checos, polacos, húngaros, rutenos,
sérvios, croatas, etc. e acima de tudo aquela excrescência desses cogumelos
presentes em toda parte - judeus e mais judeus.
Para mim a cidade gigante parecia a encarnação do incesto.
O alemão que eu falava na juventude era o dialeto falado na Baixa Baviera;
eu não conseguia nem esquecê-lo nem aprender a gíria vienense. Quanto mais tempo
eu permanecia naquela cidade, mais aumentava em mim o ódio contra a estranha
mistura de raças que começava a corroer aquele velho centro cultural alemão.
A idéia, porém, de que aquele Estado pudesse manter-se por mais tempo me
pareceu inteiramente ridícula.
A Áustria era então como um velho mosaico, cuja argamassa destinada a
segurar as pedrinhas se tivesse tornado velha e quebradiça. A obra consegue
aparentar a sua existência, mas logo que recebe um choque, quebra-se em mil
pedacinhos. A questão toda era saber quando se daria esse choque.
O meu coração sempre pulsara, não por uma monarquia austríaca e sim por um
império alemão. A hora da decadência desse Estado só me poderia parecer como o
começo da redenção da nação alemã- Por todos esses motivos, cada vez se tornou
mais intenso em mim o desejo de poder ir para o lugar para onde, desde a mais
tenra juventude, me atraíam secreta ânsia e decidido amor.
Outrora eu desejara poder algum dia fazer nome como arquiteto e, em pequena
ou grande escala, conforme o destino mandasse, prestar à nação o meu devotado
serviço.
Finalmente, eu desejava ter a felicidade de, no local, poder desempenhar o
meu papel no país onde o mais ardente desejo de meu coração tinha de ser
realizado: a união de meu amado lar com a pátria, comum.
Muitas pessoas ainda hoje não poderão compreender a grandeza de uma tal
ânsia. Entretanto eu me dirijo àqueles a quem o destino negou até agora essa
felicidade; dirijo-me a todos aqueles que, desligados da pátria, têm de lutar
até pelo bem sagrado da língua, e que, devido a seu sentimento de fidelidade à
pátria, são perseguidos e martirizados e que, dolorosamente comovidos, esperam
ansiosamente a hora que os deixe voltar de novo ao coração da mãe querida;
dirijo-me a todos esses e sei que eles me compreenderão!
Só aquele que sente dentro de si o que significa ser alemão sem poder
pertencer à pátria querida é que poderá medir a profunda ânsia que em todos os
tempos atormenta aqueles que dela se acham possuídos e nega-lhes satisfação e
felicidade até que se lhe abram as portas da casa paterna e no Reich comum o
sangue comum torne a encontrar paz e sossego.
Viena era e permaneceu para mim a mais rude, embora mais completa, escola
de minha vida. Eu pisara essa cidade ainda meio criança e abandonei-a já homem
feito. Nela recebi os fundamentos de uma concepção política em pequena escala,
que mais tarde ainda tive de completar em detalhes, porém que nunca mais me
abandonara. O verdadeiro valor daqueles anos de aprendizado só hoje é que posso
apreciar plenamente.
Por isso é que tratei esse período mais desenvolvidamente, pois 'foi ele
justamente que nessas questões me proporcionou a primeira lição de coisas em
problemas que afetam os princípios do partido, o qual, tendo começado em mui
pequenas proporções, se acha, depois de apenas cinco anos, em vias de tornar-se
um grande movimento popular. Não sei qual seria hoje a minha atitude em face do
judaísmo, da social-democracia, de tudo o que se entende por marxismo, por
questão social, etc., se a força do destino, naquele primeiro período de minha
vida, não me tivesse dado um fundamento de opiniões formado pela experiência
pessoal.
Pois, se bem que a desgraça da pátria consegue estimular milhares e
milhares de pessoas a pensarem nas causas íntimas da derrocada, esse fato não
consegue nunca conduzir àquela profundidade, àquela aguda intuição que se abre
para aquele que, somente depois de muitos anos de luta, se tornou senhor do
destino.
CAPÍTULO IV - MUNIQUE
Na primavera de 1912 fui definitivamente para Munique.
Aquela cidade parecia-me tão familiar como se eu tivesse morado há longo
tempo dentro de seus muros. Isso provinha do fato de que os meus estudos a cada
passo se reportavam a essa metrópole da arte alemã. Quem não conhece Munique não
viu a Alemanha, quem não viu Munique não conhece a arte alemã.
Entretanto, esse período anterior à guerra foi o mais feliz e tranqüilo de
minha vida. Se bem que os meus salários fossem ainda muito reduzidos, eu não
vivia para poder pintar, mas pintava para dessa maneira, assegurar a minha vida
ou, melhor, para assim poder continuar os meus estudos. Eu estava convencido de
que um dia ainda conseguiria o meu objetivo. E só isso já me fazia suportar com
indiferença todos os pequenos aborrecimentos da vida quotidiana. Acrescente-se
mais o grande amor que eu tinha por aquela cidade, quase que desde a primeira
hora da minha permanência ali. Uma cidade alemã! Que diferença de Viena!
Sentia-me mal em pensar naquela babel de raças. Além disso, o dialeto muito mais
chegado a mim, me fazia lembrar a minha juventude, sobretudo no trato com a
Baixa Baviera. Havia milhares de coisas que já eram ou com o tempo se me
tornaram caras. O que, porém, mais me atraía era a admirável aliança da força e
da arte no ambiente geral, essa linha única de monumentos que vai do Hofbräuhaus
ao Odeon, da Ocktoberfest à Pinacoteca. Sinto-me hoje pertencer mais àquela
cidade do que a qualquer outro lugar do mundo e isso devido ao fato de estar a
mesma inseparavelmente ligada à minha própria vida, à minha evolução. O fato de,
já naquela ocasião, eu gozar uma verdadeira tranqüilidade, era de atribuir-se ao
encanto que a admirável residência de Witteisbach exerce sobre todos os homens
que possuam qualidades intelectuais aliadas a sentimentos artísticos.
O que, afora os trabalhos de minha profissão, mais me atraía, era o estudo
dos acontecimentos políticos do dia, sobretudo os da política externa. Eu
cheguei a estes através dos rodeios da política alemã de aliança, a qual, desde
os meus tempos da Áustria, considerava absolutamente falsa. Apenas não
compreendera, em Viena, em toda a sua extensão, como o Reich a si mesmo se
enganava, com a prática daquela política. Já naquela época estava eu inclinado a
admitir - ou procurava convencer-me a mim mesmo, exclusivamente como desculpa que possivelmente em Berlim já se sabia quão fraco e pouco merecedor de
confiança seria na realidade o aliado austríaco, o que, entretanto, por motivos
mais ou menos secretos, se mantinha sob reserva, a fim de apoiar uma política de
aliança que o próprio Bismarck havia inaugurado e cujo abandono brusco não era
aconselhável, para não assustar o estrangeiro ou inquietar o povo, no interior.
Entretanto, as minhas relações, sobretudo entre o povo, fizeram que muito
depressa verificasse, horrorizado, que essa minha convicção era falsa. Com
grande surpresa minha, tive de constatar, em toda parte, que, mesmo nos círculos
bem informados, não se tinha a mais pálida idéia do caráter da monarquia dos
Habsburgos. Justamente entre o povo dominava a persuasão de que o aliado devia
ser considerado uma potência de verdade que, na hora do perigo, agiria como um
só homem. No seio da massa, considerava-se sempre a Monarquia como um Estado
"alemão" e pensava-se também poder contar com ela. Pensava-se que a força nesse
caso também podia ser computada por milhares, como por exemplo na própria
Alemanha, e esquecia-se, inteiramente:
1.°) que, há muito tempo. a Áustria deixara de ser um Estado de caráter alemão;
2.°) que as condições internas daquele país cada vez mais tendiam para a
desagregação.
Naquele tempo se conhecia melhor aquela estrutura de Estado do que a
chamada "diplomacia" oficial, a qual, como quase sempre, cambaleava cegamente
para a fatalidade. A disposição de ânimo do povo nada mais era que o resultado
daquilo que de cima se despejava na opinião pública. Os de cima, porém,
mantinham pelo aliado um culto como pelo bezerro de ouro. Esperava-se poder
substituir por habilidade aquilo que faltava em sinceridade. Tomavam-se sempre
as palavras como valores reais.
Em Viena eu me encolerizava ao constatar a diferença que, de tempos a
tempos, aparecia entre os discursos dos estadistas oficiais e o modo de
expressar-se da imprensa local. Entretanto, Viena era, ao menos aparentemente,
uma cidade alemã. Como eram diferentes as coisas, quando se saia de Viena, ou
melhor da Áustria alemã, e se caía nas províncias eslavas do Reich! Bastava que
se manuseassem os jornais de Praga para saber-se de que maneira era ali julgada
a sublime fantasmagoria da Tríplice Aliança. Ali só havia cruel ironia e
sarcasmo para essa obra-prima dos "estadistas". Em plena paz, enquanto os dois
imperadores trocavam entre si o beijo da amizade, ninguém ocultava que essa
aliança desapareceria no dia em que se tentasse, do mundo de fantasias, espécie de ideal dos Nibelungen - transportá-la para a realidade prática.
Quanta excitação houve quando, alguns anos depois, chegada a hora da prova
da Tríplice Aliança, a Itália abandonou-a, deixando os seus dois companheiros,
para, enfim, transformar-se em inimiga! A não ser para aqueles que estivessem
atacados de cegueira diplomática, era simplesmente incompreensível que, mesmo
por um minuto, se pudesse acreditar no milagre de vir a Itália a combater ao
lado da Áustria. Entretanto, as coisas na Áustria não se passavam de modo
diferente.
Na Áustria, só os Habsburgos e os alemães eram adeptos da idéia de aliança.
Os Habsburgos por cálculo e necessidade; os alemães por credulidade e estupidez
política. Por credulidade, porque eles pensavam, por meio da Tríplice Aliança,
prestar um grande serviço à Alemanha, fortalecê-la e protegê-la; por estupidez
política, porém, porque o que eles imaginavam não correspondia à realidade, pois
que estavam apenas concorrendo para acorrentar o Império à carcassa de um Estado
morto, que teria de arrastá-los ao abismo, sobretudo porque aquela aliança
contribuía para, cada vez mais, desgermanizar a própria Áustria. Porque, desde
que os Habsburgos acreditavam que uma aliança com o Império poderia garanti-los
contra qualquer interferência de parte deste - e infelizmente nisso tinham razão
- eles ficavam capacitados a continuarem na sua política de livrar-se,
gradualmente, da influência germânica no interior, com mais facilidade e menos
risco. Eles tinham que temer qualquer protesto de parte do governo alemão, que
era conhecido pela "objetividade" de seu ponto de vista e, além disso, tratando
com os austríacos alemães, podiam sempre fazer calar qualquer voz impertinente
que se levantasse contra qualquer feio exemplo de favoritismo para com os
eslavos, com uma simples referência à Tríplice Aliança.
Que poderia fazer o alemão na Áustria, se o próprio alemão do Império
exprimia reconhecimento e confiança no governo dos Habsburgos?
Deveria oferecer resistência para depois ser estigmatizado por toda a
opinião pública alemã como traidor da própria nacionalidade? Ele, que há dezenas
de anos vinha fazendo os maiores sacrifícios pela sua nacionalidade!
Que valor, porém, possuía essa aliança, caso tivesse sido destruído o
germanismo da monarquia dos Habsburgos. Não era, para a Alemanha, o valor da
Tríplice Aliança, dependente da manutenção da hegemonia alemã na Áustria? Ou
acreditava-se, por acaso, que mesmo com a eslavização do Império dos Habsburgos,
se pudesse manter a aliança?
A atitude da diplomacia alemã oficial, bem como também de toda a opinião
pública com relação ao problema interno das nacionalidades na Áustria, não era
simplesmente uma tolice mas uma verdadeira loucura! Contava-se com uma aliança,
fazia-se o futuro e a segurança de um povo de setenta milhões de habitantes
dependerem dela - e ficava-se observando, impassível, como, de ano para ano, a
única base para essa aliança era sistematicamente, infalivelmente destruída pelo
aliado! Chegaria o dia em que restaria apenas um "tratado" com a diplomacia
vienense, mas o auxílio do aliado do Império faltaria no momento oportuno.
Na Itália isso se verificara desde o princípio.
Se se tivesse feito um estudo mais inteligente da história da Alemanha e da
psicologia da raça, ninguém poderia ter acreditado, por um instante, que o
Quirinal de Roma e o Hofburg de Viena viessem um dia a lutar, lado a lado, em
uma frente única de batalha. A Itália se transformaria num vulcão antes que
qualquer governo ousasse enviar um só italiano a combate. O Estado dos
Habsburgos era fanaticamente odiado. Os italianos só poderiam marchar como
inimigos! Mais de uma vez vi flamejar em Viena o apaixonado desdém e insondável
ódio que mantinham os italianos contra o Estado austríaco. Os erros e crimes da
Casa de Habsburgo, no decurso dos séculos, contra a liberdade e a independência
da Itália, eram demasiado grandes para jamais serem esquecidos, mesmo na
hipótese de haver qualquer desejo nesse sentido. Não havia tal desejo nem entre
o povo nem de parte do governo italiano. Para a Itália, por isso, só havia dois
modos possíveis de tratar com a Áustria - a aliança ou a guerra.
Tendo escolhido o primeiro, podiam eles preparar-se calmamente para o
segundo.
A política alemã de aliança era ao mesmo tempo inexpressiva e arriscada,
especialmente desde que as relações da Áustria para com a Rússia tendiam
crescentemente para uma solução pela guerra.
Foi esse um caso clássico, em que se pôde constatar a falta de grandiosas e
acertadas linhas de conduta.
Por que, pois, foi concluída uma aliança? Simplesmente para garantir o
futuro do Reich, quando ele estava em posição de manter-se sobre os próprios
pés. O futuro do Reich estava na política de habilitar, por todos os meios, a
nação alemã a continuar existindo.
Por conseqüência, o problema deveria ter sido posto assim: que forma deverá
assumir a vida da nação alemã em um futuro tangível? E como se poderá garantir a
essa evolução os necessários fundamentos e a necessária segurança, no quadro do
concerto das potências européias?
Considerando claramente as condições para a atividade da política externa,
tinha-se de fatalmente chegar à seguinte convicção:
A Alemanha tem um acréscimo de população de, aproximadamente, 900 mil almas
por ano. A dificuldade de alimentação desse exército de novos cidadãos tem de
aumentar de ano para ano e acabar finalmente numa catástrofe, caso se não
encontrem meios de, em tempo, dominar o perigo da miséria e da fome.
Havia quatro caminhos para evitar esse tremendo desenlace.
1° Podia-se, a exemplo da França, limitar artificialmente o acréscimo de
nascimentos e, com isso, impedir uma superpopulação.
A própria natureza costuma agir no sentido de limitar o aumento de
população de determinadas terras ou raças, em épocas de grandes necessidades ou
más condições climáticas, bem como de pobreza do solo; e isso com um método tão
sábio quão inexorável. Ela não impede a capacidade de procriação em si e sim,
porém, a conservação dos rebentos, fazendo com que eles fiquem expostos a tão
duras provações que o menos resistente é forçado a voltar ao seio do eterno
desconhecido, o que ela deixa sobreviver às intempéries está milhares de vezes
experimentado e capaz de continuar a produzir, de maneira que a seleção possa
recomeçar. Agindo desse modo brutal contra o indivíduo e chamando-o de novo
momentaneamente a si, desde que ele não seja capaz de resistir à tempestade da
vida, a natureza mantém a raça, a própria espécie, vigorosa e a torna capaz das
maiores realizações.
A diminuição do número, por esse processo, redunda em um reforço da
capacidade do indivíduo e, por conseguinte, em última análise, em um
revigoramento da espécie.
As coisas se passam de outra maneira quando é o homem que toma a iniciativa
de provocar a limitação de seu número. Ai é preciso considerar não só o fator
natural como o humano. O homem sabe mais que essa cruel rainha de toda a
sabedoria - a natureza. Ele não limita a conservação do indivíduo, mas a própria
reprodução. Isso lhe parece, a ele que sempre tem em vista a si mesmo e nunca à
raça, mais humano e mais justificado que o inverso. Infelizmente, porém, as
conseqüências são também inversas.
Enquanto a natureza, liberando a geração, submete, entretanto, a
conservação da espécie a uma prova das mais severas, escolhendo dentro de um
grande número de indivíduos os que julga melhores e só a estes conserva para a
perpetuação da espécie, o homem limita a procriação e se esforça, aferradamente,
para que cada ser, uma vez nascido, se conserve a todo preço. Essa correção da
vontade divina lhe parece ser tão sábia quanto humana e ele alegra-se de, mais
uma vez, ter sobrepujado a natureza e até de ter provado a insuficiência da
mesma. E o filho de Adão não quer ver nem ouvir falar que, na realidade, o
número é limitado, mas à custa do apoucamento do indivíduo.
Sendo limitada a procriação e diminuído o número dos nascimentos, sobrevem,
em lugar da natural luta pela vida, que só deixa viverem os mais fortes e mais
sãos, a natural mania de conservar e "salvar" a todos, mesmo os mais fracos, a
todo preço. Assim se deixa a semente para uma descendência que será tanto mais
lamentável quanto mais prolongado for esse escárnio contra a natureza e suas
determinações.
O resultado final é que um tal povo um dia perderá o direito à existência
neste mundo, pois o homem pode, durante um certo tempo, desafiar as leis eternas
da conservação, mas a vingança virá mais cedo ou mais tarde. Uma geração mais
forte expulsará os fracos, pois a ânsia pela vida, em sua última forma, sempre
romperá todas as correntes ridículas do chamado espírito de humanidade
individualista, para, em seu lugar, deixar aparecer uma humanidade natural, que
destrói a debilidade para dar lugar à força.
Aquele, pois, que quiser assegurar a existência ao povo alemão limitando a
sua multiplicação, rouba lhe com isso o futuro.
2° Outro caminho seria aquele que hoje em dia freqüentemente ouvimos
aconselhado e louvado: a chamada colonização interna. Essa é uma proposta que
muitos fazem, na melhor das intenções, que é, porém, mal compreendida pela
maioria e que pode trazer, por isso, os maiores prejuízos imagináveis. Sem
dúvida, a capacidade produtiva de um terreno pode ser elevada até determinado
limite. Mas só até esse limite determinado e não infinitamente mais. Durante um
certo lapso, poder-se-á, portanto, compensar, sem perigo de fome, a
multiplicação do povo alemão por meio do aumento do rendimento de nosso solo.
Entretanto, a isso se opõe o fato de crescerem as necessidades da vida mais do
que o número da população. As necessidades humanas com relação ao alimento e ao
vestuário crescem de ano para ano e, por exemplo, já hoje em dia, não estão em
proporção com as necessidades de nossos antepassados de cem anos atrás. É, pois,
errôneo pensar que cada elevação da produção provoque a condição necessária a
uma multiplicação da população. Isso se dá até um certo ponto, pois que ao menos
uma parte do aumento da produção do solo é consumida na satisfação das
necessidades superiores da humanidade. Entretanto, com a máxima parcimônia de um
lado e a máxima diligencia por outro lado, chegará um dia em que um limite será
atingido pelo próprio solo. Mesmo com toda a diligência, não será possível
aproveitá-lo mais e surgirá, embora protelada por algum tempo, uma nova
calamidade. A fome aparecerá de tempos em tempos, quando houver má colheita. Com
o aumento da população, isso se dará cada vez mais, de sorte que isso só não
aparecerá quando raros anos de riqueza encherem os armazéns de víveres.
Entretanto, finalmente, aproximar-se-á a época em que não se poderá mais atender
à miséria e a fome, então, tornar-se-á a companheira de um tal povo. A natureza
terá de prestar auxílio de novo e proceder à seleção entre os escolhidos,
destinados a viver; ou então é o próprio homem que a si mesmo se auxilia,
lançando mão do impedimento artificial de sua reprodução com todas as graves
conseqüências para a raça e para a espécie. Poder-se-á ainda objetar que esse
futuro está destinado a toda a humanidade, de uma maneira ou de outra, e que,
portanto, nenhum povo conseguirá naturalmente escapar a essa fatalidade.
À primeira vista, sem mais considerações, isso está certo. Há, também, a
considerar o seguinte: numa determinada época, toda a humanidade será certamente
forçada a interromper o aumento do gênero humano ou a deixar a natureza decidir,
por si própria. Essa situação atingirá a todos os povos, mas atualmente só serão
atingidas por essa miséria as raças que não possuem energia suficiente para
assegurarem para si o solo necessário. Ninguém contesta que, hoje em dia, ainda
há neste mundo solo em extensão formidável e que só espera quem o queira
cultivar. Da mesma forma também é certo que esse solo não foi reservado pela
natureza para uma determinada nação ou raça, como superfície de reserva para o
futuro. Trata-se, sim, de terra e solo destinados ao povo que possua a energia
de o conquistar e a diligência de o cultivar.
A natureza não conhece limites políticos. Preliminarmente, ela coloca os
seres neste globo terrestre e fica apreciando o jogo livre das forças. O mais
forte em coragem e em diligência recebe o prêmio da existência, sempre atribuído
ao mais resistente.
Quando um povo se limita à colonização interna, enquanto outras raças se
agarram a cada vez maiores extensões territoriais, será forçado a restringir as
suas necessidades, em uma época em que os outros povos ainda se acham em
constante multiplicação. Esse caso dá-se tanto mais cedo quanto menor for o
espaço à disposição de um povo. Como, porém, em geral, infelizmente, as melhores
nações, ou mais corretamente falando, as únicas raças verdadeiramente culturais,
portadoras de todo o progresso humano, muitas vezes se resolvem na sua cegueira
pacifista a desistir de nova aquisição de solo, contentando-se com a colonização
"interna", nações inferiores sabem assegurar-se enormes territórios. Tudo isso
conduz a um resultado final:
As raças culturalmente melhores, mas menos inexoráveis, teriam de limitar a
sua multiplicação, por força da limitação do solo, ao passo que os povos
culturalmente mais baixos, naturalmente mais brutais, ainda estariam, em
conseqüência da maior superfície disponível, em condições de se reproduzirem
ilimitadamente, por outras palavras, dia viria em que o mundo passaria a ser
dominado por uma humanidade culturalmente inferior, porém mais enérgica.
Assim, para um futuro não muito remoto, só há duas possibilidades: ou o
mundo será governado nos moldes de nossas modernas democracias e então o fiel da
balança decidirá a favor das raças numericamente mais fortes, ou o mundo será governado segundo as leis da ordem natural e vencerão então os povos de vontade
brutal e, por conseqüência, não a nação que se limita a si mesma.
O que ninguém poderá duvidar é que o mundo será exposto às mais graves
lutas pela existência da humanidade. No fim, vence sempre o instinto da
conservação. Sob a pressão deste, desaparece o que chamamos espírito de
humanidade como expressão de uma mistura de tolice, covardia e pretensa
sabedoria, tal qual a nave ao sol de março. A humanidade tornou-se grande na
luta eterna, na paz eterna ela perecerá.
Para nós, alemães, porém, a senha da colonização interna já é funesta,
pois, entre nós, ela imediatamente reforça a opinião de termos achado um meio
que, de acordo com o espírito pacifista, permite podermos numa vida de torpor,
"ganhar" a existência. Essa doutrina, tomada a sério entre nós, significa o fim
de todo o esforço no sentido de conservarmos no mundo o lugar que nos compete.
Desde que o alemão médio se tenha convencido de poder garantir-se por esse meio
a vida e o futuro, qualquer tentativa de uma interpretação ativa e, portanto,
frutuosa, das necessidades vitais da Alemanha estaria perdida. Toda política
externa verdadeiramente útil poderia ser considerada impossível com uma tal
opinião da nação, e, com isso, o futuro do povo alemão estaria prejudicado.
Tendo-se em vista essas conseqüências, deve-se concordar que não é por
acaso que, em primeira linha, são sempre os judeus que procuram e sabem
inocular, no espírito do povo, tão perigosas idéias, aliás mortalmente
perigosas. Eles conhecem muito bem as pessoas com que têm de tratar para não
saberem que essas são vitimas agradecidas de qualquer charlatão que lhes diga
haver sido descoberto o meio de enganar a natureza, de modo a tornar supérflua a
dura e inexorável luta pela existência, para, em seu lugar, ora com trabalho ou
mesmo sem nada fazer, conforme calha a cada um, assenhorear-se do planeta.
Não é nunca demasiado insistir em que toda colonização alemã interna tem de
servir, em primeiro plano, para evitar males sociais, sobretudo para livrar a
terra da especulação geral. Entretanto nunca poderá ser suficiente para
assegurar o futuro da noção sem a conquista de novos territórios.
Se agirmos de outra maneira, não só chegaremos a esgotar as nossas terras
como também as nossas forças.
Finalmente, há a constatar ainda o seguinte:
A limitação, implícita, na colonização interna, a uma determinada pequena
superfície de solo, bem como o efeito final que se lhe segue da restrição da
reprodução, conduz o povo a uma situação político-militar extraordinariamente
desfavorável.
A garantia da segurança externa de um povo depende da extensão de seu
"habitat". Quanto maior for o espaço de que um povo disponha, tanto maior é sua
proteção natural; pois sempre foram conseguidas vitórias militares mais rápidas
e, por isso mesmo, mais fáceis e especialmente mais eficientes e mais completas
contra povos apertados em pequenas superfícies de terra do que contra Estados de
vasta extensão territorial. Na grandeza do território há, pois, sempre, uma
certa proteção contra ataques repentinos, visto como o êxito só será conseguido
após longas e severas lutas e, por isso, o risco de um ataque temerário parecerá
demasiado grande, a não ser que existam motivos excepcionais. Na vastidão
territorial, em si mesma, já existe uma base para a fácil conservação da
liberdade e da independência de um povo, enquanto que, ao contrário, a pequenez
territorial como que desafia a conquista.
De fato, as duas primeiras possibilidades para se conseguir um equilíbrio
entre a população crescente e o solo invariável em grandeza, foram rejeitadas
pelos chamados círculos nacionais do Reich. Os motivos que determinaram essa
atitude eram, entretanto, outros que os indicados acima. Relativamente à
limitação dos nascimentos, a atitude era de recusa, em primeiro lugar por um
certo sentimento moral. A colonização interna era repelida com desapontamento,
pois que se farejava, nela, um ataque contra a grande propriedade rural e o
começo de uma luta geral contra a propriedade particular. Pela forma por que
sobretudo essa última terapêutica era recomendada podia-se imediatamente ver a
condenação dessa hipótese.
De um modo geral, a defesa em face da grande massa não era muito hábil e de
modo algum atingia o âmago do problema.
Em face disso, só restavam dois caminhos- para assegurar um trabalho são à
população crescente.
3° Podiam-se adquirir novos territórios, a fim de, anualmente, derivar os
milhões excedentes, conservando dessa maneira a nação em condições de poder
alimentar-se a si mesma, ou se passaria a:
4° Produzir, por meio da indústria e do comércio, para o consumo
estrangeiro, a fim de, por esse modo, garantir a vida do povo.
Portanto, política rural, colonial ou comercial.
Ambos os caminhos foram, sob vários pontos de vista, considerados,
examinados, recomendados e combatidos.
O primeiro ponto de vista sem dúvida teria sido o mais são dos dois. A
aquisição do novo território para nele acomodar o excesso da população encerra
vantagens infinitamente maiores, especialmente se se toma em consideração o
futuro e não o presente.
Só as vantagens da conservação de uma classe de camponeses, como fundamento
de toda a nação, são enormes. Muitos dos nossos males atuais não são mais que a
conseqüência do desequilíbrio entre o povo dos campos e o das cidades. Uma base
firme constituída de pequenos e médios camponeses foi, em todos os tempos, a
melhor defesa contra as enfermidades sociais do gênero das que nos afligem hoje
em dia. Essa é também a única saída que permite a um povo encontrar o pão de
cada dia nos limites da sua vida econômica. A indústria e o comércio recuam de
sua posição de dirigentes e se colocam no quadro geral de uma economia nacional
de consumo e compensação. Ambos não são mais a base de alimentação do povo e sim
um auxílio para a mesma. Dispondo eles de uma compensação entre a produção e o
consumo, tornam toda a alimentação do povo mais ou menos independente do
exterior. Ajudam, portanto, a assegurar a liberdade do Estado e a independência
da nação, sobretudo nos dias graves.
Entretanto, uma tal política rural não poderá ser realizada, por exemplo,
no Camerun e sim quase que exclusivamente na Europa. Calma e modestamente, temos
de colocar-nos no ponto de vista de que certamente não deve ter sido a intenção
do céu dar a um povo cinqüenta vezes mais terra do que a outro. Nesse caso, os
limites políticos não devem afastar-se dos limites do direito eterno. Se é
verdade que o mundo tem espaço para todos viverem, então que se nos dê também o
solo necessário à nossa vida.
Isso naturalmente não será feito de boa vontade. O direito da própria
conservação fará então sentir os seus efeitos; e o que é negado por meios
suasórios tem de ser tomado à força.
Tivessem os nossos antepassados feito depender as suas decisões de tolices
pacifistas, como se faz atualmente, e não possuiríamos mais que um terço do
nosso atual território. Não é a isso que devemos as duas Marcas orientais do
Reich e, com elas, a força interior da grandeza do domínio territorial de nosso
Estado, o que nos tem permitido existir até hoje.
Há outra razão para que essa solução seja considerada correta:
Muitos Estados europeus de hoje são semelhantes a pirâmides que se sustêm
sobre o seu vértice. As suas possessões na Europa são ridículas comparativamente
com a sua pesada carga de colônias, comércio estrangeiro, etc. Poder-se-ia
dizer: ponto na Europa e base em todo o mundo. Inversa é a situação dos Estados
Unidos, cuja base está sobre o seu próprio continente e cujo ápice é o seu ponto
de contato com o resto do globo. Daí a grande força interna daquele Estado e a
fraqueza da maioria das potências colonizadoras européias.
Mesmo a Inglaterra não é prova em contrário, pois sempre nos inclinamos a
esquecer a verdadeira natureza do mundo anglo-saxão em relação ao Império
britânico. Pelo fato de possuir a mesma língua e a mesma cultura que os Estados
Unidos, a Inglaterra não pode ser comparada com nenhum outro Estado da Europa.
Por isso, a única esperança de realizar a Alemanha uma política territorial
sadia está na aquisição de novas terras na própria Europa. As colônias são
inúteis para esse fim, por parecerem impróprias para o estabelecimento de
europeus em grande número. Entretanto, no século dezenove, já não era mais
possível adquirir, por métodos pacíficos, tais territórios para efeitos de
colonização. Uma política de colonização dessa espécie só poderia ser realizada
por meio de uma luta áspera, que seria mais razoável se aplicada na obtenção de
território no continente, próximo da pátria, de preferência a quaisquer regiões
fora da Europa.
Uma tal decisão exige, porém, a solidariedade de toda a nação. Não é
possível abordar, com meias medidas ou com hesitações, uma tarefa cuja execução
só é viável pelo emprego de toda a energia nacional. A direção política do Reich
teria de dedicar-se exclusivamente a esse fim; nenhum passo deveria ser dado por
outras considerações que não fosse o reconhecimento dessa tarefa e das condições
pare o seu êxito. Deveria ficar bem claro que esse objetivo só poderia ser
atingido em luta, tendo-se tranqüilamente em mira o movimento das armas.
Todas as alianças deveriam ser examinadas exclusivamente sob esse ponto de
vista e apreciadas quanto à sua utilidade nesse objetivo. Houvesse o desejo de
adquirir territórios ria Europa e isso teria de dar-se de um modo geral à custa
da Rússia. O novo Reich teria de novamente pôr-se em marcha na estrada dos
guerreiros de outrora, a fim de, com a espada alemã, dar ao arado alemão a gleba
e à nação o pão de cada dia.
Para uma tal política só havia um possível aliado na Europa: Inglaterra.
A Grã-Bretanha era a única potência que poderia proteger a nossa
retaguarda, suposto que déssemos início a uma nova expansão germânica. Teríamos
tanto direito de fazê-lo quanto tiveram os nossos antepassados. Nenhum dos
nossos pacifistas se nega a comer o pão do Oriente, embora o primeiro arado
outrora tivesse sido a espada.
Nenhum sacrifício deveria ser considerado demasiado grande nesse trabalho
de conquistar as simpatias da Inglaterra. Dever-se-ia renunciar às colônias e ao
poderio naval, e evitar a concorrência à indústria britânica.
Somente uma atitude absolutamente clara poderia conduzir a um tal objetivo:
renúncia a uma marinha de guerra alemã, concentração de todas as forças do
Estado no exército. Ê verdade que o resultado seria uma limitação temporária,
entretanto abrir-se-iam os horizontes para um grande futuro.
Houve uma época em que a Inglaterra nos daria atenção nesse sentido, porque
ela compreendia muito bem que, devido a sua crescente população, a Alemanha
teria de procurar qualquer saída e de achá-la na Europa, com o auxílio inglês,
ou, sem esse auxílio, em qualquer outra parte do mundo.
A tentativa para se obter uma aproximação com a Alemanha, feita no dobrar
do século, foi devida em tudo e por tudo a esse sentimento. Mas aos alemães não
agradava "tirar as castanhas do fogo" para a Inglaterra, - como se fosse
possível uma aliança sobre outra base que não a da reciprocidade. Baseado nesse
princípio, o negócio poderia muito bem ter sido feito com a Inglaterra. A
diplomacia britânica era bastante hábil para saber que nada era lícito esperar
sem reciprocidade.
Imaginemos que a Alemanha, com uma hábil política exterior, tivesse
representado o papel que o Japão representou em 1904, e, dificilmente, poderemos
prever as conseqüências que isso teria tido para o país.
Jamais teria havido a "Guerra Mundial".
No ano de 1904, o sangue teria sido dez vezes menos que o que se derramou
em 1914-18.
Mas que posição ocuparia a Alemanha, hoje em dia, no mundo!
Sobretudo a aliança com a Áustria foi uma idiotice.
Essa múmia de Estado uniu-se à Alemanha não para lutar com ela na guerra
mas para conservar uma eterna paz, a qual então poderia ser utilizada, de uma
maneira inteligente, para a destruição lenta porém segura do germanismo na
Monarquia. Essa aliança era absolutamente inviável, pois que não se poderia
esperar por muito tempo uma defesa ofensiva dos interesses nacionais alemães em
um Estado que não possuía nem a força nem a decisão para limitar o processo de
desgermanização nas suas fronteiras imediatas. Se a Alemanha não possuía
consciência nacional bastante e também a impavidez para arrancar ao impossível
Estado dos Habsburgos o mandato sobre o destino de dez milhões de irmãos de
raça, não se poderia, então, na verdade, esperar que jamais ela recorres. se a
planos de tão larga visão e tão audaciosos. A atitude do velho Reich em relação
ao problema austríaco foi a pedra-de-toque de sua atitude na luta decisiva de
toda a nação.
Ninguém observava como, ano a ano, o germanismo era cada vez mais oprimido
e que o valor da aliança, de parte da Áustria, era determinado exclusivamente
pela conservação dos elementos alemães. Mas absolutamente não se seguiu esse
caminho.
Nada temiam tanto como a luta e, finalmente, na hora mais desfavorável,
foram constrangidos a ela.
Queriam fugir ao destino e foram surpreendidos por ele. Sonhavam com a
conservação da paz do mundo e caíram na guerra mundial.
E esse foi o mais importante motivo porque não se deu o devido valor a essa
terceira saída para a garantia do futuro alemão. Sabia-se que a conquista do
novo solo só podia ser alcançada a leste. A luta necessária foi prevista, mas o
que se queria a todo preço era a paz. A senha da política externa há muito que
não era mais a conservação da nação alemã a todo transe, mas a conservação da
paz universal, por to. dos os meios. Ainda voltarei a falar mais detalhadamente
sobre esse ponto.
Assim, restava ainda a quarta possibilidade: indústria e comércio
universais, poder naval e colônias.
Um tal desenvolvimento era na verdade mais fácil e mais rapidamente
acessível. O povoamento do solo é um processo mais lento e que dura, às vezes,
séculos. É, porém, justamente nisso que se deve procurar a sua força intrínseca.
Não se trata de um flamejar repentino, mas de um crescimento lento, mas
fundamental e constante, em contraposição a um desenvolvimento industrial que
pode ser improvisado no correr de poucos anos, assemelhando-se, porém, mais a
uma bolha de sabão que a força solida, É verdade que mais rapidamente se
constrói uma esquadra do que, em luta tenaz, se erige uma estância e coloniza-se
a mesma com lavradores; entretanto aquela também mais facilmente se aniquila do
que esta última. Contudo, se a Alemanha, não obstante, trilhava esse caminho, ao
menos deveria reconhecer-se claramente que esse programa um dia acabaria em
luta, só crianças imaginariam que se pode conseguir o desejado alimento, pela
boa conduta e pela declaração de sentimentos de paz, na "concorrência pacífica
dos povos", como tanto e tão suntuosamente se tagarelava sobre esse assunto,
como se tudo se pudesse obter sem lançar mão das armas.
Não. Se continuássemos a trilhar esse caminho, a Inglaterra um dia se
tornaria nossa inimiga. Nada mais insensato do que o desapontamento que
experimentamos, pelo fato de a Inglaterra tomar um dia a liberdade de enfrentar
a nossa tendência pacifista com a crueldade do egoísta violento. Só a nossa
reconhecida ingenuidade se poderia surpreender com esse desfecho.
Nunca deveríamos ter agido assim!
Se uma política de aquisição territorial na Europa só poderia ser feita em
aliança com a Inglaterra contra a Rússia, uma política de colônias e de comércio
mundial, por outro lado, só seria concebível em uma aliança com a Rússia contra
a Inglaterra. Nesse caso, dever-se-ia chegar inexoravelmente às últimas
conseqüências, pondo se a Áustria à margem.
Considerada sob todos os pontos de vista, essa aliança com a Áustria era,
já no dobrar do século, uma verdadeira loucura.
Entretanto, não se pensava numa aliança com a Rússia contra a Inglaterra,
nem tão pouco com a Inglaterra contra a Rússia, pois, em ambos os casos, o
resultado teria sido a guerra e, para evitá-la, é que se decidiu adotar a
política comercial e industrial. A conquista "econômica pacifica" era uma
receita que de uma vez por todas estava destinada a dar um golpe decisivo na
política de violência de até então. Talvez não houvesse completa confiança nessa
política, sobretudo tendo-se em vista que, de tempos a tempos, surgiam, vindas
do lado da Inglaterra, ameaças inteiramente incompreensíveis. Finalmente
capacitaram-se os alemães da necessidade de construir-se uma frota, não com o
propósito de atacar e destruir, mas para defender a paz mundial e para a
"conquista pacífica do mundo". Por isso tiveram de mantê-la em escala modesta,
não somente quanto ao número mas também quanto à tonelagem de cada navio e ao
respectivo armamento, de modo a tornar evidente que o seu fim último era
pacífico.
Conversar em "conquista pacífica do mundo" foi a maior loucura que já se
tomou como princípio dirigente de uma política nacional, especialmente porque
não se recuava em citar a Inglaterra para provar que era possível pô-la em
prática. O mal feito pelos nossos professores com o seu ensinamento de história
e com suas teorias dificilmente pode ser remediado e apenas prova, de modo
evidente, quantas pessoas "ensinam" história sem compreendê-la, sem percebê-la.
Exatamente na Inglaterra ter-se-ia de reconhecer uma evidente refutação à
teoria. De lato, nenhuma outra nação se preparou melhor para a conquista
econômica, mesmo com a espada ou mais tarde a sustentou mais inexoravelmente que
a inglesa. Não é a característica dos estadistas ingleses tirarem lucro
econômico da força política e imediatamente transformarem o lucro econômico em
força política? Assim foi um erro completo imaginar que a Inglaterra seria
demasiado covarde para derramar o seu sangue em defesa de sua política
econômica. O fato de não possuírem os ingleses um exército nacional não era
prova em contrário; porque não é a forma das forças militares que importa, mas
antes a vontade e a determinação de força existente. A Inglaterra sempre possuiu
os armamentos de que necessitava. Sempre lutou com as armas precisas para
garantir o êxito da sua política. Lutou com mercenários enquanto os mercenários
bastavam aos seus planos, mas lançou mão do melhor sangue de toda a nação quando
tal sacrifício foi necessário para assegurar a vitória. Sempre teve a
determinação de lutar e sempre foi tenaz e inexorável na sua maneira de conduzir
a guerra.
Na Alemanha, entretanto, com o correr do tempo se estimulava, por meio das
escolas, da imprensa e dos jornais humorísticos, a que se tivesse da vida
inglesa e mais ainda do Império uma idéia própria a conduzir a inoportuna
decepção; porque tudo gradualmente se contaminou com essa tolice e o resultado
foi a opinião falsa sobre os ingleses, que se traduziu em amarga desforra por
parte deles, Essa idéia correu tão largamente que toda a gente estava convencida
de que o inglês, tal qual o imaginavam, era um homem de negócios, ao mesmo tempo
ladino e incrivelmente covarde. Jamais ocorreu aos nossos dignos mestres da
ciência professoral que um Império vasto como o Império britânico não poderia
ser fundado e conservado unido apenas com astúcia e métodos escusos. Os
primeiros que advertiram sobre esse assunto não foram ouvidos ou tiveram de
ficar em silêncio. Recordo-me perfeitamente do espanto de meus camaradas quando
nos enfrentamos com os "Tommies" em Flandres. Depois dos primeiros dias de luta,
alvoreceu no cérebro de cada um a noção de que aqueles escoceses não
correspondiam exatamente à gente que os escritores de jornais humorísticos e as
notícias da imprensa entendiam descrever-nos.
Comecei então a refletir sobre a propaganda e sobre as suas formas mais
úteis.
Esse falseamento certamente tinha suas vantagens para aqueles que o
propagavam. Estavam aptos a demonstrar, com exemplos, por mais incorretos que
estes fossem, se era correta a idéia de uma conquista econômica do mundo. O que
o inglês conseguiu nós poderíamos também conseguir, havendo para nós a vantagem
especial de nossa maior probidade, a ausência daquela perfídia especificamente
inglesa. Era de esperar ainda com isso ganharmos mais facilmente a simpatia de
todas as pequenas nações e a confiança das grandes.
Não compreendíamos que a nossa probidade causasse aos outros um íntimo
horror, desde que acreditávamos seriamente em tudo isso, enquanto o resto do
mundo via nessa conduta a expressão de uma falsidade astuta, até que, com o
maior espanto, a revolução proporcionou uma visão mais profunda da ilimitada
tolice de nosso modo de pensar.
Pela tolice dessa "conquista econômica pacífica" do mundo se depreende
imediatamente a tolice da tríplice aliança. Com que Estado se podia, pois, fazer
aliança? Conjuntamente com a Áustria, não era possível pensar em conquistas
guerreiras, mesmo na Europa. Justamente nisso é que estava, desde o primeiro
momento, a fraqueza intrínseca da aliança. Um Bismarck podia tomar a liberdade
de um tal expediente, mas não nenhum dos seus ignorantes sucessores, muito menos
numa época em que não existiam mais as mesmas condições da aliança promovida por
Bismarck. Bismarck acreditava ainda que a Áustria fosse um Estado alemão. Com a
introdução do sufrágio universal, tinha esse país, entretanto, paulatinamente,
adotado um sistema de governo parlamentar e antigermânico.
A aliança com a Áustria, sob o ponto de vista racial e político, foi
simplesmente nociva. Tolerava-se o desenvolvimento de uma nova potência eslava
na fronteira do Reich, potência essa que mais cedo ou mais tarde teria de tomar
atitudes em relação à Alemanha muito diferentes da Rússia, por exemplo. Com isso
a aliança de ano para ano tinha de tornar-se cada vez mais fraca, à proporção
que os únicos portadores desse pensamento na monarquia perdiam influência e eram
desalojados das posições dominantes.
Já pelo dobrar do século, a aliança com a Áustria tinha entrado na mesma
fase que a aliança da Áustria com a Itália.
Só havia duas possibilidades: ou prevalecia a aliança com a monarquia dos
Habsburgos ou se protestava contra o combate ao germanismo na Áustria.
Entretanto, quando se inicia tal movimento, o resultado final, geralmente, é a
luta aberta, declarada.
O valor da tríplice aliança era, psicologicamente, de somenos importância,
uma vez que a força de uma aliança declina quando se limita a manter uma
situação existente. Por outro lado, uma aliança será tanto mais forte quanto
mais as potências contratantes estejam convencidas de que, com a mesma, podem
obter uma vantagem tangível, definida.
Isso era compreendido em vários meios, mas infelizmente não o era pelos
chamados "profissionais". Ludendorff, então coronel no grande estado-maior,
apontava essa fraqueza um memorando escrito em 1912. Naturalmente os
"estadistas" se' recusaram a dar qualquer importância ao assunto, pois a razão,
que está ao alcance de qualquer mortal, escapa aos "diplomatas".
Para a Alemanha foi uma felicidade que a guerra de 1914, embora
indiretamente, irrompesse por intermédio da Áustria, obrigando os Habsburgos a
nela tomarem parte. Tivesse acontecido o contrário e a Alemanha teria ficado
sozinha. Nunca o Estado dos Habsburgos teria podido ou mesmo teria querido tomar
parte em uma guerra que se originasse de parte da Alemanha. Aquilo que, em
relação à Itália, tanto se condenou, ter-se-ia dado mais cedo na Áustria: ela
teria ficado "neutra" para assim ao menos salvar o Estado contra uma revolução.
O eslavismo austríaco, no ano de 1914, teria preferido destruir a monarquia a
consentir no auxilio à Alemanha.
Poucas pessoas naquela ocasião podiam compreender como eram grandes os
perigos e dificuldades oriundas das alianças com a monarquia do Danúbio. Em
primeiro lugar, a Áustria possuía inimigos demais, que cogitavam de herdar de um
Estado carcomido. Não era possível que, no correr do tempo, não surgisse um
certo ódio contra a Alemanha, na qual se enxergava a causa do impedimento à
queda da monarquia, por todos esperada e desejada. Chegou-se à convicção de que,
no final de contas, só se poderia alcançar Viena via Berlim.
A ligação com a Áustria privava a Alemanha das melhores e mais promissoras
alianças. Em lugar dessas alianças, surgiu uma situação tensa com a Rússia' e
mesmo com a Itália. Em Roma o sentimento geral era tão simpático à Alemanha como
antipático à Áustria.
Como os alemães se tinham lançado na política do comércio e da indústria,
não havia mais o menor motivo para uma luta contra a Rússia. Somente os inimigos
de ambas as nações é que poderiam ter nisso um vivo interesses. De fato, eram em
primeira linha judeus e marxistas que, por todos os meios, incitavam a guerra
entre os dois Estados.
Essa aliança, em terceiro lugar, tinha em si um grande perigo, pois que com
facilidade uma das potências inimigas do império de Bismarck em qualquer tempo
poderia mobilizar vários Estados contra a Alemanha, uma vez que estavam em
condições de, à custa do aliado austríaco, acenar com as perspectivas de grandes
vantagens.
Todo o oriente da Europa poderia levantar-se contra a monarquia do Danúbio,
sobretudo a Rússia e a Itália. Nunca se teria realizado a coligação mundial, que
se vinha desenvolvendo desde a ação inicial do rei Eduardo, se a Áustria, como
aliada da Alemanha, não tivesse oferecido vantagens tão apetecidas pelos
inimigos. Só assim foi possível reunir, numa única frente de ataques, países de
desejos e objetivos tão heterogêneos. Cada um deles poderia esperar, numa ação
conjunta contra a Alemanha, conseguir enriquecer-se. Esse perigo aumentou
extraordinariamente pelo fato de parecer que a essa aliança infeliz também
estava filiada a Turquia como sócio comanditário.
O mundo financeiro internacional judaico necessitava, porém, desse
chamariz, a fim de poder realizar o plano, há muito desejado, da destruição da
Alemanha que ainda não se tinha submetido ao controle financeiro e econômico
geral, à margem do Estado. Só assim se podia forjar uma coalizão tornada forte e
corajosa pelo simples número dos exércitos de milhões em marcha, pronta,
finalmente, a avançar contra o lendário Siegfried.
A aliança com a monarquia dos Habsburgos que, já nos tempos em que eu
estava na Áustria, tanto me irritava, começou a tornar-se a causa de longas
provações intimas que, no correr do tempo, ainda mais reforçavam a minha
primeira opinião.
No meio modesto, que eu então freqüentava, nenhum esforço fiz para esconder
a minha convicção de que aquele infeliz tratado com um Estado condenado à
destruição teria de levar a Alemanha a um colapso catastrófico, a não ser que
ela conseguisse desvencilhar-se do mesmo, ainda em tempo. Nunca vacilei, por um
momento; mantive-me, nessa convicção, firme como uma rocha, até que, por fim, a
torrente da guerra mundial tornou impossível uma reflexão razoável, e o ímpeto
do entusiasmo tudo levou de vencida e o dever de todos passou a ser a
consideração das realidades, Mesmo quando me achava na frente de batalha, sempre
que o problema era discutido, eu exprimia a minha opinião de que quanto mais
depressa fosse rompida a aliança tanto melhor para a nação alemã e que
sacrificar a monarquia dos Habsburgos não seria sacrifício para a Alemanha, se
com isso ela pudesse reduzir o número de seus inimigos, desde que os milhões de
capacetes de aço não se tinham reunido para manter uma decrépita dinastia, mas
para salvar a nação alemã.
Antes da guerra, parecia, às vezes, que num campo ao menos havia uma leve
dúvida quanto à correção da política de aliança que vinha sendo seguida. De
tempos a tempos, os círculos conservadores na Alemanha começavam a fazer
advertências contra a excessiva confiança nessa política, mas, como tudo mais
que era razoável, fazer essas advertências era como falar no deserto. Havia a
convicção geral de que a Alemanha estava a caminho de conquistar o mundo, que o
êxito seria ilimitado e que nada teria de ser sacrificado.
Mais uma vez, ao "não profissional" nada era permitido fazer senão olhar
silenciosamente, enquanto os "profissionais" marchavam diretamente para a
destruição, arrastando consigo .a nação inocente, como o caçador de ratos de
Hamein.
A causa mais profunda do fato de ter sido possível apresentar a um povo
inteiro, como processo político prático, a insensatez de uma "conquista
econômica", tendo como objetivo a conservação da paz universal, residia numa
enfermidade de todos os nossos pensamentos políticos.
A vitoriosa marcha da técnica e da indústria alemãs, os crescentes triunfos
do comércio alemão, fizeram que se esquecesse de que tudo isso só era possível
dada a suposição da existência de um Estado forte. Muitos, ao contrário,
chegavam até a proclamar a sua convicção de que o Estado devia a sua vida a
esses progressos, desde que o Estado, primeiro que tudo e mais que tudo, é uma
instituição econômica e deveria ser dirigido de acordo com as regras da
economia, devendo, por isso, a sua existência ao comércio - condição que era
considerada ser a mais sã e mais natural de todas. Entretanto, o Estado nada tem
a ver com qualquer definida concepção ou desenvolvimento econômico.
O Estado não é uma assembléia de negociantes que durante uma geração se
reuna dentro de limites definidos para executar projetos econômicos, mas a
organização da comunidade, homogênea por natureza e sentimento, unida para a
promoção e conservação da sua raça e para a realização do destino que lhe traçou
a Providência. Esse e nenhum outro é o objeto e a significação de um Estado. A
economia é tão somente um dos muitos meios necessários à realização desse
objetivo. Nunca, porém, é o objetivo de um Estado, a não ser que este, desde o
princípio, repouse em uma base falsa, por antinatural. Só assim é que se explica
que o Estado, como tal, não necessite ter, como condição, uma limitação
territorial. Isso só será necessário entre povos sue, por si mesmos, querem
assegurar a alimentação de seus irmãos em raça e que, portanto, estão prontos a
lutar com o seu próprio trabalho, em prol de sua existência. Os povos que, como
zangões, conseguem infiltrar-se no resto da humanidade, a fim de, sob todos os
pretextos, fazer com que os outros trabalhem para si, podem, mesmo sem possuírem
um "habitat" determinado e limitado, formar um Estado. Isso se dá em primeira
linha num povo sob cujo parasitismo, sobretudo hoje, toda a humanidade sofre: o
povo judeu.
O Estado judaico nunca teve fronteiras, nunca teve limites no espaço, mas
era unido pela raça. Por isso, aquele povo sempre foi um Estado dentro do
Estado. Foi um dos mais hábeis ardis já inventados o de encobrir-se aquele
Estado sob a capa de religião, obtendo-se assim a tolerância que o ariano sempre
estendeu a todos os credos. A religião mosaica nada mais é que uma doutrina para
a conservação da raça judaica. Por isso ela abraça quase todos os ramos do
conhecimento sociológico, político e econômico que lhe possam dizer respeito.
O instinto de conservação da espécie é sempre a causa da formação das
sociedades humanas. Por isso, o Estado é um organismo racial e não uma
organização econômica, diferença essa que, sobretudo hoje em dia, passa
despercebida aos chamados "estadistas". Daí pensarem estes poder construir o
Estado pela economia quando, na realidade, aquele nada mais é que o resultado da
atuação daquelas virtudes que residem no instinto de conservação da raça e da
espécie. Estas são, porém, sempre virtudes heróicas e nunca egoísmo mercantil,
pois que a conservação da existência de uma espécie pressupõe o sacrifício
voluntário de cada um. Nisso é que está justamente o sentido da palavra do
poeta: "e se não arriscardes a vida, nunca vencereis na vida", isto é, a
capacidade de sacrifício de cada um é indispensável para assegurar a conservação
da espécie. A condição mais essencial, porém, para a formação e conservação de
um Estado é a existência de um sentimento de solidariedade, baseado na
identidade de raça, bem como a boa vontade de por ele sacrificar-se. Isso, em
povos senhores de seu próprio solo, conduz à formação de virtudes heróicas, em
povos parasitas conduz à hipocrisia mentirosa e à crueldade dissimulada,
qualidades essas que devem ser pressupostas pela maneira diferente como vivem em
relação ao Estado. A formação de um Estado só será possível pela aplicação
dessas virtudes, pelo menos originariamente, sendo que na luta pela conservação
serão submetidos ao jugo e assim mais cedo ou mais tarde sucumbirão os povos que
apresentarem menos virtudes heróicas ou que não estejam na altura da astúcia do
parasita inimigo. Mas, também nesse caso, isso deve ser atribuído não tanto à
falta de inteligência como à falta de decisão e de coragem, que procura
esconder-se sob o manto de sentimento de humanidade.
O fato de a força interna de um Estado só em casos raros coincidir com o
chamado progresso econômico mostra claramente como está pouco ligado às virtudes
que servem para a formação e conservação do Estado essa prosperidade que, em
infinitos exemplos, parece até indicar a próxima decadência do Estado. Se,
porém, a formação da comunidade humana tivesse de ser atribuída em primeira
linha a forças econômicas, então o mais elevado desenvolvimento econômico
significaria a mais formidável força do Estado e não inversamente.
A crença na força da economia para formar e conservar um Estado, torna-se
incompreensível, sobretudo quando se trata de um país que, em tudo e por tudo,
mostra clara e incisivamente o contrário.- Justamente a Rússia demonstra, de
maneira evidentíssima, que não são as condições materiais, mas as virtudes
ideais, que tornam possível a formação de um Estado. Somente sob a sua guarda é
que a economia consegue florescer, até que, com a decadência das puras forças
geradoras do Estado, a economia também decai, processo esse que exatamente agora
podemos observar com desesperada tristeza. Os interesses materiais dos homens
sempre conseguem prosperar melhor enquanto permanecem à sombra de virtudes
heróicas.
Sempre que aumentava o poder político da Alemanha o progresso material se
fazia sentir, os negócios começavam a melhorar; ao passo que quando os negócios
monopolizavam a vida de nosso povo e enfraqueciam as virtudes de nosso espírito,
o Estado desfalecia, arrastando, na sua ruína, os próprios negócios.
E se perguntarmos a nós mesmos quais são as forças que fazem e conservam os
Estados, vemos que elas aparecem sob uma única denominação: habilidade e
abnegação para o sacrifício individual, por amor da comunidade. Que essas
virtudes não têm relação com a economia torna-se óbvio pela compreensão de que o
homem nunca se sacrifica por negócios, isto é, os homens não morrem por
negócios, mas por ideais. Nada mostrou melhor a superioridade psicológica dos
ingleses, na dedicação por um ideal nacional, do que as razões que eles
apresentaram para combater. Enquanto nós lutávamos pelo pão quotidiano, a
Inglaterra lutava pela "liberdade", não pela própria mas pela das pequenas
nações. Na Alemanha todos zombavam ou se irritavam com essa impudência, o que
prova quanto se tornara insensata e estúpida a ciência oficial na Alemanha de
antes da guerra. Não tínhamos a menor noção da natureza das forças que podem
levar os homens à morte por sua livre e espontânea vontade.
Enquanto o povo alemão continuava a pensar, em 1914, que lutava por ideais,
ele manteve-se firme; mas logo que se tornou evidente que lutava apenas pelo pão
quotidiano, preferiu renunciar ao brinquedo.
Os nosso inteligentes "estadistas", entretanto, ficaram atônitos com essa
mudança de sentimento. eles nunca compreenderam que o homem, desde o momento que
luta por um interesse econômico, evita o mais que pode a morte, pois que esta o
faria perder o gozo do prêmio de sua luta. A preocupação pela salvação de seu
filho faz que a mais fraca das mães se torne heroína e somente a luta pela
conservação da espécie e da lareira e também do Estado fez, em todos os tempos,
com que os homens se jogassem de encontro às lanças dos inimigos.
Pode-se considerar a seguinte frase como uma sentença eternamente
verdadeira:
Jamais um Estado foi fundado pela economia pacífica e sim, sempre, pelo
instinto de conservação da espécie, esteja este situado no campo da virtude
heróica ou da astúcia. O primeiro produz os Estados arianos, de trabalho e
cultura, o segundo, colônias judaicas parasitárias. Desde que um povo ou um
Estado procura dominar esses instintos, estão atraindo para si a escravidão, a
opressão.
A crença de antes da guerra de que era possível ter o mundo aberto para a
nação alemã ou de fato conquistá-lo pelo método pacífico de uma política de
comércio e colonização, era um sinal evidente de que haviam desaparecido as
genuínas virtudes que fazem e conservam os Estados. bem como a intuição, a força
de vontade e a determinação que fazem as grandes coisas. Como era de esperar, o
resultado imediato disso foi a grande guerra, com todas as suas conseqüências
Para aquele que não examinasse a questão, essa atitude de quase toda a
nação alemã era um enigma indecifrável, pois a Alemanha era justamente um
exemplo maravilhoso de um império que surgiu de uma política de força. A Prússia
- célula mater do Reich - proveio de grandes heroísmos e não de operações
financeiras ou negócios comerciais. E o próprio Reich era o mais maravilhoso
prêmio da direção da política de força e da coragem indômita dos seus soldados.
Como poderia, justamente o povo alemão, chegar a tal amortecimento de seus
instintos políticos? Não se tratava, é preciso que se note, de um fenômeno
isolado e sim de sintomas de decadência geral que, em proporções verdadeiramente
assustadoras, ora flamejavam como fogos-fátuos no seio do povo ora corroíam a
nação como tumores malignos. Parecia que uma torrente de veneno constante era
impelida por uma força misteriosa até os últimos vasos sangüíneos desse corpo de
heróis, com o fim de aniquilar o seu bom senso, o simples instinto de
conservação.
Examinando todas essas questões, condicionadas ao meu ponto de vista em
relação à política de alianças da Alemanha e à política econômica do Reich, nos
anos de 1912 e 1914, restou, como solução do enigma aquela força que já
anteriormente eu conhecera em Viena sob prisma inteiramente diverso: a doutrina
marxista, sua concepção do mundo e a influência de sua capacidade de
organização.
Pela segunda vez na minha vida analisei profundamente essa doutrina de
destruição - desta vez porém não mais guiado pelas impressões e efeitos do meu
ambiente diário, e sim dirigido pela observação dos acontecimentos gerais da
vida política. Aprofundei-me novamente na literatura teórica desse novo mundo,
procurei compreender os seus efeitos possíveis, comparei estes com os fenômenos
reais e com os acontecimentos no que diz respeito à sua atuação na vida
política, cultural e econômica.
Comecei a considerar, pela primeira vez, que tentativa deveria ser feita
para dominar aquela pestilência mundial.
Estudei os móveis, as lutas e os sucessos da legislação especial de
Bismarck. Gradualmente o meu estudo me forneceu princípios graníticos para as
minhas próprias convicções - tanto que desde então nunca pensei em mudar minhas
opiniões pessoais sobre o caso. Fiz também um profundo estudo das ligações do
marxismo com o judaísmo.
Se, outrora, em Viena, a Alemanha me tinha dado a impressão de um colosso
inabalável, começaram agora entretanto a surgir em mim considerações
apreensivas. No meu íntimo eu estava descontente com a política externa da
Alemanha, o que revelava ao pequeno circulo que meus conhecidos, bem como com a
maneira extremamente leviana, como me parecia, de tratar-se o problema mais
importante que havia na Alemanha daquela época - o marxismo. Realmente, eu não
podia compreender como se vacilava cegamente ante um perigo cujos efeitos tendo-se em vista a intenção do marxismo tinham de ser um dia terríveis. Já
naquela época eu chamava a atenção, no meio em que vivia, para a frase
tranqüilizadora de todos os poltrões de então: "A nós nada nos pode acontecer".
Esse pestilento modo de pensar já outrora destruíra um império gigantesco. Por
acaso só a Alemanha não estaria sujeita às mesmas leis de tidas as outras
comunidades humanas?
Nos anos de 1913 e 1914 manifestei a opinião, em vários círculos, que, em
parte, hoje estão filiados ao movimento nacional-socialista, de que o problema
futuro da nação alemã devia ser o aniquilamento do marxismo.
Na funesta política de alianças da Alemanha eu via apenas o fruto da ação
destruidora dessa doutrina. O pior era que esse veneno destruía quase
insensivelmente os fundamentos de uma sadia concepção do Estada e da economia,
sem que os por ele atingidos se apercebessem de que a sua maneira de agir, as
manifestações da sua vontade já eram uma conseqüência destruidora do marxismo.
A decadência do povo alemão tinha começado há muito tempo, sem que os
indivíduos, como acontece freqüentemente, pudessem claramente ver os
responsáveis pela mesma. Muitas vezes se tentou procurar um remédio para essa
enfermidade, mas confundiam-se os sintomas com a causa. Como ninguém conhecia ou
queria conhecer a verdadeira causa do mal-estar da nação, a luta contra o
marxismo não passou de um charlatanismo sem eficiência.
CAPÍTULO V - A GUERRA MUNDIAL
Quando ainda jovem, na fase em que tudo nos sorri, nada me fazia tão
triste, como o ter nascido justamente em uma época em que todas as honras e
glórias eram reservadas a negociantes ou a funcionários do governo.
As ondas dos acontecimentos históricos aparentemente tinham arrefecido e,
de tal maneira, que o futuro, na realidade parecia pertencer à "concorrência
pacifica dos povos", isto é, a uma calma e recíproca ladroagem, pela eliminação
dos métodos violentos da reação das vítimas. Os diferentes países começavam a se
assemelhar, cada vez mais, a empresas que se solapassem reciprocamente o chão
debaixo dos pés, na conquista sem trégua de fregueses e de encomendas,
procurando cada um sobrepujar as outras, por todos os meios ao seu alcance. Tudo
isso era posto em execução com uma espetaculosidade tão grande quanto ingênua.
Essa evolução parecia não só permanente, como destinada também a, algum dia (com
a aprovação geral), transformar o mundo inteiro em uma única e grande casa de
negócios, em cujas ante-salas seriam expostos, para a posteridade, os bustos dos
mais atilados especuladores e dos mais ingênuos funcionários da administração.
Os comerciantes poderiam ser, então representados pela Inglaterra; os
funcionários administrativos seriam os alemães; os judeus, porém, fariam o
sacrifício de ser os proprietários, pois que, como eles próprios confessam,
nunca lucram, sempre têm de "pagar" e, além disso, falam a maioria das línguas.
Ah! se me tivesse sido possível ter nascido cem anos antes! Mais ou menos
no tempo das guerras da Independência, quando o homem, mesmo sem negócios, ainda
valia alguma coisa!
Muitas vezes me ocorriam pensamentos desagradáveis, relativos à minha
peregrinação terrena, demasiado tardia na minha opinião, e a época "de calma e
ordem" que se me deparava eu considerava uma infâmia imerecida do destino. É que
já, nos meus mais tenros anos, eu não era "pacifista". Todas as tentativas de
educação nesse sentido tinham resultado inúteis.
A guerra dos "Boers"", então desencadeada, teve sobre mim o efeito de um
relâmpago. Diariamente, eu aguardava ansioso os jornais, devorava telegramas e
boletins, e considerava-me feliz por ser, ao menos de longe, testemunha dessa
luta de titãs.
A guerra russo-japonêsa já me encontrou sensivelmente mais amadurecido e,
também mais atento aos acontecimentos. Moviam-me, sobretudo, razões nacionais.
Desde os primeiros momentos, tomei partido, e, discutindo as opiniões correntes,
coloquei-me imediatamente do lado dos japoneses, pois via na derrota dos russos
uma diminuição do espírito eslavo na Áustria.
Muitos anos se passaram desde então, e aquilo que, outrora, quando ainda
rapaz, me parecia morbidez, compreendia agora como sendo a calma, antes da
tempestade. Já desde o tempo em que vivia em Viena pairava sobre os Balcãs
aquela atmosfera pesada, prenúncio de tempestade, e já lampejos mais claros
riscavam o céu, mas se perdiam ligeiros nas trevas sinistras. Em seguida, veio a
guerra dos Balcãs, e, com ela, o primeiro temporal varreu a Europa, já agora
nervosa. A época que se seguiu influiu como um pesadelo sobre os homens. O
ambiente estava tão carregado que, em virtude do mal-estar que a todos afligia,
a catástrofe que se aproximava chegou a ser desejada. Que os céus dessem livre
curso ao des. tino, já que não havia barreiras que o detivessem! Caiu então o
primeiro formidável raio sobre a terra; a tempestade desencadeou-se, e, aos
trovões do céu, juntavam-se as baterias da guerra mundial.
Quando a notícia do assassinato do grão-duque Francisco Ferdinando chegou a
Munique, eu estava justamente em casa e ouvia contar o desenrolar dos
acontecimentos de maneira muito vaga. Meu primeiro receio foi que as balas
assassinas tivessem partido de estudantes alemães, que, indignados com o
constante trabalho de eslavização feito pelo herdeiro presuntivo da coroa
austríaca, tivessem querido livrar o povo alemão desse inimigo interno. As
conseqüências eram fáceis de imaginar: uma nova onda de perseguições aos
alemães, que, agora, facilmente seriam "explicadas e justificadas", perante o
mundo. Quando, porém, logo depois, ouvi o nome dos autores presumíveis e
verifiquei que eram sérios, fiquei estupefato ante essa vingança do destino
impenetrável. O maior amigo da raça eslava caíra sob as balas de fanáticos
eslavos! Quem, nos últimos anos, tivesse tido oportunidade de observar
constantemente as relações entre a Áustria e a Sérvia, não poderia duvidar, nem
um segundo, de que a pedra começara a rolar e que nada poderia detê-la na sua
queda.
É uma injustiça fazer hoje em dia recriminações ao governo de Viena sobre a
forma e o conteúdo do seu "Ultimatum". Nenhuma outra potência do mundo teria
agido de maneira diferente, se se encontrasse em idênticas condições. A Áustria
tinha, na sua fronteira sudoeste, um inimigo de morte, o qual, cada vez mais,
desafiava a Monarquia e nisso persistiria até que chegasse o momento propicio à
destruição do Império. Receava-se, com razão, que isso se desse, o mais tardar,
com a morte do velho imperador. E, nesse momento, talvez a monarquia não
estivesse em condições de oferecer resistência séria.
O Estado inteiro encontrava-se, nos últimos anos, de tal maneira dependente
da vida de Francisco José, que a morte desse homem, tradicional personalização
do Império, eqüivaleria, no sentir da massa popular, à morte do próprio Império.
Era até considerado uma das mais inteligentes manobras, sobretudo da política
eslava, fazer crer que a Áustria devia a sua existência à habilidade
extraordinária e única desse monarca. Essa bajulação era tanto mais apreciada na
Corte, quando ela em nada correspondia, na realidade, ao mérito desse Imperador.
Não se podia ver o espinho escondido atrás dessa lisonja. Não se lobrigava ou
não se queria ver que, quanto mais a monarquia dependesse da extraordinária arte
de governar, como se costumava dizer, deste "mais sábio monarca de todos os
tempos", tanto mais catastrófica seria a situação, quando um dia o destino
batesse a essa porta, reclamando o seu tributo.
Seria possível imaginar a velha Áustria sem o seu velho Imperador?
Não se repetiria, imediatamente, a tragédia que outrora atingira Maria
Teresa? Não! Na verdade, é uma injustiça que se faz aos círculos governamentais
de Viena censurá-los por terem eles provocado uma guerra que talvez tivesse sido
possível evitar. Esse desfecho era, porém, inevitável. Quando muito poderia ter
sido protelado por um ou dois anos. Foi este o castigo das diplomacias, tanto da
alemã como da austríaca. Elas sempre tentaram protelar o ajuste de contas que
tinha de vir e agora eram forçadas a dar o golpe na hora menos favorável. A
verdade é que mais outra tentativa para manter a paz teria trazido a guerra numa
época ainda menos propícia. Quem não quisesse esta guerra deveria ter a coragem
de arcar com as conseqüências. Essas, porém, só poderiam consistir no sacrifício
da Áustria. Assim mesmo, a guerra teria vindo, talvez não mais como a luta de
todos contra nós mas sim tendo como finalidade o aniquilamento da monarquia dos
Habsburgos. De qualquer modo, uma decisão tinha de ser tomada: ou entrávamos na
guerra ou ficaríamos de fora, observando, a fim de vermos, de mãos cruzadas, o
destino seguir o seu curso.
Justamente aqueles que, hoje, mais vociferam contra o desencadear da
guerra, foram os que mais funestamente ajudaram a atiçá-la.
A social-democracia, há dezenas de anos, fomentava, da maneira mais torpe,
a guerra contra a Rússia, enquanto o Partido do Centro, baseado num ponto de
vista religioso, fazia a política alemã girar em torno do Estado austríaco.
Tinha-se que arcar com as conseqüências desse erro. O que veio tinha de vir e,
em hipótese nenhuma, poderia ser evitado. A culpa do governo alemão neste caso
foi de perder sempre as boas oportunidades de intervenção, devido à preocupação
constante de manter a paz. Assim agindo, o governo se emaranhava em uma
coligação destinada à manutenção da paz universal, para tornar-se, por fim, a
vítima de uma coligação do mundo inteiro, que antepunha à pressão pela
manutenção da paz a determinação de fazer a guerra.
Caso o governo de Viena tivesse dado uma forma mais suave ao seu ultimato,
em nada teria mudado a situação. Quando muito teria sido varrido do poder pela
indignação popular. Aos olhos da grande massa do povo, o tom do ultimato ainda
era brando demais e, de modo nenhum, lhe parecia brutal. Nele não havia
excessos. Quem hoje procura negar isso ou é um desmemoriado ou um mentiroso
consciente. Graças a Deus, a luta do ano de 1914 não foi, na realidade, imposta
e sim desejada pelo povo inteiro. Todos queriam acabar de vez com uma
insegurança generalizada. Só assim pode-se também compreender que mais de dois
milhões de alemães, homens e rapazes, se pusessem voluntariamente sob a bandeira
decididos a protegê-la com a última gota do seu sangue.
Aquelas horas foram para mim uma libertação das desagradáveis recordações
da juventude, Até hoje não me envergonho de confessar que, dominado por
delirante entusiasmo, caí de joelhos e, de todo coração, agradeci aos céus
ter-me proporcionado a felicidade de poder viver nessa época.
Tinha-se desencadeado uma luta de libertação, a mais formidável que o mundo
jamais vira, pois logo que a fatalidade tinha iniciado o seu curso, as grandes
massas perceberam que, desta vez, não se tratava do destino nem da Sérvia nem da
Áustria, e sim da vida ou morte da nação alemã.
Pela primeira vez, depois de muitos anos, o povo via claro o seu próprio
futuro. Assim é que, logo no começo da luta titânica, ainda sob a ação de um
transbordante entusiasmo, brotaram, no espírito do povo, os sentimentos à altura
da situação, pois somente esta idéia de salvação geral conseguiu que a exaltação
nacional significasse alguma coisa mais do que simples fogo de palha. A certeza
da gravidade da situação era, porém, por demais necessária. Em geral, ninguém
podia, naquela época, ter a menor idéia da duração da luta que, então, se
iniciava. Sonhava-se poder estar de volta, à casa, no próximo inverno, a fim de
retomar o trabalho pacífico. Aquilo que o homem deseja vale como objeto de
esperança e crença. A grande maioria da nação estava cansada do eterno estado de
insegurança. Só assim pode-se compreender que não se pensasse numa solução
pacífica do conflito austro-sérvio, mas em uma solução definitiva para as
complicações existentes. Ao número desses milhões que assim pensavam pertencia
eu.
Mal se tinha divulgado em Munique a notícia do atentado e já me passavam
pela mente duas idéias, a saber: a guerra seria absolutamente inevitável e o
império dos Habsburgos seria forçado a ficar fiel às suas alianças. O que eu
mais havia temido sempre era a possibilidade de a Alemanha entrar em conflito talvez mesmo em conseqüência dessa aliança - sem que a Áustria tivesse sido a
causa direta, e que, dessa maneira, o governo austríaco não se decidisse, por
motivo de política interna, a se colocar ao lado do seu aliado. A maioria eslava
do Império teria imediatamente iniciado a sua resistência a uma decisão
espontânea nesse sentido, preferindo ver o Império destruído nos seus
fundamentos a conceder o auxílio solicitado. Entretanto, esse perigo estava
agora afastado. O velho Império tinha de lutar, por bem ou por mal.
Minha atitude em face do conflito era bem clara e definida. Para mim não se
tratava de uma guerra para que a Áustria obtivesse satisfação por parte da
Sérvia. Não. A Alemanha é que lutava pela sua vida, e com ela o povo pela sua
existência, pela sua liberdade, por seu futuro. A política de Bismarck ia ser
seguida. Aquilo que os antepassados haviam conquistado com o sacrifício do
sangue dos seus heróis nas batalhas de Weissenburg, até Sedan e Paris, tinha de
ser reconquistado pela jovem Alemanha. Caso fosse essa luta vitoriosa, o nosso
povo entraria de novo no rol das grandes potências, com o seu poder exterior
aumentado. E assim o Império alemão poderia se tornar uma eficiente garantia da
paz, sem ter de diminuir o pão de cada dia de seus filhos, em nome dessa mesma
paz.
Quantas vezes, rapazinho ainda, tive o desejo sincero de poder provar por
fatos que para mim o entusiasmo nacional não era uma pura fantasia. A mim me
parecia muitas vezes quase um crime aplaudir o que quer que fosse sem se estar
convencido da razão de ser de seus gestos. Quem tinha o direito de assim agir
sem ter passado por aqueles momentos difíceis sem que a mão inexorável do
destino, dando aos acontecimentos um tom mais sério, exige a sinceridade das
atitudes humanas? Meu coração, como o de milhões de outros, transbordava de
orgulho e felicidade por poder de vez libertar-me dessa situação de inércia.
Tantas vezes tinha eu cantado o "Deutschland, Deutschland über alles", com
todas as forças de meus pulmões e gritado "Heil"... que quase me parecia uma
graça especial poder comparecer agora, perante a justiça divina, para afirmar a
sinceridade dessa minha atitude. Desde o primeiro instante estava firmemente
decidido, em caso de guerra - esta me parecia inevitável - a abandonar os livros
imediatamente. Ao mesmo tempo sabia muito bem que o meu lugar seria aquele para
onde me chamava a voz da consciência. Por motivos políticos, tinha
preliminarmente abando. nado a Áustria. Nada mais natural, pois, que agora que
se iniciava a luta, coerente com as minhas opiniões políticas, eu assim
procedesse. Não era meu desejo lutar pelo império dos Habsburgos. Estava pronto,
porém, a morrer, em qualquer instante, pelo meu povo ou pelo governo que o
representasse na realidade.
A 3 de agosto apresentei um requerimento a S. M. o rei Luís III, no qual eu
solicitava a permissão para assentar praça num regimento bávaro. A secretaria do
Governo, naquela ocasião, como era natural, estava assoberbada de serviço. Por
isso tanto mais alegre fiquei ao tomar conhecimento, já no dia seguinte, do
despacho favorável à minha solicitação. Ao abrir, com mãos trêmulas, o documento
no qual li o deferimento do meu pedido, com a recomendação de me apresentar a um
regimento bávaro, meu contentamento e minha gratidão não tiveram limites. Poucos
dias depois, eu envergava a farda, que só quase seis anos mais tarde deveria
despir.
Começou então para mim, como provavelmente para todos os outros alemães, a
mais inesquecível e a maior época da minha vida. Comparado com a luta titânica
que se travava, todo o passado desaparecia inteiramente. Com orgulho e saudade,
recordo-me, justamente nesses dias em que se passa o 10o. aniversário daqueles
formidáveis acontecimentos, das primeiras semanas daquela luta heróica de nosso
povo, na qual graças à benevolência do destino, me foi dado tomar parte.
Como se fosse ontem, passam diante de meus olhos todos os acontecimentos.
Vejo-me fardado, no círculo dos meus queridos camaradas. Lembro-me da primeira
vez que saímos para exercícios militares, etc., até que enfim chegou o dia da
partida para o front.
Uma única preocupação me afligia naquele momento, a mim como a muitos
outros. Era recear chegarmos tarde demais no front. Essa idéia não me deixava
tranqüilo. A cada manifestação de júbilo por um novo feito heróico, sentia uma
profunda tristeza, pois toda a vez que se festejava uma nova vitória, parecia
para mim aumentar o perigo de chegarmos demasiadamente tarde. Finalmente, chegou
o dia de deixarmos Munique, a fim de nos apresentarmos ao cumprimento do dever.
Tive então a oportunidade de ver, pela primeira vez, o Reno, na nossa viagem
para o ocidente, feita ao longo das suas águas calmas. A nós estava confiada a
defesa, contra a cobiça dos inimigos, do mais germânico de todos os rios. Quando
os primeiros raios de sol da manhã, atravessando um leve véu de neblina,
refletiam-se no monumento de Niederwald, irrompeu, do longuíssimo trem de
transporte, a velha canção alemã "Die Wacht am Rhein". Senti-me transbordante de
entusiasmo.
Em seguida, veio uma noite úmida e fria, em Flandres, durante a qual
marchamos silenciosos e, quando o sol começou a despontar através das nuvens,
rompeu de repente sobre as nossas cabeças uma saudação de aço, e, entre as
nossas fileiras, sibilavam balas que caíam levantando a terra molhada. Antes de
desaparecer a pequena nuvem, duzentas bocas gritavam ao mesmo tempo "urra" a
esses primeiros mensageiros da morte. Em seguida, começou o pipocar da metralha,
a gritaria, o estrondo da artilharia, e, febricitante de entusiasmo, cada um
marchava para a frente, cada vez mais depressa, até que, sobre os campos de
beterraba, e, através das charnecas, começou a luta corpo a corpo. De longe,
porém, chegavam aos nosso ouvidos os sons de uma canção, que, cada vez mais se
aproximava, passando, de companhia a companhia, e, enquanto a morte dizimava as
nossas fileiras, a canção chegava a nós e nós a passávamos adiante:
"Deutschland, Deutschland, über alles, über alles in der Welt!"
Passados quatro dias, voltamos. Até a maneira de andar dos soldados se
tinha modificado. Rapazes de dezessete anos pareciam homens feitos. Os
voluntários do regimento de List talvez não tivessem aprendido bem a lutar, o
que é certo é que sabiam morrer como velhos soldados
Esse foi o começo.
Assim continuou a luta, ano a ano. Ao romantismo das batalhas tinha
sucedido o horror. O entusiasmo se arrefecera aos poucos e o júbilo
transbordante foi abafado pelo pavor da morte. Chegou a época em que cada um
tinha de lutar entre o instinto de conservação e o imperativo do dever. Também
eu não escapei a essa luta. Cada vez que a morte rondava algo indeterminado
procurava se revoltar, baseado na razão, e, no entre. tanto, isso nada mais era
do que a covardia que, assim disfarçada, procurava envolver cada um. Começou uma
luta pró e contra, e o último resto de consciência decidia definitivamente.
Entretanto quanto mais claro se ouviam essas vozes que recomendavam cautela,
quanto mais elas procuravam atrair e falar alto, tanto mais violenta era a
resistência, até que, enfim, após longa luta interior, a consciência do dever
vencia. Já no inverno de 1915 a 1916 eu tinha decidido essa luta. A vontade
tinha finalmente conseguido se impor. Nos primeiros dias, eu tinha avançado com
júbilo e alegria nos lábios; agora me encontrava calmo e decidido. Assim devia
permanecer até o fim. Só agora o destino podia caminhar para as últimas provas,
sem que os meus nervos se rompessem ou a minha razão falhasse.
O jovem voluntário tinha se transformado num soldado experimentado.
Essa transformação tinha se operado no exército inteiro. As lutas
constantes o tinham envelhecido e ao mesmo tempo, enrijado. Os que não puderam
resistir à tempestade foram por ela vencidos. Somente agora é que se poderia
julgar esse exército. Só agora depois de dois a três anos em que uma batalha se
seguia a outra, em que ele combatera contra inimigos superiores em número e em
armas, sofrendo fome e necessidades, só agora é que se podia avaliar o valor
desse exército, único no mundo.
Durante milhares de anos ninguém poderá falarem heroísmo sem se lembrar do
exército alemão na guerra mundial. Só então, do véu do passado, a fronte de aço
do capacete cinzento, firme e inabalável, aparecerá como monumento imortal.
Enquanto houver alemães na face da terra, eles terão de se lembrar que aqueles
homens eram dignos filhos da Pátria.
Eu era soldado naquela ocasião e não queria me meter em política. A época
na verdade não era para isso. Até hoje sou da opinião que o último cocheiro
prestou ao país serviços maiores do que o primeiro, digamos assim,
"parlamentar". Nunca odiei tanto estes palradores como no tempo em que cada
indivíduo decidido que tinha alguma coisa a dizer, ou berrava-a na cara de seus
inimigos ou então calava-se oportunamente e cumpria silenciosamente o seu dever,
fosse onde fosse. De fato, naquela época, eu odiava esses "políticos", e se
fosse por mim, teria mandado formar imediatamente um batalhão parlamentar de
sapadores. Só assim eles poderiam, inteiramente à vontade, expandir entre si a
sua verborragia, sem incomodar ou prejudicar o resto da humanidade honesta e
decente.
Naquela época eu não queria saber de política; entretanto não tinha outro
remédio senão tomar partido em certos acontecimentos que diziam respeito à nação
inteira, sobretudo a nós soldados.
Havia duas coisas que então me aborreciam intimamente e eram por mim
consideradas prejudiciais à causa da nação.
Logo após as primeiras notícias de vitórias, uma certa imprensa começou a
deixar cair sobre o entusiasmo geral algumas gotas de entorpecente, e isso
devagar e desapercebidamente para muitos. Agia, essa mesma imprensa, sob a
máscara de boa vontade, de boas intenções e até mesmo de zelo pela sorte do
soldado. Receava-se um excesso no festejar das vitórias. Além disso, havia o
pensamento de que essa forma de celebrar os triunfos militares não era digna de
uma grande nação. Achava-se que a bravura e o heroísmo do soldado alemão
deveriam ser naturais, sem espetaculosidades. Os alemães não se deviam deixar
empolgar por manifestações de contentamento irrefletidas, que iriam repercutir
no estrangeiro, o qual apreciaria a forma calma e digna de alegria mais do que
uma exaltação desmedida, etc. Nós alemães, acrescentavam, não deveríamos
esquecer que a guerra não estava no nosso programa, e, por isso, não deveríamos
nos envergonhar de confessar abertamente que, em qualquer época, contribuiríamos
com o nosso esforço para a confraternização da humanidade. Não era, pois,
conveniente empanar a pureza dos leitos do exército com uma gritaria demasiado
espetaculosa. O resto do mundo compreenderia muito mal essa maneira de agir.
Nada é mais admirado do que a modéstia com que um verdadeiro herói esquece,
silenciosa e calmamente, os seus maiores feitos.
Em vez de pegar esses camaradas pelas orelhas, amarrá-los a um poste e
puxá-los por uma corda, a fim de que a nação em festas não mais pudesse ofender
a sensibilidade estética de tais escrevinhadores, começou-se a proceder na
realidade contra a maneira "inadequada" de celebrar as vitórias.
Não se tinha a mais pálida idéia de que o entusiasmo, uma vez abafado, não
mais pode ser provocado quando se deseja. Ele é uma embriaguez e deve ser
mantido nesse estado. Como, porém, se poderia manter uma luta sem essa força do
entusiasmo, principalmente tratando-se de uma luta que iria pôr à prova, de uma
maneira inédita, as qualidades morais da nação?
Eu conhecia o bastante sobre a psicologia das grandes massas para saber que
com sentimentalismo estético não se poderia manter aceso esse ardor cívico. No
meu modo de ver, era rematada loucura não atiçar o fogo dessa paixão. O que eu
ainda menos compreendia é que se procurasse destruir o entusiasmo existente. O
que me irritava também era a atitude que se tomava em relação ao marxismo. Para
mim essa atitude era uma prova de que não se tinha a mínima idéia do que fosse
essa calamidade. Acreditava-se seriamente ter reduzido à inação o marxismo, com
a simples declaração de que agora não existiam mais partidos.
Não se percebia absolutamente que, no caso, não se tratava de um partido e
sim de uma doutrina que tende a destruir a humanidade inteira. Compreende-se
isso, considerando-se que, nas Universidades sujeitas a influências semíticas,
nada se dizia a respeito, e que muitos, sobretudo nossos altos funcionários,
acham, por uma questão de tola pretensão, inútil o aprender algo que não figure
entre as matérias lecionadas nas escolas superiores. As transformações sociais
mais radicais passam despercebidas a essas cabeças ocas, razão pela qual as
instituições do governo são em muito inferiores às instituições particulares.
Àquelas calha bem o provérbio: "O que o camponês não conhece, não come". Algumas
poucas exceções só servem para confirmar a regra.
Foi tolice rematada identificar o trabalhador alemão com o marxismo, nos
dias de agosto de 1914. O trabalhador alemão tinha-se livrado, justamente
naquela época, desse veneno. Se assim não fosse, ele nunca teria se apresentado
para a guerra. Pensou-se estupidamente que o marxismo tinha-se tornado
"nacional". Essa suposição só serve para mostrar que, nesses longos anos, nenhum
dos dirigentes do Estado se tinha dado ao trabalho de estudar a essência dessa
doutrina, pois, se assim fosse, dificilmente se teria propalado semelhante
tolice.
O marxismo, cuja finalidade última é e será sempre a destruição de todas as
nacionalidades não judaicas, teve de verificar com espanto que, nos dias de
julho de 1914, os trabalhadores alemães, já por eles conquistados, despertaram,
e cada dia com mais ardor se apresentavam ao serviço da pátria. Em poucos dias,
estava destruída a mistificação desses embusteiros infames dos povos. Solitária
e abandonada, encontrava-se essa corja de agitadores judeus, como se não
restasse mais um traço das loucuras inculcadas, durante mais de 60 anos, ao
operariado alemão. Foi um mau momento para esses mistificadores. Logo que tais
agitadores perceberam o grande perigo que os ameaçava, em conseqüência de suas
constantes mentiras, disfarçaram-se e trataram de fingir que acompanhavam o
entusiasmo nacional.
Tinha chegado agora o momento oportuno de proceder contra a traiçoeira
camarilha de envenenadores do povo. Dever-se-ia ter agido sumariamente, sem
consideração para com as lamentações que provavelmente se desencadeariam. Em
agosto de 1914 tinham desaparecido, como por encanto, as idéias ocas de
solidariedade internacional e, no lugar delas, já poucas semanas depois,
choviam, sobre os capacetes das colunas em marcha, as bênçãos fraternais dos
shrapnell americanos. Teria sido dever de um governo cuidadoso exterminar sem
piedade os destruidores do nacionalismo, uma vez que os operários alemães se
tinham integrado de novo na Pátria.
Em um tempo em que os melhores elementos da nação morriam no front, os que
ficaram em casa, entregues aos seus trabalhos, deviam ter livrado a nação dessa
piolharia comunista.
Ao invés disso, sua Majestade o Kaiser estendia a mão a esses conhecidos
criminosos, dando, assim, oportunidade a esses pérfidos assassinos da nação de
voltarem a si e de recuperarem o tempo perdido.
A víbora podia, pois, recomeçar o seu trabalho, com mais cautela do que
antes, porém de maneira mais perigosa. Enquanto os honestos sonhavam com a paz,
os criminosos traidores organizavam a revolução.
Senti-me intimamente desgostoso com essas meias medidas. O que eu nunca
poderia imaginar, porém, era que o fim fosse tão horroroso.
Que se deveria fazer? Pôr os dirigentes do movimento nos cárceres,
processá-los e deles livrar a nação. Ter-se ia de empregar com a máxima energia
todos os meios de ação militar, a fim de destruir essa praga. Os partidos teriam
de ser dissolvidos, o Reichstag teria de ser chamado à. razão pela força
convincente das baionetas. O melhor até teria sido dissolvê-lo. Assim como a
República, hoje, tem meios de dissolver os partidos, naquela época, com mais
razão, devia-se ter apelado para tal recurso, pois se tratava de uma questão de
vida ou de morte de toda uma nação.
É verdade que nesses momentos surge sempre a pergunta: Será. possível
destruir idéias a ferro e a fogo? Será possível combater concepções universais
empregando a força bruta?
Já naquele tempo, por mais de uma vez, me fiz a mim mesmo essas perguntas.
Meditando sobre casos análogos, principalmente sobre aqueles casos da história
universal que se baseiam em fundamentos religiosos, chega-se à seguinte
conclusão básica:
As idéias, assim como os movimentos que têm uma determinada base
espiritual, seja ela certa ou errada, só podem, depois de ter atingido um certo
período de sua evolução, ser destruídos por processos técnicos de violência,
quando essas armas são elas mesmas portadoras de um novo pensamento flamejante,
de uma idéia, de um princípio universal.
O emprego exclusivo da violência, sem o estímulo de um ideal
preestabelecido, não pode jamais conduzir à destruição de uma idéia ou evitar a
sua propagação, exceto se essa violência tomar a forma de exterminação
irredutível do último dos adeptos do novo credo e da sua própria tradição. Isto
significa, entretanto, na maioria dos casos, a segregação de um tal organismo
político do círculo das atividades, às vezes por tempo indefinido e até para
sempre. A experiência tem mostrado que um tal sacrifício de sangue atinge em
cheio a parte mais valiosa da nacionalidade, pois toda perseguição que tem lugar
sem prévia preparação espiritual, revela-se como moralmente injustificada,
provocando protestos veementes dos mais eficientes elementos do povo, protesto
esse que redunda geralmente em adesão ao movimento perseguido. Muitos assim
procedem por um sentimento de repulsa a todo combate a idéias, pela força bruta.
O número dos adeptos cresce então proporcionalmente à intensidade da
perseguição. Entretanto, o extermínio sem tréguas da nova doutrina só poderá ser
possível à custa de grande e crescente dizimação dos que a aceitam, dizimação
que, em última análise, conduzirá o povo ou o governo ao depauperamento. Tal
processo será, desde o princípio, inútil, quando a doutrina a ser combatida já
tenha ultrapassado certo círculo restrito.
É por isso que aqui, como em todo processo de crescimento, o período da
infância é o que está mais exposto à destruição, enquanto que, com o correr dos
anos, a força de resistência aumenta, para só ceder lugar à nova infância com a
aproximação da fraqueza senil, se bem que sob outra forma e por outros motivos.
De fato, quase todas as tentativas de, por meio da força, e sem base
espiritual, destruir uma doutrina, conduzem ao insucesso e não raras vezes ao
contrário do desejado, e isso pelos seguintes motivos:
A primeira de todas as condições para uma luta pela força bruta é a
persistência. Isto quer dizer que só há possibilidade de êxito no combate a uma
doutrina quando se empregam métodos de repressão uniformes e sem solução de
continuidade. Fazendo-se, entretanto, indecisamente, alternar a força com a
tolerância, acontecerá que, não só a doutrina a ser destruída conseguirá
fortificar-se mas também ela ficará em situação de tirar novas vantagens de cada
perseguição, pois que, passada a primeira onda de compressão, a indignação pelo
sofrimento lhe trará novos adeptos, enquanto que os já existentes se conservarão
cada vez mais fiéis. Mesmo aqueles que tinham abandonado as fileiras, passado o
perigo, voltarão a elas. A condição essencial do sucesso é a aplicação constante
da força. A continuidade é, porém, sempre o resultado de uma convicção
espiritual determinada. Toda força que não provém de uma firme base espiritual
torna-se indecisa e vaga. A ela faltará a estabilidade que só poderá repousar em
certo fanatismo. Emana da energia e decisão bruta de um indivíduo. Está, porém,
sujeita a modificações de acordo com as personalidades que a aceitam, isto é,
com a força e o modo de ser de cada um.
Além disso, há a considerar outra coisa: toda concepção universal, seja ela
religiosa ou política - às vezes é difícil estabelecer a linha divisória - luta
menos pela destruição negativa do mundo de idéias contrário do que pela vitória
positiva de suas próprias idéias. A luta consiste assim, menos na defensiva, do
que na ofensiva. Entretanto, ela ainda leva uma vantagem, pois tem o seu
objetivo determinado, isto é a vitória da própria idéia, enquanto que,
inversamente, é difícil determinar quando está atingido o fim negativo da
destruição da doutrina inimiga. Aqui também a decisão pertence ao ataque e não à
defesa. A luta contra uma força espiritual por meios violentos só é uma defesa
enquanto as armas não são elas mesmas portadoras e disseminadoras de uma nova
doutrina.
Resumindo, pode-se estabelecer o seguinte: Toda tentativa de combater pelas
armas um princípio universal tem de ser mal sucedida, enquanto a luta não tomar
rigorosamente forma de ofensiva por novas idéias. É somente na luta de dois
princípios universais que a força bruta, empregada, persistente e decididamente,
pode provocar a decisão favorável ao lado por ela sustentado. Por isso é que até
então tinha fracassado a luta contra o marxismo.
Este foi o motivo pelo qual a legislação socialista de Bismarck acabou
falhando e tinha de falhar. Faltou a plataforma de uma nova doutrina universal
por cuja vitória se deveria ter lutado. De fato, estimular uma luta de vida e
morte com expressões vazias, tais como "autoridade do Estado", "paz e ordem", é
algo que só poderia mesmo ocorrer a altos funcionários de secretaria,
sabidamente ocos de idéias. Faltando, como faltou, nessa luta, uma verdadeira
base espiritual, teve Bismarck de contar, a fim de poder introduzir a sua
legislação socialista, com uma instituição que nada mais era do que um aborto do
comunismo.
Confiando o destino de sua guerra ao marxismo à complacência da democracia
burguesa, o chanceler de ferro queria fazer da ovelha, lobo.
Entretanto, tudo isso era a conseqüência forçada da falta de um princípio
geral básico e de grande poder conquistador. que fosse oposto ao marxismo. O
resultado final da luta de Bismarck redundou, pois, numa grande desilusão.
Eram, porém, as condições, durante a guerra, ou mesmo no seu começo,
diferentes? Infelizmente, não.
Quanto mais eu me preocupava com a idéia de uma modificação de atitude do
governo com relação à social-democracia - partido esse que no momento,
representava o marxismo - tanto mais eu reconhecia a falta de um sucedâneo para
essa doutrina.
Que se ia oferecer às massas, na hipótese da queda da social-democracia?
Não havia um movimento ao qual fosse lícito esperar que pudesse atrair as massas
de operários, nesse momento, mais ou menos, sem guias. Seria rematada
ingenuidade imaginar que o fanático internacional, que já havia abandonado o
partido de classe, se decidisse a entrar num partido burguês, portanto em uma
nova organização de classe. Isso é inegável, embora não seja do agrado das
várias organizações que parece acharem muito natural uma cisão de classes, até o
momento em que essa cisão não comece a lhes ser desfavorável sob o ponto de
vista político. A contestação desse tato só serve para provar a insolência e a
estupidez dos mentirosos.
De um modo geral, é um erro julgar que a grande massa seja mais tola do que
parece. Em política não é raro o sentimento decidir mais acertadamente do que a
razão.
A alegação de que a massa erra, deixando-se levar pelo sentimento,
alegação que se procura evidenciar com a sua ingênua atitude na política
internacional - pode-se rebater vigorosamente observando-se o fato de não ser
menos insensata a democracia pacifista, cujos lideres, no entanto, provêm
exclusivamente da burguesia.
Enquanto milhões de cidadãos rendem culto, todas as manhãs, à sua imprensa
democrática, ficará muito mal a estes senhores rirem das tolices do companheiro
que, no final das contas, engole as mesmas asneiras, se bem que com outra
encenação. Nos dois casos, o fabricante desses raciocínios é sempre judeu.
Deve-se, portanto, evitar a negação de fatos que existem na realidade. O
fato de que há uma questão de classe (não se trata exclusivamente de problemas
ideais, conforme se costuma fazer crer, sobretudo em épocas de eleições) não
pode ser contestado. O sentimento de classe de grande parte de nosso povo, bem
como o menosprezo do trabalhador manual, é um fenômeno que não provém da
fantasia de um lunático.
Não obstante, ele mostra a pequena capacidade de raciocínio dos nossos
chamados intelectuais, quando, justamente nesses círculos, não se compreende que
um estado de coisas, o qual não pode evitar o desenvolvimento de uma calamidade
como o marxismo, agora não está mais em condições de reconquistar o perdido.
Os partidos "burgueses", como eles mesmos se denominam, não poderão jamais
contar com o apoio das massas proletárias, pois aqui temos dois mundos
antagônicos, em parte naturalmente, em parte artificialmente cindidos, e cuja
atitude recíproca só pode ser a de luta. O vencedor neste caso só poderia ser o
mais jovem, e esse seria o marxismo.
De fato, em 1914, seria possível imaginar uma luta contra a
social-democracia. Agora, predizer o tempo da duração deste embate seria
duvidoso, uma vez que faltava um sucedâneo prático para ela.
Aqui havia uma grande lacuna.
Eu possuía essa opinião já muito antes da Guerra e, por isso, nunca pude me
decidir a me aproximar de um dos partidos existentes. No correr dos
acontecimentos da guerra mundial tive essa minha opinião reforçada pela
impossibilidade visível de começar a luta sem tréguas contra a
social-democracia, já que faltava um movimento que fosse mais do que um partido
"parlamentar>. Muitas vezes me externei a esse respeito com os meus camaradas
mais íntimos. Apareceram-me então as primeiras idéias de, mais tarde, tomar
parte na política.
Justamente foi esse o motivo que fez com que eu muitas vezes comunicasse ao
pequeno círculo de meus amigos a minha intenção de, passada a Guerra, combinar o
meu trabalho profissional com a atividade política, como orador.
Creio que isso estava resolvido, no meu espirito, com toda a seriedade.
CAPÍTULO VI - A PROPAGANDA DA GUERRA
Observador cuidadoso dos acontecimentos políticos, sempre me interessou
vivamente a maneira por que se fazia a propaganda da guerra. Eu via nessa
propaganda um instrumento manejado, com grande habilidade, justamente pelas
organizações sociais comunistas. Compreendi, desde logo, que a aplicação
adequada de uma propaganda é uma verdadeira arte, quase que inteiramente
desconhecida dos partidos burgueses. somente o movimento cristão social,
sobretudo na época de Lueger, aplicou este instrumento com grande eficiência e a
isso se devem muitos dos seus triunfos.
A que resultados formidáveis uma propaganda adequada pode conduzir, a
guerra já nos tinha mostrado. Infelizmente tudo tinha de ser aprendido com o
inimigo, pois a atividade, do nosso lado, nesse sentido, foi mais do que
modesta. Justamente o insucesso total do plano de esclarecimento do povo do lado
alemão, foi para mim um motivo para me ocupar mais particularmente da questão de
propaganda.
Não nos faltava oportunidade para pensar sobre essa questão. Infelizmente
as lições práticas eram fornecidas pelo inimigo e custaram-nos caro. O
adversário aproveitou, com inaudita habilidade e cálculo verdadeiramente genial,
aquilo de que nos havíamos descuidado. Aprendi imensamente nessa propaganda de
guerra feita pelo inimigo. Aqueles que da mesma se deviam ter servido, como
lição eficiente, deixaram-na passar despercebida; julgavam-se espertos demais
para aprender dos outros. Por outro lado, não havia vontade honesta para tal.
Haveria entre nós uma propaganda?
Infelizmente, só posso responder pela negativa. Tudo o que, na realidade,
foi tentado nesse sentido era tão inadequado e errôneo, desde o princípio, que
em nada adiantava. Às vezes era até prejudicial. Examinando atentamente o
resultado da propaganda de guerra alemã, chegava-se à conclusão de que ela era
insuficiente na forma e psicologicamente errada, na essência.
Começava-se por não se saber claramente se a propaganda era um meio ou um
fim.
Ela é um meio e, como tal, deve ser julgada do ponto de vista da sua
finalidade. A forma a tomar deve consentir no meio mais prático de chegar ao fim
que se colima. É também claro que a importância do objetivo que se tem em vista
pode se apresentar sob vários aspectos, tendo-se em vista o interesses social, e
que, portanto, a propaganda pode variar no seu valor intrínseco. A finalidade
pela qual se lutava durante a guerra era a mais elevada e formidável que se pode
imaginar. Tratava-se da liberdade e da independência de nosso povo, da garantia
da vida, do futuro e, em uma palavra, da honra da nação. Estávamos em face de
uma questão que, não obstante opiniões divergentes de muitos, ainda existe ou
melhor deve existir, pois os povos sem honra costumam perder a liberdade e a
independência, mais tarde ou mais cedo. Isso, por sua vez, corresponde a uma
justiça mais elevada, pois gerações de vagabundos sem honra não merecem a
liberdade. Aquele, porém, que quiser ser escravo covarde não deve ter o
sentimento de honra, pois, do contrário, esta cairia muito rapidamente no
desprezo geral.
O povo alemão lutava por sua existência e o fim da propaganda da guerra
devia ser o de apoiar essa luta. Levá-la à vitória, eis o seu objetivo.
Quando, porém, os povos lutam neste planeta por sua existência, quando se
trata de uma questão de ser ou não ser, caem por terra todas as considerações de
humanidade ou de estética, pois todas essas idéias não estão no ambiente, mas
originam-se na fantasia dos homens e a ela estão presas. Com a sua partida desse
mundo desaparecem também essas idéias, pois a natureza não as conhece. Mesmo
entre os homens, elas só são próprias a alguns povos ou melhor a certas raças,
na medida que elas provém do sentimento desses mesmos povos ou raças. O
sentimento humanitário e estético desapareceria, até mesmo de um mundo habitado,
uma vez que este perdesse as raças criadoras e portadoras dessa idéia.
Todas essas idéias têm uma significação secundária na luta de um povo pela
sua existência, chegam mesmo a desaparecer, uma vez que possam contrariar o seu
instinto de conservação.
Quanto à questão do sentimento de humanidade já Moltke afirmava que ele
residia no processo sumário da guerra, e que, portanto, a maneira mais incisiva
de combate, é a que conduz a esse fim.
Aqueles que procuram argumentar nesses assuntos com palavras, tais como
estética, etc., pode-se responder da seguinte maneira: As questões vitais da
importância da luta pela vida de um povo anulam todas as considerações de ordem
estética. A maior fealdade na vida humana é e será. sempre o jugo da escravidão.
Será possível que esses decadentes considerem "estética" a sorte atual do povo
alemão? É verdade que, com os judeus, que são os inventores modernos dessa
cultura perfumada, não se deve discutir sobre esses assuntos. Toda a sua
existência é um protesto vivo contra a estética da imagem do Criador.
Se, na luta, esses pontos de humanidade e beleza são excluídos, eles também
não poderão servir de orientação para a propaganda.
A propaganda durante a guerra era um meio para um determinado fim, e esse
fim era a luta pela existência do povo alemão. Portanto, a propaganda só poderia
ser encarada sob o ponto de vista de princípios conducentes àquele objetivo.
As armas mais terríveis seriam humanas, desde que conduzissem a vitória
mais rapidamente. Belos seriam somente os métodos que ajudassem a assegurar a
dignidade à Nação: a dignidade da liberdade. Essa era a única atitude possível
na questão da propaganda de guerra, numa luta de vida e de morte.
Fossem esses pontos conhecidos daqueles que os deviam conhecer, nunca se
teriam verificado vacilações quanto à forma e aplicação dessa arma
verdadeiramente terrível na mão de um conhecedor.
A segunda questão de importância decisiva era a seguinte: a quem se deve
dirigir a propaganda, aos intelectuais ou à massa menos culta? A. propaganda
sempre terá de ser dirigida à massa!
Para os intelectuais, ou para aqueles que, hoje, infelizmente assim se
consideram, não se deve tratar de propaganda e sim de instrução científica. A
propaganda, porém, por si mesma, é tão pouco ciência quanto um cartaz é arte,
considerado pelo seu lado de apresentação. A arte de um cartaz consiste na
capacidade de seu autor de, por meio da forma e das cores, chamar a atenção da
massa. O cartaz de uma exposição de arte só tem em vista chamar a atenção sobre
a arte da exposição; quanto mais ele consegue esse desideratum tanto maior é a
arte do dito cartaz. Além disso, o cartaz deve transmitir à massa uma idéia da
importância da exposição, nunca, porém, deverá ser um sucedâneo da arte que se
procura oferecer. Assim, quem desejar se ocupar da arte mesma, terá de estudar
mais do que o próprio cartaz, e não lhe bastará por exemplo, um simples passeio
pela exposição. Dele se espera que se aprofunde nas várias obras, observando-as
com todo cuidado, acabando por fazer delas um juízo justo.
Semelhantes são as condições do que hoje designamos pela palavra
propaganda.
O fim da propaganda não é a educação científica de cada um, e sim chamar a
atenção da massa sobre determinados fatos, necessidades, etc., cuja importância
só assim cai no círculo visual da massa.
A arte está exclusivamente em fazer isso de uma maneira tão perfeita que
provoque a convicção da realidade de um fato, da necessidade de um processo, e
da justeza de algo necessário, etc. Como ela não é e não pode ser uma
necessidade em si, como a sua finalidade, assim como no caso do cartaz, é a de
despertar a atenção da massa e não ensinar aos cultos ou àqueles que procuram
cultivar seu espírito, a sua ação deve ser cada vez mais dirigida para o
sentimento e só muito condicionalmente para a chamada razão.
Toda propaganda deve ser popular e estabelecer o seu nível espiritual de
acordo com a capacidade de compreensão do mais ignorante dentre aqueles a quem
ela pretende se dirigir. Assim a sua elevação espiritual deverá ser mantida
tanto mais baixa quanto maior for a massa humana que ela deverá abranger.
Tratando-se, como no caso da propaganda da manutenção de uma guerra, de atrair
ao seu círculo de atividade um povo inteiro, deve se proceder com o máximo
cuidado, a fim de evitar concepções intelectuais demasiadamente elevadas.
Quanto mais modesto for o seu lastro científico e quanto mais ela levar em
consideração o sentimento da massa, tanto maior será o sucesso. Este, porém, é a
melhor prova da justeza ou erro de uma propaganda, e não a satisfação às
exigências de alguns sábios ou jovens estetas. A arte da propaganda reside
justamente na compreensão da mentalidade e dos sentimentos da grande massa. Ela
encontra, por forma psicologicamente certa, o caminho para a atenção e para o
coração do povo. Que os nossos sabidos não compreendam isso, a causa está na sua
preguiça mental ou no seu orgulho. Compreendendo-se, a necessidade da conquista
da - grande massa, pela propaganda, segue-se daí a seguinte doutrina: É errado
querer dar à propaganda a variedade, por exemplo, do ensino científico.
A capacidade de compreensão do povo é muito limitada, mas, em compensação,
a capacidade de esquecer é grande. Assim sendo, a propaganda deve-se restringir
a poucos pontos. E esses deverão ser valorizados como estribilhos, até que o
último indivíduo consiga saber exatamente o que representa esse estribilho.
Sacrificando esse princípio em favor da variedade, provoca-se uma atividade
dispersiva, pois a multidão não consegue nem digerir nem guardar o assunto
tratado. O resultado é uma diminuição de eficiência e consequentemente o
esquecimento por parte das massas.
Quanto mais importante for o objetivo a conseguir-se, tanto mais certa,
psicologicamente, deve ser a tática a empregar.
Por exemplo, foi um erro fundamental querer tornar o inimigo ridículo, como
o fizeram os jornais humorísticos austríacos e alemães.
Este sistema é profundamente errado, pois o soldado, quando caia na
realidade, fazia do inimigo uma idéia totalmente diferente, o que, como era de
esperar, acarretou graves conseqüências. Sob a impressão imediata da resistência
do inimigo, o soldado alemão sentia-se ludibriado por aqueles que o tinham
orientado até então, e, em vez de um aumento de sua combatividade ou mesmo
resistência, dava-se o oposto. O homem desanimava.
Em contraposição, a propaganda de guerra dos americanos e ingleses era
psicologicamente acertada. Apresentando ao povo os alemães como bárbaros e
Hunos, ela preparava o espírito dos seus soldados para os horrores da guerra,
ajudando assim a preservá-los de decepções. A mais terrível arma que fosse
empregada contra ele, parecer-lhe-ia mais uma confiança no que lhe tinham dito e
aumentaria a crença na 'Veracidade das afirmações de seu governo como também,
por outro lado, servia para fazer crescer o ódio contra o inimigo infame. O
cruel efeito da arma do adversário que ele começava a conhecer parecia-lhe aos
poucos uma prova da brutalidade feroz do inimigo "bárbaro" de que ele já tinha
ouvido falar, sem que, por um segundo, tivesse sido levado a pensar que as suas
próprias armas fossem, muito provavelmente, de ação mais terrível.
Assim é que, sobretudo o soldado inglês, nunca se sentiu mal informado
pelos seus, o que infelizmente se dava com o soldado alemão, Este chegava a
rejeitar as noticias oficiais como falsas, como verdadeiro embuste.
Tudo isso era a conseqüência de se entregar esse serviço de propaganda ao
primeiro asno que se encontrava, em vez de compreender que para este serviço é
necessário um profundo conhecedor da alma humana.
A propaganda de guerra alemã serviu de exemplo inexcedível em efeitos
negativos, em virtude da falta absoluta de raciocínio psicologicamente certo.
Muito se poderia ter aprendido do inimigo, sobretudo aquele que, de olhos
abertos e com o sentido alerta, observasse a onda da propaganda inimiga durante
os quatro anos e meio de guerra.
O que menos se compreendia era a condição primeira de toda atividade
propagandista, a saber: a atitude fundamentalmente subjetiva e unilateral que a
mesma deve assumir em relação ao objetivo visado. Neste terreno cometeram se
erros tão grandes, logo no começo da guerra, que se tinha o direito de duvidar
se tanta asneira podia ser atribuída só à pura ignorância.
Que se diria, por exemplo, de um cartaz anunciando um novo sabão e que, no
entanto, aponta como "bons" outros sabões? A única coisa a fazer diante disso
seria levantar os ombros, e passar.
O mesmo se dá em relação à propaganda política.
Foi um erro fundamental, nas discussões sobre a culpabilidade da guerra,
admitir que a Alemanha não podia sozinha ser responsabilizada pelo
desencadeamento dessa catástrofe. Deveria ter-se incessantemente atribuído a
culpa ao adversário, mesmo que esse fato não tivesse correspondido exatamente à
marcha dos acontecimentos, como na realidade era o caso. Qual, porém, foi a
conseqüência dessa indecisão?
A grande massa de um povo não se compõe de diplomatas ou só de professores
oficiais de Direito, mesmo de pessoas capazes de ajudar com acerto, e sim de
criaturas propensas à dívida e às incertezas. Quando se verifica, em uma
propaganda em causa própria, o menor indício de reconhecer um direito à parte
oposta, cria-se imediatamente a dúvida quanto ao direito próprio. A massa não
está em condições de distinguir onde acaba a injustiça estranha e onde começa a
sua justiça própria. Ela, num caso como esse, torna-se indecisa e desconfiada,
sobretudo quando o adversário não comete a mesma tolice, mas, ao contrário,
lança toda e qualquer culpa sobre o inimigo. Nada mais natural, pois que,
finalmente, o povo acabe acreditando mais na propaganda inimiga do que na
própria, dada a uniformidade coerência desta. Esse efeito é, então, inevitável
quando se trata de um povo como o alemão que já por si sofre de tão grande mania
de objetivismo, e está sempre preocupado em evitar injustiças ao inimigo, mesmo
ante o perigo do seu próprio aniquilamento.
A massa não chega a compreender que não é assim que se imaginam essas
coisas nos postos de comando.
O povo, na sua grande maioria, é de índole feminina tão acentuada, que se
deixa guiar, no seu modo de pensar e agir, menos pela reflexão do que pelo
sentimento.
Esses sentimentos, porém, não são complicados mas simples e consistentes.
Neles não há grandes diferenciações. São ou positivos ou negativos: amor ou
ódio, justiça ou injustiça, verdade ou mentira. Nunca, porém, o meio termo.
Tudo isso foi compreendido, sobretudo pela propaganda inglesa e por ela
aproveitado, de uma maneira verdadeiramente genial. Lá não havia indecisões que
pudessem provocar dúvidas.
A prova do conhecimento que tinham os ingleses do primitivismo do
sentimento da grande massa foi as divulgações das crueldades do nosso exército,
campanha que se adaptava a esse estado de espírito do povo.
Essa tática serviu para assegurar, de maneira absoluta, a resistência no
front, mesmo na ocasião das maiores derrotas. Além disso, persistiu-se na
afirmação de que o inimigo alemão era o único culpado pelo rompimento de
hostilidades. Foi essa mentira repetida e repisada constantemente,
propositadamente, com o fito de influir na grande massa do povo, sempre propensa
a extremos. O desideratum foi atingido. Todos acreditaram nesse embuste.
O quanto foi eficiente essa maneira de fazer propaganda ficou patenteado
claramente no fato de ter ela conseguido, após quatro anos, não só assegurar a
resistência ao inimigo como começar a influir nocivamente no modo de ver do
nosso próprio povo.
Não é de espantar que à nossa propaganda estivesse reservado um tal
insucesso. Ela trazia a semente da ineficácia na sua própria dubiedade. Além
disso, era pouco provável, a julgar pelo seu conteúdo, que ela fosse capaz de
causar o efeito necessário no seio da multidão anônima.
Só mesmo os nossos "estadistas" falhos de espírito poderiam imaginar que,
com esse pacifismo anódino e cheirando a flor de laranja, se conseguisse
despertar o entusiasmo de alguém ao ponto de arrastá-lo ao sacrifício até da
vida. Foi, pois, inútil essa miserável tática e até mesmo perniciosa. Qualquer
que seja o talento que se revele na direção de uma propaganda não se conseguirá
sucesso, se não se levar em consideração sempre e intensamente um postulado
fundamental. Ela tem de se contentar com pouco, porém, esse pouco terá de ser
repetido constantemente. A persistência, nesse caso, é, como em muitos outros
deste mundo, a primeira e mais importante condição para o êxito.
Em assuntos de propaganda, justamente, é que não se pode ser guiado por
estetas, nem por blasés. Os primeiros dão, pela forma e pela expressão, um tal
cunho à propaganda que, dentro em pouco, ela só tem poder de atração nos
círculos literários; os segundos devem ser cuidadosamente evitados, pois a sua
falta de sensibilidade faz com que procurem constantemente novos atrativos.
Essas criaturas de tudo se fartam com facilidade; o que eles desejam é variedade
e são incapazes de uma compreensão das necessidades de seus concidadãos ainda
não contaminados pelo seu pessimismo. Eles são sempre os primeiros críticos da
propaganda, ou, melhor, de seu conteúdo, o qual lhes parece demasiado arcaico,
demasiado batido, etc. Só querem novidades, só procuram variedade e tornam-se
dessa maneira inimigos mortais de uma conquista eficiente das massas sob o ponto
de vista político. Logo que uma propaganda, na sua organização e no seu
conteúdo, começa a se dirigir pelas necessidades deles, perde toda a unidade e
se dispersa inteiramente.
A propaganda, entretanto, não foi criada para fornecer a esses senhores
blasés uma distração interessante e sim para convencer a massa. Esta, porém,
necessita - sendo como é de difícil compreensão - de um determinado período de
tempo, antes mesmo de estar disposta a tomar conhecimento de um fato, e, somente
depois de repetidos milhares de vezes os mais simples conceitos, é que sua
memória entrará em funcionamento.
Qualquer digressão que se faça não deve nunca modificar o sentido do fim
visado pela propaganda, que deve acabar sempre afirmando a mesma coisa. O
estribilho pode assim ser iluminado por vários lados, porém o fim de todos os
raciocínios deve sempre visar o mesmo estribilho. Só assim a propaganda poderá
agir de uma maneira uniforme e decisiva.
Só a linha mestra, que nunca deve ser abandonada, é capaz de, guardando a
acentuação uniforme e coerente, fazer amadurecer o sucesso final. Só então
poder-se-á, com espanto, constatar que formidáveis e quase incompreensíveis
resultados tal persistência é capaz de produzir.
Todo anúncio, seja ele feito no terreno dos negócios ou da política, tem o
seu sucesso assegurado na constância e continuidade de sua aplicação.
Também aqui foi modelar o exemplo da propaganda de guerra inimiga, restrita
a poucos pontos de vista, exclusivamente destinada à massa e levada avante com
tenacidade incansável.
Durante toda a guerra empregaram-se os princípios fundamentais reconhecidos
certos, assim como as formas de execução, sem que se tivesse nunca tentado a
menor modificação. No princípio essa tática parecia louca no atrevimento de suas
afirmações. Tornou-se mais tarde desagradável, e finalmente acreditada. Quatro e
meio anos após, estalou na Alemanha uma revolução cujo leit-motiv provinha da
propaganda de guerra inimiga.
Na Inglaterra, entretanto, compreendeu-se mais uma coisa, a saber:
Essa arma espiritual só tem o seu sucesso garantido na aplicação às massas
e esse sucesso cobre regiamente todas as despesas.
Lá, a propaganda valia como arma de primeira ordem, enquanto que entre nós
era considerada o último ganha-pão dos políticos desocupados, e fornecia
pequenas ocupações para heróis modestos.
O seu sucesso era, pois, de modo geral, igual a zero.
CAPÍTULO VII - A REVOLUÇÃO
A propaganda inimiga tinha começado entre nós, no ano de 1915; desde 1916
tornou-se cada vez mais intensa, para finalmente se transformar, no começo de
1918, numa onda avassaladora. Podia se. então, a cada passo, reconhecer os
efeitos desta conquista de almas. O exército alemão aprendia aos poucos a pensar
conforme o inimigo desejava.
A nossa reação, no entanto, falhava inteiramente.
Entre os dirigentes responsáveis pela direção do exército, havia a intenção
de aceitar a luta também para esse desideratum. Sob o ponto de vista
psicológico, cometeu-se um erro, deixando que esses esclarecimentos se
processassem no seio da própria tropa. Para ser eficiente elas deveriam ter
vindo da nação. Só então poder-se-ia contar com o seu sucesso, entre homens que
há quatro anos escreviam para a história de sua Pátria páginas imorredouras, de
inigualáveis feitos heróicos, alcançados no meio das maiores dificuldades e
privações.
No entanto, o que, da Pátria, chegava às linhas da frente?
Era isso estupidez ou crime?
Em pleno verão de 1918, após a evacuação da margem sul do Mama, a imprensa,
sobretudo, a imprensa alemã se portava de modo tão miseravelmente inábil, mesmo
criminosamente imbecil, que, diariamente, a par do ódio crescente, ocorria-me
perguntar se, na realidade, não haveria mesmo ninguém capaz de pôr um fim a esse
desperdício do heroísmo do exército.
Que aconteceu em França quando, em 1914, de vitória em vitória, varríamos o
solo francês?
Que fez a Itália nos dias da derrocada de seu front do Isonzo? Que fez a
França na primavera de 1918, quando o ataque das divisões alemãs parecia abalar
as suas posições nos seus fundamentos e quando as baterias de longo alcance
começaram a fazer sentir os seus efeitos em Paris? Como lá se soube tirar
partido da paixão nacional levada ao paroxismo, lançada em rosto aos regimentos
em retirada desabalada! Como trabalhou a propaganda na influenciação da massa,
no sentido de inculcar a fé na vitória final no coração dos soldados dos fronts
rompidos!
Que aconteceu entre nós?
Nada ou pior do que isso.
Naquela ocasião subiam-me à cabeça a raiva e a indignação quando, ao ler os
jornais, tinha de analisar, sob o ponto de vista psicológico, aquela matança em
massa.
Mais de uma vez me atormentou a idéia de que, se a Providência me tivesse
colocado no lugar desses ignorantões ou mal intencionados incompetentes ou
criminosos de nosso serviço de propaganda, talvez outro tivesse sido o desfecho
da luta.
Senti, pela primeira vez, nesses meses, a maldade da sorte que me mantinha
no front, ao alcance do tiro de qualquer negro, enquanto, no seio da Pátria, eu
poderia prestar serviços mais eficientes.
Já naquela ocasião, tinha bastante confiança em mim mesmo para acreditar
que teria levado a cabo tal empresa.
Eu não passava, porém, de um desconhecido, um entre oito milhões! Assim
sendo, o melhor era calar a boca e tratar de cumprir, na posição em que estava,
o meu dever, da melhor maneira.
No verão de 1915. caíram em nossas mãos os primeiros boletins inimigos.
Seu conteúdo era quase sempre o mesmo, se bem que com algumas variantes na
forma da exposição. Todos afirmavam que a miséria na Alemanha aumentaria cada
vez mais; que a duração da guerra seria infinita, que as probabilidades de
vitória seriam cada vez menores, que o povo em casa cada vez mais desejava a
paz, que só o "militarismo" e o "Kaiser" queriam a continuação da guerra; que o
mundo inteiro - que bem sabia disso - não fazia a guerra ao povo alemão e sim
exclusivamente ao único culpado que era o Kaiser, que a luta não teria fim antes
do afastamento desse inimigo da humanidade pacífica; que as nações liberais e
democráticas aceitariam a Alemanha, uma vez acabada a guerra, na liga eterna da
paz mundial, aceitação essa que seria garantida, desde o momento em que
estivesse aniquilado o "militarismo prussiano", etc., etc.
Para melhor ilustrar o exposto não raras vezes eram então transcritas
"cartas de casa", isto é, das famílias dos soldados, cujo conteúdo parecia
apoiar essas afirmações.
No primeiro momento, os soldados, na sua maioria, levavam na troça essas
tentativas do inimigo. Os boletins eram lidos, em seguida enviados para a
retaguarda aos estados-maiores e, na maioria dos casos, olvidados até que o
vento trouxesse novo carregamento para dentro das trincheiras. Geralmente eram
aeroplanos que distribuíam esses boletins.
Nesse processo de propaganda, evidenciava-se, à primeira vista, o fato de
atacarem com veemência a Prússia, justamente nos setores do front, onde havia
bávaros. Asseverava-se que a Prússia era o verdadeiro culpado e responsável pela
guerra e que, por outro lado, não havia, especialmente contra a Baviera, a menor
animosidade. É verdade, diziam, que nada se podia fazer em seu favor, enquanto
ela se encontrasse a serviço do militarismo prussiano, auxiliando-o a "tirar as
castanhas do fogo".
Esta maneira de persuadir começou na realidade já em 1915 a produzir certos
efeitos. No seio da tropa, a má vontade contra a Prússia crescia visivelmente,
sem que as autoridades tomassem quaisquer providências. Evidentemente, isso foi
mais do que uma simples negligência que mais cedo ou mais tarde se faria sentir,
de maneira terrível, não só contra a "Prússia" mas também contra o povo alemão,
no seio do qual, a Baviera ocupa lugar de destaque.
Desde o ano de 1916, a propaganda inimiga começou a alcançar triunfos
completos, nesse sentido.
Além disso, as queixas que se continham nas cartas das famílias- dos
soldados vinham produzindo, há muito, os seus naturais efeitos. Já não era nem
mais necessário que o inimigo as transmitisse ao front, por meio de boletins,
etc. Contra esse estado de coisas também não se tomaram providências "por parte
do governo", salvo algumas "exortações", psicologicamente asnáticas. O front
continuou a ser inundado com esse veneno fabricado em casa por mulheres
ingênuas, as quais, naturalmente, não suspeitavam que esse era o meio de
reforçar ao extremo, no espírito do inimigo, a confiança na vitória e que assim
prolongavam e agradavam os sofrimentos dos seus parentes em luta nas
trincheiras. As cartas levianas das mulheres alemãs custaram a vida a centenas
de milhares de homens.
Assim, já em 1916, começaram a aparecer sintomas alarmantes. O front
vociferava e mostrava-se descontente com muitas coisas, e, às vezes, com razão,
se indignava.
Enquanto os soldados, pacientemente passavam fome nas linhas da frente e os
seus parentes sofriam grandes privações em casa, em outros lugares havia
abundância e dissipação.
Mesmo no campo da luta, nem tudo, a esse respeito, se passava, como seria
de esperar.
Assim, já naquela ocasião, murmurava se contra esse estado de coisas. Essas
reclamações não passavam, porém, de questões "domésticas". O mesmo homem que,
pouco antes, tinha vociferado e resmungado, poucos minutos depois cumpria
silenciosamente o seu dever, com a máxima naturalidade. A mesma companhia, que
pouco antes se manifestara descontente, agarrava-se a um pedaço de trincheira,
cuja defesa lhe tinha sido confiada, como se o destino da Alemanha dependesse
exclusivamente desses 100 metros de buracos de lama. Esse era ainda o front do
velho e maravilhoso exército de heróis.
A diferença entre eles e a Pátria iria eu conhecer em uma mutação brusca.
Em fins de setembro de 1916, a minha divisão se deslocou para a batalha do
Somme. Essa foi para nós a primeira das. formidáveis batalhas materiais que se
seguiram, e a impressão, difícil de descrever, era mais de inferno do que de
guerra.
Semanas a fio, sob o furacão do fogo de barragem resistia o front alemão,
às vezes comprimido um pouco para trás, às vezes avançando de novo, porém nunca
recuando.
A 7 de outubro de 1916 fui ferido.
Consegui ser levado para a retaguarda e devia voltar para a Ale. manha em
um trem de ambulância.
Dois anos se haviam passado sobre a última vez que eu vira a Pátria,
período de tempo, quase infinito, em tais circunstâncias.
Eu mal podia imaginar a existência de alemães que não estivessem metidos em
uniforme. Quando, em Hermies, no hospital de feridos, quase estremeci de susto
ao ouvir a voz de uma mulher alemã enfermeira que tinha dirigido a palavra a um
meu vizinho de cama.
Ouvir um tal som pela primeira vez após dois anos!
Quanto mais o trem, que nos devia conduzir à Pátria, se aproximava da
fronteira, tanto mais inquieto cada um se sentia intimamente. Sucediam-se as
localidades pelas quais, há dois anos atrás, tínhamos passado como jovens
soldados:- Bruxelas, Louvam, Liége, e finalmente acreditamos reconhecer a
primeira casa alemã com a sua cumeeira alta e suas lindas janelas.
A Pátria!
Era outubro de 1914, ardíamos de entusiasmo ao atravessar a fronteira;
agora reinavam o silêncio e a comoção Cada um se sentia feliz por ter o destino
lhe permitido rever ainda uma vez o solo pátrio que tivera de defender com sua
vida; e quase que se envergonhava de se sentir observado pelos outros. Quase no
dia de completar um ano da minha partida, fui internado no hospital de Beelitz,
perto de Berlim.
Que mudança! Da lama da batalha do Somme às camas brancas dessa construção
maravilhosa! No princípio quase não ousávamos nos deitar nesses leitos. Só
lentamente poderíamos rios acostumar a esse novo mundo, tão diferente das
trincheiras!
Infelizmente, porém, este mundo era também novo noutro sentido.
O espírito do exército no front parecia não encontrar acolhida aqui. Algo,
ainda desconhecido no front, ouvi aqui pela primeira vez:- o elogio da própria
covardia!
Lá fora seria possível maldizer e ouvir vociferar, porem nunca com a
intenção de faltar com o dever ou de glorificar o covarde. Não! O covarde era
sempre considerado covarde e mais nada; e o desprezo que o atingia era sempre
geral, assim como geral era a admiração que se dedicava ao verdadeiro herói. No
hospital, entretanto, dava-se já em parte o inverso: Os mais deslavados
instigadores é que tinham a palavra e procuravam, com todos os recursos da sua
verborragia lamentável, tornar ridículos os conceitos do soldado decente e
proclamar como virtude a falta de caráter do covarde. Eram sobretudo alguns
miseráveis rapazolas que davam o tom. Um deles se vangloriava de ter ele mesmo
passado a mão pelo arame farpado, a fim de ir para o hospital. Ele parecia, não
obstante esse ferimento ridículo, já estar ali há muito tempo, e que, só por um
embuste, tinha vindo num trem de transporte para a Alemanha. Este sujeito
venenoso ia tão longe, a ponto de colocar a própria covardia num pé de igualdade
com a valentia superior ou a morte heróica de um soldado decente. Muitos ouviam
silenciosos, outros se afastavam, outros, porém, concordavam.
Eu estava enojado; no entanto o instigador era tolerado no estabelecimento.
Que se devia fazer? A direção devia saber e sabia quem e o que ele era.
Entretanto nada acontecia.
Logo que pude andar de novo, consegui licença para ir a Berlim.
A miséria áspera, mais negra, era visível por toda a parte. A cidade de
milhões estava faminta. O descontentamento era grande. Em muitas casas visitadas
por soldados, o tom era semelhante ao do hospital. Tinha-se a impressão de que
esses indivíduos procuravam justamente esses lugares, a fim de espalhar aí o seu
modo de pensar.
Muito e muito pior era, porém, a situação em Munique! Quando me restabeleci
e tive alta do hospital e fui transferido para o batalhão de reserva pensei não
reconhecer mais a cidade. Descontentamento, desânimo, imprecações por toda a
parte. Mesmo no batalhão de reserva, o moral era abaixo da critica. Para isso
contribuía aqui a maneira grandemente inábil como os antigos oficiais
instrutores tratavam os soldados vindos do front. Eles ainda não tinham estado
uma hora sequer no front e, por esse motivo, sã em parte conseguiam estabelecer
relações cordiais com os velhos soldados Estes possuíam certas particularidades
oriundas dos serviços de campanha, as quais eram inteiramente incompreensíveis
para os dirigentes dessas tropas de reserva e que só o oficial vindo do front
poderia compreender. Este último naturalmente era considerado pelos soldados,
doutra maneira que não o era pelo comandante de etapas". Abstraindo disso tudo,
porém, a impressão geral era péssima. Ser reacionário era considerado sinal de
superioridade; a perseverança no cumprimento do dever tomava-se como fraqueza ou
estreiteza de espírito. Os escritórios estavam repletos de judeus. Quase todo
escriturário era judeu e quase todo judeu era escriturário. Eu ficava abismado
ante essa massa de lutadores do povo eleito e não podia deixar de compará-la com
os poucos representantes no front.
No mundo dos negócios, pior ainda era o estado de coisas. Nesse ponto, o
povo judeu tinha se tornado na realidade "indispensável". O morcego tinha
começado a lentamente chupar o sangue do povo. Pelos caminhos Indiretos das
sociedades de guerra, tinha-se achado uma maneira de eliminar aos poucos a
economia nacional livre.
Pregava-se a necessidade de uma centralização sem limites.
Assim é que, na realidade, já no ano de 1916 para 1917, quase toda a
produção se achava sob o controle dos financistas judeus.
Contra quem, porém, se dirige o ódio do povo? Nessa época, eu via com pavor
aproximar-se uma calamidade que, se não fosse desviada em tempo oportuno, teria
de provocar a debacle.
Enquanto o judeu roubava a nação inteira e a oprimia sob o seu jugo,
instigava-se o povo contra os "Prussianos". Como no front, também aqui não se
tomavam providências contra essa propaganda venenosa. Parecia não passar pela
cabeça de ninguém que o colapso da Prússia estava longe de provocar o
soerguimento da Baviera. Ao contrário, a queda de um teria de arrastar o outro
para o abismo, impiedosamente.
Sentia-me infinitamente mal ante essa atitude. Nela eu via o mais genial
manejo dos judeus, que desejavam afastar de si a atenção geral para dirigi-la
para outros assuntos. Enquanto brigava o bávaro com o prussiano, ele roubava aos
dois a existência; enquanto se falava mal, na Baviera, do prussiano, o judeu
organizava a revolução e destruía ao mesmo tempo a Prússia e a Baviera.
Eu não podia tolerar essa maldita luta entre filhos do mesmo povo; por
isso, sentia-me contente por voltar ao front, para onde, ao chegar em Munique,
tinha pedido minha transferência.
No princípio de março de 1917, encontrava-me de novo no meu regimento.
Lá para os fins do ano de 1917, parecia ter atingido o máximo o desânimo no
exército. O exército inteiro, após o colapso russo, estava animado de nova
esperança e de nova coragem. A tropa começava cada vez mais a se convencer de
que a luta havia de acabar com a vitória da Alemanha. Ouvia-se, novamente
cantar, e os agourentos cada vez eram mais raros. Tinha-se de novo fé no destino
da Pátria.
Sobretudo o colapso italiano, no outono de 1917, tinha produzido um efeito
maravilhoso. Via-se nessa vitória a prova da possibilidade de romper o front,
mesmo abstraindo o teatro de operações russas. Uma fé maravilhosa invadia
novamente o coração de milhões, e fazia com que aguardassem com confiança a
primavera de 1918. O inimigo, porém, estava visivelmente abatido. Nesse inverno
houve mais calma do que de costume; era a calma que precede a tempestade.
Justamente enquanto o front fazia os últimos preparativos para o término
final da luta, enquanto transportes de homens e material rolavam para as linhas
do oeste, e a tropa recebia instruções para o grande ataque, arrebentou na
Alemanha a maior patifaria de toda a guerra.
A Alemanha não devia vencer. A última hora, quando a vitória começava a se
decidir pelas bandeiras alemãs, lançou-se mão de um meio que parecia adequado a
sufocar, de um golpe, no nascedouro, a ofensiva alemã da primavera, tornando a
vitória impossível.
Organizou-se a greve de munições. Caso ela vingasse, o front alemão teria
de se esfacelar e seria realizado o desejo, manifestado pelo "Vorwärts" de que a
vitória desta vez não fosse das cores alemãs. A linha da frente teria de ser
rompida, em poucas semanas, por falta de munição. A ofensiva seria assim
evitada, a Entente estaria salva e o capital internacional se teria tornado dono
da Alemanha. A finalidade Intima do marxismo, isto é, a mistificação dos povos,
teria sido atingida. A destruição da economia nacional, em beneficio do capital
internacional, é um fim que foi atingido graças à tolice e à boa fé de um lado e
a uma covardia inominável do outro.
É verdade que a greve de munição, que visava anular o front pela falta de
armas, não teve o sucesso esperado. Ele desmoronou cedo demais para que a falta
de munição, conforme estava planejado, pudesse ter condenado o exército à
destruição. Tanto mais terrível, porém, foi o dano moral provocado.
Em primeiro lugar, todos se perguntavam: Para que, afinal de contas, lutava
o exército, se a própria Pátria não desejava a vitória? Para que os enormes
sacrifícios e privações? O soldado tem de lutar pela vitória e a Pátria faz
greve!
Em segundo lugar, qual teria sido o efeito desses acontecimentos sobre o
inimigo?
No inverno de 1917 a 1918, pela primeira vez, nuvens tenebrosas surgiram no
firmamento do mundo aliado. Durante quase quatro anos. tinha-se investido contra
o gigante alemão, sem se ter podido derrubá-lo e, no entanto, este só tinha um
escudo para se defender, enquanto a espada tinha de distribuir golpes, ora para
o oeste, ora para o sul. Finalmente o gigante estava com as costas livres. Rios
de sangue tinham corrido até ele abater definitivamente um inimigo. Era chegado
o momento de, no oeste, juntar a espada ao escudo e se, até então, o inimigo não
tinha conseguido romper a defensiva, a ofensiva ia atingi-lo em cheio.
Ele era temido e receava-se a sua vitória.
Em Londres e Paris sucediam se as conferências. Até a propaganda inimiga já
se fazia com dificuldade. Já não era tão fácil demonstrar a improbabilidade da
vitória alemã. O mesmo se dava nas frentes de batalha, onde reinava silêncio
absoluto, até nas tropas aliadas. Esses senhores tinham perdido de repente a
insolência. Também para eles, as coisas começaram lentamente a aparecer sob uma
luz desagradável. A sua atitude interna com relação ao soldado alemão tinha-se
modificado. Até então, os nossos soldados eram vistos como loucos a quem uma
derrota certa esperava. Agora, porém, estava diante deles o destruidor do aliado
russo. A restrição das ofensivas alemãs do oeste. provindas da necessidade,
pareciam entretanto tática genial. Durante três anos os alemães tinham investido
contra a Rússia, no princípio aparentemente sem o menor sucesso. Quase que se
tinha rido desse começo de luta. No final das contas, o gigante russo teria de
sair vencedor graças à superioridade numérica. A Alemanha, porém, estava fadada
a esvair-se em sangue. A realidade parecia justificar essas esperanças.
Desde os dias de setembro de 1914, quando. pela primeira vez, começaram a
rolar para a Alemanha, pelas ruas e estradas, os magotes Infinitos dos
prisioneiros russos da batalha de Tennenberg, a avalanche parecia não ter fim.
Entretanto, cada exército batido e destruído era substituído por um novo. O
Império colossal fornecia ao Czar cada vez novos soldados e à guerra suas novas
vítimas e isso inesgotavelmente. Quanto tempo poderia a Alemanha resistir a essa
corrida? Não chegaria o dia em que, após uma última vitória alemã, não
aparecessem os últimos exércitos para a última batalha? E mais! Na medida das
possibilidades humanas, a vitória da Rússia poderia ser postergada, porém, teria
de vir.
Agora tinham acabado todas essas esperanças. O aliado que tinha trazido ao
altar dos interesses comuns os maiores sacrifícios em sangue, tinha chegado ao
fim de suas forças e jazia no chão à mercê do inimigo inexorável. O medo e o
pavor se infiltravam nos corações dos soldados, que até então eram animados de
uma crença quase cega. Temia-se a primavera próxima. Pois, se até então não se
tinha conseguido derrubar o alemão, que, só em parte, tinha podido atender ao
front ocidental, como se poderia ainda contar com a vitória, agora que parecia
se reunir a força toda do Estado heróico nessa frente?
A imaginação era trabalhada pelas sombras das montanhas do sul do Tirol.
Até na névoa do Flandres se projetavam as fisionomias sombrias dos exércitos
batidos de Cadorna, e a fé na vitória cedia o lugar ao medo da próxima derrota.
Quando já se pensava ouvir o rolar uniforme das divisões de ataque do
exército alemão em marcha, e quando já se esperava o juízo final, eis que
irrompe da Alemanha uma luz vermelha que projeta a sua sombra até o último
buraco de trincheira inimiga. No momento em que as divisões alemãs recebiam as
últimas instruções para a grande ofensiva, declarava-se na Alemanha a greve
geral.
A primeira impressão do mundo foi de estupefação. Em seguida, porém, a
propaganda inimiga, tomando novo alento, atirou-se a essa tábua de salvação da
décima segunda hora. De um golpe se tinham encontrado os meios de 1-eviver a
confiança arrefecida dos soldados aliados, de apresentar a probabilidade de
vitória como sendo uma certeza e de transformar a pavorosa depressão com relação
aos acontecimentos vindouros em confiança absoluta. Podia-se agora inculcar aos
regimentos, até então na expectativa do ataque alemão, a convicção, na maior
batalha de todos os tempos, de que a decisão final dessa guerra não ia depender
do arrojo da ofensiva alemã e sim de sua persistência na defensiva. Os alemães
podiam obter quantas vitórias quisessem, na sua pátria esperava-se uma revolução
e não o exército vitorioso.
Os jornais ingleses, franceses e americanos começaram a semear essa
convicção no coração de seus leitores, enquanto uma propaganda imensamente hábil
era utilizada com o fim de elevar o moral das tropas.
"A Alemanha às vésperas da revolução! A vitória dos aliados inevitável!"
Este foi o melhor remédio para pôr o indeciso Tommy e o Poilu de novo firmes
sobre as pernas. Podiam agora fazer funcionar de novo os fuzis e os
fuzis-metralhadoras e, no lugar de uma fuga em pânico, estabeleceu-se
resistência cheia de esperanças.
Foi esse o resultado da greve das munições. Ela reavivou entre os povos
inimigos a fé na vitória e pôs termo à paralisaste depressão no front aliado. Em
conseqüência disso, milhares de soldados alemães tiveram que pagar com seu
sangue esse desatino. Os promotores desse mais que infame golpe eram aqueles que
esperavam obter os mais elevados postos administrativos na Alemanha
revolucionária.
Do lado alemão poder-se-ia talvez ter reagido com sucesso, do lado do
inimigo entretanto as conseqüências eram inevitáveis. A resistência tinha
deixado de ser aquela oferecida por um exército que considerava tudo perdido e
foi substituída por uma luta de vida e de morte pela vitória.
A vitória tinha de vir. Bastava para isso que o front ocidental resistisse
alguns meses à ofensiva alemã. Nos parlamentos da Entente reconheceram-se as
possibilidades do futuro, e foram concedidos créditos imensos para a continuação
da propaganda com o fim de destruir a unidade alemã.
Eu tive a felicidade de poder tomar parte nas duas primeiras ofensivas e na
última.
Estas se tornaram a mais tremenda impressão de toda minha vida; tremenda
porque, pela última vez, a luta perdeu o seu caráter de defensiva e tornou-se
uma ofensiva, como em 1914. Pelas trincheiras dó exército alemão passou um novo
alento quando, finalmente, depois de três anos de espera no inferno inimigo,
tinha chegado o dia da "revanche". Mais uma vez exultaram os batalhões
vitoriosos e as últimas coroas de louro entrelaçaram-se às bandeiras vitoriosas.
Mais uma- vez retumbaram as canções à Pátria, ao longo das colunas em marcha, e,
pela última vez, a misericórdia divina sorria a seus filhos ingratos.
Em pleno verão de 1918, pairava uma atmosfera pesada sobre o front. Na
Pátria havia dissenções. Qual era a causa? Muita coisa se contava entre as
diversas unidades do exército. Dizia-se que a guerra agora se tornara sem
finalidade, pois, somente loucos poderiam acreditar na vitória. Não era mais o
povo, e sim os capitalistas e a monarquia que estavam interessados em continuar
a guerra. Todas essas notícias vinham da Pátria e eram discutidas no front.
No princípio o soldado pouco reagia contra isso. Que nos importava o
sufrágio universal? Era por ele que nós vínhamos combatendo há quatro anos? Foi
um golpe infame esse de roubar dessa maneira, no túmulo, a finalidade da guerra
ao herói morto. Há tempos os jovens regimentos não tinham marchado, em Flandres,
para a morte, com o grito "Viva o sufrágio universal secreto" e sim bradando
"Deutschland über alles". Pequena, porém, não totalmente- insignificante
diferença! Aqueles que gritavam pelo direito de voto, na sua grande maioria, não
tinham estado lá para lutar por essa conquista. O front não conhecia essa
canalha política. Lá- onde se encontravam os alemães decentes que permaneceriam,
enquanto sentissem um sopro de vida, só se via uma fração diminuta dos senhores
parlamentares.
O front, na sua primitiva situação, tinha muito pouco interesses pelo novo
alvo de guerra dos senhores Ebert, Scheidmann, Barth, Liebknecht. etc. Não se
podia compreender porque esses reacionários se arrogavam o direito de, passando
por cima do exército, controlar o Estado.
Minhas noções políticas pessoais estavam fixadas desde o começo. Eu odiava
essa corja de miseráveis partidários traidores da nação. Há muito tempo eu tinha
compreendido que para esses tratantes não se- tratava do bem da nação e sim de
encher os seus bolsos vazios. E o fato de eles estarem dispostos a sacrificar a
Nação inteira por esse fim e de permitir, se necessário fosse, a destruição da
Alemanha, fez com que perante meus olhos merecessem a forca. Tomar em
consideração os seus desejos significava sacrificar os interesses do povo
trabalhador em favor de alguns batedores de carteira. Só se poderia satisfazer
os seus desejos no caso de se estar decidido a abrir mão da sorte da Alemanha.
Assim pensava a maioria do exército combatente. Mas o reforço vindo da Pátria se
tornava cada vez menos eficiente, de sorte que a sua vida, em vez de produzir um
aumento de combatividade, tinha o efeito contrário. Sobretudo o reforço
constituído pelos novos soldados era na maior parte inútil. Dificilmente se
poderia acreditar que esses eram filhos do mesmo povo que tinha mandado a sua
juventude para a luta em Ypres.
Em agosto e setembro, aumentaram cada vez mais os sintomas de decadência,
embora o efeito do ataque inimigo não pudesse ser comparado com o pavor
produzido pelas nossas batalhas defensivas de outrora. Comparadas a elas, as
batalhas do Somme e de Flandres eram coisas do passado, de horripilante memória.
Em fins de setembro, a minha divisão, pela terceira vez, chegava às
posições que tínhamos tomado de assalto, quando éramos ainda um regimento de
voluntários, recentemente formado.
Que reminiscências! Em outubro e novembro de 1914, tínhamos ali recebido
nosso batismo de fogo. Com o coração ardendo de patriotismo e com canções nos
lábios, tinha o nosso novo regimento seguido para a batalha, como para uma
festa. O sangue mais caro era dado com prazer à Pátria, pensando cada um com
isso garantir à Nação a sua independência e a sua liberdade.
Em julho de 1917, pisamos, pela segunda vez, o solo tão sagrado para nós
todos, pois nele repousavam nossos melhores camaradas que, quase ainda crianças,
tinham se lançado à morte, de olhos fixos na Pátria querida! Nós, os velhos, que
outrora ali passamos com nosso regimento, quedávamo-nos respeitosamente
comovidos diante desse lugar sagrado, onde tínhamos jurado "fidelidade e
obediência até à morte". Esse terreno, há três anos atrás tomado de assalto pelo
nosso regimento, tinha agora de ser defendido numa tremenda batalha defensiva.
O Inglês preparava a grande ofensiva do Flandres com um fogo de barragem
que já durava três semanas. Parecia então que o espírito dos mortos revivia; o
regimento se agarrava com unhas e dentes à lama imunda, apagava-se aos buracos e
às fendas do solo, sem se abalar nem ceder um palmo, e ia se tornando, como já
uma vez, cada vez mais desfalcado, até que, finalmente a 31 de julho de 1917, se
desencadeou o ataque dos ingleses.
Nos primeiros dias de agosto fomos substituídos. O regimento tinha se
transformado em algumas companhias; estas marchavam para a retaguarda,
recobertas de lama, mais se assemelhando a espectros do que a criaturas. Fora
algumas centenas de metros de buracos de granadas, o inglês só tinha conseguido
encontrar a morte.
Agora no outono de 1918, estávamos, pela terceira vez, no terreno da
ofensiva de 1914. A nossa cidadezinha, Comines, outrora tão sossegada, tinha se
transformado em campo de batalha. É verdade que, embora o terreno da luta fosse
o mesmo, as criaturas tinham mudado: fazia-se agora política entre a tropa. O
veneno da Pátria começou, como em toda parte, a trazer até aqui os seus efeitos.
Os reforços mais novos falharam inteiramente - eles tinham vindo da Pátria, já
contaminados.
Na noite de 13 a 14 de outubro, começou o bombardeio a gás na frente sul de
Ypres. Empregava-se um gás cujo efeito ignorávamos ainda. Nessa mesma noite, eu
devia conhecê-lo por experiência própria. Estávamos ainda numa colina ao sul de
Werwick, na noite de 13 de outubro, quando caímos sobre um fogo de granadas que
já durava horas e que se prolongou pela noite a dentro, de maneira mais ou menos
violenta. Lá por volta de meia-noite, já uma parte de nossos companheiros tinha
sido posta fora de combate, alguns para sempre. Pela manhã senti também uma dor
que de 15 em 15 minutos se tornava mais aguda e, às 7 horas da manhã, trôpego e
tonto, com os olhos ardendo, eu me retirava levando comigo a minha última
mensagem da guerra.
Já algumas horas mais tarde, os meus olhos tinham se transformado em carvão
incandescente. Em torno de mim tudo estava escuro.
Foi assim que eu vim para o hospital de Pasewalk na Pomerânia e ali tive de
assistir a revolução!
Já há algum tempo pairava no ar algo de incerto e desagradável. Dizia-se
que, dentro de algumas semanas, ia haver alguma coisa. Eu não compreendia o que
se queria dizer com isso. Primeiramente, pensei numa greve semelhante à da
primavera. Boatos desfavoráveis com relação à Marinha apareciam constantemente,
dizia-se que esta estava em plena efervescência. Pensei que isso fosse mais o
resultado da fantasia de alguns indivíduos do que a opinião da grande massa. No
hospital quase todos falavam esperançados no breve término da guerra, porém,
ninguém contava com isso "imediatamente". Os jornais, eu não os podia- ler.
Em novembro aumentou a tensão geral.
E, finalmente, um dia, inopinadamente, deu-se a desgraça. Marinheiros
vindos em caminhões incitavam à revolução. Alguns rapazolas judeus eram os
"dirigentes" dessa luta pela "liberdade, beleza e dignidade" de nosso povo.
Nenhum deles tinha estado no front. Os três orientais tinham sido mandados para
casa pelo recurso a um "lazareto de doenças venéreas". Agora içavam na Pátria o
trapo vermelho.
Ultimamente, eu tinha melhorado um pouco. A dor cruciante nos olhos
diminuía. Aos poucos eu conseguia - distinguir imprecisamente os que me
cercavam. Podia alimentar a esperança de recuperar a vista, ao menos a ponto de
poder exercer mais tarde uma profissão qualquer. É verdade que eu não poderia
jamais pensar em desenhar. Achava-me assim no caminho da convalescença, quando
aconteceu a calamidade.
Ainda tive a esperança de que se tratasse de uma traição mais ou menos de
caráter local. Cheguei a procurar convencer alguns camaradas nesse sentido.
Sobretudo os meus companheiros bávaros do hospital estavam inclinados a pensar
assim. Lá o ambiente era tudo, menos revolucionário. Nunca pude imaginar que
também era Munique a loucura se desencadeasse. A mim me parecia que a fidelidade
à digna casa de Witteisbach fosse mais forte do que a vontade de alguns judeus.
Assim me convenci de que se tratava de um pronunciamento simples da Marinha, o
qual seria dominado em poucos dias.
Os dias seguintes foram passando e, com eles, veio a mais terrível certeza
de minha vida. Os boatos aumentavam constantemente. O que eu tinha tomado por
uma questão local era na realidade uma revolução geral. Além disso chegavam a
cada instante as noticias mais vergonhosas do front. Queria-se capitular.
Mas, Senhor, seria possível tal coisa?
A dez de novembro o velho pastor veio ao hospital para uma pequena prédica.
Foi então que soubemos de tudo.
Estava presente e fiquei profundamente emocionado. O velho e digno senhor
parecia tremer ao nos comunicar que a casa dos Hohenzollern não mais poderia
usar a coroa imperial e que a Pátria se tinha transformado em república, e que
só restava pedir ao Todo-Poderoso que concedesse a sua bênção a essa
transformação e não abandonasse o nosso povo de futuro. Ele não podia deixar de,
em poucas palavras, relembrar a casa imperial; queria prestar homenagens aos
serviços dessa Casa à Prússia, à Pomerânia, enfim a toda Pátria alemã e, nesse
momento, o bom velho começou a chorar. No pequeno salão havia profundo desânimo
em todos os corações e creio que não havia quem pudesse conter as lágrimas.
Quando o pastor procurou continuar e começou a comunicar que teríamos que acabar
essa longa guerra e que a nossa Pátria, agora que tínhamos perdido a guerra e
estávamos sujeitos à misericórdia do inimigo, iria sofrer grandes opressões e
que o armistício seria aceito dependendo da magnanimidade dos nossos inimigos eu não me contive. Para mim era impossível permanecer onde estava. Comecei a ver
tudo preto em torno de mim e cambaleando voltei ao dormitório. Joguei-me na cama
e cobri a cabeça em fogo com o cobertor e o travesseiro.
Desde o dia em que estivera diante do túmulo de minha mãe nunca mais tinha
chorado. Quando na minha juventude o destino era duro para comigo, a minha
pertinácia aumentava. Quando, durante os longos anos de guerra, a morte colhia
um dos nossos caros camaradas e amigos, parecia-me um pecado queixar-me e
lamentar a perda. Não morriam eles pela Alemanha? Quando, nos últimos dias da
terrível luta fui atingido pelo gás terrível que começou a corroer os meus
olhos, tive no momento de susto ímpetos de fraquejar diante de expectativa da
cegueira eterna. Imediatamente ouvi dentro de mim a voz da consciência bradar:
miserável poltrão ainda queres chorar quando há milhares que sofrem mais do que
tu! E assim conformei-me, calado, com o destino. Agora porém não suportava mais.
Só então verifiquei como a dor pessoal desaparece diante da desgraça da
Pátria.
Tudo tinha sido em vão. Em vão todos os sacrifícios e privações, e em vão a
fome e a sede de meses sem fim. Em vão as horas em que, transidos de pavor,
cumpríamos assim mesmo o nosso dever, e em vão a morte de dois milhões que então
caíram. Seria que não se iam abrir os túmulos das centenas de milhares que
outrora tinham partido com fé na Pátria para nunca mais voltarem? Não se iriam
abrir esses túmulos, a fim de enviarem à nação os heróis mudos enlameados e
ensangüentados, quais espíritos vingativos, pela traição do maior sacrifício que
um homem pode oferecer nesse mundo? Foi para isso que morreram os soldados de
agosto e setembro de 1914? Foi para isso que se lhes ajuntaram os regimentos de
voluntários do Outono desse mesmo ano? Foi para isso que rapazes de 17 anos
tombaram na terra de Flandres? Era esse o sentido do sacrifício oferecido pelas
mães alemãs à Pátria, quando, com o coração partido, deixavam partir seus filhos
mais caros para não mais revê-los? Tudo isso aconteceu para que agora um punhado
de miseráveis criminosos pudesse pôr a mão sobre a Pátria?
Foi para isso que o soldado alemão tinha persistido, ao sol e à neve,
sofrendo fome, sede, frio e cansaço das noites sem dormir e das marchas sem fim?
Foi para Isso que ele, sempre com o pensamento no dever de proteger a Pátria
contra o Inimigo, se expôs sem recuar ao inferno de fogo de barragem, e à febre
dos gases asfixiantes?
Na verdade, também esses heróis merecem uma lápide em que se escreva:
"Viajante que vindes à Alemanha, contai à nação que aqui repousamos fiéis à
Pátria e obedientes ao dever".
E a Pátria?
Seria esse o único sacrifício que teríamos de suportar?
Valeria a Alemanha do passado menos do que supúnhamos? Não tinha ela
obrigações para com a sua própria História? Éramos nós ainda dignos de nos
cobrir com a glória do seu passado? Como poderíamos justificar às gerações
futuras esse ato do presente?
Miseráveis e depravados criminosos! Quanto mais eu procurava esclarecer as
idéias, nessa hora, com relação ao terrível acontecimento, tanto mais eu corava
de raiva e de vergonha. Que significavam todas as dores dos meus olhos
comparadas com essa miséria.
Seguiram-se dias terríveis e noites mais terríveis ainda. Eu sabia que tudo
estava perdido. Contar com a misericórdia, do inimigo era loucura.
Nessas noites cresceu em mim o ódio contra os responsáveis por esses
acontecimentos. Nos dias que se seguiram tive a consciência do meu destino.
Ri-me, ao pensar no meu futuro, que há pouco tempo me tinha preocupado. Não
seria ridículo querer construir um edifício sólido sobre tais bases? Finalmente
me convenci que o que havia acontecido era o que eu havia sempre temido. Somente
não tinha podido acreditar. O imperador Guilherme II tinha sido o primeiro
imperador alemão que tinha oferecido a mão à conciliação com os líderes do
marxismo, sem se lembrar que bandidos não têm honra. Enquanto eles seguravam a
mão do imperador com a outra procuravam o punhal.
Com judeus não se pode pactuar. Só há um pró ou um contra.
Eu, porém, resolvi tornar-me político.
CAPÍTULO VIII - COMEÇO DE MINHA ATIVIDADE POLÍTICA
Em fins de novembro de 1918 voltei para Munique. De novo entrei no batalhão
de reserva do meu regimento, o qual se achava então nas mãos dos "conselhos de
soldados". Senti-me tão enojado que resolvi abandonar o batalhão, logo que me
fosse possível. Juntamente com o meu fiel camarada de guerra, Schmidt Ernest,
dirigi-me para Traunstein e ali permaneci até a dissolução do acampamento.
Em março de 1919, voltamos de novo para Munique.
A situação era insustentável. A continuação da revolução se tornara fatal.
A morte de Eisner tinha tido apenas o efeito de apressar os acontecimentos,
provocando a ditadura dos Conselhos, ou, melhor, um domínio temporário dos
judeus, objetivo que tinham em vista aqueles que provocaram a revolução.
Por essa época, passavam pela minha cabeça planos e mais planos. Dias a fio
eu meditava sobre o que se poderia fazer, mas chegava sempre à conclusão de que,
devido ao fato de ser eu um desconhecido, não possuía os requisitos
indispensáveis para garantia do êxito de qualquer atuação. Mais adiante voltarei
a falar sobre os motivos que me induziram a não me filiar a nenhum dos partidos
então existentes.
Durante a nova revolução dos Conselhos, assumi, pela primeira vez, uma
atitude que me custou a má vontade do Conselho Central. Em 27 de abril de 1919,
pela manhã cedo, eu devia ser preso. Entretanto, diante de um fuzil com que eu
os ameacei, os três rapazolas incumbidos de me prender, perderam a coragem e
desistiram da idéia.
Alguns dias depois da libertação de Munique, fui intimado a comparecer
diante da comissão de sindicâncias, a fim de prestar esclarecimentos sobre os
acontecimentos relativos à revolução no 2o. regimento de infantaria.
Foi essa a minha primeira incursão no campo da atividade puramente
política.
Algumas semanas mais tarde, recebi ordem de tomar parte num "curso"
destinado aos membros da milícia de defesa. Esse curso visava dar aos soldados
certas bases de orientação cívica. Para mim a vantagem da iniciativa consistia
no fato de eu poder travar conhecimento com alguns camaradas que pensavam da
mesma maneira que eu, e com os quais eu podia discutir detalhadamente a situação
do momento. Estávamos todos mais ou menos convencidos de que a Alemanha não se
poderia salvar do colapso cada vez mais próximo, por intermédio dos partidos do
centro e da social-democracia. que tinham sido causadores do crime de novembro.
Além disso, sabíamos que os chamados partidos dos "burgueses nacionais" não
poderiam, mesmo com a melhor boa vontade do mundo, conseguir reparar o mal já
feito. Faltava uma série de condições essenciais, sem as quais o êxito não seria
possível. O decorrer do tempo provou a justeza das nossas previsões. Com essas
idéias, discutimos, no pequeno círculo de camaradas, a formação de um novo
partido.
As idéias fundamentais que então possuíamos eram as mesmas que mais tarde
foram realizadas no "Partido Trabalhista Alemão". O nome do movimento a ser
inaugurado tinha de, desde o princípio, oferecer a possibilidade de uma
aproximação com a grande massa. Sem essa condição, todo trabalho parecia inócuo
e sem finalidade. Assim, ocorreu-nos o nome "Partido Social Revolucionário", e
isso porque os pontos de vista sociais do novo partido significavam na realidade
uma revolução.
A razão mais profunda, entretanto, estava no seguinte:
Conquanto eu me tivesse ocupado outrora do exame dos problemas econômicos,
nunca tinha ultrapassado os limites de certas considerações despertadas pelo
estudo das questões sociais.
Somente mais tarde alargaram-se os meus horizontes com o exame da política
de aliança da Alemanha. Essa política, em grande parte, era o resultado de uma
falsa avaliação do problema econômico, bem como da falta de clareza quanto às
possíveis bases de subsistência do povo alemão no futuro. Todas essas idéias,
porém, eram baseadas ainda na opinião de que, em todo o caso, o capital era
somente o produto do trabalho e, portanto, como este mesmo sujeito à correção de
todos aqueles fatores que desenvolvem ou restringem a atividade humana. Ai então
estaria a significação nacional do capital. Ele dependia de uma maneira tão
imperiosa da grandeza, liberdade e poder do Estado, portanto da Nação, que a
reunião dos dois por si mesma estava destinada a guiar o Estado e a Nação,
impulsionados ambos pelo capital, pelo simples instinto de conservação e de
multiplicação. Essa dependência do capital em relação ao Estado livre forçava
aquele a, por seu lado, intervir pela liberdade, pelo poder, e grandeza da
Nação.
O problema do Estado em relação ao capital tornava-se assim simples e
claro. Ele só teria de fazer com que o capital se mantivesse a serviço do Estado
e evitar que esse se convencesse de que era o dono da nação. Essa atitude
podia-se manter em dois limites: conservação de uma economia viva nacional e
independente, de um lado, garantia de direitos sociais dos empregados, de outro
lado.
Anteriormente eu não tinha conseguido ainda distinguir, com a clareza que
seria de desejar, a diferença entre o capital considerado como resultado final
do trabalho produtivo, e o capital cuja existência repousa exclusivamente na
especulação.
Esta diferença foi exaustivamente tratada e esclarecida por Gottfied Feder,
professor em um dos cursos já por mim citados.
Pela primeira vez na minha vida, assisti a uma exposição de princípios
relativa ao capital internacional, no que diz respeito a movimentos de bolsa e
empréstimos.
Depois do ter ouvido a primeira preleção de Feder, passou-me imediatamente
pela cabeça a idéia de ter então encontrado uma das condições básicas para a
fundação de um novo partido.
Aos meus olhos o mérito de Feder consistia em ter pintado, com as cores
mais fortes, o caráter especulativo, assim como econômico, do capital
internacional e ter mostrado a sua eterna preocupação de juros.
As suas exposições eram tão certas em todas as questões fundamentais, que
os críticos das mesmas desde logo combatiam menos a veracidade teórica da idéia
do que a possibilidade prática de sua execução. Assim, aquilo que aos olhos de
outros era considerado o lado fraco das idéias de Feder, constituía aos meus o
seu ponto mais forte.
A missão de um doutrinador não é a de estabelecer vários graus de
exequibilidade de uma determinada causa, e sim a de esclarecer o fato em si.
Isso quer dizer, que o mesmo deve se preocupar menos com o caminho a seguir do
que com o fim a atingir. Aqui, o que decide é a veracidade, em princípio, de uma
idéia, e não a dificuldade de sua execução. Assim que o doutrinador procura, em
lugar da verdade absoluta, levar em consideração as chamadas "oportunidade" e
"realidade", deixará ele de ser uma estréia polar da humanidade para se
transformar em um receitador quotidiano. O doutrinador de um movimento deve
estabelecer a finalidade do mesmo; o político deve procurar realizá-lo. Um,
portanto, dirige seu modo de pensar pela eterna verdade, o outro é dirigido na
sua ação pela realidade prática. A grandeza de um reside na verdade absoluta e
abstrata de sua idéia, a do outro no ponto de vista certo em que se coloca com
relação aos fatos e ao aproveitamento útil dos mesmos, sendo que a este deve
servir de guia o objetivo do doutrinador. Enquanto o sucesso dos planos e da
ação de um político, isto é, a realização dessas ações, pode ser considerada
como pedra-de-toque da importância desse político, nunca se poderá realizar a
última intenção do doutrinador, pois ao pensamento humano é dado compreender as
verdades, armar ideais claros como cristal, porém a realização dos mesmos tem de
se esboroar diante da imperfeição e insuficiência humanas. Quanto mais
abstratamente certa, e, portanto, mais formidável for uma idéia, tanto mais
impossível se torna a sua realização, uma vez que ela depende de criaturas
humanas É por isso que não se deve medir a importância dos doutrinadores pela
realização de seus fins, e sim pela verdade dos mesmos e pela influência que
eles tiveram no desenvolvimento da humanidade. Se assim não fosse, os fundadores
de religiões não poderiam ser considerados entre os maiores homens desse mundo,
porquanto a realização de suas intenções éticas nunca será, nem aproximadamente,
integral. Mesmo a religião do amor, na sua ação, não é mais do que um reflexo
fraco da vontade de seu sublime fundador; a sua importância entretanto reside
nas diretrizes que ela procurou imprimir ao desenvolvimento geral da cultura e
da moralidade entre os homens.
A grande diversidade entre os problemas do doutrinador e os do político é
um dos motivos por que quase nunca se encontra uma união entre os dois, em uma
mesma pessoa. Isto se aplica sobretudo ao chamado político de "sucesso", de
pequeno porte, cuja atividade de fato nada mais é do que a "arte do possível",
como modestamente Bismarck cognominava a política. Quanto mais livre tal
político se mantém de grandes idéias tanto mais fáceis, comuns e também
visíveis, sempre entretanto mais rápidos, serão os seus sucessos. É verdade
também que esses estão destinados ao esquecimento dos homens e, às vezes, não
chegam a sobreviver à morte de seus criadores. A obra de tais políticos é, de
modo geral sem valor para a posteridade, pois o seu sucesso no presente repousa
no afastamento de todos os problemas e Idéias grandiosos que como tais teriam
sido de grande importância para as gerações futuras.
A realização de idéias destinadas a ter influência sobre o futuro é pouco
lucrativa e só muito raramente é compreendida pela grande massa, à qual
Interessam mais reduções de preço de cerveja e de leite do que grandes planos de
futuro, de realização tardia e cujo benefício, finalmente, só será usufruído
pela posteridade.
É assim que, por uma certa vaidade, vaidade esta sempre inerente à
política, a maioria dos políticos se afasta de todos os projetos realmente
difíceis, para não perder a simpatia da grande massa. O sucesso e a importância
de tal político residem exclusivamente no presente, e não existem para a
posteridade. Esses microcéfalos pouco se Incomodam com isso: eles se contentam
com pouco.
Outras são as condições do doutrinador. A sua importância quase sempre está
no futuro, por Isso não é raro ser ele considerado lunático. Se a arte do
político é considerada a arte do possível, pode-se dizer do idealista que ele
pertence àqueles que só agradam aos deuses, quando exigem e querem o impossível.
Ele terá de quase sempre renunciar ao reconhecimento do presente; colhe,
entretanto, caso suas idéias sejam imortais, a glória da posteridade.
Em períodos raros da história da humanidade pode acontecer que o política e
o idealista se reunam na mesma pessoa. Quanto mais intima for essa união, tanto
maior serão as resistências opostas à ação do político. Ele não trabalha mais
para as necessidades ao alcance do primeiro burguês, e sim por ideais que só
poucos compreendem. É por isso que sua vida é alvo do amor e do ódio. O protesto
do presente, que não compreende o homem, luta com o reconhecimento da
posteridade pela qual ele trabalha.
Quanto maiores forem as obras de um homem pelo futuro, tanto menos serão
elas compreendidas pelo presente; tanto mais pesada é a luta tanto mais raro é o
sucesso. Se em séculos esse sorri a um, é possível que em seus últimos dias o
circunde um leve halo da glória vindoura. É verdade que esses grandes homens são
os corredores de Maratona da História. A coroa de louros do presente toca mais
comumente às têmporas do herói moribundo.
Entre eles se contam os grandes lutadores que, incompreendidos pelo
presente, estão decididos a lutar por suas idéias e seus ideais. São eles que,
mais tarde, mais de perto, tocarão o coração do povo. Parece até que cada um
sente o dever de no passado redimir o pecado cometido pelo presente. Sua vida e
sua ação são acompanhadas de perto com admiração comovidamente grata, e
conseguem, sobretudo nos dias de tristeza, levantar corações quebrados e almas
desesperadas. Pertencem a essa classe não só os grandes estadistas, como também
todos os grandes reformadores. Ao lado de Frederico o Grande, figura aqui
Martinho Lutero, bem como Ricardo Wagner.
Quando assisti a primeira conferência de Gottfried Feder sobre a "abolição
da escravidão do juro", percebi imediatamente que se tratava aqui de uma
verdadeira teoria destinada a imensa repercussão no futuro do povo alemão. A
separação acentuada entre o capital das bolsas e a economia nacional, oferecia a
possibilidade de se enfrentar a internacionalização da economia alemã, sem
ameaçar o princípio da conservação da existência nacional independente, na luta
contra o capital. Eu via com- bastante clareza o desenvolvimento da Alemanha,
para não perceber que a maior luta não seria contra os povos inimigos e sim
contra o capital internacional. Senti na conferência de Feder o formidável grito
de guerra para a próxima luta.
Os fatos, mais tarde, vieram demonstrar quão certo era o nosso
pressentimento de então. Hoje em dia não somos mais ridicularizados pelos
idiotas da nossa política burguesa; hoje em dia, mesmo esses, desde que não
sejam mentirosos conscientes, reconhecem que o capital internacional não foi só
o maior Instigador da guerra, como, mesmo após o término da luta, continua a
transformar a paz num inferno.
O combate contra a alta finança internacional se tornou um dos pontos
capitais do programa na luta da nação alemã pela sua independência econômica e
pela sua liberdade.
Quanto às restrições feitas pelos chamados homens práticos, pode-se-lhes
responder da seguinte maneira: todos os receios relativos às terríveis
conseqüências econômicas provenientes da realização da abolição da "escravidão
do juro" são supérfluas. Antes de tudo, as receitas econômicas até então usadas
deram muito maus resultados ao povo alemão. As atitudes com relação a uma
afirmação nacional lembram-nos vivamente o parecer de peritos semelhantes de
outros tempos: por exemplo, da junta médica bávara, com relação à questão da
introdução da estrada de ferro. Todos os receios dessa sábia corporação não se
realizaram; os viajantes dos trens, do novo cavalo a vapor, não ficavam tontos,
os espectadores também não ficavam doentes e desistiu-se dos tapumes de madeira
destinados a tomar essa nova organização invisível. Só se conservaram, para a
posteridade, as paredes de madeira nas cabeças de todos os chamados peritos.
Em segundo lugar, deve-se tomar nota do seguinte: toda idéia, por melhor
que ela seja, torna-se perigosa quando ela imagina ser um desideratum, quando na
realidade não é mais do que um meio para um fim. Para mim, porém, e para todos
os verdadeiros nacionais socialistas, só há uma doutrina: Povo e Pátria.
O objetivo da nossa luta deve ser o da garantia da existência e da
multiplicação de nossa raça e do nosso povo, da subsistência de seus filhos e da
pureza do sangue, da liberdade e independência da Pátria, a fim de que o povo
germânico possa amadurecer para realizar a missão que o criador do universo a
ele destinou.
Todo pensamento e toda idéia, todo ensinamento e toda sabedoria, devem
servir a esse fim. Tudo deve ser examinado sob esse ponto de vista e utilizado
ou rejeitado segundo a conveniência. Assim é que não há teoria que se possa
impor como doutrina de destruição, pois tudo tem de servir à vida.
Foi assim que os dogmas de Gottfried Feder me incitaram a me ocupar de uma
maneira decidida com esses assuntos que eu pouco conhecia.
Comecei a aprender e compreender, só agora, o sentido e a finalidade da
obra do judeu Karl Marx. só agora compreendi bem seu livro - "O Capital" - assim
como a luta da social-democracia contra a economia nacional, luta essa que tem
em mira preparar o terreno para o domínio da verdadeira alta finança
internacional.
Também em outro sentido foram esses cursos de grandes conseqüências para
mim. Certo dia pedi a palavra. Um dos presentes achou que devia quebrar lanças
pelos judeus e começou a defendê-los em longas considerações. Essa atitude
provocou de minha parte uma réplica. A grande maioria dos presentes ao curso
colocou-se do meu lado. O resultado, porém, foi que poucos dias depois
determinaram a minha inclusão num regimento de Munique como "oficial de cultura
intelectual".
Naquela época a disciplina da tropa era bem fraca, ela sofria as
conseqüências do período dos "Conselhos de Soldados". Só aos poucos e com muita-
cautela poder-se-ia ir restabelecendo a disciplina militar e a subordinação, em
lugar da obediência "voluntária" - como se costumava designar o chiqueiro sob o
regime de Kurt Eisner. A tropa tinha de aprender a sentir e a pensar de maneira
nacional e patriótica. A minha atividade dirigia-se nesses dois sentidos.
Comecei o trabalho com todo entusiasmo e amor. Tinha de repente a
oportunidade de falar diante de um auditório maior, e aquilo que já antigamente,
sem saber, eu aceitava por puro sentimento, realizou-se: eu sabia "falar".
Também a voz tinha melhorado bastante, a ponto de me fazer ouvir suficientemente
em todos os pontos do pequeno compartimento dos soldados.
Não havia missão que me fizesse mais feliz do que essa, pois agora, antes
de minha saída, poderia prestar serviços úteis à instituição que tão de perto me
tocava o coração: ao exército.
Posso dizer que a minha atuação foi coroada de êxito: centenas, talvez
milhares de camaradas foram por mim reconduzidos, no decorrer das minhas lições,
ao seu povo e à sua Pátria. Eu "nacionalizava" a tropa e podia, por esse meio,
auxiliar a fortalecer a disciplina geral.
Ainda uma vez tive oportunidade de conhecer uma série de camaradas, que
pensavam como eu, e que mais tarde começaram a edificar a base do novo
movimento.
CAPÍTULO IX - O PARTIDO TRABALHISTA ALEMÃO
Um dia recebi ordem da autoridade superior para ir verificar o que se
passava num grêmio aparentemente político, cujo nome era "Partido Trabalhista
Alemão". O dito grêmio pretendia realizar uma reunião por aqueles dias, em que
deveria falar Gottfried Feder. A missão de que fui incumbido era ir até lá
verificar o que se passava e, em seguida, apresentar um relatório.
A curiosidade do exército de então em relação aos partidos políticos era
mais do que compreensível. A revolução tinha dado ao soldado o direito de
participação na política. Desse direito faziam uso justamente os mais
inexperientes. Só no momento em que o Centro e a social-democracia tiveram de
reconhecer, com grande pesar, que as simpatias dos soldados começavam a se
afastar dos partidos revolucionários para se inclinarem pelo movimento de
reerguimento da nação, é que se julgou necessário retirar da tropa o direito de
voto e de participação na política.
Era óbvio que o Centro e o marxismo lançassem mão dessas medidas, pois se
não se tivesse procedido ao corte dos "direitos cívicos" - como se costumava
denominar a igualdade de direitos políticos dos soldados após a revolução - não
teria havido, poucos anos depois, o chamado governo de novembro e,
consequentemente, teria sido evitada essa desonra nacional A tropa estava
naturalmente indicada para livrar a Nação dos sugadores da Entente.
O fato de os chamados partidos "nacionais" concordarem entusiasmados com a
modificação do programa dos criminosos de novembro, para tornar, por esse modo,
ineficiente o exército como instrumento de ressurreição nacional, demonstrou
mais uma vez até onde podem levar as idéias exclusivamente doutrinárias desses
"mais inocentes dos inocentes". Essa burguesia, doente de senilidade mental,
pensava com toda seriedade que o exército voltaria a ser o que tinha sido, isto
é, um sustentáculo da defesa nacional, enquanto o Centro e o Marxismo só
pensavam em lhe extrair. o dente perigoso do nacionalismo, sem o qual o exército
não é mais do que uma policia e nunca uma tropa capaz de lutar com o inimigo.
Tudo isso o futuro encarregou-se de provar à saciedade.
Pensariam porventura, os nossos "políticos nacionais" que a transformação
da mentalidade do exército se pudesse processar em outro sentido que não o
nacional? Essa é a miserável mentalidade desses senhores, e isso provém do fato
deles, em vez, como soldados, terem combatido no front, terem ficado, nas suas
cômodas posições, como parladores, isto é, conversadores parlamentares.
Não podiam ter a mínima idéia do que se passava no coração de homens que a
posteridade reconhecerá como os primeiros soldados do mundo.
Decidi-me então a ir assistir à Assembléia desse partido, até então
inteiramente desconhecido para mim.
Quando cheguei, à noite, ao "Leiberzimmer" da antiga cervejaria Sternecker,
o qual deveria mais tarde se tornar histórico para nós, encontrei ali umas 20 a
25 pessoas, na maioria gente das mais baixas camadas do povo.
A conferência de Feder já me era conhecida dos tempos em que eu freqüentava
os seus cursos, de sorte que fiz abstração da mesma e me preocupei em observar o
auditório.
A impressão que tive não foi má; um grêmio recém-fundado como muitos
outros. Estávamos justamente em uma época em que todo o mundo se julgava
habilitado a fundar um novo partido, isso porque a ninguém agradava o rumo que
as coisas tomavam e os partidos existentes não mereciam nenhuma confiança. Por
toda parte apareciam novas associações que logo depois desapareciam sem deixar o
menor vestígio de sua passagem. Geralmente os fundadores não tinham a menor
idéia do que fosse transformar uma associação em um partido ou mesmo iniciar um
movimento. Soçobravam assim essas fundações, quase sempre diante de sua ridícula
estreiteza de idéias.
Não foi de outra forma que julguei "o Partido Trabalhista Alemão", após
assistir durante duas horas uma de suas sessões. Fiquei contente quando Feder
terminou seu discurso. Tinha visto o bastante, e já me dispunha a sair quando a
anunciada abertura dos debates livres me induziu a ficar. Parecia que tudo ia
correr sem significação, até que, de repente, começou a falar um "Professor", o
qual inicialmente pôs em dúvida a exatidão dos argumentos de Feder. Ante uma
resposta muito adequada de Feder, colocou-se o dito "Professor" de repente "no
terreno das realidades:", sem, porém, deixar de recomendar muito oportunamente
ao jovem partido adotar, como ponto importante de seu programa, a luta pela
"separação" da Baviera da Prússia. O homenzinho afirmava atrevidamente que,
nesse caso, a Áustria alemã sobretudo, se ligaria imediatamente à Baviera, que a
paz seria então muito melhor, e outros absurdos. Não me contive mais e pedi a
palavra, a fim de fazer sentir ao erudito senhor a minha opinião nesse ponto e
fi-lo com tanto sucesso que meu antecessor na tribuna abandonou o recinto como
um cão batido, antes mesmo de eu acabar. Enquanto eu falava, a assistência ouvia
cheia de espanto e quando eu me dispunha a dizer boa-noite à assembléia e
retirar-me, um dos assistentes dirigiu-se a mim, apresentou-se (nem pude
compreender direito o seu nome), colocou em minhas mãos um pequeno livreto,
visivelmente uma brochura política, com o pedido insistente de lê-la.
Para mim isso foi muito agradável, pois era de esperar que, por esse meio,
pudesse conhecer de maneira mais fácil aquela sociedade maçante, sem ter,
depois, de assistir a sessões tão desinteressantes. Além disso, eu tinha tido
uma boa impressão desse desconhecido, que me pareceu ser um operário.
Retirei-me.
Por aquela época,, eu morava no quartel do 2°. regimento de infantaria, num
pequeno cubículo que trazia em si, ainda bem patentes, os sinais da revolução.
Geralmente, durante o dia, eu passava fora, as mais das vezes no regimento de
caçadores n.° 41 ou então em reuniões, em conferências, em outras unidades da
tropa. Somente à noite me recolhia aos meus aposentos. Como costumava acordar
cedo, Já antes de 5 horas, tinha o hábito de divertir-me em jogar, para os
camundongos que passeavam pelo meu cubículo, pedacinhos de pão duro que haviam
sobrado da véspera. Eu ficava a ver esses engraçados animaizinhos se disputarem
essas preciosas iguarias.
Na minha vida eu tinha passado tanta miséria que bem podia imaginar o que
fosse a fome e, portanto, o prazer daqueles bichinhos. Na manhã seguinte àquela
reunião eu estava deitado, mal acordado, lá pelas 5 horas, assistindo o
movimento dos - camundongos. Como não pudesse conciliar o sono, lembrei-me, de
repente, da noite passada, e veio-me à lembrança a brochura que o operário me
havia dado. Comecei a lê-la. Era uma pequena brochura, na qual o autor, o tal
operário, descrevia a maneira pela qual ele tinha chegado de novo ao pensamento
nacionalista através da confusão marxista e das frases ocas das corporações
profissionais. Dai o título - "meu despertar político:". - Desde o início o
livreto me despertou interesses, pois nele se refletia um fenômeno que há doze
anos eu tinha sentido. Involuntariamente vi se avivarem as linhas gerais da
minha própria evolução mental. Durante o dia pensei sobre o assunto várias vezes
e ia pô-lo finalmente de lado, quando, menos de uma semana depois, recebi, com
surpresa minha, um cartão postal anunciando que eu tinha sido aceito sócio do
"Partido Trabalhista Alemão". Pedia-se que eu me externasse a respeito e para
isso viesse na próxima quarta-feira a uma sessão da comissão do Partido. Na
realidade eu me sentia mais do que surpreso por essa maneira de angariar" sócios
e não sabia se me devia zangar ou rir. Eu não pensava em entrar para um partido
já organizado e sim em fundar o meu próprio partido. Essa pretensão de filiar-me
a um partido não me tinha passado pela cabeça. Já me dispunha a responder
àqueles senhores por escrito quando venceu a curiosidade e decidi-me a
comparecer, no dia marcado, a fim de, oralmente, expor os meus motivos.
Chegou quarta-feira. O hotel no qual se devia realizar a sessão anunciada
era o "Alte Rossenbad", na Hermstrasse. Era um lugarzinho modesto onde, só de
quando em quando, aparecia alguma alma penada.
Em 1919 isso não era de estranhar, pois o cardápio mesmo dos hotéis maiores
era pouco atraente, dado a sua modéstia e exiguidade. Este hotel, porém, eu não
conhecia.
Atravessei o salão mal iluminado no qual não havia viva alma. Dirigi-me
para a porta que dá para um quarto lateral e achei-me diante da "assembléia". Na
meia obscuridade de um lampião a gás, meio quebrado, estavam sentados, em redor
de uma mesa, quatro jovens, entre os quais o autor da pequena brochura, o qual
imediatamente me cumprimentou da maneira mais amável e me deu as boas vindas
como novo membro do Partido Trabalhista Alemão.
Na realidade eu estava um tanto embasbacado. Como me comunicassem que o
verdadeiro "presidente do Reich" ainda viria, resolvi adiar, por algum tempo, as
minhas declarações. Finalmente apareceu este. Era o presidente da reunião na
Cervejaria Sterneck, por ocasião da conferência de Feder.
De novo, movido pela curiosidade, esperei pelos acontecimentos.
Agora eu já conhecia os nomes dos vários senhores presentes. O presidente
da "organização do Reich, era um senhor Harr, o da de Munique, um senhor Anton
Drexier.
Em seguida foi lida a ata da última sessão e aprovado um voto de
agradecimento ao conferencista. Veio depois o relatório da caixa. A sociedade
possuía um total de 7 marcos e 50 pfennigs - pelo que o tesoureiro recebeu um
voto de confiança geral. Esse fato foi consignado em ata.
O primeiro presidente tratou em seguida das respostas a uma carta de Kiel,
a uma de Düsseldorf e a outra de Berlim. Todos concordaram com as respostas
apresentadas. Em seguida procedeu-se à comunicação da correspondência entrada:
uma carta de Berlim, uma de Düsseldorf e outra de Kiel, cujo recebimento pareceu
provocar grande contentamento. Considerou-se esse constante aumento de
correspondência como o melhor e mais visível sinal da expansão e importância do
Partido Trabalhista Alemão, e, em seguida, teve lugar um longo debate sobre as
respostas novas a serem dadas,
Horrível, simplesmente horrível. Isso nada mais era do que uma associação
maçante da pior espécie. Nesse clube é que eu devia entrar? Logo depois
tratou-se da aceitação de novos sócios, isto é, tratou-se do meu ingresso para o
clube.
Comecei a fazer-me perguntas. Pondo de parte algumas diretrizes nada mais
havia, nem um programa, nem um panfleto, enfim nada impresso, nem cartões de
sócio nem mesmo um simples carimbo. Havia sim visíveis boa fé e boa vontade.
Perdi a vontade de sorrir, pois o que era tudo isso senão o sina1 típico do
completo atordoamento geral e do inteiro fracasso de todos os partidos, até
então, de seus programas, de suas intenções e de suas atividades? O que levava
esses jovens a se reunirem de uma maneira aparentemente tão ridícula nada mais
era do que o eco de vozes interiores, que, mais por instinto de que
conscientemente, lhe fazia crer na impossibilidade do reerguimento da Nação
alemã bem como da sua convalescença de males interiores por meio de partidos
como o caráter dos até então existentes. Li por alto as diretrizes
datilografadas que havia e vi nelas mais uma ânsia por alguma coisa nova do que
uma realidade. Muita coisa faltava, porém nada havia feito. Em tudo se sentia,
porém, o sinal de uma aspiração de todos.
O que essas criaturas sentiam eu bem o sabia; era o desejo por um novo
movimento que deveria ser mais do que um partido na acepção corrente da palavra.
Quando naquela noite voltei ao quartel, tinha meu juízo formado com relação
a esse grêmio.
Achava-me talvez diante da mais difícil interrogação de minha vida: deveria
cooperar nesse setor ou recusar-me?
A razão só podia aconselhar a recusa, o sentimento, porém, não me deixou
sossegar e quanto mais vezes eu procurava me convencer da tolice disso tudo,
tanto mais o sentimento me inclinava para esse agrupamento de jovens.
Os dias que se seguiram foram de desassossego para mim.
Comecei a pensar. Há muito que estava decidido a tomar parte ativa na
política.
Para mim era claro que isso deveria se dar por meio de um novo movimento,
somente me tinha faltado até então um impulso para a atividade. Eu não pertenço
à categoria das pessoas que começam hoje uma coisa para, no dia seguinte,
abandonarem-na ou passarem a outra. Justamente essa convicção era o motivo
principal por que eu dificilmente me resolveria a uma tal fundação nova, a qual
seria tudo ou deixaria de existir. Eu sabia que isso seria decisivo para mim e
não havia a possibilidade de um "recuo"; tratava-se pois, não de uma brincadeira
passageira e sim de algo muito sério. Já naquele tempo eu tinha uma aversão
instintiva por pessoas que tudo começavam sem nada acabar. Todos esses
trapalhões me eram odiosos. Eu considerava a atividade dessas criaturas pior do
que a ociosidade.
Até o destino parecia me estar dando uma indicação. Nunca eu teria aderido
a um dos grandes partidos e mais tarde explicarei mais claramente os motivos.
Essa pequeníssima fundação, possuindo uma meia dúzia de sócios, pareceu-me ter a
vantagem de não se ter ainda fossilizado em uma "organização". Ela parecia
oferecer a impossibilidade de uma verdadeira atividade pessoal a cada um. Aqui
ainda se poderia trabalhar e, quanto menor fosse o movimento, mais fácil seria
conduzi-la pelo caminho certo. Aqui se poderia ainda determinar o caráter
objetivo e os métodos da organização, o que não se poderia pensai' em fazer
tratando-se dos glandes partidos. Quanto mais eu refletia sobre o assunto mais
crescia em mim a convicção de que justamente de um tal movimento pequeno é que
algum dia poderia ser preparado o reerguimento da nação, e nunca dos partidos
políticos parlamentares, presos a velhos preconceitos ou mesmo dependentes dos
proveitos do novo regime.
O que se deveria anunciar aqui era um novo princípio universal e não uma
nova propaganda eleitoral.
Na verdade uma decisão imensamente difícil essa de transformar uma intenção
em realidade.
Que antecedentes tinha eu para poder arcar com tarefa de tal vulto? O fato
de ser pobre, de não possuir recursos financeiros, parecia o menos; mais difícil
era a circunstância de pertencer eu à categoria dos desconhecidos, um entre
milhões, que o acaso deixa viver ou arranca da vida, sem que o mundo mais
próximo disso tome o menor conhecimento. A tudo isso se juntava a dificuldade
proveniente de minha falta de instrução.
A chamada "intelectualidade" vê com infinito desdém todo aquele que não
passou pelas escolas oficiais, a fim de se deixar encher de sabedoria. Nunca se
pergunta: Que sabe o indivíduo e sim: que estudou ele? Para essas criaturas
"cultas" mais vale a cabeça oca, que vem protegida por diplomas, do que o mais
vivo rapazola que não possua tais canudos. Era, pois, fácil para mim imaginar a
maneira pela qual esse mundo oculto - se me oporia e só me enganei pelo fato de
naquele tempo ainda considerar os homens melhores do que na realidade o são. É
verdade que há exceções, que naturalmente brilharão com tanto maior fulgor.
Aprendi, entretanto, a distinguir entre os eternos estudantes e os verdadeiros
conhecedores.
Após dois dias de tormentosos pensamentos e meditações convenci-me de que
devia dar o passo.
Foi essa a decisão de maiores conseqüências em toda a minha vida.
Não havia e não podia haver um recuo. Aceitei a minha inclusão como sócio
do Partido Trabalhista Alemão e recebi um cartão provisório de sócio, com o
numero sete.
CAPÍTULO X - CAUSAS PRIMÁRIAS DO COLAPSO
A extensão da queda de qualquer corpo é sempre medida pela distância entre
a sua posição no momento e a que ocupava anteriormente. O mesmo acontece com a
ruína dos povos e dos Estados. A posição primitiva tem, por isso, uma
importância capital. Só o que se esforça por ultrapassar as fronteiras normais
poderá cair e arruinar-se. A todos os que pensam e sentem, isso faz com que a
ruína do Império apareça sob aspecto tão grave e horrível, pois assim o colapso
é visto de uma altura de que, hoje, diante das proporções das desgraças atuais,
dificilmente se pode fazer uma idéia exata.
O Império tinha surgido abrilhantado por um acontecimento que entusiasmava
toda a nação. O Reich nasceu depois de uma série de vitórias sem paralelo, como
um coroamento glorioso ao imortal heroísmo dos seus filhos. Consciente ou
inconscientemente, pouco importa, os alemães estavam todos possuídos do
sentimento de que o Império não devia a sua existência às trapaças dos
parlamentos partidários, mas, ao contrário, pela maneira sublime por que fora
fundado, elevava-se muito acima da média dos outros Estados.
O ato festivo que anunciou que os alemães, príncipes e povo, estavam
resolvidos a, de futuro, fundai um império e de novo alcançar a coroa imperial
como símbolo das suas glórias, não foi comemorado através do cacarejo de uma
arenga parlamentar mas ao ribombar dos canhões no cerco de Paris. Não se
verificou nenhum assassinato, nem foram desertores nem embusteiros que fundaram
o Estado de Bismarck, mas sim os regimentos do front.
Esse nascimento original, com o seu batismo de fogo, já era por si só
suficiente para envolver o Império de um halo de glória, fato que apenas com os
Estados antigos se verificara e isso mesmo raramente.E que progresso isso
provocou!
A liberdade no exterior proporcionou o pão quotidiano no interior. A nação
enriqueceu-se em número e em bens terrenos. Mas a honra do Estado e com ela a de
todo o povo estava protegida por um exército que tornava evidente a diferença
entre a nova situação e a da antiga Confederação Germânica.
O golpe desfechado sobre o império alemão e sobre o seu povo foi tão forte
que o povo e governo, como tomados de vertigem, parecem haver perdido a
capacidade de sentir e refletir. Difícil é evocar a antiga grandeza, tão
fantástica nos aparece a glória dos tempos de outrora comparada com a miséria de
hoje. E isso porque os homens se deixam ofuscar pela grandeza e se esquecem de
procurar os sintomas do grande colapso que, mesmo na época de prosperidade,
deviam existir, de uma ou de outra forma.
Naturalmente isso se aplica àqueles para os quais a Alemanha era mais
alguma coisa do que um campo para ganhar e desperdiçar dinheiro, pois só aqueles
podem ver na situação atual uma verdadeira catástrofe, ao passo que aos outros
só preocupa a satisfação dos seus apetites até então ilimitados.
Embora esses sinais já fossem visíveis, muito poucas pessoas se preocupavam
em deles retirar lições definitivas. Esse estudo é hoje mais necessário do que
nunca.
Assim como só se consegue a salvação de um doente quando a causa da
moléstia é conhecida, na cura das devastações políticas é preciso também
conhecer os precedentes. É verdade que se costuma considerar mais fácil a
descoberta de uma moléstia pela sua aparência do que pelas causas íntimas. Aí
está a razão por que tantas pessoas nunca conseguem passar do conhecimento dos
efeitos externos e mesmo os confundem com as causas, cuja existência, aliás, se
comprazem em negar.
Por isso, a maioria do povo alemão reconhece agora a ruma da Alemanha
apenas pela pobreza econômica geral e seus resultados. Quase todos são atingidos
por essa crise, razão por que cada um pode avaliar a extensão da catástrofe.
Compreende-se que isso assim aconteça com a massa popular. O fato, porém,
de as camadas inteligentes da comunidade verem o colapso do país antes de tudo
como uma catástrofe econômica e pensarem que a salvação está em providências de
ordem econômica, é a razão por que até agora não foi possível a aplicação de uma
terapêutica eficaz.
Enquanto não estiverem todos convencidos de que o problema econômico vem em
segundo ou mesmo terceiro lugar, e que os fatores éticos e raciais são os
predominantes, não se poderá compreender as causas da infelicidade atual e
impossível será descobrir os meios e métodos de remediar essa situação.
O problema da pesquisa das causas da ruína alemã é, por isso, de
importância decisiva, sobretudo tratando se de um movimento político cujo
objetivo aliás deve ser a solução da crise. Em uma tal pesquisa através do
passado, deve-se evitar confundir os fatos que mais ferem a vista com as causas
menos visíveis.
A mais cômoda (por isso a mais geralmente aceita) razão para explicar as
nossas desgraças atuais consiste em atribuir à perda da Grande Guerra a causa do
presente mal-estar.
Provavelmente muitos acreditam sinceramente nesse absurdo, mas, na maioria
dos casos, esse argumento é uma mentira consciente.
Essa última afirmação se ajusta perfeitamente àqueles que se comprimem em
torno da gamela governamental.
Não foram justamente os arautos da Revolução ,que declararam freqüentemente
e, da maneira a mais ardorosa, que, para a grande massa do povo, o resultado da
guerra era indiferente?
Não asseguraram eles que só o "grande capitalista" tinha interesses na
vitória da monstruosa guerra e nunca o povo em si e muito menos o operário
alemão?
Não proclamaram os apóstolos da confraternização universal que, com a
derrota da Alemanha, só o "Militarismo" havia sido vencido e que, o povo, ao
contrário, nisso devia ver a sua magnífica ressurreição?
Não se proclamou nesses círculos a generosidade da Entente e não se lançou
a culpa da guerra sobre a Alemanha? Ter-se-ia podido fazer essa propaganda sem o
esclarecimento de que a derrota do exército seria sem conseqüências para a vida
da nação?
Não foi o grito de guerra da Revolução que, com ela, a vitória do pavilhão
alemão tinha sido evitada, mas somente com ela a nação alemã conseguiria
completamente a sua liberdade interna e externa?
Não eram esses indivíduos mentirosos e infames?
É característico da impudência do verdadeiro judeu atribuir ele à derrota
militar a causa do colapso da nação, enquanto o "Órgão central de todas as
traições nacionais", o Vorwãrts, de Berlim, escrevia que desta vez à nação alemã
não seria permitido voltar com o seu pavilhão vitorioso. E agora a derrota
militar deve ser vista como causa da nossa ruína!
É evidente que não valeria a pena tentar lutar contra esses mentirosos
desmemoriados. E, por isso, eu também não perderia uma só palavra com eles, se
esse erro absurdo não fosse aplaudido por tanta gente irrefletida, que não se
apercebe da perversidade e da falsidade conscientes desses mentirosos. Demais,
as discussões podem oferecer recursos que facilitam o esclarecimento dos nossos
adeptos, recursos esses muito necessários em um tempo em que é costume torcer o
sentido das palavras.
A resposta à afirmativa- de que a perda da guerra é a causa dos nossos
males atuais deve ser a seguinte:
Naturalmente a perda da guerra teve um efeito terrível sobre o destino do
nosso país, mas não foi uma causa e sim o efeito de várias causas.
Todos os homens inteligentes e bem intencionados sabem muito bem que o
desfecho infeliz daquela luta de vida e morte só poderia produzir efeitos
desastrados. Mas há muitos que infelizmente deixaram de compreender essa verdade
no momento propício ou que, embora convencidos do erro, negavam-na com afinco.
Esses eram, na sua maior parte, os que, depois de realizados os seus
desejos secretos, conseguiam chegar a outra concepção da catástrofe.
Eles são as causas criminosas do colapso e não a perda da guerra como se
compraziam em sustentar.
A perda da guerra foi simplesmente o resultado da ação desse indivíduos e,
de nenhuma forma, pode ser atribuída a "má direção", como eles afirmam agora.
Os inimigos não eram compostos de covardes, eles também sabiam se bater e,
desde o primeiro dia da luta, tinham superioridade numérica sobre o exército
alemão, além de poderem contar com a indústria de todo o mundo para o
fornecimento de armamentos técnicos. E, apesar de tudo, não podemos deixar de
proclamar que as constantes vitórias alemães, durante quatro anos de ásperas
lutas contra o mundo inteiro, foram devidas, pondo-se de parte o heroísmo do
nosso soldado e a boa organização do exército, exclusivamente a uma direção
superior. A organização e a direção do nosso exército eram as mais perfeitas que
jamais existiram no mundo. As suas falhas devem-se à limitação dos poderes
humanos de resistência.
A derrota desse exército não foi a causa das nossas infelicidades atuais,
mas simplesmente a conseqüência de outros crimes, um dos quais precipitou um
outro colapso, bem patente aos olhos de todos.
O fato de ter esse exército sido derrotado não foi a causa de nossa
infelicidade de hoje, mas a conseqüência do crime de outros, de uma causa que,
por ai só, deveria provocar o começo de uma maior e mais visível catástrofe.
A verdade disso resulta das seguintes razões:
Uma derrota militar deve ter como conseqüência a ruína de uma nação e de
seu Governo? Desde quando é essa a conseqüência fatal de uma guerra mal
sucedida?
As nações, de fato, jamais se arruinaram semente pela perda de uma guerra?
Essa pergunta pode ser respondida em poucas palavras.
Isso sempre acontece quando a derrota militar de um povo é devida à
negligência, covardia, falta de caráter ou indignidade da nação. Se essa
hipótese não se verifica, a derrota militar, em vez de ser vista com o túmulo de
um povo, deve servir de estímulo para que todos trabalhem por um futuro melhor.
A história está repleta de inúmeros exemplos que comprovam a correção dessa
afirmativa.
A derrota militar da Alemanha foi, não uma imerecida catástrofe mas um
castigo a que fizemos jus pelos nossos próprios erros. A derrota foi mais do que
merecida. Foi apenas o sintoma exterior de uma longa série de sintomas internos
que se conservaram invisíveis à maioria dos homens ou que ninguém quis observar.
Observe-se a simpatia com que o povo alemão recebeu essa catástrofe. Em
muitos setores não se manifestou contentamento, e, da maneira mais vergonhosa,
pela derrota da Pátria?
Quem faria isso, se o povo não merecesse esse castigo? Não se ia mais
longe, até ao ponto do regozijo, por se ter enfraquecido a linha da frente? Isso
não se deve ao inimigo. Essa vergonha deve-se aos próprios alemães. Por ventura
a infelicidade provoca a injustiça?
Pela maneira por que o povo alemão recebeu a catástrofe pode-se claramente
descobrir que a verdadeira causa da nossa ruma deve ser procurada em outra parte
e não na perda de posições militares ou na direção da ofensiva.
Se as tropas no front, entregues a si mesmas, tivessem realmente abandonado
os seus postos, se o desastre nacional tivesse sido devido a um fracasso
militar, a nação alemão teria visto a derrocada de outra maneira. O povo teria
aceito a grande desgraça com irritação ou teria caído em estado de prostração.
Irritar-se-iam os alemães contra a sorte desfavorável ou contra o Inimigo
vitorioso. Então, a nação agiria como o Senado romano, que foi ao encontro das
divisões vencidas, com o agradecimento da Pátria pelo sacrifício feito e com o
apelo para que confiassem no governo.
A capitulação teria sido assinada com inteligência, e o coração do povo
começaria a palpitar pela ressurreição futura. Assim, a derrota teria sido
aceita como produto da fatalidade. Não se teria festejado a derrota, a covardia
não teria proclamado com orgulho a má sorte do exército, as tropas combatentes
não teriam sido objeto de mofa e as cores nacionais não teriam sido arrastadas
na lama. E, sobretudo, não se teria criado esse estado de espírito que inspirou
a um oficial inglês, coronel Repington, a declaração de que "em cada grupo de
três alemães havia um traidor".
Não! A pestilência nunca teria alcançado essas proporções, tão
consideráveis que fizeram com que o mundo perdesse o resto de respeito que tinha
por nós.
Por ai se percebe claramente a mentira da afirmação que consiste em
atribuir ao fracasso da guerra a causa da ruína do país.
O fracasso militar, foi não há dúvida, a conseqüência de uma série de
manifestações doentias de uma parte da nação. Essas manifestações já vinham
infeccionando o país antes da guerra. A derrota foi o primeiro resultado
catastrófico visível, por parte do povo, de um envenenamento moral, que
consistia no enfraquecimento do instinto de conservação, resultante da
propaganda de doutrinas que, de há muitos anos, vinham minando os fundamentos da
nação e do Império.
Era natural que o judeu, acostumado à mentira, e o espírito combativo do
seu marxismo, procurassem lançar a responsabilidade do desastre da nação sobre
um homem, justamente o que, com uma vontade e uma energia sobre-humanas, tentou
evitar a catástrofe que havia previsto e poupar à nação um período de
sofrimentos e humilhações. Lançando sobre Ludendorf a responsabilidade da
derrota na guerra, eles desarmaram moralmente o único adversário bastante
perigoso para enfrentar os traidores da Pátria.
Resulta da própria natureza das coisas que no volume da mentira está uma
razão para ela ser mais facilmente acreditada, pois a massa popular, nos seus
mais profundos sentimentos, não sendo má, consciente e deliberadamente, é menos
corrompida e, devido à simplicidade do seu caráter, é mais freqüentemente vítima
de grandes mentiras do que de pequenas. Em pequeninas coisas ela também mente,
enquanto que das grandes mentiras ela se envergonha.
Uma tal inverdade nunca lhe passaria pela cabeça e também não acreditaria
que alguém fosse capaz da inaudita impudência de tão infame calúnia. Mesmo
depois de explicações sobre o caso, as massas, durante muito tempo, mantêm-se na
dúvida, vacilando, antes de aceitar como verdadeiras quaisquer causas. É um fato
também que da mais descarada mentira sempre fica alguma coisa, verdade essa que
todos os grandes artistas da mentira e suas quadrilhas conhecem muito bem e dela
se aproveitam da maneira mais infame.
Os maiores conhecedores das possibilidades do emprego da mentira e da
calúnia foram, em todos os tempos os judeus. Começa, entre eles, a mentira por
tentarem provar ao mundo que a questão Judaica é uma questão religiosa, quando,
na realidade, trata-se apenas de um problema de raça e que raça! Um dos maiores
espíritos da humanidade perpetuou em uma frase imorredoura o julgamento sobre
esse povo, quando os designou como "os maiores mestres da mentira". Quem não
reconhecer essa verdade ou não quiser reconhecê-la, não poderá nunca concorrer
para a vitória da verdade neste planeta.
Foi, pode-se dizer, uma grande felicidade para a nação alemã que a epidemia
nacional que se vinha alastrando lentamente tivesse de repente chegado ao seu
período mais agudo, com todos os seus efeitos catastróficos. Se as coisas se
tivessem passado de outra maneira, a nação teria marchado para a ruína mais
lentamente talvez, mais firmemente porém. A moléstia ter-se-ia tornado crônica e
passaria quase despercebida, ao passo que, na sua forma aguda, atraiu a atenção
de um número mais considerável de observadores e por eles pôde ser compreendida.
Não foi obra do acaso que os homens tivessem vencido a peste mais facilmente do
que a tuberculose. A primeira aparece fazendo inúmeras vítimas, o que
impressiona a toda gente; a segunda introduz-se lentamente. Uma inspira o
terror, a outra a indiferença crescente. A conseqüência disso é que os homens
combatem a peste da maneira mais enérgica, enquanto procuram vencer a
tuberculose por métodos ineficientes. Por isso os homens venceram a peste, mas
foram vencidos pela tuberculose. O mesmo se aplica às afecções do organismo
político. Quando não se apresentam sob a forma catastrófica, toda gente a elas
aos poucos se acostuma para, finalmente, depois de um período mais ou menos
prolongado, ser vítima das mesmas.
É, pois, uma felicidade, embora amarga, que a Providência tenha decidido
intrometer-se nesse lento processo de corrupção e, de um golpe rápido, tenha
evidenciado o combate à moléstia, aos que a haviam compreendido.
Essas catástrofes sucedem-se freqüentemente. Por isso devem ser vistas como
causas para que se promova a salvação da maneira mais decidida.
Em caso idêntico, essa hipótese vale pelo reconhecimento das causas intimas
que ocasionam o mal em questão. É importante lazer a diferença entre os
responsáveis pelo mal e a situação por eles provocada. Essa situação torna-se
mais difícil, à proporção que os germes da moléstia tomam conta do corpo e nele
se julgam estar em habitat próprio.
Pode acontecer que, depois de um certo tempo, certos venenos sejam vistos
como fazendo parte do organismo ou pelo menos como a ele necessários. Assim
considera-se como inútil pesquisar o autor do envenenamento.
Nos longos períodos de paz que precederam a Grande Guerra, constatavam-se
vários males, sem que alguém se preocupasse em descobrir os seus responsáveis,
salvo em casos excepcionais. Essas exceções se verificaram principalmente no
domínio econômico que, aos indivíduos, mais impressionam do que quaisquer outros
males.
Havia vários outros sintomas de decadência que a um observador
consciencioso deveriam impressionar.
Sob o ponto de vista econômico, eram naturais as seguintes observações: O
impressionante aumento da população da Alemanha, antes da Guerra, fez com que a
questão da alimentação mínima que se deveria assegurar ao povo tomasse uma
posição de destaque entre os pensadores e os homens práticos que se interessavam
pela vida político-econômica da nação. Infelizmente, porém, eles não puderam se
resolver a tomar a única solução aconselhável, porque imaginavam poder chegar ao
seu objetivo por métodos homeopáticos. Renunciaram à idéia de adquirir novos
territórios e, em substituição a essa política, lançaram-se loucamente na
política de conquistas econômicas, que, forçosamente, havia de levá-los por fim
a uma industrialização sem limites e prejudicial à nação.
O primeiro resultado - e o mais fatal - foi o enfraquecimento da classe
agrícola. À proporção que essa classe se arruinava, o proletariado acumulava-se
nas grandes cidades, perturbando por fim o equilíbrio nacional.
O abismo entre ricos e pobres tornou se mais sensível. A superfluidade e a
pobreza viviam em contato tão íntimo que as conseqüências desse fato só poderiam
ser as mais deploráveis. A pobreza e a grande falta de emprego começaram a
arruinar o povo e a criar o descontentamento e o ódio.
A conseqüência disso foi a luta política de classes.
Em todas as castas econômicas, o descontentamento tornava-se cada vez maior
e mais profundo. Chegou a um ponto em que era opinião geral que "isso não podia
continuar", sem que, porém, surgisse uma orientação sobre o que se deveria ou
poderia fazer. Eram os sinais característicos de um profundo descontentamento
geral que, por esse meio, se faziam sentir.
Havia fenômenos ainda mais deploráveis, ligados à industrialização do país.
Com a dominação do Estado pela indústria, o dinheiro tornou-se um deus a quem
todos teriam de servir e render homenagem.
Os deuses celestiais saíram da moda, tornaram-se coisas do passado e, no
seu lugar, instalou-se a orgia dos idólatras de Mamon.
Começou, então, um período de desmoralização, de péssimos efeitos,
sobretudo porque se iniciou em um momento em que a nação, mais do que nunca,
precisava dos mais elevados sentimentos de heroísmo para enfrentar o perigo que
a ameaçava. A Alemanha deveria estar se preparando para um dia amparar, com a
espada, seu esforço para garantir a alimentação do povo, por meio de uma
"atividade econômica pacifica".
Infelizmente a dominação do dinheiro foi sancionada justamente onde deveria
ter encontrado maior oposição. Foi uma infeliz inspiração a de Sua Majestade
induzir a nobreza a entrar no círculo dos novos financistas. Sirva de desculpa
para o Kaiser o fato do próprio Bismarck não ter compreendido esse perigo. A
verdade, porém, é que desde então as grandes idéias cederam o lugar ao dinheiro.
Uma vez que tomou esse caminho, a nobreza da espada teria que ficar abaixo da
nobreza das finanças.
Não era nada convidativo aos verdadeiros heróis e aos estadistas serem
colocados no mesmo plano dos judeus dos bancos. Os homens da merecimento real
não podiam ter interesses em possuir condecorações facilmente adquiridas. Ao
contrário, evitavam-nas.
Sob o ponto de vista racial, esse fato era de conseqüências deploráveis. A
nobreza perdia cada vez mais a razão racial de sua existência e, na sua grande
maioria, podia-se com propriedade dar-lhe o qualificativo contrário.
Um sintoma da ruína econômica foi a lenta eliminação do direito de
propriedade individual e a passagem gradual da economia do povo para a
propriedade das sociedades por ações.
Por esse sistema, .o trabalho desceu a objeto de especulação doa
traficantes sem consciência. A alienação da propriedade aos capitalistas
progrediu. A Bolsa começou a triunfar e preparou-se a pôr, lenta, mas
firmemente, a vida da nação sob sua proteção e controle.
Antes da guerra, a internacionalização dos negócios alemães já estava em
andamento, sob o disfarce das sociedades por ações. É verdade que uma parte da
indústria alemã fez uma decidida tentativa para evitar o perigo, mas, por fim,
foi vencida por- uma investida combinada do capitalismo ambicioso, auxiliado
pelos seus aliados do movimento marxista.
A guerra persistente contra as "indústrias pesadas" da Alemanha foi o ponto
de partida visível da internacionalização que se processava com a ajuda do
marxismo. É o único meio de completar a obra era assegurar a vitória do marxismo
- por meio da Revolução.
No momento em que escrevo estas linhas, espera-se o êxito da tentativa de
passar as mãos do capitalismo Internacional os. caminhos de ferro da Alemanha. A
social-democracia "internacional" com isso alcançará um dos seus mais elevados
objetivos.
Até que ponto essa "dissipação" da economia alemã tinha chegado vê-se
claramente no fato de, depois da Guerra, um dos guias da indústria nacional e,
sobretudo do comércio, fazer a declaração de que só a economia do país estava em
situação de poder levantar a Alemanha.
A esse erro não se deu, no momento, o valor esperado, porque a França, nas
suas escolas, deu todo destaque à educação sobre bases humanísticas, para evitar
o erro de confiarem a nação e o Governo a sua existência a motivos econômicos e
não aos eternos valores ideais.
A afirmação feita por Stinnes provocou uma incrível confusão, mas foi logo
aceita, com uma pressa alarmante, como leit motiv de todos os remendões e
charlatães que o acaso tinha guindado à posição de "estadistas".
Uma das piores provas de decadência da Alemanha, já antes da Guerra, era a
quase indiferença geral que se notava a respeito de tudo. Essa situação mental é
sempre a conseqüência da incerteza sobre as coisas. Dessa e de outras causas
surge a pusilanimidade como conseqüência fatal. O sistema educacional contribuía
para agravar essa situação.
Havia muitos pontos fracos na educação dos alemães, antes da Guerra. Eram
inspirados em um sistema unilateral, visando principalmente a instrução pura,
sem se preocupar em fornecer ao povo a capacidade prática Menos ainda se pensava
na formação do caráter, muito pouco se cogitava de encorajar o senso da
responsabilidade e nada absolutamente sobre cultivo da força de vontade e de
decisão.
A conseqüência disso é que não se faziam homens fortes mas maleáveis
sabichões. Assim eram universalmente considerados os alemães antes da Guerra e,
por esses motivos, é que gozavam de consideração. O alemão era estimado porque
era útil, mas devido à sua falta de força de vontade ele era pouco respeitado.
Nisso estava o motivo por que ele trocava a sua nacionalidade por outra, mais
facilmente do que qualquer outro povo. este provérbio: "Com o chapéu na mão pode
se percorrer o mundo", define essa mentalidade.
Os efeitos dessa maleabilidade tornaram-se ainda mais desastrosos quando
influíram na forma por que todos se deveriam portar junto ao soberano. O uso era
não replicar mas aprovar tudo o que o Soberano entendesse de ordenar. E, no
entanto, era justamente nesse caso que mais necessária se fazia a existência de
homens dignos e independentes. Ao contrário, a subserviência geral arrastaria um
dia o Império à ruína. Vivia-se em um mundo todo de lisonjas.
Só aos bajuladores e aos servis, em uma palavra, aos elementos decadentes
de uma nação que sempre se sentaram bem junto aos mais altos tronos, mais à
vontade do que os homens honestos e independentes, poderá parecer essa a única
forma de relações de um povo para com os seus monarcas! Essas criaturas, tipo
"humilde servo", em todas as suas humilhações junto aos seus senhores, aos que
lhes dão o pão, sempre demonstraram o maior atrevimento em relação ao resto da
humanidade, sobretudo quando, com o maior despudor, como os únicos
"monarquistas", se comparam ao resto dos mortais. Isso constitui uma verdadeira
impudência de que só vermes, nobres ou plebeus, são capazes. Na realidade esses
homens foram sempre os cordeiros da monarquia e sobretudo do pensamento
monárquico. É impossível pensar de outra maneira, pois um homem capaz de
responder por alguma coisa nunca poderá ser um hipócrita e um bajulador, um sem
caráter. Se ele está seriamente empenhado na conservação e desenvolvimento de
uma instituição dará a isso todo o esforço de que é capaz e nunca abandonará o
seu posto, quaisquer que sejam os riscos que aparecerem. Um homem assim não
aproveita todas as oportunidades para berrar em público, da maneira mais
hipócrita, como fazem os amigos "democráticos", da monarquia. Ao contrário. ele
procurará aconselhar e advertir Sua Majestade, o próprio depositário da coroa.
Ele não se colocará no ponto de vista de que Sua Majestade deve conservar
as mãos livres para agir à vontade, mesmo que isso visivelmente conduzisse a um
desastre! Ao contrário, assim agindo protegerá a monarquia contra o monarca,
evitando-lhe todos os perigos. Se o mérito dessa coordenação dependesse da
pessoa de cada monarca, então a monarquia seria a pior instituição imaginável,
pois só em rasos raríssimos, os monarcas são depositários da mais alta
sabedoria, da razão mais perfeita ou mesmo do caráter mais puro. Nisso só
acreditam os bajuladores e hipócritas. Todos os espíritos retos e esses são os
elementos de mais valor do Estado - sentirão repulsa em defender erro tão grave.
Essa situação é boa para sicofantas, mas os homens de bem - que,
felizmente, ainda são a maioria da nação - só repulsa poderiam sentir por uma
prática tão absurda. Para esses a história é a história e a verdade é sempre a
verdade, mesmo quando se trata de um monarca. A felicidade de possuir um grande
monarca e um grande homem combinados na mesma pessoa é tão rara na vida das
nações que elas têm de se contentar com que a maldade da sorte poupe-as ao menos
dos erros mais graves.
A virtude e a significação da idéia monárquica não podem essencialmente
estar ligadas à pessoa do monarca, a menos que Deus se digne pôr a coroa sobre a
cabeça de um grande herói como Frederico o Grande ou um caráter prudente como
Guilherme I. Isso pode acontecer uma vez em vários séculos, raras vezes mais
freqüentemente. A idéia vem antes da pessoa, a sua significação deve repousar
exclusivamente na própria instituição, e o monarca entrará na lista dos que o
servem. Ele passa a ser considerado como mais uma roda na máquina política do
Estado, perante o qual tem deveres como toda gente. Ele também terá que se bater
pela realização dos grandes objetivos nacionais e "monarquista" não será mais o
depositário da coroa que consente nas maiores ofensas à mesma, mas, ao
contrário, aquele que a defende. Se a predominância não fosse dada à idéia mas
às pessoas, consideradas "sagradas", quaisquer que elas fossem, nunca se deveria
empreender o afastamento de um príncipe - visivelmente louco.
É necessário que se aceite essa verdade agora que aparecem à tona cada vez
mais os sinais ocultos no passado, aos quais se deve atribuir, e não em pequena
escala, o fato de ter sido impossível evitar a ruína da monarquia. Com uma
ingênua imperturbabilidade, continua essa gente a falar no "seu rei", rei que há
poucos anos, eles abandonaram miseravelmente na hora crítica e começaram a
apontar como maus alemães todos aqueles que não estão dispostos a concordar com
as suas idéias. Na realidade, eles são os mesmos poltrões que, em 1918, diante
de qualquer fita vermelha, fugiam espavoridos, viam "seu rei" deixar de ser rei,
trocavam precipitadamente a alabarda pela "bengala" e, como pacíficos burgueses,
desapareciam como por encanto. De um golpe eles foram afastados, esses campeões
do rei, e só depois de passada a tempestade revolucionária, o que se deveu à
atividade de outros, e que, de novo, se tornou possível dar vivas ao rei,
começaram esses "criados e conselheiros" da coroa a aparecer na superfície.
Agora estão todos aí a chorar de novo, pelas cebolas do Egito, lembrando-se do
passado; mal se podem conter de tanta fidelidade ao rei, de tanta vontade de
luta, até que um dia apareça a primeira fita vermelha. Então o barulho em favor
da monarquia de novo desaparecerá, e eles fugirão como ratos diante de gatos.
Se os monarcas não fossem eles próprios culpados por esses fatos
poder-se-ia ao menos lastimá-los por terem eles esses defensores de hoje.
Eles devem, porém, se convencer que, com tais cavalheiros, é fácil perder
um trono, mas nunca conquistar uma coroa.
Essa pusilanimidade era um erro da nossa educação que reagia da maneira
mais desastrada na vida política. Aos seus efeitos se devem os lastimáveis
sintomas visíveis em todas as cortes e neles devem-se procurar as causas do
progressivo enfraquecimento da instituição monárquica. Quando o edifício começou
a abalar-se, os seus defensores como que se evaporaram. Os bajuladores não se
deixaram matar pelos seus senhores. Porque os monarcas nunca se aperceberam
dessa situação e, quase por uma questão de princípio, jamais trataram de
estudá-la, ela se transformou na causa de sua ruína.
Um dos resultados dessa educação mal orientada era o receio de enfrentar as
responsabilidades e dai a fraqueza na maneira de resolver os problemas
essenciais da nação.
O ponto de partida dessa epidemia está, entre nós, sobretudo na instituição
do parlamentarismo, onde a irresponsabilidade era francamente cultivada cm
estufa. Infelizmente essa moléstia lentamente contaminou toda a vida do país e
mais intensamente a vida política. Por toda parte, começou a enfraquecer-se a
noção da responsabilidade e, em conseqüência disso, dava-se preferência em tudo
às meias medidas, pelo emprego das quais, o número das pessoas de
responsabilidade foi sempre se restringindo cada vez mais, observe-se apenas a
conduta do próprio Império, em face de uma série de sintomas alarmantes de nossa
vida pública, e logo se perceberá a terrível significação dessa geral covardia e
indecisão, conseqüência da falta da noção da responsabilidade.
Mostrarei alguns casos dentre os inúmeros que ocorrem.
Nos meios jornalísticos é costume apontar a imprensa como um "grande poder"
dentro do Estado. É verdade que é imensa a sua importância atual. Dificilmente
se pode avaliar todo o seu prestigio. Na realidade a sua missão é de continuar a
educação do povo até a uma idade avançada.
Em conjunto podem ser divididos os leitores de jornais em três grandes
grupos:
1.° O dos que acreditam em tudo que lêem.
2.° O daqueles que já não mais acreditam em coisa alguma.
3.° O dos que submetem tudo o que lêem à crítica para chegarem, a um
julgamento seguro.
O primeiro grupo é muito mais numeroso que os outros. Compõe se da grande
massa do povo e, por isso mesmo, da parte intelectualmente mais fraca da nação.
Não pode ser designado por classes, mas pelo grau de inteligência. A esse grupo
pertencem todos os que não nasceram para ter pensamento independente ou não
foram educados para isso e que, em parte por incapacidade e em parte por falta
de vontade, acreditam em tudo que lhes é apresentado em letra de fôrma. A essa
classe também pertencem os preguiçosos que podem pensar mas, por mera
indolência, agradecidos, aceitam tudo o que os outros pensam, na suposição de
que esses já chegaram a essas conclusões com muito esforço. Para toda essa
gente, que representa a grande massa do povo, a influência da imprensa é
fantástica. Eles não estão em condições, por falta de cultura ou por não o
quererem, de examinar as idéias que se lhes apresentam. Assim, a maneira de
encarar os problemas do dia é quase sempre resultado da influência das idéias
que lhes vêm de fora. Essa situação pode ser vantajosa quando os esclarecimentos
que lhes são dados partem de uma fonte séria e amiga da verdade, mas constitui
uma desgraça quando têm sua origem em pulhas e mentirosos.
O segundo grupo é muito menor quanto ao número. Em parte é composto de
elementos que, de começo, pertenciam ao primeiro grupo e que, depois de amargas
decepções, passaram para o lado oposto e não acreditam em mais nada que lhes
seja apresentado em forma impressa. Esses têm ódio a todos os jornais, não os
lêem ou irritam-se contra tudo o que neles se contém, convencidos de que neles
só se encontram mentiras e mais mentiras. É difícil manobrar com esses homens,
porque para eles a própria verdade é sempre vista com desconfiança. E uma classe
com que não se (leve contar para qualquer agitação eficiente.
O terceiro grupo é de todos o menor. Compõe-se dos espíritos de elite que,
por naturais disposições intelectuais e pela educação, aprenderam a pensar com
independência, que, sobre todos o assuntos, se esforçam por formar idéias
próprias e que submetem todas as suas cuidadosas leituras a um em cursiva
pessoal para daí tirar conseqüências. Esses não lerão nenhum jornal sem que as
idéias recebidas passem por um crivo. A situação do editor não é nada fácil.
Para os que pertencem a esse terceiro grupo o erro que um jornal possa
perpetrar oferece pouco perigo e é de muita significação. No decurso de sua vida
eles se acostumaram a ver, com fundadas razões, em cada jornalista, um patife
que, só por exceção, fala a verdade. Infelizmente, o valor desses tipos
brilhantes jaz apenas na sua inteligência e não no número, o que constitui uma
infelicidade em uma época em que a maioria e não a sabedoria vale tudo! Hoje que
o voto das massas é decisivo, a última palavra cabe ao grupo mais numeroso,
quase constitui da grande multidão dos simples e crédulos. É um interesses
essencial do Estado e da nação evitar que o povo caia nas mãos de maus
educadores, ignorantes e mal intencionados. É, por isso, dever do Governo velar
pela educação do povo e impedir que o mesmo tome orientação errada, fiscalizando
a atuação da imprensa em particular, pois a sua influência sobre o espírito
público é a mais forte e a mais penetrante de todas, desde que a sua ação não é
transitória mas contínua. Sua imensa importância está no fato da uniforme e
persistente repetição da sua propaganda.
Aqui, mais do que em qualquer setor, é dever do Estado não esquecer que a
sua atitude, qualquer que ela seja, deve conduzir a um fim único e não deve ser
desviada pelo fantasma da chamada liberdade de imprensa", desprezando assim os
seus deveres com prejuízo do alimento de que a nação precisa para a conservação
de sua saúde.
O Estado deve controlar esse instrumento de educação popular com vontade
firme e pô-lo ao serviço do Governo e da nação.
Que sorte de alimento intelectual a imprensa alemã ofereceu ao povo antes
da Guerra? Não foi, porventura, o mais perigoso veneno que se poderia imaginar?
Não se inoculou no coração do povo um pacifismo da pior espécie, justamente
quando o mundo se preparava, lenta mas seguramente, para estrangular a Alemanha?
Já em plena paz, não tinha essa imprensa instilado, gota a gota, no espírito do
povo, a dúvida sobre os direitos da própria nação, com o fim de enfraquece Ia,
desde o primeiro momento de sua defesa? Não foi a imprensa alemã, que fez o
nosso povo interessar se- pela "democracia ocidental", até convencendo-o, por
meio de frases bombásticas, que seu futuro poderia ser confiado a uma
confederação? Não colaborou ela para educar o povo na amoralidade? Não foram a
moral e os bons costumes ridicularizados pelos jornais como retrógrados e
peculiares aos provincianos, até que o povos por fim, se tornou "moderno" Os
alicerces da autoridade do Estado não foram por eles constantemente minados até
chegar ao ponto de um simples empurrão poder provocar a ruína do edifício? Não
se opuseram eles por todos os meios a que se desse ao Estado o que ao Estado era
devido? Não foram eles que desacreditaram o exército, que pregaram contra o
serviço militar, contra a concessão de créditos para o exército, até tornar o
êxito militar impossível?
O que a chamada imprensa liberal fez antes da Guerra foi cavar um túmulo
para a nação alemã e para o Reich. Não precisamos dizer nada sobre os mentirosos
jornais marxistas. Para eles o mentir é tão necessário como para os gatos o
miar. Seu único objetivo é quebrar as forças de resistência da nação,
preparando-a para a escravidão do capitalismo internacional e dos seus senhores,
os judeus.
Que fez o Governo para resistir a esse envenenamento em massa do povo
alemão? Nada, absolutamente nada! Alguns fracos decretos, algumas multas por
ofensas tão graves que não podiam ser desprezadas, e nada mais!
Esperava-se conquistar as simpatias desses pestilentos através de lisonjas,
do reconhecimento do "valor" da imprensa, de sua "significação", da sua "missão
educadora" e outras imbecilidades. Os judeus, porém, recebiam essas
demonstrações com um sorriso de raposa e retribuíam com um astucioso
agradecimento.
A razão para essa ignominiosa renúncia do Governo não estava no
desconhecimento do perigo, mas em uma covardia que gritava aos céus e na
indecisão que, em conseqüência disso, caracterizava todas as resoluções tomadas.
Ninguém tinha a coragem de 'empregar meios radicais, ao contrário disso, todos
porfiavam em prescrever receitas homeopáticas e, em vez de dar-se um golpe
certeiro na víbora, aumentava-se a sua capacidade de envenenar. O resultado é
que não só tudo ficou pior do que dantes como a instituição que se deveria
combater tomou cada dia maior vulto.
A campanha de defesa iniciada, outrora, pelo Governo, contra a imprensa,
controlada, na sua maioria, por judeus, e que estava lentamente corrompendo a
nação, não obedeceu a um plano definido e decisivo ou, pelo menos, não teve
nenhum objetivo visível.
A conduta dos representantes do Governo falhou ao objetivo, tanto no modo
de avaliar a importância do combate como. na escolha dos métodos e no
estabelecimento de um plano definido. Agia-se à-toa. De quando em vez, quando
gravemente ofendidos, eles punham no xadrez algumas víboras jornalísticas por
algumas semanas, ou mesmo meses, mas deixavam sempre o seu ninho em paz.
Tudo isso era a conseqüência, por um lado, da tática astuciosa dos judeus
e, por outro, da conselheira estupidez ou da ingenuidade do mundo oficial.
O judeu era esperto bastante para não consentir que toda a sua imprensa
fosse, ao mesmo tempo, manietada. Uma parte da mesma estava sempre livre para
acobertar a outra. Enquanto os jornais marxistas, da maneira mais baixa,
combatiam o que de mais sagrado poderia parecer aos homens, investiam, pelos
processos mais infames, contra o Governo e açulavam grandes setores da população
uns contra os outros, as folhas democrático-burguesas dos judeus davam a
aparência da mais notável preocupação com esses fatos, concentravam todas as
suas forças, sabendo exatamente que os imbecis só sabem julgar pelas aparências,
e jamais são capazes de penetrar no âmago das coisas. É a essa fraqueza humana
que os judeus devem a consideração em que são tidos.
Para esses leitores o Frankfurter Zeitung é o que há de mais respeitável.
Nunca usa expressões ásperas, nunca fez apologia da força bruta e apela sempre
para a luta com as armas da inteligência o que, - é curioso constatar - agrada
sobretudo às classes menos intelectuais Isso é uma conseqüência da nossa
indecisão, que divorcia o homem das suas inclinações naturais que lhe inocula
umas determinadas idéias que não podem conduzi-lo a noções posteriores porque a
diligência e a boa vontade, por si só, de nada servem, tornando-se necessária a
inteligência trazida do berço. Essas noções a que me refiro têm sempre a sua
explicação em causas intuitivas. Isso quer dizer que o homem não deve nunca cair
no erro de acreditar que surgiu para ser o senhor da natureza - concepção que o
regime da meia educação tanto facilita mas, ao contrário, deve compreender a
necessidade fundamental do poder da Natureza e também que a sua própria
existência está dependente das leis da eterna luta natural. Sentiremos então,
que, em um mundo em que planetas e sois andam à roda, no qual a força sempre
domina a fraqueza e submete-se à escravidão ou elimina-a, não podem existir
outras leis para os homens Podemos tentar compreende-las mas nunca delas nos
libertarmos.
É justamente para os filósofos semi-intelectuais que o judeu escreve na sua
chamada "imprensa intelectual". o tom do Frankfurter Zeitung e do Berliner
Tageblatt é mantido com a intenção de agradar a essa classe, justamente a mais
influenciada por esses jornais. Ao passo que, com o máximo cuidado, evitam toda
grosseria de linguagem recorrem a outros processos para envenenar o espírito
público, Por meio de uma amálgama de frases agradáveis eles enganam seus
leitores, incutindo-lhes lhes a crença de que a ciência pura e a verdadeira
moral são as forças propulsoras de suas ações, ao passo que na realidade Isso
não passa de um inteligente artifício para roubarem uma arma que seus
adversários poderiam usar contra a imprensa. Enquanto uns, por decência,
sentem-se enojados tanto mais acreditam os imbecis que se trata de ataques
temporários que nunca chegarão a ferir de morte a "liberdade de imprensa" como
se costuma denominar o abuso desse instrumento de ludíbrio e de envenenamento do
povo, ao abrigo de quaisquer punições.
Por isso, todos têm evitado proceder contra esse banditismo, com receio de
ter contra si a imprensa "independente", receio aliás muito fundamentado. Logo
que se tenta agir contra um desses vergonhosos jornais, todos os outros do
partido se aproveitam, não para aprovar - o que seria demais - as lutas do
jornal em questão, mas em nome do princípio da liberdade de imprensa, da
liberdade de pensamento Só se batem pela liberdade de imprensa! Ao som desse
clamor, os homens mais fortes sentem-se fracos, desde que a gritaria parte das
folhas "independentes".
Por esse processo pôde esse veneno penetrar e circular livremente no sangue
do povo e produzir os seus efeitos, sem que ø Estado se sentisse com força
bastante para combater essa moléstia. Nas irrisórias meias medidas empregadas
pelo Estado já se poderiam ver os sinais ameaçadores da queda do Império, pois
uma instituição que não mais está resolvida a defender-se com todas as armas
renuncia à sua própria existência Toda indecisão é um visível sinal da ruína
interna que deve ser seguida, mais cedo ou mais tarde, do colapso externo.
Penso que a geração atual se bem dirigida, evitará mais facilmente esse
perigo. Ela passou por várias experiências capazes de enrijar os nervos de quem
quer que não tenha perdido a noção da sua força.
Um dia virá em que o judeu gritará bem alto nos seus jornais, quando
sentirem que uma mão forte está disposta a pôr fim a esse vergonhoso uso da
imprensa, pondo esse instrumento de educação a serviço do Estado, retirando-o
das mãos de estrangeiros e inimigos da nação. Acredito que essa empresa, para
nós jovens, será menos incômoda do que o foi aos nossos pais. Uma granada de
trinta centímetros fala mais alto do que mil víboras da imprensa judaica. Deixai
que elas gritem.
Outro exemplo de indecisão e fraqueza da direção oficial nas questões de
interesse vital da nação consiste no seguinte. Ao mesmo tempo que se processava
uma contaminação moral e política, verificava-se, de há muito, um envenenamento
não menos horrível, do povo, do ponto de vista de sua saúde. Sobretudo nas
grandes cidades, a sífilis grassava de maneira impressionante. Por seu lado, a
tuberculose mantinha a sua colheita normal em todo o país. Apesar de que, em
ambos os casos, as conseqüências para a nação fossem horríveis ninguém tinha
coragem de tomar medidas decisivas.
Especialmente a respeito das devastações da sífilis, é patente a
capitulação do povo e do Governo. Em uma luta séria dever-se-ia recorrer a
processos mais radicais do que àqueles de que se lançou mão. A descoberta de um
recurso para o problema em questão, assim como contra a exploração comercial de
uma tal epidemia, só poucas vantagens poderia apresentar. Dever-se-ia cogitar
somente das causas dessa calamidade e não em fazer desaparecerem os sintomas
externos.
A causa primária estava, porém, na prostituição do amor.
Mesmo que essa prostituição não tivesse por conseqüência a terrível
epidemia que devastava a nação, ela, só por seus efeitos morais, seria bastante
para levar um povo à ruína.
Esse envenenamento da alma do povo pelos judeus, essa mercantilização das
relações entre os dois sexos haviam, mais cedo ou mais tarde, de prejudicar as
novas gerações, desde que, em lugar de crianças nascidas de um instinto natural
apareciam apenas lamentáveis produtos de um espírito Inteiramente comercial. Os
interesses materiais eram, cada vez mais, o fundamento único dos casamentos. O
amor tinha que tirar a sua revanche em outros setores.
Durante algum tempo, talvez fosse possível zombar da natureza, mas a reação
não tardaria; ela far-se-ia reconhecer mais tarde ou seria vista pelos homens
demasiadamente tarde. As conseqüências desastradas do desprezo das leis naturais
no que diz respeito ao casamento são visíveis no mundo aristocrático. Nesse
setor as mães só obedeciam a imposições sociais ou a interesses financeiros. No
primeiro caso, a conseqüência era o enfraquecimento da raça; no segundo,
tratava-se de um envenenamento do sangue nacional, uma vez que toda filha de
pequeno comerciante judeu se julgava com direito a suprir a descendência de Sua
Alteza. Em ambas as hipóteses a mais completa degenerescência era o resultado
desse estado de coisas.
A burguesia atual esforça-se por seguir o mesmo caminho e chegará aos
mesmos resultados.
Com idêntica pressa procura-se passar sobre as verdades desagradáveis como
se, com essa maneira de agir, se pudesse evitar que os fatos acontecessem. Não!
Não se pode negar, por demasiado evidente, a triste realidade de que o povo das
nossas grandes cidades cada vez mais se prostitui e, justamente por isso,
aumentam as devastações da sífilis. As conseqüências dessa epidemia geral podem'
ser examinadas nos hospícios e Infelizmente também nas crianças. Sobretudo estas
são o mais triste resultado do constante e progressivo infeccionamento da nossa
vida sexual. Nas doenças das crianças são evidentes as taras dos pais.
Há vários meios da gente desinteressar-se ante essa desagradável e horrível
realidade. Uns nada vêem ou, melhor, não querem ver. Essa é a atitude mais
simples e mais cômoda. Outros se envolvem no manto de um pudor irrisório e
mentiroso, falam do assunto como se se tratasse apenas de um grande pecado e
manifestam, diante de cada pecador pegado em flagrante a sua mais profunda
cólera, para depois, tomados de nojo, fecharem os olhos à maldita epidemia e
pedirem a Deus, para, depois da morte deles, se possível, enviar uma chuva de
enxofre e fogo sobre essa Sodoma e Gomorra, para edificante exemplo a essa
despudorada humanidade. Os terceiros leitores vêem muito bem as tétricas
conseqüências que essa peste um dia provocará, mas encolhem os ombros e passam,
convencidos de que nada podem fazer contra o perigo. Assim deixam-se as coisas
seguirem seu curso natural.
Isto é muito cômodo, mas é preciso que ninguém se esqueça de que esse
comodismo custará o sacrifício da nação. A desculpa de que as outras nações não
estão em situação melhor em nada modificará a triste realidade da nossa própria
ruína, salvo se o fato de a mesma infelicidade recair sobre os outros
constituísse um alívio para as nossas próprias dores.
O problema deve, porém, ser posto nos seguintes termos: Quais são os povos
que serão por ela arrastados à ruína?
Trata-se de uma prova a que são submetidas as raças. Aquelas que não
resistirem à prova parecerão e serão substituídas pelas mais sadias, mais
resistentes, mais capazes de reação.
Como esse problema "interessa", em primeiro lugar, às novas gerações,
pertence à categoria dos em que com muita razão se diz que os pecados dos pais
se refletem até sobre a décima geração, verdade essa que se traduz em um
atentado contra a pureza do sangue e da raça.
O pecado contra o sangue e a raça é o pecado original deste mundo e o fim
da humanidade que o comete.
Em que situação deplorável se encontrava a Alemanha de antes da Guerra em
relação a esse problema!
Que se fez para impedir a contaminação da juventude das grandes cidades?
Que se fez para combater as devastações da sífilis sobre o corpo do povo?
A resposta a essas perguntas era a afirmação de que se tratava de uma
fatalidade inevitável.
Antes de tudo, trata-se de um problema que não deve ser encarado tão
levianamente. É preciso que se compreenda que da sua solução de. pende a
felicidade ou infelicidade de gerações inteiras e que dele pode depender
decisivamente, embora não o devesse, o futuro do nosso povo. Essa compreensão do
problema obrigava, porém, a medidas radicais, e a uma intervenção decidida e
firme.
Em primeiro lugar, seria necessário que todos se convencessem de que a
atenção de todo o povo se deveria concentrar nesse terrível perigo, de modo que
todos os indivíduos, pudessem se compenetrar da importância dessa luta. Só se
pode transformar em realidade certos deveres, principalmente aqueles cuja
realização demanda sacrifício, quando os indivíduos, sem nenhuma coação, se
convencem da necessidade de cumpri-los. Para isso é preciso uma enorme
propaganda que faça passar para um plano 'secundário todos os outros problemasdo dia.
Em todos os casos em que se trata da solução de pretensões, de problemas
aparentemente impossíveis, deve-se concentrar toda a atenção do povo sobre esse
problema como se de sua resolução dependesse a existência coletiva. Só por esse
meio se pode tornar um povo conscientemente capaz de um grande esforço. Esse
princípio também se aplica aos indivíduos tomados isoladamente, sempre que se
trata da realização de grandes objetivos. O indivíduo só poderá atingir o fim
visado, por etapas graduais, só concentrará todos os seus esforços para alcançar
um objetivo determinado, depois que a primeira etapa parecer alcançada e o plano
para a nova estiver traçado. Quem não adotar essa divisão, em etapas, do caminho
a percorrer, quem não se esforçar por esse plano de concentração de todas as
forças a vencer, etapa por etapa, não poderá nunca atingir o objetivo, ficará ao
contrário, no meio do caminho, talvez até no desvio.
Esses preparativos para a consecução de uma determinada finalidade
constituem uma verdadeira arte e exigem o em prego de todas as energias
disponíveis para que se possa, passo a .passo, chegar ao fim. A primeira
condição que se torna necessária para o povo vencer as diferentes etapas é que a
direção consiga convencer a massa do povo que a próxima etapa a ser alcançada é
a última e que, de sua conquista, tudo depende. O povo nunca vê em toda sua
extensão, o caminho a percorrer, sem cansar-se e hesitar na sua tarefa. Até
certo ponto ele verá a meta a ser atingida, mas só poderá abranger com a vista
pequenas etapas, tal qual o viandante que sabe qual é o fim da sua jornada mas
vence melhor o caminho sem fim, se dividi-lo em trechos e procurar vencê-los,
como se cada um fosse o fim da jornada. Só assim, ele caminha sempre para a
frente, sem desanimo.
Assim se deveria, pelo emprego de todos os meios de propaganda, ter
convencido a nação de que o combate contra a sífilis era o problema máximo do
povo e não um dos seus problemas. Para alcançar esse fim, dever-se-ia convencer
o povo de que todos os seus males resultaram dessa horrível infelicidade e, pelo
emprego de todos os meios possíveis, martelar essa idéia na cabeça de todos, até
que toda a nação chegasse a compreender que da solução desse problema tudo
depende, o futuro da Pátria ou a sua ruína.
Só depois de uma tal preparação, mesmo que durasse anos, poder-se-ia
despertar a atenção do povo inteiro e impeli-lo a decisões firmes. Só assim se
poderia tomar medidas que exigiriam grandes sacrifícios, sem correr o perigo de
não ser compreendido e ser abandonado pela boa vontade da nação.
Para combater uma peste seriamente são necessários inauditos sacrifícios e
esforços. A campanha contra a sífilis exige uma campanha idêntica contra a
prostituição, contra preconceitos, contra velhos hábitos, contra idéias ainda em
voga, pontos de vista e, por fim, contra o pudor artificial de certos meios
sociais.
A primeira hipótese, aliás por motivos morais, para combater a sífilis
consiste em facilitar os casamentos dos jovens, nas futuras gerações. Nos
casamentos tardios está uma das causas da conservação de um estado de coisas
que, por mais que se queira torcer, é e será sempre uma vergonha para a
humanidade, e que deve ser visto como uma maldição para criaturas que,
modestamente, se julgam feitas à imagem do Criador.
A prostituição é uma vergonha para a humanidade, que não pode, porém, ser
removida com preleções morais, piedosos sentimentos, etc. A sua diminuição e a
sua extinção completa pressupõem a remoção de um número infinito de condições
preliminares. A primeira condição, porém, é a criação de um ambiente de
facilidades ao casamento dos jovens, o que aliás corresponde a uma exigência da
natureza. Referimo-nos sobretudo aos homens, pois nesses assuntos a mulher é
sempre passiva.
Como os homens de hoje, em parte se acham desviados, pode-se ver no fato
de, freqüentemente, as mães, na chamada "melhor" sociedade, darem graças a Deus
encontrarem no filho um homem que já se iniciou". Como essa é a hipótese mais
freqüente, as pobres raparigas encontrarão um Siegfried "iniciado" e as crianças
sofrerão os efeitos desses "ajuizados casamentos".
Se refletirmos que uma grande diminuição da procriação é conseqüência desse
estado de coisas e que disso está dependente a seleção natural que só pode ter
como resultado criaturas infelizes, então é lícito que nos façamos esta
pergunta: Por que manter uma tal instituição? Que objetivo preenche ela? Não é
ela, porventura, igual à própria prostituição? O dever para com a posteridade
não existe mais? Não se compreende que praga se reserva a futuras gerações
através de uma tão criminosa e leviana aplicação de um direito natural que é
também o maior dever para com a Natureza?
Assim se degeneram os grandes povos e gradualmente são arrastados à ruína.
O casamento não deve ser uma finalidade em si, mas ao contrário, deve
servir à multiplicação e conservação da espécie e da raça, Esse é o seu
significado, essa é a sua finalidade.
Assim sendo, a sua razão de ser deve ser medida pela maneira por que é
alcançado esse objetivo. Os casamentos entre jovens se justificam ao primeiro
exame, porque podem dar produtos mais sadios e mais resistentes. Para facilitar
essas uniões tornam-se imprescindíveis várias condições sociais, sem as quais
impossível é contar com casamentos entre jovens. A solução desse problema,
aparentemente tão fácil, não se encontrará sem medidas decisivas sob o ponto de
vista social.
A importância desse problema ressalta do fato de vivermos em um tempo em
que a chamada República "Social", demonstrando a sua incapacidade para resolver
o problema das habitações, tornou impossíveis inúmeros casamentos e incrementou,
por esse meio, a prostituição.
À irracionalidade da nossa maneira de dividir os salários, sem nenhuma
atenção ao problema da família e seu sustento, deve-se o fato de muitos
casamentos não se realizarem.
Só se pode tentar uma verdadeira guerra contra a prostituição se, por uma
modificação radical nas atuais condições sociais, se facilitarem as uniões entre
jovens, mais do que acontece atualmente. Essa é a primeira condição para que o
problema da prostituição possa ser resolvido.
Em segundo lugar, a educação e a instrução terão que eliminar uma porção de
erros com os quais até hoje ninguém se preocupou. Antes de tudo é preciso pôr no
mesmo plano a educação intelectual propriamente dita e a educação física! O que
hoje se conhece pelo nome de Ginásio é um arremedo do modelo grego. Com os
nossos processos educacionais, tem-se a impressão de que todos se esqueceram de
que um espírito sadio só pode existir em um corpo são. Essa verdade é tanto mais
ponderável quando se aplica à grande massa do povo, pondo-se de parte exceções
individuais.
Tempo houve, na Alemanha de antes da Guerra, em que ninguém se preocupava
com essa verdade. Pecava-se abertamente contra a saúde do corpo e pensava-se
que, na formação intelectual, estava uma garantia da prosperidade da nação, Esse
erro começou a fazer sentir as suas conseqüências mais depressa do que se
esperava.
Não foi por obra do acaso que a onda bolchevista encontrou meio mais
favorável justamente entre as populações que mais haviam sofrido fome ou
alimentação insuficiente, isto é, a Alemanha central, a Saxônia e o Ruhr. Nessas
regiões quase não se nota a resistência, da parte dos chamados "intelectuais",
contra essa epidemia judaica, e isso menos em conseqüência da miséria do que em
conseqüência da educação. A maneira unilateral de encarar a educação nas camadas
elevadas da sociedade, justamente nesta época em que é o punho que decide e não
o espirito, torna-as incapazes de manterem as suas posições e ainda menos de
vencerem. .Na fraqueza física está a razão principal da covardia dos indivíduos.
O valor excessivo dado à cultura intelectual pura e a negligência em
relação à formação física dão origem, antes de tempo, às solicitações sexuais. O
jovem que se fortalece nos desportos e nos exercícios de ginástica está menos
sujeito a capitular ante a satisfação dos seus instintos do que aquele que vive,
sedentariamente, no gabinete de estudo.
Uma educação racional terá que tomar em consideração esse aspecto do
problema. Essa educação não deve perder de vista que se deve esperar da mulher
um rebento mais sadio do que os que atualmente já nascem contaminados.
O conjunto da educação deveria ser organizado de maneira que todo o tempo
disponível da mocidade fosse empregado na sua cultura física. Nos tempos que
correm, a mocidade não tem o direito de errar pelas ruas e cinemas, fazendo
distúrbios, cumpre-lhe, depois da faina diária, exercitar-se fisicamente para,
quando entrar na vida, apresentar a resistência necessária. Prepará-la para isso
deve ser o objetivo da educação e não simples aquisição da chamada cultura
intelectual. Devemo-nos livrar da noção de que a cultura física compete ao
próprio indivíduo. Ninguém tem liberdade de errar à custa da posteridade, isto
é, da raça.
A luta contra o envenenamento da alma deve-se desenvolver ao lado da
cultura física. Hoje toda a nossa vida em público é uma espécie de estufa para o
cultivo de idéias e atrações sexuais. Olhem-se os programas de cinemas, das
casas de diversões, dos teatros de variedades e ver-se-á que aquelas idéias
parecem ser vistas como o alimento apropriado, especialmente para a educação da
mocidade. Casas e quiosques de propaganda coligam-se para atrair a atenção
pública pelos mais baixos expedientes. Quem quer que não tenha perdido a
capacidade de penetrar na. alma dos jovens, logo compreenderá que essa educação
só pode resultar em graves prejuízos para a mocidade.
Esse ambiente é causa de imagens e excitações sexuais em um momento em que
os jovens não têm nenhuma idéia de tais coisas. O resultado desse processo de
educação não pode ser visto de maneira satisfatória na mocidade de hoje. Os
jovens amadurecem depressa demais e envelhecem antes do tempo. Nas saías das
nossas cortes de justiça aparecem freqüentemente casos que permitem fazer-se uma
idéia do horrível estalo de espírito dos nossos jovens de quatorze e quinze
anos. Quem se poderá admirar de que, já nessa idade, a sífilis faça as suas
vítimas? Não é uma lástima verem-se tantos jovens, fisicamente fracos e
espiritualmente corrompidos, ingressarem na vida de casados, depois de um
estágio na prostituição das grandes cidades?
Quem quiser combater a prostituição, deve, em primeiro lugar, auxiliar a
combater as razões espirituais em que ela se funda.
Deve, primeiro, livrar-se do lixo da intelectualidade das grandes cidades e
isso sem vacilações ante a gritaria que, naturalmente, se verificará.
Se não livrarmos a mocidade do charco que atualmente a ameaça, ela nele
afundará. Quem não quiser se aperceber dessa situação, estará concorrendo para
apoiá-la, transformando-se em co-autor da lenta prostituição das futuras
gerações.
O teatro, a arte, a literatura, o cinema, a imprensa, os anúncios, as
vitrines, devem ser empregados em limpar a nação da podridão existente e pôr-se
a serviço da moral e da cultura oficiais.
E, em tudo isso, o objetivo único deve ser a conservação da saúde do povo,
tanto do ponto de vista físico como do intelectual. A liberdade individual deve
ceder o lugar à conservação da raça.
Só depois de executadas essas medidas, pode-se ter sólidas esperanças de
êxito na campanha profilática contra a epidemia. Nessa luta também não se deve
recorrer a meias medidas mas, ao contrário, devem ser tomadas resoluções sérias
e decisivas.
É deplorável que se consinta que indivíduos que sofrem de moléstias
incuráveis continuem a contaminar as pessoas sadias. Isso corresponde a um
sentimento de humanidade do qual decorre o seguinte - para não fazer mal a um
arruinam-se centenas. Tornar impossível que indivíduos doentes procriem outros
mais doentes é uma exigência que deve ser posta em prática de uma maneira
metódica, pois se trata da mais humana das medidas. Ela poupará a milhões de
infelizes desgraças que não mereceram e terá como conseqüência a elevação do
nível da saúde do povo. A firme resolução de enveredar por esse caminho oporá
também um dique às moléstias venéreas. Nesse assunto, quando necessário, deve-se
proceder, sem compaixões, no sentido do isolamento dos doentes incuráveis. Essa
medida é bárbara para os infelizes portadores dessas moléstias mas é a salvação
dos coevos e pósteros. O sofrimento imposto a um século livrará a humanidade de
sofrimentos idênticos por milhares de anos.
A luta contra a sífilis e sua companheira inseparável - a prostituição - é
uma das mais importantes missões da humanidade,- sobretudo porque não se trata,
no caso, da solução de um só problema mas da remoção de uma série de males que
dão causa a essa pestilência. A doença - física, no caso em questão, é apenas a
conseqüência da doença do instinto social, moral e racial.
Se essa luta for dirigida por processos cômodos e covardes, dentro de
quinhentos anos os povos desaparecerão. Não mais se poderá ver no homem a imagem
de Deus, sem grave ofensa a esse.
Como se cuidou, na antiga Alemanha, de livrar o povo dessa calamidade? Por
um exame sereno chegar-se-á a uma triste conclusão. Nos círculos governamentais
conheciam-se muito bem todos os males decorrentes dessa moléstia, se bem que não
se refletisse sobre todas as suas conseqüências. Na luta, porém, o fracasso foi
completo porque, em vez de medidas radicais, tomaram-se medidas deploráveis.
Doutrinava-se sobre a moléstia e deixava-se que as suas causas continuassem a
produzir os mesmos efeitos. Submetia-se a prostituta a um exame médico,
inspecionava-se a mesma como se podia e, no caso de se constatar uma moléstia,
internava-se a doente em um lazareto qualquer, do qual saía depois de uma cura
aparente para de novo infeccionar o resto da humanidade.
É verdade que na lei havia um "parágrafo de defesa" pelo qual se proibia o
tráfego sexual a quem não fosse inteiramente sadio ou não estivesse curado. Em
teoria essa medida é justa mas na sua aplicação prática o fracasso é completo.
Em primeiro lugar, a mulher, quando atingida por essa infelicidade, em
virtude dos nossos preconceitos e dos seus próprios, na maioria dos casos
evitará servir de testemunha contra o que furtou a sua saúde e comparecer
perante os juizes, muitas vezes em condições dolorosas.
De pouca utilidade é esse processo, mesmo porque, na maioria dos casos, ela
é que sofrerá mais, pois será ainda mais desprezada por aqueles com quem
convive, o que não aconteceria com o homem.
Fez-se, porventura, a hipótese de ser o próprio marido portador da
moléstia? A mulher, nesse caso, deveria queixar-se? Que deveria ela fazer?
Quanto ao homem deve-se acrescentar que infelizmente é muito comum que,
justamente depois das libações alcoólicas, é que ele corre atrás dessa peste, o
que o coloca em situação de não poder julgar das qualidades de suas "belas"! As
prostitutas doentes sabem muito bem disso, o que faz com que prefiram pescar os
homens nesse estado. O resultado é que por mais que dê trato à bola, ele não
conseguirá lembrar-se da benfeitora que lhe proporcionou a desagradável surpresa
da contaminação. Isso não é de admirar em uma cidade como Berlim ou mesmo
Munique. A isso se acrescente o caso de um provinciano completamente desnorteado
no meio da vida alegre das grandes cidades.
Além disso, quem sabe exatamente se está doente ou não? Não se verificam
inúmeros casos em que uma pessoa aparentemente curada, recai e causa desgraças
horríveis, na perfeita ignorância da realidade?
Assim, a eficiência prática dessa defesa, através da punição legal de um
contágio culposo, é absolutamente nula.
O mesmo acontece com a inspeção médica das prostitutas. A própria cura é
hoje uma coisa incerta, duvidosa. Só uma coisa é certa - apesar de todas as
medidas, a calamidade torna-se cada vez mais devastadora, o que confirma, da
maneira mais impressionante, a insuficiência das providências adotadas.
Tudo o que se fez foi, ao mesmo tempo, insuficiente e irrisório. A
corrupção do povo não foi evitada. Aliás nada se tentou de sério nesse sentido.
Quem estiver propenso a encarar levianamente esse problema, deve estudar os
dados estatísticos sobre o progresso dessa peste, refletir sobre o seu futuro
desenvolvimento. Se, depois disso, não se sentir revoltado pode dar a si, com
toda justiça, o qualificativo de asno.
A fraqueza e a indecisão com que, já na antiga Alemanha, se encarava essa
grave questão, devem ser vistas como sintoma da decadência de um povo.
Quando já não há força para o combate pela saúde de um povo, esse povo não
tem mais direito à vida em um mundo de lutas como o nosso. O mundo pertence aos
fortes, aos decididos, e não aos tímidos.
Um dos mais visíveis sintomas da decadência do antigo Império era,
incontestavelmente, a lenta diminuição da cultura geral. Sob essa denominação
não se deve incluir o que hoje se chama "civilização". Ao contrário, a
civilização atual parece significar uma inimiga da verdadeira noção do que seja
a elevação moral do espírito de um povo.
Já por ocasião da entrada deste século, começou a infiltrar-se, em nossa
arte um elemento que lhe era absolutamente estranho e desconhecidos
Incontestável é que, também em outros tempos, sempre se notaram desvirtuamentos
do bom gosto. Em tais casos, tratava-se, porém, de deslizes artísticos, aos
quais a posteridade poderia dar um certo valor histórico, como prova não já de
uma depravação artística mas de um desvio intelectual que chegara até à falta de
espírito. Nisso já se podiam vislumbrar sintomas da ruína futura.
O bolchevismo da arte é a única forma cultural possível da exteriorização
do marxismo.
Quando essa coisa estranha aparece, a arte dos Estados bolcheviquizados só
pode contar com produtos doentios de loucos ou degenerados, que desde o século
passado, conhecemos sob a forma de dadaismo e cubismo, como a arte oficialmente
reconhecida e admirada. No curto período dos "Conselhos" da República bávara,
essa espécie de arte já havia aparecido. Já por aí se poderia constatar como os
placards oficiais, os anúncios dos jornais, etc. traziam em si o sinete não só
da ruína política como da decadência cultural. Assim como não se podia, há
dezesseis anos, pensar em um colapso da política do império em face da grandeza
que havíamos atingido, muito menos se poderia pensar em uma decadência cultural
pelas demonstrações futurísticas e cubísticas que começaram a aparecer desde
1900. Há dezesseis anos uma exposição de produções ."dadaísticas" teria parecido
impossível e os expositores teriam sido levados ao hospício, ao passo que hoje
são guindados à presidência das associações artísticas.
Essa epidemia não poderia ter vencido outrora, não só porque a opinião
pública não a toleraria como porque o Governo não a veria com indiferença. É um
dever dos dirigentes proibir que o povo caia sob a influência de tais loucuras.
Um tão deplorável estado de coisas deveria um dia receber um golpe fatal,
decisivo. Justamente no dia em que essa espécie de arte correspondesse ao gosto
geral, ter-se-ia iniciado uma das mais graves metamorfoses da humanidade. A
retrogradação do espírito humano teria começado e mal se poderia prever o fim de
tudo isso.
Logo que se verificou, nessa direção, a evolução de uma vida cultural, que
se vem realizando, há uns vinte e cinco anos, dever-se-ia ver com espanto como
já estávamos adiantados nesse processo de involução. Sob todos os aspectos,
estamos em uma situação em que viceja o germe que, mais cedo ou mais tarde, há
de arruinar a nossa cultura. Nesses sintomas devemos ver também os sinais
evidentes de uma lenta decadência do mundo. Infelizes os povos que já não podem
dominar essa epidemia!
Essa calamidade poderia ser facilmente constatada em quase todas as
manifestações artísticas' e intelectuais da Alemanha. Tudo fazia crer ter a
mesma atingido o auge para provocar a precipitação no abismo.
O teatro decaía cada vez mais e poderia ser considerado como um fator
desprezível na cultura do povo se o teatro da corte não resistisse contra a
prostituição da arte. Pondo de parte essa e outras gloriosas exceções, as
representações teatrais, por conveniência da nação, deveriam ser proibidas. Era
um triste indício da ruína do povo que não se pudesse mais mandar a mocidade a
essas chamadas "casas de arte", onde se representavam coisas despudoradas com o
aviso prévio - impróprio para menores.
E pensar-se que essas medidas de precaução eram julgadas necessárias
justamente nos lugares que deveriam ser os primeiros a fornecer o material para
a formação da juventude e - não para o divertimento dos velhos blasés! Que
diriam os grandes dramaturgos de todos os tempos ao saberem dessas precauções e
sobretudo das causas que a tornavam necessárias? Imagine-se a indignação de
Schiller! Goethe! ficariam furiosos ante esse espetáculo!
Mas, na realidade, que são Goethe, Schiller ou Shakespeare em comparação
com os heróis da nova poesia alemã? Gastas e obsoletas coisas de um passado que
não podia mais sobreviver! A característica desses literatos é que eles não só
produzem somente sujeira mas, pior do que isso, lançam lama sobre tudo o que é
realmente grande - no passado.
Esse sintoma se verifica sempre nesses tempos de decadência. Quanto mais
baixas e desprezíveis forem as produções intelectuais de um determinado tempo e
os seus autores, tanto mais odeiam esses os representantes de uma grandeza
passada. Em tais tempos, procura-se apagar a lembrança do passado da humanidade
para, em face da impossibilidade de qualquer paralelo, esses literatos de
fancaria poderem mais facilmente impingir as suas produções como "obras de arte.
Por isso, toda instituição nova, quanto mais miserável e desprezível ela for,
tanto mais se esforçará por lançar uma esponja sobre o passado, ao passo que
toda renovação de verdadeira significação para a humanidade, sem preocupações
subalternas, procura fazer ligação com as conquistas das gerações passadas e
mesmo pô-las em relevo. Essas renovações bem intencionadas nada têm a temer em
um confronto com o passado, mas, ao contrário, retiram uma tão valiosa
contribuição do tesouro geral da cultura humana que, muitas vezes, para sua
completa apreciação, se desvelam os seus promotores em ressaltar os esforços dos
que vieram antes, a fim de conseguirem para as suas iniciativas uma compreensão
mais exata por parte dos contemporâneos. Quem nada tem de valioso a oferecer ao
mundo, mas, ao contrário, se esforça por que este lhe ofereça coisas que só Deus
sabe, odiará tudo o que já se fez no passado e será sempre propenso a tudo
negar, a tudo destruir.
Isso se verifica não somente nas novas produções da cultura geral como na
política. Os novos movimentos revolucionários odiarão os antigos modelos quanto
menor for a sua própria significação. Nesse terreno, constata-se, da mesma
maneira que na vida intelectual e artística, a preocupação de dar vulto às obras
de fancaria, o que conduz a um ódio cego contra tudo quanto de bom se fez no
passado.
Enquanto, por exemplo, a lembrança histórica da vida de Frederico o Grande
não tiver desaparecido, Frederico Ebert só poderá provocar uma admiração muito
relativa. O grande homem de Sans Souci aparece junto ao antigo taberneiro de
Bremen como o sol perante a lua; somente quando os raios do sol desaparecem é
que a lua pode brilhar E, por isso, também muito natural o ódio dessas novas
"luas" da humanidade contra as estrelas fixas.
Na vida política, essas nulidades, quando o acaso as leva às posições de
mando, costumam, com maior fúria, não só enlamear o passado como evitar, por
todos os meios, a crítica geral às suas pessoas. Um exemplo disso pode-se
encontrar na lei de defesa do governo da nova república alemã.
Se qualquer nova idéia, nova doutrina, nova concepção do mundo ou qualquer
movimento político ou econômico tenta negar o conjunto do passado, ou
considerá-lo sem valor, a novidade, só por esse motivo, deve ser vista' com
cautela e desconfiança- Na maior parte dos casos, a razão para esse ódio ao
passado é a mediocridade ou a - má intenção. Um movimento renovador
verdadeiramente salutar terá sempre que construir sobre bases que lhe forneça o
passado, não precisando envergonhar-se de recorrer às verdades já existentes. O
conjunto da cultura geral como a do próprio Indivíduo, não é mais do que o
resultado de uma longa evolução em que cada geração concorre com a sua pedra e
adapta-a à construção já iniciada. A finalidade e a razão de ser das revoluções
não consistem em demolir o edifício inteiro, mas afastar as causas da. sua
ruína, reconstruindo a parte ameaçada de demolição.
Somente assim se pode falar em progresso da humanidade. Sem isso, o mundo
nunca sairia do caos, pois cada geração, tendo o direito de negar o passado,
estabeleceria como condição para a sua própria tarefa a destruição do que
houvesse sido feito pela geração anterior. O aspecto mais lamentável da nossa
cultura geral, antes da Guerra, não era somente a absoluta impotência da força
criadora artística e intelectual, mas também o ódio com que se procurava
enlamear a lembrança das grandezas passadas ou negá-las absolutamente.
Quase em todos os domínios da arte, sobretudo no teatro e na literatura,
desde o fim do século, os autores se preocupavam menos em produzir alguma coisa
de valor real do que em denegrir o que havia de melhor no passado, apontando
essas obras-primas como medíocres e passadistas, como se, nos tempos atuais, que
se caracterizam pela mais vergonhosa- mediocridade, pudesse alguém lançar essa
pecha sobre as grandes produções do passado.
As más intenções desses apóstolos do futuro tornam-se evidentes justamente
pelo esforço que desenvolvem para ocultar o passado aos olhos do presente. Nisso
se deveria ter visto desde logo que não se tratava, no caso, de uma nova, embora
falsa, concepção cultural, mas de uma destruição sistemática dos fundamentos da
cultura que tornasse possíveis a demolição dos sadios sentimentos artísticos e a
conseqüente preparação intelectual para o bolchevismo político. Assim como o
século de Péricles apareceu corporizado no Panteon, o bolchevismo atual é
representado por uma caricatura cubista.
Pelo mesmo critério deve ser examinada a evidente covardia de nosso povo
que, por força da sua educação e de sua própria posição, estava no dever de dar
combate a essa vergonhosa orientação intelectual.
Por mero temor da gritaria dos apóstolos da arte bolchevista que atacavam a
todos que não os consideravam como criadores, renunciava-se às mais sérias
resistências e todos se conformavam com o que lhes parecia Inevitável. Tinha-se
horror a resistir a esses incultos mentirosos e impostores, como se fosse uma
vergonha não compreender as produções desses degenerados ou descarados
embusteiros.
Esses jovens "intelectuais" possuíam um meio muito simples de imprimir as
suas produções o cunho da mais alta importância. Eles apresentavam aos
contemporâneos maravilhados todas as loucuras visíveis e as incompreensíveis
como se constituíssem a vida íntima destes, retirando assim, de início, à maior
parte dos indivíduos, qualquer possibilidade de réplica. Que essas loucuras
representem de fato a vida interna não é de duvidar. Não se conclui daí, porém,
que se deve pôr diante dos olhos de uma sociedade sadia as alucinações de
doentes do espírito ou de criminosos. As obras de um Moritz von Schwind ou as de
um Bocklin eram a descrição real da vida, mas da vida de artistas da maior
elevação moral e não da existência de bufões. Nesse estado de coisas podia-se
muito bem compreender a miserável covardia dos nossos chamados intelectuais que
se encolhiam a cada resistência séria contra esse envenenamento intelectual e
moral do nosso povo, que assim ficava entregue a si mesmo na luta contra esses
impudentes erros. Para não revelar ignorância era matéria de arte comprava-se
alho por bugalho até que, com o tempo, tornava- difícil distinguir as produções
de valor real das obras de fancaria.
Tudo isso constituía um sintoma alarmante para o futuro.
Como sinal alarmante deve ser considerado também o fato de, já no século
XIX, as nossas grandes cidades terem começado a perder cada vez mais o aspecto
de cidades culturais para baixarem à situação de meras aglomerações humanas. A
falta de apego dos proletários dos grandes centros ao lugar em que moram resulta
do fato de ser vista a residência de cada um apenas como um domicílio
provisório. Isso em parte é devido à situação social, que provoca tão constantes
mudanças de domicilio, que os homens não têm tempo de se apegar à sua cidade.
Mas as causas principais devem ser procuradas na pobreza da nossa cultura geral
e na miséria atual dos grandes centros.
No tempo da guerra da independência as cidades alemãs eram não só em menor
número mas mais modestas. As poucas grandes cidades existentes eram, na sua
maior parte, a sede dos governos e, como tais, possuíam quase sempre um certo
valor cultural e artístico. Os poucos lugares de mais de cinqüenta mil
habitantes eram, em comparação com as cidades atuais do mesmo vulto, ricas em
tesouros científicos e artísticos. Quando Munique contava setenta mil
habitantes, já se preparava para tornar-se um dos primeiros centros artísticos
da Alemanha. Hoje qualquer centro fabril já alcançou aquele número de habitantes
e até mesmo ultrapassou de muito sem que, em muitos casos, possa apresentar
qualquer valor próprio. Não passam esses lugares de mero aglomerado de casas de
residências e de aluguel e nada mais, Que desse estado de coisas pudesse
resultar um apego a tais lugares é quase impossível. Ninguém se apegará a uma
cidade que nada mais oferece aos seus habitantes do que quaisquer outras, que
deixa de satisfazer às exigências individuais e, na qual, criminosamente, se
lhes nega tudo que tenha a aparência de obras de arte ou produtos culturais.
Não é só. Nas cidades verdadeiramente grandes, à proporção que a população
aumentava, crescia também a pobreza artística. Elas ofereciam, em maiores
proporções, o mesmo quadro dos centros fabris. O que os tempos atuais
acrescentaram à cultura das nossas grandes cidades é de todo insuficiente. Todas
as nossas grandes cidades vivem das glórias e dos tesouros do passado.
Subtraia-se da atual Munique tudo o que foi criado por Luís I e constatar-se-á
com espanto como é mesquinho o progresso de então para cá em criações artísticas
de valor real. A mesma observação se poderá aplicar a Berlim e à maioria dos
outros grandes centros.
O mais importante é o seguinte:
Nenhuma das nossas grandes cidades possui monumentos importantes que, de
qualquer modo, valham como sinais característicos da época! As cidades antigas,
quase todas, possuíam monumentos de que se orgulhavam. A característica
dominante das cidades antigas não está em construções particulares mas em
monumentos públicos que não são destinados para o momento mas para a eternidade,
pois neles não se refletem as riquezas de um particular mas a grandeza da
coletividade. Assim se originavam os monumentos públicos, cujo objetivo era
fazer com que os habitantes se apegassem à cidade, os quais, hoje, parecem a nós
quase incompreensíveis. O que se tinha em mente, naqueles tempos, era menos
insignificantes casas particulares do que pomposos monumentos para a
coletividade.
Ao lado desses monumentos, a casa de habitação tem uma importância muito
secundária, só comparando as grandes proporções das antigas construções do
Estado com as construções particulares do mesmo tempo poderemos compreender o
elevado alcance do princípio que consistia em dar preferência às obras de
caráter coletivo. As obras colossais que hoje admiramos nas ruínas do mundo
antigo não são palácios comerciais, mas templos e edifícios públicos, obras que
aproveitam a toda a coletividade. Mesmo em pleno fausto da Roma dos últimos
tempos, ocupavam o primeiro lugar, não as vilas e palácios dos burgueses, mas os
templos e as termas, os estádios, os circos, os aquedutos, as basílicas, etc..
todas construções do Estado e, por conseguinte, de todo o povo. Essa observação
também se aplica à Alemanha da Idade Média, embora sob outro aspecto artístico.
O que para a antigüidade representava a Acrópole ou o Panteon, representava,
para a Idade Média, apenas a igreja gótica. Essas obras monumentais elevam-se
como gigantes ao lado das mesquinhas construções de madeira ou de tijolo das
cidades da Idade Média e constituem ainda hoje o sinal característico de uma
época, pois cada vez mais estão em voga as casas de aluguel. Catedrais, paços
municipais, mercados etc. são os sinais visíveis de uma concepção que em nada
corresponde à antiga.
Quão mesquinhas são hoje as proporções entre as construções do Estado e as
particulares! Se Berlim viesse a ter as artes de Roma, a posteridade só poderia
admirar, como obras mais importantes do nosso tempo e como expressão da nossa
cultura, os armazéns de alguns judeus e os hotéis de algumas sociedades.
Compare-se a desproporção, mesmo em uma cidade como Berlim, entre as
construções dos Governos e as do mundo das finanças e do comércio. A quota
destinada às construções do Estado é insuficiente e irrisória. Não é possível
construir obras para a eternidade e sim para as necessidades do momento. Nenhum
elevado pensamento poderá inspirá-las. O castelo de Berlim foi, para o seu
tempo, uma obra de maior significação do que a nova Biblioteca, em relação ao
presente. Enquanto só a construção de um navio de guerra representa a soma de
sessenta milhões, para o edifício do Reichstag, o primeiro monumento grandioso
do Governo. foi concedida apenas a metade daquela importância. Quando se cogitou
da ornamentação interna do edifício, todos os membros do Reichstag votaram
contra o emprego de pedra e ordenaram que as paredes fossem revestidas de gesso.
Dessa vez, os parlamentares, por exceção, agiram direito, pois cabeças de gesso
correm perigo entre paredes de pedra.
As nossas cidades atuais faltam monumentos que sejam a expressão da vida
coletiva. Não é, por isso, de admirar que essa também não exista. A falta de
interesses dos habitantes das grandes cidades pela sorte das mesmas dá lugar a
prejuízos que se refletem praticamente sobre a vida.
Nesse fato vemos também um sinal da decadência da nossa cultura e um
prenúncio da ruína geral. o Estado afunda-se em mesquinhas preocupações ou
melhor, põe-se a serviço do dinheiro. Por isso, não é de admirar que, sob a
influência de uma tal divindade, não haja estímulo para os fatos de heroísmo.
Nos dias que correm, colhemos apenas o que o próximo passado semeou.
Todos esses sintomas de decadência são, em última análise, a conseqüência
da falta de uma definida concepção do mundo por todos reconhecida e daí também a
insegurança nos julgamentos e nas atitudes em relação ao único realmente grande
problema do presente.
Essa é a razão porque, a começar do programa educacional, tudo se faz por
meias medidas, todos receiam a responsabilidade e terminam por tolerar os
próprios males por todos reconhecidos. O sentimento de compaixão torna-se a
moda. Enquanto se consente na germinação dos males e se poupam os seus autores,
sacrifica-se o futuro de milhões.
O estudo das condições religiosas antes da Guerra mostrará como tudo havia
atingido um estado de desagregação. Mesmo no domínio religioso, grande parte do
povo havia perdido completamente qualquer convicção verdadeiramente sólida.
Nisso os que eram, aberta e publicamente divergentes da Igreja representavam uma
parte menor do que os que apenas eram indiferentes. Ambos os credos mantêm
missões na Ásia e na África, com o fim de atrair novos adeptos para as suas
doutrinas (aspirações que apresentam resultados muito modestos em comparação com
os progressos feitos pela igreja maometana), enquanto, na Europa, estão
continuamente perdendo milhões e milhões de genuínos adeptos que ou se tornam
inteiramente estranhos a qualquer vida religiosa ou agem com liberdade. Sob o
ponto de vista moral, as conseqüências são nada boas.
Há sinais evidentes de uma luta que aumenta de violência, dia a dia, contra
os princípios dogmáticos das diferentes igrejas, sem os quais, na prática, a
crença religiosa é impossível neste mundo. As grandes massas da nação não
consistem de filósofos. A fé para elas é a única base para a sua vida moral. As
tentativas para encontrar sucedâneos para as atuais religiões não têm
demonstrado tanta conveniência e êxito que provem a vantagem de uma substituição
das antigas confissões religiosas. Quando a doutrina e a fé são realmente
adotadas pela massa do povo, a autoridade absoluta dessa fé é a única garantia
eficaz. O que o costume é, para a vida geral, assim é a lei para o Estado e o
dogma para a religião.
Só o dogma pode destruir a incerta, eternamente vacilante e controvertida
concepção do mundo e dar-lhe uma forma definida, sem a qual nunca se
transformará em uma verdadeira fé. Na outra hipótese, daí nunca resultaria uma
concepção metafísica ou, em outras palavras, um credo filosófico, o ataque
contra o dogma e, em si mesmo, muito semelhante à luta contra os princípios
gerais do Estado. Assim como essa luta contra o Estado terminaria em completa
anarquia, o ataque contra o dogma resultaria em um niilismo religioso.
Para um político o valor de uma religião deve ser apreciado menos pelas
faltas inerentes à mesma do que pelas vantagens que ela possa oferecer. Enquanto
um sucedâneo não aparecer, só loucos e criminosos poderão querer demolir o que
existe.
É bem verdade que, nessa situação desagradável da religião, não são os
menos culpados aqueles que prejudicam o sentimento religioso com a defesa de
interesses puramente materiais, provocando conflitos inteiramente desnecessários
com a chamada ciência exata. Nesse terreno, a vitória caberá sempre à última,
mesmo que a luta seja áspera, e a religião muito será diminuída aos olhos dos
que não se podem elevar acima de uma ciência aparente.
O mais lastimável, porém, é o prejuízo ocasionado pela utilização das
convicções religiosas para fins políticos. Não se pode nunca dizer o suficiente
contra esses miseráveis exploradores que vêem na religião- um instrumento a
serviço da sua política ou melhor dos seus interesses comerciais. Esses
descarados impostores gritam com voz de estertor para que os outros pecadores
possam ouvir, em toda parte, a confissão de sua fé, pela qual jamais morrerão,
mas com a qual procuram viver melhor. Para conseguirem um êxito de importância
na sua carreira são capazes de vender a sua fé; para arranjarem dez cadeiras no
parlamento, ligam-se com os marxistas, inimigos de todas as religiões; para
ganharem uma pasta de ministro vendem a alma ao diabo, a menos que este os
repila por um resto de decoro.
O fato de muita gente, na Alemanha de antes da Guerra, não gostar da
religião, deve-se atribuir à deturpação do cristianismo pelo chamado Partido
Cristão e pela despudorada tentativa de confundir a fé católica com um partido
político.
Essa aberração ofereceu oportunidade à conquista de algumas cadeiras do
Parlamento a representantes incapazes, mas prejudicou seriamente a Igreja.
Infelizmente a nação inteira é que teve de suportar as conseqüências desse
desvio, pois as conseqüências dai decorrentes sobre o relaxamento do sentimento
religioso coincidiram justamente com um período em que tudo começava a
enfraquecer-se e oscilar nos seus fundamentos e até os tradicionais princípios
da moral e dos costumes ameaçavam entrar em colapso.
Essas lesões no corpo da nação poderiam continuar sem perigo, enquanto a
própria nação não fosse submetida a uma rude prova de resistência, mas levariam
o povo à ruína desde que grandes acontecimentos tornassem de decisiva
importância o problema da solidariedade interna.
Também no domínio da política um observador cuidadoso poderia descobrir
males que, a menos que não se tomassem providências imediatas para melhorar a
situação, deveriam ser vistos como sintomas da próxima decadência da política
interna e externa do Império.
A falta de objetivo da política externa e interna da Alemanha era visível a
todos os que não se fingissem de cegos. A política de acordos pareceu a muitos
corresponder à concepção de Bismarck, uma vez que "a política é a arte do
possível".
Apenas, entre Bismarck e os chanceleres alemães posteriores, havia uma
"pequena" diferença, Ao primeiro era possível adotar uma tal concepção da
realidade política ao passo que aos seus sucessores a mesma concepção deveria
ter outro sentido. Com essa política ele queria demonstrar que para se atingir
um determinado fim todos os meios deveriam ser utilizados e se deveria recorrer
a todas as possibilidades. Seus sucessores, porém, viram nesse plano um produto
da necessidade que deveria ser visto com entusiasmo, por possuir uma finalidade
política. A verdade é que nos tempos de hoje já não há finalidade política na
direção do Reich. Falta-lhe a base necessária de uma concepção definida do
mundo, assim como a necessária compreensão das leis que regem a evolução do
organismo político.
Muitos observavam essa orientação com ansiedade e censuravam acrescente
essa falta de plano e de ideais na política do Império. Muitos reconheciam as
fraquezas internas e a insignificância dessa política. Todos esses, porém,
estavam fora das hostes políticas. O mundo oficial ignorava ás intuições de um
Chamberlain, com a mesma indiferença com o que o faz hoje. Essa gente é
demasiado estúpida para pensar por si mesma e demasiado orgulhosa para aprender
dos outros o que é necessário. Essa é uma verdade de todos os tempos e que deu
lugar à afirmação de Oxenstierna - o mundo será dirigido apenas por um
"fragmento de sabedoria", fragmento em que um conselho ministerial é apenas um
átomo insignificante."
Desde que a Alemanha se tornou república, isso já não acontece
absolutamente, pois é proibido pelas leis acreditar nisso ou mesmo proclamá-lo!
Para Oxenstierna foi uma felicidade ter vivido outrora e não na inteligente
república de hoje.
Já antes da Guerra, muitos consideravam como uma das maiores fraquezas do
momento - o Reichstag, em que a força do Império se deveria corporificar. A
covardia e a falta de responsabilidade já ali se irmanavam da maneira mais
acabada.
Um das observações mais despidas de senso que costumamos ouvir hoje é que o
"sistema parlamentar tem sido um fracasso desde a Revolução". Isso dá lugar a
que se pense que, antes da Revolução, as coisas se passavam de modo diferente,
Na realidade, o único efeito dessa instituição é, não pode deixar de ser,
simplesmente destruidor e isso assim era já nos tempos em que a maior parte do
povo usava antolhos, não via nada ou nada queria ver. Para a ruína da Alemanha
essa instituição não contribuiu pouco. O motivo por que a catástrofe não se
realizou mais cedo não se deve pôr à conta do Reichstag mas sim da resistência
que, nos tempos de paz, se opunha à atitude desses coveiros da nação e do
Governo.
Ao número infinito de males, direta ou indiretamente devidos ao
parlamentarismo, escolho ao acaso uma calamidade que melhor define a essência da
mais irresponsável das' organizações de todos os tempos. Refiro-me à monstruosa
leviandade e fraqueza da direção política interna e externa do Reich, que, antes
de tudo, devem ser atribuídas à atuação do Reichstag, e que foram a causa
principal da ruína política. De qualquer maneira que se observem os fatos,
ressalta, em toda a sua clareza, que tudo o que caía sob a influência do
parlamento era feito por meias medidas.
A política de alianças do Império foi uma dessas meias medidas que se
caracterizam por sua fraqueza. Enquanto se procurava manter a paz, estava-se, de
fato, apressando a guerra.
Da mesma maneira deve ser julgada a política para com a Polônia, os
dirigentes alemães irritavam os poloneses sem nunca atacar o problema
severamente. O resultado não foi nem uma vitória para os alemães nem uma
reconciliação com os poloneses, mas a conquista da inimizade dos russos.
A solução do caso da Alsácia Lorena foi também uma meia medida. Em vez de,
por um golpe brutal, abater, de uma vez por todas a hidra francesa, permitindo a
concessão de direitos iguais aos alsacianos, não se fez nem uma nem outra. Os
maiores atraiçoadores do seu país estavam nas fileiras dos grandes partidos,
entre eles, o sr. Wetterlé do Partido do Centro. Tudo isso ainda seria tolerável
se essas meias medidas não tivessem tido força de sacrificar o exército, de cuja
existência dependia em última instância, a conservação do Império.
Para que o chamado "Reichstag" alemão mereça para sempre as maldições da
nação basta o fato de ter colaborado nesse crime. Por motivos os mais
deploráveis, esses trapos de partido do parlamento retiraram das mãos da nação a
arma da conservação nacional, a única defesa da liberdade e da independência do
nosso povo.
Abram-se hoje os túmulos das planícies da Flândria e deles se elevarão os
acusadores representados por centenas de milhares da nata da mocidade alemã,
que, pela inconsciência desses políticos criminosos, foram insuficientemente
preparados, impelidos à morte, no exército. Esses e mais milhões de mortos e de
estropiados, a Pátria perdeu para favorecer a algumas centenas de embusteiros,
para impô-los à força ou para tornar possível a vitória de certas teorias
repetidas por verdadeiros realejos.
Enquanto os judeus, por meio de sua imprensa democrática e marxista,
irradiavam, para o mundo inteiro, mentiras sobre o "militarismo" alemão e
procuravam fazer mal ao país por todos os meios possíveis, o partido democrático
e o marxista se recusavam a aprovar qualquer providência que concorresse a
aumentar as forças de resistência da Alemanha.
O inaudito crime que, com essa atitude, se perpetrou tornou claro a todos
que apenas quisessem observar que, na hipótese de outra guerra, toda a nação
pegaria em armas e, por causa desses "representantes do povo", milhões de
alemães, mal ou nada preparados seriam repelidos pelo inimigo. Essa falta de
soldados preparados, no começo da guerra, facilmente acarretaria a sua perda, o
que foi provado, de maneira insofismável, durante a Grande Guerra.
A perda da guerra pela liberdade e independência da Alemanha foi
conseqüência da indecisão e fraqueza em coordenar todas as forças da nação para
a sua defesa.
Se, em terra, os recrutas não recebiam a devida preparação militar, no mar
verificava-se a mesma política de tornar as armas de defesa da nação mais ou
menos ineficientes. Infelizmente a própria direção da Marinha deixou-se dominar
pela política das meias medidas.
A tendência de diminuir cada vez mais a tonelagem dos navios lançados ao
mar em comparação com os dos ingleses foi de pouco alcance, em nada genial. Uma
frota que, de início, não era tão numerosa quanto a do seu provável adversário,
deveria justamente compensar a inferioridade do número de unidades com o poder
ofensivo das mesmas. Tratava-se de uma superior capacidade de destruição e não
de uma lendária superioridade de competência.
Na realidade, a técnica moderna está tão avançada e é tão análoga nos
diferentes países civilizados, que se deve ter como impossível dar a navios de
um certo poder um maior poder agressivo do que aos navios do mesmo número de
toneladas das outras nações; Muito menos se deve pensar em atingir uma maior
capacidade
Na realidade, essa pequena tonelagem das navios alemães só
poderia ter como conseqüência a diminuição da sua velocidade e da sua
eficiência. A frase- com que se procura justificar essa realidade já mostrava
uma falta de lógica dos que, na paz, ocupavam as posições de direção. Dizia-se
que o material de guerra alemão era tão superior ao inglês que o canhão alemão
de vinte e oito centímetros, não ficava atrás do inglês de 30,5 centímetros, em
poder de alcance! Justamente por isso era dever do Governo ir além do canhão
30,5 fabricando-se um que lhe fosse superior, tanto em alcance como em poder
ofensivo. Se assim não fosse, não teria sido necessária, no exército, a
construção do canhão "Mörser" de 30,5 centímetros. Isso não aconteceu, porém,
porque a direção do exército pensava com acerto, enquanto a da Marinha defendia
um ponto de vista errado.
A renúncia a planos de uma maior eficiência da artilharia, assim como de
uma maior velocidade, baseou-se na falsidade dos chamados planos gigantescos.
Essa renúncia começou pela forma por que a direção da Marinha atacou a
construção da frota que, desde o começo, por força das circunstâncias, se
desviou para as preocupações de um plano de defensiva. Com isso se renunciou
também a um êxito, pois esse só pode estar no ataque.
Um navio de pequena velocidade, e com um fraco poder ofensivo seria mais
facilmente posto a pique por adversários mais velozes e mais bem armados. Isso
deve ter sido sentido, da maneira mais amarga, por um grande número de nossos
cruzadores. Como era falsa a orientação da nossa Marinha nos tempos de paz,
demonstrou, da maneira mais evidente, a Grande Guerra, que nos impeliu ao
desmantelamento dos velhos navios e a mu melhor aparelhamento dos novos. Se, na
batalha de Skagerrak, os navios alemães tivessem a mesma tonelagem, o mesmo
poder ofensivo e a mesma velocidade dos ingleses, então, a segura e eficiente
atuação das granadas do 38 teria afundado a frota britânica.
O Japão, já há tempos, tinha impulsionado outra política de construções
navais. Nesse país, - foi julgado da máxima importância, em cada nova unidade,
conseguir-se um poder ofensivo maior do que o do inimigo provável. Isso
satisfazia às necessidades de uma possível posição ofensiva da frota!
Enquanto as forças de terra da Alemanha, na sua direção, ficavam ao abrigo
daqueles princípios falsos, a Marinha que, infelizmente, estava melhor
representada no Parlamento, teve que ser vencida peta orientação deste. As
forças do mar foram organizadas nesse regime de meias medidas. As glórias
imortais que ela conquistou devem ser levadas à custa das qualidades guerreiras
dos alemães, à capacidade e ao incomparável heroísmo dos oficiais e das
guarnições. Se a anterior direção da Marinha se tivesse elevado ao nível da
capacidade desses oficiais e marinheiros, tantos sacrifícios não teriam sido
inúteis. Talvez justamente a habilidade parlamentar dos lideres da Marinha,
durante a paz, tenha sido uma desgraça para a própria Marinha, pois, em vez de
pontos de vista militares, ameaçavam influir pontos de vista parlamentares. O
regime das meias medidas e da fraqueza, assim como a falta de lógica, que
caracterizam o parlamentarismo, mancharam a direção da Marinha.
As forças de terra, como já dissemos, salvaram-se dessa orientação
fundamentalmente falsa. Principalmente, o então chefe do Estado-Maior,
Ludendorf, encabeçou uma campanha decisiva contra as criminosas fraquezas do
parlamento no trato dos problemas vitais da nação, que desconhecia na sua maior
parte.
Se a luta que esse oficial, naqueles tempos, encabeçou, apesar de seus
desesperados esforços, foi inútil, a culpa deve-se em parte ao Parlamento e em
maior parte talvez à miserável conduta do chanceler Bethman Holiweg.
Isso não impede, porém, que os responsáveis pela ruína da Alemanha queiram
hoje lançar a culpa justamente sobre aquele que, sozinho se levantou contra essa
maneira negligente de tratar os interesses nacionais. Quem refletir sobre o
número de vítimas que ocasionou essa criminosa leviandade dos mais
irresponsáveis da nação, quem pensar nos mortos e nos mutilados, sacrificados
sem necessidade, assim como na fraqueza, na vergonha e na miséria sem limites em
que ainda agora nos encontramos e souber que tudo isso só aconteceu para que se
abrisse o caminho do ministério a uma multidão de ambiciosos e caçadores de
empregos, quem compreender tudo isso compreenderá também que essas criaturas só
devem ser designados com qualificativos como patifes, infames, pulhas e
criminosos. Ao contrário, o sentido dessas palavras e a sua finalidade
tornar-se-iam incompreensíveis. Para esses traidores da nação cada patife é um
homem de honra.
Todas as fraquezas da antiga Alemanha só feriam realmente a atenção depois
que, em conseqüência das mesmas, a estabilidade interna da nação tinha recebido
rudes golpes. Nesses casos, a desagradável verdade era proclamada com berreiro
nos ouvidos das massas, enquanto, por pudicícia, se fazia silêncio sobre muitas
coisas e negavam-se outras. Isso acontecia quando, no trato de um problema de
ordem pública, se cogitava de uma reforma que pudesse melhorar o estado de
coisas existentes. As que exerciam influência nos postos de direção da coisa
pública nada entendiam do valor e da essência da propaganda. Só os judeus é que
sabiam que, por meio de uma propaganda inteligente e constante, pode-se fazer
crer que o céu é Inferno e, inversamente, que a vida mais miserável é um
verdadeiro paraíso. Os alemães, sobretudo Os que estavam no poder, não tinham
nenhuma idéia da eficiência dessa força. Essa ignorância deveria produzir os
seus piores efeitos durante a guerra.
Ao lado dessas falhas já mencionadas e de inúmeras outras na vida alemã de
antes da Guerra, notavam-se muitas vantagens. Em um exame consciencioso
dever-se-ia mesmo reconhecer que muitas das nossas imperfeições eram vistas como
suas próprias por outros países, e que, em muitos casos, nos deixavam até mesmo
em plano secundário, e também que esses povos não possuíam muitas das nossas
vantagens.
Entre outras provas de superioridade ocupa o primeiro plano o fato de que o
alemão, entre os povos europeus, era o que mais se esforçava por manter o
caráter nacional da sua economia, e apesar de todos os maus sintomas, tinha,
pelo menos, a coragem de resistir ao controle do capital internacional,
infelizmente, essa perigosa superioridade haveria de mais tarde ser o maior
motivo de instigação da Guerra.
Se tivermos em consideração essa e muitas outras vantagens, devem-se,
dentre as inúmeras fontes sadias da nação, salientar três instituições que, na
sua espécie; são modelos que dificilmente podem ser ultrapassados.
Em primeiro lugar, figura a forma de Governo em si mesma e o caráter que
tomou na Alemanha dos últimos tempos.
Devemos fazer abstração das pessoas dos monarcas, as quais, como homens,
estavam sujeitos a todas as fraquezas dos que habitam esse planeta. A este
respeito, não fosse a nossa indulgência, seríamos forçados sobretudo a duvidar
do presente. Os representantes do atual regime, examinados pelo valor das suas
personalidades, serão, porventura, sob o ponto de vista intelectual e moral, os
mais representativos, que, depois de maduro exame, possamos descobrir? Quem
deixar de julgar a Revolução pelo valor das pessoas com que ela presenteou a
nação desde novembro de 1918, terá de esconder o rosto, tomado de vergonha, ante
o julgamento da posteridade. Porque agora o silêncio já não pode ser imposto por
leis, hoje conhecemo-los todos e sabemos que, entre os nossos novos guias, a
inteligência e a virtude estão em relação inversa aos seus vícios.
É certo que a monarquia alienara as simpatias das grandes massas. Isso
resultou do fato de nem sempre se ter cercado o monarca dos homens mais
esclarecidos, e sobretudo, mais sinceros Infelizmente ê]e preferia, às vezes, os
bajuladores aos espíritos retos e, por isso, daqueles "recebia lições". Foi uma
grande pena que isso acontecesse em uma época em que o mundo passa por grandes
mutações em todas as antigas concepções, mutações que, naturalmente, não
poderiam ser detidas na sua marcha pelas velhíssimas tradições da Corte.
Não é, pois, de estranhar que ao tipo comum dos homens, já na passagem do
século, nenhuma admiração especial causasse a presença da princesa uniformizada
nas linhas da frente. Sobre o efeito de uma tal parada no espírito do povo,
aparentemente, não se podia fazer uma idéia exata, pois, do contrário, jamais
teríamos chegado à situação infeliz de hoje. O sentimento de humanidade, nem
sempre verdadeiro, desses círculos, continua a provocar mais nojo do que
simpatia. Se, por exemplo, a princesa X se dignasse provar os alimentos em uma
cozinha popular, outrora isso podia ser muito bem visto mas, na época em que
falamos, o efeito seria contrário. É fácil de aceitar-se que a princesa, na
realidade, não tivesse a intenção de, no dia da prova dos alimentos, fazer com
que a alimentação fosse um pouquinho melhor do que de costume, Bastava, porém,
que os indivíduos aos quais ela queria beneficiar soubessem disso.
Assim as melhores intenções possíveis tornar-se-iam ridículas senão
irritantes.
Cartazes anunciando a proverbial fragilidade do monarca, o seu hábito de
acordar cedo e trabalhar até tarde da noite, o perigo ameaçador da insuficiência
de sua alimentação, provocavam manifestações dignas de reflexão. Ninguém queria
saber o que e quanto o monarca se dignava comer, desejava-se-lhe apenas que
"comesse o necessário". Ninguém se preocupava em recusar-lhe o sono suficiente.
Todos se contentavam em que ele, como homem, honrasse o sexo, e, como chefe de
governo, defendesse a honra da nação. As fábulas já em nada adiantavam, mas ao
contrário, eram prejudiciais.
Essas e outras coisas semelhantes eram, porém, nonadas.
Infelizmente, no seio da maioria da nação, havia a convicção geral de que,
de qualquer modo, o povo é governado de cima para baixo e assim cada um não se
preocupava com coisa alguma mais. Enquanto a atuação do Governo era realmente
boa ou, pelo menos, bem intencionada, a coisa ainda passava. Uma infelicidade
seria, porém, se algum dia o velho regente bom em si, fosse substituído por um
outro menos respeitado, Então a docilidade passiva e a fé infantil redundariam
na maior calamidade imaginável.
Ao lado de todos esses e de muitos outros defeitos, havia aspectos de
importância incontestável.
A estabilidade assegurada pelo regime monárquico, a proteção dos cargos
públicos contra o turbilhão das especulações dos políticos gananciosos, a
dignidade intrínseca da instituição monárquica e a autoridade que daí decorria,
a dignificação do corpo de funcionários, e, acima de tudo, a situação do
exército acima dos partidos políticos, eram vantagens incontestáveis.
Era também uma grande vantagem o fato da liderança do Governo
personificar-se no monarca e, com isso, se fornecesse o exemplo da
responsabilidade que inspira mais confiança quando depende de um monarca do que
dos azares de uma maioria parlamentar. A proverbial pureza da administração
alemã deve-se principalmente a isso.
Além disso, o valor cultural da Monarquia era, para o povo, da maior
significação, podendo compensar outras desvantagens, As sedes dos governos
alemães continuavam a ser esteio para os sentimentos artísticos que, em nossos
tempos de materialismo, cada vez mais estão ameaçados de desaparecer. O que os
príncipes alemães, no século XIX, fizeram em favor da arte e da ciência, foi de
alta significação. Os tempos de hoje não podem ser comparados com aqueles!
Como um dos fatores mais eficientes da nação contra essa incipiente mas
sempre crescente decomposição da nossa nacionalidade deve ser apontado o
exército. As forças armadas eram a mais forte escola da nação e justamente por
isso se dirigiam os ódios dos inimigos contra esse reduto da defesa e da
liberdade do povo. Nenhum mais portentoso edifício se poderia levantar a essa
instituição do que a proclamação desta verdade: o exército foi caluniado,
odiado, combatido por todos os indivíduos sem valor, mas foi temido. Se a fúria
dos aproveitadores internacionais em Versalhes se dirigia contra o antigo
exército alemão é que este era o último reduto das nossas liberdades na luta
contra o capitalismo internacional. Não fosse essa força ameaçadora, a Intenção
de Versalhes se teria realizado muito antes. O que o povo alemão deve ao
exército pode-se resumir nesta palavra: tudo.
O exército deu uma lição de absoluta noção de responsabilidade, em uma
época em que essa qualidade tornava-se cada vez mais rara. A sua atuação
impressionava tanto mais quanto constituía uma brilhante exceção à ausência
absoluta de responsabilidade de que o parlamento era o mais eloqüente modelo.
O exército incentivou a coragem pessoal em um momento em que a covardia
ameaçava contaminar o país inteiro e a capacidade de sacrifício, em favor do bem
coletivo, era visto como estupidez por aqueles que só cuidavam de conservar e
melhorar o seu eu.
O exército foi a escola que deu aos alemães a convicção de que a salvação
da pátria não se devia procurar nas frases mentirosas de uma confraternização
internacional de negros, alemães, franceses, ingleses, etc., mas na força e na
decisão do seu próprio povo.
O exército inspirou o espírito de resolução quando na vida do povo, a
indecisão e a dúvida começavam a caracterizar todos os atos dos indivíduos. Ele
queria significar alguma coisa em um momento em que os sabichões procuravam; por
toda parte, o princípio de que uma ordem é sempre melhor do que nenhuma.
Nessa capacidade de resolução podia-se notar um sintoma de saúde integral e
robusta que teria desaparecido dos outros setores da vida da nação, se o
exército, por sua educação, não se tivesse sempre esforçado por uma renovação
contínua dessa força primordial. Basta ver a terrível irresolução dos atuais
dirigentes do Reich, incapazes de tomar uma decisão em qualquer fato, a não ser
que se trate da assinatura de um tratado de pilhagem. Nesse caso, eles põem de
parte qualquer responsabilidade e assinam com a destreza de um estenógrafo tudo
o que se entende apresentar-lhes, porque aí a resolução é fácil de tomar uma vez
que lhes é ditada.
O exército pregava o idealismo e o sacrifício em favor da Pátria e de suas
grandezas, enquanto, em outros setores, a ambição e o materialismo tinham
assentado acampamento, Pregava a unidade nacional contra a divisão do povo em
classes. Talvez o seu único erro tenha sido a instituição do voluntariado por um
ano. Isso foi um erro porque rompeu o princípio de igualdade absoluta e
estabeleceu a distinção entre as classes bem educadas e a maioria da nação. O
contrário disso teria sido mais aconselhável.
Tendo-se em consideração o espírito estreito das nossas classes eleva. das
e o seu divórcio progressivo do resto da nação, o Exército poderia ter agido
como uma espécie de Providência se tivesse evitado o isolamento dos intelectuais
pelo menos dentro das fileiras das classes armadas.
Foi um grande erro o não se ter agido assim. Que instituição neste planeta
é, porém, sem defeitos? Mas a despeito disso as suas vantagens eram tão
preponderantes que as suas pequenas falhas deveriam ser atribuídas à imperfeição
humana.
O maior serviço prestado pelo exército do antigo Império foi pôr a
competência acima do número, em uma época em que tudo se resolvia pela maioria.
Contra a idéia democrática dos judeus, de veneração às maiorias, o Exército
manteve o princípio da confiança no valor das personalidades, de que os últimos
tempos mais precisavam. No meio desse relaxamento e efeminação surgiam todos os
anos 350.000 jovens sadios que, depois de dois anos de exercícios, perdiam a
delicadeza da juventude e se tornavam fortes como aço. Pela maneira de andar
reconhecia-se o soldado treinado.
Essa foi a grande escola da nação alemã e, por isso, não foi sem razão que
sobre o exército convergia o ódio inveterado daqueles cuja inveja e cobiça
exigiam que o Governo ficasse sem força e os cidadãos sem armas.
A forma do Governo e ao exército deve-se acrescentar o incomparável corpo
de funcionários públicos.
A Alemanha era a mais bem administrada e organizada nação do mundo.
Poder-se-ia dizer que os empregados alemães eram burocratas pedantes, mas a
situação não era melhor em outros países. Ao contrário, era pior. O que os
outros países não possuíam, porém, era a solidez do aparelhamento e o caráter
incorruptível da burocracia alemã. É melhor ser pedante, mas honesto e fiel, a
ser ilustre e "moderno", mas de caráter fraco ou, como é hoje comum, ignorante e
incompetente. É costume dizer-se que, antes da Guerra, a administração alemã
era, burocraticamente, pura, mas sem senso prático, comercial. A essa objeção
poder-se-á responder: Que país do mundo tinha um serviço de transportes mais bem
dirigido e melhor organizado sob o ponto de vista comercial do que a Alemanha?
O corpo de funcionários públicos alemães e a máquina administrativa
caracterizavam-se pela sua independência em relação aos Governos, cujas idéias
transitórias sobre a política não afetavam a posição dos funcionários. Depois da
Revolução tudo isso foi profundamente modificado. As contingências partidárias
substituíram a competência e a habilidade e, dai por diante, o fato de ter o
funcionário um caráter independente, em vez de ser uma recomendação, passou a
ser uma desvantagem.
Sobre a forma de Governo, sobre o Exército e sobre o funcionalismo público
repousavam a força e a eficiência do antigo império.
Essas eram as três causas primordiais da virtude que hoje falta ao Governo
alemão, isto é, a autoridade do Estado.
Essa autoridade não se apoia em palavrório dos parlamento e dietas, nem em
leis de proteção, nem em sentenças judiciais destinadas a amedrontar os
covardes, mentirosos, etc., mas na confiança geral que a direção política e
administrativa de um país pode e deve inspirar. Esta confiança é o resultado de
uma inabalável certeza do desinteresse e da honestidade da política e da
administração de um país e da harmonia do espírito das suas leis com os
princípios morais do povo. Nenhum sistema de governo pode manter-se por muito
tempo somente baseado na força, mas sim pela confiança pública na excelência do
mesmo e pela probidade dos representantes e dos defensores dos interesses
coletivos.
Por mais que certos males ameaçassem, já antes da Guerra, carcomer e minar
a força da nação, não se deve esquecer que outros países sofriam ainda mais da
mesma moléstia e, nem por isso, na hora crítica do perigo, cessavam a luta e se
arruinavam.
Se nos lembrarmos, porém, que, antes da Guerra, ao lado das fraquezas
alemãs já mencionadas havia também forças ponderáveis podemos e devemos procurar
as causas da ruína do país em outros setores. É esse é o caso na realidade.
A mais profunda causa da debácle do antigo Império está no desconhecimento
do problema racial e da sua importância na evolução espiritual dos povos Todos
os acontecimentos na vida das nações não são obras do acaso mas conseqüências
naturais da necessidade imperiosa da conservação e da multiplicação da espécie e
da raça, embora os homens nem sempre se apercebam do fundamento intimo das suas
ações.
CAPÍTULO XI - POVO E RAÇA
Há verdades de tal modo disseminadas por toda parte que chegam a escapar,
por isso mesmo, à vista ou, pelo menos, ao conhecimento da maioria do povo. Este
passa freqüentemente como cego diante destas verdades à vista de todo, mundo e
mostra a máxima surpresa, quando, se repente, alguém descobre o que todos,
portanto deveriam saber. Os ovos de Colombo andam espalhados por centenas de
milhares; os Colombos, porém, são realmente mais difíceis de encontrar.
E assim os homens erram pelo Jardim da Natureza, convencidos de quase tudo
conhecer e saber, e, no entanto, com raras exceções, deixam de enxergar um dos
princípios básicos de maior importância na sua organização a saber: o isolamento
de todos os seres vivos desta terra dentro das suas espécies.
Já a observação mais superficial nos mostra, como lei mais ou menos
implacável e fundamental, presidindo a todas as inúmeras manifestações
expressivas da vontade de viver na Natureza, o processo em si mesmo limitado,
pelo qual esta se continua e se multiplica. Cada animal só se associa a um
companheiro da mesma espécie. O abelheiro cai com o abelheiro, o tentilhão com o
tentilhão, a cegonha com a cegonha, o rato campestre com o rato campestre, o
rato caseiro com o rato caseiro, o lobo com a loba etc.
Só circunstâncias extraordinárias conseguem alterar essa ordem, entre as
quais figura, em primeiro lugar a coerção exercida por prisão do animal ou
qualquer outra impossibilidade de união dentro da mesma espécie. Ai, porém, a
Natureza começa a defender-se por todos os meios, e seu protesto mais evidente
consiste, ou em privar futuramente os bastardos da capacidade de procriação ou
em limitar a fecundidade dos descendentes futuros. Na maior parte dos casos, ela
priva-os da faculdade de resistência contra moléstias ou ataques hostis. Isso é
um fenômeno perfeitamente natural: todo cruzamento entre dois seres de situação
um pouco desigual na escala biológica dá, como produto, um intermediário entre
os dois pontos ocupados pelos pais. Significa isto que o filho chegará
provavelmente a uma situação mais alta do que a de um de seus pais, o inferior,
mas não atingirá entretanto à altura do superior em raça. Mais tarde será, por
conseguinte, derrotado na luta com os superiores. Semelhante união está porém em
franco desacordo com a vontade da Natureza, que, de um modo gera], visa o
aperfeiçoamento da vida na procriação. Essa hipótese não se apoia na ligação de
elementos superiores com inferiores mas na vitória incondicional dos primeiros.
O papel do mais forte é dominar. Não se deve misturar com o mais fraco,
sacrificando assim a grandeza própria. Somente um débil de nascença poderá ver
nisso uma crueldade, o que se explica pela sua compleição fraca e limitada.
Certo é que, se tal lei não prevalecesse, seria escusado cogitar de todo e
qualquer aperfeiçoamento no desenvolvimento dos seres vivos em gera.
Esse instinto que vigora em toda a Natureza, essa tendência à purificação
racial, tem por conseqüência não só levantar uma barreira poderosa entre cada
raça e o mundo exterior, como também uniformizar as disposições naturais. A
raposa é sempre raposa, o ganso, ganso, o tigre, tigre etc. A diferença só
poderá residir na medida variável de força, robustez, agilidade, resistência
etc., verificada em cada um individualmente. Nunca se achará, porém, uma raposa
manifestando a um ganso sentimentos humanitários da mesma maneira que não há um
gato com inclinação favorável a um rato.
Eis porque a luta recíproca surge aqui, motivada, menos por antipatia
íntima, por exemplo, do que por impulsos de fome e amor. Em ambos os casos, a
Natureza é espectadora, plácida, e satisfeita. A luta pelo pão quotidiano deixa
sucumbir tudo que é fraco, doente e menos resoluto, enquanto a luta do macho
pela fêmea só ao mais sadio confere o direito ou pelo menos a possibilidade de
procriar. Sempre, porém, aparece a luta como um meio de estimular a saúde e a
força de resistência na espécie, e, por isso mesmo, um incentivo ao seu
aperfeiçoamento.
Se o processo fosse outro, cessaria todo progresso na continuação e na
elevação da espécie, sobrevindo mais facilmente o contrário. Dado o fato de que
o elemento de menor valor sobrepuja sempre o melhor na quantidade, mesmo que
ambos possuam igual capacidade de conservar e reproduzir a vida, o elemento pior
muito ,mais depressa se multiplicaria, ao ponto de forçar o melhor a passar para
um plano secundário. Impõe-se, por conseguinte, uma correção em favor do melhor.
Mas a Natureza disso se encarrega, sujeitando o mais fraco a condições de
vida difíceis, que, só por isso, o número desses elementos se torna reduzido.
Não consentindo que os demais se entreguem, sem seleção prévia, a reprodução,
ela procede aqui a uma nova e imparcial escolha, baseada no princípio da força e
da saúde.
Se, por um lado, ela pouco deseja a associação individual dos mais fracos
com os mais fortes, ainda menos a fusão de uma raça superior com uma inferior.
Isso se traduziria em um golpe quase mortal dirigido contra todo o seu trabalho
ulterior de aperfeiçoamento, executado talvez através de centenas de milênios.
Inúmeras provas disso nos fornece a experiência histórica. Com assombrosa
clareza ela demonstra, que, em toda mistura de sangue entre o ariano e povos
inferiores, o resultado foi sempre a extinção do elemento civilizador. A América
do Norte, cuja população,, decididamente, na sua maior parte, se compõe de
elementos germânicos, que só muito pouco se misturaram com povos inferiores e de
cor, apresenta outra humanidade e cultura do que a América Central e do Sul,
onde os imigrantes, quase todos latinos, se fundiram, em grande número, com os
habitantes indígenas. Bastaria esse exemplo para fazer reconhecer clara e
distintamente, o efeito da fusão de raças. O germano do continente americano
elevou-se até a dominação deste, por se ter conservado mais puro e sem mistura;
ali continuará a imperar, enquanto não se deixar vitimar pelo pecado da mistura
do sangue.
Em poucas palavras, o resultado do cruzamento de raças é, portanto, sempre
o seguinte:
A) Rebaixamento do n. 1 da raça mais forte;
B) Regresso físico e intelectual e, com isso, o começo de uma enfermidade,
que progride devagar, mas seguramente. Provocar semelhante coisa não passa então
de um atentado à vontade do Criador, o castigo também corresponde ao pecado.
Procurando rebelar-se contra a lógica férrea da Natureza, o homem entra em
conflito com os princípios fundamentais, aos quais ele mesmo deve exclusivamente
a sua existência no seio da humanidade - Desse modo, esse procedimento de
encontro às leis da Natureza só pode conduzir à sua própria perda. É oportuno
repetir a afirmação do pacifista moderno, tão tola quanto genuinamente judaica,
na sua petulância: "O homem vence a própria Natureza!"
Milhões de indivíduos repetem mecanicamente esse absurdo judaico e
Imaginam, por fim, que são, de fato, uma espécie de domadores da Natureza. A
única arma de que dispõem para firmar tal pensamento é uma idéia tão miserável,
na sua essência, que mal se pode concebê-la.
Somente, pondo de parte que o homem ainda não superou em coisa alguma a
Natureza, não tendo passado de tentativas o levantar, pelo menos, uma ou outra
pontinha do gigantesco véu, sob o qual ela encobre os eternos enigmas e
segredos, que ele, de fato, nada inventa, somente descobre o que existe, que ele
não domina a Natureza, só tendo ascendido ao grau de senhor entre os demais
seres vivos, pela ignorância destes e pelo seu próprio conhecimento de algumas
leis e de alguns segredos da Natureza, pondo de parte tudo isso, uma idéia não
pode dominar as hipóteses sobre a origem e o destino da Humanidade, visto a
idéia mesma só depender do homem.
Sem o homem não pode haver idéia humana no mundo, porquanto a idéia como
tal é sempre condicionada pela existência dos homens e, por isso mesmo, por
todas as leis, que regulam a sua vida. E, não fica nisso! Idéias definidas
acham-se ligadas a determinados indivíduos. Verifica-se isso, em primeiro lugar,
no caso de pensamentos cujo conteúdo não deriva de uma verdade exata,
cientifica, porém do mundo sentimental, reproduzindo, como se costuma tão
claramente definir, hoje em dia, um fato vivido interiormente. Todas essa idéias
que em si nada têm que ver com a lógica fria, representando, pelo contrário,
manifestações sentimentais, representações éticas, etc., prendem-se à vida do
homem devido a sua própria existência à força imaginativa criadora do espírito
humano.
Aí justamente é que se impõe a conservação dessas determinadas raças e
criaturas como condição primordial para a durabilidade dessas idéias. Quem, por
exemplo, quisesse realmente, de coração, desejar a vitória do pensamento
pacifista, teria que se empenhar, por todos os meios, para que os alemães
tomassem posse do Mundo; pois, se porventura acontecesse o contrário, muito
facilmente, com o último alemão, extinguir-se-ia também o último pacifista,
visto o resto do mundo dificilmente já ter sido logrado por um absurdo tão
avesso à natureza e à razão, quanto o foi o nosso próprio povo.
Seria pois necessário, de bom ou de mau grado, nos decidirmos com toda a
seriedade a fazer a Guerra a fim de chegarmos ao pacifismo. Foi isso e nada mais
a intenção de Wilson, o redentor universal. Assim pensavam pelo menos os nossos
visionários alemães que, por esse meio, chegaram a seus fins. Talvez o conceito
pacifista humanitário chegue a ser de fato aceitável, quando o homem que for
superior a todos, tiver previamente conquistado e subjugado o mundo, ao ponto de
tornar-se o senhor exclusivo desta terra. A tal idéia torna-se impossível
produzir conseqüências nocivas, desde que a sua aplicação na realidade se torna
cada vez mais difícil, e por fim, impraticável. Portanto, primeiro, a luta,
depois talvez o pacifismo. No caso contrário, a humanidade teria passado o ponto
culminante do seu desenvolvimento resultando, por fim, não o império de qualquer
idéia moral, mas sim barbaria e confusão. Naturalmente um ou outro poderá rir
dessa afirmação. É preciso que ninguém se esqueça, porém, de que este planeta já
percorreu o éter milhões de anos sem ser habitado e poderá, um dia, empreender o
mesmo percurso da mesma maneira, se os homens esquecerem que não devem sua
existência superior às teorias de uns poucos ideólogos malucos, mas ao
reconhecimento e à aplicação incondicional de leis imutáveis da Natureza.
Tudo que hoje admiramos nesta terra, - ciência e arte, técnica e invenções
- é o produto criador somente de poucos povos e talvez, na sua origem, de uma
única raça. Deles também depende a estabilidade de toda esta cultura. Com a
destruição desses povos baixará igualmente ao túmulo toda a beleza desta terra.
Por mais poderosa que Possa ser a Influência do solo sobre os homens, seus
efeitos sempre hão de variar segundo as raças. A falta de fertilidade de um país
pode estimular uma raça a alcançar nas suas atividades um rendimento máximo;
outra raça só encontrará no mesmo fato motivo para cair na maior miséria,
acompanhada de alimentação insuficiente e todas as suas conseqüências. As
qualidades intrínsecas dos povos são sempre o que determina a maneira pela qual
se exercem as influências externas. A mesma causa, que a uns leva a passar fome,
provoca em outros o estimulo para trabalhar com mais afinco.
A razão pela qual todas as grandes culturas do passado pereceram, foi a
extinção, por envenenamento de sangue, da primitiva raça criadora. A última
causa de semelhante decadência foi sempre o fato de o homem ter esquecido que
toda cultura dele depende e não vice-versa; que para conservar uma cultura
definida o homem, que a constrói, também precisa ser conservado. Semelhante
conservação, porém, se prende à lei férrea da necessidade e do- direito de
vitória do melhor e do mais forte.
Quem desejar viver, prepara-se para o combate, e quem não estiver disposto
a isso, neste mundo de lutas eternas, não merece a vida.
Por mais doloroso que isso seja, é preciso confessá-lo. A sorte mais dura
é, sem dúvida alguma, a do homem que julga poder vencer a Natureza e na
realidade a Natureza do mesmo escarnece. A réplica da Natureza se resume então
em privações, infelicidades e moléstias!
O homem que desconhece e menospreza as leis raciais, em verdade, perde,
desgraçadamente a ventura que lhe parece reservada, Impede a marcha triunfal da
melhor das raças, com isso estreitando também a condição primordial de todo
progresso humano. No decorrer dos tempos, vai caminhando para o reino do animal
indefeso, embora portador de sentimentos humanos.
É uma tentativa ociosa querer discutir qual a raça ou quais as raças que
foram os depositários da cultura humana e os verdadeiros fundadores de tudo
aquilo que compreendemos sob o termo "Humanidade". - Mais simples é aplicar essa
pergunta ao presente, e, aqui também, a resposta é fácil e clara. O que hoje se
apresenta a nós em matéria de cultura humana, de resultados colhidos no terreno
.da arte, da ciência e da técnica, é quase que exclusivamente produto da criação
do Ariano. É sobre tal fato, porém, que devemos apoiar a Conclusão de ter sido
ele o fundador exclusivo de uma humanidade superior, representando assim "o tipo
primitivo daquilo que entendemos por "homem". É ele o Prometeu da humanidade, e
da sua fronte é que jorrou, em todas as épocas, a centelha do Gênio, acendendo
sempre de novo aquele fogo do conhecimento que iluminou a noite dos tácitos
mistérios, fazendo ascender o homem a uma situação de superioridade sobre os
outros seres terrestres, Exclua-se ele, e, talvez depois de poucos milênios,
descerão mais uma vez as trevas sobre a terra; a civilização humana chegará a
seu termo e o mundo se tornará um deserto!
Se a humanidade se pudesse dividir em três categorias: fundadores,
depositários e destruidores de Cultura, só o Ariano deveria ser visto como
representante da primeira classe. Dele provêm os alicerces e os muros de todas
as criações humanas, e os traços característicos de cada povo em particular são
condicionados por propriedades exteriores, como sejam a forma e o colorido, É
ele quem fornece o formidável material de construção e os projetos para todo
progresso humano. Só a execução da obra é que varia de acordo com as condições
peculiares das outras raças. Dentro de poucas dezenas de anos, por exemplo, todo
o leste de Ásia possuirá uma cultura, cujo último fundamento será tão impregnado
de espírito helênico e técnica germânica quanto o é a nossa. A forma exterior é
que, pelo menos parcialmente, acusará traços de caráter asiático. Muitos julgam
erroneamente que o Japão assimilou a técnica da Europa na sua civilização. Não é
o caso. A ciência e a técnica européias recebem apenas um verniz japonês. A base
da vida real não é mais a cultura específica do Japão, embora seja ela quem dê
"a cor local" à vida do país, o que impressiona mais à observação do Europeu,
justamente devido aos aspectos externos originais. Aquela base se encontra,
porém, na formidável produção científica e técnica da Europa e da América e,
portanto, de povos arianos. Só se baseando nessas produções é que o Oriente
poderá seguir o progresso geral da Humanidade. Só elas é que descortinam o campo
para a luta pelo pão quotidiano, criando, para isso, armas e utensílios; ao
espírito japonês só se vai adaptando gradualmente o aspecto exterior de tudo
isso.
Se a partir de hoje, cessasse toda a influência ariana sobre o Japão imaginando-se a hipótese de que a Europa e a América atingissem uma decadência
total - a ascensão atual do Japão no terreno técnico-científico ainda poderia
perdurar algum tempo. Dentro de poucos anos, porém, a fonte secaria,
sobreviveria a preponderância do caráter japonês, e a cultura atual morreria,
regressando ao sono profundo, do qual, há setenta anos, fora despertada
bruscamente pela onda da civilização ariana. Eis porque, em tempos remotos,
também foi a influência, do espírito estrangeiro que despertou a cultura
japonesa. Hoje também o progresso do país é inteiramente devido à influência
ariana. A melhor prova desse fato é a fossilização e a rigidez, que, mais tarde,
se foram verificando em tal cultura, fenômeno este que um povo só pode
assinalar, quando a primitiva semente criadora se perdeu em uma raça, ou quando
velo a faltar a influência externa que dera o impulso e o material necessários
ao primeiro desenvolvimento cultural. Pode-se denominar uma tal raça
depositária, nunca, porém, criadora de cultura. Está provado, que quando a
cultura de um povo, na sua essência, foi recebida, absorvida e assimilada de
raças estrangeiras, uma vez retirada a influência exterior, ela cai de novo no
mesmo torpor.
Um exame dos diferentes povos, sob tal ponto de vista, confirma o fato de
que, nas origens, quase não se trata de povos construtores, mas, sempre pelo
contrário, de depositários de uma civilização.
Sempre resulta. mais ou menos, o seguinte quadro de sua evolução:
Tribos arianas - muitas vezes em número ridiculamente reduzido - subjugam
povos estrangeiros, desenvolvendo, então, animadas por condições especiais da
nova região (fertilidade, clima etc.), favorecidas pelo número avultado de
auxiliares da raça inferior, suas latentes capacidades intelectuais e
organizadoras. Elas criam, freqüentemente, em poucos milênios e até em períodos
de séculos, civilizações, que, de começo, revelam integralmente os traços
íntimos da sua individualidade adaptados às propriedades específicas do solo
como dos homens por elas subjugados. Por fim acontece, porém, que os
conquistadores pecam contra o princípio - observado no começo - da pureza
conservadora do sangue,- dão para misturar-se com os habitantes subjugados, e
põem termo com isso à sua própria existência. A queda pelo pecado, no Paraíso,
teve apenas como conseqüência a expulsão Depois de um milênio ou mais,
transparece freqüentemente o último vestígio visível do antigo povo dominador,
na coloração mais clara da pele, deixada pelo seu sangue à raça vencida e também
em uma civilização entorpecida, criada por ele primitivamente para ser a
geradora das outras.
Da mesma maneira que o verdadeiro conquistador espiritual se perdeu no
sangue dos vencidos, perdeu-se também o combustível para a tocha do progresso da
civilização humana! Tal qual a cor da pele, devido ao sangue do antigo senhor,
ainda guardou como recordação um ligeiro brilho, a noite da vida espiritual
igualmente se acha suavemente iluminada pelas criações dos primitivos
mensageiros de luz. Através de toda a barbárie recomeçada, elas continuam a
brilhar despertando demais no espectador distraído a suposição de ver o quadro
de um povo atual, enquanto ele se mira apenas no espelho do passado.
Pode então acontecer, que, no decorrer da sua história, um povo entre em
contato duas vezes e mesmo até mais com a raça de seus antigos civilizadores,
sem que seja preciso existir ainda uma reminiscência de prévios encontros. O
resto do antigo sangue dominador se encaminhará inconscientemente para o novo
tipo e a vontade própria conseguirá então o que, a princípio, só era possível
por coação. Verifica-se uma nova onda civilizadora que se mantém, até que os
seus expoentes desapareçam por sua vez no sangue de povos estrangeiros.
Futuramente caberá como tarefa a uma História Universal e Cultural fazer
pesquisas nesse sentido e não se deixar sufocar na enumeração de fatos puramente
exteriores, como se dá, infelizmente, as mais das vezes, com a ciência histórica
da atualidade.
Já deste esboço sobre o desenvolvimento de nações depositárias de uma
civilização, resulta também o quadro da formação da atividade e do
desaparecimento dos próprios arianos, os verdadeiros fundadores culturais desta
terra. Como na vida corrente, o chamado "Gênio" necessita de um pretexto, multas
vezes até literalmente, de um empurrão, para chegar ao ponto de brilhar, assim
também acontece na vida dos povos, com a raça genial. Na monotonia da vida
quotidiana, indivíduos de valor costumam freqüentemente parecer insignificantes,
elevando-se apenas acima da média comum dos que o cercam; entretanto, assim que
sobrevem alguma situação, que a outros faria desesperar ou enlouquecer, ergue-se
de dentro da criatura média e apagada a natureza genial, deixando facilmente
estupefatos aqueles que a viam dantes, no quadro estreito da vida burguesa - o
que explica talvez o fato do "profeta raramente valer qualquer coisa em sua
terra". Nada melhor do que a Guerra nos oferece oportunidade para fazer tal
observação, Em horas de angústia, surgem subitamente, de crianças aparentemente
inofensivas, heróis dotados de resoluta coragem, perante a morte e de grande
frieza de reflexão. Não fosse tal momento de provação, ninguém teria pressentido
o herói no rapaz ainda imberbe. Quase sempre é preciso algum solavanco para
provocar o gênio. A martelada do destino, que a uns derriba logo, já em outros
encontra resistência de aço, e, destruindo o invólucro da vida quotidiana,
descobre o âmago até então oculto aos olhos do universo atônito. Este se defende
e recusa crer, que exemplares de aparência tão semelhante possam tão
repentinamente mudar de individualidade, processo esse, que se deve repetir com
toda criatura excepcional.
Apesar de um inventor, por exemplo, só consolidar a sua fama no dia em que
a invenção está terminada, seria errôneo pensar que a genialidade em si não se
contivesse no homem antes desse momento. A centelha do gênio já faísca, desde a
hora do nascimento, na cabeça do homem verdadeiramente dotado de talento
criador, Genialidade verdadeiramente é sempre inata, nunca fruto de educação ou
estudos.
Como já acentuamos previamente, o mesmo fenômeno, observado no indivíduo,
se produz também na raça, Ainda que espectadores superficiais queiram
desconhecer esse fato, certo é que os povos que produzem muito são dotados de
talento criador desde a sua origem mais remota. Aqui também a aceitação exterior
só se manifesta depois de obras executadas, o resto do mundo sendo incapaz de
reconhecer a genialidade em si, aplaudindo apenas suas manifestações concretas,
como sejam: invenções, descobertas, construções, pinturas, etc. Mesmo depois
disso, ainda passa às vezes muito tempo, até chegar a ser reconhecida. Na vida
do indivíduo predestinado, a disposição genial ou pelo menos extraordinária, só
incentivaria por motivos especiais, marcha para a sua realização prática; na
vida dos povos também só determinadas hipóteses poderão levar à completa
utilização de forças e capacidades criadoras.
É nos Arianos - raça que foi e é o expoente do desenvolvimento cultural da
Humanidade - que se verifica tudo isso com a maior clareza. Assim que o destino
os lança em situações especiais, as faculdades que possuem começam a se
desenvolver e a se tornar manifestas. As civilizações por eles fundadas em
semelhantes casos, quase sempre são definitivamente fixadas pelo solo e clima e
pelos homens vencidos, sendo este último fator quase que o mais decisivo. Quanto
mais primitivos os recursos técnicos para um trabalho cultural, mais necessário
o auxílio de forças humanas, que, conjugadas e bem aplicadas, terão que
substituir a energia da máquina. Sem tal possibilidade de empregar gente
inferior, o ariano nunca teria podido dar os primeiros passos para sua
civilização, do mesmo modo que, sem a ajuda de animais apropriados, pouco a
pouco domados por ele, nunca teria alcançado uma técnica, graças à qual vai
podendo dispensar os animais. O ditado: "o negro fez a sua obrigação, pode se
retirar", possui infelizmente uma significação profunda. Durante milênios, o
cavalo teve que servir e ajudar o homem em certos trabalhos nos quais agora o
motor suplantou, o que dispensou perfeitamente o cavalo, Daqui a poucos anos,
este terá cessado toda a sua atividade. No entanto, sem a sua cooperação
inicial, o homem só dificilmente teria chegado ao ponto em que hoje se acha.
Eis como a existência de povos inferiores tornou-se condição primordial na
formação de civilizações superiores, nas quais só esses entes poderiam suprir a
falta de recursos técnicos, sem os quais nem se pode imaginar um progresso mais
elevado. A cultura básica da humanidade se apoiou menos no animal domesticado do
que na utilização de indivíduos inferiores.
Só depois da escravização de raças inferiores ê que a mesma sorte tiveram
os animais, e não "vice-versa", como alguém poderia pensar. É certo que foi
primeiro o vencido, e só, depois dele o cavalo, que puxou o arado. Só os bobos
pacifistas é que podem enxergar nisso um indício de maldição humana, sem
perceber direito que tal era a marcha a seguir, para, finalmente, chegar-se ao
ponto de onde esses apóstolos têm pregado ao mundo o seu charlatanismo.
O progresso humano se assemelha a uma ascensão em uma escada sem fim; não
se chega de forma alguma encima, sem se ter servido dos degraus inferiores. Foi
assim que o ariano teve que trilhar o caminho traçado pela realidade e não
aquele com o qual sonha a fantasia de um pacifista moderno. O caminho da
realidade é duro e espinhoso, mas só ele conduz à finalidade com que os
pacifistas sonham afastando, porém, cada vez mais a humanidade do ideal sonhado.
Não é, portanto, por mero acaso, que as primeiras civilizações tenham nascido
ali, onde o ariano, encontrando povos inferiores, subjugou os à sua vontade;
foram eles os primeiros instrumentos a serviço de uma cultura em formação.
Com isso ficou porém, claramente delineado o trajeto que o ariano teria de
percorrer. Com a sua autoridade de conquistador, submeteu ele os homens
inferiores, regulando, em seguida, sob o seu comando, a atividade prática dessas
criaturas, conforme a sua vontade e visando seus próprios fins. Enquanto assim
conduzia os vencidos para um trabalho útil, embora duro, o ariano poupava, não
só as suas vidas, como lhes proporcionava talvez uma sorte melhor do que dantes,
quando gozavam a chamada "liberdade". Todo o tempo em que ele soube manter, sem
vacilações, o seu lugar de senhor e mestre, conservou-se, não somente o senhor
absoluto, como o conservador e pioneiro da civilização, visto esta depender
exclusivamente da capacidade dos conquistadores e da sua própria conservação. No
momento em que os próprios vencidos começaram a se elevar sob o ponto de vista
cultural, aproximando-se também dos conquistadores pelo idioma, ruiu a rigorosa
barreira entre o senhor e o servo. O ariano sacrificou a pureza do sangue,
perdendo assim o lugar no Paraíso, que ele mesmo tinha preparado. Sucumbiu, com
a mistura racial; perdeu, aos poucos, cada vez mais, sua capacidade
civilizadora, até que começou a se assemelhar mais aos indígenas subjugado do
que a seus antepassados, e isso, não só intelectual como fisicamente. Algum
tempo ainda, pôde fruir dos bens já existentes da civilização, mas, depois,
sobreveio a paralisação do progresso e o homem se esqueceu de si próprio. É
desse modo que vemos a ruína de civilizações e remos, que cedem o lugar a outras
formações.
As causas exclusivas da decadência de antigas civilizações são: a mistura
de sangue e o rebaixamento do nível da raça, que aquele fenômeno acarreta. Está
provado que não são guerras perdidas que exterminam os homens e sim a perda
daquela resistência, que só o sangue puro oferece.
Todo o que, no Mundo, não é raça boa é joio.
Todo acontecimento na História Universal não passa de uma manifestação
externa do instinto de conservação das raças, no bom ou no mau sentido. A
questão das causas íntimas que determinam a importância preponderante do
arianismo pode ser explicada menos por uma força mais poderosa do instinto de
conservação, propriamente, do que pelo modo especial por que este se manifesta.
A vontade de viver, falando do ponto de vista subjetivo, tem, por toda parte, a
mesma intensidade e só difere pela forma que ela adota na vida real. Nos seres
mais primitivos, o instinto de conservação não vai além da preocupação com o
próprio "eu". O egoísmo - definição que damos a tal tendência - nesses animais
chega a limitar-se às preocupações do momento, que absorvem tudo, nada
reservando para as horas futuras. Nesse estado, o animal vive exclusivamente
para si, procura o alimento só para matar a fome no instante e só luta pela
própria vida.. Enquanto, porém, o instinto de conservação se manifesta apenas
desta maneira, falta lhe completamente a base para a formação de uma comunidade,
mesmo sob a forma mais primitiva da família. Já a comunhão entre o macho e a
fêmea exige uma extensão do instinto de conservação, pelo cuidado e a luta que,
além do próprio "eu", inclui também a outra metade. O macho, às vezes, também
procura alimento para a fêmea; o mais freqüente é eles ambos procurarem-no para
os filhos. Um protege o outro, de modo que aqui se verificam as primeiras
formas, embora infinitamente elementares, de um espírito de sacrifício. No
momento em que este espírito de sacrifício ultrapassa o quadro estreito da
família, estabelecem-se as condições para a fundação de maiores agremiações e,
enfim, de verdadeiros Estados.
Os povos mais atrasados da terra têm essa qualidade muito apagada, de modo
que, muitas vezes, não chegam além da formação da família. Quanto mais aumenta a
disposição a sacrificar interesses puramente pessoais, tanto mais se desenvolve
a capacidade para erigir comunidades mais importantes.
É o ariano que apresenta, do modo mais expressivo, essa disposição para o
sacrifício do trabalho pessoal, e, sendo necessário, até da sua própria vida,
que arrisca em favor dos outros. Por si mesmo, o ariano não se caracteriza por
ser um homem mais bem dotado intelectualmente, mas, sim, pela sua disposição empôr todas as suas faculdades ao serviço da comunidade. Nele, o instinto de
conservação alcançou a forma mais nobre, submetendo o próprio "eu",
espontaneamente, à vida da coletividade, sacrificando-o até inteiramente, se o
momento exigir.
A razão da faculdade civilizadora e construtora do ariano não reside nos
dotes intelectuais. Se ele nada possuísse fora disso, só poderia agir como
destruidor, nunca, porém, como organizador, pois a significação intrínseca de
toda organização repousa sobre o princípio do sacrifício, que cada indivíduo faz
de sua opinião e de seus interesses pessoais em proveito de uma pluralidade de
criaturas. Só depois de trabalhar pelos outros, recebe ele novamente a parte que
lhe toca. Não trabalha mais, diretamente para si, mas incorpora-se, com o seu
trabalho, no quadro geral da coletividade, visando, não o seu proveito mas sim o
bem de todos. A ilustração mais admirável de semelhante disposição encontra-se
na palavra "trabalho" que para ele não representa absolutamente uma atividade
visando somente a manutenção da vida, mas uma criação que não vai de encontro
aos interesses da generalidade. Em caso contrário, quando as ações humanas só
atendem ao instinto de conservação, sem levar em conta o bem do resto do mundo,
o ariano as chama:. furto, usura, roubo, assalto, etc.
Tal disposição, que faz ceder o interesses do próprio "eu" à conservação da
comunidade, é realmente a condição indispensável para a existência de toda
civilização humana. Só ela pode criar as grandes obras da humanidade, que ao
fundador pouca recompensa trazem, as maiores bênçãos porém às gerações futuras.
Só esse sentimento é que explica como é que tantos indivíduos podem suportar
honestamente uma existência miserável, que só lhes impõe pobreza e humildade,
mas firma para a coletividade as bases da existência. Cada operário, cada
camponês, cada inventor, cada funcionário, etc., que vai trabalhando, sem chegar
nem uma vez à felicidade ou ao bem-estar, é um expoente desse elevado ideal,
mesmo que nunca venha a penetrar o sentido profundo de seu proceder.
O que é verdade, no que diz respeito ao trabalho como base de nutrição e de
todo progresso humano, aplica-se ainda, muito mais, em se tratando de preservar
o homem e a sua cultura. A coroação de todo espírito de abnegação reside no
sacrifício da própria vida individual em prol da existência coletiva. Só assim
se pode impedir que mãos criminosas ou a própria Natureza destruam aquilo que
foi obra de mãos humanas.
Nossa língua possui justamente um termo que define esplendidamente o modo
de agir nesse sentido; é o "cumprimento do dever" Significa isso não se
contentar o indivíduo somente consigo, mas em procurar servir à coletividade.
A disposição fundamental de que emana um tal modo de proceder, é chamada
por nós Idealismo, em oposição ao Egoísmo. Entendemos por essa palavra a
faculdade de sacrifício do indivíduo pelo conjunto de seus semelhantes.
É necessário proclamar repetidamente que o idealismo não significa apenas
uma supérflua manifestação sentimental, era e será sempre, em verdade, a
condição primordial para o que denominamos "civilização"- Foi esse idealismo o
criador do conceito "homem"! É a essa tendência interior que o ariano deve sua
posição no Mundo, esse a ela também deve a existência do homem superior. O
idealismo foi que, do espírito puro, plasmou a força criadora, cuja obra - os
monumentos culturais - brotou de um consórcio singular entre a violência bruta e
a inteligência genial.
Sem as tendências do idealismo, mesmo as faculdades mais brilhantes não
passariam de uma abstração, pura aparência exterior, sem valor intrínseco, nunca
podendo resultar em força criadora.
Como, entretanto, o idealismo genuíno não é mais nem menos do que a
subordinação dos interesses e da vida do indivíduo à coletividade, isso também,
por sua vez, estabelece as condições para novas organizações de toda espécie.
Esse sentimento, no seu íntimo, corresponde à vontade mais imperiosa da
Natureza. Só ele é que conduz os homens a reconhecerem espontaneamente o
privilégio da força e do vigor, fazendo deles uma poeirinha insignificante
naquela organização que forma e constitui o Universo. O idealismo mais puro
reveste-se inconscientemente do mais profundo conhecimento.
O quanto isso é verdadeiro, o quanto é inexistente a relação entre o
idealismo real e as fantasmagorias de brinquedo, ressalta, à primeira vista, do
juízo de uma criança pura, de um menino são, por exemplo. O mesmo jovem que
escuta, sem interesses e com repugnância, as tiradas intermináveis de um
pacifista "idealista", prontifica-se a dar imediatamente sua vida pelo ideal de
seu nacionalismo.
Inconscientemente obedece aí ao instinto, que reconhece a necessidade
recôndita da conservação da espécie, à custa do indivíduo. Se preciso for,
lançará um protesto contra as fantasias do discursador pacifista, que, em
realidade, no seu pape) de egoísta mascarado, porém covarde, peca diretamente
contra as leis da evolução. Esta é condicionada pela disposição ao sacrifício do
indivíduo em prol da espécie, e não por visões mórbidas de sabichões covardes e
críticos da Natureza.
É justamente nas épocas em que o sentimento idealista parece querer
desaparecer, que podemos também imediatamente verificar uma queda daquela força
formadora de coletividade e, por si mesma, criadora de possibilidades culturais.
Logo que o egoísmo principia a governar um povo, afrouxam-se os vínculos da
ordem e, na caça atrás da felicidade, é que os homens se precipitam do céu para
dentro do inferno.
Sim, até o posteridade esquece aqueles que só serviram a seus interesses
pessoais e exalta os heróis que renunciaram à sua própria ventura.
O judeu é que apresenta o maior contraste com o ariano. Nenhum outro povo
do mundo possui um instinto de conservação mais poderoso do que o chamado "Povo
Eleito". Já o simples fato da existência desta raça poderia servir de prova
cabal para essa verdade. Que povo, nos últimos dois milênios, sofreu menos
alterações na sua disposição intrínseca, no seu caráter, etc., do que o povo
judeu? Que povo, enfim, sofreu maiores transtornos do que este, saindo, porém,
sempre o mesmo, no meio das mais violentas catástrofes da humanidade? Que
vontade de viver, de uma resistência infinita para a conservação da espécie,
fala através desses fatos!
As qualidades intelectuais do judeu formaram-se no decorrer de milênios,
Ele passa hoje por "inteligente" e o foi sempre até um certo ponto. Somente, sua
compreensão não é o produto de evolução própria, mas de pura imitação. O
espírito humano não consegue galgar alturas, sem passar por degraus; para cada
passo ascendente, necessita ele do fundamento do passado, naquele sentido lato
que só na cultura geral pode transparecer. Apenas uma pequena parte do
pensamento universal repousa sobre o conhecimento próprio; a maior parte é
devido às experiências de épocas precedentes. O nível geral de cultura mune o
indivíduo sem que disso ele se aperceba, de uma tal riqueza de conhecimentos
preliminares, que, assim preparado, ele, mais facilmente, seguirá o seu caminho.
O menino de hoje, por exemplo, cresce, cercado por uma infinidade de inventos
técnicos dos últimos séculos, de tal modo, que muitas coisas - um enigma, há cem
anos, para os espíritos mais adiantados - lhe passam despercebidas, embora a
observação e a compreensão dos nossos progressos no dito terreno sejam para ele
de uma importância decisiva. Se mesmo um cérebro genial da segunda década do
século passado saísse hoje do seu túmulo, encontraria maior dificuldade em se
orientar no tempo atual, do que, hoje, um rapazinho de quinze anos, de
Inteligência mediana. Ao ressuscitado faltaria toda a formação prévia,
interminável, quase inconscientemente absorvida pelo nosso contemporâneo durante
seu período de crescimento, no meio das manifestações da civilização geral. Como
então o judeu - por motivos que ressaltam à primeira vista - nunca possuiu uma
cultura própria, as bases do seu trabalho espiritual sempre foram ditadas por
outros. Em todos os tempos, seu intelecto desenvolveu-se por influências do
mundo civilizado que o cerca.
Nunca se operou um processo inverso.
Mesmo que o instinto de conservação do povo judeu não fosse mais fraco e
sim mais forte do que o de outros povos, quando mesmo sua capacidade intelectual
pudesse dar a impressão de poder ele concorrer sem desigualdade com as demais
raças, faltar-lhe-ia, no entanto, inteiramente, a condição "sine qua non" para
um povo expoente de cultura - a mentalidade idealista.
No povo judeu, a vontade de sacrificar-se não vai- além do puro instinto de
conservação do indivíduo. O sentimento de solidariedade acha seu fundamento em
um instinto gregário muito primitivo, que se manifesta em muitos outros seres
nesse mundo. Notável é nisso tudo o fato dê que o instinto gregário só conduz ao
apoio mútuo, ali onde um perigo comum torna apropriado ou Inevitável tal
auxílio. O mesmo bando de lobos que, era determinado momento, assalta em comum a
sua presa, se dispersa de novo, assim que acaba de matar a fome. O mesmo fazem
os cavalos, que, juntos, procuram defender-se de um ataque, para dispersarem-se,
para todos os lados, uma vez o perigo passado.
Análogo é o caso do judeu. Seu espirito de sacrifício é só aparente, só
perdura, enquanto a existência de cada um o exige peremptoriamente. Entretanto
uma vez vencido o inimigo comum e afastado o perigo, que a todos ameaçava, os
espólios em segurança, cessa a aparente harmonia dos judeus entre si, para
deixar novamente transparecerem as tendências primitivas. O judeu só conhece a
união, quando ameaçado por um perigo geral ou tentado por uma filhagem em comum;
desaparecendo ambos estes motivos, os sinais característicos do egoísmo mais cru
surgem em primeiro plano, e o povo, ora unido, de um instante l>ara outro
transforma-se em uma chusma de ratazanas ferozes.
Se os judeus fossem os habitantes exclusivos do Mundo não só morreriam
sufocados em sujeira e porcaria como tentariam vencer-se e exterminar-se
mutuamente, contanto que a indiscutível falta de espírito de sacrifício,
expresso na sua covardia, fizesse, aqui também, da luta uma comédia. É pois uma
idéia fundamentalmente errônea, querer enxergar um certo espírito idealista de
sacrifício na solidariedade do judeu na luta ou, mais claramente, na exploração
de seus semelhantes, Aqui igualmente o judeu não é movido por outra coisa senão
pelo egoísmo individual nu e cru. Por isso mesmo, o Estado judaico - que deve
ser o organismo vivo para a conservação e multiplicação da raça - não possui
nenhum limite territorial. Uma formação estatal compreendida dentro de um
determinado espaço, pressupõe sempre uma disposição idealista na raça, que ocupa
esse Estado, antes de tudo, porém, uma compreensão exata da noção de "trabalho".
A falta de tal convicção acarreta o desânimo, não só para construir, como até
para conservar um Estado com limites marcados. Com isso desaparece o fundamento
único da origem de uma civilização.
Por isso também é que o povo judeu, apesar de suas aparentes aptidões
intelectuais, permanece sem nenhuma cultura verdadeira e, sobretudo, sem cultura
própria. O que ele hoje apresenta, como pseudo-civilização, é o patrimônio de
outros povos, já corrompidos nas suas mãos.
Para se julgar o judaísmo em face da civilização humana, é preciso
salientar o traço característico mais inerente à sua natureza, a saber: que
nunca houve uma arte Judaica, como hoje ainda não há, e que as duas rainhas
entre as artes - a arquitetura e a música - nada de espontâneo lhe devem, o que
tem feito no terreno artístico é ou fanfarronice verbal ou plágio espiritual.
Além disso, faltam ao judeu aquelas qualidades que distinguem as raças
privilegiadas no ponto de vista criador e cultural.
A que ponto o judeu aceita por imitação a civilização estranha, até
deformando-a, está provado pelo fato de ser a arte dramática a que mais o atrai,
sendo, como, a que menos depende de invenção pessoal. Mesmo nessa especialidade,
ele realmente não passa de um "cabotino", melhor ainda, de um macaqueador,
faltando-lhe a inspiração para grandes realizações; nunca é construtor genial,
mas sim puro imitador. Os pequenos truques por ele utilizados não podem
entretanto a ninguém enganar, encobrindo a falta de. vitalidade intrínseca do
seu talento. Só a imprensa judaica, que presta o seu auxilio carinhosamente,
completando falhas e entoando, mesmo sobre o remendão mais medíocre, um tal hino
de "louvores" que o resto do mundo acaba supondo tratar-se de um verdadeiro
artista, quando se trata, apenas, de um miserável comediante. Não. O judeu não
possui força alguma suscetível de construir uma civilização e isso pelo fato de
não possuir nem nunca ter possuído o menor idealismo, sem o qual o homem não
pode evoluir em um sentido superior. Eis a razão por que sua inteligência nunca
construirá coisa alguma; ao contrário, agirá destruindo; quando muito, poder dar
um incentivo passageiro, aparecendo então como o protótipo da "Força, que sempre
deseja o Mal, fazendo o Bem". Não por ele, mas sim apesar dele, vai se
realizando de qualquer modo o progresso da humanidade.
O judeu, não tendo jamais possuído um Estado com definidos limites
territoriais e, portanto, nenhuma cultura própria, formou-se o hábito de
classificar esta raça entre os nômades. É isto um erro tão grande quanto
perigoso. O nômade dispõe, para viver, de um espaço limitado por fronteiras; não
o cultiva, porém, como um lavrador estabelecido, mas vive do rendimento de seus
rebanhos, com os quais percorre as suas terras. A razão para isso reside,
aparentemente, na pouca fertilidade do solo, que não permite a instalação de uma
colônia; no fundo, entretanto, está na desarmonia entre a civilização técnica de
uma época ou de um povo e a pobreza natural do lugar habitado. Há regiões, onde
o ariano, somente pelo desenvolvimento de sua técnica milenar, consegue, em
colônias isoladas, apoderar-se das terras e delas extrair os elementos
necessários ao seu sustento, se não fosse essa técnica, ou ele teria que se
afastar dessas paragens, ou viver igualmente como nômade, em constante
peregrinação. se é que sua educação, através de milênios, e seu hábito de vida
estabelecida, não tornasse semelhante solução totalmente insuportável. Seja
lembrado que quando se descobriu o Continente Americano, numerosos arianos
lutavam pela vida, como armadores de alçapão, caçadores, etc., e isto
freqüentemente, em bandos maiores, com mulher e filhos, mudando sempre de
paradeiro, em uma vida igual à dos nômades. Logo, porém, que o seu número, por
demais acrescido, assim como recursos mais aperfeiçoados, permitiram desbravar o
solo virgem e resistir aos indígenas, começou a surgir, no país, uma colônia
depois da outra.
É provável que o ariano também tenha sido primeiro nômade, depois, com o
decorrer do tempo, se tenha fixado; mas nunca o foi o judeu! Não, o judeu não é
um nômade, pois, mesmo este já tomava atitudes definidas quanto ao "trabalho",
contanto que, para isso, existissem as devidas condições espirituais. O
idealismo, como sentimento fundamental, existe nele, embora infinitamente
apagado; é por isso que, em todo seu complexo, o nômade poderá parecer estranho
aos povos arianos, mas nunca antipático. Tal não acontece com o judeu; este
nunca foi nômade e sim um parasita incorporado ao organismo dos outros povos.
Sua mudança de domicílio, uma vez por outra, não corresponde às suas intenções,
sendo resultado da expulsão sofrida por ele, de tempos em tempos, da parte dos
povos que o abrigam e que ele explora. O fato dele continuar a se espalhar pelo
mundo é um fenômeno próprio a todo parasita; este anda sempre à procura de novos
terrenos para fazer prosperar sua raça.
Com o nomadismo isso nada tem que ver, porque o judeu não cogita
absolutamente de desocupar uma região por ele ocupada, ficando ai, fixando-se e
vivendo aí tão bem estabelecido, que mesmo a violência dificilmente o consegue
expulsar. Sua expansão através de países sempre novos só principia quando neles
existem condições precisas para lhe assegurar a existência, sem que tenha que
mudar de domicílio como o nômade, É e será sempre o parasita típico, um bicho,
que, tal qual um micróbio nocivo. Se propaga cada vez mais, assim que se
encontra em condições propicias. A sua ação vital igualmente se assemelha à dos
parasitas, onde ele aparece. O povo, que o hospeda, vai se exterminando mais ou
menos rapidamente. Assim viveu o judeu, em todos os tempos, nos Estados alheios,
formando ali seu próprio "Estado", que aliás costumava navegar em paz, até que
circunstâncias exteriores desmascarassem por completo seu aspecto velado de
"comunhão religiosa". Uma vez, porém, que adquira bastante força para prescindir
de tal disfarce, deixava afinal cair o véu e torna-se de súbito, aquilo, que os
outros não queriam, dantes, nem crer nem ver: o judeu. Na vida do judeu,
incorporado como parasita no meio de outras nações e de outros Estados, existe
um traço característico, no qual Schopenhauer se inspirou para declarar, come já
mencionamos: "O judeu é o grande mestre na mentira". A vida impele o judeu para
a mentira, para a mentira incessante, da mesma maneira que obriga o homem do
norte a vestir roupa quente.
Sua vida, no seio de povos estranhos, só pode perdurar, se ele conseguir
despertar a crença de ser o representante, não de um povo, mas de uma "comunhão
religiosa", muito embora singular.
Aí está a primeira grande mentira.
Para poder levar essa vida, à custa de outros povos, precisa ele recorrer à
negação de sua individualidade interior. Quanto mais inteligente é cada judeu
melhor conseguirá iludir. Pode chegar ao ponto de grande parte o povo que o
hospeda acreditar seriamente que o judeu seja francês ou inglês, alemão ou
italiano, embora pertencente a uma crença especial. As vítimas mais freqüentes
de tão infame fraude são os funcionários oficiais que parecem sempre
influenciados por essa fração histórica da sabedoria universal. O pensamento
independente, em tais rodas, passa, às vezes, como um verdadeiro pecado contra o
progresso na vida, de modo que ninguém se deve admirar, quer por exemplo, um
secretário de Estado na Baviera, até hoje, ainda não possua a mais leve suspeita
de que os judeus constituem um povo e não uma seita religiosa. Aliás, basta um
olhar lançado sobre a imprensa, eivada de judaísmo, para revelar tal verdade
mesmo ao espírito mais curto. É verdade, que o "Eco Judeu" ainda não é o órgão
oficial, não podendo traçar normas ao intelecto de uma tal autoridade do
Governo.
O judaísmo nunca foi uma religião, e sim sempre um povo com características
raciais bem definidas. Para progredir teve ele, bem cedo, que recorrer a um
meio, para dispersar a atenção malévola, que pesava sobre seus adeptos. Que meio
mais conveniente e mais inofensivo do que a adoção do conceito estranho de
"comunhão religiosa"? Pois, aqui, também, tudo é emprestado, ou, melhor, roubado
- a personalidade primitiva do judeu, já por sua natureza, não pode possuir uma
organização religiosa, pela ausência completa de ideal, e, por isso mesmo, de
uma crença na vida futura, Do ponto, de vista ariano, é impossível imaginar-se,
de qualquer maneira, uma religião sem a convicção da vida depois da morte, Em
verdade, o Talmud também não é um livro de preparação ao outro mundo, mas sim
para uma vida presente boa, suportável e prática.
A doutrina Judaica é, em primeiro lugar, um guia para aconselhar a
conservação da pureza do sangue, assim como o regulamento das relações dos
judeus entre si, mas ainda com os não judeus, isto é, com o resto do inundo. Não
se trata, em absoluto, de problemas morais, e sim de questões econômicas, muito
elementares, Existem hoje e já existiram em todos os tempos estudos bastantes
aprofundados sobre o valor ético do ensino da doutrina Judaica, espécie de
religião, que, aos olhos arianos, parece, por assim dizer, escabrosa (tais
estudos naturalmente não provêm de iniciativa dos judeus, ao contrário, seriam
habilmente adaptados ao fim visado). O produto dessa educação religiosa - o
próprio judeu é o seu melhor expoente. Sua vida só se limita a esta terra, e seu
espirito conservou-se tão estranho ao verdadeiro Cristianismo quanto a sua
mentalidade o foi, há dois mil anos, ao grande fundador da nova doutrina.
Verdade é que este não ocultava seus sentimentos relativos ao povo judeu; em
certa emergência pegou até no chicote para enxotar do templo de Deus este
adversário de todo espírito de humanidade que, outrora, como sempre, na
religião, só discernia um veículo para facilitar sua própria existência
financeira. Por isso mesmo, aliás, é que Cristo foi crucificado, enquanto nosso
atual cristianismo partidário se rebaixa a mendigar votos judeus nas eleições,
procurando ajeitar combinações políticas com partidos de judeus ateístas e tudo
isso em detrimento do próprio caráter nacional.
Em uma seqüência lógica, amontoam-se sempre novas mentiras sobre a grande
mentira inicial, a saber: que o judaísmo não é uma raça, mas uma religião. A
mentira estende-se igualmente à questão da língua dos judeus; esta não lhes
serve de veículo para a expressão, mas sim de máscara para seus pensamentos.
Falando francês, seu modo de pensar é judeu; torneando versos em alemão não faz
senão fazer transparecer o espírito da sua raça.
Enquanto o judeu não se torna senhor dos outros povos é forçado, quer
queira quer não, a falar as línguas desses.
No momento, porém, em que esses se tornassem seus vassalos, teriam que
aprender todos um idioma universal (por exemplo, o Esperanto!) a fim de assim
poderem ser dominados mais facilmente pelo judaísmo.
Os "Protocolos dos Sábios de Sião", tão detestados pelos judeus, mostram,
de uma maneira incomparável, a que ponto a existência desse povo é baseada em
uma mentira ininterrupta. "Tudo isto é falsificado", geme sempre de novo o
"Frankfurter Zeitung", o que constitui mais uma prova de que tudo é verdade.
Tudo o que muitos judeus talvez façam inconscientemente, acha-se aqui claramente
desvendado. Mas o ponto capital é que não importa absolutamente saber que do
cérebro judeu provêm tais revelações. O ponto decisivo é a maneira pela qual
essas revelações tornam patentes, com uma segurança impressionante, a natureza e
a atividade do povo judeu nas suas relações íntimas, assim como nas suas
finalidades. A melhor critica desses escritos é fornecida entretanto pela
realidade. Quem examinar a evolução histórica do último século sob o prisma
deste livro, logo compreenderá também o clamor da imprensa judaica, pois no dia
em que o mesmo for conhecido de todo o povo, nesse dia estará evitado o perigo
do judaísmo.
Para bem conhecer o judeu, o melhor meio é estudar o caminho seguido por
ele no seio dos outros povos e no decorrer dos séculos. Basta para isso estudar
um só exemplo, que nos será bastante instrutivo. Como a sua evolução, sempre e
em todos os tempos, foi a mesma, como também os povos por ele devorados, são
sempre os mesmos, seria recomendável, em um tal estudo, dividir essa marcha da
sua evolução em períodos definidos, que marcarei com letras para simplificar.
Os primeiros judeus vieram para a Germânia no curso da marcha invasora dos
Romanos, como sempre, negociando. Nos túmulos das invasões parecem entretanto
ter desaparecido, e o tempo da primeira formação de Estados germânicos pode ser
considerado o início de uma nova e permanente invasão Judaica na Europa Central
e Setentrional. Começa aí uma evolução, que sempre foi idêntica, toda vez que,
em qualquer parte, houve colisão dos judeus com povos arianos.
a) Com a instalação das primeiras colônias fixas, surge repentinamente o
judeu. Ele chega como negociante, e, a princípio, não se preocupa em disfarçar a
sua nacionalidade. Ainda é o judeu, talvez em parte também, porque,
exteriormente, a diferença racial entre ele e o povo hospitaleiro é grande
demais, seu conhecimento da língua muito falho, as desconfianças da gente da
terra muito sensíveis, para lhe permitirem aparecer sob outro aspecto que o de
um comerciante estrangeiro. Com o seu jeito insinuante e a Inexperiência do
outro povo, a conservação de sua personalidade não apresenta para ele nenhuma
desvantagem; pelo contrário, antes uma vantagem que é a de ser amavelmente
recebido na sua qualidade de estrangeiro.
b) Aos poucos, começa ele a trabalhar no terreno econômico, não como
produtor mas exclusivamente como intermediário. Na sua habilidade milenar de
negociante, supera de muito os arianos, os quais ainda se mostram sem jeito e,
sobretudo, de uma probidade sem limites. Assim, em pouco tempo, o judeu ameaça
adquirir o monopólio do comércio. Começa com empréstimos de dinheiro, e, como
sempre, com juros de usurários. Na verdade, foi ele quem, por este meio,
introduziu o juro. O perigo dessa nova instituição, a princípio, não é
reconhecido, sendo ela até acolhida com entusiasmo pelas vantagens momentâneas
que oferece.
e) O judeu estabeleceu-se completamente, isto é, habita em cidades e
lugarejos, bairros especiais, formando cada vez mais um Estado seu, dentro do
Estado. Considera o comércio e todos os negócios financeiros como seu privilégio
pessoal, que explora sem escrúpulo algum.
d) As finanças e o comércio tornaram-se decididamente monopólio seu. Seus
juros de usurários afinal provocam oposição, seu atrevimento crescente revolta,
sua riqueza produz inveja. A medida chega a transbordar, quando a propriedade e
a terra também ingressam no círculo de seus objetivos comerciais, sendo
rebaixados ao grau de mercadoria vendável e mais apta a ser negociada. Como o
judeu nunca cultiva a terra, que para ele representa um fundo de exploração, o
camponês pode ficar vivendo ali, entretanto tão miseravelmente oprimido por seu
novo senhor, que a aversão contra esse vai pouco a pouco se convertendo em ódio
declarado. Sua insaciável tirania torna-se tão grande que desperta reações
violentas. Começa-se a examinar, sempre mais de perto, o corpo estranho,
descobrindo-se nele sempre novos traços e maneiras repelentes, até que a cisão
completa se opera.
Nas épocas das maiores privações, a fúria, afinal, rebenta contra ele; as
massas exploradas e totalmente aniquiladas recorrem à defesa própria, a fim de
se livrarem do "flagelo de Deus". No decorrer dos séculos, já o conheceram de
sobra, sentindo que sua simples existência é uma calamidade equivalente à peste.
e) Então principia o judeu a desvendar suas qualidades genuínas. Graças à
lisonja abjeta, consegue acercar-se dos Governos, faz girar e trabalhar o seu
dinheiro, e deste modo arranja sempre uma "carta branca' para a exploração de
suas vitimas. Mesmo que, às vezes, á ira popular se torne violenta contra a
eterna sanguessuga, isso não impede absolutamente de aparecer ele no lugar há
pouco abandonado e de recomeçar a vida de outrora. Não há perseguição que o
possa demover do seu processo de exploração humana; nenhuma o poderá expulsar,
pois cada perseguição termina ela sua volta dentro em breve e sob a mesma forma.
Para impedir, pelo menos, a piores conseqüências, começa-se a retirar a
terra da sua mão usurária, tornando-se a aquisição da mesma impossível dentro da
lei.
f) Quanto mais o poder dos príncipes vai aumentando, mais o judeu se vai
chegando a eles. Mendiga "privilégios" que facilmente obtém, em troca do devido
pagamento destes senhores constantemente em dificuldades financeiras. Custe o
que custar, em poucos anos ele recobra novamente, com juros sobre juros, o
dinheiro empregado. Uma verdadeira sanguessuga que se agarra ao corpo do infeliz
povo e daí não se mexe até que os príncipes precisem novamente de dinheiro e se
encarreguem de lhes extorquir pessoalmente o sangue sugado. Tal espetáculo
repete-se sempre, sendo que o papel dos príncipes alemães é tão miserável quanto
o dos próprios judeus. Foram, com efeito, perante seu povo, o castigo de Deus.
Esses senhores não encontram paralelos senão em vários ministros da época atual.
Aos seus príncipes é que a nação alemã deve o não ter podido libertar-se
completamente do perigo judaico. Infelizmente, as coisas não se modificaram
posteriormente, de modo que do judeu só receberam o pago mil vezes merecido
pelos pecados cometidos contra seu povo. Aliaram-se com o demônio, e foram parar
onde ele está!
g) É assim que o seu processo de sedução tem levado os príncipes à ruína.
Devagar, porém, seguramente, vão se afrouxando os laços que os ligam aos povos,
na medida em que cessam de servir os interesses destes, para se transformarem em
exploradores dos mesmos.
O judeu conhece perfeitamente o fim reservado aos príncipes e procura, por
todos os meios, apressá-lo. Ele mesmo alimenta seus eternos apertos financeiros,
afastando-os cada vez mais de seus verdadeiros deveres, rodeando-os com a mais
vil adulação, conduzindo-os aos erros e tornando-se cada vez mais indispensável
a eles. Sua habilidade (ou melhor sua falta de escrúpulos, em todas as questões
financeiras sabe se arranjar para extorquir sempre novos recursos dos súditos
explorados, recurso que aos poucos vão desaparecendo. É assim que cada corte
possui seu "judeu da corte", como se denominam esses entes abomináveis que
atormentam o pobre povo até o desespero, proporcionando a seus príncipes alegria
perene.
Quem se admirará, então, que esses ornamentos do gênero humano por fim
também, querendo se enfeitar, subam até à altura da nobreza hereditária,
contribuindo assim, não só a expor essa classe ao ridículo, como também para
envenená-la.
Então, naturalmente, ele poderá se aproveitar de sua situação para
facilitar seu progresso.
Afinal, ele não precisa mais de outra coisa senão do batismo para entrar na
posse de todas as possibilidades e de todos os direitos dos filhos do país. Não
é raro vê-lo liquidar também esse negócio, fazendo a alegria das Igrejas pelo
novo filho adquirido e de Israel pelo sucesso da mistificação.
h) No mundo judaico inicia-se, então, uma metamorfose- Até agora foram
judeus, isto é, não faziam questão de passar por outra coisa, e também era
impossível fazê-lo, dados os sinais raciais tão característicos, de ambos os
lados. Ainda na época de Frederico o Grande, ninguém se lembraria de ver nos
judeus outra coisa senão "o povo estranho", e até Goethe se mostrava horrorizado
com o fato dos casamentos entre cristãos e judeus não serem proibidos
legalmente. Goethe, portanto, santo Deus, não era nenhum retrógrado nem "ilota",
O que o fazia falar era nada menos do que a voz do sangue e da razão, É assim
que mau grado toda a conduta vergonhosa das cortes - o povo via instintivamente
no judeu o corpo estranho introduzido no seu organismo, e tomava, por
conseguinte, a atitude que essa idéia lhe sugeria.
Isso, porém, tinha que mudar. No decorrer de mais de um milênio aprendeu
ele a dominar de tal forma o idioma do país que o hospeda, que agora pensa poder
se aventurar a tornar menos acentuado seu aspecto judaico, pondo em maior relevo
seu "germanismo". Por mais ridículo, mesmo extravagante que possa parecer isso à
primeira vista, permite-se ele, portanto, o atrevimento de se transformar em um
"Germano", isto é, em um "Alemão", Com isso principia uma das mais infames
mistificações inimagináveis. Não possuindo do "Alemanismo" nada a não ser a arte
de maltratar - aliás de um modo horrível - a língua alemã, com a qual, porém,
nunca se identificou, toda sua nacionalidade alemã se resume exclusivamente na
fala. A raça, porém, não reside na língua, mas unicamente no sangue. Ninguém
sabe isso melhor do que o judeu, que muito pouca importância dá justamente à
conservação de sua língua.
Uma pessoa pode, sem mais nem menos, mudar sua língua, quer dizer, pode
servir-se de outra, mas, no seu novo idioma, expressará suas idéias antigas, sua
natureza intima não sofrerá alteração, o judeu é o melhor expoente desse
fenômeno, Fala várias línguas e conserva-se, entretanto, sempre judeu. Seus
traços característicos conservaram-se sempre os mesmos, quer - ele tivesse
falado romano, há dois mil anos, como vendedor de cereais em Óstia, ou que hoje
fale alemão quebrado, como negociante, que se enriquece à custa de trigo! É
sempre o mesmo judeu. Que essa verdade evidente não seja compreendida, hoje em
dia, por um conselheiro ministerial ou um funcionário superior da policia, não é
de admirar, pois é difícil encontrar-se coisa mais sem intuição, mais sem
espírito do que os servidores de nossa modelar autoridade oficial dos tempos que
correm.
A causa que leva o judeu à resolução de converter-se subitamente em
"alemão" é evidente. Ele sente como o poder dos príncipes vai começando a se
abalar e procura, por isso, já cedo, uma base sólida para firmar os pés.
Além disso, já é tão vasta a sua dominação do mundo econômico pelo
dinheiro, que, por não possuir todos os direitos de cidadão, ele acaba não
podendo mais sustentar o colossal edifício por ele criado, ou pelo menos não
podendo mais aumentar a sua influência. Ambos os fins são, porém, por - ele
desejados, pois, quanto mais alto sobe, mais tentador lhe aparece o antigo fim
alvejado, que lhe fora predito, Ë com uma ânsia febril, que os mais esclarecidos
cérebros judaicos vêem aproximar-se novamente o sonho do domínio universal, tão
perto que já parece realizado, É por isso que sua única aspiração de hoje é a
aquisição completa dos plenos direitos de cidadãos. Eis a razão por que ele
tenta ultrapassar as fronteiras do Ghetto.
i) Deste modo, o judeu cortesão transforma-se em judeu popular, isto é,
permanece, como dantes, no círculo dos grandes senhores, procura até, cada vez
mais, penetrar nessa roda, mas, simultaneamente, outra parte de sua raça vai se
aconchegando ao povo de uma maneira que inspire confiança. Quando se reflete
sobre a soma de males, que, no decorrer dos séculos, ele havia feito ao povo,
como, cada vez mais, ele o sangrava e explorava sem mercê; quando se pensa
ainda, como o povo, por isso, aos poucos, o foi odiando, vendo afinal na sua
existência nada mais do que um castigo do Céu para os outros povos, pode se
avaliar o quanto deve ser difícil ao judeu essa nova atitude, sim, com efeito, é
uma árdua tarefa apresentar-se de repente como "amigo do gênero humano" às
próprias vitimas, às quais sempre havia arrancado a pele.
Seu primeiro esforço consiste em reparar, aos olhos do povo, o que até
então lhe fizera de mal. Inicia sua metamorfose na qualidade de "benfeitor" da
humanidade. Para que a atitude de bondade que, agora, resolveu assumir, possua
uma base real, ele não se pode apegar à antiga frase bíblica, segundo a qual a
esquerda não deve saber o que a direita dá, tem que adotar, quer queira quer
não, a prática de propagar por toda parte o quanto sente os sofrimentos da
humanidade e que sacrifícios faz pessoalmente em beneficio desta. Com essa
"modéstia", que nele é inata, proclama com tanto alarde seus merecimentos pelo
mundo afora, que todos começam a tomá-lo a sério. Quem não o fizer, comete uma
grande injustiça contra ele. Em pouco tempo, já principia a revirar os fatos de
tal jeito, como se, até hoje, só ele tivesse sempre sido lesado e não
inversamente. Alguns, especialmente os tolos, acreditam nisso, não se podendo
furtar a ter piedade do infeliz.
Além disso, cumpre ainda observar, nesse ponto, que apesar de toda a
disposição ao sacrifício, o judeu pessoalmente nunca empobrece. É que ele sabe
se arranjar. Só se pode comparar o benefício, por ele praticado, ao adubo, que
também não é posto na terra por amor a esta, mas sim na previsão do próprio
bem-estar do que usa desse processo. Em todo caso, em um lapso de tempo
relativamente curto, ficam todos sabendo que o judeu se tornou um "benfeitor e
filantropo". Que mudança esquisita!
O que em outras pessoas pode parecer mais ou menos natural, da parte dele
desperta a maior surpresa, mesmo admiração, por não estar de acordo com seus
antecedentes. É o que explica achar-se cada um de seus atos filantrópicos muito
mais extraordinário do que se tivesse sido praticado por qualquer outra criatura
humana.
Ainda mais: o judeu fica de repente liberal, começando a sonhar com a
necessidade do progresso humano. Pouco a pouco, transforma-se no arauto de uma
nova época. Na verdade, ele está destruindo cada vez mais os fundamentos de uma
economia verdadeiramente útil ao povo. Pelo recurso das sociedades de ações, vai
penetrando nos círculos da produção nacional, faz desta um objeto mais
suscetível de compra e de traficância, roubando assim às empresas a base de
propriedade pessoal. Por isso, surge entre o patrão e o empregado aquele
distanciamento que conduz à Ulterior luta política de classes.
Cresce assim a influência dos judeus em matéria econômica, além da Bolsa, e
isso com assombrosa rapidez. Torna-se proprietário ou controlador das forças de
trabalho do país.
Para consolidar sua posição política, tenta destruir as barreiras raciais e
de cidadania, que mais do que tudo o embaraçam a cada passo. Para atingir tal
fim, luta, com sua resistência típica, pela tolerância religiosa, encontrando na
Maçonaria, que caiu inteiramente em seu poder, um excelente instrumento para o
combate e para a realização de suas aspirações. Os círculos governamentais,
assim como as camadas superiores da burguesia política e econômica, caem em suas
armadilhas, guiados por fios maçônicos, mal se apercebendo disso. Só o povo
propriamente dito ou, melhor, a classe que, despertando, luta pelos seus
próprios direitos e sua liberdade, não pode ser conquistado por esse meio,
principalmente nas suas camadas mais profundas. Essa, porém, é a conquista mais
indispensável. O judeu sente que sua ascensão a uma posição dominadora só se
tornará possível, quando existir à sua frente um "precursor" e este pensa ele
descobrir não entre a burguesia mas nas camadas populares. Não se pode,
entretanto, conquistar fabricantes de luvas e tecelões com os frágeis processos
da Maçonaria, tornando-se obrigatório introduzir, nesse caso, meios mais rudes e
grosseiros, porém não menos enérgicos. Como segunda arma ao serviço do judaísmo,
existe, além da Maçonaria, a imprensa. Com todo o afinco e toda habilidade
apossa-se ê]e desse órgão de propaganda. Com a mesma principia lentamente a
enlaçar toda a vida oficial, a dirigi-la e empurrá-la, tendo a facilidade de
criar e superintender aquela potência, que, sob a denominação de "opinião
pública", é hoje melhor conhecida do que há algumas décadas. Com isso tudo,
apresenta-se sempre como animado por uma infinita sede de saber, elogia todo
progresso, sobretudo aquele que acarreta a ruína dos outros, pois só julga todo
saber e toda evolução na medida em que lhe facilitam a propaganda de sua raça.
Quando falta esse objetivo, torna-se inimigo encarniçado de toda luz, um odiador
de toda verdadeira civilização, Desse modo, utiliza todo o saber aprendido nas
escolas alheias, unicamente ao serviço de sua raça.
Esse espírito racial ele o preserva como nunca, Enquanto aparenta
transbordar de "Instrução", "Liberdade", "Humanidade" etc., preserva o mais
rigorosamente possível a sua raça. Acontece que, às vozes, impinge suas mulheres
a cristãos de influência, porém tem por princípio conservar sempre a pureza do
ramo masculino. Envenenando o sangue alheio, zela sobremodo pelo seu próprio.
Quase nunca o judeu casará com uma ens1i, o inverso se dá entretanto entre o
cristão e a judia, os bastardos, apesar disso, só herdam as qualidades do lado
judeu, a parte mais nobre degenera completamente. O judeu sabe disso muito bem e
empreende, sempre segundo um programa, esta espécie de "desarmamento" da camada
dos "lideres" intelectuais de seus adversários de raça. Para mascarar seu modo
de agir, e para iludir as suas vítimas, vai falando, cada vez mais, da igualdade
de todos os homens, sem considerações de raça nem de cor. Os tolos já principiam
a acreditar nas suas afirmações. Dado o fato de sua personalidade ainda ter um
cunho por demais exótico para poder prender, sem mais nem menos, sobretudo as
grandes massas populares, dá ele à imprensa a incumbência de representá-lo tão
diferente da realidade quanto seja necessário para servir à finalidade visada.
É, especialmente em jornais humorísticos, que se encontra uma tendência a
mostrar os judeus como um povinho inofensivo, que tem lá suas peculiaridades como outros as têm - que, porém, mesmo nas suas maneiras talvez um tanto
estranhas, denota possuir uma alma, possivelmente cômica, mas sempre
fundamentalmente honesta e bondosa. A preocupação dominante é sempre fazê-lo
passar antes por insignificante do que por perigoso.
O fim a atingir nessa luta é, porém, a vitória da democracia, ou como ele a
entende, o domínio do parlamentarismo, É o que mais satisfaz às suas
necessidades, porque, nesse regime, faz-se abstração da personalidade e
institui-se, no seu lugar, a preponderância da burrice, da incapacidade e, por
último, da covardia! O resultado final haveria de ser, mais cedo ou mais tarde,
a queda fatal da monarquia.
j) A formidável evolução econômica produz uma alteração na distribuição do
povo em classes. Com a morte lenta dos pequenos ofícios, tornando-se mais rara a
possibilidade do operário ganhar a sua existência independente. ele se vai
"proletarizando" à vista d'olhos, É essa a origem do "operário de fábrica", na
indústria. O que melhor o caracteriza é provavelmente nunca chegar ele a poder
assegurar-se mais tarde uma existência própria. No mais verdadeiro sentido da
palavra, não possui nada; sua velhice torna-se um tormento e quase não merece a
denominação de "vida".
Outrora, havia uma situação análoga que exigia peremptoriamente uma solução
e foi encontrada por fim. Ao camponês e ao operário, juntou-se a classe do
funcionário e empregado, mormente do Estado. Todos estes também eram indivíduos
sem propriedade. A solução que o Estado descobriu para pôr fim a essa situação
de mal-estar, foi cuidar dos funcionários públicos, impossibilitados de se
manterem por si na velhice, instituindo "a pensão", a aposentadoria Aos poucos,
um número cada vez maior de empresas particulares foi seguindo esse exemplo, de
modo que hoje cada empregado fixo recebe mais tarde sua pensão, desde que a
empresa tenha alcançado ou ultrapassado certo sucesso financeiro. É só a
garantia do funcionário público na idade avançada poderia educá-lo àquele amor
ao dever que, antes da Guerra, era a qualidade mais característica do
funcionalismo alemão. Foi desta maneira que toda uma classe popular, que
permaneceu sem propriedades, foi arrancada à miséria social e assim incorporada
ao conjunto da Nação. Problema idêntico, desta vez em muito maior escala, surgiu
recentemente para o Estado e para a Nação. Sempre novas multidões de gente,
milhões, emigravam do campo para as grandes cidades, a fim de ganhar o pão
quotidiano, como operários de fábrica, nas indústrias novamente fundadas. As
condições de vida e de trabalho eram mais do que deploráveis. Já não convinha,
em absoluto, o transporte mais ou menos mecânico dos velhos métodos de trabalho
do antigo operário ou dos camponeses aos novos quadros. A atividade de um como
de outros não era mais comparável aos esforços exigidos do trabalhador de
fábrica. Se, no antigo ofício manual, o tempo ocupava talvez papel menos
importante, nos novos métodos de trabalho, era fator essencial. Foi de um efeito
desastrado a aceitação formal dos antigos horários de trabalho nas grandes
empresas industriais, visto que o produto real alcançado, outrora, era bem
reduzido, pela falta dos processos intensivos de hoje. Se, portanto, dantes. se
podia aturar o dia de 14 e 15 horas de trabalho, era impossível suportá-lo em
uma época, na qual cada minuto é aproveitado. Na realidade, esta introdução
absurda de antigos horários na atividade industrial de hoje teve um resultado
infeliz em dois sentidos: a ruína da saúde e a destruição da fé em um direito
superior. Acrescentou ainda, de um lado, a miserável diminuição de salários,
provocando, por outro, a posição cada vez melhor do patrão.
No campo não podia haver uma questão social, uma vez que o senhor e o servo
faziam o mesmo trabalho e comiam do mesmo prato. Até isso se foi mudando.
Aparece, agora, como consumada, em todos os setores da vida, a separação do
trabalhador e do patrão.
Os progressos da influência judaica, no seio do nosso povo, podem ser
facilmente descobertos na indiferença, mesmo desprezo, que inspira o trabalho
manual. Aliás, isso não é próprio ao alemão Foi a influência latina sobre a
nossa vida - fenômeno que não passa de uma influência judaica - que transformou
o antigo respeito ao ofício em um certo desprezo por todo e qualquer trabalho
físico.
Isso deu origem realmente a uma nova categoria social, muito pouco acatada,
devendo um dia surgir a questão, se sim ou não, a Nação possuiria a força de
integrá-lo novamente na sociedade geral, ou se a diferença de posição se
estenderia até à cisão completa entre as classes.
Uma coisa, entretanto, é inegável. Não eram os piores elementos que a nova
casta apresentava nas suas fileiras, pelo contrário, eram os mais enérgicos. As
sutilezas da chamada "civilização" ainda não tinham exercido neles seus efeitos
de decomposição e de destruição. A nova classe social, na sua maioria, ainda não
tinha sido contaminada pelo veneno debilitante do pacifismo, mantendo-se
robusta, e, segundo as exigências, mesmo brutal.
Enquanto a burguesia se descuida em absoluto desta questão de tão grande
importância, deixando correr as coisas no maior indiferentismo, o judeu se
prevalece das incomensuráveis possibilidades futuras, organizando, de um lado,
os métodos capitalistas de exploração humana até os últimos extremos, do outro
acercando-se das vítimas de seus atos, dirigindo, dentro em pouco tempo, a luta
deles "contra si mesmos". O grande mestre na mentira sabe admiravelmente
fazer-se passar por muito puro, a fim de melhor jogar a culpa nas costas
alheias. Possuindo o desplante de instituir-se em guia das massas, estas nem de
leve suspeitam a existência, atrás disso tudo, do logro mais infame de todos os
tempos. Entretanto, era assim que as coisas se passavam. Apenas surgiu a nova
categoria social, saída da transformação econômica que se estende a todas as
classes, o judeu avista, com toda a nitidez e clareza, o novo itinerário a
seguir para sua prosperidade sempre crescente. Outrora, serviu-se da burguesia
como arma contra o mundo feudal, agora vai atiçar o operário contra o burguês.
Se, à sombra da burguesia, ele conseguiu, por meios duvidosos, a conquista dos
direitos de cidadania, espera agora encontrar, na luta do trabalhador pela vida,
o caminho para implantar o seu domínio político.
Doravante, só resta ao operário a tarefa de pelejar pelo futuro do povo
judeu. Sem se aperceber, entra a serviço da potência que ele tem a ilusão de
combater. Com a aparência de deixá-la atacar o capital, é que se pode melhor
fazê-la lutar pelo mesmo. Nisso tudo, grita-se constantemente contra o capital
internacional, quando em verdade o que se visa e a economia nacional. É esta que
importa demolir para que, no seu cemitério, se possa edificar triunfalmente a
Bolsa Internacional.
O processo aí empregado pelo judeu é o seguinte: aproxima-se do
trabalhador, finge compaixão pela sua sorte ou mesmo revolta contra seu destino
de miséria e indigência, tudo isso unicamente para angariar confiança.
Esforça-se por examinar cada privação real ou imaginária na vida dos operários,
despertando o desejo ardente de modificar a sua situação. A aspiração à justiça
social, latente em cada ariano, é por ele levada de um modo infinitamente hábil,
ao ódio contra os privilégios da sorte; a essa campanha pela debelação de pragas
sociais imprime um caráter de universalismo bem definido. Está fundada a
doutrina marxista.
Apresentando-a inseparavelmente ligada a toda uma série de exigências
sociais bem legítimas, vai ele favorecendo sua propaganda e, por outro lado,
despertando a aversão da humanidade bem intencionada em satisfazer aquelas
exigências, que, expostas da maneira por que o são, aparecem desde o inicio,
como injustas, e mesmo de impossível realização.
É que, sob esse disfarce de idéias puramente sociais, escondem-se intenções
francamente diabólicas. Elas são externadas ao público com uma clareza demasiado
petulante. A tal doutrina representa uma mistura de razão e de loucura, mas de
tal forma que só a loucura e nunca o lado razoável consegue se converter em
realidade. Pelo desprezo categórico da personalidade, por conseguinte da nação e
da raça, destrói ela as bases elementares de toda a civilização humana, que
depende justamente desses fatores. Eis a verdadeira essência da teoria marxista,
se é que se pode dar a esse aborto de um cérebro, criminoso a denominação de
"doutrina". Com a ruína da personalidade e da raça, desaparece o maior reduto de
resistência contra o reino dos medíocres, de que o judeu é o mais típico
representante.
Essa doutrina pode ser julgada justamente pelos seus desvarios em matéria
econômica e política. Todos os que, de fato, são inteligentes hesitam em entrar
no seu séquito, e os outros, a quem falta suficiente atividade intelectual ou
preparo econômico, precipitam-se ao seu encontro. O judeu, dentro de suas
próprias fileiras, "sacrifica'> o elemento inteligente ao movimento, pois mesmo
semelhante movimento não se pode manter sem inteligência. Assim cria-se um
verdadeiro movimento trabalhista, sob a chefia de judeus. Aparentam visar à
melhora das condições dos operários, tendo na mente, porém, em verdade, a
escravização e o aniquilamento de todos os povos que não são judeus.
A Maçonaria se encarrega, por meio da imprensa, hoje nas mãos dos judeus,
de levar, à burguesia e às camadas populares, a Idéia de que a defesa do país
deve consistir no pacifismo. A essas duas armas demolidoras assecla-se, em
terceiro lugar, a organização da violência bruta que é a mais temível. Como
patrulha de ataque, o Marxismo tem que consumar a obra de destruição que as
outras duas armas prepararam.
Trata-se de uma ação simultânea, admiravelmente conjugada. Não deve
provocar admiração o fato de semelhante arma destruir instituições que se
comprazem em figurar como expoentes da autoridade suprema, mais ou menos
legendária. É nas mais altas esferas do funcionalismo que o judeu, em todas as
épocas, com raras exceções,, descobriu os promotores mais dóceis da sua obra de
destruição. Essa classe é caracterizada per: submissão bajuladora quando trata
com "superiores", impertinência arrogante com os subalternos. Outra
característica é uma estupidez que grita aos céus e só se vê, às vezes,
superada, por uma presunção fora do comum.
Tudo isso são defeitos de que o judeu necessita para agir junto às nossas
autoridades e que, por isso, cultiva com carinho.
A luta que, então, principia, pode ser "grosso modo" delineada da seguinte
maneira.
De acordo com as finalidades da luta judaica, que não consistem Unicamente
na conquista econômica do mundo, mas também na dominação política, o judeu
divide a organização do combate marxista em duas partes, que parecem separadas
mas, em verdade, constituem um bloco único: o movimento dos políticos e o dos
sindicatos.
Esse último é um trabalho de aliciamento. Na dura luta pela existência, que
o operário tem que enfrentar, devido à ganância e à miopia de muitos patrões, o
movimento lhe propõe ajuda e proteção e a possibilidade de combater por uma
melhora nas suas condições de vida. Se o operário desejar reivindicar seus
direitos humanos em uma época, em que a "comunidade popular organizada" - o
Estado - não se preocupa com ele em absoluto; se ele não quiser confiar essas
suas aspirações à. cega arbitrariedade de semi-responsáveis, dotados, muitas
vezes, de nenhum coração, é preciso que, pessoalmente, ele se encarregue de sua
defesa. Na mesma proporção, a chamada burguesia nacional, cega pelo dinheiro,
põe os maiores obstáculos a essa luta pela vida, opondo-se contra todas as
tentativas de abreviação do horário de trabalho, desumanamente longo, supressão
do trabalho infantil, segurança e proteção da mulher, melhoramento das condições
sanitárias em oficinas e moradias, etc. O judeu, mais inteligente, toma a defesa
dos oprimidos. Aos poucos, torna-se o chefe do movimento social. Isso lhe é
fácil, pois não se trata, na realidade, de combater com boa intenção as chagas
sociais, mas somente de selecionar uma tropa de combate, nos meios proletários,
que lhe seja cegamente devotada na campanha de destruição da independência
econômica do país. Enquanto a chefia de uma sã política social não aceitar
firmemente estas duas diretrizes: conservação da saúde do povo e segurança de
uma independência nacional no terreno econômico, o judeu na sua luta não só
descurará completamente esses dois problemas, como fará de sua supressão uma
verdadeira finalidade. Não deseja ele a conservação de uma economia nacional
independente, mas, ao contrário, o seu aniquilamento. Em conseqüência, não há
escrúpulos de consciência que possam demovê-lo, como chefe do movimento
proletário, de fazer exigências, não só exorbitantes, como praticamente
irrealizáveis e próprias a acarretar a ruína da economia nacional. Não cogita
ele de ver uma geração sadia e robusta, deseja somente um rebanho contaminado e
apto a ser subjugado. Com esse desideratum, faz exigências tão destituídas de
senso que sua realização (ele não o ignora) se torna impossível e não pode
provocar nenhuma modificação do estado de coisas existente. Serve apenas para
excitar a massa popular até ao desvario. Isso, porém, é o que ele quer e não a
modificação para melhor da situação do proletariado.
A chefia do judeu na questão social se manterá até o dia em que uma
campanha enorme em prol do esclarecimento das massas populares se exerça
instruindo-as sobre sua miséria infinita, ou até que o Estado aniquile tanto o
judeu como sua obra. É claro que, enquanto durar a falta de perspicácia do povo,
e o Estado se conservar indiferente como o tem sido até hoje, as massas seguirão
sempre de preferência aquele, cujas promessas, de ordem econômica, forem as mais
audaciosas. Nisso, aliás, o judeu leva a palma, pois nenhum escrúpulo moral
entrava a sua ação.
É natural que, em pouco tempo, ele tenha vencido, nesse terreno, todos os
concorrentes. De acordo com sua feroz ganância, põe ele, a base do movimento
operário, o princípio da violência mais brutal. Quem for perspicaz e opuser
resistência à tentação do judeu, terá sua teimosia e clarividência inutilizadas
pelo terror. Os efeitos de tal sistema são simplesmente fantásticos.
De fato, através do operariado, que poderia ser uma bênção para a nação, o
judeu destrói as bases da economia nacional.
Paralelamente a isso, progride a sua organização política.
Sua cooperação com o movimento proletário manifesta-se pelo modo por que
prepara as massas para a organização política, fustigando-as até pela violência
e pela coação. Além disso, o judeu é a fonte financeira que alimenta o enorme
maquinismo do edifício político. É o órgão fiscalizador da atividade política de
cada um, desempenhando, em todas as grandes manifestações oficiais, o papel de
condutor. Por fim, deixa de se interessar por questões econômicas, pondo à
disposição do ideal político sua principal arma de combate - a renúncia ao
trabalho, sob a forma de greve coletiva e geral. A organização política e
trabalhista consegue, através de uma imprensa apropriada aos mais ignorantes, os
meios para resolver e agitar as camadas mais baixas da nação, amadurecendo-as
para os feitos mais audazes. Sua missão não consiste em arrancar os homens do
pântano dos sentimentos baixos e elevá-los a uma posição mais elevada. Ao
contrário, visa à satisfação dos mais baixos instintos destes. Tudo se resume a
um negócio lucrativo junto à massa popular, tão cheia de presunções quanto
preguiçosa e incapaz de idéias próprias. É essa imprensa o órgão principal para
a destruição, por uma campanha fanática de calúnias, tudo que se pode considerar
como esteio da independência nacional, do progresso cultural e da autonomia da
nação.
Faz ela uma guerra encarniçada às personalidades que não se querem curvar
às pretensões dominadoras dos judeus ou que, por sua capacidade excepcional,
impressionam o judeu como um perigo iminente. Para que se seja odiado pelo
judeu, não é preciso que se o combata. Basta a suspeita de que seu adversário
possa apenas nutrir a idéia de perseguição ou ser um propagandista da força e
grandeza de algum povo hostil à sua raça.
Seu instinto, incapaz de se enganar nestas coisas, fareja em cada um a alma
primitiva, podendo contar com a sua inimizade todo aquele cujo espírito não é
uma cópia do seu. Não sendo judeu a vítima e sim o agressor, seu inimigo não é
só o que ataca mas também o que oferece resistência. O meio, porém, pelo qual
ele tenta domar almas tão ousadas e francas, não é por uma luta leal e sim pela
mentira e pela calúnia. Nesse ponto, ele não recua diante de coisa alguma.
Torna-se tão ordinário na sua vulgaridade, que ninguém se deve admirar que,
entre o nosso povo, a personificação do diabo, como símbolo de todo mal, tome a
forma do judeu em carne e osso.
A ignorância da grande massa sobre a personalidade do judeu, a falta de
alcance das nossas altas camadas sociais, fazem do povo facilmente a vitima
dessa campanha judaica de mentiras. Enquanto as classes mais altas se afastam
por covardia do indivíduo atacado pela mentira e calúnia, o povo propriamente,
na sua tolice e ingenuidade, costuma acreditar em tudo. As autoridades do
Governo mantêm-se, porém, em silêncio, ou, mais freqüentemente, a fim de porem
um termo à campanha dos judeus pela imprensa, perseguem a inocente vitima. Isso
aparece aos olhos de um asno, sob a capa de funcionário, como uma salvaguarda da
autoridade do Governo e uma garantia da ordem e da tranqüilidade!
Sobre o cérebro e a alma da gente de bem, vai descendo, aos poucos, como um
pesadelo, o temor do judaísmo, a arma dos marxistas.
Todos começam a tremer diante do terrível inimigo, tornando se assim suas
vitimas definitivas.
k) O domínio do judeu no Estado já parece tão firmado, que, agora, não só
ele tem direito de aparecer como judeu, como também de externar seus pensamentos
mais íntimos a respeito de raça e de política, sem pôr nisso o menor escrúpulo.
Parte da sua raça já se confessa abertamente como povo estrangeiro, o que ainda
é uma pequena mentira. Enquanto o Sionismo se esforça por fazer crer à
Humanidade que a consciência do judeu, como povo, encontraria satisfação na
criação de um Estado na Palestina, os judeus nada mais fazem que ludibriar os
cristãos, da maneira mais miserável.
Não cogitam absolutamente de implantar na Palestina um Estado para ali
viverem. O que eles desejam, é, unicamente, um centro de organização autônomo,
ao abrigo da intrusão de outras potências. Querem apenas um refúgio seguro para
a sua canalhice, isto é, uma academia para a educação de trapaceiros.
É, porém, um indício, não só de sua confiança crescente, como também da
consciência de sua segurança, que uma parte se proclame, aberta e cinicamente,
como raça judaica, ao mesmo tempo que a outra, sem a mínima sinceridade,
disfarça-se em alemães, franceses ou ingleses.
A maneira por que tratam os outros povos é- um sinal evidente de que vêem
muito próxima a vitória.
O judeuzinho de cabelos negros espreita, horas e horas, com um prazer
satânico, a menina inocente que ele macula com o seu sangue, roubando-a ao seu
povo. Não há meios que ele não empregue para estragar os fundamentos raciais do
povo que ele se propõe vencer. Do mesmo modo que, segundo um plano traçado, vai
corrompendo mulheres e mocinhas, também não recua diante do rompimento de
barreiras impostas pelo sangue, empreendendo essa obra em grande escala, no país
estranho. Foram e continuam a ser ainda judeus os que trouxeram os negros até o
Reno, sempre com os mesmos intuitos secretos e fins evidentes, a saber:
"bastardizar" à força a raça branca, por eles detestada, precipitá-la do alto da
sua posição política e cultural e elevar-se ao ponto de dominá-la inteiramente.
Decorre daí que um povo de raça pura, consciente de seu sangue, nunca
poderá ser subjugado pelo judeu. Este só poderá ser dominador de bastardos. É
assim que, sistematicamente, ele tenta fazer baixar o nível racial por um
ininterrupto envenenamento dos indivíduos.
Em matéria política, começa ele a substituir o ideal democrático pelo da
Ditadura do Proletariado. Na multidão organizada do marxismo é que ele foi
encontrar a arma que a Democracia não lhe dá e que lhe permite a subjugação e o
governo dos povos pela força bruta, ditatorialmente.
Seu programa visa à revolução em um duplo sentido: econômico e político.
Povos que opõem ao ataque interno uma forte resistência são por ele
envolvidos em uma teia de inimigos, graças às suas influências internacionais.
Incita-os à guerra, implantando, se preciso for, nos campos de batalha, a
bandeira revolucionária. Economicamente, eles criam para os Estados tal situação
que as empresas oficiais, deixando de dar residas, são subtraídas à direção do
Estado e submetidas à fiscalização financeira do judeu.
No terreno político, recusam eles ao Estado os meios para sua subsistência,
destroem as bases de toda e qualquer defesa nacional, aniquilam a crença em uma
chefia, desprezam a história e o passado, e enlameiam tudo que é expoente de
grandeza real.
A contaminação, em matéria de cultura, manifesta-se na arte, na literatura,
no teatro. Cobrindo de ridículo o sentimento espontâneo, destroem todo conceito
de beleza e elevação, de nobreza e de bondade, arrastando o homem aos seus
sentimentos inferiores. A religião é ridicularizada Bons costumes e moralidades
são taxados de coisas do passado, até que os últimos esteios de uma
nacionalidade tenham desaparecido.
l) Principia agora a última grande Revolução.
Chegando a alcançar a preponderância política, despojam-se eles dos poucos
disfarces que ainda lhes restam, o judeu popular e democrático se transforma no
judeu sanguinário e tiranizador de povos. Procura exterminar, em poucos anos, os
expoentes nacionais da intelectualidade, preparando os povos, que ele priva de
uma natural direção espiritual, para uma opressão contínua.
O exemplo mais terrível nesse gênero é apresentado pela Rússia, onde o
judeu, com uma ferocidade verdadeiramente fanática, trucidou cerca de trinta
milhões, alguns por meio de torturas desumanas, outros pela fome, e tudo isso
com o fito de assegurar a um lote de literatos judeus e bandidos da Bolsa o
domínio sobre um grande povo.
A conseqüência final, entretanto, não é só a
morte da liberdade dos povos oprimidos, mas também a morte desse parasita
internacional. Após a imolação da vítima, morre, também, cedo ou tarde, o
vampiro.
Passando em revista todas as causas da derrocada da Alemanha, resta, como
última e decisiva, o desconhecimento do problema racial e sobretudo, do perigo
judeu.
Teria sido muito fácil suportar as derrotas de agosto de 1918, nos campos
de batalha. Não foram elas que nos aniquilaram, mas sim aquela potência que
preparou essas derrotas, roubando, desde muitos anos, sistematicamente, ao nosso
povo, os instintos e as forças morais que são os fatores exclusivos para
assegurar a capacidade e os direitos dos povos à existência.
O antigo Império, não dando a menor atenção à questão fundamental da raça,
que pesa na formação de uma nacionalidade, desprezou o direito único que explica
a vida de um povo. Povos que se tornam bastardos ou se deixam contaminar,
atentam contra a vontade da Providência, e seu aniquilamento não é uma injustiça
e sim um restabelecimento do direito. Quando um povo não quer mais dar apreço às
qualidades inerentes que lhe foram dadas pela Natureza e que se acham enraizadas
no seu sangue, não tem mais o direito de chorar a perda de sua existência.
Tudo nesta terra é suscetível de melhoras. Cada derrota pode engendrar uma
vitória futura, cada guerra perdida origina uma ressurreição vindoura, cada
miséria fecunda energias humanas e de cada opressão as forças conseguem
erguer-se até uma renascença espiritual. Tudo isso, porém, enquanto o sangue se
conserva puro.
A perda da pureza de sangue por si só destrói a felicidade íntima, rebaixa
o homem por toda a vida, e as conseqüências físicas e intelectuais permanecem
para sempre.
Todos os demais problemas vitais, examinados e comparados em relação a
este, aparecerão ridiculamente mesquinhos. Todos são limitados no tempo. A
questão, porém, da conservação ou não conservação do sangue perdurará sempre,
enquanto existir a Humanidade.
Todos os importantes sintomas de decadência de antes da Guerra tinham seu
fundamento na questão racial.
Quer se trate de questões de direito público ou de abusos na vida
econômica, de fenômenos de decadência ou de degenerescência política, de
questões relativas a uma defeituosa educação escolar ou uma má influência
exercida sobre adultos pela imprensa, etc., sempre e, em toda parte, surge a
falta de consideração aos interesses raciais do próprio povo ou a cegueira
diante do perigo racial trazido pelo estrangeiro. Dai a ineficácia de todas as
tentativas de reforma, de todas as obras de assistência social, de todos os
esforços políticos, de todo progresso econômico, de todo aparente acréscimo do
saber. A nação e o Estado já não possuíam saúde real, o seu mal progredindo à
vista d'olhos, cada vez mais, Toda prosperidade fictícia do antigo Império não
conseguia ocultar a fraqueza íntima, toda tentativa de um verdadeiro
fortalecimento do poder ficava sem efeito, pois deixava de lado a questão de
maior importância, a questão racial.
Seria errôneo supor que os adeptos das diversas facções políticas, que
tentaram esfacelar o organismo alemão, - mesmo uma parte de seus líderes fossem homens ordinários ou mal intencionados. A causa única da esterilidade de
seus esforços foi só terem enxergado, quando muito, as manifestações exteriores
de nossa moléstia geral e procurado combatê-las, deixando cegamente de lado
aquele que as provocou. Quem seguir sistematicamente a linha de evolução do
antigo Império, deve chegar, depois de refletido exame, à conclusão de que,
mesmo no tempo da unificação e, portanto, da época do maior progresso da nação
alemã, já era evidente a decadência interna e que, apesar de todos os aparentes
triunfos políticos e da crescente riqueza, a situação geral piorava de ano para
ano. Mesmo as eleições de representantes ao "Reichstag" anunciavam, com o seu
acréscimo patente de votos marxistas, o desmoronamento interno cada vez mais
próximo e a todos manifesto. Todos os sucessos dos denominados partidos
políticos não tinham mais valor, não só por não poderem fazer parar a ascensão
da onda marxista, mesmo nas chamadas vitórias eleitorais burguesas, como também
pelo fato de já trazerem dentro de si os fermentos da decomposição.
Inconscientemente, o mundo burguês já se achava contaminado pelo veneno mortal
do marxismo. Um único travou a luta, nesses longos anos, com inabalável
regularidade, e esse foi o judeu. Sua estrela de Davi" subiu sempre mais alto, à
proporção que a vontade da conservação desaparecia do nosso povo.
Por isso é que, em agosto de 1914, não foi um povo resolvido ao ataque que
compareceu às urnas, mas o que se deu foi um último lampejo do instinto de
conservação nacional diante da paralisação progressiva do nosso organismo
popular, provocada pelo pacifismo e pelo marxismo. Como, mesmo nesses dias
decisivos, se desconhecia o inimigo interno, toda resistência era debalde.
Este conhecimento da situação interna é que deveria formular as diretrizes,
assim como a tendência do novo movimento. Estávamos convencidos de que só isso
seria capaz de fazer estacionar o declínio do povo alemão, criando
simultaneamente a base granítica sobre a qual um dia se poderá manter um Estado
que não seja um mecanismo de finalidade e interesses puramente econômicos,
alheio ao povo, mas sim um organismo popular, isto é, UM ESTADO VERDADEIRAMENTE
GERMÂNICO.
CAPÍTULO XII - O PRIMEIRO PERÍODO DE DESENVOLVIMENTO DO PARTIDO NACIONAL
SOCIALISTA DOS TRABALHADORES ALEMÃES
Quando, no fim deste volume, descrevo o primeiro período de evolução do
nosso movimento, comentando, em breves palavras, as questões dele decorrentes,
não tenho o intuito de fazer uma preleção sobre os seus fins intelectuais. Os
propósitos e fins do novo movimento são tão importantes que só poderão ser
tratados em volume exclusivamente a eles dedicado. Assim tratarei, em um segundo
volume, das bases do programa do movimento e tentarei demonstrar aquilo que para
nós representa a palavra "Estado". Com a palavra "nós", designo as centenas de
milhares de pessoas que, no fundo, se batem pelos mesmos ideais, sem,
isoladamente, acharem as palavras para designar o que no intimo almejam, pois é
característico de todas as grandes reformas, que para defendê-las apareça,
muitas vezes, um só homem, enquanto os seus adeptos já são milhares. O seu alvo
muitas vezes, já é há séculos o desejo íntimo de milhares de pessoas, até que
apareça um que proclame o desejo geral, e, como porta-estandarte, conduza à
vitória as velhas aspirações, por meio de uma idéia nova.
Que milhões de homens desejam de coração uma mudança fundamental na
situação de hoje, prova-o o descontentamento profundo que experimentamManifesta-se esse descontentamento de mil maneiras: em alguns pelo desânimo e
falta de esperança; em outros pela má vontade, irascibilidade e revolta; neste
em indiferença e naquele em exaltação furiosa. Como testemunhas desse
descontentamento intimo podem servir tanto os "fatigados de eleições" como os
que se inclinam para o fanatismo da esquerda.
E é a esses, em primeiro lugar, que se deveria dirigir o novo movimento.
Esse não deve ser a organização dos satisfeitos, dos fartos, mas sim dos
sofredores e inquietos, dos infelizes e descontentes, não deve, principalmente,
sobrenadar na onda humana, mas sim mergulhar até ao fundo da mesma.
Sob o ponto de vista puramente político, apresentava o ano de 1918 o
seguinte aspecto: um povo dividido em duas partes. Uma, a menor, abrange as
camadas da inteligência nacional com exclusão de todos os trabalhadores manuais.
É aparentemente nacional, mas não é capaz de dar a essa palavra outra
significação senão a de uma representação vaga e fraca dos chamados interesses
do Estado, que, por sua vez, são idênticos aos interesses dinásticos. Procura
defender as suas idéias e seus fins com armas intelectuais, tão superficiais
como cheias de lacunas, e que falham diante da brutalidade do adversário. Com um
só golpe terrível, essa classe até aqui dominante é derrubada e suporta com
covardia trêmula todas as humilhações do vencedor sem escrúpulos.
A outra parte compõe-se da grande massa do operariado, concentrada em
movimentos marxistas mais ou menos radicais, resolvida a vencer à força bruta
toda resistência dos intelectuais. Não quer ser "nacional", ao contrário,
recusa, conscientemente, trabalhar pelos interesses nacionais, auxiliando do
outro lado a opressão por parte do estrangeiro. Numericamente é a mais forte,
abrangendo, antes de tudo, aqueles elementos do povo, sem os quais não se pode
imaginar uma ressurreição nacional, porque, (sobre isso já em 1918 não deveria
ter havido mais dúvida) todo o reerguimento do povo alemão só seria possível
depois da reconquista do poder perante o exterior. As condições essenciais para
isso, não são, porém, como dizem os nossos "estadistas" burgueses, armas, mas
sim as forças da vontade. Outrora, o povo alemão possuía armas em quantidade
mais do que suficiente. Não soube garantir, a liberdade porque lhe faltou a
energia do espírito nacional de conservação e a vontade firme de
auto-conservação. A melhor arma torna-se material morto e sem valor, quando
falta o espírito resoluto para manejá-la. A Alemanha tornou-se fraca, não porque
lhe faltassem armas, mas porque lhe faltou o ânimo de manejá-las para a
conservação nacional. Se, hoje, principalmente os nossos políticos esquerdistas,
apontam a falta de armas como causa obrigatória de sua política exterior fraca,
condescendente, na verdade, porém, traidora, sã se lhes pode responder uma
coisa: Não! O inverso é o que se dá: a vossa criminosa política de abandono dos
interesses nacionais, é que vos fez entregar as armas. Agora, quereis apresentar
a falta de armas como motivo de Vossa miserável baixeza. Isto, como tudo que
fazeis, é mentira e mistificação.
Essa acusação também se ajusta exatamente aos políticos da direita. Graças
à sua covardia foi possível, em 1918, à corja dos judeus, que se tinha apossado
do poder, roubar as armas à nação. Por isso também eles não podem, com razão,
justificar a sua sábia "moderação" (diga-se covardia) com a hodierna falta de
armas, porque essa falta é justamente um resultado de sua covardia. A questão da
reconquista do poder alemão não deve consistir em saber, por exemplo, como
fabricaremos armas, mas sim, como despertaremos no povo o espírito que o
habilite a ser portador de armas. Quando esse espírito domina um povo, ele
achará mil caminhos dos quais cada um terminará junto a uma arma! Entreguem-se,
porém, dez pistolas a um covarde e, quando for agredido, não será capaz de
disparar um tiro sequer. Têm nas mãos dele menos valia que um bom porrete nas
mãos de um homem corajoso. A questão da reconquista do poder político do nosso
povo é, em primeira linha, uma questão de saneamento do nosso sentimento de
conservação nacional, porque, segundo a experiência ensina, toda política
exterior eficiente, assim como todo o valor de um Estado em si, baseiam-se menos
nas armas que possui do que na reconhecida ou mesmo suposta faculdade de
resistência moral da nação. A possibilidade de alianças é menos designada pela
existência de armas mortas do que pela existência visível de uma incandescente
vontade de auto-conservação nacional e heróico desprezo em face da morte. Uma
aliança não é feita com armas mas sim com homens. Dessa maneira, o povo inglês
será considerado o aliado mais valoroso do inundo, enquanto os seus governantes
e o espírito da massa geral derem mostras de uma brutalidade e persistência que
fazem supor que uma luta, uma vez começada, será continuada até um fim
vitorioso, sem medir sacrifícios nem tempo, não entrando em consideração se os
seus preparativos militares estão em relação aos dos outros Estados ou não.
Compreendendo-se, porém, que o reerguimento da nação alemã é uma questão de
reconquista da nossa vontade de auto-conservação, fica evidente que para isso
não basta a conquista de elementos já nacionalistas por si, ao menos pela
vontade, mas sim a nacionalização de toda a massa abertamente antinacional.
Um novo movimento que almeja o reerguimento de um Estado alemão com
soberania própria, terá que dirigir sua campanha unicamente no sentido da
conquista das grandes massas. Por mais miserável que seja a nossa chamada
"burguesia nacional", por mais fraca que seja a sua convicção nacional, desse
lado não se pode esperar uma resistência séria contra uma política forte
interior e exterior. Mesmo que a burguesia alemã, de idéias e vistas curtas,
permaneça em resistência passiva, come já aconteceu com Bismarck, não nos fará
temer nunca uma resistência ativa devido à sua proverbial covardia.
Outras são as circunstâncias na massa de nossos compatriotas impregnados de
idéias internacionais. Não só os seus instintos primitivos pendem mais para o
emprego da força, mas também os seus guias judeus são mais brutais e sem
consideração. Eles inutilizarão do mesmo modo todo movimento de ressurreição
nacional, como outrora - quebraram a espinha dorsal ao exército alemão.
Principalmente neste regime parlamentar, por força da sua maioria, farão ruir
toda a política nacional exterior, evitando assim uma avaliação mais alta da
força alemã, e, consequentemente, a possibilidade de alianças. O sintoma de
fraqueza que representam esses 15 milhões de marxistas, democratas, pacifistas e
centristas, não é somente perceptível a nós, mas muito mais ao estrangeiro, que
mede o valor de uma aliança conosco por esse peso morto. Não se faz uma aliança
com um Estado cuja parte ativa da população se conserva passiva, ao menos diante
de qualquer política exterior resoluta. Ajunte-se a isso o fato de serem os
chefes desses partidos de traição nacional adversos, por instinto de
conservação, a qualquer progresso. É, historicamente, difícil imaginar que o
povo alemão chegue algum dia a ocupar a sua posição anterior, sem chamar à
prestação de contas aqueles que motivaram e promoveram o inaudito desmoronamento
de que foi vítima o nosso Estado. Diante do juízo das gerações vindouras, o mês
de novembro de 1918 não será qualificado de alta traição, mas sim de traição à
pátria. Assim, a reconquista da autonomia alemã, perante o exterior, está ligada
em primeira linha à reconquista da união consciente do nosso povo.
Também, tecnicamente encarada, a idéia da libertação alemã, perante o
estrangeiro, parecerá loucura, enquanto as grandes massas não aderirem a esse
ideal de liberdade. Encarado do ponto de vista puramente militar, qualquer
oficial, depois de alguma reflexão, reconhecerá que uma campanha externa não
poderá ser realizada com batalhões de estudantes, e, que, além dos cérebros de
um povo, também são necessários os seus punhos. Também precisa ser considerado
que a defesa de uma nação, baseada somente na chamada intelectualidade, seria um
sacrifício de bens irreparável. A jovem intelectualidade alemã dos regimentos de
voluntários que, no outono de 1914, sucumbiu nas planícies de Flandres, mais
tarde fez falta enorme. Era o bem mais valioso que a nação possuía, e a sua
perda não pôde mais ser suprida durante a guerra. Não só a luta é impossível se
os batalhões que avançam não têm em suas fileiras as massas dos operários, mas
também os preparativos técnicos não são realizáveis sem a união interna
consciente de nosso povo. Justamente o povo alemão, que, debaixo das vistas do
tratado de Versalhes, vive desarmado, só poderá tratar de qualquer preparativo
técnico para alcançar a liberdade e a independência humana, depois que o
exército de espiões internos estiver dizimado a ponto de só restarem aqueles
cuja falta de caráter lhes permita venderem tudo e todos pelos conhecidos trinta
dinheiros. Mas com esses pode-se acabar. Invencíveis, no entanto, parecem os
milhões que se opõem ao levantamento nacional por convicções políticas,
invencíveis enquanto não se combaterem as suas idéias marxistas, arrancando-as
de seus corações e de seus cérebros.
Indiferente, portanto, é o ponto de vista por que se encara a possibilidade
da reconquista de nossa independência, tanto do Estado como do povo, se do ponto
do preparo da política exterior, do ponto técnico do armamento ou mesmo do ponto
da luta em si mesma, sempre persiste a necessidade de conquista anterior da
grande massa do povo para a idéia de autonomia nacional. Sem a reconquista da
liberdade exterior toda a reforma interior significará, no caso mais favorável,
a elevação da nossa capacidade de produzir renda como colônia. Os saldos de toda
chamada melhoria econômica serão absorvidos pelos nossos "controleurs" e todo
melhoramento social elevará a nossa força produtiva em beneficio dos mesmos.
Progressos culturais não nos serão possíveis, porque são intimamente ligados à
independência política e dignidade de um povo.
Se, portanto, a solução favorável do futuro alemão está em ligação intima
com a conquista nacional da grande massa do nosso povo, deve ser esta a mais
alta e importante tarefa de um movimento, cuja eficiência não se deve esgotar na
satisfação de um movimento, mas deve submeter toda a sua ação a um exame sobre
as conseqüências futuras prováveis. Já no ano de 1919, estávamos convencidos de
que o novo movimento deveria ter por escopo principal a nacionalização das
massas.
No sentido tático resulta daí uma série de exigências.
1. - Para conquistar as massas para o levante nacional nenhum sacrifício é
pesado demais. Quaisquer que sejam as concessões econômicas feitas ao operário,
nunca estarão em relação ao que lucra a nação em geral, quando elas contribuem
para restituir ao seu povo grandes camadas dele afastadas.
Só a ignorância míope que, lamentavelmente, muitas vezes se encontra entre
os nossos empregadores, pode deixar de reconhecer que não é possível incremento
econômico durável para eles e, consequentemente, mais lucros, enquanto não se
restabelecer a solidariedade interna no seio do próprio povo. Se as fábricas
alemãs, durante a guerra, tivessem cuidado dos interesses do operariado, sem
outras considerações, se tivessem, mesmo durante a guerra, exercido pressão, por
meio de greves, sobre os acionistas famintos de dividendos, se tivessem atendido
às exigências dos operários, se se tivessem mostrado fanáticas no seu
germanismo, em tudo que concerne à defesa nacional, se tivessem também dado à
pátria o que' é da pátria, sem restrição alguma, não se teria perdido a guerra.
E teriam sido verdadeiramente insignificantes todas as concessões econômicas,
diante da importância imensa da vitória.
Assim, um movimento que visa a reincorporar o operário alemão à nação
alemã, deve reconhecer que, neste caso, sacrifícios econômicos não podem ser
tomados em consideração, enquanto não ameaçarem a conservação e a independência
da economia nacional.
2. - A educação nacional das grandes massas só pode ser realizada depois de
uma elevação social porque, só por meio desta, é que se prepara o terreno que
produz as predisposições que permitem ao indivíduo compartilhar dos bens
culturais da nação.
3. - A nacionalização das grandes massas nunca se conseguirá por meias
medidas, por afirmações tímidas de um chamado ponto de vista objetivo, mas sim
por uma focalização unilateral e fanática no fim almejado. Quer isso dizer que
não se pode tornar nacional um povo no sentido de nossa hodierna burguesia, isto
é, com umas tantas restrições, mas sim tornando o "nacionalista" com toda
veemência. Veneno só pode ser combatido com contraveneno, e só a lassidão de um
caráter burguês é que poderá encarar os atalhos como conduzindo ,ao reino do
céu.
A grande massa do povo não é composta de professores nem de diplomatas. O
pouco conhecimento abstrato que possui conduz as suas aspirações mais para o
mundo do sentimento. É lá que ela se coloca para a ação positiva ou negativa. Só
é apologista de um golpe de força em uma dessas duas direções, mas nunca de
situações dúbias. Esse sentimento é também a causa de sua persistência
extraordinária. A fé é mais difícil de abalar do que o saber, o amor é menos
sujeito a transformação do que a inteligência, o ódio e mais durável que a
simples antipatia, e a força motriz das grandes evoluções, em todos os tempos,
não foi o conhecimento científico das grandes massas mas sim um fanatismo
entusiasmado e, às vezes, uma onda histérica que as impulsionava. Quem quiser
conquistar as massas deve conhecer a chave que abre as portas do, seu coração.
Essa chave não se chama objetividade, isto é, debilidade, mas sim vontade e
força.
4. - A conquista da alma do povo só é realizável quando, ao mesmo tempo que
se luta para os próprios fins, se aniquila o adversário dos mesmos. O povo, em
todos os tempos, encara a agressão impetuosa do adversário como uma prova do
direito do agressor e considera a abstenção no- aniquilamento do outro como um
sinal de dúvida do próprio direito, quando não como sinal de ausência do mesmo.
A grande massa não passa de uma obra da natureza e o seu sentir não
compreende o aperto de mão recíproco entre homens que afirmam pretender o
contrário. O que ela quer é a vitória do mais forte e o aniquilamento do fraco
ou a sua rendição incondicional.
A nacionalização de nossa massa popular só é realizável quando, na luta
positiva para a conquista da alma do nosso povo, ao mesmo tempo esmagarmos os
seus envenenadores internacionais.
5. - Todas as grandes questões atuais são questões de momento e representam
apenas as conseqüências de determinadas causas. Importância capital, porém, tem
uma só entre todas elas: a questão da conservação racial do povo. O sangue
somente é a base tanto da força como da fraqueza do homem. Povos que não
reconhecem e consideram a importância dos seus alicerces raciais, assemelham-se
a homens que quisessem ensinar a cachorros "lulu" as qualidades características
de cachorros galgos, sem compreenderem que a ligeireza do galgo e a inteligência
do "Pudel" não são qualidades adquiridas pelo ensino mas sim qualidades inatas
da raça. Povos que se descuidam da conservação da pureza de sua raça, abrem mão
também da unidade de sua alma, em todas as suas manifestações. O enfraquecimento
de seu ser é a conseqüência lógica do "enfraquecimento" do seu sangue e a
modificação de sua força criadora e espiritual é o efeito da transformação de
suas bases raciais.
Quem quiser libertar o povo alemão de seus vícios de hoje, das
manifestações estranhas à sua natureza, precisa livrá-lo do causador desses
vícios e dessas manifestações.
Sem o mais claro conhecimento do problema racial e do problema dos judeus,
não se poderá verificar um reerguimento do povo alemão.
A questão das raças fornece não só a chave para compreensão da historia
universal mas também para a da cultura humana em geral.
6. - O enfileiramento da grande massa popular (que hoje faz parte de uma
massa internacional) em uma comunidade popular nacionalista, não significa uma
abdicação da representação de interesses legítimos de classes.
Interesses antagônicos de classes e profissões não são idênticos a divisões
de classes, porque são conseqüências lógicas da nossa vida econômica de hoje. O
agrupamento profissional não se opõe de forma alguma a uma verdadeira
coletividade popular, consistindo essa na união do espírito nacional em todas as
questões que lhe interessam propriamente.
A incorporação de uma classe à coletividade da nação não se efetua com o
rebaixamento de classes superiores e sim com a ascensão das inferiores. O
expoente desse fenômeno nunca poderá ser a classe superior mas sim a inferior,
que luta pela equiparação de seus direitos. Não foi por iniciativa dos nobres
que os cidadãos de hoje foram incorporados ao Estado e sim por sua própria
energia debaixo de uma direção autônoma.
Não é através de cenas piegas de confraternização que o operário alemão
será elevado a figurar no quadro da comunhão nacional e sim por uma elevação
consciente de sua posição cultural e social, até que se possam considerar
vencidas as diferenças mais importantes que o separam das outras classes. Um
movimento visando semelhante evolução terá que procurar seus adeptos, em
primeiro lugar, nos acampamentos operários. Só se deverá recorrer aos
intelectuais, na medida em que estes já tiverem percebido plenamente o alvo
aspirado. Este processo de transformação e aproximação não estará terminado em
dez ou vinte anos, provado, como está, que se prolongará por muitas gerações.
O empecilho maior para a aproximação entre o operário de hoje e a
coletividade nacional não reside na representação de interesses - conforme cada
posição social - porém, ao contrário, na sua conduta e atitude
internacionalistas, hostis ao povo e à Pátria. As mesmas corporações dirigidas
nas suas aspirações políticas e populares por um nacionalismo fanático, fariam
de milhares de operários preciosíssimos membros da sua organização nacional, sem
levar em conta lutas isoladas de interesse puramente econômico.
Um movimento visando à restituição honesta do operário alemão ao seu povo,
querendo arrancá-lo à loucura internacionalista, precisa opor uma resistência de
aço, antes de tudo, à convicção que domina as empresas industriais. Aí se
entende por (comunhão popular" a rendição econômica, sem resistência, do
trabalhador ao patrão, enxergando se um ataque à coletividade em cada tentativa
de preservação dos interesses econômicos, nos quais o trabalhador tem os mesmos
direitos. Representar esta idéia eqüivale a ser o expoente de uma mentira
consciente: a coletividade impõe suas obrigações tanto a um lado como ao outro.
Com a mesma certeza que um trabalhador prejudica o espírito de uma
verdadeira coletividade popular, quando, apoiado na sua força, faz exigências
desmedidas, da mesma forma, um patrão trai essa comunidade. se, por uma direção
desumana e exploradora, abusar da energia de seu empregado no trabalho, ganhando
milhões, como um usurário, à custa do suor daquele.
Então, perde ele o direito de se considerar um membro da nação, de falar em
uma coletividade nacional, não passando de um egoísta que, pela introdução da
desarmonia social, provoca lutas futuras. que de uma maneira ou de outra têm que
ser perniciosas à Pátria.
A fonte de reserva, na qual o movimento incipiente tem de conquistar seus
adeptos, será, em primeiro lugar, a massa dos nossos operários. Esta é que nos
cumpre, a todo preço, arrancar à mania internacional, salvar da miséria social,
levantar da crise cultural, para integrá-la na comunhão geral e, como um- fator
bem distinto, precioso, desejando agir conforme o sentimento e espírito
nacionais.
Se se acharem, nos círculos da inteligência nacional, indivíduos com o
coração vibrando pelo povo e pelo seu futuro, conhecendo profundamente a
importância da luta pela alma dessa multidão, que sejam benvindos nas fileiras
deste movimento, como coluna vertebral do mais alto valor.
A finalidade desse movimento não deve consistir na conquista do rebanho
eleitoral. Nessa hipótese adquiriria uma sobrecarga que tornaria impossível a
conquista das grandes massas populares.
Nosso objetivo não é selecionar elementos no campo nacionalista mas
conquistar elementos entre os antinacionalistas. Esse princípio é absolutamente
necessário para a direção tática do movimento.
7. - Essa consistente e clara atitude deve ser expressa na propaganda da
nossa causa, por exigências da própria propaganda.
Para que uma propaganda seja eficiente é preciso que ela tenha um objetivo
definido e que se dirija a um determinado grupo. Ao contrário, ela ou não será
entendida por um grupo ou será julgada pelo outro tão compreensível por si mesma
que se torna desinteressante. Até a forma da expressão, o tom, não pode atuar da
mesma maneira em camadas populares de níveis intelectuais diferentes. Se a
propaganda não se inspirar nesses princípios, nunca atingirá as massas. Entre
cem oradores, dificilmente se encontrarão dez em condições de, em um dia,
conseguir sucesso ante um auditório de varredores de ruas, ferreiros, limpadores
de esgotos etc., e, no dia seguinte, diante de espectadores compostos de
estudantes e professores, obter o mesmo êxito em uma conferência de fundo
intelectual.
Entre mil oradores talvez só se encontre um capaz de, diante de um
auditório de serralheiros e professores de universidade, conseguir expressões
que não só correspondam à capacidade de apreensão de ambas as partes como
provoquem os seus mais entusiásticos aplausos. Não se deve perder de vista
também que as mais belas idéias de uma doutrina, na maior parte dos casos, só se
propagam por intermédio dos espíritos inferiores. Não se deve considerar o que
tem em mente o genial criador de uma idéia, mas em que forma e com que êxito o
defensor dessa idéia a comunicará às grandes massas.
A grande eficiência da Social Democracia, do movimento marxista, sobretudo,
consiste, em grande parte, na homogeneidade do público a que se dirige. Quanto
mais estreitas e limitadas eram as idéias propagadas, tanto mais facilmente eram
aceitas pelas massas, a cujo nível intelectual correspondiam perfeitamente.
Disso resulta para o novo movimento uma conduta clara e simples. A
propaganda, tanto pelas suas idéias como pela forma, deve ser organizada para
alcançai- as grandes massas populares e a sua justeza só pode ser avaliada pelo
êxito na prática. Em um grande comício popular, o orador mais eficiente não é o
que mais se aproxima dos elementos intelectuais do auditório mas o que consegue
conquistar o coração da maioria.
O intelectual que, presente a uma reunião, apesar da evidente atuação do
orador sobre as camadas inferiores, critica o discurso, sob o ponto de vista
intelectual, dá demonstração da sua incapacidade e da sua ineficiência para o
novo movimento. Para a causa só serão úteis os intelectuais que já tenham
apreendido muito bem a finalidade da mesma e estejam em condições de avaliar a
eficiência da propaganda pelo êxito da mesma sobre o povo e não pela impressão
que produz sobre o espirito deles. A propaganda não deve visar pessoas que já
formam entre os nacionais-socialistas mas, sim, conquistar os inimigos do
nacionalismo, desde que sejam da nossa raça.
Para o novo movimento devem-se adotar, no esclarecimento do espirito do
povo, as mesmas idéias de que eu já tinha feito uma síntese na propaganda da
Guerra. Que essas idéias eram justas provou-o o êxito das mesmas.
8. - O objetivo de um movimento de renovação política nunca será atingido
por meio de propaganda puramente intelectual ou por influência sobre os
dominadores do momento, mas sim pela conquista do poder político. Os que se
batem por uma idéia que se destina a modificar o mundo não só têm o direito mas
o dever de recorrer aos meios que facilitem a sua realização. O êxito é o único
juiz sobre a justeza de um tal movimento inicial. Esse êxito não deve ser
compreendido apenas como a conquista do poder, como aconteceu em 1918, pois um
golpe de estado não pode ser visto como bem sucedido somente porque os
revolucionários conseguiram tomar posse da administração pública, como se pensa
nos meios oficiais da Alemanha, mas sim quando seus objetivos trazem mais
vantagens ao povo do que as existentes no regime precedente. Esse não é o caso
da "Revolução Alemã" de 1918, como se costuma denominar esse golpe de
banditismo.
Se a conquista do poder é a condição preliminar para a realização de
reformas políticas, um movimento com finalidade renovadora deve, desde os
primeiros dias de sua existência, considerar-se como um movimento realmente
popular e não um clube literário ou um clube esportivo de burgueses.
9. - O novo movimento é, na sua essência e na sua organização,
antiparlamentarista, isto é, rejeita, em princípio, toda teoria baseada na
maioria de votos, que implique na idéia de que o líder do movimento degrada-se à
posição de cumprir as ordens dos outros. Nas pequenas coisas como nas grandes, o
movimento baseia-se no princípio da indiscutível autoridade do chefe, combinada
a uma responsabilidade integral.
As conseqüências práticas desse princípio fundamental são as seguintes:
O primeiro chefe de um grupo local é investido nas suas funções pelo que
lhe está imediatamente superior e assume a responsabilidade da sua direção.
Todas as comissões dependem dele e não ele das comissões. Não há comissões com
voto, mas comissões com deveres. O trabalho é distribuído pelo líder
responsável, isto é, o primeiro chefe ou presidente do grupo. O mesmo critério
deve ser adotado nas organizações maiores. O chefe é sempre indicado pelo seu
superior e investido de toda a responsabilidade. Só o chefe do partido é que,
por exigência de uma direção única, é escolhido pela assembléia geral de todos
os correligionários. Todas as comissões dependem exclusivamente dele e não ele
das comissões. Assume a responsabilidade de tudo. Os adeptos do movimento têm
sempre, porém, a liberdade de chamá-lo à responsabilidade, e, por uma nova
escolha, destituí-lo do cargo, desde que ele tenha abandonado os princípios
fundamentais da causa ou tenha servido mal aos seus interesses.
Uma das principais tarefas do movimento é tornar esse princípio decisivo,
não só dentro das próprias fileiras do partido como na organização do Estado.
Quem se propuser a ser chefe terá a mais ilimitada autoridade, ao lado da
mais absoluta responsabilidade. Quem não for capaz disso ou for covarde demais
para não arcar com as conseqüências de seus atos, não serve para chefe. Só o
herói está em condições de assumir esse posto.
O progresso e a cultura da humanidade não são produto da maioria mas
dependem da genialidade e da capacidade de ação dos indivíduos.
Cultivar a personalidade, investi-la nos seus direitos, é a condição
essencial para a reconquista das grandezas e do poder da nossa raça.
Por isso o movimento é antiparlamentarista. A sua participação em uma tal
instituição só pode ter o objetivo de destruir o parlamento, que deve ser visto
como um dos mais graves sintomas da decadência da humanidade.
l0. - O movimento evita tomar posição em todo e qualquer problema fora do
campo de sua atividade política ou que para a mesma não seja de importância
fundamental. A sua missão não é a de uma reforma religiosa mas a da
reorganização política do nosso povo. Vê em ambas as religiões um valioso esteio
para a existência da nação, e, por isso, combate os partidos que pretendam
transformar essa base moral e espiritual do povo em instrumento dos seus
interesses.
Finalmente, o nosso partido não tem por finalidade manter ou restaurar ou
combater essa ou aquela forma de governo, mas criar os princípios fundamentais,
sem os quais nem a República nem a Monarquia podem existir durante muito tempo.
Sua missão não consiste em fundar uma Monarquia ou estabelecer uma República,
mas em criar um Estado germânico.
A questão da forma exterior desse novo Estado não é de importância
fundamental, o que importa é a finalidade prática.
Um povo que compreendeu os seus grandes problemas e sua missão nunca será
arrastado à luta por formas de governo.
11. - O problema da organização interna do movimento não é uma questão de
princípios mas de finalidade. A melhor organização é a que entre a direção do
movimento e os seus adeptos possua o menor número de mediadores, pois a
finalidade da organização é comunicar uma idéia definida - que sempre se origina
no cérebro de um único indivíduo - e trabalhar por vê-la transformada em
realidade.
A organização é apenas um mal necessário. Na melhor hipótese, é um meio
para um fim, na pior hipótese um fim em si. Como o mundo é composto mais de
naturezas mecânicas do que de idealistas, a forma da organização é mais
facilmente percebida do que a idéia.
A marcha de cada um na realização de idéias novas, sobretudo entre os
reformadores, é, em traços gerais, a seguinte:
Todas as idéias geniais partem do cérebro dos indivíduos que se sentem
destinados a comunicar os seus pensamentos ao resto da humanidade. Ele faz a sua
pregação e conquista, pouco a pouco, um certo círculo de adeptos. Essa
transmissão direta e pessoal das idéias de um indivíduo aos seus semelhantes é a
melhor e a mais natural. A proporção que aumenta o número dos adeptos da nova
doutrina, torna-se impossível ao portador da nova idéia continuar a exercer
influência direta sobre os inúmeros correligionários e guiá-los pessoalmente.
A medida que cresce a coletividade e a ação direta torna-se impossível,
surge a necessidade de uma organização. Termina a situação ideal primitiva e
começa a organização como um mal necessário. Formam-se os pequenos grupos que no
movimento político constituem, como grupos locais, a célula mater da
organização. Essa organização primitiva deve sempre se realizar, a fim de que se
conserve a unidade da doutrina e para que a autoridade do fundador especial da
mesma seja por todos reconhecida. É da mais alta importância geopolítica a
existência de um núcleo central, de uma espécie de Meca do movimento.
Na organização dos primeiros núcleos, nunca se deve perder de vista que ao
núcleo primitivo de onde saiu a idéia deve ser dada a maior importância. A
proporção que inúmeros outros núcleos se forem entrelaçando, deve aumentar
também o apreço ao lugar que, do aspecto moral, intelectual e prático,
representa o ponto de partida do movimento e a sua cabeça. Tão fácil é manter a
autoridade do núcleo central em face dos outros grupos locais como difícil é
protegê-la contra as mais altas organizações que se vão formando. No entanto, a
conservação dessa autoridade é condição sine qua non para a consistência de um
movimento e para a realização de uma idéia. Quando, por fim, esses grandes
centros se ligam a novas formas de organização, aumenta a dificuldade de
assegurar o absoluto caráter de chefia ao lugar da fundação do movimento. Assim
só se devem formar núcleos de organização quando se pode conservar a autoridade
intelectual e moral do núcleo central. Assim sendo, a organização interna do
movimento deve obedecer às seguintes linhas gerais:
a) Concentração de todo o trabalho em um lugar só, que será Munique.
Deve-se criar um estado maior de adeptos de indiscutível confiança, a fim de
serem treinados, e fundar uma escola para a propaganda posterior da idéia. É
preciso que nesse centro se adquira a indispensável autoridade para agir com
eficiência no futuro.
Para tornar a nova causa e seus líderes conhecidos é necessário não somente
destruir a crença na invencibilidade do marxismo como demonstrar a
possibilidade, a viabilidade de um movimento que lhe seja contrário.
b) Os grupos locais só serão criados depois que a autoridade da direção
central de Munique for por todos absolutamente reconhecida.
e) A criação de círculos, distritos, ligas, etc., não surge somente da
necessidade da sua existência mas da absoluta segurança de que reconhecem a
autoridade do núcleo central. Mais ainda, a formação de outros grupos depende
dos indivíduos tidos como líderes no momento.
Há dois caminhos a seguir:
a) O movimento arranja os meios financeiros para aperfeiçoar os cérebros
capazes de assumir a futura liderança. .O material adquirido deve ser disposto
dentro de um certo plano, de acordo com os pontos de vista táticos e com a
finalidade da causa.
Esse caminho é o mais fácil e o mais rápido. Exige, porém, grandes somas de
dinheiro, pois esses líderes só a soldo poderão trabalhar pelo movimento.
b)
O movimento, em conseqüência da falta de recursos financeiros, não
está em condições de se utilizar de guias pagos, tem que recorrer à atividade de
funcionários gratuitos. Esse caminho é o mais lento e o mais difícil. A direção
do movimento deve, caso convenha, paralisar a atuação em determinados grandes
setores, até que, entre os adeptos da causa, surja uma cabeça capaz de se pôr à
testa da chefia e organizar e dirigir o movimento nesses locais.
Pode acontecer que não se encontre em certas regiões ninguém em situação de
poder assumir a chefia e que, em outras, duas ou três pessoas estejam em
condições mais ou menos idênticas quanto à capacidade. São grandes as
dificuldades para a evolução do movimento em tal situação e, só depois de anos,
podem elas ser vencidas.
Em qualquer hipótese, a condição indispensável na organização é a
existência de indivíduos capazes para a direção. Para a causa é preferível que
se deixe de organizar um grupo local a que se corra o risco de um insucesso, por
falta de um guia eficiente.
Para a liderança não se exige somente boa vontade, mas também capacidade,
que depende mais da energia do que de pura genialidade.- A combinação da
capacidade, do poder de resolução e da persistência, constitui o ideal.
12. - O futuro do movimento depende do fanatismo, mesmo da intolerância,
com a qual seus adeptos o defenderem como a única causa justa e defenderem-na em
oposição a quaisquer outros esquemas de caráter semelhante.
É um grande erro pensar que o movimento se torna mais forte quando se liga
a outros, mesmo que possam ter fins parecidos.
Todo aumento de extensão realizado por essa maneira traz, é verdade, um
maior desenvolvimento - externo, o que faz com que o observador superficial
pense tratar-se de um aumento de força. Na realidade, porém. a causa apenas
recebe o germe de fraqueza que se fará sentir mais tarde.
Por mais que se fale da identidade de dois movimentos, essa identidade
nunca existe. Ao contrário, não haveria dois movimentos, mas apenas um. Pouco
importa saber onde estão as divergências. Fossem elas apenas fundadas na
capacidade dos líderes não deixariam por Isso de existir.
A lei natural de toda evolução não permite a união de dois movimentos
diferentes, mas assegura sempre a vitória do mais forte e a criação do poder e
da força do vitorioso, o que só se pode conseguir por meio de uma luta
incondicional.
Pode ser que a união de duas concepções partidárias, em dado momento,
ofereça vantagens. Com o tempo, porém, o êxito assim conseguido é sempre uma
causa de fraqueza.
A um movimento é de vantagem apenas combater por uma vitória que não seja
um acesso momentâneo, mas um êxito de efeitos duradouros, obtido depois de uma
luta incondicional, capaz de maiores desenvolvimentos posteriores.
Movimentos que devem seu progresso a ligações com outros de concepções
parecidas, dão a impressão de plantas de estufa. Eles crescem, mas falta-lhes a
força para, durante séculos, resistir às grandes tempestades. A grandeza de toda
organização ativa que corporifique uma idéia está no fanatismo religioso e na
intolerância com que agride todas as outras, convencidos os seus adeptos de que
só eles estão com a razão. Se uma idéia em si é justa e dispõe dessas forças
resistirá a todas as lutas, será invencível. A perseguição que contra a mesma se
possa mover apenas aumentará sua força intrínseca.
A grandeza do Cristianismo não está em qualquer tentativa para
reconciliar-se com as opiniões semelhantes da filosofia dos antigos, mas na
inexorável e fanática proclamação e defesa das suas próprias doutrinas.
13. - O movimento tem que educar os seus adeptos de tal maneira que, na
luta, vejam a necessidade do emprego dos maiores esforços. Não devem temer a
Inimizade do adversário, mas considerá-la como condição essencial para a sua
própria existência. Não se devem atemorizar pelo ódio dos inimigos da nação mas
sim desejá-lo do mais intimo da alma. Na manifestação externa desse ódio, só há
mentira e calúnia.
Quem não é atacado nos jornais judeus, por eles caluniado e difamado, não é
um alemão Independente, não é um verdadeiro Nacional Socialista. O melhor
critério para se avaliar dos seus sentimentos, da sinceridade de suas convicções
e da 'sua força de vontade, é a inimizade contra os mesmos evidenciada pelos
inimigos do povo alemão.
Os adeptos do movimento e, em sentido mais lato, todo o povo, devem ficar
convencidos de que, nos seus jornais, o judeu mente sempre e que uma ou outra
verdade é apenas o disfarce de uma falsidade e por isso sempre uma mentira.
O Judeu é o maior mestre da mentira e a mentira e a fraude são as únicas
armas da sua luta.
Cada calúnia, cada mentira dos Judeus contra um de nós, deve ser vista como
uma cicatriz honrosa.
Quanto mais eles nos difamarem, mais nos aproximaremos uns dos outros. Os
que nos votam ódio mais mortal são justamente os nossos melhores amigos.
Quem, pela manhã, ler um jornal judeu e não tiver sido pelo mesmo difamado,
não aproveitou bem o seu dia, pois se o tivesse, teria sido pelo judeu
perseguido, caluniado, insultado, enxovalhado.
Só os que enfrentam de maneira eficiente esse inimigo mortal do nosso povo
e da civilização ariana devem esperar a calúnia dessa raça e ver dirigida contra
si a luta desse povo.
Se essas idéias fundamentais forem totalmente assimiladas pelos nossos
correligionários, então o movimento será inabalável, invencível.
14. - O nosso movimento deve usar de todos os meios para incutir o respeito
pelas personalidades. Não deve perder de vista que todos os valores humanos
residem no indivíduo, que todas as idéias, todas as realizações, são o resultado
do poder criador de um homem e que a admiração pela grandeza não é simplesmente
uma homenagem prestada mas também um pacto de união entre os que lhe são gratos.
Não há substituto para a personalidade, sobretudo quando essa personalidade não
é mecânica mas corporifica um elemento criador da cultura.
Assim como um célebre artista não pode ser substituído e nenhum outro
acerta concluir um quadro já quase pronto, o mesmo acontece com os grandes
poetas e pensadores, os grandes estadistas e os grandes generais. A sua
atividade não é formada mecanicamente, mas é um dom da graça de Deus.
As grandes revoluções, as grandes conquistas desta terra, suas grandes
produções culturais, as obras imorredouras no terreno da política etc., estão
sempre ligadas a um nome e serão por ele representadas. A falta de
reconhecimento do valor excepcional de um desses espíritos significa a perda de
uma força imensa.
Melhor do que ninguém sabe disso o judeu. Ele que só é grande na destruição
da humanidade e da sua cultura, tem a maior admiração pelos seus próprios
valores. No entretanto, o respeito dos povos pelos seus grandes espíritos ele
tenta apontar como coisa indigna e é considerado como "culto pessoal".
Quando um povo é bastante covarde para se deixar vencer por essa insolência
e descaramento dos judeus, renuncia à mais poderosa força que possui, pois essa
força não consiste no respeito às massas mas na veneração pelos gênios.
Nos primeiros dias do nosso movimento, a nossa maior fraqueza foi a
insignificância dos nossos nomes e a circunstância de sermos desconhecidos. Só
esse fato tornou problemático o nosso êxito.
O mais difícil, nesses primeiros tempos, em que apenas seis, sete ou oito
pessoas se reuniam para ouvir o discurso de um orador, era despertar, nesses
pequenos círculos, a confiança no grande futuro do movimento e em mantê-lo.
Pense-se em que seis ou sete homens, inteiramente desconhecidos, simples
pobres diabos, se reuniam com a intenção de criar um movimento destinado a
vencer de futuro, - o que até então tinha sido impossível aos grandes partidos e de reerguer a nação alemã ao seu mais alto poder e esplendor!
Se, naqueles tempos, nos tivessem prendido ou rido de nós, nós nos
sentiríamos felizes da mesma maneira, pois o que mais nos entristecia, naquele
momento, era o passarmos despercebidos. Era isso o que mais me fazia sofrer.
Quando me incorporei a essa meia dúzia de homens, não se podia falar ainda
nem em um partido nem em um movimento. Já descrevi as minhas impressões a
respeito do primeiro encontro com essa pequena organização.
Nas semanas que se sucederam a esse início tive oportunidade de pensar na
aparente impossibilidade desse novo partido. O quadro que se deparava aos meus
olhos era de entristecer. Não existia, nesse sentido, nada, absolutamente nada.
O público nada sabia a nosso respeito. Em Munique, não se conhecia o
partido nem de nome, afora a sua meia dúzia de adeptos e as poucas pessoas de
suas relações.
Todas as quartas-feiras se realizava, no München Café, uma reunião da
comissão e, uma vez por semana, havia conferência à noite. Como todos os membros
do "Movimento" estavam representados apenas pela comissão, as pessoas eram
naturalmente sempre as mesmas. Era, por isso, essencial que se alargasse o
pequeno circulo e se conseguissem novos adeptos, mas, antes de tudo, fazer com
que o nome do movimento se tornasse conhecido.
Servimo-nos da seguinte técnica:
Tentamos realizar um comício todos os meses, e, mais tarde, todas as
quinzenas. Os convites para os mesmos eram em parte datilografados e em parte
escritos a mão. Cada um se esforçava por conseguir, no circulo de suas relações,
visitas a essas sessões preparatórias.
O êxito era dos mais lamentáveis.
Lembro-me ainda como, naqueles primeiros tempos, depois de ter distribuído
o 80.° convite, esperava, à noite, a grande massa popular, que deveria assistir
a reunião Depois de adiar por uma hora a reunião, o presidente era obrigado a
iniciar a "sessão". Éramos de novo os sete, sempre os mesmos sete.
Passamos a copiar na máquina os convites em uma casa de utensílios de
escritório e tirávamos inúmeras cópias. O resultado foi obtermos maior auditório
na próxima reunião. O número subiu lentamente de onze para treze, finalmente
para dezessete, vinte e três, e vinte e quatro.
Pobres diabos, subscrevíamos pequenas importâncias entre os nossos
conhecidos, com o que conseguimos anunciar um comício no "Münchener Beobachter"
que era, então, independente. O sucesso dessa vez foi espantoso Tínhamos
aprazado a reunião para o Hofbräuh, auskeller. de Munique, pequena sala que
apenas poderia comportar cento e trinta pessoas. O espaço deu-me, pessoalmente,
a impressão de um vasto salão e cada um de nós estava ansioso por ver se
conseguiríamos, na hora marcada, encher este "vasto" edifício. As sete horas,
com a presença de cento e onze pessoas, começou o comício. Um professor de
Munique deveria fazer o primeiro discurso. Eu falaria em segundo lugar.
Falei trinta minutos e aquilo que, antes, sem o saber, havia sentido
intuitivamente, estava provado: eu sabia discursar. Depois de trinta minutos, o
auditório estava eletrizado e o entusiasmo foi tal que meu apelo a uma
contribuição dos presentes rendeu a soma de trezentos marcos. Isso nos libertou
de uma grande preocupação. A situação financeira era tão precária que não
tínhamos nem recursos para mandar imprimir as linhas gerais do programa ou mesmo
boletins. Afinal tínhamos conseguido uma base para fazer face às despesas mais
indispensáveis e mais urgentes.
Sob outro aspecto, o êxito dessa primeira grande reunião era muito
significativo.
Comecei a atrair um grande número de forças novas. Durante meus longos anos
de serviço militar, conheci muitos camaradas fiéis que começavam, aos poucos, a
entrar no movimento, em conseqüência de minha propaganda. Eram jovens de grande
eficiência, habituados à disciplina e educados, desde o tempo do serviço
militar, na convicção de que a quem quer nada é impossível.
De como era necessária uma tal afluência de sangue novo pude reconhecer
poucas semanas depois.
O então presidente do Partido, Herr Barrer, era, por profissão e por
treino, um jornalista. Como chefe do Partido, tinha, porém, uma grande fraqueza:
não era orador para as massas. Por mais consciencioso que fosse no seu trabalho,
talvez por falta daquela qualidade, faltava-lhe o poder de arrastar o povo. Herr
Drexler, outrora presidente do grupo local de Munique, era um simples operário,
não valia grande coisa como orador, e, sobretudo, não tinha qualidades de
soldado. Nunca servira na Guerra, de modo que, além de ser naturalmente fraco e
Indeciso, nunca tinha passado pela única escola que transforma, em verdadeiros
homens, espíritos fracos e indecisos. Nenhum deles possuía qualidades não só
para inspirar a fé entusiástica na vitória de uma causa como para, por uma
inabalável força de vontade, sem contemplações e pelos meios mais violentos,
vencer a resistência oposta à vitória de uma idéia nova. Para esse objetivo
servem apenas os homens que possuem aquelas virtudes físicas e intelectuais do
militar.
Naquele tempo, eu ainda era soldado. Minha aparência exterior, meu caráter,
se tinham formado de tal modo durante quase dois anos que, naquele meio, devia
sentir-me como um estranho. Tinha-me esquecido de expressões como estas: Isso
não pode ser; isso não se realizará; isso não se deve arriscar; isso é demasiado
perigoso, etc.
De fato, a coisa era perigosa. Em 1920, era impossível, em muitas regiões
da Alemanha, aventurar-se alguém a dirigir um apelo às massas populares para uma
assembléia nacionalista e convidá-las publicamente para uma visita. Os que
participavam dessas reuniões quebravam-se as cabeças mutuamente. As chamadas
grandes reuniões coletivas burguesas eram debandadas por uma dúzia de
comunistas, como aconteceria com lebres em face de cães.
Os comunistas não davam importância a esses clubes burgueses inofensivos,
que não ofereciam o menor perigo, e que eles conheciam melhor do que a seus
próprios adeptos. Estavam, porém, resolvidos a liquidar, por todos os meios ao
seu alcance, um movimento novo que lhes parecia perigoso. E o meio mais
eficiente, em tais casos, sempre foi o terror, o emprego da força. Mais do que
qualquer outro grupo, os marxistas, ludibriadores da nação, deveriam odiar um
movimento cujo escopo declarado era conquistar as massas que até então tinham
estado a serviço dos partidos marxistas dos judeus internacionais. Só o titulo
"Partido dos Trabalhadores Alemães" já era capaz de irritá-los. Assim não era
difícil prever que, na primeira oportunidade favorável, surgiria uma definição
de atitudes em relação aos agitadores marxistas ainda ébrios com a vitória.
No pequeno âmbito do movimento de outrora, ainda se sentia um certo receio
ante uma tal luta. Evitava-se, pelo menos, uma oportunidade pública, com medo de
ser-se batido. Via-se nisso uma mácula para a primeira grande reunião e que o
movimento assim seria sufocado no início. O meu modo de ver era diferente.
Pensava que não se devia evitar a luta, mas, ao contrário, ir a seu encontro e
tomar as únicas precauções garantidoras contra o emprego da força. Não se
combate o terror com armas intelectuais, mas com o próprio terror. O êxito da
primeira assembléia fortaleceu no meu espírito esse ponto de vista. Adquirimos
coragem para uma segunda, já de proporções mais vastas.
Mais ou menos em outubro de 1919, realizou-se, na Eberlbraukeller, a
segunda grande reunião. O tema foi Brest-Litowsky e Versalhes, os dois
tratados). Apresentaram-se quatro oradores. Eu falei quase uma hora e o êxito
foi maior do que da primeira reunião. O número de convites tinha subido a mais
de cento e trinta. Uma tentativa de perturbação foi abafada de início por meus
camaradas, os responsáveis pela perturbação fugiram de escadas abaixo, com as
cabeças machucadas. Quatorze dias depois realizou-se uma reunião maior, na mesma
sala. O número de ouvintes tinha ultrapassado cento e setenta - uma casa cheia.
Falei de novo e o sucesso foi ainda maior do que da outra vez.
Procurei conseguir uma sala maior. Por fim encontramos uma em condições, do
outro lado - da cidade, no Deutschen Reich, na Dachauer Strasse. A freqüência da
primeira reunião nessa sala foi menor do que a anterior, apenas cento e quarenta
pessoas.
As esperanças começaram a se arrefecer e os eternos céticos acreditavam que
a causa da pequena freqüência devia ser vista na repetição constante de nossas
afirmações. Havia fortes divergências, sendo que eu defendia o ponto de vista
segundo o qual uma cidade de setecentos mil habitantes deveria comportar não um
comício de quinzena em quinzena mas dez por semana, a fim de que, por força de
repetir, não houvesse engano sobre o caminho certo que se havia tomado e que
mais cedo ou mais tarde, com incrível constância, haveria de levar ao sucesso.
Durante todo o inverno de 1919 1920, nossa principal luta foi no sentido de
fortalecer a fé na força conquistadora do novo movimento e elevá-la às alturas
do fanatismo capaz de abalar as montanhas.
O próximo comício do Deutschen Reich de novo provou que eu tinha razão. O
auditório compunha-se de mais de duzentas pessoas e nosso sucesso foi brilhante,
tanto no que diz respeito ao público como sob o ponto de vista financeiro.
Tomei providências imediatas para mais vastas reuniões. Apenas quatorze
dias depois, realizava-se um novo comício e a multidão subia a mais de duzentos
e setenta indivíduos.
Nesse tempo, conseguimos dar organização interna ao movimento. Muitas
vezes, no pequeno círculo em que agíamos, havia divergências mais ou menos
fortes. De vários lados, como acontece ainda hoje, o novo movimento foi acusado
de ser um partido.
Em tal concepção, eu via sempre a prova de incapacidade prática e de
estreiteza de espírito. Trata-se de homens que não sabem distinguir a realidade
no meio das aparências e que procuram avaliar a importância de um movimento
pelas denominações pomposas.
Difícil era, então, fazer compreender ao povo que todo movimento, enquanto
não tiver atingido a vitória de suas idéias e a finalidade, é um Partido,
qualquer que seja a denominação que se lhe dê.
Quem quer que possua uma idéia ousada, cuja realização pareça útil ao
interesses de seu próximo e deseje transformá-la em realidade prática, o
primeiro passo a dar é conquistar adeptos que estejam dispostos a levar avante
os seus desígnios. Enquanto esses desígnios se limitarem a anular os partidos
existentes no momento, a ultimar a sua dissolução, os representantes das novas
idéias, os seus pregadores, formarão sempre um Partido, até que o objetivo seja
alcançado.
É puro jogo de palavras, mera dissimulação, a tentativa de qualquer teórico
popular, cujo êxito na prática está sempre em relação inversa à sua sabedoria,
de imaginar possível que um movimento ainda com o caráter de partido se
transforme apenas pela mudança de nome.
Quando se trata de um movimento impopular, sua propaganda é sempre feita
sobretudo com expressões alemães antigas que não só não são aplicadas hoje como
não traduzem pensamentos em forma precisa. E, além disso, podem concorrer para
que se aprecie a Importância de um movimento pelo vocabulário que emprega. Isso
é um desatino que se pode observar hoje, em um sem número de vezes.
O novo movimento devia e deve precaver-se contra a invasão, por parte de
homens, cuja única recomendação consiste, na maior parte das vezes, no fato de,
durante trinta ou quarenta anos, se terem batido pela mesma idéia. Quem, porém,
durante todo esse tempo, se bate por uma idéia, sem conseguir o menor êxito, sem
mesmo ter evitado as idéias contrárias, dá uma prova evidente da sua
incapacidade. O mais perigoso é que esses indivíduos não querem entrar no
movimento como quaisquer outros adeptos mas intrometem-se na direção do mesmo,
na qual pretendem posições de destaque, atendendo a sua atividade no passado. Ai
do novo movimento que lhes cai nas mãos! Nenhuma recomendação é para um homem de
negócios ter empregado, durante quarenta anos, a sua atividade em determinado
ramo, para, no fim desse prazo. arrastar a sua firma à falência. Ninguém nisso
veria credenciais para confiar-lhe a direção de outra firma. O mesmo acontece
com esses Matusaléns populares que. depois de, no mesmo prazo, haverem
fossilizado uma grande idéia, ainda pensam em dirigir um novo movimento.
Aliás, esses homens entram em um novo movimento, com o fim de servi-lo e de
ser útil à nova doutrina, mas, na maioria dos casos, o que pretendem é, sob a
proteção do mesmo ou pelas possibilidades que esse lhes oferece, fazer mais uma
vez a infelicidade geral, com as suas idéias próprias.
A sua característica principal é possuir-se de entusiasmo pelos antigos
heróis alemães, pelos tempos mais recuados, pela idade da pedra, por dardos e
escudos, mas, na realidade, não passam dos maiores covardes que se pode
imaginar. Essa mesma gente que tanto finge glorificar o heroísmo do passado,
prega a luta no presente com armas intelectuais e foge diante de qualquer
cassetete de borracha nas mãos dos comunistas. A posteridade terá poucos motivos
para dai retirar uma nova epopéia.
Aprendi a conhecer essa gente bem demais para não sentir o mais profundo
nojo ante suas miseráveis simulações. A sua atuação sobre as massas é irrisória.
O judeu tem toda razão para conservar com cuidado esses comediantes e para
preferi-los aos verdadeiros propugnadores por um novo Estado alemão. Esses
indivíduos, apesar de todas as provas da sua perfeita incapacidade, querem
entender tudo melhor do que os outros. Assim transformam-se em uma verdadeira
praga para os lutadores retos e honestos, cujo heroísmo não se manifesta só na
veneração do passado e que se esforçam por deixar à posteridade, através de seus
atos, um quadro de heroicidade igual ao dos antepassados.
Freqüentemente é difícil distinguir, no meio dessa gente, quem age por
estupidez ou incapacidade e quem obedece a determinados motivos.
Não foi sem razão que o novo movimento adotou um programa definido e não
empregou a palavra "popular". Devido ao seu caráter vago, esta expressão não
pode oferecer uma base segura para qualquer movimento nem um modelo para os que
ao mesmo de futuro aderirem.
É incrível o que hoje se compreende sob essa denominação. Um conhecido
professor da Baviera, um dos célebres lutadores com "armas espirituais",
concilia a expressão "popular" com o espírito monárquico. Esse sábio"
esqueceu-se de explicar a identidade existente entre a nossa velha monarquia e o
que hoje se entende por "popular". Acredito que isso lhe seria quase impossível,
pois dificilmente se pode imaginar coisa menos popular" do que a maior parte dos
Estados monárquicos da Alemanha. Se não fosse assim, esses Estados não teriam
desaparecido, ou o seu desaparecimento significaria que as opiniões do povo
estavam erradas.
Devido ao seu sentido vago, cada um entende a expressão "popular", a seu
jeito. Só esse fato a torna inviável para a base de um movimento político. Prova
disso é o ridículo que desperta.
Neste mundo, porém, quem não se dispuser a ser odiado pelos adversários não
me parece ter multo valor como amigo. Por isso, a simpatia desses indivíduos era
por nós considerada não só inútil mas prejudicial. Para irritá-los, adotamos, de
começo, a denominação de Partido para o nosso movimento, que tomou o nome de
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
É claro que teríamos de ser combatidos, não com armas eficientes mas pela
pena, única arma desses escrevinhadores. A nossa afirmação de que "nos
defendemos com a força contra quem nos combate com a força" era incompreensível
para eles.
Há uma classe de indivíduos contra os quais não é nunca demasiado chamar a
atenção dos nossos correligionários. Refiro-me aos que "trabalham no silêncio".
Não só são covardes como incapazes e indolentes. Quem quer que entenda do
assunto social e veja uma possibilidade de perigo, tem a obrigação, desde que
conheça o meio de evitar esse perigo, de agir publicamente contra o ma]
conhecido e trabalhar abertamente pela sua cura. Se não fizer Isso é um
miserável covarde, sem noção dos seus deveres. É assim que age a maior parte de
tais "trabalhadores silenciosos". Eles nada realizam e, no entanto, tentam
iludir o mundo inteiro com as suas obras; são preguiçosos e dão a impressão de,
com o seu "trabalho silencioso", desenvolverem uma atividade fora do comum. Em
resumo, eles são trapaceiros, aproveitadores políticos, que vêem com ódio a
atividade dos outros.
Qualquer agitador que tenha coragem para enfrentar seus opositores e
defender seus pontos de vista, com audácia e franqueza, tem mais eficiência que
mil desses hipócritas.
No começo do ano de 1920 eu insisti pelo primeiro grande comício. A
imprensa vermelha começava a se ocupar de nós. Considerávamo-nos felizes por
termos despertado o seu ódio. Tínhamos começado a freqüentar outras reuniões,
como críticos. Com isso conseguimos ser conhecidos e ver aumentados a aversão e
o ódio contra nós. Deveríamos, por isso, esperar que os nossos amigos vermelhos
nos fariam uma visita, ao nosso primeiro grande comício. Era muito possível que
fôssemos atacados de surpresa. Eu conhecia muito bem a mentalidade dos
marxistas. Uma forte reação da nossa parte não só produziria sobre eles uma
profunda impressão como serviria para ganhar adeptos. Deveríamos, pois, nos
decidir a essa reação!
Harrer, então presidente do Partido, não concordou com os meus pontos de
vista sobre a escolha do momento, e, como homem de honra, retirou-se da
liderança do movimento. O seu sucessor foi Anton Drexler. Eu tomei a mim a
organização da propaganda do movimento e resolvi levá-la a cabo sem
contemplações.
O dia 24 de fevereiro de 1920 foi a data fixada para o primeiro grande
comício do movimento, até então desconhecido. Eu, pessoalmente, encarreguei-me
de arranjar as coisas. Os preparativos eram os mais simples. O anúncio deveria
ser feito por cartazes e boletins orientados no sentido de produzir a mais forte
impressão sobre as massas.
A cor que escolhemos foi a vermelha, não só porque chama mais atenção como
porque, provavelmente, irritaria os nossos adversários e faria com que eles se
impressionassem conosco.
Só me dominava uma preocupação. Perguntava-me: a sala ficará repleta ou
teremos que falar em uma sala vazia? Tinha a certeza de que se tivéssemos
auditório, o sucesso seria completo.
As 7 horas e meia da noite começou o comício. As 7,15 eu entrei na sala da
Hotbrauhaus, de Munique. Senti uma alegria infinita. A enorme sala - como me
parecia então - estava à cunha. No auditório encontravam-se talvez umas duas mil
pessoas, justamente aquelas a que nos queríamos dirigir. Mais da metade dos
presentes era composta de comunistas e de independentes.
Quando o primeiro orador acabou de falar, eu pedi a palavra. Dentro de
poucos minutos começaram os apartes e verificaram-se cenas de violência dentro
da sala. Alguns fiéis camaradas da Guerra, depois de espancarem os perturbadores
da ordem, restabeleceram a tranqüilidade. Pude, então, prosseguir. Meia hora
depois, os aplausos abafavam os apartes dos adversários.
Comecei, então, a expor o programa, ponto por ponto. Depois que expliquei
as vinte e cinco teses do nosso movimento, senti que tinha diante de mim uma
massa popular conquistada às novas idéias, a uma nova crença e animada de uma
nova força de vontade.
A proporção que, depois de quase quatro horas de discussões, a sala começou
a esvaziar-se, senti que as bases do movimento estavam lançadas.
no coração do povo.
Estava ateado o fogo de um movimento que, com o auxílio da espada, haveria
de restaurar a liberdade e a vida da nação alemã.
Pensando no sucesso futuro, sentia que a deusa da vingança marchava contra
os traidores da Revolução de novembro!
O movimento seguia o seu curso.
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO I - DOUTRINA E PARTIDO
Deu-se em 24 de fevereiro de 1920 a primeira manifestação pública, em
massa, de nosso novo movimento. No salão de festas da Hofbräuhaus, de Munique,
perante uma multidão de quase duas mil pessoas, foram apresentadas e
jubilosamente aprovadas, ponto por ponto, as vinte e cinco teses do programa do
novo Partido.
Foram, nesse momento, lançadas as diretrizes e linhas principais de uma
luta cuja finalidade era varrer o monturo de idéias e pontos de vista gastos e
de objetivos perniciosos. No putrefato e acovardado mundo burguês. bem como no
cortejo triunfal 4a onda marxista em movimento, devia aparecer uma nova força
para deter, à última hora, o carro do destino.
É evidente que o novo movimento só poderia ter a devida importância, a
força necessária para essa luta gigantesca, se conseguisse despertar, no coração
de seus correligionários, desde os primeiros dias, a convicção religiosa de que,
para ele, a vida política deveria ser, não uma simples senha eleitoral, mas uma
nova concepção do mundo de significação doutrinária.
Deve-se ter em mente a maneira lastimável por que os pontos de vista dos
chamados "programas de partido" são ordinariamente consertados, alindados ou
remodelados de tempos a tempos. Devem ser examinados cuidadosamente os motivos
impulsores das "comissões de programa" burguesas para aquilatar-se devidamente o
valor de tais programas.
É sempre uma preocupação única, que leva a uma nova exposição de programas
ou à modificação dos já existentes: a preocupação com o êxito nas futuras
eleições. Logo que à cabeça desses artistas do Estado parlamentar acode a idéia
de que o povo pode revoltar-se e escapar dos arreios do carro partidário,
costumam eles pintar de novo os varais do veículo. Ei tão aparecem os astrônomos
e astrólogos do partido, os chamados "experientes" e "entendidos", na maioria
velhos parlamentares que, pelo seu largo "tirocínio", podem recordar-se de casos
análogos em que as massas perdiam toda a paciência e se tornavam ameaçadoras. E
recorrem, então, às velhas receitas, formam uma "comissão", apalpam o sentimento
popular, farejam a opinião da imprensa e sondam lentamente o que poderia desejar
o amado povo, o que lhe desagrada, o que ele almeja. Todos os grupos
profissionais, todas as classes de empregados são acuradamente estudados.
Pesquisam-se-lhes os mais íntimos desejos. Então, com espanto dos que os
descobriram e os divulgaram, costumam reaparecer subitamente, os mesmos
estribilhos da temível oposição, já agora inofensivos e como que fazendo parte
do patrimônio do velho partido.
Reúnem-se as comissões, que fazem a "revisão" do velho programa e elaboram
um novo no qual se dá o seu a seu dono. Esses senhores mudam de convicções como
o soldado no campo de batalha muda de camisa, isto é. quando a antiga está
imunda! Por esse novo programa, o camponês recebe proteção para a sua
propriedade, o industrial para as suas mercadorias, o consumidor para as suas
compras, aos professores elevam-se os vencimentos; aos funcionários melhora-se a
aposentadoria: das viúvas e órfãos cuidará o Estado com largueza; será
incentivado o comércio; as tarifas serão reduzidas e os impostos serão não
totalmente, mas quase abolidos. Por vezes sucede que uma classe fica esquecida
ou não é atendida uma reclamação popular. Nesse caso, acrescentam-se a toda
pressa remendos, que continuam a ser feitos, até que o rebanho dos burgueses
comuns e mais as suas esposas se tranqüilizem e fiquem, inteiramente
satisfeitos. Assim, de ânimo armado pela confiança no bom Deus e na inabalável
estupidez dos cidadãos eleitores, podem começar a luta pelo que chamam a
"reforma", do Estado.
Passa-se o dia da eleição. Os parlamentares fizeram a última assembléia
popular, que só se renovará cinco anos mais tarde; e, abandonando a domesticação
da plebe, entregam-se ao desempenho de suas altas e agradáveis funções.
Dissolve-se a comissão do programa" e a luta pela reforma das instituições
reveste de novo a modalidade da luta pelo querido pão. nosso de cada dia, pela
"dieta", como dizem os deputados. Todos os dias se dirigem os senhores
representantes do povo para a Câmara, se não para o interior da casa, ao menos
para a ante-sala onde se acham as listas de presença. ,Em fatigante serviço pelo
povo, eles registam lá os seus nomes e aceitam, como bem merecida recompensa,
uma pequena indenização pelos seus extenuantes esforços.
Quatro anos depois, ou antes, nas semanas críticas, quando começa a
aproximar-se a dissolução das corporações parlamentares, apodera-se deles um
impulso Irresistível. Como a larva não pode fazer outra coisa senão
transformar-se em crisálida, assim as lagartas parlamentares abandonam o casulo
comum e voam para o amado povo. Tornam a falar aos seus eleitores, contam o
enorme trabalho que fizeram e a malévola obstinação dos outros; mas as massas
ignaras, em vez de agradecido aplauso, lançam-lhes em rosto, por vezes,
expressões ásperas, cheias de ódio. Se essa ingratidão popular sobe até um certo
ponto, só um remédio pode servir: é preciso restaurar o esplendor do partido, o
programa necessita ser melhorado, renasce para a vida a "comissão" e recomeça-se
a burla. Dada a estupidez granítica dos homens do nosso tempo, não é de admirar
o êxito desse processo. Guiado pela sua imprensa e deslumbrado com o novo e
sedutor programa, o gado "burguês" e "proletário" torna a voltar ao estábulo e
de novo elege os seus velhos impostores.
Assim, o homem do povo, o candidato das classes produtoras, transforma-se
em lagarta parlamentar, que se ceva na vida do Estado, para, quatro anos depois,
de novo se transmudar em brilhante borboleta.
Nada mais deprimente que observar a nua realidade desse estado I de coisas,
que ter de ver repetir-se essa eterna impostura.
Certamente, dessa base espiritual do mundo burguês não é possível haurir
elementos para a luta contra a força organizada do marxismo.
E nisso não pensam nunca seriamente os senhores parlamentares. Devido à
reconhecida estreiteza e Inferioridade mental desses médicos parlamentares da
raça branca, eles próprios não conseguem imaginar seriamente como uma democracia
ocidental possa arrostar com uma doutrina para a qual a democracia e tudo que
lhe diz respeito é, no melhor dos casos, um meio para chegar a um determinado
fim; um meio que se emprega para anular a ação do adversário e facilitar a sua
própria. E se uma parte do marxismo, por vezes, tenta, com muita prudência,
aparentar indissolúvel união com os princípios democráticos, convém não
esquecer, que esses senhores, nas horas críticas, não deram a menor importância
a uma decisão por maioria, à maneira democrática ocidental! Isso foi quando os
parlamentares burgueses viam a segurança do Reich garantida pela monumental
parvoíce de uma grande maioria, enquanto o marxismo, com uma multidão de
vagabundos, desertores, pulhas partidários e literatos judeus, em pouco tempo,
arrebatava o poder para si, aplicando, assim, ruidosa bofetada à democracia. Por
isso, só ao espírito crédulo dos magros parlamentares da burguesia democrática
cabe supor que, agora ou no futuro, os interessados pela universal peste
marxística e seus defensores possam ser banidos com as fórmulas de exorcismo do
parlamentarismo ocidental.
O marxismo marchará com a democracia até que consiga, por via indireta, os
seus criminosos fins, até obter apoio do espírito nacional por ele condenado à
extirpação. Que ele se convencesse hoje de que o caldeirão de feiticeira, que é
a nossa democracia parlamentar, poderia repentinamente fermentar uma maioria que
- mesmo que fosse na base de sua legislação justificada pelo maior número enfrentasse seriamente o marxismo - e estaria extinta a ilusão parlamentar,
Então os porta-bandeiras da Internacional vermelha, em lugar de um apelo à
consciência democrática, dirigiram uma incendiária proclamação às massas
proletárias e a luta se transplantaria imediatamente do ar viciado das salas de
sessões dos nossos parlamentos para as fábricas e para as ruas. A democracia
ficaria logo liquidada; e o que não conseguiria a habilidade intelectual dos
apóstolos do povo, conseguiriam, com a rapidez do relâmpago, tal qual aconteceu
no outono de 1918, a alavanca e o malho das excitadas massas proletárias. Isso
ensinaria eloqüentemente ao mundo burguês quanto ele é insensato em imaginar
que, com os recursos da democracia ocidental, é possível resistir à conquista
judaica do mundo.
Como já dissemos, só um espírito crédulo pode aceitar regras de jogo com um
parceiro para o qual elas só vigoram para "bluff" ou quando lhe são úteis e que
as despreza logo que deixem de ser-lhe vantajosas.
Como em todos os partidos da chamada classe burguesa, toda luta política na
realidade consiste na disputa de cadeiras individuais no parlamento, luta em
que, de acordo com as conveniências, posições e princípios são atirados fora,
como lastros de areia, da mesma maneira que os seus programas são alterados em
todos os sentidos. E por essa bitola são avaliadas as suas forças. Falta-lhes
aquela forte atração magnética, que sempre seguem as massas, sob a impressão
incoercível dos altos, dominadores pontos de vista e da força convincente da fé
inabalável, dobrada pelo espírito combativo que a sustenta.
Mas, numa época em que uma parte, aparelhada com todas as armas de uma nova
doutrina, embora mil vozes criminosa, se prepara para o ataque a uma ordem
existente, a outra parte só pode resistir-lhe sempre se adotar fórmulas de uma
nova fé política; em nosso caso, se trocar a senha de uma defesa fraca e covarde
pelo grito de guerra de um ataque animoso e brutal, Por isso, se hoje os
chamados ministros nacionais-burgueses, até mesmo do centro bávaro, fazem a
espirituosa censura de que o nosso movimento trabalha por uma "revolução", só
uma resposta se pode dar a esses políticos liliputianos: Sim, tentamos recuperar
o que perdestes com a vossa criminosa estupidez. Com os princípios do vosso
avacalhado parlamentarismo, cooperastes para que a nação fosse arrastada ao
abismo; nós, porém, mesmo de forma agressiva, lançando uma nova concepção do
mundo e defendendo-lhe os princípios de maneira fanática e inexorável,
prepararemos os degraus pelos quais um dia o nosso povo poderá subir de novo ao
templo da liberdade.
Assim, ao tempo da fundação do novo movimento, os nossos primeiros cuidados
deveriam ser sempre no sentido de impedir que o exército dos nossos combatentes
por uma nova e elevada convicção se tornasse uma simples liga para a proteção de
interesses parlamentares.
A primeira medida preventiva foi a elaboração de um programa que conduzisse
convenientemente a um desenvolvimento que, pela sua grandeza Intima, fosse
apropriado a afugentar os espíritos pequeninos e fracos de nossa atual política
partidária.
Quanto era certo o nosso conceito da necessidade de um programa de pontos
de mira definidos, provou claramente o fatal enfraquecimento que levou a
Alemanha à ruína.
Desse conhecimento devem sair novas fórmulas do conceito de Estado, que
sejam parte essencial de uma nova concepção do mundo.
Já no primeiro volume desta obra analisei a palavra "popular" (volkisch),
pois constatei que esse termo parece pouco preciso para permitir a formação de
uma definida comunidade de combatentes. Tudo o que é possível imaginar, embora
sejam coisas completamente distintas, corre sob a capa de "popular". Por isso,
antes de passar à missão e objetivos do Partido Alemão Nacional Socialista dos
Trabalhadores, devo determinar o conceito de "popular" e suas relações com o
movimento partidário.
O conceito "popular" parece tão mal delimitado, tão mal explicado, e tão
Ilimitado no seu emprego quanto a palavra "religioso". Deveras difícil é
compreender-se por essa palavra alguma coisa exata, quer quanto à percepção do
pensamento, quer quanto à realização prática. O termo "religioso" só é fácil de
perceber no momento em que aparece ligado a uma forma determinada e delimitada
de realização. É uma bela e fácil explicação qualificar um homem de
"profundamente religioso". Haverá, decerto, algumas raras pessoas que se sintam
satisfeitas com uma tal denominação geral, porque tais pessoas podem perceber
uma imagem mais ou menos viva desse estado de espírito. Mas, para as grandes
massas, que não são constituídas nem de santos nem de filósofos, tal idéia geral
religiosa apenas significaria para eles, na maioria dos casos, a tradução de seu
modo individual de pensar e de agir, sem entretanto, conduzir àquela eficiência
que imediatamente desperta a intima ânsia religiosa pela formação, no ilimitado
mundo mental, de uma fé definida. De certo, não é esse o fim em si, mas apenas
um meio para o fim; todavia, é um meio absolutamente inevitável para que afinal
se possa alcançar o fim. E esse fim não é simplesmente ideal, mas, em última
análise, essencialmente prático. Como cada um de nós pode capacitar-se de que os
mais elevados ideais sempre correspondem a uma profunda necessidade da vida,
assim a sublimidade da beleza está, em derradeira instância, na sua utilidade
lógica.
A fé, auxiliando o homem a elevar-se acima do nível da vida vulgar,
contribui em verdade para a firmeza e segurança de sua existência. Tome-se à
humanidade contemporânea a sua educação apoiada nos princípios da fé e da
religião, na sua significação prática, quando à moral e aos costumes,
eliminando-a sem substitui-la por outra educação de igual valor, e ter-se-á em
conseqüência um grave abalo nos fundamentos da existência humana. E deve ter-se
em mente que não é só o homem que vive para servir os altos Ideais, mas que
também, ao contrário, esses altos Ideais pressupõem a existência do homem. E
assim se fecha o circulo.
A denominação "religioso" implica, naturalmente, pensamentos doutrinários
ou convicções, como, por exemplo, a indestrutibilidade da alma, a sua vida
Imortal, a existência de um ser supremo, etc. Mas todos esses pensamentos, ainda
que para o indivíduo sejam muito convincentes, sofrem o exame critico Individual
e com isso a hesitação que afirma ou nega, até que ele aceite, não a noção
sentimental ou o conhecimento, mas a legítima força da fé apodítica. Esse é o
principal fator da luta que abre brecha no reconhecimento das concepções
religiosas. Sem a clara delimitação da fé, a religiosidade, na sua obscura
polimorfia não só seria inútil para a vida humana, mas provavelmente
contribuiria para a confusão geral.
O mesmo que acontece com o conceito "religioso" se dá com o termo
"popular". Nele se subentendem também noções doutrinárias. Estas são, todavia,
bem que da mais alta significação pela forma, determinadas com tão pouca
clareza, que só tomam o valor de uma opinião a ser mais ou menos reconhecida
quando postas no quadro de um partido político. Porque a realização dos ideais
de uma concepção do mundo e das exigência. dela decorrentes resulta tão pouco do
sentimento puro e da vontade interior do homem, em si, como, porventura, a
conquista da liberdade do natural anseio por ela. Não, só quando o impulso ideal
para a independência sob a forma de força militar recebe organização combativa pode o ardente desejo de um povo converter-se em realidade.
Cada concepção do mundo, por mais justa e de mais alta utilidade que seja
para a humanidade, ficará sem significação para o aperfeiçoamento prático da
vida de uma população, enquanto não se tornem os seus princípios o estandarte de
um movimento de luta, que, por sua vez, se converte em um partido; enquanto não
tiver transformado as suas idéias em vitória e os seus dogmas partidários não
formarem as novas leis fundamentais do Estado.
Mas se uma representação mental de um modo geral deve servir de base a um
futuro desenvolvimento, nesse caso a primeira condição é a absoluta clareza do
caráter, natureza e amplitude dessa representação, pois só sobre esses alicerces
é possível organizar um movimento que, pela intrínseca homogeneidade de suas
convicções, possa desenvolver as necessárias forças para a luta. Um programa
político deve ser caracterizado por Idéias gerais e por uma definida fé política
em uma doutrina universal. Esta, visto que o seu objetivo deve ser praticamente
realizável, deverá servir não só à idéia em si, mas também tomar em consideração
os elementos de luta existentes e a serem empregados para a consecução da
vitória dessa Idéia. A uma idéia mentalmente correta que o autor do programa
tenha de anunciar, deve associar-se o conhecimento prático do homem político.
Assim, um eterno ideal deve contentar-se, infelizmente, com ser a estréia guia
da humanidade, tendo em consideração as fraquezas humanas, para não naufragar
desde o Inicio ante a geral deficiência do homem. Ao investigador da verdade
deve associar-se o investigador da psicologia popular, para, do reino do eterno
verdadeiro e do ideal, retirar o que é humanamente possível para os pobres
mortais.
A conversão da representação ideal de uma concepção do mundo da máxima
veracidade em uma fé política e em uma organização combativa definida e
centralizada, pelo espírito e pela vontade é o serviço mais Importante, pois do
feliz resultado desse trabalho dependem exclusivamente as possibilidades de
vitória de uma idéia. Preciso é, pois, que do exército, por vezes de milhões de
homens, dos quais cada um pressente ou mesmo compreende de modo mais ou menos
claro essa verdade, seria alguém que, com força apodítica, forme, das idéias
vacilantes das massas, princípios graníficos e empreenda o combate em defesa
deles, até que do jogo livre das ondas do mundo mental se erga o rochedo da
aliança da fé e da vontade.
Tentando extrair a significação profunda da palavra "popular", chegamos à
conclusão seguinte:
A nossa concepção política usual repousa geralmente sobre a idéia de que ao
Estado, em si, se pode atribuir força criadora e cultural, mas que ele nada tem
a ver com a questão racial; e que ele é, antes de mais nada, um produto das
necessidades econômicas ou, no melhor dos casos, a resultante natural da
competição política pelo poder. Essa concepção fundamental, em seu lógico e
conseqüente desenvolvimento progressivo, leva não só ao desconhecimento das
forças primordiais da raça como à desvalorização do indivíduo. Porque a negação
da diferença entre as raças, em relação à capacidade cultural de cada uma delas,
implica necessariamente em transferir esse grande erro para a apreciação do
indivíduo. A aceitação da identidade das raças viria a ser o fundamento de um
semelhante modo de ver em relação aos povos e depois em relação aos homens
individualmente. Por isso, o marxismo internacional é simplesmente a versão
aceita pelo judeu Karl Marx de idéias e conceitos já há muito tempo existentes
de fato sob a forma de aceitação de uma determinada fé política. Sem o alicerce
de uma semelhante intoxicação geral já existente, jamais teria sido possível o
espantoso êxito político dessa doutrina. Entre os milhões de indivíduos de um
mundo que lentamente se corrompia, Karl Marx foi, de fato, um que reconheceu,
com o olho seguro de um profeta, a verdadeira substância tóxica e a apanhou
para, como um feiticeiro, com ela aniquilar rapidamente a vida das nações livres
da terra. Tudo isso, porém, a serviço de sua raça.
A doutrina de Marx é assim o extrato espiritual concentrado das doutrinas
universais hoje geralmente aceitas. E, por esse motivo, qualquer luta do nosso
chamado mundo burguês contra ela é impossível, até ridícula, pois esse mundo
burguês está inteiramente impregnado dessas substancias venenosas e admira uma
concepção do mundo que, em geral, só se distingue da marxística em grau e
pessoas, o mundo burguês é marxístico, mas acredita na possibilidade do domínio
de determinado grupo de homens (burguesia), ao passo que o marxismo procura
calculadamente entregar o mundo às mãos dos judeus.
Em face disso, a concepção "racista" distingue a humanidade em seus
primitivos elementos raciais, Ela vê, no Estado, em princípio, apenas um meio
para um fim e concebe como fim a conservação da existência racial humana.
Consequentemente, não admite, em absoluto, a igualdade das raças, antes
reconhece na sua diferença maior ou menor valor e, assim entendendo, sente-se no
dever de, conforme à eterna vontade que governa este universo, promover a
vitória dos melhores, dos mais fortes e exigir a subordinação dos piores, dos
mais fracos. Admite, assim, em princípios, o pensamento aristocrático
fundamental da Natureza e acredita na validade dessa lei, em ordem descendente,
até o mais baixo dos seres. Vê não só os diferentes valores das raças, mas
também os diferentes valores dos indivíduos. Das massas destaca ela a
significação das pessoas, mas, nisso, em face do marxismo desorganizador, age de
maneira organizadora. Crê na necessidade de uma idealização da vida humana, pois
só nela vê a justificação da existência da humanidade. Não pode aprovar, porém,
a idéia ética do direito à existência, se essa idéia representa um perigo para a
vida racial dos portadores de uma ética superior pois, em um mundo de mestiços e
de negros, estariam para sempre perdidos todos os conceitos humanos do belo e do
sublime, todas as idéias de um futuro ideal da humanidade.
A cultura humana e a civilização nesta parte do mundo estão
inseparavelmente ligadas à existência dos arianos. A sua extinção ou decadência
faria recair sobre o globo o véu escuro de uma época de barbaria.
A destruição da existência da cultura humana pelo aniquilamento de seus
detentores é, porém, aos olhos de uma concepção racista do mundo, o mais
abominável dos crimes. Quem ousa pôr as mãos sobre a mais elevada semelhança de
Deus ofende a essa maravilha do Criador e coopera para a sua expulsão do
paraíso.
Assim corresponde a concepção racista do mundo ao intimo desejo da
Natureza, pois restitui o jogo livre das forças que encaminharão a uma mais alta
cultura humana, até que, enfim, conquistada a terra, uma melhor humanidade possa
livremente chegar a realizações em domínios que atualmente se acham fora e acima
dela.
Todos pressentimos que, em remoto futuro, surgirão ao homem problemas para
cuja solução deverá ser chamada uma raça superior, apoiada nos meios e
possibilidades de todo o- globo terrestre.
Está claro que a constatação geral de uma concepção racista de análogo
conteúdo pode dar lugar a milhares de interpretações. De fato, dificilmente
acharemos uma, para a nossa nova instituição política, que não se refira de
qualquer modo a essa concepção. Ela prova, todavia, exatamente pela sua própria
existência em face de muitas outras, a diferença de suas concepções.
Assim, à organização central da concepção marxística, opõe-se uma mixórdia
de conceitos que, idealmente, à vista da fechada "frente" inimiga, é pouco
impressionante. Não se ganha a vitória pelejando com armas fracas! Somente
opondo à concepção internacional - politicamente dirigida pelo marxismo - uma
concepção igualmente dotada de organização central e direção racista, será
possível, com igual energia combativa, alcançar o sucesso para a verdade eterna.
Mas a organização de uma concepção do mundo só pode efetuar-se
duradouramente sobre a base de uma fórmula definida e clara. Os princípios
políticos do partido em formação devem ser como os dogmas para a Religião.
Por isso, a concepção racista do mundo tem de tornar-se um instrumento que
permita ao Partido as devidas possibilidades de luta, tal como a organização
partidária marxista abre o caminho para o internacionalismo.
Esse fim visa o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Que uma tal compreensão partidária do conceito racista implica na vitória
da concepção racista, a melhor prova é dada, - ao menos indiretamente, pelos
próprios adversários de uma tal união partidária. Exatamente aqueles que não se
cansam de insistir que a concepção racista não é privilégio de um indivíduo, mas
que dormita ou vive sabe Deus no coração de quantos milhões de pessoas,
documentam, com isso, que o fato da existência de uma tal idéia de modo algum
impediria a vitória da concepção adversa, que, sem dúvida, terá a representação
clássica de um partido político. E se não fora assim, já o povo alemão teria
alcançado uma gigantesca vitória e não jazeria à beira de um abismo. O que deu
êxito à concepção internacional foi o fato de ser representada por um partido
político nos moldes de um batalhão de assalto: o que fez sucumbir a concepção
contrária foi a falta, até agora, de uma representação centralizada. Não é pela
faculdade de interpretar um conceito geral, mas sim, pela forma definida e por
isso mesmo concentrada de uma organização política que pode lutar e vencer uma
nova doutrina.
Por isso, compreendi que a minha própria missão era especialmente
selecionar, da vasta informe matéria de uma concepção do mundo, as idéias
nucleares e fundi-las em fórmulas mais ou menos dogmáticas, que, na sua clara
delimitação, servissem para unir e coordenar os homens que as aceitassem. Por
outras palavras: o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães
apropria-se das características essenciais do pensamento fundamental de uma
concepção geral racista do mundo; e, tomando em consideração a realidade
prática, o tempo, o material humano existente, com as suas fraquezas, forma uma
já política, a qual, por sua vez, dentro desse modo de entender a rígida
organização das grandes massas humanas, autoriza a prever a luta vitoriosa dessa
nova doutrina.
CAPÍTULO II - O ESTADO
Já nos anos de 1920 e 1921, nosso novo movimento era constantemente acusado
nos círculos burgueses, hoje fora da época, de manter uma atitude de reação
contra o Estado. Dai concluíam todos os partidos que lhes assistia o direito de
combaterem, por todos os meios possíveis, o inconveniente campeão de uma nova
doutrina. De propósito, esqueceram esses partidos que a própria burguesia já não
considera o Estado como um corpo homogêneo e que, do mesmo, não dava e nem pode
dar uma definição precisa. Ë verdade que há professores, nas nossas
universidades oficiais, que, nas suas conferências sobre direito público, tem
por tarefa encontrar uma explicação para a existência mais ou menos feliz do
Estado que lhes assegura o pão. Quanto pior um Estado é constituído tanto mais
confusa e incompreensível é a explicação da sua finalidade. Que poderia, por
exemplo, outrora, um professor da Universidade do império, escrever a respeito
do sentido e da finalidade do Estado em um país cujo Governo é a maior
monstruosidade do século XX? É realmente uma tarefa difícil, se pensarmos que,
no ensino do direito público, em nossos dias, há menos a preocupação de atender
à verdade do que alcançar um determinado objetivo. Esse objetivo consiste em
conservar, a todo preço, a monstruosidade que se designa pelo nome de Estado.
Ninguém se admire de que, na discussão desse problema, sejam postos à margem os
verdadeiros pontos de vista para, em seu lugar, pôr-se um amálgama de valores e
objetivos intelectuais e morais.
Entre esses indivíduos devem-se distinguir três grupos.
a) O grupo dos que vêem o Estado como uma reunião mais ou menos voluntária
de indivíduos sob a mesma administração oficial.
Esse grupo é o mais numeroso. Nas suas fileiras, encontram-se, sobretudo,
os fanáticos pelo princípio da legitimidade, para os quais, nesses assuntos, a
vontade dos homens não desempenha nenhum papel. Para esses, a simples existência
do Estado dá-lhes direito a uma inviolabilidade sagrada. Para defender essa
concepção idiota eles observam uma fidelidade de cão em relação à autoridade do
Estado. Assim, com a rapidez de um relâmpago, eles convertem um meio em uma
finalidade.
O Estado, para estes indivíduos, não existe para servir aos homens mas
estes são destinados a adorar a autoridade do Estado, que se personaliza em
qualquer empregado público. Para que esse Estado, objeto de uma verdadeira
adoração, não se perturbe, é que o governo toma a si a defesa da ordem e da
tranqüilidade. A autoridade, então, já não- é um fim nem um meio. O Estado tem
que cuidar da ordem e da tranqüilidade e, inversamente, essa ordem e
tranqüilidade deve facilitar a existência do Estado. A vida Toda tem que se
circunscrever entre esses dois pólos.
Na Baviera, eram principais representantes dessa teoria os políticos do
chamado Partido Popular Bávaro; na Áustria, eram os Legitimistas, no Império
alemão, eram os Conservadores que se batiam por essas idéias.
b) O segundo grupo é um pouco menor em número. Nesse grupo devem ser
computados os que não acreditam que a autoridade do Estado seja a única
finalidade do mesmo, mas condicionam-na a umas tantas exigências. Esses desejam
não somente um Governo único, mas também, se possível, uma língua única, quando
não por outras razões ao menos por motivos de técnica administrativa. A
autoridade já não é a única, a exclusiva finalidade do Estado. Este tem que
cuidar também do bem-estar do povo. Idéias de "liberdade", geralmente mal
compreendidas, insinuam-se na compreensão do Estado, por parte desse grupo. A
forma de governo já não é considerada intangível só por sua .existência em si.
Discute-se também a sua conveniência. O caráter sagrado da idade não a abriga
contra as críticas do presente. Os principais representantes dessas idéias
encontram se entre os burgueses, sobretudo entre os liberais-democratas.
c) O terceiro grupo é o mais fraco em número. Vê no Estado um instrumento
para realizar tendências vagas no sentido de uma política de força, por uma
nação unificada e falando a mesma língua.
A aspiração de uma língua única não se manifesta somente na esperança de se
criar um fundamento capaz de produzir um aumento de prestígio da nação no
exterior, mas, não menos, na falsíssima opinião de que, por esse meio, se
conseguirá uma orientação definida na obra de nacionalização. Era uma tristeza
ver-se, durante os últimos cem anos, como indivíduos tendo essas idéias na maior
parte dos casos de boa fé - jogavam com a palavra "germanizar". Lembro-me como,
na minha juventude, esse vocábulo dava margem a concepções absolutamente falsas.
Mesmo nos círculos pan-germanistas, ouvia-se a opinião de que, com auxílio do
Governo, poder-se-ia realizar com sucesso a germanização da Áustria eslava, sem
que ninguém se apercebesse que só se pode germanizar um território e nunca um
povo. O que se compreendia pela palavra germanização resumia-se na adoção
forçada da língua. É quase incrível que alguém pense ser possível transformar um
negro ou um chinês em alemão somente por ter o mesmo aprendido a língua alemã e
esteja disposto a falá-la por toda a vida e a votar em qualquer dos partidos
políticos alemães. Os meios nacionalistas burgueses nunca se elevaram à
compreensão de que semelhante processo de germanização redundaria em uma
desgermanização. Quando, hoje, pela imposição de uma língua comum, se diminuem
ou mesmo se suprimem as diferenças mais sensíveis entre os povos, isso
representa um começo de abastardamento da raça e, no nosso caso, não uma
germanização mas a destruição dos elementos germânicos. Acontece muito
freqüentemente na História que um povo conquistador consiga impor a sua língua
aos vencidos, e que, depois de milhares de anos, essa língua venha a ser falada
pois outro povo e que assim o vencedor passe à posição de vencido.
Desde que a nacionalidade, ou, melhor, a raça, não está na língua que se
fala, mas no sangue, só se deveria falar em germanização se, por um tal
processo, se pudesse modificar o sangue dos indivíduos. Isso é absolutamente
impossível. Essa modificação teria que ser feita pela mistura do sangue, o que
resultaria no rebaixamento do nível da raça superior. A conseqüência final seria
a destruição justamente das qualidades que tinham preparado o povo conquistador
para a vitória. Por uma tal mistura com raças inferiores, sobretudo as forças
culturais desapareceriam mesmo que o produto daí resultante falasse
perfeitamente a língua da raça superior. Durante muito tempo, travar-se-á uma
luta entre os dois espíritos e pode ser que o povo que desce cada vez mais de
nível consiga, por um esforço supremo, elevar-se e criar uma cultura de
surpreendente valor. Isso pode acontecer com os indivíduos das raças mais
elevadas ou com os bastardos, nos quais, no primeiro cruzamento, ainda prevalece
o melhor sangue: nunca se verificará, porém, esse fato com os produtos
definitivos da mistura. Nesses verificar-se-á sempre um movimento de regressão
cultural.
Deve-se considerar uma felicidade que a germanização da Áustria, nos moldes
da empreendida por Francisco José, não fosse continuada. O sucesso da mesma
ter-se-ia traduzido na conservação do Estado austríaco, mas em um rebaixamento
do nível da raça alemã. Talvez daí surgisse um novo Estado, mas uma cultura
ter-se-ia perdido. Com o correr dos séculos, ler-se-ia organizado um rebanho,
mas esse rebanho seria de valor muito medíocre. Dai poderia talvez surgir um
povo organizado em Estado, mas com isso teria desaparecido uma civilização.
Foi muito melhor para a nação alemã que se não tivesse realizado essa
mistura, aliás evitada não por motivos elevados mas devido à curteza de vistas
dos Habsburgos. Se o contrário tivesse acontecido, hoje mal se poderia apontar o
povo alemão como um fator de cultura.
Não só na Áustria como na própria Alemanha, os chamados nacionalistas eram
e ainda são inclinados a essas idéias falsas. A tão desejada política polonesa,
no sentido de uma germanização do oeste, apoiava-se quase sempre em idênticos
sofismas. Acreditava-se poder conseguir a germanização dos elementos poloneses
apenas pela adoção da língua. O resultado dessa tentativa só poderia ser
funesto. Um povo de raça estrangeira exprimindo os seus pensamentos próprios em
língua alemã só poderia, por sua mediocridade, comprometer a majestade do
espírito alemão.
Os grandes prejuízos que, indiretamente, já sofreu o espírito alemão, podem
ser constatados no fato de os americanos, por falta de conhecimentos,
confundirem o dialeto judaico com o alemão. A ninguém passará pela idéia que
essa piolheira judaica que, no oriente, fala alemão, só por isso deve ser vista
como de descendência alemã, como pertencente ao povo alemão.
A história mostra que foi a germanização da terra, que os nossos
antepassados promoveram pela espada, a que nos trouxe proveitos, pois essa terra
conquistada era colonizada com agricultores alemães, sempre que o sangue
estrangeiro foi introduzido no corpo da nação, os seus desastrados eleitos se
fizeram sentir sobre o caráter do povo, dando lugar ao super-individualismo,
infelizmente ainda hoje muito apreciado.
Nesse terceiro grupo a que aludimos acima, o Estado é visto, de certa
maneira, como um fim, sendo a sua conservação a mais alta missão da vida dos
indivíduos.
Em resumo, pode-se afirmar que todos esses pontos de vista não têm as suas
raízes mais profundas na convicção de que as forças culturais e criadoras de um
povo repousam nos elementos raciais e que o Estado deve ter como seu mais alto
objetivo a conservação e aperfeiçoamento da raça, base de todos os progressos
culturais da humanidade.
As últimas conseqüências dessa concepção falsa sobre a existência e a
finalidade do Estado foram tiradas pelo judeu Karl Marx. Enquanto o mundo
burguês abandonava o conceito do Estado, tendo por base os deveres para com a
raça, e não conseguia substituir essa concepção por outra fórmula- que pudesse
ser aceita, uma outra doutrina que chegava a negar o próprio Estado abria
caminho no mundo moderno.
Nesse campo, a luta do mundo burguês contra o internacionalismo marxístico
deveria ser um fracasso completo. A burguesia já tinha, há - muito tempo,
sacrificado os fundamentos absolutamente indispensáveis para a defesa de suas
idéias. Seus espertos adversários, reconhecendo a fraqueza das instituições do
inimigo, lançaram-se na luta com as próprias armas que este, embora
involuntariamente, lhes fornecera.
Por tudo isso, o primeiro dever de um novo movimento que repousa sobre o
fundamento da raça, é dar uma forma clara, bem definida, da concepção sobre a
existência e a finalidade do Estado.
O grande princípio que nunca deveremos perder de vista é que o Estado é um
meio e não um fim. É a base sobre que deve repousar uma mais elevada cultura
humana, mas não e a causa da mesma. Essa cultura depende da existência de uma
raça superior, de capacidade civilizadora. Poderia haver centenas de Estados
modelos no mundo e isso não impediria que, com o desaparecimento dos arianos,
formadores de cultura, desaparecesse a civilização no nível em que se encontra
atualmente nas nações mais adiantadas.
Podemos avançar mais um pouco e proclamar que o fato dos indivíduos se
organizarem em Estados, de nenhum modo afastaria a possibilidade do
desaparecimento da raça humana, desde que uma capacidade intelectual superior e
um grande poder de adaptação se perdessem por falta de uma raça para
conservá-las.
Se, por exemplo, a superfície da terra fosse inundada por um dilúvio, e, do
meio das vagas do oceano, surgisse um novo Himalaia, nessa terrível catástrofe
desapareceria a cultura humana. Nenhum Estado persistiria, os bandos se
dissolveriam, seriam destruídos os atestados de uma evolução de milhares de anos
e restaria de tudo apenas um vasto cemitério coberto de água e de lama. Mas, se
desse horrível caos, se conservassem alguns homens pertencentes a uma certa raça
de capacidade criadora, de novo, embora isso durasse milhares de anos, no mundo,
depois de cessada a tempestade, se notariam sinais da existência do poder
criador da humanidade. Só o desaparecimento das últimas raças capazes
transformaria a terra em um vasto deserto. O contrário disso vemos em exemplos
do presente. Estados têm existido que por não possuírem, devido a suas origens
raciais, a genialidade indispensável, não puderam evitar a sua ruína. O que
aconteceu com certas espécies animais dos tempos pré-históricos, que cederam
lugar a outras e, por fim, desapareceram completamente, acontece com os povos,
quando lhes falta a força espiritual, única arma capaz de assegurar sua própria
conservação!
O Estado em si não cria um determinado standard de cultura, pode apenas
conservar a raça de que depende essa civilização. Em outra hipótese, o Estado
poderá durar centenas de anos, mas se não tiver evitado a mistura de raças, a
capacidade cultural e todas as manifestações da vida a ela condicionadas
sofrerão profundas modificações.
O Estado de hoje, por exemplo, pode, como mecanismo, ainda por muito tempo
aparentar vida, mas o envenenamento da raça criará fatalmente um rebaixamento
cultural que, aliás, já se nota hoje em proporções assustadoras.
Assim sendo, a condição essencial para a formação de uma humanidade
superior não é o Estado mas a raça.
Nações ou, melhor, raças, possuidoras de gênio criador trazem sempre essas
virtudes consigo, embora, muitas vezes, em estado latente, mesmo quando
circunstâncias exteriores, desfavoráveis em dado momento, não permitam o seu
desenvolvimento. É um ultraje, por exemplo, imaginar que os povos alemães de
antes da era cristã eram bárbaros. Bárbaros nunca foram eles. O clima áspero dos
países do Norte forçou-os a viver sob condições que não lhes permitiram
desenvolver suas qualidades criadoras.
Se o mundo clássico nunca tivesse existido, se os alemães tivessem descido
para os países do sul, de clima mais favorável, e ali tivessem contado com os
primeiros auxílios da técnica, empregando a seu serviço raças que lhe eram
Inferiores, então a capacidade criadora latente teria produzido uma civilização
tão brilhante como a dos Helenos.
Mas esta força criadora de cultura nem sempre se encontra nos climas do
Norte. O Lapônio, transportado para o sul, produziria tão pouco, sob o ponto de
vista cultural, como o esquimó. Essa capacidade dominadora e criadora é
característica do ariano, que a possui em estado latente ou em toda sua
eficiência, tudo dependendo das condições do meio que ou permitem a sua expansão
ou a impedem.
Daí resultam os seguintes princípios:
O Estado é um meio para um fim. Sua finalidade consiste na conservação e no
progresso de uma coletividade sob o ponto de vista físico e espiritual. Essa
conservação abraça em primeiro lugar tudo o que diz respeito à defesa da raça,
permitindo, por esse meio, a expansão de todas as forças latentes da mesma. Pela
utilização dessas forças, promover-se-á a defesa da vida física e, por outro lado, o desenvolvimento intelectual. Na realidade, os dois estão sempre em
função um do outro. Estados que não atendem a esse objetivo são criações
artificiais, simples mostrengos. O fato de semelhante Estado existir em nada
altera essa verdade, assim como o êxito de uma associação de piratas não
justifica o saque.
Nós, nacionais-socialistas, como defensores de uma nova concepção do mundo,
não devemos nunca nos colocar no ponto de vista falso das chamadas "realidades".
Se assim acontecesse não seríamos os fatores de uma grande idéia mas escravos
das mentiras em voga. Temos que estabelecer bem claramente a diferença entre o
Estado como continente e a raça como conteúdo. Esse continente só tem sentido se
puder manter e proteger o conteúdo. Na hipótese contrária, torna-se inútil.
Assim, a finalidade principal de um Estado nacionalista é a conservação dos
primitivos elementos raciais que, por seu poder de disseminar a cultura, criam a
beleza e a dignidade de uma humanidade mais elevada. Nós, como arianos, i.
'vendo sob um determinado Governo, podemos apenas imaginá-lo como um organismo
vivo da nossa raça que não só assegurará a conservação dessa raça, mas a
colocará em situação de, por suas possibilidades intelectuais, atingir uma mais
alta liberdade.
O que hoje se tenta apresentar-nos como um tipo de Estado é apenas o
produto de um grande erro de que resultarão as conseqüências mais deploráveis.
Nós, nacionais-socialistas, sabemos muito bem que o mundo atual nos
contempla como revolucionários devido às nossas Idéias e, com esse
qualificativo, pretende estigmatizar-nos. Os nossos pensamentos e ações não se
devem, porém, deixar influenciar pela aprovação ou condenação dos
contemporâneos, mas, ao contrário, devemos nos manter cada vez mais firmes na
defesa das verdades que reconhecemos. Poderemos assim ficar certos de que uma
mais clara visão da posteridade não só compreenderá a nossa atuação de hoje,
como aceitá-la-á como justa e dar-lhe-á o devido apreço.
Por esse critério é que devemos, nós, nacionais-socialistas, medir o valor
de um Estado Esse valor será relativo quanto a um determinado povo e absoluto no
que diz respeito à humanidade em si. Em outras palavras:
O valor de um Estado não pode ser apreciado pela sua elevação cultural ou
pelo seu poder em comparação com outros povos, mas, em última análise, pela
justeza de sua orientação em relação à posteridade.
Um Estado pode ser apontado como modelar quando não somente corresponde às
condições da vida do povo que representa mas também assegura a existência
material desse povo, qualquer que seja a importância cultural que as
instituições atinjam no resto do mundo.
A missão do Estado não é criar capacidades mas tornar possível a expansão
das forças existentes.
Por outro lado, pode-se apontar como um Estado mal organizado aquele em
que, qualquer que seja a elevação de sua cultura, consente na ruína, sob o ponto
de vista racial, dos portadores dessa cultura. Pois assim se eliminaria
praticamente a condição indispensável para a continuação dessa civilização que,
aliás, não foi criada por ele mas é o fruto de um espírito nacional criador
garantido por uma organização estatal conveniente. O Estado não é um conteúdo
mas uma forma.
A elevação da cultura de um povo, qualquer que ela seja, não dá a medida
por que se deve apreciar o valor de um Estado.
É evidente que um povo altamente civilizado dá de si uma impressão mais
elevada do que um povo de negros. Não obstante isso, a organização estatal do
primeiro, observada quanto à maneira por que realiza a sua finalidade, pode ser
pior que a dos negros. Assim como a melhor forma de governo não pode produzir,
em um povo, capacidades que não existiam antes, assim um Estado mal organizado
pode, promovendo a ruína dos indivíduos de uma determinada raça, fazer
desaparecerem as qualidades criadoras que possuíam na origem.
Conclui-se daí que o julgamento da boa ou má organização de um Estado só
poderá ser feito pela relativa utilidade que oferece a um determinado povo e
nunca pela importância que atinge em face do mundo.
Esse julgamento relativo pode ser fácil e acertadamente feito. O juízo,
porém, sobre o valor absoluto é muito difícil, pois não depende somente da
organização estatal, mas principalmente das qualidades de determinado povo.
Quando se fala de uma mais elevada missão do Estado, não se deve nunca
esquecer que a maior finalidade reside no povo e que o dever do Governo é tornar
possível, com a sua organização, a livre expansão das forças existentes.
Quando, porém, nos perguntamos qual o Estado que precisamos instituir para
nós, devemos primeiro esclarecer que espécie de homens se há. de propor produzir
e qual o objetivo que está destinado a servir. Infelizmente, o âmago da
nacionalidade alemã já não é mais homogêneo, sob o ponto de vista racial. o
processo de fusão dos elementos originais não tinha ainda ido tão longe que já
se pudesse afirmar que uma nova raça tinha surgido dessa fusão. Ao contrário, o
envenenamento racial de que o nosso país se vem ressentindo, desde a guerra dos
Trinta Anos, não só perturbou a pureza do sangue como da própria alma do povo.
As fronteiras abertas da Pátria, a vizinhança de elementos não germânicos
nas fronteiras, e, sobretudo, a corrente contínua de sangue estrangeiro no
interior do Império, não dão tempo a uma fusão absoluta, desde que a invasão
continua sem interrupção.
Não se formará uma nova raça, mas as diferentes raças continuarão a viver
umas ao lado das outras. A conseqüência disso é que, nos momentos críticos,
justamente quando os rebanhos se costumam unir, os alemães se debandam em todas
as direções.
Não é só nos seus respectivos territórios que os elementos raciais se
comportam diferentemente o mesmo acontece com os indivíduos de raças diferentes,
dentro das mesmas fronteiras. Coloquem-se homens do norte ao lado de homens de
leste, ao lado de homens de leste homens do oeste e o resultado será a mistura.
Por um lado, isso é de grandes vantagens.
Falta aos alemães o espírito gregário que sempre se verifica quando todos
são do mesmo sangue e que protege as nações contra a ruma, sobretudo nos
momentos de perigo, em que todas as pequenas diferenças desaparecem e o povo,
como um só rebanho, enfrenta o inimigo comum.
Na existência de elementos raciais diferentes, que se não fundiram, está o
fundamento do que designamos pela palavra super-individualismo.
Nos tempos de paz, esse super-individualismo poderia ser útil, mas, bem
examinadas as coisas, foi o que nos arrastou a sermos dominados pelo mundo.
Se o povo alemão, na sua evolução histórica, possuísse aquela inabalável
unidade, que foi de tanta utilidade a outros povos, seria hoje o senhor do globo
terrestre. A história do mundo teria tomado outro curso. Não veríamos esses
cegos pacifistas mendigarem a paz através de queixas e lamentações, pois a paz
do mundo não se mantém com as lágrimas de carpideiras pacifistas, mas pela
espada vitoriosa de um povo dominador que põe o mundo a serviço de uma alta
cultura.
O fato da não existência de uma perfeita unidade racial causou-nos grandes
males. Isso deu lugar ao surto de um pequeno número de potentados alemães, mas
retirou à Alemanha o direito à dominação, Ainda hoje, o nosso povo sofre as
conseqüências dessa desunião. O que, no passado e no presente, causou a nossa
infelicidade, pode ser, porém, a nossa salvação no futuro. Por mais prejudicial
que, por um lado, tenha sido a falta de fusão dos diferentes elementos raciais,
o que impediu a formação da perfeita unidade nacional, é incontestável que, por
outro, com isso se conseguiu que, pelo menos uma parte do povo, de melhor
sangue, se conservasse na sua pureza, evitando-se assim a ruína da raças.
Certamente, uma completa fusão dos primitivos elementos raciais originaria
uma unidade mais perfeita, mas, como se verifica em todos os cruzamentos, a
capacidade criadora seria menor do que a possuída pelos elementos primitivos
superiores. Foi uma felicidade que não se tenha dado a fusão completa, pois, por
isso, ainda possuímos representantes do puro sangue germânico do Norte, em que
vemos o mais precioso tesouro para o nosso futuro. Nos dias sombrios de hoje, em
que é completa a ignorância sobre as leis raciais, em que todos os homens são
tidos como iguais, não se tem uma idéia clara dos diferentes valores dos
elementos raciais primitivos. Sabemos hoje que uma mistura completa dos diversos
componentes do nos. w organismo racial poderia, em conseqüência de uma maior
unificação, ter-nos proporcionado maior poder exterior, mas o maior objetivo da
humanidade não poderia ser atingido, uma vez que os indivíduos apontados pela
Providência a realizá-lo tinham desaparecido na mistura geral.
O que a sorte evitou, sem o querermos, devemos experimentar e utilizar à
luz dos conhecimentos adquiridos de então para cá.
Quem falar de uma missão do povo alemão neste mundo, deve saber que essa
missão só pode consistir na formação de um Estado que vê, como sua maior
finalidade, a conservação e o progresso dos elementos raciais que se mantiveram
puros no seio do nosso povo, na humanidade inteira.
Com essa missão, o Estado, pela primeira vez, assume a sua verdadeira
finalidade. Em vez do palavreado irrisório sobre a segurança da paz e da ordem,
por meios pacíficos, a missão da conservação e do progresso de uma raça superior
escolhida por Deus é que deve ser vista como a mais elevada.
Em lugar de uma máquina que só se esforça por viver, deve ser criado um
organismo vivo com o objetivo único de servir a uma nova idéia.
O Estado alemão deve reunir todos os alemães com a finalidade não só de
selecionar os melhores elementos raciais e conservá-los mas também de elevá-los,
lenta mas firmemente, a uma posição de domínio.
Nesse período de luta, deve-se entrar com a mais firme resolução. Como
sempre acontece em tudo neste mundo, aqui mais uma vez se verifica a verdade
deste provérbio - máquina que não trabalha se enferruja e também que a vitória
está sempre no ataque. Quanto maior for o objetivo que tivermos diante de nós,
quanto menor for a compreensão das massas no momento, tanto mais prodigioso será
- de acordo com as lições da história - o êxito, desde que o alvo seja bem
compreendido e a luta dirigida com firmeza inabalável.
É muito natural que a maior parte dos empregados que hoje controlam o
Estado se sintam mais a cômodo trabalhando para conservar o statu quo atual do
que lutando por uma nova ordem de coisas. Eles sentirão que é mais fácil
considerar o Estado como uma máquina que existe somente para garantir-lhes a
subsistência, uma vez que as suas vidas, como eles costumam dizer, pertencem ao
Estado.
Como dissemos acima, é mais fácil ver na autoridade do Estado apenas um
mecanismo do que encará-la como a corporificação da força de conservação de um
povo na terra.
No primeiro caso, para esses espíritos fracos, o Estado é uma finalidade em
si; no segundo, é a arma poderosa a serviço da eterna luta pela existência, arma
que não é mecânica, mas a expressão de uma vontade geral em favor da conservação
da vida. Na luta pelas novas idéias - que estão em harmonia com o sentido
original das coisas - encontraremos poucos combatentes no seio de uma sociedade
de homens envelhecidos, não só de corpo como de espirito também, o que é ainda
mais lamentável.
Só virão para as nossas fileiras os indivíduos excepcionais, Isto é, os
velhos de coração e de espírito moços. Nunca se incorporarão às nossas hostes
aqueles que pensam ser a finalidade única da vida manter inalterável a situação
atual.
Contra nós se arregimentara um exército composto menos dos indivíduos maus
do que dos indiferentes, preguiçosos mentais, e dos interessados na conservação
do atual estado de coisas. O grito de guerra que, logo de início, afugenta os
fracos, é o toque de reunir das naturezas dotadas de espírito combativo.
Devemos ter sempre presente no espírito que quando uma certa soma de grande
energia e eficiência de um povo é concentrada em um determino4o fim e segregada
definitivamente, da inércia das grandes massas, essa pequena minoria está
destinada a dominar o resto. A história do mundo é feita pelas minorias, desde
que elas tenham incorporado a maior parte do poder de vontade e de determinação
do povo.
Isso que, a muitos, parece uma desvantagem, é, na realidade, a condição
indispensável para a nossa vitória. Na grandeza e na dificuldade da nossa
tarefa, está a possibilidade de que só os melhores Lutadores formarão conosco.
Nessa seleção está a garantia do sucesso.
A própria natureza consegue fazer certas correções nos seres vivos, no que
diz respeito à pureza da raça. Ela tem muito pouca inclinação pelos bastardos.
Os primeiros produtos desse cruzamento são os que mais sofrem, quando não na
primeira, na terceira, quarta ou quinta geração. Perdem as qualidades da raça
superior, e, pela falta de unidade racial, perdem também a constância na força
de vontade e de decisão. Em todos os momentos críticos em que as raças puras
tomam resoluções certas e firmes, o bastardo ficará indeciso, tomará meias
medidas. Isso não se traduz somente na inferioridade da mistura em relação à
pureza mas, na prática, na possibilidade de uma mais rápida ruína. Em um
sem-número de casos, em que a raça pura resiste, os bastardos se deixam vencer.
Nisso se deve ver uma das maneiras de correção da natureza. Ela vai mais
adiante, quando restringe a possibilidade de procriação. Com isso proíbe a
fecundidade de novos cruzamentos e arrasta-os ao extermínio.
Se, por exemplo, em uma determinada raça, um indivíduo cruza com outro de
raça inferior, o resultado imediato é a baixa do nível racial e, depois, o
enfraquecimento dos descendentes, em comparação com os representantes da raça
pura. Proibindo-se absolutamente novos cruzamentos com a raça superior, os
bastardos, cruzando-se entre si, ou desapareceriam, dada a sua pouca
resistência, ou, com o correr dos tempos, através de misturas constantes,
criariam um tipo em que não mais se reconheceria nenhuma das qualidades da raça
pura.
Assim se formaria uma nova raça com uma certa capacidade de resistência
passiva, mas muito diminuída na importância da sua cultura em relação à raça
superior do primeiro cruzamento. Nesse último caso, na luta pela existência, o
bastardo será sempre vencido, enquanto existir, como adversário, o representante
de uma raça pura.
No correr dos tempos, todos esses novos organismos raciais, em conseqüência
do rebaixamento do nível da raça e da diminuição da elasticidade espiritual, daí
decorrente, não poderiam sair vitoriosos em uma luta com uma raça pura, mesmo
intelectualmente atrasada.
Pode-se, pois, estabelecer o seguinte princípio:
Toda mistura de raça tende, mais cedo ou mais tarde, a provocar a
decadência do produto híbrido, enquanto a raça superior do cruzamento se
mantiver em sua pureza. Só quando os últimos representantes da raça superior se
tornam bastardos é que para os produtos híbridos cessa o perigo de
desaparecimento.
Inicia-se, então, um processo natural, mas lento, de regeneração, que
gradualmente eliminará o veneno racial, desde que ainda exista um es toque de
elementos puros e que se tenha impedido a mistura.
A essa situação podem chegar mesmo indivíduos com o mais forte instinto
racial e que, por força de certas situações ou por influência de coação, foram
obrigados a abandonar os processos normais de multiplicação! Logo, porém, que
essa situação excepcional deixa de exercer sua influência, a parte pura da raça
procurará unir-se aos seus semelhantes, opondo um dique ao abastardamento. Os
produtos bastardos entram por si mesmos para um segundo Plano a menos que, pelo
número considerável por eles já atingido, a resistência dos elementos raciais
puros se tivesse tornado impossível.
O homem que, uma vez, perdeu os seus instintos e se nega ao cumprimento dos
deveres que a natureza lhe impõe, não deve, em regra, nada esperar de um
corretivo da natureza, desde que não tenha compensado com um conhecimento
visível a perda desse instinto. Há, nesse caso, sempre o perigo de que o
indivíduo, completamente cego, cada vez mais destrua as fronteiras entre as
raças até perder de todo as melhores qualidades da raça superior. Resultará de
tudo isso uma massa informe que os famosos reformadores de nossos dias vêem como
um ideal. Em pouco tempo, desapareceria do mundo o idealismo. Poder-se-ia com
isso formar um grande rebanho de indivíduos passivos, mas nunca de homens
portadores e criadores de cultura. A missão da humanidade deveria, então, ser
vista como terminada.
Quem não quiser que a humanidade marche para essa situação, deve-se
converter à idéia de que a missão principal dos Estados Germânicos, é cuidar de
pôr um paradeiro a uma progressiva mistura de raças.
A- geração dos nossos conhecidos fracalhões de hoje naturalmente gritará e
se queixará de ofensa aos mais sagrados direitos dos homens.
Só existe, porém, um direito sagrado e esse direito é, ao mesmo tempo, um
dever dos mais sagrados, consistindo em velar pela pureza racial, para, pela
defesa da parte mais sadia da humanidade, tornar possível um aperfeiçoamento
maior da espécie humana.
O primeiro dever de um Estado nacionalista é evitar que o casamento
continue a ser uma constante vergonha para a raça e consagrá-lo como uma
instituição destinada a reproduzir a imagem de Deus e não criaturas monstruosas,
meio homens meio macacos. Protestos contra isso estão de acordo com uma época
que permite qualquer degenerado reproduzir-se e lançar uma carga de indizíveis
sofrimentos sobre os seus contemporâneos e descendentes, enquanto, por outro
lado, meios de evitar a procriação são oferecidas à venda em todas as farmácias
e até anunciados pelos camelôs, mesmo quando se trata de pais sadios.
Neste estado de "paz e ordem" dos dias de hoje, neste mundo de bravos
"nacionalistas" burgueses, a proibição da procriação de portadores de sífilis,
tuberculose e outras moléstias contagiosas, de mutilados e de cretinos, é Vista
como um crime, ao passo que a esterilidade de milhares dos indivíduos mais
fortes de nossa raça não é tida como um mal ou ofensa à moral dessa hipócrita
sociedade, mas aproveita ao seu comodismo. Se fosse de outra maneira, eles
teriam que quebrar a cabeça para arranjar meios de prover à subsistência e à
conservação dos elementos sadios da nação, que deveriam prestar esse grande
serviço às gerações futuras.
Como esse sistema é desprovido de ideal e de honra! Ninguém se preocupa em
cultivar o que há de melhor, em benefício da posteridade, mas, ao contrário,
deixam-se as coisas continuarem como estão.
Até a nossa igreja, que fala sempre no homem como criado à imagem de Deus,
peca contra esse princípio, cuidando simplesmente da alma, enquanto deixa o
homem descer à posição de degradado proletário. A gente fica transido de
vergonha ao ver a atuação da fé cristã, em nosso próprio país, em relação à
"impiedade" desses indivíduos pecos de espírito e degradados de corpo, enquanto
se procura levar a bênção da igreja a cafres e hotentotes. Enquanto os povos
europeus são devastados por uma lepra moral e física, erra o piedoso missionário
pela África Central, organiza missões de negros, até conseguir a nossa "elevada
cultura" fazer de indivíduos sadios, embora primitivos e atrasados, bastardos,
preguiçosos e incapazes.
Seria muito mais nobre que ambas as igrejas cristãs, em vez de importunarem
os negros com missões, que estes não desejam nem compreendem, ensinassem aos
europeus, com gestos bondosos, mas com toda seriedade, que é agradável a Deus
que os pais não sadios tenham compaixão das pobres criancinhas sadias e que
evitem trazer ao mundo filhos que só trazem infelicidade para si e para os
outros.
O que não tem sido feito em outros setores deve ser empreendido pelo
Estado. , raça deve ser vista como ponto central da atuação do Estado na vida
geral da nação. Deve ser conservada pura. A infância deve ser vista como a mais
preciosa propriedade da Pátria. Deve-se providenciar para que só pais sadios
possam ter filhos. Só há uma coisa vergonhosa: é que pessoas doentes ou com
certos defeitos possam procriar, e deve ser considerada uma grande honra impedir
que isso aconteça. Por outro lado, deve ser condenado o privar a nação de filhos
sadios, o Estado deve pôr todos os recursos médicos a serviço dessa concepção.
Deve proclamar como incapaz de procriar quem quer que seja doente ou tenha
certas taras hereditárias e levar esse propósito ao terreno prático. Deve
providenciar também para que a fecundidade de uma mulher sadia não seja
diminuída pelas malditas condições econômicas de um regime em que o ter filhos é
tido como uma calamidade pelos pais. Deve-se libertar a nação dessa indolente e
criminosa indiferença com que se tratam as famílias de muitos filhos e, em lugar
disso, ver nelas a maior felicidade de um povo. Os cuidados da nação devem ser
mais em favor das crianças do que dos adultos.
Quem, física ou espiritualmente, não é sadio ou digno, não deve perpetuar
os seus defeitos através de seus filhos! Nisso consiste a maior tarefa educativa
do Estado nacionalista. Isso será visto, de futuro, como uma obra mais elevada
do que as mais vitoriosas guerras do atual século burguês. Educando o indivíduo,
o Estado deve ensinar que não é uma vergonha, mas uma lamentável infelicidade,
ser fraco ou doente, mas é um crime e também uma vergonha que se arrastem, nessa
infelicidade, por mero egoísmo, inocentes criaturas. Ao contrário é uma prova de
grande nobreza de sentimentos, do mais admirável espírito de humanidade, que o
doente renuncie a ter filhos seus e consagre seu amor e sua ternura a alguma
criança pobre, cuja saúde dá esperança de Vir a ser ela um membro de valor de
uma comunidade forte. Nessa obra de educação, o Estado deve coroar os seus
esforços tratando também do aspecto intelectual. Deve agir, nesse sentido, sem
consideração de qualquer espécie, sem procurar saber se a sua atuação é bem ou
mal entendida, popular ou impopular.
Só uma proibição, durante seis séculos, da procriação de degenerados
físicos e de doentes de espírito não só libertaria a humanidade dessa imensa
infelicidade como produziria uma situação de salubridade que, hoje, parece quase
impossível. Se se realizar com método um plano de procriação dos mais sadios, o
resultado será a constituição de uma raça que trará em si as qualidades
primitivas, evitando assim a degradação física e intelectual de hoje.
Só depois de ter tomado esse caminho é que um povo e um Governo conseguirão
melhorar uma raça e aumentar a sua capacidade de procriar, permitindo, afinal, à
coletividade retirar todas as vantagens da existência de uma raça sadia, o que
constitui a maior felicidade de uma nação.
É preciso que o Governo não deixe ao acaso os novos elementos incorporados
à nação, mas, ao contrário, submeta-os a determinadas normas. Devem ser
organizadas comissões que tenham a seu cargo fornecer atestados a esses
indivíduos, atestados que obedeçam ao critério da pureza racial. Assim se
formarão colônias cujos habitantes todos serão portadores do mais puro sangue e,
ao mesmo tempo, de grande capacidade. Serão o mais precioso tesouro da nação. O
seu progresso deve ser visto com orgulho por todos, pois neles estão os germes
de um grande desenvolvimento da nação e da própria humanidade.
A nova doutrina deve procurar no seio do Estado, criar um ambiente mais
puro e mais elevado em que os homens não mais dediquem toda a sua atenção à
seleção de cavalos, cães e gatos, mas sim procurem melhorar a sua própria
situação, pela renúncia consciente de uns - os que não devem procriar - e pelo
sacrifício espontâneo de outros, os que têm aquela capacidade.
Isso não deve ser impossível em um mundo em que centenas de milhares de
homens voluntariamente se entregam ao celibato, apenas por força de um
compromisso religioso.
Não será possível essa renúncia, se, em lugar do voto religioso, se colocar
a advertência de que se deve pôr um paradeiro ao envenenamento da raça e dar ao
mundo apenas criaturas verdadeiras feitas à imagem do Criador?
É verdade que o calamitoso exército dos nossos burgueses de hoje não
entenderá isso. Eles encolherão os ombros ou sairão sempre com as suas eternas
evasivas. Dirão: "isso é muito bonito mas é irrealizável". No mundo deles, isso
é, de fato, impossível, pois não têm capacidade para esse sacrifício. Eles só
têm uma preocupação - o seu próprio eu. O seu único Deus é o dinheiro. Mas nos
não nos dirigimos a esses e sim às grandes legiões daqueles que, por demasiado
pobres, vêem na sua própria vida a única felicidade e que não têm como Deus o
dinheiro, mas possuem outras crenças. Sobretudo à mocidade alemã, é que nos
dirigimos. A juventude alemã, de futuro, ou constrói um novo Estado nacionalista
ou será a última testemunha da derrocada, do fim do mundo burguês.
Quando uma geração sofre de certos males que ela conhece e contenta-se,
como é o caso atual do mundo burguês, em declarar levianamente que nada se pode
fazer, está fatalmente condenada à destruição.
A principal característica da nossa burguesia é que já não pode negar a
enfermidade. Ela é obrigada a confessar que há muita coisa podre, mas não é
capaz de resolver-se a combater o mal e, coordenando, com toda energia, a força
de sessenta ou setenta milhões de homens, resistir ao perigo. Quando acontece o
contrário, procura-se, pelo menos de longe, provar a impossibilidade teórica
desse modo de proceder e mostrar que não se deve nem pensar em êxito. Não há
razão, por mais absurda, que não invoquem em apoio da sua mesquinha propaganda.
Se, por exemplo, um continente inteiro, envenenado pelo álcool, se recusa a
combater esse mal e libertar o povo das suas garras, o nosso mundo burguês nada
encontra para dizer. Limita-se a arregalar os olhos e levantar os ombros.
Com uma coisa não devemos nos enganar: a nossa burguesia atual é incapaz de
realizar qualquer grande missão na humanidade. E é incapaz, na minha opinião,
não porque seja deliberadamente má, mas devido a sua incrível indolência e tudo
que daí decorre.
Há muito tempo, os clubes políticos que atendem pelo nome de partidos
burgueses nada mais são do que sociedades que representam certas classes e
profissões e a sua maior finalidade é defender interesses egoísticos, da melhor
maneira possível. É óbvio que uma liga política de burgueses, como os nossos,
presta-se para tudo menos para a luta, especialmente quando o adversário
consiste, não em tímidos lojistas, mas em massas proletárias e absolutamente
resolvidos à luta.
Se reconhecemos que a nossa maior missão, a bem do povo, é a conservação e
o aperfeiçoamento dos melhores elementos raciais, é natural que os nossos
cuidados não parem após o nascimento, mas continuem na educação da criança, para
a sua transformação em uma individualidade apta para a multiplicação.
Assim como, em conjunto, a condição essencial para a capacidade de
realizações espirituais é a virtude racial, da mesma maneira, quanto ao
indivíduo, a educação deve ter em mira, em primeiro lugar, o aperfeiçoamento
físico, pois, em regra, é nos indivíduos sadios e fortes que se encontra a maior
capacidade intelectual. Não desmente essa verdade o fato de que muitos gênios
são fisicamente mal formados e, até mesmo, doentes. Trata-se, nesse caso, de
exceções que apenas confirmam a regra geral. Se a massa de um povo é composta de
degenerados físicos, muito raramente surgirá desse pântano um espírito realmente
grande. Da sua atuação, não é lícito, em nenhum caso, esperar grande coisa. A
massa inferior ou não o entendera absolutamente ou será tão fraca de vontade que
não conseguirá acompanhar o gênio nos seus surtos.
Tendo isso em vista, o Estado deve dirigir a educação do povo, não no
sentido puramente intelectual, mas visando sobretudo à formação de corpos
sadios. Em segundo plano, é que vem a educação intelectual. Aqui ainda, a
formação do caráter deve ser a primeira preocupação, especialmente a formação do
poder de vontade e de decisão e do hábito de assumir com prazer todas as
responsabilidades. Só depois disso, é que vem a aquisição do conhecimento puro.
O Estado deve agir na presunção de que um homem de modesta educação, mas
fisicamente sadio, de caráter firme, confiante em si mesmo e na sua força de
vontade, é mais útil à comunidade do que um indivíduo fraco, embora altamente
instruído.
Um povo de sábios, fisicamente degenerados, torna-se fraco de vontade e
transforma-se em um corpo de pacifistas covardes que nunca se elevara às grandes
ações e nem mesmo poderá assegurar-se a existência na terra.
Em uma áspera luta pela vida, é raramente vencido o que sabe menos, mas
sempre os que não podem tirar partido da sua ciência, na sua atuação na vida.
Deve, pois, haver uma harmonia entre os dois pontos de vista.
De um corpo apodrecido, mesmo servido por um brilhante espírito, nada de
grande é lícito esperar. As altas criações intelectuais nunca se realizarão por
intermédio de caracteres dúbios, sem força de vontade e fisicamente doentes.
O que tornou imperecível o ideal da beleza grega foi a harmonia entre a beleza
física e a espiritual e moral.
O refrão popular, segundo o qual a "felicidade, no final das contas, está
sempre reservada aos mais capazes" também se aplica na harmonia que deve existir
entre o corpo e o espírito. O espírito sadio geralmente coincide com o corpo
sadio.
A cultura física não é, pois, um problema que só interesse ao indivíduo ou
que afete somente aos pais, mas é um requisito Indispensável para a conservação
da raça, a que o Estado deve proteção.
Assim como, já hoje, o Estado, no que diz respeito à cultura intelectual,
passa por cima do livre arbítrio dos indivíduos e, sem consultar a vontade dos
pais, torna obrigatória a freqüência às escolas, assim também o Estado, de
futuro, deve agir no problema da conservação da raça, sem indagar se as razões
para essa atitude são ou não são compreendidas pelas massas.
O Estado deve dirigir a educação do povo de maneira que a infância, desde
os primeiros tempos, se prepare a enfrentar a luta pela vida que a espera. Deve
tomar todo o cuidado para que não se forme uma geração de comodistas.
Esse trabalho de educação e assistência deve ser iniciado pelas mães. Assim
como foi possível, com um cuidadoso trabalho de dez anos, conseguir um ambiente
livre de infecções para o nascimento, limitando as possibilidades de febres
puerperais, também devem ser e serão possíveis, por meio de real educação das
irmãs e das próprias mães, já nos primeiros anos da criança, cuidados que
forneçam excelentes bases para um desenvolvimento futuro.
Em um Estado nacionalista, a escola deve reservar mais tempo para o
exercícios físicos.
De nenhum interesses é que se sobrecarregue o cérebro das crianças com
excesso de conhecimentos que, a prática demonstra, só em uma proporção
insignificante, são conservados. Na maior parte dos casos, esquecem o importante
e guardam o que é secundário, sabido como é que as crianças não estão em
condições de fazer a seleção da matéria que lhes é ensinada. Foi um erro crasso
ter-se, hoje, até no programa das escolas médias, deliberado reservar à
ginástica apenas duas horas por semana e, isso mesmo sem caráter obrigatório.
Não se deve passar um dia sem que cada jovem tenha, pelo menos, uma hora de
exercício físico, pela manhã e à tarde, em esportes e ginástica. Especialmente o
boxe, visto por muitos nacionalistas "como rude e indigno", não deve ser
esquecido. É incrível a soma de idéias falsas que, entre os "educados", há sobre
esse assunto. Julga-se natural e honroso que os indivíduos aprendam a lutar, a
bater-se em duelo, mas jogar boxe é grosseiro! Por que? Não há desporto que
estimule tanto o espírito de ataque. Mais do que nenhum outro, requer decisões
rápidas e enrija e torna flexível o corpo, ao mesmo tempo. Não é mais grosseiro
que dois jovens decidam uma disputa a soco do que a espada. Não é também mais
nobre que um indivíduo atacado se defenda a murros do seu agressor, em vez de
correr a gritar por socorro? Antes de tudo, o rapaz sadio deve aprender a
suportar pancadas. Isso, aos olhos dos nossos "lutadores intelectuais", pode
parecer selvagem. Mas um Estado nacionalista não tem por missão fundar uma
colônia de estetas pacifistas ou de degenerados físicos. O ideal humano não
consiste em modestos burgueses ou virtuosas solteironas, mas, ao contrário, em
homens e mulheres fortes que possam dar ao mundo outros seres em idênticas
condições.
A função do esporte não é somente a de tornar os indivíduos ágeis e
destemidos, mas também de prepará-los para suportarem todas as reações.
Se as nossas classes intelectuais não tivessem sido educadas exclusivamente
em desportos elegantes; se, em vez disso, tivessem aprendido o boxe, nunca teria
sido possível uma revolução alemã de rufiões, de desertores e de outros
indivíduos do mesmo jaez. O que assegurou o êxito da Revolução não foi a
intrepidez e a coragem dos seus organizadores, mas a covardia, a miserável
irresolução dos que dirigiam o Estado e eram responsáveis pela sua conservação.
Os condutores intelectuais do nosso povo recebiam apenas educação espiritual e,
por isso, ficaram sem poder reagir, no momento em que os adversários, em vez de
armas espirituais, puseram em cena ate alavancas. A Revolução só triunfou porque
a educação ministrada nas escolas superiores não formava homens, no verdadeiro
sentido da palavra, mas funcionários, engenheiros, juristas, literatos e, por
fim, professores encarregados de manter sempre viva essa instrução puramente
intelectual.
Nossa direção intelectual produziu brilhantes resultados, mas o cultivo da
força de vontade sempre esteve abaixo de qualquer crítica. É claro que, por meio
da educação, não se pode transformar um intelectual covarde em um homem
corajoso. É evidente também que um homem, que não é covarde por natureza, mas
prejudicado no desenvolvimento de suas qualidades individuais, desde que não
receba uma educação que aperfeiçoe a sua força física e a sua destreza, será,
logo de início, derrotado. É no exército que se pode avaliar o quanto a
capacidade física estimula a coragem e desperta o espírito de ataque. A
excelente instrução recebida pelos nossos soldados, durante a paz, inoculou,
nesse gigantesco organismo, a fé sugestiva na sua própria superioridade, em
proporções que os nossos próprios adversários não julgavam possível.
O imortal espírito de combatividade e de coragem que, nos meses do fim do
verão e no outono de 1914, se verificou na ofensiva do exército alemão, foi
efeito exclusivamente dos ininterruptos exercícios dos tempos de paz, que
permitiram que, de corpos fracos, se obtivessem os efeitos mais incríveis e que
neles inspirou uma confiança em si mesmos que nunca mais os abandonou nas
maiores refregas.
Justamente agora que a nação alemã está em colapso, espezinhada por todo
mundo, é que mais se faz necessária aquela confiança em si mesma. Essa confiança
deve ser cultivada na juventude, desde a meninice. Toda a sua educação, todo o
seu treinamento, devem ser dirigidos no sentido de dar-lhe a convicção da sua
superioridade. Certa da sua força e da sua habilidade, a mocidade deve
readquirir a fé na invencibilidade da sua nação. O que levou, outrora, o
exército alemão à vitória foi a confiança extraordinária que cada um tinha em si
mesmo e todos tinham nos seus chefes. O que poderá levantar de novo o povo
alemão é a convicção de que a liberdade ainda poderá ser reconquistada. Mas essa
convicção só poderá ser o produto final de um sentimento partilhado por milhões
de indivíduos.
Ninguém se engane sobre isso.
Inaudita foi a derrocada da nossa nação, inaudito deve ser o esforço para,
um dia, se pôr um fim a essa deplorável situação. Engana-se desgraçadamente quem
acredita que o nosso povo, continuando essa educação burguesa inspirada na "paz
e na ordem", poderá conquistar a força necessária para modificar a situação
atual de ruína e jogar os nossos grilhões de escravos à face dos nossos
adversários. Só por um imenso desenvolvimento de nossa força de vontade, por uma
sede de liberdade e por uma alta devoção à Pátria é que se poderá reconquistar o
que nos tem faltado.
Até o vestuário dos jovens deve ser apropriado a esse fim. É uma verdadeira
lástima ser obrigado a ver como os moços de hoje se submetem a uma moda idiota
que muito bem se traduz no ditado popular que as roupas fazem os homens.
Justamente na mocidade é que o vestuário deve estar em função da finalidade
educacional. Um jovem, que, no verão, anda para cima e para baixo vestido até ao
pescoço, só por isso dificulta a sua educação física. O espírito de honra e digamos entre nós - a vaidade devem ser cultivados, não a vaidade de possuir
belas roupas, que nem todos podem comprar, mas a de criar-se um corpo bem
formado, a que todos podem concorrer.
Isso corresponde, para o futuro, a uma certa finalidade. A rapariga deve
conhecer o seu cavalheiro. Se a beleza física não se ocultasse hoje,
completamente, sob as vestes da moda idiota, e a sedução de centenas de milhares
de moças, por judeus bastardos, de pernas tortas e desengonçados, não seria
possível. Está também no interesses da nação que se chegue à formação de corpos
perfeitos, a fim de se criar um novo ideal de beleza.
Isso é mais necessário, hoje, por faltar a educação militar, cuja
organização supria em parte a deficiência de nosso sistema educacional de
outrora. O êxito dessa organização não se via somente na educação do indivíduo,
mas também na sua influência sobre as relações entre os dois sexos. A rapariga
alemã preferia o soldado ao civil.
É dever do Estado nacionalista cultivar a eficiência física, não somente
nos anos de freqüência à escola mas também depois da idade escolar. Enquanto o
indivíduo se estiver desenvolvendo fisicamente, este desenvolvimento deve ser
dirigido de modo que se torne para ele uma bênção futura.
É idiotice pensar que o direito do Estado em superintender a educação da
sua mocidade termina com a idade escolar e só recomeça com o serviço militar.
Esse direito é um dever que nunca deve ser perdido de vista.
O Governo atual, que não tem nenhum interesses pela saúde do povo,
abandonou essa missão da maneira mais criminosa. Consente que a mocidade se
desmoralize nas ruas e nos bordéis, em vez de dirigi-la de maneira que de futuro
se transforme em homens e mulheres sadios.
De que maneira o Estado continua a dirigir essa educação pode ser, hoje,
indiferente; o essencial é que ele o faça e procure o caminho para chegar a esse
fim. O Estado tem como uma das suas finalidades, a educação, tanto intelectual
como física, dos jovens, depois da idade escolar. E essa educação deve ser
realizada de acordo com a orientação oficial, visando, nas suas linhas gerais, o
serviço militar.
O exército não deve, como até agora, instruir os moços apenas nos
exercícios regulamentares mas transformar jovens já perfeitos, no ponto de vista
físico, em verdadeiros soldados.
Em um Estado nacionalista, o exército não existe só para ensinar o homem a
marchar e a outros exercícios militares, mas deve ser a mais alta escola da
educação nacional. Naturalmente, o jovem recruta deve aprender a manejar as
armas, mas, ao mesmo tempo, deve ser preparado para a Vida futura. Nessa escola
é que o rapaz se deve transformar em homem. Não deve só aprender a obedecer, mas
também a comandar, de futuro. Deve aprender a silenciar não só quando é
censurado com razão, mas deve também aprender a suportar a injustiça em
silêncio.
Apoiado na confiança de sua própria força, empolgado pelo espírito de
classe, ele deve adquirir a convicção de que sua Pátria é invencível.
Quando tiver terminado seu serviço militar deve estar em condições de poder
exibir dois documentos: seu diploma de cidadão, que lhe dá o direito a tomar
parte na vida pública, e um atestado de saúde que lhe dá direito a casar-se.
A educação do sexo feminino deve obedecer ao mesmo critério da do sexo
masculino. O ponto mais importante é a educação física, vindo, em seguida, o
desenvolvimento do caráter e, por último, o valor intelectual. A preocupação
principal, na educação das mulheres, é formar futuras mães.
Só, em segundo plano, o Estado nacionalista tem de promover a for. mação do
caráter.
As qualidades reais de caráter, nos indivíduos, são inatas: o egoísta é e
será sempre egoísta, o idealista sincero será sempre idealista. Entre esses dois
caracteres, absolutamente típicos, há milhões que aparecem cujo caráter é
confuso, indistinto. O criminoso nato será sempre criminoso, mas há inúmeras
pessoas que possuem uma certa tendência para o crime e que poderão ser
corrigidas e transformadas em ótimos membros de uma coletividade. Inversamente,
caracteres dúbios podem, por defeito de educação, transformar-se em péssimos
elementos.
Quantas vezes, durante a Guerra, não ouvi queixas sobre a indiscrição do
nosso povo, que, com dificuldade, podia guardar os mais importantes segredos,
mesmo perante o inimigo! Mas, consideremos: Que fez a educação alemã, antes da
Guerra, para recomendar a discrição como uma virtude? Na escola, o delator não
era preferido ao que se mantinha em silêncio? Alguém procurou, por acaso,
apontar a discrição como uma grande virtude? Não! Nas nossas escolas, essa
virtude é considerada coisa insignificante. Apenas, essa insignificância custou
à nação incontáveis milhões, pois noventa por cento dos processos de ofensa e
outros têm sua origem na incapacidade de manter o silêncio.
Afirmações feitas sem responsabilidade são retrucadas da mesma maneira.
Nossa economia é constantemente prejudicada pela divulgação dos mais importantes
métodos de fabricação, etc., e todos os preparativos para a defesa do país são
simplesmente ilusórios, porque o povo nunca aprendeu a ser discreto. Durante uma
guerra, esse amor à indiscrição pode ocasionar a perda de batalhas e constitui a
causa principal do insucesso de uma campanha. Ninguém se deve esquecer de que o
que não é praticado na mocidade não pode ser aprendido na idade madura. Dai se
conclui que o professor não deve procurar tomar conhecimento de pequenas
travessuras, cultivando a delação. A mocidade tem o seu governo próprio. Ela tem
para com os mais crescidos uma solidariedade mais limitada, perfeitamente
compreensível. A ligação de uma criança de dez anos com outra da mesma idade é
maior e mais natural do que com uma mais crescida. Uma criança que denuncia seu
camarada, pratica uma traição que, no sentido figurado, corresponde a uma
traição contra a Pátria. Tal criança não pode ser vista como "valente" e
"independente", mas como possuindo qualidades de caráter de pouco valor. Para o
professor pode ser mais cômodo, a fim de manter a autoridade, utilizar esse mau
costume, mas, no coração da criança, esse processo ocasionará um sentimento que
agirá como um germe fatal. Não é raro de um pequeno delator sair um grande
tratante.Isso é apenas um exemplo entre muitos. Na escola de hoje o
desenvolvimento intelectual é maior, mas as nobres qualidades de caráter estão
reduzidas quase a zero. Deve-se, por isso, dar maior importância ao outro ponto
de vista. Fidelidade, capacidade de sacrifício, discrição, são virtudes de que
um grande povo precisa e cujo ensino e cultivo nas escolas é mais importante do
que muita coisa que, atualmente, figura nos programas.
Também deve fazer parte desse plano o combate às lamúrias e eternas
queixas. Se um processo educacional deixa de atuar, na criança, de modo que essa
se acostume a suportar em silêncio todos os sofrimentos, ninguém se deve admirar
que, mais tarde, no momento crítico, na linha de frente de uma batalha, por
exemplo, o tráfico postal só se ocupe em transmitir cartas lamuriantes de um
lado e de outro. Se a nossa juventude, nas escolas, tivesse aprendido menos
conhecimentos e se tivesse mais exercitado no domínio de si mesma. grandes
vantagens se teriam verificado nos anos de 1915-1918.
Por tudo isso, o Estado nacionalista, na sua missão educativa, deve dar a
maior importância à educação física e à do caráter. Inúmeras deformidades
existentes hoje no organismo nacional seriam, por esse processo de educação,
quando não afastadas pelo menos minoradas.
Da maior importância é a formação da força de vontade e do poder de
decisão, assim como do prazer da responsabilidade.
Assim como no exército era convicção geral, antigamente, que uma ordem é
sempre melhor do que nenhuma, também na juventude uma resposta é sempre melhor
do que nenhuma. O receio de, para não dar uma resposta falsa, não dar nenhuma
resposta, deve envergonhar mais do que responder errado. Isso vai aos poucos
acostumando os jovens a terem a coragem de suas atitudes.
Era geral a queixa, em novembro e dezembro de 1918, de que havia
ineficiência em todos os setores, e que, a partir do Imperador ao último
comandante de divisão, ninguém tinha coragem de tomar uma decisão independente
Essa terrível realidade é uma praga da nossa educação, pois nessa cruel
catástrofe apareceu apenas em vasta escala o que já existia por toda parte em
casos de menor importância.
É essa falta de poder de vontade e não a falta de material de guerra que,
hoje, nos torna incapazes de resistência séria. Está profundamente arraigada no
nosso povo e proíbe-nos de tomar qualquer resolução que ofereça um perigo, como
se a grandeza de uma ação não consistisse na ousadia com que é atacada.
Sem o querer, um general alemão encontrou uma fórmula para essa miserável
falta de decisão, quando avançou: Não ao nunca sem. contar pelo menos com 51% de
probabilidades de êxito. Nesses 51% está a razão da trágica ruína da Alemanha.
Quem confia à sorte a vitória de uma causa, não compreende a importância de
um ato de heroísmo. Esse está justamente na convicção de que, diante da
possibilidade do perigo, dá-se o passo que pode levar à vitória. Um canceroso,
cuja morte é certa, não precisa de 51% de probabilidades para tentar uma
operação. Se essa operação lhe oferece um meio por cento de possibilidade de
cura, ele, sendo homem corajoso, arriscar-se-á à mesma. Se não o fizer não tem o
direito de se queixar da sorte. A epidemia de falta de vontade e de espírito de
decisão é, em última análise, sobretudo a conseqüência da falha educação da
mocidade, cuja atuação devastadora se faz sentir na vida e cujas últimas
conseqüências são a falta de coragem cívica dos estadistas que dirigem a nação.
Sob o mesmo aspecto, pode ser visto o terror da responsabilidade que grassa
em todo o país. Nesse caso também, o motivo inicial está na maneira por que se
educa a juventude. Essa falta de responsabilidade conta. mina toda a vida
pública e encontra a sua mais alta expressão na instituição do Parlamento.
Já na escola dá-se mais valor a uma demonstração de remorso e de contrição
do que a uma franca confissão do erro.
Justamente porque o Estado nacionalista deve, de futuro, prestar toda
atenção ao cultivo da força de vontade e de decisão, deve implantar nos corações
juvenis, desde a meninice até a idade adulta, a alegria da responsabilidade e a
coragem de confessar as suas faltas.
Somente quando o Estado compreender essa necessidade em toda a sua
significação, poderá. depois de um trabalho secular, ter como resultado disso um
organismo nacional, não mais composto dessas criaturas fracas que tanto
contribuíram para a nossa ruína.
A instrução científica que, hoje, é o objetivo único da educação oficial
pode ser adotada pelo Estado nacionalista com algumas modificações, que podem
ser resumidas nestes três itens.
Em primeiro lugar, o cérebro infantil não deve ser sobrecarregado com
assuntos, noventa por cento dos quais são desnecessários e cedo esquecidos.
O programa das escolas populares e das escolas médias, é o mais
anarquizado. Em muitos casos, a matéria é tão vasta que só uma parte é
conservada e essa mesmo não encontra emprego na vida prática. Do outro lado,
nada se aprende que seja de utilidade, em uma determinada profissão, para a
conquista do pão quotidiano.
Tome-se, por exemplo, na idade de trinta e seis ou quarenta anos, o tipo
normal do burocrata, que tenha feito o curso do Ginásio ou da Oberrealschule, e
faça-se um exame sobre o que ele aprendeu na escola. Como é pouco o que ele
conservou de tudo quanto lhe meteram na cabeça!
Poder-se-á responder que a instrução ministrada na escola não visa somente
o objetivo de posse posterior de múltiplos conhecimentos mas também o
desenvolvimento da capacidade de assimilação, de raciocínio e de atenção do
cérebro. Em parte, isso é verdadeiro.
Nisso há, porém, sempre, um perigo. O cérebro juvenil fica empanturrado de
impressões que, em raríssimos casos, consegue assimilar completamente e cuja
importância, nos detalhes, não pode perceber nem compreender. Por isso, na
maioria dos casos não é o secundário mas o essencial, que os jovens esquecem.
Não é, por exemplo, compreensível que milhões de pessoas, no decorrer de anos,
sejam obrigados a aprender duas ou três línguas estrangeiras que, só em
proporções insignificantes, podem utilizar, e que, na maioria dos casos,
esquecem inteiramente. De cem mil alunos que aprendem francês, por exemplo,
talvez apenas dois mil possam encontrar utilização para esse conhecimento,
enquanto os outros para o mesmo não encontrarão nenhum emprego, durante .toda a
sua vida. Na juventude, dedicaram milhares de horas a um assunto, sem nenhum
valor para a sua vida futura. Contra mil homens, para os quais o conhecimento
dessa língua foi de alguma utilidade prática, há noventa e oito mil que foram
inutilmente submetidos ao suplício de aprendê-la, com sacrifício completo do seu
tempo.
Além disso, trata-se, nesse caso, de uma língua da qual não se pode dizer
que constitui a escola para a formação lógica do espírito, como se dá talvez com
a língua latina. Por isso, seria um objetivo mais importante que se estudasse
esse idioma apenas em suas linhas gerais, os fundamentos de sua gramática, a
pronúncia, a construção através de exemplos modelares, etc. Isso bastaria para
as necessidades comuns e, porque, mais fácil de alcançar, de muito mais valor
seria do que a aprendizagem da linguagem falada, que nunca é completamente
dominada e é cedo esquecida.
Deve evitar também o perigo de, sobrecarregando demais o cérebro dos jovens
com matérias que ficam sem ligação na memória e de que eles só conseguem
aprender as que mais despertam a sua atenção, desapareça, nos cérebros juvenis,
a diferença entre o valor e o desvalor.
O sistema de educação que aqui esboço em largos traços será suficiente para
a grande maioria dos jovens, enquanto que os outros que, mais tarde, precisarem
de uma língua estrangeira, poderão sempre estudá-la exaustivamente, à sua livre
escolha.
Assim ganhar-se-ia o tempo necessário para a educação física e para outras
exigências mais importantes que já indiquei.
Sobretudo nos métodos atuais de ensinar história, deve-se proceder a uma
modificação racial. Poucos povos têm tanta necessidade de aprender história
quanto o povo alemão; poucos povos a utilizam tão mal quanto o nosso. A nossa
educação histórica deve ser orientada pela nossa experiência política. Não nos
devemos irritar com os miseráveis resultados da direção da coisa pública se não
estivermos resolvidos a cuidar de uma melhor educação política. Em noventa e
nove por cento dos casos, as conseqüências do nosso atual sistema de ensinar
história são as mais deploráveis. Algumas datas e nomes, eis o que,
habitualmente, fica do estudo da história. Do mesmo não constam as linhas gerais
e claras da evolução. Tudo que é essencial, de importância, não é ensinado.
Deixa-se ao maior ou menor talento dos indivíduos a descoberta da significação
do dilúvio de datas e da sucessão dos acontecimentos. Por mais arrepiante que
seja essa constatação, ela mantém-se incontestável. Basta, para prova disso, que
se leiam com atenção os discursos dos nossos parlamentares, mesmo em um só
período de sessão, sobre os problemas políticos, até os da política externa.
Pense-se em que, ao menos pela importância de sua posição, esses parlamentares
representam a elite nacional, e que eles, em grande parte, freqüentaram as
escolas secundárias e alguns até as superiores, e compreender-se-á como é
insuficiente a cultura histórica desses homens. Se eles nunca tivessem estudado
história mas possuíssem intuições sadias, isso teria sido muito melhor e mais
útil à nação.
Sobretudo no ensino da história é que se deve tomar em consideração uma
redução nos programas. A parte mais importante é o conhecimento das linhas
gerais da evolução. Quanto mais se restringir o ensino a esse ponto de vista,
tanto mais é de esperar que os indivíduos tirem proveito dos seus conhecimentos,
o que é também de vantagem para a coletividade.
Não se estuda história somente para saber o que aconteceu, mas para que ela
possa orientar o futuro da nação.
Essa é a finalidade, o ensino da história é apenas um meio. Não se
argumente que o estudo dessas datas referentes a indivíduos seja necessário a um
fundamental estudo da história, a fim de que se possa encontrar a base para as
linhas gerais da evolução. Essa missão compete ao especialista. O tipo normal
não é, porém, o do professor. Para aquele o estudo da história deve consistir,
em primeiro lugar, em proporcionar-lhe as noções necessárias para que possa
tomar atitude em face dos acontecimentos políticos da nação. Quem desejar ser
professor que se aprofunde mais tarde nesses estudos. Esse sim terá que se
ocupar com todos os detalhes, mesmo os mais insignificantes.
Sob todos os aspectos, o ensino atual da história é deficiente, pois para a
maioria dos indivíduos é demasiado extenso e para os especialistas muito
limitado.
Enfim, a missão de um Estado nacionalista é de esforçar-se por que seja
escrita uma história do mundo em que a questão racial seja o problema dominante.
Em resumo: o Estado nacionalista racista deve resumir o ensino intelectual,
reduzindo-o ao que é essencial. Só depois disso é que se oferecerá a
possibilidade de uma educação especializada sobre bases sólidas.
A educação geral, destinada a todos, deve ser obrigatória. O resto deve
ficar ao arbítrio dos indivíduos.
A redução dos programas e das horas de estudo que assim se obteria, seria
aproveitada em benefício da cultura física, do caráter, da vontade, do poder de
decisão. A pouca importância que as nossas escolas, sobretudo as secundárias,
hoje dão às exigências profissionais na vida pós escolar, é evidenciada pelo
fato de homens saídos de três escolas diferentes poderem abraçar a mesma
profissão. Daí se conclui que o importante é a educação geral e não a especial.
Quando se trata de casos em que um verdadeiro conhecimento especializado
torna-se necessário, os programas das nossas escolas secundárias aparecem
deficientes.
A segunda reforma que se impõe aos nossos programas de ensino é a seguinte:
Prefere-se, nos tempos de materialismo de hoje, que a nossa educação intelectual
se oriente cada vez mais no sentido de especializações técnicas, como
matemática, física, química, etc. Por mais que isso seja necessário em uma época
em que domina a técnica, que se apresenta, pelo menos aparentemente, como
constituindo as grandes características dos nossos dias, não se deve esquecer
nunca o perigo que resulta para o povo de uma tal orientação. A educação deve
sempre e cada vez mais atender às exigências profissionais, fornecendo apenas as
bases para futuras especializações.
Ao contrário, desperdiçar-se-ão forças que para a conservação do povo são
muito mais importantes que todos os conhecimentos especializados.
Não se deve afastar o estudo da história antiga, pois a história romana,
bem apreciada nas suas linhas gerais, é e será sempre a melhor mestra não só
para o presente como para o futuro. O ideal da cultura helênica, na sua típica
beleza, deve ser aproveitado. Não se deve destruir a grande comunidade racial
pelas diferenciações entre os vários povos. A luta que hoje se agita tem o
grande objetivo de, ligando sua existência ao passado milenar, unificar o mundo
greco-romano com o germânico.
Deve-se estabelecer uma diferença bem clara entre a educação geral e a
especializada.
Uma vez que a última ameaça pôr-se ao serviço dos argentários, a educação
geral, pelo menos na sua concepção ideal, deve continuar a servir de contrapeso
àquela tendência.
Devemos nos aferrar à convicção de que a indústria, a ciência técnica e
ocomércio só podem florescer em uma sociedade que oferece, por seus elevados
ideais, as condições indispensáveis para aquele progresso, esses ideais não
consistem em egoísmo material, mas em capacidade de sacrifício e prazer de
renúncia.
A educação da mocidade tem, como mais elevado objetivo, dar ao jovem a
instrução de que, de futuro, ele precisará para os seus progressos na vida.
Essa orientação pode ser expressa na seguinte fórmula: "O jovem deve ser de
futuro uma unidade útil na sociedade humana". Por isso não se deve entender,
porém, a sua capacidade apenas para ganhar o pão.
A superficial educação do Estado burguês tem bases fraquíssimas. Como o
Estado em si se apresenta apenas como uma forma, é muito difícil educar homens
que se sintam com deveres para com o mesmo. Uma simples forma é fácil de
destruir. A concepção de Estado, de hoje, não possui um conteúdo. Assim sendo,
tudo o que se pode fazer em um tal Estado é promover a educação "patriótica",
hoje em voga. Na Alemanha antiga essa educação consistia em uma espécie de
veneração dos pequenos potentados regionais, o que ocasionou, logo de inicio, a
não compreensão da nação tomada em conjunto. O resultado, por parte das massas
populares, foi o insuficiente conhecimento da nossa história, por falta de
percepção das linhas gerais.
É evidente que, por esse meio, nunca se poderá chegar a assegurar uma
verdadeira grandeza nacional. Falta à nossa educação a arte de, da evolução
histórica da nacionalidade, fazer seleção de alguns nomes que se imponham à
admiração da nação, de maneira a formar um só bloco nacional. Não se compreendeu
a importância de apresentar aos olhos do povo os verdadeiros grandes homens como
grandes heróis, de concentrar sobre os mesmos a atenção geral, criando-se assim
uma opinião definida no seio das massas. Não se pôde, no trato das diferentes
matérias dos programas nacionais destinados à glória da nação, ultrapassar o
nível de uma representação material. Por isso, os brilhantes exemplos do passado
não puderam inflamar o orgulho nacional. Para aqueles isso parecia chauvinismo.
coisa de que, sob essa forma, menos se gostava. O patriotismo dinástico pareceu
mais agradável e mais fácil de executar que as tempestuosas paixões que desperta
o orgulho nacional. Com a primeira forma de patriotismo estava-se sempre
disposto a "servir", com a segunda, poder-se-ia, um dia, dominar. O patriotismo
monárquico terminou nas associações de veteranos; a meta a que se chegaria com o
verdadeiro ardor nacional era mais difícil de ser determinada. Esse se compara a
um cavalo nobre que não consente em ser montado por qualquer. Não é de admirar,
pois, que toda gente preferisse recuar ante esse perigo. Ninguém pensou em que
um dia uma guerra, com todos os seus horrores, poderia pôr à prova a
consistência desses sentimentos patrióticos. Quando ela apareceu é que se
verificou, da maneira mais terrível, a falta de um elevado sentimento nacional.
Os homens tinham cada vez menos vontade de morrer pelo seu imperador. pelos seus
reis. E a "nação" era desconhecida pela maior parte deles.
Desde que a Revolução entrou na Alemanha e desapareceu o patriotismo
monárquico, o ensino da história só visara na realidade um objetivo - mera
aquisição de conhecimentos. Esse novo Estado não precisará de entusiasmo
nacional; o que ele quer, porém, jamais conseguirá. Há poucas probabilidades de
uma permanente força de resistência em um patriotismo dinástico. Quanto à
República, o entusiasmo é ainda menor. Não, há nenhuma dúvida que o povo nunca
teria permanecido, durante quatro anos e meio, nos campos de batalha, se a
divisa então tivesse sido - pela República!
O resto do mundo vê com simpatia essa República. Um fraco é sempre mais bem
recebido pelos que dele se utilizam, do que um indivíduo forte. Na simpatia por
essa forma de Governo está, porém, a maior crítica à mesma. O estrangeiro gosta
da República alemã e deixa-a viver, porque não se poderia encontrar um melhor
aliado na obra de escravização de nosso povo. A isso devemos o "magnífico"
quadro da situação atual. Dai a oposição a qualquer educação verdadeiramente
nacional e a exaltação de heróis fictícios que. na hora do perigo, fugiriam como
lebres.
O Estado nacionalista deve lutar pela sua existência. Não a defenderá pelo
plano Dawes. Para sua existência e garantia do seu futuro precisará daquilo a
que hoje se acredita ter ele renunciado. Quanto mais importante for a forma que
assumir, tanto maiores serão a inveja e a oposição dos adversários. A sua maior
proteção não está nas armas mas nos seus cidadãos. Não são fortalezas que o
defenderão, mas as muralhas vivas das mulheres e homens, dominados pelo mais
elevado amor à Pátria e por um fanático entusiasmo nacional.
O Estado nacionalista deve ver na ciência um meio de aumentar o orgulho
nacional. Tanto a história universal como a história da civilização devem ser
ensinadas sob esse aspecto. Um inventor deve ser visto não só porque é inventor,
mas também porque é um dos nossos compatriotas. A admiração por todas as grandes
ações deve ser combinada ao orgulho por ser seu executor um membro de nossa
Pátria. Devemos selecionar as maiores figuras da massa dos grandes nomes da
nossa história e pô-las diante da juventude de modo tão impressionante que elas
possam servir de colunas mestras de um inabalável sentimento nacionalista.
De acordo com esses pontos de vista, deve ser escolhida a matéria a ser
ensinada nas escolas. A educação deve ser orientada de tal maneira que um jovem,
ao deixar a escola, não seja um pacifista democrata ou coisa que o valha, mas um
verdadeiro alemão, na mais ampla acepção da palavra.
Para que esse sentimento nacionalista seja verdadeiro e não meramente
artificial, já na juventude deve-se manter no cérebro de cada um a convicção
firme de que quem ama seu povo deve prová-lo somente pelo sacrifício de que é
capaz em favor do mesmo. sentimento nacional que só visa lucros não existe.
Nacionalismo que só tem em consideração o espírito de classe não merece esse
nome. Só o fato de gritar urra! nada significa e não dará nenhum direito ao
título de verdadeiro nacionalista, se atrás disso não houver a preocupação pela
conservação de um espírito nacional sadio. Só se pode ter orgulho de uma nação,
quando, na mesma, não há nenhuma classe de que a gente precise se envergonhar.
Uma nação, porém, em que a metade vive na miséria, trabalhada pelas maiores
preocupações, ou mesmo corrompida, dá de si uma impressão tão pouco edificante
que ninguém por ela pode sentir orgulho. Enquanto um país não aparecer como
sadio de corpo e alma, o prazer de a ele pertencer não poderá nunca atingir a
esse elevado sentimento que denominamos orgulho nacional. Mas esse orgulho só
pode possuir quem conhecer a grandeza de sua Pátria.
Essa aliança íntima de nacionalismo e de espírito de justiça social deve
ser implantada já nos corações juvenis. Assim se formará, de futuro, um Estado
composto de cidadãos unidos entre si, fortalecidos, em conjunto, por um amor e
um orgulho comum a todos e que se tornará inabalável e invencível para sempre.
O pavor do chauvinismo, hoje freqüente, é uma demonstração de incapacidade
Como falta ao Estado burguês aquela força exuberante, que até parece
desagradável, o mesmo não mais está destinado a grandes ações. As maiores
revoluções da humanidade não teriam sido possíveis se as forças impulsoras das
mesmas fossem apenas virtudes burguesas inspiradas na paz e na tranqüilidade",
em vez das fanáticas e histéricas paixões pela causa defendida.
A verdade é que o mundo passa por grandes transformações. A única questão a
saber é se o resultado final será a favor da raça ariana ou em proveito do
eterno judeu.
A tarefa do Estado nacionalista será, por isso, a de preservar a raça e
prepará-la para as grandes e finais decisões, por meio da educação apropriada da
mocidade.
A nação que primeiro entrar no campo da luta alcançará a vitória.
O trabalho de educação coletiva do Estado nacionalista deve ser coroado com
o despertar do sentido e do sentimento da raça, que deve penetrar no coração e
no cérebro da juventude que lhe foi confiada.
Nenhum rapaz, nenhuma rapariga deve abandonar a escola sem, estar
convencido da necessidade de manter a pureza da raça.
Assim se estabelecerão as condições essenciais para a conservação dos
fundamentos raciais e, com isso, as condições preliminares para o posterior
desenvolvimento cultural.
Toda educação física e intelectual, em última análise, tornar-se-ia inútil,
se não pudesse ser aproveitada por uma criatura disposta e resolvida a manter-se
e a mantê-la.
Ao contrário aconteceria o que nós alemães já hoje lamentamos, sem talvez
nos darmos conta da extensão dessa trágica infelicidade: no futuro serviríamos
apenas de adubo para a civilização, não só no sentido das limitadas concepções
dos burgueses atuais, que lastimam a perda dos indivíduos somente porque com
eles se perde o Estado burguês, mas também no sentido de que, apesar de toda a
nossa ciência, nossa raça se teria arruinado.
Enquanto nos misturarmos com outras raças elevaremos a um nível mais
elevado as raças inferiores mas desceremos para sempre da posição elevada em que
nos achávamos antes.
Sob o ponto de vista racial, essa educação deve ser completada pelo serviço
militar, que deve ser visto como a conclusão da educação normal de cada alemão.
Embora seja grande a importância, no Estado nacionalista, da educação
física e espiritual, não o é menos a seleção dos melhores indivíduos.
Na maioria dos casos, são os filhos de pais bem situados na vida que são
julgados aptos para uma mais elevada educação. A questão do talento desempenha
um papel secundário.
Um filho de camponês pode ser dotado de muito mais talento do que um filho
de pais que vêm ocupando posições elevadas há muitas gerações, mesmo quando, na
sua capacidade de percepção, pareça inferior àquele.
O fato de o último possuir maior soma de conhecimento nada tem que ver com
a questão do talento, mas tem a sua origem na variedade das impressões recebidas
pela criança, como resultado do meio mais elevado em que vive. Se o talentoso
camponesinho, desde os primeiros anos, tivesse crescido no mesmo meio, a sua
capacidade de assimilação seria outra.
Hoje talvez só existe um setor em que o nascimento vale menos do que os
dotes naturais. Refiro-me à arte. Como aqui não se trata somente de aprender,
mas tudo provém de qualidades inatas que apenas precisam ser desenvolvidas
posteriormente, a questão do dinheiro e da posição dos pais não entra em
consideração, o que prova que o gênio não depende da posição social ou da
riqueza. Os maiores não raramente têm origem em famílias modestas. Muitos
pequenos camponeses tornam-se, mais tarde, festejados mestres.
Não recomenda a profunda cultura da época que se não tenha tirado partido
dessa verdade em benefício da vida espiritual da coletividade. Pensa-se que
isso, que não se pode negar em relação à arte, não se aplica aos chamados
conhecimentos reais.
Sem dúvida pode-se acostumar os homens a umas certas habilidades
automáticas, assim como é possível, por um hábil adestramento, levar os cães a
executar trabalhos quase incríveis. Em um caso como no outro, não é, porém, o
intelecto do indivíduo que o leva à prática dessas habilidades.
Pode-se, em qualquer hipótese, levar um talento inferior a adquirir
habilidades científicas, mas o resultado caracteriza-se sempre pela falta de
vida, de alma, tal como acontece com os animais. Pode-se, por um certo exercício
espiritual, Incutir no espírito de um homem medíocre conhecimentos acima de
medíocres, mas essa ciência mantém-se morta e estéril Dá-se o caso de um
indivíduo ser um verdadeiro dicionário vivo, mas, em todos os momentos da vida,
fracassar miseravelmente. A cada nova exigência que se lhe apresenta ele tem que
aprender de novo. esse indivíduo é incapaz de contribuir com a menor parcela
para um maior desenvolvimento da humanidade.
Essa ciência mecânica serve admiravelmente para ser aceita pelos burocratas
de hoje.
É perfeitamente compreensível que em todas as camadas sociais de uma nação
serão encontrados talentos e que o valor do saber será tanto maior quanto mais
possa ser vivificado, por essas naturezas de elite, o conhecimento morto.
Realizações criadoras só podem surgir quando se dá a aliança do saber com a
capacidade.
Como a humanidade de hoje erra nesse sentido demonstra-o um único exemplo.
De tempos em tempos, os jornais ilustrados comunicam aos seus leitores
burgueses que, pela primeira vez, aqui ou ali, um negro tornou-se advogado,
professor, pastor, primeiro tenor, etc. Enquanto a burguesia sem espírito fica
admirada de um tão maravilhoso adestramento e, cheia de respeito por esse
fabuloso resultado da atual arte de educar, o judeu esperto compreende que daí
será possível tirar mais um aprova da justeza da teoria que pretende inculcar no
público, segundo a qual todos os homens são iguais. Não se apercebe esse
desmoralizado mundo burguês que se trata de um ultraje à nossa razão, pois é uma
criminosa idiotice, adestrar, durante muito tempo, um meio macaco, até que se
acredite que ele se fez advogado, enquanto milhões de indivíduos, pertencentes
às mais elevadas raças, devem permanecer em uma posição inteiramente digna, se
tem em vista a sua capacidade. É um atentado contra o próprio Criador deixar-se
perecerem, no atual pântano proletário, centenas de milhares das criaturas mais
bem dotadas para adestrar hotentotes e cafres.
No caso, trata-se na realidade de um adestramento, como o do cão, e nunca
de educação científica.
O mesmo cuidado aplicado em relação a raças inteligentes, daria, a cada
indivíduo, mil vezes mais depressa, idêntica capacidade de realizações.
É intolerável pensar-se que, todos os anos, centenas de milhares de
indivíduos, inteiramente sem talento, mereçam uma educação superior, enquanto
centenas de milhares de outros, dotados de grande inteligência, fiquem privados
dessa educação. Não é para se desprezar a perda que a nação com isso
experimenta. Se, nas últimas décadas, aumentou consideravelmente o número das
invenções importantes, sobretudo na América do Norte, é que ali se ofereciam,
mais do que na Europa, possibilidades de uma educação superior às camadas
populares.
Para as descobertas não basta a instrução mal digerida. É imprescindível o
talento, infelizmente, hoje em dia, na Alemanha, não se dá nenhum valor a isso.
Só as exigências imperiosas da necessidade é que despertarão o povo a essa
verdade.
Essa é outra tarefa educacional do Estado nacionalista. Seu dever não é
restringir a determinada classe social a influência decisiva na vida da nação,
mas permitir que surjam os cérebros mais capazes e prepará-los para as mais
altas e mais dignas posições. Sua obrigação é não só dar uma certa educação ao
tipo médio mas também oferecer aos verdadeiros talentos a oportunidade de
desenvolverem suas qualidades excepcionais. Deve considerar como a sua mais
imperiosa obrigação abrir as portas dos estabelecimentos superiores oficiais a
todos os talentos, sem distinção de classes. Essa finalidade deve ser cumprida,
pois só assim, das camadas dos representantes de uma ciência morta, poderão
surgir os condutores geniais da nação.
Há uma outra razão para que o Estado deva volver a sua atenção sobre esse
assunto. As camadas intelectuais, sobretudo na Alemanha, vivem em um mundo tão à
parte, que não têm nenhuma ligação com as classes que lhes são inferiores. Daí
resultam dois péssimos efeitos: em primeiro lugar aquela classe nem entende o
povo nem por ele tem simpatias. Há tanto tempo que os intelectuais vivem
afastados da massa popular que não podem possuir a necessária compreensão da
psicologia da mesma. Tornaram-se estranhos uns para com os outros. A essas
classes superiores, em segundo lugar, falta a necessária força de vontade,
sempre menos freqüente entre os intelectuais do que na massa do povo. Graças a
Deus, a nós alemães, nunca faltou educação científica; em compensação era geral
a deficiência em força de vontade e poder de decisão. Quanto mais "intelectuais"
eram os nossos estadistas, tanto mais fracas eram as suas realizações. Nossa
preparação política para a guerra, assim como a preparação técnica, foram
insuficientes, não porque os dirigentes da nação tivessem pouca ilustração, mas,
ao contrário, porque eram super instruídos, cheios de ciência mas vazios de
intuições sadias e, sobretudo, de energia e intrepidez.
Foi uma fatalidade que a nação alemã tivesse de lutar pela sua existência
sob o governo de um chanceler filósofo e fraco. Se, naquela época, em vez de um
Batmann Hollweg, tivéssemos por chefe um enérgico homem do povo, o sangue
heróico dos nossos granadeiros não teria sido derramado em vão. Além disso, o
exagerado intelectualismo dos nossos guias foi o melhor aliado que podiam
encontrar os pulhas da Revolução de novembro. A maneira vergonhosa por que esses
intelectuais sacrificavam o interesses nacional que lhes estava confiado, em vez
de promoverem a sua defesa pelos meios mais enérgicos, ofereceu aos adversários
a condição essencial para a vitória. Nesse assunto, a Igreja Católica oferece um
exemplo muito instrutivo, o celibato dos sacerdotes obriga-a a recrutar os seus
futuros ministros, não nas suas próprias fileiras, mas na massa do povo. Essa
importância do celibato eclesiástico passa despercebida a muita gente. Aí está a
razão da incrível força dessa instituição multissecular. Porque,
ininterruptamente, esse gigantesco exército de dignitários espirituais é
recrutado nas camadas inferiores, só por isso, a Igreja se assegura uma natural
ligação com os sentimentos do povo, como também uma soma de energia que só se
pode encontrar na massa popular. Daí resulta a impressionante vitalidade dessa
formidável organização, a sua flexibilidade, a sua inquebrantável força de
vontade.
Uma das finalidades do Estado nacional, no ponto de vista da educação, é
agir de maneira que seja possível uma perpétua renovação das classes
intelectuais pela inoculação de sangue novo vindo das classes inferiores.
É obrigação do Governo selecionar, com o maior cuidado e exatidão, do meio
de todas as classes, o material humano visivelmente capaz de pô-lo ao serviço da
coletividade.
O Estado e os seus dirigentes não existem para possibilitar uma vida cômoda
às diferentes classes mas para que essas possam cumprir a missão que lhes está
reservada. Isso, porém, só será possível se para as posições de direção se
instruírem os mais capazes, os de mais força de vontade. Isso se aplica não só a
todos os empregados públicos como aos diretores intelectuais da nação, em todos
os setores, e constitui um fator da grandeza do nosso povo, pois assim se
consegue fazer a seleção dos mais capazes e pô-los a serviço da nação.
Se dois povos entram em concorrência, em igualdade de condições, vencerá
aquele que souber aproveitar os maiores talentos e serão vencidos os que só
cuidam da defesa de suas posições ou de sua classe, sem nenhuma consideração à
capacidade dos indivíduos.
Isso parece, no mundo de hoje, impossível. Dir-se-á, em oposição a essa
idéia, que o filho de um alto funcionário público não deve ser operário, porque
é superior a não importa que filho cujos pais foram operários. Isso está de
acordo com a idéia que hoje se faz do trabalho manual. Por isso, o Estado
nacionalista deve se esforçar por modificar a atual concepção do trabalho. Se
necessário, mesmo por uma educação secular, deve o Estado acabar com o desprezo
pela atividade física e valorizar os homens não pela sorte de trabalho que
desempenham mas pela forma e vantagens de sua atuação.
Isso poderia parecer extravagante em uma época em que os escrevinhadores
mais sem espírito, somente porque manejam com a pena, valem mais do que os
melhores profissionais.
Essa falsa valorização, não tem fundamento natural, mas é conseqüência da
educação, e não existia outrora. Essa situação artificial é sintoma da super
materialização de nossos tempos.
Todo trabalho tem um duplo valor, um material e um ideal. O valor material
reside na importância do trabalho realizado, que se avalia pela sua significação
em relação à coletividade. Quanto maior for a utilidade coletiva de um
determinado trabalho, tanto maior será o seu valor. Isso se verifica também
quanto à avaliação material do trabalho individual, isto é, quanto ao salário. O
valor do trabalho puramente material está em função do ideal. O valor material
depende da sua necessidade; embora a utilidade material de uma descoberta possa
ser maior do que a de um serviço doméstico de todos os dias, todos vêem no mesmo
plano a importância de ambos esses serviços, desde que cada indivíduo, na sua
esfera, qualquer que ele seja, trate de se esforçar por cumprir o seu dever da
melhor maneira possível.
Por esse critério, é que se deve medir o valor de um homem e não pelo que
ele ganha.
Assim, é dever do Estado assegurar a cada um a atividade que corresponda à
sua capacidade, ou, em outras palavras, aperfeiçoar os indivíduos capazes para
os trabalhos que lhes estão reservados. A capacidade não é, porém, somente
conseqüência da educação; é uma qualidade mata, um presente da natureza e não
constitui um mérito para o indivíduo. A avaliação pela coletividade não pode ser
feita pela natureza desse trabalho, que é produto tanto de qualidades trazidas
do berço como de outras adquiridas pela educação. A medida do valor de um homem
depende da maneira por que ele cumpre a missão que lhe confiou a coletividade. O
trabalho não é a finalidade da existência humana, mas apenas um meio para
garanti-la. O homem deve continuar a educar-se, a enobrecer-se, mas isso só será
possível dentro do quadro de uma cultura geral, cujo fundamento deve ser sempre
o Estado. Para a conservação desse Estado, ele deve trazer a sua contribuição. A
forma dessa contribuição é determinada pela natureza, cabendo ao homem, por sua
diligência e honestidade, restituir à coletividade o que esta lhe deu. A
recompensa material deve depender da utilidade coletiva do trabalho. As forças
de que a natureza dotou os indivíduos e a coletividade aperfeiçoou devem ser
consagradas ao interesses geral. Não deve ser considerado uma vergonha ser um
modesto trabalhador. Vergonha é ser um empregado incapaz que rouba o pão ao
povo, é perfeitamente compreensível, porém, que não se pode exigir de um
indivíduo uma determinada tarefa, sem que ele, de inicio, tenha sido educado
para executá-la.
A sociedade de hoje, está, porém, promovendo a sua própria ruína. Ela
introduz o sufrágio universal, tagarela sobre igualdade de direitos, não
encontra, porém, fundamentos para essa doutrina. Vê na recompensa material a
expressão do valor do indivíduo, demolindo assim as bases da mais nobre
igualdade que pode existir. A igualdade não consiste e não pode consistir nas
realizações humanas em si mesmas, mas é possível na forma por que cada homem
cumpre suas obrigações, só assim, se pode, no julgamento de valor do indivíduo,
pôr de lado as diferenças da natureza, podendo, então, cada um forjar o seu
próprio valor.
Nos tempos de hoje, em que todos os grupos humanos só se sabem apreciar
pelos salários, não pode haver um entendimento a esse respeito. Isso não é,
porém, motivo para que renunciemos às nossas idéias. Ao contrário. Quem quiser
salvar esse mundo apodrecido deve ter a coragem de mostrar as causas primárias
desse mal. A preocupação do movimento nacional-socialista deve ser esta:
desprezando todos os preconceitos burgueses reunir e coordenar todas as forças
capazes de ser aproveitadas como pioneiros da nova doutrina universal.
Certamente levantar-se-á a objeção de que, na maioria dos casos, é difícil
fazer distinção entre o valor material e o ideal e que o menor apreço do
trabalho seria ocasionado justamente pelo menor salário. Esse pequeno apreço é,
por sua vez, a causa da menor participação dos indivíduos nas riquezas culturais
da nação. Assim, é prejudicada a cultura ideal dos homens, que nada tem que ver
com o seu trabalho. A vergonha que se sente pelo trabalho material reside nisso:
como conseqüência dos pequenos salários, desce o nível cultural do operário e
com isso se justifica o menor valor em que é tida a sua atividade.
Nisso há muita verdade. Justamente por esse motivo, é que, de futuro, se
deve evitar uma grande disparidade de salários. Não se argumente que, assim, o
resultado do trabalho individual seria menor. Seria o mais deplorável sintoma da
decadência de uma época se o estímulo para as mais altas realizações espirituais
dependesse apenas de altos salários. Se esse ponto de vista fosse até hoje o
único, então a humanidade não teria nunca alcançado as suas grandes realizações
no domínio da ciência e da cultura. As maiores invenções, as maiores
descobertas, os trabalhos que mais revolucionaram a ciência, os esplêndidos
monumentos da cultura humana, não surgiram da caça do dinheiro. Ao contrário, a
sua origem coincide, não raramente, com a renúncia aos bens terrenos.
É possível que o dinheiro se tenha tornado o poder dominante na vida de
hoje, mas um dia virá em que os homens venerarão outros deuses, de mais
elevação.
Muita coisa hoje deve sua existência à ânsia pelo dinheiro e pelo poder,
mas nisso está incluído pouca coisa, cujo desaparecimento deixaria a humanidade
mais pobre. E uma das finalidades do nosso movimento anunciar que virá um tempo
em que se dará ao indivíduo o que ele precisa para viver, mantendo-se, porém, o
princípio de que o homem não deve viver somente para a satisfação de prazeres
materiais. Isso se realizará, de futuro, com uma sábia graduação de salários que
permita a cada trabalhador honesto ter a certeza de poder viver uma vida
ordenada e digna, como homem e como cidadão.
Não se diga que isso é um ideal que não resistiria à prática e jamais
poderá ser atingido.
Nós mesmos não somos tão simplórios que acreditemos na possibilidade de se
conseguir restituir a existência a uma sociedade cheia de defeitos. Isso não nos
deve, porém, livrar do dever de combater as faltas que conhecemos, abolir as
fraquezas e lutar por um ideal. A dura realidade ocasionará somente restrições a
essa atividade. Por isso mesmo, o homem se deve esforçar para atingir o objetivo
final. Insucessos não devem desviá-lo da sua finalidade, da mesma maneira que
não se pode renunciar à justiça somente porque na mesma se verificam erros, nem
desprezar a medicina porque as moléstias continuam a existir.
Devemos evitar dar tão pouco valor à força de um ideal. Quem, nesse
assunto, sentir-se desalentado, deve lembrar-se, se já foi soldado, de um tempo
cujo heroísmo era representado pela certeza da força do ideal, o que, então, fez
com que os homens se deixassem morrer não foi a preocupação de ganhar o pão
quotidiano, mas o amor da Pátria, a fé na sua grandeza, o sentimento geral da
honra da nação. Somente quando o povo alemão afastou-se desse ideal, para seguir
as promessas da Revolução e trocou as armas pela sacola é que alcançou o
desprezo geral e a miséria.
É absolutamente necessário que se ponha, diante das vistas dos homens
práticos da República "realista" de hoje, um Estado ideal.
CAPÍTULO III - CIDADÃOS E "SÚDITOS" DO ESTADO
A instituição que hoje erroneamente é designada pelo nome de Estado
reconhece apenas duas sortes de indivíduos: cidadãos e estrangeiros. Cidadãos
são aqueles que, pelo nascimento ou pela naturalização, gozam dos direitos de
cidadania; estrangeiros são todos os que gozam idênticos direitos em seus
respectivos países. Entre esses há os que se podem denominar "cometas", que não
pertencem a nenhum Estado e que, por isso, não têm o direito de cidadania.
Hoje, o direito de cidadania é adquirido, em primeiro lugar, por se ter
nascido dentro das fronteiras de um determinado Estado. A raça e a nacionalidade
nada têm a ver com isso. O filho de um negro que viveu em um protetorado alemão
e que está domiciliado na Alemanha é automaticamente cidadãos do Estado alemão.
Do mesmo modo, qualquer filho de judeu, de polonês, de africano ou de asiático,
pode, sem maiores dificuldades, tornar-se cidadão alemão.
Além da naturalização pelo nascimento existe a possibilidade da
naturalização posterior. Essa naturalização está condicionada a várias
exigências, como sejam, por exemplo, as seguintes. O candidato, quando possível,
não será um arrombador de portas ou cáften, não será suspeito à polícia, não
tomará parte em política, isto é, será um imbecil e, finalmente, não incomodará
a sua nova pátria. Naturalmente, o mais importante nesta época de realismo é a
situação financeira do candidato. É uma recomendação importante apresentar-se
como um presumível futuro contribuinte para apressar a aquisição do direito de
cidadania nos tempos atuais.
Argumentos de raça de nada valem nesse caso.
Todo o processo para adquirir o direito de cidadania em nada difere daquele
por que se consegue entrar em um clube de automóveis, por exemplo. O candidato
faz seu requerimento e, um dia, por meio dum escrito, chega ao seu conhecimento
a notícia de que está considerado cidadão alemão, o que se revestia ainda de uma
forma pândega. Participava-se ao catre em questão que "ele com aquela
comunicação se tinha tornado cidadão alemão".
Esse passe de mágica preparava um presidente da República. O que os céus
não podem fazer consegue-o o mais humilde empregado, enquanto o diabo esfrega um
olho. Com uma simples penada, um criado mongol transforma-se, como por encanto,
em alemão da melhor espécie!
O pior é que não só ninguém se preocupava com a raça do candidato como não
se cogitava também da sua saúde.
Um indivíduo, por mais roído de sífilis que esteja, é recebido pelo Governo
de hoje como cidadão alemão desde que, economicamente, não crie problemas
financeiros ou caracterize uma ameaça política.
O cidadão alemão distingue-se do estrangeiro porque lhe são abertas as
portas para os empregos públicos, porque, eventualmente, está sujeito ao serviço
militar e pode votar e ser votado nas eleições. Nisso está toda a diferença.
Quanto à proteção dos direitos pessoais e da liberdade, a situação dos
estrangeiros é a mesma dos alemães e, às vezes, melhor Pelo menos é isso que
acontece na República Alemã de hoje.
Sei que ninguém gosta de ouvir essas verdades, mas o que é incontestável é
que dificilmente se poderá encontrar no mundo uma legislação tão insensata, tão
louca como a nossa.
Há um país em que, pelo menos, se notam fracas tentativas para melhorar
essa legislação. Naturalmente não me refiro à nossa modelar República Alemã mas
ao Governo dos Estados Unidos da América do Norte, onde se está tentando, embora
por medidas parciais, pôr um pouco de senso nas resoluções sobre este assunto.
Eles se recusam a permitir a imigração de elementos maus sob o ponto de
vista da saúde e proíbem absolutamente a naturalização de determinadas raças.
Assim começam lentamente a executar um programa dentro da concepção racista do
Estado.
O Estado nacionalista divide seus habitantes em três classes: cidadãos,
súditos e estrangeiros.
Só o nascimento dá, em princípio, o direito de cidadania. Não dá, porém, o
direito de exercer cargo público ou tomar parte na política, para votar ou ser
votado.
Quanto aos chamados súditos, a raça e a nacionalidade terão sempre que ser
declaradas. A esses é livre passarem dessa situação à de cidadãos do país,
dependendo isso da sua nacionalidade.
O estrangeiro é diferente do súdito no fato de ser súdito em um país
estrangeiro.
O jovem súdito da nação alemã é obrigado a receber a educação que se
ministra a todos os alemães. Ele se submete assim à mesma educação dos
nacionais. Mais tarde ele tem que se submeter à educação física oficial e,
finalmente, entra para as fileiras do exército. O serviço militar é obrigatório.
Deve abranger todos os alemães, a fim de prepará-los, física e espiritualmente,
para as possíveis exigências militares.
Depois do serviço militar, aos jovens, inteiramente sadios, com solenidade
será concedido o título de cidadão. Esse será o mais importante documento para
toda a sua vida. Ele entra na posse de todos os direitos e goza de todas as
vantagens daí decorrentes. É preciso que se faça a diferença entre os que
concorrem para a existência e grandeza da nação e os que residem no país apenas
para ganhar a vida.
A concessão do título de cidadão exige um solene juramento em relação à
coletividade e ao Estado.
Nesse título deve ser inscrito: Deve ser uma honra maior ser varredor de
rua em sua Pátria do que rei em país estrangeiro.
O cidadão alemão é privilegiado em relação ao estrangeiro. Essa honra
excepcional também implica em deveres. O indivíduo sem honra, sem caráter, o
criminoso comum, o traidor da Pátria, etc., pode, em qualquer tempo, ser privado
desses direitos. Torna-se, então, súdito, novamente.
As jovens alemãs são súditas e só se tornam cidadãs depois de casadas. À
mulher, porém, que vive do seu trabalho honesto, pode ser concedido o titulo de
cidadã.
CAPÍTULO IV - PERSONALIDADE E CONCEPÇÃO DO ESTADO NACIONAL
Se o Estado nacional socialista e racista tem como sua mais importante
finalidade a formação e educação do povo, como esteio do mesmo, é óbvio que não
basta somente favorecer os elementos raciais em si, educá-los para a vida
prática. Faz-se necessário também que a sua própria organização seja
estabelecida em harmonia com esse objetivo.
Seria loucura querer medir o valor dos homens pela raça, e, ao mesmo tempo,
declarar guerra ao princípio marxista segundo o qual "um homem é sempre igual a
outro", se não estivermos resolvidos a tirar daquele axioma todas as
conseqüências. A última conseqüência do reconhecimento da importância da questão
do sangue, isto é, do fundamento do problema racial, deve consistir em levar aos
indivíduos essa convicção. Assim como eu devo estabelecer a diferença entre os
povos pela raça a que pertencem, assim também devem fazer os indivíduos dentro
de uma determinada coletividade. A afirmação de que os povos não são iguais
provoca nos indivíduos de uma nação a idéia de que nem todas as cabeças são
iguais, porque, também nesse caso, embora as partes essenciais sejam semelhantes
nas linhas gerais, nos casos individuais notam-se milhares de pequenas
diferenças.
A primeira conseqüência desse modo de encarar o problema é também a mais
elementar. Refiro-me ao trabalho de favorecer, no seio da coletividade, os
elementos de mais valor sob o ponto de vista racial e cuidar sobretudo de sua
alimentação.
Mais fácil torna-se essa tarefa, justamente porque pode ser quase
mecanicamente compreendida e resolvida. Mais difícil é, porém, descobrir, no
seio da coletividade, os indivíduos de mais valor sob o ponto de vista
intelectual e ideal e sobre eles exercer uma influência que ponha esses
espíritos superiores a serviço da nação.
Esse movimento no sentido de estimular a inteligência e a capacidade não se
pode fazer mecanicamente, é um trabalho que depende da luta diária pela vida.
Uma concepção social que se propõe, pondo de lado os pontos de vista
democráticos das massas, a entregar a terra aos melhores, aos tipos mais
elevados, não deve logicamente estimular, no seio do povo, o princípio
aristocrático, mas assegurar a direção aos mais capazes, para que esses possam
exercer a mais elevada influencia sobre esse mesmo povo. Esse trabalho não se
pode fundar sobre o princípio da maioria mas deve ser alicerçado no
reconhecimento do valor da personalidade. Quem quer que hoje acredite que um
Estado nacional-socialista-racista pode diferenciar-se dos outros Estados, com a
aplicação de meios puramente mecânicos, pela melhoria da vida econômica, etc.,
isto é, por uma melhor distribuição da riqueza, por um maior controle no
processo econômico, por salários mais compensadores, pelo combate às grandes
desproporções dos mesmos, quem assim pensar, repetimos, encontrar-se-á em um
absoluto impasse e provará não ter a mais leve idéia do que entendemos por uma
verdadeira concepção do mundo. Por esses processos acima aludidos, não se
chegará nunca a reformas profundas e radicais e de efeitos duradouros, porque
essa maneira de agir toca apenas a superfície das coisas sem preparar para o
povo uma situação que lhe dê uma segurança definitiva de poder vencer as
fraquezas, de que hoje todos sofremos.
Para mais facilmente compreender-se essa verdade, é oportuno, mais uma vez,
lançar uma vista sobre as causas primárias da evolução da cultura humana.
O primeiro passo que, visivelmente, levou o homem a distinguir-se do resto
dos animais foi o que o arrastou a fazer descobertas. Essas descobertas
consistiam, no primeiro momento, na astúcia, cujo emprego facilitou a luta pela
vida contra os outros animais e o êxito na mesma.
Essas descobertas primitivas não se apresentam claramente no espírito das
pessoas, porque o observador de hoje as vê apenas em massa. Certos artifícios e
espertos expedientes que o homem pode observar nos animais aparecem simplesmente
como um fato natural. Não estando, por isso, em condições de determinar ou
investigar suas causas primárias, contenta-se em considerar essas qualidades
como instintivas.
Em nosso caso, essa última palavra nada significa.
Quem acredita em uma evolução mais elevada da vida deve admitir que todas
as manifestações dessa luta pela existência devem ter tido um começo. Em dado
momento, um indivíduo praticou uma determinada ação. Por força da repetição,
esse fato se foi tornando cada vez mais geral até, de certo modo, passar para o
subconsciente dos indivíduos e ser visto como instintivo.
Isso se compreenderá mais facilmente em relação aos homens. Seus primeiros
atos de inteligência na luta contra os outros animais foram, com certeza, na sua
origem, atos praticados sobretudo pelos indivíduos mais capazes. As qualidades
pessoais foram, incontestavelmente, o estímulo para as decisões e realizações
que, mais tarde, foram aceitas como naturais por toda a humanidade. Da mesma
maneira, a confiança na sua própria força, fundamento atual de toda estratégia,
foi, originariamente, devida a uma determinada cabeça e, só com o correr de
muitos anos, talvez milhares, passou a ser aceita por toda gente como
perfeitamente compreensível.
O homem completou essa primeira descoberta com uma segunda. Aprendeu outras
coisas, outros processos, que pôs a serviço da sua luta pela subsistência. Com
isso começou a atividade criadora, cujos resultados vemos por toda parte. Essas
invenções materiais, que começaram pelo emprego da pedra como arma, que levaram
à domesticação dos animais. e, através de criações artificiais, deram ao homem o
fogo e, assim por diante, até as múltiplas e espantosas descobertas de nossos
dias, são evidentemente devidas à iniciativa individual, o que se torna claro se
examinarmos as descobertas de hoje, sobretudo as mais importantes, as que mais
impressionam.
Todas as invenções que vemos em torno de nós foram o resultado do poder
criador e da capacidade do indivíduo e todas elas, em última análise,
concorreram para elevar, cada vez mais, o homem acima do nível dos outros
animais, distanciando-o dos mesmos em progressão sempre crescente.
O que, de começo, era apenas simples artifício para auxiliar os caçadores
da floresta na sua luta pela existência, serve agora, sob a forma das brilhantes
descobertas científicas dos tempos atuais, a auxiliar a humanidade nas lutas do
presente e a forjar as armas para os embates futuros.
Todo pensamento humano, todas as invenções, em seus últimos efeitos.
servem, em primeiro lugar, para facilitar a luta do homem pela vida neste
planeta, mesmo quando a utilidade real de uma descoberta ou de uma profunda
concepção científica passa despercebida no momento. Enquanto tudo isso auxilia o
homem a elevar-se acima do nível das criaturas que o cercam, ele fortifica cada
vez mais a sua posição, tornando-se, a todos os respeitos, o rei da criação.
Todas as descobertas são, pois, a conseqüência do poder criador do
indivíduo. Todos esses inventores constituem, quer se queira quer não, os
maiores ou menores benfeitores da humanidade. Sua atuação proporciona a milhões
de homens, meios de subsistência e recursos posteriores para a facilitação da
luta pela vida.
Se, na origem da civilização material de hoje, vemos sempre personalidades
que se completam umas às outras e sempre realizam novos progressos, o mesmo
acontece na execução e aperfeiçoamento das coisas descobertas. Os vários
processos de produção, em última análise, são sempre obras de determinados
indivíduos. O trabalho puramente teórico que, em relação a cada pessoa,
dificilmente se pode medir, e que representa a condição indispensável para todas
as descobertas posteriores, até esse trabalho é produto individual. As massas
nunca inventam, nunca organizam ou pensam por si. No início de tudo está sempre
uma atividade individual.
Uma coletividade humana só é bem organizada quando facilita, por todos os
modos possíveis, o trabalho desses elementos criadores e utiliza-os em benefício
da comunidade.
O que há de mais importante em matéria de invenções, quer se trate de
invenções de ordem material quer de descobertas no mundo do pensamento, é sempre
o fruto da força criadora de um indivíduo.
Utilizá-las em benefício da coletividade é a primeira e a mais elevada
tarefa da organização social, que deve ser apenas o desenvolvimento desse
princípio. Por isso deve livrar-se da praga da orientação mecânica para
transformar-se em uma organização viva. Deve ser, em si mesma, a corporificação
do esforço para pôr os valores individuais acima das massas e subordinar essas
àqueles.
Essa organização não deve impedir que os valores individuais surjam do seio
das massas, mas, ao contrário, por uma ação consciente, deve promover essa
evolução facilitando-a por todos os meios possíveis. Deve partir do princípio de
que a prosperidade do gênero humano nunca é devida às massas, mas às cabeças
criadoras, que, por isso, devem ser vistas como benfeitoras da espécie.
Facilitar-lhes a mais vasta influência está no interesses da coletividade.
Esse interesses nunca será atendido pela dominação das massas incapa7es mas
Cinicamente pela direção das almas privilegiadas pela Natureza. A áspera luta
pela vida, mais do que qualquer outra causa, concorre para o aparecimento dos
indivíduos superiores. Nessa luta muitos sucumbem, não resistem às provas, e, no
fim, somente poucos aparecem como os escolhidos.
Nos domínios do pensamento, das criações artísticas e até nos da economia,
ainda hoje esse processo de seleção se verifica sempre, embora. no terreno
econômico, encontre grandes obstáculos.
A administração do Estado e o poder das nações representado pela sua
capacidade guerreira são dominados pelo princípio do valor pessoal. Nesse setor
domina a idéia da personalidade, a autoridade desta em relação aos que estão
embaixo e a responsabilidade dos que estão em cima.
A vida política de hoje tem cada vez mais abandonado esse princípio
natural. Enquanto toda a cultura humana não passa de uma conseqüência da
atividade criadora do indivíduo, na comunidade em geral e especialmente entre os
líderes da mesma, o princípio da maioria pretende ser a autoridade que decide e
começa gradualmente a envenenar a vida da nação, isto é, a arruiná-la.
A ação destruidora do judaísmo em vários aspectos da vida do povo, deve ser
vista como um esforço constante para minar a importância da personalidade nas
nações que os acolhem e substituí-la pela vontade das massas. O princípio
orgânico da humanidade ariana é substituído pelo princípio destruidor dos
judeus. Assim se torna o judaísmo um "fermento de decomposição" dos povos e
raças e, em sentido mais vasto, de ruína da cultura humana.
O marxismo aparece como a tentativa dos judeus para enfraquecer, em todas
as manifestações da vida humana, o princípio da personalidade e substituí-lo
pelo prestígio das massas. Em política, o marxismo tem. a sua forma de expressão
no regime parlamentar cujos efeitos sentimos desde as menores células da
comunidade até as posições mais eminentes do Reich. No que diz respeito à
economia, o efeito disso é o estabelecimento de uma organização que, na
realidade, não serve aos interesses do proletariado mas aos propósitos
destruidores do judaísmo internacional.
A proporção que a economia se subtraia à atuação do princípio da
personalidade, e, em lugar do mesmo, se instalava a influência: ,das massas,
perdia a oportunidade de ter a seu serviço todas as capacidades reais e entrava
em decadência inevitável.
Todas as organizações industriais que, em vez de atenderem aos interesses
dos seus empregados, procuram ter influência sobre a própria produção, servem a
esses mesmos objetivos destruidores da economia. São nocivos à direção da
coletividade e, em conseqüência, também aos indivíduos tomados isoladamente.
A satisfação dos interesses dos membros de uma coletividade, em última
análise, não é a conseqüência de meras frases teóricas, mas, sobretudo, de uma
segurança que no indivíduo se oferece a respeito das necessidades da vida diária
e a convicção definitiva daí resultante de que a direção geral de uma
coletividade deve atender aos interesses dos indivíduos.
Pouco importa que o marxismo, no terreno da sua teoria das massas, aparente
capacidade para tomar sob a sua direção e desenvolver a economia existente no
momento. A crítica sobre a justiça ou injustiça desse princípio não será
determinada pela prova de sua aptidão para preparar o presente para o futuro,
mas pela prova de sua capacidade para criar uma cultura. Mil vezes poderia o
marxismo assumir a direção da economia e deixá-la progredir, o êxito dessa
atividade nada provaria contra o fato de não estar o mesmo em condições de, pelo
emprego do princípio das maiorias, criar essa cultura.
O próprio marxismo deu disso uma prova prática. Não só nunca pôde, em parte
alguma, criar uma cultura, ou mesmo um sistema econômico próprios, como também
jamais conseguiu desenvolver um sistema já existente, de acordo com os seus
princípios. Ao contrário, depois de curto espaço de tempo, é forçado a voltar
atrás e fazer concessões ao princípio da personalidade que não pode negar nem
mesmo nas suas próprias organizações.
A concepção racista deve ser completamente diferenciada desde que aquela
reconhece não só o valor da raça como o do próprio indivíduo, duas colunas sobre
que deve repousar todo o edifício. Esses são os fatores básicos na sua maneira
de encarar o mundo.
Se o movimento nacional-socialista não compreendesse a importância
fundamental dessa verdade, mas, ao contrário, em vez disso, procurasse pôr
remendos ao Estado atual e visse no ponto de vista das massas um ponto de vista
seu próprio, transformar-se-ia em um partido de concorrência ao marxismo. Não
teria, então, o direito de falar em uma nova doutrina.
Se o programa social do novo movimento consistisse somente em suprimir a
personalidade e pôr em seu lugar a autoridade das massas, o Nacional-Socialismo,
já ao nascer, estaria contaminado pelo veneno do marxismo, como é o caso dos
partidos burgueses.
O Estado nacionalista racista tem que cuidar do bem-estar dos seus
cidadãos, em tudo em que reconhecer o valor da personalidade, e, assim,
introduzir, em todos os campos de atividade, aquela produtiva capacidade de
direção que só ao indivíduo é concedida.
O Estado nacionalista deve trabalhar infatigavelmente para libertar o
Governo, sobretudo os altos postos de direção, do princípio parlamentar da
maioria, para assegurar, em seu lugar, a indiscutível autoridade do indivíduo.
Dai resultam as seguintes noções:
A melhor forma de Governo e de constituição é aquela que, com a mais
natural firmeza, eleva aos postos de comando, de maior influência, as melhores
cabeças de uma coletividade.
Como na vida econômica os homens mais capazes não provêm de cima mas têm
que abrir o seu próprio caminho lutando e nessa luta recebem as lições da
experiência, tanto em pequenos negócios como nas grandes empresas, não podem,
por isso, as cabeças de valor político ser descobertas de um momento para outro.
Na sua organização, o Estado, desde os lugares mais modestos até aos postos
mais elevados da coletividade, deve basear-se no princípio da personalidade.
Não deve haver maiorias tomando decisões mas sim um corpo de pessoas
responsáveis. A palavra "Conselho" reverterá assim à sua antiga significação.
Cada um poderá ter conselheiros a seu lado, mas a decisão caberá sempre a uma
pessoa.
A razão porque o exército prussiano se pode transformar em um admirável
instrumento de grandeza do povo alemão é que, em sentido figurado, ele
representava o edifício de nossa organização nacional: autoridade e
responsabilidade.
Não nos poderemos passar, mesmo então, dessas corporações que designamos
sob o nome de parlamento. A diferença ó que seus Conselhos serão verdadeiramente
conselhos, mas a responsabilidade recairá sempre sobre uma só pessoa, a única
que tem autoridade e o direito de dar ordens.
Os parlamentos em si são necessários, antes de tudo porque neles têm
oportunidade de se afirmar os valores individuais, a que, mais tarde, se podem
confiar missões de responsabilidade.
Resulta o seguinte:
O Estado racista, em nenhum dos setores, terá um corpo de representantes
que possa resolver por meio da maioria de votos, mas apenas Conselhos
consultivos que auxiliam o chefe escolhido e, por intermédio desse, tomarão
parte nos trabalhos e, de acordo com as necessidades, aceitarão
responsabilidades incondicionais, nas mesmas condições em que age o chefe ou
presidente nas grandes questões.
O Estado racista não tolera que homens cuja educação ou ocupação não lhes
tenha proporcionado conhecimentos especiais, sejam convidados a dar conselhos ou
a julgar, o corpo representativo do Estado será dividido em comitês políticos e
comitês profissionais permanentes.
A fim de obter uma cooperação vantajosa entre os dois haverá sobre eles um
Senado permanente. Mas nem o Senado nem a Câmara terão poderes para tomar
resoluções; eles são designados para trabalhar e não para decidir. Os seus
membros individuais podem aconselhar mas nunca resolver. Essa prerrogativa é da
competência exclusiva do presidente responsável do momento.
Esse princípio de absoluta aliança da responsabilidade com a autoridade
pouco a pouco tornará possível a escolha de um líder, o que, hoje, é
absolutamente impossível em face da irresponsabilidade do parlamento.
Então a constituição política da nação será posta em harmonia com a lei a
que esta já deve a sua grandeza nos domínios da cultura e da economia.
No que diz respeito à possibilidade de pôr em prática essa doutrina, devo
lembrar que nem sempre o princípio da maioria de Votos dos parlamentos
democráticos governou o mundo. Ao contrário, esse princípio só é encontrado em
pequenos períodos da história e esses são sempre períodos de decadência das
nações ou dos Governos.
Em todo caso, ninguém imagine que providências puramente teóricas, partidas
de cima, possam provocar essa mudança, desde que, logicamente, a mesma não se
pode limitar à constituição de um Estado mas toda a legislação e, na realidade,
toda a vida da nação, devem por ela ser influenciadas.
Uma tal revolução só poderá e só virá a realizar-se por meio de um
movimento inspirado naquela idéia e que traga em si a semente do novo Estado.
Assim o movimento nacional socialista hoje deve-se identificar com aquela
idéia e pô-la em prática em sua organização própria, de maneira que não só possa
guiar o Estado no bom caminho mas também preparar todo o corpo da nação, assim
melhorada, a receber a nova ordem de coisas.
CAPÍTULO V - CONCEPÇÃO DO MUNDO E ORGANIZAÇÃO
O Estado nacionalista, que tentei pintar em linhas gerais, não surgirá
apenas do conhecimento das suas necessidades. Não basta saber que aspecto um tal
Estado deverá assumir. Muito mais importante é o problema da sua formação. Não
se pode esperar que os partidos atuais, que são os maiores aproveitadores do
Estado, mudem de atitude por sua própria iniciativa. Isso é absolutamente
impossível, uma vez que seus verdadeiros chefes são todos judeus.
A evolução por que passamos terminará um dia, se não lhe opusermos
obstáculos, nesta, profecia judaica: o judeu, na realidade, devorará os povos da
terra e tornar-se-á senhor dos mesmos.
Perfeitamente consciente dos seus objetivos, o judeu defende-os de maneira
irresistível, nas suas relações com milhões de alemães proletários e burgueses,
os quais caminham para a destruição, principalmente devido á sua covardia,
aliada à indolência e à estupidez.
Os partidos sob a sua direção não podem fazer outra coisa que não seja
combater por seus interesses e nada têm de comum com o caráter das nações
arianas.
Se se deve fazer uma tentativa para realizar o ideal de um Estado
nacionalista, devem ser postos de parte os que agora controlam a vida pública e
deve-se procurar uma nova força resoluta e capaz de tomar a si a luta por esse
ideal.
A primeira tarefa nesse combate não é a criação de uma nova concepção do
Estado, mas a remoção das concepções judaicas atuais. Como acontece
freqüentemente na história, a principal dificuldade não está em encontrar os
moldes do novo estado de coisas mas em abrir caminho para instalá-los.
Preconceitos e interesses dispõem-se em falanges cerradas procurando evitar por
todos os meios a vitória de uma nova idéia que vejam como desagradável e
ameaçadora.
Por isso, o combatente por um novo ideal dessa natureza é infelizmente
forçado, de maneira veemente, a começar a luta pela parte negativa que deve
terminar pela remoção das instituições em vigor.
A primeira arma de uma nova doutrinação que se inspire em grandes
princípios, por mais que isso possa desagradar a certos indivíduos, deve ser o
exercício da mais forte critica contra aqueles que estão na liderança da
sociedade.
De observações superficiais sobre a história dos povos costuma-se chegar à
conclusão de que a evolução dos mesmos, de nenhum modo, é devida à crítica
negativa mas ao trabalho construtivo. Essa cegueira "popular", infantil e sem
sentido, é uma prova de como, nessas cabeças, até os acontecimentos dos dias de
hoje passaram sem deixar vestígios.
O marxismo possui um objetivo e também conhece a atuação construtora
(somente, porém, quando se trata de estabelecer o despotismo do capitalismo
internacional judeu), mas nem por isso ele deixou de exercer a critica, durante
sessenta anos, aliás uma crítica demolidora e dissolvente que se prolongou até
que o antigo Estado, corroído pelo acido dessa crítica, foi arrastado à ruína.
Só então, começou o seu chamado peno. do "construtivo". Isso era compreensível,
justo e lógico. Uma situação existente não pode ser posta à margem pela simples
anunciação de um novo estado de coisas. Não é admissível que os adeptos ou
interessados na manutenção do statu quo se convertessem ao novo movimento
simplesmente porque se proclamasse a sua necessidade. Ao contrário, acontece
freqüentemente que as duas situações continuam uma ao lado da outra e, então, a
chamada concepção do mundo transforma-se em partido, não podendo jamais
elevar-se acima do nível das facções.
Uma doutrina universal é sempre intolerante e não se contenta em
representar o papel de um "partido ao lado dos outros", mas insiste em ser por
todos reconhecida e em impor uma nova maneira de encarar a vida pública, de
acordo com os seus pontos de vista. Por esse motivo, não pode tolerar a
continuação de uma força representando a situação anterior,
O mesmo acontece com as religiões.
O cristianismo não se satisfez em erigir os seus altares, mas viu-se na
contingência de proceder à destruição dos altares dos pagãos. Só essa fanática
intolerância tornou possível construir aquela fé adamantina que é a condição
essencial de sua existência.
Pode-se fazer a objeção de que, na história da humanidade, esse fato é
característico do modo de pensar dos judeus e que a intolerância e o fanatismo
são a sua razão de ser. Essa objeção pode ser muito justa e pode-se até lamentar
essa realidade e constatá-la com tristeza na história humana. Isso, porém, não
impede que ainda hoje se verifique o mesmo fenômeno.
Os homens que querem salvar o nosso povo da atual situação não devem
quebrar a cabeça sobre se as coisas se deveriam passar dessa ou daquela maneira,
mas devem tentar os meios para demover os obstáculos do presente.
Uma doutrina universal que se caracteriza por sua infernal intolerância só
será destruída por outra inspirada no mesmo espírito, mantida pela mesma vontade
de ferro, baseada, porém, em idéias mais puras e mais verdadeiras.
Cada um pode hoje, com tristeza, constatar que, no tempo antigo, de muito
mais liberdade, o primeiro terror espiritual se verificou por ocasião do
aparecimento do cristianismo. Não se contestará, porém, o falo de que o mundo,
desde aquele tempo, foi torturado e dominado por essa intolerância e que só se
vence um terror com outro terror. Só, então, pode-se iniciar a obra de
construção.
Os partidos políticos estão sempre prontos a assumir compromissos, ao
contrário do que acontece com as concepções universais. Aquelas entram em acordo
com os seus adversários, essas proclamam-se infalíveis.
Os partidos políticos, de começo, também acariciam a esperança de exercer
uma autoridade despótica. Eles sempre apresentam ligeiros traços de uma
concepção mundial. A estreiteza dos seus programas priva-os do heroísmo que uma
doutrina universal exige. A capacidade de conciliar atrai para o seu seio os
espíritos fracos e com esses nenhuma verdadeira cruzada pode ser levada a
efeito. Assim ficam desde cedo reduzidos às suas mesquinhas proporções. Por
isso, não tentam a luta por uma renovação de concepções, mas, em vez disso, por
uma "colaboração positiva", visam apenas conquistar um lugarzinho na gamela das
comidas e ai permanecer por muito tempo. Nisso consiste todo o seu esforço.
Quando, por um forte e inteligente concorrente à pensão, eles são expulsos
da manjedoura, concentram toda sua inteligência e esforços para, por meio da
força ou da astúcia, de novo entrar nas primeiras filas dos seus companheiros
famintos, e, embora com o sacrifício das suas mais sagradas convicções, gozar as
delícias das comidas.
Chacais da política!
Como uma doutrina mundial nunca entra em acordo com uma segunda, assim
também não poderá colaborar em uma situação pela mesma condenada, mas, pelo
contrário, sente-se no dever de combatê-la e combater também todas as idéias
adversas, preparando, assim, a derrocada das mesmas.
Logo que essa campanha demolidora, cujo perigo por todos será imediatamente
reconhecido, encontrando por isso resistência geral, inicia também sua ação
positiva, destinada a assegurar o êxito das novas idéias, então fazem-se
necessários lutadores resolutos. Um tal movimento só levará à vitória as suas
idéias se ao mesmo se unirem os mais corajosos e mais eficientes elementos do
momento, em uma organização com capacidade para a luta. Para isso é, porém,
indispensável que essa organização, tomando em consideração esses elementos,
escolha certas idéias e lhes dê uma forma que, de maneira precisa e incisiva,
seja a apropriada a servir de dogma à nova sociedade.
Enquanto o programa de um novo partido político consiste apenas em uma
receita para o triunfo nas eleições, o programa de uma nova doutrina deve se
traduzir na fórmula de uma declaração de guerra contra uma ordem de coisas
existente, em uma palavra, contra as atuais maneiras de compreender o mundo.
Não é necessário que cada lutador, individualmente, tenha conhecimento
completo de todas as idéias e do processo mental dos líderes do movimento. Muito
mais necessário é que se lhe esclareçam certos pontos de vista de conjunto e as
linhas essenciais capazes de provocar um entusiasmo permanente, de maneira que
cada um se compenetre da necessidade da vitória do movimento em que está
empenhado. É o mesmo que acontece com o soldado na tropa, o qual nunca está ao
par dos altos planos estratégicos. Quanto mais é ele educado em uma disciplina
rígida, quanto maior é o seu fanatismo a respeito do direito e da força da sua
causa, tanto mais se entrega de corpo e alma à mesma. Assim acontece com o
adepto de um movimento de grandes proporções, de grande futuro e que exige
grande força de vontade.
Tão pouco valeria um exército em que os soldados fossem todos iguais aos
generais, pela sua educação e pela sua sagacidade, como um movimento político
baseado em uma, concepção mundial, que se compusesse apenas de um conjunto de
"homens de espírito". São absolutamente necessários os soldados, sem os quais
não se pode conseguir a disciplina.
Está na natureza de uma organização de combate que ela só pode subsistir se
a sua direção, inspirada em idéias elevadas, servir a - uma massa de indivíduos
que nela se enfileiram por motivos sentimentais.
Um grupo de duzentos homens, iguais quanto à capacidade intelectual, com o
tempo, seria mais difícil de disciplinar do que um de cento e no. venta homens
menos capazes e de dez tipos superiores.
Dessa verdade a social-democracia tirou outrora as maiores vantagens. Ela
se aproveitou dos que se haviam licenciado do serviço do exército, já
acostumados à disciplina e saídos das vastas camadas populares, e submeteu-os
sua rígida disciplina partidária. A sua organização se apresentava como um
exército de soldados e oficiais. Os operários que deixavam o serviço militar
eram os soldados do partido, o intelectual judeu era o oficial, os empregados de
fábricas o corpo de suboficiais.
O que a nossa burguesia sempre olhou com indiferença, isto é, a verdade
segundo a qual ao marxismo só se ligam as classes iletradas, era. na realidade,
a condição sine qua non para o êxito do mesmo. Enquanto os partidos burgueses,
na sua intelectualidade superficial, nada mais representavam do que um bando
incapaz e indisciplinado, o marxismo, com um material humano intelectualmente
inferior, formou um exército de soldados partidários que obedeciam tão cegamente
aos seus dirigentes judeus como outrora aos seus oficiais alemães.
A burguesia alemã, por julgar-se superior, nunca se preocupou seriamente
com os problemas psicológicos, não julgou necessário, nesse caso, refletir sobre
a importância desse fato e o perigo que nele se ocultava. Acreditava-se, ao
contrário, que um movimento político que se compunha de elementos recrutados nos
círculos intelectuais só por esse fato era de mais valor e tinha mais direito e
mesmo mais probabilidade de alcançar o Governo do que um simples movimento de
massas sem instrução.
Não se apercebeu de que a força de um partido político não repousa em uma
intelectualidade elevada e independente dos seus adeptos, mas sobretudo na
obediência disciplinada com que a direção intelectual assegura a vitória. Quem
decide é a própria direção.
Quando dois corpos de tropa lutam um contra o outro, não vence aquele em
que cada soldado recebeu uma perfeita educação estratégica, mas sim o que dispõe
da melhor direção e, ao mesmo tempo, das tropas mais disciplinadas, mais cegas
na sua obediência e mais treinadas. Isso é um ponto de vista fundamental que, no
cálculo das possibilidades para a conversão de uma doutrina em realidade,
devemos sempre ter em mente. Se, para levarmos essa doutrina à vitória, temos
que nos transportar ao terreno da luta, logicamente o programa do movimento deve
ter em consideração o material humano de que se pode dispor.
Quanto mais inalterável for o objetivo a ser conseguido, quanto mais
dogmáticas forem as idéias fundamentais, tanto mais psicologicamente justo deve
ser o programa de aliciamento das massas, sem o auxilio das quais as idéias mais
elevadas ficam sempre no terreno da teoria.
Para que o programa racista-nacionalista possa emergir dos vagos anseios de
hoje para tornar-se uma realidade, é preciso que se selecionem, dentro de suas
largas concepções, certas idéias mestras bem definidas que, por sua
significação, sejam apropriadas a atrair e conseguir a adesão de vastas massas
populares, justamente aquelas que podem assegurar o êxito da grande luta de
finalidade universal. Referimo-nos ao proletariado alemão.
Com esse objetivo, o programa do novo movimento foi sintetizado em vinte e
cinco proposições principais destinadas a orientar a luta. Essas teses são
destinadas, antes de tudo, a dar ao homem do povo uma idéia geral das intenções
do movimento. São por assim dizer, uma declaração de fé política, que, de um
lado, serve à causa e, do outro, visa unir em um bloco sólido os adeptos do
movimento por um compromisso por todos entendido.
Assim, não devemos nunca abandonar o seguinte aspecto da questão. Como o
programa do movimento, na sua mais alta finalidade, é absolutamente justo mas
deve atender ao momento psicológico, com o correr dos tempos, pode-se chegar à
convicção de que os indivíduos compreendem mal certas proposições e que
receberiam melhor outro programa. Toda tentativa de modificação nesse sentido é,
porém, fatal. Com isso, entregar-se-ia à discussão o que se deveria conservar
inabalavelmente firme. Uma vez que qualquer ponto do dogma político é afastado,
não se chegará a produzir um novo, melhor e mais conforme com o programa mas, ao
contrário, marchar-se-á, através de discussões sem fim, para o caos geral.
Nessa situação, deve-se sempre procurar saber o que é mais conveniente, se
uma nova fórmula, embora melhor, que ocasiona a decomposição do movimento, ou
uma que, não obstante não ser perfeita, no momento corporifica-se em uma nova
organização inquebrantável, centralizada. Do exame mais superficial ressalta a
vantagem da última hipótese. Como nessas modificações do programa trata-se
apenas de uma questão de forma, elas parecerão sempre possíveis ou desejáveis.
Devido à superficialidade dos homens, há o perigo de acabarem estes por
considerar a fórmula do programa como a finalidade real do movimento.
Diminuem, assim, a vontade e a força no combate pela idéia, e a atividade
que se devia empregar na propaganda externa gasta-se inutilmente em lutas
internas sobre questões de programa.
Tratando-se de uma doutrina sã, em suas linhas gerais, é menos prejudicial
insistir em uma determinada concepção, mesmo quando não corresponda
perfeitamente à realidade, do que tentar melhorá-la, abrindo a discussão sobre
os princípios básicos do movimento que devem ser considerados como inalteráveis.
Daí só poderão resultar as piores conseqüências, entre as quais a
impossibilidade de vitória do movimento.
Como é possível inspirar aos indivíduos a fé cega na excelência de uma
doutrina, quando modificações constantes no programa de propaganda da mesma
desenvolvem a incerteza e a dúvida?
O essencial de um movimento não está nas aparências externas mas no âmago
das suas concepções e, nesse campo, nada deve ser modificado. Devemos todos
desejar que, no seu próprio interesses, o movimento mantenha a sua força para
todos os combates, evitando qualquer iniciativa que ponha em evidência divisões
e falta de entendimento mútuo.
Também nessa questão muito se pode aprender com a Igreja Cató1ica. Apesar
de suas doutrinas estarem - aliás, sob certos aspectos, desnecessariarnente - em
muitos pontos, em colisão com a ciência exata e o espírito de investigação, a
Igreja não sacrifica uma virgula dos seus princípios. Com muita sabedoria, ela
reconheceu que seu poder de resistência não consiste em uma maior ou menor
harmonia com as conquistas científicas do momento, sempre variáveis, mas na
insistência da defesa dos dogmas que, em conjunto, expressam o caráter da fé.
Conseqüência disso é que a Igreja mantém-se mais firme do que nunca.
Pode-se profetizar que, com o tempo, cada vez conquistará maior número de
adeptos.
Quem realmente desejar com sinceridade a vitória de uma doutrina racista
deve reconhecer que, para a consecução de um tal resultado, é indispensável,
primeiro, que o movimento se revele capaz para a luta, mas só se manterá se
tiver como fundamento um programa inalterável e firme. Esse programa não deve
fazer concessões exigidas pelo espírito publico em determinado momento, mas
manter, para sempre, a fórmula julgada boa ou pelo menos até à hora da vitória.
Antes disso, provocará a desagregação qualquer tentativa que tenha por fim
modificar a finalidade de um ou outro ponto do programa e terá como conseqüência
a destruição do espírito de decisão e da capacidade para a luta, à proporção que
seus adeptos se empenham em discussões internas.
Acrescente-se a isso que uma "reforma" executada hoje, já amanhã poderia
ser destruída por novas críticas para, no dia seguinte, encontrar-se uma mais
vantajosa.
Quem entra nesse caminho, toma uma estrada livre da qual, porém, só se
conhece o começo. O ponto terminal perde-se em horizontes sem fim.
Essa importante noção deve ser utilizada pelo novo movimento
nacional-socialista. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães,
com o seu programa de vinte e cinco teses, aceitou uma base que deve ser mantida
inalterável.
A missão dos adeptos do movimento, os de hoje como os do futuro, não é
criticar e alterar essas teses essenciais mas considerar do seu dever
empenhar-se na sua defesa. Ao contrário, as próximas futuras gerações, com o
mesmo direito, dissipariam as suas forças nessa atividade interna, em vez de
atrair para o seio do partido novos adeptos, novas forças. Para a maior parte
dos nossos correligionários a essência do movimento deve estar menos na letra
das teses do que no espírito que podemos lhes emprestar.
A essa noção o novo partido deveu de inicio o seu nome, de acordo com a
mesma foi organizado o seu programa e nela se fundamenta o processo do seu
desenvolvimento. Para se conseguir a vitória das idéias racistas, deve-se
organizar um partido popular, um partido que não se componha somente de guias
intelectuais mas também de proletários.
Sem uma organização forte, qualquer tentativa para promover a realização de
idéias no seio do povo será sem conseqüências, hoje como de futuro.
Só assim o movimento terá não só o direito mas também o dever de
considerar-se como pioneiro e representante dessas idéias.
As idéias básicas do movimento Nacional Socialista são nacionalistas, assim
como as idéias nacionalistas são também do Partido Nacional Socialista. Para a
vitória do Partido Nacional Socialista é preciso que ele adira absolutamente a
essas convicções. É seu dever e direito proclamar, da maneira mais incisiva, que
é inadmissível qualquer tentativa de representar a idéia nacionalista fora dos
limites do Partido e que, na maioria dos casos, essa tentativa não passa de
embuste.
Se alguém fizer ao movimento a censura de que o mesmo age, como se tivesse
"monopolizado" a idéia racista nacionalista, deve-se-lhe dar apenas a seguinte
resposta: Não só a "monopolizou" como a criou para o seu uso.
O que até hoje existia, em matéria de organização partidária, não estava em
condições de exercer a menor influência sobre a sorte do nosso povo, pois a
todas as idéias em voga faltava uma exteriorização clara, um plano uniforme.
Tratava-se, na maioria dos casos, de noções mais ou menos justas, que não
raramente se contradiziam e que nenhuma ligação íntima tinham umas com as
outras. Mesmo, porém, que houvesse a união a que nos referimos, essas idéias,
por sua fraqueza, nunca teriam sido suficientes para, com elas, se organizar um
movimento.
Se hoje, todas as associações e pequenos grupos, e até "grandes partidos"
reclamam para si a denominação de nacionalistas, devemos ver nisso a influência
do movimento nacional-socialista. Sem a atuação deste, nunca teria ocorrido a
estas organizações nem mesmo mencionar a palavra nacionalista. Esse
qualificativo nada lhes teria sugerido. Ao mesmo tempo, essa concepção lhes
teria passado indiferente, o NSDAP, isto é, o Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães, foi o primeiro a dar um sentido a essa palavra, que hoje
tem uma significação tão vasta e que está na boca de toda gente. Nosso movimento
demonstrou, de maneira tão eloqüente, a força da idéia nacionalista, que a
ambição está forçando os outros partidos pelo menos a pretenderem possuir
aspirações iguais.
Porque eles põem tudo o serviço de suas pequenas especulações eleitorais, a
concepção nacionalista racista não passou de um estribilho oco, superficial, com
o qual os partidos tentam rivalizar com a força criadora do movimento
nacionalista-socialista.
Só a preocupação de sua própria subsistência e o receio da prosperidade de
um movimento que se faz em torno de uma nova concepção do mundo, cuja
significação eles compreenderam assim como o perigo de seu espírito
exclusivista, obriga-os a usar essa palavra que há oito anos eles não conheciam,
há sete levavam a ridículo, há seis apontavam como uma insensatez, há cinco
combatiam, há quatro odiavam, há três perseguiam, e só há dois anexaram ao resto
do seu vocabulário, para empregá-la como grito de guerra.
Ainda hoje mesmo, é fácil demonstrar que todos esses partidos não têm a
menor idéia do que é preciso ao povo alemão. A prova mais evidente disso é a
superficialidade com que compreendem a palavra "nacionalista".
Não menos perigosos são os partidos que se agitam em torno de idéias
aparentemente nacionalistas, fazem planos fantásticos, apoiados apenas em idéias
fixas que, em si mesmas, podem ser justas, mas, no seu isolamento, não têm
nenhuma significação para uma luta contínua em favor da coletividade e, muito
menos, para a construção de um novo estado de coisas.
Essa gente, que fabrica um programa de idéias próprias ou de idéias
resultantes de leituras, é geralmente mais perigosa do que os inimigos
declarados da concepção nacionalista.
Na melhor das hipóteses, são teóricos estéreis, mas, na maior parte,
palradores que se limitam a destruir e que, não raramente, acreditam que, com
suas longas barbas e ademanes ultra-germânicos, poderão disfarçar a
insignificância espiritual de sua maneira de agir, de sua capacidade.
Em contraposição a todas essas estéreis tentativas, é bom que se rememore o
tempo em que o novo partido nacional-socialista começou a sua luta.
CAPÍTULO VI - A LUTA NOS PRIMEIROS TEMPOS - A IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA
Mal tínhamos terminado o primeiro grande comício de 24 de fevereiro de
1920, na sala de festas do Hofbräuhaus e já nos preparávamos para o próximo. Até
aquele momento tinha-se como quase impossível, em uma cidade como Munique, fazer
um comício de quinze em quinze dias ou mesmo uma vez por mês. No entanto, íamos
realizar um grande mitingue por semana!
Naqueles tempos, faziamo-nos sempre esta angustiosa pergunta: O povo virá
às nossas reuniões, estará disposto a ouvir-nos? Quanto a mim, já estava
firmemente convencido de que uma vez que o povo comparecesse aos mitingues, aí
permaneceria e ouviria os oradores com atenção.
No início do movimento a sala de festas do Hofbräuhaus de Munique tinha,
para nós nacionais-socialistas, uma significação quase sagrada. Todas as semanas
ali se realizava um comício, quase sempre na mesma sala. A concorrência era cada
vez maior e a assistência cada vez mais atenta. A começar da questão de saber a
quem cabia a responsabilidade na guerra, com que ninguém mais se preocupava, até
ao tratado da paz, tudo era discutido, tudo o que de qualquer modo, fosse
necessário para a agitação em favor das nossas idéias, da nossa finalidade.
Sobretudo a critica do tratado de paz despertava grande atenção popular. Quase
tudo o que o novo movimento profetizou sobre esse assunto, junto às massas,
realizou-se depois. Hoje é fácil falar ou escrever sobre o tratado de paz.
Outrora, porém, um comício popular público composto, não de fleumáticos
burgueses, mas de operários excitados, e que tivesse por tema o tratado de
Versalhes, era considerado como um ataque à República e um sintoma de
reacionarismo, e até mesmo de tendências monárquicas. A primeira proposição
pronunciada por um crítico desse tratado era invariavelmente recebida com o
grito: "É o tratado de Brest-Litowsky?" A gritaria da multidão continuava cada
vez mais forte até atingir o auge da violência, se o orador não abandonasse a
idéia de, tentar persuadir as massas. Era de desesperar o espetáculo que então
oferecia o povo!
O povo não queria ouvir, não queria entender que o tratado de Versalhes era
uma vergonha e um opróbrio para a nação e que esse tratado de paz que nos fora
ditado traduzia-se por um verdadeiro saque. A obra de destruição do marxismo, a
sua propaganda envenenadora tinha cegado o povo. E ninguém se poderia queixar
dessa situação, tão grande era a culpa do lado dos dirigentes. Que tinha feito a
burguesia para conter essa terrível desagregação, contrariá-la e. por uma melhor
e mais inteligente propaganda, abrir o caminho para a verdade Nada,
absolutamente nada. Nunca encontrei, naqueles tempos, os grandes apóstolos de
hoje. Talvez estivessem eles fazendo conferências em reuniões familiares, em
five o' clock teas ou em outros círculos semelhantes. Não se encontravam nunca
no lugar em que deveriam estar, isto é, entre os lobos, uivando com eles.
Eu via claramente que, para o nosso movimento, então na infância, a questão
da responsabilidade da guerra deveria ser liquidada à luz da verdade histórica.
Foi uma condição sine qua non do êxito da nossa causa o ter proporcionado às
massas a - compreensão do tratado de paz. Como, naqueles tempos, todos viam
nessa paz uma vitória da Democracia, fazia-se necessário lutar contra essa idéia
e gravar na cabeça do povo para sempre o ódio contra esse tratado, para que,
mais tarde, quando essa obra de mentiras, em formas brilhantes, aparecesse na
sua dura realidade, a lembrança de nossa atitude de outrora servisse para
conquistar para nós a confiança do povo. Já naqueles tempos eu tinha tomado a
resolução de, nas importantes questões de princípio, nas quais a opinião pública
geral tinha aceito um ponto de vista falso, tomar uma atitude contrária, sem
preocupação de popularidade. O Partido Nacional Socialista não deve ser um
esbirro da opinião pública mas senhor da mesma.
Em todos os movimentos ainda em inicio, sobretudo nos momentos em que um
adversário mais poderoso, com a sua arte de sedução, conseguiu arrastar o povo a
alguma lunática revolução ou a tomar uma posição falsa, nota-se uma forte
tentação para agir e gritar com as multidões, especialmente quando há algumas
razões, mesmo ilusórias, para assim agir do ponto de vista do partido.
A covardia humana procura com tanto ardor essas razões que quase sempre
encontrará alguma coisa que ofereça uma aparência de justiça para, do seu
próprio ponto de vista, colaborar em um tal crime.
Tive ocasião de observar, algumas vezes, esses casos, em que se faz necessário desenvolver a máxima energia para evitar que a nau do partido não
navegue na corrente geral, ou melhor, não se deixe por ela arrastar. A última
vez que isso aconteceu foi quando a nossa infernal imprensa, que é a Hecuba da
nação alemã, conseguiu emprestar à questão do sul do Tirol uma proeminência que
terá sérias conseqüências para a nação alemã.
Sem refletirem sobre a causa a que estávamos servindo, muitos dos chamados
nacionalistas, indivíduos, partidos e associações, simplesmente com receio da
opinião pública excitada pelos judeus, fizeram coro comum com o sentir geral e,
idiotamente, deram o seu apoio à luta contra um sistema que nós alemães,
especialmente na crise atual, deveríamos ver como uma brilhante esperança nesse
momento de corrupção. Enquanto os judeus internacionais, lenta mas firmemente,
tentam estrangular-nos, os soi-disants patriotas vociferam contra um homem e um
sistema .que se tinham aventurado a libertar, pelo menos um trato do planeta, da
dominação dos judeus-maçons, e a opor as forças nacionais a esse veneno
internacional. Era mais cômodo, porém, para caracteres fracos, navegar ao sabor
dos ventos e capitular ante o clamor da opinião pública. E, de fato, tudo não
passou de uma capitulação. Podem esses indivíduos, com a falsidade e maldade que
lhes é peculiar, não confessar essa fraqueza, nem mesmo perante a sua própria
consciência, mas a verdade é que só por medo e covardia da opinião pública
preparada pelos judeus consentiram em colaborar no movimento a que nos
referimos. Todas as outras razões que apresentam não passam de miseráveis
subterfúgios de quem tem a consciência do crime praticado.
Tornava-se, pois, necessário, um punho de ferro para dar outra orientação,
a fim de livrá-lo dos danos ocasionados por essa orientação. Tentar uma mudança
dessa natureza em um momento em que a opinião pública era excitada sempre no
mesmo sentido, por todas as forças, não era uma missão popular, mas, ao
contrário, extremamente perigosa, mesmo para os mais audazes. Não, é, porém,
raro na história que, nestes momentos, indivíduos se deixem lapidar por um gesto
que dará à posteridade motivos para prostrar-se a seus pés.
Com esses aplausos da posteridade deve contar todo movimento de grande
alcance e não somente com os aplausos dos coevos. Pode acontecer que, nesses
momentos, os indivíduos se deixem entibiar. Não devem porém, esquecer de que,
depois dessas horas difíceis, vem a redenção e de que uma agitação que pretende
renovar o mundo, tem que visar mais o futuro do que o presente.
Pode-se constatar facilmente que os maiores sucessos, os de efeitos mais
duradouros, na história da humanidade foram, geralmente, de começo, pouco
compreendidos e isso porque se contrapunham aos pontos de vista e ao gosto da
opinião pública. Isso pudemos verificar nos primeiros dias de nossa apresentação
em público. Não procuramos conquistar o favor das massas, ao contrário fomos de
encontro, em tudo, aos desvarios do povo. Quase sempre acontecia, naqueles
tempos, apresentai--me em reuniões de homens que acreditavam no contrário do que
eu lhes queria dizer e queriam o contrário daquilo em que eu acreditava. Nossa
missão era, durante duas horas, libertar dois a três mil homens das noções
erradas que possuíram, por golpes sucessivos destruir os fundamentos dos mesmos
e, finalmente, atraí-los para as nossas idéias, para a nossa doutrina.
Em pouco tempo aprendi uma coisa importante que consistia em tirar das mãos
do inimigo as armas de defesa. Logo se tornou evidente que os nossos
adversários, sobretudo tratando-se de discussões verbais, sempre se apresentavam
com um repertório certo de argumentos que, repentinamente, usavam contra as
nossas afirmações, de modo que a uniformidade desse processo de argumentar
proporcionou-nos um treno consciente e de objetivo bem definido. Pudemos
compreender o espírito de disciplina dos nossos adversários, na sua propaganda.
Hoje orgulho-me de ter descoberto os meios não só de tornar a sua propaganda
ineficiente como também de vencer os seus próprios líderes. Dois anos depois eu
era mestre nesta arte.
Em cada discussão, o importante era ter, de antemão, uma idéia clara da
forma e do aspecto prováveis dos argumentos que se esperavam por parte dos
adversários e, mencionar, de começo, as possíveis objeções e provar a sua falta
de consistência. Assim o ouvinte, apesar das numerosas objeções que lhe tinham
sido inspiradas, pela destruição antecipada das mesmas, era facilmente
conquistado para a causa, desde que fosse um homem bem intencionado. A lição que
lhe ensinavam de cor era abandonada e sua atenção era cada vez mais atraída para
a exposição do orador.
Foi essa a razão por que, depois da minha conferência sobre o tratado de
Versalhes, dirigida às tropas, na qualidade de "instrutor", mudei a minha
orientação e comecei a falar sobre os dois tratados, de Versalhes e de
Brest-Litowsky, o último dos quais antes sempre irritava o auditório. Depois de
algum tempo, no decorrer da discussão que se seguiu à primeira conferência, pude
afirmar que o povo, na realidade, nada sabia sobre o tratado de Brest-Litowsky e
que isso era devido à bem sucedida propaganda dos partidos políticos que
apontavam esse tratado como um dos mais vergonhosos atos de opressão da história
da humanidade. À tenacidade com que essa mentira era posta diante dos olhos das
grandes massas, deve-se o fato de milhões de alemães verem no tratado de
Versalhes nada mais do que um justo castigo pelo crime que havíamos cometido em
Brest-Litowsky. Influenciados por essa propaganda, os nossos compatriotas viam
uma campanha forte contra o tratado de Versalhes como injusta e, freqüentemente,
se irritavam ou se enojavam ante qualquer tentativa nesse sentido.
Foi por isso também que o povo se pode acostumar com a impudente e
monstruosa palavra "reparação". Por milhões de nossos compatriotas, iludidos por
uma propaganda falsa, essa mentira passou a ser vista como um ato de grande
justiça. A melhor prova disso está no êxito da propaganda que dirigi contra o
tratado de Versalhes, campanha que sempre iniciava com uma explicação sobre o
tratado de Brest-Litowsky. Durante a argumentação punha os dois tratados um ao
lado do outro, comparava-os, ponto por ponto, mostrava que um, na realidade, se
inspirava em um sentimento generoso, enquanto, ao contrário, o outro se
caracterizava por uma crueldade desumana. Esse processo de comparação era
coroado do mais completo êxito. Muitas vezes, discorri, outrora, sobre esse
tema, em reuniões de milhares de homens, dos quais a maioria me recebia com
olhares agressivos. E três dias depois, tinha diante de mim uma massa agitada
pela mais sagrada revolta, por uma fúria sem limites contra esse tratado. Mais
uma vez uma grande mentira era desalojada dos cérebros de milhares de homens, e,
no lugar do embuste, se instalava a verdade.
Eu considerava como as mais importantes as duas conferências sobre "As
verdadeiras causas da Guerra e sobre "Os tratados de Versalhes e
Brest-Litowsky". Por isso, repetia-as dezenas de vezes sempre com argumentos
novos, até que uma compreensão clara e definida se formasse no espírito dos
ouvintes, no seio dos quais o nosso movimento granjeava os primeiros adeptos.
Esses mitingues tiveram para mim ainda a vantagem de transformar-me aos poucos
em orador de comícios, tendo adquirido o entusiasmo e os gestos que as grandes
reuniões populares estimulam.
Naqueles momentos, como já afirmei, a não ser em pequenos círculos, nunca
assisti, por iniciativa dos partidos, a qualquer explicação sobre esses
tratados, com a orientação por mim adotada. No entanto, hoje, esses partidos
enchem a boca com essas idéias e agem como se fossem eles que tivessem
modificado a opinião pública.
Se os chamados partidos políticos nacionalistas alguma vez fizeram
conferências nesse sentido, falavam sempre em círculos que já possuíam as mesmas
idéias dos conferencistas, que apenas serviam para fortalecer as convicções do
auditório.
Não acontecia nunca, porém, que, por meio da propaganda, procurassem
conquistar a adesão dos que, até então, por sua educação e por suas idéias, se
mantinham no campo oposto.
Também os folhetos foram postos a serviço da nossa propaganda. Já no seio
da tropa, eu havia redigido um folheto fazendo um confronto entre o tratado de
Brest-Litowsky e o de Versalhes, o qual alcançou uma grande tiragem. Mais tarde,
servi-me desse recurso para a propaganda do partido. Nesse ponto também, a
eficiência se fez sentir.
Os nossos primeiros mitingues se distinguiam pelo fato de distribuirmos
opúsculos, boletins, jornais e brochuras de toda espécie. No entanto, a nossa
maior confiança estava na palavra falada. É, de fato, a palavra falada, por
motivos psicológicos, é a única força capaz de provocar grandes revoluções.
Em outro capitulo deste livro, já cheguei à conclusão de que todos os
acontecimentos importantes, todas as revoluções mundiais, não são jamais fruto
da palavra escrita mas, ao contrário, são sempre produzidas pela palavra falada.
Sobre esse assunto, travou-se, em uma parte da imprensa, longa discussão em
que, sobretudo entre os nossos espertalhões da burguesia, se combateu essa
afirmação A razão por que isso acontecia era suficiente para destruir os
argumentos dos que contraditavam essa verdade, os intelectuais burgueses
protestavam contra uma tal noção somente porque visivelmente eles não possuíam
força e capacidade para exercer influência sobre as massas, por meio da palavra
falada. Acostumados a agir sempre pela palavra escrita, renunciaram a utilizar a
grande força de agitação que é a palavra falada.
Esse hábito, com o decorrer dos tempos, teve fatalmente o resultado, que
hoje verificamos na burguesia, isto é, a perda do instinto de atuação sobre as
massas.
Ao passo que lhe permite corrigir os seus pontos de vista de acordo com a
maneira de comportar-se da audiência, podendo seguir seus argumentos com
inteligência e verificar se as suas palavras estão produzindo o efeito desejado,
o escritor nenhum contato tem com seus leitores. Por isso, o escritor é, de
inicio, incapaz de se dirigir a uma multidão definida, com um programa em
condições de arrastá-la e tem que se limitar a argumentos de ordem geral.
Assim perde ele, até certo ponto, a fineza necessária para compreender a
psicologia popular e, com o tempo, a plasticidade indispensável. É mais
freqüente que um brilhante orador consiga ser um grande escritor do que
vice-versa.
Releva notar ainda que as massas humanas são naturalmente preguiçosas, e,
por isso, inclinadas a conservar os seus antigos hábitos. Raramente, por impulso
próprio, procuram ler qualquer coisa que não corresponda às idéias que já
possuem ou que não encerre aquilo que esperam encontrar. Assim sendo, um escrito
que visa um determinado fim, na maioria dos casos, só é lido por aqueles que já
possuem a mesma orientação do autor. Mais eficiente é um boletim ou um folheto.
Justamente por serem curtos, de leitura fácil, podem despertar a atenção do
antagonista, durante um momento.
Grandes possibilidades possui
a imagem sob todas as suas formas, desde
as mais simples até ao cinema. Nesse caso, os indivíduos não são obrigados a um
trabalho mental. Basta olhar, ler pequenos textos. Muitos preferirão uma
representação por imagens à leitura de um longo escrito. A imagem proporciona
mais rapidamente, quase de um golpe de vista, a compreensão de um fato a que,
por meio de escritos, só se chegaria depois de enfadonha leitura.
O mais importante é que o escritor nunca sabe em que meios vão parar as
suas produções e quem vai aceitar as suas idéias, A atuação do propagandista
será em geral tanto mais eficiente quanto melhor as noções propagadas
correspondam ao nível intelectual e ao modo de vida dos leitores. Um livro que é
destinado às grandes massas deve, em primeiro lugar, esforçar-se por adotar um
estilo e uma elevação inteiramente diversos de outro que se dirige às altas
camadas intelectuais. Só com essa capacidade de adaptação pode a palavra escrita
aproximar-se, nos seus efeitos, da palavra falada.
Suponhamos que o orador trate do mesmo assunto explanado em um livro. Se
ele é um grande e genial orador, não precisa repetir o mesmo assunto, duas
vezes, da mesma maneira. Ele se identificará tanto com as massas que as palavras
de que precisa fluem naturalmente de modo a tocar o coração do auditório. Quando
se empenha em um caminho errado, tem a oportunidade de corrigir-se, até mesmo,
no seio da multidão. Na fisionomia dos ouvintes poderá ele observar, primeiro,
se está sendo compreendido, segundo, se todos os ouvintes podem acompanhá-lo,
terceiro, se estão persuadidos da justeza do que lhes apresenta.
Na hipótese de verificar que não está sendo compreendido, procederá a uma
explicação tão clara, tão simples, que todos a aceitarão. Se sentir que o
auditório não pode acompanhá-lo em todos os seus raciocínios, ele, então, exporá
suas idéias lenta e cuidadosamente, até que os espíritos intelectualmente mais
fracos possam apanhá-las. Se compreender que os ouvintes não estão convencidos
da correção de seus argumentos, repeti-los-á tantas vezes quantas forem
necessárias, aduzindo sempre novos argumentos e fazendo ele mesmo as objeções
que julga estarem no espírito do auditório. Continuará assim até que o último
grupo de oposição demonstre, pela sua maneira de portar-se e por sua fisionomia,
que capitulou ante os raciocínios apresentados.
Não raramente surge o caso da existência de poderosos preconceitos, que não
vêm da razão, mas ao contrário, são na maior parte, inconscientes e com base
apenas nos sentimentos. É mil vezes mais difícil transpor essa barreira de
repulsa instintiva, de ódio ou de preconceitos negativos, do que corrigir uma
noção errada ou incorreta- A ignorância, falsas concepções podem ser removidas
por argumentos, a obstrução oriunda do sentimento, nunca. Só um apelo a essas
forças ocultas pode ser bem sucedido nesse caso. Isso é quase impossível para um
escritor. Só um orador pode ter esperanças de consegui-lo.
A prova mais evidente disso está no fato de a imprensa burguesa apesar de
sua grande habilidade, apesar de espalhar-se por milhões de exemplares, não ter
podido evitar que justamente as massas se constituíssem nos maiores inimigos do
mundo burguês. A aluvião de jornais e de livros que, todos os anos, produzem os
intelectuais, escorre, entre milhões de alemães das camadas inferiores, como
água sobre pele untada de óleo.
Esse fato pode provar duas teses: ou o erro do conteúdo de todas essas
produções escritas ou a impossibilidade de atingir o coração das massas, só pela
palavra escrita, sobretudo quando essa palavra escrita não está de acordo com a
psicologia coletiva, como é o caso entre nos.
Não se objete (como o tentou um grande jornal nacionalista de Berlim) que o
marxismo, com os seus escritos, sobretudo pela atuação da obra fundamental de
Karl Marx, oferece uma prova em contrario dessa afirmação.
A força que deu ao marxismo a sua espantosa influência sobre as massas não
foi a obra intelectual preparada pelos judeus, mas sim a formidável propaganda
oral que inundou a nação, acabando pela dominação das camadas populares. De cem
mil proletários alemães não se tiram talvez Cem que conheçam a obra de Marx, que
era estudada, mil vezes mais, pelos intelectuais, especialmente os judeus, do
que por genuínos adeptos do movimento, nas classes inferiores. Esse livro foi
escrito para o povo mas exclusivamente para os líderes intelectuais da máquina
que os judeus montaram para a conquista do mundo, A agitação foi dirigida com
material de outra espécie, isto é, com a imprensa. Nisso está a diferença entre
a imprensa marxista e a burguesa. Os jornais marxistas eram redigidos por
agitadores, enquanto a imprensa burguesa preferiu dirigir a sua agitação através
de escritores.
O redator clandestino social-democrata, que quase sempre sai dos locais de
reunião para as redações, conhece a sua gente melhor do que ninguém. O
escrevinhador burguês, que sai do seu escritório para pôr-se em contato com o
povo, cai doente só em sentir o cheiro das massas e, por isso, fica impotente em
face delas, com a sua palavra escrita.
O que fez com que o marxismo conquistasse milhões de trabalhadores foi
menos a maneira de escrever dos papas marxistas do que a infatigável e
verdadeiramente poderosa propaganda de cem mil incansáveis agitadores, a começar
dos apóstolos da primeira fila até aos pequenos empregados de fábrica e aos
oradores populares. Foi nas centenas de milhares de reuniões, nas salas
contaminadas de fumo das estalagens, que os oradores martelavam as suas idéias
na cabeça do povo, obtendo um conhecimento fabuloso do material humano, que o
marxismo aprendia a usar as armas adequadas para conquistar a opinião pública.
A vitória do marxismo foi também devida às formidáveis demonstrações
coletivas, àqueles cortejos de centenas de milhares de homens, perante os quais
os indivíduos se Julgavam mesquinhos vermes, mas, não obstante isso,
orgulhavam-se de pertencer à gigantesca organização, ao sopro da qual o odiado
mundo burguês poderia ser incendiado, permitindo à ditadura proletária festejar
a sua vitória final.
Dessa propaganda vêm os homens que estavam preparados a ler a imprensa
social-democrática, imprensa que não é escrita mas falada. Enquanto, no campo
burguês, professores e exegetas, teóricos e escritores de todas as nuances
tentaram a tribuna, os oradores marxistas também se dedicaram à produção de
trabalhos escritos. Sobretudo o judeu, que, nesses assuntos, não deve ser
perdido de vistas, será, graças à sua dialética mentirosa e à sua maleabilidade,
mais afeiçoado à oratória do que à palavra escrita.
Essa é a razão por que os burgueses (pondo-se de parte o fato de que
estavam em grande maioria influenciados pelos judeus e não tinham nenhum
interesses em instruir a coletividade) não puderam exercer a menor influência
sobre a grande massa do povo.
De como é difícil destruir preconceitos, impressões e sentimentos e
substitui-los por outros, que dependem de influências e condições imprevisíveis,
só o orador, que sente a alma popular, pode fazer uma idéia. A mesma
conferência, o mesmo orador, o mesmo tema, produzem efeitos, às dez horas da
manhã, diferentes dos que se pode obter às três horas da tarde ou à noite. Eu
mesmo, como principiante, tentei fazer reuniões à tarde e lembro-me muito bem de
uma demonstração que, como "protesto contra a opressão nas nossas fronteiras",
fizemos no Kindl-Keller de Munique. Era a mais vasta sala da cidade e o risco em
que incorríamos parecia acima de nossas forças. Para facilitar a presença dos
nossos adeptos e de todos que quisessem na mesma tomar parte, marquei a reunião
para as dez horas da manhã de um domingo. A expectativa era de ansiedade, que
logo se transformou em uma lição das mais instrutivas: a sala encheu-se, a
impressão era de vitória, mas notava-se a mais fria disposição por parte do
auditório. Ninguém se inflamava. Eu mesmo, como orador, sentia-me infeliz, não
conseguia estabelecer ligação com os ouvintes. Aliás, eu estava convencido de
que não tinha falado mal, mas, não obstante isso, o efeito da conferência foi
nulo. Descontente, apesar de ter adquirido mais uma experiência, deixei a sala
de reuniões. Outras provas que eu, mais tarde, tentei, tiveram o mesmo
resultado.
Isso não deve causar admiração a ninguém. Quem for assistir a uma
representação teatral às três horas da tarde e depois assistir à mesma peça às
oito horas da noite ficará surpreendido com a diferença de impressões! Qualquer
indivíduo de sentimentos delicados e de capacidade artística para compreender
esse estado de espírito, poderá logo constatar que a impressão causada pela
representação à tarde não se pode comparar com a mesma da noite. O mesmo
acontece com o cinematógrafo. Essa última observação é importante, porque
poder-se-ia dizer que, durante o dia, os artistas de teatro não desenvolvem o
mesmo esforço que durante a noite.
Quanto ao filme, a situação é a mesma, tanto de noite como de dia. A razão
é que é o próprio tempo que provoca a alteração, tal como acontece comigo em
relação ao lugar. Há lugares que provocam frieza, por motivos que, dificilmente,
se podem avaliar, e onde toda tentativa de afinação com o povo encontra a mais
firme resistência. As recordações e representações do passado, presentes ao
espirito dos homens também podem criar uma certa impressão. Assim uma
representação de Parsifal em Bayreuth produzirá uma impressão diferente da que
se terá em qualquer outra parte do mundo. O místico encanto da casa de
Fest-spielhügel da cidade dos antigos margraves não pode ser substituído nem
sobrepujado.
Em todos os casos, trata-se de uma diminuição do livre arbítrio do homem.
Isso é mais verdadeiro ainda quando se trata de assembléias nas quais os
indivíduos possuem pontos de vista opostos. Pela manhã e mesmo durante o dia, a
força de vontade das pessoas parece resistir melhor, com mais energia, contra a
tentativa de impor-se-lhes uma vontade estranha. À noite, deixam-se vencer mais
facilmente pela força dominadora de uma vontade forte. Na realidade, em cada uma
dessas reuniões há uma luta de duas forças opostas. A superioridade de um
verdadeiro apóstolo, quanto à eloqüência, tornar-lhe-ia mais fácil o êxito da
conquista, para o novo credo de adeptos que já sofreram uma diminuição na sua
capacidade de resistência. Visa ao mesmo objetivo a misteriosa e artística hora
do angelus da igreja católica, com suas luzes, seu incenso, turíbulos, etc.
Nessa luta do orador com o adversário que se quer convencer, adquire este,
pouco a pouco, um espírito de combatividade que quase sempre falta ao escritor.
Dai resulta que as produções escritas, na sua limitada eficiência,
prestam-se melhor à conservação, fortalecimento e aprofundamento de um ponto de
vista já existente. Todas as grandes modificações históricas foram devidas à
palavra falada e não à escrita.
Não se acredite por um momento que a Revolução Francesa se realizou por
força de teorias filosóficas. Ela teria fracassado se não contasse com um
exército de demagogos de alto estilo, que despertaram as paixões do povo
martirizado, a ponto de provocar a terrível erupção que deixou a Europa transida
de pavor.
A mesma explicação tem a maior revolução de nossos dias, a revolução
comunista da Rússia. Essa não foi conseqüência dos escritos de Lenine, mas da
eficiência oratória de grandes e pequenos oradores, que desenvolveram o ódio das
massas contra a situação existente. Um povo de analfabetos não seria arrastado
nunca a uma revolução comunista pela leitura de um teórico como Karl Marx, mas
sim pelos milhares de agitadores que, a serviço de uma idéia, discursavam para o
povo.
Isso foi e há de ser sempre assim.
Os nossos intelectuais, na sua ignorância das realidades, chegam a
acreditar que um escritor é, forçosamente, superior em inteligência a um orador.
Esse ponto de vista é deliciosamente ilustrado em um artigo de certo jornal
nacionalista, em que se afirma que geralmente se sente uma desilusão quando se
lê um discurso de um grande orador, por todos admirado como tal.
Lembro-me de outra crítica que me veio às mãos durante a Guerra. O jornal
pegou os discursos de Lloyd George, então ministro das munições, examinou-os,
nos menores detalhes, para chegar à brilhante conclusão de que esses discursos
revelavam inferioridade intelectual, ignorância e banalidade. Obtive alguns
desses discursos enfeixados em um pequeno volume e não pude deixar de rir, ao
pensar que o escrevinhador não conseguiu compreender a influência que essas
obras-primas exercem sobre a opinião pública. O tal escrevinhador julgou esses
discursos somente pela impressão que os mesmos causavam no seu espírito blasé,
ao passo que o grande demagogo inglês tinha obtido um efeito imenso no seu
auditório e em todas as camadas inferiores da população britânica.
Examinados por esse prisma, os discursos de Lloyd George eram produções
admiráveis, pois revelavam um grande conhecimento da psicologia das massas. Sua
atuação no espírito do povo foi decisiva.
Comparem-se os discursos de Lloyd George com os discursos fúteis,
gaguejados por um Bethmann-Hollveg! Talvez as orações do último sejam superiores
sob o ponto de vista intelectual, mas demonstram a incapacidade do seu autor
para falar à nação que ele não conhecia.
Que Lloyd George era superior a Bethmann-Hollveg prova-o o fato de ser a
forma dada aos seus discursos em moldes capazes de falar ao coração do seu povo
e fazê-lo obedecer à sua vontade. A simplicidade das suas orações, a forma de
expressão, a escolha de ilustrações simples, de fácil compreensão, são provas
evidentes da extraordinária capacidade política de Lloyd George.
O discurso de um estadista, falando ao seu povo, não deve ser avaliado pela
impressão que o mesmo provoca no espírito de um professor de Universidade, mas
no efeito que produz sobre as massas.
Só por esse critério é que se pode medir a genialidade de um orador.
O admirável progresso do nosso movimento que, há poucos anos, se originara
do nada, e hoje é um movimento de valor, perseguido por todos os inimigos
internos e externos do povo. deve-se ao fato de sempre ter sido tomada em
consideração aquela verdade.
Por mais importante que seja a produção escrita do movimento, ela terá
sempre mais valor para a formação intelectual dos grandes e pequenos lideres, em
um plano único, do que para a conquista das massas colocadas em pontos de vista
contrários. Só em casos excepcionalíssimos, um social-democrata convencido ou um
fanático comunista condescenderá em adquirir uma brochura ou mesmo um livro
nacional-socialista para lê-los e daí formar uma idéia sobre a nossa doutrina ou
para estudar a critica às suas convicções. Os jornais raramente são lidos quando
não trazem bem claro o sinete do partido a que pertence o leitor. Além disso, a
leitura de um exemplar de jornal pouco adianta. A sua atuação é de tal modo
dispersiva que da mesma nenhuma influência digna de nota se pode esperar. Não se
pode e não se deve exigir de ninguém, sobretudo daqueles para os quais um
pfening é muito dinheiro, que assinem jornais inimigos, só pelo desejo de obter
esclarecimento sobre os fatos. Isso talvez não aconteça em um caso sobre dez
mil. Quem já aderiu a uma causa lerá naturalmente o jornal do seu partido para
se pôr ao par das notícias do movimento em que está empenhado.
O contrário acontece com o boletim. Uma ou outra pessoa tomá-lo-á nas mãos,
sobretudo quando o mesmo é distribuído gratuitamente. Isso acontece mais
freqüentemente ainda quando, já na epígrafe, se anuncia a discussão de um tema
que está na boca de todos.
Depois da leitura de alguns desses boletins, o leitor talvez seja
conquistado aos novos pontos de vista ou pelo menos terá a sua atenção
despertada para o novo movimento. Mesmo na hipótese mais favorável, só se
conseguirá, por esse meio, um ligeiro impulso e nunca uma situação definitiva,
isso só se obterá com os comícios populares.
Os comícios populares são necessários, justamente porque neles o indivíduo
que se sente inclinado a tomar parte em um movimento mas receia ficar isolado,
recebe, pela primeira vez, a impressão de uma coletividade maior, o que provoca,
na maior parte dos espíritos, um estimulo e um encorajamento.
O mesmo homem que, nas fileiras de sua companhia ou do seu batalhão, entra
na luta de todo coração, não o faria se estivesse sozinho. Na companhia sente-se
como protegido, mesmo quando milhares de razões houvesse em contrário. O caráter
coletivo nas grandes manifestações não só fortalece o indivíduo, como estabelece
a união e concorre para a formação do espírito de classe.
O homem que se inicia em uma nova doutrina e que, na sua empresa ou na sua
oficina sofre opressões, precisa de fortalecer-se pela convicção de que é um
membro e um lutador dentro de uma grande coletividade. Essa impressão ele recebe
apenas nas manifestações coletivas.
Quando ele sai de sua pequena oficina ou da sua grande fábrica, onde se
sente infinitamente pequeno, e, pela primeira vez, entra em um comício, e aí
encontra milhares e milhares de pessoas com as mesmas idéias que as suas, quando
é arrastado pela força sugestiva do entusiasmo de três a quatro mil pessoas,
quando o êxito visível da causa e a unanimidade de opiniões lhe dão a convicção
da justeza do novo movimento e lhe despertam a dúvida sobre a verdade de suas
antigas idéias, então estará sob a influência do que poderemos designar por
estas palavras - sugestão das massas. A vontade, os anseios, também a força, de
milhares, acumulam-se em cada pessoa.
O indivíduo que entrou para o comício vacilando, envolvido em dúvidas, dali
sai firmemente fortalecido. Tornou-se membro de uma coletividade.
O movimento nacional-socialista nunca se deve esquecer disso e não se deve
nunca deixar influenciar por esses patetas burgueses que sabem tudo mas nem por
isso deixaram ir à ruína um grande Estado e perderam até a direção da própria
classe. Eles são extraordinariamente inteligentes, sabem tudo, entendem tudo, só
uma coisa eles não entenderam, isto é, não puderam impedir que o povo alemão
caísse nas garras do marxismo. Nisso eles fracassaram da maneira mais
deplorável. A sua presunção atual é pura ignorância. É sabido que o orgulho anda
sempre de par com a estupidez.
Quando esses indivíduos se recusam a emprestar qualquer valor à palavra
falada, assim agem simplesmente porque, graças a Deus, estão convencidos da
ineficiência do seu palavreado oco.
CAPÍTULO VII - A LUTA COM A FRENTE VERMELHA
Em 1919/20 e também em 1921, assisti pessoalmente a algumas das chamadas
"assembléias burguesas". A impressão que delas guardei, foi sempre a mesma, que
me causava, na minha juventude, a colher obrigatória de óleo de fígado de
bacalhau. Tem que ser engolida, deve fazer muito bem, mas o gosto é detestável!
Se fosse possível amarrar com cordas todo o povo alemão, arrastando-o à força
para essas manifestações públicas, trancando as portas para não deixar sair um
só, até o fim da representação, talvez ao cabo de alguns séculos tudo isso desse
algum resultado. Aliás devo confessar abertamente, que se isso acontecesse, eu
não teria mais prazer na vida, preferindo até não ser mais nem alemão. Não sendo
isso possível - graças a Deus - ninguém se deve admirar de que o povo sadio e
não corrompido evitasse as tais "assembléias de grandes multidões burguesas",
como o diabo foge da água benta.
Cheguei a conhecer, muito bem, esses profetas de uma doutrina burguesa, e,
por isso, não me causa a menor surpresa, sendo até compreensível, que eles não
atribuam a, mínima significação à palavra falada. Naquele tempo, assisti a
reuniões de Democratas, de Nacionais-Alemães, do Partido Popular Alemão, e
também do Partido Popular da Baviera (Centro Bávaro). O fato que em todas elas
chamava logo atenção era a homogeneidade do auditório. Quase sempre, os que
tomavam parte em tais manifestações, só eram os membros dos partidos. Sem
disciplina alguma, o conjunto se assemelhava mais a um clube de jogadores de
cartas, que já está com sono, do que à assembléia de um povo que acabava de
passar por sua maior revolução. Para conservar esta atmosfera de paz, os
oradores faziam tudo o que estava na medida de suas forças. Falavam, ou melhor,
liam discursos que mais pareciam artigos de jornal ou dissertações científicas,
evitando toda palavra mais grosseira, aplicando, aqui e ali, algum insulso
gracejo professoral que fazia rir, de uma maneira forçada, a digníssima mesa da
Diretoria. Se bem que não rissem estrondosamente, já era convidativo esse riso,
abafado com distinção e reserva!
E só essa mesa presidencial!!!
Uma vez assisti a uma reunião na "Sala Wagner", em Munique. Era uma
manifestação por ocasião do aniversário da grande batalha de Leipzig. O discurso
foi proferido ou lido por um respeitável senhor de idade, professor em uma
universidade qualquer. A diretoria ocupava o estrado; à esquerda, um monóculo, à
direita, um monóculo, entre os dois, um "sem monóculo", Todos três vestiam
sobrecasaca, o que dava a impressão de se estar, ou em um tribunal, que se
prepara a uma execução, ou em um batizado festivo; enfim, em um ato de
solenidade religiosa. O tal discurso, que, escrito, talvez pudesse ter dado uma
impressão sofrível produziu um efeito verdadeiramente deplorável. Passados três
quartos de hora, já a assembléia cochilava, em uma espécie de estado de transe,
interrompido somente pela saída de um ou outro homem ou melhor, pelo barulho de
pratos das copeiras e os bocejos de ouvintes, em número sempre crescente. Três
operários, que assistiam à reunião, por curiosidade ou sob encomenda,
olhavam-se, de quando em vez, com uma careta mal dissimulada, acotovelando-se,
por fim, antes de saírem bem devagarinho. Atrás deles estava eu. Via-se que, de
modo algum, queriam incomodar, precaução francamente supérflua em uma tal
assembléia. Afinal, parecia esta aproximar-se do termo. Depois de concluída a
conferência do professor, cuja voz se fora tornando cada vez mais fraca,
ergueu-se o líder da tal sessão, exprimindo, em frases bombásticas, sua gratidão
aos "irmãos e irmãs" alemães ali reunidos e sugerindo a atitude que eles
deveriam tomar diante do extraordinário e magnífico discurso do Sr. Professor
X., feito com a máxima profundeza e grande conhecimento do assunto, tendo sido
verdadeiramente "um acontecimento vívido", sim "uma ação cristalizada na
palavra". Acrescentar ainda uma discussão a essas luminosas dissertações,
significaria uma profanação desta hora sagrada. De acordo com todos os
presentes, desistia ele, por conseguinte, de continuar a falar, pedindo a todos,
porém, que se levantassem, entoando o brado de: "Nós somos um povo de irmãos
unidos", etc. Para terminar a sessão, foram todos convidados a entoar a "canção
da Alemanha".
Cantaram, então. A minha impressão era que, já na segunda estrofe, as vozes
diminuíam, só se avolumando muito no estribilho: na terceira, a mesma impressão
aumentou tanto, que cheguei a duvidar se todos saberiam bem de cor, o que
estavam cantando.
No entanto, que coisa empolgante, quando semelhante canção jorra, com todo
o fervor, do fundo da alma de um alemão nacionalista!
Depois disso, dispersou-se a reunião, isto é: todos tinham pressa de sair,
uns para beberem cerveja, outros para tomarem café, outros ainda para passearem.
Era o anseio geral!
Para fora, para o ar livre, para fora! Minha vontade era de fazer o mesmo,
E isso deve servir à maior glória de uma luta heróica de centenas e milhares de
Prussianos e Alemães? Raios os partam!
Só o governo pode com efeito gostar de tais coisas! Naturalmente, isso é o
que se pode chamar uma assembléia "pacífica". O Ministro não precisa recear a
perturbação da paz e da ordem ou que as ondas do entusiasmo possam fazer
transbordar subitamente a medida da conveniência burguesa ou que, levado pelo
entusiasmo, o povo se precipite fora da sala, não para o café ou pare a taberna
mas sim para marchar, quatro a quatro, pelas ruas da cidade cantando "urra à
Alemanha" e incomodando assim uma polícia, que deseja descansar. Não! Com tais
cidadãos, o Estado pode se dar por satisfeito.
Ao contrário destas, as assembléias nacionais-socialistas nada tinham de
"pacíficas". Aí, as ondas de duas doutrinas quebravam-se de encontro uma à
outra, não terminando com cantos patrióticos sem significação e sim cem a
irrupção fanática de paixões populares. Desde o princípio, a introdução da
disciplina cega e a garantia da autoridade da direção impôs-se nas nossas
assembléias como uma condição das mais importantes, pois os nossos discursos não
eram comparáveis ao falatório desenxabido de qualquer orador "burguês", mas, ao
contrario, apropriados, pelo conteúdo e pela forma, a provocar a réplica do
adversário.
E quantos e que sorte de adversários havia nas nossas reuniões! Quantas
vezes entravam instigadores na sala, em número' avultado, no meio deles alguns
especialmente designados, lendo-se em todos os semblantes a convicção: "Hoje
acabamos com vocês"! Sim, quantas vezes nossos amigos vermelhos compareciam até
ali, em colunas cerradas, com a missão bem delineada de dispersar aquilo tudo na
mesma noite, à força de pancada, pondo um fim àquela história, E quantas vezes
esteve tudo perto disso mesmo! As intenções do adversário foram aniquiladas
apenas pela energia férrea de nossos líderes e pelas medidas brutais de nossa
polícia defensiva.
E eles tinham toda a razão de se sentir irritados.
Só a cor vermelha dos nossos cartazes fazia com que eles afluíssem às
nossas salas de reunião. A burguesia mostrava-se horrorizada por nós termos
também recorrido à cor vermelha dos bolchevistas, suspeitando, atrás disso,
alguma atitude ambígua. Os espíritos nacionalistas da Alemanha cochichavam uns
aos outros a mesma suspeita, de que, no fundo, não éramos senão uma espécie de
marxistas, talvez simplesmente mascarados marxistas ou, melhor, socialistas. A
diferença entre marxismo e socialismo até hoje ainda não entrou nessas cabeças.
Especialmente, quando se descobriu, que, nas nossas assembléias, tínhamos por
princípio não usar os termos "Senhores e Senhoras" mas "Companheiros e
Companheiras", só considerando entre nós o coleguismo de partido, o fantasma
marxista surgiu claramente diante de muitos adversários nossos. Quantas boas
gargalhadas demos à custa desses idiotas e poltrões burgueses, nas suas
tentativas de decifrarem o enigma da nossa origem, nossas intenções e nossa
finalidade!
A cor vermelha de nossos cartazes foi por nós escolhida, após reflexão
exata e profunda, com o fito de excitar a Esquerda, de revoltá-la e induzi-la a
freqüentar nossas assembléias; isso tudo nem que fosse só para nos permitir
entrar em contato e falar com essa gente.
Era delicioso seguir naqueles anos a falta de iniciativa e de recursos dos
nossos adversários, pela sua tática eternamente vacilante. Primeiro, incitavam
os seus adeptos a não nos darem a menor atenção, evitando as nossas reuniões,
conselhos aliás geralmente seguidas.
Como, porém, no decorrer do tempo, alguns apareciam isoladamente,
aumentando lentamente, mas cada vez mais, o número, e a impressão deixada pela
nossa doutrina era manifesta, os chefes iam ficando nervosos e inquietos,
afincando-se na convicção de que esta evolução não deveria continuar a
prolongar-se, devendo-se-lhe dar um paradeiro, por um sistema de terror.
Depois disso, houve convites aos "Proletários conscientes de sua classe",
para assistirem, em massas compactas, às nossas assembléias, a fim de atacar "as
intrigas monárquicas, reacionárias", entre seus representantes, com os punhos
cerrados do Proletariado.
De repente, nossas reuniões começaram a ficar repletas de operários, três
quartos de hora antes de começarem. Assemelhavam-se ao barril de pólvora, que
podia a cada instante voar pelos ares, e sob o qual já se via arder a mecha,
Acontecia, entretanto, sempre o contrário. Esses operários entravam como
inimigos e, ao saírem, se já não eram adeptos nossos, pelo menos submetiam sua
própria doutrina a um exame refletido e crítico. Pouco a pouco, depois de uma
conferencia minha, que durou três horas, adeptos e adversários chegaram a
fundir-se em uma só massa cheia de entusiasmo. Toda tentativa para dispersar a
nossa assembléia tornou-se debalde. Os chefes adversários começavam francamente
a ter medo, voltando-se novamente para os antigos adversários desta tática e que
agora apontavam, com uma certa aparência de razão para sua opinião, e que
consistia em vedar categoricamente ao operário a frequentação das nossas
reuniões.
Nesse ponto, parou ou, pelo menos, diminuiu a freqüência. Ao cabo de pouco
tempo, recomeçou, porém, o mesmo jogo.
Não se observava a proibição, os correligionários deles compareciam cada
vez mais, triunfando, por fim, os partidários da tática radicalista. Nós
estávamos destinados a saltar pelos ares.
Quando, depois de várias reuniões, descobriu-se que uma dispersão, por meio
de bombas, era mais fácil em teoria do que na prática, e que o resultado de cada
reunião era um esfacelamento das tropas rubras de combate, elevou-se subitamente
outro grito: "Proletários, companheiros e companheiras! Evitai as Assembléias
dos Instigadores Nacionais Socialistas!" Na imprensa "vermelha" encontrava-se a
mesma tática, eternamente vacilante, Experimentavam matar-nos pelo silêncio e
acabavam convencidos da inutilidade desta tentativa, voltando a tomar medidas
contrárias. To. dos os dias, éramos "citados" em todas as oportunidades e, quase
sempre, com o fim de fazer ver ao operário o ridículo da nossa existência.
Passado algum tempo, os tais senhores tiveram que sentir, entretanto, não só a
inocuidade como até a utilidade de tal iniciativa. Naturalmente, alguns deles
faziam a si próprios a pergunta: "Para que perder tantas palavras com uma coisa,
que não passa de uma ficção ridícula?" A curiosidade popular crescia. Neste
ínterim, operou-se uma reviravolta e começamos a ser tratados como verdadeiros
malfeitores da humanidade, Choviam artigos sobre artigos, com explanação e
provas sempre renovadas a respeito das nossas intenções criminosas, histórias
escandalosas, se bem que bordadas à vontade, de começo ao fim. Isso tudo devia
servir de complemento ao que precedeu. Todavia, já em pouco tempo parecia ter
sido tirada a prova da ineficácia desses ataques.
Na realidade tudo isto só servia a contribuir para que a atenção geral se
concentrasse sobre nós, ainda mais do que dantes.
Minha atitude naquela época foi a seguinte: ficar indiferente à troça ou ao
insulto, a ser apontado como palhaço, bobo ou como criminoso, o que me importava
é que fôssemos citados, que a opinião pública se ocupasse conosco e que aos
poucos aparecêssemos, diante do operariado, como sendo o único poder, com o qual
ainda era possível haver discussão. O que realmente somos e tencionamos realizar
ainda chegaremos a demonstrar, um belo dia, à corja da "imprensa judaica".
Foi devido à covardia, francamente incrível, dos chefes da oposição, que,
naquela ocasião, não houve quase um só ataque direto contra as nossas
assembléias. Em todos os casos críticos, mandavam na frente alguns toleirões,
que o mais que faziam era espreitarem fora das salas o resultado da explosão!
Quase sempre vivíamos bem informados sobre as intenções desses cavalheiros,
não só por termos, no meio dos blocos vermelhos, muitos correligionários, para
servirem nossas conveniências, como também por causa da tagarelice dos próprios
manejadores do partido vermelho. Nesse caso, isso nos foi de grande utilidade,
embora não deixe de ser um defeito infelizmente muito disseminado entre o povo
alemão. Não podiam eles ficar sossegados, quando tinham uma notícia nova;
costumavam, a maior parte das vezes, cacarejar, antes mesmo de pôr o ovo.
Quantas e quantas vezes já tínhamos feito os preparativos mais importantes, sem
que os comandantes rubros do corpo de bombardeio o suspeitassem, nem de leve.
Esse tempo nos forçou a tomar a peito, por nossa conta, a proteção das
nossas assembléias. Com a garantia das autoridades não há quem possa contar; ao
contrário, está provado que ela só beneficia os perturbadores da ordem. Em
matéria de intervenção de autoridades, pode-se assinalar, como único resultado
efetivo, a dissolução e, portanto, o encerramento da assembléia, E não era outra
a finalidade nem a intenção dos desordeiros adversários.
De um modo geral, formou-se, na Polícia, um hábito, que representa a maior
monstruosidade imaginável em matéria de atentado aos direitos humanos. Quando a
autoridade, por meio de qualquer ameaça, é advertida que uma Assembléia corre o
perigo de ser atacada, em vez de prender os ameaçadores, proíbe aos outros - aos
inocentes - a entrada na sala - medida esta, que ainda por cima, enche de
orgulho o espírito comum da nossa Policia. Isto, no seu modo de ver, representa
uma medida preventiva para impedir qualquer infração "às leis".
O bandido resoluto, por conseguinte, dispõe, a toda hora, das armas
necessárias para impossibilitar o indivíduo honesto de tomar parte ou trabalhar
em questões políticas, Em nome do sossego e da ordem pública, curva-se a
autoridade do governo diante do bandido e pede ao outro que desista de
provocá-lo. Quando então os Nacionais-Socialistas queriam fazer reuniões em
determinados locais, e as corporações operárias declaravam oposição a tal
iniciativa, a Polícia seguramente não poria esses malfeitores detrás do cadeado
e do ferrolho, limitando-se a proibir a nossa reunião. Sim, esses órgãos da Lei
tiveram até o incrível descaramento de nos fazer tal comunicação, inúmeras
vezes, por escrito.
A fim de escapar a semelhantes eventualidades, era preciso tomar
precauções, para abafar, já no germe, toda tentativa de perturbação. Neste ponto
ainda se deveria considerar o seguinte: "todo comício, que não contar com outra
garantia se não a da polícia, desmoraliza seus organizadores aos olhos da grande
massa do povo". "Assembléias cuja realização só é anunciada por um grande cartaz
policial, não são convidativas, já que as condições para a conquista das camadas
mais baixas de um povo, por si já devem se manifestar como uma força real e bem
sensível".
Tal qual um homem corajoso vencerá um covarde na conquista de corações
femininos, um levante heróico mais facilmente ganhará a alma popular do que um
movimento pusilânime, que só não se extingue devido à proteção policial.
Era sobretudo este último motivo, que obrigava o partido incipiente a
cuidar de sua própria defesa e a resistir sozinho ao regime terrorista do
adversário.
Eis os fundamentos da proteção às assembléias:
1) Uma direção enérgica e psicologicamente bem compreendida.
2) Uma tropa organizada para manter a ordem.
Quando nós, os Nacionais-Socialistas, promovíamos, naquele tempo, uma
reunião, esta era exclusivamente dirigida por nós; direito de chefia esse, que,
aliás, sem interrupção e a cada minuto, sublinhávamos explicitamente. Nossos
adversários sabiam perfeitamente que qualquer provocador de desordem seria
enxotado sem a menor consideração, mesmo que nós só fôssemos doze e eles
quinhentos homens. Nas reuniões daquela época, mormente fora de Munique, quinze
ou dezesseis dos nossos correligionários se encontravam freqüentemente com
quinhentos, seiscentos, setecentos e oitocentos adversários. Ainda assim, não
tolerávamos nenhuma provocação, e os freqüentadores das nossas reuniões sabiam
muito bem que nós preferiríamos a morte à rendição. Mais de uma vez também
sucedeu, que um punhado de correligionários nossos, saiu vitorioso, lutando
contra uma maioria de vermelhos, que berravam e davam pancadas a torto e a
direito
Esses quinze a vinte homens seguramente teriam acabado por ser vencidos.
Mas os outros sabiam, que, antes disso, um grupo duas ou três vezes maior teria
tido ali o crânio partido, e era preferível não correr esse risco.
Tentamos aprender e realmente aproveitamos alguma coisa sobre a técnica das
assembléias marxistas e burguesas.
Os marxistas tiveram, desde a origem, absoluta disciplina, de modo que
nenhum grupo burguês jamais cogitou de atacar uma das suas reuniões. Em
compensação, tais intenções eram sempre alimentadas pelos vermelhos. Aos poucos
tinham estes alcançado, nesse terreno, não só uma indiscutível perícia, mas até
chegaram ao ponto de apontar toda assembléia anti-marxista, em todo o território
do "Reich", como "uma provocação ao proletariado", sobretudo onde os líderes
farejavam, em qualquer comício, a enumeração de seus próprios pecados, destinada
a desmascarar a baixeza de seus atos mentirosos e enganadores praticados contra
o povo. Mal se ouvia anunciar uma reunião desse gênero, a "Imprensa Vermelha",
em bloco, começava um berreiro louco. Os desrespeitadores profissionais da Lei,
procuravam então, não raramente, as autoridades, com o pedido, tão suplicante
quanto ameaçador, de impedir imediatamente tal "Provocação ao Proletariado", a
fim de evitar conseqüências mais graves. Suas palavras eram acolhidas e o
sucesso alcançado, segundo a "estupidez" do "funcionário" a quem se dirigiam.
Se, por exceção, em tal posto se achasse realmente um funcionário alemão (e não
"uma criatura funcionalizada") sendo assim recusada a descarada exigência,
seguia-se então o conhecido convite a repelir uma tal "Provocação". Tratava-se
então de marcar para tal dia uma reunião, à qual compareciam em grande número.
Para que se possa fazer uma idéia segura, é preciso ter-se visto uma dessas
reuniões, é preciso ter-se passado pelo pavor, que experimentava a direção de
uma tal sessão! Mais de uma vez bastariam ameaças dessa ordem para fazer adiar
uma dessas reuniões. Às vezes, o medo era tamanho que, em lugar de 8 horas,
raramente alguém comparecia à abertura antes de 9 horas ou 9 menos um quarto. O
presidente se esforçava então por explicar aos presentes "Senhores da Oposição",
- e isto por meio de inúmeros cumprimentos - a que ponto ele e todos os
presentes se alegravam intimamente (mentira crassa!) com a visita de homens que
ainda não partilhavam de suas convicções; pois só a permuta de idéias (o que foi
logo de antemão, aprovado, o mais solenemente possível), podia aproximar as
convicções, despertar a compreensão recíproca e formar como uma ponte entre
eles. Asseverava, ao mesmo tempo, que a assembléia não tinha a mais leve
intenção de afastar cada um de suas idéias antigas. "Longe de nós tal
suposição", diziam eles, cada um que seguisse as suas próprias idéias,
consentindo, porém, que os outros fizessem o mesmo! Por isso pedia ele que
deixassem o orador prosseguir até o fim, aliás próximo, para evitar de dar ao
mundo, com esta reunião, o espetáculo vergonhoso do ódio íntimo entre irmãos da
mesma pátria.
É verdade que a irmandade da esquerda não atendia quase nunca a tal apelo;
pois, antes mesmo do orador abrir a boca, já era ele alvo das mais loucas
descomposturas, tendo que escafeder-se. Não raramente deixava ele a impressão de
uma certa gratidão à sorte, que lhe encurtara o processo martirizante, Debaixo
de um barulho infernal, é que esses "toreros" das assembléias burguesas deixavam
a arena, se é que não rolavam nas escadas com as cabeças cheias de "galos" - o
que acontecia muito freqüentemente.
Desse modo, a organização dos nossos comícios e, sobretudo, a feição que
lhes dávamos, foi uma verdadeira novidade para os marxistas. Entravam plenamente
convencidos de que poderiam repetir o seu eterno jogo:
"Hoje devemos acabar com isso!" Quantos, ao penetrarem nas nossas sessões,
não terão proferido, com arrogância, esta frase para algum colega, para caírem
diante da porta da sala, antes de gritarem pela segunda vez! E tudo isso com a
rapidez de um raio.
Em primeiro lugar, já a presidência dos nossos comícios era diferente da
dos demais. Não se mendigava permissão para fazer conferência, também não se
garantia a qualquer um, de antemão, a liberdade de fazer discursos
intermináveis. Observávamos que a presidência era inteiramente nossa, que
estávamos em nossa casa e que a ousadia de interromper a sessão por intervenções
extemporâneas seria, sem piedade, castigada com a expulsão imediata. Se sobrasse
tempo e isso nos conviesse, toleraríamos uma discussão, mas só nesse caso.
Só isso provocava espanto.
Em segundo lugar, tínhamos á nossa disposição um serviço bem organizado de
defesa. Entre os partidos burgueses, esse serviço de defesa, ou, melhor, serviço
de ordem, geralmente era confiado a senhores, que, pela dignidade da sua idade,
julgavam possuir algum direito à autoridade e ao respeito. Como as massas
populares, incitadas por marxistas, não davam, absolutamente, importância a
autoridade, nem a idade, essa tal guarda burguesa era, praticamente, inútil.
Logo no começo de nossa grande atividade nos comícios, propus a organização
de uma "guarda da sala", como um serviço de ordem para G qual só se deviam
recrutar rapazes fortes. Uns eram camaradas que eu conhecia dos tempos do
serviço militar; outros eram correligionários há pouco angariados e que, desde
os primeiros dias, vinham sendo educados na convicção de que o terror só se
vence pelo terror e que, neste mundo, o sucesso, até hoje, sempre se decidiu do
lado que demonstrou mais coragem e resolução, que o nosso combate gira em torno
de uma idéia formidável, tão grande e elevada que merece plenamente ser
resguardada e protegida, mesmo com o sacrifício da última gota de sangue.
Estavam convencidos da verdade do seguinte princípio: o ataque constitui a arma
mais eficaz da defesa, uma vez que a razão se cala e a violência é chamada a
falar. Nossa tropa de serviço de ordem tem que ser precedida da fama de ser uma
comunidade de combatentes decididos ao extremo, e não um "Clube de Debates".
E que ânsia reinava, entre essa mocidade, por uma tal divisa!
Que decepção e indignação, que nojo e repugnância animava esta geração de
batalhadores ante a moleza sem nome dos burgueses!
Aí é que se via, claramente, que a Revolução só vingara, graças à
desoladora direção burguesa do nosso povo. Mesmo naquela época, teria sido
possível encontrar braços fortes para proteger o povo alemão, Faltaram, apenas,
as cabeças para guiarem-no. Com que olhos faiscantes me olhavam os meus rapazes,
quando eu lhes expunha a importância da alta missão, assegurando-lhes, cada vez
mais, que, neste mundo, toda sabedoria fracassa quando não é protegida pela
força, que a doce deusa da Paz só pode caminhar ao lado do deus da Guerra e que
toda e qualquer ação pacífica necessita do amparo e do auxílio da força. Essas
preleções contribuíram para a compreensão da idéia de defesa pela força, mais
eficientemente do que os processos outrora adotados. Isso se yen. ficava não no
espírito dos "fossilizados" funcionários públicos, ao serviço de uma autoridade
morta, em um país igualmente morto, mas naqueles que tinham pleno conhecimento
do dever, cada um disposto, individualmente, a pagar com a sua vida o tributo
exigido pela existência coletiva de seu povo.
Com que entusiasmo se alistavam então esses rapazes!
Tal qual um enxame de vespas, eles caíam em cima de quem ousasse perturbar
nossos comícios, sem ter em consideração o fato de os adversários estarem em
maioria, sem temer ferimentos nem sacrifícios de sangue, somente animados do
grande ideal, que consistia em abrir caminho à santa missão do nosso movimento.
Já no meio do verão de 1920, o Serviço de ordem foi, aos poucos, tomando
uma feição definida, até organizar-se, na primavera de 1921, em grupos de cem,
que, por sua vez, ainda se subdividiram.
Tudo isso era de uma necessidade premente, pois, nesse ínterim, a atividade
nas reuniões aumentava cada vez mais. Ainda nos reuníamos por vezes, na sala de
festas do "Münchener Hofbräuhaus", mais freqüentemente, porém, em salas mais
espaçosas. A sala de festas do "Bürgerbräu" e do "Münchener Kindl-Keller" foram
o teatro, em 1920 e 1921, da realização de assembléias populares cada vez mais
formidáveis. O quadro, porém, era sempre o mesmo. Manifestações do Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, já, naquela época, tinham de ser
interditas pela Polícia, a maior parte das vezes devido à aglomeração antes do
início das reuniões.
A organização do nosso serviço de ordem veio esclarecer uma questão
importantíssima. Até então o movimento não possuía, nem insígnias nem estandarte
próprios do Partido. A falta de semelhantes emblemas não só apresentava
desvantagens no momento, como se tornava indefensável no futuro. As desvantagens
consistiam, no presente, na falta de um símbolo para exprimir a solidariedade
dos correligionários e, de futuro, não seria possível dispensar um sinal
distintivo do movimento que pudesse servir de oposição à "Internacional".
Já na minha juventude, tinha tido, muitas vezes, a ocasião de sentir e
compreender a significação psicológica de símbolos dessa ordem. Depois da
Guerra, presenciei uma grande manifestação dos marxistas diante do Palácio Real,
no Lustgarten. Uma imensidade de bandeiras, de faixas e de flores vermelhas
davam a essa manifestação, na qual tomavam parte, aproximadamente, cento e vinte
mil pessoas, uma aparência formidável. Pude sentir com que facilidade o homem do
povo é empolgado pela magia sugestiva de um tal espetáculo.
A burguesia, que, como partido político, não representa nenhum ponto de
vista geral, por isso mesmo, não possuía bandeira própria. Compunha-se de
"patriotas" e usava as cores do Reich. Se essas fossem, realmente, o símbolo de
uma determinada doutrina, compreender-se-ia que os proprietários" do Estado
enxergassem, também, na bandeira deste, a representação de seus pontos de vista,
uma vez que o símbolo das suas idéias já se tinha tornado bandeira do Estado e
do Reich, graças à sua própria atividade.
Entretanto, as coisas não se passavam desse modo. O Reich se tinha formado
sem a contribuição da burguesia alemã. A própria bandeira tinha sido criada no
campo da guerra. Não passava, porém, de uma bandeira do Estado, sem a menor
significação no sentido de uma finalidade universal.
Só na Áustria alemã é que existia, até então, qualquer coisa parecida com
uma bandeira burguesa de partido. Uma parte da burguesia nacional daquele país,
escolhendo as cores de 1848, preto, vermelho e ouro, para representar sua
bandeira de partido, havia criado um símbolo que, apesar de não ter significação
mundial, trazia os característicos políticos do Estado, embora revolucionário.
Os inimigos mais acerbos dessa bandeira preta, vermelha e ouro eram, naquele
tempo - não esqueçamos isso hoje - os Sociais-Democratas e os Sociais-Cristãos.
Eram eles, justamente, que insultavam, então, e emporcalhavam essas cores, tal
qual mais tarde, em 1918, fizeram com o pavilhão preto, branco e vermelho. É
verdade que o preto, o vermelho e o ouro dos partidos alemães da velha Áustria
representavam a cor do ano de 1848, portanto, de uma época que pode ter sido de
fantasias, que, porém, contava, entre os seus representantes, com os alemães
mais honestos, apesar de, por trás dos mesmos, existir invisível o dedo do
judeu. Por essa razão, a traição da pátria e a vergonhosa venda do povo alemão e
de suas riquezas tornaram logo essas bandeiras tão simpáticas ao marxismo e ao
Centro, que estes partidos, hoje, veneram esses símbolos como a sua maior
relíquia, adotando estandartes próprios para proteger a bandeira sobre a qual,
outrora, haviam cuspido.
É assim que, até o ano de 1920. o marxismo não contava com nenhuma bandeira
adversária que oferecesse um contraste em matéria doutrinária. Mesmo que a
burguesia alemã, pelos seus melhores partidos, não quisesse mais condescender,
depois do ano de 1918, em adotar, como seu próprio símbolo, a bandeira do Reich,
preta. vermelha e ouro, não tinha, também, um programa a apresentar futuramente,
nessa nova evolução e nem a idéia de reconstrução do antigo Reich.
É a essa idéia que a bandeira preta, branca e vermelha, do antigo Reich,
deve a sua ressurreição como emblema de nossos chamados partidos
nacionais-burgueses.
É evidente que o símbolo de uma crise que podia ser vencida pelo marxismo, em
circunstâncias pouco honrosas, pouco se presta a servir de emblema sob o qual
esse mesmo marxismo tem que ser novamente aniquilado. Por mais santas e caras
que possam ser essas antigas e belíssimas cores aos olhos de todo alemão bem
intencionado, que tenha combatido na Guerra e assistido ao sacrifício de tantos
compatriotas, debaixo dessas cores, não pode essa bandeira simbolizar uma luta
no futuro.
Ao contrário dos políticos burgueses, sempre defendi, no nosso movimento, a
opinião de que, para a nação alemã, foi uma felicidade ter perdido sua antiga
bandeira. Não precisamos investigar o que a República tem feito debaixo da sua.
De todo coração, deveríamos, porém, ser gratos ao destino misericordioso que
preservou a mais heróica bandeira de guerra de todos os tempos de servir de
lençol nos antros da prostituição.
O Reich atual, que vende seus cidadãos e a si próprio, nunca deveria
arvorar a bandeira preta, branca e vermelha, coberta de honras e de heroísmo.
Enquanto durar a vergonha de novembro poderá a República continuar a usar suas
insígnias próprias sem roubar a bandeira de um passado honesto. Nossos políticos
burgueses deveriam ter consciência de que o uso da bandeira preta, branca e
vermelha, por esse Estado, eqüivale a um roubo ao passado. O antigo pavilhão,
francamente, só se adaptava ao antigo Reich. Graças a Deus, a República, também,
escolheu um de acordo com as suas idéias.
Eis a razão por que nós, nacionais-socialistas, não teríamos podido
enxergar, na antiga bandeira, um símbolo expressivo de nossa própria atividade.
Nossa intenção não é ressuscitar o velho Reich, que pereceu por seus próprios
erros, mas, sim, construir um novo Estado.
A questão do novo pavilhão, isto é, o seu aspecto, ocupava muito a nossa
atenção, naquele tempo. De todos os lados recebíamos sugestões muito bem
intencionadas, mas sem sucesso. A nova bandeira tinha que representar o símbolo
da nossa própria luta, e, ao mesmo tempo, deveria produzir um efeito majestoso
sobre as massas. Quem tiver o hábito de lidar com a massa popular verá,
facilmente, nessas bagatelas aparentes, questões de grande importância. Um
emblema que produza grande efeito pode, em milhares de casos, dar o primeiro
impulso ao interesse popular por um movimento qualquer.
Eis porque tivemos de recusar todas as propostas, aliás bastante numerosas,
para identificar, por uma bandeira branca, o nosso movimento com o antigo Estado
ou, melhor ainda, com aqueles partidos enfraquecidos. cujo único fim político
consistia na restauração de situações passadas. Acresce ainda que o branco não é
uma cor arrebatadora; ela é apropriada a congregações de virgens castas e puras,
e não a movimentos violentos de uma época revolucionária.
O preto foi igualmente proposto. Seria próprio para a época atual, não
exprimia, porém, as aspirações do nosso movimento. Além disso, o efeito dessa
cor não é empolgante.
Branco-azul não foi aceito, apesar do maravilhoso efeito estético, por ser
a cor de um Estado da Alemanha, infelizmente de uma atitude política que não
goza da melhor fama, por sua estreiteza regionalista. Aliás, nessa escolha, não
haveria nada que correspondesse ao nosso movimento. Preto e branco estava no
mesmo caso. Preto, vermelho e ouro, por si mesmo, não entrou em questão, por
motivos já mencionados. Preto, branco e vermelho, pelo menos na mesma disposição
antiga, também não foi discutido. Quanto ao efeito, esta última composição de
cores leva a palma sobre todas as outras, realizando a mais brilhante harmonia.
Eu mesmo fui sempre um advogado da conservação das cores antigas, não só
por venerá-las como uma relíquia, na minha qualidade de soldado, como, também,
pelo efeito estético que elas exercem e que é mais conforme ao meu gosto.
Apesar disso, fui obrigado a recusar, sem exceção, os inúmeros esboços que
saíam, naquele tempo, dos círculos do movimento incipiente, e que, na maior
parte, tinham introduzido a cruz suástica na antiga bandeira. Como líder, eu
mesmo não queria aparecer logo em público com o meu próprio projeto, porque era
possível que alguém tivesse a idéia de outro igual, ou mesmo melhor, do que o
meu. Com efeito, um dentista de Starnberg produziu um desenho bem regular e
muito parecido com o meu, com um único defeito de trazer a cruz suástica com
ganchos curvos sobre um disco branco.
Nesse ínterim, depois de inúmeras tentativas, eu havia chegado a uma forma
definitiva; uma bandeira de fundo vermelho com um disco branco, em cujo meio
figurava uma cruz suástica preta. Após longas experiências, descobri, também,
uma relação determinada entre a dimensão da bandeira e a do disco branco, como
entre a forma e o tamanho da cruz suástica, e aí fizemos ponto final.
No mesmo sentido, fez-se logo encomenda de braçais para os encarregados do
"serviço de ordem", sendo o braçal vermelho, com um disco branco, trazendo no
centro a cruz suástica preta.
O emblema do partido foi esboçado segundo as mesmas diretrizes: um disco
branco sobre fundo vermelho e no centro a cruz. Um ourives de Munique, por nome
Füss, forneceu o primeiro esboço suscetível de ser empregado e adotado.
Em pleno verão de 1920, o novo pavilhão apareceu, pela primeira vez, em
público. Adaptava-se, admiravelmente, ao nosso movimento incipiente. Partido e
bandeira distinguiam-se pela novidade. Nunca tinham sido vistos antes. Seu
efeito, naquele momento, foi o de uma tocha incendiada. A nossa alegria foi
quase infantil quando uma fiel adepta de nosso partido executou o plano pela
primeira vez e no-lo entregou. Já poucos meses depois, possuíamos meia dúzia em
Munique. As tropas do "serviço de ordem", cada vez mais, extensas, contribuíram,
extraordinariamente, para a propagação do novo símbolo do movimento.
Era um símbolo de verdade! Por serem intérpretes da nossa veneração pelo
passado, estas cores ardentemente amadas, que, outrora, alcançaram tanta glória
para o povo alemão, eram, agora, ainda a melhor materialização das aspirações do
movimento. Como nacionais-socialistas, costumamos ver na nossa bandeira o nosso
programa. No vermelho, vemos a idéia socialista do movimento, no branco, a idéia
nacional, na cruz suástica a missão da luta pela vitória do homem ariano,
simultaneamente com a vitória da nossa missão renovadora que foi e será
eternamente anti-semítica.
Dois anos mais tarde, quando as "tropas de ordem" já se tinham
transformado, há muito tempo, em um batalhão de assalto de muitos milhares de
homens, surgiu a necessidade de dar a essa organização de defesa da nova
doutrina ainda um símbolo especial de triunfo: Os estandartes! Esses, também,
foram esboçados por mim e a execução foi confiada a um fiel adepto do partido, o
ourives Guhr. Desde aquele momento, os estandartes passaram a ser os sinais
característicos da campanha nacional-socialista.
A atividade nos comícios populares, que crescia, cada vez mais, durante o
ano de 1920, levou-nos, por fim, a marcar duas reuniões por semana, As multidões
se aglomeravam diante dos nossos cartazes, as salas mais espaçosas da cidade
estavam sempre repletas e dezenas de milhares de adeptos, desviados pelos
marxistas, voltaram à sua antiga comunidade, para lutar pela liberdade de um
Reich futuro. Já estávamos conhecidos pelo público de Munique. Falava-se em
nosso nome, e a expressão "Nacional-Socialista" já era familiar a muitos,
significando até mesmo um programa, o número dos adeptos do movimento começou a
crescer sem interrupção, de modo que, no inverno de 1920/21, já podíamos
aparecer em Munique com um forte partido.
Naquele tempo, não havia, fora dos partidos marxistas, nenhum outro, pelo
menos de caráter nacional, que pudesse registrar tão grandes manifestações
populares.
O "Münchener Kindl-Keller", que podia comportar cinco mil pessoas, ficou,
mais uma vez, à cunha, e só havia um local que não tínhamos ousado ocupar, Esse
era o circo Krone.
No fim de janeiro de 1921, surgiram, novamente, grandes preocupações para a
Alemanha. O tratado de Paris, pelo qual a Alemanha se obrigava ao pagamento da
soma absurda de cem bilhões de marcos ouro, devia se tornar uma realidade sob a
forma do pacto de Londres.
Uma associação de trabalhistas, que existia há muito tempo em Munique e era
formada por ligas populares, queria aproveitar esse pretexto para lançar o
convite para um grande protesto coletivo, o tempo urgia e, eu mesmo, me sentia
nervoso diante das eternas hesitações quanto às resoluções tomadas. Falou-se,
primeiro, em uma manifestação de protesto diante da Feldherrnhaller.
Isso, também, fracassou, surgindo, então, a proposta para uma reunião geral
no Münchener-Kindl-Keilcr. Nesse ínterim, passava o tempo. Os grandes partidos
não tinham dado a menor atenção ao terrível acontecimento e a associação
trabalhista não se podia decidir a fixar uma data certa para a tal manifestação.
Na terça-feira, 1.° de fevereiro de 1921, exigi, com a maior urgência, uma
resolução definitiva. Fizeram-me esperar até quarta-feira, Nesse dia, pedi
informações seguras quanto à possibilidade da tal reunião, A resposta foi
novamente incerta e evasiva, Disseram que tinham a intenção de convidar a
associação trabalhista a realizar uma manifestação daí a oito dias.
Com isso esgotou-se a minha paciência e tomei a iniciativa de executar,
sozinho, uma manifestação de protesto. Quarta-feira, ao meio-dia, em dez
minutos, ditei a uma datilógrafa o anúncio da reunião, mandando, ao mesmo tempo,
alugar o circo Krone, para o dia seguinte, quinta-feira, 3 de fevereiro.
Naquela época, isso significava uma ousadia extraordinária, Não era só a
incerteza de poder encontrar auditório para encher aquele enorme espaço; havia,
também, o perigo de um ataque, durante a sessão.
Nossas "tropas de ordem" não eram suficientes para vigiar um espaço tão
grande. Eu também não tinha uma idéia definida sobre a atitude a tomar na
eventualidade de Um ataque, Acresce que eu achava a defesa mais difícil em um
circo do que em uma sala comum. Devia ser justamente o contrário, como ficou
provado mais tarde. Em uma área gigantesca, era mais fácil dominar um batalhão
de assalto do que em salas apertadas.
Só havia, de certo, uma coisa: todo fracasso poderia nos atrasar por muito
tempo. Um assalto, coroado de sucesso, poderia destruir, de um golpe, a nossa
fama e encorajar o adversário a recomeçar o mesmo jogo.
Isso poderia ocasionar uma sabotagem de toda a nossa atividade nos comícios
futuros. E semelhante desastre só poderia ser reparado depois de muitos meses e
após grandes lutas.
Só dispúnhamos de um dia para pregar cartazes. Infelizmente chovia de manhã
e tínhamos o justo receio de que muitos prefeririam ficar em casa a irem a uma
reunião debaixo de chuva ou de neve, expondo-se, talvez, até a serem
assassinados.
A verdade é que, na manhã de quinta-feira, apoderou-se de mim o pavor de
que não conseguiria encher a casa. Imediatamente ditei e mandei imprimir alguns
boletins para serem distribuídos à tarde. Se meu receio se realizasse eu
passaria uma grande vergonha, diante da associação trabalhista, os folhetos
naturalmente encerravam o convite para a reunião.
Dois caminhões, que eu mandei fretar, foram cobertos com o maior número
possível de panos vermelhos, arvorando algumas bandeiras nossas. Quinze a vinte
adeptos do nosso partido partiram nos mesmos, com a ordem expressa de passar por
todas as ruas da cidade jogando boletins, enfim, fazendo propaganda para a
colossal manifestação da noite, Era a primeira vez que caminhões embandeirados
passavam pela cidade sem serem guiados por marxistas. Eis porque a burguesia
via, boquiaberta, a passagem dos carros enfeitados de vermelho e de bandeiras
nazistas que voavam ao vento, enquanto, nos bairros afastados do centro da
cidade, levantavam-se, também, inúmeros punhos cerrados que exprimiam uma fúria
visível contra a última "provocação ao proletariado", Até então só o marxismo
possuía o monopólio de organizar reuniões e de andar para cima e para baixo em
caminhões.
As 7 horas da noite, o circo ainda não estava repleto. De dez em dez
minutos, chamavam-me ao telefone. Sentia-me bastante inquieto, pois às sete
horas ou às sete e um quarto, as outras salas já estavam quase completamente
cheias. A razão, aliás, não tardou a ser descoberta: eu não tinha contado com as
dimensões gigantescas do novo local. Mil pessoas na sala do Hotbräuhaus já
faziam um bonito efeito, enquanto passavam inteiramente despercebidas no circo
Krone. Quase não se via ninguém. Pouco depois começaram a vir comunicações mais
favoráveis e, às oito horas menos um quarto, diziam-me que três quartos do circo
já estavam ocupados, havendo grande multidão diante dos guichês da entrada. Com
essa noticia eu me pus a caminho.
Cheguei ao circo às oito horas e dois minutos. Via-se, ainda uma grande
multidão diante do mesmo; alguns pareciam meros curiosos, outros, adversários,
que esperavam fora o desenrolar dos acontecimentos.
Quando penetrei na formidável área deixei-me empolgar pela mesma alegria
que havia experimentado no ano precedente, quando da primeira reunião na sala de
festas da Bräuhaus, de Munique, Mas somente depois de eu ter, a muito custo,
conseguido passar através de verdadeiras muralhas humanas, até chegar ao estrado
um pouco elevado, e que o sucesso, em toda a sua plenitude, se manifestou aos
meus olhos. Esse local se estendia diante de mim como uma concha enorme, repleta
de milhares e milhares de pessoas.
Até o picadeiro estava repleto. Na entrada, tinham sido distribuídos cinco
mil e seiscentos cartões; sem se contar o número total dos sem trabalho, dos
estudantes pobres e dos nossos homens do "serviço de ordem", deviam ser ao todo
seis mil e quinhentas pessoas.
"Marchamos para um futuro de prosperidade ou para a derrocada?" Era esse o
tema da minha conferência e meu coração exultava na convicção de que o futuro
estava ali diante dos meus olhos. Comecei a falar e falei cerca de duas horas e
meia. Depois da primeira meia hora, já eu pressentia que a reunião teria um
grande sucesso. Estava estabelecida a ligação com todos esses milhares de
indivíduos. Já no fim da primeira hora, comecei a ser interrompido por aplausos
que explodiam cada vez mais, espontaneamente, para decrescer novamente, depois
de duas horas, passando a um silêncio solene que eu devia, mais de uma vez, mais
tarde, constatar nesse lugar, e de que cada um de nós guarda uma lembrança
imperecível. Quase que não se ouvia outra coisa senão a respiração dessa
multidão colossal e, só depois que proferi a última palavra, é que se levantou,
subitamente, um bramido que somente cessou com o cântico patriótico "Alemanha",
entoado com o máximo ardor. Eu observava como, aos poucos, a enorme área
começava a se esvaziar e uma monstruosa onda de gente procurava a saída pela
grande porta do centro. Isso durou quase vinte minutos. Só então, possuído do
mais vivo contentamento, deixei o meu lugar, a fim de voltar para casa.
Tiraram-se fotografias dessa primeira reunião no circo Krone, de Munique.
Melhor do que palavras, servirão elas para provar a importância da manifestação.
Jornais burgueses trouxeram ilustrações e notícias mencionando, porém,
unicamente, o caráter "nacional" da manifestação, silenciando, porém, como
sempre, sobre o nome dos organizadores.
Com essa demonstração, saímos, pela primeira vez, do quadro dos partidos
existentes. Não podíamos mais passar despercebidos. Para impedir a todo o preço
a impressão de que esse sucesso pudesse ser visto como efêmero, marquei,
imediatamente, para a semana vindoura, a segunda manifestação no circo, e o
sucesso foi idêntico.
Novamente, o imenso espaço se achava à cunha, a tal ponto que decidi
organizar, pela terceira vez, outra reunião do mesmo gênero, na semana seguinte
e, pela terceira vez, o circo gigantesco ficou apinhado de gente.
Após esse confortador início do ano de 1921, desenvolvi ainda mais nossa
atividade na organização de comícios, em Munique. Chegamos a realizar não um,
mas, às vezes, dois comícios por semana. No meio do verão e no fim do outono,
realizávamos até três por semana. Nós nos reuníamos sempre no circo e, para
nossa grande satisfação, constatávamos todas as noites o mesmo brilhante sucesso
de sempre.
O resultado foi então um acréscimo ininterrupto do número de adeptos do
movimento.
Era natural que esses sucessos inquietassem os nossos adversários. Uma vez
que estes, sempre vacilantes na sua tática, ora aconselhavam o terror, ora um
silêncio absoluto, tornavam-se incapazes de impedir o progresso do nosso
movimento de um modo ou de outro, como eles próprios eram obrigados a
reconhecer. Foi assim que, em um esforço supremo, resolveram-se a um ato
terrorista, a fim de sufocar, definitivamente, a nossa atividade nos comícios.
Como pretexto a tal atitude aproveitaram-se de um atentado extremamente
misterioso contra um deputado da Dieta, por nome Erhard Auer. Constava que,
certa noite, ele tinha recebido um tiro, sem se saber de quem. A verdade é que
ele não foi atingido. Houve, porém, ao que se dizia, a intenção. Tudo não passou
de boatos. A fantástica presença de espírito, assim como a coragem proverbial do
chefe do partido social-democrata, teria não só anulado o ataque criminoso como,
também, induzido a fugir, vergonhosamente, os miseráveis autores. Tinham fugido
tão depressa e para tão longe, que, mesmo mais tarde, a polícia não pôde mais
descobrir o menor rastro deles. Esse processo misterioso serviu ao órgão do
partido social democrata de Munique como instrumento de intriga contra o nosso
movimento. Medidas tinham sido tomadas para evitar os nossos impressionantes
progressos. Nesse programa, estava prevista uma oportuna intervenção de parte do
proletariado, por meio da violência.
E o dia da intervenção não se fez esperar.
Foi escolhido um comício, na sala de festas do Hotbräuhaus, de Munique, na
qual eu mesmo devia falar, para se decidir, definitivamente, a questão.
No dia 4 de novembro de 1921, recebi, entre 6 e 7 horas da noite, as
primeiras notícias positivas sobre o próximo ataque ao comício e soube que se
tinha a intenção de mandar para o local grandes grupos de operários recrutados
para esse fim, especialmente em alguns meios rubros.
A um feliz acaso devemos o não termos recebido antes disso esse aviso.
Nesse dia mesmo, tínhamos deixado nosso velho e respeitável escritório da
Sterneckergasse, em Munique, mudando-nos para um novo, isto é, tínhamos saído do
velho, mas não podíamos ainda entrar no novo, pois esse estava em obras. Como o
telefone da antiga sede tinha sido retirado e ainda não estava colocado na
segunda, foram inúteis os esforços de numerosas comunicações telefônicas,
avisando-nos sobre o ataque planejado.
A conseqüência disso tudo foi ficar o serviço de defesa do comício reduzido
a algumas patrulhas muito fracas. Achava-se presente só uma companhia
numericamente fraca, de, mais ou menos, quarenta e seis pessoas. O serviço de
patrulhamento ainda não estava bastante organizado para que se pudesse mandar
vir, à noite, dentro de uma hora, um reforço suficiente. Acrescia ainda que
boatos alarmantes desse gênero, já nos tinham chegado aos ouvidos inúmeras
vezes, sem que nada de extraordinário tivesse acontecido. O velho ditado,
segundo o qual, revoluções preditas, geralmente não arrebentam, até então tinha
sido confirmado pelos fatos.
Eis por que não se tomaram todas as precauções necessárias para enfrentar
um possível ataque, pela maneira mais violenta. Considerávamos a sala de festas
do Hofbräuhaus, de Munique, como totalmente imprópria para ser atacada. Tínhamos
receado isso muito mais nas grandes salas, sobretudo no circo. A esse respeito,
esse dia nos trouxe uma preciosa lição. Mais tarde estudamos todas essas
questões, posso dizer, com método científico, chegando a resultados tão
surpreendentes quanto interessantes e que se tornaram, nos tempos que se
seguiram, de uma importância fundamental para a direção organizadora e a tática
de nossos pelotões de assalto. Quando, às 8 menos um quarto, penetrei na entrada
do Hofbräuhaus, não podia, com efeito, subsistir a menor dúvida sobre tal
intenção. A sala estava repleta e, por isso, interdita pela polícia. Os
adversários, que tinham chegado muito cedo, achavam-se na sala e a maior parte
dos nossos adeptos encontravam-se fora do recinto. A pequena "tropa de assalto"
me esperava na entrada. Mandei fechar as portas da grande sala, dei ordens para
que entrassem os quarenta e tantos homens. Expus aos rapazes que havia chegado a
hora de provarem, pela primeira vez, a sua fidelidade inquebrantável ao
movimento. Nenhum de nós tinha o direito de deixar a sala senão depois de morto.
Eu ficaria, pessoalmente, na sala e não supunha que um só deles ousasse me
abandonar. Se, porém, chegasse a avistar algum que se mostrasse, pessoalmente,
covarde, arrancar-lhe-ia o braçal e a insígnia. Depois disso, incitei-os a irem
para frente, logo que notassem qualquer tentativa de assalto, sem esquecerem que
o melhor meio de defesa é o ataque.
A resposta foi um "viva", repetido três vezes, e que, nessa ocasião, soou
mais alto do que de costume. Depois disso, entrei na sala, podendo, então, com
os meus próprios olhos, colher uma vista panorâmica da situação. Os inimigos ali
estavam, em massas compactas, procurando furar-me com os olhares. Inúmeras caras
se voltavam para mim, mal contendo seu ódio, enquanto outras, com caretas
sarcásticas, faziam exclamações insofismáveis. "Hoje eles acabariam conosco",
"nós devíamos defender nossas tripas", "nossas bocas seriam definitivamente
arrolhadas", enfim uma série de belas locuções desse jaez. Estavam conscientes
de sua superioridade e manifestavam-se de acordo com a atmosfera do momento.
Apesar de tudo, a sessão pôde ser abei-ta e tomei a palavra. Na sala de
festas do Hofbräuhaus eu tomava lugar sempre em um dos lados, em uma mesa de
cerveja. Assim ficava, realmente, no meio do público. Talvez essa circunstância
contribuísse para criar, nessa sala, um ambiente como nunca encontrei em nenhum
outro lugar.
Na minha frente, sobretudo mais para a esquerda, só havia adversários,
sentados e de pé. Eram todos homens e rapazes robustos, em grande parte
trabalhadores da fábrica Maffei, de Kusterman, Isasrizäher, etc. Ao longo da
parede esquerda da sala, já tinham empurrado as mesas até bem perto da minha e
começavam a recolher os quartilhos. Encomendavam sempre mais cerveja, colocando
os recipientes vazios debaixo da mesa. Assim se formavam verdadeiras baterias.
Teria sido um milagre se as coisas, dessa vez, acabassem em pai. Depois de hora
e meia, mais ou menos, - período durante o qual consegui falar, apesar de todos
os apartes - parecia que eu chegaria a dominar a situação. O mesmo receio
parecia terem os chefes do pelotão de ataque. Sua inquietação aumentava. De vez
em quando saiam e entravam novamente, falando, visivelmente nervosos, com o seu
pessoal.
Um pequeno erro psicológico que cometi, respondendo à um aparte e de cuja
inoportunidade tive imediatamente consciência, mal acabava de proferir a
palavra, foi o sinal para o começo do conflito.
Depois de alguns apartes enfurecidos, um homem saltou em cima de uma
cadeira, berrando para o público: "Liberdade!" Os "pioneiros" da liberdade só
esperavam esse sinal para entrar na luta.
Em poucos segundos a sala inteira se achava repleta de uma multidão que
berrava e gritava e, por cima da qual, como obuses, voavam inúmeros copos;
ouviam-se o rachar de pernas de cadeiras, o quebrar de quartilhos, gritos e
berros de toda espécie.
Era um espetáculo simplesmente ridículo. Fiquei parado no meu lugar,
podendo observar com que consciência meus rapazes cumpriam o seu dever, Eu
desejava ver como se portariam os burgueses em uma tal situação.
A "dança" ainda não tinha começado e já minha patrulha de assalto - nome
que se guardou desde esse dia - iniciava seu ataque. Como lobos,
precipitavam-se, em matilhas de oito ou dez, sobre os seus adversários,
conseguindo, aos poucos, porem-nos fora da sala. Ao cabo de cinco minutos, quase
todos eles estavam sujos de sangue. Quantos eu conheci somente a partir daquele
momento! A frente de todos estavam o bravo Maurice. meu atual secretário
particular, Hesse e muitos outros que, apesar de gravemente feridos, voltavam
sempre ao ataque, enquanto se podiam manter de pé. O barulho infernal durou
vinte minutos, no fim dos quais, os adversários, que podiam ser setecentos ou
oitocentos, já tinham sido expulsos da sala e jogados de escada abaixo, pelos
meus homens, que não eram mais de cinqüenta.
Só no lado esquerdo do fundo da sala ainda permanecia um grande grupo, que
opunha a mais encarniçada resistência. Subitamente, da entrada da sala, deram
dois tiros de pistola sobre o estrado. seguidos de um tiroteio desenfreado.
Exultávamos diante de uma tal ressurreição de antiga cena guerreira.
Não havia mais meio de distinguir quem atirava. Só uma coisa se podia
verificar, é que a fúria dos meus rapazes, cobertos de sangue, tinha aumentado e
que, afinal, os últimos desordeiros, vencidos, eram jogados fora da sala.
Tinham decorrido, mais ou menos, vinte e cinco minutos. O aspecto da sala
era como se uma granada aí tivesse estourado.
Muitos dos meus adeptos estavam sendo submetidos a curativos, outros tinham
que ser transportados, mas nós tínhamos ficado senhores da situação.
Hermann Esser, que, nessa noite, havia assumido a chefia da sessão,
declarou: A sessão continua. Tem a palavra o orador. E eu recomecei a falar.
Depois que, nós mesmos, já tínhamos encerrado a sessão, entrou de repente
um agitado tenente de polícia gritando, com movimentos descontrolados: "A
reunião está suspensa!"
Involuntariamente, tive que rir desse retardatário. Nos policiais, essa
mania de importância é típica. Quanto menores eles são, mais querem aparentar
autoridade.
Nessa noite, tínhamos realmente aprendido muito e nossos adversários,
também, não esqueceram a lição recebida. Até o outono de 1923, o "Münchener
Post" não nos amedrontou mais com as ameaças de violência por parte do
proletariado.
CAPÍTULO VIII - O FORTE É MAIS FORTE SOZINHO
No capítulo precedente, tive ocasião de mencionar a existência de uma
associação trabalhista formada por ligas racistas alemãs e desejo, aqui,
elucidar, em poucas palavras, o problema dessas organizações.
Geralmente entende-se por associação trabalhista um agrupamento de ligas
que, para facilitarem o seu trabalho, assumem compromissos recíprocos, escolhem
uma direção comum, de competência mais ou menos reconhecida, para realizarem uma
ação de conjunto.
Só por esse fato, já se vê que se trata de associações ou partidos, cujas
finalidades são mais ou menos idênticas.
Para o tipo normal do cidadão é agradável e cômodo saber que, pelo fato de
tais ligas se unirem formando uma associação, elas destacam os traços que as
podem unir, pondo de lado o que as pode separar.
Com isso surge a convicção de que a força de uma tal agremiação aumentou
extraordinariamente e que os pequenos grupos se transformaram subitamente em uma
verdadeira potência.
Isso, porém, é quase sempre falso.
É interessante e, na minha opinião, de grande importância para a
compreensão do problema, conseguir ver claramente como é possível a formação de
ligas, associações, etc., todas visando à mesma finalidade.
Seria lógico que cada liga visasse apenas a um fim.
Incontestavelmente, esse objetivo só tinha sido visado por uma liga. Em
determinada liga, um indivíduo proclama uma verdade, convida outros a resolverem
uma questão, propõe uma finalidade e organiza um movimento que tende à
realização de seu objetivo.
Funda-se assim uma associação ou um partido que, segundo seu programa, deve
conseguir ou a supressão dos males existentes ou o estabelecimento de condições
especiais para o futuro.
Logo que surge um tal movimento, possui ele praticamente um certo direito
de prioridade.
Nada mais natural que todos os homens, visando ao mesmo objetivo, se
filiassem ao novo movimento, fortalecendo-o, para melhor servirem à causa comum.
Cada indivíduo que pensa por si deveria ver em uma tal filiação a condição
indispensável para o êxito da causa coletiva
Para atingir-se esse objetivo só um movimento organizado pode ser
eficiente.
Há duas causas para que isso não se verifique. A uma delas eu daria o
qualificativo de "trágica", a segunda reside na própria fraqueza humana. Em
verdade, só vejo em ambas essas causas fatos que se prestam a reforçar a vontade
e a energia humana e, por uma educação aprimorada da atividade dos homens,
tornar possível a solução desse problema.
Eis a razão pela qual nunca uma liga por si só pode dar a solução de um
determinado problema. Toda realização importante será geralmente a satisfação de
um desejo alimentado, de há muito, secretamente, por milhões de entes humanos.
Pode acontecer que, durante séculos e séculos, se anseie pela solução de um
determinado problema, sem que, devido à pressão de condições difíceis, se chegue
jamais à realização desses anelos.
Deve-se dar o qualificativo de impotentes aos povos que, em uma tal
emergência, não encontram uma solução heróica. A força vital de um povo, o seu
direito à vida, se manifestam do modo mais impressionante, no momento em que
esse povo recebe a graça de um homem que o destino reservou para a realização de
suas aspirações, isto é, para a libertação de um grande cativeiro, para a
supressão de amargas dificuldades.
É um fenômeno típico de todos os problemas do momento que milhares
trabalhem na sua solução, que muitos se julguem predestinados, para que, enfim,
a sorte, no jogo das forças, escolha o mais competente para confiar-lhe a
solução do problema.
Assim, pode acontecer que durante muitos séculos, descontentes com a
conformação de sua vida religiosa, aspirem a uma inovação e que, dessa aspiração
moral, surjam dúzias de homens que se crêem eleitos, pela sua clarividência ou
pelo seu saber, como profetas de uma nova doutrina ou pelo menos como lutadores
contra outra já existente.
Aqui também, pela ordem natural das coisas, certamente será o mais forte
que será escolhido para cumprir a grande missão; apenas os outros só muito
tardiamente reconhecem o fato de ser este o único eleito. Ao contrário, todos se
julgam com os mesmos direitos e predestinados a resolver o problema, sendo que a
coletividade geralmente é que menos sabe distinguir quem dentre eles é capaz de
realizar a mais alta missão, quem merece o apoio de seus semelhantes.
É desse modo que, no decorrer dos séculos, às vezes, até dentro de uma
mesma época, surgem diferentes homens organizando movimentos que visam, pelo
menos na teoria, finalidades idênticas ou assim julgadas pela grande maioria. O
povo nutre desejos vagos e convicções indeterminadas, sem saber explicar com
clareza o que, realmente constitui a essência da sua finalidade ou do seu desejo
próprio ou mesmo da possibilidade de sua realização.
O ponto trágico reside no fato de que esses indivíduos aspiram, por
caminhos diferentes, a fim idêntico, sem se conhecerem entre si, e, por isso
mesmo, na fé mais ingênua em sua própria missão, vão seguindo o seu caminho
julgando-se no dever de cumpri-la sem a menor consideração para com os outros.
Que tais movimentos, partidos, agrupamentos religiosos, completamente
independentes uns dos outros, surjam das aspirações gerais, em dado momento
histórico, para encaminhar a sua atividade na mesma direção, é o que, pelo menos
à primeira vista, parece lastimável, por prevalecer a opinião geral de que as
forças dispersadas em rumos diferentes e depois concentradas em um só conduzem,
mais depressa e mais seguramente, ao sucesso almejado. Tal, porém, não se
verifica. A natureza, na sua lógica implacável, decide a questão deixando
entrarem em luta os diferentes grupos na competição pela vitória, e conduzindo
ao fim almejado o movimento dos que tiverem escolhido o caminho mais reto, mais
curto e mais seguro. Como, porém, determinar se estava certo ou errado o caminho
segui do, quando as forças se exercem livremente, quando a última decisão deriva
da resolução doutrinária de sabichões e é entregue às infalíveis demonstrações
do sucesso visível que, no final de contas, é sempre a sanção última de uma
ação?
Se, portanto, diversos grupos visam ao mesmo alvo por caminhos diferentes,
logo que tomarem conhecimento da analogia de suas aspirações com as dos outros,
submeterão o seu programa a um exame mais minucioso, tentando com redobrado
esforço alcançar o fim o mais depressa possível.
Essa concorrência tem por fim um aperfeiçoamento do combate individual e
não é raro que a humanidade deva o triunfo de suas doutrinas ao fracasso de
tentativas precedentes. Assim é que podemos reconhecer no fato aparentemente
lamentável da dispersão inicial e inconsciente, o remédio pelo qual chegaremos
ao melhor resultado.
A história nos mostra - e nisso, quase todas as opiniões estão de acordo que os dois caminhos abertos à solução do problema alemão, cujos principais
representantes e campeões eram a Áustria e a Prússia, Habsburgos e Hohenzollern,
desde o princípio deveriam correr paralelos. Segundo essas opiniões, nossas
forças se deveriam ter unificado e tomado uma ou outra dessas direções. Naquele
tempo, porém, o caminho escolhido foi o menos importante; as intenções
austríacas, entretanto, nunca teriam conduzido à construção de um Reich alemão.
O Reich alemão surgiu justamente daquilo que milhões de alemães
consideravam, com o coração sangrando, como o último e mais terrível emblema da
nossa briga entre irmãos: a coroa imperial da Alemanha. saiu verdadeiramente do
campo de batalha de Königgrätz e não dos combates diante de Paris, como
geralmente se supõe.
A fundação do Reich alemão não foi o resultado de qualquer aspiração comum
animando iniciativas comuns; resultou muito mais de uma luta, ora consciente ora
inconsciente, pela hegemonia, sendo que dessa luta foi a Prússia que saiu
vitoriosa por fim. E quem não se deixar cegar por partidos políticos,
renunciando assim à verdade, terá que confirmar que a chamada sabedoria humana
nunca teria tomado a sábia resolução que resultou do livre jogo das forças
reais.
Quem nos países de raça alemã teria acreditado, há duzentos anos, que não
os Habsburgos, mas a Prússia dos Hohenzollern, seria um dia a célula mater, a
pedra fundamental do novo reino?! Quem, ao contrário, ainda se meteria a negar
hoje que o Destino fez bem, agindo assim? Quem poderia ainda imaginar um Reich
alemão implantado sobre as bases de uma dinastia corrompida e decadente?
Não, a evolução natural, se bem que após uma luta secular, assegurou à
melhor parte do povo alemão o lugar que lhe compete.
Foi e será sempre assim na vida das nações.
Não se deve, pois, lamentar o fato de diferentes indivíduos se porem em
caminho para atingir o mesmo alvo: o mais forte e o mais expedito será sempre o
vitorioso.
Na vida dos povos, ainda há uma segunda causa que determina freqüentemente
que movimentos de aparência idêntica, procurem, por vias diversas, uma
finalidade aparentemente idêntica. Essa causa, por demais deplorável, é
conseqüência de um misto de inveja, ciúme, ambição e desonestidade que se
encontram, infelizmente, às vezes reunidos em um mesmo indivíduo. Logo que
apareça um homem conhecendo profundamente as misérias do seu povo e que procure
enxergar claramente a natureza dos seus males, tentando remediar tudo, logo que
ele visar um fim e traçar o caminho a seguir, imediatamente os espíritos mais
mesquinhos ficam atentos, seguindo com ansiedade os passos desse homem que
chamou a si a atenção geral, Esses indivíduos se portam como os pardais, que,
aparentemente sem nenhum interesses, na realidade, observam com ansiedade e com
a intenção de furtar, um companheiro mais feliz que logra achar uma migalha de
pão, Basta que um indivíduo enverede por um novo caminho para que muitos
vagabundos fiquem alertas farejando qualquer petisco saboroso que possa ter sido
jogado nesse caminho. Logo que o descobrem, põem-se em marcha para alcançar o
alvo, se possível por um atalho.
Uma vez lançado o novo movimento e fixado o seu programa definido, aparece
aquela gente pretendendo bater-se pelas mesmas finalidades; isso, porém, é
mentira, pois eles não se alistam nas fileiras da causa para reconhecer-lhes a
prioridade, mas, ao contrário, plagiam seu programa lançando sobre ele os
fundamentos de novo partido. Nisso tudo eles se mostram desavergonhados,
afirmando ao público inconsciente que as intenções do outro partido já há muito
eram as suas também, e o pior é que, com essas pretensões, conseguem aos poucos
aparecer sob um prisma simpático, em vez de caírem rio desprezo geral que
mereciam. Pois, não é uma grande falta de vergonha tomar a si a missão
proclamada pela bandeira alheia, refutar as diretrizes do programa alheio, para
depois seguir seus próprios caminhos como se tivesse sido o plagiário o criador
de tudo? O maior descaramento consiste em serem esses elementos, - aliás os
primeiros causadores da dispersão, por suas sucessivas inovações - os que mais
proclamam a necessidade da união, logo que se convencem de não poderem tomai- a
dianteira do adversário.
A um processo desses é que se deve a chamada "dispersão dos elementos
racistas". Aliás, como a evolução natural das coisas tem provado
suficientemente, a formação de toda uma série de grupos e partidos denominados
racistas, nos anos de 1918 e 1919, foi um acontecimento que não pode ser
absolutamente atribuído aos seus autores. Desses fatos todos, já no ano de 1920,
tinha surgido vitorioso o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Não pode haver melhor prova da honestidade 1)1-overbial dos promotores desse
movimento do que a decisão, verdadeiramente admirável, de muitos deles, de
sacrificarem ao movimento mais forte o outro por eles chefiados e cujo sucesso
era muito menor, havendo, por isso, conveniência em dissolvê-lo ou incorporá-lo
incondicionalmente.
Isso se aplica sobretudo a Julius Streicher, o principal campeão do Partido
Socialista de Nuremberg. Naquela época, o Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães e o Partido Socialista Alemão tinham nascido inteiramente
independentes um do outro, mas visando às mesmas finalidades. O principal
precursor nas lutas preparatórias para a formação do Partido Socialista Alemão
foi, como já dissemos, Julius Streicher, então professor em Nuremberg. A
princípio, estava ele também solenemente convencido da missão futura do seu
movimento. No momento, porém, em que não restava mais dúvida nenhuma sobre a
força maior e a maior extensão do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores
Alemães renunciou ele à sua atividade na propaganda do Partido Socialista
Alemão, incitando os seus adeptos a enfileirarem-se no Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães, que tinha saído vitorioso na luta
recíproca. Propôs-se então a batalhar em nossas fileiras pelo ideal comum, o que
constitui uma resolução tão heróica quanto digna de um homem de bem.
Nessa primeira fase do movimento não se verificou nenhuma dispersão, sendo
que quase por toda parte a vontade bem intencionada dos homens da época conduzia
a um resultado honesto e seguro. Aquilo que hoje entendemos por dispersão dos
elementos racistas" deve sua existência, como já acentuamos, à segunda causa por
mim mencionada (e isso sem exceção): homens ambiciosos que, antes, nunca tinham
visado a fins próprios nem possuído idéias próprias, sentiram a sua "vocação"
precisamente no momento em que os sucessos do Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães começavam a firmar-se.
Surgiram, então, programas, do começo ao fim, copiados dos nossos, combates
por idéias decalcadas sobre as nossas, exposição de finalidades já há anos
visadas por nós, escolha de caminhos há muito já trilhados pelo nosso Partido.
Procurou-se por todos os meios achar um motivo para a formação obrigatória
desses novos partidos, já existindo há tanto tempo o nosso. Quanto mais nobres
eram os pretextos menos verdade continham.
Na verdade um único motivo era a causa de tudo; a ambição pessoal dos
fundadores de representar um papel dificilmente preenchido pela sua própria
pequenez, se não fosse uma grande ousadia de adotar pensamentos alheios, com uma
petulância que, na vida burguesa, só se costuma atribuir aos ladrões.
Naquela época não existiam representações nem idéias alheias de que
semelhante cleptômano político não se apoderasse logo para servir aos seus novos
interesses. Os autores de tal plágio eram, porém, os mesmos indivíduos que mais
tarde, com lágrimas nos olhos, ousavam deplorar profundamente a "dispersão dos
elementos racistas" falando sem cessar da "necessidade da união", na secreta
esperança de, finalmente, embrulharem os outros de tal maneira que esses,
cansados de ouvir os gritos de eterna acusação, lhes faziam presente não só das
idéias roubadas como também dos movimentos criados para propagá-las.
Se todavia não conseguiam isso e se as novas empresas não rendiam o que se
esperava delas, devido à pequena capacidade intelectual de seus diretores, a
coisa se liquidava mediante um preço menor, e já se considerava feliz quem nesse
caso podia ingressar em uma das tais associações trabalhistas.
Todos os que, naquele tempo, não conseguiam manter-se independentemente,
filiavam-se a tais associações, inspirados talvez na crença de que oito
aleijados de braços dados certamente serão equivalentes a um gladiador.
Se acontecia que entre os aleijados aparecesse de fato um que não o fosse,
tinha esse que despender toda sua força só para manter os outros de pé, acabando
finalmente por ficar inválido também. É preciso considerar sempre como uma
questão de tática a cooperação nessas chamadas associações trabalhistas; não
devemos, porém, nos afastar nunca da seguinte verdade fundamental:
A formação de uma associação trabalhista nunca concorrerá para transformar
ligas fracas em poderosas; uma liga forte ao contrário pode às vezes
enfraquecer-se por causa daquelas. É falsa a suposição de que da fusão de grupos
fracos possa resultar um fator de energia, pois a maioria, sob toda e qualquer
forma e em todas as hipóteses, tem sido sempre a representante da tolice e da
covardia. É assim que todas as ligas, dirigidas por muitas cabeças, estão
totalmente votadas à covardia e à fraqueza. Acresce ainda que uma tal coesão
impede o livre exercício das forças, a luta pela seleção do melhor elemento,
barrando assim a possibilidade da vitória final, que deve coroar o mais sadio e
o mais forte.
Semelhantes coalizões são, portanto, contrárias à seleção natural,
impedindo, na maior parte das vezes, a solução do problema a resolver.
Pode acontecer que considerações de ordem puramente estratégica possam
induzir a chefia suprema do movimento a concluir, por um curto período, um pacto
com ligas desse gênero, a fim de tratar determinadas questões e talvez
empreender até alguns passos em comum, semelhantes relações entretanto, não
devem nunca se prolongar indefinidamente, se o movimento não quiser renunciar à
sua missão redentora. É que, uma vez que se empenha em uma tal união, o
movimento perde a possibilidade e o direito também de exercer plenamente sua
própria força, no sentido de uma evolução natural, como seja a derrota dos
rivais e a vitória do fim que se propõe.
Ninguém deve esquecer que tudo o que há de verdadeiramente grande neste
mundo não foi jamais alcançado pelas lutas de ligas, mas representa o triunfo de
um vencedor único. O êxito de coalizões já traz na sua origem o germe da
corrupção futura. Na realidade só se concebem grandes revoluções suscetíveis de
causar verdadeiras mutações de ordem espiritual, quando arrebentam sob a forma
de combates titânicos de elementos isolados, nunca, porém, como empreendimentos
de combinações de grupos.
É assim que, antes de tudo, o Estado nacionalista nunca será criado pela
vontade vacilante de uma associação nacional de operários, mas unicamente pela
vontade férrea do movimento que sozinho alcançou a vitória na luta contra todos.
CAPÍTULO IX - IDÉIAS FUNDAMENTAIS SOBRE O FIM E A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES
SOCIALISTAS
O poder da antiga nação era apoiado em três colunas: a constituição
monárquica, o corpo administrativo e o exército. A revolução de 1918 revogou a
constituição monárquica, dissolveu o exército e entregou o corpo administrativo
à corrupção partidária. Com isso foram, porém, destruídos os sustentáculos
principais da chamada autoridade do Estado.
Essa baseia-se quase sempre sobre aqueles elementos que, em geral, são o
fundamento de toda autoridade.
O primeiro fundamento para a formação do princípio da autoridade consiste
sempre na popularidade. Uma autoridade, porém, que se apoia unicamente nesse
fundamento é ainda extremamente fraca, insegura e vacilante. Todo portador de
uma tal autoridade, baseada exclusivamente sobre as simpatias populares, deverá,
por essa razão, tratar de melhorar a base dessa autoridade pela criação do
poder. No poder, na força material, vemos a segunda base de toda autoridade. É
essencialmente mais sólida, mais segura, mas nem sempre mais vigorosa do que a
primeira. Quando se reúne a popularidade com a força material, e conseguem as
mesmas sobreviver juntas, um certo tempo, então poderá surgir uma autoridade
sobre uma base fundamental ainda mais sólida, a autoridade da tradição. Quando,
enfim, se ligam. a popularidade, a força material e a tradição, pode-se, então,
falar de uma autoridade inabalável.
Com a Revolução esta última hipótese foi inteiramente afastada, pois já não
havia mais a tradição. Com a queda do Império, com a mudança da antiga forma de
governo, com a destruição das antigas insígnias e símbolos do Império, a
tradição foi, de um golpe, destruída, o resultado disso foi o mais forte abalo
ria autoridade do Estado.
Até a segunda coluna da autoridade, a força material, não existia mais. A
fim de fazer o possível para levar a cabo a Revolução, era necessário dissolver
o exército como encarnação da capacidade organizadora e da força do Estado. Mais
ainda, devia-se utilizar a parte do exercício dividido como elemento para o
combate revolucionário. Se bem que nos exércitos do front não se tivesse
realizado totalmente essa decomposição, os mesmos, no entanto, à proporção que
deixavam atrás de si os gloriosos campos das suas heróicas lutas, que duraram
quatro anos e meio, iam sendo corroídos pelo ácido da desorganização e acabaram,
após a desmobilização, por entrar na confusão da denominada obediência
espontânea da época dos "Conselhos dos soldados".
Nessas bordas revoltosas de soldados, que eram de opinião que o serviço
militar deveria ser idêntico ao dia de oito horas de trabalho, não se podia, é
claro, apoiar nenhuma autoridade. Com isso desaparecia também o segundo
elemento, que é a garantia da solidez da autoridade, e a Revolução passava a
dispor, unicamente, do primeiro, isto é, da popularidade, para erigir sobre ele
a sua autoridade. Essa base era, porém, um elemento extraordinariamente incerto.
De fato, conseguiu a Revolução, por meio de um poderoso golpe, destruir o antigo
edifício do Estado. A razão por que a Revolução logrou esse efeito, deve ser
vista no fato de já ter sido destruído pela guerra o equilíbrio normal da
organização de nosso povo.
As nações podem ser divididas em três grandes classes; em um extremo
encontra-se a humanidade superior, portadora de todas as virtudes,
distinguindo-se, principalmente, pela coragem e capacidade de sacrifícios; na
outra extremidade, acham-se os representantes da vileza humana, possuidores de
todos os impulsos e vícios egoístas. Entre estes dois extremos, encontra-se uma
terceira classe, a vasta camada média, na qual não se encontram nem radiantes
heroísmos nem tendências criminosas.
Tempos de grande prosperidade de uma nação se distinguem, pode-se dizer
mesmo, só existem, quando a sua direção está nas mãos da parte melhor da
sociedade.
Tempos de um desenvolvimento normal e harmônico ou de um Estado sólido são
caracterizados pela evidente dominação dos elementos do centro, em que ambos os
extremos se encontram em equilíbrio.
Tempos de ruína de um povo são determinados pela ação predominante dos
elementos inferiores.
Notável é, nesse caso, que a grande massa, como classe do centro, como a
classifiquei, só apareça quando os dois extremos se combatem mutuamente. No caso
da vitória de um dos extremos, sempre se subordina voluntariamente ao vencedor.
No caso de vencer o extremo melhor, a grande massa acompanhá-lo-á; na
hipótese de subir o extremo do mal a massa pelo menos não lhe oporá resistência,
pois as camadas do centro nunca entram em combate.
A guerra sangrenta, nos seus quatro anos e meio, destruiu, a tal ponto, o
equilíbrio interno dessas três classes, que se pode declarar - sem se deixar de
reconhecer todos os sacrifícios da massa do centro - que o resultado, para a
parte superior da humanidade, foi perder quase completamente o seu sangue.
É incrível o que, nesses quatro anos e meio, a Alemanha perdeu. justamente
no sangue dos seus heróis. Somemos todas as centenas de milhares de casos
particulares em que se dizia sempre: Voluntários para o front! Patrulhas de
ronda voluntárias! Estafetas voluntários! Telefonistas voluntários! Voluntários
para construções de pontes! Voluntários para submarinos! Voluntários para
aviões! Voluntários para batalhões de assalto, etc., sempre e sempre, durante
quatro anos e meio, em mil ocasiões, voluntários e novamente voluntários! Via-se
sempre o mesmo resultado: os- jovens menores ou o homem maduro, todos possuídos
de ardente amor pela pátria, de grande coragem pessoal e da mais alta
consciência do dever, apresentavam-se ininterruptamente. Dez mil, cem mil desses
casos aconteciam. Pouco a pouco ia diminuindo, cada vez mais, essa torrente de
homens. Os que não tombavam no campo de batalha ficavam mutilados, aleijados, ou
se dispersavam aos poucos, em conseqüência do seu pequeno número. Considere-se,
antes de tudo, que o ano de 1914 pôs em pé de guerra exércitos completos dos
denominados voluntários, os quais, graças à criminosa falta de consciência dos
nossos perversos parlamentares, não tinham recebido a educação militar devida e,
nessas condições, eram apresentados aos inimigos como carne para canhões! Os
quatrocentos mil que, naquele tempo, tombaram nas batalhas de Flandres ou se
transformaram em aleijados, não podiam mais ser substituídos. Sua perda era mais
do que uma perda apenas numérica. Com os seus mortos, a concha boa da balança
subiu, e, mais do que dantes, pesavam agora os representantes da vileza, da
infâmia, da covardia, enfim a grande massa dos inferiores.
Mas isso não foi tudo.
Enquanto, durante quatro anos e meio, os elementos melhores rareavam em
proporção assustadora, os piores se conservavam de maneira surpreendente. A cada
herói que, sacrificando sua vida, subia as escadas da glória, correspondia um
safado que, cautelosamente, se salvava da morte e, no interior do país,
desenvolvia a sua atividade mais ou menos inútil.
Assim, o fim da Guerra apresentava o seguinte quadro: a grande camada média
da nação tinha cumprido com o seu dever, oferecendo à Pátria o seu sangue;
elementos superiores sacrificaram-se em um heroísmo exemplar; covardes,
apoiados, por um lado, por leis insensatas e, por outro, pela não aplicação dos
artigos do código militar, foram, para desgraça geral, integralmente conservados
Foi essa escória do nosso povo que, logo depois, fez a Revolução, que pôde
organizar, porque não tinha mais, na sua frente, a nata da nação, sacrificada na
Guerra.
Por isso, a Revolução alemã, desde o início, era uma empresa de
popularidade muito relativa. Não foi o povo alemão que cometeu este crime de
Caim, mas a canalha composta de desertores, rufiões, etc.
O soldado da frente regozijava-se com o fim da luta sangrenta, sentisse
feliz por poder voltar à Pátria, tornar a ver a esposa e os filhos. Pela
Revolução, porém, não tinha ele, no íntimo, nenhum interesses; não simpatizava
com ela, nem muito menos com seus autores e organizadores. Nos quatro anos e
meio de combate, tinha esquecido as hienas partidárias e tinha ficado estranho
às suas brigas.
Somente para uma pequena parte do povo alemão, a Revolução era
verdadeiramente popular, isto é, para aquela classe dos seus auxiliares que
tinha escolhido uma sacola como emblema de todos os cidadãos de honra deste novo
Estado. Eles não simpatizavam com a Revolução por si mesma, como muitos pensam
erradamente ainda hoje, mas sim devido às suas conseqüências.
Mas era difícil qualquer autoridade apoiar-se, de maneira firme, unicamente
na popularidade desses filibusteiros marxistas. No entanto, justamente a nova
República precisava de uma autoridade a qualquer preço, se não quisesse ser
devorada, após um curto caos, pela desforra dos últimos bons elementos do nosso
povo.
Nada temiam mais naquele tempo os organizadores da Revolução do que, no
turbilhão de suas próprias confusões, ver fugir-lhes o chão e verem-se apanhados
de surpresa, por um punho de ferro, como muitas vezes, em tais tempos, acontece
na vida das nações. A República devia consolidar-se, custasse o que custasse.
Por isso foi forçada a organizar imediatamente, ao lado da coluna vacilante
da sua popularidade, um regime de violência para, sobre o mesmo, melhor
fundamentar uma autoridade mais sólida.
Quando nos dias de dezembro, janeiro e fevereiro de 1918/19, os tratantes
da Revolução sentiam que a terra firme cedia a seus pés, procuraram encontrar
homens que estivessem prontos a reforçar, pelo poder das armas, a fraca posição
que lhes oferecia o amor de seu povo. A República anti-militarista necessitava
soldados. Como, porém, o primeiro e único apoio da sua autoridade - isto é, a
sua popularidade - se compunha somente de uma sociedade de rufiões, ladrões,
arrombadores, desertores, etc., quer dizer, daquela parte do povo que devemos
classificar como o extremo da vileza, toda tentativa para encontrar homens
prontos ao sacrifício da própria vida em prol do novo ideal era absolutamente
impossível naqueles círculos. Os que haviam feito a propaganda da idéia
revolucionária e haviam organizado a Revolução não eram capazes nem estavam
dispostos a fornecer, das suas próprias fileiras, soldados para a defesa da
mesma. Pois essa gente não desejava, de modo algum, a organização de um Estado
republicano, mas sim a desorganização do Estado existente, para melhor poder
satisfazer seus instintos. Seu lema não era: a ordem e o progresso da República
Alemã, mas, ao contrário: o saque da mesma.
Assim, fatalmente, o grito de socorro que; naqueles dias lançavam os
defensores da República, apavorados, não podia ser ouvido por essas camadas. Ao
contrário, só poderia provocar recusas e exasperos. Já então se pensava na
constituição de uma autoridade que não fosse apoiada somente na sua popularidade
mas sim também na força. Pensava-se, de início, em um combate contra os pontos
de vista da Revolução, os únicos vitais para aqueles elementos: isto é, no
começo da Guerra contra o direito ao roubo, contra o poder desenfreado de uma
horda de ladrões e arrombadores que haviam escapulido dos muros das prisões.
Os defensores da República poderiam gritar tanto quanto quisessem, ninguém
das suas fileiras se apresentava, o contra grito "traidores" lhes fez
compreender como os portadores de sua popularidade pensavam.
Naquele tempo, pela primeira vez, muitos jovens alemães se achavam prontos,
em nome da "tranqüilidade e da ordem", como eles diziam, a vestir novamente o
uniforme e, de armas aos ombros, com seus capacetes de aço, dar combate aos
destruidores da pátria. Como voluntários reuniram-se os mesmos em corpos livres
e começaram a defender a mesma República que tanto odiaram e que assim
praticamente reforçavam.
Essa gente agiu de boa fé.
O verdadeiro organizador da Revolução e seu manipulador efetivo, o judeu
internacional, tinha calculado bem a situação. O povo alemão ainda não estava
bastante amadurecido para ser afogado no mar de sangue do bolchevismo, como
aconteceu na Rússia. O motivo era, em grande parte, devido à maior unidade de
raça que se verificava entre os intelectuais e os operários alemães. Concorreu
para isso também a grande divulgação da cultura intelectual nas camadas mais
baixas do povo, que somente se comparava à dos demais Estados do oeste da
Europa, o que faltava absolutamente na Rússia. Na Rússia, a intelectualidade, na
sua maior parte, não era de nacionalidade russa ou, pelo menos, era de caráter
não eslavo. A camada superior de intelectualidade da Rússia daqueles tempos
podia ser manejada de um momento para outro porque lhe faltavam absolutamente os
elementos que a podiam ligar com a grande massa do povo. O nível intelectual
desta última era, também, horrivelmente baixo.
No momento em que se conseguiu na Rússia, atiçar a massa analfabeta contra
a fina camada intelectual, com a qual a mesma não tinha nenhuma relação, estava
decidido o destino do país, estava vitoriosa a Revolução. O analfabeto russo
tornava-se escravo incondicional dos seus ditadores judaicos, os quais, por sua
parte, eram bastante inteligentes para disfarçar essa ditadura com a frase:
Na Alemanha, ainda se dava o seguinte: a Revolução só tinha sido possível em
conseqüência da gradual decomposição do exército. O soldado do front não tinha
sido o verdadeiro causador da Revolução e destruidor do exército, mas sim a
miserável canalha, que ou perambulava nas guarnições do interior ou, então, como
"indispensável", prestava em qualquer parte serviços na economia interna. Esse
exército era reforçado ainda por dezenas de milhares de desertores que, sem o
menor risco, puderam volver as costas ao front. O verdadeiro covarde de todos os
tempos nada teme tanto quanto a morte. A morte ele tinha, porém, diante dos
olhos diariamente no front, sob mil aspectos.
Para que se possa forçar moços indecisos e vacilantes ou até covardes a
cumprir o seu dever, em todos os tempos só houve um meio: o desertor deve saber
que a sua deserção traz justamente consigo aquilo de que ele desejava fugir,
isto é, a morte. No front pode-se morrer, o desertor deve morrer.
Unicamente por meio de uma ameaça draconiana como essa, para toda tentativa
de deserção, poder-se-á evitar o desânimo não só do indivíduo mas também da
totalidade, da massa.
Esses eram o sentido e a finalidade dos artigos do código militar.
Entrar na grande luta em prol da existência da nação inteira era uma crença
superior, unicamente apoiada na fidelidade espontânea, nascida e conservada em
conseqüência do reconhecimento de uma necessidade imperiosa. Foi sempre o
cumprimento do dever espontâneo que inspirou as ações dos homens superiores,
nunca porém as dos homens comuns. Por esta razão, são necessárias leis, como,
por exemplo, as contra o roubo, as quais não foram decretadas para os honestos
mas sim para os elementos vacilantes e fracos. Essas leis devem ser o meio para
aterrorizar os maus, a fim de impedir que se crie uma situação em que,
finalmente, o honesto seria contemplado como o mais imbecil e, por conseguinte,
sempre cada vez mais teria a impressão de que seria mais conveniente participar
também no roubo do que presenciar o mesmo, como espectador, com mãos vazias, ou
deixar-se roubar.
Era assim, portanto, um erro acreditar-se que se poderia numa luta que,
conforme todas as previsões humanas, se poderia prolongai- anos e anos,
prescindir dos meios que a experiência de muitos séculos, até de milênios,
apontava capazes de, nos momentos mais graves, forçar esses homens indecisos e
fracos ao cumprimento do seu dever.
Para os heróis voluntários evidentemente não se necessitava de artigos do
código militar, indispensáveis, porém, para o covarde egoísta, que, na hora em
que a Pátria corria perigo, estimava mais a sua vida do que a da coletividade.
Tais covardes só poderão abandonar a sua covardia aplicando-se contra eles os
mais severos castigos. Quando homens lutam ininterruptamente com a morte e,
durante semanas, são obrigados a permanecer, em combate sem tréguas, dentro de
trincheiras cheias de lama, às vezes sem o mais indispensável alimento, o
indivíduo que prefere a vida nos seus cantões não poderá ser forçado ao
cumprimento do seu dever por meio de ameaça de prisão, mas sim unicamente por
uma rigorosa aplicação da pena de morte.
Esses indivíduos consideram, nesses tempos, como o prova a experiência, a
prisão como um lugar ainda mil vezes mais agradável do que o campo de batalha,
visto que na prisão ao menos a sua inestimável vida não está ameaçada.
Causou as piores conseqüências que, durante a guerra, se tivesse deixado de
aplicar a pena de morte. Um exército de desertores espalhou-se pelo país em 1918
e colaborou na formação da organização criminosa a que se deve a Revolução de
novembro de 1918.
O front estava alheio a tudo isso. Os soldados que lutavam na frente
ansiavam pela paz. Justamente nesse fato havia um grande perigo para a
Revolução. À proporção que, depois do armistício, os exércitos alemães
regressavam à Pátria, no espírito dos revolucionários surgiam as seguintes
perguntas: Que farão as tropas da frente? Suportarão elas tudo isso?
Durante aquelas semanas, a Revolução na Alemanha deveria apresentar uma
extrema moderação, se não quisesse correr o perigo de ser destruída de um
momento para outro, por algumas divisões alemãs. Naquela época, se o comandante
de uma única divisão tivesse tomado a resolução, com auxílio de seus dedicados
soldados, de arrear os trapos vermelhos, destruir os "Conselhos" e vencer
qualquer resistência, mediante lança-minas e granadas de mão, essa divisão, em
menos de quatro semanas, se teria transformado em um exército de sessenta
divisões. Os judeus que manejavam o movimento temiam isso mais do que tudo.
Justamente para impedir que essa hipótese se realizasse, era necessário impor à
revolução um certo aspecto de moderação, dando-se a impressão de que ela de
nenhum modo degeneraria em bolchevismo, ao contrário devia dissimular que se
batia "pela tranqüilidade e pela ordem". Este foi o motivo das grandes
concessões, o apelo ao antigo corpo de funcionários públicos, aos chefes do
antigo exército. Precisava-se deles, pelo menos por certo tempo, e, somente
depois que o mouro tivesse cumprido o seu dever, poder-se-ia tentar aplicar-lhe
o devido pontapé, e retirar, assim, a República das mãos dos antigos servidores
do Estado e entregá-la às garras dos urubus da Revolução.
Somente assim pela aparente inofensividade e tolerância do novo regime se
poderia esperar enganar velhos generais e empregados de Estado e evitar uma
possível resistência dos mesmos.
Até que ponto lograram isso, foi demonstrado na prática.
A Revolução não foi feita, porém, por elementos pacíficos e ordeiros, mas,
ao contrário, por elementos revoltosos, ladrões e saqueadores. O mais amplo
desenvolvimento da Revolução não correspondia aos desejos desses últimos
elementos, e nem poderiam eles, por motivos táticos, esclarecer o curso da mesma
e torná-la mais apetecível.
Com o aumento progressivo de sua influência, a Social Democracia perdeu,
mais e mais, o caráter de um partido de revolução à força bruta. Isso se
verificou não porque se visassem outros fins que os da Revolução ou porque os
seus organizadores tivessem mudado de intenções. Absolutamente não. A razão é
que a organização já não se prestava a realizar aquela finalidade. Com um
partido de dez milhões de adeptos já não se pode fazer revolução. Em um tal
movimento já não se pode contar com um extremo de atividade, devido à
influência, no combate por parte da grande massa do centro. Compreendendo isso,
o judeu, ainda durante a Guerra, provocou a célebre cisão da Social Democracia.
Isso significa que, enquanto o Partido Social Democrático, devido à inércia das
suas massas, pesava sobre a defesa nacional como uma massa de chumbo, dele foram
extraídos os elementos radicais e ativos. Com os mesmos se formariam batalhões
de ataque, de uma força decisiva. O Partido Social Democrático Independente e a
"União Espartacista" foram os batalhões de assalto do marxismo revolucionário. A
burguesia covarde foi julgada, nessa ocasião, realmente com justiça e tratada
simplesmente como canalha. Como é sabido que, pela sua humildade canina, as
organizações políticas de uma geração velha e inválida não eram capazes de
qualquer resistência, julgou-se supérfluo prestar-lhes qualquer atenção.
A Revolução tinha vencido e demolido os esteios principais do antigo
regime, mas o exército, voltando para a Pátria, aparecia como um fantasma
ameaçador que deveria pôr um freio ao desenvolvimento natural da Revolução. O
grosso do exército social-democrático ocupava as posições conquistadas e os
batalhões de assalto dos Independentes e dos Espartacistas foram postos à
margem.
Isso não se conseguiu, porém, sem combate.
Não somente as mais ativas formações de assalto da Revolução se sentiam
ludibriadas porque não tinham sido satisfeitos os seus desejos e que. riam
continuar a luta, mas também a sua desenfreada indisciplina era bem vista pelos
que manejavam a Revolução. Mal se tinha modificado a situação e já apareciam
dois partidos, lado a lado: O partido da "Tranqüilidade e da Ordem" e o grupo
terrorista. Que poderia haver de mais natural, agora, que a nossa burguesia
imediatamente entrasse, de bandeiras desfraldadas, no acampamento "da
Tranqüilidade e da Ordem"? Essas miseráveis organizações políticas tinham assim
a possibilidade para uma atividade pela qual teriam encontrado novamente uma
base com que conseguiram solidarizar-se com o Poder que tanto odiavam, mas que
muito temiam. A burguesia política alemã tinha obtido a alta honra de lhe ser
permitido sentar-se na mesma mesa com os malditos chefes marxistas, para
combater pelo bolchevismo.
Dessa forma, já em dezembro de 1918 e janeiro de 1919, era esta a situação:
Com uma minoria de péssimos elementos, foi feita uma revolução à qual
aderiram imediatamente todos os partidos marxistas. A Revolução tem
aparentemente um caráter moderado, com o que provoca a inimizade dos extremistas
fanáticos. Estes começam a trabalhar com granadas de mão e metralhadoras, a
ocupar edifícios públicos, enfim, a ameaçar a revolução moderada. A fim de
afastar os horrores de uma tal evolução, os adeptos do novo regime fazem um
armistício com os adeptos do antigo para, solidários, combaterem os extremistas.
O resultado é que os inimigos da República cessaram o seu combate contra ela e
ajudaram a vencer aqueles que, de pontos de vista completamente diferentes,
também eram inimigos da mesma República. O segundo resultado foi que, desse
modo, o perigo de um combate dos adeptos do regime antigo contra os da nova
ordem de coisas parecia definitivamente afastado.
É importantíssimo não esquecer nunca esse fato. Somente quem o compreender
poderá explicar como foi possível a um décimo impor essa Revolução a um povo do
qual nove décimos nela não tomaram parte, sete décimos a recusaram e seis
décimos a odiavam.
Os combatentes das barricadas espartacistas, de um lado, os fanáticos
nacionalistas e os idealistas do outro, derramavam seu sangue e, à medida que
esses dois extremos se aniquilavam uns aos outros, vencia como sempre a massa do
centro. Burguesia e Marxismo renderam-se aos fatos consumados e a República
começou a consolidar-se. Isso, no entretanto, não impedia que os partidos
burgueses, especialmente antes das eleições, falassem ainda por algum tempo nas
idéias monárquicas para, evocando os espíritos do mundo passado, atraírem os
espíritos inferiores dos seus adeptos e conquistarem-nos novamente.
Isso não era honesto, Todos estavam, há muito tempo, no seu íntimo,
desligados da monarquia. A impureza do novo regime começou a produzir seus
efeitos tentadores também no acampamento do partido burguês. O tipo normal do
político burguês de hoje sente-se melhor na lama da corrupção republicana que na
austeridade do regime antigo que ainda não desapareceu de sua memória.
Como já explicamos, depois da destruição do antigo exército, a Revolução
estava na contingência de criar um fator novo - a autoridade de seu Estado. Nas
condições em que estavam as coisas, esse fator novo só podia ser encontrado nas
fileiras dos partidários de uma doutrina política universal contrária à sua.
Dessas fileiras poderia, então, surgir, pouco a pouco, um corpo militar que,
numericamente limitado pelos tratados de paz, nos seus sentimentos devia ser
transformado, no correr do tempo, em um instrumento da nova concepção do Estado.
Pondo de parte os defeitos reais do antigo regime, chega se à conclusão de
que os motivos por que a Revolução triunfou foram os seguintes:
1) O entorpecimento das nossas idéias sobre cumprimento do dever e
obediência.
2) A passividade covarde dos nossos chamados partidos conservadores.
A isso acrescente-se a seguinte observação:
A falta da noção do cumprimento do dever explica-se, em última análise pela
ausência do espírito nacional da nossa educação, orientada apenas no interesses
do Estado. Daí resulta também a confusão entre meios e fins. Consciência do
dever, cumprimento do dever e obediência não são fins em si mesmos, como também
não o é o Estado, mas apenas meios para assegurar a existência a uma comunidade
de seres humanos, homogêneos tanto de corpo como de espírito.
Em um. momento em que um povo se arruina a olhos vistos e está sob o jugo
da mais dura opressão, graças à atividade de um punhado de biltres, obediência e
cumprimento de dever é puro formalismo doutrinário, atinge as raias da
insensatez. Só se poderia conseguir evitar a ruína de um tal povo pela recusa à
obediência e ao cumprimento do dever.
De acordo com a atual concepção burguesa de Estado. o comandante de divisão
que, da parte do governo, tivesse recebido ordem de não fazer fogo, tinha
cumprido com o seu dever e procedido corretamente, porque para o mundo burguês
vale mais a obediência formal e absoluta do que a existência do próprio povo. A
concepção nacional socialista, porém, em momentos semelhantes, é esta: o mais
importante não deve ser a obediência aos superiores indecisos mas sim a
obediência à comunidade do povo. Em uma tal hora, somente deve existir o dever
da responsabilidade pessoal perante a nação inteira.
A Revolução só triunfou porque o nosso povo ou, melhor, os nossos governos,
haviam perdido a compreensão dessas idéias para aceitarem, em seu lugar, uma
compreensão puramente formal e doutrinária.
O motivo mais íntimo da covardia dos partidos "conservadores" do Estado é,
antes de tudo, o desaparecimento, das suas fileiras, da parte ativa e bem
intencionada do nosso povo, a parte que se sacrificou, até à última gota de
sangue, nos campos de batalha. Não obstante isso, os partidos burgueses estavam
convencidos de poder defender suas convicções, exclusivamente por meios
intelectuais, desde que a aplicação de meios físicos devia caber unicamente ao
Estado. Dever-se-ia logo reconhecer em uma tal compreensão o sinal de uma
decadência que paulatinamente se ia acentuando. Isso era insensato, em um tempo
em que o adversário político, já de há muito, se tinha afastado desse ponto de
vista e proclamava por toda parte, com a maior franqueza, estar resolvido a
defender seus fins políticos até pela força. No mesmo momento em que apareceu no
mundo da democracia burguesa e, em conseqüência da mesma, o marxismo, seu apelo
foi combater com "armas intelectuais", disparate que um dia haveria de produzir
seus terríveis efeitos sobre o partido, desde que o marxismo sempre defendia a
opinião contrária, isto é, que o emprego das armas devia atender apenas a pontos
de vista de conveniência e que o direito a esse recurso é justificado pelo
sucesso do mesmo.
Quanto essa opinião era exata ficou provado nos dias 7 e 11 de novembro de
1918. Naquele momento, o marxismo absolutamente não tomou em consideração nem o
parlamentarismo nem a democracia, mas, por meio de bandos de criminosos armados,
deu o golpe de morte em ambos. É perfeitamente compreensível que as organizações
dos palradores burgueses estivessem desarmadas naqueles dias.
Depois da Revolução, quando os partidos burgueses, embora sob novos nomes,
repentinamente reapareciam e seus heróicos chefes saíam de rastros da
obscuridade de bodegas seguras e porões bem ventilados, como todos os
representantes dessas antigas organizações, nem tinham esquecido seus erros nem
aprendido qualquer coisa de novo. O seu programa político tinha raízes no
passado, na parte em que ainda não tinham assimilado o novo estado de coisas. O
seu objetivo era, no entanto, se possível, tomar parte no novo estado de coisas.
Antes como depois, sua única arma ficou sempre sendo a palavra.
Mesmo depois da Revolução, os partidos burgueses sempre capitularam da
forma mais miserável, em todas as manifestações de rua.
Quando se tratou de votar a "lei de defesa da República" não era possível
contar desde logo com uma maioria. Diante da demonstração de duzentos mil
marxistas, os estadistas burgueses foram tomados de um tal terror, que votaram a
lei, contra a sua convicção, simplesmente com receio de, ao saírem do Reichstag,
serem espancados pela furiosa massa popular. É pena que isso não tenha
acontecido em conseqüência da votação da lei.
Assim, o novo Estado seguiu o seu caminho, como se nunca tivesse existido
uma oposição nacional.
As únicas organizações, que, naquele tempo, teriam tido coragem e força
para enfrentar o marxismo e as massas revolucionárias, eram, em primeiro lugar,
os corpos voluntários, as organizações de defesa própria, os corpos de defesa
local, etc., e, finalmente, as associações tradicionais.
O motivo por que também a existência desses elementos de defesa não
conseguiu qualquer sensível alteração na evolução alemã, foi o seguinte:
Assim como os chamados partidos nacionais não conseguiram exercer qualquer
influência, por incapacidade de dominar os movimentos coletivos, da mesma
maneira, as denominadas associações de defesa não o puderam, por falta de idéias
políticas, de objetivos políticos.
Foi a decisão absoluta combinada com a brutalidade prática que assegurou a
vitória do marxismo.
O que evitou a possibilidade de uma defesa prática dos interesses alemães
foi a ausência de uma colaboração da força com uma vontade política inteligente.
Qualquer que fosse a vontade dos partidos "nacionais", não tinham eles o mínimo
poder de defender essa vontade, pelo menos nas manifestações públicas. As
"associações de defesa" possuíam toda força, eram senhores da rua e do Estado,
mas não possuíam nenhuma idéia, nenhum objetivo político, com os quais pudessem
trabalhar pelo bem-estar da Alemanha. Em ambos os casos, foi a astúcia do judeu,
que conseguiu, por meio de conselhos prudentes, quando não tornar firme para
sempre, pelo menos garantir a situação existente.
Foi o judeu que soube, por meio da sua habilíssima imprensa, conseguir dar
às ligas armadas um caráter "não político" e que, na vida política, com igual
astúcia, sempre pregava e exigia a "pura intelectualidade" do combate. Milhões
de idiotas alemães repetiram essas asneiras sem se aperceberem de que, assim,
eles mesmos, praticamente, se desarmavam e se entregavam desarmados aos judeus.
Para isso, porém, há uma explicação natural. A falta de uma grande idéia
renovadora vale, em todos os tempos, por uma diminuição da Capacidade de
resistência.
A convicção do direito ao emprego de armas, mesmo as mais brutais, é sempre
associada à existência de uma fé fanática na necessidade da vitória de uma
organização nova e transformadora. Um movimento que não combate por semelhantes
fins e ideais nunca recorrerá às armas.
A proclamação de uma grande idéia nova foi o segredo do sucesso da
Revolução Francesa! Foi à idéia que a revolução russa deveu a sua Vitória, só
pela idéia é que o fascismo teve a força de, de uma maneira muito feliz,
conquistar um povo para uma grandiosa organização nova.
Partidos burgueses não são capazes disso.
Não eram somente os partidos burgueses que reconheciam o seu fim político
em uma restauração do passado, mas sim também as associações de defesa.
Associações de veteranos e outras do mesmo jaez ajudavam a destruir
politicamente a mais forte arma que a Alemanha nacionalista possuía naquele
tempo e concorreram para, pouco a pouco, colocá-la a serviço da República. Que
as mesmas nisso agiam com a melhor intenção, com a melhor boa-fé, em nada
modifica a insensatez dos acontecimentos daquele tempo.
Aos poucos obtinha o marxismo, no exército imperial, o necessário apoio à
sua autoridade, e começava, em seguida, conseqüente e logicamente, a considerar
como desnecessárias as associações de defesa nacional, aparentemente perigosas.
Principalmente alguns chefes audaciosos, dos quais se desconfiava, foram levados
aos tribunais da justiça e metidos na cadeia. Todos, porém, cumpriam o destino
que tinham merecido.
Com a fundação do N. S. D. A. P. (Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães) apareceu, pela primeira vez, um movimento cujo fim não
era idêntico aos dos partidos burgueses, isto é, não consistia em uma
restauração mecânica do passado, mas sim no empenho de erigir, no lugar do atual
mecanismo estatal absurdo, um Estado orgânico e nacionalista.
O novo movimento aceitava, desde o primeiro momento, que suas idéias tinham
de ser defendidas intelectualmente, e que a sua defesa, em caso de necessidade,
também tinha de ser garantida por meios violentos. Fiel à convicção da grande
importância da nova doutrina, parecia-lhe evidente que, para o alcance de seu
fim, nenhuma vítima deveria ser grande demais.
Eu já demonstrei que um movimento que visa conquistar o coração de um povo,
deve, dentro de suas próprias fileiras, organizar a defesa contra tentativas
terroristas dos inimigos. Também a experiência da História Universal prova que o
terror desenvolvido por uma nova concepção do mundo nunca poderá ser combatido
por meio de métodos puramente formalísticos, mas simplesmente por outra
doutrina, com o mesmo poder de decisão e de audácia.
Isso terá de ser desagradável, em todos os tempos, aos empregados
encarregados da defesa do Estado, o que não invalida a verdade do que afirmamos.
O poder do Estado só poderá então garantir "calma e ordem", quando o Estado
protege, internamente, a sua atual concepção, de maneira que os elementos
capazes de violência assumem o caráter de criminosos, e não podem ser vistos
como representantes de uma concepção do Estado contrária à maneira de ver em
vigor. Nesse caso, pode a nação empregar, durante séculos, as maiores medidas de
violência contra um terror que a está ameaçando; no fim, ela nada conseguirá
fazer contra o mesmo, e será sempre vencida.
O Estado alemão está exposto aos ataques mais duros do marxismo. Não pôde
impedir, durante sete anos de combate, a vitória desta doutrina, mas apesar das
milhares de penas de prisão e das mais sangrentas medidas que decretou, em
inúmeros casos, contra os combatentes do ameaçador dogma marxista, teve que
capitular quase completamente. Isso negará o estadista burguês, não podendo,
entretanto, a ninguém convencer.
O Estado, porém, que, em 9 de novembro de 1918, se submeteu
incondicionalmente ao marxismo não poderá amanhã aparecer como dominador do
mesmo. Os patetas burgueses que ocupam poltronas de ministros começam já a
conversar sobre a necessidade de não tomar atitudes contra os operários,
mostrando com isso que quando se referem a operários pensam sempre no marxismo.
Enquanto eles identificam o operário alemão com o marxismo, não somente cometem
uma falsificação tão covarde como mentirosa, da verdade, mas tentam dissimular o
desmoronamento próprio diante da idéia e da organização marxista.
Em vista, porém, deste fato, isto é, da submissão incondicional do atual
Estado ao marxismo, tanto mais tem o movimento nacional-socialista o dever de
preparar a vitória das suas idéias, não somente no sentido intelectual mas
também no da sua defesa contra o próprio terror da Internacional, na embriaguez
de suas vitórias.
Já descrevi como, para os objetivos práticos do nosso novo movimento,
formou-se lentamente, uma guarda para as reuniões, guarda que assumiu o aspecto
de um corpo de tropa encarregado de manter a ordem e que aspirava tomar a forma
de uma organização definitiva. Embora essa formação, que se organizava
paulatinamente, desse a impressão de uma liga militar de defesa, faltava-lhe
muito para poder merecer essa denominação.
Como já explicamos, as organizações defensivas alemãs não tinham um
programa político definido. Eram, de fato, apenas uniões para a defesa própria
com uma educação e organização que representavam, a dizer a verdade, um
suplemento ilegal aos meios legais de defesa do Estado. Seu caráter de corpos
voluntários era justificado somente pelo modo de sua formação e pela situação do
Estado naquele tempo, mas de nenhum modo lhes competia o título de formações
livres de combate por uma convicção própria. Não mereciam esse título, apesar da
atitude de oposição de um ou outro dos chefes e de associações inteiras contra a
República.
Não basta que se esteja convencido da inferioridade de urra situação para
poder falar de uma opinião em sentido mais elevado, pois esta tem as suas raízes
no conhecimento de uma situação nova que a gente se sente no dever de atingir.
Isso distinguia a "guarda" de ordem do movimento nacional-socialista
daqueles tempos, de todos os outros "corpos de defesa". Aquele não estava
absolutamente e nem desejava estar a serviço da situação criada pela Revolução,
mas, ao contrário, combatia exclusivamente por uma Alemanha nova.
Essa guarda, é verdade, destinava-se, de princípio, à defesa dos mitingues.
A sua primeira tarefa era restrita a esse objetivo: tornar possível a realização
de reuniões, que, sem essa defesa, teriam sido imediatamente impedidas pelos
adversários. Já naquele tempo era educada para o ataque, não como se costuma
afirmar em estúpidos círculos populares nacionalistas, pelo prazer da violência,
mas porque compreendia que os maiores ideais podem ser prejudicados quando o seu
representante é abatido por um golpe de força de um adversário insignificante, o
que é muito freqüente na história da humanidade. Eles não viam a força como fim.
Pretendiam defender os anunciadores do grande ideal contra a opressão pela
violência. Compreenderam também que não estavam obrigados a aceitar a defesa de
um Estado que não protegia a nação. Ao contrário, deviam proteger a nação contra
aqueles que ameaçavam aniquilá-la assim como ao Estado. Depois da luta na
assembléia do Hofbräuhaus, de Munique, obteve a "guarda", uma vez para sempre,
como recordação eterna dos seus heróicos ataques, o nome de "corpo de assalto".
Como já significa essa denominação, ela representa, cinicamente uma seção do
movimento. Do mesmo faz parte, exatamente como a propaganda, a imprensa, os
institutos científicos. etc.
Quanto era necessária sua organização pudemos ver não somente naquela
memorável assembléia, mas também quando tentamos alargar o movimento, além dos
limites da cidade de Munique, para as outras legiões da Alemanha. Desde o
momento em que o marxismo começou a nos julgar perigosos, não deixava passar
nenhuma oportunidade para sufocar qualquer tentativa de uma assembléia
nacional--socialista, ou melhor, impedir sua realização por meio de intervenções
tumultuárias. Era perfeitamente compreensível que as organizações partidárias do
marxismo de todas as nuances se abrigassem, nessas tentativas, atrás dos corpos
representativos, isto é. atrás dos outros partidos. O que deveríamos dizer dos
partidos burgueses que, aniquilados eles próprios pelo marxismo, em muitas
cidades nem podiam se atrever a deixar falar seus representantes publicamente e
que, no entanto, com um contentamento incompreensível e estúpido, dirigiam um
combate contra o marxismo, de todo desfavorável a nós? Para eles era motivo de
prazer que não pudesse ser por nós aniquilado aquele que eles mesmos não tinham
podido vencer, o que devíamos pensar de empregados públicos, comissários de
polícia, mesmo ministros, que se compraziam em se apresentar publicamente como
"nacionalistas", em atitude na realidade sem significação, e que, porém, em
todas as ocasiões de discussões que nós nacionais-socialistas tivemos com o
marxismo, ajudavam a estes como humildes servidores? Que se devia pensar de
indivíduos que, na sua subserviência, chegaram a tal ponto que, por um miserável
elogio de jornais judaicos, perseguiam sem escrúpulos os homens a cujo heróico
sacrifício da própria vida tinham em parte de agradecer o não terem sido
suspensos, pela matilha rubra, poucos anos antes, em postes de iluminação, como
cadáveres dilacerados?
Foram estes tristes fenômenos, que um dia inspiraram ao inesquecível
presidente Põhner - que, na sua dura franqueza, odiava todos os aduladores,
tanto quanto um coração puro era capaz de odiar - a seguinte expressão: "Em toda
a minha vida, sempre desejei ser, em primeiro lugar, um alemão e, em segundo
lugar, um empregado de Estado, mas não desejei nunca ser confundido com essas
criaturas, que, como empregados públicos prostituídos, prostituíam todo aquele
que, em determinado momento, podia desempenhar o papel de senhor!"
Em tudo isso, era sobretudo triste que essa classe de homens dominasse,
pouco a pouco, dezenas de milhares dos mais honestos e íntegros servidores do
Estado e, além disso, os infeccionasse pouco a pouco com o seu caráter
miserável, perseguisse-os e, finalmente, os expulsasse dos seus cargas e
empregos, enquanto que ela mesma não deixava de apresentar-se, na sua hipócrita
mendacidade, como "nacionalista".
De homens de tal categoria não podíamos esperar qualquer apoio e, aliás, o
recebemos somente em casos muito excepcionais. Só a organização da defesa
própria podia assegurar a atividade do movimento e, ao mesmo tempo, conseguir a
atenção pública e o respeito geral que sempre se presta a um homem que se
defende de moto próprio, quando atacado.
Como divisa para a educação interna desses corpos de ataque, sempre era
preponderante o fim, de, ao lado da capacidade física, educá-los como
representantes convictos da idéia nacional-socialista e, finalmente, aperfeiçoar
sua disciplina. Não deviam ter nada de parecido com uma organização secreta.
Os motivos que, já naqueles tempos, tinha para evitar, energicamente, que
os corpos de ataque do N. S. D. A. P. se apresentassem como associação de defesa
militar originaram-se das seguintes considerações:
Por todas as razões práticas, a defesa militar de um povo não pode ser
realizada por grêmios particulares, salvo quando apoiados por todas as forças do
Estado. Imaginar o contrário é confiar demais nas suas próprias forças. É, de
fato, impossível organizar, por meio da "disciplina voluntária", corpos de
grande extensão, com eficiência militar. Falta aqui o esteio mais importante do
poder de comando: o direito de castigo. Na Verdade, no outono ou ainda melhor na
primavera de 1919, era possível formar os chamados "corpos voluntários", mas
isso não somente porque, na sua maior parte, eles eram soldados do front que
tinham passado pela escola do antigo exército, mas também porque o compromisso
que se exigia de cada um deles submetia-os, ao menos temporariamente, à
obediência militar
Isso falta completamente à "organização de defesa" de hoje. Quanto mais
cresce o número de corpos, tanto mais fraca é a disciplina, tanto menor deve ser
a exigência que se faz individualmente a cada homem e tanto mais adotará o total
o caráter das antigas associações militares de veteranos.
Uma educação voluntária para o serviço militar, sem se assegurar a força de
comando incondicional, não se poderá levar a cabo quando se trata de grandes
massas. Só muito poucos estarão prontos a submeter-se voluntariamente à
obrigação da obediência, natural e imprescindível em um exército.
Além disso, uma educação militar real não é possível em conseqüência dos
meios financeiros ridiculamente restritos de que dispõe um corpo de defesa. A
melhor e mais segura escola, porém, devia ser a tarefa principal de semelhante
instituição. Passaram-se oito anos desde o fim da Guerra e, desde aquele tempo,
nenhuma classe da mocidade alemã recebeu educação militar. Claro está que não
pode ser o fim de um corpo de defesa recrutar adeptos nas classes que, outrora,
receberam educação militar porque, por sua idade, logo no ato de sua admissão,
poder-se-ia com certeza matemática convidá-los a retirarem-se do corpo. Mesmo o
soldado moço de 1918, estará incapaz para o combate, dentro de vinte anos, e
este momento aproxima-se com uma rapidez impressionante. Assim assumirá cada
corpo de defesa, forçosamente, cada vez mais, o caráter de uma associação de
veteranos da guerra. Esse, porém, não pode ser o fim de uma instituição que não
deve ser chamada associação de veteranos mas associação de "defesa", e a qual,
já por seu nome, indica que sua missão não é somente a conservação da tradição e
da camaradagem dos antigos soldados mas a educação para a idéia da defesa e a
representação prática dessa idéia, isto é, a criação de um corpo capaz de pegar
em armas.
Essa tarefa, porém, necessita absolutamente da educação militar dos
elementos até agora não educados nesse sentido e isso é impossível na prática.
Com a educação militar de uma ou duas horas por- semana, não se pode realmente
conseguir formar soldados. Com as exigências, hoje enormemente aumentadas, no
serviço da guerra, a cada indivíduo, o serviço militar de dois anos mal será
suficiente para transformai- o moço em um soldado experiente. - Nós todos já
tínhamos visto no front as terríveis conseqüências que resultaram de os novos
soldados não serem fundamentalmente educados para a guerra. Formações de
voluntários treinados, durante quinze a vinte semanas, com energia férrea e uma
dedicação ilimitada, representavam, apesar de tudo isso, unicamente comida para
os canhões do front. Somente quando enfileirados, entre velhos e experimentados
soldados, podiam os novos recrutas, educados durante quatro a seis meses, ser
membros úteis de um regimento; eles eram dirigidos nisso pelos "velhos" e, pouco
a pouco, ficavam familiarizados com os seus deveres.
Que esperança se pode depositar, em vista disso, na tentativa de educar,
sem força de comando e sem grandes recursos materiais, uma tropa militar? Dessa
forma pode-se talvez rejuvenescer velhos soldados, mas nunca se poderá formar de
gente nova e inexperta verdadeiros soldados.
Como, nos seus resultados, um tal procedimento seria sem valor, pode ser
provado pelo fato de que, no mesmo tempo em que um corpo Voluntário, com
dificuldades de toda sorte, instrui ou tenta instruir uns poucos milhares de
homens de boa vontade (os outros são absolutamente fora de discussão) em idéias
de defesa, o Estado rouba, a milhões e milhões de gente nova, seus instintos
naturais, envenena seu pensamento lógico e patriótico por meio de uma educação
pacifista-democrática e transforma-os, pouco a pouco, em um rebanho de carneiros
inerte, incapaz de reagir contra qualquer despotismo.
Como ridículos aparecem, em comparação a isso, todos os esforços dos corpos
de defesa em transmitirem suas idéias à juventude alemã!
Ainda mais importante, porém, é o ponto de vista que me levou à oposição
contra qualquer tentativa de uma preparação militar sobre a base do
voluntariado. Imaginando que, apesar das dificuldades acima enumeradas, alguma
associação conseguisse, todos os anos, transformar um certo número de alemães em
homens de combate, e isso tanto sob o ponto de vista do caráter como quanto à
sua capacidade de resistência militar, haveria de ser nulo o resultado em um
Estado que, de acordo com a sua tendência geral, não deseja de forma nenhuma um
tal armamento, e que até antipatiza com essa idéia, em desarmonia com os
objetivos dos seus dirigentes - elos corruptores do Estado. Em qualquer
hipótese, seria sem valor um tal resultado sob governos que não só provaram
pelos fatos que não têm interesse na força militar da nação, mas também, que,
antes de tudo, nunca admitiram um apelo a essa força, a não ser para o apoio à
sua própria existência.
E hoje isso é, no entanto, um fato. Não é ridículo o querer instruir
militarmente um exercitozinho de algumas dezenas de milhares de homens no
lusco-fusco do crepúsculo, quando o Estado, poucos anos antes, sacrifícios,
expunha-os ao insultos de todos? É compreensível que não só desprezava os seus
serviços, mas até, como recompensa pelos seus sacrifícios, expunha-os aos
insultos de todos? É compreensível que se foi-me um exército para um Estado que
manchava os mais heróicos soldados de outrora, mandava arrancar-lhes do peito
suas condecorações e as cocardas, arrastar no chão as bandeiras e ridiculariza
os seus grandes feitos? Porventura, o atual regime deu um passo sequer, a fim de
restituir a honra ao antigo exército, de responsabilizar seus destruidores e
insultadores? Absolutamente não. Ao contrário. Os que achincalhavam o exército
podem ser vistos hoje ocupando os mais altos empregos do Estado. No entanto,
dizia-se em Leipzig: O direito está ao lado da força.
Como, porém, hoje em dia, em nossa República, o poder encontra-se nas mãos
dos mesmos homens que no seu tempo fizeram a Revolução, e essa revolução
representa o mais miserável e vil ato da história alemã e a mais baixa traição à
pátria, não se pode realmente encontrar nenhum motivo por que a força justamente
desses caracteres deva ser aumentada pela formação de um novo exército de
jovens. Todos os motivos que a razão possa inspirar condenam essa iniciativa.
O valor que esse Estado, mesmo depois da revolução de 1918. atribuía ao
reforço militar da sua posição, ressaltava, mais uma vez, clara e insofismável,
da sua atitude para com as grandes organizações de defesa própria que, naqueles
tempos, existiam.
Enquanto as mesmas intervinham na defesa de revolucionários covardes, não
eram consideradas indesejáveis. Logo, porém, que, graças à gradual decadência do
nosso povo, o perigo para esses poltrões parecia removido, a existência das
associações passou a significar um fortalecimento para a política nacionalista.
Então passaram a ser supérfluas, e tudo se fez para desarmá-las e, se possível,
dispersá-las.
A história oferece poucos exemplos da gratidão de príncipes. Contar com a
gratidão de revolucionários incendiários, saqueadores do povo e traidores da
nação, é uma idéia que só poderia passar pela cabeça dos nossos patriotas
burgueses. Sempre que examinava a possibilidade da formação de associações
voluntárias ele defesa eu não podia deixar de fazer me a seguinte pergunta: Para
quem estou recrutando os jovens? Para que fim serão eles empregados e quando
devem ser chamados? A resposta a isso daria, ao mesmo tempo. a melhor indicação
para a conduta que se deveria ter.
Se a nação de hoje tornasse a lançar mão ele associações de defesa assim
instruídas, não o faria para a proteção de interesses nacionais externos, mas
unicamente para a proteção dos traidores da nação no interior contra a ira geral
do povo enganado, traído e vendido, que talvez algum dia fosse levado à
rebelião.
As "tropas de assalto" do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães, só por esse motivo, não se deveria interessar por uma organização
militar. Eram um meio de defesa e educação para o movimento nacional-socialista,
e seus deveres estavam em um terreno completamente diferente do dos denominados
corpos de defesa.
Também não deveriam consistir em organizações secretas. O objetivo de
organizações secretas só pode ser contra as leis. Com isso, porém, diminui-se a
amplitude da organização. Não é possível, principalmente tendo-se em vista a
loquacidade do povo alemão, fazer-se uma organização de certa extensão, e. ao
mesmo tempo, conservá-la secreta, ou mesmo disfarçar os seus fins. Toda
tentativa, nesse sentido, será de mil modos frustrada. Além disso, no seio da
nossa polícia, encontra se hoje uma grande massa de rufiões e gente do mesmo
jaez. os quais, pelos trinta dinheiros de Judas, trairão tudo o que puderem
encontrar e inventarão o que possa existir para ser traído. Só por esse motivo,
nunca se poderá conseguir, dos próprios partidários. o necessário segredo.
Somente grupos muito pequenos, por seleção contínua, durante anos, podem adotar
o caráter de organizações secretas efetivas. A pouca importância de tais
formações anularia, porém, o seu valor para o movimento nacional-socialista.
O de que nós precisávamos e precisamos ainda é não de cem ou duzentos
audaciosos conspiradores, mas de cem mil e outros cem mil lutadores fanáticos de
nossa doutrina. Não é em congregações secretas que se deve trabalhar, mas sim em
imponentes manifestações populares; não é por meio de punhal, de veneno ou de
pistola que se pode abrir caminho para o movimento, mas, unicamente, mediante a
conquista da rua. Devemos levar ao marxismo a convicção de que o futuro dono da
rua é o Nacional-Socialismo, assim como, de futuro, ele será, o senhor do
Estado.
Há ainda outro perigo nas organizações secretas. Os seus membros muitas
vezes deixam de compreender a grandeza do problema e são inclinados a pensar que
se pode decidir, de um golpe, o destino de um povo, por um assassinato isolado,
na ocasião oportuna. Essa opinião pode encontrar justificação na história nos
casos em que um povo está sob a tirania de um opressor genial, que unicamente
por sua preponderante personalidade garante a estabilidade interna e alimenta o
pavor da pressão inimiga. Em tal caso, pode um homem decidido sair do seio do
povo para sacrificar-se, dando o golpe de morte no coração do odiado opressor.
E, então, só a mentalidade republicana de pequenos biltres, cientes da sua
culpabilidade, declarará um tal gesto como execrável, enquanto o maior cantor da
liberdade de nosso povo (Schiller) teve a ousadia de glorificar semelhantes
feitos, no imortal Wilhelm Tell.
Nos anos de 1919 e 1920, havia o perigo de que um membro de qualquer
organização secreta, inspirado nos grandes exemplos da história e impressionado
com a desgraça sem limite da pátria, tentasse vingar-se dos destruidores da
nação, na crença de, com isso, pôr fim à miséria de seu povo. Qualquer tentativa
nesse sentido seria, porém, uma loucura, porque o marxismo não tinha vencido,
graças ao gênio superior e à importância pessoal de um indivíduo, mas unicamente
pela ilimitada covardia e incompetência do mundo burguês. A crítica mais cruel
que se pode fazer à nossa burguesia, é o constatar-se que a Revolução não fez
aparecer uma única cabeça de certa importância e que, apesar disso, essa
burguesia se submeteu à mesma. Pode-se compreender uma capitulação diante de um
Robespierre, um Danton ou um Marat, mas é deprimente que alguém se deixe vencer
por um franzino Scheidmann, pelo gordo Erzberger, por um Friedrich Ebert e por
todos os demais anões políticos. Realmente não existia nenhuma individualidade
na qual se pudesse reconhecer o homem genial da Revolução e nele a desgraça da
pátria. Só existiam os percevejos da Revolução, espartacistas de sacola, en gros
et en détail. Eliminar qualquer um deles seria completamente sem conseqüência e
teria no máximo o único resultado de que um dos outros sanguessugas do mesmo
tamanho e, com a mesma sede, tomaria mais cedo do que devia a posição vaga.
Naqueles anos, toda oposição não seria bastante enérgica contra uma opinião
que tinha os seus motivos fundamentais nos grandes fenômenos da história e não
menos no caráter liliputiano da época atual.
Sob o mesmo ponto de vista, deve ser encarado o problema da eliminação dos
chamados traidores da pátria. É, ridiculamente ilógico fuzilar um rapaz que
abandonou um canhão, quando, ao seu lado, se encontram canalhas nas mais altas
posições e que venderam uma nação inteira, que têm sobre a consciência o crime
de haverem sacrificado inutilmente dois milhões de homens, que são responsáveis
por milhões de mutilados, tudo isso, com o maior sangue-frio, na satisfação dos
seus interesses republicanos.
Eliminar pequenos traidores da pátria é absurdo em um regime cujo governo
liberta esses traidores de qualquer punição. Assim pode suceder que, algum dia,
um idealista honesto que, para o bem de seu povo, eliminou um covarde traidor
das armas, seja responsabilizado pelos traidores de elite da pátria. Em tal
caso, é importante a seguinte pergunta: É conveniente admitir que um pequeno
biltre traidor seja eliminado por outro biltre ou por um idealista? Em um caso,
o sucesso é duvidoso, e a traição para mais tarde quase certa; noutro caso fica
eliminado o biltre com o risco de vida de um idealista insubstituível.
Nessa questão, o meu ponto de vista é este: que não se enforquem ladrões
pequenos para deixar impunes os grandes, mas que, em um dia, um grande tribunal
de justiça alemão julgue e execute algumas dezenas de milhares dos organizadores
e responsáveis pelo crime de traição de Novembro e por tudo que se relacione com
isso. Um tal exemplo servirá também de escarmento, uma vez por todas, para o
pequeno traidor militar.
Todas essas considerações levaram-me a proibir sempre a participação em
organizações secretas e preservar as Companhias de Assalto do caráter de
semelhantes organizações. Afastei, naqueles anos, o movimento
nacional-socialista de tentativas dessa natureza, cujos autores, na maioria dos
casos, podiam ser magníficos jovens alemães idealistas, que seriam vítimas
pessoais desses atentados sem, com isso, conseguirem melhorar os destinos da
pátria.
Se, porém, as Companhias de Assalto não deviam ser organizações de defesa
militar nem associações secretas, deviam dai resultar as seguintes
conseqüências:
1) Sua educação não devia ser orientada, por pontos ele vista militares mas
sim no sentido da utilidade partidária.
Desde que seus membros se deviam tornar fisicamente capazes. não só devia
dar a maior importância aos exercícios militares mas sim aos esportivos. O boxe
e o jiu-jitsu, no meu modo de ver, eram mais importantes que qualquer má ou
incompleta instrução de tiro. Proporcione-se à nação alemã seis milhões de
homens perfeitamente treinados nos esportes, todos ardentes de amor fanático
pela pátria e educados no mais elevado espírito ofensivo, e um Estado
nacionalista formará deles, se necessário, dentro de menos de dois anos, um
verdadeiro exército desde que para isso exista uma certa base. Tal base, nas
condições atuais, só poder ser a Reichswehr, e nunca um corpo defensivo
deficientemente organizado. A educação física deve criar em cada indivíduo a
convicção da sua superioridade e inocular-lhe aquela confiança que só pode
resultar da consciência da própria força; além disso, deve dar-lhe as faculdades
desportivas que servirão de arma na defesa do movimento nacionalista.
2) Para evitar, desde o inicio, qualquer caráter secreto das "Tropas de
Assalto", o uniforme deve torná-las por todos reconhecidas. A própria extensão
do seu efetivo está a indicar-lhe o caminho mais conveniente a seguir, que é o
da maior publicidade. Não se devem reunir em segredo mas devem marchar ao ar
livre, de maneira a, por essa atitude, destruir todas as lendas de "organização
secreta". Para distrai-las, também, intelectualmente de qualquer tentativa para
empregar sua atividade em pequenas conspirações, devem. de começo, ser iniciadas
na grande idéia do movimento, no dever de defender esta idéia, de maneira a que
se amplie seu horizonte mental e que cada um contemple sua tarefa, não na
eliminação de qualquer pulha, mas na colaboração entusiástica para a formação de
um novo Estado nacional-socialista-racista, Assim se conseguiu elevar o combate
contra o atual Estado, de uma atmosfera de pequenas ações de vingança e
conspirações, à altura de uma guerra contra o marxismo e suas criações, sob o
ponto de vista universal.
3) A formação e a organização das "Tropas de Assalto", no que diz respeito
ao seu vestuário e armamento, devem obedecer à conveniência dos deveres a serem
cumpridos e não aos modelos do exército antigo.
Estas considerações que me serviram de guia nos anos de 1920 e 1921, e que
tratei de imprimir, aos poucos, às novas organizações, tiveram tanto êxito que,
já em pleno verão de 1922, dispúnhamos de um núcleo respeitável de "corpos de
cem" que, em fins do outono de 1922, receberam seu uniforme característico. Três
acontecimentos foram de uma importância extraordinária para o desenvolvimento
futuro das Tropas de Assalto:
1o. - A grande demonstração geral de todas as reuniões patrióticas contra a
"lei de defesa da República", em fins do verão de 1922, na Königsplatz, em
Munique. As associações patrióticas de Munique tinham publicado, naquele tempo,
o manifesto em que, como protesto contra a decretação da "lei do defesa da
República", convidavam para uma gigantesca manifestação. O Partido Nacional
Socialista devia nela tomar parte. A marcha do Partido foi encabeçada por seis
"companhias" de Munique, as quais eram seguidas das seções do partido político.
No cortejo, marchavam duas bandas de música e foram levadas cerca de cem
bandeiras. A chegada dos Nacionais-Socialistas na grande praça, já meio repleta,
causou um entusiasmo indescritível. Eu pessoalmente tive a honra de poder falar
diante de uma multidão que já agora atingia sessenta mil pessoas.
O êxito da manifestação foi formidável, especialmente porque, desafiando
todas as ameaças rubras, ficou provado, pela primeira vez, que também o
nacionalista de Munique se podia utilizar das manifestações de rua. Membros das
associações rubras republicanas que tentaram opor-se pelo terror ao cortejo em
marcha foram dispersados, dentro de poucos minutos, com as cabeças quebradas,
pelas companhias das "Tropas de Assalto". O movimento nacional-socialista, neste
dia, pela primeira vez, ostentava a sua firme vontade de, futuramente, reclamar
também para si o direito sobre a rua e de tirar com isso esse monopólio das mãos
dos traidores internacionais do povo e inimigos da pátria.
O resultado desse dia foi a prova indiscutível da exatidão das nossas
idéias sobre a organização definitiva das "Tropas de Assalto".
A experiência havia provado tão bem que, poucas semanas depois, em Munique
já existia um número duplo de companhias.
2o. - A marcha para Koburg em outubro de 1922.
As associações "nacionalistas" decidiram organizar em Koburg um "dia
alemão". Eu pessoalmente fui convidado, com a observação de que seria desejável
trazer comigo alguns amigos. Este convite, que recebi, às 11 horas da manhã,
chegou muito a propósito. Já uma hora mais tarde, eram dadas as ordens para o
comparecimento a esse "dia alemão". Ordenei que oitocentos homens das "Tropas de
Assalto", divididos aproximadamente em quatorze companhias, fossem
,transportados de Munique, em trem especial, para a pequena cidade que tinha
sido incorporada à Baviera. Ordens idênticas foram dadas a grupos
nacionais-socialistas das "Tropas de Assalto" que se haviam formado em outros
lugares!
Foi a primeira vez que na Alemanha foi organizado semelhante trem especial.
Em todas as estações, onde outros homens das "Tropas de Assalto" tomavam o trem,
causou esse transporte a maior sensação. Muitos nunca tinham visto as nossas
bandeiras. A impressão que as mesmas causavam era enorme.
Quando chegamos à estação de Koburg, fomos recebidos por uma deputação dos
organizadores do "dia alemão" que nos anunciaram que, por ordem das uniões
sindicais, isto é, do Partido Independente e dos Comunistas, tinha ficado
"combinado" que não nos era permitido entrar na cidade nem com bandeiras
desfraldadas nem como música (acompanhava-nos uma banda de música de quarenta e
dois homens) nem em marcha cerrada.
Imediatamente, recusei peremptoriamente tão humilhantes condições mas não
deixei de exprimir aos senhores da direção do "dia" a minha surpresa por terem
eles entrado em combinações com tal gente e declarei que, imediatamente, as
"Tropas de Assalto" marchariam em companhias, com a música a tocar, e entrariam
na cidade, com bandeiras desfraldadas.
E assim se fez.
Na praça da estação, fomos recebidos por uma massa de muitos milhares de
homens, gritando e berrando: "Assassinos", "bandidos", "piratas", "criminosos"!
Eram os qualificativos com que amavelmente nos recebiam os modelares fundadores
da República alemã. As nossas "Tropas de Assalto" se mantinham em uma ordem
irrepreensível. As companhias formaram na praça diante da estação e não tomaram
em consideração os insultos. Polícias tímidos levaram o c
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