INSTITUTO OSWALDO CRUZ Doutorado em Ensino em Biociências

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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Doutorado em Ensino em Biociências e Saúde
A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de
Seleção Sexual para a compreensão da Seleção Natural em um
curso de graduação em EaD
LIVIA BAPTISTA NICOLINI
Rio de Janeiro
2013
TESE DEBS - IOC
L. B. NICOLINI
ii
2013
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde
Livia Baptista Nicolini
A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de Seleção Sexual
para a compreensão da Seleção Natural em um curso de graduação em EaD
Tese apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz
como parte dos requisitos para obtenção do
título de Doutor em Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Francisco Waizbort
RIO DE JANEIRO
2013
iii
Ficha catalográfica elaborada pela
Biblioteca de Ciências Biomédicas/ ICICT / FIOCRUZ - RJ
N644
Nicolini, Livia Baptista
A outra seleção: a importância de introduzir o conceito de seleção sexual
para a compreensão da seleção natural em um curso de graduação em
EaD / Livia Baptista Nicolini. – Rio de Janeiro, 2013.
xiii, 191 f. : il. ; 30 cm.
Tese (Doutorado) – Instituto Oswaldo Cruz, Pós-Graduação em Ensino
em Biociências e Saúde, 2013.
Bibliografia: f. 172-179
1. Atividades didáticas. 2. Ensino de evolução. 3. Seleção sexual. I. Título.
CDD 591.380711
iv
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde
AUTOR: LIVIA BAPTISTA NICOLINI
A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de Seleção Sexual
para a compreensão da Seleção Natural em um curso de graduação em EaD
ORIENTADOR: Prof. Dr. Ricardo Francisco Waizbort
Aprovada em: 20/09/2013
EXAMINADORES:
Prof. Dra. Carolina Nascimento Spiegel (Presidente)
Prof. Dr. Ricardo Iglesias Rios
Prof. Dra. Eliane Brígida Morais Falcão
Prof. Dr. Mauricio Roberto Motta Pinto da Luz (Revisor e primeiro suplente)
Prof. Dr. Gutemberg Gomes Alves (Suplente)
Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2013
v
Dedico esse trabalho ao meu marido Rodrigo e aos meus filhos
Pedro e Alice, pois sem eles minha vida seria um imenso vazio.
vi
Agradecimentos
Ao meu marido Rodrigo, simplesmente por ter cruzado meu caminho e ter
preenchido minha vida com tanto amor.
Ao meu filho Pedro por me obrigar a equilibrar os estudos com a família.
À minha filha Alice, por sua causa adiei a defesa e você pode estar presente.
À minha mãe Marise por ser meu eterno exemplo.
À minha avó Glauce, pois sem ela nada disso seria possível.
À minha amiga Janete, pois não há uma amiga melhor que ela.
Ao meu irmão Julio por suas eternas ajudas com o inglês.
Ao meu pai Ricardo, aos meus irmãos Gabriel e Fernando, à minha avó Neyde e
ao meu padrasto Juarez por fazerem parte da minha família.
Aos amigos Cristiano, Camila, Pablo, Talita, Renato, Elenise, Raphael, Vitória e
Vânia por terem proporcionado tantos momentos de descontração nessa jornada.
Ao meu orientador Ricardo Waizbort por ter me apresentado um tema que me
fisgou desde o início e por suas imensas dicas de leitura, um dia eu conseguirei
ler tudo.
Ao prof. Maurício Luz por me apresentar meu orientador e pela revisão atenciosa
desse trabalho.
Aos integrantes do Laefib por compartilharmos tantos momentos juntos em aulas
e seminários. Especialmente aos companheiros de jornada Leandro Costa e
Leandra Melim.
Ao prof. Antônio Solé por ter permitido que eu desenvolvesse esse projeto em sua
disciplina.
Ao prof. Ricardo Iglesias pela autorização para realização da pesquisa nesse
curso de graduação.
Ao pessoal do polo Campo Grande, Enir, Ana, Roberto e Cláudia, por toda ajuda
prestada ao longo desses quatro anos.
Aos membros da banca pela leitura atenciosa desse material e por todas as
sugestões apresentadas para a melhoria desse trabalho.
vii
“Não cuspa para cima, que cai no olho, lembrou ele do dito
popular, essa sabedoria calculista e pragmática, procurando
sempre uma justiça secreta em todas as coisas, para fugir do
peso terrível do acaso que nos define.”
O filho eterno - Cristovão Tezza
“Portanto, os homens não são de Marte, e as mulheres não são
de Vênus. Homens e mulheres são da África, o berço de nossa
evolução, onde eles evoluíram juntos como uma única espécie.”
Tábula Rasa – Steven Pinker
“O amor romântico nada mais é que um truque darwinista para
nos deixar cegos aos defeitos dos outros.”
Os artistas da memória - Jeffrey Moore
viii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14
2 Referencial Teórico ........................................................................................... 19
2.1 Educação à Distância .......................................................................... 19
2.2 Conceituação da Teoria Evolutiva ....................................................... 22
2.2.1 Diferenças entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual ....... 27
2.2.2 A Seleção Sexual e a evolução da espécie humana ............. 35
2.3 Ensino de Evolução ............................................................................. 42
3 Objetivos ........................................................................................................... 49
3.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 49
3.2 Objetivos Específicos .......................................................................... 49
4 Contexto da pesquisa e Metodologia ................................................................ 50
4.1 Contexto da pesquisa .......................................................................... 50
4.2 Desenho Metodológico ........................................................................ 53
4.2.1 Livros didáticos do Ensino Médio .......................................... 54
4.2.2 Módulos Didáticos .................................................................. 55
4.2.3 Provas de Evolução ............................................................... 57
4.2.4 Atividades Didáticas ............................................................... 60
5 Resultados e Discussão .................................................................................... 67
5.1 Conceituação sobre a seleção sexual em livros didáticos do Ensino
Médio ......................................................................................................... 67
5.2 Como a Teoria Evolutiva é conceituada no curso de Graduação em
Ciências Biológicas ................................................................................... 74
5.2.1 Conceituação da Teoria Evolutiva nos módulos didáticos ..... 75
5.2.1.1 Grandes Temas em Biologia .................................... 77
5.2.1.2 Diversidade dos Seres Vivos ................................... 78
5.2.1.3 Elementos de Ecologia e Conservação ................... 79
5.2.1.4 Introdução à Zoologia ............................................... 80
5.2.1.5 Populações, Comunidades e Conservação ............. 81
5.2.1.6 Evolução ................................................................... 83
5.2.1.7 Compilação dos dados sobre os módulos ............... 86
5.2.2 Apreensão de conceitos da Teoria Evolutiva pelos alunos da
disciplina Evolução ......................................................................... 88
5.2.2.1 Questão Penicilina ................................................... 89
5.2.2.2 Questão Flamingo .................................................... 92
5.2.2.3 Questão Só teoria? .................................................. 94
5.2.2.4 Questão Seleção Natural ......................................... 96
5.2.2.5 Questão Complexidade ............................................ 98
5.2.2.6 Questão Mutação ................................................... 100
5.2.2.7 Questão Mutação / Evolução ................................. 101
5.2.2.8 Questão Tautologia Seleção Natural ..................... 102
5.2.2.9 Questão Raios UV .................................................. 104
5.2.2.10 Questão Seleção Sexual ...................................... 105
5.2.3 O que os alunos responderam nas avaliações de Evolução
estão de acordo com o que é apresentado nas disciplinas? ........ 107
6 Resultados e Discussão .................................................................................. 110
ix
6.1 Desenvolvimento das atividades didáticas ........................................ 110
6.1.1 Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga
pesquisadores ............................................................................... 110
6.1.2 Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os
gametas masculinos e femininos .................................................. 112
6.1.3 Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da
reprodução sexuada ..................................................................... 113
6.1.4 Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem
novas propostas para explicar a biodiversidade existente ........... 115
6.1.5 Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de
homens e mulheres ...................................................................... 120
6.1.6 Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres
possuem diferenças ...................................................................... 122
6.1.7 Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os
circuitos cerebrais e o comportamento sexual da espécie humana
....................................................................................................... 124
6.1.8 Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando
usados em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente 126
6.2 Avaliação das atividades didáticas .................................................... 127
6.2.1 Avaliação Presencial 1 - Semestre 2012-1 .......................... 128
6.2.2 Avaliação Presencial 2 - Semestres 2012-1 e 2012-2: Os
Discursos do Sujeito Coletivo ....................................................... 131
6.2.2.1 Semestre 2012-1 .................................................... 131
6.2.2.2 Semestre 2012-2 .................................................... 146
6.2.3 Discussão dos resultados encontrados ............................... 157
6.2.3.1 Discussão dos Discursos do Sujeito Coletivo ........ 159
6.2.3.1.1 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-1 ...... 159
6.2.3.1.2 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-2 ...... 163
6.2.3.2 O que podemos concluir sobre as atividades? ...... 165
Considerações Finais ......................................................................................... 169
Referências Bibliográficas .................................................................................. 172
Anexo I - Ementas do curso de Ciências Biológicas ......................................... 180
Anexo II – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa ........................................ 182
Apêndice I – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............ 183
Apêndice II – Aula Extra ..................................................................................... 184
Apêndice III – DVD com as atividades gravadas ............................................... 199
Apêndice IV - O que era esperado em cada uma das atividades ...................... 200
x
RESUMO
A OUTRA SELEÇÃO: A IMPORTÂNCIA DE INTRODUZIR O CONCEITO DE
SELEÇÃO SEXUAL PARA A COMPREENSÃO DA SELEÇÃO NATURAL EM
UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM EaD
O presente trabalho teve como objetivo criar e avaliar atividades didáticas
que fizessem o contraponto entre os processos de Seleção Natural e Seleção
Sexual na origem e manutenção da diversidade das espécies. Essas atividades
foram utilizadas em uma graduação pública semipresencial em Licenciatura em
Ciências Biológicas do estado do Rio de Janeiro e pretendia auxiliar no ensino
mais efetivo da Teoria Evolutiva, pois esse é um tema central das Ciências
Biológicas e deve ser ensinado desde a Educação Básica. Para que essas
atividades fossem avaliadas, além da revisão dos referenciais teóricos da área,
também foram realizadas análises de livros didáticos do Ensino Médio em relação
ao tema Evolução; caracterização do tema Evolução nos módulos didáticos dessa
graduação, material que os alunos recebem quando se inscrevem nas disciplinas;
e análise de provas presenciais arquivadas da disciplina Evolução. Com esses
dados pretendíamos, em primeiro lugar, caracterizar os conceitos de evolução
que mais aparecem em um importante instrumento de consulta de professores e
alunos - os livros didáticos. Também pretendíamos caracterizar os conceitos que
permeiam essa graduação semipresencial, as concepções dos processos
evolutivos dos alunos que já cursaram a disciplina Evolução e se as atividades
contribuiriam ou não para que tal tema fosse apreendido de forma mais
satisfatória. Os resultados referentes a esses dados indicaram que existem
lacunas e erros conceituais que devem ser transpostos. Porém, após a realização
das atividades e sua análise através da metodologia do Discurso do Sujeito
Coletivo, erros conceituais sobre os processos de seleção natural e seleção
sexual continuaram fazendo parte do repertório de respostas do grupo. Julgamos
que devemos reformular as atividades e testá-la novamente, numa tentativa de
continuar contribuindo para um ensino mais efetivo da Teoria Evolutiva.
Palavras-Chave: Atividades Didáticas; Ensino de Evolução; Seleção Sexual.
xi
ABSTRACT
THE OTHER SELECTION: THE VALUE OF INTRODUCING THE CONCEPT OF
SEXUAL SELECTION TO THE COMPREHENSION OF NATURAL SELECTION
IN EAD GRADUATION COURSE
The present work had as objective creating and evaluating teaching
activities that contrast the processes of Natural Selection and Sexual Selection in
the origin and maintenance of the species' diversity. These activities were tested
on Biological Sciences graduation courses in partial-time public graduation
institutions of the state of Rio de Janeiro, with the goal of reaching a more effective
program to teach Evolutionary Theory, as this is one of the main pillars of
Biological Sciences courses and should be taught since basic education. For
these activities to be evaluated, in addition to the review of theoretical references
in the area, there was also the analysis of highschool textbooks in regards to the
theme of Evolution: characterizations of the Evolution theme on these didactic
modules, evaluation of the material students receive when enrolling on those
disciplines, and analysis of previous written exams on the discipline of Evolution.
This data would help characterize the concepts of Evolution that are more
widespread in textbooks, as well as characterizing the concepts that surround this
part-time graduation, the conceptions of evolutionary processes from the students
that already attended the Evolution discipline and if those activities contributed or
not to the theme being satisfactorily learned. The data results indicate gaps and
conceptual errors that must be overcome; however, after these activities were
analysed through the metodology of Collective Subject Discourse (Discurso do
Sujeito Coletivo), conceptual errors about the natural and sexual selection
processes remain part of the group's answers. In conclusion, these activities must
be reformulated and reapplied, in an attempt to further contribute to a more
effective education in Evolutionary Theory.
Keywords: Teaching Activities; Teaching Evolution; Sexual Selection.
xii
Lista de Quadros
Quadro 5.1 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento
Darwiniano ........................................................................................................... 70
Quadro 5.2 – Avaliação da presença do conceito de Seleção Sexual formulado
por Darwin ............................................................................................................ 72
Quadro 5.3 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento
Darwiniano ........................................................................................................... 77
Quadro 5.4 – Questão Penicilina: exemplos de respostas por categoria ............ 90
Quadro 5.5 – Questão Flamingo: exemplos de respostas por categoria ............. 93
Quadro 5.6 – Questão Só teoria?: exemplos de respostas por categoria ........... 95
Quadro 5.7 – Questão Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria .. 97
Quadro 5.8 – Questão Complexidade: exemplos de respostas por categoria ..... 99
Quadro 5.9 – Questão Mutação: exemplos de respostas por categoria ............ 100
Quadro 5.10 – Questão Mutação / Evolução: exemplos de respostas por categoria
........................................................................................................................... . 102
Quadro 5.11 – Questão Tautologia Seleção Natural: exemplos de respostas por
categoria ............................................................................................................ 103
Quadro 5.12 – Questão Raios UV: exemplos de respostas por categoria ........ 105
Quadro 5.13 – Questão Seleção Sexual: exemplos de respostas por categoria 106
Quadro 6.1 – Questão 4: exemplos de respostas por categoria ........................ 129
Quadro 6.2 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Natural ................. 133
Quadro 6.3 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Sexual ................. 140
Quadro 6.4 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre os processos de Seleção Natural
e Seleção Sexual ............................................................................................... 148
xiii
Lista de Tabelas
Tabela 4.1 – Questões escolhidas, número de polos e número de alunos inscritos
na disciplina Evolução .......................................................................................... 58
Tabela 5.1 – Percentual aproximado de páginas que tratam do assunto evolução
por livro didático ................................................................................................... 70
Tabela 5.2 – Percentual aproximado da área que aborda o conceito de Seleção
Sexual, na Unidade Evolução, por livro didático .................................................. 71
Tabela 5.3 – Distribuição das respostas por categoria ........................................ 89
Tabela 6.1 - Distribuição das respostas por categoria ....................................... 128
Tabela 6.2 – Comparação entre os semestres 2009-2 e 2012-1 ....................... 130
Tabela 6.3 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 139
Tabela 6.4 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 145
Tabela 6.5 – Número de alunos por atividade ................................................... 146
Tabela 6.6 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 157
Tabela 6.7 – Número de alunos por atividade ................................................... 157
xiv
INTRODUÇÃO
O objetivo principal dessa tese foi contribuir para um ensino efetivo da
Teoria
Evolutiva
em
uma
graduação
semipresencial.
Para
tal,
foram
desenvolvidas atividades didáticas - com filmes, textos e imagens - para a
discussão de conceitos importantes dessa teoria no âmbito da perspectiva
darwiniana.
Diversos referenciais da área de ensino de evolução foram utilizados para
o desenvolvimento desse projeto, pois são pesquisas que indicam que embora as
pessoas, das mais diversas esferas sociais, saibam quem foi Charles Darwin e se
lembrem dos nomes e palavras chaves de suas ideias, quando indagadas sobre
os processos que fazem parte da Teoria Evolutiva, ou de suas aplicações em
diversas situações, mostram variadas dificuldades na compreensão do tema
(BRUMBY, 1984; GOULD, 1987; FERRARIO e CHI, 1998; RUTLEDGE e
SADLER, 2007). Essas dificuldades estão relacionadas, principalmente, com uma
visão Lamarckista da evolução ou com o uso de explicações teleológicas desse
processo.
A ideia para esse projeto também se originou da percepção de que a
Biologia é uma ciência diferenciada, pois os fenômenos biológicos são locais e
históricos, uma vez que é da relação dos seres vivos entre si e dos mesmos com
o ambiente que os diversos fenômenos ocorrem. Embora, hoje em dia, essa
ciência apresente diversas subáreas de atuação, existe um conceito ou forma de
pensar a Biologia que deve perpassar todas as subáreas: a Teoria Evolutiva e
seus desdobramentos (FUTUYMA, 2002; MAYR, 2008).
É claro que o processo evolutivo possui diversas facetas, que vão desde a
geração de variabilidade, até os diferentes processos que alteram a frequência
dos alelos na população. Porém, para características que são claramente
adaptativas, ou seja, que aumentam as chances de sobrevivência ou de
reprodução, são os processos seletivos que atuam de forma mais intensa, e foi
nesses processos que essa pesquisa focou.
Ao longo do meu doutorado, apesar de considerar os conceitos
darwinianos - Evolução como Fato, Evolução Gradual, Origem Comum,
Especiação Populacional e Seleção Natural - que aprendi em minha graduação,
compreensíveis e bem explicados, ficou claro para mim o quanto essa teoria é
complexa.
xv
Essa complexidade é decorrente do fato de que a Teoria Evolutiva é
formada por conceitos que se interligam e, por isso, eu precisava me dedicar ao
aprofundamento do tema, principalmente aprendendo sobre o conceito de
Seleção Sexual. Esse conceito era novo para mim e pude perceber que existia
uma lacuna nas minhas próprias explicações sobre a Teoria Evolutiva.
Após minha inserção nesse campo de conhecimento, consideramos que
entender os processos inerentes à evolução por Seleção Natural e Seleção
Sexual ajuda a compreender de forma mais integrada áreas como a ecologia, a
medicina, a fisiologia e etc. levando não só a um aumento do conhecimento do
mundo à nossa volta, como permitindo a tomada de decisões mais realistas no
que se refere à saúde, ambiente, alimentação, extinção das espécies; permite a
compreensão de diversos temas polêmicos e que estão em pauta nas discussões
das mais diferenciadas esferas sociais. Como diz Futuyma (2002, p.5),
a Biologia Evolutiva é o estudo da história da vida e dos processos que
levam à sua diversidade. Baseada nos princípios da adaptação, no
acaso e na história, a Biologia Evolutiva procura explicar todas as
características dos organismos, ocupando por isso uma posição central
dentro das ciências biológicas.
Com isso, compreendemos que a Teoria Evolutiva, seus conceitos e suas
aplicações, devem ser ensinados de forma adequada desde a Educação Básica
(WAIZBORT, 2001; FUTUYMA, 2002; SANTOS, 2002; RUTLEDGE e SADLER,
2007; MAYR, 2008, CARVALHO et al., 2011). Nesse caso, não basta pensarmos
em um monte de conceitos que são decorados e repetidos. Essa teoria deve ser
apreendida de forma que se torne uma visão de mundo, que permita a
compreensão de situações e que ajude na tomada de decisões.
Associado a isso, ao ensinarmos a Teoria Evolutiva, devemos ir além da
clássica definição de que “os indivíduos se modificaram ao longo do tempo, e
continuam se modificando, a partir da seleção natural, que é a seleção dos mais
aptos”, ideia que está muito arraigada no senso comum. Precisamos mudar esse
enfoque porque com os avanços da biologia molecular no século XX e com o
aprofundamento das pesquisas sobre a Teoria Evolutiva novas integrações e
reelaborações dos conceitos foram desenvolvidas.
Porém, ao nos depararmos com estudantes de diferentes níveis de
escolaridade, é palpável o quanto essa teoria é de difícil compreensão para esses
alunos. As dificuldades mais comuns estão relacionadas com a necessidade de
xvi
uma boa capacidade de abstração e de perceber que o processo de evolução é
algo que ocorre sem um agente guiando e sem um objetivo final pré-determinado,
como será demonstrado ao longo desse trabalho.
Essa constatação nos fez questionar como poderíamos contribuir para um
ensino mais efetivo dessa teoria e, por isso, consideramos que para um melhor
entendimento da Teoria Evolutiva, deve ocorrer um maior detalhamento de quais
são os conceitos que formam a estrutura da teoria formulada por Charles Darwin,
bem como a diferenciação de seus principais processos: a Seleção Natural e a
Seleção Sexual (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004;
MAYR, 2008). Pois, como Darwin (2004) destacou,
a seleção sexual atua de maneira menos rigorosa que a seleção natural.
Esta última produz seus efeitos em função da sobrevivência dos mais
bem dotados e da morte dos demais. (...) Mas no que se refere às
estruturas suscetíveis de tornar o macho mais competente na luta, ou
então mais sedutor, não há limite definido quanto à quantidade de
modificações vantajosas que possam ser adquiridas (p.183).
Também consideramos que o fato de que muitas vezes apenas a Seleção
Natural é utilizada para dar conta da história da biodiversidade existente pode ser
mais um ponto de dificuldade para a compreensão de algumas estruturas. Então,
como o próprio Darwin destacou e que mostraremos mais adiante, esse processo
não é suficiente para explicar a existência de determinadas características,
principalmente as mais extravagantes, que
para os machos adultos e experientes (...) a vantagem que elas
proporcionam, conferindo-lhes melhores condições para combater seus
rivais, mais do que contrabalançam a exposição aos perigos que
porventura viessem a provocar-lhes (DARWIN, 2004, p.196).
Além disso,
machos e fêmeas adotam diferentes estratégias reprodutoras. Em teoria,
os machos competem por fertilizações, tentando inseminar quantas
fêmeas for possível. Há um limite rigoroso, por outro lado, para o número
de vezes que uma fêmea se beneficia da inseminação. O seu sucesso
reprodutivo depende não do número de fertilizações, mas das
contingências da vida, das qualidades dos companheiros que escolhe e,
sobretudo, do êxito que tem em manter vivos quantos filhotes produz
(HRDY, 2001, p.103).
Em função disso, julgamos que a inclusão do processo de Seleção Sexual,
no ensino da Teoria Evolutiva, pudesse ser compreendida como a possibilidade
xvii
de discussão de um dos conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986) das Ciências
Biológicas. Pretendíamos que essa inclusão gerasse uma mudança cognitiva nos
alunos, que levasse a uma compreensão mais efetiva dessa teoria.
Os referenciais da área de ensino de evolução também nos auxiliaram a
compreender e justificar um grande problema que eu encontrava na disciplina
Evolução do curso de graduação semipresencial do qual sou tutora. Nas tutorias
presenciais os alunos demonstravam que não conseguiam entender a lógica da
Teoria Evolutiva darwiniana. Essa dificuldade se refletia em notas baixas nas
avaliações presenciais e uma alta taxa de reprovação na disciplina. Por isso,
decidimos desenvolver esse projeto nessa graduação.
A partir dessa constatação, associado aos referencias da área de ensino,
consideramos que pesquisas na área de ensino de evolução podem contribuir
para tentar sanar certas lacunas ou erros existentes nas conceituações da Teoria
Evolutiva. Por isso, nessa tese foi desenvolvida uma sequência de atividades
didáticas utilizando os dois principais processos seletivos – Seleção Natural e
Seleção Sexual – para serem realizadas com alunos de uma graduação pública
semipresencial de licenciatura em Ciências Biológicas, do Estado do Rio de
Janeiro.
Nessas atividades foram usados trechos de documentários, imagens e
textos criados por nós, a partir dos referenciais utilizados nessa tese, com o intuito
de apresentar de forma didática e um pouco lúdica, conceitos que nessa
graduação são apresentados apenas na forma de textos.
As atividades tinham como objetivo tentar facilitar a compreensão desse
tema, principalmente pelo fato de que os alunos dessa graduação deverão ser
professores da Educação Básica e terão que abordar a Teoria Evolutiva em suas
futuras aulas. Para que a possível contribuição das atividades fosse analisada,
escolhemos utilizar a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e
LEFÈVRE, 2003) que permite o resgate das ideias que permeiam determinado
grupo.
Também contribuíram para o desenvolvimento dessas atividades dados de
livros didáticos do Ensino Médio, sobre como o processo de Seleção Sexual é
apresentado nesses livros. Além disso, caracterizamos como os conceitos da
Teoria Evolutiva são apresentados nos módulos didáticos da graduação em
questão e as respostas dos alunos em provas presenciais da disciplina Evolução
sobre questões relacionadas diretamente com a Teoria Evolutiva. Essas etapas
xviii
permitiram conhecer as conceituações sobre o tema proposto e perceber as
principais dúvidas dos alunos, contribuindo para se alcançar o objetivo mais
amplo dessa pesquisa.
Sendo assim, além dessa introdução, no capítulo 2 são descritas as
principais características da Educação a Distância e um breve estado do
conhecimento sobre a Seleção Natural e a Seleção Sexual, além das implicações
e dificuldades para o Ensino da Teoria Evolutiva. No capítulo 3 estão os objetivos
da pesquisa. No capítulo 4 descrevemos as etapas percorridas para a obtenção
dos dados. No capítulo 5 é apresentada a primeira parte das discussões, com os
dados referentes aos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual em livros
didáticos do Ensino Médio e sobre os módulos e provas da graduação em que o
projeto foi desenvolvido. O capítulo 6 contém a segunda parte das discussões, na
qual são apresentadas as etapas para escolha do material utilizado nas atividades
e a discussão dos resultados após o uso das atividades. E, no capítulo 7, são
apresentadas as considerações finais.
xix
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO
Nessa tese estávamos interessados em aspectos que poderiam auxiliar
uma melhor compreensão da Teoria Evolutiva por futuros professores de Ciências
e Biologia da Educação Básica de um curso de graduação semipresencial. Para
que tal proposta se desenvolvesse, era necessária a caracterização dessa
modalidade de ensino e dos referenciais sobre a Teoria Evolutiva e de pesquisas
relacionadas com o ensino de evolução.
2.1 EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
A Educação à Distância (EaD) é uma oportunidade de ensino em que o
discente pode aprender a partir de seu ambiente doméstico, do trabalho ou de
qualquer outro lugar, não tendo a necessidade de dividir o mesmo espaço físico e
ao mesmo tempo com os professores e/ou tutores (SANTOS 2006; ABREU et al.,
2007; ALONSO, 2010; RONCHI et al., 2012).
Normalmente essa modalidade de ensino apresenta polos pedagógicos em
localidades estratégicas, que normalmente são áreas com baixo desenvolvimento
humano e pouco investimento educacional (SANTANA e PEIXOTO, 2010). Isso é
possível, pois a EaD apresenta como elemento definidor a não presencialidade de
alunos e professores. Essa especificidade informa sobre
os parâmetros da relação pedagógica, propondo características à
modalidade tais como: o controle do aprendizado estar mais ligado ao
aluno e a necessidade de artefatos técnicos ou meios tecnológicos que
viabilizem processos comunicacionais entre os atores da formação
(ALONSO, 2010, p.1326).
Outro fator importante é que, em um mundo cada vez mais complexo e
globalizado, esse tipo de ensino tem se mostrado de grande importância, uma vez
que permite “modificar processos insuficientes e caros de ensinar para muitas
pessoas, ao longo da vida” (MORAN, 2009, p.286). No caso específico do nosso
país, esse pode ser “o único caminho possível para muitos brasileiros”
(OLIVEIRA, 2010, p.238).
Então, a EaD no Brasil começou com o ensino por correspondência e ao
longo do tempo foi incorporando novos recursos, tendo a internet como seu mais
xx
novo complemento (SARMET e ABRAHÃO, 2007; SILVA et al., 2009; GAMEIRO
et al., 2011). Com isso, “apresenta-se como uma educação baseada na
separação física entre alunos e educadores, em que há a possibilidade de
comunicação síncrona1 ou assíncrona entre as partes envolvidas” (GAMEIRO et
al., 2011, p.89-90). Também pode ser definida como
um sistema tecnológico de comunicação bidirecional, que substitui o
contato pessoal professor/aluno, como meio preferencial de ensino, pela
ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio
de uma organização e tutoria, que possibilitam a aprendizagem
independente e flexível dos alunos (SANTOS, 2006, p.3).
Inclusive, essa separação pode ser apenas física,
pois com o auxílio das tecnologias professores e alunos podem manter
um diálogo online constante e em muitos casos até mais frequente que
no ensino presencial, uma vez que o aluno, na educação a distância,
tende a interagir muito mais com seu professor/tutor do que os alunos de
uma disciplina regular presencial (JUNIOR e COUTINHO, 2011, p.2).
Porém, por ser uma nova forma de ensino, ainda existe muito preconceito
em relação à EaD e muitas ideias errôneas sobre ela. Segundo Junior e Coutinho
(2011), muitos consideram que é uma forma mais fácil e rápida de se conseguir
um diploma e entrar no mercado de trabalho, mesmo essa modalidade exigindo
uma grande dedicação do aluno. Essa dedicação é necessária, pois o aluno é o
principal responsável pela construção de seu conhecimento, necessitando se
adequar às exigências desse tipo de ensino. Muitas vezes essa dificuldade de
adequação acaba sendo um dos principais motivos das altas taxas de evasão que
ainda existem na EaD.
Outra característica dessa modalidade é que, dependendo da instituição
que oferece o curso e seu tipo, os responsáveis pela organização dos cursos
podem ser chamados de professores ou tutores. Esses profissionais podem ter
como função: a concepção e realização dos cursos e materiais; o planejamento e
organização da distribuição dos materiais e da administração acadêmica; ou
ainda o acompanhamento do estudante, podendo acumular mais de uma função
(SARMET e ABRAHÃO, 2007; RONCHI et al., 2012). No caso do presente
estudo, nos interessa a última função, pois para o tutor
1
A comunicação síncrona permite uma interação simultânea e a assíncrona é quando a interação
não ocorre de forma imediata.
xxi
não basta o conhecimento do conteúdo; é necessário que ele seja
portador de competências de gestão de equipes e do processo de
aprendizagem, e ainda detenha conhecimento das técnicas e dos
recursos mais adequados a cada evento de ensino (SARMET e
ABRAHÃO, 2007, p.113).
Em função dessas características e com a possibilidade de uso de
sistemas interativos para que ocorra a aprendizagem, é importante que os
Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) sejam usados para a construção do
conhecimento,
evitando
uma
abordagem
tradicional,
de
transmissão
e
memorização de informações (SILVA et al., 2009).
Por isso, uma das propostas atuais para esse tipo de ensino é uma
mudança de enfoque. De uma EaD que estava mais interessada na informação
do que na formação, para “um modelo de educação, centrado na ação educativa,
aberta e interativa, a qual possibilita o desenvolvimento da autonomia do aluno”
(ABREU et al., 2007, p.2), tendo a figura do tutor como alguém que dá apoio à
construção do conhecimento (BARBOSA e REZENDE, 2006).
Essa mudança de enfoque se baseia na percepção de que a EaD deve ser
uma educação de qualidade assim como a educação presencial. Essa
preocupação com a qualidade está relacionada com a “seriedade e coerência do
projeto pedagógico, pela qualidade dos gestores, educadores mediadores e,
também, pelo envolvimento do aluno” (MORAN, 2009, p.286). Uma vez que “não
basta aumentar o acesso, é preciso que esse aumento seja também de
qualidade, pois todos têm direito a uma educação de qualidade (…) que forme e
transforme” (OLIVEIRA, 2010, p.233).
Então, “esse modelo deve se basear no tripé material didático, mediação
pedagógica ou tutorial e ambiente virtual de aprendizagem, através das diferentes
ferramentas de interação que ele apresenta” (ABREU et al., 2007, p.2).
Após a leitura dos referencias que descrevem a EaD, entendemos que
nossa abordagem pode contribuir para a aprendizagem de um tema difícil, em um
novo modelo de ensino, que está em formação e solidificação no cenário
educacional brasileiro.
Sendo assim, usei minha experiência como tutora presencial para fazer um
levantamento das dificuldades encontradas pelos alunos na disciplina Evolução
em relação ao conteúdo dessa disciplina. Associado a isso, foram desenvolvidas
atividades como mais uma estratégia de ensino, usando uma ferramenta presente
no curso: a plataforma virtual.
xxii
Além disso, o conteúdo escolhido para ser discutido foi a Teoria Evolutiva
Darwiniana. Nos próximos tópicos apresentaremos os conceitos dessa teoria e os
principais obstáculos encontrados para o seu ensino.
2.2 CONCEITUAÇÃO DA TEORIA EVOLUTIVA
A diversidade das espécies intriga os mais diversos grupos, desde as
pessoas que não estão relacionadas com as ciências naturais, até estudiosos da
área. Procurar entender como a diversidade surgiu e se mantém tem sido um
esforço intelectual há muito tempo (MAYR, 2008).
Explicações também já foram propostas tanto pela religião, quanto pela
ciência, sendo essas últimas as de nosso interesse. Nesse contexto, também
existiram hipóteses diversas sobre o tema, mas podemos considerar Lamarck
como o primeiro grande pensador evolucionista (MAYR, 2008), uma vez que foi o
primeiro a propor mecanismos de origem e manutenção de novas características.
Na teoria de Lamarck estavam ideias sobre a transformação das espécies
de forma lenta e gradual, regido por leis naturais, e não através de intervenção
divina; esse naturalista também procurou explicar a origem dos primeiros seres
pela geração espontânea; além de oferecer uma explicação materialistamecanicista para a vida (CARMO et al., 2009).
Entretanto, os processos sugeridos por Lamarck se mostraram falhos em
diversos aspectos, não respondendo de forma satisfatória às muitas questões que
se colocavam sobre a diversificação das espécies, numa época em que o tema já
era bastante discutido. Além disso, dados das mais diversas áreas, como, por
exemplo, a geologia, contribuíram para que novos estudos fossem desenvolvidos.
Esse era o cenário perfeito para que novas hipóteses sobre a diversificação
dos seres vivos fossem propostas, testadas e validadas. Foi nesse momento que
Darwin, após sua famosa viagem no Beagle, reuniu diversas evidências para
sustentar sua nova e revolucionária hipótese sobre a diversificação dos seres
vivos: a teoria da diversificação das espécies através da seleção natural (GOULD,
1999; DARWIN, 2002; MAYR, 2008).
Mesmo existindo outros autores que tenham se referido a processos
seletivos, a Teoria da Evolução por Seleção Natural tornou-se pública em 1858,
pela leitura dos manuscritos de Darwin e Wallace, na Sociedade Linneana de
Londres. Essa teoria sugeria que variações entre os indivíduos de uma população
xxiii
surgem ao acaso e, na luta pela sobrevivência, os indivíduos com variações que
aumentavam as chances de sobrevivência em determinado ambiente, tendiam a
prosperar; enquanto aqueles com variações em outras direções tendiam a ser
eliminados.
Porém, embora Alfred Wallace tenha proposto mecanismo semelhante de
modificações das espécies ao longo do tempo (CRONIN, 1995; CARMO et al.,
2009), usaremos nessa tese os conceitos de Darwin, pois, como será explicitado
mais à frente, o processo de Seleção Sexual, proposto também por esse autor
deve ser considerado tão importante quanto a Seleção Natural na explicação da
biodiversidade existente e, sobre esse processo, Wallace e Darwin discordavam
(CRONIN, 1995; CARMO et al., 2009).
Hoje, entendemos que “a Evolução é a descendência, com modificações,
de diferentes linhagens a partir de ancestrais comuns” (FUTUYMA, 2002, p.9).
Entretanto, Mayr (2008) considera que a Teoria Evolutiva não é formada apenas
pelo conceito de Seleção Natural, mas sim que a lógica explicativa de Darwin
para a modificação das espécies ao longo do tempo inclui um sistema de cinco
teorias:

A Teoria da Evolução como Fato - a ideia científica de que as espécies de
seres vivos se modificaram efetivamente com o passar do tempo geológico
(MAYR, 2008). Pois, como Darwin destaca na introdução de A origem das
espécies (2002), a observação das afinidades mútuas, dos seres organizados, as
relações embriológicas, a distribuição geográfica, a sucessão geológica, etc.
levam à conclusão lógica de que as espécies se modificaram ao longo do tempo;

A Teoria da Evolução Gradual - a ideia de que o processo de transformação
das espécies é lento, gradual e que os processos que atuavam no passado são
os que continuam atuando hoje (MAYR, 2008), uma vez que “as variações são
(...) o ponto inicial do começo da evolução” (WEINER, 1995, p.47);

A Teoria da Origem Comum - a ideia, amplamente confirmada, de que
quaisquer espécies compartilham ancestrais; a concepção de que os indivíduos,
mesmo de espécies muito distintas, possuem uma relação de parentesco (MAYR,
2008), ou seja, as espécies não foram criadas de forma independente, e sim
derivam umas das outras (DARWIN, 2002);

A Teoria da Especiação Populacional - a ideia de que certas populações de
uma espécie podem se transformar em populações de uma espécie nova (MAYR,
2008), pois a luta é mais acirrada entre indivíduos da mesma espécie (DARWIN,
xxiv
2002);

A Teoria da Seleção Natural - teoria sobre os mecanismos que estão
envolvidos nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência
diferenciadas em função das variações entre os indivíduos da população (MAYR,
2008). Isso porque “a seleção natural opera através da conservação e da
acumulação de pequenas modificações hereditárias, cada qual de muita utilidade
para o indivíduo conservado” (DARWIN, 2002, p.97). Sendo assim,
a Seleção Natural em si mesma não é Evolução. É apenas um
mecanismo que, segundo Darwin, pode levar à evolução, (...) a seleção
natural ocorre dentro de uma geração, mas a evolução ocorre através de
gerações (WEINER, 1995 p.88).
Segundo Gould (1999), existiam três ingredientes essenciais na visão de
mundo de Darwin: o enfoque sobre o indivíduo como o principal agente evolutivo;
a identificação da Seleção Natural como sendo o mecanismo da adaptação; e
crença na natureza gradual da mudança evolutiva. Esses três ingredientes
surgiram das observações de Darwin de que em toda população existiriam
variações entre os indivíduos, o que levaria a sucessos diferenciados em relação
à alimentação, fuga de predadores, etc., e essas características diferenciadas,
que conferiam valores adaptativos diferentes, eram selecionadas pelo ambiente.
A partir disso, a Seleção Natural pode ser definida como um processo no
qual populações das diversas espécies existentes interagem com o ambiente e o
resultado é que alguns indivíduos, dentro de uma espécie, deixam mais
descendentes do que outros. Com o passar do tempo, as populações tenderão a
ter mais e mais indivíduos com variações que favoreçam a sobrevivência no
ambiente em que vivem.
Devemos considerar que o ambiente deve ser compreendido tanto como os
fatores físicos - luz, água, radiação, rios, neve -, mas principalmente como fatores
biológicos também - outras espécies e, sobretudo, as relações dentro da própria
espécie - com indivíduos do sexo oposto, com filhotes, com competidores e
aliados. De qualquer forma, a Seleção Natural favorece a sobrevivência e a
reprodução de certos indivíduos, e isso, a longo prazo, tem uma profunda
implicação sobre o perfil fenotípico da espécie.
Nesse último caso, é importante enfatizar que é nas interações entre os
indivíduos da mesma espécie que esse processo ocorre mais fortemente, pois na
luta pela sobrevivência e na manutenção das espécies é necessário que se
xxv
consiga chegar à idade reprodutiva e com isso passar seus genes adiante
(DAWKINS, 2001), ou seja, os indivíduos que tinham as características que
facilitavam sua sobrevivência e com isso, conseguiam chegar à idade reprodutiva,
passavam as características para as futuras gerações.
Um fator importante a ser destacado, é que Darwin não sabia em que
estrutura as características dos seres vivos ficavam armazenadas, como elas
eram expressas e menos ainda, como surgiam novas características. Esses
problemas começaram a ser solucionados após a década de 1950 (MAYR, 2008),
pois foi quando a estrutura do ADN e os processos que ocorrem durante a
replicação do material genético e da síntese de proteínas foram caracterizados.
As novas descobertas contribuíram, então, para que mais informações
fossem agregadas às ideias originais de Darwin e abriram novos campos de
pesquisa na área da biologia evolutiva, inclusive na criação de modelos
matemáticos para testar as hipóteses de Darwin, contribuindo para corroborar
ainda mais a Teoria Evolutiva darwiniana. A inclusão de novos dados, a partir do
desenvolvimento da biologia molecular, permitiu a proposição da Moderna
Síntese Evolutiva (MAYR, 2008).
Sendo assim, é preciso integrar os conceitos dessa teoria para o
entendimento de que
variações entre espécies é o que permite que a evolução ocorra. O
primeiro mecanismo evolutivo – seleção natural – opera através das
diferenças entre indivíduos de uma mesma espécie. Os membros que
apresentarem diferenças que trazem vantagens para a sobrevivência
tendem a produzir mais filhotes que os demais que não possuem as
mesmas características, mudando a frequência com que tal
característica será representada na população como um todo
(SHTULMAN e SCHULZ, 2008, p.1050, tradução nossa).
Por isso, a teoria darwiniana “é uma narrativa causal-explicativa de como
pequenos estágios adaptativos das diferenças (individuais), levam a uma maior
diferenciação e a picos adaptativos evolutivos diferentes” (BARDAPURKAR,
2008, p.299, tradução nossa). E, nesse processo, deve estar clara a contribuição
causal das variações e sua hereditariedade (BARDAPURKAR, 2008).
Porém, não podemos nos esquecer de que a evolução, nos termos de
Darwin, não é um fenômeno que ocorra ao indivíduo. Durante sua vida um
indivíduo não evolui, mas se desenvolve adquirindo inúmeras características ninguém nasce com dentes, pelos, mamas ou falando. Para os biólogos, o que
xxvi
evolui são as populações. São as populações que ao longo do tempo geológico tempo medido em centenas de milhares, dezenas de milhões, bilhões de anos mudam de perfil, de aparência, de capacidades. Não mudam necessariamente
para melhor, mas se transformam no processo de deixar descendentes sempre
variáveis.
Nesse processo de mudança populacional, a Seleção Natural, a princípio,
explicaria tudo o que é necessariamente útil na estrutura dos indivíduos que
compõem as espécies de seres vivos. Tudo o que confere uma vantagem óbvia
na luta pela vida tende a ser preservado: garras, patas, ossos, dentes, músculos,
olhos, mas também tecidos, órgãos, células, membranas, organelas. Essas e
muitas outras estruturas parecem ter sido projetadas com o fim de dotar os
indivíduos com características que são evidentemente úteis para a vida que leva
cada espécie. Todas elas são estruturas altamente funcionais.
Entretanto, vale ressaltar que as variações encontradas entre os indivíduos
são anteriores à ação da seleção natural. As variações são produto do acaso
inerente ao processo de reprodução sexuada e que envolve possíveis mutações,
a permuta entre as cromátides de cromossomos homólogos e a separação do par
de homólogos durante a meiose, gerando variabilidade genética.
Outro ponto a ser destacado é que o próprio Darwin considerava a
existência de características neutras, mas frisava que a seleção natural só atua
em características vantajosas. Por isso, as principais mudanças evolutivas
ocorrem
porque certas características dos indivíduos são mais adequadas do que
outras às presentes circunstâncias ambientais de uma espécie, e essas
características mais adaptativas se disseminam nas gerações
posteriores por meio de taxas diferenciadas de sobrevivência e
reprodução – em outras palavras, por meio da seleção. O acaso
certamente tem o seu papel na evolução, como Darwin bem sabia, mas
a seleção natural – o mecanismo primordial da mudança evolutiva – não
é um processo acidental (MAYR, 2008, p.65).
Portanto, “o que os darwinistas estiveram dizendo não é que todos os
traços são adaptativos, mas que aqueles que indiscutivelmente são adaptativos
(...) devem ser produtos da seleção natural” (WAIZBORT, 2008, p.267). E que a
Seleção Natural opera em duas etapas: variação, através das mutações,
recombinação, fluxo gênico; e seleção propriamente dita, que são as taxas de
sobrevivência e reprodução diferenciadas (MAYR, 2008).
xxvii
Em função do que foi exposto, fica claro porque, apesar de Darwin ter
algumas lacunas em sua teoria, suas ideias ainda são tão atuais e, mais ainda, o
entendimento dos processos que ocorrem na interação dos indivíduos e deles
com o meio permite uma compreensão mais ampla de diversos campos da
biologia, como a ecologia e a saúde.
Todavia, sempre intrigou Darwin, como ele já deixa claro no próprio livro A
origem das espécies, a observação de que algumas características não pareciam
ter relação com a sobrevivência imediata (MILLER, 2000; DARWIN, 2002;
DARWIN, 2004), como, por exemplo, as cores de certas aves, insetos e
mamíferos; o canto dos pássaros; e estruturas como a galhada dos alces, o nariz
do macaco narigudo e um infindável número de exemplos. Para solucionar esse
problema, Darwin propôs o mecanismo de Seleção Sexual.
2.2.1 Diferenças entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual
Já foi destacado que a Seleção Natural é o mecanismo que melhor explica
a biodiversidade existente, que mostra que a interação entre os indivíduos
influencia a manutenção dos mesmos no ambiente e que, portanto, o processo
evolutivo é local e histórico. Especificamente,
a seleção natural é o mecanismo que explica como a produção
constante de variações novas e herdáveis – através da ação das
mutações, recombinação genética, e sexo – diferencialmente persistem
gerações após gerações através da sobrevivência e reprodução
diferenciadas (NEHM et al., 2012, p.92, tradução nossa).
Por outro lado, quando observamos mais atentamente o ambiente, é fácil
perceber que diversas características presentes nos seres vivos não estão
relacionadas com a sobrevivência. Na realidade são características que muitas
vezes parecem dificultar a sobrevivência do indivíduo, tendo como seu exemplo
mais característico o pavão macho com sua pesada e chamativa cauda.
Duas outras particularidades chamam a atenção dessas características. A
primeira é que normalmente elas só estão presentes nos machos, sendo as
fêmeas mais parecidas com os filhotes e que não aparecem nos jovens (MILLER,
2000; DARWIN, 2004). A segunda é que essas características podem ser bem
diferenciadas entre espécies que possuem uma relação de parentesco bem
próxima filogeneticamente e/ou que ocupam nichos ecológicos semelhantes
xxviii
(MILLER, 2000). Essa diversificação é possível porque, no que se refere à
reprodução, os comportamentos sexuais
não dependem da luta pela sobrevivência com outros seres organizados,
ou com as condições – ambiente, mas a luta entre os indivíduos de um
mesmo sexo, ordinariamente machos, para assegurar a posse do sexo
oposto (DARWIN, 2002, p.90).
Charles
Darwin
(2004)
descreveu
inúmeras
características
e
comportamentos que estavam relacionados com a corte e a reprodução,
propondo que tais caracteres haviam sido moldados pelo processo de Seleção
Sexual e não de Seleção Natural. Em seu livro A origem do homem e a seleção
sexual, Darwin explica que irá tratar
apenas daquele tipo de seleção que chamei de seleção sexual, e que
depende da vantagem que certos indivíduos têm sobre outros do mesmo
sexo e espécie, relacionada exclusivamente com a reprodução (2004,
p.169).
E, nesse caso, diferenciou a Seleção Sexual em dois tipos de interações
possíveis entre machos e fêmeas de uma espécie: a intrassexual ou a intersexual.
No primeiro caso, estariam as competições ou lutas entre machos por
território, alimento ou outros recursos, incluindo principalmente a competição pela
própria fêmea com fins reprodutivos. No segundo caso, estariam as exibições
estruturais ou comportamentais realizadas comumente por machos, o que levaria
a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se acasalar (CRONIN, 1995;
MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004). Sendo assim,
em animais sexuados existe, além da seleção natural – que é a principal
forma de aparecimento de novas espécies – outra forma de seleção,
branda em seus efeitos, mas não menos eficiente. A Seleção Sexual é
operada pelas fêmeas (às vezes pelos machos) para encontrar e
reproduzir com o parceiro que possua melhores características que
outros (COHEN, 2010, p.160, tradução nossa).
Portanto, na manutenção das espécies em um determinado nicho, não só é
importante que os indivíduos sobrevivam, como devem ser capazes de se
reproduzir e transmitir seus genes. Por isso, muitas vezes é mais importante a
reprodução do que a sobrevivência (DAWKINS, 2001) e qualquer custo vale à
pena, pois quem conseguir se acasalar e cuidar melhor dos filhotes terá seus
genes perpetuados pelas futuras gerações. E, no período de reprodução,
xxix
“criaturas grandes e pequenas mostram uma energia excessiva quando estão
cortejando” (FISHER, 2008, p.46).
Nesse caso, podemos usar a noção de gene egoísta, porque “os genes são
“egoístas” no sentido de que evoluem para gerar tantas cópias de si mesmos
quanto possível” (MILLER, 2000, p.322). E, podemos entender que na Seleção
Natural a penalidade máxima é a morte; já na Seleção Sexual, “indivíduos do
mesmo sexo competem entre si para o acasalamento. O perdedor deixa pouca ou
nenhuma progênie” (HRDY, 2001, p.56), ou seja, é uma vida sem parceiro sexual,
o que pode equivaler à morte genética (WEINER, 1995).
É nesse contexto da reprodução sexuada que, para Darwin, a Seleção
Sexual passa a ser o processo e o resultado de escolhas, no mais das vezes
inconscientes, dos parceiros reprodutivos, obviamente de uma mesma espécie.
As estruturas morfológicas que a teoria da Seleção Sexual explicaria não são
compreendidas como estruturas que contribuam diretamente para a sobrevivência
de seus portadores. Certos besouros machos da espécie Chiasognathus grantii
têm uma mandíbula tão desenvolvida que se transforma em uma espécie de garra
que poderia ser interpretada como uma arma de ataque ou defesa. Esse animal,
nas palavras de Darwin, é impetuoso e agressivo, quando se sente ameaçado
enfrenta o agressor arreganhando as mandíbulas e pondo-se a estridular alto,
mas suas tenazes não foram fortes o suficiente para beliscarem o dedo de Darwin
de modo a lhe causarem dor (DARWIN, 2004). Casos análogos se dão com os
chifres de certos cervídeos que, segundo Darwin, seriam mais ou menos ineptos
como armas. Esses são apenas dois de vários exemplos descritos por Darwin.
Assim, para que servem mandíbulas ou chifres desse tipo se não para embates
físicos?
Em A origem das espécies, de 1859, Darwin dedicou três páginas ao
mecanismo da Seleção Sexual (DARWIN, 2002; MILLER, 2000). Em 1871 veio à
luz outro livro seu A origem do homem e a seleção sexual (DARWIN, 2004). Mais
de trezentos e cinquenta páginas, quase setenta por cento dessa nova obra, são
dedicadas a apresentar e tentar explicar as diferenças estruturais secundárias
entre os sexos masculinos e femininos em inúmeros grupos de animais incluindo
os humanos.
O primeiro terço do livro trata de mostrar a origem comum, estrutural e
comportamental, entre a espécie humana, outros primatas e certos mamíferos. O
xxx
restante do livro é direcionado para apresentar, discutir e tentar resolver o enigma
das diferenças entre fêmeas e machos.
Darwin começa a parte sobre a Seleção Sexual em seu livro de 1871,
afirmando que entre os animais cujos sexos podem ser distinguidos pelo aspecto
exterior, os machos invariavelmente diferem das fêmeas no tocante a seus órgãos
reprodutores, que constituem seus caracteres sexuais primários. Ele afirma, no
entanto, que eventualmente ocorrem diferenças em caracteres sexuais, não
diretamente relacionados com o ato da reprodução, os caracteres sexuais
secundários. São essas estruturas que parecem violar o princípio da Seleção
Natural, pois elas não são apreendidas pela nossa mente como úteis à
sobrevivência dos indivíduos e, em muitos casos, até dificultam a mesma. Em
geral, diz Darwin, em todo o Reino Animal, quando os sexos diferem entre si
quanto à aparência externa, é o macho que apresenta modificações mais
acentuadas.
Na sugestão do processo de seleção sexual, em que a fêmea acaba
recebendo um lugar de destaque, é importante ressaltar que a escolha de
parceiros sexuais implica a existência, nas fêmeas que selecionam, de um
complexo sistema que processa sinais (visuais, sonoros, táteis, olfativos,
gustativos, dentre outros) e produz uma resposta, no caso a própria escolha. Ou
seja, de alguma forma Darwin correlaciona o processo de Seleção Sexual e a
presença de um cérebro feminino como substrato de uma mente seletiva.
Quando nos referimos aqui a uma mente animal, estamos dizendo que
Darwin admitia, em um grande número de casos, a presença de um sistema
nervoso capaz de perceber estímulos os mais variados, incluindo os estímulos
sexuais, interpretar esses estímulos e a capacidade de produzir respostas
condizentes com tais estímulos.
Um caso bastante curioso que serve para ilustrar como desde os
primórdios da evolução do Reino Animal existia um sistema nervoso capaz de
perceber diversos estímulos é o que ocorre entre duas espécies de moscas do
gênero
Drosophila.
pseudoobscura
são
As
espécies
espécies
Drosophila
que
nós
não
persimilis
e
conseguimos
Drosophila
distinguir
morfologicamente, mas que são consideradas pelos taxonomistas duas espécies
diferentes, pois não ocorre o cruzamento entre os indivíduos das duas espécies
(MERRELL, 1954). Isso significa que, apesar de não conseguirmos diferenciá-las,
xxxi
moscas fazem essa discriminação, o que indica a existência de um sistema
nervoso já bem desenvolvido.
Charles Darwin foi duramente criticado por suas ideias, uma vez que em
plena Era Vitoriana, não era concebível que fêmeas fossem capazes de tais
comportamentos e escolhas, tomando para si uma posição de destaque no que
ser refere ao comportamento reprodutivo (CRONIN, 1995). Além disso, Darwin
também foi censurado por ter extrapolado suas ideias para a espécie humana
(CRONIN, 1995; DARWIN, 2004). Por fim, por não conseguir demonstrar
claramente como o processo de Seleção Sexual ocorria, essa ideia caiu no
esquecimento só sendo retomada no final do século XX com novos estudos nessa
área (CRONIN, 1995).
A retomada dos estudos da Seleção Sexual permitiu estabelecer seus três
princípios fundamentais, sendo os dois primeiros sugeridos por Ronald Fisher. O
primeiro princípio é dos Indicadores de Aptidão: as estruturas geradas por
Seleção Sexual são indicadores de aptidão, ou seja, o canto longo e melodioso de
um sabiá, o papo extremamente colorido de certos lagartos, as garras
desproporcionais de certos caranguejos, são formas confiáveis do macho sinalizar
às fêmeas que ele é um pretendente saudável e apto, portanto, bom parceiro para
o acasalamento (MILLER, 2000).
O segundo princípio é um mecanismo de descontrole no início do processo
de Seleção Sexual, uma espécie de irracionalidade apaixonada capaz de fazer as
fêmeas preferirem em massa determinado padrão, mesmo que sutil, em relação a
outros, de forma que todos os outros padrões sumiriam: é o Princípio da Seleção
Sexual Descontrolada (MILLER, 2000).
O terceiro princípio foi proposto não por Fisher, mas por Amotz Zahavi,
cientista israelense que trabalha desde a década de 1980 com modelos de
Seleção Sexual. Nesse caso, estruturas muito custosas como a cauda do pavão,
os cantos dos pássaros, as galhadas dos cervídeos, etc., obedecem a uma lógica
de ostentação e desperdício e não de praticidade e funcionalidade: é o Princípio
do Desperdício (Handicap) (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997; MILLER, 2000). Nesse
caso, entendemos o Princípio do Handcap ou do Desperdício como
um traço biológico que evoluiu especificamente para anunciar a aptidão
de um animal. Aptidão significa a propensão para sobreviver e
reproduzir-se com sucesso. Ela é determinada principalmente pela
qualidade genética de um indivíduo, que no fundo representa sua carga
de mutações (MILLER, 2000, p.117).
xxxii
Entre primatas, por exemplo, na espécie chamada macaco narigudo
(Nasalis larvatus) os machos desenvolvem um apêndice nasal, de mais de dez
centímetros, que quase lhes cobre a boca, mas permite emitir uma série de sons
relacionados principalmente ao acasalamento e à comunicação entre os
indivíduos da mesma espécie. Esse seria um bom exemplo de desperdício, por
que o nariz desse primata não contribui em nada para a sua sobrevivência
imediata. Embora talvez tal estrutura aumente a gama de sons produzidos,
enriquecendo seu sistema de comunicação, ela é até certo ponto um estorvo para
a alimentação, um sinal de que sobrevivência e reprodução (entendida como
transmissão de genes para as gerações subsequentes) podem estar em conflito.
A própria capacidade de vocalização poderia ser interpretada como um traço
atrativo para as fêmeas, que podem estar selecionando justamente os indivíduos
com uma maior gama de sons. A Seleção Natural e a Seleção Sexual seriam
nesse caso opostas. Sendo assim, a principal diferença entre os processos de
Seleção Natural e Seleção Sexual é que o primeiro deve ser econômico e
utilitarista, já o segundo é custoso.
Entretanto, devemos nos perguntar qual deve ser o início desse processo,
ou seja, porque a Seleção Sexual pode atuar tão fortemente em espécies com
reprodução sexuada. A resposta está no comportamento sexual diferente de
machos e fêmeas de diversas espécies, que pode ser entendido pelo fato de a
gestação e cuidado com a prole, assim como a produção de óvulos e
espermatozoides, terem custos diferenciados para machos e fêmeas (BUSS,
2000; MILLER, 2000; HRDY, 2001).
Então, como é bem discutido por Hrdy (2001), o sexo deve ser estudado
junto com a maternidade e não separado como tem sido feito, pois o sexo não se
resume ao ato sexual, mas envolve também o nascimento e a manutenção dos
filhotes vivos. Para a autora
as mães não evoluíram para beneficiar as espécies, mas para traduzir
quanto esforço reprodutivo pudessem concentrar em progênie capaz de
sobreviver e reproduzir-se. O que evoluiu não são comportamentos que
beneficiam grupos, mas comportamentos que contribuem para o sucesso
reprodutivo diferencial de indivíduos mesmo às custas de outros no
grupo (HRDY, 2001, p.49).
Também precisamos tentar entender o comportamento dos machos, que
são capazes de produzir milhões de espermatozoides, fertilizar muitas fêmeas ao
xxxiii
mesmo tempo e manifestar um cuidado parental diferente da fêmea. Porém, ao
contrário das fêmeas, não são capazes de ter certeza de que estão cuidando de
seus próprios filhotes e isso influencia no tipo de cuidado parental, possibilidade
de infanticídio, e outros tipos de comportamentos em relação às fêmeas e aos
filhotes.
Por isso, o investimento diferenciado de machos e fêmeas é a variávelchave que controla a operação da Seleção Sexual, pois “não é suficiente produzir
filhos; para ter êxito, ao longo do tempo evolutivo, as mães devem produzir filhos
que sobrevivam e prosperem” (HRDY, 2001, p.84).
Já os machos “usam as relações passadas com a mãe como um sinal para
atacar ou tolerar o filhote dela” (HRDY, 2001, p.56), pois “estão divididos entre
impulsos para cuidar e proteger de sua prole, pelo menos durante algum tempo, e
o desejo de buscar novas parceiras” (HRDY, 2001, p.247).
A percepção desses comportamentos diferenciados abriu uma nova porta
de pesquisas, a tentativa de identificar que mecanismos cerebrais atuam nos
comportamentos diferentes de machos e fêmeas, mas também de machos de
espécies aparentadas.
Essas diferenças, no que se refere à monogamia e ao cuidado parental,
estão bem caracterizadas em duas espécies aparentadas filogeneticamente dos
roedores arganaz do campo e arganaz da montanha. Estudos experimentais
sobre a sociabilidade com essas duas espécies de roedores têm demonstrado
que os comportamentos sociais diferentes podem estar relacionados com uma
distribuição diferenciada no cérebro dos neurotransmissores de ocitocina e
vasopressina.
Os
arganazes
do
campo
(Microtus
ochrogaster)
são
sociáveis,
monogâmicos e os machos ajudam no cuidado com a prole, já os arganazes da
montanha (Microtus montanus) exibem um comportamento não social, poligâmico
e os machos não ajudam no cuidado com a prole. Essa última espécie não
apresentaria a ativação de regiões do sistema de recompensa (núcleo accumbens
e complexo basolateral da amígdala) e com isso não exibiriam motivação para o
contato social (INSEL e SHAPIRO, 1992; SUE CARTER, 1998; YOUNG et al.,
1998; INSEL e YOUNG, 2001; OLAZABAL e YOUNG, 2006; FISHER, 2008;
MOURA e XAVIER, 2010). Esses estudos têm sido usados como referências para
pesquisas com outros mamíferos, inclusive com a espécie humana, como
mostraremos mais adiante.
xxxiv
Após discorrermos sobre esses aspectos que envolvem o desenvolvimento
do conceito de Seleção Sexual e de como existem diversas abordagens em
pesquisa com esse tema, podemos considerar que a Seleção Sexual é
“simplesmente um modo de descrever como as diferenças no sucesso para a
reprodução levam à mudança evolutiva” (MILLER, 2000, p.49).
Portanto, caracterizar esse processo, mostrando que é diferente do
processo de Seleção Natural, em função dos mecanismos de ação e dos
resultados esperados, contribui para explicar melhor a biodiversidade de seres
vivos e deve ser incluído como mais um conceito que forma a estrutura de
pensamento da Teoria Evolutiva darwiniana. A principal justificativa está nas
palavras de Miller (2000) sobre os enfeites e demais características custosas,
moldadas pela Seleção Sexual:
A seleção natural, como definida por Darwin, surge das diferenças
individuais na capacidade para a sobrevivência. Ela não pode favorecer
traços opostos à sobrevivência. Uma vez que a maioria dos enfeites
diminui a capacidade de sobrevivência de um indivíduo, eles
presumivelmente não poderiam ter evoluído pela seleção natural para a
sobrevivência (p.48).
Além disso, esse processo tem sido utilizado para explicar alguns aspectos
da evolução da espécie humana, principalmente no que se refere ao
desenvolvimento do nosso cérebro e de algumas diferenças comportamentais
encontradas entre homens e mulheres.
2.2.2 A Seleção Sexual e a evolução da espécie humana
Uma vez que nossa espécie também faz parte do mundo vivo e, portanto,
sofreu e continua sofrendo os mesmos processos evolutivos que as demais
espécies, muitos autores tem tentando explicar a evolução de diversas
características nossas, não só morfológicas, como também comportamentais,
utilizando os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual.
Isso decorre do fato de que “cada ser humano vivo é uma história de
sucesso evolucionário” (BUSS, 2000, p.13) e, “aqueles que amam, acasalam e
procriam passarão sues genes para a posteridade, enquanto os que perdem no
amor, no sexo e na reprodução perecerão no fim” (FISHER, 2008, p.218). Por
isso, devemos ter claro que “os competidores primordiais de cada pessoa são
membros do mesmo sexo, dentro da mesma espécie” (BUSS, 2000, p.46). Por
xxxv
isso, devem ser consideradas as estratégias de acasalamento envolvidas no
processo de reprodução. O termo estratégia
é utilizado para indicar a natureza do comportamento humano de
acasalamento em ser direcionado para objetivos específicos e em ser
voltado para solucionar problemas, não envolvendo, contudo, ação
conscientemente planejada ou articulada (BUSS e SCHMITT, 1993 apud
BORRIONE e LORDELO, 2005, p.36).
Sendo assim, em função da compreensão de que a Seleção Natural e a
Seleção Sexual estão relacionadas com o aparecimento e manutenção de
características adaptativas, no primeiro caso relacionadas com a sobrevivência e,
no segundo, com o sucesso reprodutivo, precisamos entender como esses
processos atuaram em nossa espécie, principalmente no que se refere ao
comportamento sexual.
Essa discussão pode ser iniciada com a proposta do psicólogo Geoffrey
Miller (2000) de que os três princípios associados ao processo de Seleção Sexual
– Indicadores de Aptidão, Seleção Sexual Descontrolada e Handicap - devem ser
usados para explicar o aumento tão rápido de nosso cérebro, assim como
diferenças comportamentais, principalmente no que se refere ao comportamento
sexual de homens e mulheres.
A proposta de Miller (2000) se inicia com o uso das próprias sugestões de
Darwin (2004) de que diversas características humanas podem ter surgido pela
Seleção Sexual e funcionam como ornamentos.
Com isso, Miller (2000) baseia-se no fato de que nosso cérebro cresceu
muito rápido (Descontrole), possui diversas capacidades que não estão
relacionadas com a sobrevivência direta, como, por exemplo, as expressões
artísticas, e possui um alto custo para ser mantido (Indicador de Aptidão e
Desperdício). Para Miller (2000), nossa mente é uma máquina de sobrevivência e
reprodução, pois “as capacidades mais impressionantes da mente humana são
como a cauda do pavão: elas são ferramentas para a conquista, evoluíram para
atrair e enfrentar os parceiros sexuais” (p.14).
Outro argumento a favor dessa proposta é de que características que são
moldadas pela Seleção Natural normalmente apresentam evolução convergente,
radiação adaptativa e utilidade óbvia para sobrevivência. Entretanto, capacidades
humanas únicas não possuem essas características e são melhor entendidas pelo
xxxvi
processo de Seleção Sexual, que na maior parte das vezes é instável,
imprevisível e diversificador (MILLER, 2000).
Embora normalmente as características custosas se desenvolvam em
apenas um sexo e não nos dois, no caso do nosso cérebro, a linguagem pode ter
sido o impulso necessário para o grande desenvolvimento cerebral em ambos os
sexos, pois foi uma das grandes novidades surgidas com o aumento desse órgão.
Essa capacidade cerebral permitiu a observação e reflexão sobre os dados
do mundo gerando um corpo de conhecimento transmissível para as futuras
gerações. Além disso, foi responsável pelo início de diversas formas de
expressão cultural, como por exemplo, as inúmeras manifestações artísticas. Para
que essas informações fossem criadas e transmitidas, deveria haver um cérebro
altamente desenvolvido que pudesse perceber tais estímulos e produzir
respostas. Podemos sugerir então que nossa cabeça grande é a nossa cauda de
pavão, mas que nesse caso, houve uma pressão seletiva para que se
desenvolvesse nos dois sexos (MILLER, 2000).
O cérebro grande deve ser compreendido como um indicador de aptidão,
no sentido de que ele informa que seu possuidor é apto o suficiente para dar
conta de uma estrutura tão grande, comparada com o de outros primatas. Mas o
cérebro, para Miller, também expressa uma espécie de ostentação, de
desperdício, que dificilmente pode ser copiado, pois trapacear a respeito da
quantidade dos próprios recursos é muito difícil.
Apesar das inúmeras atividades que nosso grande órgão possui, essa
estrutura também trouxe alguns problemas adaptativos que precisavam ser
solucionados. O contexto do aumento do cérebro foi o mesmo do início da postura
ereta e do bipedalismo. Para nossa espécie, esses dois eventos poderiam ser
mutuamente excludentes, pois o bipedalismo diminuía o canal pélvico, dificultando
o parto, ao mesmo tempo em que o aumento do cérebro necessitava de uma
passagem maior (GOULD, 1999; HRDY, 2001; BARON-COHEN, 2004; FISHER,
2008), gerando o nascimento de bebês prematuros e com uma grande
necessidade de cuidado parental.
Esse novo cenário pode ter sido determinante na seleção das
características que estavam relacionadas com a perpetuação da espécie, ou seja,
com a reprodução. O comportamento sexual de nossa espécie, bem como de
diversos outros exemplos bem documentados em outros mamíferos e aves,
demonstra que existem diferenças no que se refere ao comportamento durante a
xxxvii
corte e no cuidado com a prole. Essas diferenças ocorrem em função do grau de
investimento de energia diferentes em cada etapa do processo reprodutivo
(BUSS, 2000; MILLER, 2000; HRDY, 2001; BARON-COHEN, 2004; PINKER,
2004; FISHER, 2008).
Normalmente os machos possuem gametas pequenos, que são produzidos
em grande quantidade. Nesse caso, quanto mais fêmeas ele conseguir inseminar,
mais chances de ter seus genes passados para as gerações futuras. Com isso, o
maior investimento dos machos ocorre durante a corte, momento em que ele deve
convencer o maior número de fêmeas a se acasalar com ele.
Já as fêmeas produzem, ao longo de suas vidas, poucos gametas que são
bem maiores que os dos machos. Além disso, normalmente são elas que geram
os filhotes e são responsáveis pelo cuidado nas primeiras etapas da vida. Nesse
caso, a vantagem é ser seletiva, ou seja, escolher os machos com os melhores
genes e que farão parte da composição genética de seus filhos.
Então, retornando ao aumento cerebral de nossa espécie, o cérebro
grande como indicador de aptidão estava ligado à expressão de comportamentos
que facilitavam a corte. Porém, o nascimento prematuro mudou as relações entre
as mulheres de uma mesma comunidade ou entre homens e mulheres (BARONCOHEN, 2004; FISHER, 2008).
Uma vez que a biologia da reprodução é mais custosa para as mulheres,
esse custo diferenciado leva a diferenças fisiológicas e psicológicas entre homens
e mulheres (BUSS, 2000). Dentre essas diferenças psicológicas, podemos citar
os estudos de Baron-Cohen (2004) que mostram que, na média, mulheres são
mais empáticas e possuem uma linguagem mais elaborada e homens são mais
sistematizadores. Um dos argumentos para essa proposta é que
(...) nossos ancestrais, tanto homens quanto mulheres, ocuparam nichos
muitos diferentes e viveram papéis também muito diferentes. Sendo
assim, as pressões exercidas pela seleção podem não ter sido as
mesmas sobre um e outro sexo, levando à evolução de tipos diversos de
especialização cognitiva. Naturalmente, o que pode ter sido conveniente
para um sexo pode não ter sido conveniente para outro (p.139).
Logo, durante o curso evolutivo dos hominídeos, em uma sociedade de
caçadores-coletores, na qual homens e mulheres desempenhavam papéis
diferentes, tanto em termos de garantir recursos para a sobrevivência, como em
termos
de
comportamento
sexual,
as
pressões
seletivas
sobre
esses
comportamentos gerariam repostas e padrões de comportamentos diferenciados,
xxxviii
e que podem ser explicados pelas especializações cognitivas relacionadas com
cada um dos sexos.
Com isso, a sistematização masculina permitia um maior controle das
situações, levando a uma maior obtenção de status social, que pode funcionar
como um indicador de aptidão, garantindo um maior número de parceiras. Já para
as mulheres a empatia era uma forma de garantir uma maior ajuda no cuidado
com os filhotes, tendo como recompensa o sucesso na reprodução.
Hrdy (2001) também mostra que em primatas, inclusive humanos, a
escolha é pela qualidade dos filhotes e não pela quantidade deles e que mulheres
em diversas culturas devem equilibrar a sobrevivência com a reprodução. Em
função dos custos maiores para as mulheres, existe uma tensão entre o empenho
masculino por quantidade e o empenho feminino por qualidade.
Os comportamentos sexuais diferenciados também levam à expressão do
ciúme de forma diferente entre homens e mulheres. Em A paixão perigosa, o
psicólogo David Buss trata do ciúme sexual como uma adaptação e mostra como
ele está presente em trinta e sete grupos étnicos de raízes muito diferentes
(BUSS, 2000). Esse autor também demonstra que há um dimorfismo sexual em
relação ao próprio ciúme.
Segundo Buss (2000), homens sentem ciúmes quando sabem ou
desconfiam que sua parceira pode ter tido relações sexuais com outros homens, o
que os levaria a investir seus recursos em filhos que não possuem seus genes.
Embora as mulheres possam experimentar ciúmes de modo parecido, seu
sentimento está mais relacionado com a possibilidade do homem se envolver
afetivamente com outra(s) mulher(es) e acabar por dirigir seus recursos para
outras fontes que não seus filhos em comum. Isso é decorrente do fato de que,
como em muitas outras espécies de mamíferos e outros vertebrados e
invertebrados, o maior ônus da reprodução recai sobre a fêmea.
No caso humano é a mulher que leva o filho no ventre e uma gravidez não
desejada implica em um profundo impacto físico e psicológico sobre corpo e
mente da mulher, não do homem. Além disso, quando um homem pula a cerca e
mantêm relações com outra mulher sempre há a possibilidade dele abandonar a
parceira inicial e deixá-la sem os recursos que ele investia na relação e,
principalmente, nos filhos dessa mulher com quem ele concebeu.
Após discorrermos sobre as diferenças comportamentais entre homens e
mulheres, é necessário que se retome a discussão sobre o parto prematuro em
xxxix
nossa espécie. Pois, embora os objetivos sejam diferentes entre homens e
mulheres (quantidade versus qualidade), existe um objetivo comum que é gerar
descendentes que sejam capazes de chegar à idade reprodutiva, dando
continuidade à espécie ao longo das gerações. Sendo assim, o
comportamento de acasalamento de homens e mulheres traduzem-se
em mecanismos de preferência psicológicos que solucionaram
problemas de sobrevivência e reprodução, através de adaptações
especializadas, no curso da história evolucionária humana (BORRIONE
e LORDELO, 2005, p.36).
Porém, o fato de termos um parto prematuro faz com que os bebês
humanos necessitem de um intenso cuidado parental e, se é estabelecida uma
ligação homem-mulher - que podemos chamar de amor romântico - as chances
de um maior sucesso reprodutivo aumentam.
A partir disso, podemos considerar que o amor romântico é um universal
humano, mas que sua expressão e cultivo dependem da organização social e
cultural em que o indivíduo está inserido (JANKOWIAK e FISCHER, 1992).
E, usando como base os experimentos com mamíferos que tentam
estabelecer
como
vias
cerebrais
de
neurotransmissores
atuam
no
estabelecimento, ou não, de relações sociais, cuidado parental, ligação machofêmea, dentre outros, experimentos com a nossa espécie também têm sido
realizados.
Foi pensando sobre o tema que a antropóloga Helen Fisher (2008)
desenvolveu um experimento com pessoas que se declaravam apaixonadas, na
tentativa de compreender que vias de neurotransmissores eram ativadas durante
esse estado emocional. Em seu experimento, Fisher demonstrou que vias
relacionadas com os neurotransmissores dopamina, testosterona e ocitocina são
ativadas em momentos diferentes desde a atração, até a criação de laços, e que
são vias interligadas, mas independentes.
A partir dessa pesquisa, retoma os conceitos de Seleção Sexual de Darwin
e o de ornamentação como forma de atração de Miller, e de como esses dois
conceitos podem ser explicados, unidos e justificados pela ativação de circuitos
cerebrais específicos levando ao impulso para o acasalamento.
Sua conclusão é de que existe um impulso sexual que contribui para o
acasalamento, para a criação de laços entre homens e mulheres e para a
xl
perpetuação das espécies, estando documentados em outros mamíferos e
indicando uma base bioquímica para o comportamento sexual.
Na formação de pares para a criação dos filhos, Miller (2000) sugere, a
partir da análise de várias características físicas, que nossa espécie seria
monogâmica temporária: homens e mulheres permanecem juntos pelo tempo de
criação dos filhos. Essa sugestão é corroborada pelos resultados de Fisher
(2008). Ela argumenta que no impulso para o acasalamento ocorre a interligação
de três vias principais e independentes dos neurotransmissores dopamina,
testosterona e ocitocina. Nesse comportamento, a dopamina estaria diretamente
relacionada com a atração inicial por um potencial parceiro, a testosterona estaria
relacionada com o desejo sexual e a ocitocina com a criação de laços entre
homens e mulheres.
Logo, durante a reprodução, nosso cérebro é capaz de atos de desperdício
com o objetivo de atrair parceiros, ao mesmo tempo em que o cérebro do suposto
pretendente deve ser capaz de perceber, avaliar e produzir respostas. E, como
Fisher (2008) deixa bem claro, existem circuitos neuronais que são ativados e que
estão fundamentalmente relacionados com o comportamento descrito acima.
Porém, muitos estudiosos das ciências sociais e humanas (sociólogos,
antropólogos, psicólogos, etc.) sustentam que as diferenças de gêneros são
socialmente construídas, ou seja, que meninos brincam de carrinho e meninas de
boneca, pois eles são instruídos, educados e ensinados a fazerem isso. As
diferenças com que os pais tratariam as filhas e os filhos seriam a verdadeira
causa das diferenças psicológicas que encontramos entre mulheres e homens,
principalmente diante de um possível parceiro sexual.
Entretanto, ao longo do século XX foi notória a mudança nas relações
sociais estabelecidas entre homens e mulheres. O psicólogo Steven Pinker (2004)
indica que a expansão do círculo moral, o progresso tecnológico e econômico e o
movimento feminista foram fundamentais para que as discussões e mudanças
ocorressem.
Essas discussões deflagraram diversos questionamentos sobre o que seria
ou não inato à natureza humana, especificamente em relação às diferenças entre
homens e mulheres. Em diversos momentos a discussão pendeu para a tentativa
de se estabelecer o que é totalmente inato e o que é totalmente social no que se
refere aos diversos comportamentos humanos. Esse tipo de discurso foi muito
utilizado pelas feministas de gênero, no que se refere às supostas diferenças
xli
encontradas entre homens e mulheres, e, para elas, todas as diferenças
encontradas são socialmente construídas a partir do nascimento.
Essa polarização faz com que muitas vezes as discussões tornem-se
improdutivas e, como destaca Pinker “(...) não existe incompatibilidade entre os
princípios do feminismo e a possibilidade de que homens e mulheres não sejam
psicologicamente idênticos” (2004, p.460). Esse autor continua sua defesa
indicando que não considerar as diferenças biológicas entre os sexos é limitar a
aplicação da evolução, genética e neurociência na compreensão da história de
nossa espécie, ou seja, “desconsiderar o gênero seria desconsiderar uma parte
fundamental da condição humana” (PINKER, 2004, p.461).
Sendo assim, o que pretendemos é contribuir também para uma discussão
que una os avanços das áreas sociais com os da biologia, em particular dos
estudos relacionados com a evolução de nossa espécie, entendendo que se
somos diferentes, não devemos ser tratados com igualdade e sim com equidade
(PINKER, 2004).
Após essa apresentação, mostrando as diferenças entre os conceitos de
Seleção Natural e Seleção Sexual, vamos apresentar questões relacionadas com
a necessidade de se ensinar a Teoria Evolutiva para uma abordagem mais
completa das Ciências Biológicas, apresentando também as dificuldades quando
se trata do ensino de tal tema. Além disso, iremos justificar porque escolhemos
abordar também aspectos da evolução humana, mesmo sabendo que esse é um
tema muitas vezes polêmico.
2.3 ENSINO DE EVOLUÇÃO2
Estamos partindo da premissa de Gould (1999) e de Rutledge e Sadler
(2007) de que a evolução por seleção natural é um dos conceitos da biologia mais
conhecidos, ao mesmo tempo em que é um dos menos compreendidos. Gregory
e Ellis (2009) destacam que numerosos estudos, nas últimas três décadas,
revelaram um grande nível de conceitos errados em relação aos princípios
evolutivos, em diferentes grupos, como americanos, canadenses, europeus e etc.,
2
A busca por artigos científicos nacionais e internacionais sobre o tema foi feito no Portal Capes.
Incluímos, além das entradas com os termos evolução, teoria evolutiva e seleção natural, como
opções de busca: ensino + seleção sexual; estratégias de ensino + seleção sexual; atividades
didáticas + seleção sexual; sexual selection + education; sexual selection + teach; sexual selection
+ teaching estrategies; e sexual selection + teaching activities. Para as entradas com o termo
seleção sexual, não foi encontrado nenhum artigo científico.
xlii
e de diferentes níveis de escolaridade, como alunos e professores da Educação
Básica e alunos da Educação Superior.
Para Mayr (2008),
o fracasso em compreender a biologia aparece frequentemente nos
meios de comunicação, seja o assunto o ensino da evolução, as
medidas da inteligência, a possibilidade de detectar vida extraterrestre, a
extinção das espécies ou os riscos do tabagismo (p.10).
Essa dificuldade não está relacionada apenas a obstáculos nas crenças
religiosas, mas em visões seculares, como o essencialismo (visão tipológica),
ideias teleológicas, etc. E, embora a Teoria Evolutiva tenha sido finalmente aceita
na década de 1930, muitas pessoas continuam tendo dificuldades em entender
como ela opera (PRINOU et al., 2011).
Por outro lado, diversos autores têm destacado a importância de se
abordar a Teoria Evolutiva como uma das grandes teorias da biologia, inclusive
porque essa perspectiva é utilizada por cientistas que trabalham nesse campo de
conhecimento (ANDREWS et al., 2011). Nesse caso, podemos citar o artigo de
Carvalho et al. (2011) em que os autores sugerem que existem cinco teorias
principais na biologia, que permitem a conexão entre as diversas áreas dessa
ciência. São elas: Teoria Celular; Teoria dos Organismos; Genética; Ecologia; e
Teoria Evolutiva. Além disso, a Teoria Evolutiva, por integrar as causas próximas
e últimas na explicação da biodiversidade “deveria ter papel mais estruturador no
ensino de biologia” (CARVALHO et al., 2011, p.81).
A importância da Teoria Evolutiva está relacionada com uma perspectiva
dinâmica dos seres vivos; com o teor revolucionário da ideia de adaptação e
porque “Darwin foi um extraordinário observador das espécies, de sua morfologia
e de suas relações com outras espécies em determinados ambientes, inclusive
sobre o papel da seleção sexual” (AGNOLETTO e BELLINI, 2012, p.14). Darwin
também “fundamentou-se na capacidade de adaptação dos seres a esses
ambientes, levando em conta o papel do acaso e do tempo” (AGNOLETTO e
BELLINI, 2012, p.14).
Autores como Baumgartner e Duncan (2009) também abordaram em seu
artigo sobre ensino de biologia, o quanto a biologia evolutiva é um princípio
central das Ciências Biológicas. Esses autores também sugerem que para
entender a seleção natural, é necessário que os conceitos que suportam esse
processo também sejam entendidos, sendo eles: variação populacional, mutação
e base genética da diversidade e pressões seletivas do ambiente.
xliii
Já Tidon e Lewontin (2004) extrapolam a percepção da importância da
biologia evolutiva para outras áreas, ou seja, que é possível relacioná-la com
outros conhecimentos como sociologia, matemática e ciência da computação.
Sendo assim, “um entendimento completo da teoria evolutiva é um pré-requisito
para participação em qualquer debate que inclua temas em biologia” (DIJK, 2009,
p.259, tradução nossa).
Em função de existirem diversos textos acadêmicos que mostram a
importância de se ensinar a Teoria Evolutiva, decidimos procurar documentos que
corroboram essa percepção. O primeiro deles (FUTUYMA, 2002) foi organizado
por pesquisadores americanos que trabalham com aspectos experimentais e
conceituais da Teoria Evolutiva e, nesse documento, os autores indicam que a
Teoria Evolutiva é um dos pilares centrais das Ciências Biológicas e que deve ser
o eixo integrador das diversas áreas dessa ciência, pois permite uma maior
associação dos diversos conhecimentos, contribuindo para a tomada de decisões
mais realistas. Em função de seu caráter essencial, a Teoria Evolutiva deve ser
ensinada de forma eficiente desde os primeiros anos da Educação Básica.
Os outros dois documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais para
o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006),
documentos que regulam a educação brasileira. Os documentos indicam
claramente que o ensino do tema deve ocorrer desde os primeiros anos da
Educação Básica.
No caso específico do Ensino Médio, em que esse tema é abordado de
forma mais detalhada, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(PCNEM) “consideram que há um conjunto de conhecimentos que são
necessários ao aluno para que ele compreenda a sua realidade e possa nela
intervir com autonomia e competência” (BRASIL, 2006b, p.19). O PCN+ propõe
que esse conjunto de conhecimentos pode ser organizado em seis sistemas
estruturadores: Interação entre os seres vivos; Qualidade de vida das populações
humanas; Identidade dos seres vivos; Diversidade da vida; Transmissão da vida,
ética e manipulação gênica; Origem e evolução da vida (BRASIL, 2006a; BRASIL,
2006b).
Para o PCNEM (BRASIL, 2006a) é no sexto grupo que “(...) são tratados
temas dos mais instigantes para o ser humano, que, desde sempre, tem
procurado compreender as origens da vida, da Terra, do Universo e dele próprio”
(p.47). Esses são conteúdos com grande significado científico e também
xliv
filosófico, o que leva o aluno a confrontar diferentes explicações científicas,
religiosas e mitológicas, de diferentes épocas.
Para o nosso propósito é importante destacar que quando as unidades
temáticas são desmembradas no PCN+ é clara a referência à Seleção Natural
como fator importante para a evolução das espécies, mas em nenhum momento é
incluída a ideia de Seleção Sexual.
Autores como Tidon e Vieira também destacam a importância de se
ensinar de forma adequada a Teoria Evolutiva, pois
para que aprender biologia não seja comparável a colecionar selos, os
alunos devem aprender evolução ao longo da educação básica na forma
de uma grande argumento, com as premissas antecedendo as
conclusões num todo coerente que tem seu desfecho na competência de
compreender Darwin, Alfred Wallace e um panorama geral da síntese
neodarwinista (2009, p.4).
Entretanto, pesquisas na área de ensino de evolução indicam que apesar
de a Teoria Evolutiva ser considerada um dos pilares das Ciências Biológicas ela
também não é abordada de forma adequada em livros didáticos (ROMA e
MOTOKANE, 2009; NICOLINI et al., 2010), instrumento de consulta de
professores e alunos.
Além disso, esse tema também pode ser tratado de forma rápida ou até
mesmo suprimido da sala de aula. Muitas vezes ocorrem o uso de erros
conceituais graves e as dificuldades não apresentam distinção entre professores
e alunos (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN,
2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009;
PRINOU et al., 2011).
Por exemplo, Alters e Nelson (2002) indicam que os principais obstáculos
para o entendimento dessa teoria são: pensar que é o próprio ambiente (ao invés
das mutações genéticas, da recombinação dos genes e a seleção natural) que
causa as mudanças ao longo do tempo; a não percepção da importância das
variações genéticas no processo evolutivo, pois sem elas esse processo não
ocorreria; e o não entendimento de que a evolução são variações nas proporções
de indivíduos com características discretas.
Autores como Crawford et al. (2005), Bardapurkar (2008), Shtulman e
Schulz (2008), Gregory e Ellis (2009), Tidon e Vieira (2009), Andrews et al. (2011)
e Prinou et al. (2011) apontam que um dos problemas persistentes é a visão
Lamarckista da evolução, ou seja, de que a evolução acontece em função de uma
xlv
necessidade ou através do uso e desuso de partes do corpo; que esse processo é
direcional e progressista, ocorrendo em indivíduos ao invés de populações.
Outros erros comuns são as explicações teleológicas, ou ainda uma visão
essencialista dos indivíduos.
Já Nehm et al. (2012), consideram que o fraco entendimento da Teoria
Evolutiva pode ser atribuído a um conjunto de fatores cognitivos, epistemológicos,
religiosos e emocionais, sendo necessária a criação de ferramentas que possam
avaliar essas dificuldades. E Alters e Nelson (2002) indicam que existem
confusões com o termo teoria e confusão ou rejeição com a factualidade da
evolução; e que as salas de aulas não tem sido suficientemente efetivas no
ensino desse tema.
Ingram e Nelson (2006) mostraram que a conclusão de diversos estudos é
que “rejeitar a evolução traz sérias consequências para o ensino de biologia” (p.9,
tradução nossa). Entretanto, segundo as conclusões desses autores, aceitar a
Teoria Evolutiva não significa que sua aprendizagem será mais fácil ou efetiva.
Esses dados também foram encontrados por Prinou et al. (2011), em que
embora os alunos aceitem a evolução biológica, eles não usam o conceito de
seleção natural em suas explicações sobre a diversificação das espécies, e sim
explicações pré-Darwinianas.
Em função dessas dificuldades, a maioria dos estudantes deixa a escola
acreditando que as mudanças evolutivas ocorrem de acordo com as
necessidades, que a espécie humana é o ápice da evolução, que ocorre a
herança das mudanças fenotípicas, não ocorre a distinção entre indivíduos e
espécies na descrição do processo seletivo, dentre outros erros (BRUMBY, 1984;
FERRARIO e CHI, 1998; WAIZBORT, 2001, BAUMGARTNER e DUNCAN, 2009).
Porém, um dos grandes problemas, como apontado por Crawford et al.
(2005), é que diversos autores tem feito propostas de ensino, com instrumentos
diferenciados e grupos também diferentes, e os resultados têm sido os mesmos:
“a persistência de visões não científicas sobre um dos principais e centrais guias
em ciência, a evolução através da seleção natural” (p.633, tradução nossa).
Então, usando os referenciais que indicam as dificuldades com o tema
evolução, em conjunto com os referenciais que demonstram o interesse pelo tema
comportamento por diferentes grupos de alunos; considerando também que a
Teoria Evolutiva é um dos pilares das Ciências Biológicas e que pode contribuir
para o entendimento da evolução de nossa espécie; decidimos desenvolver
xlvi
atividades que abordem os conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual para
um ensino mais abrangente da Teoria Evolutiva, usando aspectos da evolução de
nossa própria espécie.
A inclusão do conceito de seleção sexual é uma tentativa de relativizar a
ideia equivocada de que a Seleção Natural explica todas as características físicas
e comportamentais dos indivíduos de todas as espécies de seres vivos.
Nossa proposta é integrar essa conceituação, formulada por Charles
Darwin e que ficou “esquecida” durante o século XX, sendo retomada por
estudiosos da Evolução no final do século XX (CRONIN, 1995), ao que é
ensinado sobre a Teoria Evolutiva, mais especificamente sobre o conceito de
Seleção Natural, que é um dos elementos mais bem conhecidos e mais mal
compreendidos dessa teoria (GOULD, 1987).
A escolha por incluir a nossa espécie nessa discussão se baseou nas
pesquisas de Silva-Porto (2008) e Pobiner (2012) que mostraram que os temas
comportamento humano e reprodução interessam a estudantes de diversas faixas
etárias.
Além disso, DeSilva (2004) sugere que a evolução humana deve ser
abordada em sala de aula, pois permite discutir, assim como qualquer teoria
científica, conceitos como hipótese, fato, teoria e crença, além de possibilitar
mostrar o dinamismo da ciência através de descobertas recentes sobre a nossa
evolução. Entretanto, o autor destaca que apesar de curioso, esse é um tema que
causa polêmica.
Como indicam Lopes e Vasconcellos (2008), a psicologia evolutiva deve
ser usada, pois “preocupa-se com o que os antepassados do homem teriam lhe
deixado, como herança biológica, sobre o seu funcionamento mental” (p.123-124)
e comportamentos associados a ele.
O artigo de Besterman e Velle (2007) também deixa claro que,
no ensino de evolução, o maior desafio é despertar o interesse e
motivação dos alunos para compreender os princípios da teoria
evolutiva, e é aí que o tema da evolução humana pode desempenhar um
papel significativo (p.78, tradução nossa).
Sendo assim, o grupo escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa
foi o de futuros professores de Ciências e Biologia, pois são eles que terão que
abordar o tema em suas aulas da Educação Básica. A escolha desse grupo
também se baseia no artigo de Tidon e Lewontin (2004), em que ocorreu a
xlvii
percepção de que conhecimentos sobre a biologia evolutiva é inacessível para
muitas pessoas, incluindo os professores, que deverão ser os transmissores
desse conhecimento.
E, como indicado por Nehm e Reilly (2007), “estudantes aprendem melhor
através de participação ativa no processo de ensino-aprendizagem” (p.264,
tradução nossa), por isso a decisão de desenvolver atividades que tinham como
objetivo o questionamento de processos evolutivos, nas quais os alunos teriam
que pensar em hipóteses para explicar o surgimento das características
apresentadas nas atividades.
xlviii
CAPÍTULO 3
OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Inserir o conceito de Seleção Sexual nas discussões sobre a Teoria
Evolutiva, na disciplina Evolução, de um curso de graduação público
semipresencial em Licenciatura em Ciências Biológicas, a fim de tentar facilitar a
compreensão dos mecanismos evolutivos por esses alunos.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar a inserção do conceito de Seleção Sexual em livros didáticos do
Ensino Médio;

Caracterizar os conceitos de evolução que permeiam essa graduação através
da análise dos módulos didáticos que os alunos dessa graduação recebem para
estudo;

Analisar as concepções dos processos evolutivos dos alunos dessa graduação
através das respostas de provas presenciais da disciplina Evolução;

Desenvolver atividades didáticas que contribuam para esclarecer as diferenças
e semelhanças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual;

Discutir a eficácia das atividades didáticas na disciplina Evolução dessa
graduação.
xlix
CAPÍTULO 4
CONTEXTO DA PESQUISA E METODOLOGIA
4.1 CONTEXTO DA PESQUISA
O presente estudo foi desenvolvido em uma graduação pública
semipresencial do estado do Rio de Janeiro. Essa graduação é um consórcio das
seis universidades públicas do estado do Rio de Janeiro3 e tem como objetivo
principal a interiorização de um ensino superior gratuito e de qualidade.
Uma importante justificativa para a existência desse consórcio se encontra
nas palavras de Abreu e colaboradores (2007), pois
a impossibilidade de formação profissional fora dos centros urbanos, num
país de grandes dimensões como o nosso, foi, desde sempre, uma das
grandes causas – embora pouco lembrada – da perspectiva da exclusão
social que tem estado no âmago do processo de desenvolvimento social
do nosso país (p.1).
Nesse caso, a EaD
é a modalidade de ensino-aprendizagem mais apropriada para reduzir as
distâncias e os isolamentos geográficos, psicossociais, econômicos e
culturais, caracterizando uma nova revolução na democratização do
conhecimento (SANTOS, 2006, p.4).
Então, para que tal interiorização ocorra, o consórcio se organiza em polos
localizados em municípios do estado do Rio de Janeiro e atualmente conta com
34 polos4. Sendo que 175 deles possuem o curso de graduação de Licenciatura
em Ciências Biológicas. Os polos
devem oferecer apoio administrativo e acadêmico aos alunos, ser
equipado com laboratórios de computadores em rede, com acesso a
3
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Disponível em: http://www.cederj.edu.br.
4
Angra dos Reis, Barra do Piraí, Belford Roxo, Bom Jesus do Itabapoana, Campo Grande,
Cantagalo, Duque de Caxias, Itaguaí, Itaocara, Itaperuna, Macaé, Magé, Maracanã, Miguel
Pereira, Natividade, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Piraí, Resende
(FAT/UERJ), Resende (Centro), Rio Bonito, Rio das Flores, Rocinha, Santa Maria Madalena, São
Fidélis, São Francisco de Itabapoana, São Gonçalo, São Pedro da Aldeia, Saquarema, Três Rios
e Volta Redonda. Disponível em: http://www.cederj.edu.br.
5
Angra dos Reis, Bom Jesus do Itabapoana, Campo Grande, Duque de Caxias, Itaocara,
Itaperuna, Macaé, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Piraí, Resende
(FAT/UERJ), São Fidélis, São Francisco de Itabapoana, Três Rios e Volta Redonda. Disponível
em: http://www.cederj.edu.br.
l
Internet, contar com salas para encontros presenciais e laboratórios para
realização de tutorias experimentais, espaços pedagógicos para os
estágios supervisionados e outras estratégias (COSTA, 2007, p.10).
Além de incluírem horários flexíveis para os alunos, como à noite e aos sábados.
O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas está previsto para ser
cursado em 10 períodos, podendo o aluno cursar em no máximo 15 semestres. O
aluno obterá o diploma da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ),
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ou Universidade do Norte
Fluminense (UENF), dependendo do polo que estiver matriculado. Na matriz
curricular do curso consta que o aluno deverá cursar 47 disciplinas obrigatórias,
duas optativas pedagógicas, duas optativas de instrumentação em ciências
biológicas e três optativas gerais.
A organização de cada disciplina é feita por um coordenador que é
professor doutor de uma das universidades consorciadas. O coordenador é
responsável pela produção do cronograma, ementa, aulas práticas (se houver) e
das avaliações, à distância e presencial, a cada período. Além disso, deve dar
capacitações para os tutores, tanto presenciais, quanto à distância, pois são eles
que fazem a ponte entre os alunos e os coordenadores, estando em contato
direto com ambos (COSTA, 2007).
Essa graduação também pode ser caracterizada como modelo WEB, em
que o conteúdo é
disponibilizado pela Internet e por CD ou DVD também. Além do material
na WEB, os alunos costumam ter material impresso por disciplina ou
módulo. Os ambientes principais de aprendizagem são o Moodle, o
Blackboard e o Teleduc (MORAN, 2009, 287).
Porém, como essa graduação apresenta a característica de ser
semipresencial, existem os tutores, presenciais e à distância, que possuem
algumas funções distintas. As tutorias presenciais se caracterizam pelo contato
individual ou em grupo com os alunos, que possuem dúvidas em relação ao
conteúdo, avaliações ou estrutura do curso, exercendo sua função no polo, em
horário pré-definido (BARBOSA e REZENDE, 2006; COSTA, 2007). Com isso, as
tutorias presenciais se caracterizam como mais uma ferramenta de auxílio no
estudo dos alunos, pois os tutores devem tirar as dúvidas que se apresentam,
mas não devem ministrar aulas.
li
Outra função desses tutores é a execução das aulas práticas, se a
disciplina contar com essa atividade. As aulas práticas são sempre aos sábados,
de acordo com o cronograma de práticas. Por fim, são também os tutores
presenciais que corrigem as avaliações à distância entregues pelos alunos.
As tutorias à distância podem ser realizadas por diversos meios, sendo o
telefone o mais comum, pois além de funcionar como uma forma de tirar dúvidas
sem deslocamento, também pode operar como uma estratégia para superar a
sensação de solidão do aluno (BARBOSA e REZENDE, 2006; COSTA, 2007),
que é um dos fatores que contribui para o sentimento de inadequação,
insegurança e falta de confiança em si, podendo comprometer a permanência do
aluno no curso (LAGUARDIA e PORTELA, 2009).
No caso desse consórcio, os tutores à distância ficam nas universidades
em que suas disciplinas estão vinculadas e possuem um horário de plantão, em
que tiram dúvidas dos alunos que ligam através de um número telefônico gratuito
(0800) ou pela sala de tutoria, via plataforma virtual6.
Por ser uma graduação semipresencial, a comunicação é feita basicamente
por uma plataforma virtual, chamada também de Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) (GAMEIRO et al., 2011) que além de conter todas as
informações dos cursos, possuem quadros de avisos dos cursos e dos polos. Na
plataforma estão as salas das disciplinas com as informações específicas de cada
uma, que os alunos têm acesso a partir do momento que se matriculam na
mesma. Além disso, existem formas de comunicação como e-mail, fóruns e salas
de tutoria que são mais ferramentas para que o aluno use em seu estudo e
aprofundamento do conteúdo.
A composição da nota em cada disciplina ocorre, basicamente, a partir de
duas Avaliações à Distância e até três Avaliações Presenciais por semestre. As
avaliações à distância são elaboradas pelos coordenadores das disciplinas e
postadas na plataforma. Os alunos têm um prazo de, em média, até três semanas
6
A plataforma Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é um sistema de
gerenciamento de aprendizagem utilizado nas principais instituições de Educação a Distância em
todo o mundo. Ela possibilita a criação de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), baseados
na utilização de ferramentas de comunicação e colaboração constante entre os alunos e desses
com seus tutores e professores. A plataforma Moodle permite o desenho de ambientes virtuais de
aprendizagem com essas características, por meio do envio e compartilhamento de materiais de
estudo, criação de fóruns e salas de bate-papo, testes e pesquisas de opinião, coletar, corrigir e
revisar tarefas enviadas em documentos de texto, criação de wikis, blogs, criação e aplicação de
questionários, e utilização de objetos educacionais como vídeos, imagens, animações, entre
outros (Haguenauer, C.J. et al. Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Definições e Singularidades.
Revista digital Educaonline – UFRJ. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, 2009).
lii
para realizar as avaliações e entregá-las no polo de origem para correção. Essa
avaliação tem peso dois na média e normalmente são corrigidas pelos tutores
presenciais usando um gabarito elaborado pelo coordenador da disciplina.
Eventualmente as avaliações são enviadas para a coordenação para que uma
revisão da correção seja feita pelos tutores à distância ou pelo coordenador. As
avaliações à distância não são obrigatórias.
As avaliações presenciais possuem caráter obrigatório e são realizadas
nos polos em finais de semana, no meio e no final do período letivo. Essas
avaliações possuem peso oito e, após serem realizadas, são enviadas para as
coordenações para que sejam corrigidas. O aluno que obtiver média seis estará
aprovado na disciplina. Não atingindo essa pontuação, o aluno poderá realizar a
avaliação presencial três, que pode ser tanto uma prova final, como de segunda
chamada e, nesse caso, a nova média a ser alcançada deverá ser de cinco
pontos.
Para finalizar, quase todas as disciplinas da graduação possuem aulas
práticas que são elaboradas pelos coordenadores, mas realizadas nos polos
pelos tutores presenciais, estando determinadas a data e a hora no cronograma
de práticas elaborado a cada início de período. Na maior parte das vezes as aulas
são obrigatórias, podendo o aluno se ausentar em apenas 25% delas, tendo como
consequência a reprovação por falta. Normalmente as aulas não possuem
nenhum tipo de pontuação, embora alguns coordenadores solicitem a entrega de
relatórios que poderão ser ou não pontuados. Algumas disciplinas também estão
começando a utilizar estudos dirigidos que são mais uma ferramenta de estudos,
e, eventualmente, também poderão ser pontuados.
4.2 DESENHO METODOLÓGICO
Como descrito anteriormente, esse estudo foi desenvolvido em uma
graduação semipresencial com o objetivo geral de desenvolver uma estratégia de
ensino para tentar auxiliar os alunos na compreensão dos principais conceitos da
Teoria Evolutiva.
Para que tal estratégia pudesse ser desenvolvida, selecionamos diversas
formas de obter dados, que julgamos pertinentes de serem utilizadas nas
discussões a que essa pesquisa se propos. Sendo assim, iremos descrever quais
foram esses dados e como foram analisados.
liii
4.2.1 Livros didáticos do Ensino Médio
Em relação aos livros didáticos do Ensino Médio, estávamos interessados
em caracterizar quais são os conceitos da Teoria Evolutiva que são abordados
nesses livros, pois nos permitiria entender quais são os possíveis conceitos
aprendidos pelos alunos após cursarem o Ensino Médio.
Além disso, entendemos que para que a Teoria Evolutiva seja
compreendida de forma satisfatória, o indivíduo deve perceber que essa teoria é
formada por vários conceitos que estão interligados, como demonstramos
anteriormente, a partir da abordagem de Mayr (2008).
E, embora o livro didático possa e deva ser utilizado como elemento
auxiliador, sabemos que ainda ocupa uma posição bastante central de consulta,
tanto por professores quanto por alunos. Pensando nessa questão, foi criado o
Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), que busca a melhoria
da qualidade dos livros utilizados nas escolas.
Esse programa do Ministério da Educação avaliou algumas obras e indicou
nove livros que deveriam fazer parte de uma lista que ficaria disponível para os
professores como referência para o período de 2007-2009 e que usamos como
base para a escolha dos livros que avaliamos. Os livros indicados pelo PNLEM
foram: Adolfo, Crozetta e Lago (2005); Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar
(2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005);
Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005); Paulino (2005).
Analisamos sete obras no que se refere a apresentação e discussão dos
seis conceitos que formam a Teoria Evolutiva, com especial ênfase ao conceito
de Seleção Sexual, sendo eles: Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005);
Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005); Linhares
e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005).
Os dados foram gerados a partir de uma regra de três simples, na qual o
total do número de página do livro (Volume Único) ou dos livros (séries com três
volumes) correspondia a 100% e servia de base para acharmos a porcentagem
correspondente ao número de páginas que abordava os conceitos darwinianos da
Teoria Evolutiva.
liv
Também foi feita uma leitura das seções referentes à Teoria Evolutiva, que
foram selecionadas a partir do sumário de cada livro, com o objetivo de
caracterizar quais são os conceitos darwinianos apresentados nesses livros.
Em relação ao conceito de Seleção Sexual, foi realizada uma análise mais
detalhada, dos livros em que esse conceito foi abordado. Nesse caso,
calculamos, a partir de uma regra de três simples, a porcentagem da área
dedicada ao conceito de Seleção Sexual em relação à área total correspondente
à Unidade Evolução, em cada livro, sendo incluídas as áreas que continham
textos, figuras, exemplos, gráficos, exercícios e etc., em cada página. Também foi
feita uma avaliação qualitativa do conceito de Seleção Sexual exposto em cada
livro em relação ao referencial teórico de nossa tese.
4.2.2 Módulos Didáticos
A graduação em questão não possui aulas presenciais, pois está
organizada como uma graduação semipresencial, como descrito anteriormente.
Como material de estudo relacionado com o cronograma de cada disciplina, os
alunos recebem gratuitamente módulos didáticos.
Os módulos possuem uma linguagem menos formal, pois devem se
aproximar do que seria uma aula presencial e foram escritos por coordenadores
antigos ou atuais das disciplinas, mas que são professores que ministram na
graduação presencial das universidades consorciadas aulas de disciplinas
relacionadas.
É importante ressaltar que, assim como em um sistema presencial, o
módulo não pretende cobrir todo o conteúdo e para se aprofundar em
determinado tema o aluno deve procurar livros e artigos para estudo. Cabe
destacar que todos os polos possuem bibliotecas com livros atualizados das mais
diversas áreas das Ciências Biológicas.
Como um dos objetivos dessa tese é caracterizar as conceituações que os
alunos possuem sobre a Teoria Evolutiva, achamos necessário sintetizar o que os
módulos trazem sobre esse tema. Isso ocorre porque diversas disciplinas, que
não Evolução, indicam em suas ementas que abordarão conceitos da Teoria
Evolutiva ou que usarão a mesma como eixo integrador de seus próprios
conceitos.
lv
Em função disso, quando os alunos se matriculam na disciplina Evolução,
que é uma disciplina de final de curso, os mesmos já estiveram em contato com
conceitos da Teoria Evolutiva e já deveriam possuir um determinado corpo de
conhecimento pessoal sobre a mesma. Sem contar que esse também é um tema
previsto na Educação Básica. Então, essa análise permitiu avaliar qual é o tipo de
conceituação da Teoria Evolutiva que permeia essa graduação.
Para sabermos que tipos de conceitos eram esses, escolhemos as
disciplinas que indicavam em suas ementas que abordavam a Teoria Evolutiva
para analisarmos e formularmos uma conceituação geral por disciplina. As
disciplinas escolhidas foram: Grandes Temas em Biologia; Diversidade dos Seres
Vivos; Elementos de Ecologia e Conservação; Introdução à Zoologia; Populações,
Comunidades e Conservação; e Evolução (ANEXO I).
A análise dos módulos foi descritiva e interpretativa (COSTA e COSTA,
2009), à luz dos referenciais teóricos que adotamos como sendo condizentes com
as questões mais atuais das conceituações da Teoria Evolutiva. Nesse caso,
usamos a ideia de resgate dos conceitos estruturantes (CARVALHO et al., 2011;
PEREIRA et al., 2012) que formam a estrutura do pensamento evolutivo dessa
graduação.
Nesse caso, utilizamos a definição de Gagliardi (1986) em que o conceito
estruturante “é um conceito cuja construção transforma o sistema cognitivo,
permitindo adquirir novos conhecimentos, organizar os dados de outra maneira,
transformar inclusive os conhecimentos anteriores” (p.31, tradução nossa). Ou
seja, “não são novos temas em um programa e sim objetivos gerais que permitem
construir novos conhecimentos” (p.32, tradução nossa).
4.2.3 Provas de Evolução
Como descrito nos objetivos, foi feita, além da caracterização dos módulos,
a análise de provas já realizadas na disciplina Evolução, o que permitiu a escolha
de que caminho tomar para a elaboração das atividades didáticas. Os módulos
nos ajudaram na caracterização dos conceitos da Teoria Evolutiva que são
discutidos ao longo desse curso de graduação. Já as provas arquivadas, em
lvi
função do padrão das questões não ter mudado muito ao longo dos semestres,
permitiram caracterizar as perguntas frequentes que são feitas pelo coordenador
da disciplina e os acertos ou erros referentes às respostas dos alunos.
Por ser tutora presencial desse consórcio há cinco anos, trabalhando há
mais de três anos com a disciplina Evolução, senti a necessidade de caracterizar
quais eram os erros mais comuns, as maiores dificuldades encontradas pelos
alunos nas avaliações presenciais dessa disciplina. Essa também foi uma forma
de formalizar e entender melhor as dificuldades que eu percebia como sendo
recorrentes. Por isso, a decisão de analisar as provas que estavam arquivadas.
Para o entendimento de como foram escolhidas as questões para análise,
é importante destacar que a disciplina Evolução se baseia na genética de
populações, ou seja, a análise dos processos que fazem aparecer novas
variantes dos genes, os alelos, e também a análise dos eventos que levam à
alteração das frequências gênicas ao longo do tempo.
Sendo assim, os alunos devem aprender a calcular as frequências gênicas,
genotípicas e as heterozigozidades de uma população, analisando se a
população está ou não em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Os alunos também
devem entender como as mutações, a deriva gênica, a seleção natural, a
migração e o endocruzamento atuam na alteração das frequências dos alelos ao
longo do tempo.
Nas avaliações presenciais os alunos devem responder questões que
abordem os temas acima descritos, incluindo questões que envolvam cálculos
matemáticos, de definição de conceitos ou de análise de situações. Normalmente
as provas possuem mais de cinco questões e os alunos devem escolher quatro
ou cinco para responder.
Os alunos podem fazer até três avaliações presenciais por semestre e as
avaliações ficam arquivadas com os coordenadores das disciplinas, nos polos ou
nas coordenações de curso, por até cinco anos, não sendo devolvidas de
nenhuma forma aos alunos.
Em função do arquivamento das provas não estar em apenas um local,
usamos para análise os semestres que conseguimos o maior número de provas
por polos (2008-1, 2008-2, 2009-1 e 2009-2). Apesar do curso de Ciências
Biológicas estar presente, atualmente, em 17 polos, o número de alunos inscritos
na disciplina em cada polo variava bastante. A tabela abaixo (Tabela 4.1) indica
lvii
as questões escolhidas em cada semestre, o número de polos e o número de
alunos inscritos na disciplina Evolução:
Tabela 4.1 – Questões escolhidas, número de polos e número de alunos inscritos na disciplina
Evolução
Ano
Semestre
Número de polos
2008
I
13
2008
II
14
2009
I
12
2009
II
15
Questões
AP1 – Q7
AP2 – Q5
AP3 – Q2
AP1 – Q10
AP2 – Q6
AP3 – Q2
AP1 – Q5; Q7; Q9
AP2 – Q4
AP3 – Q2
AP1 – Q7
AP2 – Q2
Número de alunos inscritos
110
103
128
172
Como nosso objetivo era saber como os alunos respondiam as questões
que estavam relacionadas com a Teoria Evolutiva Darwiniana, escolhemos em
cada prova as questões que tratavam sobre as conceituações ou situações que
envolviam a seleção natural e/ou a seleção sexual e transcrevemos cada uma
dessas questões para análise. Essa etapa permitiu uma caracterização preliminar
de como os alunos dessa graduação estão adquirindo e utilizando os conceitos da
Teoria Evolutiva. Em cada prova foram escolhidas as seguintes questões:
 AP1-2008-1: Questão 7 - “Quando surgiu a penicilina praticamente todas as
infecções bacterianas passaram a ser facilmente controláveis. No entanto, depois
de algum tempo a penicilina deixou de ser um antibiótico universal, devido ao
aparecimento de resistência nas bactérias a esse antibiótico. Novos antibióticos
foram, então, desenvolvidos, mas para cada antibiótico, depois de um tempo,
aparecem formas resistentes. Explique esse processo evolutivamente, mostrando
que forças evolutivas devem estar ocorrendo nessas populações bacterianas.”
 AP2-2008-1: Questão 5 – “Todos os caracteres dos seres vivos existem por
algum motivo. Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como
uma camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o
espírito adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos
seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do
flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua
coloração.”
lviii
 AP3-2008-1: Questão 2 – ““Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você
usaria para conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa
posição.”
 AP1-2008-2: Questão 10 - “O que é Seleção Natural?”
 AP2-2008-2: Questão 6 – “Todos os caracteres dos seres vivos existem por
algum motivo. Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como
uma camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o
espírito adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos
seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do
flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua
coloração.”7
 AP3-2008-2: Questão 2 - “Por que não podemos dizer que uma bactéria é
menos evoluída que um ser humano?”
 AP1-2009-1: Questão 5 – “Qual a importância evolutiva da Seleção Natural?”;
Questão 7 – “Qual a importância evolutiva da Mutação?”; Questão 9 – “Se, em
geral, as mutações são maléficas para os organismos, porque dizemos que a
mutação é uma coisa fundamental para a evolução?”
 AP2-2009-1: Questão 4 – “Alguns pesquisadores argumentaram que o conceito
de seleção natural seria tautológico, pois “sobrevivência do mais apto” significa o
mesmo que “sobrevivência do que sobrevive”. Como podemos escapar dessa
circularidade?”
 AP3-2009-1: Questão 2 - ““Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você
usaria para conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa
posição?”8
 AP1-2009-2: Questão 7 – “Tomar muito sol, sem proteção, é muito ruim, pois
os raios UV causam mutações. Carla lembra que tomava muito sol quando era
criança, sem nenhuma proteção, chegando muitas vezes a ficar com bolhas e
descascar a pele, mostrando que recebeu, de fato, muita irradiação UV. Carla
agora quer ter filhos, mas está com medo de que eles sejam mutantes. Ela está
errada. Por que?”
 AP2-2009-2: Questão 2 – “Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e
inter-sexual?”
7
8
Questão igual à do semestre anterior (2008-1 - AP2).
Questão igual à do semestre 2008-1 (AP3).
lix
 AP3-2009-2: Nenhuma questão foi selecionada para análise porque não
abordavam aspectos conceituais da Teoria Evolutiva.
A partir da leitura dos referenciais sobre a Teoria Evolutiva e fazendo uma
abordagem de que o processo de Seleção Sexual é diferente do processo de
Seleção Natural, e não um subtipo desse, decidimos fazer um gabarito próprio
para a análise das questões escolhidas por nós em cada avaliação presencial.
As respostas foram então classificadas em três categorias: corretas,
incompletas ou incorretas. Os dados foram organizados em tabelas com o
número absoluto de respostas por categoria. Posteriormente, as respostas foram
lidas exaustivamente para que pudéssemos fazer uma interpretação dos
conceitos utilizados pelos alunos para responder a cada questão (COSTA e
COSTA, 2009), com o objetivo de caracterizar as ideias evolutivas que permeiam
o grupo.
4.2.4 Atividades Didáticas
Em função dos referenciais teóricos que indicam que existem dificuldades
para compreensão da Teoria Evolutiva por diferentes grupos, inclusive por
professores e alunos (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e
LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e
VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011), o objetivo principal dessa tese foi o
desenvolvimento de atividades didáticas, pensando que essas atividades
poderiam ser um instrumento facilitador na compreensão dos conceitos de
Seleção Natural e Seleção Sexual, a partir da perspectiva da Teoria Evolutiva
Darwiniana, e dos processos que levaram à diversificação e extinção das
espécies ao longo do tempo geológico.
Essa atividade foi realizada em dois semestres, 2012-1 e 2012-2, estando
disponível para todos os alunos inscritos na disciplina Evolução nesses
semestres. A atividade foi iniciada com o envio de um e-mail que tinha dois
propósitos. O primeiro deles era convidar os alunos a participarem das atividades
que foram realizadas via plataforma virtual, através da ferramenta Avisos presente
na página da disciplina.
O segundo propósito era explicar que as atividades faziam parte de um
projeto de doutorado, solicitando, com isso, que os alunos autorizassem o uso de
seus dados na tese final da pesquisadora. Deixamos claro (APÊNDICE I) que os
lx
alunos eram livres para participarem ou não da pesquisa e quem quisesse
participar deveria responder ao e-mail. A resposta foi considerada o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (COSTA e COSTA, 2009).
A ideia de desenvolver atividades sequenciais se baseou na dissertação de
mestrado de Santos (2002) que também criou atividades para discutir a Teoria
Evolutiva com alunos do Ensino Médio. Em sua pesquisa, Santos (2002) formou
um pequeno grupo de discussão, de situações-problemas que deveriam ser
analisadas e propostas explicações sobre a diversificação das espécies.
No nosso caso, a realização das atividades didáticas teve o propósito de
discutir de forma mais aprofundada o processo de Seleção Sexual, como um
contraponto em relação à Seleção Natural, demonstrando que a Seleção Natural
não é suficiente para explicar toda a biodiversidade extinta e ainda existente de
seres vivos e que os dois processos em conjunto são capazes de explicar tal
diversidade de forma mais satisfatória.
Nas atividades usamos diversos exemplos do Reino Animal, incluindo
características de nossa própria espécie e sua evolução. Nesse caso, o enfoque
foi dado no desenvolvimento de nosso cérebro e nos comportamentos sexuais
diferenciados de homens e mulheres.
Os demais dados (4.2.1, 4.2.2 e 4.2.3) contribuíram para a avaliação das
atividades, uma vez que pudemos comparar as ideias que permeiam essa
graduação, a partir das provas e módulos, com as novas concepções sobre
evolução que poderiam surgir ou não após a utilização das atividades.
As atividades foram propostas via plataforma e sempre existiram, a cada
atividade, questões para serem respondidas diretamente para a doutoranda
através do e-mail [email protected].
As atividades deveriam ser entendidas como mais uma ferramenta de
estudo (SANTOS, 2006), pois não estavam relacionadas com novos conceitos
que estariam ausentes nos módulos didáticos, e sim uma nova abordagem dos
conceitos que formam a Teoria Evolutiva. Seguindo esse raciocínio, Gameira et
al. (2011) destacam que as tecnologias educacionais não devem só ser atrativas
e trazerem incrementos para o processo de ensino e aprendizagem, também
“devem possibilitar novas formas de diálogo entre os alunos e os conhecimentos”
(p.107).
As atividades não eram obrigatórias e nem pontuadas, fazendo-as quem
tivesse interesse em mais uma forma de estudo. A cada atividade e antes da nova
lxi
atividade ser proposta, a doutoranda colocava na mesma ferramenta de Avisos o
que era esperado como resposta da atividade que tinha sido realizada.
Ao final das atividades foi disponibilizado um texto (APÊNDICE II) para
todos os alunos consultarem contendo os principais conceitos que foram
abordados nas atividades. Essa era uma forma de garantir que nenhum aluno se
sentisse prejudicado. Outra justificativa para a iniciativa de disponibilizar o texto é
que para a obtenção de dados referentes a essas atividades foi confeccionada,
em conjunto com o coordenador da disciplina, uma pergunta obrigatória que
estava presente na Avaliação Presencial 2 e que se referia aos conteúdos das
atividades.
Normalmente os semestres possuem 16 semanas de aulas previstas no
calendário. O cronograma da disciplina indica que conteúdos dos módulos os
alunos devem estudar a cada semana. Começamos as atividades na semana
seis, pois é quando o conteúdo de Seleção Natural deve começar a ser estudado.
Foram realizadas oito atividades, uma por semana.
Nas atividades os alunos deveriam ver imagens, ler textos e/ou ver trechos
de filmes (APÊNDICE III) e responder a uma pergunta com prazo para envio da
resposta determinado. A seguir estão os títulos das atividades e a pergunta que
era feita aos alunos em cada uma:
 Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga pesquisadores: Olhe bem
as imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças de
estruturas ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram colocadas
espécies que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos. Pensem
sobre isso e respondam: As características que são diferentes entre machos e
fêmeas estão relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua resposta.
 Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os gametas
masculinos e femininos: Que processos podem ter contribuído para o surgimento
dessas características diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a
atividade anterior.
 Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da reprodução sexuada:
Proponha uma hipótese para explicar a existência de características diferentes
entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada
um e o relato sobre os peixes mexicanos.
 Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem novas propostas
para explicar a biodiversidade existente: Como surgem as variações entre os
lxii
indivíduos? Vocês viram, nessa atividade, diversas situações relacionadas com as
características dos seres vivos. Quais situações podem ser explicadas pela
Seleção Natural e quais pela Seleção Sexual? (Usar tanto as imagens, quanto os
trechos de filmes). Discuta as diferenças dos dois processos.
 Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de homens e mulheres:
Qual é a explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira?
Concordam ou não com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade?
Homens e mulheres querem coisas diferentes em um relacionamento?
 Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres possuem
diferenças: Que processos podem ter contribuído para o surgimento desses
comportamentos diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou
experiência de vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma
relação com as atividades 1, 2 e 3?
 Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os circuitos cerebrais e o
comportamento sexual da espécie humana: Relacione a reprodução sexuada, a
evolução de nossa espécie e a escolha de parceiros.
 Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando usados em conjunto,
explicam melhor a biodiversidade existente: Faça uma síntese das diferenças dos
processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual, exemplificando cada um.
No semestre 2012-1, as questões que abordavam conceitos referentes a
essa tese eram:
 Avaliação Presencial 1 – “Qual a diferença entre seleção intra-sexual e seleção
inter-sexual?”. Essa questão foi formulada pela coordenação da disciplina e
quando a avaliação presencial aconteceu os alunos já tinham feito até a Atividade
4. Por ser uma questão que aborda o tema desse projeto, decidimos transcrever
as respostas e categorizá-las, como foi feito com as questões das avaliações
presenciais arquivadas. Usamos o mesmo gabarito que foi usado para categorizar
as respostas da Avaliação Presencial 2009-2, pois a questão era semelhante;
 Avaliação Presencial 2 – “Os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual
fazem parte da Teoria Evolutiva formulada por Charles Darwin. Muitos teóricos
evolucionistas indicam que esses dois processos, em conjunto, explicam melhor a
biodiversidade existente. Diferencie esses dois processos, dando um exemplo de
atuação de cada um” (1,0 ponto extra – questão obrigatória). Essa questão foi
formulada por nós e fez parte da Avaliação Presencial 2, pois foi realizada depois
lxiii
das Atividades Extras terem sido finalizadas e o texto extra (APÊNDICE II) ter
sido disponibilizado na plataforma.
No semestre 2012-2 não foi colocada, pela coordenação da disciplina,
nenhuma questão de interesse para a nossa pesquisa na Avaliação Presencial 1
e, por isso, não escolhemos nenhuma questão para análise. Novamente
formulamos uma questão para a Avaliação Presencial 2, pois essa avaliação é
realizada após o término das atividades. A questão foi: “A seleção sexual é um
tipo de seleção natural em que caracteres que são aparentemente desvantajosos
acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de reprodução”. Você
concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta. Essa questão foi uma
questão obrigatória, mas não valia nenhum ponto extra.
As respostas das perguntas formuladas por nós foram analisadas de forma
qualitativa, uma vez que não estamos interessados nas notas que os alunos
tiraram nas avaliações e sim o tipo de resposta que foi formulada. As respostas
foram analisadas pela metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que é
uma metodologia que permite caracterizar as crenças, valores, ideias de um
grupo em um contexto social típico e, nesse caso, poderíamos saber como os
alunos se posicionam em relação às conceituações sobre a Teoria Evolutiva.
Essa metodologia se baseia na ideia de Representação Social (RS) sobre
o mundo em que o indivíduo está inserido. Nesse caso, entende que as
representações são formuladas a partir de questionamentos e interpretações
individuais (diálogo interno) em associação com discussões com outros membros
do grupo (diálogo externo), permitindo a transformação de algo não familiar em
algo familiar (RYDER et al., 1999). Logo,
ao estudarmos a RS de um grupo estamos investigando como ele
compreende e se relaciona com o mundo; caracterizar uma
representação social indica não apenas que o indivíduo entende um
tema de maneira peculiar, mas, sobretudo que ele acredita, fala e
compartilha aquele entendimento que possui (AGNOLETTO e BELLINI,
2012, p.15).
Essa metodologia foi desenvolvida por Lefèvre e Lefèvre (2003) e permite
uma análise qualitativa de respostas relacionadas com perguntas abertas, pois se
baseia na concepção de que as pessoas que formam um grupo social
apresentam diversas representações sobre qualquer tema que faça parte de suas
comunicações. Essas representações, semelhantes ou não entre os indivíduos, é
lxiv
o que torna possível a comunicação entre os sujeitos do grupo e a formação de
um pensamento coletivo.
A premissa do DSC é a de que o sujeito tem seu próprio discurso, que fará
parte de um discurso maior que representa a coletividade, pois “quando uma
pessoa ou uma coletividade tem um pensamento sobre um dado tema, está-se
dizendo que ela professa, ou adota, ou usa um ou vários discursos sobre o tema”
(LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003, p. 14).
A formulação de perguntas abertas sobre o tema a ser investigado permite
a expressão livre do sujeito, ou seja, não existem respostas para ele escolher,
permitindo que o sujeito expresse o que sabe, acha,sente e etc. sobre o tema que
está sendo pesquisado. A expressão livre dos sujeitos permite a criação de falas
articuladas que se ligam aos sistemas de ideias pertencentes ao grupo. No caso
da presente pesquisa, as respostas dos alunos deveriam estar relacionadas com
as diversas ideias que o grupo possui sobre as conceituações da Teoria
Evolutiva. O Discurso do Sujeito Coletivo formado é a representação do tema em
questão e foi criado pelos diferentes discursos-síntese montados.
Os discursos-síntese foram criados com a retirada de trechos de cada
resposta que possuíam elementos relevantes para a caracterização das ideias
sobre evolução. Os trechos que possuíssem ideias semelhantes, denominadas de
Expressões-Chave (ECH), eram unidos para formar o discurso-síntese daquela
ideia, sendo classificados na mesma Ideia Central (IC) (LEFÈVRE e LEFÈVRE,
2003). Para cada resposta analisada poderiam ser retiradas uma ou mais
Expressões-Chave, que poderiam estar ligadas a uma ou mais Ideias Centrais
(IC), e todos os discursos-síntese unidos formaram o Discurso do Sujeito Coletivo
do grupo.
Também consideramos o número de alunos que fizeram cada atividade ou
que indicaram terem lido o texto. O objetivo foi tentar relacionar a leitura e
participação nas atividades com os discursos-síntese montados e se essa
abordagem de ensino contribuiu para uma melhor compreensão dos conceitos de
Seleção Natural e Seleção Sexual, sabendo que esse é um tema de difícil
apreensão, mas de fundamental importância nas Ciências Biológicas.
lxv
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 CONCEITUAÇÃO SOBRE A SELEÇÃO SEXUAL EM LIVROS DIDÁTICOS
DO ENSINO MÉDIO9
Um dos temas abordados pela nossa pesquisa foi a caracterização das
conceituações da Teoria Evolutiva que fazem parte da Educação Básica. Como
descrito anteriormente, a Teoria Evolutiva pode ser entendida como um sistema
de conceitos (MAYR, 2008; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004) que em conjunto
auxiliam no entendimento da história evolutiva dos grupos e da biodiversidade
passada e presente da Terra.
Após análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 2006) fica claro que esse deve ser um tema central na abordagem dos
diversos conceitos que fazem parte do corpo de conhecimento do que chamamos
de Biologia, uma vez que os PCN+ propõem que os conhecimentos biológicos
devem ser organizados em seis sistemas estruturadores, sendo Origem e
evolução da vida um desses sistemas (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2006b). E, o
documento Evolução, Ciência e Sociedade (FUTUYMA, 2002) ajuda a confirmar
essa ideia, pois indica que ensinar a Teoria Evolutiva desde as primeiras séries
da Educação Básica, não só facilita o entendimento da Biologia, como permite
uma visão de mundo mais integrada com os eventos que acontecem em nosso
entorno, assim como em nós mesmos, como o uso de antibióticos e a
preservação das espécies.
Pensando nessas questões, decidimos avaliar como a Teoria Evolutiva
estava sendo abordada em livros didáticos do Ensino Médio, uma vez que o livro
é um dos instrumentos auxiliadores do processo de ensino e aprendizagem,
sendo utilizado tanto por professores, quanto por alunos (ROMA e MOTOKANE,
2009).
9
Os primeiros resultados desse trabalho foram apresentados no III Encontro Nacional de Ensino
de Biologia, IV Encontro Regional de Ensino de Biologia da Regional 5, V Congresso
Iberoamericano de Educación en Ciencias Experimentales, com o título A necessidade da
inserção do conceito de Seleção Sexual nos livros didáticos do Ensino Médio com o objetivo de
abordar a Teoria Evolutiva de forma mais integrada. Após a apresentação nesse Encontro e em
função de alguns comentários em relação à metodologia, repensamos a mesma, refizemos a
análise dos resultados e o novo trabalho foi submetido à revista Alexandria – Revista de Educação
em Ciência e Tecnologia em 26/06/2012, com o título O sequestro do conceito de Seleção Sexual
dos livros didáticos, sendo os autores Nicolini, L., Costa, L. e Waizbort, R. No dia 04/09/2012 o
trabalho foi aceito para publicação, sendo publicado em novembro de 2012.
lxvi
Nosso foco principal era saber se os cinco conceitos sintetizados por Mayr
(2008) e descritos anteriormente estavam presentes em livros didáticos indicados
pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM). O PNLEM tem
como objetivo servir de norte para que docentes, desse segmento da Educação
Básica, possam embasar a sua escolha em livros previamente analisados por um
grupo de profissionais ligados às diferentes áreas da Biologia. Além disso,
decidimos avaliar se e como o conceito de Seleção Sexual era abordado e
explicado nesses livros.
Incluímos a abordagem do conceito de Seleção Sexual nessa análise por
dois motivos principais: acreditamos que esse conceito, contrastado ao de
Seleção Natural, pode contribuir para explicar de forma mais satisfatória a
diversidade das espécies e de suas estruturas, facilitando a compreensão da
Teoria da Evolução por alunos do Ensino Médio; e porque esse é considerado o
conceito mais original de Darwin (CRONIN, 1995; MILLER, 2000).
Também decidimos estudar os livros didáticos porque muito tem se
discutido acerca da qualidade dessas obras, dos fatores que podem influenciar os
professores no momento da escolha do livro e da importância de não considerá-lo
como a única fonte de consulta estão desenvolvidos em Martins (2006), Carneiro
et al. (2005), Bellini e Frasson (2006) e Roma e Motokane (2009).
Sabemos que o livro didático ainda é muito utilizado como única fonte de
consulta e, por isso, foi criado o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio
(PNLEM), que busca a melhoria da qualidade dos livros utilizados nas escolas
(EL-HANI et al., 2011).
O PNLEM avaliou algumas obras e indicou nove livros que deveriam fazer
parte de uma lista que ficaria disponível para os professores como referência para
o período de 2007-2009: Adolfo, Crozetta e Lago (2005); Amabis e Martho (2005);
Cesar e Sezar (2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005);
Laurence (2005); Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005);
Paulino (2005).
Nesse estudo, analisamos sete obras, das nove10 obras indicadas na lista
do PNLEM - Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005); Favaretto e
Mercadante
(2005);
Frota-Pessoa
(2005);
Laurence
(2005);
Linhares
e
Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005) - no que se refere a apresentação
10
As obras Adolfo, Crozetta e Lago (2005) e Paulino (2005) não foram analisadas, pois não
tivemos acesso a elas.
lxvii
e discussão do conceito de Seleção Sexual. Realizamos também uma breve
análise dos conceitos darwinianos citados por Mayr (2008).
Em nossa avaliação estiveram presentes dois tipos de livros didáticos:
(1) Coleções de três volumes, um para cada série do Ensino Médio.
Analisamos apenas o livro cuja Unidade Evolução estivesse indicada no sumário.
Dois dos sete livros analisados encontram-se nessa categoria: Amabis e Martho
(2005) e Frota-Pessoa (2005);
(2) Volume único, livro utilizado para cobrir os três anos do Ensino Médio.
Analisamos a Unidade Evolução a partir de consulta ao sumário. Cinco dos sete
livros encontram-se nessa categoria: Cesar e Sezar (2005), Favaretto e
Mercadante (2005), Laurence (2005), Linhares e Gewandsnajder (2005) e Lopes;
Rosso (2005).
Os artigos de Almeida e Falcão (2005), Silva-Porto (2008) e, mais
recentemente, de Roma e Motokane (2009), indicam que o tema Evolução passou
a fazer parte dos livros didáticos apenas na década de 1960 com a utilização do
Biological Sciences Curriculum Study (BSCS)11 e que, mesmo depois do
abandono dessa coleção, os novos livros didáticos produzidos continuaram a
incluir o tema em seus conteúdos. Mesmo assim, esse tema não chega nem a
10% do conteúdo abordado nos livros didáticos indicados pelo PNLEM (ROMA e
MOTOKANE, 2009). Além disso, os livros não seguem a sugestão de que a
Teoria Evolutiva seja entendida como eixo unificador do ensino de Biologia.
Os livros aqui analisados, de uma forma geral, dedicam cerca de 6% do
seu conteúdo total para discutir o tema Evolução (Tabela 5.1)12. Considerando a
sua importância para o entendimento da Biologia como um corpo de
conhecimento não fragmentado, acreditamos que o espaço destinado em tais
obras pode ser compreendido como insatisfatório.
Tabela 5.1 – Percentual aproximado de páginas que tratam do assunto evolução por livro didático
11
Os livros que faziam parte do BSCS (Biological Science Curriculum Studies) estavam
relacionados com uma reforma curricular da Biologia que estava em curso nos Estados Unidos
nas décadas de 1950 e 1960. Nessa reforma, a Teoria Evolutiva foi inserida como um dos eixos
integradores da disciplina escolar Biologia (SILVA-PORTO, 2008).
12
Os dados dessa tabela foram produzidos a partir de uma regra de três simples, na qual o
número total de páginas do livro (Volume Único) ou dos livros (séries com três volumes)
correspondia a 100%. O resultado obtido se refere ao percentual de páginas da Unidade Evolução
em relação ao total.
lxviii
Lopes e Rosso
(Saraiva)
Frota-Pessoa
(Scipione)
Favaretto e
Mercadante
(Moderna)
Linhares e
Gewandsnajder
(Ática)
Amabis e
Martho
(Moderna)
César e Sezar
(Saraiva)
Laurence
(Nova Geração)
% do livro que discute
Evolução
5%
5%
5%
6%
5%
7%
5%
O tratamento curto do tema evolução talvez seja o resultado de uma
concepção de ensino enciclopédico no Ensino Médio e, por consequência, nos
livros didáticos. Esse fato pode ser explicado, pelo menos em parte, por um
processo de hiperespecialização do conhecimento e de um ensino fragmentado
em disciplinas (MORIN, 2001). Dessa forma, sobra pouco tempo e espaço para
desenvolver temas de maior relevância para o estudante de forma mais eficiente
e relacionada à sua vida prática.
A constatação de que a Teoria Evolutiva não é tratada com o grau de
complexidade exigido por sua história e estrutura não impede que encontremos,
na maior parte dos livros analisados, os cinco conceitos que compõem o
pensamento darwiniano, segundo Mayr (2008) (Quadro 5.1).
Conceitos
Lopes e Rosso
(Saraiva)
Frota-Pessoa
(Scipione)
Favaretto e
Mercadante
(Moderna)
Linhares e
Gewandsnajder
(Ática)
Amabis e Martho
(Moderna)
César e Sezar
(Saraiva)
Laurence
(Nova Geração)
Quadro 5.1 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento
Darwiniano
Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente
Origem comum
Evolução como fato
Gradualismo
Especiação
Seleção Natural
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
Dentre os cinco conceitos, o único que não está presente nos sete livros é
o conceito Gradualismo, sendo os demais caracterizados em todos os livros
didáticos. É interessante notar que os livros fazem uso de cladogramas para
demonstrar questões relacionadas à origem comum, além de apresentar
exemplos bem sedimentados que evidenciam a evolução não apenas como uma
teoria e sim como um fato científico bastante comprovado. Os livros, de uma
lxix
forma geral, parecem compreender que esses conceitos são de grande
importância para que o aluno desenvolva um olhar relacional sobre os fenômenos
da vida.
Em contraposição, quando avaliamos a presença ou ausência do conceito
de Seleção Sexual nesses mesmos livros, podemos perceber que esse conceito
está presente em menos de metade das obras (Quadro 5.2).
Favaretto e
Mercadante
(Moderna)
Linhares e
Gewandsnajder
(Ática)
Amabis e Martho
(Moderna)
César e Sezar
(Saraiva)
Laurence
(Nova Geração)
Seleção sexual
Frota-Pessoa
(Scipione)
Conceito
Lopes e Rosso
(Saraiva)
Quadro 5.2 – Avaliação da presença do conceito de Seleção Sexual formulado por Darwin
Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente
+
-
-
+
+
-
-
Após esse levantamento inicial e com a leitura das Unidades Evolução dos
sete livros indicados pelo PNLEM que tivemos acesso, fizemos a análise do
conceito de Seleção Sexual nos três livros que apresentam esse conceito. O
primeiro resultado está sintetizado na tabela (Tabela 5.2):
Linhares e
Gewandsnajder
(Ática)
Amabis e Martho
(Moderna)
% da Unidade Evolução que
discute Seleção Sexual
Lopes e Rosso
(Saraiva)
Tabela 5.2 – Percentual aproximado da área que aborda o conceito de Seleção Sexual,
na Unidade Evolução, por livro didático
2,05%
0,75%
0,24%
A segunda análise permitiu verificar que nos três livros que apresentam o
conceito de Seleção Sexual, esse é usado como um exemplo ou como um tipo
especial de Seleção Natural. Esse é um ponto discutível desde os tempos de
Darwin (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2004). Para toda uma tradição
de pensamento, as características que são selecionadas pela Seleção Sexual são
extremamente custosas e funcionam como indicadoras de bons genes e, por isso,
garantem um sucesso reprodutivo. Em função de seus custos, essas
lxx
características não podem ter surgido como resultado da Seleção Natural que é
essencialmente econômica (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997; DARWIN, 2002; DARWIN,
2004).
No livro de Amabis e Martho (2005), os autores apresentam o conceito de
Seleção Sexual como um caso particular de Seleção Natural, “em que os
indivíduos de um sexo (em geral, as fêmeas) preferem se acasalar com parceiros
portadores de determinadas características” (p.221). Eles não explicam por que
tais características teriam sido originadas e se referem aos processos de escolha
por parte das fêmeas e de lutas entre machos como processos semelhantes e
que teriam como objetivo a perpetuação de seus atributos atrativos. Essa última
colocação está em desacordo com as ideias aceitas por evolucionistas mais
recentes, pois na reprodução os indivíduos não pretendem dar continuidade à sua
espécie e sim passar adiante seus próprios genes (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997;
DAWKINS, 2001).
Já em Lopes e Rosso (2005), tal conceituação não se encontra presente no
corpo principal do texto e sim numa caixa de texto destacada, o que sugere que o
tema de Seleção Sexual é quase uma curiosidade. O texto da caixa cita o livro A
origem do homem e a seleção sexual, de Darwin, como a obra que elaborou esse
conceito, mas em sua explicação, Lopes e Rosso (2005) também descrevem a
Seleção Sexual como um tipo especial de Seleção Natural:
Enquanto a seleção natural leva a uma adaptação do organismo ao meio
em que vive, aumentando sua chance de sobrevivência, a seleção
sexual relaciona-se com a adaptação do organismo às suas
necessidades de obter um parceiro, garantindo sua reprodução (p.516).
Os autores citam a escolha por parte das fêmeas e a luta entre machos,
mas não diferenciam os processos e nem explicam de forma clara o que está
relacionado
com
esses
comportamentos:
a
reprodução
diferencial
de
determinados indivíduos (machos).
Por último, os autores Linhares e Gewandsjnajder (2005) usam o conceito
de Seleção Sexual como um dos exemplos da Seleção Natural. Para eles, “o
processo pelo qual certas características sexuais se espalham, por causa da
maior facilidade para conseguir parceiros para a reprodução, é chamado de
seleção sexual” (p.424). Consideramos que essa forma de definição é muito
ambígua, pois trata características altamente custosas como adaptativas para a
sobrevivência.
lxxi
Após a análise dos livros indicados pelo PNLEM, algumas questões podem
ser suscitadas com o objetivo de tentar entender os motivos de por que o conceito
de Seleção Sexual não foi incluído na maioria dos livros ou foi considerado como
um tipo de Seleção Natural: será que a ausência está relacionada com
dificuldades dos próprios autores desses livros de diferenciar a Seleção Natural
da Seleção Sexual? Será que esses autores não consideram o conceito de
Seleção Sexual relevante?
Independentemente das respostas a essas questões, o que se coloca é
que a superficial abordagem do conceito de Seleção Sexual em um importante
instrumento de consulta como o livro didático, impede a oportunidade de discutir
os limites do próprio conceito de Seleção Natural. Além disso, impossibilita a
inclusão de exemplos que demonstrem os limites de explicação conceitual e
teórico da Seleção Natural, uma vez que ela não é mais entendida como capaz de
explicar toda a diversidade existente e extinta, mas apenas as características
claramente funcionais (CRONIN, 1995).
Por isso, consideramos que para uma compreensão mais abrangente e
interessante da Teoria Evolutiva é necessária, além da abordagem dos cinco
conceitos sintetizados por Mayr (2008), a inclusão do conceito de Seleção Sexual.
O entendimento desses conceitos permite uma visão mais integrada da
diversificação e evolução dos seres vivos, incluindo a compreensão de porque
muitas vezes espécies aparentadas ou que ocupam nichos semelhantes podem
ser tão diferentes em alguns aspectos morfológicos e comportamentais.
Entendendo que esses dois processos são independentes, mas complementares,
reafirmamos a necessidade de ensino da Seleção Natural e da Seleção Sexual na
sala de aula.
Tomando os livros didáticos como base, podemos sugerir que os alunos
terminam o Ensino Médio e ingressam o Ensino Superior com grandes
possibilidades de nunca terem entrado em contato com o conceito de Seleção
Sexual.
5.2 COMO A TEORIA EVOLUTIVA É CONCEITUADA NO CURSO DE
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS13
13
Os primeiros dados dessa análise foram apresentados no VI Encontro Regional de Ensino de
Biologia, com o título Licenciandos em biologia ainda apresentam dificuldades na conceituação da
Teoria Evolutiva? (NICOLINI e WAIZBORT, 2012).
lxxii
O principal objetivo dessa tese foi o desenvolvimento de uma estratégia de
ensino para o aprofundamento da discussão, na disciplina Evolução, sobre a
Teoria Evolutiva, além de tentar integrar de forma mais eficiente os conceitos de
Seleção Natural e Seleção Sexual que fazem parte dessa teoria. Entretanto, essa
teoria é abordada em diversas disciplinas do curso de graduação desde o
primeiro período. Por isso, achamos importante conhecer as formulações sobre o
tema nos materiais didáticos das disciplinas do curso de graduação sob o qual
esse projeto se debruçou.
A partir dessa ideia, também nos interessava saber quais eram as
conceituações dos alunos em questões sobre a evolução das espécies, após
várias disciplinas que discutiam o tema e com uma disciplina específica sobre o
conteúdo de evolução. Para isso, analisamos provas arquivadas da disciplina
Evolução.
Essa subdivisão do capítulo está dividida em duas partes. Na primeira é
feita a discussão sobre quais são os conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana
discutidos ao longo do curso e se estão de acordo com o que consideramos ser
os conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986; CARVALHO et al., 2011;
PEREIRA et al., 2012) da Teoria Evolutiva. Na segunda parte são caracterizadas
as respostas dadas pelos alunos em questões diretamente relacionadas com a
Teoria Evolutiva Darwiniana e se essas respostas estão de acordo com os
referenciais da área.
5.2.1 Conceituação da Teoria Evolutiva nos módulos didáticos
A escolha dos módulos para leitura e análise interpretativa (COSTA e
COSTA, 2009) foi feita a partir da ementa (ANEXO I) do curso de Ciências
Biológicas da graduação em que o projeto foi desenvolvido. Procuramos
identificar a presença ou não dos conceitos que formam a Teoria Evolutiva
Darwiniana, descrita nos referenciais dessa tese, e que também foi usada de
base para o artigo com os livros didáticos de Ensino Médio.
Os módulos escolhidos para leitura foram os das disciplinas que indicavam
na ementa que abordariam a Teoria Evolutiva, a saber: Grandes Temas em
lxxiii
Biologia (GTB)14, Diversidade dos Seres Vivos (DSV), Elementos de Ecologia e
Conservação (Eleco), Introdução à Zoologia (Introd. à Zoo), Populações,
Comunidades e Conservação (PCC) e Evolução.
A análise começou com os módulos de GTB (ESTEVES et al., 2010), pois
essa é uma disciplina obrigatoriamente cursada no primeiro período. GTB tem
como objetivo inserir os alunos nos principais temas que permeiam as Ciências
Biológicas, introduzindo conteúdos que posteriormente serão abordados de forma
mais aprofundada em disciplinas específicas. Também contribuiu para nossa
escolha o fato de que o próprio módulo indica que os conteúdos serão
apresentados em blocos e que Evolução é um desses blocos. A disciplina possui
dois módulos didáticos divididos em 22 aulas: aulas 1-4 - Evolução do conceito de
célula e da própria célula; aulas 5-7 - Estrutura e importância dos ácidos nucleicos
e projeto genoma humano; aulas 8-13 - Teoria evolutiva – história e implicações;
aulas 14-18 - Papel ecológico da água e degradação ambiental dos ecossistemas
aquáticos; e aulas 19-22 - Anticorpos.
A disciplina DSV (RUSSO et al., 2010) é obrigatória e oferecida no
segundo período. O conteúdo dessa disciplina está organizado em três módulos
com 32 aulas ao todo e tem como objetivo discutir a origem e manutenção da
diversidade de seres vivos.
A disciplina ELECO (SILVA et al., 2010) ocorre também no segundo
período, possui dois módulos didáticos com 25 aulas ao todo e tem como objetivo
caracterizar a ecologia, mostrando estudos atuais da área, usando como exemplo
a prática de pesquisadores que fazem parte da instituição associada à disciplina.
Como procura explicar as relações entre os seres vivos e desses com o meio,
entendendo que são as interações ocorridas que determinam os perfis
populacionais das diferentes espécies de seres vivos, a disciplina se propõe a
usar conceitos da Teoria Evolutiva para ajudar na compreensão e explicação
dessa dinâmica.
A disciplina Introd. à Zoo é oferecida no terceiro período e possui quatro
módulos didáticos com 31 aulas. Após os alunos terem estudado em DSV um
pouco de cada reino atual e da história dos seres vivos na Terra, a presente
14
Apesar de na ementa dessa disciplina não estar indicado se a Teoria Evolutiva será abordada
nas aulas, minha participação como tutora nessa graduação me permitiu saber que um dos temas
que os autores desse módulo consideram como fundamental para as Ciências Biológicas era a
Teoria Evolutiva e, por isso, esse módulo também foi selecionado.
lxxiv
disciplina pretende caracterizar o que é o Reino Animal e como ocorre o estudo
dos seres desse grupo.
A disciplina PCC (VIEIRA et al., 2010) é uma disciplina do sétimo período e
possui três módulos didáticos com 30 aulas, sendo as aulas 5, 9, 18, 26, 27, 29 e
30 aulas práticas.
A disciplina Evolução (SOLÉ-CAVA et al., 2008) é característica do oitavo
período e possui três módulos didáticos com 30 aulas. Por estar nominalmente
relacionada com a Teoria Evolutiva e sua ampla abordagem, nos detivemos nos
aspectos relacionados com a conceituação dos processos de Seleção Natural e
Seleção Sexual, com possíveis discussões em relação à evolução da espécie
humana, sem nos aprofundarmos em outros conceitos que são apresentados nos
módulos.
O quadro abaixo (Quadro 5.3) mostra a presença ou ausência dos cinco
conceitos darwinianos e da Seleção Sexual nesses módulos, permitindo a
discussão de como esses conceitos foram apresentados em cada disciplina.
Conceitos
Grandes Temas
em Biologia
Diversidade dos
Seres Vivos
Elementos de
Ecologia e
Conservação
Introdução à
Zoologia
Populações,
Comunidades e
Conservação
Evolução
Quadro 5.3 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento
Darwiniano
Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente
Evolução como fato
Origem Comum
Gradualismo
Especiação
Seleção Natural
Seleção Sexual
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
+
-
+
+
+
+
-
+
+
-
+
+
+
+
+
+
5.2.1.1 Grandes Temas em Biologia (GTB)
lxxv
Desde o início do módulo até a parte específica sobre a Teoria Evolutiva o
texto indica que os temas serão abordados de uma perspectiva da história
evolutiva, dos eventos que permitiram a evolução dos seres vivos desde os
primórdios da Terra. Conceitos como ‘adaptação’, ‘evolução’, ‘vantagens
evolutivas’, ‘árvore evolutiva’, ‘seleção natural’ e ‘história evolutiva’ são utilizados
ao longo do texto.
As aulas 8-13 são focadas diretamente no desenvolvimento da Teoria
Evolutiva e de sua utilização nos estudos em Biologia. As aulas explicam que a
teoria de Darwin está baseada nas seguintes proposições: os indivíduos de uma
espécie produzem mais filhotes do que chegam à idade adulta; há uma grande
mortalidade nas populações naturais; alguns indivíduos estão mais bem
adaptados do que outros (Seleção Natural); as gerações subsequentes manterão
as características adaptativas cuja frequência aumentará. As aulas também
explicam que as pequenas variações (chamadas de mutações), que são as
formas de introdução de novidades genéticas, surgem ao acaso e se acumulam
pela ação da Seleção Natural, num processo lento e gradual.
Os autores indicam que a Seleção Natural é a principal forma de
modificação das espécies, mas não a única e apresentam a Seleção Sexual como
um tipo de Seleção Natural. Os autores descrevem que esse processo está
relacionado com o dimorfismo sexual e com características extravagantes, que
normalmente são encontradas apenas nos machos, ou seja, os machos se
exibem e as fêmeas escolhem, sendo tais características adaptativas, pois
aumentam a chance de acasalamento.
Podemos considerar que os autores das aulas, na abordagem geral da
disciplina, procuram deixar claro que os estudos evolutivos são reconstruções
históricas sobre os eventos que moldaram a diversidade de seres vivos. Esses
eventos podem ser entendidos como o aparecimento de alternativas novas
(através de mutações e recombinações) que contribuíram e contribuem para a
solução de problemas impostos pelo ambiente, ou seja, a ideia da ação temporal
e local da Seleção Natural, destacando que o que evolui são as espécies ou
populações e não os indivíduos. Sendo assim, foram apresentados os aspectos
relacionados ao desenvolvimento da Teoria Evolutiva, de forma bem detalhada,
com exemplos e de acordo com os referenciais da área.
lxxvi
5.2.1.2 Diversidade dos Seres Vivos (DSV)
A DSV tem como objetivo caracterizar a biodiversidade existente na Terra e
sua origem. Nas primeiras cinco aulas os autores definem o que é biodiversidade
e como o pensamento evolutivo se relaciona com o entendimento da história dos
grupos taxonômicos, tendo como conceito norteador a Seleção Natural e suas
implicações, em associação com a sistemática filogenética (ciência taxonômica
que leva até as últimas consequências a ideia de relações de parentesco ou de
origem comum).
Em função disso, os autores das aulas destacam que “quando estamos
descrevendo a diversidade dos seres vivos, a questão central está justamente no
reconhecimento dos agrupamentos “naturais”, ou seja, naqueles que possuem
sentido biológico real” (RUSSO et al., 2010, p.10, mod.1). Os autores definem que
os sistemas biológicos se caracterizam pelas relações entre linhagens ancestrais
- linhagens descendentes indicando as relações de parentesco entre as espécies.
Com esses conceitos já deve ficar claro para o aluno que a disciplina usará
a história evolutiva dos grupos como apoio para a compreensão do surgimento e
manutenção, ou não, das diversas características dos seres vivos, ideia já
presente em GTB.
Ainda sobre o processo de diversificação das espécies ao longo do tempo,
os autores das aulas deixam claro que é a ocorrência de mutações ao acaso que
permite a geração de variações de características nas populações. Tais mutações
não possuem um objetivo, uma intenção, mas em função do ambiente em que o
indivíduo se encontra, as novas variações podem alterar ou não o valor adaptativo
da característica, sendo a Seleção Natural um dos principais mecanismos de
modificação das características das espécies ao longo do tempo.
Os autores dos módulos também deixam evidente que as características
homólogas são importantes para o entendimento da história evolutiva dos grupos,
pois são características que têm origem em um ancestral comum. Com isso,
podemos perceber que os conceitos de Especiação, Origem Comum e Seleção
Natural (MAYR, 1998) fazem parte do corpo teórico dessas aulas.
A partir da aula 6 é iniciada a história da diversificação dos seres vivos. Os
autores começam com a origem da vida, usando os referenciais da evolução
química (VIEYRA e SOUZA-BARROS, 2000; ZAIA, 2003; PERETÓ, 2005;
DAMINELI e DAMINELI, 2007) descrevendo a formação das primeiras
lxxvii
macromoléculas, mostrando a diversificação dos procariontes, eucariontes, o
surgimento da multicelularidade, passando pela caracterização dos diferentes
reinos, até a formação da espécie humana, na aula 32 (última aula). Nessas
aulas, sempre é solicitado que o aluno relacione as novas características com os
passos evolutivos que seriam importantes nessa diversificação, desde aspectos
moleculares até o nicho ecológico ocupado.
Nessa disciplina é dado o mesmo enfoque de GTB, que é mostrar como os
grandes grupos atuais surgiram e se diversificaram e, para isso, os autores usam
a Teoria Evolutiva como explicação.
5.2.1.3 Elementos de Ecologia e Conservação (Eleco)
Nas aulas iniciais dessa disciplina, os autores fazem uma caracterização
histórica das concepções que já existiram sobre os seres vivos e suas
modificações ao longo do tempo. Também apresentam Charles Darwin e A
origem das espécies, com a ideia de Seleção Natural, como uma explicação
revolucionária sobre a evolução dos seres vivos. Inclusive, citam que
pesquisadores atuais consideram Darwin como o pai da moderna ecologia, por
usar termos como economia da natureza, lugares e vagas que podem ser
entendidos como ecossistemas, nichos e nichos vagos, respectivamente. Além
disso, os autores das aulas fazem referências explícitas ao princípio da exclusão
competitiva, das interações entre os seres vivos e deles com o ambiente como
fatores fundamentais na mudança das espécies ao longo do tempo.
Os autores descrevem qual é o campo de atuação da Ecologia, mostrando
que ao longo do tempo geológico o ambiente sofreu muitas mudanças e que isso
teve reflexo na organização dos seres vivos, uma vez que o ambiente age como
um selecionador dos organismos que possuem as melhores características para
ocupação dos diversos nichos ecológicos.
Nessa disciplina não há uma descrição histórica da Teoria Evolutiva, nem o
detalhamento de seus conceitos principais, pois, como destacam os autores, isso
já havia sido feito em outras disciplinas, anteriores ou de mesmo período. Porém,
os autores indicam que é fundamental unir o processo de Seleção Natural com os
estudos ecológicos, mostrando que a Teoria Evolutiva é um tema integrador das
Ciências Biológicas.
lxxviii
5.2.1.4 Introdução à Zoologia (Introd. à Zoo)
Os autores das aulas dessa disciplina definem a zoologia como “a ciência
que estuda os animais sob os mais diversos aspectos, como as diferentes formas
do corpo, seu funcionamento e suas relações com o meio ambiente” (FERREIRAJUNIOR e PAIVA, 2010, p. 17, mod. 1). Eles destacam que a zoologia procura,
por meio de estudos comparativos, entender como os grupos animais se
relacionam e como essa relação é resultado dos processos evolutivos, ou seja, as
perguntas de por que determinada estrutura é de tal forma no momento presente
(causa próxima) nos permite fazer uma retrospectiva histórica e fazer inferências
sobre as possíveis variações existentes na população ancestral e nas pressões
seletivas sofridas por ela (causa última ou histórica), permitindo a compreensão
da história da vida na Terra.
Essa disciplina, por procurar entender a história evolutiva dos animais, irá
usar a Biologia Comparada como forma de tentar reconstruir a história evolutiva
dos grupos e as relações de parentesco entre eles. Para que tal abordagem seja
feita, é necessária a inclusão dos conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana, pois
apresenta os argumentos de que os organismos mudaram ao longo do tempo e
de como essas mudanças ocorreram.
O primeiro conceito que deve ficar claro para os alunos e que é usado nos
estudos de biologia comparada é o de homologia e da transformação de
caracteres, pois estruturas homólogas em diferentes espécies indicam uma
ancestralidade comum e, com isso, uma relação de parentesco. Esse conceito é
diferenciado do de analogia, que é a existência de estruturas semelhantes,
normalmente quando os organismos ocupam nichos ecológicos ou ambientes
parecidos, mas que surgiram de forma independente em cada grupo, não
indicando uma relação de parentesco. Por isso, deve estar muito claro como o
pesquisador está determinando se uma estrutura é homóloga ou análoga.
Com a modificação das estruturas, ocorre “a evolução dos caracteres, no
sentido de mudança e não de melhoria, (...) ao longo do tempo em toda uma
população” (FERREIRA JUNIOR e PAIVA, 2010, p. 39, mod. 1).
Os módulos 2, 3 e 4, a partir da aula 14 até a aula final, descrevem a
origem dos metazoários e os diferentes planos corpóreos e seus sistemas,
mostrando que mudanças ocorreram e que vantagens trouxeram de acordo com
os diferentes modos de vida. Na apresentação desses conteúdos são usados
lxxix
conceitos como pressões seletivas e adaptações, evolução e relações de
parentesco, mas sem a descrição em detalhes do conceito de Seleção Natural,
provavelmente presumindo que isso já foi feito em outras disciplinas.
5.2.1.5 Populações, Comunidades e Conservação (PCC)
No primeiro volume (aulas 1 a 10), não existe tanta relação entre os
conteúdos das aulas e a Teoria Evolutiva, pois os autores fazem a caracterização
de população e de como devemos reconhecê-las no ambiente, a fim de delimitá-la
para que possamos estudá-la.
Entretanto, na primeira aula, os autores usam como definição para
população os “indivíduos que guardam afinidades filogenéticas (de parentesco)
bem próximas entre si, mantêm relações ecológicas bastante intensas e
apresentam papel ecológico bem semelhante na comunidade” (VIEIRA et al.,
2010, p.8, mod. 1), ou seja, as populações são formadas por indivíduos que
mantêm fluxo gênico. Essa definição é muito próxima daquelas feitas por
estudiosos da evolução, pois são as populações que evoluem, que mudam de
perfil fenotípico e genotípico ao longo do tempo (RIDLEY, 2006; MAYR, 2008).
Entre as aulas 10 (volume 1) e 14 (volume 2) são discutidos em maiores
detalhes como os fatores bióticos e abióticos influenciam na distribuição dos seres
vivos e a determinação das características dos indivíduos que fazem parte de
uma população. Os autores definem que o termo adaptação em Ecologia, deverá
ser usado no sentido evolutivo, mais precisamente, com o mesmo significado que
na Teoria Sintética de Evolução: “como um processo ou caráter que resulte de
seleção natural” (VIEIRA et al., 2010, p.154, mod. 1). Sendo assim, não definem a
Teoria Evolutiva e nem os passos para entender como foi formulada, mas
implicitamente reafirmam que para que ocorra a evolução das populações deve
existir variação individual, a herança das características e o sucesso reprodutivo
diferente entre os indivíduos.
Nesse caso, os autores apresentam aos alunos mais uma definição de
Evolução, aceita por muitos cientistas, que é a mudança da composição genética
da população ao longo do tempo e de que o conceito de evolução das espécies
não deve estar associado à ideia de progresso.
É interessante ressaltar que na página 157 do módulo 1 existem dois boxes
que procuram relembrar erros comuns relacionados à Teoria Evolutiva e como
lxxx
evitá-los. O primeiro está associado à ideia de que os mais aptos são os mais
fortes ou que vivem mais. Na realidade, a aptidão está relacionada com a
capacidade de sobreviver, chegar à idade reprodutiva e deixar mais descendentes
férteis, perpetuando assim seus genes para as futuras gerações. No segundo,
indicam que devemos tomar cuidado com a noção de que uma determinada
espécie está bem adaptada, pois esse é um conceito relativo, dependendo de
uma escala espacial e temporal, uma vez que se o ambiente muda, o valor
adaptativo também muda e com isso novos processos seletivos deverão ocorrer.
Mesmo assim, ainda destacam que devemos prestar atenção para não
generalizar que todas as características são adaptativas, pois a deriva gênica, a
pleiotropia e outros fatores também contribuem para o perfil genético da
população.
Porém, para os autores os alunos devem compreender que as
características claramente relacionadas com a sobrevivência provavelmente
foram moldadas pelo processo de Seleção Natural.
Por último, embora nessa disciplina não ocorra mais a demonstração da
história da Teoria Evolutiva, seus conceitos são usados e os autores fazem
referência aos módulos da disciplina Evolução, além de usar exemplos bem
conhecidos do tema ao apresentarem seus conteúdos.
5.2.1.6 Evolução
Logo nas primeiras aulas dessa disciplina (1 a 10), os autores apontam que
a evolução é a explicação integradora da biodiversidade em todos os seus níveis,
ideia que está de acordo com diversos referenciais da área, pois é o processo
evolutivo que nos liga a todos os seres vivos através dos laços de ancestralidade
e permite a explicação das relações de parentesco entre os seres vivos,
facilitando a compreensão do mundo atual.
Os autores também definem como evolução a “mudança nos genes ou em
suas proporções nas populações” (SOLÉ-CAVA et al., 2008, p. 8, mod.1),
destacando que o processo evolutivo é a mudança, e não o progresso, e que ter
uma característica boa ou ruim está relacionado com o contexto histórico dessa
característica. Essa abordagem ocorreu em outras disciplinas do curso, indicando
coerência e continuidade entre as disciplinas no que se refere à Teoria Evolutiva.
lxxxi
Ainda nas primeiras aulas, os autores trabalham diversos exemplos de
evidências de que a Evolução ocorreu, embora ainda não discutam os processos
evolutivos. Mais uma vez os autores de módulos de disciplinas de períodos mais
adiante fazem referência a outras aulas do curso de graduação, mostrando que a
Teoria Evolutiva é um tema que deve permear todo o curso em questão.
Essas aulas usam alguns conceitos que Mayr (2008) indica como sendo
integrantes da Teoria Evolutiva de Darwin e que utilizamos como referencial
dessa tese, principalmente a ideia de Origem Comum. Esse conceito permite o
entendimento das relações de parentesco entre os grupos e do processo de
especiação, a partir das diferenças acumuladas entre eles. Os autores usam
termos como mutação e Seleção Natural sem entrar em detalhes de sua
importância para o entendimento da história evolutiva dos grupos, além de
destacarem que as espécies estão adaptadas ao ambiente que ocupam, mas que
essa adaptação não é intencional, mas sim local e temporal.
Nessas aulas iniciais também é ressaltado que Darwin não foi o primeiro a
propor explicações sobre a biodiversidade existente. Antes dele, Lamarck e
Erasmus Darwin já tinham desenvolvido ideias sobre a mudança das espécies ao
longo do tempo, mas os mecanismos propostos por esses autores não foram
aceitos, ao contrário dos mecanismos desenvolvidos por Darwin em sua teoria.
Sendo assim, a Teoria Evolutiva de Darwin possui um caráter unificador
(FUTUYMA, 2002) e ainda está na base da Teoria Evolutiva Moderna (MAYR,
2008).
Os autores das aulas destacam que uma das grandes novidades inserida
por Darwin em sua teoria é a percepção da importância das variações entre os
indivíduos de uma espécie. Mesmo possuindo continuidade ao longo do tempo
pelo processo de reprodução, existem variações entre os componentes das
espécies, sendo esse o material da evolução. Com isso, inserem o conceito de
especiação, como “processo de transformação de variação intrapopulacional em
variação interpopulacional” (SOLÉ-CAVA et al., 2008, p. 46, mod.1). Com esse
conceito, se estabelece a origem comum dos organismos, além de incluir o acaso
em oposição à ideia de progresso no processo evolutivo.
Nas aulas anteriores que as específicas sobre Seleção Natural (aulas 13 a
15) são apresentados conceitos da genética de populações, mostrando que as
populações são as unidades básicas de alterações evolutivas. Apresentam como
os estudos evolutivos estão interessados na composição genética dos indivíduos
lxxxii
e também na transmissão dos caracteres para as gerações seguintes, pois, se as
novidades não são passadas adiante, se perdem e não contribuem para
mudanças nos perfis genotípicos e fenotípicos da espécie, não fazendo parte do
fundo de genes da população.
Um importante conceito desenvolvido pelos autores é o de mutação. Sendo
descrito o que é e como ocorrem, avaliando seus efeitos como sendo uma das
causas que permitem a variabilidade genética e, como consequência, a mudança
das espécies ao longo do tempo, ou seja, a Evolução. De uma perspectiva mais
ampla, as mutações geram a variabilidade, permitindo a atuação dos demais
processos evolutivos: seleção natural e deriva gênica. Entretanto, para que o
entendimento do processo evolutivo ocorra com mais clareza, os alunos precisam
entender que somente as mutações nos gametas é que são herdáveis e que
podem garantir a inserção de novos alelos na população.
Nas aulas que abordam de forma específica o conceito de Seleção Natural,
os autores definem esse processo como a mortalidade ou sobrevivência
diferencial a partir das variações existentes na população, o que leva à
descendência com modificação, podendo levar ao processo de especiação.
Sendo assim, a ação da Seleção Natural muda as características de uma
população, por mudar a sua frequência gênica, e leva à adaptação das espécies.
Por focarem na atuação da Seleção Natural, os autores explicam o termo
adaptação na perspectiva darwiniana, indicando que a Seleção Natural não tem
uma intenção e que os organismos não mudam intencionalmente para se adaptar
ao ambiente. Procuram demonstrar que o ambiente não é formado apenas pelos
fatores abióticos, mas também por fatores bióticos, que são estabelecidos nas
relações entre os seres vivos, como foi bem destacado em diversas aulas da
disciplina PCC. Os autores também inserem o termo Especiação, um dos
conceitos que já estava no livro original de Darwin, A Origem das Espécies
(2002).
Durante as aulas sobre Seleção Natural, os autores abordam o conceito de
Seleção Sexual. Para que esse conceito seja apresentado, os autores relembram
que a Seleção Natural atua selecionando características que aumentam as
chances de sobrevivência, mas que algumas espécies possuem caracteres que
atuam de forma negativa na sobrevivência e que, por isso, são chamados de
deletérios, sendo os caracteres sexuais secundários um exemplo disso.
lxxxiii
Os autores destacam, então, que a explicação proposta por Darwin seria a
de que os caracteres sexuais secundários evoluíram por Seleção Sexual, que
seria a vantagem que certos indivíduos possuem sobre outros no que se refere
apenas à reprodução, ou seja, não existe vantagem na sobrevivência e sim na
busca por um parceiro potencial. Além disso, diferenciam a seleção intrassexual
(competição entre machos pela fêmea ou por recursos) da intersexual (seleção
pelas fêmeas dos machos com os quais irão se acasalar).
Os autores discutem brevemente a evolução do sexo, que, apesar de ser
custoso em termos energéticos, deve ter sido selecionado em função das
vantagens inerentes ao processo: criação de variabilidade genética entre os
indivíduos. Não aprofundam a discussão, que poderia ser feita incluindo a
existência de diferenças entre machos e fêmeas, não só em termos estruturais,
como também comportamentais.
Ao abordarem o tema de coevolução entre espécies, os autores mostram
que a interação entre as espécies molda as respostas de cada uma, o que leva ao
processo evolutivo. Usam como exemplos principais as relações entre predador e
presa e entre parasita e hospedeiro, indicando que essa última já tinha sido
descrita por Van Valen que chamou como o Paradoxo da Rainha Vermelha, que
seria uma corrida armamentista entre o parasita e seu hospedeiro, em referência
ao livro Alice através do espelho. Esse paradoxo também tem sido utilizado, em
associação com a Seleção Sexual, para explicar diferenças estruturais e
comportamentais entre machos e fêmeas, e entre espécies aparentadas em
relação às características custosas, que podem ser interpretadas como
indicadoras de bons genes (MILLER, 2000).
Existe também uma aula (25) que discute a evolução humana, mas só são
abordadas as diferenças de alelos nas diversas populações e de como as
migrações podem ter contribuído para essas diferenciações. Entretanto, não se
discutem as bases biológicas e culturais de nossa espécie e dos processos que
influenciaram na sobrevivência de uma espécie única, Homo sapiens, em relação
às demais do gênero Homo, com diversas expressões culturais.
5.2.1.7 Compilação dos dados sobre os módulos
Após a leitura desses módulos, conclui-se que, de forma geral, os
principais conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986) da Teoria Evolutiva
lxxxiv
Darwiniana - Evolução como fato, Origem Comum, Gradualismo, Especiação e
Seleção Natural -, com suas atualizações e relações com outras áreas, são
apresentados de forma satisfatória.
Além disso, as disciplinas GTB, DSV, Introd. à Zoo, PCC e Evolução
apresentam a importância evolutiva da reprodução sexuada e/ou o conceito de
Seleção Sexual.
No que se refere à reprodução sexuada, as disciplinas apresentam três
vantagens do sexo. A primeira delas decorre da recombinação gênica que ocorre
na meiose para a produção de gametas (o indivíduo já é capaz de produzir
gametas diferenciados). A segunda é que o sexo gera prole mais diversificada e
com isso a espécie acaba tendo um maior repertório de possibilidades para lidar
com o meio em que está inserido. E a terceira é a hipótese da Rainha Vermelha,
na qual as variações permitem o surgimento de novas estratégias no combate aos
parasitas, que normalmente possuem um ciclo de vida mais curto e, com isso,
evoluem muito mais rapidamente.
Novamente é apresentada a ideia de que os filhos é que são os grandes
beneficiados desse processo, que se justifica pela manutenção dos genes no
fundo genético da população. Logo, o indivíduo que tiver um sucesso reprodutivo
estará contribuindo com seus genes para as futuras gerações (DAWKINS, 2001).
O conceito de Seleção Sexual, não é apresentado em todas as disciplinas,
apenas em GTB e Evolução, embora disciplinas como DSV e Introd. à Zoo
descrevam esse processo, mas não o nomeiem. Nas disciplinas que apresentam
esse conceito, ele é colocado como um tipo de Seleção Natural.
Darwin destacava que no que se refere aos comportamentos e estruturas
extravagantes, a Seleção Natural não era capaz de explicar de forma satisfatória
seu surgimento e manutenção. Já o conceito de Seleção Sexual explica de forma
mais adequada as características extravagantes.
Como as características selecionadas pela Seleção Sexual também são
consideradas indicativas de bons genes e custosas, deve existir um equilíbrio
entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual para que a espécie se mantenha ao
longo do tempo.
Ao longo do curso semipresencial de Licenciatura em Ciências Biológicas,
deve ficar claro para os alunos que as espécies mudaram ao longo do tempo e
que essas mudanças surgem por mutações ao acaso, que podem ser neutras ou
lxxxv
não. Quando a nova característica não é neutra, ocorre a atuação da Seleção
Natural.
Conceitualmente, podemos considerar que a Teoria da evolução como fato,
a Teoria da origem comum, a Teoria do gradualismo, a Teoria de especiação e
Teoria da seleção natural (MAYR, 2008) estão presentes nas disciplinas, sendo
muito bem discutidas e caracterizadas.
Entretanto, a apresentação do processo de Seleção Sexual é bem
reduzida. Com isso, julgamos que as atividades didáticas desenvolvidas poderão
contribuir para uma melhor caracterização da Teoria Evolutiva para os alunos no
final do curso.
5.2.2 Apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva pelos alunos da
disciplina Evolução
A constatação de que a Teoria Evolutiva é abordada em diversas
disciplinas desse curso de graduação e de que os alunos possuem uma disciplina
específica sobre o tema, leva ao questionamento de como são elaboradas as
respostas dos alunos às questões referentes aos problemas que utilizem a Teoria
Evolutiva, nas avaliações presenciais da disciplina Evolução.
Esse questionamento também é justificado pelo fato de diversos autores
indicarem que a Teoria Evolutiva ainda é um tema de difícil compreensão por
parte de alunos e professores (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004;
TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007;
TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011).
Além disso, os alunos dessa graduação estarão habilitados para o
magistério na Educação Básica e documentos indicam que a Teoria Evolutiva
deve ser ensinada desde as séries iniciais desse faixa de educação (FUTUYMA,
2002; BRASIL, 2006).
As respostas das avaliações de quatro semestres (2008-1, 2008-2, 2009-1
e 2009-2) dessa graduação foram analisadas e categorizadas. Após a escolha de
quais questões seriam analisadas em cada avaliação, foi feita a categorização
das respostas em corretas, incompletas e incorretas, a partir de um gabarito feito
lxxxvi
por nós. O quantitativo de respostas para cada categoria, por semestre, encontrase na tabela abaixo (Tabela 5.3). Após essa categorização, iremos discutir as
respostas dos alunos, por questão, a partir dos referenciais utilizados nessa
pesquisa. Como estavam presentes questões que se repetiam de um semestre
para o outro, nomeamos as questões e as analisamos em conjunto.
Tabela 5.3 – Distribuição das respostas por categorias
Nome das questões
2008-1
Penicilina
Flamingos
Só teoria?
AP1 - Q7
AP2 - Q5
AP3 - Q2
Correta
27
9
23
Incompleta
15
18
10
Incorreta
9
19
2
Não escolheu a questão
34
25
2
Flamingos
Complexidade
Nome das questões
Seleção
Natural
AP1 – Q10
AP2 – Q6
AP3 - Q2
Correta
10
6
12
Incompleta
50
33
10
Incorreta
9
18
20
Não escolheu a questão
15
19
3
2008-2
Nome das questões
2009-1
Seleção
Natural
Mutação
Mutação /
Evolução
AP1 - Q5
AP1 - Q7
AP1 - Q9
Tautologia
Seleção
Natural
AP2 - Q4
Só teoria?
AP3 - Q2
Correta
6
7
3
4
23
Incompleta
48
44
41
8
10
Incorreta
25
21
25
33
7
Não escolheu a questão
8
15
18
14
0
Nome das questões
Raios UV
AP1 - Q7
Seleção
Sexual
AP2 - Q5
Correta
44
5
Compareceram
Incompleta
14
11
53
Incorreta
45
38
Não escolheu a questão
12
36
2009-2
5.2.2.1 Questão “Penicilina”
lxxxvii
AP3
Questão: Quando surgiu a penicilina praticamente todas as infecções
bacterianas passaram a ser facilmente controláveis. No entanto, depois de algum
tempo a penicilina deixou de ser um antibiótico universal, devido ao aparecimento
de resistência nas bactérias a esse antibiótico. Novos antibióticos foram, então,
desenvolvidos, mas para cada antibiótico, depois de um tempo, aparecem formas
resistentes. Explique esse processo evolutivamente, mostrando que forças
evolutivas devem estar ocorrendo nessas populações bacterianas.
Gabarito: No processo de reprodução e replicação do material genético
podem ocorrer erros ao acaso, chamados de mutação, que podem ser neutras ou
não. Quando as mutações são benéficas ou maléficas, passam a ser
selecionadas positiva ou negativamente de acordo com seu valor adaptativo. No
caso das bactérias, devem ter surgido mutações ao acaso que conferiam
resistência ao antibiótico, estas bactérias foram selecionadas positivamente,
sobrevivendo e passando esta característica adiante, mudando o perfil da
população.
Categorização das respostas:
Categoria correta: que inclua referências às mutações ao acaso + mudança
de valor adaptativo + atuação da seleção natural.
Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas
etapas, mas que não tenham incluído todas elas.
Categoria incorreta: todas as respostas que tiverem menção ao uso e
desuso e/ou herança dos caracteres adquiridos.
Essa questão foi escolhida por mais da metade dos alunos que fizeram a
avaliação e teve grande quantidade de acertos. Abaixo, no Quadro 5.4,
oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.4 – Questão Penicilina: exemplos de respostas por categoria
Correta
“A aquisição de resistência em populações
bacterianas aos mais diversos antibióticos
é uma evidência poderosa de evolução por
seleção natural de variações que
apresentam maior adaptabilidade. As
forças evolutivas que operam neste
exemplo são: 1°) mutações e variações
genéticas nas populações de bactérias; 2°)
mortalidade do padrão menos resistente
em face à nova condição imposta pelo
ambiente (no caso, os antibióticos); 3°)
seleção das bactérias que apresentam a
variação de resistência e perpetuação dos
descendentes; e 4°) especiação (formação
Incompleta
“Neste caso apresentado foi
evidente que está havendo um
processo
evolutivo.
Inicialmente
as
bactérias
morriam facilmente quando
submetidas a penicilina. Neste
ambiente a penicilina passou a
selecionar as bactérias mais
adaptadas. As bactérias que
eram mais resistentes ao
antibiótico foram selecionadas
pelo meio. Com o tempo uma
nova geração de bactérias
resistentes
ao
antibiótico
lxxxviii
Incorreta
“As forças evolutivas que
ocorrem nas populações
bacterianas
são
as
adaptações
ao
meio,
comportamentais e para a
sua
sobrevivência.
A
espécie está ameaçada e
se
adapta
a
nova
necessidade e as gerações
que sobrevivem passam
essa defesa para a sua
prole e uma vez adaptada
fica mais fácil uma futura
adaptação à um novo
de novas unidades populacionais ou
transformação
de
variações
intrapopulacionais
em
variações
interpopulacionais)”. (Aluno 4 – Petrópolis)
estava formada. E o mesmo
vem ocorrendo com novos
antibióticos”. (Aluno 7 - Volta
Redonda)
obstáculo ou antibiótico”.
(Aluno 5 – Macaé)
Essa questão aborda um tema que é recorrente: a resistência aos
antibióticos. Entender como ocorre o surgimento de variantes resistentes e as
consequências disso no tratamento de doenças infecciosas permite a tomada de
decisões mais conscientes, como sugerido em documentos oficiais da educação
brasileira que espera a formação de cidadãos críticos, conscientes e alfabetizados
cientificamente (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006).
Extrapolando para esse curso de graduação, um aluno que domine esse
tema agora, provavelmente poderá discuti-lo de forma mais adequada em suas
aulas futuras. Essa questão também permite a integração de diversos temas da
Biologia, como a diversidade de seres vivos, o que define as características de
cada ser vivo/espécie, hereditariedade, educação em saúde e modificação das
espécies ao longo do tempo.
Nas respostas corretas encontramos desde respostas curtas e objetivas,
até respostas longas, mas que apresentavam a ideia de variação entre os
indivíduos da população, a partir de mutações ao acaso, associado ao fato de o
antibiótico modificar o meio e, com isso, ocorrer a seleção de variantes mais
resistentes.
As respostas consideradas incompletas foram classificadas assim quando:
não indicavam as mutações ao acaso como a fonte das variações, ou porque o
aluno não indicou que a Seleção Natural é o processo que atua nas variações
intrapopulacionais. Houve também respostas que misturavam os conceitos de
processos seletivos com processos ao acaso, ou seja, a fixação de características
na população em função da deriva gênica. Nós as consideramos incompletas
porque embora Darwin não tenha se proposto a explicar em sua teoria como
ocorriam as variações entre os indivíduos, e o próprio Darwin cita essa dificuldade
em sua teoria, hoje em dia esse processo está bem estabelecido, principalmente
com os avanços da biologia molecular ao longo da segunda metade do século XX
(MAYR, 2008; DARWIN, 2002).
Em relação à confusão com os processos de deriva gênica, é importante
que o aluno saiba que a resistência aos antibióticos é uma característica
claramente adaptativa e que, por isso, deve ter sido estabelecida pelo processo
de Seleção Natural, uma vez que a deriva gênica atua mais fortemente em
lxxxix
características neutras, que não mudam o valor adaptativo da característica
(MAYR, 2008).
As respostas consideradas incorretas apresentavam, principalmente, a
ideia de objetivo da mutação ou da mudança da característica – resistência ao
antibiótico – para que o indivíduo se adapte ou consiga sobreviver. Sabe-se que
naquele momento essa dificuldade não deveria estar presente, pois as diversas
disciplinas ao longo do curso que abordam a Teoria Evolutiva em suas aulas
fazem questão de ressaltar que as mutações e a seleção natural são processos
que não são conscientes, controláveis e não possuem como objetivo mudar para
se adequar ao ambiente.
5.2.2.2 Questão “Flamingo”
Questão: Todos os caracteres dos seres vivos existem por algum motivo.
Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como uma
camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o espírito
adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos
seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do
flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua
coloração.
Gabarito: A) Porque existem mutações neutras. B) Porque algo que foi
adaptativo no passado pode não sê-lo hoje; alimentação.
Categorização das respostas:
Letra A
Categoria correta: menção às mutações neutras ou características neutras.
Categoria incompleta: explica, mas não nomeia.
Categoria incorreta: se responder incluindo valores adaptativos nas
mutações ou características.
Letra B
Categoria correta: características podem deixar de ser adaptativas ao longo
do tempo ou alimentação.
Categoria incompleta: explica, mas não nomeia.
Categoria incorreta: se responder incluindo a noção de adaptabilidade ou
usar como exemplo a seleção sexual ou uso de respostas lamarckistas.
Essa questão também foi escolhida por mais da metade dos alunos, nos
dois semestres em que fez parte da avaliação (2008-1 e 2008-2). Porém, a maior
xc
parte das respostas não estava de acordo com o que era esperado. No Quadro
5.5 oferecemos exemplos de respostas classificadas em cada uma das três
categorias:
Quadro 5.5 – Questão Flamingo: exemplos de respostas por categoria
Correta
“A) Porque nem toda característica
ou alteração que os organismos
apresentam pode ser traduzida
como uma vantagem adaptativa.
As alterações não tem o propósito
de tornar o organismo mais
adaptado. Algumas características
são neutras adaptativamente. B) A
coloração dos flamingos pode ser
devido
a
alguma
proteína
depositada nas penas, que seja de
fonte alimentícia. Ao consumirem
determinado alimento que tenha
esta proteína, ela pode não ser
processada pelo organismo, se
depositando
nas
penas.
A
coloração é função exclusiva da
expressão gênica de determinados
alelos neutros adaptativamente”.
(Aluno 11 - Nova Friburgo – 20092)
Incompleta
“A) Existem características
que não tem motivo para
existir ou não são vantajosas
para
a
espécie,
mas
permaneceram ao longo da
evolução. Isso ocorre porque a
evolução não é um processo
finalista. As características dos
seres
vivos
não
foram
projetadas de acordo com o
ambiente
e
perfeitamente
adaptáveis
a
ele,
elas
surgiram através de mutações,
ao acaso. Por isso nem tudo é
adaptativo. B) A coloração dos
flamingos pode ter sido
selecionada por atrair de
forma eficaz os parceiros
sexuais ou por efeito carona
dos genes”. (Aluna 2 - Nova
Friburgo – 2009-2)
Incorreta
“A) De alguma forma, uma
característica permanece numa
população de mesma espécie
por ter passado por alguma
seleção, que deixou fixar essa
característica, de adequando e
se adaptando no lugar que vive.
Não sendo uma desvantagem
pra essa espécie. B) O flamingo
de cor rosa choque teve essa
coloração para demonstrar que
está
pronto
para
o
acasalamento. Do tipo “veja
como sou lindo!” Chamando
atenção do parceiro que aprova
devido a sua característica.
Essa coloração mostra que o
animal está saudável para
acasalar”. (Aluno 5 - Campo
Grande – 2009-1)
Essa questão pode ser considerada mais complexa que a anterior, pois foi
oferecida uma situação para análise. Em suas respostas os alunos deveriam
diferenciar conceitos como seleção natural, valor adaptativo e deriva gênica. Essa
integração de conceitos pode ter contribuído para as dificuldades encontradas.
Os alunos que tiveram suas respostas classificadas como corretas
souberam diferenciar processos seletivos dos processos de deriva gênica como
situações diferentes nas mudanças e fixação de características nas populações
de seres vivos.
A maioria das respostas classificadas como incompletas foram assim
classificadas, pois o aluno poderia acertar a letra A ou a B. Na maioria das vezes
o aluno só acertou a letra B que era a sugestão de uma situação que poderia
levar à cor rosa dos flamingos. Nesse caso, a maioria dos alunos citou a
xci
deposição de pigmento que não é digerido na alimentação. O principal erro em
relação à letra A foi a não indicação de que nesse caso seria uma situação de
mutações neutras que se fixam pelo processo de deriva gênica.
Já as respostas incorretas foram assim classificadas por apresentarem
uma visão adaptacionista, ou seja, de que a característica em questão teria
surgido por algum processo seletivo, resposta essa que está em desacordo com o
que foi perguntado. Nesse caso, os alunos usaram a ideia de mutação com
objetivo ou do meio forçando a mudança do indivíduo.
É interessante notar que muitos alunos deram como exemplo de processo
que gerou a característica eventos que podem ser classificados como Seleção
Sexual. Esse processo está relacionado com a seleção e fixação de
características na população que aumentam as chances de um indivíduo se
acasalar (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004),
portanto é um processo seletivo que gera adaptação, que nesse caso não está
relacionado com a sobrevivência e sim com a reprodução.
5.2.2.3 Questão “Só teoria?”
Questão: “Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você usaria para
conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa posição?
Gabarito: A palavra teoria no meio científico não possui o mesmo uso que
no cotidiano. Teoria científica é um sistema de linguagem altamente estruturado
destinado a explicar um determinado fenômeno. A teoria se origina de uma
hipótese que já foi testada inúmeras vezes e tem como característica a
possibilidade de ser falseada. A teoria científica origina-se de evidências muitas
vezes já conhecidas (registro fóssil, anatomia comparada, por exemplo) articulada
com argumentos que podem ser chamados de filosóficos ou metafísicos. A teoria
evolutiva, desde que foi formulada por Charles Darwin, já passou por inúmeros
testes, sendo cada vez mais corroborada, inclusive é considerada um dos pilares
das Ciências Biológicas.
Categorização das respostas:
Categoria correta: no meio acadêmico hipóteses + testes = teoria +
falseabilidade.
Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas
etapas, mas que não tenha incluído todas.
xcii
Categoria incorreta: não diferenciar que são duas formas de conhecimento
diferentes com suas dinâmicas próprias.
Essa questão estava presente nas avaliações 2008-1 e 2009-1, sendo
respondida por quase todos os alunos e as respostas foram bem satisfatórias.
Abaixo, no Quadro 5.6, oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.6 – Questão Só teoria?: exemplos de respostas por categoria
Correta
“Diria que o fato de o processo
evolutivo ser uma teoria a torna
ainda mais fortalecida, com maior
credibilidade. Isso porque teoria, ao
contrário do que imagina o senso
comum, não é uma suposição. Em
ciências, teorias são conjuntos de
soluções
propostas
para
fenômenos
naturais
que
já
passaram
por
extensa
experimentação, se mostrando
coerentes, explicando o fenômeno
de forma inteligente e prevendo
sua repetição. Eu explicaria isso ao
aluno, fazendo-o entender que a
sua afirmação “evolução é só uma
teoria” é ingênua e infundada, pois
a evolução não é só uma
suposição, é um fenômeno natural
repleto de evidências. Portanto,
evolução é uma teoria, no melhor
sentido
dessa
palavra:
uma
comprovação científica”. (Aluno 3 –
Petrópolis – 2008-1)
Incompleta
“Eu usaria o argumento das
camadas
do
solo,
a
estratigrafia,
onde
nas
camadas mais profundas,
encontraríamos fósseis de
organismos mais simples e
de acordo com os níveis
subsequentes de baixo para
cima, com o passar de
milhares de anos iam se
modificando se tornando
mais complexo em forma
estrutural. Daí chegar a
conclusão de que a evolução
não é só uma teoria foi
comprovada
através
da
estratigrafia do solo entre
outras”. (Aluna 3 – Itaocara –
2009-1)
Incorreta
“Primeiramente poderia dizer ao
aluno que a Natureza necessita
da Evolução, pois através dela
que há a diferença entre os seres
vivos, há maior diversidade. Em
que não consiste em apenas
adaptar-se ou morrer, mas
proporcionar variedades por meio
de vários processos evolutivos.
Depois poderia usar argumentos
tais como evidências de evolução
como registros fósseis, e seus
estratificados,
poderia
usar
árvores
filogenéticas,
comparações
morfológicas,
comparações genéticas como
genes
úteis
e
inúteis
e
bioquímicas onde ocorre uso de
ATP como fonte de energia. E
que o estudo da evolução,
também é importante para nos
mostrar nossa ancestralidade”.
(Aluna 14 - Volta Redonda –
2008-1)
Apesar de a questão não focar diretamente em aspectos conceituais da
Teoria Evolutiva, achamos importante incluí-la uma vez que discute as diferenças
entre o que é conhecimento de senso comum e científico. Essa distinção é
necessária não só numa graduação, como nas aulas de Ciências, Biologia, Física
e Química da Educação Básica que trabalham com campos de conhecimento
científico que possuem regras e métodos próprios (MAYR, 2008) e que os alunos
devem ser capazes de reconhecê-los e diferenciá-los.
Entretanto, apesar de a maioria dos alunos ter respondido de forma
adequada a essa pergunta, algumas respostas discutiam bem as evidências da
Evolução, mas não explicavam a lógica do pensamento evolutivo, que na
realidade era o que a questão realmente estava requisitando e, por isso, foram
classificadas como incompletas.
xciii
E, respostas consideradas incorretas foram assim classificadas por não
responderem a questão, não diferenciando o conhecimento científico do senso
comum ou colocando a Evolução como algo necessário.
Uma justificativa para essa confusão pode ser encontrada nas palavras de
Agnoletto e Bellini (2012), pois
em uma significação mais ampla, evolução é sinônimo de mudança e por
isso, o termo é aplicável em várias áreas. Isto, no entanto pode causar
confusão de significados, quando o conceito derivado da teoria
darwinista é aplicado em outros campos de conhecimento (p.14).
Esse resultado também foi encontrado no artigo de Alters e Nelson (2002),
em que para os participantes da pesquisa, o termo teoria estava relacionado com
a formulação de hipóteses, ocorrendo uma confusão entre os sentidos de teoria e
lei. Com isso, a Teoria Evolutiva seria “apenas uma teoria”, colocada em uma
categoria inferior em relação a outros conhecimentos.
5.2.2.4 Questão “Seleção Natural”
Essa questão era semelhante nas avaliações de 2008-2 e 2009-1 e por
isso foram analisadas em conjunto.
Questão: O que é Seleção Natural?
Gabarito: É a sobrevivência diferenciada dos indivíduos de uma população
em função da variabilidade genética encontrada. As variações genéticas, em
associação com o ambiente, permitirão a existência de um perfil fenotípico da
espécie. As variações genéticas entre os indivíduos de uma população surgem ao
acaso através das mutações e as novas características podem ser neutras ou
conferirem algum valor adaptativo. A seleção natural atua nas características que
facilitam ou dificultam a sobrevivência do indivíduo em determinado ambiente e,
se o indivíduo não chega à idade reprodutiva ou se a taxa de reprodução é
relativamente mais baixa, esta característica tende a ser eliminada. Se a nova
característica conferir uma taxa de sobrevivência maior, tende a ser mantida na
população, alterando inclusive o perfil genotípico e fenotípico da mesma.
Categorização das respostas:
Categoria correta: que inclua as noções de sobrevivência diferenciada em
função das mutações ao acaso + variedade + mudança de valor adaptativo.
xciv
Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas
etapas, mas que não tenha incluído todas.
Categoria incorreta: quando as respostas não fizerem menções a estes
processos ou se tiverem uma essência lamarckista.
Questão: Qual a importância evolutiva da Seleção Natural?
Gabarito: A seleção natural atua nas variações genéticas existentes entre
os indivíduos de uma população. Estas variações são chamadas de mutações e
surgem ao acaso. Quando a nova característica possui um alto valor adaptativo,
aumenta a chance de sobrevivência de quem às possui; se diminuir o valor
adaptativo o indivíduo tende a ser eliminado e com ele a nova característica. Esse
processo evolutivo atua na mudança do perfil genotípico e fenotípico da espécie /
população ao longo do tempo.
Categorização das respostas:
Categoria correta: atuação nas variações que surgem por mutações ao
acaso + leva a uma mudança do perfil genotípico e fenotípico das espécies ao
longo do tempo.
Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos.
Categoria incorreta: se as respostas forem lamarckistas, com mudanças
por causa de um objetivo.
Nos dois semestres, essas questões foram escolhidas por mais da metade
dos alunos que fizeram a avaliação. Abaixo, no Quadro 5.7, oferecemos exemplos
das três categorias:
Quadro 5.7 – Questão Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria
Correta
“A seleção natural é a sobrevivência (ou
mortalidade) diferencial que ocorre nos
indivíduos
das
populações em geral
dependendo das características que os
indivíduos possuem. Se um indivíduo de uma
população qualquer sofrer uma mutação que
confira a ele uma vantagem sobre os demais
indivíduos da sua população, sendo esta
vantagem proveniente de alteração gênica e
transmissível aos seus descendentes essa
mutação conferirá uma característica que será
selecionada
naturalmente
naquele
determinado tempo e espaço, ou seja, haverá
uma seleção realizada pelo próprio meio,
natural”. (Aluna 3 – Itaperuna – 2008-2)
Incompleta
“Conforme observou Darwin,
no ambiente os indivíduos
têm chances diferentes de
sobrevivência o que está
relacionado
com
as
características de cada um e
a natureza se encarrega de
selecionar
aqueles
que
possuem
as
melhores
chances
de
adaptação
aquele ambiente”. (Aluna 3 –
Paracambi – 2008-2)
Incorreta
“Seleção natural é uma
seleção que a natureza
impõe nos organismos, ou
seja, os organismos mudam
para
melhorar
a
sua
sobrevivência. Os indivíduos
que possuem características
que não são favoráveis para
a sobrevivência, a tendência
é de serem eliminados”.
(Aluna 1 - Campo Grande –
2008-2)
Quase todos os alunos que fizeram essa questão tiveram suas respostas
classificadas como incompleta. Muitas vezes parece que é simples conceituar a
xcv
Seleção Natural, mas na hora da explicação fica difícil deixar claro que esse é um
processo, que não tem objetivo a priori, mas que está relacionado com valores
adaptativos diferenciados de características que surgem ao acaso através das
mutações e que esse processo está relacionado com o nicho ecológico ocupado e
com o tempo geológico, porque “onde existe variação genética, há lugar para a
seleção e evolução” (WEINER, 1995, p.306).
Sabemos que quando Darwin (2002) propôs a Teoria Evolutiva ele não
conseguiu explicar qual era a fonte das variações entre os indivíduos, mas hoje
em dia isso já está bem consolidado e claramente exposto nas aulas dos módulos
de diversas disciplinas e, portanto, não deveria ser omitido. Como indica Futuyma
(2002, p.10), “a seleção natural é a causa derradeira de adaptações, (...) mas não
pode produzir tais adaptações, sem que a mutação e a recombinação gerem uma
variação genética sobre a qual possa agir”.
Sendo assim, as questões consideradas incompletas estão nessa categoria
porque, na maioria dos casos, os alunos não abordaram as mutações ao acaso
como fonte das variações na qual ocorre a atuação da Seleção Natural.
Nas questões consideradas incorretas os alunos desenvolveram respostas
com a ideia de objetivo da Seleção Natural; ou com a sugestão de que existe algo
ou alguém gerenciando o processo; ou ainda apresentaram confusão entre os
processos que são estocásticos, nos quais a deriva gênica prevalece e
normalmente ocorre a fixação de características neutras, com os processos
deterministas, que estão relacionados com a seleção de características que
mudam o valor adaptativo do indivíduo, aumentando com isso as chances de
sobrevivência.
Alguns alunos também responderam oferecendo uma explicação do que é
o processo de Seleção Sexual. Nesse caso a resposta foi considerada incorreta,
pois os processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual possuem lógicas
diferentes. O primeiro está relacionado com características que aumentam a
chance de sobrevivência e é um processo econômico. Já o segundo está
relacionado com características que aumentam a chance de reprodução e que
são consideradas custosas.
5.2.2.5 Questão “Complexidade”
xcvi
Questão: Por que não podemos dizer que uma bactéria é menos evoluída
que um ser humano?
Gabarito: Porque o que diferencia os dois é o nível de complexidade, mas
bactérias e humanos atuais sofreram pressões seletivas diferentes e se não
extinguiram é porque estão bem adaptados aos seus nichos ecológicos. Se essa
ideia fosse aceita, estaríamos de acordo com a possibilidade de existência de
uma scala naturae.
Categorização das respostas:
Categoria correta: destaque para o que diferencia é o nível de
complexidade + os dois sofreram pressões seletivas e não se extinguiram.
Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos.
Categoria incorreta: resposta com noções de scala naturae.
Na avaliação em que essa questão estava presente, essa foi a segunda
mais escolhida pelos alunos, mas a maior parte das respostas foi classificada
como incorreta. Abaixo, no Quadro 5.8, oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.8 – Questão Complexidade: exemplos de respostas por categoria
Correta
“O processo de evolução não diz
respeito
à
simplicidade ou
complexidade de um organismo.
Evolução
diz
respeito
às
transformações ou surgimento de
novas características ao longo do
tempo, sendo assim, tanto o
homem quanto a bactéria estão
suscetíveis à ação das forças
evolutivas que promovem o
surgimento de novos fenótipos”.
(Aluna 12 - Três Rios)
Incompleta
“Porque a bactéria também
passou por um processo
evolutivo ao longo do tempo,
da mesma forma que o ser
humano. Só que a bactéria
encontrou estruturas mais
simples
durante
sua
adaptação, ao passo que o ser
humano encontrou estruturas
mais complexas, como forma
mais adaptada de vida”.
(Aluna 1 – Itaocara)
Incorreta
“Não se pode dizer que um ser é
menos evoluído que outro, podese dizer que o homem é mais
complexo que a bactéria, pois
possui
maior
diversidade
genética, porém as bactérias
existem há muito mais tempo que
o homem, podendo até dizer que
as bactérias que são mais
evoluídas, por ainda viverem em
meio a seres tão complexos”.
(Aluno 2 - Volta Redonda)
Julgamos que a dificuldade encontrada para responder a essa questão
ocorreu em função de confusões com a terminologia, pois ser mais complexo não
significa ser mais evoluído. Quaisquer espécies que tenham sofrido os processos
seletivos e que se mantenham atualmente vivas são igualmente evoluídas, mas
uma pode ser mais complexa do que a outra, ou seja, ter mais órgãos, sistemas,
uma fisiologia mais complexa, etc. Além disso, as espécies atuais estão bem
adaptadas aos seus modos de vida, se mudarmos seus nichos ecológicos
provavelmente perecerão.
Nesse caso, as respostas corretas abordaram a diferença entre complexo e
evoluído, as respostas incompletas não deixaram claro que bactérias e humanos
xcvii
sofreram processos seletivos diferenciados e nas respostas incorretas há uma
confusão de conceituações, incluindo também a ideia de que as adaptações ou
complexidades estão de acordo com a necessidade do indivíduo em relação ao
meio em que vive.
5.2.2.6 Questão “Mutação”
Questão: Qual a importância evolutiva da Mutação?
Gabarito: As mutações ocorrem em função de erros que não são corrigidos
durante a duplicação do material genético. Quando o erro não altera a sequência
de aminoácidos da proteína, dizemos que é uma mutação silenciosa. Quando a
sequência de bases altera o produto, seja de RNAs ou proteínas, podemos dizer
que a mutação irá gerar variabilidade genética na população e, neste caso, junto
com os demais processos evolutivos, como deriva gênica, seleção natural e
seleção sexual, poderão atuar mudando o perfil genético da população. Sem
mutação não haveria evolução por seleção natural que é a seleção dos indivíduos
com as características mais vantajosas em dado ambiente e tempo.
Categorização das respostas:
Categoria correta: erros ao acaso + geração de variabilidade + diversos
processos evolutivos mudam o perfil da espécie.
Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes aspectos.
Categoria incorreta: se não associar a fonte de variação com a atuação dos
processos evolutivos.
Essa questão foi a segunda mais escolhida pelos alunos que fizeram a
avaliação, mas a maior parte das respostas foi classificada como incompleta.
Abaixo, no Quadro 5.9, oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.9 – Questão Mutação: exemplos de respostas por categoria
Correta
“A mutação embora ocorra ao acaso, é o processo pelo
qual surgem características novas no indivíduo; a
mutação pode ser deletéria e causar morte, pode ser
neutra e também pode ser responsável pelo surgimento
de uma característica nova que favoreça o indivíduo de
tal forma que ele sobressaia na população em questão
em relação aos demais indivíduos. Esta característica por
ser vantajosa ao organismo será passada adiante através
do cruzamento de forma que os descendentes deste
organismo mutado apresentarão esta característica e
estará sempre em vantagem nesta população. Com o
passar do tempo esta característica estará em grande
parte da população podendo dar origem a processos de
xcviii
Incompleta
“Sem a mutação não
ocorreria a evolução.
Quando ocorre uma
mutação, e se essa
mutação traz um
benefício para o ser
vivo, ele se torna
mais adaptado que
os demais, e através
da seleção natural
vai
ocorrer
a
evolução
dessa
espécie”. (Aluno 8 –
Incorreta
“A
mutação
de
determinado
gene
pode
conferir
vantagem adaptativa
ao indivíduo, quer seja
para
adquirir
características que o
beneficiem no meio
em que vive, quer seja
para disfarçar-se entre
os indivíduos da sua
espécie.
Daí
a
importância
desta
especiação, por exemplo. Sem mutação gênica não
existiria evolução”. (Aluna 8 – Paracambi)
Itaperuna)
força evolutiva”. (Aluno
2 – Macaé)
A maior parte das respostas foi classificada como incompleta, pois muitas
vezes os alunos apenas explicavam o que é a mutação e, quando relacionavam
com a evolução, apenas indicavam a atuação da Seleção Natural. Um futuro
professor de Ciências e Biologia precisa saber integrar os diferentes processos,
uma vez que a mutação é o primeiro passo na criação de variações e,
posteriormente, os mecanismos evolutivos, tais como Seleção Natural, Seleção
Sexual e Deriva Gênica irão atuar na manutenção ou não das novas
características (MAYR, 2008).
Com isso, nas questões consideradas incompletas apenas a Seleção
Natural foi citada como processo que altera a frequência dos alelos que surgem
por mutações. E, nas respostas incorretas, foi apresentada pelos alunos a ideia
de que a evolução tem um objetivo, seja através da Seleção Natural, seja através
das mutações.
5.2.2.7 Questão “Mutação / Evolução”
Questão: Se, em geral, as mutações são maléficas para os organismos,
porque dizemos que a mutação é uma coisa fundamental para a evolução?
Gabarito: Porque a mutação é a fonte de variação das características de
uma população. É a partir das variações que os demais processos evolutivos irão
atuar, principalmente a seleção natural. Quando a mutação é benéfica altera o
valor adaptativo da espécie no nicho ecológico que ocupa e com isto aumenta as
chances de sobrevivência dos indivíduos portadores da referida variação
benéfica, naquela população.
Categorização das respostas:
Categoria correta: os erros ocorrem ao acaso + atuação dos processos
evolutivos.
Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos.
Categoria incorreta: se não associar a fonte de variação com a atuação dos
processos evolutivos.
Essa questão foi a terceira mais escolhida pelos alunos. Novamente a
maior parte das respostas foi classificada como incompleta. Abaixo, no Quadro
5.10, oferecemos exemplos das três categorias:
xcix
Quadro 5.10 – Questão Mutação / Evolução: exemplos de respostas por categoria
Correta
“Porque a mutação é a fonte de
nova variação nos organismos.
Assim,
novos
genes
são
formados,
produzindo
novas
características nos seres vivos.
Se
essas
características
conferem vantagem a esses
seres vivos e se a mutação
ocorreu nas células sexuais
existe
uma
chance
dos
organismos passar para as
próximas
gerações
essa
mutação”. (Aluno 3 – Paracambi)
Incompleta
“As mutações são geradoras
de variabilidade. Podem ser
maléficas ou benéficas e a
partir daí a seleção natural
selecionará os indivíduos
mais aptos à determinadas
condições. A evolução é
caracterizada por alterações
de genes ou de sua
proporção na população, o
que vai acontecer após
mutação e seleção natural”.
(Aluna 2 - Itaocara)
Incorreta
“Como já foi dito mutação é uma
alteração ocorrente em genes, se
estas modificações são mantidas e
são capazes de serem herdadas, é
possível a Evolução. Então, podese entender Mutação como sendo
a própria Evolução. Pois é através
de modificações benéficas para um
dado organismo num determinado
ambiente que ocorre a Evolução.
Sempre associada aos processos
de deriva gênica e seleção natural”.
(Aluno 10 – Petrópolis)
A classificação em incompleta da maior parte das respostas ocorreu em
função de uma confusão entre quais são os eventos que estão relacionados com
a mutação (acaso e produção de variabilidade) e quais estão relacionados com a
Seleção Natural (seleção de variantes com maior valor adaptativo). E os alunos
também não apresentaram como as mutações ocorrem.
Nas questões incorretas apareceram diversos erros conceituais, tais como:
mutação com objetivo; confusão entre mutação e recombinação genética; e
mutação como a própria evolução. Na maioria das questões não aparece que a
mutação, quando ocorre, não é a princípio vantajosa, desvantajosa ou neutra e
que isso depende de que mudanças acarretarão no indivíduo e na sua relação
com o ambiente.
5.2.2.8 Questão “Tautologia Seleção Natural”
Questão: Alguns pesquisadores argumentaram que o conceito de seleção
natural seria tautológico, pois “sobrevivência do mais apto” significa o mesmo que
“sobrevivência do que sobrevive”. Como podemos escapar dessa circularidade?
Gabarito: Incluindo o conceito de nicho ecológico / de ambiente, pois o
conceito de seleção natural é a sobrevivência do mais apto em determinado
ambiente. Se mudarem as condições ambientais, mudarão os valores adaptativos
e a taxa de sobrevivência também. Ou seja, embora aptidão e sobrevivência não
sejam conceitos independentes, pois um se define em termos do outro, a
introdução do conceito de ambiente (ambiente histórico, que muda com o tempo,
mas permanece certo tempo relativamente constante), estabelece que ambos,
c
aptidão e sobrevivência, são relativos ao ambiente. Se o ambiente muda, aptidão
e sobrevivência relativas também mudam.
Categorização das respostas:
Categoria correta: incluir a noção de ambiente.
Categoria incompleta: se explicar, mas não nomear.
Categoria incorreta: se não incluir a noção de ambiente.
Essa questão foi escolhida por muitos alunos, mas a maioria a errou.
Abaixo, no Quadro 5.11, oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.11 – Questão Tautologia Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria
Correta
“Podemos escapar dessa
circularidade considerando
que a “sobrevivência do mais
apto” refere-se ao indivíduo
que em determinado tempo e
espaço
possui
características
que
aumentam a sua vantagem
adaptativa
e,
consequentemente, as suas
chances de sobrevivência
em relação aos demais
indivíduos de sua espécie”.
(Aluno 3 – Paracambi)
Incompleta
“A seleção natural age de modo aleatório,
propiciando ao organismo características
que de acordo com o ambiente que ele
vive, vai resultar numa situação positiva
ou não, portanto um organismo que vive
no pólo sul não terá o mesmo sucesso
evolutivo no equador. A sobrevivência do
que sobrevive dá uma ideia de “estar
vivo”, mas é preciso ainda perpetuar suas
características, portanto a sobrevivência
do mais apto está vinculado ao seu
sucesso reprodutivo, ou seja, passar suas
características. Assim podemos perceber
que os dois conceitos são diferentes, pois
a seleção natural envolve o sucesso
reprodutivo não somente a sobrevivência
do organismo”. (Aluna 1 – Piraí)
Incorreta
“Os seres vivos e o meio
ambiente estão em sintonia
um com o outro. A seleção
natural nada mais é do que
a sobrevivência do ser que
se adaptou melhor as
condições impostas pelo
meio”. (Aluna – Itaocara)
O principal erro foi a não inclusão, de forma correta, da noção de que a
adaptação está relacionada ao ambiente, tendo com isso um tempo e uma
história. Essa dificuldade pode estar relacionada com a ideia de que o ambiente é
um cenário estático no qual as espécies se adaptam, como apontam Tidon e
Lewontin (2004). Esses autores destacam que “é impossível descrever um
ambiente a não ser que se faça referência aos organismos que ali interagem e o
definem” (TIDON e LEWONTIN, 2004, p.127, tradução nossa).
Nas respostas incompletas alguns alunos apresentaram a ideia de
mudança consciente ou de que a Seleção Natural é aleatória, mas depois
incluíram a noção de que esse processo é temporal e local, que é a forma de
evitar a circularidade da frase.
Houve também a classificação de respostas incompletas que deram como
exemplo a Seleção Sexual, pois esse processo foi considerado como a seleção
de características deletérias. Como discutimos ao longo dessa tese, a Seleção
ci
Sexual é um processo distinto da Seleção Natural e também aumenta a
frequência de características adaptativas, que no caso são características que
estão relacionadas com o sucesso reprodutivo.
As respostas incorretas mais uma vez apresentaram a ideia de objetivo, ou
seja, se o ambiente se altera, os indivíduos se transformam para sobreviverem.
5.2.2.9 Questão “Raios UV”
Questão: Tomar muito sol, sem proteção, é muito ruim, pois os raios UV
causam mutações. Carla lembra que tomava muito sol quando era criança, sem
nenhuma proteção, chegando muitas vezes a ficar com bolhas e descascar a
pele, mostrando que recebeu, de fato, muita irradiação UV. Carla agora quer ter
filhos, mas está com medo de que eles sejam mutantes. Ela está errada. Por
que?
Gabarito:
Porque
para
que
as
mutações
sejam
passadas
aos
descendentes, devem ocorrer nas células germinativas e não nas células
somáticas, como no caso do câncer de pele, ou seja, as características adquiridas
durante a vida de uma pessoa não são herdadas; AP3: Nenhuma questão foi
selecionada para análise qualitativa.
Categorização das respostas:
Categoria correta: mutações devem ocorrer nas células germinativas e não
nas somáticas.
Categoria incompleta: se faltar a noção de mutação ou de diferença entre
somática e germinativa.
Categoria incorreta: se incluir a noção de herança dos caracteres
adquiridos.
A questão foi escolhida por quase todos os alunos e abordava um tema
recorrente das discussões atuais sobre saúde e exposição excessiva à radiação
solar. Abaixo, no Quadro 5.12, oferecemos exemplos das três categorias:
Quadro 5.12 – Questão Raios UV: exemplos de respostas por categoria
Correta
Incompleta
Incorreta
cii
“Ela está errada porque
essas radiações podem ter
afetado
e
causado
mutações em suas células
somáticas, mas não nas
reprodutivas. Para ela ter
filhos
mutantes
é
necessário que a mutação
que suas células sofreram
seja herdada por eles. Isso
só seria possível se as
mutações
tivessem
ocorrido
nas
células
germinativas”. (Aluna 18 Volta Redonda)
“Carla está errada, pois
a mutação ocorre em
células gaméticas e não
nas somáticas. Dessa
forma, ela não corre
risco de ter filhos
mutantes,
pois
as
células sexuais não
foram afetadas”. (Aluna
1 - Campo Grande)
“Sim. O fato de que recebeu irradiações
ultravioletas não quer dizer que seus (futuros)
filhos possuirão características mutantes. A
Carla correu um grande risco de desenvolver
um câncer de pele no qual poderia ser gerado
por uma desorganização celular influente de
atividade dos raios UV (ultravioletas). Como
esta característica não está no genótipo de
Carla, ela pode ficar tranquila e engravidar que
os seus filhos não correm risco de serem
mutantes quanto à exposição ao sol ao longo
de sua infância. O que pode ocorrer é a
característica mutante de seus filhos devido a
outras influências como alimentação, fumo,
mas não pelos raios UV”. (Aluno 8 – Itaocara)
Para essa questão houve um número semelhante de alunos que acertaram
ou que erraram totalmente. Talvez a dificuldade encontrada por esses alunos seja
em como fazer a diferenciação entre mutações que afetam apenas órgãos e
tecidos dos indivíduos, ou seja, nas células somáticas; daquelas que podem ser
passadas para os descendentes que são as que ocorrem nos gametas.
As respostas incompletas diziam que as mutações só acontecem em
células gaméticas, quando na realidade podem acontecer em qualquer célula.
Sendo que apenas nas células gaméticas é que terá consequências para os
filhos. E as respostas consideradas incorretas fizeram o uso de diversos conceitos
que são apresentados nos módulos, mas que não respondiam a questão.
5.2.2.10 Questão “Seleção Sexual”
Questão: Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e inter-sexual?
Gabarito: A intra acontece entre indivíduos do mesmo sexo e a inter
acontece como sinalização entre indivíduos de sexos opostos. Estas duas
seleções fazem parte da teoria da seleção sexual, que pode ser entendida como
as ações, por parte dos indivíduos de uma população, que buscam o sucesso
reprodutivo, ou seja, a perpetuação de seus genes nas futuras gerações. Quando
a interação é intra-sexual entendemos como a competição/luta entre machos por
território, alimento ou pela própria fêmea. Já na inter-sexual existe a exibição por
parte dos machos de características físicas – exemplo da cauda dos pavões; ou
de atributos – como os cantos; ou até mesmo de construções – por exemplo os
bowerbirds; como forma de atrair a fêmea, que será responsável pela escolha de
com que macho irá se acasalar.
Categorização das respostas:
ciii
Categoria correta: processo de seleção sexual + intra - luta + inter exibição.
Categoria incompleta: se faltar qualquer uma destas noções.
Categoria incorreta: se não fizer nenhuma alusão à seleção sexual.
Essa questão foi escolhida por mais da metade dos alunos, mas foi a
questão que os alunos devem ter apresentado maior dificuldade, devido à
quantidade de respostas incorretas. Abaixo, no Quadro 5.13, oferecemos
exemplos das três categorias:
Quadro 5.13 – Questão Seleção Sexual: exemplos de respostas por categoria
Correta
“Esses
tipos
de
seleções
estão
relacionados à reprodução. Na seleção
intra-sexual ocorre disputa entre os machos
da espécie para decidir quem irá acasalar
com determinada fêmea, ou então a
disputa é pelo território. Na seleção intersexual a escolha do parceiro para
acasalamento é feita pela fêmea. Nesse
caso, geralmente, ocorre dimorfismo sexual
na espécie, pois os machos costumam
apresentar caracteres sexuais secundários
que chamem atenção da fêmea e dessa
forma ele tenha mais chances de se
reproduzir (por exemplo, na cauda do
pavão). Em algumas espécies já foi
observado que são as fêmeas que
apresentam um caracter sexual secundário
e que a escolha nestes casos é feita pelo
macho”. (Aluna 3 – Resende)
Incompleta
“A seleção intra-sexual diz
respeito à competição entre
indivíduos do mesmo sexo pela
ocupação de um território ou
pelo acasalamento com um
indivíduo do sexo oposto, dentro
de uma mesma espécie. Já a
seleção
inter-sexual
ocorre
quando um dos sexos escolhe o
seu parceiro de acordo com
seus caracteres sexuais”. (Aluna
1 - Duque de Caxias)
Incorreta
“Seleção intra-sexual é
aquela que ocorre entre
indivíduos de populações
diferentes. Seleção intersexual é aquela que
ocorre entre indivíduos da
mesma
população”.
(Aluna 10 – Piraí)
Essa questão aborda diretamente o processo de Seleção Sexual e, como
pode ser percebido nos quatro semestres de provas, questões sobre esse tema
não fazem parte de todas as avaliações. Além disso, esse tema é tratado de
forma rápida no módulo e não é apresentado como um processo diferente do
processo de Seleção Natural.
Foram poucas as respostas corretas que diferenciaram de forma
satisfatória os dois subtipos de processos que fazem parte da Seleção Sexual. Já
nas respostas incompletas um dos dois subtipos foi apresentado de forma correta
pelos alunos, mas o outro não.
As respostas incorretas não citam que esses dois processos fazem parte
da seleção sexual. Os alunos explicaram como relações entre espécies diferentes
ou populações diferentes, cometendo muitos erros conceituais.
civ
5.2.3 O que os alunos responderam nas avaliações de Evolução está de
acordo com o que é apresentado nas disciplinas?
A seleção de módulos didáticos para leitura com o objetivo de caracterizar
os conceitos da Teoria Evolutiva que são abordados nessa graduação foi de
grande relevância para as etapas posteriores dessa pesquisa.
Seria de se esperar que os alunos conseguissem responder de forma
satisfatória às perguntas que abordassem a Teoria Evolutiva nas Avaliações
Presenciais da disciplina Evolução. Entretanto, ao classificarmos as respostas de
acordo com um gabarito feito por nós, baseado nos referenciais que discutem a
Teoria Evolutiva, também escolhidos por nós para leitura, encontramos alguns
erros recorrentes, mostrando que os alunos devem estar concluindo esse curso
com algumas dificuldades em relação ao tema.
Os principais erros descritos foram em relação à evolução, mutação ou
Seleção Natural possuírem um objetivo, ou seja, é a partir das dificuldades
encontradas para sobreviver em determinado meio que os indivíduos mudam para
se adaptar ou sobreviver. Esses resultados foram similares aos encontrados por
Santos (2002), pois os alunos pesquisados por ela não distinguiram dois
processos biológicos distintos: um responsável pelo aparecimento de novas
características em uma população; e outro que as conservaria. Segundo Santos
(2002), “entender adaptação como consequência do acaso em contraposição à
ideia de escolha consciente talvez seja o maior desafio relacionado ao ensino
desse conceito” (p.107). Devemos compreender que
a adaptação evolutiva está relacionada à modificação da composição de uma
população, ou seja, o processo por meio do qual algumas características e
genes se fixam em populações, devido a diferentes mecanismos: seleção
natural, efeito do fundador, endogamia, etc. (SANTOS, 2002, p.108).
Também foram percebidos erros em relação a como atua cada processo
durante as mudanças das espécies ao longo do tempo. Muitas vezes os alunos
não sabiam diferenciar o que era relativo à geração de variações (mutações e
recombinação) e o que estava relacionado com as mudanças das frequências
gênicas ou modificações das espécies (migração, deriva gênica, seleção natural e
seleção sexual).
Outro erro encontrado se refere ao conceito de adaptação, que é usado
como uma referência às mudanças individuais em resposta às mudanças
cv
ambientais ou a atuação de um agente que promove as mudanças. Esse erro
também foi destacado por Tidon e Lewontin (2004) em sua pesquisa com
professores do Ensino Médio.
Com essa ideia de adaptação, a mutação acaba sendo entendida como
uma forma de ajudar os organismos a sobreviverem em condições desfavoráveis,
ou seja, “organismos respondem ao ambiente se modificando, através das
mutações, e, com isso, evitando a possibilidade de extinção” (BARDAPURKAR,
2008, p.301, tradução nossa).
Nos resultados de Gregory e Ellis (2011) os alunos entrevistados, apesar
de considerarem e entenderem que a evolução é um tema importante e central
das Ciências Biológicas, apresentaram muitos erros quando era solicitado que
fizessem análises de situações. Um dos erros mais comuns é o não entendimento
de que as mutações e variações populacionais são etapas necessárias para que
a Seleção Natural ocorra.
Essas dificuldades, entre alunos de graduação em Ciências Biológicas,
também foram encontradas por Nehm e Reilly (2007), em seu estudo com
graduandos de uma universidade americana. Esses autores fizeram uma
proposta de atividade em que os alunos deveriam ter uma participação ativa com
o objetivo de melhorar o ensino da Teoria Evolutiva. Os resultados encontrados
não foram dos mais animadores, pois embora a frequência de conceitos errados
tenha decrescido, a natureza desses conceitos não mudou em relação ao
processo de Seleção Natural, permanecendo a ideia de uso e desuso de partes
do corpo e ao controle, por parte dos indivíduos, das mudanças em
características que são necessárias para a sua sobrevivência.
Nossos resultados estão de acordo com o que é dito por Bardapurkar
(2008):
os professores precisam entender que a compreensão dos alunos sobre
evolução é fundamentalmente diferente do entendimento de Darwin:
Darwin naturaliza a seleção, enquanto os alunos naturalizam a
transformação. Para entender a seleção natural, os estudantes precisam
aprender a perceber: primeiro, a diferença entre mudança individual e
mudança evolutiva e, a diferença entre os efeitos evolutivos causados
por transformação e os efeitos evolutivos causados pela acumulação de
pequenas seleções (p.305, tradução nossa).
A Seleção Sexual não é um conceito abordado de forma exaustiva durante
esse curso de graduação, embora seja um importante tema desenvolvido por
Charles Darwin.
cvi
Podemos perceber que os alunos não conseguiram entender esse
conceito, pois na única avaliação em que foi feita uma pergunta diretamente sobre
ele os alunos erraram muito. Além disso, em muitas questões eles usaram
exemplos de Seleção Sexual quando a pergunta não tratava sobre isso,
mostrando que talvez não entendam como a Seleção Sexual opera.
Infelizmente, esses resultados estão de acordo com referenciais da área de
ensino que mostram como a Teoria Evolutiva é de difícil compreensão e que
estratégias para tentar facilitar o ensino desse tema devem ser desenvolvidas. Em
função disso, uma segunda etapa do nosso trabalho foi o desenvolvimento e
avaliação de uma estratégia didática para a discussão dos conceitos de Seleção
Natural e de Seleção Sexual para os alunos inscritos na disciplina Evolução dessa
graduação. No próximo capítulo serão apresentados os dados referentes a essas
atividades.
cvii
CAPÍTULO 6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esse capítulo foi dividido em duas partes. Na primeira, descrevemos como
ocorreram as escolhas de cada atividade e a explicação de sua sequência. Na
segunda encontram-se os resultados obtidos e a sua discussão, após sua
utilização na disciplina Evolução da graduação em que o projeto foi desenvolvido.
6.1 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DIDÁTICAS
Como descrito anteriormente, as atividades tinham como objetivo mostrar
as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, numa
tentativa de aumentar a compreensão da Teoria Evolutiva Darwiniana.
Essa ideia está de acordo com referenciais da área de ensino que mostram
que atividades que necessitem de elaboração de textos, análise de dados ou
solução de problemas podem contribuir para uma aprendizagem mais efetiva de
determinados temas (ANDREWS et al., 2011).
Apesar das atividades terem sido realizadas via plataforma, pretendíamos
que não fossem apenas conteúdos a serem apresentados no formato de texto,
uma vez que já fazem parte do módulo da disciplina Evolução e de disciplinas
anteriores. Sendo assim, optamos por apresentar situações na forma de imagens,
textos curtos e filmes, que permitissem que os alunos fossem percebendo as
diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual e a lógica de
cada um, com uma questão a ser respondida a cada atividade.
As atividades tiveram início por volta da sexta semana do semestre letivo,
tanto em 2012-1, quanto em 2012-2, coincidindo com o início da apresentação do
conteúdo de processos selecionistas nos módulos didáticos.
6.1.1 Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga pesquisadores
Nessa atividade foi feita uma galeria dos sexos, formada por imagens de
machos, fêmeas e filhotes tanto de espécies com acentuado dimorfismo sexual
quanto de outras com pequeno dimorfismo. Também escolhemos imagens de
espécies que ocupam nichos ecológicos semelhantes e/ou que são aparentadas.
As imagens foram organizadas em slides.
cviii
O objetivo era mostrar características como plumagem, chifres, garras,
cores e etc. que claramente não estão associadas à sobrevivência e que,
portanto, não podem ter sido moldadas pelo processo de Seleção Natural. Essa
atividade ainda não tinha como objetivo começar a diferenciação dos processos
de Seleção Natural e Sexual. Mas pretendia causar um desconforto nos alunos
que conseguissem perceber que existem características que não estão
diretamente relacionadas com a sobrevivência.
Com isso, os alunos poderiam começar a entender que existem lacunas
explicativas na Seleção Natural, permitindo a introdução de outro processo que
também atua na diversificação das espécies, que é a Seleção Sexual.
Iniciamos com essa galeria dos sexos porque os exemplos escolhidos são
de características que, como sugerido por Darwin (2004, p.168),
nada têm a ver com os órgãos primários, (…) tais como o fato de ser o
macho maior, mais forte e mais agressivo, de ser dotado de armas de
ataque ou meios de defesa contra seus rivais, de apresentar colorido
mais vistoso e ornamentos variados, de saber cantar, além de outros
diferenciais desse gênero.
Além disso, Darwin também destacava que as fêmeas são mais parecidas
com os filhotes e que os machos são tão diferentes “(...) devido à seleção sexual
– ou seja, pela escolha feita pelas fêmeas dos machos mais atraentes” (DARWIN,
2004, p.334).
Junto com as imagens, foi colocada a seguinte questão: “Olhe bem as
imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças de estruturas
ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram colocadas espécies
que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos. Pensem sobre isso e
respondam: As características que são diferentes entre machos e fêmeas estão
relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua resposta.”.
6.1.2 Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os gametas
masculinos e femininos
cix
Após a apresentação das imagens na atividade 1, e esperando que os
alunos começassem a relacionar as diferenças encontradas com a reprodução e
não com a sobrevivência, decidimos abordar sobre as diferenças entre os
gametas masculinos e femininos: seus tamanhos e quantidades produzidas.
Para isso, escolhemos um trecho do documentário Evolução15, que é uma
animação que mostra as diferenças nos custos para produção dos gametas
masculinos e femininos e de como isso influencia no comportamento sexual de
machos e fêmeas. Nessa animação é descrito que os machos, portadores de
espermatozoides, por serem produzidos em grandes quantidades, são menos
exigentes em relação à escolha das fêmeas, portadoras dos óvulos; já as fêmeas
que produzem óvulos em quantidade muito menor, com maior gasto energético e
por tempo limitado, são mais exigentes em relação aos parceiros com quem
decidem se acasalar.
A relação estabelecida entre machos e fêmeas, a partir do surgimento dos
gametas, está relacionada com o fato de que
durante um bilhão de anos, desde que surgiram pela primeira vez
organismos produtores de óvulos e esperma, os futuros genéticos dos
machos (os organismos “produtores de esperma”) têm sido afetados pelo
que as fêmeas (as “produtoras de óvulos”) fazem e vice-versa (HRDY,
2001 p.17).
Então, o recurso natural talvez mais importante, bastante disponível, mas
limitado na natureza, são os parceiros sexuais (WAIZBORT, 2001) e,
se olharmos espermatozoides e óvulos como os “recursos” que cada
indivíduo busca no sexo oposto, teremos de concordar que um óvulo é
um bem muito mais valioso e limitado em relação às multidões já
epigramáticas dos espermatozoides (WAIZBORT, 2005, p.303).
A escolha de se usar esse trecho foi em função de ele apresentar de forma
lúdica o que diversos autores como Zahavi e Zahavi (1997), Buss (2000), Miller
(2000), Hrdy (2001) e Fisher (2008) discutem em seus textos quando apresentam
uma
das
possíveis
justificativas
para
as
diferenças
encontradas
nos
comportamentos sexuais de diversas espécies de animais.
Esses autores, como demonstrado nos referenciais teóricos desse
trabalho, indicam que o dimorfismo sexual e comportamentos sexuais
diferenciados estão relacionados com investimentos diferentes de machos e
15
Coleção de quatro DVDs da Scientific American Brasil: Evolução – a incrível jornada da vida.
cx
fêmeas nas diversas etapas do processo reprodutivo, sendo que uma dessas
diferenças, com grandes consequências para o processo, é a produção de óvulos
pelas fêmeas e espermatozoides pelos machos.
Com isso, nessa atividade a questão apresentada aos alunos foi: “Que
processos podem ter contribuído para o surgimento dessas características
diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a atividade anterior.”.
6.1.3 Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da reprodução
sexuada
Nessa atividade também foi usado outro trecho do documentário Evolução,
que mostra que apesar dos altos custos energéticos da reprodução sexuada,
esse processo é vantajoso, pois aumenta a variabilidade dos indivíduos da
população.
Esse trecho mostra uma experiência com peixes de pequenos lagos
mexicanos, realizada pelo pesquisador Robert Vrijenhoek e sua equipe. No caso
desses peixes, eles estavam separados em diversas populações que ocupavam
os diferentes lagos. As discussões dos resultados do trabalho dessa equipe
estavam relacionadas com as consequências evolutivas para as populações que
perderam sua variabilidade e o que ocorreu quando aumentou novamente a
variabilidade genética.
Esse trecho é baseado em alguns trabalhos de Vrijenhoek (1979; 1998) em
que esse autor ressalta que em espécies que possuem populações assexuadas,
populações híbridas e populações sexuadas ocorre uma grande variação de
genótipos e, por isso, as vantagens da reprodução sexuada ficam obscurecidas
em função de seu alto custo.
Entretanto, esse autor indica que a reprodução assexuada é rara em
espécies animais, propondo que para entender a predominância da reprodução
sexuada devem ser estudadas ecologicamente e geneticamente as populações
assexuadas para compreender em que tipo de ambiente elas se mantêm.
Segundo Vrijenhoek,
identificar as condições em que linhagens assexuadas prosperam ou não
permite abrir uma janela através da qual os biólogos podem perceber o
significado da vantagem adaptativa da diversidade genética e do sexo
(1998, p.617, tradução nossa).
cxi
Ainda segundo esse autor, em populações assexuadas os genótipos são
constantes ao longo das gerações; enquanto que no extremo oposto, temos a
reprodução sexuada que permite a criação de genótipos e fenótipos de forma
ilimitada a cada geração. Sendo assim, os clones podem fornecer um
experimento natural que permite estudar as interações entre genótipos fixos e
ambientes que mudam constantemente no tempo e no espaço (VRIJENHOEK,
1998).
No trabalho com os peixes dos lagos mexicanos, Vrijenhoek (1998)
demonstra que
as diferenças genotípicas e fenotípicas entre indivíduos é a essência do
processo de reprodução sexuada e é necessária para espécies que
estão intimamente associadas, em uma luta co-evolutiva, com parasitas
biológicos de rápida evolução (p.626, tradução nossa),
e faz uma referência ao livro Alice através do espelho em que a Rainha de Copas
diz para Alice que elas devem correr muito se quiserem permanecer no mesmo
lugar (VRIJENHOEK, 1998). Para Vrijenhoek, o modelo da Rainha Vermelha
“fornece uma das mais poderosas explicações ecológicas para a manutenção do
sexo e a diversidade genética em organismos superiores” (RIDLEY, 1993 apud
VRIJENHOEK, 1998, p.626, tradução nossa).
Vrijenhoek (1998) conclui então, que populações assexuadas possuem
algumas vantagens na colonização de novos ambientes e esse pode ser um dos
motivos de sua manutenção, além de terem um processo reprodutivo mais rápido.
Porém, a manutenção de populações sexuadas em competição com populações
assexuadas suporta a hipótese de que a diversidade genética fornece benefícios
ecológicos que compensam os custos do sexo.
Essa atividade tinha como objetivo mostrar aos alunos que
a explicação para o sucesso da reprodução sexuada é que ela aumenta
em muito a variabilidade genética da prole, e uma variabilidade maior
traz múltiplas vantagens na luta pela sobrevivência – a redução da
vulnerabilidade a doenças é uma delas (MAYR, 2008, p.208).
Depois de assistirem ao trecho, foi pedido para que os alunos fizessem a
proposta de uma hipótese para explicar a existência de características diferentes
entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada
um e o relato sobre os peixes mexicanos.
cxii
Após as três atividades iniciais gostaríamos que os alunos conseguissem
perceber que a reprodução sexuada tem como principal vantagem a geração de
variabilidade na população. Como na reprodução sexuada existe a formação de
gametas e a necessidade de encontro entre eles, esperava-se que os alunos
relacionassem que os gametas diferenciados de machos e fêmeas também
podem ter contribuído, evolutivamente, para que diferenças comportamentais
entre esses dois sexos fossem selecionadas.
6.1.4 Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem novas
propostas para explicar a biodiversidade existente
Nessa atividade foram selecionadas imagens disponíveis na internet e
trechos do documentário Evolução com situações que pudessem ser explicadas
tanto pela Seleção Natural, quanto pela Seleção Sexual.
O objetivo era retornar à mesma ideia da primeira atividade, mas agora
esperando que os alunos conseguissem notar as diferenças entre as situações,
ou seja, determinadas características estão presentes em todos os indivíduos da
população e estão relacionadas com a sobrevivência (Seleção Natural) e
características que apresentam dimorfismo sexual, que estão relacionadas com o
sucesso reprodutivo (Seleção Sexual).
Em relação às imagens foi feita uma montagem de dois slides que
mostravam fotos de algumas situações. Nesses slides estavam exemplos de
camuflagem, adaptação que evita a perda de água e machos e fêmeas com
dimorfismo sexual. Para cada imagem o aluno deveria dizer que processo,
Seleção Natural ou Seleção Sexual, atuou no estabelecimento daquela
característica.
Havia ainda um terceiro slide em que foi colocada uma imagem do cérebro
humano, com exemplos de diversas capacidades que não estão diretamente
relacionadas com a sobrevivência. Incluímos a imagem de uma estrutura humana
para que fosse o ponto de partida para a continuação da discussão desses dois
processos nas atividades futuras (Atividades 5-8), pois focariam apenas na nossa
espécie.
Os trechos de filmes que escolhemos faziam parte do documentário
Evolução. Nesse caso, foram selecionados cinco trechos e, após assistirem, os
alunos também deveriam classificar se a situação estava de acordo com a
cxiii
Seleção Natural ou com a Seleção Sexual. Os conteúdos dos trechos
selecionados estão descritos abaixo:

Tuberculose – Esse trecho estava relacionado com o conceito de Seleção
Natural, pois discutia o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos, sendo
usada a tuberculose como exemplo. Nesse caso, a parte selecionada descrevia o
trabalho que Banatvala et al. (1999) estavam fazendo na prisão russa de Tomsk,
em associação com agências internacionais de saúde, numa tentativa de
desenvolver novos tratamentos para pacientes contaminados com bactérias
causadoras da tuberculose que são multirresistentes às drogas. Esse era um
projeto piloto que tinha como objetivo desenvolver novas estratégias para a
tentativa de controle da tuberculose no mundo. No documentário também é
apresentado o pesquisador Alex Goldfarb, que faz parte desse projeto, explicando
sobre o porquê da escolha de uma prisão russa. Então, o trabalho nessa prisão
estava sendo realizado através da associação de diversas equipes preocupadas
com
a
disseminação
global
de
bactérias
causadoras
de
tuberculose
multirresistentes às drogas, sendo discutido o surgimento dessas cepas na Ásia e
regiões da União Soviética, e sua expansão para outras áreas como, por
exemplo, Estados Unidos (BIFANI et al., 2002);

Salamandra - O segundo trecho escolhido também estava relacionado com o
processo de Seleção Natural, uma vez que era sobre uma espécie de salamandra
que tem como característica principal um veneno muito letal. Os pesquisadores
que trabalham com esse grupo de seres vivos discutem como a coevolução de
espécies, a partir da interação de características específicas de cada uma, leva
ao rápido e complexo processo de diversificação adaptativa entre populações
(GEFFENEY et al., 2002). Nesse trabalho, a equipe de Geffeney et al. mostra que
a Seleção Natural está atuando em características que estão relacionadas com a
interação entre organismos de duas espécies distintas, em que os altos níveis de
toxidade do veneno de salamandras do gênero Taricha está associado à
coevolução da resistência a esse veneno em seu único predador natural que é a
cobra da espécie Thamnophis sirtalis. A toxina produzida por esse animal é capaz
de paralisar a musculatura e leva o indivíduo à morte por insuficiência respiratória.
A resistência ao veneno varia entre os indivíduos da população de cobras e
possuem um custo: esses animais são mais lentos em relação aos que não
possuem resistência. A pergunta principal para Geffeney, Williams e demais
cxiv
colaboradores em seus trabalhos é: como toxinas mortais e resistência a elas
evoluíram? Isso porque parece haver um paradoxo nesse processo uma vez que
se todos os predadores morrerem quando entrarem em contato com a
toxina da presa, nenhuma seleção que leve ao aumento da resistência
ocorrerá. Ao mesmo tempo, se a resistência não aumentou, também não
haverá pressão seletiva que leve ao aumento da toxidade (WILLIAMS et
al., 2003, p.155, tradução nossa).
Atualmente, esses pesquisadores têm procurado estabelecer as bases
genéticas, tanto da letalidade do veneno, quanto da resistência, e de como esses
genes se distribuem nas diversas espécies aparentadas;

Pavões - O terceiro trecho escolhido abordava o processo de Seleção Sexual
e focava no trabalho de Marion Petrie. Essa pesquisadora demonstrou que o
sucesso reprodutivo de pavões machos da espécie Pavo cristatus estava
relacionado com variações na cauda dos pavões que pertenciam ao mesmo
grupo (PETRIE et al., 1991), em relação à ocupação de determinado território.
Segundo a pesquisadora, esse dado estava de acordo com a hipótese de Darwin
de que as caudas dos pavões evoluíram a partir da preferência das fêmeas,
sendo um dos exemplos clássicos, presente em livros e textos, de uma
característica extravagante que evoluiu a partir da seleção sexual. Em suas
observações, Petrie pode relacionar que o número de cópulas e de fêmeas a que
um macho tinha acesso estava relacionado com o número de ocelos presentes
em sua cauda e que as fêmeas visitavam vários machos até escolher com qual
iria copular;

Ornamentos Corporais - O quarto trecho selecionado também estava
relacionado com o processo de Seleção Sexual e usava como exemplo a
produção de ornamentos corporais pela nossa espécie. Em um primeiro momento
apresenta os argumentos de Randall White (1992) sobre a importância de se
incluir os ornamentos corporais como mais uma forma de arte do Paleolítico
Superior para se entender o mundo social do passado. Para ele, os ornamentos
corporais estavam relacionados com construções humanas que representavam
valores, crenças e identidade social. Esse trecho também apresentava o trabalho
de Kuhn et al. (2001) em que sua equipe encontrou ornamentos corporais
manufaturados em uma caverna na Turquia, sendo um dos sítios mais antigos do
Paleolítico Superior com esse tipo de artefato. Kuhn et al. (2001) sugerem que
cada tipo de material e tecnologias utilizados na confecção desses ornamentos
cxv
podem estar relacionados com o estabelecimento das relações sociais da época.
Para Kuhn et al. (2001), encontrar objetos manufaturados é uma das primeiras
indicações do desenvolvimento de tecnologia informacional que mediava a
comunicação entre os indivíduos, contribuindo para a criação de uma identidade
social, ou de gênero, ou ainda de características de sua história de vida. Esse
comportamento também era vantajoso para a troca de informações entre grupos
diferentes que se encontravam, possuindo um paralelo com os dias de hoje, em
que ocorre o reconhecimento de grupos a partir de informações visuais, como
roupas e acessórios;

Linguagem - O quinto e último trecho selecionado possuía como exemplo de
capacidade humana a linguagem e uma proposta de desenvolvimento dessa
característica a partir da atuação da Seleção Sexual. Julgamos importante essa
inclusão, pois essa é uma característica que nos diferencia dos demais animais e
que muito se tem discutido sobre sua origem e evolução. No trecho escolhido é
usado como referência o trabalho de Robin Dunbar (1998), em que se discute que
processos atuaram no desenvolvimento do nosso cérebro. Sua principal
discussão e proposta estão relacionadas com o fato de que o cérebro humano
deve ter evoluído a partir das pressões e demandas de um sistema social
complexo, uma vez que primatas apresentam um sistema social mais complexo
que outras espécies. Essa visão é diferente da visão tradicional em que o cérebro
humano teria evoluído a partir das pressões para processar informações
ecológicas relevantes. Dunbar (1998) não concorda com essa visão, pois o
cérebro humano apresenta um custo energético muito grande para ser mantido.
Sendo assim, nessa perspectiva “é muito difícil justificar a afirmação de que
primatas, especialmente humanos, necessitam de grandes cérebros, em
comparação com outras espécies, somente para fazer o mesmo trabalho
ecológico” (DUNBAR, 1998, p.178, tradução nossa). Dunbar e colaboradores
propõem, em sua teoria social sobre o desenvolvimento da mente humana, que a
linguagem se desenvolveu a partir de pressões seletivas sociais, estabelecidas a
partir das complexas relações sociais entre os membros de um grupo (MESOUDI
et al., 2006). Essa evidência é consistente com os resultados encontrados em
suas pesquisas, que mostra que dois terços das conversas informais feitas de
forma livre apresentam como pontos principais de discussão tópicos sociais, tais
como: atividades sociais, relações pessoais, etc. Esses temas são mais falados
que outros como trabalho e política (DUNBAR et al., 1997 apud MESOUDI et al.,
cxvi
2006). Nessa perspectiva, a linguagem evoluiu através da troca social de
informações.
Esse último trecho apresenta uma das propostas para o surgimento da
linguagem e outros autores também concordam com essa perspectiva. Por
exemplo, para Miller (2000),
a linguagem humana evoluiu e se tornou muito mais complexa do que
seria necessário para funções básicas de sobrevivência. Sob uma
perspectiva biológica, arte e música parecem um desperdício de energia,
atividades sem um propósito (p.12).
Esse autor sugere que a mente humana é um conjunto de indicadores de
aptidão e que “a seleção sexual provavelmente moldou a linguagem humana de
ambos os modos: diretamente, pela escolha do parceiro, e indiretamente, pelo
status social” (Miller, 2000, p.381-382).
Baron-Cohen (2004) também destaca o quanto a linguagem deve ter sido
determinante no sucesso reprodutivo das fêmeas ancestrais de nossa espécie,
pois “a mulher com boa capacidade de empatia tinha mais chance de manter o
relacionamento estável enquanto os filhos ainda fossem vulneráveis, promovendo
a sobrevivência deles e a transmissão dos genes dela” (p.153).
Então, após a visualização das imagens e dos filmes foi solicitado aos
alunos que eles explicassem como surgem as variações entre os indivíduos, para
dizer em cada situação se a característica estava relacionada com a Seleção
Natural ou com a Seleção Sexual e discutirem as diferenças entre esses dois
processos.
Ao final dessa atividade foi enviada uma resposta completa para os alunos
diferenciando
conceitualmente
os
dois
processos
que
estavam
sendo
apresentados. Essa decisão foi tomada em função da semana em que se
encontrava o cronograma da disciplina. Pois, o prazo para que os alunos
enviassem as respostas e nós colocássemos o que era esperado como resposta
ocorreu na semana da Avaliação Presencial 1, que poderia ou não conter
questões relacionadas com o tema.
Nesse momento esperávamos que os alunos conseguissem relacionar os
seguintes conceitos: os dois tipos de processos seletivos têm como base as
variações entre os indivíduos que surgem a partir de mutações ao acaso; o
processo de Seleção Natural está relacionado com características que aumentam
as chances de sobrevivência no ambiente e, com isso, o indivíduo consegue
cxvii
chegar à idade reprodutiva e transmitir seus genes às futuras gerações; e que o
processo de Seleção Sexual está relacionado com a escolha dos parceiros
reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual.
6.1.5 Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de homens e
mulheres
A partir da atividade 5, focamos apenas na espécie humana como exemplo
para continuarmos abordando as diferenças entre os conceitos de Seleção
Natural e de Seleção Sexual.
A decisão de usar a espécie humana como exemplo se baseia
principalmente no trabalho de Silva-Porto (2008) que mostra o interesse de alunos
de diversas idades por aspectos relacionados ao comportamento humano,
principalmente o comportamento sexual.
Andrews et al. (2011) em suas atividades também usaram a espécie
humana como exemplo para tentar facilitar a compreensão dos alunos sobre o
processo de Seleção Natural, enfatizando que existem três exigências para que
esse processo ocorra: existência de variação na população, herança dessa
variação e sucesso diferenciado da reprodução.
Essa decisão também se baseia no próprio trabalho de Darwin que em seu
livro A origem do homem e a seleção sexual utiliza exemplos de diversos grupos
animais para mostrar um grande número de comportamentos que estão
relacionados com a escolha de parceiros e a evolução das espécies sexuadas.
Posteriormente, Darwin usa esse mesmo tipo de demonstração para a
espécie humana, mostrando que nossa espécie faz parte do Reino Animal e da
mesma forma que compartilha características morfológicas, embriológicas e etc.,
também compartilha características relacionadas com a expressão das emoções,
escolha sexual e comportamento sexual, com especial ênfase no dimorfismo
sexual que ocorre na espécie humana, assim como em outras espécies (COHEN,
2010).
Além disso, Meston e Buss (2007) indicam que a teoria de Seleção Sexual
deve ser usada para explicar as diferenças encontradas em relação a
comportamentos masculinos e femininos em diversas culturas. A partir dessa
ideia, podemos entender que
cxviii
o sexo que investe mais na prole seria mais exigente quanto à escolha
do(a) parceiro(a) (atração inter-sexual) e o sexo que investe menos
competiria mais avidamente em prol da obtenção de membros do sexo
oposto “mais investidores”, com maior potencial e valor dentro da
comunidade (competição intra-sexual) (BORRIONE e LORDELO, 2005,
p.36).
Hrdy (2001) também faz contribuições sobre a necessidade de uma
compreensão evolutiva de nossa espécie, pois
como podem cultura e socialização explicar os papéis sexuais em
mamíferos que não possuem linguagem nem pensamento simbólico?
(...) Devem estar envolvidas diferenças emocionais que vão muito além
das duas principais diferenças físicas, gestação e lactação (p.230).
Logo, “é tão absurdo falar sobre um comportamento “geneticamente determinado”
quanto afirmar que os genes nada têm a ver com o comportamento” (HRDY,
2001, p.77).
Mayr (2008) também fez contribuições em relação à necessidade de incluir
a espécie humana em discussões referentes à nossa biologia, pois, para ele,
“ignorar a diversidade biológica humana em nome da igualdade só faz mal; isso
tem sido um impedimento à educação, a medicina e a vários outros esforços
humanos” (p.329).
Essa discussão também é importante porque, segundo Darwin (2004),
dados sobre os seres humanos devem ser incluídos “no conjunto geral dos seres
vivos, no que se refere ao seu modo de aparecimento sobre a Terra” (p.9). Sendo
assim, segundo Baron-Cohen (2004)
as características, em geral, só se mantêm sob controle genético quando
conferem alguma vantagem para a reprodução ou para a sobrevivência
do organismo em duas batalhas: sobreviver para atingir a idade adulta e
ser selecionado para ter filhos (p.138).
Para dar início a essa etapa selecionamos duas imagens lúdicas que
mostram os cérebros masculinos e femininos e como os interesses de cada um
dos sexos estariam distribuídos nesse órgão.
Também editamos trechos do filme A verdade nua e crua, pois o filme faz
uma brincadeira sobre quais são os reais interesses de homens e mulheres em
uma relação. Ele mostra um homem tentando convencer uma mulher de que em
relação à atração, ao sexo e aos relacionamentos duradouros os interesses
iniciais e a atração ocorrem de forma diferenciada entre homens e mulheres.
Escolhemos situações bem satirizadas numa tentativa de provocar os
cxix
alunos para que eles continuassem participando das atividades e começassem a
refletir sobre a nossa própria espécie.
Nessa atividade a questão que eles deveriam responder era: “Qual é a
explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira? Concordam ou não
com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade? Homens e mulheres
querem coisas diferentes em um relacionamento?”.
6.1.6 Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres
possuem diferenças
Após a provocação com imagens e textos lúdicos, utilizamos nas novas
atividades dados científicos sobre os possíveis comportamentos sexuais
diferenciados entre homens e mulheres, sua origem e consequência.
Para tal, disponibilizamos um trecho do documentário Instintos16 que é a
descrição de uma experiência realizada em uma universidade de Londres em que
foram escolhidos dois atores desconhecidos e fisicamente atraentes, cada um de
um sexo, para abordarem no campus da universidade pessoas do sexo oposto. A
atriz deveria convidar os estudantes para irem para a cama com ela; e o ator
deveria convidar as estudantes para irem para a cama com ele. Três em quatro
rapazes convidados pela atriz aceitaram de pronto a ideia do programa. Todas as
garotas que foram abordadas pelo ator recusaram a proposta 17.
Também foi disponibilizado um texto, escrito por nós, com as principais
ideias de David Buss a partir de seus estudos com 37 culturas. Seus dados
mostraram que apesar de ambos os sexos valorizarem igualmente o amor mútuo,
a inteligência e a amabilidade; homens valorizam mais a aparência e a juventude
e mulheres valorizam boas perspectivas de recursos para o cuidado com a prole.
Quanto aos relacionamentos de curto prazo, Buss mostra que homens
desejam por volta de 20 parceiras sexuais diferentes durante a vida, ao passo que
as mulheres desejam cerca de cinco.
Para Buss (2000) “os desejos dos homens têm uma explicação direta
baseada nas estratégias sexuais evoluídas. (...) Quanto maior o acesso sexual a
uma variedade de mulheres, maior sucesso reprodutivo” (p.154). Em relação às
16
Série de quarto episódios em dois DVDs, produzidos pela BBC, intitulado Os instintos humanos.
Nas atividades foram usados trechos do episódio Desejos profundos.
17
Esse foi o único trecho selecionado dos documentários que não conseguimos os textos
científicos originas, porém David Buss, em seu livro A paixão perigosa, também cita esse
experimento.
cxx
mulheres, o autor entende que “os recursos reprodutivos das mulheres são
preciosos e finitos, e as mulheres ancestrais não os desperdiçavam com qualquer
homem ao acaso” (p.158).
Outro enfoque de Buss (2000) está nas diferenças percebidas entre os
ciúmes masculino e feminino. Para ele, homens tem mais ciúme sexual devido à
incerteza da paternidade; já as mulheres têm mais ciúme emocional em função da
incerteza do comprometimento masculino. Sendo assim,
o ciúme dos homens é mais sensível a pistas de infidelidade sexual, e o
ciúme das mulheres é mais sensível a pistas de infidelidade emocional.
Essas descobertas interculturais fornecem surpreendente apoio a teoria
de que essas diferenças entre sexos são universais (BUSS, 2000, p.79).
A percepção de que homens e mulheres são diferentes também é
trabalhada por Hrdy (2001), que discute que alguns comportamentos femininos
podem ser iguais em diversas culturas. Para ela, as escolhas atuais, feitas por
homens e mulheres modernos, não contradizem as expectativas evolutivas, pois
as pressões evolutivas sofridas pelas mães humanas estavam relacionadas com
a troca de quantidade de filhotes pela qualidade de seus filhos, ou seja, na
garantia de que pelo menos um filho sobrevivesse e chegasse à idade
reprodutiva.
No caso das escolhas femininas, ainda existe mais um fator que influencia
esse processo que é o ciclo menstrual. Experimentos têm demonstrado que a
preferência feminina varia de acordo com a fase do ciclo menstrual e com o tipo
de relação que será estabelecida, se uma relação de curto ou longo prazo
(LITTLE et al., 2011).
Nesse último caso, para relações de curto prazo as mulheres preferem
homens com traços mais masculinos e para as relações de longa duração
preferem parceiros com traços menos masculinos, isso porque “relações de curto
prazo minimizam a necessidade de avaliar o investimento do parceiro e com isso
a necessidade de escolher um parceiro cooperativo” (LITTLE et al., 2011, p.863,
tradução nossa).
Com isso, a pergunta que os alunos deveriam responder era: “Que
processos podem ter contribuído para o surgimento desses comportamentos
diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou experiência de
vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma relação com as
atividades 1, 2 e 3?”.
cxxi
6.1.7 Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os circuitos
cerebrais e o comportamento sexual da espécie humana
Essa atividade teve como objetivo mostrar aos alunos como é possível
fazer a integração entre comportamentos humanos e o que ocorre no nosso
cérebro, órgão que regula diversas ações.
Uma das tarefas era a leitura de um texto escrito por nós que descreve
experimentos sobre a ativação de circuitos neuronais em duas espécies de
roedores aparentadas filogeneticamente. Nesses experimentos foi demonstrado
como
comportamentos
sociais
e
reprodutores
diferentes
podem
estar
relacionados com uma distribuição diferenciada no cérebro dos receptores para
os neurotransmissores ocitocina e vasopressina. Também foram usados dados de
experimentos com ovelhas.
Também foi solicitado que os alunos assistissem mais dois trechos do
documentário Instintos. O primeiro era sobre um experimento realizado na
Universidade de Sterling, Escócia, em que mulheres, através de um programa de
computador, poderiam modificar fotos de rostos masculinos, alterando as feições
para mais delicados ou mais másculos.
Os resultados mostrados nesse documentário indicaram que as mulheres
que estão ovulando preferem rostos mais másculos, enquanto que as que não
estão preferem os mais delicados. Foi considerado que esses resultados estão de
acordo com a ideia de seletividade feminina, uma vez que rostos mais másculos,
com pescoço mais grosso, mandíbulas e queixos largos e cenho cerrado são os
sinais típicos de força e saúde, qualidades genéticas que uma mulher deseja,
inconscientemente, segundo a teoria da Seleção Sexual, passar à sua prole.
O segundo trecho selecionado era sobre um experimento da Universidade
de Newcastle,
Austrália,
mostrando como
os feromônios
podem estar
relacionados com a atração de parceiros sexuais.
Nesse experimento foi solicitado que seis mulheres dormissem três dias
seguidos com a mesma camisa. Posteriormente, foi solicitado a um homem que
cheirasse essas camisas e colocasse em ordem de maior atração para a menor.
Também foi feito o mapeamento de seis genes que estão relacionados com o
sistema imunológico de todos os participantes.
cxxii
Os resultados mostraram que a atração ocorre por cheiros que revelam um
sistema imunológico mais diferenciado em relação ao da própria pessoa,
indicando que esse é um dos passos que contribui para a escolha de parceiros
com uma constituição genética diferente da sua própria, o que possibilitaria uma
maior variabilidade genética dos filhos.
Essas situações se basearam nos trabalhos de Craig Roberts e sua equipe
(LITTLE et al., 2011), em que avaliaram como o dimorfismo sexual pode
influenciar no julgamento e na atração de parceiros sexuais. As características
usadas em suas experiências estavam relacionadas com o rosto, a voz e o cheiro.
Foi então solicitado aos alunos que, após a leitura do texto e visualização
dos trechos, relacionassem a reprodução sexuada, a evolução de nossa espécie
e a escolha de parceiros.
6.1.8 Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando usados em
conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente
Essa foi a última atividade e nela usamos mais um trecho do documentário
Instintos que mostra que o fato de homens e mulheres produzirem testosterona
de forma diferenciada contribui para comportamentos sexuais diferentes. Além
disso, mostra a ativação de vias do neurotransmissor dopamina quando ocorre a
atração por alguém, levando às mudanças corporais, preparando para o sexo.
Também foi pedido aos alunos que lessem mais um texto escrito por nós
baseado no livro de Helen Fisher: Por que amamos – a natureza e a química do
amor romântico (2008).
Nesse livro a autora descreve como desenvolveu um experimento e seus
resultados em relação à ativação de circuitos neuronais no que a autora chama
de impulso para o acasalamento. Além disso, a autora procura relacionar seus
dados com o que se sabe sobre a evolução das espécies, discutindo sobre as
bases genéticas para produção de determinada substância e de receptores para
tal.
A autora também une suas descobertas ao que já está consolidado sobre o
processo de Seleção Sexual: de que deve existir uma mente por detrás do
processo de Seleção Sexual, já que são indivíduos percebendo e avaliando
outros, mesmo que inconscientemente.
Fisher (2008) considera o amor romântico e, como consequência, o
comportamento sexual, uma característica universal da espécie humana, pois
cxxiii
diversas sociedades humanas deixaram ou deixam registros que falam do amor.
Os dados apresentados por Fisher também mostram que nas diversas
sociedades, os indivíduos sabem diferenciar luxúria, amor e paixão. Para ela,
então, essas emoções/sentimentos são universais, mas suas manifestações
dependem da cultura em que o indivíduo está inserido.
Continuando
sua
explicação,
Fisher
(2008)
destaca
que
os
comportamentos acima citados, criam “uma rede cerebral primordial que leva o
amante a concentrar sua atenção no maior prêmio de sua vida – um parceiro que
possa transmitir seu DNA pela eternidade” (p.99), sendo chamado, então, de “um
impulso humano fundamental para o acasalamento” (p.102).
Com isso, contribui para o entendimento do desenvolvimento e
funcionamento de nosso cérebro,
pois este órgão magnífico deve ter servido a propósitos essenciais:
dentre eles, possivelmente, impressionar parceiros de acasalamento em
potencial com novos tipos de talentos linguísticos, artísticos e morais,
bem como outras formas de sedução (FISHER, 2008, p.180).
Para finalizar as atividades, foi solicitado que os alunos fizessem uma
síntese das diferenças dos processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual,
exemplificando cada um.
Após o término das atividades também foi disponibilizado um texto, escrito
por nós (APÊNDICE II), que abordava os principais conceitos trabalhados nas
atividades. Sendo assim, mesmo quem não fizesse as atividades, poderia ter
acesso aos conteúdos trabalhados através do texto.
6.2 AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DIDÁTICAS
Ao longo desse projeto, nos preocupamos em caracterizar as diferenças
entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, pois acreditamos que
esses dois são centrais para o entendimento da Teoria Evolutiva Darwiniana e
para a explicação da biodiversidade existente.
Em função das dificuldades encontradas no entendimento desse tema por
alunos de diversos níveis de escolaridade, nos questionamos se a inserção de
atividades semanais que abordassem apenas esses conceitos, e não todos os
demais aspectos teóricos e práticos da Teoria Evolutiva, poderiam contribuir para
um melhor entendimento desses processos.
cxxiv
Sendo assim, desenvolvemos oito atividades, que foram disponibilizadas
para os alunos durante oito semanas seguidas, durante dois semestres: 2012-1 e
2012-2. Após as atividades, os alunos deveriam responder uma pergunta sobre o
tema na Avaliação Presencial 2 da disciplina Evolução.
Os resultados obtidos e sua discussão são apresentados em duas partes.
Na primeira está a avaliação da questão “Seleção Sexual”, que estava presente
na Avaliação Presencial 1 de 2012-1, a partir da categorização das respostas dos
alunos. Na segunda estão os Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs) dos dois
semestres em que as atividades foram realizadas e a discussão sobre a possível
contribuição dessas atividades para um melhor entendimento dos processos
seletivos.
6.2.1 Avaliação Presencial 1 - Semestre 2012-1
Nesse semestre, além da questão que foi feita por nós para a Avaliação
Presencial 2, a coordenação da disciplina incluiu uma questão sobre a Seleção
Sexual na Avaliação Presencial 1.
Na época da Avaliação Presencial 1, as atividades já estavam acontecendo
e, na sexta-feira anterior a essa avaliação, foi finalizada a atividade 4. Naquele
momento, foi disponibilizado um arquivo contendo o que era esperado como
resposta ou como ideia principal de cada atividade, até a atividade 4, e uma
explicação sobre as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção
Sexual (APÊNDICE IV).
Na Avaliação Presencial 1 a pergunta de nosso interesse era a questão
quatro: “Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e inter-sexual?”. Essa
avaliação possuía sete questões e os alunos deveriam escolher cinco questões
para responder (cada uma valia até dois pontos).
Essa questão era semelhante à outra presente na Avaliação Presencial 2
do semestre 2009-2 e que foi avaliada por nós (Capítulo 5, item 5.2.2.9). Em
função dessa coincidência, decidimos avaliá-la da mesma forma, usando o
mesmo gabarito. Sendo assim, classificamos as respostas em corretas,
incompletas e incorretas, como mostrado na tabela (Tabela 6.1):
Tabela 6.1 - Distribuição das respostas por categoria
Corretas
Incompletas
Incorretas
cxxv
Não escolheu a questão
Questão 4 – AP1
40
41
48
40
Nessa avaliação, 240 alunos estavam inscritos na disciplina, sendo que
desses, 169 fizeram a avaliação. Com isso, podemos perceber que grande parte
dos alunos escolheu a questão (76%). Entretanto, menos da metade dos alunos
que escolheu essa questão a respondeu de forma satisfatória. Exemplos de cada
tipo de resposta encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.1):
Quadro 6.1 – Questão 4: exemplos de respostas por categoria
Correta
“Seleção intra-sexual é quando
dois machos da mesma espécie
disputam pelo direito as fêmeas e
os
melhores
lugares
para
acasalamento, na seleção intersexual é a fêmea que escolhe
seus parceiros.”
Incompleta
“Seleção intra-sexual ocorre dentro
do mesmo sexo onde os mais
fortes, mais dominantes possuem
melhores condições. Seleção intersexual seleciona os melhores e
mais
adaptados
indivíduos,
independente do sexo (machos ou
fêmeas mais fortes possuem
melhores condições).”
Incorreta
“Seleção
intra-sexual
é
quando indivíduos de uma
mesma espécie e mesma
população acasalam. Já a
seleção inter-sexual ocorre
quando indivíduos de uma
mesma espécie acasalam
com indivíduos de outra
população.”
Os erros encontrados nesse semestre foram semelhantes aos detectados
no semestre de 2009-2. Para responder de forma adequada a essa questão, o
aluno precisava definir os dois subtipos de atuação da Seleção Sexual, que são
as seleções intersexual e intrassexual, e que esses processos estão relacionados
com o aumento das chances de reprodução.
As respostas consideradas incompletas foram assim categorizadas porque
o aluno definiu o que é a Seleção Sexual, mas não mostrou as diferenças entre o
processo intrassexual e o intersexual, que era o que a questão solicitava; ou
respondeu com um subtipo correto e o outro não; ou houve troca das definições e
nomeações dos processos; ou ainda diziam que era um processo adaptativo ou
não adaptativo.
Um problema em relação ao que é considerado adaptativo é que esse
conceito é relativo, ou seja, é necessário que se explique em relação a que
ambiente ou situação tal estrutura ou comportamento é considerado como uma
característica adaptativa. No caso dessa questão, para utilizar o conceito de
adaptação era necessário dizer que os indivíduos que são selecionados possuem
um maior sucesso adaptativo em função das maiores chances de acasalamento,
levando ao sucesso reprodutivo.
cxxvi
Nas respostas incorretas ficou nítido que os alunos não faziam a menor
ideia sobre a que conceito a questão se referia.
Essa questão, que estava presente em duas avaliações (2009-2 e 2012-1),
nos levou a questionar se os alunos conseguem entender exatamente que tipos
de modificações nas espécies estão associados ao processo de Seleção Sexual
e, principalmente, se eles conseguem perceber as diferenças entre esse processo
e o de Seleção Natural. Inclusive, essa problemática sempre foi a questão
norteadora desse trabalho.
Embora o número de alunos que tenha errado essa questão ainda seja
alto, podemos perceber que houve uma diferença em relação ao semestre 20092, como mostra a tabela abaixo (Tabela 6.2):
Tabela 6.2 – Comparação entre os semestres 2009-2 e 2012-1
Semestre das questões
Seleção Sexual
2009-2
AP2
2012-1
AP1
Correta
9%
31%
Incompleta
20%
31%
Incorreta
71%
38%
Não podemos afirmar que a causa para essa mudança tenha sido a
presença das atividades, mas também não podemos deixar de levar esse dado
em consideração.
Como já foi mostrado anteriormente, o processo de Seleção Sexual não é
discutido em todas as disciplinas que abordam a Teoria Evolutiva. E, na própria
disciplina Evolução, esse processo não é conceituado de forma aprofundada, o
que se reflete em poucas questões sobre ela nas Avaliações Presenciais.
Porém, no semestre 2012-1, assim que iniciamos as atividades e ao longo
dela, postamos mensagens na plataforma, a cada semana, indicando o que era
esperado como resposta em cada atividade e definindo os conceitos que estavam
sendo discutidos.
Nas primeiras quatro atividades, que foram finalizadas na semana da
Avaliação Presencial 1, tivemos uma participação de 49, 34, 19 e 10 alunos, nas
atividades 1 a 4, respectivamente, de um total de 240 alunos inscritos.
A pouca adesão dos alunos pode estar relacionada com o fato de que
nessa modalidade de ensino o aluno é o principal responsável pelo seu estudo e,
com isso, pela escolha de quais ferramentas ou suportes irão utilizar para
cxxvii
aprender e se aprofundar nos conteúdos das disciplinas (SANTOS, 2006; ABREU
et al., 2007; ALONSO, 2010; RONCHI et al., 2012).
Porém, o principal questionamento feito por nós é: apesar de definirem de
forma correta os subtipos de Seleção Sexual, os alunos conseguem entender
realmente que esse processo está relacionado com um maior sucesso
reprodutivo, por estar associado a características que são indicativas de bons
genes?
Embora os alunos não tenham tido grande sucesso com a questão que
abordava a Seleção Sexual na Avaliação Presencial 1, esperávamos que na
Avaliação Presencial 2, após todas as atividades terem sido realizadas
(APÊNDICE IV) e com a disponibilização do texto (APÊNDICE II), os alunos
conseguissem responder de forma satisfatória à questão formulada por nós.
6.2.2 Avaliação Presencial 2 - Semestres 2012-1 e 2012-2: Os Discursos do
Sujeito Coletivo
Após a realização das atividades foi colocada uma questão na Avaliação
Presencial 2 de cada semestre sobre o tema apresentado. Como as questões
eram diferentes, avaliamos cada uma delas separadamente.
6.2.2.1 Semestre 2012-1
Na Avaliação Presencial 2 a questão formulada por nós foi: “Os processos
de Seleção Natural e Seleção Sexual fazem parte da Teoria Evolutiva formulada
por Charles Darwin. Muitos teóricos evolucionistas indicam que esses dois
processos, em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente. Diferencie
esses dois processos, dando um exemplo de atuação de cada um”. Essa questão
era obrigatória para todos e valia um ponto extra.
O gabarito era: “Na seleção natural ocorre a sobrevivência diferenciada de
indivíduos de uma população. Nesse caso, variações surgidas ao acaso, mas que
aumentem o valor adaptativo de determinada característica, aumentando as
chances de sobrevivência do indivíduo e, com isso, a chegada à idade
reprodutiva, são selecionadas e passadas às futuras gerações, ou seja, está
relacionada com os mecanismos que estão envolvidos nas transformações das
espécies, a partir das taxas de sobrevivência diferenciadas em função das
cxxviii
variações entre os indivíduos da população. Na seleção sexual ocorre o
estabelecimento de características que aumentam o sucesso reprodutivo, em
função disso, os indivíduos competem pelos melhores parceiros e, como
consequência, temos a continuidade da espécie. Nesse caso, a seleção sexual é
um processo evolutivo intraespecífico de escolha dos parceiros reprodutivos,
podendo ser intrassexual ou intersexual. Como exemplo de característica
estabelecida pelo processo de seleção natural temos o olho humano e pelo
processo de seleção sexual as cores de pássaros, cantos e ornamentos, como a
cauda dos pavões”.
Após a realização da Avaliação Presencial 2, transcrevemos as respostas
dos alunos para montar o Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e LEFÈVRE,
2003) com o objetivo de saber se as atividades contribuíram para uma melhor
apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva.
Em função de a questão solicitar a diferenciação dos dois processos,
Seleção Natural e Seleção Sexual, os alunos responderam a pergunta definindo
um processo e depois o outro. Para facilitar a análise, fizemos os DSCs de cada
um separadamente e não consideramos os exemplos, pois eram muito
diversificados e corretos na maioria das vezes. Além disso, o que realmente nos
interessava era se as conceituações apresentadas pelos alunos estavam corretas
a partir do que era esperado por nós, após as atividades terem sido realizadas e o
texto disponibilizado.
Os Discursos-Síntese18 montados e as Ideias-Centrais correspondentes,
sobre o processo de Seleção Natural, encontram-se no quadro abaixo (Quadro
6.2). Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em cinco IdeiasCentrais. É importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-central por
aluno. As Ideias-centrais formadas foram:

Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural – todas as
respostas assim classificadas apresentaram conceitos que definiam de forma
adequada o processo de Seleção Natural;

Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Natural – nessa
categoria estão as respostas que, apesar de não estarem erradas, não explicam
de forma satisfatória o processo de Seleção Natural;
18
Os Discursos-Síntese ficaram longos em função da grande quantidade de respostas que foi
utilizada para sua montagem. Além disso, ao longo de cada discurso as ideias se repetem, pois os
alunos apresentaram respostas muito semelhantes em suas avaliações. Como essa metodologia
procura caracterizar de forma qualitativa ideias que fazem parte do grupo, todas as respostas, por
mais parecidas que sejam, devem ser consideradas.
cxxix

Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Natural – nesse
caso estão as respostas que apresentavam a noção de que existe algum agente
ou objetivo consciente no processo de Seleção Natural;

Explicações Incorretas – respostas que não apresentavam nenhuma relação
com o que tinha sido perguntado;

Explicações Contraditórias – respostas que iniciaram apresentando de forma
correta o processo de Seleção Natural, mas que ao longo da explicação
mostraram confusões de conceitos, comprometendo a explicação.
Quadro 6.2 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Natural
Ideia-Central
Ideia-Central
Explicações
corretas sobre o
processo de
Seleção Natural
Discurso-Síntese
A seleção natural é o processo onde os seres mais aptos sobrevivem, em
que uma dada característica tem sua frequência aumentada ou diminuída
pelo meio onde está inserida, por apresentar vantajosa ou não para a
sobrevivência do indivíduo e para sua reprodução. Assim, os seres mais
adaptados ao ambiente e suas constantes modificações sobrevivem.
Segundo Darwin, seria a sobrevivência do mais apto nas condições
presentes, deixando descendentes, assim suas características que lhe
conferem melhor adaptação ao meio, seriam passadas a prole e a adaptação
é consequência da seleção natural. A seleção natural trata dos mais diversos
caracteres e da maneira como eles são selecionados de acordo com a
capacidade adaptativa do indivíduo, pois seleciona indivíduos que tem mais
chances de se adaptar, desenvolver, reproduzir (maior percentual de
sobrevivência) em determinado ambiente fazendo com que esses indivíduos
aumentem suas espécies e eliminando os menos adaptados. É a ação dos
agentes bióticos e abióticos que geram alguma modificação na sobrevivência
do indivíduo, isto é, um fator que lhe confere maior ou menor possibilidade de
sobrevivência em seu ambiente e os indivíduos são selecionados pelo meio e
os mais bem adaptados tem maior possibilidade de sobrevivência. A seleção
natural é uma força evolutiva que seleciona características nos organismos
que os favoreçam na conquista de determinado ambiente conferindo-lhe
vantagens sobre os demais nesse propósito, se determinada característica
confere vantagem ao indivíduo, esse será selecionado positivamente. É a
proporção estatística da taxa de sobrevivência (ou mortalidade) de diferentes
organismos para uma ou mais características e ocorre quando um indivíduo
é o mais adaptado a certo ambiente em certo momento, obtendo vantagem e
alcançando sucesso reprodutivo (deixa mais descendentes e mantém seus
genes na população). É um processo evolutivo que gera sobrevivência
diferencial daqueles portadores de alelos mais bem adaptados a determinada
condição ambiental e temporal, ocorrendo quando um indivíduo mais
adaptado às alterações do meio ambiente consegue sobreviver. A seleção
natural age selecionando o mais adaptado / apto ao meio, pois atua sobre as
variações gênicas que resultem em características que propiciem maiores
chances de sobrevivência, ou menor mortalidade, ocorrendo a partir de
características adaptativas, onde indivíduos mais tolerantes ou mais
adaptados terão mais chances de sobreviver e passar essas características
para seus descendentes, do que os menos adaptados. É a seleção de
caracteres originados por mutação de acordo com o ambiente e diz respeito
a taxa de sobrevivência (ou mortalidade) desigual ou desbalanceada para
uma certa população, pois caracteres adquiridos em uma população por
mutação ou migração são selecionados de modo que os indivíduos
portadores dos caracteres mais vantajosos deixam um maior número de
descendentes, aumentando o seu número a cada geração. Nesse caso, a
adaptação do organismo ao meio faz toda a diferença, levando o mesmo a
sobrepujar os demais da própria espécie, na aquisição de alimentos, abrigos,
cxxx
as características adquiridas o tornam mais propenso a sobreviver no meio,
atuando em características que são vantajosas que proporcionam a
sobrevivência do indivíduo em um determinado ambiente. O processo de
seleção natural está relacionado à adaptação das estruturas e condições de
sobrevivência do organismo e é o processo em que o ambiente em que
determinada espécie se encontra seleciona, permite que os mais adaptados
sobrevivam e tenham condições de procriar e transmitir seus genes aos
descendentes, já que indivíduos mais adaptados sobrevivem e deixam
descendentes. A seleção natural ocorre por conta de uma pressão seletiva
do ambiente que permite a sobrevivência daquele mais apto aos rigores
desse ambiente, os mais bem adaptados ao ambiente são selecionados pelo
mesmo, sobrevivendo nas condições disponíveis. É uma força evolutiva que
atua sobre caracteres que conferem ao indivíduo sobrevivência e que esses
caracteres podem ser passados para a sua prole. Um evento de mutações
ocorre podendo levar o indivíduo a sobreviver ou morrer e é um processo no
qual atua sobre populações, como no caso de que só o mais adaptado ao
ambiente sobreviverá e os indivíduos que apresentassem características que
lhe conferisse vantagem conseguiriam atingir a fase de reprodução e deixar
descendentes, contribuindo para a perpetuação de seu genótipo. A seleção
natural é quando ocorre uma mutação ao acaso e ela gera para o indivíduo
uma característica, se esta for favorecida pelo ambiente e trouxer uma
vantagem ao indivíduo ele provavelmente irá sobreviver mais e deixar um
maior número de descendentes, sendo o processo pelo qual os mais bem
adaptados à determinadas condições irão sobreviver e é um processo natural
de evolução que ocorre, onde o que mais se adapta ao meio é que
sobrevive. Na seleção natural ocorre uma mudança no indivíduo se essa
mudança é vantajosa é mantida na população, atua nas características de
sobrevivência das espécies ao ambiente em que estão. Se o indivíduo
conseguir gerar descendentes fortes e saudáveis temos a característica
sendo passada adiante e em uma população com indivíduos com
características mais vantajosas naquele determinado habitat irá se
desenvolver e transmitir seus genes às gerações posteriores. É um processo
que atua sobre diversas características, gerando adaptações que permitem a
espécie um maior grau de sobrevivência e pode ser dito como a
sobrevivência diferencial, o meio seleciona o ser mais bem adaptado para
ele, esse processo determina descendências com modificações e o mais
apto é o qual sobrevive. É a seleção dos mais adaptados que sobrevivem e
passam o gene para a próxima geração, a sobrevivência do mais apto e o
menos adaptado morre. É a força que determina a direção do fluxo gênico no
sentido de mortalidade e sobrevivência do organismo e o processo que
seleciona diferentes características (alelos) naturalmente e involuntariamente
podendo levá-las a extinção ou fixação dependendo de como essas
características serão aproveitadas pelos indivíduos em seus diferentes
habitats, agindo sobre todas as espécies, de modo que as mais aptas
sobrevivem e continuam a evoluir, ao contrário das menos aptas àquelas
situações encontradas. A seleção natural é aquela que o indivíduo com as
melhores características para sobreviver, ou seja, caçar, copular, fugir de
predadores, em um determinado momento e com exigências pertinentes
aquele momento, levará vantagem sobre os demais e suas características
serão passadas adiante, sendo assim selecionadas naturalmente gerando a
adaptação, onde o indivíduo consegue sobreviver sob as circunstâncias do
ambiente, pois o ambiente seleciona o indivíduo mais apto para viver num
determinado ambiente, atuando na população eliminado os indivíduos que
não se adaptaram ao meio em que vivem, eliminando com isso os genes que
expressam a característica fenotípica não adaptada. Na seleção natural
permanecem somente aqueles que se adaptam ou possuem alguma
característica a seu favor para sua sobrevivência no meio, seleciona as
espécies mais adaptadas para sobreviverem independentemente do seu
sexo e está relacionado com ao seu estado, caráter, nesse processo, as
características que vão garantir a sobrevivência do organismo no ambiente
serão transmitidas aos seus descendentes, somente os indivíduos mais bem
adaptados a um dado ambiente, terão mais chances de sobrevivência e
melhor sobrevivem aqueles que melhor se adaptam ao meio disponível. É a
cxxxi
Ideia-Central
Explicações
incompletas
sobre o processo
de Seleção
Natural
força evolutiva que irá manter nas populações naturais aqueles indivíduos
que forem mais aptos a sobreviverem, os que tiverem as melhores
estratégias, ou caracteres para sobreviverem, é uma seleção determinada
pelo ambiente em que espécies estão inseridas, pois uma vez que esse
ambiente sofra alguma alteração as espécies que lá vivem caso não se
adaptem a essa alteração poderão morrer. É a força evolutiva que atua sobre
todos os indivíduos selecionando os organismos mais aptos ao ambiente,
sendo capaz de sobreviver as condições impostas pelo meio, perpetuando
aqueles indivíduos que apresentarem características que melhor se adaptem
ao meio, o indivíduo é selecionado por possuir determinada característica
(selecionado pelo ambiente / meio que vive) que o torna mais apto à
sobreviver, conseguir alimento e se reproduzir. Na seleção natural mutações
no DNA de indivíduos que levem a uma vantagem adaptativa, por exemplo, é
selecionada naturalmente e é passada para as próximas gerações e é a
reprodução diferencial de um indivíduo onde os mais bem adaptados é que
vão sobreviver, atuando conforme mudanças do meio, selecionado
favoravelmente os indivíduos mais aptos a sobreviverem sob determinadas
condições do meio e passarem essas características para as próximas
gerações. É um processo natural onde a sobrevivência está ligada a quem
possui características mais adaptadas ao meio em que vive, que podem ser
força, tamanho, cor, forma, velocidades, é a sobrevivência diferencial, ou
seja, determina um processo de descendência com modificações. O
ambiente é um fator determinante que possibilita que o organismo que tenha
determinada estrutura e função, possa garantir a sua sobrevivência e
reprodução naquele ambiente, é aquela em que o indivíduo que melhor se
adapta às condições ambientais é o que prevalece e sobrevive reproduzindose e dando continuidade à sua espécie, sendo selecionadas dentro de uma
espécie as melhores características que melhoram a sobrevivência,
adaptabilidade, estabilidade e na competição por alimento. Os critérios
(pressões seletivas) possibilitam a sobrevivência dos que conseguirem se
adaptar melhor a essas pressões e os indivíduos que melhor se adaptarem
ao meio onde vivem, terão mais condições de se fixarem na população
deixando descendentes, e fixando também seus genes os quais resultaram
nessa adaptação. A seleção natural é um processo que atua na variabilidade
gênica, maximizando a sobrevivência do indivíduo que possua característica
genética que lhe forneça vantagem em determinado ambiente e condições,
promovendo uma seleção de caracteres mais adaptados para a
sobrevivência, garantindo sua predominância nas próximas gerações. Dessa
forma a seleção natural é econômica pois favorece características genéticas
menos custosas e sucessivas mutações levam à especiação.
A seleção natural atua nos indivíduos em seu ambiente e já seleciona os
mais adaptados no ambiente, pois é uma das forças evolutivas que age no
meio ambiente que promove a seleção entre as espécies, pois seleciona os
indivíduos mais bem adaptados, com as melhores características que
possam ser passado para as próximas gerações. Na seleção natural as
características ambientais, fatores bióticos e abióticos, atuam na seleção dos
organismos mais adaptados e as características são selecionadas pelo
ambiente (fatores bióticos e abióticos) onde os mais aptos naquele ambiente
e naquele momento são selecionados e seus genes são fixados. Age sobre
os caracteres morfológicos de uma população selecionando os indivíduos
mais aptos que passarão seus genes a seus filhos e futuras gerações. A
seleção natural vai causar uma pressão sobre os indivíduos melhores aptos
selecionando esses, sendo assim, age no sentido de fixar alelos mais
vantajosos em certo tempo e ambiente. Atua nos mais variados genes que
conferem aptidões na morfologia, na estrutura e no comportamento do
indivíduo, de forma a selecionar na população os indivíduos mais bem
adaptados e preparados, fazendo com que essa característica seja passada
para as gerações seguintes; o indivíduo mais bem adaptado a determinado
ambiente é selecionado e pode passar suas características adiante através
dos descendentes. A seleção natural ocorre a partir dos caracteres e das
vantagens adaptativas dos indivíduos ao ambiente independente se é
masculino ou feminino, atua na escolha de indivíduos que tenham
características mais favoráveis, “adaptadas”, para determinada demanda, a
cxxxii
Ideia-Central
Explicações com
ideia de que os melhores adaptados são selecionados, de forma a selecionar
os mais adaptados a pressões seletivas, sofridas por uma espécie, em um
determinado local, período, espaço de tempo. Essa força atua selecionando
indivíduos que possuem características vantajosas para a espécie e é um
processo que mantém as características preexistentes que dão vantagens
adaptativas aos indivíduos em relação ao ambiente, pois diz respeito a um
dado caracter surgido por mutação e que foi selecionado por situações
ambientais. A seleção natural é uma avaliação estatística da taxa de
natalidade ou mortalidade em uma população e se baseia principalmente na
adaptação da espécie ao meio, atuando de modo a selecionar indivíduos que
tem vantagens em relação a outros. É o processo que ocorre ao longo da
evolução, que seleciona os genes mais adaptados as condições que uma
espécie está vivendo naquele momento, sendo o processo em que as
características vantajosas tem uma vantagem no ambiente e estas são
transmitidas aos seus descendentes, pois só permanece no ambiente as
características vantajosas. Nesse processo o indivíduo é selecionado por
possuir um gene que lhe confere melhor vantagem, com isso esses
indivíduos que possuem tais características conseguem passar para
próximas gerações essas variabilidades. É o processo pelo qual o meio
ambiente age sobre as diferenças genéticas acumuladas ao longo do tempo
pelas mutações, atuando de forma geral selecionando as modificações
vantajosas (mutações) a determinados organismos que as possuem, em que
o meio seleciona os organismos que manifestam os caracteres adequados
as condições que são proporcionadas, agindo / selecionado os indivíduos /
organismos mais bem adaptados ao meio e com maiores chances de
deixarem descendentes férteis. Ocorre quando ao acaso alguns indivíduos
possuem em seu código genético mutações que os permitem estarem mais
adaptados que os demais e seleciona os seres por adaptação ao ambiente
que pode ser por mutação ou outros e pode ser favorável ou desfavorável.
Trata-se de um agente que atua de forma imparcial, selecionando os
organismos, avaliando suas características face o ambiente no qual estão
inseridos (por ambiente consideramos tudo aquilo que não está sendo
avaliado) e envolve capacidade adaptativa referente ao ambiente, como por
exemplo, alimentação e clima. É um processo que age sobre a variedade
genética da população que reflete em variedade fenotípica, selecionando a
característica mais favorável a população em determinado momento, ou seja,
é baseada em valor adaptativo, que é quando um ser se adapta melhor e
consegue se sobressair a outro. As forças evolutivas que ocorrem durante a
seleção natural é que selecionam os mais adaptados e elimina os menos
adaptados ao agirem na variação gênica, uma vez que favorece os genótipos
mais bem adaptados, aumentando assim o valor adaptativo médio. É um
acontecimento que garante a existência de espécies mais fortes e mais bem
adaptadas ao ambiente em que se encontram. É o processo onde o indivíduo
apresenta características que o adapta melhor em seu habitat sendo
considerado mais hábil ou tendo vantagens evolutivas que são passadas aos
seus descendentes, predominando o indivíduo com características melhor
adaptadas a determinado ambiente, consistindo na prevalência de um
indivíduo com características mais bem adaptadas ao meio em que vive do
que outro indivíduo não tão adaptado. Vai influenciar nos caracteres que
melhor se adaptam às mudanças naturais ao longo do tempo evolutivo, no
qual o indivíduo pode sobreviver ou morrer diante de forças da natureza. É o
processo pelo qual as espécies mais adaptadas são selecionadas pelo meio
e indica as características que melhor se adaptam ao ambiente e a este
indivíduo neste espaço de tempo. A seleção natural acontece em processos
deterministas onde os indivíduos são selecionados de acordo com suas
características mais adaptadas ao ambiente em determinado momento,
sendo o processo que diferencia as espécies ao longo do tempo. É
determinista e o processo de especiação ocorre pela seleção do organismo
mais bem adaptado ao ambiente, pois age selecionando características que
apresentem melhor vantagem evolutiva, podendo também desencadear um
processo de especiação.
A seleção natural é econômica e visa maior adaptação das espécies, pois diz
respeito as condições em que determinadas espécies são selecionadas para
cxxxiii
ideia de objetivo
do processo de
Seleção Natural
Ideia-Central
Explicações
Incorretas
que se desenvolvam, de acordo com os recursos existentes naquele
ambiente, moldando os caracteres visando maior sobrevivência. Refere-se à
uma seleção que é feita para a escolha dos mais bem adaptados, aptos a
viver em determinados locais, e, assim, manter a espécie, ou seja, certos
indivíduos desenvolvem determinadas características que os possibilitam
enfrentar diversos problemas, se adaptando ao local que estão, e os
melhores acabam sobrevivendo e sendo selecionados, e os mais fracos não
aguentam, ou seja, os que possuem características específicas para
“aguentar” aquele local acaba levando vantagem sobre os outros, mantendo,
assim, o nível de sua espécie em um tamanho bom. A seleção natural avalia
a biodiversidade por selecionar características que permitem a adaptação do
indivíduo às condições do ambiente e permite que haja diferentes estruturas,
ocorrendo quando as espécies conseguem se adaptar ao meio ambiente de
acordo com o tempo e com o espaço, sendo assim serão selecionados e
sobreviverão. A seleção natural advém a partir da sobrevivência do mais
forte e mais apto para se adaptar ao meio e seleciona as melhores
características dos seres vivos para mantê-las nas futuras gerações,
enquanto que as características desvantajosas são eliminadas. É a força de
pressão evolutiva na qual as populações desenvolvem características
adaptadas conforme as mudanças ambientais, pois seleciona as espécies
que sofreram mutação e que essas foram vantajosas para a espécie, assim
evoluindo para uma melhor sobrevivência. Nesse processo, os indivíduos
adquirem características que torna-os mais aptos às novas condições
ambientais no tempo e no espaço. É uma força evolutiva que tem como
matéria-prima a variação gênica. Ela “escolhe” os genes mais bem
adaptados para a sobrevivência e reprodução e por conseguinte vai
determinar a frequência gênica de uma população. Na seleção natural quem
sobrevive é o mais apto aquele que adquiriu características vantajosas para
sua sobrevivência. É um processo de seleção que o ambiente faz para
organismo melhores adaptados a determinadas condições de vida.
Charles Darwin em sua Teoria da Evolução não soube explicar como eram
repassadas as características vantajosas para as espécies. Que essas
características são repassadas através de genes herdados dos nossos
ancestrais, que os caracteres sexuais são repassados de nossos ancestrais,
que existe maior possibilidade da adaptação ser mais vantajosa quando os
genes para aquela habilidade for herdado de um ancestral vigoroso, com
saúde, do que um gene que traz em sua ancestralidade doenças deletérias.
É o processo que atua em todos os meios e em todos os instantes,
interagindo de modo global. É um processo determinista, é a força que molda
o caráter, que movimenta o processo e determina o estado da população. É
o processo evolutivo atrelado a existência / sobrevivência do mais forte, aí
incluindo adaptabilidade ao meio ambiente, deriva gênica, mutação e
condições favoráveis ao pleno desenvolvimento das espécies envolvidas
dentro de um macro conceito ecológico. A seleção natural é uma explicação
geral para o fenômeno dos altos níveis de variação gênica encontradas nas
populações naturais, através por exemplo de mutação no gen. Ela atua no
ambiente, ou seja, a espécie que sobrevivesse melhor a sua barreira
geográfica ou o mais adaptado é que transmitirá o seu gene e atua na
população de acordo com a expressão gênica dos alelos no ambiente do
momento. A espécie mais evoluída sobrevive melhor por possuir mais
chances contra predadores, melhor adaptatividade e mutações que podem
tê-los tornado mais fortes em comparação com espécies semelhantes. A
seleção natural atua naqueles organismos melhores adaptados e fortemente
interagidos aquele meio que o cerca (habitat). Ocorre levando-se em conta a
deriva gênica e fatores ocasionados pelo acaso, fatores relacionados à
natureza. É o processo que molda os processos de mutação e deriva gênica,
sendo assim um fator importante da evolução. É quando ocorre a seleção de
alguns indivíduos devido a alguma característica que adquiriram por
processos evolutivos, age tornando um tipo mais predominante que o outro,
escolhendo ao acaso, moldando as populações com uma interferência
gênica a nível molecular, onde os seres vivos disputam com outros seres
vivos e o meio para sobreviverem, pois é uma força que atua junto com a
deriva gênica, excluindo genes desvantajosos ao seu meio e período em que
cxxxiv
Ideia-Central
Explicação
Contraditória
vivem. É um processo aleatório, por acaso, dependendo da seletividade e
variedade daquela espécie. Vai atuar de forma que todo conjunto seja levado
em conta e não apenas uma característica e mantém os mais aptos
independente do sexo, como por exemplo os homozigotos se fixarem em
uma população em detrimento dos heterozigotos. Baseados nos modelos de
seleção inter e intra específica, de modo que na seleção intra específica
estaremos selecionando gênero e espécie e na seleção inter específica
estaríamos selecionando indivíduos dentro de uma mesma espécie. É o
processo pelo qual caracteres genotípicos e fenotípicos são selecionados ao
acaso visando a adaptação ou não do indivíduo no meio. A adaptação ou
não do indivíduo dependerá da atuação de forças como mutação (deletéria,
benéfica ou neutra) e deriva gênica. Porém, a variabilidade genética se dá ao
acaso, sendo maior em populações abertas aumentando as variabilidades
genotípicas e fenotípicas.
A seleção natural ocorre quando alguma mutação ou característica confere
ao indivíduo uma vantagem adaptativa, ampliando sua continuação. Essa
variação ocorre ao acaso e nem sempre as mutações conferem vantagem,
pois é a sobrevivência diferencial de alelos (genes) numa dada população
que atua ao acaso sobre a deriva gênica conferindo maior valor adaptativo. A
seleção natural ocorre ao acaso e não seleciona os indivíduos mais fortes, e
sim os mais adaptados. Além disso, favorece a sobrevivência ou morte de
indivíduos que possuem frequência adaptativa maior, visto que
características novas, nem sempre são vantajosas ou características
vantajosas nem sempre são adaptativas. Nesse processo, as alterações
ocorridas podem ser positivas ou negativas e, por intermédio da seleção
natural, seriam fixadas as mudanças que naquele momento fosse favorável
ao espécime em questão, “proporcionando” algum tipo de vantagem ao
acaso. A seleção natural atua de forma aleatória, favorecendo os organismos
que apresentam adaptações para aquele ambiente e período e o indivíduo
mais adaptado prevalece dando continuidade a deriva gênica, e os menos
adaptados acabam por serem eliminados naturalmente.
Nessa avaliação, o número de alunos inscritos na disciplina diminuiu em
função do trancamento da disciplina (37 alunos). Além disso, 44 alunos faltaram a
avaliação e, dos que fizeram avaliação, 7 não responderam a questão, sobre
nenhum dos dois processos. Com isso, 153 alunos responderam sobre os dois,
ou pelo menos um dos dois processos.
Na tabela abaixo (Tabela 6.3) está o número de respostas utilizadas para a
formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram
incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma
atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra.
Tabela 6.3 – Número de respostas x Ideia-central
Explicações corretas sobre o
processo de Seleção Natural
Número de
respostas
Número de alunos que fez
pelo menos uma atividade
Número de alunos que
indicou ter lido o texto
65
22
7
cxxxv
Explicações incompletas sobre o
processo de Seleção Natural
Explicações com ideia de objetivo
do processo de Seleção Natural
Explicações Incorretas
Explicação Contraditória
Não respondeu sobre a seleção
natural
45
16
6
12
3
0
22
7
2
2
2
--
1
1
--
Em relação ao processo de Seleção Sexual, os Discursos-Síntese
montados e as Ideias-Centrais correspondentes encontram-se no quadro abaixo
(Quadro 6.3). Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em sete IdeiasCentrais. É importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-Central por
aluno. As Ideias-Centrais formadas foram:

Explicações corretas sobre o processo de Seleção Sexual – todas as
respostas assim classificadas apresentaram conceitos que estavam de acordo
com o gabarito da questão e que definiam de forma adequada o processo de
Seleção Sexual;

Escolha de parceiro reprodutivo – apenas indicava que um dos sexos escolhe
o parceiro reprodutivo em função de determinadas características;

Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Sexual – nessa
categoria estão as respostas que, apesar de não estarem erradas, não explicam
de forma satisfatória o processo de Seleção Sexual;

Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual – nesse
caso estão as respostas que apresentavam a noção de que existe algum agente
ou objetivo consciente no processo de Seleção Sexual;

Explicações Contraditórias – respostas que indicavam que a Seleção Sexual
é um processo não adaptativo;

Explicações Incorretas – respostas que não apresentavam nenhuma relação
com o que tinha sido perguntado;

Disputa entre machos - apenas indicava que os machos disputam as fêmeas
no processo de reprodução.
Quadro 6.3 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Sexual
Ideia-Central
Ideia-Central
Explicações
corretas sobre o
processo de
Discurso-Síntese
A seleção sexual não deve ser entendida como um tipo de seleção natural,
mas como um processo evolutivo diferenciado que gera mudanças
morfológicas, fisiológicas ou comportamentais entre os sexos, devido a uma
pressão da reprodução diferencial. Atua nos genes relacionados às
cxxxvi
Seleção Sexual
características que são voltadas para o acasalamento, o indivíduo é
selecionado não mais pelo ambiente, e sim pelo indivíduo do sexo oposto a
partir de suas características sexuais, como mecanismo de corte, coloração,
tamanho, força, atuando no sentido de favorecer variações que resultem em
uma maior chance de reprodução. Está relacionada diretamente com o
sucesso reprodutivo e atua de forma que o macho com atributos mais
chamativos, ou vocálicos, que se destacam dos outros machos, possam
atrair as fêmeas ou disputá-las a fim de que seus genes possam propagar-se
através da próxima geração, atua sobre indivíduos de determinado sexo, de
maneira que características vantajosas para a reprodução, acasalamento,
corte sejam perpetuados. Diz respeito à competição sexual para a
reprodução e mantém características que dão maiores vantagens
reprodutivas, baseia-se na seleção ou escolha de parceiros para o
acasalamento, podendo ser de dois modos: Intraespecífica = quando há
disputa entre os machos por uma fêmea. Interespecífica = quando a fêmea
escolhe entre os machos, o que tem características que mais lhe atraem.
Atua nas características de maior eficiência na reprodução, ou seja, na
passagem dos alelos a próxima geração, na competição para conseguir um
parceiro para reprodução ou dependerá da preferência desenvolvida pelos
parceiros sexuais, já que independente do macho ser mais selecionado
naturalmente ele não obterá sucesso na proliferação da espécie se não
apresentar as características de preferência da fêmea para acasalamento. A
seleção sexual gera indivíduos com maior probabilidade de acasalamento, e,
consequentemente, de deixar uma maior descendência, colaborando mais
para a perpetuação da espécie, porém, muitas vezes, são mais vulneráveis à
predação justamente pelas mesmas características que o fazem ser bem
sucedido na seleção sexual, sendo aquela em que os machos lutam entre si
para poderem copular, ou as fêmeas escolhem os melhores exemplares para
copularem, passando adiante as “melhores” características aos futuros
descendentes. É um agente mais específico, surgindo a partir da reprodução
sexuada, que atua selecionando os organismos para reprodução a partir da
avaliação de outros organismos, em geral, da mesma espécie e de sexo
oposto, é a chance que um indivíduo tem, aumentada em muito, por ter
características corporais que os diferenciem dos demais indivíduos de se
reproduzir. Contudo muitas vezes essas características o tornam vulnerável e
diminuem a sua chance de sobrevivência, o que pode tornar o indivíduo mais
propício a deixar descendentes férteis, mas ao mesmo tempo pode o tornar
mais suscetível para seus predadores. Na seleção sexual a característica
não confere vantagem à sobrevivência dos indivíduos, mas à competição
para alcançar um parceiro reprodutivo e atua conforme a aptidão que certos
indivíduos têm de conseguir parceiros para a reprodução. São selecionadas
características ligadas ao acasalamento, tipo corte do macho, penas e
plumas coloridas, o canto, tudo para chamar a atenção da fêmea ou um
chifre maior, músculos mais fortes para a disputa entre machos pela fêmea.
É um acontecimento dentro de um grupo onde os machos e as fêmeas com
melhores características (falando de modo grosseiro) e com maior
possibilidade de garantir o sucesso de sua prole, conseguirão fecundar seus
óvulos e espermatozóides e perpetuar sua espécie. A seleção sexual
privilegia os indivíduos que tem maior chance de reprodução, ou seja,
aqueles que são mais fortes para competir pela fêmea, aqueles que chamam
mais atenção das fêmeas, ou seja, as fêmeas selecionam seus parceiros e
os menos “interessantes” tem menos chance de se reproduzir e não passam
seus genes para a frente caso não se reproduzam; seleciona os indivíduos
em relação aos seus caracteres morfológicos que lhe dão uma vantagem
reprodutiva e parece ser antagônica a seleção natural, já que muitos desses
indivíduos para conseguirem uma maior chance de passar seus genes
possuem características bastante chamativas, como cores fortes, plumagens,
canto diferenciado e etc. Nesse caso a fêmea poderá ser atraída por aquele
indivíduo que lhe pareça conferir genes saudáveis. É dividida em:
intrassexual e intersexual, onde a primeira é disputa entre os machos da
mesma espécie em competição pelas fêmeas ou local para acasalamento. Já
a intersexual é a preferência das fêmeas que escolhem entre os machos,
alguns tipos em detrimento de outros.
cxxxvii
Ideia-Central
Escolha de
parceiro
reprodutivo
O processo de seleção sexual foi considerado por Darwin na Teoria Evolutiva
como ponto importante para a transmissão genética das melhores
adaptações e ocorre quando ocorre a seleção ou melhor escolhas por
parceiros na hora da reprodução, é a preferência que alguns indivíduos
apresentam em relação a outros para serem escolhidos pelo sexo oposto
para a procriação e descendência dos genes. É realizada a partir da escolha
do parceiro para a reprodução e está ligada a uma determinada preferência
na escolha de parceiro durante a fase reprodutiva de uma determinada
espécie, onde indivíduos / fêmeas escolhem machos com melhores atributos
físicos (dimorfismo sexual) por acreditar que eles tenham melhor herança
genética ou escolham o melhor ambiente para acasalarem e criarem suas
crias, quando um indivíduo é escolhido (sexualmente) pelo parceiro(a) para o
acasalamento devido a uma característica adquirida. Os indivíduos
selecionam seus parceiros de acordo com o sexo de seu interesse e os
parceiros sexuais seriam escolhidos por atributos físicos desejados pelo
outro, que somente teriam esta finalidade, torná-lo (o possuidor de tais
atributos) apto a se reproduzir em detrimento aos demais, fazendo com que
escolhamos os indivíduos mais férteis, de acordo com critérios préestabelecidos (nem sempre esta escolha é consciente). É a seleção
dependente do sexo, há a escolha de parceiros para que a reprodução
ocorra, é quando os indivíduos de uma espécie escolhem seu parceiro para
reproduzirem a partir de suas características físicas, os indivíduos são
selecionados de acordo com sua postura, coloração, canto, etc.; é uma
seleção que envolve na escolha do parceiro, onde o indivíduo apresenta os
dotes, as plumagens e tudo que o favorece à corte; que pode ser intersexual
ou intrassexual a escolha. É exercida pela espécie pelo indivíduo do sexo
oposto, selecionando o parceiro ideal para o cruzamento, isso normalmente
não leva consideração os valores adaptativos da seleção natural. O indivíduo
(macho ou fêmea) seleciona o parceiro para realizar a cópula através de
suas características fenotípicas como maior tamanho de algumas partes do
corpo (pelos ou penas, bicos, quadril), coloração mais vibrante e etc., atua
em eventos de acasalamento, onde o indivíduo que possui características de
bom reprodutor será escolhido para fertilizar a fêmea, por exemplo. Será a
seleção que machos e fêmeas irão escolher para a sua reprodução, é o
comportamento reprodutor nas espécies em que há escolha do melhor
parceiro para o acasalamento e consiste na escolha de parceiros que tenham
maior condição de gerar descendentes com maior valor adaptativo (fortes e
férteis). Os indivíduos com características mais atrativas conseguirão
parceiros para acasalar, e a seleção sexual agirá perpetuando essas
características na descendência, mecanismo no qual os indivíduos de uma
determinada espécie selecionam seus parceiros para a reprodução.
Apresenta o favorecimento de uma característica com relação ao processo
de reprodução, algo que selecione uma fêmea ou macho para o
acasalamento e envolve a preferência de um organismo, macho ou fêmea,
depende da espécie, para acasalamento com outro organismo, geralmente
as características externas (morfológicas) são escolhidas em detrimento de
outras. É o processo em que os próprios indivíduos selecionam
características fenotípicas em seus parceiros para se acasalarem, ocorre por
sua vez, quando um indivíduo seleciona o seu parceiro sexual devido a
alguma característica forte, que lhe indica o sucesso de sua prole. É uma
força onde um animal que possui características mais eficientes é escolhido
para reprodução, o parceiro escolhe com quem vai fazer cruzamento, é a
escolha por uma espécie por seu parceiro visando a reprodução de proles
digamos que resistentes para perpetuação da sua espécie, usando atributos
atrativos na hora de fazer à corte, atua favorecendo indivíduos que
apresentem características que atraiam parceiros para que seus genes
sejam passados para as próximas gerações, o macho ou a fêmea escolhem
seu parceiro de acordo com caracteres externos que “gostariam” que seus
descendentes tenham. Objetivo final para que se perpetue a espécie e está
relacionado com a escolha do parceiro ideal para o acasalamento, atuando
no processo de acasalamento / reprodução das espécies envolvidas. Os
indivíduos com características de acordo com que seu parceiro gosta
conseguem se reproduzir. Esse processo está ligado a ter características que
cxxxviii
Ideia-Central
sejam atrativas a um parceiro(a), seja plumagem, canto, dança, força, etc. e
a escolha não tem há ver com sobrevivência, o mais atrativo cruza; o menos
atrativo é preterido. Logo, os genes dos mais atrativos têm mais chances de
se fixar na população. É o processo pelo qual um parceiro seleciona outro do
sexo oposto de acordo com as características que este apresenta, são
características físicas promovidas por dimorfismos, ou “habilidade”, como
cantos, coaxar, que atraem as fêmeas indicando ser o macho “forte” o
suficiente para gerar uma prole saudável. Ocorre quando a fêmea escolhe o
macho que mais lhe chama atenção na hora do acasalamento, o que fará
com que os que não forem selecionados pelas fêmeas não cruzem, e não
perpetuem seus genes na população, incluindo a demonstração à fêmea de
que macho é o mais forte ou o mais protetor ou o mais belo, por exemplo. É
a ação da fêmea de selecionar (encontrar) um macho que irá conferir maior
chance de sobrevivência a seus futuros filhotes, isto é, a fêmea escolhe o
macho que possuir as melhores características, aparência saudável e assim
possa ter maior chance de sobrevivência. Atua de forma a selecionar (as
fêmeas escolhem), entre os machos, o mais forte e preparado para cuidar da
prole e que este macho possa transmitir (herança genética) suas
características para a prole, quando um indivíduo macho tem uma certa
característica de corte que o destaca diante de outros machos e faz a fêmea
escolher ele, assim esse terá sucesso reprodutivo, deixar mais descendentes
e manter seus genes na população. Ocorre na escolha entre os sexos dos
caracteres que o indivíduo possui, os indivíduos do sexo limitante (fêmeas)
escolhem seus parceiros sexuais de acordo com características sexuais
secundárias, como porte físico que denota maior força, exuberância na
plumagem, maior cuidado parental e os machos serão selecionados pelas
fêmeas, que buscam um parceiro melhor e que garante o sucesso
reprodutivo. É a preferência das fêmeas por determinados machos, a escolha
da fêmea pelo melhor parceiro que irá passar características melhores para a
geração seguinte; o macho faz tudo para agradar a fêmea, a fêmea por sua
vez escolhe o macho mais robusto. Ocorre no momento que irá ocorrer o
cruzamento, neste caso a fêmea escolhe o macho que possui mais
características interessantes para ela, e a qual a prole irá herdar, quando
uma fêmea seleciona o macho, geralmente o mais “bonito e forte” isso
influencia na evolução da espécie e a fêmea escolhe o macho que mais
representa robustez e força, assim garantindo a sobrevivência da prole. A
fêmea escolhe um macho em detrimento de outro, nesse processo, as
fêmeas procuram acasalar com machos que sejam fortes, o que vai garantir
aos seus descendentes características que garantam a perpetuação da
população. Age na escolha da fêmea pelo melhor parceiro através de seus
atributos, envolvendo vantagem reprodutiva relacionada ao sexo, como a
capacidade de possuir características que atraem a fêmea, é quando há a
escolha do “parceiro”, geralmente quem escolhe é a fêmea. Atua sobre
características do indivíduo a fim de favorecer a escolha para reprodução,
sendo assim há grande investimento energético por parte dos machos para
que estes sejam os escolhidos pela fêmea e assim possam manter suas
características gênicas na população, muitas vezes estas características
exuberantes dos machos acabam por colocá-los em risco, pois na tentativa
de impressionar as fêmeas, acabam ficando evidentes para ação de um
predador. As características estão relacionadas diretamente a beleza, ou à
força, mas com certeza tendo como atração principal impressionar as fêmeas
das diversas espécies, para a escolha de seus parceiros, e assim chegar ao
acasalamento. Quem escolhe é a parceira sexual; consiste na escolha de
parceiro sexual, pela fêmea, que lhe aparente produzir uma prole saudável e
forte. É feita, na maioria das vezes, pelas fêmeas, onde essas que escolhem
qual macho irá poder acasalar com elas, elas observam as características
mais marcantes dos mesmos, como caudas exuberantes, cantos, cores mais
vivas, cortejo, dentre outras, e a que elas perceberem, ou seja, o macho que
possuir tais características mais vantajosas para uma futura “perpetuação” da
espécie, é o que elas escolhem para ser o seu par, e, assim, acasalar,
podemos ver mais claramente em aves, onde os machos em sua maioria se
exibem para ser escolhido pela fêmea ou vice-versa.
A seleção sexual vai atuar apenas em uma característica, a reprodução e
cxxxix
Explicações
incompletas
sobre o processo
de Seleção
Sexual
Ideia-Central
Explicações com
ideia de objetivo
do processo de
Seleção Sexual
Ideia-Central
Explicação
Contraditória
Ideia-Central
Explicações
Incorretas
pode ser dividida em intrassexual que é a preferência das fêmeas e
interssexual que é a disputa entre machos. Está relacionada com o caráter
reprodutivo das espécies, ou seja, na conquista de um parceiro sexual, age
na preferência dos indivíduos da população por determinada característica
que favorece um macho ou fêmea. Sabe-se que o indivíduo mais adaptado é
aquele que for capaz de deixar mais descendentes férteis. A seleção sexual
seleciona os genes mais bem adaptados com as melhores características
genotípicas que irão passar para as próximas gerações, é a seleção de
características sexuais que são vantajosas que serão passadas para os
descendentes através da reprodução. Confere aos indivíduos algumas
características que favorecem a perpetuação da espécie e os indivíduos que
tem maior sucesso reprodutivo deixam descendentes. Nela, existe a
preferência de certos caracteres para que a reprodução ocorra.
A seleção sexual atua na reprodução e as espécies escolhem suas parceiras
pensando na reprodução, em dar continuidade aos seus genes. A seleção
sexual visa maior sucesso reprodutivo, selecionando caracteres exuberantes
e grandes que podem levar a maior reprodução, porém menor sobrevivência,
atuando nos caracteres sexuais e morfológicos, ou seja, os indivíduos que
apresentam as melhores características, o melhor porte, são os que atraem
para o sexo oposto na procriação dos filhotes, para que estes herdem os
mesmos e vantajosos caracteres, por isso encontramos dimorfismo sexual,
essa diferença nas formas é para chamar atenção de parceiras. A seleção
sexual ocorre quando um dos parceiros estabelece um critério para
selecionar seu parceiro e são aquelas transformações que possibilitam uma
maior chance de encontro com parceiros sexuais, aumentando assim a
probabilidade de fixação do alelo promotor da diferença. A seleção sexual
atua selecionando características importantes para a reprodução das
espécies, sendo o processo onde indivíduos passam a utilizar certas
características que os fazem ser escolhido para um parceiro, sendo assim
estes indivíduos ao cruzarem deixam seus descendentes.
A seleção sexual é capaz de levar indivíduos com características pouco
adaptadas a se reproduzirem e perpetuarem seu genótipo, mesmo que não
selecione indivíduos mais adaptados, seleciona indivíduos de preferência das
fêmeas, gerando mais indivíduos desse tipo específico, pois é quando uma
característica no macho ou na fêmea aumente ou favoreça que aquele
parceiro seja melhor “escolhido” ou “aceito” e com isso aumente a frequência
gênica daquele determinado gene presente naquele indivíduo, nem sempre é
o gene mais vantajoso é que aumenta de frequência. A seleção sexual não
favorece a adaptação de indivíduos, mas garante se eles vão ou não ter
sucesso reprodutivo, está ligada a modificações (mutações) que conferem
aos seus portadores vantagens para viver em determinado habitas e serem
escolhidos por suas parceiras (geralmente) aumentando assim a sua chance
de se reproduzir passando seus genes “beneficiados” para a próxima
geração. Esse processo ocorre quando um indivíduo expressa características
que apesar de desvantajosas (quando para fuga de predadores) por
exemplo, as enormes penas do pavão conferem a ele maior chance de
reprodução. Essas características aparecem na população e são
selecionadas pelas fêmeas aumentando as chances de fixação do gene na
população. A seleção sexual é aquela em que o indivíduo que conseguir
impressionar melhor a fêmea será escolhido e assim dará continuidade na
deriva gênica.
Através da seleção sexual ocorre um fluxo gênico pois os descendentes
herdam metade dos genes do pai e metade da mãe favorecendo assim a
uma variação dos genes, é um processo que contribui para a variação entre
as espécies e principalmente para variabilidade genética de uma população,
é a procura da heterozigosidade nos acasalamentos, o que favorece a
variabilidade genética. Na seleção sexual o indivíduo tem mais chances de
sobrevivência, pois ele possui genes vindos do pai e da mãe. A seleção
sexual molda uma população favorecendo um gene em detrimento a outro ao
respeitar a quantidade de possíveis combinações sendo a carga dos loci ou
do DNA e suas fontes. É o processo em que os indivíduos buscam realizar
cruzamentos com indivíduos do mesmo fenótipo, para assim ter facilidade na
cxl
cópula e ter grande porcentagem na perpetuação de sua espécie, isso pode
fazer com que ele tenha um valor adaptativo maior que outras espécies. É o
processo em que ocorre nos seres sexuados e auxilia na biodiversidade por
permitir a intensa troca gênica, com a junção de duas heranças diferentes
(masculina e feminina) em um só indivíduo (que herda do pai e da mãe)
recombinando em um novo ser fruto do mais forte. Baseados nos modelos de
seleção inter e intra específica, de modo que na seleção intra específica
estaremos selecionando gênero e espécie e na seleção inter específica
estaríamos selecionando indivíduos dentro de uma mesma espécie e se
baseia em índices de natalidade e mortalidade, porém levando em
consideração apenas a influência do sexo do animal. É um processo
determinado, onde a espécie se preocupa com acasalamento, selecionando
dentro do sexo aquele que está mais apto a sua sobrevivência dentro da
espécie. É feita dentro de cada espécie, mesmo que vivam num ambiente
aberto eles só se relacionaram sexualmente entre si e está relacionada à
adaptação com maiores valores de reprodução, o indivíduo tende a se
adaptar melhor em ambientes onde suas chances de reprodução e parceiro
sexual são maiores, apesar do dispêndio ela contribui beneficamente na
variabilidade genética, onde através do sexo esses indivíduos trocam genes,
que contribui para organismos portadores de genes que irão passar para as
próximas gerações suas características. Dispende mais energia porém maior
vantagem devido a variabilidade genética o que amplia as chances de uma
característica adaptativa e os gêneros de uma espécie selecionam através
de uma aparente vantagem, a fim de desenvolver uma linhagem mais bem
sucedida; a espécie que na reprodução tivesse um número maior de prole
com fenótipos diferentes não havendo impedimentos geográficos na sua
reprodução. Seleciona através da compatibilidade sexual, os gametas
atuando como selecionadores de processo evolucionista e pode aumentar a
variabilidade gênica porque promove recombinação entre os alelos parentais
e propaga as mutações para as gerações seguintes. O cruzamento entre
dois indivíduos homozigotos para determinado caracter pode gerar quatro
heterozigotos, a heterozigose pode ter valor adaptativo sob determinadas
variações ambientais, é a chave também para a perpetuação das espécies;
gametas com cargas genealógicas sem doenças tem mais capacidade de
perpetuar as espécies melhor que gametas sexuais que trazem em sua
ancestralidade cargas de doenças que vão perpetuar em espécies com
desvantagens de perpetuarem, pois a seleção natural vai atuar sobre essas
futuras gerações. Permanecerá o indivíduo do sexo mais apropriado para a
sobrevivência no meio, ou seja, indivíduos que são do sexo com mais
resistências e características que superam suas necessidades que o meio
em que vivem exija, também selecionam as espécies mais adaptadas para
sobreviver porém está relacionada ao sexo com o modo de reprodução
assexuada e sexuada; é a seleção que traz variabilidade genética através da
relação sexuada e assexuada. Na seleção sexual o sexo determina o
indivíduo mais bem adaptado, diferencia seres da mesma espécie, mas onde
podemos visualizar um sexo com maiores predisposição para dominar, a
reprodução sexuada propicia uma maior variabilidade da espécie e seleção
de genes mais fortes na reprodução de indivíduos garantindo a perpetuação.
Quanto menor for a diversidade de opções para cruzamento, menor a
possibilidade de perpetuar a espécie em caso de alterações no número de
indivíduos, assim também acontece uma seleção e o processo de
especiação é favorecido por um desempenho reprodutivo favorável a
espécie. É atuante em uma espécie, não ocorre ao acaso, sendo feito
propositalmente para evitar grandes gastos de energia, selecionando o sexo
que melhor sobreviveria as condições do ambiente. É o processo de seleção
de indivíduos com alto poder de intercruzamento, com grande potencial de
fecundidade, propicia a variabilidade genética através de haplótipos
diferenciados e mantém um fluxo gênico próprio de populações fechadas. É
aquela em que as espécies, através da relação sexual tentam definir como
será sua prole e isto só se aplica nos grupos de determinadas espécies cujos
meio de reprodução é o sexual e o cruzamento entre as espécies gera uma
grande variabilidade genética. Ocorre quando as diferenças entre indivíduos
da mesma espécie, mas de sexos diferentes, são determinantes num
cxli
Ideia-Central
Disputa entre
machos
processo de seleção e vai depender do gameta masculino e feminino para
que ocorra a fecundação do embrião. No caso da seleção sexual ocorreu
processos que impossibilitam a reprodução sexual favorecendo um caracter
ou vários caracteres e a especiação simpátrica onde surge uma barreira
biológica ao intercruzamento da população que habita a mesma área, ou
seja, dentro dos limites da população, sem segregação espacial das
espécies que estão se diferenciando.
No ritual de acasalamento, machos disputam entre si, pelo direito de se
acasalar com a fêmea.
Na tabela abaixo (Tabela 6.4) está o número de respostas utilizadas para a
formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram
incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma
atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra.
Tabela 6.4 – Número de respostas x Ideia-central
Número de
respostas
Número de alunos que fez
pelo menos uma atividade
Número de alunos que
indicou ter lido o texto
23
10
2
62
8
22
2
9
--
7
3
2
7
39
1
6
1
6
-1
-2
---
Explicações corretas sobre o
processo de Seleção Sexual
Escolha de parceiro reprodutivo
Explicações incompletas sobre o
processo de Seleção Sexual
Explicações com ideia de objetivo
do processo de Seleção Sexual
Explicação Contraditória
Explicações Incorretas
Disputa entre machos
Não respondeu sobre a seleção
sexual
Por último, apresentamos a tabela (Tabela 6.5) com o número de alunos
que fez cada atividade:
Tabela 6.5 – Número de alunos por atividade
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
Atividade 4
Atividade 5
Atividade 6
Atividade 7
Atividade 8
Fizeram atividade
49
34
19
10
13
12
13
8
Infelizmente, podemos perceber que não houve uma grande adesão por
parte dos alunos e que a participação foi diminuindo ao longo das semanas.
cxlii
6.2.2.2 Semestre 2012-2
Nesse semestre realizamos as atividades novamente com os alunos. Na
Avaliação Presencial 1, confeccionada inteiramente pela coordenação da
disciplina Evolução, não houve nenhuma questão de interesse para essa
pesquisa, por isso, nenhuma foi analisada.
Na Avaliação Presencial 2 a questão formulada por nós foi: ““A seleção
sexual é um tipo de seleção natural em que caracteres que são aparentemente
desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de
reprodução”. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta”. Essa
questão era obrigatória e valia dois pontos, de um total de dez.
O gabarito era: “Não, a Seleção Natural e a Seleção Sexual são processos
distintos, em que no primeiro caso são os caracteres que aumentam as chances
de sobrevivência que são selecionados e no segundo caso, caracteres que
aumentam as chances de reprodução. Nos dois casos são selecionados
caracteres vantajosos”.
Novamente, após a realização da Atividade Presencial 2, transcrevemos as
respostas dos alunos para a confecção do Discurso do Sujeito Coletivo
(LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003) com o objetivo de saber se as atividades
contribuíram para uma melhor apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva.
Decidimos fazer uma questão diferente em relação ao semestre anterior,
pois em 2012-1 a questão era a definição dos conceitos de Seleção Natural e
Seleção Sexual. Julgamos que apenas a definição de conceitos poderia dificultar
a análise da contribuição das atividades e do texto, uma vez que os alunos
poderiam decorar a resposta. Sendo assim, em 2012-2 tentamos fazer uma
questão mais analítica.
Como não analisamos nenhuma questão da Avaliação Presencial 1, só
soubemos o número total de alunos inscritos na disciplina na época da Avaliação
Presencial 2, não sendo possível saber quantos alunos trancaram a disciplina. Na
Avaliação Presencial 2, 197 alunos estavam inscritos, mas 49 faltaram e 2 não
responderam a questão.
Em relação às respostas encontradas, os Discursos-Síntese montados e as
Ideias-Centrais correspondentes encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.4).
Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em sete Ideias-Centrais. É
cxliii
importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-Central por aluno. As
Ideias-Centrais formadas foram:

Explicações Corretas – nessa categoria estão as respostas que estavam de
acordo com o gabarito formulado;

Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual – as respostas assim
classificadas até poderiam estar corretas, porém o aluno não indicou sobre qual
processo estava respondendo;

Seleção Sexual como indicativo de bons genes / saúde – nesse discurso
estão as respostas que apenas definiam, de forma correta, o processo de Seleção
Sexual, não fazendo menção ao processo de Seleção Natural;

Seleção Natural e Seleção Sexual como processos semelhantes – as
respostas dessa categoria apresentavam os dois processos, que são diferentes,
como processos idênticos;

Seleção de características vantajosas para a reprodução – nessas respostas
os alunos indicaram que as características aumentavam as chances de sucesso
reprodutivo, mas não relacionaram com a indicação de bons genes;

Seleção de características desvantajosas para a reprodução – nesse discurso
os alunos indicaram que as características selecionadas, apesar de dificultarem a
sobrevivência, aumentavam as chances de reprodução;

Explicações Incorretas – respostas que não estavam de acordo com o que foi
perguntado.
Quadro 6.4 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre os processos de Seleção Natural e
Seleção Sexual
Ideia-Central
Ideia-Central
Explicações
Corretas
Discurso-Síntese
Seleção natural e seleção sexual são diferentes entre si. A seleção sexual é
uma seleção de parceiros sexuais em que os possuidores de caracteres
aparentemente vantajosos e indicadores de boas características genotípicas
são selecionados por indicarem aumento de chances de sucesso na
reprodução e por gerarem descendentes com mais chances de sobreviver e
reproduzir, transmitindo seus genes para as gerações seguintes. Porque
quando um macho desenvolve determinada característica exuberante, como
por exemplo a cauda do pavão que é grande e colorida, seria uma
desvantagem porque ele necessita de mais gasto energético para manter tais
características. Porém, em contrapartida, a fêmea o escolhe como parceiro
reprodutivo porque acredita que um macho adulto que tenha chegado a
idade reprodutiva mantendo tais características exuberantes é uma evidência
que este macho possui bons genes e com isso garante o sucesso de sua
prole, ou seja, na seleção natural, os genes selecionados são aqueles que
garantem maior valor adaptativo para a espécie; na seleção sexual, os
caracteres são selecionados, pelas fêmeas em geral, por garantirem
melhores genes.
cxliv
Ideia-Central
Não diferenciou a
Seleção Natural e
a Seleção Sexual
Ideia-Central
Seleção Sexual
como indicativo
de bons genes /
saúde
Ideia-Central
Seleção Natural e
Seleção Sexual
como processos
semelhantes
O processo de seleção sexual não seleciona caracteres aparentemente
desvantajosos. Os caracteres que são aparentemente desvantajosos são
eliminados. Sendo assim, as chances de reprodução são maiores quando os
caracteres sexuais são vantajosos, garantindo assim, maior proliferação das
espécies. Os caracteres desvantajosos diminuem as chances de reprodução,
pois os caracteres vantajosos que acabam sendo selecionados por
aumentarem as chances de reprodução e não os desvantajosos.
A seleção sexual ocorre quando um determinado indivíduo escolhe o seu
parceiro, que oferece mais chances de ter uma boa prole, que poderá
transferir boas qualidades a prole através do seu gene, ou seja, os indivíduos
procuram sempre parceiros que apresentam características vantajosas para
assim garantirem que sua prole tenha maiores chances de sobrevivência. Na
seleção sexual geralmente escolhe-se os indivíduos mais fortes e mais
saudáveis, que são características vantajosas. Devido a gestação, ao cortejo,
disputas, tudo isso gera um gasto energético muito grande, porém como
vantagem, a seleção sexual promove uma maior variação genética. Em geral
apenas organismos bem adaptados conseguem sobreviver a fase adulta e se
reproduzirem, passando assim tais características para a próxima geração.
Sendo assim, a fêmea, na maioria das vezes, irá selecionar seu parceiro e
este deve ter caracteres vantajosos para que haja o aumento das “chances
de reprodução”, já que para esse processo a fêmea irá gastar muita energia
para gerar e cuidar dos filhotes. É pensando nisto que a fêmea seleciona
então machos com melhores caracteres que conferem à fêmea proteção e
maiores chances de reprodução dar certo e , por isso, elas são muito
criteriosas. A seleção sexual ocorre pela seleção se caracteres
aparentemente vantajosos, por aumentarem as chances de reprodução.
Geralmente as fêmeas escolhem os machos que apresentam tais
características, considerando que elas trarão chances maiores de
sobrevivência para a prole, exemplo, força, beleza, vigor, saúde, etc. A
seleção sexual é quando o parceiro escolhe o outro parceiro por algum
atributo como podemos exemplificar, o caso do pavão, com suas lindas
penas é um atributo para conquistar a fêmea. Nos seres humanos
escolhemos nossos parceiros de acordo com os nossos sistemas de
neurotransmissores, que enviarão mensagens, que aquele parceiro é
atraente, pelo seu cheiro, pelo seu porte físico. Escolhemos seletivamente
nossos parceiros para serem produtores de filhos (descendentes) saudáveis,
fortes. Mas na seleção sexual não existe caracteres desvantajosos, já que
este tipo de seleção gasta uma grande energia, por isto exige uma grande
seleção de parceiros, para poderem gerar descendentes sadios. Esses
caracteres conferem maior vantagem na reprodução. Apesar de serem
aparentemente desvantajosos para a sobrevivência. Ele é a causa do
dimorfismo sexual apresentado por algumas espécies como o prático
exemplo do pavão, cujo macho exibe cauda multicolorida, um indício de
saúde para as espécies na reprodução, uma cauda, quanto mais exuberante,
sinal de bons genes, o que atrai as fêmeas e garante a perpetuação dos
genes deste macho para as gerações futuras.
A seleção natural “privilegia” os indivíduos mais adaptados as modificações
que ocorrem no ambiente, é um tipo de seleção em que se o fenótipo é
vantajoso, acaba sendo selecionados aumentando assim as chances de
reprodução. A seleção sexual realmente é uma seleção natural, porque os
indivíduos que irão se reproduzir passarão características mais adaptativas,
ou seja, caracteres vantajosos e não desvantajosos para seus descendentes.
A seleção sexual é um tipo de seleção natural, mas que são selecionados os
caracteres aparentemente vantajosos, para aumentarem as “chances de
reprodução”, ocorrendo dentro dos princípios da seleção natural, e o
indivíduo que estiver melhor adaptado para a reprodução provavelmente terá
o gene que confere essa vantagem fixado na população. Para haver a
seleção natural por seleção sexual, é necessário que se tenha características
vantajosas, para que se aumentem as chances de reprodução. A seleção
sexual é um tipo de seleção natural, pois os caracteres que aparentemente
desvantajosos acabam sendo selecionados aumentam as chances de
reprodução gerando descendentes diversificados, pois as características
cxlv
Ideia-Central
Seleção de
características
vantajosas para a
reprodução
comumente escolhidas são aquelas que tornam o organismo mais e melhor
adaptado ao meio em que vive, aumentando assim as chances de
sobrevivência e reprodução. Na seleção sexual a prioridade é o sucesso
reprodutivo e esse tipo de seleção natural acaba por selecionar as espécies
não por valor adaptativo, mas sim por caracteres que privilegiam o aumento
na taxa de reprodução e, maiores chances de reprodução tem haver com
indivíduos com maiores chances de adaptação e sobrevivência. A seleção
sexual ocorre através da capacidade de reproduzir, isto é, se um indivíduo
não se reproduzir, provavelmente, a seleção natural não o “beneficiará” na
natureza, sendo a seleção sexual um tipo de seleção natural em que sua
vantagem está na variabilidade genética promovida por ela; e como
desvantagem pode ocorrer a seleção de algum caracter desvantajoso,
porque os caracteres tem que ser aparentemente vantajosos para
aumentarem as chances de reprodução, ou seja, só os caracteres mais
vantajosos, sobrevivem a seleção natural (seleção sexual). Na seleção
sexual são selecionados os que apresentam características vantajosas, por
força da seleção natural, onde os mais adaptados irão sobreviver e passar
adiante as características para a prole seguinte, sendo a seleção natural uma
seleção de ação direcional, ela atua positivamente nos caracteres que
possibilitem reprodução e esses não seriam os caracteres que são
aparentemente desvantajosos. A seleção sexual sendo um tipo de seleção
natural, aparentemente as “chances de reprodução” aumentam pelos
caracteres que são vantajosos. E os caracteres que são aparentemente
desvantajosos podem ser selecionados e diminuem a taxa de reprodução
entre determinados indivíduos da mesma espécie. Indivíduos que possuam
caracteres que embora pareçam desvantajosos, mas consigam deixar uma
prole mais numerosa terão esses caracteres selecionados. A seleção sexual
é um tipo de seleção natural no qual o processo de seleção ocorre através da
reprodução. Não adiantaria ter uma característica aparentemente vantajosa
se essa não conseguisse se perpetuar, pois diminuía a chance de
reprodução. Logo, características desvantajosas não estariam adaptadas
pela ação da Seleção Natural. No caso de características que trazem alguma
desvantagem para o indivíduo em outros critérios que não a reprodução,
como a agilidade de fugir de predadores (ex: cauda muito grande), mas que
fazem parte dos rituais de acasalamento do indivíduo, pode-se dizer que ela
agrega vantagem adaptativa, mas que não fora selecionada por aumentar as
chances de reprodução. O sucesso reprodutivo é caracterizado pelo número
de filhotes deixados na geração. A seleção natural pode aumentar as
chances de cruzamento (pois ocorre o coito) mas não quer dizer que a
reprodução será bem sucedida. Não são os caracteres aparentemente
desvantajosos que será selecionado e sim os caracteres aparentemente
vantajosos, pois na seleção natural os caracteres que são vantajosos que
são selecionados para que tenha uma chance de reprodução. A seleção
natural atua na espécie fazendo com que a espécie que consegue passar
para sua prole caracteres que favoreça a sua sobrevivência, em melhor
habitat e recursos alimentares estes podem fazer com que sua espécie
perpetue. Tomando como exemplo espécies que há dimorfismo e um dos
indivíduos possui mais destaque que o outro, como exemplo a coloração
diferente em um dos sexos. Estes mais coloridos, mais vistosos serão
selecionados e reproduzirão, fixando e garantindo a permanência do
genótipo enquanto o outro com a reprodução em menor frequência se
tornará alvo da seleção natural. Por exemplo na seleção intra-sexual a
vantagem é do indivíduo se sobrepor diferentemente de todo o restante de
sua espécie (gênero). O macho que mais se destacar vence a “disputa” pela
fêmea. Na seleção inter-sexual, também precisam apresentar vantagens,
onde o que mais se adaptar entre as espécies é o que mais sobrevive.
A seleção sexual não é a natural, ocorrendo quando um indivíduo escolhe o
parceiro para acasalamento, seja porque possui as características que lhe
agradam, ou que lhe são mais atraentes. Serão as características vantajosas
que são selecionadas pela seleção sexual e que aumentarão as chances de
reprodução. Os caracteres selecionados são aqueles que “carregam”
vantagens evolutivas capazes de aumentar as “chances de reprodução”. Se
os caracteres forem desvantajosos, certamente não haverá populações
cxlvi
futuras. A seleção sexual é um tipo de seleção que não leva em
consideração características adaptativas e sim características sexuais
vantajosas e que pode acontecer intra-especificamente entre machos que
disputam por fêmeas ou território para o acasalamento ou
interespecificamente entre fêmeas e machos, selecionando o que tem
caracteres morfológicos vantajosos em relação a outro indivíduo que não
possui estes caracteres, ou seja, os caracteres são vantajosos e acabam
sendo selecionados os indivíduos que os possuem. A seleção sexual ocorre
quando caracteres aparentemente vantajosos são selecionados por
aumentarem as “chances de reprodução”. Quando um caracter é
desvantajoso ele tende a diminuir na população, já que é um tipo de seleção
onde caracteres vantajosos são selecionados e não os desvantajosos, assim
com a escolha dos vantajosos ocorre uma maior chance de indivíduos novos.
São somente aparentemente desvantajosos, mas que por outro lado
proporcionam a reprodução, sendo então vantajosos e selecionados por
serem atraentes para a reprodução. A seleção sexual não é um tipo de
seleção natural e não são selecionados caracteres aparentemente
desvantajosos para que as chances de reprodução aumentem. A seleção
sexual difere da seleção natural, pois a seleção sexual age de acordo com o
interesse do indivíduo, o que chamar mais atenção se dá melhor. Dessa
forma, a espécie pode escolher o seu parceiro de acordo com o seu caracter
e características como essas podem levar as espécies ao sucesso
reprodutivo e assim a continuação de sua prole. Na seleção sexual são
selecionados caracteres que são aparentemente vantajosos para a
reprodução porque se os caracteres fossem aparentemente desvantajosos,
eles seriam deletérios, então, não aumentariam as chances de reprodução,
já que esses caracteres desvantajosos acabam não sendo posteriormente
selecionados durante o acasalamento, até mesmo porque muitas espécies
machos (ou fêmeas) acabam escolhendo seus parceiros por alguma
característica que pra eles acabam por ser vantajosa. A seleção sexual
consiste em escolher o parceiro de acordo com os caracteres vantajosos que
ele poderá passar para a sua prole, se os caracteres forem aparentemente
desvantajosos, provavelmente não serão escolhidos, então suas “chances de
reprodução” serão menores. A seleção sexual é quando um animal escolhe
seu parceiro por atrair um caracter que se destacou, são caracteres
vantajosos que fazem com que a companheira ou companheiro tenha
preferência para acasalamento. A seleção sexual é a seleção que os
indivíduos fazem do parceiro reprodutivo, sendo escolhidos os mais fortes,
vistosos, etc. para que essas características sejam transmitidas aos
descendentes, garantindo assim sua sobrevivência. É a escolha por
indivíduos mais “chamativos”, mais destacados, para a reprodução, onde
esta característica será passada para seus descendentes, e estes irão
originar indivíduos ainda mais destacados, ou seja, é a seleção de caracteres
vantajosos para serem passados para seus descendentes. A seleção sexual
irá selecionar indivíduos que possuem maiores atrativos sexuais. Na maioria
das espécies, geralmente é a fêmea que escolhe o macho para acasalar.
Esses machos estarão transmitindo todos os seus caracteres para a prole,
pois a seleção sexual favorece as fêmeas escolhendo seus parceiros
“exagerados”, ou seja, os machos que possuem características atraentes que
os tornam com exageros que chama a atenção das fêmeas. Portanto, as
fêmeas escolhem os machos para se reproduzir, isso torna-se vantajoso em
uma seleção sexual, porque sendo desvantajoso não atrai a fêmea. O macho
utiliza de vantagens que o beneficiam para a conquista da parceira e essa
escolha é feita através das características vantajosas apresentadas pelo
macho, pois quando o animal possui uma característica desvantajosa, ele
será menos atraente para as fêmeas, sendo assim a chance de reprodução
será menor. A seleção sexual mesmo custosa do ponto de vista energético,
torna-se benéfica pois contribui para a biodiversidade existente. No caso da
seleção sexual alguns traços podem ser selecionados pelas fêmeas e
garantiram ao macho a oportunidade de reprodução, assim as características
selecionadas se mantêm na população. Na seleção sexual a fêmea escolhe
o seu parceiro que tem melhor valor adaptativo. Sabe-se que em
determinadas espécies existe a seleção sexual, entre indivíduos machos
cxlvii
Ideia-Central
Seleção de
características
desvantajosas
para a
reprodução
preferencialmente, que exibem alguma característica que irá atrair uma maior
atenção por parte das fêmeas. Algumas características são citadas como
sendo desvantajosas por conferirem aos seus portadores maiores chances
de predação, por serem muitas vezes exuberantes ou com coloração de
destaque, porém se estas características fossem mesmo desvantajosas elas
não aumentariam as chances de reprodução e não seriam selecionadas
positivamente. Portanto, se fossem totalmente desvantajosas não haveria
porque manter tais características na população, fato que sugere a existência
de alguma vantagem relacionada a seleção sexual. A seleção sexual
também ocorre com os mais vantajosos, aumentando as chances de
reprodução. Por isso é que se diz que na seleção sexual caracteres
“aparentemente” desvantajosos acabam sendo selecionados por
aumentarem as “chances de reprodução”. Porque os caracteres que são
vantajosos acabam sendo selecionados, por aumentarem as chances de
reprodução, aumentando a chance de que seu gene passe para próximas
gerações. Na seleção sexual, acabam sendo selecionados caracteres que
aparentemente são vantajosos, para que as chances de reprodução sejam
maiores, e assim “garantir” a perpetuação da espécie. Na seleção sexual o
que é levado em conta é a possível vantagem de reprodução de caracteres
ditos vantajosos na permanência da população. Por estes motivos eu não
concordo que a seleção sexual selecione aparentemente características
desvantajosas, porque ela pode selecionar as vantajosas também. A seleção
sexual ocorre apenas no sentido do sucesso reprodutivo, enquanto a seleção
natural está relacionada com o sucesso adaptativo.
Esta afirmativa está relacionada com os caracteres adquiridos secundários.
Enquanto a seleção natural proposta por Darwin seleciona as características
mais adaptadas ao nicho que o organismo habita e mais econômica
energeticamente; a seleção sexual mantém características mais exuberantes
(chamam mais atenção do sexo oposto, mas também chamam atenção do
predador), mais custosas energeticamente – o que as tornam menos
adaptativas do ponto de vista da seleção natural -, mas que aumentam as
chances de sucesso reprodutivo. A seleção sexual relaciona-se a animais
que tem determinada característica que não lhe promove destreza, agilidade,
captura de alimentos ou mesmo escape de predadores, são vantagens que
promovem sua reprodução, ou seja, habilidades nas quais os indivíduos tem
que se sobressaírem aos demais indivíduos de sua espécie para se
reproduzirem. A seleção sexual está nos organismos que se reproduzem
sexuadamente, havendo gasto de energia, porém esse gasto de energia é
satisfatório, pois há um investimento de reproduzir filhos adaptados ao meio
e pode haver caracteres desvantajosos na qual foram selecionados junto
com os caracteres vantajosos, mas a própria seleção encarrega-se em
diminuir os genótipos desvantajosos ao longo das gerações, ao ponto de
excluí-las da população. Os caracteres que são aparentemente
desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de
reprodução porque promovem a variabilidade genética. A seleção sexual é
quando uma determinada característica surge em uma espécie e tal
característica aumenta as chances de reprodução do indivíduo, que é
passada para seus descendentes. Se diz que é uma característica
aparentemente desvantajosa, pois no caso do pavão, por ele ter a plumagem
muito colorida ele pode ser facilmente predado, mas essa característica teve
sucesso, pois ela garantiu ao indivíduo possuidor da mesma, um sucesso
reprodutivo, pois tais indivíduos são selecionados pelas fêmeas, o que se
chama de seleção sexual. Em muitas espécies, a seleção sexual selecionou
caracteres que aumentam as chances de reprodução, mas que causam
desvantagens em outros aspectos, como na hora de se camuflar. São
exemplos de caracteres selecionados pela seleção sexual, as penas da
cauda do pavão, a juba do leão, o chifre de diversos mamíferos, etc., todos
esses caracteres são usados como um chamativo para atrair as fêmeas,
porém acaba expondo o macho a ataque de predadores e/ou deixando-os
mais lentos para a fuga ou caçada devido ao peso desses caracteres. Na
maioria das vezes os caracteres selecionados pela seleção sexual e que
aumentam as chances de reprodução, são desvantajosos por serem muito
chamativos, coloridos, como formas diferentes e podem ser desfavoráveis
cxlviii
em relação à sobrevivência (difícil de esconder, atrair os predadores, etc.),
mas em relação a reprodução, são caracteres que ajudarão na escolha da
fêmea, favorecendo assim sua reprodução (seu sucesso reprodutivo). Podem
existir casos em que uma característica desvantajosa para a seleção natural,
possa ser o ponto chave para atrair parceiros para acasalamento e
consequentemente reprodução. Por causa da seleção sexual ou da escolha
certa ou errada do parceiro sexual, há características, caracteres que serão
selecionados, e estes caracteres nem sempre são os melhores, pelo
contrário, são aparentemente desvantajosos, mas por causa das chances de
reprodução acabam sendo selecionados aumentando a variabilidade
genética. O que ocorre é que, em relação à seleção sexual, características
possuídas por alguns parceiros são tão cheias de pompa ou, efetivamente,
desnecessárias que, por vezes, atrapalham sua própria desenvoltura, mas o
torna objeto de desejo e destaque em meio às fêmeas (parceiras). A seleção
sexual pode ser intra-sexual ou inter-sexual. No primeiro caso, ocorre
competição entre machos de mesma espécie pela fêmea ou local de
acasalamento. Neste caso, pode não haver caracteres aparentemente
desvantajosos envolvidos. A seleção inter-sexual ocorre quando há
preferência da fêmea por machos com determinadas características. Neste
caso, pode até haver caracteres aparentemente desvantajosos, como a
cauda longa e volumosa do pavão, por exemplo. Sendo assim, na seleção
sexual, nem sempre ocorre seleção de caracteres aparentemente
desvantajosos, embora a seleção destes possa ser explicada pela seleção
sexual. O dimorfismo sexual à primeira observação pode ser sim
desvantajoso por chamar muita atenção deixando o animal na mira dos
predadores. As características do dimorfismo são mais apresentadas no
macho que fará a corte à fêmea. Eles apresentam cores fortes, adereços dos
mais variados e chamativos, canto, dotes de bom arquiteto em estruturar e
adornar ninho para receber a fêmea, cabendo a ela a escolha dos mais fortes
que duelam por ela e do mais parceiro que ajudará no cuidado com a prole.
Os machos gastam energia com a corte e as fêmeas na gestação e no
cuidado com a prole. Embora ocorra risco de serem predados, os machos
que se destacam com sua beleza e chamam atenção, são os selecionados
sexualmente para a reprodução. Na época do acasalamento a fêmea tem um
gasto muito maior de energia para a produção de um só gameta, portanto
estas características diferenciadas “ajudam” a fêmea a escolher o melhor
parceiro para passar estas características para sua prole e também para a
proteção da mesma, o que evitaria desperdício de energia da fêmea na
produção de mais gametas. O que ocorre é que todas estas características
podem facilitar a visualização do indivíduo por seu predador sendo então
desvantajosas para a seleção natural. Embora alguns caracteres sejam
aparentemente desvantajosos em determinados ambientes, eles são
selecionados pela seleção sexual, pois as fêmeas escolhem o macho com as
características mais notórias já que eles podem produzir descendentes com
estas mesmas características. A seleção natural diz respeito à sobrevivência
do organismo; já a seleção sexual diz respeito à reprodução. Características
de alguns machos como estruturas e comportamentos são selecionadas
pelas fêmeas, que veem neles sua preferência pelo acasalamento. Essas
características são desvantajosas para a sobrevivência, como plumagens
coloridas ou cantos, pois chamam mais atenção de predadores. Em
compensação, são essas mesmas características que lhes dão vantagem na
escolha das fêmeas, e que irão garantir a reprodução e a perpetuação dos
seus genes. Na seleção sexual existe um enorme gasto de energia para a
espécie durante a reprodução, ou seja, para a formação dos gametas as
espécies gastam muita energia, tornado-a desvantajosa aparentemente,
assim os caracteres selecionados aumentam as chances de reprodução
entre as espécies. A seleção sexual irá favorecer indivíduos que possuem
caracteres aparentemente desvantajosos, mas que na verdade, estes irão
expressar características atrativas ao seu parceiro. Sendo assim, esses
indivíduos terão “mais chances de reprodução”, sendo positivamente
selecionado para reprodução. Esses caracteres em sua grande maioria não
são vantajosos para a seleção natural por chamarem a atenção e
aumentarem o risco de predação. Assim, caracteres que são aparentemente
cxlix
desvantajosos, por outro lado, aumentam a chance de deixar descendentes.
Grande parte dos caracteres vantajosos para reprodução, como coloração, e
várias outras modificações que facilitam, representa vantagem para
reprodução, pois aumentam a chance do indivíduo de se reproduzir, mas não
são favoráveis para a sobrevivência. Mesmo assim eles permanecem nas
gerações, pois representam vantagens para a reprodução que superam as
desvantagens em relação a sobrevivência. Na reprodução é a seleção
natural atuando junto com a seleção sexual, pois as características
relacionadas com a reprodução geralmente são chamativas, com cores
vibrantes, estruturas grandes, que são utilizadas para atrair as fêmeas e não
estão relacionadas com a sobrevivência, entretanto interfere na mesma,
podendo diminuir suas chances de sobrevivência. Nesse sentido, um
caracter aparentemente desvantajoso é uma vantagem do ponto de vista
gênico. Na seleção sexual os caracteres que conferem maior “chance de
reprodução” são selecionados pelas fêmeas, pois são mais atraentes
reprodutivamente, de maneira que elas queiram que seus filhotes as
possuam. Estes caracteres representam características que, as vezes,
conferem desvantagens a um indivíduo, como maior gasto de energia,
vulnerabilidade a um predador, dificuldade na alimentação, etc. Em alguns
casos observamos características que aparentemente seria desvantajosa,
que na natureza chamaria a atenção de predadores, entretanto as fêmeas
escolhem os parceiros para o acasalamento. As desvantagens atribuídas à
seleção sexual podem ser enumeradas levando-se em conta o gasto de
energia, a necessidade de um parceiro, dentre outras. Entretanto, tem como
vantagem a variabilidade genética acarretando maiores descendentes e
maior nível reprodutivo. Pode ocorrer de vários caracteres que venha
representar desvantagens a espécies (como alto gasto energético para
estruturas mais complexas, maior visibilidade aos predadores e etc), mas
que facilitam o processo de reprodução (cores mais vivas e penas maiores
para atrair as fêmeas e etc) e essas características são conhecidas por
dimorfismo sexual. Porque esses caracteres que são aparentemente
desvantajosos para a seleção natural da espécie, acabam sendo vantajosos
para as chances de reprodução. No caso da seleção sexual, são as fêmeas
que selecionam os machos para a cópula. Sendo assim, são caracteres que
são aparentemente desvantajosos do ponto de vista da seleção natural, mas
são os que são mais atraídos, selecionados e vantajosos para a seleção
sexual. A seleção sexual está diretamente ligada à seleção natural, pois se
as fêmeas selecionam por exemplo, machos com pelagem muito exuberante,
podem se tornar presas mais fáceis de predadores, o que em algumas
situações pode ser uma característica desvantajosa, em termos de
reprodução promove a seleção sexual. Alguns caracteres são considerados
“inúteis” num certo ponto de vista, como a coloração da plumagem, o
tamanho do corpo, o exalar de certas substâncias, etc, no entanto, tais
características servem justamente para atrair o parceiro sexual. A seleção
sexual tem como base caracteres adquiridos ao longo do tempo, ligados a
reprodução que vão viabilizar a propagação da espécie. Usando como
exemplo a exuberância da cauda do pavão macho (atrativo para a sedução e
conquista da fêmea) quando analisado pela seleção natural seria uma
característica desvantajosa, pois atrairia mais facilmente seu predador, mas
na seleção sexual ela se torna vantajosa, pois a fêmea se sente atraída pelas
suas cores, dessa forma ela é vantajosa pois os caracteres aparentemente
desvantajosos, acabam aumentando as chances de reprodução. Alguns
caracteres como odor característico ou coloração expressiva que podem ser
desvantajosos atraindo predadores, podem ser vantajosos atraindo parceiros
para a reprodução. No caso do pavão os machos que tem as plumas (penas)
mais bonitas se destacam e com isso são escolhidos (tem a preferência)
pelas fêmeas, em contra partida ele (macho) se torna uma presa bem visível
pelos seus predadores. Um exemplo disso é a plumagem do pavão, que
embora seja uma característica desvantajosa para outros fins, confere a
espécie uma vantagem reprodutiva, pois as fêmeas da espécie em questão
“procuram” machos com plumagens mais avantajadas para o ato reprodutivo.
Podemos citar o exemplo do pavão, que possui uma longa cauda e quando a
abre é um leque de cores. Isso pode ser desvantajoso em relação a
cl
Ideia-Central
Explicações
Incorretas
predação, mas como ele pode abrir e fechar a cauda já o ajuda a ser discreto
quando necessário. Em relação a seleção sexual ele atrai a fêmea de sua
espécie com a abertura da cauda e movimentos em forma de dança, é um
ritual para o acasalamento, ou seja, aumentam as chances de reprodução.
Caracteres como plumagem exuberante (no caso do pavão) podem dificultar
o meio de sobrevivência como locomoção e camuflagem contra predadores,
mas é um grande chamariz para atrair as fêmeas já que elas escolhem seus
parceiros pela plumagem mais bonita. A diferença no fenótipo pode
ocasionar a escolha pela fêmea, como no caso dos pavões, seu rabo é
desvantajoso para a continuidade da espécie, pois o torna mais visível para
os predadores, mas o torna escolhido pelas fêmeas, o que torna seu caracter
vantagem para sua reprodução, mantendo seus caracteres na população.
Nem sempre para ele é vantajoso na sobrevivência, pois a exuberância
chama a atenção de predadores, mas essas características se tornam
vantajosas na reprodução por ser o mais gracioso escolhido pela fêmea. E
esses caracteres escolhidos são apenas aparentemente desvantajosos,
significando que realmente trará desvantagem aos indivíduos. Assim esses
caracteres podem ser vantajosos de alguma forma, aumentando as chances
de reprodução e perpetuação do indivíduo. No entanto esse processo pode
em alguns casos ser desvantajosos, pois o exagero atrai seus predadores,
tornando-se uma presa fácil. Esses exageros podem dificultar a busca por
alimentos. A seleção natural seleciona as características que melhor
aumentam as “chances de sobrevivência” dos seres no ambiente enquanto
seleção sexual aumentam “as chances de reprodução” dos animais.
A seleção natural é o tipo de processo que não ocorre de forma direcional, ou
seja, ela não seleciona os caracteres “aparentemente” desvantajosos, já que
a mesma ocorre de forma aleatória, pois existem as mutações, selecionando
indivíduos homozigóticos e que estão em baixa frequência em uma
população, proporcionando uma prole com indivíduos heterozigóticos e por
isso, aumentam a frequência deles na população, aumentando a chance de
reprodução. Nem sempre um indivíduo bem adaptado (com mais alelos
dominantes, por exemplo) conseguirá encontrar outro indivíduo bem
adaptado para copular. Por isso, em favor da perpetuação da espécie é que
indivíduos com caracteres aparentemente desvantajosos são selecionados,
muitas vezes para acasalar (seleção sexual) com qualquer outro indivíduo.
Ainda não se consegue explicar totalmente as vantagens da reprodução
sexuada, pelo contrário, a relação sexual, a reprodução sexuada, tem um
maior gasto energético desde a produção do gameta até realmente a
fecundação. O indivíduo não tem garantia de encontrar o sexo oposto e
realizar a cópula ou encontro dos gametas. Porém, algo que parece
desvantajoso não é, porque a reprodução sexuada permite uma maior
variabilidade genética, fluxo gênico. A seleção de machos e fêmeas em uma
proporção de 1:1, embora pareça desvantajoso, aumenta o valor do número
efetivo da população, aumentando assim a heterozigosidade, fato que
aumenta as chances de reprodução, afim de manter / garantir a sua prole. A
seleção sexual permite a reprodução sexuada que leva a variabilidade
genética, mas nem sempre caracteres que sugerem uma vantagem de
acasalar o são de fato. Na verdade, existe uma série de fatores que levam a
fêmea a escolher o macho, alguns podem estar associados ao
comportamento do macho e que por algum motivo pode vir a atrapalhar na
busca pela fêmea. Através da seleção sexual as características da mãe e do
pai (todas as que eles trazem em seus genes) serão transmitidas aos seus
descendentes, mesmo as características vantajosas e também
desvantajosas. Muitas das vezes os caracteres que são desvantajosos
acabam sendo compartilhados entre os indivíduos cruzantes e
consequentemente nas futuras gerações, sem ter a consciência que esse
caracter seja desvantajoso, pois há um gasto de energia muito grande para o
indivíduo, porém a grande vantagem dessa seleção é porque ela aumenta a
variabilidade genética, com isso haverá diversos tipos de caracteres
inseridos nas espécies, sendo muitos vantajosos, outros trazendo
desvantagens ao indivíduo. A seleção sexual não seleciona caracteres
desvantajosos, os caracteres que são desvantajosos em um dado momento
podem não ser em outro, ou seja, ocorre uma aleatoriedade. A seleção
cli
sexual é baseada em caracteres morfológicos e características
comportamentais (corte) e uma característica aparentemente desvantajosa
não vai aumentar as chances de reprodução. Na seleção sexual os genes
fenótipos atuam fazendo com que caracteres passam ser vantajosos ou
desvantajosos, que predomina o que na adaptação for mais atuante, pois
ocorre evolução e mutação. Inicialmente o “gasto energético” que provém
desta seleção logo é compensada pelo fato de que a união de cromossomos
haplóides gerará em uma maior variabilidade desse novo indivíduo. A
recombinação produzida pela reprodução só oferece vantagens ou
desvantagens seletivas em condição de variação ambiental, com isso
aumentam as chances de nas próximas gerações os filhotes terem as
características dos pais, mas não tem nenhuma relação direta com as
chances de reprodução. A seleção sexual atua quando ocorre presença de
caracteres que serão vantajosos no meio onde os indivíduos (população)
viverão. Dessa forma, o sexo será determinado de acordo com o meio. A
seleção sexual não ocorre de forma aleatória e também não é garantia de
reprodução, pois dependem dos caracteres que estão sendo compartilhados
entre os seres envolvidos, porque na seleção sexual, ou seja, na seleção
natural é necessário que haja interação entre todas as espécies de uma
determinada população, mesmo sendo jovens e animais mais velhos. Sendo
assim, há um tipo de seleção natural agindo sobre a seleção sexual, pois a
seleção natural mantém na população os caracteres vantajosos e exclui os
desvantajosos. Através da seleção natural os caracteres aparentemente
desvantajosos são “eliminados” para que “restem” (sobrevivem) somente os
caracteres vantajosos e isso irá acarretar em um grande desequilíbrio como
é o caso da seleção sexual “fugitiva”, onde filhas de machos exagerados
sempre trarão preferência por machos exagerados. A seleção sexual não
refere-se a caracteres que facilitem a reprodução e sim sobre uma vantagem
reprodutiva sobre machos e fêmeas de maneira a propiciar desenvolvimento
diferente (chance de sobrevivência) entre os sexos. A mulher nos seus
caracteres que são bem diferente dos homens, são responsáveis pela
reprodução de modo diferente, pois se o gênero feminino possui o útero que
hoje sofre tanto com as células cancerígenas, em contrapartida com todo
avanço da genética este órgão é insubstituível. O que parece ser
desvantajoso na seleção sexual é o que ocorre com a reprodução sexuada
que foi selecionada como um meio de reprodução da maioria dos seres
vivos, mesmo tendo como desvantagem um grande custo de energia, a
procura pelo parceiro e etc. Mas na reprodução sexuada há uma grande
chance de aumentar a variabilidade genética, o que pode ser um motivo para
tal seleção mesmo sendo um investimento de energia muito alto sem
garantia de retorno certo. Para que estes caracteres que “aparentemente”
não trazem benefício, revertam em um quadro favorável, é necessário ter em
equilíbrio dinâmico entre machos e fêmeas, para uma heterozigosidade
grande. Na seleção sexual, o cruzamento ocorre ao acaso, não havendo
como “programar” o resultado, um exemplo de modelo estocástico. Portanto,
estes caracteres que são aparentemente desvantajosos acabam sendo
selecionados no momento da reprodução, resultando em chances maiores
de reprodução, com isso aumentando a variabilidade genética. Outro fator
que resulta na variabilidade genética é o fato de não haver o
endocruzamento, sendo fruto de um cruzamento heterogamético. O intuito da
reprodução é a perpetuação da espécie, gerar indivíduos aptos a transmitir
os genes da espécie à novas proles, porque ocorrerá mutação e as espécies
serão eliminadas pelo meio através da seleção natural diminuindo a
variabilidade genética. Logo, não seria vantagem transmitir uma herança
genética desvantajosa à prole para que a mesma encontrasse dificuldades
de adaptação devido aos caracteres desvantajosos que foram passados
através das gerações, foi devido a este aspecto que muitas espécies foram
se estabilizando no meio que habitam. A seleção sexual ocorre quando
indivíduos após um processo de especiação se tornam tão diferentes a ponto
de se isolarem reprodutivamente e não mais cruzarem, surgindo assim duas
populações diferentes, podendo surgir até mesmo espécies diferentes. A
seleção sexual ocorre quando a seleção natural não está atuando. Ocorre
em populações pequenas, onde o nível de espécies é baixa, sendo vantajosa
clii
para que não ocorra a extinção da espécie. Como no caso dos peixes que
continham, apresentavam manchas negras, estes peixes que aparentemente
possuíam alguma anomalia, na verdade foram os peixes que sobreviveram
às situações extremas do meio em que vivem.
Na tabela abaixo (Tabela 6.6) está o número de respostas utilizadas para a
formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram
incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma
atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra.
Tabela 6.6 – Número de respostas x Ideia-central*
Número de
respostas
Número de alunos que fez
pelo menos uma atividade
Número de alunos que
indicou ter lido o texto
3
3
2
--
2
--
10
5
--
21
3
1
34
10
1
40
15
9
Explicações Corretas
Não diferenciou a Seleção Natural e
a Seleção Sexual
Seleção sexual como indicativo de
bons genes / saúde
Seleção Natural e Seleção Sexual
como processos semelhantes
Seleção de características
vantajosas para a reprodução
Seleção de características
desvantajosas para a reprodução
Explicações Incorretas
Não respondeu a questão
35
7
3
2
--* 16 alunos informaram que leram o texto, mas dois desses não fizeram nenhuma atividade.
Por último, apresentamos a tabela (Tabela 6.7) com o número de alunos
que fez cada atividade:
Tabela 6.7 – Número de alunos por atividade
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
Atividade 4
Atividade 5
Atividade 6
Atividade 7
Atividade 8
Fez atividade
42
18
11
8
10
8
7
5
cliii
Infelizmente, de forma semelhante ao semestre anterior, não houve grande
adesão por parte dos alunos.
6.2.3 Discussão dos resultados encontrados
Os resultados encontrados não foram totalmente satisfatórios em função da
pouca adesão dos alunos às atividades e porque a maior parte dos discursos
encontrados não estava de acordo com os conceitos desenvolvidos ao longo das
atividades e do texto extra.
Em relação a pouca adesão dos alunos, podemos encontrar uma
justificativa nas palavras de Laguardia e Portela em que
(...) a experiência da educação à distância on line requer a participação
ativa do aluno, sua responsabilidade no processo de aprendizagem e o
domínio de habilidades que, ausentes, podem resultar em barreiras à
sua permanência nos cursos e, consequentemente, em altas taxas de
evasão (2009, p.351).
Essa dificuldade em permanecer no curso pode ser percebida na
quantidade de alunos que começam a disciplina e que, após a Avaliação
Presencial 1 a trancam ou faltam as avaliações seguintes (Avaliações Presenciais
2 e 3).
Novamente, de acordo Laguardia e Portela (2009) existem muitas razões
que justificam as altas taxas de evasão em EaD. Essas razões podem ser
classificadas em voluntárias como, por exemplo, subestimar as dificuldades que
seriam encontradas; ou involuntárias, como o surgimento de doenças. Porém a
falta de tempo é apontada como uma das principais causas para a baixa
efetividade dos alunos e altas taxas de evasão.
Em relação à pontuação, foi nossa escolha fazer as atividades não
pontuadas para tentar entender também se os alunos estão dispostos a utilizar as
diversas ferramentas de estudos que são oferecidas. O que pudemos perceber é
que realmente o fato de as atividades não serem pontuadas contribuiu para uma
baixa adesão. Esse fato foi percebido ao longo das atividades, nos dois
semestres, pois muitos alunos me perguntaram se as atividades não seriam
pontuadas e indicaram que se fossem talvez participassem.
Portanto, uma das características da EaD é a participação ativa dos alunos,
sendo ele o responsável pelo seu processo de ensino e aprendizagem. Quando
cliv
essa atitude não é colocada em prática por parte dos alunos, o processo fica
comprometido.
Esse problema foi apontado por Barbosa e Rezende (2006) que indicaram
que para que as tutorias tenham um bom resultado é preciso o comprometimento
dos tutores e alunos, porém em seu artigo, as autoras mostraram que uma das
queixas dos tutores se encontra no fato de os alunos não se empenharem,
dificultando o desenvolvimento das tutorias, gerando mais trabalho para o tutor e
muitas vezes caracterizando um baixo desempenho dos alunos.
Autores como Santos (2006), Abreu et al. (2007), Alonso (2010) e Ronchi
et al. (2012) também indicam que faz parte dessa modalidade de ensino a
escolha, por parte dos alunos, das ferramentas e suportes que serão utilizados
para aprenderem e aprofundarem seus conteúdos, dentre as oferecidas ao longo
do curso. Esses referenciais podem nos ajudar a entender a pouca participação
dos alunos e o fraco desempenho nas questões relacionadas com as atividades.
6.2.3.1 Discussão dos Discursos do Sujeito Coletivo
Em relação aos Discursos do Sujeito Coletivo encontrados nessa
graduação, podemos perceber uma diferença nos conteúdos desses discursos,
em função do tipo de questão formulada: definição de conceitos (2012-1) ou
questão analítica (2012-2).
6.2.3.1.1 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-1
Em 2012-1, a questão solicitava que os alunos diferenciassem os
processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, sendo a resposta correta a
conceituação de cada um deles. Como os alunos definiram cada processo
separadamente, também analisamos as respostas dessa forma.
Para a Seleção Natural, o resultado encontrado foi satisfatório, uma vez
que a maior parte das respostas (71%) foi classificada nas categorias correta e
incompleta. Além disso, a maior parte dos alunos que fez alguma atividade ou que
indicou ter lido o texto, encontra-se nessas categorias (84% e 86%,
respectivamente).
clv
Na Ideia-central Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural
estão presentes os conceitos que permitem a compreensão da atuação da
Seleção Natural e suas consequências.
Os alunos ressaltaram que nesse processo as variações gênicas que
surgem a partir de mutações ao acaso e que produzem características que
aumentam as chances de sobrevivência são selecionadas positivamente. Porém,
para as características serem consideradas benéficas, prejudiciais ou neutras
precisamos observá-las de uma perspectiva local e temporal. Assim, os indivíduos
com caracteres vantajosos conseguem chegar à idade reprodutiva, passando a
característica aos seus descendentes, ou seja, os alelos vantajosos são mantidos
na população, aumentando sua frequência.
Também é importante destacar que os alunos conseguiram identificar que
o meio ambiente deve ser considerado como os fatores bióticos e abióticos que o
compõe. A consequência desse processo é uma melhor adaptação da espécie ao
meio.
Na Ideia-central Explicações incompletas sobre o processo de Seleção
Natural os alunos explicaram de forma bem semelhante à Ideia-central
Explicações corretas, porém não indicaram de forma clara sobre ao que se
referem quando falam em adaptação. Além disso, não responderam que a
Seleção Natural está relacionada com o sucesso na sobrevivência. Essa
indicação era importante, pois é um dos fatores que diferencia esse processo do
de Seleção Sexual que é o sucesso reprodutivo.
Porém, ainda encontramos respostas que estão totalmente fora do
contexto, embora saibamos que isso é comum em avaliações. Mas o que chama
mais a atenção, é que duas categorias formadas – Explicações com ideia de
objetivo do processo de Seleção Natural e Explicação Contraditória –
apresentaram erros recorrentes, não só encontrados na literatura sobre ensino de
evolução, como na própria análise das provas arquivadas feita por nós.
Na Ideia-central Explicação Contraditória, os alunos apresentaram
conceitos que estavam relacionados com outros processos evolutivos, como a
deriva gênica, ou indicaram que a Seleção Natural pode ser um processo ao
acaso que leva à fixação de características negativas.
Nas provas arquivadas analisadas também estava presente uma questão
sobre a definição do processo de Seleção Natural (2008-2 e 2009-1) e essas
confusões também foram encontradas.
clvi
Em relação à Ideia-central Explicações com ideia de objetivo do processo
de Seleção Natural podemos perceber a permanência de um erro bem comum e
que também já havia sido detectado nas provas arquivadas (2008-2 e 2009-1).
Esse é um dos erros que permanece mesmo depois de intervenções
diversas, como foi demonstrado por muitos autores que atuam em pesquisas com
ensino de evolução (CRAWFORD et al., 2005; BARDAPURKAR, 2008;
SHTULMAN e SCHULZ, 2008; GREGORY e ELLIS, 2009; TIDON e VIEIRA,
2009; ANDREWS et al., 2011; PRINOU et al., 2011).
Para ilustrar essa dificuldade citamos o artigo de Baumgartner e Duncan
(2009) no Hawaii, pois esses pesquisadores desenvolveram atividades de
laboratório, modelos e simulações que discutiam os conceitos da Teoria Evolutiva.
Mesmo assim os alunos ainda ficaram com a concepção de que os organismos
aprendem a mudar seus corpos ao longo do tempo.
Outra pesquisa interessante é a de Santos (2002), pois essa autora
trabalhou com um grupo pequeno de alunos e com a apresentação de situaçõesproblema que deveriam ser discutidas e, apesar disso, os alunos também
continuaram apresentando a ideia de que a evolução ou modificação das
espécies tem um objetivo consciente.
Sobre o processo de Seleção Sexual, na Ideia-central Explicações corretas
sobre o processo de Seleção Sexual os alunos indicaram que esse não é um tipo
de Seleção Natural e sim outro processo que atua na diversificação das espécies,
relacionado com a reprodução diferencial.
Os alunos também responderam que esse processo pode levar ao
dimorfismo sexual e que é um processo intraespecífico, ou seja, é a disputa
(intrassexual) ou a escolha (intersexual) de parceiros reprodutivos, o que pode
fazer com que características extravagantes sejam estabelecidas ao longo do
processo.
Boa parte das respostas (41%) foi classificada na Ideia-central Escolha de
parceiro reprodutivo. Embora a resposta não esteja incorreta, ela está incompleta,
pois no processo de Seleção Sexual também ocorre a disputa por parceiros ou
locais para o acasalamento. Para que as respostas fossem consideradas corretas
também era necessária a indicação de que as características moldadas pela
Seleção Sexual estão relacionadas com o sucesso reprodutivo. Porém, de forma
positiva os alunos relacionaram esse processo com a seleção de machos com
determinadas qualidades genéticas.
clvii
Na Ideia-central Disputa entre machos apenas um aluno respondeu com
essa ideia e somente apresentou a disputa entre machos (intraespecífica) como
parte do processo de Seleção Sexual, sem mencionar a escolha de parceiros
(interespecífica).
Na Ideia-central Explicações incompletas sobre o processo de Seleção
Sexual os alunos não deixaram claro que sabiam que esse é outro processo que
atua na diversificação das espécies, ou seja, apenas diferenciaram os subtipos
(intra e intersexual) sem indicar que estão relacionados com o sucesso
reprodutivo diferencial.
As quatro Ideias-Centrais apresentadas acima representam cerca de dois
terços das respostas dos alunos (94 respostas de um total de 153) e são
categorias relacionadas com a resposta correta. Porém, por volta de dois terços
dessas respostas (71 respostas em relação a 94) não estão de acordo com o
gabarito, ou seja, alguma lacuna foi encontrada, sendo as principais: indicação de
apenas um subtipo de seleção (intra ou intersexual); não indica que, assim como
na Seleção Natural, nesse processo as mutações ao acaso também são as fontes
de variação; e, principalmente, não relacionaram que as características moldadas
pela Seleção Sexual são indicativas de bons genes, o que significa dizer que
apenas os indivíduos mais bem adaptados conseguem manter características que
possuem um alto custo energético e ainda assim chegar à idade reprodutiva.
As respostas que não estavam corretas e que foram classificadas nas
Ideias-centrais Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual,
ou Explicações Incorretas, ou Explicação Contraditória ainda apresentaram erros
que são recorrentes.
Quando classificamos com a ideia de objetivo é porque o discurso formado
indica que os indivíduos com características extravagantes mudaram ou
passaram a usar determinada estrutura para conseguirem se reproduzir.
O
discurso
contraditório
indicava
que
a
Seleção
Sexual
molda
características não adaptativas, mas que aumentam as chances de reprodução.
Consideramos que características que beneficiem de alguma forma o indivíduo,
independentemente de serem para a sobrevivência ou para a reprodução, são
características adaptativas. Com isso, essas respostas não estavam de acordo
com o esperado.
Na ideia incorreta os alunos não responderam ao que foi solicitado e
muitas vezes descreveram as vantagens da reprodução sexuada. Essa discussão
clviii
é importante para a compreensão dessas características extravagantes e que
apresentam dimorfismo, mas não era o que estava sendo solicitado na questão.
Porém, esse tipo de reprodução foi abordado nas atividades e no texto
extra, pois está diretamente relacionada com os comportamentos e estruturas
diferenciadas de machos e fêmeas de diversas espécies, mas foi utilizada para
explicar porque essa reprodução influenciava no processo de Seleção Sexual.
Com isso, duas questões podem ser levantadas e que poderemos tentar
responder em trabalhos futuros: será que o conceito de Seleção Sexual é um
conceito tão novo para os alunos que facilita a confusão com outras ideias como,
por exemplo, a reprodução sexuada?; E, será que numa tentativa de colocar as
fêmeas como participantes ativas desse processo, como é indicado por diversos
autores, induzimos os alunos a darem apenas esse tipo de resposta?
Acreditamos que não, pois nas atividades e no texto extra tentamos o
tempo todo indicar que o processo de Seleção Sexual apresenta dois subtipos, a
seleção intrassexual e a intersexual. Porém, são questões que não devem ser
esquecidas.
Entretanto, os erros e lacunas encontrados nos Discursos-Síntese
montados sobre o processo de Seleção Sexual são muito semelhantes às
dificuldades encontradas quando foi feita a categorização das respostas das
questões sobre esse processo que estavam presentes nas avaliações de 2009-2
e 2012-1.
6.2.3.1.2 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-2
No semestre 2012-2 o resultado não foi tão satisfatório e julgamos que
esse fato está relacionado com a questão ser mais analítica. Na análise das
provas arquivadas também encontramos resultado semelhante, em que os alunos
tiveram suas respostas classificadas em incorretas ou incompletas em número
muito maior do que quando a questão era de definição de conceito, como nas
questões analíticas Flamingo (2008-1 e 2008-2), Complexidade (2008-2),
Mutação / Evolução (2009-1) e Tautologia Seleção Natural (2009-1).
Na questão presente na Avaliação Presencial 2 de 2012-2 era esperado
que os alunos diferenciassem a
Seleção Natural,
relacionada com
a
sobrevivência; da Seleção Sexual, relacionada com a reprodução. Colocamos a
palavra aparentemente porque as estruturas ou comportamentos extravagantes
clix
parecem dificultar a sobrevivência, mas na realidade são indicativos de bons
genes e são características que não podem ser forjadas (ZAHAVI e ZAHAVI,
1997). Com isso, esperávamos que os alunos diferenciassem esses dois
processos e indicassem que as características selecionadas pelo processo de
Seleção Sexual também são características vantajosas.
Infelizmente, nesse semestre as respostas que formaram Ideias-Centrais
que continham ideias corretas sobre os processos de Seleção Natural e Seleção
Sexual foram apenas um terço das respostas. E, respostas totalmente corretas
foram apenas três, de um universo de 146 respostas.
Na Ideia-Central Explicações Corretas houve a diferenciação dos dois
processos e os alunos relacionaram a Seleção Sexual com a seleção de
características que aumentam o sucesso reprodutivo e que são indicadoras de
bons genes, sendo vantajosa sua manutenção na população.
Porém, a maioria dos alunos (98%) não conseguiu indicar de forma correta
as principais características que diferenciam a Seleção Sexual da Seleção
Natural. As respostas que não estavam erradas, mas que apresentavam lacunas
– Seleção Sexual como indicativo de bons genes / saúde e Seleção de
características vantajosas para a reprodução – não indicaram qual era a diferença
desse processo em relação ao de Seleção Natural.
Não ficamos satisfeitos com esse resultado, pois as respostas não
abordaram de forma mais aprofundada o que realmente está sendo indicado
pelas características extravagantes e pelo processo de Seleção Sexual: ser um
melhor parceiro reprodutivo, por ter melhores genes, que serão mantidos no fundo
de genes da população.
O que chama a atenção nesse resultado é que dois terços das respostas
foram classificadas em alguma Ideia-Central que apresenta um discurso que não
é condizente com o que era esperado. Para as respostas classificadas na IdeiaCentral Explicações Incorretas houve o mesmo problema que no semestre
anterior em que os alunos confundiram o processo de Seleção Sexual com as
vantagens da reprodução sexuada.
Na Ideia-Central Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual até
foram encontradas respostas que conceitualmente poderiam estar corretas,
entretanto o aluno não indicou sobre qual dos dois processos estava
respondendo.
clx
O que mais chama atenção é que na Ideia-Central Seleção Natural e
Seleção Sexual como processos semelhantes os alunos consideraram a Seleção
Sexual como um tipo de Seleção Natural (14%), mostrando que realmente não
entenderam que são processos distintos.
Consideramos essas respostas incorretas, pois partimos do princípio de
que a atuação da Seleção Natural é diferente da atuação da Seleção Sexual,
moldando características econômicas por um lado, e extravagantes pelo outro; e,
que saber diferenciar os dois processos ajuda a entender melhor a biodiversidade
existente.
Porém, para nós, o pior resultado está na Ideia-central Seleção de
características desvantajosas para a reprodução, pois parece que os alunos
entenderam de forma deturpada o que estava sendo explicado, sendo essa a
categoria com o maior número de respostas (27%) e o maior número de alunos
que fizeram as atividades e que indicaram terem lido o texto (36% e 56%,
respectivamente).
Como justificativa, os alunos colocaram que nesse processo ocorre a
seleção de características deletérias ou que dificultam a sobrevivência, mas que
são selecionadas por aumentarem as chances de reprodução. Essas respostas
estão erradas, uma vez que em processos seletivos não ocorre a seleção de
características desvantajosas. Esse resultado também foi encontrado na questão
Seleção Sexual das provas de 2009-2 e 2012-1.
Então, após esse semestre, nos perguntamos se as atividades confundiram
os alunos e se devemos fazer algumas reformulações para que continue a ser
utilizada no ensino da Teoria Evolutiva.
Entretanto, resultados que não foram satisfatórios são descritos por outros
autores que trabalharam com o ensino da Teoria Evolutiva, como destacam Nehm
e Reilly (2007). Para eles, atividades que exigem a participação dos alunos, em
relação ao tema evolução, podem contribuir para o ensino do tema, mas ainda
apresenta limitações em relação aos ganhos de conteúdos. E, essa conclusão é
semelhante a nossa.
6.2.3.2 O que podemos concluir sobre as atividades?
clxi
Ao longo desse projeto foi feita uma tentativa de compreensão de como os
alunos de um curso semipresencial de graduação em licenciatura em Ciências
Biológicas aprendem conceitos que estão relacionados com a Teoria Evolutiva.
Além da necessidade de se tentar entender as dificuldades que são
encontradas para um ensino mais efetivo desse tema, também tivemos que levar
em consideração a fato de esse curso estar inserido em um novo modelo de
ensino que é a EaD.
Sendo assim, escolhemos trabalhar com a Teoria Evolutiva, pois esse é um
tema central das Ciências Biológicas (FUTUYMA, 2002; BAUMGARTNER e
DUNCAN, 2009; CARVALHO et al. 2011), está previsto seu ensino em
documentos oficiais que regulam a educação brasileira (BRASIL, 1998; BRASIL,
2006) e trabalhos na área de ensino de evolução (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002;
GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS
e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011) mostram
dificuldades recorrentes na apreensão desse conteúdo.
Outros fatores também contribuíram para a decisão de se utilizar esse
tema. Em primeiro lugar o fato de ser tutora presencial desse curso a bastante
tempo, inclusive da disciplina Evolução, e com isso, a percepção de que esse
conteúdo permeava a graduação em diversas disciplinas. E, em segundo lugar,
por perceber que os alunos apresentavam grandes dificuldades com esse tema
quando cursavam a disciplina Evolução.
Então, inseridos nesse contexto e utilizando dados que já estavam
presentes no curso, como os módulos didáticos e as provas arquivadas,
desenvolvemos as atividades didáticas.
Pretendíamos trabalhar com o conceito de Seleção Natural, mas também
inserir o conteúdo de Seleção Sexual, uma vez que é um processo importante na
diversificação das espécies, mas que não tem sido abordado no ensino de
evolução. Também queríamos que as atividades fossem realizadas através da
apresentação de situações para os alunos analisarem, como forma de contribuir
para uma participação ativa dos alunos em seu processo de ensinoaprendizagem, característica esperada dos alunos da EaD.
Após a realização das atividades em dois semestres e a construção dos
Discursos do Sujeito Coletivo, podemos considerar que os resultados foram
aquém do esperado, porém dentro de um contexto já relatado em inúmeras
pesquisas na área de ensino de evolução.
clxii
Os resultados mais satisfatórios foram sobre as conceituações do processo
de Seleção Natural. Entretanto, alguns erros continuam aparecendo como, por
exemplo, a não inclusão das mutações ao acaso como fonte de variabilidade, a
confusão entre processos deterministas e estocásticos e etc.
Porém, um dos principais erros que permanece está relacionado com o fato
de os alunos continuarem explicando o processo de Seleção Natural como um
processo consciente, em que o indivíduo muda para se adaptar ou sobreviver, ou
que tem um agente guiando esse processo. Com isso, também se estabelecem
dificuldades para a compreensão do conceito de adaptação e de sua relação com
a temporalidade e localidade.
Essa visão Lamarckista da evolução tem sido considerada por muitos
autores um dos principais entraves para a compreensão da Teoria Evolutiva. Essa
dificuldade é relatada em inúmeros trabalhos na área de ensino de evolução, em
locais e com públicos bem diferenciados (ALTERS e NELSON, 2002; TIDON e
LEWONTIN, 2004; CRAWFORD et al., 2005; NEHM e REILLY, 2007;
BARDAPURKAR, 2008; SHTULMAN e SCHULZ, 2008; GREGORY e ELLIS,
2009; TIDON e VIEIRA, 2009; GREGORY e ELLIS, 2011; PRINOU et al., 2011;
AGNOLETTO e BELLINI, 2012). Sendo assim, podemos considerar que as
palavras de Agnoletto e Bellini traduzem bem qual é o principal problema trazido
por esses obstáculos, em que
a representação de uma evolução intencional, com determinações dos
genes ou de determinação de um agente externo retira do conceito de
evolução postulado por Darwin a dinâmica, o papel do acaso e a noção
de que não há evolução para o melhoramento da espécie ou seu
progresso, não há o melhor ou pior organismo (2012, p.29).
Sobre o processo de Seleção Sexual os resultados não estavam de acordo
com o esperado, pois gostaríamos que as atividades tivessem permitido a
compreensão desse processo e, principalmente, suas diferenças em relação ao
processo de Seleção Natural. Queríamos que os alunos conseguissem perceber
que esses dois processos permitem uma melhor explicação sobre a diversificação
das espécies ao longo do tempo. Sendo assim, a minoria dos alunos que
participou das atividades e leu o texto extra conseguiu responder de forma
adequada às perguntas presentes nas Avaliações Presenciais 2 (2012-1 e 20122).
clxiii
Uma visão Lamarckista desse processo também foi encontrada nas
respostas, mas o que mais chamou a atenção foi que os alunos não conseguiram
diferenciar esse processo do de Seleção Natural e principalmente de que as
características moldadas por esse processo trazem alguma vantagem e não são
características deletérias.
Entretanto, como já foi indicado exaustivamente esse tem sido um tema de
difícil ensino e devemos pensar em formas de melhorar essa estratégia ou de
aumentar a adesão dos alunos, uma vez que ela só foi testada em dois
semestres.
Também devemos considerar que existe um distanciamento entre os
documentos oficiais que regulam a educação brasileira, a realidade dos
professores e futuros professores e de trabalhos acadêmicos, o que pode levar a
obstáculos para a apreensão e ensino de temas importantes da biologia.
Porém, fazemos parte de um contexto acadêmico que procura entender os
problemas e melhorá-los no que se refere ao ensino da Teoria Evolutiva e, por
isso, não devemos desistir de tentar melhorar essa realidade. No nosso caso,
decidimos incluir um processo que, apesar de fazer parte da Teoria Evolutiva, não
é abordado nas aulas do Ensino Médio ou Ensino Superior. Além disso, não
encontramos trabalhos que fizessem o uso desse conceito em estratégias para o
ensino de evolução.
Julgamos que a inclusão do processo de Seleção Sexual numa atividade
didática seja nossa maior contribuição para a área de ensino de biologia e que
devemos continuar usando e avaliando essas atividades, em novos contextos se
for possível, contribuindo para um ensino mais efetivo desse tema.
clxiv
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ideia para essa tese se originou a partir da minha experiência como
professora da Educação Básica e tutora presencial de um curso de graduação
público semipresencial de licenciatura em Ciências Biológicas.
Ao longo da minha prática docente fui percebendo que os alunos
apresentavam
maiores
dificuldades
na
aprendizagem
de
determinados
conteúdos, do que em relação a outros, sendo a Teoria Evolutiva um dos temas
mais difíceis de ser ensinado e compreendido. O fato de ser tutora presencial da
disciplina Evolução dessa graduação, também foi determinante na escolha do
público-alvo desse projeto.
Outro fator que contribuiu para essa decisão foi a tentativa de fechar um
ciclo. Esse ciclo estava relacionado com a percepção de que a Teoria Evolutiva
está prevista para ser ensinada desde a Educação Básica, associado ao fato de
que esse é um tema que apresenta muitas dificuldades para ser ensinado e, por
último, de que a graduação em questão é uma licenciatura, ou seja, é formadora
de futuros professores da Educação Básica.
Além disso, apesar de trabalhos na área de ensino de evolução mostrarem
que as dificuldades para a compreensão desse tema permanecem, os autores
dessas pesquisas indicam que novas estratégias para o ensino do tema devem
ser desenvolvidas e testadas.
Nessa perspectiva, tínhamos como objetivo principal o desenvolvimento de
atividades didáticas que trabalhassem com conteúdos da Teoria Evolutiva. Como
novidade, decidimos inserir a discussão do conceito de Seleção Sexual nessas
atividades, pois esse foi um importante conceito desenvolvido por Darwin e que
não tem sido abordado nas salas de aula.
Para o desenvolvimento e análise das atividades criadas usamos dados
referentes aos conteúdos da Teoria Evolutiva em livros didáticos do Ensino
Médio, nos módulos didáticos das disciplinas dessa graduação que abordavam a
Teoria Evolutiva em suas aulas e das provas arquivadas da disciplina Evolução,
pois é a disciplina em que esse conteúdo é trabalhado de forma mais exaustiva.
Em relação aos livros didáticos, escolhemos analisá-los, pois esse é um
importante instrumento de consulta de professores e alunos. Os dados mostraram
que os principais conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana são abordados de
forma adequada nesses livros, com exceção do conceito de Seleção Sexual.
clxv
Esse mesmo resultado foi encontrado nos módulos didáticos das
disciplinas escolhidas para análise. Nesse caso, os conceitos da Teoria Evolutiva
são trabalhados ao longo dessa graduação, desde o primeiro período, mas o
conceito de Seleção Sexual ou não é abordado ou isso é feito de forma
inadequada.
A constatação de que a Teoria Evolutiva é trabalhada ao longo de todo o
curso, nos levou à etapa seguinte que foi tentar relacionar o que os alunos
deveriam aprender, com o que realmente conseguiam compreender desse
conteúdo.
Para fazermos isso, analisamos questões das provas arquivadas da
disciplina Evolução. Apesar de os resultados terem mostrado que muitas vezes os
alunos não conseguem relacionar os conteúdos evolutivos com as questões que
eram apresentadas, esses resultados estavam de acordo com referenciais da
área de ensino de evolução que mostram dificuldades recorrentes para a
compreensão desse tema.
Então, julgamos que as atividades poderiam contribuir para o ensino dessa
teoria, que é descrita em fontes de consulta, como os livros e módulos didáticos,
mas que os alunos apresentam dificuldades. Decidimos que as atividades
apresentariam situações que permitiriam a discussão dos conceitos de Seleção
Natural e Seleção Sexual, conceitos centrais na Teoria Evolutiva Darwiniana, e
que contribuem para uma melhor explicação da diversificação das espécies.
As atividades foram propostas via plataforma virtual, uma vez que
estávamos em um contexto de EaD e os alunos estavam distribuídos em polos
localizados em todo o estado do Rio de Janeiro. As atividades foram realizadas
na disciplina Evolução em dois semestres e, ao final de cada um, os alunos
deveriam responder a uma questão obrigatória na Avaliação Presencial 2 que
abordava o tema dessas atividades.
Essas atividades não eram obrigatórias, sendo mais uma ferramenta de
estudo para esses alunos. Infelizmente, a participação dos alunos foi baixa, o que
não esperávamos. Entretanto, essa é uma característica da EaD, uma vez que os
alunos são os principais responsáveis por terem uma participação ativa e o
controle de seu processo de ensino.
As respostas dos alunos referentes à questão sobre as atividades foram
analisadas de forma qualitativa. Nesse caso, utilizamos a metodologia do
clxvi
Discurso do Sujeito Coletivo com o objetivo de caracterizar a representação social
que forma esse grupo no que diz respeito ao tema evolução.
Mais uma vez os resultados não estavam de acordo com o esperado, pois
os alunos apresentaram erros recorrentes nas conceituações sobre o processo de
Seleção Natural, sendo o principal deles a visão Lamarckista da evolução.
Sobre o processo de Seleção Sexual, os resultados foram ainda mais
insatisfatórios, pois pudemos perceber que muitas vezes os alunos não tinham
ideia sobre qual conceito estava sendo perguntado e sua importância para a
compreensão da diversidade biológica.
Julgamos que devemos rever essas atividades, procurando identificar
possíveis falhas ou controvérsias na apresentação dos conteúdos, o que pode ter
dificultado a compreensão do conceito de Seleção Sexual. Porém, essa foi uma
primeira tentativa de inclusão do conceito de Seleção Sexual em um contexto
educacional. Com isso, pretendemos continuar testando e avaliando essas
atividades com o objetivo de continuar contribuindo para um ensino mais efetivo
da Teoria Evolutiva.
clxvii
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clxxv
ANEXO I
EMENTAS DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 19
DISCIPLINA
GRANDES TEMAS EM BIOLOGIA20
CARGA HORÁRIA: 45 H
EMENTA: Introdução à Biologia a partir da análise do processo de formação do
conhecimento tomando como exemplos alguns temas importantes no campo da Biologia no
seu sentido mais amplo.
DISCIPLINA
DIVERSIDADE DOS SERES VIVOS
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: Biodiversidade. Entidades Biológicas. Sistemática. Tempo, Espaço e Forma.
Sistemas Biológicos. Seleção Natural. Adaptação. Biogeografia. Registro Fóssil.
Cronofilogenia. Análise Filogenética. Origem da Vida. Protistas. Fungos. Plantas. Grandes
extinções e Grandes Radiações. Evolução Humana.
DISCIPLINA
ELEMENTOS DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: O âmbito da Ecologia. Ecossistema: histórico, conceitos, o ambiente físico (luz,
temperatura, água, salinidade, solo), fatores limitantes; adaptação; transferência de energia
e biomassa; Ciclos biogeoquímicos. Biociclos e Biomas. Recursos Naturais e Meio
Ambiente. Poluição e desequilíbrios ecológicos. Novas tecnologias e seu risco ambiental.
DISCIPLINA
INTRODUÇÃO A ZOOLOGIA
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: Introdução à Biologia Comparada: escolas sistemáticas; homologia e série de
transformação de caracteres; agrupamentos taxonômicos; classificação zoológica e
taxonômica. Origem dos Metazoários. Arquitetura animal. Estudo da anatomia e fisiologia
funcionais externas e internas e dos aspectos ecológicos dos Metazoários: suporte e
locomoção; alimentação e digestão; trocas gasosas e sistema circulatório; excreção e
osmorregulação; sistema nervoso e órgãos dos sentidos; reprodução e desenvolvimento.
DISCIPLINA
POPULAÇÕES, COMUNIDADES E CONSERVAÇÃO
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: Habitat e Nicho. Ecologia Fisiológica. Populações: conceitos, parâmetros,
estratégias bionômicas, crescimento e regulação, estatísticas vitais. Relações entre os seres
vivos. Comunidades: conceitos, parâmetros, sucessão, resistência e resiliência. Padrões
globais de diversidade de espécies. Ecologia de populações e comunidades e conservação
19
Disponível em: www.cederj.edu.br.
As ementas aqui disponibilizadas são das disciplinas escolhidas para leitura do módulo em
função dos temas abordados na ementa. Foram selecionadas as disciplinas que indicaram
trabalhar com a Teoria Evolutiva ou com conceitos da mesma.
clxxvi
20
de espécies. A fragmentação de habitats. O homem e a natureza.
DISCIPLINA
EVOLUÇÃO
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: Padrões e processos evolutivos; variabilidade gênica; forças evolutivas; migração,
variação geográfica e especiação; relações interespecíficas; taxas de divergência e relógio
molecular; genética da conservação; evolução e criacionismo
DISCIPLINA
INSTRUMENTAÇÃO PARA O ENSINO DE GENÉTICA (RCC)21
CARGA HORÁRIA: 75 H
EMENTA: Elaboração e execução de experimentos e formas de abordagem e
desenvolvimento de temas relativas aos conteúdos de Biologia Molecular, Genética e
Evolução. Análise e avaliação da abordagem do tema em livros didáticos. Participação em
atividades relacionadas oferecidas para alunos/professores da educação básica nas escolas
conveniadas e em atividades de educação em Ciências junto à comunidade.
21
Apesar dessa disciplina possuir ementa compatível com o objeto de estudo do projeto, não foi
analisada, pois não possui módulos didáticos e nem tutoria presencial, sendo todas as atividades
realizadas à distância, via plataforma.
clxxvii
ANEXO II
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Comitê de Ética em Pesquisa: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.
Protocolo número: 2011/0152.
Parecer: Aprovado.
clxxviii
APÊNDICE I
MODELO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado(a),
meu nome é Livia B. Nicolini e venho por meio deste e-mail convidá-lo a participar
de minha pesquisa de doutorado.
Sou aluna de doutorado do programa de Pós-Graduação em Ensino em
Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. Meu
trabalho tem como objetivo avaliar atividades didáticas desenvolvidas para a
discussão dos conceitos de seleção natural e de seleção sexual, nesta disciplina,
e que estarão disponíveis para você participar.
Em função disto, você será convidado a participar de atividades que serão
propostas na plataforma, principalmente com o formato de fóruns de discussão.
Estas atividades não serão obrigatórias e não valerão ponto, serão mais uma
ferramenta de estudo dos conceitos que estão presentes nos módulos e previstos
na ementa do curso.
Venho solicitar sua autorização para que eu possa usar os dados de suas
respostas em tal atividade. Ressalto que só serão usados seus dados se você me
autorizar e de que o sigilo dos mesmos será garantido, assim como o anonimato
de quem participar.
Peço que ser for autorizado o uso de seus dados, que me responda a este e-mail.
Asseguro de que em qualquer momento você também poderá não autorizar a
publicação de seus dados, assim como deixar esta pesquisa sem qualquer
prejuízo pessoal. Abaixo estão todos os meus dados de contato, assim como da
instituição. E, me prontifico a prestar qualquer esclarecimento que seja solicitado.
Atenciosamente,
Livia Baptista Nicolini
Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências
Instituto Oswaldo Cruz
Fundação Oswaldo Cruz
Avenida Brasil 4365 – Manguinhos Rio de Janeiro - R.J. - Brasil
CEP: 21040-900
Telefones: (21) 2562-1831 e (21) 9316-7899
E-mail: [email protected]
clxxix
APÊNDICE II
AULA EXTRA
(Livia Nicolini e Ricardo Waizbort)
TEORIA EVOLUTIVA: UMA SÍNTESE DE SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS
OBJETIVOS:
Ao final dessa aula, você deverá ser capaz de:

Saber reconhecer e diferenciar os processos de Seleção Natural e Seleção
Sexual;

Entender como esses dois processos integrados explicam de forma mais
satisfatória o surgimento e manutenção da biodiversidade existente,
incluindo a espécie humana.
INTRODUÇÃO
Você já se perguntou por que existem tantas variedades de formas, cores,
cantos e comportamentos na natureza? O porquê de existirem grandes diferenças
entre espécies aparentadas e/ou que ocupam nichos ecológicos semelhantes?
Como, por exemplo, nos besouros da espécie Chiasognathus grantii, nos peixes
Callionymus lyra, nos répteis Triton cristatus, nos pássaros Spathura underwoodi
e nos mamíferos Tragelaphus strepsiceros.
Chiasognathus grantii
Callionymus lyra
clxxx
Triton cristatus
Spathura underwoodi
Tragelaphus strepsiceros
Agora que vocês já estudaram a importância da permuta, das mutações e
da reprodução sexuada como fontes de variação e das diferenças entre os
indivíduos de uma espécie; e a deriva gênica como um dos processos que
alteram a frequência dos alelos em uma população, vamos detalhar a Teoria
Evolutiva de Charles Darwin discutindo suas implicações para a compreensão da
biodiversidade existente; entendendo biodiversidade como o número de espécies
existentes, as diferenças encontradas entre elas e as inúmeras adaptações
características de cada uma.
Iremos abordar seis conceitos principais de sua teoria, mas daremos maior
ênfase aos processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, pois em última
instância são eles que atuam selecionando os indivíduos que possuem
características que aumentem suas chances de sobrevivência e/ou reprodução.
DETALHANDO A SELEÇÃO NATURAL...
Ao longo das aulas dessa disciplina vocês entraram em contato com o
pensamento darwiniano; uma forma de pensamento diferente tanto do fixismo,
quanto da primeira tentativa de explicação da evolução das espécies feita por
Lamarck.
Mostraremos mais adiante, que novos estudos na área evolutiva têm
apresentado hipóteses e dados que contribuem para corroborar ainda mais as
ideias de Darwin, além de preencher lacunas que ele não conseguiu resolver.
Mas, será que vocês conseguem sistematizar as ideias de Charles Darwin?
Pensem um pouco sobre o que vem à mente de vocês antes de continuarmos...
clxxxi
Pensaram? Então vamos prosseguir com nosso histórico.
Para facilitar o entendimento dos conceitos de Darwin, usaremos as
contribuições de um importante filósofo e historiador da Biologia, chamado Ernst
Mayr (e com certeza vocês já foram apresentados a esse grande pensador em
aulas anteriores, como Grandes Temas em Biologia, Diversidade dos Seres
Vivos, Introdução à Zoologia, etc.).
Bem, continuando com nossa explicação, Mayr propôs que a Teoria
Evolutiva de Charles Darwin na realidade é um sistema de cinco teorias que em
conjunto explicam a evolução das espécies ao longo do tempo. Essas cinco
teorias podem ser sistematizadas da seguinte forma:
 A Teoria da Evolução como Fato - a ideia científica de que as espécies de seres
vivos se modificaram efetivamente com o passar do tempo geológico;
 A Teoria da Evolução Gradual - a ideia de que o processo de transformação das
espécies é lento, gradual e que os processos que atuavam no passado são os
que continuam atuando hoje;
A Teoria da Origem Comum - a ideia, amplamente confirmada, de que quaisquer
espécies compartilham ancestrais; a concepção de que os indivíduos, mesmo de
espécies muito distintas, possuem uma relação de parentesco;
A Teoria da Especiação Populacional - a ideia de que certas populações de uma
espécie podem se transformar em populações de uma espécie nova;
A Teoria da Seleção Natural - teoria sobre os mecanismos que estão envolvidos
nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência
diferenciadas em função das variações entre os indivíduos da população.
Antes de prosseguirmos, vamos dar uma nova parada para tentar
responder a seguinte pergunta: a evolução e o processo de seleção natural atuam
sobre o quê? Sobre indivíduos ou sobre populações? Dito de outra forma: a
evolução ocorre a organismos individuais ou a populações?
Darwin já tinha destacado que a evolução não é um fenômeno que ocorre
no indivíduo e sim nas populações, pois são as populações que mudam seu perfil
genético, ou seja, sua aparência e capacidades se modificam ao longo do tempo
clxxxii
geológico; não mudam necessariamente para melhor, mas se transformam no
processo de deixar descendentes sempre variáveis, o que aumenta a
possibilidade de que pelo menos alguns desses descendentes estejam adaptados
ao ambiente em que vivem.
Retornando ao processo de Seleção Natural, temos que pensar que esse é
um processo em que os indivíduos que possuem mais chances de sobreviver, se
reproduzir e passar suas características (genes) para as futuras gerações são os
que possuem maior valor adaptativo, e são esses indivíduos que tendem a deixar
maior número de descendentes para as populações das gerações seguintes.
Vamos a mais uma pergunta para vocês continuarem pensando sobre esse
processo: o valor adaptativo é igual para todas as espécies em todos os
ambientes?
Essa pergunta é importante, pois uma crítica feita à Teoria Evolutiva é que
algumas pessoas dizem que ela é tautológica, pois falar sobre a sobrevivência do
mais apto é falar da sobrevivência do que sobrevive. Entretanto, Darwin já
destacava que só podemos falar em adaptação se ela estiver relacionada com o
local e a época de existência da espécie, pois se mudamos o nicho ecológico, o
valor adaptativo muda. É esse tipo de clareza que devemos ter quando pensamos
nos fenômenos evolutivos e que, a partir de agora, vocês não poderão deixar de
ter em mente.
Então, vamos pensar na seguinte situação: digamos que há muito tempo
uma espécie de camelos tenha chegado às regiões desérticas; digamos que
existisse uma população de camelos cujos indivíduos que a compõem não
fossem iguais, mas variassem aleatoriamente no que se refere à retenção de
água pelo corpo. Nesse caso, aqueles indivíduos que conseguissem reter mais
água, teriam maiores chances de sobreviver nesse ambiente e, com isso, chegar
à idade reprodutiva e passar essa característica aos seus descendentes. Após
algum tempo, essa característica, reter mais água, terá se espalhado na
população, sendo compartilhada pela maioria dos indivíduos e possuindo um alto
valor adaptativo para esse nicho ecológico.
clxxxiii
Pensando nesse exemplo, podemos definir a Seleção Natural como um
processo no qual populações de diversas espécies existentes interagem com o
ambiente e o resultado é que alguns indivíduos, dentro de uma espécie, deixam
mais descendentes do que outros. Com o passar do tempo, as populações
tenderão a ter mais e mais indivíduos com variações que favoreçam a
sobrevivência no ambiente em que vivem. Não podemos nos esquecer também
que o ambiente comporta não só os fatores abióticos (luz, umidade, radiações
solar, regime de ventos, etc.); mas também os fatores bióticos (alimentos vivos,
presas,
predadores,
parasitas,
filhotes,
outros
parentes...),
as
relações
estabelecidas entre indivíduos de espécies diferentes e entre os indivíduos da
mesma espécie.
Com esse exemplo fica mais fácil de imaginar a seleção de características
nas
diversas
espécies
que
estejam
relacionadas
diretamente
com
a
sobrevivência. Mas será que todas as características estão relacionadas com a
sobrevivência direta? Você consegue imaginar alguma característica que a
Seleção Natural não consegue explicar de forma satisfatória? Pense um pouco
antes de continuarmos.
POR QUE INSERIR A SELEÇÃO SEXUAL COMO O SEXTO CONCEITO DE
DARWIN?
Ao longo de seu trabalho, algumas características intrigavam Darwin, pois
eram características que claramente não estavam associadas à sobrevivência
imediata. Darwin deu a esse processo o nome de Seleção Sexual.
Nesse processo, as características em questão estão relacionadas com o
sucesso reprodutivo. Podemos inferir que a reprodução também é um processo
de competição entre organismos da mesma espécie, uma vez que cada indivíduo
inconscientemente quer garantir a possibilidade de ter seus genes no fundo de
genes da população, passando-os através das gerações. Em função disso, os
indivíduos competem pelos melhores parceiros. Como consequência desse
processo, temos a continuidade da espécie.
Nesse caso, a Seleção Sexual é um processo evolutivo intraespecífico de
clxxxiv
escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. Você
consegue imaginar que características poderiam ser essas?
No primeiro caso, estariam as lutas ou competições entre machos por
território, alimento ou outros recursos, incluindo a competição pela própria fêmea.
No segundo caso, estariam as exibições de estruturas (formas, cores) ou
comportamentos (danças, cantos, construções) realizadas normalmente por
machos, o que levaria a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se
acasalar.
Esses são os casos da cauda dos pavões machos, das exuberantes cores
das penas de certas aves, os cantos de várias espécies de pássaros, o brilho dos
besouros, o desenho nas asas das borboletas, o chifre de certos mamíferos,
enfim, um infindável número de características. O que também o surpreendia é
que na maioria das vezes as características estavam presentes nos machos,
sendo as fêmeas mais semelhantes aos filhotes, ou seja, mais discretas.
O mais interessante é que essas características podem ser moldadas de
formas bem diferenciadas em espécies que são aparentadas, como, por exemplo,
no Mandrillus sphinx (mandril) e no Mandrillus leucophaeus (dril).
Mandrillus sphinx (mandril)
Mandrillus leucophaeus (dril)
Além disso, as características surgidas através do processo de Seleção
Sexual podem muitas vezes causar dificuldades para a sobrevivência do
indivíduo, pois são características que chamam a atenção, como o canto dos
pássaros ou a cauda do pavão (Pavo cristatus); ou que dificultam a própria
alimentação como no macaco narigudo (Nasalis larvatus).
clxxxv
Pavo cristatus macho
Pavo cristatus fêmea e filhote
Nasalis larvatus macho e fêmea
Podemos perceber então que muitas vezes os processos de Seleção
Natural e Seleção Sexual parecem ser antagônicos, pois enquanto o primeiro
molda
características que facilitam
a sobrevivência,
o segundo
molda
características que aumentam as chances de reprodução, mas que em alguns
casos podem dificultar a sobrevivência. Entretanto, os dois processos associados
contribuem para uma melhor explicação da biodiversidade existente.
Charles Darwin fez essa proposta baseado em um grande número de
evidências, indicando que os comportamentos ou estruturas extravagantes devem
ser percebidos pelas fêmeas de alguma forma. Sendo assim, propôs que as
fêmeas devem possuir algum poder discriminatório, em sua suposta capacidade
mental, para escolher o que deve ser melhor para ela e seus futuros filhotes entre
as pequenas variações dos machos que formam a população.
Darwin não conseguiu explicar como essa escolha poderia acontecer, mas
no decorrer do século XX o processo de Seleção Sexual foi retomado como tema
importante no estudo da evolução das espécies. Seus desdobramentos é o que
trabalharemos agora.
A SELEÇÃO SEXUAL E SUAS IMPLICAÇÕES
Essa parte final da aula será mais teórica, iremos descrever os
desdobramentos conceituais em relação ao processo de Seleção Sexual, bem
como uma proposta inovadora de aplicação do processo de Seleção Sexual à
evolução do cérebro humano, tentando entender como as diferenças nos
comportamentos de homens e mulheres levaram às características atuais de
nossa espécie.
A primeira informação que vocês devem saber é que em função de se
tratar da escolha de parceiros reprodutivos, colocando as fêmeas em posição de
destaque nesse processo, o conceito de Seleção Sexual ficou “esquecido” por
muito tempo, por não estar de acordo com a estrutura social da época em que tal
clxxxvi
ideia foi formulada.
Quando esse conceito foi retomado, vários modelos matemáticos surgiram
para uma investigação mais consistente do tema. Em função dos novos estudos
desse conceito, seus três princípios básicos foram estabelecidos ao longo do
século XX. São eles:
 Princípio dos Indicadores de Aptidão - as estruturas geradas por Seleção
Sexual são indicadores de aptidão, ou seja, o canto longo e melodioso de um
sabiá,
o
papo
extremamente
colorido
de
certos
lagartos,
as
garras
desproporcionais de certos caranguejos, são formas confiáveis do macho dizer à
fêmea que ele é um pretendente saudável e apto;
 Princípio da Seleção Sexual Descontrolada - é um mecanismo de descontrole
no início do processo de Seleção Sexual, uma espécie de irracionalidade
apaixonada capaz de fazer as fêmeas preferirem em massa determinado padrão,
mesmo que sutil, em relação a outros, de forma que todos os outros padrões
sumiriam;
 Princípio do Desperdício (Handicap) - estruturas muito custosas como a cauda
do pavão, os cantos dos pássaros, as galhadas dos cervídeos, etc., obedecem a
uma lógica de ostentação e desperdício e não de praticidade e funcionalidade.
Como podemos perceber mais uma vez, a Seleção Natural e a Seleção
Sexual podem ser opostas em muitos casos. Enquanto a Seleção Natural é
econômica, a Seleção Sexual é anti-econômica, pois para ser um sinal confiável,
deve ser custoso e com isso difícil de ser enganado ou imitado.
Nesse contexto, o psicólogo Geoffrey Miller, ao usar esses princípios,
propõe que nosso cérebro deve ter aumentado tanto de tamanho através do
processo de Seleção Sexual. Você consegue imaginar alguma atividade de nosso
cérebro que não esteja relacionada com a nossa sobrevivência direta?
Pois é, manifestações artísticas, esportes de uma forma geral, jogos como
o xadrez ou o futebol e conversas diárias são exemplos de atividades que
fazemos e que muitas vezes não estão relacionadas com nossa sobrevivência,
mas servem para mostrar nossa aptidão em diferentes áreas culturais, nosso
clxxxvii
status, e permite o estabelecimento de relações sociais. Sendo assim, de forma
ousada, Miller sugere que as manifestações culturais dos diversos grupos de
nossa espécie são a nossa cauda de pavão.
Entretanto, e como exemplificamos acima, normalmente o processo de
Seleção Sexual leva ao desenvolvimento de características custosas em apenas
um dos sexos, mas no caso da espécie humana, o cérebro grande e com as
mesmas capacidades se desenvolveu tanto em homens quanto em mulheres.
Você consegue imaginar o porquê disso? Você consegue pensar em alguma
característica que apenas a nossa espécie possua?
Acertou quem pensou em uma linguagem elaborada. A linguagem permite
a observação e reflexão sobre os dados do mundo, a produção de respostas em
relação ao mesmos e a criação de um corpo de conhecimento transmissível para
as futuras gerações. Por ser algo tão elaborado, além de ser transmitida, a
linguagem precisa ser compreendida e, portanto, é necessário que o sistema
nervoso – cérebro e mente – estejam desenvolvidos tanto em quem emite, quanto
em quem recebe a mensagem.
Embora já tenhamos mostrado que o grande desenvovimento do cérebro
aconteceu nos dois sexos na espécie humana, será que homens e mulheres são
iguais em tudo? Perguntamos isso porque existem além de muitos artigos
científicos tratando desse tema, vários filmes, seriados, piadas de internet que
brincam com as supostas diferenças entre homens e mulheres, principalmente em
relação ao comportamento sexual. Será que isso são só brincadeiras ou será que
tem algum fundo evolutivo e, com isso, surgiram através de processos evolutivos
que atuaram de forma diferente em homens e mulheres?
clxxxviii
Então, durante o século XX e ainda hoje, muitos estudiosos das ciências
sociais afirmam que as diferenças entre os gêneros são socialmente construídas,
que depende da forma como os filhos são criados desde o nascimento, gerando
uma polarização entre a Biologia e as Ciências Sociais.
Ao contrário dessa ideia, estudos recentes sobre comportamentos
humanos têm demonstrado que quando se trata da escolha de parceiros
reprodutivos as mulheres tendem a ser mais seletivas que os homens22.
A seletividade das fêmeas de muitas espécies, inclusive a nossa, pode ser
explicada pelo gasto energético diferenciado durante as etapas do processo
reprodutivo. Dê uma olhada na figura abaixo:
Será que machos e fêmeas possuem o mesmo gasto energético na
produção de seus gametas? As quantidades produzidas de cada um são iguais
ao longo da vida dos indivíduos?
Podemos dizer que grande parte das diferenças encontradas nos
comportamentos sexuais de machos e fêmeas se justificam pelos custos
diferenciados para produção de óvulos e espermatozóides. As fêmeas
normalmente produzem poucos óvulos e essas células são as maiores
encontradas no corpo da fêmea, em função da reserva energética que possui.
Além disso, normalmente também são as fêmeas que geram e cuidam dos
filhotes, portanto, devem escolher os melhores genes a contribuirem em sua
prole.
22
Para os alunos que estiverem muito interessados nesse tema, recomendamos que assistam os
documentários Instintos da BBC e Evolução da Scientific American.
clxxxix
Já os machos produzem pequenos espermatozóides, em grandes
quantidades e praticamente durante toda sua vida desde que entra na idade
reprodutiva. E, muitas vezes, em muitas espécies diferentes, os machos não
ajudam no cuidado da prole. Nesse caso, interessa-os passar o maior número de
cópias de seus genes para as futuras gerações, inseminando o maior número de
fêmeas possível. Sendo assim, o investimento dos machos está na exibição de
plumas, cores, cantos, construções, apêndices ou nas lutas, tentando ter um
maior sucesso no acesso às fêmeas.
No caso de nossa espécie, estudos sobre comportamentos diferenciados
estão sendo realizados e alguns resultados interessantes têm surgido. Por
exemplo, no documentário Instintos existe a descrição de uma experiência
realizada em uma universidade de Londres em que foram escolhidos dois atores
desconhecidos e fisicamente atraentes, cada um de um sexo, para abordarem no
campus da universidade pessoas do sexo oposto. A atriz deveria convidar os
estudantes para ir para cama com ela; e o ator deveria convidar as estudantes a
irem para a cama com ele. Todos os rapazes convidados pela atriz aceitaram de
pronto a idéia do programa. Todas as garotas que foram abordadas pelo ator
recusaram a proposta. Isso poderia ser, sem dúvida, causado por nossa
educação machista em uma sociedade ocidental. Mas esse tipo de recatamento
pode também ser uma forma de escolha que as mulheres fazem. Os homens
seriam mais franco-atiradores no sexo casual por que eles têm menos a perder,
uma vez que o maior custo de uma gestação não planejada recai sobre a mulher.
Outro experimento realizado na Universidade de Sterling, Escócia, foi feito
com mulheres através de um programa de computador em que as participantes
poderiam modificar fotos de rostos masculinos, alterando as feições para mais
delicados ou mais másculos. Os resultados mostraram que as mulheres que
estão ovulando preferem rostos mais másculos, enquanto que as que não estão
preferem os mais delicados. Esses resultados estão de acordo com a ideia de
seletividade feminina, uma vez que rostos mais másculos, com pescoço mais
grosso, mandíbulas e queixos largos e cenho cerrado são os sinais típicos de
força e saúde, qualidades genéticas que uma mulher deseja passar à sua prole.
Outros estudos nessa área mostraram fortes indícios de dimorfismo em
relação ao ciúme, pois em geral os homens sentem ciúmes quando sabem ou
desconfiam que sua parceira pode ter tido relações sexuais com outros homens, o
que poderia levar esses homens traídos a investir seus recursos em filhos que
cxc
não possuem seus genes. E, embora as mulheres possam experimentar ciúmes
de modo parecido, seu sentimento está mais relacionado com a possibilidade do
homem se envolver afetivamente com outra(s) mulher(es) e acabar por dirigir
seus recursos (afetivos e financeiros) para outras fontes que não seus filhos em
comum.
Entretanto, vocês devem estar se perguntando: não existe a formação de
casais duradouros na nossa espécie? Já podemos adiantar que a resposta à essa
pergunta é sim. Mas existe um importante aspecto da nossa evolução que pode
ter sido uma pressão seletiva à favor da formação de pares. Pense um pouco
sobre essa resposta enquanto olha as seguintes imagens:
Para responder a essa pergunta vamos relacionar três eventos da evolução
do Homo sapiens: o aumento do nosso cérebro ocorreu na mesma época do
desenvolvimento da postura ereta. Mas, a postura ereta levou à um estreitamento
da bacia e, como consequência, a diminuição do canal pélvico. Nesse cenário,
sobreviveram as fêmeas que estavam tendo filhotes com características
prematuras, como por exemplo, uma caixa craniana mais maleável, representada
nos neonatos principalmente por uma estrutura conhecida como moleira.
A partir do momento que os filhotes nascem mais cedo, obviamente
precisariam de maiores cuidados. Nesse contexto, a criação de laços deve ter
sido uma estratégia vantajosa na criação dos filhos.
Para finalizar essa nossa aula extra só falta esclarecer um ponto: quais
seriam os mecanismos cerebrais envolvidos na atração e manutenção de laços
entre homens e mulheres?
Estudos nessa área começaram com a percepção de que no mundo
animal, espécies aparentadas podem ter comportamentos sexuais bem
diferenciados, como por exemplo o dos roedores arganazes do campo (Microtus
ochrogaster) e arganazes da montanha (Microtus montanus). Os primeiros são
sociáveis, monogâmicos e os machos ajudam no cuidado com a prole, já os
cxci
segundos exibem um comportamento não social, poligâmico e os machos não
ajudam no cuidado com prole. Esses comportamentos antagônicos parecem estar
relacionados
com
uma
distribuição
diferenciada
no
cérebro
dos
neurotransmissores de ocitocina e vasopressina.
No caso da espécie humana, um estudo realizado pela antrópologa Helen
Fisher em uma universidade americana, mostrou que no impulso para o
acasalamento ocorrem momentos de atração, de impulso sexual e de criação de
laços com os parceiros com a ativação de circuitos cerebrais específicos dos
neurotransmissores dopamina, ocitocina e testosterona. Esses circuitos são
independentes, mas interligados e a dopamina estaria diretamente relacionada
com a atração inicial por um potencial parceiro, a testosterona estaria relacionada
com o desejo sexual e a ocitocina com a criação de laços entre homens e
mulheres.
Como você pode perceber, tentamos apresentar as principais diferenças
nos processos de Seleção Natural e Seleção Sexual entendendo que os dois
devem ser trabalhados de forma conjunta para uma melhor compreensão da
biodiversidade existente. Esperamos que a inclusão de aspectos da evolução de
nossa própria espécie tenha contribuído para um melhor entendimento do tema.
RESUMO
A Teoria Evolutiva de Charles Darwin deve ser entendida como um sistema de seis
conceitos fundamentais. O mais conhecido deles é o processo de Seleção Natural, que ajuda na
compreensão da diversificação das espécies a partir do surgimento, ao acaso, de características
que alteram o valor adaptativo da população e, portanto, podem facilitar ou prejudicar a
sobrevivência do indivíduo que a possui.
Entretanto, um dos processos evolutivos trabalhados por Darwin ficou esquecido por muito
tempo, e até hoje não é incluído de forma satisfatória na conceituação da Teoria Evolutiva, que é o
processo de Seleção Sexual.
Por atuarem muitas vezes de forma anatagônica na seleção de características, esses dois
processos explicam de forma mais satisfatória a biodiversidade existente, principalmente no que
se refere às características consideradas extravagantes.
Além disso, o processo de seleção sexual pode ser utilizado para tentar desvendar a
evolução de nossa própria espécie, incluindo o aumento do cérebro humano, bem como as
diferenças entre homens e mulheres em relação ao comportamento sexual, dentre outras
características.
EXERCÍCIO AVALIATIVO
cxcii
Olhe as seguintes imagens:
a)
b)
Proponha uma explicação evolutiva para cada uma das características em
destaque nas figuras acima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARON-COHEN, S. (2004). Diferença essencial - a verdade sobre o cérebro
de homens e mulheres. Rio de Janeiro: Objetiva.
BUSS, D. M. (2000). A paixão perigosa. Rio de Janeiro: Objetiva.
CRONIN, H. (1995) A formiga e o pavão: altruísmo e seleção sexual de Darwin
até hoje. Campinas: Papirus.
DARWIN, C. (2002). Origem das espécies. Belo Horizonte: Itatiaia.
___________ (2004). A origem do homem e a seleção sexual. Belo Horizonte:
Itatiaia.
DAWKINS, R. (2001). O gene egoísta. Belo Horizonte:Itatiaia.
FISHER, H. (2008). Por que amamos - a natureza e a química do amor
romântico. Rio de Janeiro / São Paulo: Editora Record.
GOULD, S. J. (1987). Darwin e os grandes enigmas da vida. RJ: Martins
Fontes.
HRDY, S. B. (2001). Mãe natureza: uma visão feminina da evolução:
maternidade, filhos e seleção natural. Rio de Janeiro: Campus.
MAYR, E. (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico. Brasília:
EdunB.
MILLER, G. F. (2000). A mente seletiva. Rio de Janeiro: Campus.
cxciii
APÊNDICE III
DVD com as atividades gravadas
cxciv
APÊNDICE IV
O que era esperado em cada uma das atividades
Atividade 1
Olhe bem as imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças
de estruturas ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram
colocadas espécies que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos.
Pensem sobre isso e respondam: As características que são diferentes entre
machos e fêmeas estão relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua
resposta.
Vocês deveriam indicar que as características estão relacionadas com as
diferenças entre machos e fêmeas da mesma espécie e que, por isso, não estão
relacionadas com a sobrevivência no ambiente.
Atividade 2
Que processos podem ter contribuído para o surgimento dessas características
diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a atividade anterior.
Mesmo que ainda não ocorra a nomeação dos processos, vocês deveriam
relacionar que os custos diferenciados de produção de gametas e do próprio
processo de reprodução, podem estar associados às características morfológicas
e comportamentais diferentes entre machos e fêmeas.
Atividade 3
Proponha uma hipótese para explicar a existência de características diferentes
entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada
um e o relato sobre os peixes mexicanos.
O relato dos peixes mexicanos mostra que apesar dos custos da reprodução
sexuada, sua grande vantagem é a produção de variabilidade genética na
população. Essa variabilidade também está relacionada com os custos
diferenciados de produção de gametas femininos e masculinos e, como
consequência, de características morfológicas e comportamentais diferentes entre
os sexos.
Atividade 4
cxcv
Como surgem as variações entre os indivíduos? Vocês viram, nessa atividade,
diversas situações relacionadas com as características dos seres vivos. Quais
situações podem ser explicadas pela Seleção Natural e quais pela Seleção
Sexual? (Usar tanto as imagens, quanto os trechos de filmes). Discuta as
diferenças dos dois processos.
Bactérias resistentes – Seleção Natural;
Linguagem – Seleção Natural e Seleção Sexual;
Produção de ornamentos – Seleção Sexual;
Salamandras venenosas – Seleção Natural;
Pavões – Seleção Sexual;
Característica A – Seleção Natural;
Características B – Seleção Natural;
Característica C – Seleção Natural;
Característica D – Seleção Sexual;
Característica E – Seleção Sexual;
Característica F – Seleção Natural;
Característica G – Seleção Sexual;
Característica H – Seleção Natural e Seleção Sexual.
Os dois tipos de processos seletivos têm como base as variações entre os
indivíduos que surgem a partir de mutações ao acaso.
O processo de Seleção Natural está relacionado com características que
aumentam as chances de sobrevivência no ambiente e, com isso, o indivíduo
consegue chegar à idade reprodutiva e transmitir seus genes às futuras gerações.
O processo de Seleção Sexual está relacionado com a escolha dos parceiros
reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. No primeiro caso, estão as
lutas ou competições entre machos por território, alimento ou outros recursos,
incluindo a competição pela própria fêmea.
No segundo caso, estão as exibições de estruturas (formas, cores e outros) ou
comportamentos (danças, cantos, construções, etc.) realizadas normalmente por
machos, o que levaria a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se
acasalar. Esses são os casos das caudas dos pavões machos, das exuberantes
cores das penas de certas aves, os cantos de várias espécies de pássaros, o
brilho dos besouros, o desenho nas asas das borboletas, o chifre de certos
mamíferos, enfim, um infindável número de características. O mais interessante, é
cxcvi
que na maioria das vezes as características estão presentes nos machos, sendo
as fêmeas mais semelhantes aos filhotes, ou seja, mais discretas.
Muitas vezes, as características surgidas através do processo de Seleção Sexual
podem causar dificuldades para a sobrevivência do indivíduo, pois são
características que chamam a atenção, como o canto dos pássaros ou a cauda do
pavão (Pavo cristatus); ou que dificultam a própria alimentação como no macaco
narigudo (Nasalis larvatus). Entretanto, por serem extremamente custosas, são
indicadoras de bons genes.
Então, muitas vezes os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual parecem
ser antagônicos, pois enquanto o primeiro molda características que facilitam a
sobrevivência, o segundo molda características que aumentam as chances de
reprodução, mas que em alguns casos podem dificultar a sobrevivência. Porém,
os dois processos associados contribuem para uma melhor explicação da
biodiversidade existente.
Atividade 5
Qual é a explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira?
Concordam ou não com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade?
Homens e mulheres querem coisas diferentes em um relacionamento?
Essa atividade teve como objetivo ser uma forma engraçada e exagerada de fazer
com que vocês começassem a pensar sobre a Evolução da nossa espécie com
um novo olhar. O fato de existirem tantos filmes e livros que brincam com essas
diferenças pode indicar que existe sim um paralelo com a realidade e com a
nossa evolução.
Atividade 6
Que processos podem ter contribuído para o surgimento desses comportamentos
diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou experiência de
vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma relação com as
atividades 1, 2 e 3?
A nossa espécie também sofreu processos evolutivos, assim como as outras
espécies de seres vivos. Sendo assim, os custos diferenciados para a reprodução
que discutimos em relação às outras espécies também são válidos para a nossa
espécie, o que pode ter levado a comportamentos sexuais e reprodutivos
diferentes entre homens e mulheres. A relação com outras atividades está no fato
cxcvii
de que possuímos reprodução sexuada, com custos energéticos diferentes para a
produção dos gametas, corte e cuidado parental, o que se refletiu em processos
seletivos diferentes entre homens e mulheres, no qual houve uma grande atuação
da Seleção Sexual.
Atividade 7
Relacione a reprodução sexuada, a evolução de nossa espécie e a escolha de
parceiros.
A reprodução sexuada é um processo que possui um alto custo energético, com
isso a escolha seletiva de parceiros pode ter sido um importante passo na
evolução de nossa espécie. Além disso, estudos recentes têm demonstrado que
nosso cérebro e corpo possuem mecanismos que atuam na escolha de parceiros
e que existe a atuação de neurotransmissores na atração, formação de pares e
cuidado parental, que podem ter sido determinantes na nossa evolução.
Atividade 8
Faça uma síntese das diferenças dos processos de Seleção Natural e de Seleção
Sexual, exemplificando cada um.
Na seleção natural ocorre a sobrevivência diferenciada de indivíduos de uma
população. Nesse caso, variações surgidas ao acaso, mas que aumentem o valor
adaptativo
de
determinada
característica,
aumentando
as
chances
de
sobrevivência do indivíduo e, com isso, a chegada à idade reprodutiva, são
selecionadas e passadas às futuras gerações, ou seja, está relacionada com os
mecanismos que estão envolvidos nas transformações das espécies, a partir das
taxas de sobrevivência diferenciadas em função das variações entre os indivíduos
da população.
Na seleção sexual ocorre o estabelecimento de características que aumentam o
sucesso reprodutivo, em função disso, os indivíduos competem pelos melhores
parceiros e, como consequência, temos a continuidade da espécie. Nesse caso, a
Seleção Sexual é um processo evolutivo intraespecífico de escolha dos parceiros
reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual.
Podemos perceber então que muitas vezes os processos de Seleção Natural e
Seleção Sexual parecem ser antagônicos, pois enquanto o primeiro molda
características que facilitam a sobrevivência, o segundo molda características que
aumentam as chances de reprodução, mas que em alguns casos podem dificultar
cxcviii
a sobrevivência. Entretanto, os dois processos associados contribuem para uma
melhor explicação da biodiversidade existente.
Como exemplo de característica estabelecida pelo processo de seleção natural
temos o olho humano e pelo processo de seleção sexual as cores de pássaros,
cantos e ornamentos, como a cauda dos pavões.
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