INSTITUTO OSWALDO CRUZ Doutorado em Ensino em Biociências e Saúde A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de Seleção Sexual para a compreensão da Seleção Natural em um curso de graduação em EaD LIVIA BAPTISTA NICOLINI Rio de Janeiro 2013 TESE DEBS - IOC L. B. NICOLINI ii 2013 INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde Livia Baptista Nicolini A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de Seleção Sexual para a compreensão da Seleção Natural em um curso de graduação em EaD Tese apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Francisco Waizbort RIO DE JANEIRO 2013 iii Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca de Ciências Biomédicas/ ICICT / FIOCRUZ - RJ N644 Nicolini, Livia Baptista A outra seleção: a importância de introduzir o conceito de seleção sexual para a compreensão da seleção natural em um curso de graduação em EaD / Livia Baptista Nicolini. – Rio de Janeiro, 2013. xiii, 191 f. : il. ; 30 cm. Tese (Doutorado) – Instituto Oswaldo Cruz, Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde, 2013. Bibliografia: f. 172-179 1. Atividades didáticas. 2. Ensino de evolução. 3. Seleção sexual. I. Título. CDD 591.380711 iv INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde AUTOR: LIVIA BAPTISTA NICOLINI A outra seleção: A importância de introduzir o conceito de Seleção Sexual para a compreensão da Seleção Natural em um curso de graduação em EaD ORIENTADOR: Prof. Dr. Ricardo Francisco Waizbort Aprovada em: 20/09/2013 EXAMINADORES: Prof. Dra. Carolina Nascimento Spiegel (Presidente) Prof. Dr. Ricardo Iglesias Rios Prof. Dra. Eliane Brígida Morais Falcão Prof. Dr. Mauricio Roberto Motta Pinto da Luz (Revisor e primeiro suplente) Prof. Dr. Gutemberg Gomes Alves (Suplente) Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2013 v Dedico esse trabalho ao meu marido Rodrigo e aos meus filhos Pedro e Alice, pois sem eles minha vida seria um imenso vazio. vi Agradecimentos Ao meu marido Rodrigo, simplesmente por ter cruzado meu caminho e ter preenchido minha vida com tanto amor. Ao meu filho Pedro por me obrigar a equilibrar os estudos com a família. À minha filha Alice, por sua causa adiei a defesa e você pode estar presente. À minha mãe Marise por ser meu eterno exemplo. À minha avó Glauce, pois sem ela nada disso seria possível. À minha amiga Janete, pois não há uma amiga melhor que ela. Ao meu irmão Julio por suas eternas ajudas com o inglês. Ao meu pai Ricardo, aos meus irmãos Gabriel e Fernando, à minha avó Neyde e ao meu padrasto Juarez por fazerem parte da minha família. Aos amigos Cristiano, Camila, Pablo, Talita, Renato, Elenise, Raphael, Vitória e Vânia por terem proporcionado tantos momentos de descontração nessa jornada. Ao meu orientador Ricardo Waizbort por ter me apresentado um tema que me fisgou desde o início e por suas imensas dicas de leitura, um dia eu conseguirei ler tudo. Ao prof. Maurício Luz por me apresentar meu orientador e pela revisão atenciosa desse trabalho. Aos integrantes do Laefib por compartilharmos tantos momentos juntos em aulas e seminários. Especialmente aos companheiros de jornada Leandro Costa e Leandra Melim. Ao prof. Antônio Solé por ter permitido que eu desenvolvesse esse projeto em sua disciplina. Ao prof. Ricardo Iglesias pela autorização para realização da pesquisa nesse curso de graduação. Ao pessoal do polo Campo Grande, Enir, Ana, Roberto e Cláudia, por toda ajuda prestada ao longo desses quatro anos. Aos membros da banca pela leitura atenciosa desse material e por todas as sugestões apresentadas para a melhoria desse trabalho. vii “Não cuspa para cima, que cai no olho, lembrou ele do dito popular, essa sabedoria calculista e pragmática, procurando sempre uma justiça secreta em todas as coisas, para fugir do peso terrível do acaso que nos define.” O filho eterno - Cristovão Tezza “Portanto, os homens não são de Marte, e as mulheres não são de Vênus. Homens e mulheres são da África, o berço de nossa evolução, onde eles evoluíram juntos como uma única espécie.” Tábula Rasa – Steven Pinker “O amor romântico nada mais é que um truque darwinista para nos deixar cegos aos defeitos dos outros.” Os artistas da memória - Jeffrey Moore viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14 2 Referencial Teórico ........................................................................................... 19 2.1 Educação à Distância .......................................................................... 19 2.2 Conceituação da Teoria Evolutiva ....................................................... 22 2.2.1 Diferenças entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual ....... 27 2.2.2 A Seleção Sexual e a evolução da espécie humana ............. 35 2.3 Ensino de Evolução ............................................................................. 42 3 Objetivos ........................................................................................................... 49 3.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 49 3.2 Objetivos Específicos .......................................................................... 49 4 Contexto da pesquisa e Metodologia ................................................................ 50 4.1 Contexto da pesquisa .......................................................................... 50 4.2 Desenho Metodológico ........................................................................ 53 4.2.1 Livros didáticos do Ensino Médio .......................................... 54 4.2.2 Módulos Didáticos .................................................................. 55 4.2.3 Provas de Evolução ............................................................... 57 4.2.4 Atividades Didáticas ............................................................... 60 5 Resultados e Discussão .................................................................................... 67 5.1 Conceituação sobre a seleção sexual em livros didáticos do Ensino Médio ......................................................................................................... 67 5.2 Como a Teoria Evolutiva é conceituada no curso de Graduação em Ciências Biológicas ................................................................................... 74 5.2.1 Conceituação da Teoria Evolutiva nos módulos didáticos ..... 75 5.2.1.1 Grandes Temas em Biologia .................................... 77 5.2.1.2 Diversidade dos Seres Vivos ................................... 78 5.2.1.3 Elementos de Ecologia e Conservação ................... 79 5.2.1.4 Introdução à Zoologia ............................................... 80 5.2.1.5 Populações, Comunidades e Conservação ............. 81 5.2.1.6 Evolução ................................................................... 83 5.2.1.7 Compilação dos dados sobre os módulos ............... 86 5.2.2 Apreensão de conceitos da Teoria Evolutiva pelos alunos da disciplina Evolução ......................................................................... 88 5.2.2.1 Questão Penicilina ................................................... 89 5.2.2.2 Questão Flamingo .................................................... 92 5.2.2.3 Questão Só teoria? .................................................. 94 5.2.2.4 Questão Seleção Natural ......................................... 96 5.2.2.5 Questão Complexidade ............................................ 98 5.2.2.6 Questão Mutação ................................................... 100 5.2.2.7 Questão Mutação / Evolução ................................. 101 5.2.2.8 Questão Tautologia Seleção Natural ..................... 102 5.2.2.9 Questão Raios UV .................................................. 104 5.2.2.10 Questão Seleção Sexual ...................................... 105 5.2.3 O que os alunos responderam nas avaliações de Evolução estão de acordo com o que é apresentado nas disciplinas? ........ 107 6 Resultados e Discussão .................................................................................. 110 ix 6.1 Desenvolvimento das atividades didáticas ........................................ 110 6.1.1 Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga pesquisadores ............................................................................... 110 6.1.2 Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os gametas masculinos e femininos .................................................. 112 6.1.3 Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da reprodução sexuada ..................................................................... 113 6.1.4 Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem novas propostas para explicar a biodiversidade existente ........... 115 6.1.5 Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de homens e mulheres ...................................................................... 120 6.1.6 Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres possuem diferenças ...................................................................... 122 6.1.7 Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os circuitos cerebrais e o comportamento sexual da espécie humana ....................................................................................................... 124 6.1.8 Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando usados em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente 126 6.2 Avaliação das atividades didáticas .................................................... 127 6.2.1 Avaliação Presencial 1 - Semestre 2012-1 .......................... 128 6.2.2 Avaliação Presencial 2 - Semestres 2012-1 e 2012-2: Os Discursos do Sujeito Coletivo ....................................................... 131 6.2.2.1 Semestre 2012-1 .................................................... 131 6.2.2.2 Semestre 2012-2 .................................................... 146 6.2.3 Discussão dos resultados encontrados ............................... 157 6.2.3.1 Discussão dos Discursos do Sujeito Coletivo ........ 159 6.2.3.1.1 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-1 ...... 159 6.2.3.1.2 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-2 ...... 163 6.2.3.2 O que podemos concluir sobre as atividades? ...... 165 Considerações Finais ......................................................................................... 169 Referências Bibliográficas .................................................................................. 172 Anexo I - Ementas do curso de Ciências Biológicas ......................................... 180 Anexo II – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa ........................................ 182 Apêndice I – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............ 183 Apêndice II – Aula Extra ..................................................................................... 184 Apêndice III – DVD com as atividades gravadas ............................................... 199 Apêndice IV - O que era esperado em cada uma das atividades ...................... 200 x RESUMO A OUTRA SELEÇÃO: A IMPORTÂNCIA DE INTRODUZIR O CONCEITO DE SELEÇÃO SEXUAL PARA A COMPREENSÃO DA SELEÇÃO NATURAL EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM EaD O presente trabalho teve como objetivo criar e avaliar atividades didáticas que fizessem o contraponto entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual na origem e manutenção da diversidade das espécies. Essas atividades foram utilizadas em uma graduação pública semipresencial em Licenciatura em Ciências Biológicas do estado do Rio de Janeiro e pretendia auxiliar no ensino mais efetivo da Teoria Evolutiva, pois esse é um tema central das Ciências Biológicas e deve ser ensinado desde a Educação Básica. Para que essas atividades fossem avaliadas, além da revisão dos referenciais teóricos da área, também foram realizadas análises de livros didáticos do Ensino Médio em relação ao tema Evolução; caracterização do tema Evolução nos módulos didáticos dessa graduação, material que os alunos recebem quando se inscrevem nas disciplinas; e análise de provas presenciais arquivadas da disciplina Evolução. Com esses dados pretendíamos, em primeiro lugar, caracterizar os conceitos de evolução que mais aparecem em um importante instrumento de consulta de professores e alunos - os livros didáticos. Também pretendíamos caracterizar os conceitos que permeiam essa graduação semipresencial, as concepções dos processos evolutivos dos alunos que já cursaram a disciplina Evolução e se as atividades contribuiriam ou não para que tal tema fosse apreendido de forma mais satisfatória. Os resultados referentes a esses dados indicaram que existem lacunas e erros conceituais que devem ser transpostos. Porém, após a realização das atividades e sua análise através da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo, erros conceituais sobre os processos de seleção natural e seleção sexual continuaram fazendo parte do repertório de respostas do grupo. Julgamos que devemos reformular as atividades e testá-la novamente, numa tentativa de continuar contribuindo para um ensino mais efetivo da Teoria Evolutiva. Palavras-Chave: Atividades Didáticas; Ensino de Evolução; Seleção Sexual. xi ABSTRACT THE OTHER SELECTION: THE VALUE OF INTRODUCING THE CONCEPT OF SEXUAL SELECTION TO THE COMPREHENSION OF NATURAL SELECTION IN EAD GRADUATION COURSE The present work had as objective creating and evaluating teaching activities that contrast the processes of Natural Selection and Sexual Selection in the origin and maintenance of the species' diversity. These activities were tested on Biological Sciences graduation courses in partial-time public graduation institutions of the state of Rio de Janeiro, with the goal of reaching a more effective program to teach Evolutionary Theory, as this is one of the main pillars of Biological Sciences courses and should be taught since basic education. For these activities to be evaluated, in addition to the review of theoretical references in the area, there was also the analysis of highschool textbooks in regards to the theme of Evolution: characterizations of the Evolution theme on these didactic modules, evaluation of the material students receive when enrolling on those disciplines, and analysis of previous written exams on the discipline of Evolution. This data would help characterize the concepts of Evolution that are more widespread in textbooks, as well as characterizing the concepts that surround this part-time graduation, the conceptions of evolutionary processes from the students that already attended the Evolution discipline and if those activities contributed or not to the theme being satisfactorily learned. The data results indicate gaps and conceptual errors that must be overcome; however, after these activities were analysed through the metodology of Collective Subject Discourse (Discurso do Sujeito Coletivo), conceptual errors about the natural and sexual selection processes remain part of the group's answers. In conclusion, these activities must be reformulated and reapplied, in an attempt to further contribute to a more effective education in Evolutionary Theory. Keywords: Teaching Activities; Teaching Evolution; Sexual Selection. xii Lista de Quadros Quadro 5.1 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento Darwiniano ........................................................................................................... 70 Quadro 5.2 – Avaliação da presença do conceito de Seleção Sexual formulado por Darwin ............................................................................................................ 72 Quadro 5.3 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento Darwiniano ........................................................................................................... 77 Quadro 5.4 – Questão Penicilina: exemplos de respostas por categoria ............ 90 Quadro 5.5 – Questão Flamingo: exemplos de respostas por categoria ............. 93 Quadro 5.6 – Questão Só teoria?: exemplos de respostas por categoria ........... 95 Quadro 5.7 – Questão Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria .. 97 Quadro 5.8 – Questão Complexidade: exemplos de respostas por categoria ..... 99 Quadro 5.9 – Questão Mutação: exemplos de respostas por categoria ............ 100 Quadro 5.10 – Questão Mutação / Evolução: exemplos de respostas por categoria ........................................................................................................................... . 102 Quadro 5.11 – Questão Tautologia Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria ............................................................................................................ 103 Quadro 5.12 – Questão Raios UV: exemplos de respostas por categoria ........ 105 Quadro 5.13 – Questão Seleção Sexual: exemplos de respostas por categoria 106 Quadro 6.1 – Questão 4: exemplos de respostas por categoria ........................ 129 Quadro 6.2 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Natural ................. 133 Quadro 6.3 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Sexual ................. 140 Quadro 6.4 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual ............................................................................................... 148 xiii Lista de Tabelas Tabela 4.1 – Questões escolhidas, número de polos e número de alunos inscritos na disciplina Evolução .......................................................................................... 58 Tabela 5.1 – Percentual aproximado de páginas que tratam do assunto evolução por livro didático ................................................................................................... 70 Tabela 5.2 – Percentual aproximado da área que aborda o conceito de Seleção Sexual, na Unidade Evolução, por livro didático .................................................. 71 Tabela 5.3 – Distribuição das respostas por categoria ........................................ 89 Tabela 6.1 - Distribuição das respostas por categoria ....................................... 128 Tabela 6.2 – Comparação entre os semestres 2009-2 e 2012-1 ....................... 130 Tabela 6.3 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 139 Tabela 6.4 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 145 Tabela 6.5 – Número de alunos por atividade ................................................... 146 Tabela 6.6 – Número de respostas x Ideia-central ............................................ 157 Tabela 6.7 – Número de alunos por atividade ................................................... 157 xiv INTRODUÇÃO O objetivo principal dessa tese foi contribuir para um ensino efetivo da Teoria Evolutiva em uma graduação semipresencial. Para tal, foram desenvolvidas atividades didáticas - com filmes, textos e imagens - para a discussão de conceitos importantes dessa teoria no âmbito da perspectiva darwiniana. Diversos referenciais da área de ensino de evolução foram utilizados para o desenvolvimento desse projeto, pois são pesquisas que indicam que embora as pessoas, das mais diversas esferas sociais, saibam quem foi Charles Darwin e se lembrem dos nomes e palavras chaves de suas ideias, quando indagadas sobre os processos que fazem parte da Teoria Evolutiva, ou de suas aplicações em diversas situações, mostram variadas dificuldades na compreensão do tema (BRUMBY, 1984; GOULD, 1987; FERRARIO e CHI, 1998; RUTLEDGE e SADLER, 2007). Essas dificuldades estão relacionadas, principalmente, com uma visão Lamarckista da evolução ou com o uso de explicações teleológicas desse processo. A ideia para esse projeto também se originou da percepção de que a Biologia é uma ciência diferenciada, pois os fenômenos biológicos são locais e históricos, uma vez que é da relação dos seres vivos entre si e dos mesmos com o ambiente que os diversos fenômenos ocorrem. Embora, hoje em dia, essa ciência apresente diversas subáreas de atuação, existe um conceito ou forma de pensar a Biologia que deve perpassar todas as subáreas: a Teoria Evolutiva e seus desdobramentos (FUTUYMA, 2002; MAYR, 2008). É claro que o processo evolutivo possui diversas facetas, que vão desde a geração de variabilidade, até os diferentes processos que alteram a frequência dos alelos na população. Porém, para características que são claramente adaptativas, ou seja, que aumentam as chances de sobrevivência ou de reprodução, são os processos seletivos que atuam de forma mais intensa, e foi nesses processos que essa pesquisa focou. Ao longo do meu doutorado, apesar de considerar os conceitos darwinianos - Evolução como Fato, Evolução Gradual, Origem Comum, Especiação Populacional e Seleção Natural - que aprendi em minha graduação, compreensíveis e bem explicados, ficou claro para mim o quanto essa teoria é complexa. xv Essa complexidade é decorrente do fato de que a Teoria Evolutiva é formada por conceitos que se interligam e, por isso, eu precisava me dedicar ao aprofundamento do tema, principalmente aprendendo sobre o conceito de Seleção Sexual. Esse conceito era novo para mim e pude perceber que existia uma lacuna nas minhas próprias explicações sobre a Teoria Evolutiva. Após minha inserção nesse campo de conhecimento, consideramos que entender os processos inerentes à evolução por Seleção Natural e Seleção Sexual ajuda a compreender de forma mais integrada áreas como a ecologia, a medicina, a fisiologia e etc. levando não só a um aumento do conhecimento do mundo à nossa volta, como permitindo a tomada de decisões mais realistas no que se refere à saúde, ambiente, alimentação, extinção das espécies; permite a compreensão de diversos temas polêmicos e que estão em pauta nas discussões das mais diferenciadas esferas sociais. Como diz Futuyma (2002, p.5), a Biologia Evolutiva é o estudo da história da vida e dos processos que levam à sua diversidade. Baseada nos princípios da adaptação, no acaso e na história, a Biologia Evolutiva procura explicar todas as características dos organismos, ocupando por isso uma posição central dentro das ciências biológicas. Com isso, compreendemos que a Teoria Evolutiva, seus conceitos e suas aplicações, devem ser ensinados de forma adequada desde a Educação Básica (WAIZBORT, 2001; FUTUYMA, 2002; SANTOS, 2002; RUTLEDGE e SADLER, 2007; MAYR, 2008, CARVALHO et al., 2011). Nesse caso, não basta pensarmos em um monte de conceitos que são decorados e repetidos. Essa teoria deve ser apreendida de forma que se torne uma visão de mundo, que permita a compreensão de situações e que ajude na tomada de decisões. Associado a isso, ao ensinarmos a Teoria Evolutiva, devemos ir além da clássica definição de que “os indivíduos se modificaram ao longo do tempo, e continuam se modificando, a partir da seleção natural, que é a seleção dos mais aptos”, ideia que está muito arraigada no senso comum. Precisamos mudar esse enfoque porque com os avanços da biologia molecular no século XX e com o aprofundamento das pesquisas sobre a Teoria Evolutiva novas integrações e reelaborações dos conceitos foram desenvolvidas. Porém, ao nos depararmos com estudantes de diferentes níveis de escolaridade, é palpável o quanto essa teoria é de difícil compreensão para esses alunos. As dificuldades mais comuns estão relacionadas com a necessidade de xvi uma boa capacidade de abstração e de perceber que o processo de evolução é algo que ocorre sem um agente guiando e sem um objetivo final pré-determinado, como será demonstrado ao longo desse trabalho. Essa constatação nos fez questionar como poderíamos contribuir para um ensino mais efetivo dessa teoria e, por isso, consideramos que para um melhor entendimento da Teoria Evolutiva, deve ocorrer um maior detalhamento de quais são os conceitos que formam a estrutura da teoria formulada por Charles Darwin, bem como a diferenciação de seus principais processos: a Seleção Natural e a Seleção Sexual (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004; MAYR, 2008). Pois, como Darwin (2004) destacou, a seleção sexual atua de maneira menos rigorosa que a seleção natural. Esta última produz seus efeitos em função da sobrevivência dos mais bem dotados e da morte dos demais. (...) Mas no que se refere às estruturas suscetíveis de tornar o macho mais competente na luta, ou então mais sedutor, não há limite definido quanto à quantidade de modificações vantajosas que possam ser adquiridas (p.183). Também consideramos que o fato de que muitas vezes apenas a Seleção Natural é utilizada para dar conta da história da biodiversidade existente pode ser mais um ponto de dificuldade para a compreensão de algumas estruturas. Então, como o próprio Darwin destacou e que mostraremos mais adiante, esse processo não é suficiente para explicar a existência de determinadas características, principalmente as mais extravagantes, que para os machos adultos e experientes (...) a vantagem que elas proporcionam, conferindo-lhes melhores condições para combater seus rivais, mais do que contrabalançam a exposição aos perigos que porventura viessem a provocar-lhes (DARWIN, 2004, p.196). Além disso, machos e fêmeas adotam diferentes estratégias reprodutoras. Em teoria, os machos competem por fertilizações, tentando inseminar quantas fêmeas for possível. Há um limite rigoroso, por outro lado, para o número de vezes que uma fêmea se beneficia da inseminação. O seu sucesso reprodutivo depende não do número de fertilizações, mas das contingências da vida, das qualidades dos companheiros que escolhe e, sobretudo, do êxito que tem em manter vivos quantos filhotes produz (HRDY, 2001, p.103). Em função disso, julgamos que a inclusão do processo de Seleção Sexual, no ensino da Teoria Evolutiva, pudesse ser compreendida como a possibilidade xvii de discussão de um dos conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986) das Ciências Biológicas. Pretendíamos que essa inclusão gerasse uma mudança cognitiva nos alunos, que levasse a uma compreensão mais efetiva dessa teoria. Os referenciais da área de ensino de evolução também nos auxiliaram a compreender e justificar um grande problema que eu encontrava na disciplina Evolução do curso de graduação semipresencial do qual sou tutora. Nas tutorias presenciais os alunos demonstravam que não conseguiam entender a lógica da Teoria Evolutiva darwiniana. Essa dificuldade se refletia em notas baixas nas avaliações presenciais e uma alta taxa de reprovação na disciplina. Por isso, decidimos desenvolver esse projeto nessa graduação. A partir dessa constatação, associado aos referencias da área de ensino, consideramos que pesquisas na área de ensino de evolução podem contribuir para tentar sanar certas lacunas ou erros existentes nas conceituações da Teoria Evolutiva. Por isso, nessa tese foi desenvolvida uma sequência de atividades didáticas utilizando os dois principais processos seletivos – Seleção Natural e Seleção Sexual – para serem realizadas com alunos de uma graduação pública semipresencial de licenciatura em Ciências Biológicas, do Estado do Rio de Janeiro. Nessas atividades foram usados trechos de documentários, imagens e textos criados por nós, a partir dos referenciais utilizados nessa tese, com o intuito de apresentar de forma didática e um pouco lúdica, conceitos que nessa graduação são apresentados apenas na forma de textos. As atividades tinham como objetivo tentar facilitar a compreensão desse tema, principalmente pelo fato de que os alunos dessa graduação deverão ser professores da Educação Básica e terão que abordar a Teoria Evolutiva em suas futuras aulas. Para que a possível contribuição das atividades fosse analisada, escolhemos utilizar a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003) que permite o resgate das ideias que permeiam determinado grupo. Também contribuíram para o desenvolvimento dessas atividades dados de livros didáticos do Ensino Médio, sobre como o processo de Seleção Sexual é apresentado nesses livros. Além disso, caracterizamos como os conceitos da Teoria Evolutiva são apresentados nos módulos didáticos da graduação em questão e as respostas dos alunos em provas presenciais da disciplina Evolução sobre questões relacionadas diretamente com a Teoria Evolutiva. Essas etapas xviii permitiram conhecer as conceituações sobre o tema proposto e perceber as principais dúvidas dos alunos, contribuindo para se alcançar o objetivo mais amplo dessa pesquisa. Sendo assim, além dessa introdução, no capítulo 2 são descritas as principais características da Educação a Distância e um breve estado do conhecimento sobre a Seleção Natural e a Seleção Sexual, além das implicações e dificuldades para o Ensino da Teoria Evolutiva. No capítulo 3 estão os objetivos da pesquisa. No capítulo 4 descrevemos as etapas percorridas para a obtenção dos dados. No capítulo 5 é apresentada a primeira parte das discussões, com os dados referentes aos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual em livros didáticos do Ensino Médio e sobre os módulos e provas da graduação em que o projeto foi desenvolvido. O capítulo 6 contém a segunda parte das discussões, na qual são apresentadas as etapas para escolha do material utilizado nas atividades e a discussão dos resultados após o uso das atividades. E, no capítulo 7, são apresentadas as considerações finais. xix CAPÍTULO 2 REFERENCIAL TEÓRICO Nessa tese estávamos interessados em aspectos que poderiam auxiliar uma melhor compreensão da Teoria Evolutiva por futuros professores de Ciências e Biologia da Educação Básica de um curso de graduação semipresencial. Para que tal proposta se desenvolvesse, era necessária a caracterização dessa modalidade de ensino e dos referenciais sobre a Teoria Evolutiva e de pesquisas relacionadas com o ensino de evolução. 2.1 EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA A Educação à Distância (EaD) é uma oportunidade de ensino em que o discente pode aprender a partir de seu ambiente doméstico, do trabalho ou de qualquer outro lugar, não tendo a necessidade de dividir o mesmo espaço físico e ao mesmo tempo com os professores e/ou tutores (SANTOS 2006; ABREU et al., 2007; ALONSO, 2010; RONCHI et al., 2012). Normalmente essa modalidade de ensino apresenta polos pedagógicos em localidades estratégicas, que normalmente são áreas com baixo desenvolvimento humano e pouco investimento educacional (SANTANA e PEIXOTO, 2010). Isso é possível, pois a EaD apresenta como elemento definidor a não presencialidade de alunos e professores. Essa especificidade informa sobre os parâmetros da relação pedagógica, propondo características à modalidade tais como: o controle do aprendizado estar mais ligado ao aluno e a necessidade de artefatos técnicos ou meios tecnológicos que viabilizem processos comunicacionais entre os atores da formação (ALONSO, 2010, p.1326). Outro fator importante é que, em um mundo cada vez mais complexo e globalizado, esse tipo de ensino tem se mostrado de grande importância, uma vez que permite “modificar processos insuficientes e caros de ensinar para muitas pessoas, ao longo da vida” (MORAN, 2009, p.286). No caso específico do nosso país, esse pode ser “o único caminho possível para muitos brasileiros” (OLIVEIRA, 2010, p.238). Então, a EaD no Brasil começou com o ensino por correspondência e ao longo do tempo foi incorporando novos recursos, tendo a internet como seu mais xx novo complemento (SARMET e ABRAHÃO, 2007; SILVA et al., 2009; GAMEIRO et al., 2011). Com isso, “apresenta-se como uma educação baseada na separação física entre alunos e educadores, em que há a possibilidade de comunicação síncrona1 ou assíncrona entre as partes envolvidas” (GAMEIRO et al., 2011, p.89-90). Também pode ser definida como um sistema tecnológico de comunicação bidirecional, que substitui o contato pessoal professor/aluno, como meio preferencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria, que possibilitam a aprendizagem independente e flexível dos alunos (SANTOS, 2006, p.3). Inclusive, essa separação pode ser apenas física, pois com o auxílio das tecnologias professores e alunos podem manter um diálogo online constante e em muitos casos até mais frequente que no ensino presencial, uma vez que o aluno, na educação a distância, tende a interagir muito mais com seu professor/tutor do que os alunos de uma disciplina regular presencial (JUNIOR e COUTINHO, 2011, p.2). Porém, por ser uma nova forma de ensino, ainda existe muito preconceito em relação à EaD e muitas ideias errôneas sobre ela. Segundo Junior e Coutinho (2011), muitos consideram que é uma forma mais fácil e rápida de se conseguir um diploma e entrar no mercado de trabalho, mesmo essa modalidade exigindo uma grande dedicação do aluno. Essa dedicação é necessária, pois o aluno é o principal responsável pela construção de seu conhecimento, necessitando se adequar às exigências desse tipo de ensino. Muitas vezes essa dificuldade de adequação acaba sendo um dos principais motivos das altas taxas de evasão que ainda existem na EaD. Outra característica dessa modalidade é que, dependendo da instituição que oferece o curso e seu tipo, os responsáveis pela organização dos cursos podem ser chamados de professores ou tutores. Esses profissionais podem ter como função: a concepção e realização dos cursos e materiais; o planejamento e organização da distribuição dos materiais e da administração acadêmica; ou ainda o acompanhamento do estudante, podendo acumular mais de uma função (SARMET e ABRAHÃO, 2007; RONCHI et al., 2012). No caso do presente estudo, nos interessa a última função, pois para o tutor 1 A comunicação síncrona permite uma interação simultânea e a assíncrona é quando a interação não ocorre de forma imediata. xxi não basta o conhecimento do conteúdo; é necessário que ele seja portador de competências de gestão de equipes e do processo de aprendizagem, e ainda detenha conhecimento das técnicas e dos recursos mais adequados a cada evento de ensino (SARMET e ABRAHÃO, 2007, p.113). Em função dessas características e com a possibilidade de uso de sistemas interativos para que ocorra a aprendizagem, é importante que os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) sejam usados para a construção do conhecimento, evitando uma abordagem tradicional, de transmissão e memorização de informações (SILVA et al., 2009). Por isso, uma das propostas atuais para esse tipo de ensino é uma mudança de enfoque. De uma EaD que estava mais interessada na informação do que na formação, para “um modelo de educação, centrado na ação educativa, aberta e interativa, a qual possibilita o desenvolvimento da autonomia do aluno” (ABREU et al., 2007, p.2), tendo a figura do tutor como alguém que dá apoio à construção do conhecimento (BARBOSA e REZENDE, 2006). Essa mudança de enfoque se baseia na percepção de que a EaD deve ser uma educação de qualidade assim como a educação presencial. Essa preocupação com a qualidade está relacionada com a “seriedade e coerência do projeto pedagógico, pela qualidade dos gestores, educadores mediadores e, também, pelo envolvimento do aluno” (MORAN, 2009, p.286). Uma vez que “não basta aumentar o acesso, é preciso que esse aumento seja também de qualidade, pois todos têm direito a uma educação de qualidade (…) que forme e transforme” (OLIVEIRA, 2010, p.233). Então, “esse modelo deve se basear no tripé material didático, mediação pedagógica ou tutorial e ambiente virtual de aprendizagem, através das diferentes ferramentas de interação que ele apresenta” (ABREU et al., 2007, p.2). Após a leitura dos referencias que descrevem a EaD, entendemos que nossa abordagem pode contribuir para a aprendizagem de um tema difícil, em um novo modelo de ensino, que está em formação e solidificação no cenário educacional brasileiro. Sendo assim, usei minha experiência como tutora presencial para fazer um levantamento das dificuldades encontradas pelos alunos na disciplina Evolução em relação ao conteúdo dessa disciplina. Associado a isso, foram desenvolvidas atividades como mais uma estratégia de ensino, usando uma ferramenta presente no curso: a plataforma virtual. xxii Além disso, o conteúdo escolhido para ser discutido foi a Teoria Evolutiva Darwiniana. Nos próximos tópicos apresentaremos os conceitos dessa teoria e os principais obstáculos encontrados para o seu ensino. 2.2 CONCEITUAÇÃO DA TEORIA EVOLUTIVA A diversidade das espécies intriga os mais diversos grupos, desde as pessoas que não estão relacionadas com as ciências naturais, até estudiosos da área. Procurar entender como a diversidade surgiu e se mantém tem sido um esforço intelectual há muito tempo (MAYR, 2008). Explicações também já foram propostas tanto pela religião, quanto pela ciência, sendo essas últimas as de nosso interesse. Nesse contexto, também existiram hipóteses diversas sobre o tema, mas podemos considerar Lamarck como o primeiro grande pensador evolucionista (MAYR, 2008), uma vez que foi o primeiro a propor mecanismos de origem e manutenção de novas características. Na teoria de Lamarck estavam ideias sobre a transformação das espécies de forma lenta e gradual, regido por leis naturais, e não através de intervenção divina; esse naturalista também procurou explicar a origem dos primeiros seres pela geração espontânea; além de oferecer uma explicação materialistamecanicista para a vida (CARMO et al., 2009). Entretanto, os processos sugeridos por Lamarck se mostraram falhos em diversos aspectos, não respondendo de forma satisfatória às muitas questões que se colocavam sobre a diversificação das espécies, numa época em que o tema já era bastante discutido. Além disso, dados das mais diversas áreas, como, por exemplo, a geologia, contribuíram para que novos estudos fossem desenvolvidos. Esse era o cenário perfeito para que novas hipóteses sobre a diversificação dos seres vivos fossem propostas, testadas e validadas. Foi nesse momento que Darwin, após sua famosa viagem no Beagle, reuniu diversas evidências para sustentar sua nova e revolucionária hipótese sobre a diversificação dos seres vivos: a teoria da diversificação das espécies através da seleção natural (GOULD, 1999; DARWIN, 2002; MAYR, 2008). Mesmo existindo outros autores que tenham se referido a processos seletivos, a Teoria da Evolução por Seleção Natural tornou-se pública em 1858, pela leitura dos manuscritos de Darwin e Wallace, na Sociedade Linneana de Londres. Essa teoria sugeria que variações entre os indivíduos de uma população xxiii surgem ao acaso e, na luta pela sobrevivência, os indivíduos com variações que aumentavam as chances de sobrevivência em determinado ambiente, tendiam a prosperar; enquanto aqueles com variações em outras direções tendiam a ser eliminados. Porém, embora Alfred Wallace tenha proposto mecanismo semelhante de modificações das espécies ao longo do tempo (CRONIN, 1995; CARMO et al., 2009), usaremos nessa tese os conceitos de Darwin, pois, como será explicitado mais à frente, o processo de Seleção Sexual, proposto também por esse autor deve ser considerado tão importante quanto a Seleção Natural na explicação da biodiversidade existente e, sobre esse processo, Wallace e Darwin discordavam (CRONIN, 1995; CARMO et al., 2009). Hoje, entendemos que “a Evolução é a descendência, com modificações, de diferentes linhagens a partir de ancestrais comuns” (FUTUYMA, 2002, p.9). Entretanto, Mayr (2008) considera que a Teoria Evolutiva não é formada apenas pelo conceito de Seleção Natural, mas sim que a lógica explicativa de Darwin para a modificação das espécies ao longo do tempo inclui um sistema de cinco teorias: A Teoria da Evolução como Fato - a ideia científica de que as espécies de seres vivos se modificaram efetivamente com o passar do tempo geológico (MAYR, 2008). Pois, como Darwin destaca na introdução de A origem das espécies (2002), a observação das afinidades mútuas, dos seres organizados, as relações embriológicas, a distribuição geográfica, a sucessão geológica, etc. levam à conclusão lógica de que as espécies se modificaram ao longo do tempo; A Teoria da Evolução Gradual - a ideia de que o processo de transformação das espécies é lento, gradual e que os processos que atuavam no passado são os que continuam atuando hoje (MAYR, 2008), uma vez que “as variações são (...) o ponto inicial do começo da evolução” (WEINER, 1995, p.47); A Teoria da Origem Comum - a ideia, amplamente confirmada, de que quaisquer espécies compartilham ancestrais; a concepção de que os indivíduos, mesmo de espécies muito distintas, possuem uma relação de parentesco (MAYR, 2008), ou seja, as espécies não foram criadas de forma independente, e sim derivam umas das outras (DARWIN, 2002); A Teoria da Especiação Populacional - a ideia de que certas populações de uma espécie podem se transformar em populações de uma espécie nova (MAYR, 2008), pois a luta é mais acirrada entre indivíduos da mesma espécie (DARWIN, xxiv 2002); A Teoria da Seleção Natural - teoria sobre os mecanismos que estão envolvidos nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência diferenciadas em função das variações entre os indivíduos da população (MAYR, 2008). Isso porque “a seleção natural opera através da conservação e da acumulação de pequenas modificações hereditárias, cada qual de muita utilidade para o indivíduo conservado” (DARWIN, 2002, p.97). Sendo assim, a Seleção Natural em si mesma não é Evolução. É apenas um mecanismo que, segundo Darwin, pode levar à evolução, (...) a seleção natural ocorre dentro de uma geração, mas a evolução ocorre através de gerações (WEINER, 1995 p.88). Segundo Gould (1999), existiam três ingredientes essenciais na visão de mundo de Darwin: o enfoque sobre o indivíduo como o principal agente evolutivo; a identificação da Seleção Natural como sendo o mecanismo da adaptação; e crença na natureza gradual da mudança evolutiva. Esses três ingredientes surgiram das observações de Darwin de que em toda população existiriam variações entre os indivíduos, o que levaria a sucessos diferenciados em relação à alimentação, fuga de predadores, etc., e essas características diferenciadas, que conferiam valores adaptativos diferentes, eram selecionadas pelo ambiente. A partir disso, a Seleção Natural pode ser definida como um processo no qual populações das diversas espécies existentes interagem com o ambiente e o resultado é que alguns indivíduos, dentro de uma espécie, deixam mais descendentes do que outros. Com o passar do tempo, as populações tenderão a ter mais e mais indivíduos com variações que favoreçam a sobrevivência no ambiente em que vivem. Devemos considerar que o ambiente deve ser compreendido tanto como os fatores físicos - luz, água, radiação, rios, neve -, mas principalmente como fatores biológicos também - outras espécies e, sobretudo, as relações dentro da própria espécie - com indivíduos do sexo oposto, com filhotes, com competidores e aliados. De qualquer forma, a Seleção Natural favorece a sobrevivência e a reprodução de certos indivíduos, e isso, a longo prazo, tem uma profunda implicação sobre o perfil fenotípico da espécie. Nesse último caso, é importante enfatizar que é nas interações entre os indivíduos da mesma espécie que esse processo ocorre mais fortemente, pois na luta pela sobrevivência e na manutenção das espécies é necessário que se xxv consiga chegar à idade reprodutiva e com isso passar seus genes adiante (DAWKINS, 2001), ou seja, os indivíduos que tinham as características que facilitavam sua sobrevivência e com isso, conseguiam chegar à idade reprodutiva, passavam as características para as futuras gerações. Um fator importante a ser destacado, é que Darwin não sabia em que estrutura as características dos seres vivos ficavam armazenadas, como elas eram expressas e menos ainda, como surgiam novas características. Esses problemas começaram a ser solucionados após a década de 1950 (MAYR, 2008), pois foi quando a estrutura do ADN e os processos que ocorrem durante a replicação do material genético e da síntese de proteínas foram caracterizados. As novas descobertas contribuíram, então, para que mais informações fossem agregadas às ideias originais de Darwin e abriram novos campos de pesquisa na área da biologia evolutiva, inclusive na criação de modelos matemáticos para testar as hipóteses de Darwin, contribuindo para corroborar ainda mais a Teoria Evolutiva darwiniana. A inclusão de novos dados, a partir do desenvolvimento da biologia molecular, permitiu a proposição da Moderna Síntese Evolutiva (MAYR, 2008). Sendo assim, é preciso integrar os conceitos dessa teoria para o entendimento de que variações entre espécies é o que permite que a evolução ocorra. O primeiro mecanismo evolutivo – seleção natural – opera através das diferenças entre indivíduos de uma mesma espécie. Os membros que apresentarem diferenças que trazem vantagens para a sobrevivência tendem a produzir mais filhotes que os demais que não possuem as mesmas características, mudando a frequência com que tal característica será representada na população como um todo (SHTULMAN e SCHULZ, 2008, p.1050, tradução nossa). Por isso, a teoria darwiniana “é uma narrativa causal-explicativa de como pequenos estágios adaptativos das diferenças (individuais), levam a uma maior diferenciação e a picos adaptativos evolutivos diferentes” (BARDAPURKAR, 2008, p.299, tradução nossa). E, nesse processo, deve estar clara a contribuição causal das variações e sua hereditariedade (BARDAPURKAR, 2008). Porém, não podemos nos esquecer de que a evolução, nos termos de Darwin, não é um fenômeno que ocorra ao indivíduo. Durante sua vida um indivíduo não evolui, mas se desenvolve adquirindo inúmeras características ninguém nasce com dentes, pelos, mamas ou falando. Para os biólogos, o que xxvi evolui são as populações. São as populações que ao longo do tempo geológico tempo medido em centenas de milhares, dezenas de milhões, bilhões de anos mudam de perfil, de aparência, de capacidades. Não mudam necessariamente para melhor, mas se transformam no processo de deixar descendentes sempre variáveis. Nesse processo de mudança populacional, a Seleção Natural, a princípio, explicaria tudo o que é necessariamente útil na estrutura dos indivíduos que compõem as espécies de seres vivos. Tudo o que confere uma vantagem óbvia na luta pela vida tende a ser preservado: garras, patas, ossos, dentes, músculos, olhos, mas também tecidos, órgãos, células, membranas, organelas. Essas e muitas outras estruturas parecem ter sido projetadas com o fim de dotar os indivíduos com características que são evidentemente úteis para a vida que leva cada espécie. Todas elas são estruturas altamente funcionais. Entretanto, vale ressaltar que as variações encontradas entre os indivíduos são anteriores à ação da seleção natural. As variações são produto do acaso inerente ao processo de reprodução sexuada e que envolve possíveis mutações, a permuta entre as cromátides de cromossomos homólogos e a separação do par de homólogos durante a meiose, gerando variabilidade genética. Outro ponto a ser destacado é que o próprio Darwin considerava a existência de características neutras, mas frisava que a seleção natural só atua em características vantajosas. Por isso, as principais mudanças evolutivas ocorrem porque certas características dos indivíduos são mais adequadas do que outras às presentes circunstâncias ambientais de uma espécie, e essas características mais adaptativas se disseminam nas gerações posteriores por meio de taxas diferenciadas de sobrevivência e reprodução – em outras palavras, por meio da seleção. O acaso certamente tem o seu papel na evolução, como Darwin bem sabia, mas a seleção natural – o mecanismo primordial da mudança evolutiva – não é um processo acidental (MAYR, 2008, p.65). Portanto, “o que os darwinistas estiveram dizendo não é que todos os traços são adaptativos, mas que aqueles que indiscutivelmente são adaptativos (...) devem ser produtos da seleção natural” (WAIZBORT, 2008, p.267). E que a Seleção Natural opera em duas etapas: variação, através das mutações, recombinação, fluxo gênico; e seleção propriamente dita, que são as taxas de sobrevivência e reprodução diferenciadas (MAYR, 2008). xxvii Em função do que foi exposto, fica claro porque, apesar de Darwin ter algumas lacunas em sua teoria, suas ideias ainda são tão atuais e, mais ainda, o entendimento dos processos que ocorrem na interação dos indivíduos e deles com o meio permite uma compreensão mais ampla de diversos campos da biologia, como a ecologia e a saúde. Todavia, sempre intrigou Darwin, como ele já deixa claro no próprio livro A origem das espécies, a observação de que algumas características não pareciam ter relação com a sobrevivência imediata (MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004), como, por exemplo, as cores de certas aves, insetos e mamíferos; o canto dos pássaros; e estruturas como a galhada dos alces, o nariz do macaco narigudo e um infindável número de exemplos. Para solucionar esse problema, Darwin propôs o mecanismo de Seleção Sexual. 2.2.1 Diferenças entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual Já foi destacado que a Seleção Natural é o mecanismo que melhor explica a biodiversidade existente, que mostra que a interação entre os indivíduos influencia a manutenção dos mesmos no ambiente e que, portanto, o processo evolutivo é local e histórico. Especificamente, a seleção natural é o mecanismo que explica como a produção constante de variações novas e herdáveis – através da ação das mutações, recombinação genética, e sexo – diferencialmente persistem gerações após gerações através da sobrevivência e reprodução diferenciadas (NEHM et al., 2012, p.92, tradução nossa). Por outro lado, quando observamos mais atentamente o ambiente, é fácil perceber que diversas características presentes nos seres vivos não estão relacionadas com a sobrevivência. Na realidade são características que muitas vezes parecem dificultar a sobrevivência do indivíduo, tendo como seu exemplo mais característico o pavão macho com sua pesada e chamativa cauda. Duas outras particularidades chamam a atenção dessas características. A primeira é que normalmente elas só estão presentes nos machos, sendo as fêmeas mais parecidas com os filhotes e que não aparecem nos jovens (MILLER, 2000; DARWIN, 2004). A segunda é que essas características podem ser bem diferenciadas entre espécies que possuem uma relação de parentesco bem próxima filogeneticamente e/ou que ocupam nichos ecológicos semelhantes xxviii (MILLER, 2000). Essa diversificação é possível porque, no que se refere à reprodução, os comportamentos sexuais não dependem da luta pela sobrevivência com outros seres organizados, ou com as condições – ambiente, mas a luta entre os indivíduos de um mesmo sexo, ordinariamente machos, para assegurar a posse do sexo oposto (DARWIN, 2002, p.90). Charles Darwin (2004) descreveu inúmeras características e comportamentos que estavam relacionados com a corte e a reprodução, propondo que tais caracteres haviam sido moldados pelo processo de Seleção Sexual e não de Seleção Natural. Em seu livro A origem do homem e a seleção sexual, Darwin explica que irá tratar apenas daquele tipo de seleção que chamei de seleção sexual, e que depende da vantagem que certos indivíduos têm sobre outros do mesmo sexo e espécie, relacionada exclusivamente com a reprodução (2004, p.169). E, nesse caso, diferenciou a Seleção Sexual em dois tipos de interações possíveis entre machos e fêmeas de uma espécie: a intrassexual ou a intersexual. No primeiro caso, estariam as competições ou lutas entre machos por território, alimento ou outros recursos, incluindo principalmente a competição pela própria fêmea com fins reprodutivos. No segundo caso, estariam as exibições estruturais ou comportamentais realizadas comumente por machos, o que levaria a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se acasalar (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004). Sendo assim, em animais sexuados existe, além da seleção natural – que é a principal forma de aparecimento de novas espécies – outra forma de seleção, branda em seus efeitos, mas não menos eficiente. A Seleção Sexual é operada pelas fêmeas (às vezes pelos machos) para encontrar e reproduzir com o parceiro que possua melhores características que outros (COHEN, 2010, p.160, tradução nossa). Portanto, na manutenção das espécies em um determinado nicho, não só é importante que os indivíduos sobrevivam, como devem ser capazes de se reproduzir e transmitir seus genes. Por isso, muitas vezes é mais importante a reprodução do que a sobrevivência (DAWKINS, 2001) e qualquer custo vale à pena, pois quem conseguir se acasalar e cuidar melhor dos filhotes terá seus genes perpetuados pelas futuras gerações. E, no período de reprodução, xxix “criaturas grandes e pequenas mostram uma energia excessiva quando estão cortejando” (FISHER, 2008, p.46). Nesse caso, podemos usar a noção de gene egoísta, porque “os genes são “egoístas” no sentido de que evoluem para gerar tantas cópias de si mesmos quanto possível” (MILLER, 2000, p.322). E, podemos entender que na Seleção Natural a penalidade máxima é a morte; já na Seleção Sexual, “indivíduos do mesmo sexo competem entre si para o acasalamento. O perdedor deixa pouca ou nenhuma progênie” (HRDY, 2001, p.56), ou seja, é uma vida sem parceiro sexual, o que pode equivaler à morte genética (WEINER, 1995). É nesse contexto da reprodução sexuada que, para Darwin, a Seleção Sexual passa a ser o processo e o resultado de escolhas, no mais das vezes inconscientes, dos parceiros reprodutivos, obviamente de uma mesma espécie. As estruturas morfológicas que a teoria da Seleção Sexual explicaria não são compreendidas como estruturas que contribuam diretamente para a sobrevivência de seus portadores. Certos besouros machos da espécie Chiasognathus grantii têm uma mandíbula tão desenvolvida que se transforma em uma espécie de garra que poderia ser interpretada como uma arma de ataque ou defesa. Esse animal, nas palavras de Darwin, é impetuoso e agressivo, quando se sente ameaçado enfrenta o agressor arreganhando as mandíbulas e pondo-se a estridular alto, mas suas tenazes não foram fortes o suficiente para beliscarem o dedo de Darwin de modo a lhe causarem dor (DARWIN, 2004). Casos análogos se dão com os chifres de certos cervídeos que, segundo Darwin, seriam mais ou menos ineptos como armas. Esses são apenas dois de vários exemplos descritos por Darwin. Assim, para que servem mandíbulas ou chifres desse tipo se não para embates físicos? Em A origem das espécies, de 1859, Darwin dedicou três páginas ao mecanismo da Seleção Sexual (DARWIN, 2002; MILLER, 2000). Em 1871 veio à luz outro livro seu A origem do homem e a seleção sexual (DARWIN, 2004). Mais de trezentos e cinquenta páginas, quase setenta por cento dessa nova obra, são dedicadas a apresentar e tentar explicar as diferenças estruturais secundárias entre os sexos masculinos e femininos em inúmeros grupos de animais incluindo os humanos. O primeiro terço do livro trata de mostrar a origem comum, estrutural e comportamental, entre a espécie humana, outros primatas e certos mamíferos. O xxx restante do livro é direcionado para apresentar, discutir e tentar resolver o enigma das diferenças entre fêmeas e machos. Darwin começa a parte sobre a Seleção Sexual em seu livro de 1871, afirmando que entre os animais cujos sexos podem ser distinguidos pelo aspecto exterior, os machos invariavelmente diferem das fêmeas no tocante a seus órgãos reprodutores, que constituem seus caracteres sexuais primários. Ele afirma, no entanto, que eventualmente ocorrem diferenças em caracteres sexuais, não diretamente relacionados com o ato da reprodução, os caracteres sexuais secundários. São essas estruturas que parecem violar o princípio da Seleção Natural, pois elas não são apreendidas pela nossa mente como úteis à sobrevivência dos indivíduos e, em muitos casos, até dificultam a mesma. Em geral, diz Darwin, em todo o Reino Animal, quando os sexos diferem entre si quanto à aparência externa, é o macho que apresenta modificações mais acentuadas. Na sugestão do processo de seleção sexual, em que a fêmea acaba recebendo um lugar de destaque, é importante ressaltar que a escolha de parceiros sexuais implica a existência, nas fêmeas que selecionam, de um complexo sistema que processa sinais (visuais, sonoros, táteis, olfativos, gustativos, dentre outros) e produz uma resposta, no caso a própria escolha. Ou seja, de alguma forma Darwin correlaciona o processo de Seleção Sexual e a presença de um cérebro feminino como substrato de uma mente seletiva. Quando nos referimos aqui a uma mente animal, estamos dizendo que Darwin admitia, em um grande número de casos, a presença de um sistema nervoso capaz de perceber estímulos os mais variados, incluindo os estímulos sexuais, interpretar esses estímulos e a capacidade de produzir respostas condizentes com tais estímulos. Um caso bastante curioso que serve para ilustrar como desde os primórdios da evolução do Reino Animal existia um sistema nervoso capaz de perceber diversos estímulos é o que ocorre entre duas espécies de moscas do gênero Drosophila. pseudoobscura são As espécies espécies Drosophila que nós não persimilis e conseguimos Drosophila distinguir morfologicamente, mas que são consideradas pelos taxonomistas duas espécies diferentes, pois não ocorre o cruzamento entre os indivíduos das duas espécies (MERRELL, 1954). Isso significa que, apesar de não conseguirmos diferenciá-las, xxxi moscas fazem essa discriminação, o que indica a existência de um sistema nervoso já bem desenvolvido. Charles Darwin foi duramente criticado por suas ideias, uma vez que em plena Era Vitoriana, não era concebível que fêmeas fossem capazes de tais comportamentos e escolhas, tomando para si uma posição de destaque no que ser refere ao comportamento reprodutivo (CRONIN, 1995). Além disso, Darwin também foi censurado por ter extrapolado suas ideias para a espécie humana (CRONIN, 1995; DARWIN, 2004). Por fim, por não conseguir demonstrar claramente como o processo de Seleção Sexual ocorria, essa ideia caiu no esquecimento só sendo retomada no final do século XX com novos estudos nessa área (CRONIN, 1995). A retomada dos estudos da Seleção Sexual permitiu estabelecer seus três princípios fundamentais, sendo os dois primeiros sugeridos por Ronald Fisher. O primeiro princípio é dos Indicadores de Aptidão: as estruturas geradas por Seleção Sexual são indicadores de aptidão, ou seja, o canto longo e melodioso de um sabiá, o papo extremamente colorido de certos lagartos, as garras desproporcionais de certos caranguejos, são formas confiáveis do macho sinalizar às fêmeas que ele é um pretendente saudável e apto, portanto, bom parceiro para o acasalamento (MILLER, 2000). O segundo princípio é um mecanismo de descontrole no início do processo de Seleção Sexual, uma espécie de irracionalidade apaixonada capaz de fazer as fêmeas preferirem em massa determinado padrão, mesmo que sutil, em relação a outros, de forma que todos os outros padrões sumiriam: é o Princípio da Seleção Sexual Descontrolada (MILLER, 2000). O terceiro princípio foi proposto não por Fisher, mas por Amotz Zahavi, cientista israelense que trabalha desde a década de 1980 com modelos de Seleção Sexual. Nesse caso, estruturas muito custosas como a cauda do pavão, os cantos dos pássaros, as galhadas dos cervídeos, etc., obedecem a uma lógica de ostentação e desperdício e não de praticidade e funcionalidade: é o Princípio do Desperdício (Handicap) (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997; MILLER, 2000). Nesse caso, entendemos o Princípio do Handcap ou do Desperdício como um traço biológico que evoluiu especificamente para anunciar a aptidão de um animal. Aptidão significa a propensão para sobreviver e reproduzir-se com sucesso. Ela é determinada principalmente pela qualidade genética de um indivíduo, que no fundo representa sua carga de mutações (MILLER, 2000, p.117). xxxii Entre primatas, por exemplo, na espécie chamada macaco narigudo (Nasalis larvatus) os machos desenvolvem um apêndice nasal, de mais de dez centímetros, que quase lhes cobre a boca, mas permite emitir uma série de sons relacionados principalmente ao acasalamento e à comunicação entre os indivíduos da mesma espécie. Esse seria um bom exemplo de desperdício, por que o nariz desse primata não contribui em nada para a sua sobrevivência imediata. Embora talvez tal estrutura aumente a gama de sons produzidos, enriquecendo seu sistema de comunicação, ela é até certo ponto um estorvo para a alimentação, um sinal de que sobrevivência e reprodução (entendida como transmissão de genes para as gerações subsequentes) podem estar em conflito. A própria capacidade de vocalização poderia ser interpretada como um traço atrativo para as fêmeas, que podem estar selecionando justamente os indivíduos com uma maior gama de sons. A Seleção Natural e a Seleção Sexual seriam nesse caso opostas. Sendo assim, a principal diferença entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual é que o primeiro deve ser econômico e utilitarista, já o segundo é custoso. Entretanto, devemos nos perguntar qual deve ser o início desse processo, ou seja, porque a Seleção Sexual pode atuar tão fortemente em espécies com reprodução sexuada. A resposta está no comportamento sexual diferente de machos e fêmeas de diversas espécies, que pode ser entendido pelo fato de a gestação e cuidado com a prole, assim como a produção de óvulos e espermatozoides, terem custos diferenciados para machos e fêmeas (BUSS, 2000; MILLER, 2000; HRDY, 2001). Então, como é bem discutido por Hrdy (2001), o sexo deve ser estudado junto com a maternidade e não separado como tem sido feito, pois o sexo não se resume ao ato sexual, mas envolve também o nascimento e a manutenção dos filhotes vivos. Para a autora as mães não evoluíram para beneficiar as espécies, mas para traduzir quanto esforço reprodutivo pudessem concentrar em progênie capaz de sobreviver e reproduzir-se. O que evoluiu não são comportamentos que beneficiam grupos, mas comportamentos que contribuem para o sucesso reprodutivo diferencial de indivíduos mesmo às custas de outros no grupo (HRDY, 2001, p.49). Também precisamos tentar entender o comportamento dos machos, que são capazes de produzir milhões de espermatozoides, fertilizar muitas fêmeas ao xxxiii mesmo tempo e manifestar um cuidado parental diferente da fêmea. Porém, ao contrário das fêmeas, não são capazes de ter certeza de que estão cuidando de seus próprios filhotes e isso influencia no tipo de cuidado parental, possibilidade de infanticídio, e outros tipos de comportamentos em relação às fêmeas e aos filhotes. Por isso, o investimento diferenciado de machos e fêmeas é a variávelchave que controla a operação da Seleção Sexual, pois “não é suficiente produzir filhos; para ter êxito, ao longo do tempo evolutivo, as mães devem produzir filhos que sobrevivam e prosperem” (HRDY, 2001, p.84). Já os machos “usam as relações passadas com a mãe como um sinal para atacar ou tolerar o filhote dela” (HRDY, 2001, p.56), pois “estão divididos entre impulsos para cuidar e proteger de sua prole, pelo menos durante algum tempo, e o desejo de buscar novas parceiras” (HRDY, 2001, p.247). A percepção desses comportamentos diferenciados abriu uma nova porta de pesquisas, a tentativa de identificar que mecanismos cerebrais atuam nos comportamentos diferentes de machos e fêmeas, mas também de machos de espécies aparentadas. Essas diferenças, no que se refere à monogamia e ao cuidado parental, estão bem caracterizadas em duas espécies aparentadas filogeneticamente dos roedores arganaz do campo e arganaz da montanha. Estudos experimentais sobre a sociabilidade com essas duas espécies de roedores têm demonstrado que os comportamentos sociais diferentes podem estar relacionados com uma distribuição diferenciada no cérebro dos neurotransmissores de ocitocina e vasopressina. Os arganazes do campo (Microtus ochrogaster) são sociáveis, monogâmicos e os machos ajudam no cuidado com a prole, já os arganazes da montanha (Microtus montanus) exibem um comportamento não social, poligâmico e os machos não ajudam no cuidado com a prole. Essa última espécie não apresentaria a ativação de regiões do sistema de recompensa (núcleo accumbens e complexo basolateral da amígdala) e com isso não exibiriam motivação para o contato social (INSEL e SHAPIRO, 1992; SUE CARTER, 1998; YOUNG et al., 1998; INSEL e YOUNG, 2001; OLAZABAL e YOUNG, 2006; FISHER, 2008; MOURA e XAVIER, 2010). Esses estudos têm sido usados como referências para pesquisas com outros mamíferos, inclusive com a espécie humana, como mostraremos mais adiante. xxxiv Após discorrermos sobre esses aspectos que envolvem o desenvolvimento do conceito de Seleção Sexual e de como existem diversas abordagens em pesquisa com esse tema, podemos considerar que a Seleção Sexual é “simplesmente um modo de descrever como as diferenças no sucesso para a reprodução levam à mudança evolutiva” (MILLER, 2000, p.49). Portanto, caracterizar esse processo, mostrando que é diferente do processo de Seleção Natural, em função dos mecanismos de ação e dos resultados esperados, contribui para explicar melhor a biodiversidade de seres vivos e deve ser incluído como mais um conceito que forma a estrutura de pensamento da Teoria Evolutiva darwiniana. A principal justificativa está nas palavras de Miller (2000) sobre os enfeites e demais características custosas, moldadas pela Seleção Sexual: A seleção natural, como definida por Darwin, surge das diferenças individuais na capacidade para a sobrevivência. Ela não pode favorecer traços opostos à sobrevivência. Uma vez que a maioria dos enfeites diminui a capacidade de sobrevivência de um indivíduo, eles presumivelmente não poderiam ter evoluído pela seleção natural para a sobrevivência (p.48). Além disso, esse processo tem sido utilizado para explicar alguns aspectos da evolução da espécie humana, principalmente no que se refere ao desenvolvimento do nosso cérebro e de algumas diferenças comportamentais encontradas entre homens e mulheres. 2.2.2 A Seleção Sexual e a evolução da espécie humana Uma vez que nossa espécie também faz parte do mundo vivo e, portanto, sofreu e continua sofrendo os mesmos processos evolutivos que as demais espécies, muitos autores tem tentando explicar a evolução de diversas características nossas, não só morfológicas, como também comportamentais, utilizando os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual. Isso decorre do fato de que “cada ser humano vivo é uma história de sucesso evolucionário” (BUSS, 2000, p.13) e, “aqueles que amam, acasalam e procriam passarão sues genes para a posteridade, enquanto os que perdem no amor, no sexo e na reprodução perecerão no fim” (FISHER, 2008, p.218). Por isso, devemos ter claro que “os competidores primordiais de cada pessoa são membros do mesmo sexo, dentro da mesma espécie” (BUSS, 2000, p.46). Por xxxv isso, devem ser consideradas as estratégias de acasalamento envolvidas no processo de reprodução. O termo estratégia é utilizado para indicar a natureza do comportamento humano de acasalamento em ser direcionado para objetivos específicos e em ser voltado para solucionar problemas, não envolvendo, contudo, ação conscientemente planejada ou articulada (BUSS e SCHMITT, 1993 apud BORRIONE e LORDELO, 2005, p.36). Sendo assim, em função da compreensão de que a Seleção Natural e a Seleção Sexual estão relacionadas com o aparecimento e manutenção de características adaptativas, no primeiro caso relacionadas com a sobrevivência e, no segundo, com o sucesso reprodutivo, precisamos entender como esses processos atuaram em nossa espécie, principalmente no que se refere ao comportamento sexual. Essa discussão pode ser iniciada com a proposta do psicólogo Geoffrey Miller (2000) de que os três princípios associados ao processo de Seleção Sexual – Indicadores de Aptidão, Seleção Sexual Descontrolada e Handicap - devem ser usados para explicar o aumento tão rápido de nosso cérebro, assim como diferenças comportamentais, principalmente no que se refere ao comportamento sexual de homens e mulheres. A proposta de Miller (2000) se inicia com o uso das próprias sugestões de Darwin (2004) de que diversas características humanas podem ter surgido pela Seleção Sexual e funcionam como ornamentos. Com isso, Miller (2000) baseia-se no fato de que nosso cérebro cresceu muito rápido (Descontrole), possui diversas capacidades que não estão relacionadas com a sobrevivência direta, como, por exemplo, as expressões artísticas, e possui um alto custo para ser mantido (Indicador de Aptidão e Desperdício). Para Miller (2000), nossa mente é uma máquina de sobrevivência e reprodução, pois “as capacidades mais impressionantes da mente humana são como a cauda do pavão: elas são ferramentas para a conquista, evoluíram para atrair e enfrentar os parceiros sexuais” (p.14). Outro argumento a favor dessa proposta é de que características que são moldadas pela Seleção Natural normalmente apresentam evolução convergente, radiação adaptativa e utilidade óbvia para sobrevivência. Entretanto, capacidades humanas únicas não possuem essas características e são melhor entendidas pelo xxxvi processo de Seleção Sexual, que na maior parte das vezes é instável, imprevisível e diversificador (MILLER, 2000). Embora normalmente as características custosas se desenvolvam em apenas um sexo e não nos dois, no caso do nosso cérebro, a linguagem pode ter sido o impulso necessário para o grande desenvolvimento cerebral em ambos os sexos, pois foi uma das grandes novidades surgidas com o aumento desse órgão. Essa capacidade cerebral permitiu a observação e reflexão sobre os dados do mundo gerando um corpo de conhecimento transmissível para as futuras gerações. Além disso, foi responsável pelo início de diversas formas de expressão cultural, como por exemplo, as inúmeras manifestações artísticas. Para que essas informações fossem criadas e transmitidas, deveria haver um cérebro altamente desenvolvido que pudesse perceber tais estímulos e produzir respostas. Podemos sugerir então que nossa cabeça grande é a nossa cauda de pavão, mas que nesse caso, houve uma pressão seletiva para que se desenvolvesse nos dois sexos (MILLER, 2000). O cérebro grande deve ser compreendido como um indicador de aptidão, no sentido de que ele informa que seu possuidor é apto o suficiente para dar conta de uma estrutura tão grande, comparada com o de outros primatas. Mas o cérebro, para Miller, também expressa uma espécie de ostentação, de desperdício, que dificilmente pode ser copiado, pois trapacear a respeito da quantidade dos próprios recursos é muito difícil. Apesar das inúmeras atividades que nosso grande órgão possui, essa estrutura também trouxe alguns problemas adaptativos que precisavam ser solucionados. O contexto do aumento do cérebro foi o mesmo do início da postura ereta e do bipedalismo. Para nossa espécie, esses dois eventos poderiam ser mutuamente excludentes, pois o bipedalismo diminuía o canal pélvico, dificultando o parto, ao mesmo tempo em que o aumento do cérebro necessitava de uma passagem maior (GOULD, 1999; HRDY, 2001; BARON-COHEN, 2004; FISHER, 2008), gerando o nascimento de bebês prematuros e com uma grande necessidade de cuidado parental. Esse novo cenário pode ter sido determinante na seleção das características que estavam relacionadas com a perpetuação da espécie, ou seja, com a reprodução. O comportamento sexual de nossa espécie, bem como de diversos outros exemplos bem documentados em outros mamíferos e aves, demonstra que existem diferenças no que se refere ao comportamento durante a xxxvii corte e no cuidado com a prole. Essas diferenças ocorrem em função do grau de investimento de energia diferentes em cada etapa do processo reprodutivo (BUSS, 2000; MILLER, 2000; HRDY, 2001; BARON-COHEN, 2004; PINKER, 2004; FISHER, 2008). Normalmente os machos possuem gametas pequenos, que são produzidos em grande quantidade. Nesse caso, quanto mais fêmeas ele conseguir inseminar, mais chances de ter seus genes passados para as gerações futuras. Com isso, o maior investimento dos machos ocorre durante a corte, momento em que ele deve convencer o maior número de fêmeas a se acasalar com ele. Já as fêmeas produzem, ao longo de suas vidas, poucos gametas que são bem maiores que os dos machos. Além disso, normalmente são elas que geram os filhotes e são responsáveis pelo cuidado nas primeiras etapas da vida. Nesse caso, a vantagem é ser seletiva, ou seja, escolher os machos com os melhores genes e que farão parte da composição genética de seus filhos. Então, retornando ao aumento cerebral de nossa espécie, o cérebro grande como indicador de aptidão estava ligado à expressão de comportamentos que facilitavam a corte. Porém, o nascimento prematuro mudou as relações entre as mulheres de uma mesma comunidade ou entre homens e mulheres (BARONCOHEN, 2004; FISHER, 2008). Uma vez que a biologia da reprodução é mais custosa para as mulheres, esse custo diferenciado leva a diferenças fisiológicas e psicológicas entre homens e mulheres (BUSS, 2000). Dentre essas diferenças psicológicas, podemos citar os estudos de Baron-Cohen (2004) que mostram que, na média, mulheres são mais empáticas e possuem uma linguagem mais elaborada e homens são mais sistematizadores. Um dos argumentos para essa proposta é que (...) nossos ancestrais, tanto homens quanto mulheres, ocuparam nichos muitos diferentes e viveram papéis também muito diferentes. Sendo assim, as pressões exercidas pela seleção podem não ter sido as mesmas sobre um e outro sexo, levando à evolução de tipos diversos de especialização cognitiva. Naturalmente, o que pode ter sido conveniente para um sexo pode não ter sido conveniente para outro (p.139). Logo, durante o curso evolutivo dos hominídeos, em uma sociedade de caçadores-coletores, na qual homens e mulheres desempenhavam papéis diferentes, tanto em termos de garantir recursos para a sobrevivência, como em termos de comportamento sexual, as pressões seletivas sobre esses comportamentos gerariam repostas e padrões de comportamentos diferenciados, xxxviii e que podem ser explicados pelas especializações cognitivas relacionadas com cada um dos sexos. Com isso, a sistematização masculina permitia um maior controle das situações, levando a uma maior obtenção de status social, que pode funcionar como um indicador de aptidão, garantindo um maior número de parceiras. Já para as mulheres a empatia era uma forma de garantir uma maior ajuda no cuidado com os filhotes, tendo como recompensa o sucesso na reprodução. Hrdy (2001) também mostra que em primatas, inclusive humanos, a escolha é pela qualidade dos filhotes e não pela quantidade deles e que mulheres em diversas culturas devem equilibrar a sobrevivência com a reprodução. Em função dos custos maiores para as mulheres, existe uma tensão entre o empenho masculino por quantidade e o empenho feminino por qualidade. Os comportamentos sexuais diferenciados também levam à expressão do ciúme de forma diferente entre homens e mulheres. Em A paixão perigosa, o psicólogo David Buss trata do ciúme sexual como uma adaptação e mostra como ele está presente em trinta e sete grupos étnicos de raízes muito diferentes (BUSS, 2000). Esse autor também demonstra que há um dimorfismo sexual em relação ao próprio ciúme. Segundo Buss (2000), homens sentem ciúmes quando sabem ou desconfiam que sua parceira pode ter tido relações sexuais com outros homens, o que os levaria a investir seus recursos em filhos que não possuem seus genes. Embora as mulheres possam experimentar ciúmes de modo parecido, seu sentimento está mais relacionado com a possibilidade do homem se envolver afetivamente com outra(s) mulher(es) e acabar por dirigir seus recursos para outras fontes que não seus filhos em comum. Isso é decorrente do fato de que, como em muitas outras espécies de mamíferos e outros vertebrados e invertebrados, o maior ônus da reprodução recai sobre a fêmea. No caso humano é a mulher que leva o filho no ventre e uma gravidez não desejada implica em um profundo impacto físico e psicológico sobre corpo e mente da mulher, não do homem. Além disso, quando um homem pula a cerca e mantêm relações com outra mulher sempre há a possibilidade dele abandonar a parceira inicial e deixá-la sem os recursos que ele investia na relação e, principalmente, nos filhos dessa mulher com quem ele concebeu. Após discorrermos sobre as diferenças comportamentais entre homens e mulheres, é necessário que se retome a discussão sobre o parto prematuro em xxxix nossa espécie. Pois, embora os objetivos sejam diferentes entre homens e mulheres (quantidade versus qualidade), existe um objetivo comum que é gerar descendentes que sejam capazes de chegar à idade reprodutiva, dando continuidade à espécie ao longo das gerações. Sendo assim, o comportamento de acasalamento de homens e mulheres traduzem-se em mecanismos de preferência psicológicos que solucionaram problemas de sobrevivência e reprodução, através de adaptações especializadas, no curso da história evolucionária humana (BORRIONE e LORDELO, 2005, p.36). Porém, o fato de termos um parto prematuro faz com que os bebês humanos necessitem de um intenso cuidado parental e, se é estabelecida uma ligação homem-mulher - que podemos chamar de amor romântico - as chances de um maior sucesso reprodutivo aumentam. A partir disso, podemos considerar que o amor romântico é um universal humano, mas que sua expressão e cultivo dependem da organização social e cultural em que o indivíduo está inserido (JANKOWIAK e FISCHER, 1992). E, usando como base os experimentos com mamíferos que tentam estabelecer como vias cerebrais de neurotransmissores atuam no estabelecimento, ou não, de relações sociais, cuidado parental, ligação machofêmea, dentre outros, experimentos com a nossa espécie também têm sido realizados. Foi pensando sobre o tema que a antropóloga Helen Fisher (2008) desenvolveu um experimento com pessoas que se declaravam apaixonadas, na tentativa de compreender que vias de neurotransmissores eram ativadas durante esse estado emocional. Em seu experimento, Fisher demonstrou que vias relacionadas com os neurotransmissores dopamina, testosterona e ocitocina são ativadas em momentos diferentes desde a atração, até a criação de laços, e que são vias interligadas, mas independentes. A partir dessa pesquisa, retoma os conceitos de Seleção Sexual de Darwin e o de ornamentação como forma de atração de Miller, e de como esses dois conceitos podem ser explicados, unidos e justificados pela ativação de circuitos cerebrais específicos levando ao impulso para o acasalamento. Sua conclusão é de que existe um impulso sexual que contribui para o acasalamento, para a criação de laços entre homens e mulheres e para a xl perpetuação das espécies, estando documentados em outros mamíferos e indicando uma base bioquímica para o comportamento sexual. Na formação de pares para a criação dos filhos, Miller (2000) sugere, a partir da análise de várias características físicas, que nossa espécie seria monogâmica temporária: homens e mulheres permanecem juntos pelo tempo de criação dos filhos. Essa sugestão é corroborada pelos resultados de Fisher (2008). Ela argumenta que no impulso para o acasalamento ocorre a interligação de três vias principais e independentes dos neurotransmissores dopamina, testosterona e ocitocina. Nesse comportamento, a dopamina estaria diretamente relacionada com a atração inicial por um potencial parceiro, a testosterona estaria relacionada com o desejo sexual e a ocitocina com a criação de laços entre homens e mulheres. Logo, durante a reprodução, nosso cérebro é capaz de atos de desperdício com o objetivo de atrair parceiros, ao mesmo tempo em que o cérebro do suposto pretendente deve ser capaz de perceber, avaliar e produzir respostas. E, como Fisher (2008) deixa bem claro, existem circuitos neuronais que são ativados e que estão fundamentalmente relacionados com o comportamento descrito acima. Porém, muitos estudiosos das ciências sociais e humanas (sociólogos, antropólogos, psicólogos, etc.) sustentam que as diferenças de gêneros são socialmente construídas, ou seja, que meninos brincam de carrinho e meninas de boneca, pois eles são instruídos, educados e ensinados a fazerem isso. As diferenças com que os pais tratariam as filhas e os filhos seriam a verdadeira causa das diferenças psicológicas que encontramos entre mulheres e homens, principalmente diante de um possível parceiro sexual. Entretanto, ao longo do século XX foi notória a mudança nas relações sociais estabelecidas entre homens e mulheres. O psicólogo Steven Pinker (2004) indica que a expansão do círculo moral, o progresso tecnológico e econômico e o movimento feminista foram fundamentais para que as discussões e mudanças ocorressem. Essas discussões deflagraram diversos questionamentos sobre o que seria ou não inato à natureza humana, especificamente em relação às diferenças entre homens e mulheres. Em diversos momentos a discussão pendeu para a tentativa de se estabelecer o que é totalmente inato e o que é totalmente social no que se refere aos diversos comportamentos humanos. Esse tipo de discurso foi muito utilizado pelas feministas de gênero, no que se refere às supostas diferenças xli encontradas entre homens e mulheres, e, para elas, todas as diferenças encontradas são socialmente construídas a partir do nascimento. Essa polarização faz com que muitas vezes as discussões tornem-se improdutivas e, como destaca Pinker “(...) não existe incompatibilidade entre os princípios do feminismo e a possibilidade de que homens e mulheres não sejam psicologicamente idênticos” (2004, p.460). Esse autor continua sua defesa indicando que não considerar as diferenças biológicas entre os sexos é limitar a aplicação da evolução, genética e neurociência na compreensão da história de nossa espécie, ou seja, “desconsiderar o gênero seria desconsiderar uma parte fundamental da condição humana” (PINKER, 2004, p.461). Sendo assim, o que pretendemos é contribuir também para uma discussão que una os avanços das áreas sociais com os da biologia, em particular dos estudos relacionados com a evolução de nossa espécie, entendendo que se somos diferentes, não devemos ser tratados com igualdade e sim com equidade (PINKER, 2004). Após essa apresentação, mostrando as diferenças entre os conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual, vamos apresentar questões relacionadas com a necessidade de se ensinar a Teoria Evolutiva para uma abordagem mais completa das Ciências Biológicas, apresentando também as dificuldades quando se trata do ensino de tal tema. Além disso, iremos justificar porque escolhemos abordar também aspectos da evolução humana, mesmo sabendo que esse é um tema muitas vezes polêmico. 2.3 ENSINO DE EVOLUÇÃO2 Estamos partindo da premissa de Gould (1999) e de Rutledge e Sadler (2007) de que a evolução por seleção natural é um dos conceitos da biologia mais conhecidos, ao mesmo tempo em que é um dos menos compreendidos. Gregory e Ellis (2009) destacam que numerosos estudos, nas últimas três décadas, revelaram um grande nível de conceitos errados em relação aos princípios evolutivos, em diferentes grupos, como americanos, canadenses, europeus e etc., 2 A busca por artigos científicos nacionais e internacionais sobre o tema foi feito no Portal Capes. Incluímos, além das entradas com os termos evolução, teoria evolutiva e seleção natural, como opções de busca: ensino + seleção sexual; estratégias de ensino + seleção sexual; atividades didáticas + seleção sexual; sexual selection + education; sexual selection + teach; sexual selection + teaching estrategies; e sexual selection + teaching activities. Para as entradas com o termo seleção sexual, não foi encontrado nenhum artigo científico. xlii e de diferentes níveis de escolaridade, como alunos e professores da Educação Básica e alunos da Educação Superior. Para Mayr (2008), o fracasso em compreender a biologia aparece frequentemente nos meios de comunicação, seja o assunto o ensino da evolução, as medidas da inteligência, a possibilidade de detectar vida extraterrestre, a extinção das espécies ou os riscos do tabagismo (p.10). Essa dificuldade não está relacionada apenas a obstáculos nas crenças religiosas, mas em visões seculares, como o essencialismo (visão tipológica), ideias teleológicas, etc. E, embora a Teoria Evolutiva tenha sido finalmente aceita na década de 1930, muitas pessoas continuam tendo dificuldades em entender como ela opera (PRINOU et al., 2011). Por outro lado, diversos autores têm destacado a importância de se abordar a Teoria Evolutiva como uma das grandes teorias da biologia, inclusive porque essa perspectiva é utilizada por cientistas que trabalham nesse campo de conhecimento (ANDREWS et al., 2011). Nesse caso, podemos citar o artigo de Carvalho et al. (2011) em que os autores sugerem que existem cinco teorias principais na biologia, que permitem a conexão entre as diversas áreas dessa ciência. São elas: Teoria Celular; Teoria dos Organismos; Genética; Ecologia; e Teoria Evolutiva. Além disso, a Teoria Evolutiva, por integrar as causas próximas e últimas na explicação da biodiversidade “deveria ter papel mais estruturador no ensino de biologia” (CARVALHO et al., 2011, p.81). A importância da Teoria Evolutiva está relacionada com uma perspectiva dinâmica dos seres vivos; com o teor revolucionário da ideia de adaptação e porque “Darwin foi um extraordinário observador das espécies, de sua morfologia e de suas relações com outras espécies em determinados ambientes, inclusive sobre o papel da seleção sexual” (AGNOLETTO e BELLINI, 2012, p.14). Darwin também “fundamentou-se na capacidade de adaptação dos seres a esses ambientes, levando em conta o papel do acaso e do tempo” (AGNOLETTO e BELLINI, 2012, p.14). Autores como Baumgartner e Duncan (2009) também abordaram em seu artigo sobre ensino de biologia, o quanto a biologia evolutiva é um princípio central das Ciências Biológicas. Esses autores também sugerem que para entender a seleção natural, é necessário que os conceitos que suportam esse processo também sejam entendidos, sendo eles: variação populacional, mutação e base genética da diversidade e pressões seletivas do ambiente. xliii Já Tidon e Lewontin (2004) extrapolam a percepção da importância da biologia evolutiva para outras áreas, ou seja, que é possível relacioná-la com outros conhecimentos como sociologia, matemática e ciência da computação. Sendo assim, “um entendimento completo da teoria evolutiva é um pré-requisito para participação em qualquer debate que inclua temas em biologia” (DIJK, 2009, p.259, tradução nossa). Em função de existirem diversos textos acadêmicos que mostram a importância de se ensinar a Teoria Evolutiva, decidimos procurar documentos que corroboram essa percepção. O primeiro deles (FUTUYMA, 2002) foi organizado por pesquisadores americanos que trabalham com aspectos experimentais e conceituais da Teoria Evolutiva e, nesse documento, os autores indicam que a Teoria Evolutiva é um dos pilares centrais das Ciências Biológicas e que deve ser o eixo integrador das diversas áreas dessa ciência, pois permite uma maior associação dos diversos conhecimentos, contribuindo para a tomada de decisões mais realistas. Em função de seu caráter essencial, a Teoria Evolutiva deve ser ensinada de forma eficiente desde os primeiros anos da Educação Básica. Os outros dois documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006), documentos que regulam a educação brasileira. Os documentos indicam claramente que o ensino do tema deve ocorrer desde os primeiros anos da Educação Básica. No caso específico do Ensino Médio, em que esse tema é abordado de forma mais detalhada, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) “consideram que há um conjunto de conhecimentos que são necessários ao aluno para que ele compreenda a sua realidade e possa nela intervir com autonomia e competência” (BRASIL, 2006b, p.19). O PCN+ propõe que esse conjunto de conhecimentos pode ser organizado em seis sistemas estruturadores: Interação entre os seres vivos; Qualidade de vida das populações humanas; Identidade dos seres vivos; Diversidade da vida; Transmissão da vida, ética e manipulação gênica; Origem e evolução da vida (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2006b). Para o PCNEM (BRASIL, 2006a) é no sexto grupo que “(...) são tratados temas dos mais instigantes para o ser humano, que, desde sempre, tem procurado compreender as origens da vida, da Terra, do Universo e dele próprio” (p.47). Esses são conteúdos com grande significado científico e também xliv filosófico, o que leva o aluno a confrontar diferentes explicações científicas, religiosas e mitológicas, de diferentes épocas. Para o nosso propósito é importante destacar que quando as unidades temáticas são desmembradas no PCN+ é clara a referência à Seleção Natural como fator importante para a evolução das espécies, mas em nenhum momento é incluída a ideia de Seleção Sexual. Autores como Tidon e Vieira também destacam a importância de se ensinar de forma adequada a Teoria Evolutiva, pois para que aprender biologia não seja comparável a colecionar selos, os alunos devem aprender evolução ao longo da educação básica na forma de uma grande argumento, com as premissas antecedendo as conclusões num todo coerente que tem seu desfecho na competência de compreender Darwin, Alfred Wallace e um panorama geral da síntese neodarwinista (2009, p.4). Entretanto, pesquisas na área de ensino de evolução indicam que apesar de a Teoria Evolutiva ser considerada um dos pilares das Ciências Biológicas ela também não é abordada de forma adequada em livros didáticos (ROMA e MOTOKANE, 2009; NICOLINI et al., 2010), instrumento de consulta de professores e alunos. Além disso, esse tema também pode ser tratado de forma rápida ou até mesmo suprimido da sala de aula. Muitas vezes ocorrem o uso de erros conceituais graves e as dificuldades não apresentam distinção entre professores e alunos (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011). Por exemplo, Alters e Nelson (2002) indicam que os principais obstáculos para o entendimento dessa teoria são: pensar que é o próprio ambiente (ao invés das mutações genéticas, da recombinação dos genes e a seleção natural) que causa as mudanças ao longo do tempo; a não percepção da importância das variações genéticas no processo evolutivo, pois sem elas esse processo não ocorreria; e o não entendimento de que a evolução são variações nas proporções de indivíduos com características discretas. Autores como Crawford et al. (2005), Bardapurkar (2008), Shtulman e Schulz (2008), Gregory e Ellis (2009), Tidon e Vieira (2009), Andrews et al. (2011) e Prinou et al. (2011) apontam que um dos problemas persistentes é a visão Lamarckista da evolução, ou seja, de que a evolução acontece em função de uma xlv necessidade ou através do uso e desuso de partes do corpo; que esse processo é direcional e progressista, ocorrendo em indivíduos ao invés de populações. Outros erros comuns são as explicações teleológicas, ou ainda uma visão essencialista dos indivíduos. Já Nehm et al. (2012), consideram que o fraco entendimento da Teoria Evolutiva pode ser atribuído a um conjunto de fatores cognitivos, epistemológicos, religiosos e emocionais, sendo necessária a criação de ferramentas que possam avaliar essas dificuldades. E Alters e Nelson (2002) indicam que existem confusões com o termo teoria e confusão ou rejeição com a factualidade da evolução; e que as salas de aulas não tem sido suficientemente efetivas no ensino desse tema. Ingram e Nelson (2006) mostraram que a conclusão de diversos estudos é que “rejeitar a evolução traz sérias consequências para o ensino de biologia” (p.9, tradução nossa). Entretanto, segundo as conclusões desses autores, aceitar a Teoria Evolutiva não significa que sua aprendizagem será mais fácil ou efetiva. Esses dados também foram encontrados por Prinou et al. (2011), em que embora os alunos aceitem a evolução biológica, eles não usam o conceito de seleção natural em suas explicações sobre a diversificação das espécies, e sim explicações pré-Darwinianas. Em função dessas dificuldades, a maioria dos estudantes deixa a escola acreditando que as mudanças evolutivas ocorrem de acordo com as necessidades, que a espécie humana é o ápice da evolução, que ocorre a herança das mudanças fenotípicas, não ocorre a distinção entre indivíduos e espécies na descrição do processo seletivo, dentre outros erros (BRUMBY, 1984; FERRARIO e CHI, 1998; WAIZBORT, 2001, BAUMGARTNER e DUNCAN, 2009). Porém, um dos grandes problemas, como apontado por Crawford et al. (2005), é que diversos autores tem feito propostas de ensino, com instrumentos diferenciados e grupos também diferentes, e os resultados têm sido os mesmos: “a persistência de visões não científicas sobre um dos principais e centrais guias em ciência, a evolução através da seleção natural” (p.633, tradução nossa). Então, usando os referenciais que indicam as dificuldades com o tema evolução, em conjunto com os referenciais que demonstram o interesse pelo tema comportamento por diferentes grupos de alunos; considerando também que a Teoria Evolutiva é um dos pilares das Ciências Biológicas e que pode contribuir para o entendimento da evolução de nossa espécie; decidimos desenvolver xlvi atividades que abordem os conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual para um ensino mais abrangente da Teoria Evolutiva, usando aspectos da evolução de nossa própria espécie. A inclusão do conceito de seleção sexual é uma tentativa de relativizar a ideia equivocada de que a Seleção Natural explica todas as características físicas e comportamentais dos indivíduos de todas as espécies de seres vivos. Nossa proposta é integrar essa conceituação, formulada por Charles Darwin e que ficou “esquecida” durante o século XX, sendo retomada por estudiosos da Evolução no final do século XX (CRONIN, 1995), ao que é ensinado sobre a Teoria Evolutiva, mais especificamente sobre o conceito de Seleção Natural, que é um dos elementos mais bem conhecidos e mais mal compreendidos dessa teoria (GOULD, 1987). A escolha por incluir a nossa espécie nessa discussão se baseou nas pesquisas de Silva-Porto (2008) e Pobiner (2012) que mostraram que os temas comportamento humano e reprodução interessam a estudantes de diversas faixas etárias. Além disso, DeSilva (2004) sugere que a evolução humana deve ser abordada em sala de aula, pois permite discutir, assim como qualquer teoria científica, conceitos como hipótese, fato, teoria e crença, além de possibilitar mostrar o dinamismo da ciência através de descobertas recentes sobre a nossa evolução. Entretanto, o autor destaca que apesar de curioso, esse é um tema que causa polêmica. Como indicam Lopes e Vasconcellos (2008), a psicologia evolutiva deve ser usada, pois “preocupa-se com o que os antepassados do homem teriam lhe deixado, como herança biológica, sobre o seu funcionamento mental” (p.123-124) e comportamentos associados a ele. O artigo de Besterman e Velle (2007) também deixa claro que, no ensino de evolução, o maior desafio é despertar o interesse e motivação dos alunos para compreender os princípios da teoria evolutiva, e é aí que o tema da evolução humana pode desempenhar um papel significativo (p.78, tradução nossa). Sendo assim, o grupo escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa foi o de futuros professores de Ciências e Biologia, pois são eles que terão que abordar o tema em suas aulas da Educação Básica. A escolha desse grupo também se baseia no artigo de Tidon e Lewontin (2004), em que ocorreu a xlvii percepção de que conhecimentos sobre a biologia evolutiva é inacessível para muitas pessoas, incluindo os professores, que deverão ser os transmissores desse conhecimento. E, como indicado por Nehm e Reilly (2007), “estudantes aprendem melhor através de participação ativa no processo de ensino-aprendizagem” (p.264, tradução nossa), por isso a decisão de desenvolver atividades que tinham como objetivo o questionamento de processos evolutivos, nas quais os alunos teriam que pensar em hipóteses para explicar o surgimento das características apresentadas nas atividades. xlviii CAPÍTULO 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Inserir o conceito de Seleção Sexual nas discussões sobre a Teoria Evolutiva, na disciplina Evolução, de um curso de graduação público semipresencial em Licenciatura em Ciências Biológicas, a fim de tentar facilitar a compreensão dos mecanismos evolutivos por esses alunos. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Caracterizar a inserção do conceito de Seleção Sexual em livros didáticos do Ensino Médio; Caracterizar os conceitos de evolução que permeiam essa graduação através da análise dos módulos didáticos que os alunos dessa graduação recebem para estudo; Analisar as concepções dos processos evolutivos dos alunos dessa graduação através das respostas de provas presenciais da disciplina Evolução; Desenvolver atividades didáticas que contribuam para esclarecer as diferenças e semelhanças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual; Discutir a eficácia das atividades didáticas na disciplina Evolução dessa graduação. xlix CAPÍTULO 4 CONTEXTO DA PESQUISA E METODOLOGIA 4.1 CONTEXTO DA PESQUISA O presente estudo foi desenvolvido em uma graduação pública semipresencial do estado do Rio de Janeiro. Essa graduação é um consórcio das seis universidades públicas do estado do Rio de Janeiro3 e tem como objetivo principal a interiorização de um ensino superior gratuito e de qualidade. Uma importante justificativa para a existência desse consórcio se encontra nas palavras de Abreu e colaboradores (2007), pois a impossibilidade de formação profissional fora dos centros urbanos, num país de grandes dimensões como o nosso, foi, desde sempre, uma das grandes causas – embora pouco lembrada – da perspectiva da exclusão social que tem estado no âmago do processo de desenvolvimento social do nosso país (p.1). Nesse caso, a EaD é a modalidade de ensino-aprendizagem mais apropriada para reduzir as distâncias e os isolamentos geográficos, psicossociais, econômicos e culturais, caracterizando uma nova revolução na democratização do conhecimento (SANTOS, 2006, p.4). Então, para que tal interiorização ocorra, o consórcio se organiza em polos localizados em municípios do estado do Rio de Janeiro e atualmente conta com 34 polos4. Sendo que 175 deles possuem o curso de graduação de Licenciatura em Ciências Biológicas. Os polos devem oferecer apoio administrativo e acadêmico aos alunos, ser equipado com laboratórios de computadores em rede, com acesso a 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Disponível em: http://www.cederj.edu.br. 4 Angra dos Reis, Barra do Piraí, Belford Roxo, Bom Jesus do Itabapoana, Campo Grande, Cantagalo, Duque de Caxias, Itaguaí, Itaocara, Itaperuna, Macaé, Magé, Maracanã, Miguel Pereira, Natividade, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Piraí, Resende (FAT/UERJ), Resende (Centro), Rio Bonito, Rio das Flores, Rocinha, Santa Maria Madalena, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana, São Gonçalo, São Pedro da Aldeia, Saquarema, Três Rios e Volta Redonda. Disponível em: http://www.cederj.edu.br. 5 Angra dos Reis, Bom Jesus do Itabapoana, Campo Grande, Duque de Caxias, Itaocara, Itaperuna, Macaé, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, Piraí, Resende (FAT/UERJ), São Fidélis, São Francisco de Itabapoana, Três Rios e Volta Redonda. Disponível em: http://www.cederj.edu.br. l Internet, contar com salas para encontros presenciais e laboratórios para realização de tutorias experimentais, espaços pedagógicos para os estágios supervisionados e outras estratégias (COSTA, 2007, p.10). Além de incluírem horários flexíveis para os alunos, como à noite e aos sábados. O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas está previsto para ser cursado em 10 períodos, podendo o aluno cursar em no máximo 15 semestres. O aluno obterá o diploma da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ou Universidade do Norte Fluminense (UENF), dependendo do polo que estiver matriculado. Na matriz curricular do curso consta que o aluno deverá cursar 47 disciplinas obrigatórias, duas optativas pedagógicas, duas optativas de instrumentação em ciências biológicas e três optativas gerais. A organização de cada disciplina é feita por um coordenador que é professor doutor de uma das universidades consorciadas. O coordenador é responsável pela produção do cronograma, ementa, aulas práticas (se houver) e das avaliações, à distância e presencial, a cada período. Além disso, deve dar capacitações para os tutores, tanto presenciais, quanto à distância, pois são eles que fazem a ponte entre os alunos e os coordenadores, estando em contato direto com ambos (COSTA, 2007). Essa graduação também pode ser caracterizada como modelo WEB, em que o conteúdo é disponibilizado pela Internet e por CD ou DVD também. Além do material na WEB, os alunos costumam ter material impresso por disciplina ou módulo. Os ambientes principais de aprendizagem são o Moodle, o Blackboard e o Teleduc (MORAN, 2009, 287). Porém, como essa graduação apresenta a característica de ser semipresencial, existem os tutores, presenciais e à distância, que possuem algumas funções distintas. As tutorias presenciais se caracterizam pelo contato individual ou em grupo com os alunos, que possuem dúvidas em relação ao conteúdo, avaliações ou estrutura do curso, exercendo sua função no polo, em horário pré-definido (BARBOSA e REZENDE, 2006; COSTA, 2007). Com isso, as tutorias presenciais se caracterizam como mais uma ferramenta de auxílio no estudo dos alunos, pois os tutores devem tirar as dúvidas que se apresentam, mas não devem ministrar aulas. li Outra função desses tutores é a execução das aulas práticas, se a disciplina contar com essa atividade. As aulas práticas são sempre aos sábados, de acordo com o cronograma de práticas. Por fim, são também os tutores presenciais que corrigem as avaliações à distância entregues pelos alunos. As tutorias à distância podem ser realizadas por diversos meios, sendo o telefone o mais comum, pois além de funcionar como uma forma de tirar dúvidas sem deslocamento, também pode operar como uma estratégia para superar a sensação de solidão do aluno (BARBOSA e REZENDE, 2006; COSTA, 2007), que é um dos fatores que contribui para o sentimento de inadequação, insegurança e falta de confiança em si, podendo comprometer a permanência do aluno no curso (LAGUARDIA e PORTELA, 2009). No caso desse consórcio, os tutores à distância ficam nas universidades em que suas disciplinas estão vinculadas e possuem um horário de plantão, em que tiram dúvidas dos alunos que ligam através de um número telefônico gratuito (0800) ou pela sala de tutoria, via plataforma virtual6. Por ser uma graduação semipresencial, a comunicação é feita basicamente por uma plataforma virtual, chamada também de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) (GAMEIRO et al., 2011) que além de conter todas as informações dos cursos, possuem quadros de avisos dos cursos e dos polos. Na plataforma estão as salas das disciplinas com as informações específicas de cada uma, que os alunos têm acesso a partir do momento que se matriculam na mesma. Além disso, existem formas de comunicação como e-mail, fóruns e salas de tutoria que são mais ferramentas para que o aluno use em seu estudo e aprofundamento do conteúdo. A composição da nota em cada disciplina ocorre, basicamente, a partir de duas Avaliações à Distância e até três Avaliações Presenciais por semestre. As avaliações à distância são elaboradas pelos coordenadores das disciplinas e postadas na plataforma. Os alunos têm um prazo de, em média, até três semanas 6 A plataforma Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é um sistema de gerenciamento de aprendizagem utilizado nas principais instituições de Educação a Distância em todo o mundo. Ela possibilita a criação de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), baseados na utilização de ferramentas de comunicação e colaboração constante entre os alunos e desses com seus tutores e professores. A plataforma Moodle permite o desenho de ambientes virtuais de aprendizagem com essas características, por meio do envio e compartilhamento de materiais de estudo, criação de fóruns e salas de bate-papo, testes e pesquisas de opinião, coletar, corrigir e revisar tarefas enviadas em documentos de texto, criação de wikis, blogs, criação e aplicação de questionários, e utilização de objetos educacionais como vídeos, imagens, animações, entre outros (Haguenauer, C.J. et al. Ambientes Virtuais de Aprendizagem: Definições e Singularidades. Revista digital Educaonline – UFRJ. Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, 2009). lii para realizar as avaliações e entregá-las no polo de origem para correção. Essa avaliação tem peso dois na média e normalmente são corrigidas pelos tutores presenciais usando um gabarito elaborado pelo coordenador da disciplina. Eventualmente as avaliações são enviadas para a coordenação para que uma revisão da correção seja feita pelos tutores à distância ou pelo coordenador. As avaliações à distância não são obrigatórias. As avaliações presenciais possuem caráter obrigatório e são realizadas nos polos em finais de semana, no meio e no final do período letivo. Essas avaliações possuem peso oito e, após serem realizadas, são enviadas para as coordenações para que sejam corrigidas. O aluno que obtiver média seis estará aprovado na disciplina. Não atingindo essa pontuação, o aluno poderá realizar a avaliação presencial três, que pode ser tanto uma prova final, como de segunda chamada e, nesse caso, a nova média a ser alcançada deverá ser de cinco pontos. Para finalizar, quase todas as disciplinas da graduação possuem aulas práticas que são elaboradas pelos coordenadores, mas realizadas nos polos pelos tutores presenciais, estando determinadas a data e a hora no cronograma de práticas elaborado a cada início de período. Na maior parte das vezes as aulas são obrigatórias, podendo o aluno se ausentar em apenas 25% delas, tendo como consequência a reprovação por falta. Normalmente as aulas não possuem nenhum tipo de pontuação, embora alguns coordenadores solicitem a entrega de relatórios que poderão ser ou não pontuados. Algumas disciplinas também estão começando a utilizar estudos dirigidos que são mais uma ferramenta de estudos, e, eventualmente, também poderão ser pontuados. 4.2 DESENHO METODOLÓGICO Como descrito anteriormente, esse estudo foi desenvolvido em uma graduação semipresencial com o objetivo geral de desenvolver uma estratégia de ensino para tentar auxiliar os alunos na compreensão dos principais conceitos da Teoria Evolutiva. Para que tal estratégia pudesse ser desenvolvida, selecionamos diversas formas de obter dados, que julgamos pertinentes de serem utilizadas nas discussões a que essa pesquisa se propos. Sendo assim, iremos descrever quais foram esses dados e como foram analisados. liii 4.2.1 Livros didáticos do Ensino Médio Em relação aos livros didáticos do Ensino Médio, estávamos interessados em caracterizar quais são os conceitos da Teoria Evolutiva que são abordados nesses livros, pois nos permitiria entender quais são os possíveis conceitos aprendidos pelos alunos após cursarem o Ensino Médio. Além disso, entendemos que para que a Teoria Evolutiva seja compreendida de forma satisfatória, o indivíduo deve perceber que essa teoria é formada por vários conceitos que estão interligados, como demonstramos anteriormente, a partir da abordagem de Mayr (2008). E, embora o livro didático possa e deva ser utilizado como elemento auxiliador, sabemos que ainda ocupa uma posição bastante central de consulta, tanto por professores quanto por alunos. Pensando nessa questão, foi criado o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), que busca a melhoria da qualidade dos livros utilizados nas escolas. Esse programa do Ministério da Educação avaliou algumas obras e indicou nove livros que deveriam fazer parte de uma lista que ficaria disponível para os professores como referência para o período de 2007-2009 e que usamos como base para a escolha dos livros que avaliamos. Os livros indicados pelo PNLEM foram: Adolfo, Crozetta e Lago (2005); Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005); Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005); Paulino (2005). Analisamos sete obras no que se refere a apresentação e discussão dos seis conceitos que formam a Teoria Evolutiva, com especial ênfase ao conceito de Seleção Sexual, sendo eles: Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005); Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005). Os dados foram gerados a partir de uma regra de três simples, na qual o total do número de página do livro (Volume Único) ou dos livros (séries com três volumes) correspondia a 100% e servia de base para acharmos a porcentagem correspondente ao número de páginas que abordava os conceitos darwinianos da Teoria Evolutiva. liv Também foi feita uma leitura das seções referentes à Teoria Evolutiva, que foram selecionadas a partir do sumário de cada livro, com o objetivo de caracterizar quais são os conceitos darwinianos apresentados nesses livros. Em relação ao conceito de Seleção Sexual, foi realizada uma análise mais detalhada, dos livros em que esse conceito foi abordado. Nesse caso, calculamos, a partir de uma regra de três simples, a porcentagem da área dedicada ao conceito de Seleção Sexual em relação à área total correspondente à Unidade Evolução, em cada livro, sendo incluídas as áreas que continham textos, figuras, exemplos, gráficos, exercícios e etc., em cada página. Também foi feita uma avaliação qualitativa do conceito de Seleção Sexual exposto em cada livro em relação ao referencial teórico de nossa tese. 4.2.2 Módulos Didáticos A graduação em questão não possui aulas presenciais, pois está organizada como uma graduação semipresencial, como descrito anteriormente. Como material de estudo relacionado com o cronograma de cada disciplina, os alunos recebem gratuitamente módulos didáticos. Os módulos possuem uma linguagem menos formal, pois devem se aproximar do que seria uma aula presencial e foram escritos por coordenadores antigos ou atuais das disciplinas, mas que são professores que ministram na graduação presencial das universidades consorciadas aulas de disciplinas relacionadas. É importante ressaltar que, assim como em um sistema presencial, o módulo não pretende cobrir todo o conteúdo e para se aprofundar em determinado tema o aluno deve procurar livros e artigos para estudo. Cabe destacar que todos os polos possuem bibliotecas com livros atualizados das mais diversas áreas das Ciências Biológicas. Como um dos objetivos dessa tese é caracterizar as conceituações que os alunos possuem sobre a Teoria Evolutiva, achamos necessário sintetizar o que os módulos trazem sobre esse tema. Isso ocorre porque diversas disciplinas, que não Evolução, indicam em suas ementas que abordarão conceitos da Teoria Evolutiva ou que usarão a mesma como eixo integrador de seus próprios conceitos. lv Em função disso, quando os alunos se matriculam na disciplina Evolução, que é uma disciplina de final de curso, os mesmos já estiveram em contato com conceitos da Teoria Evolutiva e já deveriam possuir um determinado corpo de conhecimento pessoal sobre a mesma. Sem contar que esse também é um tema previsto na Educação Básica. Então, essa análise permitiu avaliar qual é o tipo de conceituação da Teoria Evolutiva que permeia essa graduação. Para sabermos que tipos de conceitos eram esses, escolhemos as disciplinas que indicavam em suas ementas que abordavam a Teoria Evolutiva para analisarmos e formularmos uma conceituação geral por disciplina. As disciplinas escolhidas foram: Grandes Temas em Biologia; Diversidade dos Seres Vivos; Elementos de Ecologia e Conservação; Introdução à Zoologia; Populações, Comunidades e Conservação; e Evolução (ANEXO I). A análise dos módulos foi descritiva e interpretativa (COSTA e COSTA, 2009), à luz dos referenciais teóricos que adotamos como sendo condizentes com as questões mais atuais das conceituações da Teoria Evolutiva. Nesse caso, usamos a ideia de resgate dos conceitos estruturantes (CARVALHO et al., 2011; PEREIRA et al., 2012) que formam a estrutura do pensamento evolutivo dessa graduação. Nesse caso, utilizamos a definição de Gagliardi (1986) em que o conceito estruturante “é um conceito cuja construção transforma o sistema cognitivo, permitindo adquirir novos conhecimentos, organizar os dados de outra maneira, transformar inclusive os conhecimentos anteriores” (p.31, tradução nossa). Ou seja, “não são novos temas em um programa e sim objetivos gerais que permitem construir novos conhecimentos” (p.32, tradução nossa). 4.2.3 Provas de Evolução Como descrito nos objetivos, foi feita, além da caracterização dos módulos, a análise de provas já realizadas na disciplina Evolução, o que permitiu a escolha de que caminho tomar para a elaboração das atividades didáticas. Os módulos nos ajudaram na caracterização dos conceitos da Teoria Evolutiva que são discutidos ao longo desse curso de graduação. Já as provas arquivadas, em lvi função do padrão das questões não ter mudado muito ao longo dos semestres, permitiram caracterizar as perguntas frequentes que são feitas pelo coordenador da disciplina e os acertos ou erros referentes às respostas dos alunos. Por ser tutora presencial desse consórcio há cinco anos, trabalhando há mais de três anos com a disciplina Evolução, senti a necessidade de caracterizar quais eram os erros mais comuns, as maiores dificuldades encontradas pelos alunos nas avaliações presenciais dessa disciplina. Essa também foi uma forma de formalizar e entender melhor as dificuldades que eu percebia como sendo recorrentes. Por isso, a decisão de analisar as provas que estavam arquivadas. Para o entendimento de como foram escolhidas as questões para análise, é importante destacar que a disciplina Evolução se baseia na genética de populações, ou seja, a análise dos processos que fazem aparecer novas variantes dos genes, os alelos, e também a análise dos eventos que levam à alteração das frequências gênicas ao longo do tempo. Sendo assim, os alunos devem aprender a calcular as frequências gênicas, genotípicas e as heterozigozidades de uma população, analisando se a população está ou não em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Os alunos também devem entender como as mutações, a deriva gênica, a seleção natural, a migração e o endocruzamento atuam na alteração das frequências dos alelos ao longo do tempo. Nas avaliações presenciais os alunos devem responder questões que abordem os temas acima descritos, incluindo questões que envolvam cálculos matemáticos, de definição de conceitos ou de análise de situações. Normalmente as provas possuem mais de cinco questões e os alunos devem escolher quatro ou cinco para responder. Os alunos podem fazer até três avaliações presenciais por semestre e as avaliações ficam arquivadas com os coordenadores das disciplinas, nos polos ou nas coordenações de curso, por até cinco anos, não sendo devolvidas de nenhuma forma aos alunos. Em função do arquivamento das provas não estar em apenas um local, usamos para análise os semestres que conseguimos o maior número de provas por polos (2008-1, 2008-2, 2009-1 e 2009-2). Apesar do curso de Ciências Biológicas estar presente, atualmente, em 17 polos, o número de alunos inscritos na disciplina em cada polo variava bastante. A tabela abaixo (Tabela 4.1) indica lvii as questões escolhidas em cada semestre, o número de polos e o número de alunos inscritos na disciplina Evolução: Tabela 4.1 – Questões escolhidas, número de polos e número de alunos inscritos na disciplina Evolução Ano Semestre Número de polos 2008 I 13 2008 II 14 2009 I 12 2009 II 15 Questões AP1 – Q7 AP2 – Q5 AP3 – Q2 AP1 – Q10 AP2 – Q6 AP3 – Q2 AP1 – Q5; Q7; Q9 AP2 – Q4 AP3 – Q2 AP1 – Q7 AP2 – Q2 Número de alunos inscritos 110 103 128 172 Como nosso objetivo era saber como os alunos respondiam as questões que estavam relacionadas com a Teoria Evolutiva Darwiniana, escolhemos em cada prova as questões que tratavam sobre as conceituações ou situações que envolviam a seleção natural e/ou a seleção sexual e transcrevemos cada uma dessas questões para análise. Essa etapa permitiu uma caracterização preliminar de como os alunos dessa graduação estão adquirindo e utilizando os conceitos da Teoria Evolutiva. Em cada prova foram escolhidas as seguintes questões: AP1-2008-1: Questão 7 - “Quando surgiu a penicilina praticamente todas as infecções bacterianas passaram a ser facilmente controláveis. No entanto, depois de algum tempo a penicilina deixou de ser um antibiótico universal, devido ao aparecimento de resistência nas bactérias a esse antibiótico. Novos antibióticos foram, então, desenvolvidos, mas para cada antibiótico, depois de um tempo, aparecem formas resistentes. Explique esse processo evolutivamente, mostrando que forças evolutivas devem estar ocorrendo nessas populações bacterianas.” AP2-2008-1: Questão 5 – “Todos os caracteres dos seres vivos existem por algum motivo. Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como uma camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o espírito adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua coloração.” lviii AP3-2008-1: Questão 2 – ““Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você usaria para conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa posição.” AP1-2008-2: Questão 10 - “O que é Seleção Natural?” AP2-2008-2: Questão 6 – “Todos os caracteres dos seres vivos existem por algum motivo. Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como uma camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o espírito adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua coloração.”7 AP3-2008-2: Questão 2 - “Por que não podemos dizer que uma bactéria é menos evoluída que um ser humano?” AP1-2009-1: Questão 5 – “Qual a importância evolutiva da Seleção Natural?”; Questão 7 – “Qual a importância evolutiva da Mutação?”; Questão 9 – “Se, em geral, as mutações são maléficas para os organismos, porque dizemos que a mutação é uma coisa fundamental para a evolução?” AP2-2009-1: Questão 4 – “Alguns pesquisadores argumentaram que o conceito de seleção natural seria tautológico, pois “sobrevivência do mais apto” significa o mesmo que “sobrevivência do que sobrevive”. Como podemos escapar dessa circularidade?” AP3-2009-1: Questão 2 - ““Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você usaria para conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa posição?”8 AP1-2009-2: Questão 7 – “Tomar muito sol, sem proteção, é muito ruim, pois os raios UV causam mutações. Carla lembra que tomava muito sol quando era criança, sem nenhuma proteção, chegando muitas vezes a ficar com bolhas e descascar a pele, mostrando que recebeu, de fato, muita irradiação UV. Carla agora quer ter filhos, mas está com medo de que eles sejam mutantes. Ela está errada. Por que?” AP2-2009-2: Questão 2 – “Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e inter-sexual?” 7 8 Questão igual à do semestre anterior (2008-1 - AP2). Questão igual à do semestre 2008-1 (AP3). lix AP3-2009-2: Nenhuma questão foi selecionada para análise porque não abordavam aspectos conceituais da Teoria Evolutiva. A partir da leitura dos referenciais sobre a Teoria Evolutiva e fazendo uma abordagem de que o processo de Seleção Sexual é diferente do processo de Seleção Natural, e não um subtipo desse, decidimos fazer um gabarito próprio para a análise das questões escolhidas por nós em cada avaliação presencial. As respostas foram então classificadas em três categorias: corretas, incompletas ou incorretas. Os dados foram organizados em tabelas com o número absoluto de respostas por categoria. Posteriormente, as respostas foram lidas exaustivamente para que pudéssemos fazer uma interpretação dos conceitos utilizados pelos alunos para responder a cada questão (COSTA e COSTA, 2009), com o objetivo de caracterizar as ideias evolutivas que permeiam o grupo. 4.2.4 Atividades Didáticas Em função dos referenciais teóricos que indicam que existem dificuldades para compreensão da Teoria Evolutiva por diferentes grupos, inclusive por professores e alunos (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011), o objetivo principal dessa tese foi o desenvolvimento de atividades didáticas, pensando que essas atividades poderiam ser um instrumento facilitador na compreensão dos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual, a partir da perspectiva da Teoria Evolutiva Darwiniana, e dos processos que levaram à diversificação e extinção das espécies ao longo do tempo geológico. Essa atividade foi realizada em dois semestres, 2012-1 e 2012-2, estando disponível para todos os alunos inscritos na disciplina Evolução nesses semestres. A atividade foi iniciada com o envio de um e-mail que tinha dois propósitos. O primeiro deles era convidar os alunos a participarem das atividades que foram realizadas via plataforma virtual, através da ferramenta Avisos presente na página da disciplina. O segundo propósito era explicar que as atividades faziam parte de um projeto de doutorado, solicitando, com isso, que os alunos autorizassem o uso de seus dados na tese final da pesquisadora. Deixamos claro (APÊNDICE I) que os lx alunos eram livres para participarem ou não da pesquisa e quem quisesse participar deveria responder ao e-mail. A resposta foi considerada o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (COSTA e COSTA, 2009). A ideia de desenvolver atividades sequenciais se baseou na dissertação de mestrado de Santos (2002) que também criou atividades para discutir a Teoria Evolutiva com alunos do Ensino Médio. Em sua pesquisa, Santos (2002) formou um pequeno grupo de discussão, de situações-problemas que deveriam ser analisadas e propostas explicações sobre a diversificação das espécies. No nosso caso, a realização das atividades didáticas teve o propósito de discutir de forma mais aprofundada o processo de Seleção Sexual, como um contraponto em relação à Seleção Natural, demonstrando que a Seleção Natural não é suficiente para explicar toda a biodiversidade extinta e ainda existente de seres vivos e que os dois processos em conjunto são capazes de explicar tal diversidade de forma mais satisfatória. Nas atividades usamos diversos exemplos do Reino Animal, incluindo características de nossa própria espécie e sua evolução. Nesse caso, o enfoque foi dado no desenvolvimento de nosso cérebro e nos comportamentos sexuais diferenciados de homens e mulheres. Os demais dados (4.2.1, 4.2.2 e 4.2.3) contribuíram para a avaliação das atividades, uma vez que pudemos comparar as ideias que permeiam essa graduação, a partir das provas e módulos, com as novas concepções sobre evolução que poderiam surgir ou não após a utilização das atividades. As atividades foram propostas via plataforma e sempre existiram, a cada atividade, questões para serem respondidas diretamente para a doutoranda através do e-mail [email protected]. As atividades deveriam ser entendidas como mais uma ferramenta de estudo (SANTOS, 2006), pois não estavam relacionadas com novos conceitos que estariam ausentes nos módulos didáticos, e sim uma nova abordagem dos conceitos que formam a Teoria Evolutiva. Seguindo esse raciocínio, Gameira et al. (2011) destacam que as tecnologias educacionais não devem só ser atrativas e trazerem incrementos para o processo de ensino e aprendizagem, também “devem possibilitar novas formas de diálogo entre os alunos e os conhecimentos” (p.107). As atividades não eram obrigatórias e nem pontuadas, fazendo-as quem tivesse interesse em mais uma forma de estudo. A cada atividade e antes da nova lxi atividade ser proposta, a doutoranda colocava na mesma ferramenta de Avisos o que era esperado como resposta da atividade que tinha sido realizada. Ao final das atividades foi disponibilizado um texto (APÊNDICE II) para todos os alunos consultarem contendo os principais conceitos que foram abordados nas atividades. Essa era uma forma de garantir que nenhum aluno se sentisse prejudicado. Outra justificativa para a iniciativa de disponibilizar o texto é que para a obtenção de dados referentes a essas atividades foi confeccionada, em conjunto com o coordenador da disciplina, uma pergunta obrigatória que estava presente na Avaliação Presencial 2 e que se referia aos conteúdos das atividades. Normalmente os semestres possuem 16 semanas de aulas previstas no calendário. O cronograma da disciplina indica que conteúdos dos módulos os alunos devem estudar a cada semana. Começamos as atividades na semana seis, pois é quando o conteúdo de Seleção Natural deve começar a ser estudado. Foram realizadas oito atividades, uma por semana. Nas atividades os alunos deveriam ver imagens, ler textos e/ou ver trechos de filmes (APÊNDICE III) e responder a uma pergunta com prazo para envio da resposta determinado. A seguir estão os títulos das atividades e a pergunta que era feita aos alunos em cada uma: Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga pesquisadores: Olhe bem as imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças de estruturas ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram colocadas espécies que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos. Pensem sobre isso e respondam: As características que são diferentes entre machos e fêmeas estão relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua resposta. Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os gametas masculinos e femininos: Que processos podem ter contribuído para o surgimento dessas características diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a atividade anterior. Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da reprodução sexuada: Proponha uma hipótese para explicar a existência de características diferentes entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada um e o relato sobre os peixes mexicanos. Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem novas propostas para explicar a biodiversidade existente: Como surgem as variações entre os lxii indivíduos? Vocês viram, nessa atividade, diversas situações relacionadas com as características dos seres vivos. Quais situações podem ser explicadas pela Seleção Natural e quais pela Seleção Sexual? (Usar tanto as imagens, quanto os trechos de filmes). Discuta as diferenças dos dois processos. Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de homens e mulheres: Qual é a explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira? Concordam ou não com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade? Homens e mulheres querem coisas diferentes em um relacionamento? Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres possuem diferenças: Que processos podem ter contribuído para o surgimento desses comportamentos diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou experiência de vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma relação com as atividades 1, 2 e 3? Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os circuitos cerebrais e o comportamento sexual da espécie humana: Relacione a reprodução sexuada, a evolução de nossa espécie e a escolha de parceiros. Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando usados em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente: Faça uma síntese das diferenças dos processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual, exemplificando cada um. No semestre 2012-1, as questões que abordavam conceitos referentes a essa tese eram: Avaliação Presencial 1 – “Qual a diferença entre seleção intra-sexual e seleção inter-sexual?”. Essa questão foi formulada pela coordenação da disciplina e quando a avaliação presencial aconteceu os alunos já tinham feito até a Atividade 4. Por ser uma questão que aborda o tema desse projeto, decidimos transcrever as respostas e categorizá-las, como foi feito com as questões das avaliações presenciais arquivadas. Usamos o mesmo gabarito que foi usado para categorizar as respostas da Avaliação Presencial 2009-2, pois a questão era semelhante; Avaliação Presencial 2 – “Os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual fazem parte da Teoria Evolutiva formulada por Charles Darwin. Muitos teóricos evolucionistas indicam que esses dois processos, em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente. Diferencie esses dois processos, dando um exemplo de atuação de cada um” (1,0 ponto extra – questão obrigatória). Essa questão foi formulada por nós e fez parte da Avaliação Presencial 2, pois foi realizada depois lxiii das Atividades Extras terem sido finalizadas e o texto extra (APÊNDICE II) ter sido disponibilizado na plataforma. No semestre 2012-2 não foi colocada, pela coordenação da disciplina, nenhuma questão de interesse para a nossa pesquisa na Avaliação Presencial 1 e, por isso, não escolhemos nenhuma questão para análise. Novamente formulamos uma questão para a Avaliação Presencial 2, pois essa avaliação é realizada após o término das atividades. A questão foi: “A seleção sexual é um tipo de seleção natural em que caracteres que são aparentemente desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de reprodução”. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta. Essa questão foi uma questão obrigatória, mas não valia nenhum ponto extra. As respostas das perguntas formuladas por nós foram analisadas de forma qualitativa, uma vez que não estamos interessados nas notas que os alunos tiraram nas avaliações e sim o tipo de resposta que foi formulada. As respostas foram analisadas pela metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que é uma metodologia que permite caracterizar as crenças, valores, ideias de um grupo em um contexto social típico e, nesse caso, poderíamos saber como os alunos se posicionam em relação às conceituações sobre a Teoria Evolutiva. Essa metodologia se baseia na ideia de Representação Social (RS) sobre o mundo em que o indivíduo está inserido. Nesse caso, entende que as representações são formuladas a partir de questionamentos e interpretações individuais (diálogo interno) em associação com discussões com outros membros do grupo (diálogo externo), permitindo a transformação de algo não familiar em algo familiar (RYDER et al., 1999). Logo, ao estudarmos a RS de um grupo estamos investigando como ele compreende e se relaciona com o mundo; caracterizar uma representação social indica não apenas que o indivíduo entende um tema de maneira peculiar, mas, sobretudo que ele acredita, fala e compartilha aquele entendimento que possui (AGNOLETTO e BELLINI, 2012, p.15). Essa metodologia foi desenvolvida por Lefèvre e Lefèvre (2003) e permite uma análise qualitativa de respostas relacionadas com perguntas abertas, pois se baseia na concepção de que as pessoas que formam um grupo social apresentam diversas representações sobre qualquer tema que faça parte de suas comunicações. Essas representações, semelhantes ou não entre os indivíduos, é lxiv o que torna possível a comunicação entre os sujeitos do grupo e a formação de um pensamento coletivo. A premissa do DSC é a de que o sujeito tem seu próprio discurso, que fará parte de um discurso maior que representa a coletividade, pois “quando uma pessoa ou uma coletividade tem um pensamento sobre um dado tema, está-se dizendo que ela professa, ou adota, ou usa um ou vários discursos sobre o tema” (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003, p. 14). A formulação de perguntas abertas sobre o tema a ser investigado permite a expressão livre do sujeito, ou seja, não existem respostas para ele escolher, permitindo que o sujeito expresse o que sabe, acha,sente e etc. sobre o tema que está sendo pesquisado. A expressão livre dos sujeitos permite a criação de falas articuladas que se ligam aos sistemas de ideias pertencentes ao grupo. No caso da presente pesquisa, as respostas dos alunos deveriam estar relacionadas com as diversas ideias que o grupo possui sobre as conceituações da Teoria Evolutiva. O Discurso do Sujeito Coletivo formado é a representação do tema em questão e foi criado pelos diferentes discursos-síntese montados. Os discursos-síntese foram criados com a retirada de trechos de cada resposta que possuíam elementos relevantes para a caracterização das ideias sobre evolução. Os trechos que possuíssem ideias semelhantes, denominadas de Expressões-Chave (ECH), eram unidos para formar o discurso-síntese daquela ideia, sendo classificados na mesma Ideia Central (IC) (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003). Para cada resposta analisada poderiam ser retiradas uma ou mais Expressões-Chave, que poderiam estar ligadas a uma ou mais Ideias Centrais (IC), e todos os discursos-síntese unidos formaram o Discurso do Sujeito Coletivo do grupo. Também consideramos o número de alunos que fizeram cada atividade ou que indicaram terem lido o texto. O objetivo foi tentar relacionar a leitura e participação nas atividades com os discursos-síntese montados e se essa abordagem de ensino contribuiu para uma melhor compreensão dos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual, sabendo que esse é um tema de difícil apreensão, mas de fundamental importância nas Ciências Biológicas. lxv CAPÍTULO 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 CONCEITUAÇÃO SOBRE A SELEÇÃO SEXUAL EM LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO9 Um dos temas abordados pela nossa pesquisa foi a caracterização das conceituações da Teoria Evolutiva que fazem parte da Educação Básica. Como descrito anteriormente, a Teoria Evolutiva pode ser entendida como um sistema de conceitos (MAYR, 2008; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004) que em conjunto auxiliam no entendimento da história evolutiva dos grupos e da biodiversidade passada e presente da Terra. Após análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) fica claro que esse deve ser um tema central na abordagem dos diversos conceitos que fazem parte do corpo de conhecimento do que chamamos de Biologia, uma vez que os PCN+ propõem que os conhecimentos biológicos devem ser organizados em seis sistemas estruturadores, sendo Origem e evolução da vida um desses sistemas (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2006b). E, o documento Evolução, Ciência e Sociedade (FUTUYMA, 2002) ajuda a confirmar essa ideia, pois indica que ensinar a Teoria Evolutiva desde as primeiras séries da Educação Básica, não só facilita o entendimento da Biologia, como permite uma visão de mundo mais integrada com os eventos que acontecem em nosso entorno, assim como em nós mesmos, como o uso de antibióticos e a preservação das espécies. Pensando nessas questões, decidimos avaliar como a Teoria Evolutiva estava sendo abordada em livros didáticos do Ensino Médio, uma vez que o livro é um dos instrumentos auxiliadores do processo de ensino e aprendizagem, sendo utilizado tanto por professores, quanto por alunos (ROMA e MOTOKANE, 2009). 9 Os primeiros resultados desse trabalho foram apresentados no III Encontro Nacional de Ensino de Biologia, IV Encontro Regional de Ensino de Biologia da Regional 5, V Congresso Iberoamericano de Educación en Ciencias Experimentales, com o título A necessidade da inserção do conceito de Seleção Sexual nos livros didáticos do Ensino Médio com o objetivo de abordar a Teoria Evolutiva de forma mais integrada. Após a apresentação nesse Encontro e em função de alguns comentários em relação à metodologia, repensamos a mesma, refizemos a análise dos resultados e o novo trabalho foi submetido à revista Alexandria – Revista de Educação em Ciência e Tecnologia em 26/06/2012, com o título O sequestro do conceito de Seleção Sexual dos livros didáticos, sendo os autores Nicolini, L., Costa, L. e Waizbort, R. No dia 04/09/2012 o trabalho foi aceito para publicação, sendo publicado em novembro de 2012. lxvi Nosso foco principal era saber se os cinco conceitos sintetizados por Mayr (2008) e descritos anteriormente estavam presentes em livros didáticos indicados pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM). O PNLEM tem como objetivo servir de norte para que docentes, desse segmento da Educação Básica, possam embasar a sua escolha em livros previamente analisados por um grupo de profissionais ligados às diferentes áreas da Biologia. Além disso, decidimos avaliar se e como o conceito de Seleção Sexual era abordado e explicado nesses livros. Incluímos a abordagem do conceito de Seleção Sexual nessa análise por dois motivos principais: acreditamos que esse conceito, contrastado ao de Seleção Natural, pode contribuir para explicar de forma mais satisfatória a diversidade das espécies e de suas estruturas, facilitando a compreensão da Teoria da Evolução por alunos do Ensino Médio; e porque esse é considerado o conceito mais original de Darwin (CRONIN, 1995; MILLER, 2000). Também decidimos estudar os livros didáticos porque muito tem se discutido acerca da qualidade dessas obras, dos fatores que podem influenciar os professores no momento da escolha do livro e da importância de não considerá-lo como a única fonte de consulta estão desenvolvidos em Martins (2006), Carneiro et al. (2005), Bellini e Frasson (2006) e Roma e Motokane (2009). Sabemos que o livro didático ainda é muito utilizado como única fonte de consulta e, por isso, foi criado o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), que busca a melhoria da qualidade dos livros utilizados nas escolas (EL-HANI et al., 2011). O PNLEM avaliou algumas obras e indicou nove livros que deveriam fazer parte de uma lista que ficaria disponível para os professores como referência para o período de 2007-2009: Adolfo, Crozetta e Lago (2005); Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005); Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005); Paulino (2005). Nesse estudo, analisamos sete obras, das nove10 obras indicadas na lista do PNLEM - Amabis e Martho (2005); Cesar e Sezar (2005); Favaretto e Mercadante (2005); Frota-Pessoa (2005); Laurence (2005); Linhares e Gewandsnajder (2005); Lopes e Rosso (2005) - no que se refere a apresentação 10 As obras Adolfo, Crozetta e Lago (2005) e Paulino (2005) não foram analisadas, pois não tivemos acesso a elas. lxvii e discussão do conceito de Seleção Sexual. Realizamos também uma breve análise dos conceitos darwinianos citados por Mayr (2008). Em nossa avaliação estiveram presentes dois tipos de livros didáticos: (1) Coleções de três volumes, um para cada série do Ensino Médio. Analisamos apenas o livro cuja Unidade Evolução estivesse indicada no sumário. Dois dos sete livros analisados encontram-se nessa categoria: Amabis e Martho (2005) e Frota-Pessoa (2005); (2) Volume único, livro utilizado para cobrir os três anos do Ensino Médio. Analisamos a Unidade Evolução a partir de consulta ao sumário. Cinco dos sete livros encontram-se nessa categoria: Cesar e Sezar (2005), Favaretto e Mercadante (2005), Laurence (2005), Linhares e Gewandsnajder (2005) e Lopes; Rosso (2005). Os artigos de Almeida e Falcão (2005), Silva-Porto (2008) e, mais recentemente, de Roma e Motokane (2009), indicam que o tema Evolução passou a fazer parte dos livros didáticos apenas na década de 1960 com a utilização do Biological Sciences Curriculum Study (BSCS)11 e que, mesmo depois do abandono dessa coleção, os novos livros didáticos produzidos continuaram a incluir o tema em seus conteúdos. Mesmo assim, esse tema não chega nem a 10% do conteúdo abordado nos livros didáticos indicados pelo PNLEM (ROMA e MOTOKANE, 2009). Além disso, os livros não seguem a sugestão de que a Teoria Evolutiva seja entendida como eixo unificador do ensino de Biologia. Os livros aqui analisados, de uma forma geral, dedicam cerca de 6% do seu conteúdo total para discutir o tema Evolução (Tabela 5.1)12. Considerando a sua importância para o entendimento da Biologia como um corpo de conhecimento não fragmentado, acreditamos que o espaço destinado em tais obras pode ser compreendido como insatisfatório. Tabela 5.1 – Percentual aproximado de páginas que tratam do assunto evolução por livro didático 11 Os livros que faziam parte do BSCS (Biological Science Curriculum Studies) estavam relacionados com uma reforma curricular da Biologia que estava em curso nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960. Nessa reforma, a Teoria Evolutiva foi inserida como um dos eixos integradores da disciplina escolar Biologia (SILVA-PORTO, 2008). 12 Os dados dessa tabela foram produzidos a partir de uma regra de três simples, na qual o número total de páginas do livro (Volume Único) ou dos livros (séries com três volumes) correspondia a 100%. O resultado obtido se refere ao percentual de páginas da Unidade Evolução em relação ao total. lxviii Lopes e Rosso (Saraiva) Frota-Pessoa (Scipione) Favaretto e Mercadante (Moderna) Linhares e Gewandsnajder (Ática) Amabis e Martho (Moderna) César e Sezar (Saraiva) Laurence (Nova Geração) % do livro que discute Evolução 5% 5% 5% 6% 5% 7% 5% O tratamento curto do tema evolução talvez seja o resultado de uma concepção de ensino enciclopédico no Ensino Médio e, por consequência, nos livros didáticos. Esse fato pode ser explicado, pelo menos em parte, por um processo de hiperespecialização do conhecimento e de um ensino fragmentado em disciplinas (MORIN, 2001). Dessa forma, sobra pouco tempo e espaço para desenvolver temas de maior relevância para o estudante de forma mais eficiente e relacionada à sua vida prática. A constatação de que a Teoria Evolutiva não é tratada com o grau de complexidade exigido por sua história e estrutura não impede que encontremos, na maior parte dos livros analisados, os cinco conceitos que compõem o pensamento darwiniano, segundo Mayr (2008) (Quadro 5.1). Conceitos Lopes e Rosso (Saraiva) Frota-Pessoa (Scipione) Favaretto e Mercadante (Moderna) Linhares e Gewandsnajder (Ática) Amabis e Martho (Moderna) César e Sezar (Saraiva) Laurence (Nova Geração) Quadro 5.1 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento Darwiniano Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente Origem comum Evolução como fato Gradualismo Especiação Seleção Natural + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + Dentre os cinco conceitos, o único que não está presente nos sete livros é o conceito Gradualismo, sendo os demais caracterizados em todos os livros didáticos. É interessante notar que os livros fazem uso de cladogramas para demonstrar questões relacionadas à origem comum, além de apresentar exemplos bem sedimentados que evidenciam a evolução não apenas como uma teoria e sim como um fato científico bastante comprovado. Os livros, de uma lxix forma geral, parecem compreender que esses conceitos são de grande importância para que o aluno desenvolva um olhar relacional sobre os fenômenos da vida. Em contraposição, quando avaliamos a presença ou ausência do conceito de Seleção Sexual nesses mesmos livros, podemos perceber que esse conceito está presente em menos de metade das obras (Quadro 5.2). Favaretto e Mercadante (Moderna) Linhares e Gewandsnajder (Ática) Amabis e Martho (Moderna) César e Sezar (Saraiva) Laurence (Nova Geração) Seleção sexual Frota-Pessoa (Scipione) Conceito Lopes e Rosso (Saraiva) Quadro 5.2 – Avaliação da presença do conceito de Seleção Sexual formulado por Darwin Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente + - - + + - - Após esse levantamento inicial e com a leitura das Unidades Evolução dos sete livros indicados pelo PNLEM que tivemos acesso, fizemos a análise do conceito de Seleção Sexual nos três livros que apresentam esse conceito. O primeiro resultado está sintetizado na tabela (Tabela 5.2): Linhares e Gewandsnajder (Ática) Amabis e Martho (Moderna) % da Unidade Evolução que discute Seleção Sexual Lopes e Rosso (Saraiva) Tabela 5.2 – Percentual aproximado da área que aborda o conceito de Seleção Sexual, na Unidade Evolução, por livro didático 2,05% 0,75% 0,24% A segunda análise permitiu verificar que nos três livros que apresentam o conceito de Seleção Sexual, esse é usado como um exemplo ou como um tipo especial de Seleção Natural. Esse é um ponto discutível desde os tempos de Darwin (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2004). Para toda uma tradição de pensamento, as características que são selecionadas pela Seleção Sexual são extremamente custosas e funcionam como indicadoras de bons genes e, por isso, garantem um sucesso reprodutivo. Em função de seus custos, essas lxx características não podem ter surgido como resultado da Seleção Natural que é essencialmente econômica (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004). No livro de Amabis e Martho (2005), os autores apresentam o conceito de Seleção Sexual como um caso particular de Seleção Natural, “em que os indivíduos de um sexo (em geral, as fêmeas) preferem se acasalar com parceiros portadores de determinadas características” (p.221). Eles não explicam por que tais características teriam sido originadas e se referem aos processos de escolha por parte das fêmeas e de lutas entre machos como processos semelhantes e que teriam como objetivo a perpetuação de seus atributos atrativos. Essa última colocação está em desacordo com as ideias aceitas por evolucionistas mais recentes, pois na reprodução os indivíduos não pretendem dar continuidade à sua espécie e sim passar adiante seus próprios genes (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997; DAWKINS, 2001). Já em Lopes e Rosso (2005), tal conceituação não se encontra presente no corpo principal do texto e sim numa caixa de texto destacada, o que sugere que o tema de Seleção Sexual é quase uma curiosidade. O texto da caixa cita o livro A origem do homem e a seleção sexual, de Darwin, como a obra que elaborou esse conceito, mas em sua explicação, Lopes e Rosso (2005) também descrevem a Seleção Sexual como um tipo especial de Seleção Natural: Enquanto a seleção natural leva a uma adaptação do organismo ao meio em que vive, aumentando sua chance de sobrevivência, a seleção sexual relaciona-se com a adaptação do organismo às suas necessidades de obter um parceiro, garantindo sua reprodução (p.516). Os autores citam a escolha por parte das fêmeas e a luta entre machos, mas não diferenciam os processos e nem explicam de forma clara o que está relacionado com esses comportamentos: a reprodução diferencial de determinados indivíduos (machos). Por último, os autores Linhares e Gewandsjnajder (2005) usam o conceito de Seleção Sexual como um dos exemplos da Seleção Natural. Para eles, “o processo pelo qual certas características sexuais se espalham, por causa da maior facilidade para conseguir parceiros para a reprodução, é chamado de seleção sexual” (p.424). Consideramos que essa forma de definição é muito ambígua, pois trata características altamente custosas como adaptativas para a sobrevivência. lxxi Após a análise dos livros indicados pelo PNLEM, algumas questões podem ser suscitadas com o objetivo de tentar entender os motivos de por que o conceito de Seleção Sexual não foi incluído na maioria dos livros ou foi considerado como um tipo de Seleção Natural: será que a ausência está relacionada com dificuldades dos próprios autores desses livros de diferenciar a Seleção Natural da Seleção Sexual? Será que esses autores não consideram o conceito de Seleção Sexual relevante? Independentemente das respostas a essas questões, o que se coloca é que a superficial abordagem do conceito de Seleção Sexual em um importante instrumento de consulta como o livro didático, impede a oportunidade de discutir os limites do próprio conceito de Seleção Natural. Além disso, impossibilita a inclusão de exemplos que demonstrem os limites de explicação conceitual e teórico da Seleção Natural, uma vez que ela não é mais entendida como capaz de explicar toda a diversidade existente e extinta, mas apenas as características claramente funcionais (CRONIN, 1995). Por isso, consideramos que para uma compreensão mais abrangente e interessante da Teoria Evolutiva é necessária, além da abordagem dos cinco conceitos sintetizados por Mayr (2008), a inclusão do conceito de Seleção Sexual. O entendimento desses conceitos permite uma visão mais integrada da diversificação e evolução dos seres vivos, incluindo a compreensão de porque muitas vezes espécies aparentadas ou que ocupam nichos semelhantes podem ser tão diferentes em alguns aspectos morfológicos e comportamentais. Entendendo que esses dois processos são independentes, mas complementares, reafirmamos a necessidade de ensino da Seleção Natural e da Seleção Sexual na sala de aula. Tomando os livros didáticos como base, podemos sugerir que os alunos terminam o Ensino Médio e ingressam o Ensino Superior com grandes possibilidades de nunca terem entrado em contato com o conceito de Seleção Sexual. 5.2 COMO A TEORIA EVOLUTIVA É CONCEITUADA NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS13 13 Os primeiros dados dessa análise foram apresentados no VI Encontro Regional de Ensino de Biologia, com o título Licenciandos em biologia ainda apresentam dificuldades na conceituação da Teoria Evolutiva? (NICOLINI e WAIZBORT, 2012). lxxii O principal objetivo dessa tese foi o desenvolvimento de uma estratégia de ensino para o aprofundamento da discussão, na disciplina Evolução, sobre a Teoria Evolutiva, além de tentar integrar de forma mais eficiente os conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual que fazem parte dessa teoria. Entretanto, essa teoria é abordada em diversas disciplinas do curso de graduação desde o primeiro período. Por isso, achamos importante conhecer as formulações sobre o tema nos materiais didáticos das disciplinas do curso de graduação sob o qual esse projeto se debruçou. A partir dessa ideia, também nos interessava saber quais eram as conceituações dos alunos em questões sobre a evolução das espécies, após várias disciplinas que discutiam o tema e com uma disciplina específica sobre o conteúdo de evolução. Para isso, analisamos provas arquivadas da disciplina Evolução. Essa subdivisão do capítulo está dividida em duas partes. Na primeira é feita a discussão sobre quais são os conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana discutidos ao longo do curso e se estão de acordo com o que consideramos ser os conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986; CARVALHO et al., 2011; PEREIRA et al., 2012) da Teoria Evolutiva. Na segunda parte são caracterizadas as respostas dadas pelos alunos em questões diretamente relacionadas com a Teoria Evolutiva Darwiniana e se essas respostas estão de acordo com os referenciais da área. 5.2.1 Conceituação da Teoria Evolutiva nos módulos didáticos A escolha dos módulos para leitura e análise interpretativa (COSTA e COSTA, 2009) foi feita a partir da ementa (ANEXO I) do curso de Ciências Biológicas da graduação em que o projeto foi desenvolvido. Procuramos identificar a presença ou não dos conceitos que formam a Teoria Evolutiva Darwiniana, descrita nos referenciais dessa tese, e que também foi usada de base para o artigo com os livros didáticos de Ensino Médio. Os módulos escolhidos para leitura foram os das disciplinas que indicavam na ementa que abordariam a Teoria Evolutiva, a saber: Grandes Temas em lxxiii Biologia (GTB)14, Diversidade dos Seres Vivos (DSV), Elementos de Ecologia e Conservação (Eleco), Introdução à Zoologia (Introd. à Zoo), Populações, Comunidades e Conservação (PCC) e Evolução. A análise começou com os módulos de GTB (ESTEVES et al., 2010), pois essa é uma disciplina obrigatoriamente cursada no primeiro período. GTB tem como objetivo inserir os alunos nos principais temas que permeiam as Ciências Biológicas, introduzindo conteúdos que posteriormente serão abordados de forma mais aprofundada em disciplinas específicas. Também contribuiu para nossa escolha o fato de que o próprio módulo indica que os conteúdos serão apresentados em blocos e que Evolução é um desses blocos. A disciplina possui dois módulos didáticos divididos em 22 aulas: aulas 1-4 - Evolução do conceito de célula e da própria célula; aulas 5-7 - Estrutura e importância dos ácidos nucleicos e projeto genoma humano; aulas 8-13 - Teoria evolutiva – história e implicações; aulas 14-18 - Papel ecológico da água e degradação ambiental dos ecossistemas aquáticos; e aulas 19-22 - Anticorpos. A disciplina DSV (RUSSO et al., 2010) é obrigatória e oferecida no segundo período. O conteúdo dessa disciplina está organizado em três módulos com 32 aulas ao todo e tem como objetivo discutir a origem e manutenção da diversidade de seres vivos. A disciplina ELECO (SILVA et al., 2010) ocorre também no segundo período, possui dois módulos didáticos com 25 aulas ao todo e tem como objetivo caracterizar a ecologia, mostrando estudos atuais da área, usando como exemplo a prática de pesquisadores que fazem parte da instituição associada à disciplina. Como procura explicar as relações entre os seres vivos e desses com o meio, entendendo que são as interações ocorridas que determinam os perfis populacionais das diferentes espécies de seres vivos, a disciplina se propõe a usar conceitos da Teoria Evolutiva para ajudar na compreensão e explicação dessa dinâmica. A disciplina Introd. à Zoo é oferecida no terceiro período e possui quatro módulos didáticos com 31 aulas. Após os alunos terem estudado em DSV um pouco de cada reino atual e da história dos seres vivos na Terra, a presente 14 Apesar de na ementa dessa disciplina não estar indicado se a Teoria Evolutiva será abordada nas aulas, minha participação como tutora nessa graduação me permitiu saber que um dos temas que os autores desse módulo consideram como fundamental para as Ciências Biológicas era a Teoria Evolutiva e, por isso, esse módulo também foi selecionado. lxxiv disciplina pretende caracterizar o que é o Reino Animal e como ocorre o estudo dos seres desse grupo. A disciplina PCC (VIEIRA et al., 2010) é uma disciplina do sétimo período e possui três módulos didáticos com 30 aulas, sendo as aulas 5, 9, 18, 26, 27, 29 e 30 aulas práticas. A disciplina Evolução (SOLÉ-CAVA et al., 2008) é característica do oitavo período e possui três módulos didáticos com 30 aulas. Por estar nominalmente relacionada com a Teoria Evolutiva e sua ampla abordagem, nos detivemos nos aspectos relacionados com a conceituação dos processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, com possíveis discussões em relação à evolução da espécie humana, sem nos aprofundarmos em outros conceitos que são apresentados nos módulos. O quadro abaixo (Quadro 5.3) mostra a presença ou ausência dos cinco conceitos darwinianos e da Seleção Sexual nesses módulos, permitindo a discussão de como esses conceitos foram apresentados em cada disciplina. Conceitos Grandes Temas em Biologia Diversidade dos Seres Vivos Elementos de Ecologia e Conservação Introdução à Zoologia Populações, Comunidades e Conservação Evolução Quadro 5.3 – Avaliação da presença dos conceitos que compõem o pensamento Darwiniano Legenda: + Conceito Presente; - Conceito Ausente Evolução como fato Origem Comum Gradualismo Especiação Seleção Natural Seleção Sexual + + + + + + + + + + + - + - + + + + - + + - + + + + + + 5.2.1.1 Grandes Temas em Biologia (GTB) lxxv Desde o início do módulo até a parte específica sobre a Teoria Evolutiva o texto indica que os temas serão abordados de uma perspectiva da história evolutiva, dos eventos que permitiram a evolução dos seres vivos desde os primórdios da Terra. Conceitos como ‘adaptação’, ‘evolução’, ‘vantagens evolutivas’, ‘árvore evolutiva’, ‘seleção natural’ e ‘história evolutiva’ são utilizados ao longo do texto. As aulas 8-13 são focadas diretamente no desenvolvimento da Teoria Evolutiva e de sua utilização nos estudos em Biologia. As aulas explicam que a teoria de Darwin está baseada nas seguintes proposições: os indivíduos de uma espécie produzem mais filhotes do que chegam à idade adulta; há uma grande mortalidade nas populações naturais; alguns indivíduos estão mais bem adaptados do que outros (Seleção Natural); as gerações subsequentes manterão as características adaptativas cuja frequência aumentará. As aulas também explicam que as pequenas variações (chamadas de mutações), que são as formas de introdução de novidades genéticas, surgem ao acaso e se acumulam pela ação da Seleção Natural, num processo lento e gradual. Os autores indicam que a Seleção Natural é a principal forma de modificação das espécies, mas não a única e apresentam a Seleção Sexual como um tipo de Seleção Natural. Os autores descrevem que esse processo está relacionado com o dimorfismo sexual e com características extravagantes, que normalmente são encontradas apenas nos machos, ou seja, os machos se exibem e as fêmeas escolhem, sendo tais características adaptativas, pois aumentam a chance de acasalamento. Podemos considerar que os autores das aulas, na abordagem geral da disciplina, procuram deixar claro que os estudos evolutivos são reconstruções históricas sobre os eventos que moldaram a diversidade de seres vivos. Esses eventos podem ser entendidos como o aparecimento de alternativas novas (através de mutações e recombinações) que contribuíram e contribuem para a solução de problemas impostos pelo ambiente, ou seja, a ideia da ação temporal e local da Seleção Natural, destacando que o que evolui são as espécies ou populações e não os indivíduos. Sendo assim, foram apresentados os aspectos relacionados ao desenvolvimento da Teoria Evolutiva, de forma bem detalhada, com exemplos e de acordo com os referenciais da área. lxxvi 5.2.1.2 Diversidade dos Seres Vivos (DSV) A DSV tem como objetivo caracterizar a biodiversidade existente na Terra e sua origem. Nas primeiras cinco aulas os autores definem o que é biodiversidade e como o pensamento evolutivo se relaciona com o entendimento da história dos grupos taxonômicos, tendo como conceito norteador a Seleção Natural e suas implicações, em associação com a sistemática filogenética (ciência taxonômica que leva até as últimas consequências a ideia de relações de parentesco ou de origem comum). Em função disso, os autores das aulas destacam que “quando estamos descrevendo a diversidade dos seres vivos, a questão central está justamente no reconhecimento dos agrupamentos “naturais”, ou seja, naqueles que possuem sentido biológico real” (RUSSO et al., 2010, p.10, mod.1). Os autores definem que os sistemas biológicos se caracterizam pelas relações entre linhagens ancestrais - linhagens descendentes indicando as relações de parentesco entre as espécies. Com esses conceitos já deve ficar claro para o aluno que a disciplina usará a história evolutiva dos grupos como apoio para a compreensão do surgimento e manutenção, ou não, das diversas características dos seres vivos, ideia já presente em GTB. Ainda sobre o processo de diversificação das espécies ao longo do tempo, os autores das aulas deixam claro que é a ocorrência de mutações ao acaso que permite a geração de variações de características nas populações. Tais mutações não possuem um objetivo, uma intenção, mas em função do ambiente em que o indivíduo se encontra, as novas variações podem alterar ou não o valor adaptativo da característica, sendo a Seleção Natural um dos principais mecanismos de modificação das características das espécies ao longo do tempo. Os autores dos módulos também deixam evidente que as características homólogas são importantes para o entendimento da história evolutiva dos grupos, pois são características que têm origem em um ancestral comum. Com isso, podemos perceber que os conceitos de Especiação, Origem Comum e Seleção Natural (MAYR, 1998) fazem parte do corpo teórico dessas aulas. A partir da aula 6 é iniciada a história da diversificação dos seres vivos. Os autores começam com a origem da vida, usando os referenciais da evolução química (VIEYRA e SOUZA-BARROS, 2000; ZAIA, 2003; PERETÓ, 2005; DAMINELI e DAMINELI, 2007) descrevendo a formação das primeiras lxxvii macromoléculas, mostrando a diversificação dos procariontes, eucariontes, o surgimento da multicelularidade, passando pela caracterização dos diferentes reinos, até a formação da espécie humana, na aula 32 (última aula). Nessas aulas, sempre é solicitado que o aluno relacione as novas características com os passos evolutivos que seriam importantes nessa diversificação, desde aspectos moleculares até o nicho ecológico ocupado. Nessa disciplina é dado o mesmo enfoque de GTB, que é mostrar como os grandes grupos atuais surgiram e se diversificaram e, para isso, os autores usam a Teoria Evolutiva como explicação. 5.2.1.3 Elementos de Ecologia e Conservação (Eleco) Nas aulas iniciais dessa disciplina, os autores fazem uma caracterização histórica das concepções que já existiram sobre os seres vivos e suas modificações ao longo do tempo. Também apresentam Charles Darwin e A origem das espécies, com a ideia de Seleção Natural, como uma explicação revolucionária sobre a evolução dos seres vivos. Inclusive, citam que pesquisadores atuais consideram Darwin como o pai da moderna ecologia, por usar termos como economia da natureza, lugares e vagas que podem ser entendidos como ecossistemas, nichos e nichos vagos, respectivamente. Além disso, os autores das aulas fazem referências explícitas ao princípio da exclusão competitiva, das interações entre os seres vivos e deles com o ambiente como fatores fundamentais na mudança das espécies ao longo do tempo. Os autores descrevem qual é o campo de atuação da Ecologia, mostrando que ao longo do tempo geológico o ambiente sofreu muitas mudanças e que isso teve reflexo na organização dos seres vivos, uma vez que o ambiente age como um selecionador dos organismos que possuem as melhores características para ocupação dos diversos nichos ecológicos. Nessa disciplina não há uma descrição histórica da Teoria Evolutiva, nem o detalhamento de seus conceitos principais, pois, como destacam os autores, isso já havia sido feito em outras disciplinas, anteriores ou de mesmo período. Porém, os autores indicam que é fundamental unir o processo de Seleção Natural com os estudos ecológicos, mostrando que a Teoria Evolutiva é um tema integrador das Ciências Biológicas. lxxviii 5.2.1.4 Introdução à Zoologia (Introd. à Zoo) Os autores das aulas dessa disciplina definem a zoologia como “a ciência que estuda os animais sob os mais diversos aspectos, como as diferentes formas do corpo, seu funcionamento e suas relações com o meio ambiente” (FERREIRAJUNIOR e PAIVA, 2010, p. 17, mod. 1). Eles destacam que a zoologia procura, por meio de estudos comparativos, entender como os grupos animais se relacionam e como essa relação é resultado dos processos evolutivos, ou seja, as perguntas de por que determinada estrutura é de tal forma no momento presente (causa próxima) nos permite fazer uma retrospectiva histórica e fazer inferências sobre as possíveis variações existentes na população ancestral e nas pressões seletivas sofridas por ela (causa última ou histórica), permitindo a compreensão da história da vida na Terra. Essa disciplina, por procurar entender a história evolutiva dos animais, irá usar a Biologia Comparada como forma de tentar reconstruir a história evolutiva dos grupos e as relações de parentesco entre eles. Para que tal abordagem seja feita, é necessária a inclusão dos conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana, pois apresenta os argumentos de que os organismos mudaram ao longo do tempo e de como essas mudanças ocorreram. O primeiro conceito que deve ficar claro para os alunos e que é usado nos estudos de biologia comparada é o de homologia e da transformação de caracteres, pois estruturas homólogas em diferentes espécies indicam uma ancestralidade comum e, com isso, uma relação de parentesco. Esse conceito é diferenciado do de analogia, que é a existência de estruturas semelhantes, normalmente quando os organismos ocupam nichos ecológicos ou ambientes parecidos, mas que surgiram de forma independente em cada grupo, não indicando uma relação de parentesco. Por isso, deve estar muito claro como o pesquisador está determinando se uma estrutura é homóloga ou análoga. Com a modificação das estruturas, ocorre “a evolução dos caracteres, no sentido de mudança e não de melhoria, (...) ao longo do tempo em toda uma população” (FERREIRA JUNIOR e PAIVA, 2010, p. 39, mod. 1). Os módulos 2, 3 e 4, a partir da aula 14 até a aula final, descrevem a origem dos metazoários e os diferentes planos corpóreos e seus sistemas, mostrando que mudanças ocorreram e que vantagens trouxeram de acordo com os diferentes modos de vida. Na apresentação desses conteúdos são usados lxxix conceitos como pressões seletivas e adaptações, evolução e relações de parentesco, mas sem a descrição em detalhes do conceito de Seleção Natural, provavelmente presumindo que isso já foi feito em outras disciplinas. 5.2.1.5 Populações, Comunidades e Conservação (PCC) No primeiro volume (aulas 1 a 10), não existe tanta relação entre os conteúdos das aulas e a Teoria Evolutiva, pois os autores fazem a caracterização de população e de como devemos reconhecê-las no ambiente, a fim de delimitá-la para que possamos estudá-la. Entretanto, na primeira aula, os autores usam como definição para população os “indivíduos que guardam afinidades filogenéticas (de parentesco) bem próximas entre si, mantêm relações ecológicas bastante intensas e apresentam papel ecológico bem semelhante na comunidade” (VIEIRA et al., 2010, p.8, mod. 1), ou seja, as populações são formadas por indivíduos que mantêm fluxo gênico. Essa definição é muito próxima daquelas feitas por estudiosos da evolução, pois são as populações que evoluem, que mudam de perfil fenotípico e genotípico ao longo do tempo (RIDLEY, 2006; MAYR, 2008). Entre as aulas 10 (volume 1) e 14 (volume 2) são discutidos em maiores detalhes como os fatores bióticos e abióticos influenciam na distribuição dos seres vivos e a determinação das características dos indivíduos que fazem parte de uma população. Os autores definem que o termo adaptação em Ecologia, deverá ser usado no sentido evolutivo, mais precisamente, com o mesmo significado que na Teoria Sintética de Evolução: “como um processo ou caráter que resulte de seleção natural” (VIEIRA et al., 2010, p.154, mod. 1). Sendo assim, não definem a Teoria Evolutiva e nem os passos para entender como foi formulada, mas implicitamente reafirmam que para que ocorra a evolução das populações deve existir variação individual, a herança das características e o sucesso reprodutivo diferente entre os indivíduos. Nesse caso, os autores apresentam aos alunos mais uma definição de Evolução, aceita por muitos cientistas, que é a mudança da composição genética da população ao longo do tempo e de que o conceito de evolução das espécies não deve estar associado à ideia de progresso. É interessante ressaltar que na página 157 do módulo 1 existem dois boxes que procuram relembrar erros comuns relacionados à Teoria Evolutiva e como lxxx evitá-los. O primeiro está associado à ideia de que os mais aptos são os mais fortes ou que vivem mais. Na realidade, a aptidão está relacionada com a capacidade de sobreviver, chegar à idade reprodutiva e deixar mais descendentes férteis, perpetuando assim seus genes para as futuras gerações. No segundo, indicam que devemos tomar cuidado com a noção de que uma determinada espécie está bem adaptada, pois esse é um conceito relativo, dependendo de uma escala espacial e temporal, uma vez que se o ambiente muda, o valor adaptativo também muda e com isso novos processos seletivos deverão ocorrer. Mesmo assim, ainda destacam que devemos prestar atenção para não generalizar que todas as características são adaptativas, pois a deriva gênica, a pleiotropia e outros fatores também contribuem para o perfil genético da população. Porém, para os autores os alunos devem compreender que as características claramente relacionadas com a sobrevivência provavelmente foram moldadas pelo processo de Seleção Natural. Por último, embora nessa disciplina não ocorra mais a demonstração da história da Teoria Evolutiva, seus conceitos são usados e os autores fazem referência aos módulos da disciplina Evolução, além de usar exemplos bem conhecidos do tema ao apresentarem seus conteúdos. 5.2.1.6 Evolução Logo nas primeiras aulas dessa disciplina (1 a 10), os autores apontam que a evolução é a explicação integradora da biodiversidade em todos os seus níveis, ideia que está de acordo com diversos referenciais da área, pois é o processo evolutivo que nos liga a todos os seres vivos através dos laços de ancestralidade e permite a explicação das relações de parentesco entre os seres vivos, facilitando a compreensão do mundo atual. Os autores também definem como evolução a “mudança nos genes ou em suas proporções nas populações” (SOLÉ-CAVA et al., 2008, p. 8, mod.1), destacando que o processo evolutivo é a mudança, e não o progresso, e que ter uma característica boa ou ruim está relacionado com o contexto histórico dessa característica. Essa abordagem ocorreu em outras disciplinas do curso, indicando coerência e continuidade entre as disciplinas no que se refere à Teoria Evolutiva. lxxxi Ainda nas primeiras aulas, os autores trabalham diversos exemplos de evidências de que a Evolução ocorreu, embora ainda não discutam os processos evolutivos. Mais uma vez os autores de módulos de disciplinas de períodos mais adiante fazem referência a outras aulas do curso de graduação, mostrando que a Teoria Evolutiva é um tema que deve permear todo o curso em questão. Essas aulas usam alguns conceitos que Mayr (2008) indica como sendo integrantes da Teoria Evolutiva de Darwin e que utilizamos como referencial dessa tese, principalmente a ideia de Origem Comum. Esse conceito permite o entendimento das relações de parentesco entre os grupos e do processo de especiação, a partir das diferenças acumuladas entre eles. Os autores usam termos como mutação e Seleção Natural sem entrar em detalhes de sua importância para o entendimento da história evolutiva dos grupos, além de destacarem que as espécies estão adaptadas ao ambiente que ocupam, mas que essa adaptação não é intencional, mas sim local e temporal. Nessas aulas iniciais também é ressaltado que Darwin não foi o primeiro a propor explicações sobre a biodiversidade existente. Antes dele, Lamarck e Erasmus Darwin já tinham desenvolvido ideias sobre a mudança das espécies ao longo do tempo, mas os mecanismos propostos por esses autores não foram aceitos, ao contrário dos mecanismos desenvolvidos por Darwin em sua teoria. Sendo assim, a Teoria Evolutiva de Darwin possui um caráter unificador (FUTUYMA, 2002) e ainda está na base da Teoria Evolutiva Moderna (MAYR, 2008). Os autores das aulas destacam que uma das grandes novidades inserida por Darwin em sua teoria é a percepção da importância das variações entre os indivíduos de uma espécie. Mesmo possuindo continuidade ao longo do tempo pelo processo de reprodução, existem variações entre os componentes das espécies, sendo esse o material da evolução. Com isso, inserem o conceito de especiação, como “processo de transformação de variação intrapopulacional em variação interpopulacional” (SOLÉ-CAVA et al., 2008, p. 46, mod.1). Com esse conceito, se estabelece a origem comum dos organismos, além de incluir o acaso em oposição à ideia de progresso no processo evolutivo. Nas aulas anteriores que as específicas sobre Seleção Natural (aulas 13 a 15) são apresentados conceitos da genética de populações, mostrando que as populações são as unidades básicas de alterações evolutivas. Apresentam como os estudos evolutivos estão interessados na composição genética dos indivíduos lxxxii e também na transmissão dos caracteres para as gerações seguintes, pois, se as novidades não são passadas adiante, se perdem e não contribuem para mudanças nos perfis genotípicos e fenotípicos da espécie, não fazendo parte do fundo de genes da população. Um importante conceito desenvolvido pelos autores é o de mutação. Sendo descrito o que é e como ocorrem, avaliando seus efeitos como sendo uma das causas que permitem a variabilidade genética e, como consequência, a mudança das espécies ao longo do tempo, ou seja, a Evolução. De uma perspectiva mais ampla, as mutações geram a variabilidade, permitindo a atuação dos demais processos evolutivos: seleção natural e deriva gênica. Entretanto, para que o entendimento do processo evolutivo ocorra com mais clareza, os alunos precisam entender que somente as mutações nos gametas é que são herdáveis e que podem garantir a inserção de novos alelos na população. Nas aulas que abordam de forma específica o conceito de Seleção Natural, os autores definem esse processo como a mortalidade ou sobrevivência diferencial a partir das variações existentes na população, o que leva à descendência com modificação, podendo levar ao processo de especiação. Sendo assim, a ação da Seleção Natural muda as características de uma população, por mudar a sua frequência gênica, e leva à adaptação das espécies. Por focarem na atuação da Seleção Natural, os autores explicam o termo adaptação na perspectiva darwiniana, indicando que a Seleção Natural não tem uma intenção e que os organismos não mudam intencionalmente para se adaptar ao ambiente. Procuram demonstrar que o ambiente não é formado apenas pelos fatores abióticos, mas também por fatores bióticos, que são estabelecidos nas relações entre os seres vivos, como foi bem destacado em diversas aulas da disciplina PCC. Os autores também inserem o termo Especiação, um dos conceitos que já estava no livro original de Darwin, A Origem das Espécies (2002). Durante as aulas sobre Seleção Natural, os autores abordam o conceito de Seleção Sexual. Para que esse conceito seja apresentado, os autores relembram que a Seleção Natural atua selecionando características que aumentam as chances de sobrevivência, mas que algumas espécies possuem caracteres que atuam de forma negativa na sobrevivência e que, por isso, são chamados de deletérios, sendo os caracteres sexuais secundários um exemplo disso. lxxxiii Os autores destacam, então, que a explicação proposta por Darwin seria a de que os caracteres sexuais secundários evoluíram por Seleção Sexual, que seria a vantagem que certos indivíduos possuem sobre outros no que se refere apenas à reprodução, ou seja, não existe vantagem na sobrevivência e sim na busca por um parceiro potencial. Além disso, diferenciam a seleção intrassexual (competição entre machos pela fêmea ou por recursos) da intersexual (seleção pelas fêmeas dos machos com os quais irão se acasalar). Os autores discutem brevemente a evolução do sexo, que, apesar de ser custoso em termos energéticos, deve ter sido selecionado em função das vantagens inerentes ao processo: criação de variabilidade genética entre os indivíduos. Não aprofundam a discussão, que poderia ser feita incluindo a existência de diferenças entre machos e fêmeas, não só em termos estruturais, como também comportamentais. Ao abordarem o tema de coevolução entre espécies, os autores mostram que a interação entre as espécies molda as respostas de cada uma, o que leva ao processo evolutivo. Usam como exemplos principais as relações entre predador e presa e entre parasita e hospedeiro, indicando que essa última já tinha sido descrita por Van Valen que chamou como o Paradoxo da Rainha Vermelha, que seria uma corrida armamentista entre o parasita e seu hospedeiro, em referência ao livro Alice através do espelho. Esse paradoxo também tem sido utilizado, em associação com a Seleção Sexual, para explicar diferenças estruturais e comportamentais entre machos e fêmeas, e entre espécies aparentadas em relação às características custosas, que podem ser interpretadas como indicadoras de bons genes (MILLER, 2000). Existe também uma aula (25) que discute a evolução humana, mas só são abordadas as diferenças de alelos nas diversas populações e de como as migrações podem ter contribuído para essas diferenciações. Entretanto, não se discutem as bases biológicas e culturais de nossa espécie e dos processos que influenciaram na sobrevivência de uma espécie única, Homo sapiens, em relação às demais do gênero Homo, com diversas expressões culturais. 5.2.1.7 Compilação dos dados sobre os módulos Após a leitura desses módulos, conclui-se que, de forma geral, os principais conceitos estruturantes (GAGLIARDI, 1986) da Teoria Evolutiva lxxxiv Darwiniana - Evolução como fato, Origem Comum, Gradualismo, Especiação e Seleção Natural -, com suas atualizações e relações com outras áreas, são apresentados de forma satisfatória. Além disso, as disciplinas GTB, DSV, Introd. à Zoo, PCC e Evolução apresentam a importância evolutiva da reprodução sexuada e/ou o conceito de Seleção Sexual. No que se refere à reprodução sexuada, as disciplinas apresentam três vantagens do sexo. A primeira delas decorre da recombinação gênica que ocorre na meiose para a produção de gametas (o indivíduo já é capaz de produzir gametas diferenciados). A segunda é que o sexo gera prole mais diversificada e com isso a espécie acaba tendo um maior repertório de possibilidades para lidar com o meio em que está inserido. E a terceira é a hipótese da Rainha Vermelha, na qual as variações permitem o surgimento de novas estratégias no combate aos parasitas, que normalmente possuem um ciclo de vida mais curto e, com isso, evoluem muito mais rapidamente. Novamente é apresentada a ideia de que os filhos é que são os grandes beneficiados desse processo, que se justifica pela manutenção dos genes no fundo genético da população. Logo, o indivíduo que tiver um sucesso reprodutivo estará contribuindo com seus genes para as futuras gerações (DAWKINS, 2001). O conceito de Seleção Sexual, não é apresentado em todas as disciplinas, apenas em GTB e Evolução, embora disciplinas como DSV e Introd. à Zoo descrevam esse processo, mas não o nomeiem. Nas disciplinas que apresentam esse conceito, ele é colocado como um tipo de Seleção Natural. Darwin destacava que no que se refere aos comportamentos e estruturas extravagantes, a Seleção Natural não era capaz de explicar de forma satisfatória seu surgimento e manutenção. Já o conceito de Seleção Sexual explica de forma mais adequada as características extravagantes. Como as características selecionadas pela Seleção Sexual também são consideradas indicativas de bons genes e custosas, deve existir um equilíbrio entre a Seleção Natural e a Seleção Sexual para que a espécie se mantenha ao longo do tempo. Ao longo do curso semipresencial de Licenciatura em Ciências Biológicas, deve ficar claro para os alunos que as espécies mudaram ao longo do tempo e que essas mudanças surgem por mutações ao acaso, que podem ser neutras ou lxxxv não. Quando a nova característica não é neutra, ocorre a atuação da Seleção Natural. Conceitualmente, podemos considerar que a Teoria da evolução como fato, a Teoria da origem comum, a Teoria do gradualismo, a Teoria de especiação e Teoria da seleção natural (MAYR, 2008) estão presentes nas disciplinas, sendo muito bem discutidas e caracterizadas. Entretanto, a apresentação do processo de Seleção Sexual é bem reduzida. Com isso, julgamos que as atividades didáticas desenvolvidas poderão contribuir para uma melhor caracterização da Teoria Evolutiva para os alunos no final do curso. 5.2.2 Apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva pelos alunos da disciplina Evolução A constatação de que a Teoria Evolutiva é abordada em diversas disciplinas desse curso de graduação e de que os alunos possuem uma disciplina específica sobre o tema, leva ao questionamento de como são elaboradas as respostas dos alunos às questões referentes aos problemas que utilizem a Teoria Evolutiva, nas avaliações presenciais da disciplina Evolução. Esse questionamento também é justificado pelo fato de diversos autores indicarem que a Teoria Evolutiva ainda é um tema de difícil compreensão por parte de alunos e professores (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011). Além disso, os alunos dessa graduação estarão habilitados para o magistério na Educação Básica e documentos indicam que a Teoria Evolutiva deve ser ensinada desde as séries iniciais desse faixa de educação (FUTUYMA, 2002; BRASIL, 2006). As respostas das avaliações de quatro semestres (2008-1, 2008-2, 2009-1 e 2009-2) dessa graduação foram analisadas e categorizadas. Após a escolha de quais questões seriam analisadas em cada avaliação, foi feita a categorização das respostas em corretas, incompletas e incorretas, a partir de um gabarito feito lxxxvi por nós. O quantitativo de respostas para cada categoria, por semestre, encontrase na tabela abaixo (Tabela 5.3). Após essa categorização, iremos discutir as respostas dos alunos, por questão, a partir dos referenciais utilizados nessa pesquisa. Como estavam presentes questões que se repetiam de um semestre para o outro, nomeamos as questões e as analisamos em conjunto. Tabela 5.3 – Distribuição das respostas por categorias Nome das questões 2008-1 Penicilina Flamingos Só teoria? AP1 - Q7 AP2 - Q5 AP3 - Q2 Correta 27 9 23 Incompleta 15 18 10 Incorreta 9 19 2 Não escolheu a questão 34 25 2 Flamingos Complexidade Nome das questões Seleção Natural AP1 – Q10 AP2 – Q6 AP3 - Q2 Correta 10 6 12 Incompleta 50 33 10 Incorreta 9 18 20 Não escolheu a questão 15 19 3 2008-2 Nome das questões 2009-1 Seleção Natural Mutação Mutação / Evolução AP1 - Q5 AP1 - Q7 AP1 - Q9 Tautologia Seleção Natural AP2 - Q4 Só teoria? AP3 - Q2 Correta 6 7 3 4 23 Incompleta 48 44 41 8 10 Incorreta 25 21 25 33 7 Não escolheu a questão 8 15 18 14 0 Nome das questões Raios UV AP1 - Q7 Seleção Sexual AP2 - Q5 Correta 44 5 Compareceram Incompleta 14 11 53 Incorreta 45 38 Não escolheu a questão 12 36 2009-2 5.2.2.1 Questão “Penicilina” lxxxvii AP3 Questão: Quando surgiu a penicilina praticamente todas as infecções bacterianas passaram a ser facilmente controláveis. No entanto, depois de algum tempo a penicilina deixou de ser um antibiótico universal, devido ao aparecimento de resistência nas bactérias a esse antibiótico. Novos antibióticos foram, então, desenvolvidos, mas para cada antibiótico, depois de um tempo, aparecem formas resistentes. Explique esse processo evolutivamente, mostrando que forças evolutivas devem estar ocorrendo nessas populações bacterianas. Gabarito: No processo de reprodução e replicação do material genético podem ocorrer erros ao acaso, chamados de mutação, que podem ser neutras ou não. Quando as mutações são benéficas ou maléficas, passam a ser selecionadas positiva ou negativamente de acordo com seu valor adaptativo. No caso das bactérias, devem ter surgido mutações ao acaso que conferiam resistência ao antibiótico, estas bactérias foram selecionadas positivamente, sobrevivendo e passando esta característica adiante, mudando o perfil da população. Categorização das respostas: Categoria correta: que inclua referências às mutações ao acaso + mudança de valor adaptativo + atuação da seleção natural. Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas etapas, mas que não tenham incluído todas elas. Categoria incorreta: todas as respostas que tiverem menção ao uso e desuso e/ou herança dos caracteres adquiridos. Essa questão foi escolhida por mais da metade dos alunos que fizeram a avaliação e teve grande quantidade de acertos. Abaixo, no Quadro 5.4, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.4 – Questão Penicilina: exemplos de respostas por categoria Correta “A aquisição de resistência em populações bacterianas aos mais diversos antibióticos é uma evidência poderosa de evolução por seleção natural de variações que apresentam maior adaptabilidade. As forças evolutivas que operam neste exemplo são: 1°) mutações e variações genéticas nas populações de bactérias; 2°) mortalidade do padrão menos resistente em face à nova condição imposta pelo ambiente (no caso, os antibióticos); 3°) seleção das bactérias que apresentam a variação de resistência e perpetuação dos descendentes; e 4°) especiação (formação Incompleta “Neste caso apresentado foi evidente que está havendo um processo evolutivo. Inicialmente as bactérias morriam facilmente quando submetidas a penicilina. Neste ambiente a penicilina passou a selecionar as bactérias mais adaptadas. As bactérias que eram mais resistentes ao antibiótico foram selecionadas pelo meio. Com o tempo uma nova geração de bactérias resistentes ao antibiótico lxxxviii Incorreta “As forças evolutivas que ocorrem nas populações bacterianas são as adaptações ao meio, comportamentais e para a sua sobrevivência. A espécie está ameaçada e se adapta a nova necessidade e as gerações que sobrevivem passam essa defesa para a sua prole e uma vez adaptada fica mais fácil uma futura adaptação à um novo de novas unidades populacionais ou transformação de variações intrapopulacionais em variações interpopulacionais)”. (Aluno 4 – Petrópolis) estava formada. E o mesmo vem ocorrendo com novos antibióticos”. (Aluno 7 - Volta Redonda) obstáculo ou antibiótico”. (Aluno 5 – Macaé) Essa questão aborda um tema que é recorrente: a resistência aos antibióticos. Entender como ocorre o surgimento de variantes resistentes e as consequências disso no tratamento de doenças infecciosas permite a tomada de decisões mais conscientes, como sugerido em documentos oficiais da educação brasileira que espera a formação de cidadãos críticos, conscientes e alfabetizados cientificamente (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006). Extrapolando para esse curso de graduação, um aluno que domine esse tema agora, provavelmente poderá discuti-lo de forma mais adequada em suas aulas futuras. Essa questão também permite a integração de diversos temas da Biologia, como a diversidade de seres vivos, o que define as características de cada ser vivo/espécie, hereditariedade, educação em saúde e modificação das espécies ao longo do tempo. Nas respostas corretas encontramos desde respostas curtas e objetivas, até respostas longas, mas que apresentavam a ideia de variação entre os indivíduos da população, a partir de mutações ao acaso, associado ao fato de o antibiótico modificar o meio e, com isso, ocorrer a seleção de variantes mais resistentes. As respostas consideradas incompletas foram classificadas assim quando: não indicavam as mutações ao acaso como a fonte das variações, ou porque o aluno não indicou que a Seleção Natural é o processo que atua nas variações intrapopulacionais. Houve também respostas que misturavam os conceitos de processos seletivos com processos ao acaso, ou seja, a fixação de características na população em função da deriva gênica. Nós as consideramos incompletas porque embora Darwin não tenha se proposto a explicar em sua teoria como ocorriam as variações entre os indivíduos, e o próprio Darwin cita essa dificuldade em sua teoria, hoje em dia esse processo está bem estabelecido, principalmente com os avanços da biologia molecular ao longo da segunda metade do século XX (MAYR, 2008; DARWIN, 2002). Em relação à confusão com os processos de deriva gênica, é importante que o aluno saiba que a resistência aos antibióticos é uma característica claramente adaptativa e que, por isso, deve ter sido estabelecida pelo processo de Seleção Natural, uma vez que a deriva gênica atua mais fortemente em lxxxix características neutras, que não mudam o valor adaptativo da característica (MAYR, 2008). As respostas consideradas incorretas apresentavam, principalmente, a ideia de objetivo da mutação ou da mudança da característica – resistência ao antibiótico – para que o indivíduo se adapte ou consiga sobreviver. Sabe-se que naquele momento essa dificuldade não deveria estar presente, pois as diversas disciplinas ao longo do curso que abordam a Teoria Evolutiva em suas aulas fazem questão de ressaltar que as mutações e a seleção natural são processos que não são conscientes, controláveis e não possuem como objetivo mudar para se adequar ao ambiente. 5.2.2.2 Questão “Flamingo” Questão: Todos os caracteres dos seres vivos existem por algum motivo. Assim, a cor rosa-choque dos flamingos deve ser explicada como uma camuflagem contra predadores, durante o pôr do sol. Essa frase reflete o espírito adaptacionista dos anos 1950-1970, que foi duramente criticada nos anos seguintes. A) Por quê não podemos dizer que tudo é adaptativo? B) No caso do flamingo, apresente algumas explicações alternativas, não adaptativas, para sua coloração. Gabarito: A) Porque existem mutações neutras. B) Porque algo que foi adaptativo no passado pode não sê-lo hoje; alimentação. Categorização das respostas: Letra A Categoria correta: menção às mutações neutras ou características neutras. Categoria incompleta: explica, mas não nomeia. Categoria incorreta: se responder incluindo valores adaptativos nas mutações ou características. Letra B Categoria correta: características podem deixar de ser adaptativas ao longo do tempo ou alimentação. Categoria incompleta: explica, mas não nomeia. Categoria incorreta: se responder incluindo a noção de adaptabilidade ou usar como exemplo a seleção sexual ou uso de respostas lamarckistas. Essa questão também foi escolhida por mais da metade dos alunos, nos dois semestres em que fez parte da avaliação (2008-1 e 2008-2). Porém, a maior xc parte das respostas não estava de acordo com o que era esperado. No Quadro 5.5 oferecemos exemplos de respostas classificadas em cada uma das três categorias: Quadro 5.5 – Questão Flamingo: exemplos de respostas por categoria Correta “A) Porque nem toda característica ou alteração que os organismos apresentam pode ser traduzida como uma vantagem adaptativa. As alterações não tem o propósito de tornar o organismo mais adaptado. Algumas características são neutras adaptativamente. B) A coloração dos flamingos pode ser devido a alguma proteína depositada nas penas, que seja de fonte alimentícia. Ao consumirem determinado alimento que tenha esta proteína, ela pode não ser processada pelo organismo, se depositando nas penas. A coloração é função exclusiva da expressão gênica de determinados alelos neutros adaptativamente”. (Aluno 11 - Nova Friburgo – 20092) Incompleta “A) Existem características que não tem motivo para existir ou não são vantajosas para a espécie, mas permaneceram ao longo da evolução. Isso ocorre porque a evolução não é um processo finalista. As características dos seres vivos não foram projetadas de acordo com o ambiente e perfeitamente adaptáveis a ele, elas surgiram através de mutações, ao acaso. Por isso nem tudo é adaptativo. B) A coloração dos flamingos pode ter sido selecionada por atrair de forma eficaz os parceiros sexuais ou por efeito carona dos genes”. (Aluna 2 - Nova Friburgo – 2009-2) Incorreta “A) De alguma forma, uma característica permanece numa população de mesma espécie por ter passado por alguma seleção, que deixou fixar essa característica, de adequando e se adaptando no lugar que vive. Não sendo uma desvantagem pra essa espécie. B) O flamingo de cor rosa choque teve essa coloração para demonstrar que está pronto para o acasalamento. Do tipo “veja como sou lindo!” Chamando atenção do parceiro que aprova devido a sua característica. Essa coloração mostra que o animal está saudável para acasalar”. (Aluno 5 - Campo Grande – 2009-1) Essa questão pode ser considerada mais complexa que a anterior, pois foi oferecida uma situação para análise. Em suas respostas os alunos deveriam diferenciar conceitos como seleção natural, valor adaptativo e deriva gênica. Essa integração de conceitos pode ter contribuído para as dificuldades encontradas. Os alunos que tiveram suas respostas classificadas como corretas souberam diferenciar processos seletivos dos processos de deriva gênica como situações diferentes nas mudanças e fixação de características nas populações de seres vivos. A maioria das respostas classificadas como incompletas foram assim classificadas, pois o aluno poderia acertar a letra A ou a B. Na maioria das vezes o aluno só acertou a letra B que era a sugestão de uma situação que poderia levar à cor rosa dos flamingos. Nesse caso, a maioria dos alunos citou a xci deposição de pigmento que não é digerido na alimentação. O principal erro em relação à letra A foi a não indicação de que nesse caso seria uma situação de mutações neutras que se fixam pelo processo de deriva gênica. Já as respostas incorretas foram assim classificadas por apresentarem uma visão adaptacionista, ou seja, de que a característica em questão teria surgido por algum processo seletivo, resposta essa que está em desacordo com o que foi perguntado. Nesse caso, os alunos usaram a ideia de mutação com objetivo ou do meio forçando a mudança do indivíduo. É interessante notar que muitos alunos deram como exemplo de processo que gerou a característica eventos que podem ser classificados como Seleção Sexual. Esse processo está relacionado com a seleção e fixação de características na população que aumentam as chances de um indivíduo se acasalar (CRONIN, 1995; MILLER, 2000; DARWIN, 2002; DARWIN, 2004), portanto é um processo seletivo que gera adaptação, que nesse caso não está relacionado com a sobrevivência e sim com a reprodução. 5.2.2.3 Questão “Só teoria?” Questão: “Evolução é só uma teoria”. Que argumentos você usaria para conversar sobre o assunto com um aluno que apresentasse essa posição? Gabarito: A palavra teoria no meio científico não possui o mesmo uso que no cotidiano. Teoria científica é um sistema de linguagem altamente estruturado destinado a explicar um determinado fenômeno. A teoria se origina de uma hipótese que já foi testada inúmeras vezes e tem como característica a possibilidade de ser falseada. A teoria científica origina-se de evidências muitas vezes já conhecidas (registro fóssil, anatomia comparada, por exemplo) articulada com argumentos que podem ser chamados de filosóficos ou metafísicos. A teoria evolutiva, desde que foi formulada por Charles Darwin, já passou por inúmeros testes, sendo cada vez mais corroborada, inclusive é considerada um dos pilares das Ciências Biológicas. Categorização das respostas: Categoria correta: no meio acadêmico hipóteses + testes = teoria + falseabilidade. Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas etapas, mas que não tenha incluído todas. xcii Categoria incorreta: não diferenciar que são duas formas de conhecimento diferentes com suas dinâmicas próprias. Essa questão estava presente nas avaliações 2008-1 e 2009-1, sendo respondida por quase todos os alunos e as respostas foram bem satisfatórias. Abaixo, no Quadro 5.6, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.6 – Questão Só teoria?: exemplos de respostas por categoria Correta “Diria que o fato de o processo evolutivo ser uma teoria a torna ainda mais fortalecida, com maior credibilidade. Isso porque teoria, ao contrário do que imagina o senso comum, não é uma suposição. Em ciências, teorias são conjuntos de soluções propostas para fenômenos naturais que já passaram por extensa experimentação, se mostrando coerentes, explicando o fenômeno de forma inteligente e prevendo sua repetição. Eu explicaria isso ao aluno, fazendo-o entender que a sua afirmação “evolução é só uma teoria” é ingênua e infundada, pois a evolução não é só uma suposição, é um fenômeno natural repleto de evidências. Portanto, evolução é uma teoria, no melhor sentido dessa palavra: uma comprovação científica”. (Aluno 3 – Petrópolis – 2008-1) Incompleta “Eu usaria o argumento das camadas do solo, a estratigrafia, onde nas camadas mais profundas, encontraríamos fósseis de organismos mais simples e de acordo com os níveis subsequentes de baixo para cima, com o passar de milhares de anos iam se modificando se tornando mais complexo em forma estrutural. Daí chegar a conclusão de que a evolução não é só uma teoria foi comprovada através da estratigrafia do solo entre outras”. (Aluna 3 – Itaocara – 2009-1) Incorreta “Primeiramente poderia dizer ao aluno que a Natureza necessita da Evolução, pois através dela que há a diferença entre os seres vivos, há maior diversidade. Em que não consiste em apenas adaptar-se ou morrer, mas proporcionar variedades por meio de vários processos evolutivos. Depois poderia usar argumentos tais como evidências de evolução como registros fósseis, e seus estratificados, poderia usar árvores filogenéticas, comparações morfológicas, comparações genéticas como genes úteis e inúteis e bioquímicas onde ocorre uso de ATP como fonte de energia. E que o estudo da evolução, também é importante para nos mostrar nossa ancestralidade”. (Aluna 14 - Volta Redonda – 2008-1) Apesar de a questão não focar diretamente em aspectos conceituais da Teoria Evolutiva, achamos importante incluí-la uma vez que discute as diferenças entre o que é conhecimento de senso comum e científico. Essa distinção é necessária não só numa graduação, como nas aulas de Ciências, Biologia, Física e Química da Educação Básica que trabalham com campos de conhecimento científico que possuem regras e métodos próprios (MAYR, 2008) e que os alunos devem ser capazes de reconhecê-los e diferenciá-los. Entretanto, apesar de a maioria dos alunos ter respondido de forma adequada a essa pergunta, algumas respostas discutiam bem as evidências da Evolução, mas não explicavam a lógica do pensamento evolutivo, que na realidade era o que a questão realmente estava requisitando e, por isso, foram classificadas como incompletas. xciii E, respostas consideradas incorretas foram assim classificadas por não responderem a questão, não diferenciando o conhecimento científico do senso comum ou colocando a Evolução como algo necessário. Uma justificativa para essa confusão pode ser encontrada nas palavras de Agnoletto e Bellini (2012), pois em uma significação mais ampla, evolução é sinônimo de mudança e por isso, o termo é aplicável em várias áreas. Isto, no entanto pode causar confusão de significados, quando o conceito derivado da teoria darwinista é aplicado em outros campos de conhecimento (p.14). Esse resultado também foi encontrado no artigo de Alters e Nelson (2002), em que para os participantes da pesquisa, o termo teoria estava relacionado com a formulação de hipóteses, ocorrendo uma confusão entre os sentidos de teoria e lei. Com isso, a Teoria Evolutiva seria “apenas uma teoria”, colocada em uma categoria inferior em relação a outros conhecimentos. 5.2.2.4 Questão “Seleção Natural” Essa questão era semelhante nas avaliações de 2008-2 e 2009-1 e por isso foram analisadas em conjunto. Questão: O que é Seleção Natural? Gabarito: É a sobrevivência diferenciada dos indivíduos de uma população em função da variabilidade genética encontrada. As variações genéticas, em associação com o ambiente, permitirão a existência de um perfil fenotípico da espécie. As variações genéticas entre os indivíduos de uma população surgem ao acaso através das mutações e as novas características podem ser neutras ou conferirem algum valor adaptativo. A seleção natural atua nas características que facilitam ou dificultam a sobrevivência do indivíduo em determinado ambiente e, se o indivíduo não chega à idade reprodutiva ou se a taxa de reprodução é relativamente mais baixa, esta característica tende a ser eliminada. Se a nova característica conferir uma taxa de sobrevivência maior, tende a ser mantida na população, alterando inclusive o perfil genotípico e fenotípico da mesma. Categorização das respostas: Categoria correta: que inclua as noções de sobrevivência diferenciada em função das mutações ao acaso + variedade + mudança de valor adaptativo. xciv Categoria incompleta: todas as respostas que fizerem menções a estas etapas, mas que não tenha incluído todas. Categoria incorreta: quando as respostas não fizerem menções a estes processos ou se tiverem uma essência lamarckista. Questão: Qual a importância evolutiva da Seleção Natural? Gabarito: A seleção natural atua nas variações genéticas existentes entre os indivíduos de uma população. Estas variações são chamadas de mutações e surgem ao acaso. Quando a nova característica possui um alto valor adaptativo, aumenta a chance de sobrevivência de quem às possui; se diminuir o valor adaptativo o indivíduo tende a ser eliminado e com ele a nova característica. Esse processo evolutivo atua na mudança do perfil genotípico e fenotípico da espécie / população ao longo do tempo. Categorização das respostas: Categoria correta: atuação nas variações que surgem por mutações ao acaso + leva a uma mudança do perfil genotípico e fenotípico das espécies ao longo do tempo. Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos. Categoria incorreta: se as respostas forem lamarckistas, com mudanças por causa de um objetivo. Nos dois semestres, essas questões foram escolhidas por mais da metade dos alunos que fizeram a avaliação. Abaixo, no Quadro 5.7, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.7 – Questão Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria Correta “A seleção natural é a sobrevivência (ou mortalidade) diferencial que ocorre nos indivíduos das populações em geral dependendo das características que os indivíduos possuem. Se um indivíduo de uma população qualquer sofrer uma mutação que confira a ele uma vantagem sobre os demais indivíduos da sua população, sendo esta vantagem proveniente de alteração gênica e transmissível aos seus descendentes essa mutação conferirá uma característica que será selecionada naturalmente naquele determinado tempo e espaço, ou seja, haverá uma seleção realizada pelo próprio meio, natural”. (Aluna 3 – Itaperuna – 2008-2) Incompleta “Conforme observou Darwin, no ambiente os indivíduos têm chances diferentes de sobrevivência o que está relacionado com as características de cada um e a natureza se encarrega de selecionar aqueles que possuem as melhores chances de adaptação aquele ambiente”. (Aluna 3 – Paracambi – 2008-2) Incorreta “Seleção natural é uma seleção que a natureza impõe nos organismos, ou seja, os organismos mudam para melhorar a sua sobrevivência. Os indivíduos que possuem características que não são favoráveis para a sobrevivência, a tendência é de serem eliminados”. (Aluna 1 - Campo Grande – 2008-2) Quase todos os alunos que fizeram essa questão tiveram suas respostas classificadas como incompleta. Muitas vezes parece que é simples conceituar a xcv Seleção Natural, mas na hora da explicação fica difícil deixar claro que esse é um processo, que não tem objetivo a priori, mas que está relacionado com valores adaptativos diferenciados de características que surgem ao acaso através das mutações e que esse processo está relacionado com o nicho ecológico ocupado e com o tempo geológico, porque “onde existe variação genética, há lugar para a seleção e evolução” (WEINER, 1995, p.306). Sabemos que quando Darwin (2002) propôs a Teoria Evolutiva ele não conseguiu explicar qual era a fonte das variações entre os indivíduos, mas hoje em dia isso já está bem consolidado e claramente exposto nas aulas dos módulos de diversas disciplinas e, portanto, não deveria ser omitido. Como indica Futuyma (2002, p.10), “a seleção natural é a causa derradeira de adaptações, (...) mas não pode produzir tais adaptações, sem que a mutação e a recombinação gerem uma variação genética sobre a qual possa agir”. Sendo assim, as questões consideradas incompletas estão nessa categoria porque, na maioria dos casos, os alunos não abordaram as mutações ao acaso como fonte das variações na qual ocorre a atuação da Seleção Natural. Nas questões consideradas incorretas os alunos desenvolveram respostas com a ideia de objetivo da Seleção Natural; ou com a sugestão de que existe algo ou alguém gerenciando o processo; ou ainda apresentaram confusão entre os processos que são estocásticos, nos quais a deriva gênica prevalece e normalmente ocorre a fixação de características neutras, com os processos deterministas, que estão relacionados com a seleção de características que mudam o valor adaptativo do indivíduo, aumentando com isso as chances de sobrevivência. Alguns alunos também responderam oferecendo uma explicação do que é o processo de Seleção Sexual. Nesse caso a resposta foi considerada incorreta, pois os processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual possuem lógicas diferentes. O primeiro está relacionado com características que aumentam a chance de sobrevivência e é um processo econômico. Já o segundo está relacionado com características que aumentam a chance de reprodução e que são consideradas custosas. 5.2.2.5 Questão “Complexidade” xcvi Questão: Por que não podemos dizer que uma bactéria é menos evoluída que um ser humano? Gabarito: Porque o que diferencia os dois é o nível de complexidade, mas bactérias e humanos atuais sofreram pressões seletivas diferentes e se não extinguiram é porque estão bem adaptados aos seus nichos ecológicos. Se essa ideia fosse aceita, estaríamos de acordo com a possibilidade de existência de uma scala naturae. Categorização das respostas: Categoria correta: destaque para o que diferencia é o nível de complexidade + os dois sofreram pressões seletivas e não se extinguiram. Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos. Categoria incorreta: resposta com noções de scala naturae. Na avaliação em que essa questão estava presente, essa foi a segunda mais escolhida pelos alunos, mas a maior parte das respostas foi classificada como incorreta. Abaixo, no Quadro 5.8, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.8 – Questão Complexidade: exemplos de respostas por categoria Correta “O processo de evolução não diz respeito à simplicidade ou complexidade de um organismo. Evolução diz respeito às transformações ou surgimento de novas características ao longo do tempo, sendo assim, tanto o homem quanto a bactéria estão suscetíveis à ação das forças evolutivas que promovem o surgimento de novos fenótipos”. (Aluna 12 - Três Rios) Incompleta “Porque a bactéria também passou por um processo evolutivo ao longo do tempo, da mesma forma que o ser humano. Só que a bactéria encontrou estruturas mais simples durante sua adaptação, ao passo que o ser humano encontrou estruturas mais complexas, como forma mais adaptada de vida”. (Aluna 1 – Itaocara) Incorreta “Não se pode dizer que um ser é menos evoluído que outro, podese dizer que o homem é mais complexo que a bactéria, pois possui maior diversidade genética, porém as bactérias existem há muito mais tempo que o homem, podendo até dizer que as bactérias que são mais evoluídas, por ainda viverem em meio a seres tão complexos”. (Aluno 2 - Volta Redonda) Julgamos que a dificuldade encontrada para responder a essa questão ocorreu em função de confusões com a terminologia, pois ser mais complexo não significa ser mais evoluído. Quaisquer espécies que tenham sofrido os processos seletivos e que se mantenham atualmente vivas são igualmente evoluídas, mas uma pode ser mais complexa do que a outra, ou seja, ter mais órgãos, sistemas, uma fisiologia mais complexa, etc. Além disso, as espécies atuais estão bem adaptadas aos seus modos de vida, se mudarmos seus nichos ecológicos provavelmente perecerão. Nesse caso, as respostas corretas abordaram a diferença entre complexo e evoluído, as respostas incompletas não deixaram claro que bactérias e humanos xcvii sofreram processos seletivos diferenciados e nas respostas incorretas há uma confusão de conceituações, incluindo também a ideia de que as adaptações ou complexidades estão de acordo com a necessidade do indivíduo em relação ao meio em que vive. 5.2.2.6 Questão “Mutação” Questão: Qual a importância evolutiva da Mutação? Gabarito: As mutações ocorrem em função de erros que não são corrigidos durante a duplicação do material genético. Quando o erro não altera a sequência de aminoácidos da proteína, dizemos que é uma mutação silenciosa. Quando a sequência de bases altera o produto, seja de RNAs ou proteínas, podemos dizer que a mutação irá gerar variabilidade genética na população e, neste caso, junto com os demais processos evolutivos, como deriva gênica, seleção natural e seleção sexual, poderão atuar mudando o perfil genético da população. Sem mutação não haveria evolução por seleção natural que é a seleção dos indivíduos com as características mais vantajosas em dado ambiente e tempo. Categorização das respostas: Categoria correta: erros ao acaso + geração de variabilidade + diversos processos evolutivos mudam o perfil da espécie. Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes aspectos. Categoria incorreta: se não associar a fonte de variação com a atuação dos processos evolutivos. Essa questão foi a segunda mais escolhida pelos alunos que fizeram a avaliação, mas a maior parte das respostas foi classificada como incompleta. Abaixo, no Quadro 5.9, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.9 – Questão Mutação: exemplos de respostas por categoria Correta “A mutação embora ocorra ao acaso, é o processo pelo qual surgem características novas no indivíduo; a mutação pode ser deletéria e causar morte, pode ser neutra e também pode ser responsável pelo surgimento de uma característica nova que favoreça o indivíduo de tal forma que ele sobressaia na população em questão em relação aos demais indivíduos. Esta característica por ser vantajosa ao organismo será passada adiante através do cruzamento de forma que os descendentes deste organismo mutado apresentarão esta característica e estará sempre em vantagem nesta população. Com o passar do tempo esta característica estará em grande parte da população podendo dar origem a processos de xcviii Incompleta “Sem a mutação não ocorreria a evolução. Quando ocorre uma mutação, e se essa mutação traz um benefício para o ser vivo, ele se torna mais adaptado que os demais, e através da seleção natural vai ocorrer a evolução dessa espécie”. (Aluno 8 – Incorreta “A mutação de determinado gene pode conferir vantagem adaptativa ao indivíduo, quer seja para adquirir características que o beneficiem no meio em que vive, quer seja para disfarçar-se entre os indivíduos da sua espécie. Daí a importância desta especiação, por exemplo. Sem mutação gênica não existiria evolução”. (Aluna 8 – Paracambi) Itaperuna) força evolutiva”. (Aluno 2 – Macaé) A maior parte das respostas foi classificada como incompleta, pois muitas vezes os alunos apenas explicavam o que é a mutação e, quando relacionavam com a evolução, apenas indicavam a atuação da Seleção Natural. Um futuro professor de Ciências e Biologia precisa saber integrar os diferentes processos, uma vez que a mutação é o primeiro passo na criação de variações e, posteriormente, os mecanismos evolutivos, tais como Seleção Natural, Seleção Sexual e Deriva Gênica irão atuar na manutenção ou não das novas características (MAYR, 2008). Com isso, nas questões consideradas incompletas apenas a Seleção Natural foi citada como processo que altera a frequência dos alelos que surgem por mutações. E, nas respostas incorretas, foi apresentada pelos alunos a ideia de que a evolução tem um objetivo, seja através da Seleção Natural, seja através das mutações. 5.2.2.7 Questão “Mutação / Evolução” Questão: Se, em geral, as mutações são maléficas para os organismos, porque dizemos que a mutação é uma coisa fundamental para a evolução? Gabarito: Porque a mutação é a fonte de variação das características de uma população. É a partir das variações que os demais processos evolutivos irão atuar, principalmente a seleção natural. Quando a mutação é benéfica altera o valor adaptativo da espécie no nicho ecológico que ocupa e com isto aumenta as chances de sobrevivência dos indivíduos portadores da referida variação benéfica, naquela população. Categorização das respostas: Categoria correta: os erros ocorrem ao acaso + atuação dos processos evolutivos. Categoria incompleta: se faltar qualquer um destes dois aspectos. Categoria incorreta: se não associar a fonte de variação com a atuação dos processos evolutivos. Essa questão foi a terceira mais escolhida pelos alunos. Novamente a maior parte das respostas foi classificada como incompleta. Abaixo, no Quadro 5.10, oferecemos exemplos das três categorias: xcix Quadro 5.10 – Questão Mutação / Evolução: exemplos de respostas por categoria Correta “Porque a mutação é a fonte de nova variação nos organismos. Assim, novos genes são formados, produzindo novas características nos seres vivos. Se essas características conferem vantagem a esses seres vivos e se a mutação ocorreu nas células sexuais existe uma chance dos organismos passar para as próximas gerações essa mutação”. (Aluno 3 – Paracambi) Incompleta “As mutações são geradoras de variabilidade. Podem ser maléficas ou benéficas e a partir daí a seleção natural selecionará os indivíduos mais aptos à determinadas condições. A evolução é caracterizada por alterações de genes ou de sua proporção na população, o que vai acontecer após mutação e seleção natural”. (Aluna 2 - Itaocara) Incorreta “Como já foi dito mutação é uma alteração ocorrente em genes, se estas modificações são mantidas e são capazes de serem herdadas, é possível a Evolução. Então, podese entender Mutação como sendo a própria Evolução. Pois é através de modificações benéficas para um dado organismo num determinado ambiente que ocorre a Evolução. Sempre associada aos processos de deriva gênica e seleção natural”. (Aluno 10 – Petrópolis) A classificação em incompleta da maior parte das respostas ocorreu em função de uma confusão entre quais são os eventos que estão relacionados com a mutação (acaso e produção de variabilidade) e quais estão relacionados com a Seleção Natural (seleção de variantes com maior valor adaptativo). E os alunos também não apresentaram como as mutações ocorrem. Nas questões incorretas apareceram diversos erros conceituais, tais como: mutação com objetivo; confusão entre mutação e recombinação genética; e mutação como a própria evolução. Na maioria das questões não aparece que a mutação, quando ocorre, não é a princípio vantajosa, desvantajosa ou neutra e que isso depende de que mudanças acarretarão no indivíduo e na sua relação com o ambiente. 5.2.2.8 Questão “Tautologia Seleção Natural” Questão: Alguns pesquisadores argumentaram que o conceito de seleção natural seria tautológico, pois “sobrevivência do mais apto” significa o mesmo que “sobrevivência do que sobrevive”. Como podemos escapar dessa circularidade? Gabarito: Incluindo o conceito de nicho ecológico / de ambiente, pois o conceito de seleção natural é a sobrevivência do mais apto em determinado ambiente. Se mudarem as condições ambientais, mudarão os valores adaptativos e a taxa de sobrevivência também. Ou seja, embora aptidão e sobrevivência não sejam conceitos independentes, pois um se define em termos do outro, a introdução do conceito de ambiente (ambiente histórico, que muda com o tempo, mas permanece certo tempo relativamente constante), estabelece que ambos, c aptidão e sobrevivência, são relativos ao ambiente. Se o ambiente muda, aptidão e sobrevivência relativas também mudam. Categorização das respostas: Categoria correta: incluir a noção de ambiente. Categoria incompleta: se explicar, mas não nomear. Categoria incorreta: se não incluir a noção de ambiente. Essa questão foi escolhida por muitos alunos, mas a maioria a errou. Abaixo, no Quadro 5.11, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.11 – Questão Tautologia Seleção Natural: exemplos de respostas por categoria Correta “Podemos escapar dessa circularidade considerando que a “sobrevivência do mais apto” refere-se ao indivíduo que em determinado tempo e espaço possui características que aumentam a sua vantagem adaptativa e, consequentemente, as suas chances de sobrevivência em relação aos demais indivíduos de sua espécie”. (Aluno 3 – Paracambi) Incompleta “A seleção natural age de modo aleatório, propiciando ao organismo características que de acordo com o ambiente que ele vive, vai resultar numa situação positiva ou não, portanto um organismo que vive no pólo sul não terá o mesmo sucesso evolutivo no equador. A sobrevivência do que sobrevive dá uma ideia de “estar vivo”, mas é preciso ainda perpetuar suas características, portanto a sobrevivência do mais apto está vinculado ao seu sucesso reprodutivo, ou seja, passar suas características. Assim podemos perceber que os dois conceitos são diferentes, pois a seleção natural envolve o sucesso reprodutivo não somente a sobrevivência do organismo”. (Aluna 1 – Piraí) Incorreta “Os seres vivos e o meio ambiente estão em sintonia um com o outro. A seleção natural nada mais é do que a sobrevivência do ser que se adaptou melhor as condições impostas pelo meio”. (Aluna – Itaocara) O principal erro foi a não inclusão, de forma correta, da noção de que a adaptação está relacionada ao ambiente, tendo com isso um tempo e uma história. Essa dificuldade pode estar relacionada com a ideia de que o ambiente é um cenário estático no qual as espécies se adaptam, como apontam Tidon e Lewontin (2004). Esses autores destacam que “é impossível descrever um ambiente a não ser que se faça referência aos organismos que ali interagem e o definem” (TIDON e LEWONTIN, 2004, p.127, tradução nossa). Nas respostas incompletas alguns alunos apresentaram a ideia de mudança consciente ou de que a Seleção Natural é aleatória, mas depois incluíram a noção de que esse processo é temporal e local, que é a forma de evitar a circularidade da frase. Houve também a classificação de respostas incompletas que deram como exemplo a Seleção Sexual, pois esse processo foi considerado como a seleção de características deletérias. Como discutimos ao longo dessa tese, a Seleção ci Sexual é um processo distinto da Seleção Natural e também aumenta a frequência de características adaptativas, que no caso são características que estão relacionadas com o sucesso reprodutivo. As respostas incorretas mais uma vez apresentaram a ideia de objetivo, ou seja, se o ambiente se altera, os indivíduos se transformam para sobreviverem. 5.2.2.9 Questão “Raios UV” Questão: Tomar muito sol, sem proteção, é muito ruim, pois os raios UV causam mutações. Carla lembra que tomava muito sol quando era criança, sem nenhuma proteção, chegando muitas vezes a ficar com bolhas e descascar a pele, mostrando que recebeu, de fato, muita irradiação UV. Carla agora quer ter filhos, mas está com medo de que eles sejam mutantes. Ela está errada. Por que? Gabarito: Porque para que as mutações sejam passadas aos descendentes, devem ocorrer nas células germinativas e não nas células somáticas, como no caso do câncer de pele, ou seja, as características adquiridas durante a vida de uma pessoa não são herdadas; AP3: Nenhuma questão foi selecionada para análise qualitativa. Categorização das respostas: Categoria correta: mutações devem ocorrer nas células germinativas e não nas somáticas. Categoria incompleta: se faltar a noção de mutação ou de diferença entre somática e germinativa. Categoria incorreta: se incluir a noção de herança dos caracteres adquiridos. A questão foi escolhida por quase todos os alunos e abordava um tema recorrente das discussões atuais sobre saúde e exposição excessiva à radiação solar. Abaixo, no Quadro 5.12, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.12 – Questão Raios UV: exemplos de respostas por categoria Correta Incompleta Incorreta cii “Ela está errada porque essas radiações podem ter afetado e causado mutações em suas células somáticas, mas não nas reprodutivas. Para ela ter filhos mutantes é necessário que a mutação que suas células sofreram seja herdada por eles. Isso só seria possível se as mutações tivessem ocorrido nas células germinativas”. (Aluna 18 Volta Redonda) “Carla está errada, pois a mutação ocorre em células gaméticas e não nas somáticas. Dessa forma, ela não corre risco de ter filhos mutantes, pois as células sexuais não foram afetadas”. (Aluna 1 - Campo Grande) “Sim. O fato de que recebeu irradiações ultravioletas não quer dizer que seus (futuros) filhos possuirão características mutantes. A Carla correu um grande risco de desenvolver um câncer de pele no qual poderia ser gerado por uma desorganização celular influente de atividade dos raios UV (ultravioletas). Como esta característica não está no genótipo de Carla, ela pode ficar tranquila e engravidar que os seus filhos não correm risco de serem mutantes quanto à exposição ao sol ao longo de sua infância. O que pode ocorrer é a característica mutante de seus filhos devido a outras influências como alimentação, fumo, mas não pelos raios UV”. (Aluno 8 – Itaocara) Para essa questão houve um número semelhante de alunos que acertaram ou que erraram totalmente. Talvez a dificuldade encontrada por esses alunos seja em como fazer a diferenciação entre mutações que afetam apenas órgãos e tecidos dos indivíduos, ou seja, nas células somáticas; daquelas que podem ser passadas para os descendentes que são as que ocorrem nos gametas. As respostas incompletas diziam que as mutações só acontecem em células gaméticas, quando na realidade podem acontecer em qualquer célula. Sendo que apenas nas células gaméticas é que terá consequências para os filhos. E as respostas consideradas incorretas fizeram o uso de diversos conceitos que são apresentados nos módulos, mas que não respondiam a questão. 5.2.2.10 Questão “Seleção Sexual” Questão: Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e inter-sexual? Gabarito: A intra acontece entre indivíduos do mesmo sexo e a inter acontece como sinalização entre indivíduos de sexos opostos. Estas duas seleções fazem parte da teoria da seleção sexual, que pode ser entendida como as ações, por parte dos indivíduos de uma população, que buscam o sucesso reprodutivo, ou seja, a perpetuação de seus genes nas futuras gerações. Quando a interação é intra-sexual entendemos como a competição/luta entre machos por território, alimento ou pela própria fêmea. Já na inter-sexual existe a exibição por parte dos machos de características físicas – exemplo da cauda dos pavões; ou de atributos – como os cantos; ou até mesmo de construções – por exemplo os bowerbirds; como forma de atrair a fêmea, que será responsável pela escolha de com que macho irá se acasalar. Categorização das respostas: ciii Categoria correta: processo de seleção sexual + intra - luta + inter exibição. Categoria incompleta: se faltar qualquer uma destas noções. Categoria incorreta: se não fizer nenhuma alusão à seleção sexual. Essa questão foi escolhida por mais da metade dos alunos, mas foi a questão que os alunos devem ter apresentado maior dificuldade, devido à quantidade de respostas incorretas. Abaixo, no Quadro 5.13, oferecemos exemplos das três categorias: Quadro 5.13 – Questão Seleção Sexual: exemplos de respostas por categoria Correta “Esses tipos de seleções estão relacionados à reprodução. Na seleção intra-sexual ocorre disputa entre os machos da espécie para decidir quem irá acasalar com determinada fêmea, ou então a disputa é pelo território. Na seleção intersexual a escolha do parceiro para acasalamento é feita pela fêmea. Nesse caso, geralmente, ocorre dimorfismo sexual na espécie, pois os machos costumam apresentar caracteres sexuais secundários que chamem atenção da fêmea e dessa forma ele tenha mais chances de se reproduzir (por exemplo, na cauda do pavão). Em algumas espécies já foi observado que são as fêmeas que apresentam um caracter sexual secundário e que a escolha nestes casos é feita pelo macho”. (Aluna 3 – Resende) Incompleta “A seleção intra-sexual diz respeito à competição entre indivíduos do mesmo sexo pela ocupação de um território ou pelo acasalamento com um indivíduo do sexo oposto, dentro de uma mesma espécie. Já a seleção inter-sexual ocorre quando um dos sexos escolhe o seu parceiro de acordo com seus caracteres sexuais”. (Aluna 1 - Duque de Caxias) Incorreta “Seleção intra-sexual é aquela que ocorre entre indivíduos de populações diferentes. Seleção intersexual é aquela que ocorre entre indivíduos da mesma população”. (Aluna 10 – Piraí) Essa questão aborda diretamente o processo de Seleção Sexual e, como pode ser percebido nos quatro semestres de provas, questões sobre esse tema não fazem parte de todas as avaliações. Além disso, esse tema é tratado de forma rápida no módulo e não é apresentado como um processo diferente do processo de Seleção Natural. Foram poucas as respostas corretas que diferenciaram de forma satisfatória os dois subtipos de processos que fazem parte da Seleção Sexual. Já nas respostas incompletas um dos dois subtipos foi apresentado de forma correta pelos alunos, mas o outro não. As respostas incorretas não citam que esses dois processos fazem parte da seleção sexual. Os alunos explicaram como relações entre espécies diferentes ou populações diferentes, cometendo muitos erros conceituais. civ 5.2.3 O que os alunos responderam nas avaliações de Evolução está de acordo com o que é apresentado nas disciplinas? A seleção de módulos didáticos para leitura com o objetivo de caracterizar os conceitos da Teoria Evolutiva que são abordados nessa graduação foi de grande relevância para as etapas posteriores dessa pesquisa. Seria de se esperar que os alunos conseguissem responder de forma satisfatória às perguntas que abordassem a Teoria Evolutiva nas Avaliações Presenciais da disciplina Evolução. Entretanto, ao classificarmos as respostas de acordo com um gabarito feito por nós, baseado nos referenciais que discutem a Teoria Evolutiva, também escolhidos por nós para leitura, encontramos alguns erros recorrentes, mostrando que os alunos devem estar concluindo esse curso com algumas dificuldades em relação ao tema. Os principais erros descritos foram em relação à evolução, mutação ou Seleção Natural possuírem um objetivo, ou seja, é a partir das dificuldades encontradas para sobreviver em determinado meio que os indivíduos mudam para se adaptar ou sobreviver. Esses resultados foram similares aos encontrados por Santos (2002), pois os alunos pesquisados por ela não distinguiram dois processos biológicos distintos: um responsável pelo aparecimento de novas características em uma população; e outro que as conservaria. Segundo Santos (2002), “entender adaptação como consequência do acaso em contraposição à ideia de escolha consciente talvez seja o maior desafio relacionado ao ensino desse conceito” (p.107). Devemos compreender que a adaptação evolutiva está relacionada à modificação da composição de uma população, ou seja, o processo por meio do qual algumas características e genes se fixam em populações, devido a diferentes mecanismos: seleção natural, efeito do fundador, endogamia, etc. (SANTOS, 2002, p.108). Também foram percebidos erros em relação a como atua cada processo durante as mudanças das espécies ao longo do tempo. Muitas vezes os alunos não sabiam diferenciar o que era relativo à geração de variações (mutações e recombinação) e o que estava relacionado com as mudanças das frequências gênicas ou modificações das espécies (migração, deriva gênica, seleção natural e seleção sexual). Outro erro encontrado se refere ao conceito de adaptação, que é usado como uma referência às mudanças individuais em resposta às mudanças cv ambientais ou a atuação de um agente que promove as mudanças. Esse erro também foi destacado por Tidon e Lewontin (2004) em sua pesquisa com professores do Ensino Médio. Com essa ideia de adaptação, a mutação acaba sendo entendida como uma forma de ajudar os organismos a sobreviverem em condições desfavoráveis, ou seja, “organismos respondem ao ambiente se modificando, através das mutações, e, com isso, evitando a possibilidade de extinção” (BARDAPURKAR, 2008, p.301, tradução nossa). Nos resultados de Gregory e Ellis (2011) os alunos entrevistados, apesar de considerarem e entenderem que a evolução é um tema importante e central das Ciências Biológicas, apresentaram muitos erros quando era solicitado que fizessem análises de situações. Um dos erros mais comuns é o não entendimento de que as mutações e variações populacionais são etapas necessárias para que a Seleção Natural ocorra. Essas dificuldades, entre alunos de graduação em Ciências Biológicas, também foram encontradas por Nehm e Reilly (2007), em seu estudo com graduandos de uma universidade americana. Esses autores fizeram uma proposta de atividade em que os alunos deveriam ter uma participação ativa com o objetivo de melhorar o ensino da Teoria Evolutiva. Os resultados encontrados não foram dos mais animadores, pois embora a frequência de conceitos errados tenha decrescido, a natureza desses conceitos não mudou em relação ao processo de Seleção Natural, permanecendo a ideia de uso e desuso de partes do corpo e ao controle, por parte dos indivíduos, das mudanças em características que são necessárias para a sua sobrevivência. Nossos resultados estão de acordo com o que é dito por Bardapurkar (2008): os professores precisam entender que a compreensão dos alunos sobre evolução é fundamentalmente diferente do entendimento de Darwin: Darwin naturaliza a seleção, enquanto os alunos naturalizam a transformação. Para entender a seleção natural, os estudantes precisam aprender a perceber: primeiro, a diferença entre mudança individual e mudança evolutiva e, a diferença entre os efeitos evolutivos causados por transformação e os efeitos evolutivos causados pela acumulação de pequenas seleções (p.305, tradução nossa). A Seleção Sexual não é um conceito abordado de forma exaustiva durante esse curso de graduação, embora seja um importante tema desenvolvido por Charles Darwin. cvi Podemos perceber que os alunos não conseguiram entender esse conceito, pois na única avaliação em que foi feita uma pergunta diretamente sobre ele os alunos erraram muito. Além disso, em muitas questões eles usaram exemplos de Seleção Sexual quando a pergunta não tratava sobre isso, mostrando que talvez não entendam como a Seleção Sexual opera. Infelizmente, esses resultados estão de acordo com referenciais da área de ensino que mostram como a Teoria Evolutiva é de difícil compreensão e que estratégias para tentar facilitar o ensino desse tema devem ser desenvolvidas. Em função disso, uma segunda etapa do nosso trabalho foi o desenvolvimento e avaliação de uma estratégia didática para a discussão dos conceitos de Seleção Natural e de Seleção Sexual para os alunos inscritos na disciplina Evolução dessa graduação. No próximo capítulo serão apresentados os dados referentes a essas atividades. cvii CAPÍTULO 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Esse capítulo foi dividido em duas partes. Na primeira, descrevemos como ocorreram as escolhas de cada atividade e a explicação de sua sequência. Na segunda encontram-se os resultados obtidos e a sua discussão, após sua utilização na disciplina Evolução da graduação em que o projeto foi desenvolvido. 6.1 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DIDÁTICAS Como descrito anteriormente, as atividades tinham como objetivo mostrar as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, numa tentativa de aumentar a compreensão da Teoria Evolutiva Darwiniana. Essa ideia está de acordo com referenciais da área de ensino que mostram que atividades que necessitem de elaboração de textos, análise de dados ou solução de problemas podem contribuir para uma aprendizagem mais efetiva de determinados temas (ANDREWS et al., 2011). Apesar das atividades terem sido realizadas via plataforma, pretendíamos que não fossem apenas conteúdos a serem apresentados no formato de texto, uma vez que já fazem parte do módulo da disciplina Evolução e de disciplinas anteriores. Sendo assim, optamos por apresentar situações na forma de imagens, textos curtos e filmes, que permitissem que os alunos fossem percebendo as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual e a lógica de cada um, com uma questão a ser respondida a cada atividade. As atividades tiveram início por volta da sexta semana do semestre letivo, tanto em 2012-1, quanto em 2012-2, coincidindo com o início da apresentação do conteúdo de processos selecionistas nos módulos didáticos. 6.1.1 Atividade 1 - Diferenças entre machos e fêmeas intriga pesquisadores Nessa atividade foi feita uma galeria dos sexos, formada por imagens de machos, fêmeas e filhotes tanto de espécies com acentuado dimorfismo sexual quanto de outras com pequeno dimorfismo. Também escolhemos imagens de espécies que ocupam nichos ecológicos semelhantes e/ou que são aparentadas. As imagens foram organizadas em slides. cviii O objetivo era mostrar características como plumagem, chifres, garras, cores e etc. que claramente não estão associadas à sobrevivência e que, portanto, não podem ter sido moldadas pelo processo de Seleção Natural. Essa atividade ainda não tinha como objetivo começar a diferenciação dos processos de Seleção Natural e Sexual. Mas pretendia causar um desconforto nos alunos que conseguissem perceber que existem características que não estão diretamente relacionadas com a sobrevivência. Com isso, os alunos poderiam começar a entender que existem lacunas explicativas na Seleção Natural, permitindo a introdução de outro processo que também atua na diversificação das espécies, que é a Seleção Sexual. Iniciamos com essa galeria dos sexos porque os exemplos escolhidos são de características que, como sugerido por Darwin (2004, p.168), nada têm a ver com os órgãos primários, (…) tais como o fato de ser o macho maior, mais forte e mais agressivo, de ser dotado de armas de ataque ou meios de defesa contra seus rivais, de apresentar colorido mais vistoso e ornamentos variados, de saber cantar, além de outros diferenciais desse gênero. Além disso, Darwin também destacava que as fêmeas são mais parecidas com os filhotes e que os machos são tão diferentes “(...) devido à seleção sexual – ou seja, pela escolha feita pelas fêmeas dos machos mais atraentes” (DARWIN, 2004, p.334). Junto com as imagens, foi colocada a seguinte questão: “Olhe bem as imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças de estruturas ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram colocadas espécies que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos. Pensem sobre isso e respondam: As características que são diferentes entre machos e fêmeas estão relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua resposta.”. 6.1.2 Atividade 2 - Novas explicações sobre as diferenças entre os gametas masculinos e femininos cix Após a apresentação das imagens na atividade 1, e esperando que os alunos começassem a relacionar as diferenças encontradas com a reprodução e não com a sobrevivência, decidimos abordar sobre as diferenças entre os gametas masculinos e femininos: seus tamanhos e quantidades produzidas. Para isso, escolhemos um trecho do documentário Evolução15, que é uma animação que mostra as diferenças nos custos para produção dos gametas masculinos e femininos e de como isso influencia no comportamento sexual de machos e fêmeas. Nessa animação é descrito que os machos, portadores de espermatozoides, por serem produzidos em grandes quantidades, são menos exigentes em relação à escolha das fêmeas, portadoras dos óvulos; já as fêmeas que produzem óvulos em quantidade muito menor, com maior gasto energético e por tempo limitado, são mais exigentes em relação aos parceiros com quem decidem se acasalar. A relação estabelecida entre machos e fêmeas, a partir do surgimento dos gametas, está relacionada com o fato de que durante um bilhão de anos, desde que surgiram pela primeira vez organismos produtores de óvulos e esperma, os futuros genéticos dos machos (os organismos “produtores de esperma”) têm sido afetados pelo que as fêmeas (as “produtoras de óvulos”) fazem e vice-versa (HRDY, 2001 p.17). Então, o recurso natural talvez mais importante, bastante disponível, mas limitado na natureza, são os parceiros sexuais (WAIZBORT, 2001) e, se olharmos espermatozoides e óvulos como os “recursos” que cada indivíduo busca no sexo oposto, teremos de concordar que um óvulo é um bem muito mais valioso e limitado em relação às multidões já epigramáticas dos espermatozoides (WAIZBORT, 2005, p.303). A escolha de se usar esse trecho foi em função de ele apresentar de forma lúdica o que diversos autores como Zahavi e Zahavi (1997), Buss (2000), Miller (2000), Hrdy (2001) e Fisher (2008) discutem em seus textos quando apresentam uma das possíveis justificativas para as diferenças encontradas nos comportamentos sexuais de diversas espécies de animais. Esses autores, como demonstrado nos referenciais teóricos desse trabalho, indicam que o dimorfismo sexual e comportamentos sexuais diferenciados estão relacionados com investimentos diferentes de machos e 15 Coleção de quatro DVDs da Scientific American Brasil: Evolução – a incrível jornada da vida. cx fêmeas nas diversas etapas do processo reprodutivo, sendo que uma dessas diferenças, com grandes consequências para o processo, é a produção de óvulos pelas fêmeas e espermatozoides pelos machos. Com isso, nessa atividade a questão apresentada aos alunos foi: “Que processos podem ter contribuído para o surgimento dessas características diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a atividade anterior.”. 6.1.3 Atividade 3 - Novas abordagens sobre as vantagens da reprodução sexuada Nessa atividade também foi usado outro trecho do documentário Evolução, que mostra que apesar dos altos custos energéticos da reprodução sexuada, esse processo é vantajoso, pois aumenta a variabilidade dos indivíduos da população. Esse trecho mostra uma experiência com peixes de pequenos lagos mexicanos, realizada pelo pesquisador Robert Vrijenhoek e sua equipe. No caso desses peixes, eles estavam separados em diversas populações que ocupavam os diferentes lagos. As discussões dos resultados do trabalho dessa equipe estavam relacionadas com as consequências evolutivas para as populações que perderam sua variabilidade e o que ocorreu quando aumentou novamente a variabilidade genética. Esse trecho é baseado em alguns trabalhos de Vrijenhoek (1979; 1998) em que esse autor ressalta que em espécies que possuem populações assexuadas, populações híbridas e populações sexuadas ocorre uma grande variação de genótipos e, por isso, as vantagens da reprodução sexuada ficam obscurecidas em função de seu alto custo. Entretanto, esse autor indica que a reprodução assexuada é rara em espécies animais, propondo que para entender a predominância da reprodução sexuada devem ser estudadas ecologicamente e geneticamente as populações assexuadas para compreender em que tipo de ambiente elas se mantêm. Segundo Vrijenhoek, identificar as condições em que linhagens assexuadas prosperam ou não permite abrir uma janela através da qual os biólogos podem perceber o significado da vantagem adaptativa da diversidade genética e do sexo (1998, p.617, tradução nossa). cxi Ainda segundo esse autor, em populações assexuadas os genótipos são constantes ao longo das gerações; enquanto que no extremo oposto, temos a reprodução sexuada que permite a criação de genótipos e fenótipos de forma ilimitada a cada geração. Sendo assim, os clones podem fornecer um experimento natural que permite estudar as interações entre genótipos fixos e ambientes que mudam constantemente no tempo e no espaço (VRIJENHOEK, 1998). No trabalho com os peixes dos lagos mexicanos, Vrijenhoek (1998) demonstra que as diferenças genotípicas e fenotípicas entre indivíduos é a essência do processo de reprodução sexuada e é necessária para espécies que estão intimamente associadas, em uma luta co-evolutiva, com parasitas biológicos de rápida evolução (p.626, tradução nossa), e faz uma referência ao livro Alice através do espelho em que a Rainha de Copas diz para Alice que elas devem correr muito se quiserem permanecer no mesmo lugar (VRIJENHOEK, 1998). Para Vrijenhoek, o modelo da Rainha Vermelha “fornece uma das mais poderosas explicações ecológicas para a manutenção do sexo e a diversidade genética em organismos superiores” (RIDLEY, 1993 apud VRIJENHOEK, 1998, p.626, tradução nossa). Vrijenhoek (1998) conclui então, que populações assexuadas possuem algumas vantagens na colonização de novos ambientes e esse pode ser um dos motivos de sua manutenção, além de terem um processo reprodutivo mais rápido. Porém, a manutenção de populações sexuadas em competição com populações assexuadas suporta a hipótese de que a diversidade genética fornece benefícios ecológicos que compensam os custos do sexo. Essa atividade tinha como objetivo mostrar aos alunos que a explicação para o sucesso da reprodução sexuada é que ela aumenta em muito a variabilidade genética da prole, e uma variabilidade maior traz múltiplas vantagens na luta pela sobrevivência – a redução da vulnerabilidade a doenças é uma delas (MAYR, 2008, p.208). Depois de assistirem ao trecho, foi pedido para que os alunos fizessem a proposta de uma hipótese para explicar a existência de características diferentes entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada um e o relato sobre os peixes mexicanos. cxii Após as três atividades iniciais gostaríamos que os alunos conseguissem perceber que a reprodução sexuada tem como principal vantagem a geração de variabilidade na população. Como na reprodução sexuada existe a formação de gametas e a necessidade de encontro entre eles, esperava-se que os alunos relacionassem que os gametas diferenciados de machos e fêmeas também podem ter contribuído, evolutivamente, para que diferenças comportamentais entre esses dois sexos fossem selecionadas. 6.1.4 Atividade 4 - Estudos sobre a evolução das espécies fazem novas propostas para explicar a biodiversidade existente Nessa atividade foram selecionadas imagens disponíveis na internet e trechos do documentário Evolução com situações que pudessem ser explicadas tanto pela Seleção Natural, quanto pela Seleção Sexual. O objetivo era retornar à mesma ideia da primeira atividade, mas agora esperando que os alunos conseguissem notar as diferenças entre as situações, ou seja, determinadas características estão presentes em todos os indivíduos da população e estão relacionadas com a sobrevivência (Seleção Natural) e características que apresentam dimorfismo sexual, que estão relacionadas com o sucesso reprodutivo (Seleção Sexual). Em relação às imagens foi feita uma montagem de dois slides que mostravam fotos de algumas situações. Nesses slides estavam exemplos de camuflagem, adaptação que evita a perda de água e machos e fêmeas com dimorfismo sexual. Para cada imagem o aluno deveria dizer que processo, Seleção Natural ou Seleção Sexual, atuou no estabelecimento daquela característica. Havia ainda um terceiro slide em que foi colocada uma imagem do cérebro humano, com exemplos de diversas capacidades que não estão diretamente relacionadas com a sobrevivência. Incluímos a imagem de uma estrutura humana para que fosse o ponto de partida para a continuação da discussão desses dois processos nas atividades futuras (Atividades 5-8), pois focariam apenas na nossa espécie. Os trechos de filmes que escolhemos faziam parte do documentário Evolução. Nesse caso, foram selecionados cinco trechos e, após assistirem, os alunos também deveriam classificar se a situação estava de acordo com a cxiii Seleção Natural ou com a Seleção Sexual. Os conteúdos dos trechos selecionados estão descritos abaixo: Tuberculose – Esse trecho estava relacionado com o conceito de Seleção Natural, pois discutia o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos, sendo usada a tuberculose como exemplo. Nesse caso, a parte selecionada descrevia o trabalho que Banatvala et al. (1999) estavam fazendo na prisão russa de Tomsk, em associação com agências internacionais de saúde, numa tentativa de desenvolver novos tratamentos para pacientes contaminados com bactérias causadoras da tuberculose que são multirresistentes às drogas. Esse era um projeto piloto que tinha como objetivo desenvolver novas estratégias para a tentativa de controle da tuberculose no mundo. No documentário também é apresentado o pesquisador Alex Goldfarb, que faz parte desse projeto, explicando sobre o porquê da escolha de uma prisão russa. Então, o trabalho nessa prisão estava sendo realizado através da associação de diversas equipes preocupadas com a disseminação global de bactérias causadoras de tuberculose multirresistentes às drogas, sendo discutido o surgimento dessas cepas na Ásia e regiões da União Soviética, e sua expansão para outras áreas como, por exemplo, Estados Unidos (BIFANI et al., 2002); Salamandra - O segundo trecho escolhido também estava relacionado com o processo de Seleção Natural, uma vez que era sobre uma espécie de salamandra que tem como característica principal um veneno muito letal. Os pesquisadores que trabalham com esse grupo de seres vivos discutem como a coevolução de espécies, a partir da interação de características específicas de cada uma, leva ao rápido e complexo processo de diversificação adaptativa entre populações (GEFFENEY et al., 2002). Nesse trabalho, a equipe de Geffeney et al. mostra que a Seleção Natural está atuando em características que estão relacionadas com a interação entre organismos de duas espécies distintas, em que os altos níveis de toxidade do veneno de salamandras do gênero Taricha está associado à coevolução da resistência a esse veneno em seu único predador natural que é a cobra da espécie Thamnophis sirtalis. A toxina produzida por esse animal é capaz de paralisar a musculatura e leva o indivíduo à morte por insuficiência respiratória. A resistência ao veneno varia entre os indivíduos da população de cobras e possuem um custo: esses animais são mais lentos em relação aos que não possuem resistência. A pergunta principal para Geffeney, Williams e demais cxiv colaboradores em seus trabalhos é: como toxinas mortais e resistência a elas evoluíram? Isso porque parece haver um paradoxo nesse processo uma vez que se todos os predadores morrerem quando entrarem em contato com a toxina da presa, nenhuma seleção que leve ao aumento da resistência ocorrerá. Ao mesmo tempo, se a resistência não aumentou, também não haverá pressão seletiva que leve ao aumento da toxidade (WILLIAMS et al., 2003, p.155, tradução nossa). Atualmente, esses pesquisadores têm procurado estabelecer as bases genéticas, tanto da letalidade do veneno, quanto da resistência, e de como esses genes se distribuem nas diversas espécies aparentadas; Pavões - O terceiro trecho escolhido abordava o processo de Seleção Sexual e focava no trabalho de Marion Petrie. Essa pesquisadora demonstrou que o sucesso reprodutivo de pavões machos da espécie Pavo cristatus estava relacionado com variações na cauda dos pavões que pertenciam ao mesmo grupo (PETRIE et al., 1991), em relação à ocupação de determinado território. Segundo a pesquisadora, esse dado estava de acordo com a hipótese de Darwin de que as caudas dos pavões evoluíram a partir da preferência das fêmeas, sendo um dos exemplos clássicos, presente em livros e textos, de uma característica extravagante que evoluiu a partir da seleção sexual. Em suas observações, Petrie pode relacionar que o número de cópulas e de fêmeas a que um macho tinha acesso estava relacionado com o número de ocelos presentes em sua cauda e que as fêmeas visitavam vários machos até escolher com qual iria copular; Ornamentos Corporais - O quarto trecho selecionado também estava relacionado com o processo de Seleção Sexual e usava como exemplo a produção de ornamentos corporais pela nossa espécie. Em um primeiro momento apresenta os argumentos de Randall White (1992) sobre a importância de se incluir os ornamentos corporais como mais uma forma de arte do Paleolítico Superior para se entender o mundo social do passado. Para ele, os ornamentos corporais estavam relacionados com construções humanas que representavam valores, crenças e identidade social. Esse trecho também apresentava o trabalho de Kuhn et al. (2001) em que sua equipe encontrou ornamentos corporais manufaturados em uma caverna na Turquia, sendo um dos sítios mais antigos do Paleolítico Superior com esse tipo de artefato. Kuhn et al. (2001) sugerem que cada tipo de material e tecnologias utilizados na confecção desses ornamentos cxv podem estar relacionados com o estabelecimento das relações sociais da época. Para Kuhn et al. (2001), encontrar objetos manufaturados é uma das primeiras indicações do desenvolvimento de tecnologia informacional que mediava a comunicação entre os indivíduos, contribuindo para a criação de uma identidade social, ou de gênero, ou ainda de características de sua história de vida. Esse comportamento também era vantajoso para a troca de informações entre grupos diferentes que se encontravam, possuindo um paralelo com os dias de hoje, em que ocorre o reconhecimento de grupos a partir de informações visuais, como roupas e acessórios; Linguagem - O quinto e último trecho selecionado possuía como exemplo de capacidade humana a linguagem e uma proposta de desenvolvimento dessa característica a partir da atuação da Seleção Sexual. Julgamos importante essa inclusão, pois essa é uma característica que nos diferencia dos demais animais e que muito se tem discutido sobre sua origem e evolução. No trecho escolhido é usado como referência o trabalho de Robin Dunbar (1998), em que se discute que processos atuaram no desenvolvimento do nosso cérebro. Sua principal discussão e proposta estão relacionadas com o fato de que o cérebro humano deve ter evoluído a partir das pressões e demandas de um sistema social complexo, uma vez que primatas apresentam um sistema social mais complexo que outras espécies. Essa visão é diferente da visão tradicional em que o cérebro humano teria evoluído a partir das pressões para processar informações ecológicas relevantes. Dunbar (1998) não concorda com essa visão, pois o cérebro humano apresenta um custo energético muito grande para ser mantido. Sendo assim, nessa perspectiva “é muito difícil justificar a afirmação de que primatas, especialmente humanos, necessitam de grandes cérebros, em comparação com outras espécies, somente para fazer o mesmo trabalho ecológico” (DUNBAR, 1998, p.178, tradução nossa). Dunbar e colaboradores propõem, em sua teoria social sobre o desenvolvimento da mente humana, que a linguagem se desenvolveu a partir de pressões seletivas sociais, estabelecidas a partir das complexas relações sociais entre os membros de um grupo (MESOUDI et al., 2006). Essa evidência é consistente com os resultados encontrados em suas pesquisas, que mostra que dois terços das conversas informais feitas de forma livre apresentam como pontos principais de discussão tópicos sociais, tais como: atividades sociais, relações pessoais, etc. Esses temas são mais falados que outros como trabalho e política (DUNBAR et al., 1997 apud MESOUDI et al., cxvi 2006). Nessa perspectiva, a linguagem evoluiu através da troca social de informações. Esse último trecho apresenta uma das propostas para o surgimento da linguagem e outros autores também concordam com essa perspectiva. Por exemplo, para Miller (2000), a linguagem humana evoluiu e se tornou muito mais complexa do que seria necessário para funções básicas de sobrevivência. Sob uma perspectiva biológica, arte e música parecem um desperdício de energia, atividades sem um propósito (p.12). Esse autor sugere que a mente humana é um conjunto de indicadores de aptidão e que “a seleção sexual provavelmente moldou a linguagem humana de ambos os modos: diretamente, pela escolha do parceiro, e indiretamente, pelo status social” (Miller, 2000, p.381-382). Baron-Cohen (2004) também destaca o quanto a linguagem deve ter sido determinante no sucesso reprodutivo das fêmeas ancestrais de nossa espécie, pois “a mulher com boa capacidade de empatia tinha mais chance de manter o relacionamento estável enquanto os filhos ainda fossem vulneráveis, promovendo a sobrevivência deles e a transmissão dos genes dela” (p.153). Então, após a visualização das imagens e dos filmes foi solicitado aos alunos que eles explicassem como surgem as variações entre os indivíduos, para dizer em cada situação se a característica estava relacionada com a Seleção Natural ou com a Seleção Sexual e discutirem as diferenças entre esses dois processos. Ao final dessa atividade foi enviada uma resposta completa para os alunos diferenciando conceitualmente os dois processos que estavam sendo apresentados. Essa decisão foi tomada em função da semana em que se encontrava o cronograma da disciplina. Pois, o prazo para que os alunos enviassem as respostas e nós colocássemos o que era esperado como resposta ocorreu na semana da Avaliação Presencial 1, que poderia ou não conter questões relacionadas com o tema. Nesse momento esperávamos que os alunos conseguissem relacionar os seguintes conceitos: os dois tipos de processos seletivos têm como base as variações entre os indivíduos que surgem a partir de mutações ao acaso; o processo de Seleção Natural está relacionado com características que aumentam as chances de sobrevivência no ambiente e, com isso, o indivíduo consegue cxvii chegar à idade reprodutiva e transmitir seus genes às futuras gerações; e que o processo de Seleção Sexual está relacionado com a escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. 6.1.5 Atividade 5 - Mapeadas diferenças em áreas cerebrais de homens e mulheres A partir da atividade 5, focamos apenas na espécie humana como exemplo para continuarmos abordando as diferenças entre os conceitos de Seleção Natural e de Seleção Sexual. A decisão de usar a espécie humana como exemplo se baseia principalmente no trabalho de Silva-Porto (2008) que mostra o interesse de alunos de diversas idades por aspectos relacionados ao comportamento humano, principalmente o comportamento sexual. Andrews et al. (2011) em suas atividades também usaram a espécie humana como exemplo para tentar facilitar a compreensão dos alunos sobre o processo de Seleção Natural, enfatizando que existem três exigências para que esse processo ocorra: existência de variação na população, herança dessa variação e sucesso diferenciado da reprodução. Essa decisão também se baseia no próprio trabalho de Darwin que em seu livro A origem do homem e a seleção sexual utiliza exemplos de diversos grupos animais para mostrar um grande número de comportamentos que estão relacionados com a escolha de parceiros e a evolução das espécies sexuadas. Posteriormente, Darwin usa esse mesmo tipo de demonstração para a espécie humana, mostrando que nossa espécie faz parte do Reino Animal e da mesma forma que compartilha características morfológicas, embriológicas e etc., também compartilha características relacionadas com a expressão das emoções, escolha sexual e comportamento sexual, com especial ênfase no dimorfismo sexual que ocorre na espécie humana, assim como em outras espécies (COHEN, 2010). Além disso, Meston e Buss (2007) indicam que a teoria de Seleção Sexual deve ser usada para explicar as diferenças encontradas em relação a comportamentos masculinos e femininos em diversas culturas. A partir dessa ideia, podemos entender que cxviii o sexo que investe mais na prole seria mais exigente quanto à escolha do(a) parceiro(a) (atração inter-sexual) e o sexo que investe menos competiria mais avidamente em prol da obtenção de membros do sexo oposto “mais investidores”, com maior potencial e valor dentro da comunidade (competição intra-sexual) (BORRIONE e LORDELO, 2005, p.36). Hrdy (2001) também faz contribuições sobre a necessidade de uma compreensão evolutiva de nossa espécie, pois como podem cultura e socialização explicar os papéis sexuais em mamíferos que não possuem linguagem nem pensamento simbólico? (...) Devem estar envolvidas diferenças emocionais que vão muito além das duas principais diferenças físicas, gestação e lactação (p.230). Logo, “é tão absurdo falar sobre um comportamento “geneticamente determinado” quanto afirmar que os genes nada têm a ver com o comportamento” (HRDY, 2001, p.77). Mayr (2008) também fez contribuições em relação à necessidade de incluir a espécie humana em discussões referentes à nossa biologia, pois, para ele, “ignorar a diversidade biológica humana em nome da igualdade só faz mal; isso tem sido um impedimento à educação, a medicina e a vários outros esforços humanos” (p.329). Essa discussão também é importante porque, segundo Darwin (2004), dados sobre os seres humanos devem ser incluídos “no conjunto geral dos seres vivos, no que se refere ao seu modo de aparecimento sobre a Terra” (p.9). Sendo assim, segundo Baron-Cohen (2004) as características, em geral, só se mantêm sob controle genético quando conferem alguma vantagem para a reprodução ou para a sobrevivência do organismo em duas batalhas: sobreviver para atingir a idade adulta e ser selecionado para ter filhos (p.138). Para dar início a essa etapa selecionamos duas imagens lúdicas que mostram os cérebros masculinos e femininos e como os interesses de cada um dos sexos estariam distribuídos nesse órgão. Também editamos trechos do filme A verdade nua e crua, pois o filme faz uma brincadeira sobre quais são os reais interesses de homens e mulheres em uma relação. Ele mostra um homem tentando convencer uma mulher de que em relação à atração, ao sexo e aos relacionamentos duradouros os interesses iniciais e a atração ocorrem de forma diferenciada entre homens e mulheres. Escolhemos situações bem satirizadas numa tentativa de provocar os cxix alunos para que eles continuassem participando das atividades e começassem a refletir sobre a nossa própria espécie. Nessa atividade a questão que eles deveriam responder era: “Qual é a explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira? Concordam ou não com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade? Homens e mulheres querem coisas diferentes em um relacionamento?”. 6.1.6 Atividade 6 - Comportamentos sexuais de homens e mulheres possuem diferenças Após a provocação com imagens e textos lúdicos, utilizamos nas novas atividades dados científicos sobre os possíveis comportamentos sexuais diferenciados entre homens e mulheres, sua origem e consequência. Para tal, disponibilizamos um trecho do documentário Instintos16 que é a descrição de uma experiência realizada em uma universidade de Londres em que foram escolhidos dois atores desconhecidos e fisicamente atraentes, cada um de um sexo, para abordarem no campus da universidade pessoas do sexo oposto. A atriz deveria convidar os estudantes para irem para a cama com ela; e o ator deveria convidar as estudantes para irem para a cama com ele. Três em quatro rapazes convidados pela atriz aceitaram de pronto a ideia do programa. Todas as garotas que foram abordadas pelo ator recusaram a proposta 17. Também foi disponibilizado um texto, escrito por nós, com as principais ideias de David Buss a partir de seus estudos com 37 culturas. Seus dados mostraram que apesar de ambos os sexos valorizarem igualmente o amor mútuo, a inteligência e a amabilidade; homens valorizam mais a aparência e a juventude e mulheres valorizam boas perspectivas de recursos para o cuidado com a prole. Quanto aos relacionamentos de curto prazo, Buss mostra que homens desejam por volta de 20 parceiras sexuais diferentes durante a vida, ao passo que as mulheres desejam cerca de cinco. Para Buss (2000) “os desejos dos homens têm uma explicação direta baseada nas estratégias sexuais evoluídas. (...) Quanto maior o acesso sexual a uma variedade de mulheres, maior sucesso reprodutivo” (p.154). Em relação às 16 Série de quarto episódios em dois DVDs, produzidos pela BBC, intitulado Os instintos humanos. Nas atividades foram usados trechos do episódio Desejos profundos. 17 Esse foi o único trecho selecionado dos documentários que não conseguimos os textos científicos originas, porém David Buss, em seu livro A paixão perigosa, também cita esse experimento. cxx mulheres, o autor entende que “os recursos reprodutivos das mulheres são preciosos e finitos, e as mulheres ancestrais não os desperdiçavam com qualquer homem ao acaso” (p.158). Outro enfoque de Buss (2000) está nas diferenças percebidas entre os ciúmes masculino e feminino. Para ele, homens tem mais ciúme sexual devido à incerteza da paternidade; já as mulheres têm mais ciúme emocional em função da incerteza do comprometimento masculino. Sendo assim, o ciúme dos homens é mais sensível a pistas de infidelidade sexual, e o ciúme das mulheres é mais sensível a pistas de infidelidade emocional. Essas descobertas interculturais fornecem surpreendente apoio a teoria de que essas diferenças entre sexos são universais (BUSS, 2000, p.79). A percepção de que homens e mulheres são diferentes também é trabalhada por Hrdy (2001), que discute que alguns comportamentos femininos podem ser iguais em diversas culturas. Para ela, as escolhas atuais, feitas por homens e mulheres modernos, não contradizem as expectativas evolutivas, pois as pressões evolutivas sofridas pelas mães humanas estavam relacionadas com a troca de quantidade de filhotes pela qualidade de seus filhos, ou seja, na garantia de que pelo menos um filho sobrevivesse e chegasse à idade reprodutiva. No caso das escolhas femininas, ainda existe mais um fator que influencia esse processo que é o ciclo menstrual. Experimentos têm demonstrado que a preferência feminina varia de acordo com a fase do ciclo menstrual e com o tipo de relação que será estabelecida, se uma relação de curto ou longo prazo (LITTLE et al., 2011). Nesse último caso, para relações de curto prazo as mulheres preferem homens com traços mais masculinos e para as relações de longa duração preferem parceiros com traços menos masculinos, isso porque “relações de curto prazo minimizam a necessidade de avaliar o investimento do parceiro e com isso a necessidade de escolher um parceiro cooperativo” (LITTLE et al., 2011, p.863, tradução nossa). Com isso, a pergunta que os alunos deveriam responder era: “Que processos podem ter contribuído para o surgimento desses comportamentos diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou experiência de vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma relação com as atividades 1, 2 e 3?”. cxxi 6.1.7 Atividade 7 - Proposta de integração de dados sobre os circuitos cerebrais e o comportamento sexual da espécie humana Essa atividade teve como objetivo mostrar aos alunos como é possível fazer a integração entre comportamentos humanos e o que ocorre no nosso cérebro, órgão que regula diversas ações. Uma das tarefas era a leitura de um texto escrito por nós que descreve experimentos sobre a ativação de circuitos neuronais em duas espécies de roedores aparentadas filogeneticamente. Nesses experimentos foi demonstrado como comportamentos sociais e reprodutores diferentes podem estar relacionados com uma distribuição diferenciada no cérebro dos receptores para os neurotransmissores ocitocina e vasopressina. Também foram usados dados de experimentos com ovelhas. Também foi solicitado que os alunos assistissem mais dois trechos do documentário Instintos. O primeiro era sobre um experimento realizado na Universidade de Sterling, Escócia, em que mulheres, através de um programa de computador, poderiam modificar fotos de rostos masculinos, alterando as feições para mais delicados ou mais másculos. Os resultados mostrados nesse documentário indicaram que as mulheres que estão ovulando preferem rostos mais másculos, enquanto que as que não estão preferem os mais delicados. Foi considerado que esses resultados estão de acordo com a ideia de seletividade feminina, uma vez que rostos mais másculos, com pescoço mais grosso, mandíbulas e queixos largos e cenho cerrado são os sinais típicos de força e saúde, qualidades genéticas que uma mulher deseja, inconscientemente, segundo a teoria da Seleção Sexual, passar à sua prole. O segundo trecho selecionado era sobre um experimento da Universidade de Newcastle, Austrália, mostrando como os feromônios podem estar relacionados com a atração de parceiros sexuais. Nesse experimento foi solicitado que seis mulheres dormissem três dias seguidos com a mesma camisa. Posteriormente, foi solicitado a um homem que cheirasse essas camisas e colocasse em ordem de maior atração para a menor. Também foi feito o mapeamento de seis genes que estão relacionados com o sistema imunológico de todos os participantes. cxxii Os resultados mostraram que a atração ocorre por cheiros que revelam um sistema imunológico mais diferenciado em relação ao da própria pessoa, indicando que esse é um dos passos que contribui para a escolha de parceiros com uma constituição genética diferente da sua própria, o que possibilitaria uma maior variabilidade genética dos filhos. Essas situações se basearam nos trabalhos de Craig Roberts e sua equipe (LITTLE et al., 2011), em que avaliaram como o dimorfismo sexual pode influenciar no julgamento e na atração de parceiros sexuais. As características usadas em suas experiências estavam relacionadas com o rosto, a voz e o cheiro. Foi então solicitado aos alunos que, após a leitura do texto e visualização dos trechos, relacionassem a reprodução sexuada, a evolução de nossa espécie e a escolha de parceiros. 6.1.8 Atividade 8 - Dois processos propostos por Darwin, quando usados em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente Essa foi a última atividade e nela usamos mais um trecho do documentário Instintos que mostra que o fato de homens e mulheres produzirem testosterona de forma diferenciada contribui para comportamentos sexuais diferentes. Além disso, mostra a ativação de vias do neurotransmissor dopamina quando ocorre a atração por alguém, levando às mudanças corporais, preparando para o sexo. Também foi pedido aos alunos que lessem mais um texto escrito por nós baseado no livro de Helen Fisher: Por que amamos – a natureza e a química do amor romântico (2008). Nesse livro a autora descreve como desenvolveu um experimento e seus resultados em relação à ativação de circuitos neuronais no que a autora chama de impulso para o acasalamento. Além disso, a autora procura relacionar seus dados com o que se sabe sobre a evolução das espécies, discutindo sobre as bases genéticas para produção de determinada substância e de receptores para tal. A autora também une suas descobertas ao que já está consolidado sobre o processo de Seleção Sexual: de que deve existir uma mente por detrás do processo de Seleção Sexual, já que são indivíduos percebendo e avaliando outros, mesmo que inconscientemente. Fisher (2008) considera o amor romântico e, como consequência, o comportamento sexual, uma característica universal da espécie humana, pois cxxiii diversas sociedades humanas deixaram ou deixam registros que falam do amor. Os dados apresentados por Fisher também mostram que nas diversas sociedades, os indivíduos sabem diferenciar luxúria, amor e paixão. Para ela, então, essas emoções/sentimentos são universais, mas suas manifestações dependem da cultura em que o indivíduo está inserido. Continuando sua explicação, Fisher (2008) destaca que os comportamentos acima citados, criam “uma rede cerebral primordial que leva o amante a concentrar sua atenção no maior prêmio de sua vida – um parceiro que possa transmitir seu DNA pela eternidade” (p.99), sendo chamado, então, de “um impulso humano fundamental para o acasalamento” (p.102). Com isso, contribui para o entendimento do desenvolvimento e funcionamento de nosso cérebro, pois este órgão magnífico deve ter servido a propósitos essenciais: dentre eles, possivelmente, impressionar parceiros de acasalamento em potencial com novos tipos de talentos linguísticos, artísticos e morais, bem como outras formas de sedução (FISHER, 2008, p.180). Para finalizar as atividades, foi solicitado que os alunos fizessem uma síntese das diferenças dos processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual, exemplificando cada um. Após o término das atividades também foi disponibilizado um texto, escrito por nós (APÊNDICE II), que abordava os principais conceitos trabalhados nas atividades. Sendo assim, mesmo quem não fizesse as atividades, poderia ter acesso aos conteúdos trabalhados através do texto. 6.2 AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DIDÁTICAS Ao longo desse projeto, nos preocupamos em caracterizar as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, pois acreditamos que esses dois são centrais para o entendimento da Teoria Evolutiva Darwiniana e para a explicação da biodiversidade existente. Em função das dificuldades encontradas no entendimento desse tema por alunos de diversos níveis de escolaridade, nos questionamos se a inserção de atividades semanais que abordassem apenas esses conceitos, e não todos os demais aspectos teóricos e práticos da Teoria Evolutiva, poderiam contribuir para um melhor entendimento desses processos. cxxiv Sendo assim, desenvolvemos oito atividades, que foram disponibilizadas para os alunos durante oito semanas seguidas, durante dois semestres: 2012-1 e 2012-2. Após as atividades, os alunos deveriam responder uma pergunta sobre o tema na Avaliação Presencial 2 da disciplina Evolução. Os resultados obtidos e sua discussão são apresentados em duas partes. Na primeira está a avaliação da questão “Seleção Sexual”, que estava presente na Avaliação Presencial 1 de 2012-1, a partir da categorização das respostas dos alunos. Na segunda estão os Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs) dos dois semestres em que as atividades foram realizadas e a discussão sobre a possível contribuição dessas atividades para um melhor entendimento dos processos seletivos. 6.2.1 Avaliação Presencial 1 - Semestre 2012-1 Nesse semestre, além da questão que foi feita por nós para a Avaliação Presencial 2, a coordenação da disciplina incluiu uma questão sobre a Seleção Sexual na Avaliação Presencial 1. Na época da Avaliação Presencial 1, as atividades já estavam acontecendo e, na sexta-feira anterior a essa avaliação, foi finalizada a atividade 4. Naquele momento, foi disponibilizado um arquivo contendo o que era esperado como resposta ou como ideia principal de cada atividade, até a atividade 4, e uma explicação sobre as diferenças entre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual (APÊNDICE IV). Na Avaliação Presencial 1 a pergunta de nosso interesse era a questão quatro: “Qual a diferença entre as seleções intra-sexual e inter-sexual?”. Essa avaliação possuía sete questões e os alunos deveriam escolher cinco questões para responder (cada uma valia até dois pontos). Essa questão era semelhante à outra presente na Avaliação Presencial 2 do semestre 2009-2 e que foi avaliada por nós (Capítulo 5, item 5.2.2.9). Em função dessa coincidência, decidimos avaliá-la da mesma forma, usando o mesmo gabarito. Sendo assim, classificamos as respostas em corretas, incompletas e incorretas, como mostrado na tabela (Tabela 6.1): Tabela 6.1 - Distribuição das respostas por categoria Corretas Incompletas Incorretas cxxv Não escolheu a questão Questão 4 – AP1 40 41 48 40 Nessa avaliação, 240 alunos estavam inscritos na disciplina, sendo que desses, 169 fizeram a avaliação. Com isso, podemos perceber que grande parte dos alunos escolheu a questão (76%). Entretanto, menos da metade dos alunos que escolheu essa questão a respondeu de forma satisfatória. Exemplos de cada tipo de resposta encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.1): Quadro 6.1 – Questão 4: exemplos de respostas por categoria Correta “Seleção intra-sexual é quando dois machos da mesma espécie disputam pelo direito as fêmeas e os melhores lugares para acasalamento, na seleção intersexual é a fêmea que escolhe seus parceiros.” Incompleta “Seleção intra-sexual ocorre dentro do mesmo sexo onde os mais fortes, mais dominantes possuem melhores condições. Seleção intersexual seleciona os melhores e mais adaptados indivíduos, independente do sexo (machos ou fêmeas mais fortes possuem melhores condições).” Incorreta “Seleção intra-sexual é quando indivíduos de uma mesma espécie e mesma população acasalam. Já a seleção inter-sexual ocorre quando indivíduos de uma mesma espécie acasalam com indivíduos de outra população.” Os erros encontrados nesse semestre foram semelhantes aos detectados no semestre de 2009-2. Para responder de forma adequada a essa questão, o aluno precisava definir os dois subtipos de atuação da Seleção Sexual, que são as seleções intersexual e intrassexual, e que esses processos estão relacionados com o aumento das chances de reprodução. As respostas consideradas incompletas foram assim categorizadas porque o aluno definiu o que é a Seleção Sexual, mas não mostrou as diferenças entre o processo intrassexual e o intersexual, que era o que a questão solicitava; ou respondeu com um subtipo correto e o outro não; ou houve troca das definições e nomeações dos processos; ou ainda diziam que era um processo adaptativo ou não adaptativo. Um problema em relação ao que é considerado adaptativo é que esse conceito é relativo, ou seja, é necessário que se explique em relação a que ambiente ou situação tal estrutura ou comportamento é considerado como uma característica adaptativa. No caso dessa questão, para utilizar o conceito de adaptação era necessário dizer que os indivíduos que são selecionados possuem um maior sucesso adaptativo em função das maiores chances de acasalamento, levando ao sucesso reprodutivo. cxxvi Nas respostas incorretas ficou nítido que os alunos não faziam a menor ideia sobre a que conceito a questão se referia. Essa questão, que estava presente em duas avaliações (2009-2 e 2012-1), nos levou a questionar se os alunos conseguem entender exatamente que tipos de modificações nas espécies estão associados ao processo de Seleção Sexual e, principalmente, se eles conseguem perceber as diferenças entre esse processo e o de Seleção Natural. Inclusive, essa problemática sempre foi a questão norteadora desse trabalho. Embora o número de alunos que tenha errado essa questão ainda seja alto, podemos perceber que houve uma diferença em relação ao semestre 20092, como mostra a tabela abaixo (Tabela 6.2): Tabela 6.2 – Comparação entre os semestres 2009-2 e 2012-1 Semestre das questões Seleção Sexual 2009-2 AP2 2012-1 AP1 Correta 9% 31% Incompleta 20% 31% Incorreta 71% 38% Não podemos afirmar que a causa para essa mudança tenha sido a presença das atividades, mas também não podemos deixar de levar esse dado em consideração. Como já foi mostrado anteriormente, o processo de Seleção Sexual não é discutido em todas as disciplinas que abordam a Teoria Evolutiva. E, na própria disciplina Evolução, esse processo não é conceituado de forma aprofundada, o que se reflete em poucas questões sobre ela nas Avaliações Presenciais. Porém, no semestre 2012-1, assim que iniciamos as atividades e ao longo dela, postamos mensagens na plataforma, a cada semana, indicando o que era esperado como resposta em cada atividade e definindo os conceitos que estavam sendo discutidos. Nas primeiras quatro atividades, que foram finalizadas na semana da Avaliação Presencial 1, tivemos uma participação de 49, 34, 19 e 10 alunos, nas atividades 1 a 4, respectivamente, de um total de 240 alunos inscritos. A pouca adesão dos alunos pode estar relacionada com o fato de que nessa modalidade de ensino o aluno é o principal responsável pelo seu estudo e, com isso, pela escolha de quais ferramentas ou suportes irão utilizar para cxxvii aprender e se aprofundar nos conteúdos das disciplinas (SANTOS, 2006; ABREU et al., 2007; ALONSO, 2010; RONCHI et al., 2012). Porém, o principal questionamento feito por nós é: apesar de definirem de forma correta os subtipos de Seleção Sexual, os alunos conseguem entender realmente que esse processo está relacionado com um maior sucesso reprodutivo, por estar associado a características que são indicativas de bons genes? Embora os alunos não tenham tido grande sucesso com a questão que abordava a Seleção Sexual na Avaliação Presencial 1, esperávamos que na Avaliação Presencial 2, após todas as atividades terem sido realizadas (APÊNDICE IV) e com a disponibilização do texto (APÊNDICE II), os alunos conseguissem responder de forma satisfatória à questão formulada por nós. 6.2.2 Avaliação Presencial 2 - Semestres 2012-1 e 2012-2: Os Discursos do Sujeito Coletivo Após a realização das atividades foi colocada uma questão na Avaliação Presencial 2 de cada semestre sobre o tema apresentado. Como as questões eram diferentes, avaliamos cada uma delas separadamente. 6.2.2.1 Semestre 2012-1 Na Avaliação Presencial 2 a questão formulada por nós foi: “Os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual fazem parte da Teoria Evolutiva formulada por Charles Darwin. Muitos teóricos evolucionistas indicam que esses dois processos, em conjunto, explicam melhor a biodiversidade existente. Diferencie esses dois processos, dando um exemplo de atuação de cada um”. Essa questão era obrigatória para todos e valia um ponto extra. O gabarito era: “Na seleção natural ocorre a sobrevivência diferenciada de indivíduos de uma população. Nesse caso, variações surgidas ao acaso, mas que aumentem o valor adaptativo de determinada característica, aumentando as chances de sobrevivência do indivíduo e, com isso, a chegada à idade reprodutiva, são selecionadas e passadas às futuras gerações, ou seja, está relacionada com os mecanismos que estão envolvidos nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência diferenciadas em função das cxxviii variações entre os indivíduos da população. Na seleção sexual ocorre o estabelecimento de características que aumentam o sucesso reprodutivo, em função disso, os indivíduos competem pelos melhores parceiros e, como consequência, temos a continuidade da espécie. Nesse caso, a seleção sexual é um processo evolutivo intraespecífico de escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. Como exemplo de característica estabelecida pelo processo de seleção natural temos o olho humano e pelo processo de seleção sexual as cores de pássaros, cantos e ornamentos, como a cauda dos pavões”. Após a realização da Avaliação Presencial 2, transcrevemos as respostas dos alunos para montar o Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003) com o objetivo de saber se as atividades contribuíram para uma melhor apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva. Em função de a questão solicitar a diferenciação dos dois processos, Seleção Natural e Seleção Sexual, os alunos responderam a pergunta definindo um processo e depois o outro. Para facilitar a análise, fizemos os DSCs de cada um separadamente e não consideramos os exemplos, pois eram muito diversificados e corretos na maioria das vezes. Além disso, o que realmente nos interessava era se as conceituações apresentadas pelos alunos estavam corretas a partir do que era esperado por nós, após as atividades terem sido realizadas e o texto disponibilizado. Os Discursos-Síntese18 montados e as Ideias-Centrais correspondentes, sobre o processo de Seleção Natural, encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.2). Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em cinco IdeiasCentrais. É importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-central por aluno. As Ideias-centrais formadas foram: Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural – todas as respostas assim classificadas apresentaram conceitos que definiam de forma adequada o processo de Seleção Natural; Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Natural – nessa categoria estão as respostas que, apesar de não estarem erradas, não explicam de forma satisfatória o processo de Seleção Natural; 18 Os Discursos-Síntese ficaram longos em função da grande quantidade de respostas que foi utilizada para sua montagem. Além disso, ao longo de cada discurso as ideias se repetem, pois os alunos apresentaram respostas muito semelhantes em suas avaliações. Como essa metodologia procura caracterizar de forma qualitativa ideias que fazem parte do grupo, todas as respostas, por mais parecidas que sejam, devem ser consideradas. cxxix Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Natural – nesse caso estão as respostas que apresentavam a noção de que existe algum agente ou objetivo consciente no processo de Seleção Natural; Explicações Incorretas – respostas que não apresentavam nenhuma relação com o que tinha sido perguntado; Explicações Contraditórias – respostas que iniciaram apresentando de forma correta o processo de Seleção Natural, mas que ao longo da explicação mostraram confusões de conceitos, comprometendo a explicação. Quadro 6.2 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Natural Ideia-Central Ideia-Central Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural Discurso-Síntese A seleção natural é o processo onde os seres mais aptos sobrevivem, em que uma dada característica tem sua frequência aumentada ou diminuída pelo meio onde está inserida, por apresentar vantajosa ou não para a sobrevivência do indivíduo e para sua reprodução. Assim, os seres mais adaptados ao ambiente e suas constantes modificações sobrevivem. Segundo Darwin, seria a sobrevivência do mais apto nas condições presentes, deixando descendentes, assim suas características que lhe conferem melhor adaptação ao meio, seriam passadas a prole e a adaptação é consequência da seleção natural. A seleção natural trata dos mais diversos caracteres e da maneira como eles são selecionados de acordo com a capacidade adaptativa do indivíduo, pois seleciona indivíduos que tem mais chances de se adaptar, desenvolver, reproduzir (maior percentual de sobrevivência) em determinado ambiente fazendo com que esses indivíduos aumentem suas espécies e eliminando os menos adaptados. É a ação dos agentes bióticos e abióticos que geram alguma modificação na sobrevivência do indivíduo, isto é, um fator que lhe confere maior ou menor possibilidade de sobrevivência em seu ambiente e os indivíduos são selecionados pelo meio e os mais bem adaptados tem maior possibilidade de sobrevivência. A seleção natural é uma força evolutiva que seleciona características nos organismos que os favoreçam na conquista de determinado ambiente conferindo-lhe vantagens sobre os demais nesse propósito, se determinada característica confere vantagem ao indivíduo, esse será selecionado positivamente. É a proporção estatística da taxa de sobrevivência (ou mortalidade) de diferentes organismos para uma ou mais características e ocorre quando um indivíduo é o mais adaptado a certo ambiente em certo momento, obtendo vantagem e alcançando sucesso reprodutivo (deixa mais descendentes e mantém seus genes na população). É um processo evolutivo que gera sobrevivência diferencial daqueles portadores de alelos mais bem adaptados a determinada condição ambiental e temporal, ocorrendo quando um indivíduo mais adaptado às alterações do meio ambiente consegue sobreviver. A seleção natural age selecionando o mais adaptado / apto ao meio, pois atua sobre as variações gênicas que resultem em características que propiciem maiores chances de sobrevivência, ou menor mortalidade, ocorrendo a partir de características adaptativas, onde indivíduos mais tolerantes ou mais adaptados terão mais chances de sobreviver e passar essas características para seus descendentes, do que os menos adaptados. É a seleção de caracteres originados por mutação de acordo com o ambiente e diz respeito a taxa de sobrevivência (ou mortalidade) desigual ou desbalanceada para uma certa população, pois caracteres adquiridos em uma população por mutação ou migração são selecionados de modo que os indivíduos portadores dos caracteres mais vantajosos deixam um maior número de descendentes, aumentando o seu número a cada geração. Nesse caso, a adaptação do organismo ao meio faz toda a diferença, levando o mesmo a sobrepujar os demais da própria espécie, na aquisição de alimentos, abrigos, cxxx as características adquiridas o tornam mais propenso a sobreviver no meio, atuando em características que são vantajosas que proporcionam a sobrevivência do indivíduo em um determinado ambiente. O processo de seleção natural está relacionado à adaptação das estruturas e condições de sobrevivência do organismo e é o processo em que o ambiente em que determinada espécie se encontra seleciona, permite que os mais adaptados sobrevivam e tenham condições de procriar e transmitir seus genes aos descendentes, já que indivíduos mais adaptados sobrevivem e deixam descendentes. A seleção natural ocorre por conta de uma pressão seletiva do ambiente que permite a sobrevivência daquele mais apto aos rigores desse ambiente, os mais bem adaptados ao ambiente são selecionados pelo mesmo, sobrevivendo nas condições disponíveis. É uma força evolutiva que atua sobre caracteres que conferem ao indivíduo sobrevivência e que esses caracteres podem ser passados para a sua prole. Um evento de mutações ocorre podendo levar o indivíduo a sobreviver ou morrer e é um processo no qual atua sobre populações, como no caso de que só o mais adaptado ao ambiente sobreviverá e os indivíduos que apresentassem características que lhe conferisse vantagem conseguiriam atingir a fase de reprodução e deixar descendentes, contribuindo para a perpetuação de seu genótipo. A seleção natural é quando ocorre uma mutação ao acaso e ela gera para o indivíduo uma característica, se esta for favorecida pelo ambiente e trouxer uma vantagem ao indivíduo ele provavelmente irá sobreviver mais e deixar um maior número de descendentes, sendo o processo pelo qual os mais bem adaptados à determinadas condições irão sobreviver e é um processo natural de evolução que ocorre, onde o que mais se adapta ao meio é que sobrevive. Na seleção natural ocorre uma mudança no indivíduo se essa mudança é vantajosa é mantida na população, atua nas características de sobrevivência das espécies ao ambiente em que estão. Se o indivíduo conseguir gerar descendentes fortes e saudáveis temos a característica sendo passada adiante e em uma população com indivíduos com características mais vantajosas naquele determinado habitat irá se desenvolver e transmitir seus genes às gerações posteriores. É um processo que atua sobre diversas características, gerando adaptações que permitem a espécie um maior grau de sobrevivência e pode ser dito como a sobrevivência diferencial, o meio seleciona o ser mais bem adaptado para ele, esse processo determina descendências com modificações e o mais apto é o qual sobrevive. É a seleção dos mais adaptados que sobrevivem e passam o gene para a próxima geração, a sobrevivência do mais apto e o menos adaptado morre. É a força que determina a direção do fluxo gênico no sentido de mortalidade e sobrevivência do organismo e o processo que seleciona diferentes características (alelos) naturalmente e involuntariamente podendo levá-las a extinção ou fixação dependendo de como essas características serão aproveitadas pelos indivíduos em seus diferentes habitats, agindo sobre todas as espécies, de modo que as mais aptas sobrevivem e continuam a evoluir, ao contrário das menos aptas àquelas situações encontradas. A seleção natural é aquela que o indivíduo com as melhores características para sobreviver, ou seja, caçar, copular, fugir de predadores, em um determinado momento e com exigências pertinentes aquele momento, levará vantagem sobre os demais e suas características serão passadas adiante, sendo assim selecionadas naturalmente gerando a adaptação, onde o indivíduo consegue sobreviver sob as circunstâncias do ambiente, pois o ambiente seleciona o indivíduo mais apto para viver num determinado ambiente, atuando na população eliminado os indivíduos que não se adaptaram ao meio em que vivem, eliminando com isso os genes que expressam a característica fenotípica não adaptada. Na seleção natural permanecem somente aqueles que se adaptam ou possuem alguma característica a seu favor para sua sobrevivência no meio, seleciona as espécies mais adaptadas para sobreviverem independentemente do seu sexo e está relacionado com ao seu estado, caráter, nesse processo, as características que vão garantir a sobrevivência do organismo no ambiente serão transmitidas aos seus descendentes, somente os indivíduos mais bem adaptados a um dado ambiente, terão mais chances de sobrevivência e melhor sobrevivem aqueles que melhor se adaptam ao meio disponível. É a cxxxi Ideia-Central Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Natural força evolutiva que irá manter nas populações naturais aqueles indivíduos que forem mais aptos a sobreviverem, os que tiverem as melhores estratégias, ou caracteres para sobreviverem, é uma seleção determinada pelo ambiente em que espécies estão inseridas, pois uma vez que esse ambiente sofra alguma alteração as espécies que lá vivem caso não se adaptem a essa alteração poderão morrer. É a força evolutiva que atua sobre todos os indivíduos selecionando os organismos mais aptos ao ambiente, sendo capaz de sobreviver as condições impostas pelo meio, perpetuando aqueles indivíduos que apresentarem características que melhor se adaptem ao meio, o indivíduo é selecionado por possuir determinada característica (selecionado pelo ambiente / meio que vive) que o torna mais apto à sobreviver, conseguir alimento e se reproduzir. Na seleção natural mutações no DNA de indivíduos que levem a uma vantagem adaptativa, por exemplo, é selecionada naturalmente e é passada para as próximas gerações e é a reprodução diferencial de um indivíduo onde os mais bem adaptados é que vão sobreviver, atuando conforme mudanças do meio, selecionado favoravelmente os indivíduos mais aptos a sobreviverem sob determinadas condições do meio e passarem essas características para as próximas gerações. É um processo natural onde a sobrevivência está ligada a quem possui características mais adaptadas ao meio em que vive, que podem ser força, tamanho, cor, forma, velocidades, é a sobrevivência diferencial, ou seja, determina um processo de descendência com modificações. O ambiente é um fator determinante que possibilita que o organismo que tenha determinada estrutura e função, possa garantir a sua sobrevivência e reprodução naquele ambiente, é aquela em que o indivíduo que melhor se adapta às condições ambientais é o que prevalece e sobrevive reproduzindose e dando continuidade à sua espécie, sendo selecionadas dentro de uma espécie as melhores características que melhoram a sobrevivência, adaptabilidade, estabilidade e na competição por alimento. Os critérios (pressões seletivas) possibilitam a sobrevivência dos que conseguirem se adaptar melhor a essas pressões e os indivíduos que melhor se adaptarem ao meio onde vivem, terão mais condições de se fixarem na população deixando descendentes, e fixando também seus genes os quais resultaram nessa adaptação. A seleção natural é um processo que atua na variabilidade gênica, maximizando a sobrevivência do indivíduo que possua característica genética que lhe forneça vantagem em determinado ambiente e condições, promovendo uma seleção de caracteres mais adaptados para a sobrevivência, garantindo sua predominância nas próximas gerações. Dessa forma a seleção natural é econômica pois favorece características genéticas menos custosas e sucessivas mutações levam à especiação. A seleção natural atua nos indivíduos em seu ambiente e já seleciona os mais adaptados no ambiente, pois é uma das forças evolutivas que age no meio ambiente que promove a seleção entre as espécies, pois seleciona os indivíduos mais bem adaptados, com as melhores características que possam ser passado para as próximas gerações. Na seleção natural as características ambientais, fatores bióticos e abióticos, atuam na seleção dos organismos mais adaptados e as características são selecionadas pelo ambiente (fatores bióticos e abióticos) onde os mais aptos naquele ambiente e naquele momento são selecionados e seus genes são fixados. Age sobre os caracteres morfológicos de uma população selecionando os indivíduos mais aptos que passarão seus genes a seus filhos e futuras gerações. A seleção natural vai causar uma pressão sobre os indivíduos melhores aptos selecionando esses, sendo assim, age no sentido de fixar alelos mais vantajosos em certo tempo e ambiente. Atua nos mais variados genes que conferem aptidões na morfologia, na estrutura e no comportamento do indivíduo, de forma a selecionar na população os indivíduos mais bem adaptados e preparados, fazendo com que essa característica seja passada para as gerações seguintes; o indivíduo mais bem adaptado a determinado ambiente é selecionado e pode passar suas características adiante através dos descendentes. A seleção natural ocorre a partir dos caracteres e das vantagens adaptativas dos indivíduos ao ambiente independente se é masculino ou feminino, atua na escolha de indivíduos que tenham características mais favoráveis, “adaptadas”, para determinada demanda, a cxxxii Ideia-Central Explicações com ideia de que os melhores adaptados são selecionados, de forma a selecionar os mais adaptados a pressões seletivas, sofridas por uma espécie, em um determinado local, período, espaço de tempo. Essa força atua selecionando indivíduos que possuem características vantajosas para a espécie e é um processo que mantém as características preexistentes que dão vantagens adaptativas aos indivíduos em relação ao ambiente, pois diz respeito a um dado caracter surgido por mutação e que foi selecionado por situações ambientais. A seleção natural é uma avaliação estatística da taxa de natalidade ou mortalidade em uma população e se baseia principalmente na adaptação da espécie ao meio, atuando de modo a selecionar indivíduos que tem vantagens em relação a outros. É o processo que ocorre ao longo da evolução, que seleciona os genes mais adaptados as condições que uma espécie está vivendo naquele momento, sendo o processo em que as características vantajosas tem uma vantagem no ambiente e estas são transmitidas aos seus descendentes, pois só permanece no ambiente as características vantajosas. Nesse processo o indivíduo é selecionado por possuir um gene que lhe confere melhor vantagem, com isso esses indivíduos que possuem tais características conseguem passar para próximas gerações essas variabilidades. É o processo pelo qual o meio ambiente age sobre as diferenças genéticas acumuladas ao longo do tempo pelas mutações, atuando de forma geral selecionando as modificações vantajosas (mutações) a determinados organismos que as possuem, em que o meio seleciona os organismos que manifestam os caracteres adequados as condições que são proporcionadas, agindo / selecionado os indivíduos / organismos mais bem adaptados ao meio e com maiores chances de deixarem descendentes férteis. Ocorre quando ao acaso alguns indivíduos possuem em seu código genético mutações que os permitem estarem mais adaptados que os demais e seleciona os seres por adaptação ao ambiente que pode ser por mutação ou outros e pode ser favorável ou desfavorável. Trata-se de um agente que atua de forma imparcial, selecionando os organismos, avaliando suas características face o ambiente no qual estão inseridos (por ambiente consideramos tudo aquilo que não está sendo avaliado) e envolve capacidade adaptativa referente ao ambiente, como por exemplo, alimentação e clima. É um processo que age sobre a variedade genética da população que reflete em variedade fenotípica, selecionando a característica mais favorável a população em determinado momento, ou seja, é baseada em valor adaptativo, que é quando um ser se adapta melhor e consegue se sobressair a outro. As forças evolutivas que ocorrem durante a seleção natural é que selecionam os mais adaptados e elimina os menos adaptados ao agirem na variação gênica, uma vez que favorece os genótipos mais bem adaptados, aumentando assim o valor adaptativo médio. É um acontecimento que garante a existência de espécies mais fortes e mais bem adaptadas ao ambiente em que se encontram. É o processo onde o indivíduo apresenta características que o adapta melhor em seu habitat sendo considerado mais hábil ou tendo vantagens evolutivas que são passadas aos seus descendentes, predominando o indivíduo com características melhor adaptadas a determinado ambiente, consistindo na prevalência de um indivíduo com características mais bem adaptadas ao meio em que vive do que outro indivíduo não tão adaptado. Vai influenciar nos caracteres que melhor se adaptam às mudanças naturais ao longo do tempo evolutivo, no qual o indivíduo pode sobreviver ou morrer diante de forças da natureza. É o processo pelo qual as espécies mais adaptadas são selecionadas pelo meio e indica as características que melhor se adaptam ao ambiente e a este indivíduo neste espaço de tempo. A seleção natural acontece em processos deterministas onde os indivíduos são selecionados de acordo com suas características mais adaptadas ao ambiente em determinado momento, sendo o processo que diferencia as espécies ao longo do tempo. É determinista e o processo de especiação ocorre pela seleção do organismo mais bem adaptado ao ambiente, pois age selecionando características que apresentem melhor vantagem evolutiva, podendo também desencadear um processo de especiação. A seleção natural é econômica e visa maior adaptação das espécies, pois diz respeito as condições em que determinadas espécies são selecionadas para cxxxiii ideia de objetivo do processo de Seleção Natural Ideia-Central Explicações Incorretas que se desenvolvam, de acordo com os recursos existentes naquele ambiente, moldando os caracteres visando maior sobrevivência. Refere-se à uma seleção que é feita para a escolha dos mais bem adaptados, aptos a viver em determinados locais, e, assim, manter a espécie, ou seja, certos indivíduos desenvolvem determinadas características que os possibilitam enfrentar diversos problemas, se adaptando ao local que estão, e os melhores acabam sobrevivendo e sendo selecionados, e os mais fracos não aguentam, ou seja, os que possuem características específicas para “aguentar” aquele local acaba levando vantagem sobre os outros, mantendo, assim, o nível de sua espécie em um tamanho bom. A seleção natural avalia a biodiversidade por selecionar características que permitem a adaptação do indivíduo às condições do ambiente e permite que haja diferentes estruturas, ocorrendo quando as espécies conseguem se adaptar ao meio ambiente de acordo com o tempo e com o espaço, sendo assim serão selecionados e sobreviverão. A seleção natural advém a partir da sobrevivência do mais forte e mais apto para se adaptar ao meio e seleciona as melhores características dos seres vivos para mantê-las nas futuras gerações, enquanto que as características desvantajosas são eliminadas. É a força de pressão evolutiva na qual as populações desenvolvem características adaptadas conforme as mudanças ambientais, pois seleciona as espécies que sofreram mutação e que essas foram vantajosas para a espécie, assim evoluindo para uma melhor sobrevivência. Nesse processo, os indivíduos adquirem características que torna-os mais aptos às novas condições ambientais no tempo e no espaço. É uma força evolutiva que tem como matéria-prima a variação gênica. Ela “escolhe” os genes mais bem adaptados para a sobrevivência e reprodução e por conseguinte vai determinar a frequência gênica de uma população. Na seleção natural quem sobrevive é o mais apto aquele que adquiriu características vantajosas para sua sobrevivência. É um processo de seleção que o ambiente faz para organismo melhores adaptados a determinadas condições de vida. Charles Darwin em sua Teoria da Evolução não soube explicar como eram repassadas as características vantajosas para as espécies. Que essas características são repassadas através de genes herdados dos nossos ancestrais, que os caracteres sexuais são repassados de nossos ancestrais, que existe maior possibilidade da adaptação ser mais vantajosa quando os genes para aquela habilidade for herdado de um ancestral vigoroso, com saúde, do que um gene que traz em sua ancestralidade doenças deletérias. É o processo que atua em todos os meios e em todos os instantes, interagindo de modo global. É um processo determinista, é a força que molda o caráter, que movimenta o processo e determina o estado da população. É o processo evolutivo atrelado a existência / sobrevivência do mais forte, aí incluindo adaptabilidade ao meio ambiente, deriva gênica, mutação e condições favoráveis ao pleno desenvolvimento das espécies envolvidas dentro de um macro conceito ecológico. A seleção natural é uma explicação geral para o fenômeno dos altos níveis de variação gênica encontradas nas populações naturais, através por exemplo de mutação no gen. Ela atua no ambiente, ou seja, a espécie que sobrevivesse melhor a sua barreira geográfica ou o mais adaptado é que transmitirá o seu gene e atua na população de acordo com a expressão gênica dos alelos no ambiente do momento. A espécie mais evoluída sobrevive melhor por possuir mais chances contra predadores, melhor adaptatividade e mutações que podem tê-los tornado mais fortes em comparação com espécies semelhantes. A seleção natural atua naqueles organismos melhores adaptados e fortemente interagidos aquele meio que o cerca (habitat). Ocorre levando-se em conta a deriva gênica e fatores ocasionados pelo acaso, fatores relacionados à natureza. É o processo que molda os processos de mutação e deriva gênica, sendo assim um fator importante da evolução. É quando ocorre a seleção de alguns indivíduos devido a alguma característica que adquiriram por processos evolutivos, age tornando um tipo mais predominante que o outro, escolhendo ao acaso, moldando as populações com uma interferência gênica a nível molecular, onde os seres vivos disputam com outros seres vivos e o meio para sobreviverem, pois é uma força que atua junto com a deriva gênica, excluindo genes desvantajosos ao seu meio e período em que cxxxiv Ideia-Central Explicação Contraditória vivem. É um processo aleatório, por acaso, dependendo da seletividade e variedade daquela espécie. Vai atuar de forma que todo conjunto seja levado em conta e não apenas uma característica e mantém os mais aptos independente do sexo, como por exemplo os homozigotos se fixarem em uma população em detrimento dos heterozigotos. Baseados nos modelos de seleção inter e intra específica, de modo que na seleção intra específica estaremos selecionando gênero e espécie e na seleção inter específica estaríamos selecionando indivíduos dentro de uma mesma espécie. É o processo pelo qual caracteres genotípicos e fenotípicos são selecionados ao acaso visando a adaptação ou não do indivíduo no meio. A adaptação ou não do indivíduo dependerá da atuação de forças como mutação (deletéria, benéfica ou neutra) e deriva gênica. Porém, a variabilidade genética se dá ao acaso, sendo maior em populações abertas aumentando as variabilidades genotípicas e fenotípicas. A seleção natural ocorre quando alguma mutação ou característica confere ao indivíduo uma vantagem adaptativa, ampliando sua continuação. Essa variação ocorre ao acaso e nem sempre as mutações conferem vantagem, pois é a sobrevivência diferencial de alelos (genes) numa dada população que atua ao acaso sobre a deriva gênica conferindo maior valor adaptativo. A seleção natural ocorre ao acaso e não seleciona os indivíduos mais fortes, e sim os mais adaptados. Além disso, favorece a sobrevivência ou morte de indivíduos que possuem frequência adaptativa maior, visto que características novas, nem sempre são vantajosas ou características vantajosas nem sempre são adaptativas. Nesse processo, as alterações ocorridas podem ser positivas ou negativas e, por intermédio da seleção natural, seriam fixadas as mudanças que naquele momento fosse favorável ao espécime em questão, “proporcionando” algum tipo de vantagem ao acaso. A seleção natural atua de forma aleatória, favorecendo os organismos que apresentam adaptações para aquele ambiente e período e o indivíduo mais adaptado prevalece dando continuidade a deriva gênica, e os menos adaptados acabam por serem eliminados naturalmente. Nessa avaliação, o número de alunos inscritos na disciplina diminuiu em função do trancamento da disciplina (37 alunos). Além disso, 44 alunos faltaram a avaliação e, dos que fizeram avaliação, 7 não responderam a questão, sobre nenhum dos dois processos. Com isso, 153 alunos responderam sobre os dois, ou pelo menos um dos dois processos. Na tabela abaixo (Tabela 6.3) está o número de respostas utilizadas para a formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra. Tabela 6.3 – Número de respostas x Ideia-central Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural Número de respostas Número de alunos que fez pelo menos uma atividade Número de alunos que indicou ter lido o texto 65 22 7 cxxxv Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Natural Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Natural Explicações Incorretas Explicação Contraditória Não respondeu sobre a seleção natural 45 16 6 12 3 0 22 7 2 2 2 -- 1 1 -- Em relação ao processo de Seleção Sexual, os Discursos-Síntese montados e as Ideias-Centrais correspondentes encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.3). Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em sete IdeiasCentrais. É importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-Central por aluno. As Ideias-Centrais formadas foram: Explicações corretas sobre o processo de Seleção Sexual – todas as respostas assim classificadas apresentaram conceitos que estavam de acordo com o gabarito da questão e que definiam de forma adequada o processo de Seleção Sexual; Escolha de parceiro reprodutivo – apenas indicava que um dos sexos escolhe o parceiro reprodutivo em função de determinadas características; Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Sexual – nessa categoria estão as respostas que, apesar de não estarem erradas, não explicam de forma satisfatória o processo de Seleção Sexual; Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual – nesse caso estão as respostas que apresentavam a noção de que existe algum agente ou objetivo consciente no processo de Seleção Sexual; Explicações Contraditórias – respostas que indicavam que a Seleção Sexual é um processo não adaptativo; Explicações Incorretas – respostas que não apresentavam nenhuma relação com o que tinha sido perguntado; Disputa entre machos - apenas indicava que os machos disputam as fêmeas no processo de reprodução. Quadro 6.3 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre a Seleção Sexual Ideia-Central Ideia-Central Explicações corretas sobre o processo de Discurso-Síntese A seleção sexual não deve ser entendida como um tipo de seleção natural, mas como um processo evolutivo diferenciado que gera mudanças morfológicas, fisiológicas ou comportamentais entre os sexos, devido a uma pressão da reprodução diferencial. Atua nos genes relacionados às cxxxvi Seleção Sexual características que são voltadas para o acasalamento, o indivíduo é selecionado não mais pelo ambiente, e sim pelo indivíduo do sexo oposto a partir de suas características sexuais, como mecanismo de corte, coloração, tamanho, força, atuando no sentido de favorecer variações que resultem em uma maior chance de reprodução. Está relacionada diretamente com o sucesso reprodutivo e atua de forma que o macho com atributos mais chamativos, ou vocálicos, que se destacam dos outros machos, possam atrair as fêmeas ou disputá-las a fim de que seus genes possam propagar-se através da próxima geração, atua sobre indivíduos de determinado sexo, de maneira que características vantajosas para a reprodução, acasalamento, corte sejam perpetuados. Diz respeito à competição sexual para a reprodução e mantém características que dão maiores vantagens reprodutivas, baseia-se na seleção ou escolha de parceiros para o acasalamento, podendo ser de dois modos: Intraespecífica = quando há disputa entre os machos por uma fêmea. Interespecífica = quando a fêmea escolhe entre os machos, o que tem características que mais lhe atraem. Atua nas características de maior eficiência na reprodução, ou seja, na passagem dos alelos a próxima geração, na competição para conseguir um parceiro para reprodução ou dependerá da preferência desenvolvida pelos parceiros sexuais, já que independente do macho ser mais selecionado naturalmente ele não obterá sucesso na proliferação da espécie se não apresentar as características de preferência da fêmea para acasalamento. A seleção sexual gera indivíduos com maior probabilidade de acasalamento, e, consequentemente, de deixar uma maior descendência, colaborando mais para a perpetuação da espécie, porém, muitas vezes, são mais vulneráveis à predação justamente pelas mesmas características que o fazem ser bem sucedido na seleção sexual, sendo aquela em que os machos lutam entre si para poderem copular, ou as fêmeas escolhem os melhores exemplares para copularem, passando adiante as “melhores” características aos futuros descendentes. É um agente mais específico, surgindo a partir da reprodução sexuada, que atua selecionando os organismos para reprodução a partir da avaliação de outros organismos, em geral, da mesma espécie e de sexo oposto, é a chance que um indivíduo tem, aumentada em muito, por ter características corporais que os diferenciem dos demais indivíduos de se reproduzir. Contudo muitas vezes essas características o tornam vulnerável e diminuem a sua chance de sobrevivência, o que pode tornar o indivíduo mais propício a deixar descendentes férteis, mas ao mesmo tempo pode o tornar mais suscetível para seus predadores. Na seleção sexual a característica não confere vantagem à sobrevivência dos indivíduos, mas à competição para alcançar um parceiro reprodutivo e atua conforme a aptidão que certos indivíduos têm de conseguir parceiros para a reprodução. São selecionadas características ligadas ao acasalamento, tipo corte do macho, penas e plumas coloridas, o canto, tudo para chamar a atenção da fêmea ou um chifre maior, músculos mais fortes para a disputa entre machos pela fêmea. É um acontecimento dentro de um grupo onde os machos e as fêmeas com melhores características (falando de modo grosseiro) e com maior possibilidade de garantir o sucesso de sua prole, conseguirão fecundar seus óvulos e espermatozóides e perpetuar sua espécie. A seleção sexual privilegia os indivíduos que tem maior chance de reprodução, ou seja, aqueles que são mais fortes para competir pela fêmea, aqueles que chamam mais atenção das fêmeas, ou seja, as fêmeas selecionam seus parceiros e os menos “interessantes” tem menos chance de se reproduzir e não passam seus genes para a frente caso não se reproduzam; seleciona os indivíduos em relação aos seus caracteres morfológicos que lhe dão uma vantagem reprodutiva e parece ser antagônica a seleção natural, já que muitos desses indivíduos para conseguirem uma maior chance de passar seus genes possuem características bastante chamativas, como cores fortes, plumagens, canto diferenciado e etc. Nesse caso a fêmea poderá ser atraída por aquele indivíduo que lhe pareça conferir genes saudáveis. É dividida em: intrassexual e intersexual, onde a primeira é disputa entre os machos da mesma espécie em competição pelas fêmeas ou local para acasalamento. Já a intersexual é a preferência das fêmeas que escolhem entre os machos, alguns tipos em detrimento de outros. cxxxvii Ideia-Central Escolha de parceiro reprodutivo O processo de seleção sexual foi considerado por Darwin na Teoria Evolutiva como ponto importante para a transmissão genética das melhores adaptações e ocorre quando ocorre a seleção ou melhor escolhas por parceiros na hora da reprodução, é a preferência que alguns indivíduos apresentam em relação a outros para serem escolhidos pelo sexo oposto para a procriação e descendência dos genes. É realizada a partir da escolha do parceiro para a reprodução e está ligada a uma determinada preferência na escolha de parceiro durante a fase reprodutiva de uma determinada espécie, onde indivíduos / fêmeas escolhem machos com melhores atributos físicos (dimorfismo sexual) por acreditar que eles tenham melhor herança genética ou escolham o melhor ambiente para acasalarem e criarem suas crias, quando um indivíduo é escolhido (sexualmente) pelo parceiro(a) para o acasalamento devido a uma característica adquirida. Os indivíduos selecionam seus parceiros de acordo com o sexo de seu interesse e os parceiros sexuais seriam escolhidos por atributos físicos desejados pelo outro, que somente teriam esta finalidade, torná-lo (o possuidor de tais atributos) apto a se reproduzir em detrimento aos demais, fazendo com que escolhamos os indivíduos mais férteis, de acordo com critérios préestabelecidos (nem sempre esta escolha é consciente). É a seleção dependente do sexo, há a escolha de parceiros para que a reprodução ocorra, é quando os indivíduos de uma espécie escolhem seu parceiro para reproduzirem a partir de suas características físicas, os indivíduos são selecionados de acordo com sua postura, coloração, canto, etc.; é uma seleção que envolve na escolha do parceiro, onde o indivíduo apresenta os dotes, as plumagens e tudo que o favorece à corte; que pode ser intersexual ou intrassexual a escolha. É exercida pela espécie pelo indivíduo do sexo oposto, selecionando o parceiro ideal para o cruzamento, isso normalmente não leva consideração os valores adaptativos da seleção natural. O indivíduo (macho ou fêmea) seleciona o parceiro para realizar a cópula através de suas características fenotípicas como maior tamanho de algumas partes do corpo (pelos ou penas, bicos, quadril), coloração mais vibrante e etc., atua em eventos de acasalamento, onde o indivíduo que possui características de bom reprodutor será escolhido para fertilizar a fêmea, por exemplo. Será a seleção que machos e fêmeas irão escolher para a sua reprodução, é o comportamento reprodutor nas espécies em que há escolha do melhor parceiro para o acasalamento e consiste na escolha de parceiros que tenham maior condição de gerar descendentes com maior valor adaptativo (fortes e férteis). Os indivíduos com características mais atrativas conseguirão parceiros para acasalar, e a seleção sexual agirá perpetuando essas características na descendência, mecanismo no qual os indivíduos de uma determinada espécie selecionam seus parceiros para a reprodução. Apresenta o favorecimento de uma característica com relação ao processo de reprodução, algo que selecione uma fêmea ou macho para o acasalamento e envolve a preferência de um organismo, macho ou fêmea, depende da espécie, para acasalamento com outro organismo, geralmente as características externas (morfológicas) são escolhidas em detrimento de outras. É o processo em que os próprios indivíduos selecionam características fenotípicas em seus parceiros para se acasalarem, ocorre por sua vez, quando um indivíduo seleciona o seu parceiro sexual devido a alguma característica forte, que lhe indica o sucesso de sua prole. É uma força onde um animal que possui características mais eficientes é escolhido para reprodução, o parceiro escolhe com quem vai fazer cruzamento, é a escolha por uma espécie por seu parceiro visando a reprodução de proles digamos que resistentes para perpetuação da sua espécie, usando atributos atrativos na hora de fazer à corte, atua favorecendo indivíduos que apresentem características que atraiam parceiros para que seus genes sejam passados para as próximas gerações, o macho ou a fêmea escolhem seu parceiro de acordo com caracteres externos que “gostariam” que seus descendentes tenham. Objetivo final para que se perpetue a espécie e está relacionado com a escolha do parceiro ideal para o acasalamento, atuando no processo de acasalamento / reprodução das espécies envolvidas. Os indivíduos com características de acordo com que seu parceiro gosta conseguem se reproduzir. Esse processo está ligado a ter características que cxxxviii Ideia-Central sejam atrativas a um parceiro(a), seja plumagem, canto, dança, força, etc. e a escolha não tem há ver com sobrevivência, o mais atrativo cruza; o menos atrativo é preterido. Logo, os genes dos mais atrativos têm mais chances de se fixar na população. É o processo pelo qual um parceiro seleciona outro do sexo oposto de acordo com as características que este apresenta, são características físicas promovidas por dimorfismos, ou “habilidade”, como cantos, coaxar, que atraem as fêmeas indicando ser o macho “forte” o suficiente para gerar uma prole saudável. Ocorre quando a fêmea escolhe o macho que mais lhe chama atenção na hora do acasalamento, o que fará com que os que não forem selecionados pelas fêmeas não cruzem, e não perpetuem seus genes na população, incluindo a demonstração à fêmea de que macho é o mais forte ou o mais protetor ou o mais belo, por exemplo. É a ação da fêmea de selecionar (encontrar) um macho que irá conferir maior chance de sobrevivência a seus futuros filhotes, isto é, a fêmea escolhe o macho que possuir as melhores características, aparência saudável e assim possa ter maior chance de sobrevivência. Atua de forma a selecionar (as fêmeas escolhem), entre os machos, o mais forte e preparado para cuidar da prole e que este macho possa transmitir (herança genética) suas características para a prole, quando um indivíduo macho tem uma certa característica de corte que o destaca diante de outros machos e faz a fêmea escolher ele, assim esse terá sucesso reprodutivo, deixar mais descendentes e manter seus genes na população. Ocorre na escolha entre os sexos dos caracteres que o indivíduo possui, os indivíduos do sexo limitante (fêmeas) escolhem seus parceiros sexuais de acordo com características sexuais secundárias, como porte físico que denota maior força, exuberância na plumagem, maior cuidado parental e os machos serão selecionados pelas fêmeas, que buscam um parceiro melhor e que garante o sucesso reprodutivo. É a preferência das fêmeas por determinados machos, a escolha da fêmea pelo melhor parceiro que irá passar características melhores para a geração seguinte; o macho faz tudo para agradar a fêmea, a fêmea por sua vez escolhe o macho mais robusto. Ocorre no momento que irá ocorrer o cruzamento, neste caso a fêmea escolhe o macho que possui mais características interessantes para ela, e a qual a prole irá herdar, quando uma fêmea seleciona o macho, geralmente o mais “bonito e forte” isso influencia na evolução da espécie e a fêmea escolhe o macho que mais representa robustez e força, assim garantindo a sobrevivência da prole. A fêmea escolhe um macho em detrimento de outro, nesse processo, as fêmeas procuram acasalar com machos que sejam fortes, o que vai garantir aos seus descendentes características que garantam a perpetuação da população. Age na escolha da fêmea pelo melhor parceiro através de seus atributos, envolvendo vantagem reprodutiva relacionada ao sexo, como a capacidade de possuir características que atraem a fêmea, é quando há a escolha do “parceiro”, geralmente quem escolhe é a fêmea. Atua sobre características do indivíduo a fim de favorecer a escolha para reprodução, sendo assim há grande investimento energético por parte dos machos para que estes sejam os escolhidos pela fêmea e assim possam manter suas características gênicas na população, muitas vezes estas características exuberantes dos machos acabam por colocá-los em risco, pois na tentativa de impressionar as fêmeas, acabam ficando evidentes para ação de um predador. As características estão relacionadas diretamente a beleza, ou à força, mas com certeza tendo como atração principal impressionar as fêmeas das diversas espécies, para a escolha de seus parceiros, e assim chegar ao acasalamento. Quem escolhe é a parceira sexual; consiste na escolha de parceiro sexual, pela fêmea, que lhe aparente produzir uma prole saudável e forte. É feita, na maioria das vezes, pelas fêmeas, onde essas que escolhem qual macho irá poder acasalar com elas, elas observam as características mais marcantes dos mesmos, como caudas exuberantes, cantos, cores mais vivas, cortejo, dentre outras, e a que elas perceberem, ou seja, o macho que possuir tais características mais vantajosas para uma futura “perpetuação” da espécie, é o que elas escolhem para ser o seu par, e, assim, acasalar, podemos ver mais claramente em aves, onde os machos em sua maioria se exibem para ser escolhido pela fêmea ou vice-versa. A seleção sexual vai atuar apenas em uma característica, a reprodução e cxxxix Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Sexual Ideia-Central Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual Ideia-Central Explicação Contraditória Ideia-Central Explicações Incorretas pode ser dividida em intrassexual que é a preferência das fêmeas e interssexual que é a disputa entre machos. Está relacionada com o caráter reprodutivo das espécies, ou seja, na conquista de um parceiro sexual, age na preferência dos indivíduos da população por determinada característica que favorece um macho ou fêmea. Sabe-se que o indivíduo mais adaptado é aquele que for capaz de deixar mais descendentes férteis. A seleção sexual seleciona os genes mais bem adaptados com as melhores características genotípicas que irão passar para as próximas gerações, é a seleção de características sexuais que são vantajosas que serão passadas para os descendentes através da reprodução. Confere aos indivíduos algumas características que favorecem a perpetuação da espécie e os indivíduos que tem maior sucesso reprodutivo deixam descendentes. Nela, existe a preferência de certos caracteres para que a reprodução ocorra. A seleção sexual atua na reprodução e as espécies escolhem suas parceiras pensando na reprodução, em dar continuidade aos seus genes. A seleção sexual visa maior sucesso reprodutivo, selecionando caracteres exuberantes e grandes que podem levar a maior reprodução, porém menor sobrevivência, atuando nos caracteres sexuais e morfológicos, ou seja, os indivíduos que apresentam as melhores características, o melhor porte, são os que atraem para o sexo oposto na procriação dos filhotes, para que estes herdem os mesmos e vantajosos caracteres, por isso encontramos dimorfismo sexual, essa diferença nas formas é para chamar atenção de parceiras. A seleção sexual ocorre quando um dos parceiros estabelece um critério para selecionar seu parceiro e são aquelas transformações que possibilitam uma maior chance de encontro com parceiros sexuais, aumentando assim a probabilidade de fixação do alelo promotor da diferença. A seleção sexual atua selecionando características importantes para a reprodução das espécies, sendo o processo onde indivíduos passam a utilizar certas características que os fazem ser escolhido para um parceiro, sendo assim estes indivíduos ao cruzarem deixam seus descendentes. A seleção sexual é capaz de levar indivíduos com características pouco adaptadas a se reproduzirem e perpetuarem seu genótipo, mesmo que não selecione indivíduos mais adaptados, seleciona indivíduos de preferência das fêmeas, gerando mais indivíduos desse tipo específico, pois é quando uma característica no macho ou na fêmea aumente ou favoreça que aquele parceiro seja melhor “escolhido” ou “aceito” e com isso aumente a frequência gênica daquele determinado gene presente naquele indivíduo, nem sempre é o gene mais vantajoso é que aumenta de frequência. A seleção sexual não favorece a adaptação de indivíduos, mas garante se eles vão ou não ter sucesso reprodutivo, está ligada a modificações (mutações) que conferem aos seus portadores vantagens para viver em determinado habitas e serem escolhidos por suas parceiras (geralmente) aumentando assim a sua chance de se reproduzir passando seus genes “beneficiados” para a próxima geração. Esse processo ocorre quando um indivíduo expressa características que apesar de desvantajosas (quando para fuga de predadores) por exemplo, as enormes penas do pavão conferem a ele maior chance de reprodução. Essas características aparecem na população e são selecionadas pelas fêmeas aumentando as chances de fixação do gene na população. A seleção sexual é aquela em que o indivíduo que conseguir impressionar melhor a fêmea será escolhido e assim dará continuidade na deriva gênica. Através da seleção sexual ocorre um fluxo gênico pois os descendentes herdam metade dos genes do pai e metade da mãe favorecendo assim a uma variação dos genes, é um processo que contribui para a variação entre as espécies e principalmente para variabilidade genética de uma população, é a procura da heterozigosidade nos acasalamentos, o que favorece a variabilidade genética. Na seleção sexual o indivíduo tem mais chances de sobrevivência, pois ele possui genes vindos do pai e da mãe. A seleção sexual molda uma população favorecendo um gene em detrimento a outro ao respeitar a quantidade de possíveis combinações sendo a carga dos loci ou do DNA e suas fontes. É o processo em que os indivíduos buscam realizar cruzamentos com indivíduos do mesmo fenótipo, para assim ter facilidade na cxl cópula e ter grande porcentagem na perpetuação de sua espécie, isso pode fazer com que ele tenha um valor adaptativo maior que outras espécies. É o processo em que ocorre nos seres sexuados e auxilia na biodiversidade por permitir a intensa troca gênica, com a junção de duas heranças diferentes (masculina e feminina) em um só indivíduo (que herda do pai e da mãe) recombinando em um novo ser fruto do mais forte. Baseados nos modelos de seleção inter e intra específica, de modo que na seleção intra específica estaremos selecionando gênero e espécie e na seleção inter específica estaríamos selecionando indivíduos dentro de uma mesma espécie e se baseia em índices de natalidade e mortalidade, porém levando em consideração apenas a influência do sexo do animal. É um processo determinado, onde a espécie se preocupa com acasalamento, selecionando dentro do sexo aquele que está mais apto a sua sobrevivência dentro da espécie. É feita dentro de cada espécie, mesmo que vivam num ambiente aberto eles só se relacionaram sexualmente entre si e está relacionada à adaptação com maiores valores de reprodução, o indivíduo tende a se adaptar melhor em ambientes onde suas chances de reprodução e parceiro sexual são maiores, apesar do dispêndio ela contribui beneficamente na variabilidade genética, onde através do sexo esses indivíduos trocam genes, que contribui para organismos portadores de genes que irão passar para as próximas gerações suas características. Dispende mais energia porém maior vantagem devido a variabilidade genética o que amplia as chances de uma característica adaptativa e os gêneros de uma espécie selecionam através de uma aparente vantagem, a fim de desenvolver uma linhagem mais bem sucedida; a espécie que na reprodução tivesse um número maior de prole com fenótipos diferentes não havendo impedimentos geográficos na sua reprodução. Seleciona através da compatibilidade sexual, os gametas atuando como selecionadores de processo evolucionista e pode aumentar a variabilidade gênica porque promove recombinação entre os alelos parentais e propaga as mutações para as gerações seguintes. O cruzamento entre dois indivíduos homozigotos para determinado caracter pode gerar quatro heterozigotos, a heterozigose pode ter valor adaptativo sob determinadas variações ambientais, é a chave também para a perpetuação das espécies; gametas com cargas genealógicas sem doenças tem mais capacidade de perpetuar as espécies melhor que gametas sexuais que trazem em sua ancestralidade cargas de doenças que vão perpetuar em espécies com desvantagens de perpetuarem, pois a seleção natural vai atuar sobre essas futuras gerações. Permanecerá o indivíduo do sexo mais apropriado para a sobrevivência no meio, ou seja, indivíduos que são do sexo com mais resistências e características que superam suas necessidades que o meio em que vivem exija, também selecionam as espécies mais adaptadas para sobreviver porém está relacionada ao sexo com o modo de reprodução assexuada e sexuada; é a seleção que traz variabilidade genética através da relação sexuada e assexuada. Na seleção sexual o sexo determina o indivíduo mais bem adaptado, diferencia seres da mesma espécie, mas onde podemos visualizar um sexo com maiores predisposição para dominar, a reprodução sexuada propicia uma maior variabilidade da espécie e seleção de genes mais fortes na reprodução de indivíduos garantindo a perpetuação. Quanto menor for a diversidade de opções para cruzamento, menor a possibilidade de perpetuar a espécie em caso de alterações no número de indivíduos, assim também acontece uma seleção e o processo de especiação é favorecido por um desempenho reprodutivo favorável a espécie. É atuante em uma espécie, não ocorre ao acaso, sendo feito propositalmente para evitar grandes gastos de energia, selecionando o sexo que melhor sobreviveria as condições do ambiente. É o processo de seleção de indivíduos com alto poder de intercruzamento, com grande potencial de fecundidade, propicia a variabilidade genética através de haplótipos diferenciados e mantém um fluxo gênico próprio de populações fechadas. É aquela em que as espécies, através da relação sexual tentam definir como será sua prole e isto só se aplica nos grupos de determinadas espécies cujos meio de reprodução é o sexual e o cruzamento entre as espécies gera uma grande variabilidade genética. Ocorre quando as diferenças entre indivíduos da mesma espécie, mas de sexos diferentes, são determinantes num cxli Ideia-Central Disputa entre machos processo de seleção e vai depender do gameta masculino e feminino para que ocorra a fecundação do embrião. No caso da seleção sexual ocorreu processos que impossibilitam a reprodução sexual favorecendo um caracter ou vários caracteres e a especiação simpátrica onde surge uma barreira biológica ao intercruzamento da população que habita a mesma área, ou seja, dentro dos limites da população, sem segregação espacial das espécies que estão se diferenciando. No ritual de acasalamento, machos disputam entre si, pelo direito de se acasalar com a fêmea. Na tabela abaixo (Tabela 6.4) está o número de respostas utilizadas para a formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra. Tabela 6.4 – Número de respostas x Ideia-central Número de respostas Número de alunos que fez pelo menos uma atividade Número de alunos que indicou ter lido o texto 23 10 2 62 8 22 2 9 -- 7 3 2 7 39 1 6 1 6 -1 -2 --- Explicações corretas sobre o processo de Seleção Sexual Escolha de parceiro reprodutivo Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Sexual Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual Explicação Contraditória Explicações Incorretas Disputa entre machos Não respondeu sobre a seleção sexual Por último, apresentamos a tabela (Tabela 6.5) com o número de alunos que fez cada atividade: Tabela 6.5 – Número de alunos por atividade Atividade 1 Atividade 2 Atividade 3 Atividade 4 Atividade 5 Atividade 6 Atividade 7 Atividade 8 Fizeram atividade 49 34 19 10 13 12 13 8 Infelizmente, podemos perceber que não houve uma grande adesão por parte dos alunos e que a participação foi diminuindo ao longo das semanas. cxlii 6.2.2.2 Semestre 2012-2 Nesse semestre realizamos as atividades novamente com os alunos. Na Avaliação Presencial 1, confeccionada inteiramente pela coordenação da disciplina Evolução, não houve nenhuma questão de interesse para essa pesquisa, por isso, nenhuma foi analisada. Na Avaliação Presencial 2 a questão formulada por nós foi: ““A seleção sexual é um tipo de seleção natural em que caracteres que são aparentemente desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de reprodução”. Você concorda com essa afirmativa? Justifique sua resposta”. Essa questão era obrigatória e valia dois pontos, de um total de dez. O gabarito era: “Não, a Seleção Natural e a Seleção Sexual são processos distintos, em que no primeiro caso são os caracteres que aumentam as chances de sobrevivência que são selecionados e no segundo caso, caracteres que aumentam as chances de reprodução. Nos dois casos são selecionados caracteres vantajosos”. Novamente, após a realização da Atividade Presencial 2, transcrevemos as respostas dos alunos para a confecção do Discurso do Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003) com o objetivo de saber se as atividades contribuíram para uma melhor apreensão dos conceitos da Teoria Evolutiva. Decidimos fazer uma questão diferente em relação ao semestre anterior, pois em 2012-1 a questão era a definição dos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual. Julgamos que apenas a definição de conceitos poderia dificultar a análise da contribuição das atividades e do texto, uma vez que os alunos poderiam decorar a resposta. Sendo assim, em 2012-2 tentamos fazer uma questão mais analítica. Como não analisamos nenhuma questão da Avaliação Presencial 1, só soubemos o número total de alunos inscritos na disciplina na época da Avaliação Presencial 2, não sendo possível saber quantos alunos trancaram a disciplina. Na Avaliação Presencial 2, 197 alunos estavam inscritos, mas 49 faltaram e 2 não responderam a questão. Em relação às respostas encontradas, os Discursos-Síntese montados e as Ideias-Centrais correspondentes encontram-se no quadro abaixo (Quadro 6.4). Nesse caso, classificamos as respostas dos alunos em sete Ideias-Centrais. É cxliii importante ressaltar que não houve mais de uma Ideia-Central por aluno. As Ideias-Centrais formadas foram: Explicações Corretas – nessa categoria estão as respostas que estavam de acordo com o gabarito formulado; Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual – as respostas assim classificadas até poderiam estar corretas, porém o aluno não indicou sobre qual processo estava respondendo; Seleção Sexual como indicativo de bons genes / saúde – nesse discurso estão as respostas que apenas definiam, de forma correta, o processo de Seleção Sexual, não fazendo menção ao processo de Seleção Natural; Seleção Natural e Seleção Sexual como processos semelhantes – as respostas dessa categoria apresentavam os dois processos, que são diferentes, como processos idênticos; Seleção de características vantajosas para a reprodução – nessas respostas os alunos indicaram que as características aumentavam as chances de sucesso reprodutivo, mas não relacionaram com a indicação de bons genes; Seleção de características desvantajosas para a reprodução – nesse discurso os alunos indicaram que as características selecionadas, apesar de dificultarem a sobrevivência, aumentavam as chances de reprodução; Explicações Incorretas – respostas que não estavam de acordo com o que foi perguntado. Quadro 6.4 – Discurso do Sujeito Coletivo sobre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual Ideia-Central Ideia-Central Explicações Corretas Discurso-Síntese Seleção natural e seleção sexual são diferentes entre si. A seleção sexual é uma seleção de parceiros sexuais em que os possuidores de caracteres aparentemente vantajosos e indicadores de boas características genotípicas são selecionados por indicarem aumento de chances de sucesso na reprodução e por gerarem descendentes com mais chances de sobreviver e reproduzir, transmitindo seus genes para as gerações seguintes. Porque quando um macho desenvolve determinada característica exuberante, como por exemplo a cauda do pavão que é grande e colorida, seria uma desvantagem porque ele necessita de mais gasto energético para manter tais características. Porém, em contrapartida, a fêmea o escolhe como parceiro reprodutivo porque acredita que um macho adulto que tenha chegado a idade reprodutiva mantendo tais características exuberantes é uma evidência que este macho possui bons genes e com isso garante o sucesso de sua prole, ou seja, na seleção natural, os genes selecionados são aqueles que garantem maior valor adaptativo para a espécie; na seleção sexual, os caracteres são selecionados, pelas fêmeas em geral, por garantirem melhores genes. cxliv Ideia-Central Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual Ideia-Central Seleção Sexual como indicativo de bons genes / saúde Ideia-Central Seleção Natural e Seleção Sexual como processos semelhantes O processo de seleção sexual não seleciona caracteres aparentemente desvantajosos. Os caracteres que são aparentemente desvantajosos são eliminados. Sendo assim, as chances de reprodução são maiores quando os caracteres sexuais são vantajosos, garantindo assim, maior proliferação das espécies. Os caracteres desvantajosos diminuem as chances de reprodução, pois os caracteres vantajosos que acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de reprodução e não os desvantajosos. A seleção sexual ocorre quando um determinado indivíduo escolhe o seu parceiro, que oferece mais chances de ter uma boa prole, que poderá transferir boas qualidades a prole através do seu gene, ou seja, os indivíduos procuram sempre parceiros que apresentam características vantajosas para assim garantirem que sua prole tenha maiores chances de sobrevivência. Na seleção sexual geralmente escolhe-se os indivíduos mais fortes e mais saudáveis, que são características vantajosas. Devido a gestação, ao cortejo, disputas, tudo isso gera um gasto energético muito grande, porém como vantagem, a seleção sexual promove uma maior variação genética. Em geral apenas organismos bem adaptados conseguem sobreviver a fase adulta e se reproduzirem, passando assim tais características para a próxima geração. Sendo assim, a fêmea, na maioria das vezes, irá selecionar seu parceiro e este deve ter caracteres vantajosos para que haja o aumento das “chances de reprodução”, já que para esse processo a fêmea irá gastar muita energia para gerar e cuidar dos filhotes. É pensando nisto que a fêmea seleciona então machos com melhores caracteres que conferem à fêmea proteção e maiores chances de reprodução dar certo e , por isso, elas são muito criteriosas. A seleção sexual ocorre pela seleção se caracteres aparentemente vantajosos, por aumentarem as chances de reprodução. Geralmente as fêmeas escolhem os machos que apresentam tais características, considerando que elas trarão chances maiores de sobrevivência para a prole, exemplo, força, beleza, vigor, saúde, etc. A seleção sexual é quando o parceiro escolhe o outro parceiro por algum atributo como podemos exemplificar, o caso do pavão, com suas lindas penas é um atributo para conquistar a fêmea. Nos seres humanos escolhemos nossos parceiros de acordo com os nossos sistemas de neurotransmissores, que enviarão mensagens, que aquele parceiro é atraente, pelo seu cheiro, pelo seu porte físico. Escolhemos seletivamente nossos parceiros para serem produtores de filhos (descendentes) saudáveis, fortes. Mas na seleção sexual não existe caracteres desvantajosos, já que este tipo de seleção gasta uma grande energia, por isto exige uma grande seleção de parceiros, para poderem gerar descendentes sadios. Esses caracteres conferem maior vantagem na reprodução. Apesar de serem aparentemente desvantajosos para a sobrevivência. Ele é a causa do dimorfismo sexual apresentado por algumas espécies como o prático exemplo do pavão, cujo macho exibe cauda multicolorida, um indício de saúde para as espécies na reprodução, uma cauda, quanto mais exuberante, sinal de bons genes, o que atrai as fêmeas e garante a perpetuação dos genes deste macho para as gerações futuras. A seleção natural “privilegia” os indivíduos mais adaptados as modificações que ocorrem no ambiente, é um tipo de seleção em que se o fenótipo é vantajoso, acaba sendo selecionados aumentando assim as chances de reprodução. A seleção sexual realmente é uma seleção natural, porque os indivíduos que irão se reproduzir passarão características mais adaptativas, ou seja, caracteres vantajosos e não desvantajosos para seus descendentes. A seleção sexual é um tipo de seleção natural, mas que são selecionados os caracteres aparentemente vantajosos, para aumentarem as “chances de reprodução”, ocorrendo dentro dos princípios da seleção natural, e o indivíduo que estiver melhor adaptado para a reprodução provavelmente terá o gene que confere essa vantagem fixado na população. Para haver a seleção natural por seleção sexual, é necessário que se tenha características vantajosas, para que se aumentem as chances de reprodução. A seleção sexual é um tipo de seleção natural, pois os caracteres que aparentemente desvantajosos acabam sendo selecionados aumentam as chances de reprodução gerando descendentes diversificados, pois as características cxlv Ideia-Central Seleção de características vantajosas para a reprodução comumente escolhidas são aquelas que tornam o organismo mais e melhor adaptado ao meio em que vive, aumentando assim as chances de sobrevivência e reprodução. Na seleção sexual a prioridade é o sucesso reprodutivo e esse tipo de seleção natural acaba por selecionar as espécies não por valor adaptativo, mas sim por caracteres que privilegiam o aumento na taxa de reprodução e, maiores chances de reprodução tem haver com indivíduos com maiores chances de adaptação e sobrevivência. A seleção sexual ocorre através da capacidade de reproduzir, isto é, se um indivíduo não se reproduzir, provavelmente, a seleção natural não o “beneficiará” na natureza, sendo a seleção sexual um tipo de seleção natural em que sua vantagem está na variabilidade genética promovida por ela; e como desvantagem pode ocorrer a seleção de algum caracter desvantajoso, porque os caracteres tem que ser aparentemente vantajosos para aumentarem as chances de reprodução, ou seja, só os caracteres mais vantajosos, sobrevivem a seleção natural (seleção sexual). Na seleção sexual são selecionados os que apresentam características vantajosas, por força da seleção natural, onde os mais adaptados irão sobreviver e passar adiante as características para a prole seguinte, sendo a seleção natural uma seleção de ação direcional, ela atua positivamente nos caracteres que possibilitem reprodução e esses não seriam os caracteres que são aparentemente desvantajosos. A seleção sexual sendo um tipo de seleção natural, aparentemente as “chances de reprodução” aumentam pelos caracteres que são vantajosos. E os caracteres que são aparentemente desvantajosos podem ser selecionados e diminuem a taxa de reprodução entre determinados indivíduos da mesma espécie. Indivíduos que possuam caracteres que embora pareçam desvantajosos, mas consigam deixar uma prole mais numerosa terão esses caracteres selecionados. A seleção sexual é um tipo de seleção natural no qual o processo de seleção ocorre através da reprodução. Não adiantaria ter uma característica aparentemente vantajosa se essa não conseguisse se perpetuar, pois diminuía a chance de reprodução. Logo, características desvantajosas não estariam adaptadas pela ação da Seleção Natural. No caso de características que trazem alguma desvantagem para o indivíduo em outros critérios que não a reprodução, como a agilidade de fugir de predadores (ex: cauda muito grande), mas que fazem parte dos rituais de acasalamento do indivíduo, pode-se dizer que ela agrega vantagem adaptativa, mas que não fora selecionada por aumentar as chances de reprodução. O sucesso reprodutivo é caracterizado pelo número de filhotes deixados na geração. A seleção natural pode aumentar as chances de cruzamento (pois ocorre o coito) mas não quer dizer que a reprodução será bem sucedida. Não são os caracteres aparentemente desvantajosos que será selecionado e sim os caracteres aparentemente vantajosos, pois na seleção natural os caracteres que são vantajosos que são selecionados para que tenha uma chance de reprodução. A seleção natural atua na espécie fazendo com que a espécie que consegue passar para sua prole caracteres que favoreça a sua sobrevivência, em melhor habitat e recursos alimentares estes podem fazer com que sua espécie perpetue. Tomando como exemplo espécies que há dimorfismo e um dos indivíduos possui mais destaque que o outro, como exemplo a coloração diferente em um dos sexos. Estes mais coloridos, mais vistosos serão selecionados e reproduzirão, fixando e garantindo a permanência do genótipo enquanto o outro com a reprodução em menor frequência se tornará alvo da seleção natural. Por exemplo na seleção intra-sexual a vantagem é do indivíduo se sobrepor diferentemente de todo o restante de sua espécie (gênero). O macho que mais se destacar vence a “disputa” pela fêmea. Na seleção inter-sexual, também precisam apresentar vantagens, onde o que mais se adaptar entre as espécies é o que mais sobrevive. A seleção sexual não é a natural, ocorrendo quando um indivíduo escolhe o parceiro para acasalamento, seja porque possui as características que lhe agradam, ou que lhe são mais atraentes. Serão as características vantajosas que são selecionadas pela seleção sexual e que aumentarão as chances de reprodução. Os caracteres selecionados são aqueles que “carregam” vantagens evolutivas capazes de aumentar as “chances de reprodução”. Se os caracteres forem desvantajosos, certamente não haverá populações cxlvi futuras. A seleção sexual é um tipo de seleção que não leva em consideração características adaptativas e sim características sexuais vantajosas e que pode acontecer intra-especificamente entre machos que disputam por fêmeas ou território para o acasalamento ou interespecificamente entre fêmeas e machos, selecionando o que tem caracteres morfológicos vantajosos em relação a outro indivíduo que não possui estes caracteres, ou seja, os caracteres são vantajosos e acabam sendo selecionados os indivíduos que os possuem. A seleção sexual ocorre quando caracteres aparentemente vantajosos são selecionados por aumentarem as “chances de reprodução”. Quando um caracter é desvantajoso ele tende a diminuir na população, já que é um tipo de seleção onde caracteres vantajosos são selecionados e não os desvantajosos, assim com a escolha dos vantajosos ocorre uma maior chance de indivíduos novos. São somente aparentemente desvantajosos, mas que por outro lado proporcionam a reprodução, sendo então vantajosos e selecionados por serem atraentes para a reprodução. A seleção sexual não é um tipo de seleção natural e não são selecionados caracteres aparentemente desvantajosos para que as chances de reprodução aumentem. A seleção sexual difere da seleção natural, pois a seleção sexual age de acordo com o interesse do indivíduo, o que chamar mais atenção se dá melhor. Dessa forma, a espécie pode escolher o seu parceiro de acordo com o seu caracter e características como essas podem levar as espécies ao sucesso reprodutivo e assim a continuação de sua prole. Na seleção sexual são selecionados caracteres que são aparentemente vantajosos para a reprodução porque se os caracteres fossem aparentemente desvantajosos, eles seriam deletérios, então, não aumentariam as chances de reprodução, já que esses caracteres desvantajosos acabam não sendo posteriormente selecionados durante o acasalamento, até mesmo porque muitas espécies machos (ou fêmeas) acabam escolhendo seus parceiros por alguma característica que pra eles acabam por ser vantajosa. A seleção sexual consiste em escolher o parceiro de acordo com os caracteres vantajosos que ele poderá passar para a sua prole, se os caracteres forem aparentemente desvantajosos, provavelmente não serão escolhidos, então suas “chances de reprodução” serão menores. A seleção sexual é quando um animal escolhe seu parceiro por atrair um caracter que se destacou, são caracteres vantajosos que fazem com que a companheira ou companheiro tenha preferência para acasalamento. A seleção sexual é a seleção que os indivíduos fazem do parceiro reprodutivo, sendo escolhidos os mais fortes, vistosos, etc. para que essas características sejam transmitidas aos descendentes, garantindo assim sua sobrevivência. É a escolha por indivíduos mais “chamativos”, mais destacados, para a reprodução, onde esta característica será passada para seus descendentes, e estes irão originar indivíduos ainda mais destacados, ou seja, é a seleção de caracteres vantajosos para serem passados para seus descendentes. A seleção sexual irá selecionar indivíduos que possuem maiores atrativos sexuais. Na maioria das espécies, geralmente é a fêmea que escolhe o macho para acasalar. Esses machos estarão transmitindo todos os seus caracteres para a prole, pois a seleção sexual favorece as fêmeas escolhendo seus parceiros “exagerados”, ou seja, os machos que possuem características atraentes que os tornam com exageros que chama a atenção das fêmeas. Portanto, as fêmeas escolhem os machos para se reproduzir, isso torna-se vantajoso em uma seleção sexual, porque sendo desvantajoso não atrai a fêmea. O macho utiliza de vantagens que o beneficiam para a conquista da parceira e essa escolha é feita através das características vantajosas apresentadas pelo macho, pois quando o animal possui uma característica desvantajosa, ele será menos atraente para as fêmeas, sendo assim a chance de reprodução será menor. A seleção sexual mesmo custosa do ponto de vista energético, torna-se benéfica pois contribui para a biodiversidade existente. No caso da seleção sexual alguns traços podem ser selecionados pelas fêmeas e garantiram ao macho a oportunidade de reprodução, assim as características selecionadas se mantêm na população. Na seleção sexual a fêmea escolhe o seu parceiro que tem melhor valor adaptativo. Sabe-se que em determinadas espécies existe a seleção sexual, entre indivíduos machos cxlvii Ideia-Central Seleção de características desvantajosas para a reprodução preferencialmente, que exibem alguma característica que irá atrair uma maior atenção por parte das fêmeas. Algumas características são citadas como sendo desvantajosas por conferirem aos seus portadores maiores chances de predação, por serem muitas vezes exuberantes ou com coloração de destaque, porém se estas características fossem mesmo desvantajosas elas não aumentariam as chances de reprodução e não seriam selecionadas positivamente. Portanto, se fossem totalmente desvantajosas não haveria porque manter tais características na população, fato que sugere a existência de alguma vantagem relacionada a seleção sexual. A seleção sexual também ocorre com os mais vantajosos, aumentando as chances de reprodução. Por isso é que se diz que na seleção sexual caracteres “aparentemente” desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as “chances de reprodução”. Porque os caracteres que são vantajosos acabam sendo selecionados, por aumentarem as chances de reprodução, aumentando a chance de que seu gene passe para próximas gerações. Na seleção sexual, acabam sendo selecionados caracteres que aparentemente são vantajosos, para que as chances de reprodução sejam maiores, e assim “garantir” a perpetuação da espécie. Na seleção sexual o que é levado em conta é a possível vantagem de reprodução de caracteres ditos vantajosos na permanência da população. Por estes motivos eu não concordo que a seleção sexual selecione aparentemente características desvantajosas, porque ela pode selecionar as vantajosas também. A seleção sexual ocorre apenas no sentido do sucesso reprodutivo, enquanto a seleção natural está relacionada com o sucesso adaptativo. Esta afirmativa está relacionada com os caracteres adquiridos secundários. Enquanto a seleção natural proposta por Darwin seleciona as características mais adaptadas ao nicho que o organismo habita e mais econômica energeticamente; a seleção sexual mantém características mais exuberantes (chamam mais atenção do sexo oposto, mas também chamam atenção do predador), mais custosas energeticamente – o que as tornam menos adaptativas do ponto de vista da seleção natural -, mas que aumentam as chances de sucesso reprodutivo. A seleção sexual relaciona-se a animais que tem determinada característica que não lhe promove destreza, agilidade, captura de alimentos ou mesmo escape de predadores, são vantagens que promovem sua reprodução, ou seja, habilidades nas quais os indivíduos tem que se sobressaírem aos demais indivíduos de sua espécie para se reproduzirem. A seleção sexual está nos organismos que se reproduzem sexuadamente, havendo gasto de energia, porém esse gasto de energia é satisfatório, pois há um investimento de reproduzir filhos adaptados ao meio e pode haver caracteres desvantajosos na qual foram selecionados junto com os caracteres vantajosos, mas a própria seleção encarrega-se em diminuir os genótipos desvantajosos ao longo das gerações, ao ponto de excluí-las da população. Os caracteres que são aparentemente desvantajosos acabam sendo selecionados por aumentarem as chances de reprodução porque promovem a variabilidade genética. A seleção sexual é quando uma determinada característica surge em uma espécie e tal característica aumenta as chances de reprodução do indivíduo, que é passada para seus descendentes. Se diz que é uma característica aparentemente desvantajosa, pois no caso do pavão, por ele ter a plumagem muito colorida ele pode ser facilmente predado, mas essa característica teve sucesso, pois ela garantiu ao indivíduo possuidor da mesma, um sucesso reprodutivo, pois tais indivíduos são selecionados pelas fêmeas, o que se chama de seleção sexual. Em muitas espécies, a seleção sexual selecionou caracteres que aumentam as chances de reprodução, mas que causam desvantagens em outros aspectos, como na hora de se camuflar. São exemplos de caracteres selecionados pela seleção sexual, as penas da cauda do pavão, a juba do leão, o chifre de diversos mamíferos, etc., todos esses caracteres são usados como um chamativo para atrair as fêmeas, porém acaba expondo o macho a ataque de predadores e/ou deixando-os mais lentos para a fuga ou caçada devido ao peso desses caracteres. Na maioria das vezes os caracteres selecionados pela seleção sexual e que aumentam as chances de reprodução, são desvantajosos por serem muito chamativos, coloridos, como formas diferentes e podem ser desfavoráveis cxlviii em relação à sobrevivência (difícil de esconder, atrair os predadores, etc.), mas em relação a reprodução, são caracteres que ajudarão na escolha da fêmea, favorecendo assim sua reprodução (seu sucesso reprodutivo). Podem existir casos em que uma característica desvantajosa para a seleção natural, possa ser o ponto chave para atrair parceiros para acasalamento e consequentemente reprodução. Por causa da seleção sexual ou da escolha certa ou errada do parceiro sexual, há características, caracteres que serão selecionados, e estes caracteres nem sempre são os melhores, pelo contrário, são aparentemente desvantajosos, mas por causa das chances de reprodução acabam sendo selecionados aumentando a variabilidade genética. O que ocorre é que, em relação à seleção sexual, características possuídas por alguns parceiros são tão cheias de pompa ou, efetivamente, desnecessárias que, por vezes, atrapalham sua própria desenvoltura, mas o torna objeto de desejo e destaque em meio às fêmeas (parceiras). A seleção sexual pode ser intra-sexual ou inter-sexual. No primeiro caso, ocorre competição entre machos de mesma espécie pela fêmea ou local de acasalamento. Neste caso, pode não haver caracteres aparentemente desvantajosos envolvidos. A seleção inter-sexual ocorre quando há preferência da fêmea por machos com determinadas características. Neste caso, pode até haver caracteres aparentemente desvantajosos, como a cauda longa e volumosa do pavão, por exemplo. Sendo assim, na seleção sexual, nem sempre ocorre seleção de caracteres aparentemente desvantajosos, embora a seleção destes possa ser explicada pela seleção sexual. O dimorfismo sexual à primeira observação pode ser sim desvantajoso por chamar muita atenção deixando o animal na mira dos predadores. As características do dimorfismo são mais apresentadas no macho que fará a corte à fêmea. Eles apresentam cores fortes, adereços dos mais variados e chamativos, canto, dotes de bom arquiteto em estruturar e adornar ninho para receber a fêmea, cabendo a ela a escolha dos mais fortes que duelam por ela e do mais parceiro que ajudará no cuidado com a prole. Os machos gastam energia com a corte e as fêmeas na gestação e no cuidado com a prole. Embora ocorra risco de serem predados, os machos que se destacam com sua beleza e chamam atenção, são os selecionados sexualmente para a reprodução. Na época do acasalamento a fêmea tem um gasto muito maior de energia para a produção de um só gameta, portanto estas características diferenciadas “ajudam” a fêmea a escolher o melhor parceiro para passar estas características para sua prole e também para a proteção da mesma, o que evitaria desperdício de energia da fêmea na produção de mais gametas. O que ocorre é que todas estas características podem facilitar a visualização do indivíduo por seu predador sendo então desvantajosas para a seleção natural. Embora alguns caracteres sejam aparentemente desvantajosos em determinados ambientes, eles são selecionados pela seleção sexual, pois as fêmeas escolhem o macho com as características mais notórias já que eles podem produzir descendentes com estas mesmas características. A seleção natural diz respeito à sobrevivência do organismo; já a seleção sexual diz respeito à reprodução. Características de alguns machos como estruturas e comportamentos são selecionadas pelas fêmeas, que veem neles sua preferência pelo acasalamento. Essas características são desvantajosas para a sobrevivência, como plumagens coloridas ou cantos, pois chamam mais atenção de predadores. Em compensação, são essas mesmas características que lhes dão vantagem na escolha das fêmeas, e que irão garantir a reprodução e a perpetuação dos seus genes. Na seleção sexual existe um enorme gasto de energia para a espécie durante a reprodução, ou seja, para a formação dos gametas as espécies gastam muita energia, tornado-a desvantajosa aparentemente, assim os caracteres selecionados aumentam as chances de reprodução entre as espécies. A seleção sexual irá favorecer indivíduos que possuem caracteres aparentemente desvantajosos, mas que na verdade, estes irão expressar características atrativas ao seu parceiro. Sendo assim, esses indivíduos terão “mais chances de reprodução”, sendo positivamente selecionado para reprodução. Esses caracteres em sua grande maioria não são vantajosos para a seleção natural por chamarem a atenção e aumentarem o risco de predação. Assim, caracteres que são aparentemente cxlix desvantajosos, por outro lado, aumentam a chance de deixar descendentes. Grande parte dos caracteres vantajosos para reprodução, como coloração, e várias outras modificações que facilitam, representa vantagem para reprodução, pois aumentam a chance do indivíduo de se reproduzir, mas não são favoráveis para a sobrevivência. Mesmo assim eles permanecem nas gerações, pois representam vantagens para a reprodução que superam as desvantagens em relação a sobrevivência. Na reprodução é a seleção natural atuando junto com a seleção sexual, pois as características relacionadas com a reprodução geralmente são chamativas, com cores vibrantes, estruturas grandes, que são utilizadas para atrair as fêmeas e não estão relacionadas com a sobrevivência, entretanto interfere na mesma, podendo diminuir suas chances de sobrevivência. Nesse sentido, um caracter aparentemente desvantajoso é uma vantagem do ponto de vista gênico. Na seleção sexual os caracteres que conferem maior “chance de reprodução” são selecionados pelas fêmeas, pois são mais atraentes reprodutivamente, de maneira que elas queiram que seus filhotes as possuam. Estes caracteres representam características que, as vezes, conferem desvantagens a um indivíduo, como maior gasto de energia, vulnerabilidade a um predador, dificuldade na alimentação, etc. Em alguns casos observamos características que aparentemente seria desvantajosa, que na natureza chamaria a atenção de predadores, entretanto as fêmeas escolhem os parceiros para o acasalamento. As desvantagens atribuídas à seleção sexual podem ser enumeradas levando-se em conta o gasto de energia, a necessidade de um parceiro, dentre outras. Entretanto, tem como vantagem a variabilidade genética acarretando maiores descendentes e maior nível reprodutivo. Pode ocorrer de vários caracteres que venha representar desvantagens a espécies (como alto gasto energético para estruturas mais complexas, maior visibilidade aos predadores e etc), mas que facilitam o processo de reprodução (cores mais vivas e penas maiores para atrair as fêmeas e etc) e essas características são conhecidas por dimorfismo sexual. Porque esses caracteres que são aparentemente desvantajosos para a seleção natural da espécie, acabam sendo vantajosos para as chances de reprodução. No caso da seleção sexual, são as fêmeas que selecionam os machos para a cópula. Sendo assim, são caracteres que são aparentemente desvantajosos do ponto de vista da seleção natural, mas são os que são mais atraídos, selecionados e vantajosos para a seleção sexual. A seleção sexual está diretamente ligada à seleção natural, pois se as fêmeas selecionam por exemplo, machos com pelagem muito exuberante, podem se tornar presas mais fáceis de predadores, o que em algumas situações pode ser uma característica desvantajosa, em termos de reprodução promove a seleção sexual. Alguns caracteres são considerados “inúteis” num certo ponto de vista, como a coloração da plumagem, o tamanho do corpo, o exalar de certas substâncias, etc, no entanto, tais características servem justamente para atrair o parceiro sexual. A seleção sexual tem como base caracteres adquiridos ao longo do tempo, ligados a reprodução que vão viabilizar a propagação da espécie. Usando como exemplo a exuberância da cauda do pavão macho (atrativo para a sedução e conquista da fêmea) quando analisado pela seleção natural seria uma característica desvantajosa, pois atrairia mais facilmente seu predador, mas na seleção sexual ela se torna vantajosa, pois a fêmea se sente atraída pelas suas cores, dessa forma ela é vantajosa pois os caracteres aparentemente desvantajosos, acabam aumentando as chances de reprodução. Alguns caracteres como odor característico ou coloração expressiva que podem ser desvantajosos atraindo predadores, podem ser vantajosos atraindo parceiros para a reprodução. No caso do pavão os machos que tem as plumas (penas) mais bonitas se destacam e com isso são escolhidos (tem a preferência) pelas fêmeas, em contra partida ele (macho) se torna uma presa bem visível pelos seus predadores. Um exemplo disso é a plumagem do pavão, que embora seja uma característica desvantajosa para outros fins, confere a espécie uma vantagem reprodutiva, pois as fêmeas da espécie em questão “procuram” machos com plumagens mais avantajadas para o ato reprodutivo. Podemos citar o exemplo do pavão, que possui uma longa cauda e quando a abre é um leque de cores. Isso pode ser desvantajoso em relação a cl Ideia-Central Explicações Incorretas predação, mas como ele pode abrir e fechar a cauda já o ajuda a ser discreto quando necessário. Em relação a seleção sexual ele atrai a fêmea de sua espécie com a abertura da cauda e movimentos em forma de dança, é um ritual para o acasalamento, ou seja, aumentam as chances de reprodução. Caracteres como plumagem exuberante (no caso do pavão) podem dificultar o meio de sobrevivência como locomoção e camuflagem contra predadores, mas é um grande chamariz para atrair as fêmeas já que elas escolhem seus parceiros pela plumagem mais bonita. A diferença no fenótipo pode ocasionar a escolha pela fêmea, como no caso dos pavões, seu rabo é desvantajoso para a continuidade da espécie, pois o torna mais visível para os predadores, mas o torna escolhido pelas fêmeas, o que torna seu caracter vantagem para sua reprodução, mantendo seus caracteres na população. Nem sempre para ele é vantajoso na sobrevivência, pois a exuberância chama a atenção de predadores, mas essas características se tornam vantajosas na reprodução por ser o mais gracioso escolhido pela fêmea. E esses caracteres escolhidos são apenas aparentemente desvantajosos, significando que realmente trará desvantagem aos indivíduos. Assim esses caracteres podem ser vantajosos de alguma forma, aumentando as chances de reprodução e perpetuação do indivíduo. No entanto esse processo pode em alguns casos ser desvantajosos, pois o exagero atrai seus predadores, tornando-se uma presa fácil. Esses exageros podem dificultar a busca por alimentos. A seleção natural seleciona as características que melhor aumentam as “chances de sobrevivência” dos seres no ambiente enquanto seleção sexual aumentam “as chances de reprodução” dos animais. A seleção natural é o tipo de processo que não ocorre de forma direcional, ou seja, ela não seleciona os caracteres “aparentemente” desvantajosos, já que a mesma ocorre de forma aleatória, pois existem as mutações, selecionando indivíduos homozigóticos e que estão em baixa frequência em uma população, proporcionando uma prole com indivíduos heterozigóticos e por isso, aumentam a frequência deles na população, aumentando a chance de reprodução. Nem sempre um indivíduo bem adaptado (com mais alelos dominantes, por exemplo) conseguirá encontrar outro indivíduo bem adaptado para copular. Por isso, em favor da perpetuação da espécie é que indivíduos com caracteres aparentemente desvantajosos são selecionados, muitas vezes para acasalar (seleção sexual) com qualquer outro indivíduo. Ainda não se consegue explicar totalmente as vantagens da reprodução sexuada, pelo contrário, a relação sexual, a reprodução sexuada, tem um maior gasto energético desde a produção do gameta até realmente a fecundação. O indivíduo não tem garantia de encontrar o sexo oposto e realizar a cópula ou encontro dos gametas. Porém, algo que parece desvantajoso não é, porque a reprodução sexuada permite uma maior variabilidade genética, fluxo gênico. A seleção de machos e fêmeas em uma proporção de 1:1, embora pareça desvantajoso, aumenta o valor do número efetivo da população, aumentando assim a heterozigosidade, fato que aumenta as chances de reprodução, afim de manter / garantir a sua prole. A seleção sexual permite a reprodução sexuada que leva a variabilidade genética, mas nem sempre caracteres que sugerem uma vantagem de acasalar o são de fato. Na verdade, existe uma série de fatores que levam a fêmea a escolher o macho, alguns podem estar associados ao comportamento do macho e que por algum motivo pode vir a atrapalhar na busca pela fêmea. Através da seleção sexual as características da mãe e do pai (todas as que eles trazem em seus genes) serão transmitidas aos seus descendentes, mesmo as características vantajosas e também desvantajosas. Muitas das vezes os caracteres que são desvantajosos acabam sendo compartilhados entre os indivíduos cruzantes e consequentemente nas futuras gerações, sem ter a consciência que esse caracter seja desvantajoso, pois há um gasto de energia muito grande para o indivíduo, porém a grande vantagem dessa seleção é porque ela aumenta a variabilidade genética, com isso haverá diversos tipos de caracteres inseridos nas espécies, sendo muitos vantajosos, outros trazendo desvantagens ao indivíduo. A seleção sexual não seleciona caracteres desvantajosos, os caracteres que são desvantajosos em um dado momento podem não ser em outro, ou seja, ocorre uma aleatoriedade. A seleção cli sexual é baseada em caracteres morfológicos e características comportamentais (corte) e uma característica aparentemente desvantajosa não vai aumentar as chances de reprodução. Na seleção sexual os genes fenótipos atuam fazendo com que caracteres passam ser vantajosos ou desvantajosos, que predomina o que na adaptação for mais atuante, pois ocorre evolução e mutação. Inicialmente o “gasto energético” que provém desta seleção logo é compensada pelo fato de que a união de cromossomos haplóides gerará em uma maior variabilidade desse novo indivíduo. A recombinação produzida pela reprodução só oferece vantagens ou desvantagens seletivas em condição de variação ambiental, com isso aumentam as chances de nas próximas gerações os filhotes terem as características dos pais, mas não tem nenhuma relação direta com as chances de reprodução. A seleção sexual atua quando ocorre presença de caracteres que serão vantajosos no meio onde os indivíduos (população) viverão. Dessa forma, o sexo será determinado de acordo com o meio. A seleção sexual não ocorre de forma aleatória e também não é garantia de reprodução, pois dependem dos caracteres que estão sendo compartilhados entre os seres envolvidos, porque na seleção sexual, ou seja, na seleção natural é necessário que haja interação entre todas as espécies de uma determinada população, mesmo sendo jovens e animais mais velhos. Sendo assim, há um tipo de seleção natural agindo sobre a seleção sexual, pois a seleção natural mantém na população os caracteres vantajosos e exclui os desvantajosos. Através da seleção natural os caracteres aparentemente desvantajosos são “eliminados” para que “restem” (sobrevivem) somente os caracteres vantajosos e isso irá acarretar em um grande desequilíbrio como é o caso da seleção sexual “fugitiva”, onde filhas de machos exagerados sempre trarão preferência por machos exagerados. A seleção sexual não refere-se a caracteres que facilitem a reprodução e sim sobre uma vantagem reprodutiva sobre machos e fêmeas de maneira a propiciar desenvolvimento diferente (chance de sobrevivência) entre os sexos. A mulher nos seus caracteres que são bem diferente dos homens, são responsáveis pela reprodução de modo diferente, pois se o gênero feminino possui o útero que hoje sofre tanto com as células cancerígenas, em contrapartida com todo avanço da genética este órgão é insubstituível. O que parece ser desvantajoso na seleção sexual é o que ocorre com a reprodução sexuada que foi selecionada como um meio de reprodução da maioria dos seres vivos, mesmo tendo como desvantagem um grande custo de energia, a procura pelo parceiro e etc. Mas na reprodução sexuada há uma grande chance de aumentar a variabilidade genética, o que pode ser um motivo para tal seleção mesmo sendo um investimento de energia muito alto sem garantia de retorno certo. Para que estes caracteres que “aparentemente” não trazem benefício, revertam em um quadro favorável, é necessário ter em equilíbrio dinâmico entre machos e fêmeas, para uma heterozigosidade grande. Na seleção sexual, o cruzamento ocorre ao acaso, não havendo como “programar” o resultado, um exemplo de modelo estocástico. Portanto, estes caracteres que são aparentemente desvantajosos acabam sendo selecionados no momento da reprodução, resultando em chances maiores de reprodução, com isso aumentando a variabilidade genética. Outro fator que resulta na variabilidade genética é o fato de não haver o endocruzamento, sendo fruto de um cruzamento heterogamético. O intuito da reprodução é a perpetuação da espécie, gerar indivíduos aptos a transmitir os genes da espécie à novas proles, porque ocorrerá mutação e as espécies serão eliminadas pelo meio através da seleção natural diminuindo a variabilidade genética. Logo, não seria vantagem transmitir uma herança genética desvantajosa à prole para que a mesma encontrasse dificuldades de adaptação devido aos caracteres desvantajosos que foram passados através das gerações, foi devido a este aspecto que muitas espécies foram se estabilizando no meio que habitam. A seleção sexual ocorre quando indivíduos após um processo de especiação se tornam tão diferentes a ponto de se isolarem reprodutivamente e não mais cruzarem, surgindo assim duas populações diferentes, podendo surgir até mesmo espécies diferentes. A seleção sexual ocorre quando a seleção natural não está atuando. Ocorre em populações pequenas, onde o nível de espécies é baixa, sendo vantajosa clii para que não ocorra a extinção da espécie. Como no caso dos peixes que continham, apresentavam manchas negras, estes peixes que aparentemente possuíam alguma anomalia, na verdade foram os peixes que sobreviveram às situações extremas do meio em que vivem. Na tabela abaixo (Tabela 6.6) está o número de respostas utilizadas para a formação dos Discursos-Síntese de cada Ideia-Central. Além disso, foram incluídos os dados sobre quantos desses alunos tinham feito pelo menos uma atividade e quantos indicaram terem lido o texto extra. Tabela 6.6 – Número de respostas x Ideia-central* Número de respostas Número de alunos que fez pelo menos uma atividade Número de alunos que indicou ter lido o texto 3 3 2 -- 2 -- 10 5 -- 21 3 1 34 10 1 40 15 9 Explicações Corretas Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual Seleção sexual como indicativo de bons genes / saúde Seleção Natural e Seleção Sexual como processos semelhantes Seleção de características vantajosas para a reprodução Seleção de características desvantajosas para a reprodução Explicações Incorretas Não respondeu a questão 35 7 3 2 --* 16 alunos informaram que leram o texto, mas dois desses não fizeram nenhuma atividade. Por último, apresentamos a tabela (Tabela 6.7) com o número de alunos que fez cada atividade: Tabela 6.7 – Número de alunos por atividade Atividade 1 Atividade 2 Atividade 3 Atividade 4 Atividade 5 Atividade 6 Atividade 7 Atividade 8 Fez atividade 42 18 11 8 10 8 7 5 cliii Infelizmente, de forma semelhante ao semestre anterior, não houve grande adesão por parte dos alunos. 6.2.3 Discussão dos resultados encontrados Os resultados encontrados não foram totalmente satisfatórios em função da pouca adesão dos alunos às atividades e porque a maior parte dos discursos encontrados não estava de acordo com os conceitos desenvolvidos ao longo das atividades e do texto extra. Em relação a pouca adesão dos alunos, podemos encontrar uma justificativa nas palavras de Laguardia e Portela em que (...) a experiência da educação à distância on line requer a participação ativa do aluno, sua responsabilidade no processo de aprendizagem e o domínio de habilidades que, ausentes, podem resultar em barreiras à sua permanência nos cursos e, consequentemente, em altas taxas de evasão (2009, p.351). Essa dificuldade em permanecer no curso pode ser percebida na quantidade de alunos que começam a disciplina e que, após a Avaliação Presencial 1 a trancam ou faltam as avaliações seguintes (Avaliações Presenciais 2 e 3). Novamente, de acordo Laguardia e Portela (2009) existem muitas razões que justificam as altas taxas de evasão em EaD. Essas razões podem ser classificadas em voluntárias como, por exemplo, subestimar as dificuldades que seriam encontradas; ou involuntárias, como o surgimento de doenças. Porém a falta de tempo é apontada como uma das principais causas para a baixa efetividade dos alunos e altas taxas de evasão. Em relação à pontuação, foi nossa escolha fazer as atividades não pontuadas para tentar entender também se os alunos estão dispostos a utilizar as diversas ferramentas de estudos que são oferecidas. O que pudemos perceber é que realmente o fato de as atividades não serem pontuadas contribuiu para uma baixa adesão. Esse fato foi percebido ao longo das atividades, nos dois semestres, pois muitos alunos me perguntaram se as atividades não seriam pontuadas e indicaram que se fossem talvez participassem. Portanto, uma das características da EaD é a participação ativa dos alunos, sendo ele o responsável pelo seu processo de ensino e aprendizagem. Quando cliv essa atitude não é colocada em prática por parte dos alunos, o processo fica comprometido. Esse problema foi apontado por Barbosa e Rezende (2006) que indicaram que para que as tutorias tenham um bom resultado é preciso o comprometimento dos tutores e alunos, porém em seu artigo, as autoras mostraram que uma das queixas dos tutores se encontra no fato de os alunos não se empenharem, dificultando o desenvolvimento das tutorias, gerando mais trabalho para o tutor e muitas vezes caracterizando um baixo desempenho dos alunos. Autores como Santos (2006), Abreu et al. (2007), Alonso (2010) e Ronchi et al. (2012) também indicam que faz parte dessa modalidade de ensino a escolha, por parte dos alunos, das ferramentas e suportes que serão utilizados para aprenderem e aprofundarem seus conteúdos, dentre as oferecidas ao longo do curso. Esses referenciais podem nos ajudar a entender a pouca participação dos alunos e o fraco desempenho nas questões relacionadas com as atividades. 6.2.3.1 Discussão dos Discursos do Sujeito Coletivo Em relação aos Discursos do Sujeito Coletivo encontrados nessa graduação, podemos perceber uma diferença nos conteúdos desses discursos, em função do tipo de questão formulada: definição de conceitos (2012-1) ou questão analítica (2012-2). 6.2.3.1.1 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-1 Em 2012-1, a questão solicitava que os alunos diferenciassem os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, sendo a resposta correta a conceituação de cada um deles. Como os alunos definiram cada processo separadamente, também analisamos as respostas dessa forma. Para a Seleção Natural, o resultado encontrado foi satisfatório, uma vez que a maior parte das respostas (71%) foi classificada nas categorias correta e incompleta. Além disso, a maior parte dos alunos que fez alguma atividade ou que indicou ter lido o texto, encontra-se nessas categorias (84% e 86%, respectivamente). clv Na Ideia-central Explicações corretas sobre o processo de Seleção Natural estão presentes os conceitos que permitem a compreensão da atuação da Seleção Natural e suas consequências. Os alunos ressaltaram que nesse processo as variações gênicas que surgem a partir de mutações ao acaso e que produzem características que aumentam as chances de sobrevivência são selecionadas positivamente. Porém, para as características serem consideradas benéficas, prejudiciais ou neutras precisamos observá-las de uma perspectiva local e temporal. Assim, os indivíduos com caracteres vantajosos conseguem chegar à idade reprodutiva, passando a característica aos seus descendentes, ou seja, os alelos vantajosos são mantidos na população, aumentando sua frequência. Também é importante destacar que os alunos conseguiram identificar que o meio ambiente deve ser considerado como os fatores bióticos e abióticos que o compõe. A consequência desse processo é uma melhor adaptação da espécie ao meio. Na Ideia-central Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Natural os alunos explicaram de forma bem semelhante à Ideia-central Explicações corretas, porém não indicaram de forma clara sobre ao que se referem quando falam em adaptação. Além disso, não responderam que a Seleção Natural está relacionada com o sucesso na sobrevivência. Essa indicação era importante, pois é um dos fatores que diferencia esse processo do de Seleção Sexual que é o sucesso reprodutivo. Porém, ainda encontramos respostas que estão totalmente fora do contexto, embora saibamos que isso é comum em avaliações. Mas o que chama mais a atenção, é que duas categorias formadas – Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Natural e Explicação Contraditória – apresentaram erros recorrentes, não só encontrados na literatura sobre ensino de evolução, como na própria análise das provas arquivadas feita por nós. Na Ideia-central Explicação Contraditória, os alunos apresentaram conceitos que estavam relacionados com outros processos evolutivos, como a deriva gênica, ou indicaram que a Seleção Natural pode ser um processo ao acaso que leva à fixação de características negativas. Nas provas arquivadas analisadas também estava presente uma questão sobre a definição do processo de Seleção Natural (2008-2 e 2009-1) e essas confusões também foram encontradas. clvi Em relação à Ideia-central Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Natural podemos perceber a permanência de um erro bem comum e que também já havia sido detectado nas provas arquivadas (2008-2 e 2009-1). Esse é um dos erros que permanece mesmo depois de intervenções diversas, como foi demonstrado por muitos autores que atuam em pesquisas com ensino de evolução (CRAWFORD et al., 2005; BARDAPURKAR, 2008; SHTULMAN e SCHULZ, 2008; GREGORY e ELLIS, 2009; TIDON e VIEIRA, 2009; ANDREWS et al., 2011; PRINOU et al., 2011). Para ilustrar essa dificuldade citamos o artigo de Baumgartner e Duncan (2009) no Hawaii, pois esses pesquisadores desenvolveram atividades de laboratório, modelos e simulações que discutiam os conceitos da Teoria Evolutiva. Mesmo assim os alunos ainda ficaram com a concepção de que os organismos aprendem a mudar seus corpos ao longo do tempo. Outra pesquisa interessante é a de Santos (2002), pois essa autora trabalhou com um grupo pequeno de alunos e com a apresentação de situaçõesproblema que deveriam ser discutidas e, apesar disso, os alunos também continuaram apresentando a ideia de que a evolução ou modificação das espécies tem um objetivo consciente. Sobre o processo de Seleção Sexual, na Ideia-central Explicações corretas sobre o processo de Seleção Sexual os alunos indicaram que esse não é um tipo de Seleção Natural e sim outro processo que atua na diversificação das espécies, relacionado com a reprodução diferencial. Os alunos também responderam que esse processo pode levar ao dimorfismo sexual e que é um processo intraespecífico, ou seja, é a disputa (intrassexual) ou a escolha (intersexual) de parceiros reprodutivos, o que pode fazer com que características extravagantes sejam estabelecidas ao longo do processo. Boa parte das respostas (41%) foi classificada na Ideia-central Escolha de parceiro reprodutivo. Embora a resposta não esteja incorreta, ela está incompleta, pois no processo de Seleção Sexual também ocorre a disputa por parceiros ou locais para o acasalamento. Para que as respostas fossem consideradas corretas também era necessária a indicação de que as características moldadas pela Seleção Sexual estão relacionadas com o sucesso reprodutivo. Porém, de forma positiva os alunos relacionaram esse processo com a seleção de machos com determinadas qualidades genéticas. clvii Na Ideia-central Disputa entre machos apenas um aluno respondeu com essa ideia e somente apresentou a disputa entre machos (intraespecífica) como parte do processo de Seleção Sexual, sem mencionar a escolha de parceiros (interespecífica). Na Ideia-central Explicações incompletas sobre o processo de Seleção Sexual os alunos não deixaram claro que sabiam que esse é outro processo que atua na diversificação das espécies, ou seja, apenas diferenciaram os subtipos (intra e intersexual) sem indicar que estão relacionados com o sucesso reprodutivo diferencial. As quatro Ideias-Centrais apresentadas acima representam cerca de dois terços das respostas dos alunos (94 respostas de um total de 153) e são categorias relacionadas com a resposta correta. Porém, por volta de dois terços dessas respostas (71 respostas em relação a 94) não estão de acordo com o gabarito, ou seja, alguma lacuna foi encontrada, sendo as principais: indicação de apenas um subtipo de seleção (intra ou intersexual); não indica que, assim como na Seleção Natural, nesse processo as mutações ao acaso também são as fontes de variação; e, principalmente, não relacionaram que as características moldadas pela Seleção Sexual são indicativas de bons genes, o que significa dizer que apenas os indivíduos mais bem adaptados conseguem manter características que possuem um alto custo energético e ainda assim chegar à idade reprodutiva. As respostas que não estavam corretas e que foram classificadas nas Ideias-centrais Explicações com ideia de objetivo do processo de Seleção Sexual, ou Explicações Incorretas, ou Explicação Contraditória ainda apresentaram erros que são recorrentes. Quando classificamos com a ideia de objetivo é porque o discurso formado indica que os indivíduos com características extravagantes mudaram ou passaram a usar determinada estrutura para conseguirem se reproduzir. O discurso contraditório indicava que a Seleção Sexual molda características não adaptativas, mas que aumentam as chances de reprodução. Consideramos que características que beneficiem de alguma forma o indivíduo, independentemente de serem para a sobrevivência ou para a reprodução, são características adaptativas. Com isso, essas respostas não estavam de acordo com o esperado. Na ideia incorreta os alunos não responderam ao que foi solicitado e muitas vezes descreveram as vantagens da reprodução sexuada. Essa discussão clviii é importante para a compreensão dessas características extravagantes e que apresentam dimorfismo, mas não era o que estava sendo solicitado na questão. Porém, esse tipo de reprodução foi abordado nas atividades e no texto extra, pois está diretamente relacionada com os comportamentos e estruturas diferenciadas de machos e fêmeas de diversas espécies, mas foi utilizada para explicar porque essa reprodução influenciava no processo de Seleção Sexual. Com isso, duas questões podem ser levantadas e que poderemos tentar responder em trabalhos futuros: será que o conceito de Seleção Sexual é um conceito tão novo para os alunos que facilita a confusão com outras ideias como, por exemplo, a reprodução sexuada?; E, será que numa tentativa de colocar as fêmeas como participantes ativas desse processo, como é indicado por diversos autores, induzimos os alunos a darem apenas esse tipo de resposta? Acreditamos que não, pois nas atividades e no texto extra tentamos o tempo todo indicar que o processo de Seleção Sexual apresenta dois subtipos, a seleção intrassexual e a intersexual. Porém, são questões que não devem ser esquecidas. Entretanto, os erros e lacunas encontrados nos Discursos-Síntese montados sobre o processo de Seleção Sexual são muito semelhantes às dificuldades encontradas quando foi feita a categorização das respostas das questões sobre esse processo que estavam presentes nas avaliações de 2009-2 e 2012-1. 6.2.3.1.2 Discurso do Sujeito Coletivo – 2012-2 No semestre 2012-2 o resultado não foi tão satisfatório e julgamos que esse fato está relacionado com a questão ser mais analítica. Na análise das provas arquivadas também encontramos resultado semelhante, em que os alunos tiveram suas respostas classificadas em incorretas ou incompletas em número muito maior do que quando a questão era de definição de conceito, como nas questões analíticas Flamingo (2008-1 e 2008-2), Complexidade (2008-2), Mutação / Evolução (2009-1) e Tautologia Seleção Natural (2009-1). Na questão presente na Avaliação Presencial 2 de 2012-2 era esperado que os alunos diferenciassem a Seleção Natural, relacionada com a sobrevivência; da Seleção Sexual, relacionada com a reprodução. Colocamos a palavra aparentemente porque as estruturas ou comportamentos extravagantes clix parecem dificultar a sobrevivência, mas na realidade são indicativos de bons genes e são características que não podem ser forjadas (ZAHAVI e ZAHAVI, 1997). Com isso, esperávamos que os alunos diferenciassem esses dois processos e indicassem que as características selecionadas pelo processo de Seleção Sexual também são características vantajosas. Infelizmente, nesse semestre as respostas que formaram Ideias-Centrais que continham ideias corretas sobre os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual foram apenas um terço das respostas. E, respostas totalmente corretas foram apenas três, de um universo de 146 respostas. Na Ideia-Central Explicações Corretas houve a diferenciação dos dois processos e os alunos relacionaram a Seleção Sexual com a seleção de características que aumentam o sucesso reprodutivo e que são indicadoras de bons genes, sendo vantajosa sua manutenção na população. Porém, a maioria dos alunos (98%) não conseguiu indicar de forma correta as principais características que diferenciam a Seleção Sexual da Seleção Natural. As respostas que não estavam erradas, mas que apresentavam lacunas – Seleção Sexual como indicativo de bons genes / saúde e Seleção de características vantajosas para a reprodução – não indicaram qual era a diferença desse processo em relação ao de Seleção Natural. Não ficamos satisfeitos com esse resultado, pois as respostas não abordaram de forma mais aprofundada o que realmente está sendo indicado pelas características extravagantes e pelo processo de Seleção Sexual: ser um melhor parceiro reprodutivo, por ter melhores genes, que serão mantidos no fundo de genes da população. O que chama a atenção nesse resultado é que dois terços das respostas foram classificadas em alguma Ideia-Central que apresenta um discurso que não é condizente com o que era esperado. Para as respostas classificadas na IdeiaCentral Explicações Incorretas houve o mesmo problema que no semestre anterior em que os alunos confundiram o processo de Seleção Sexual com as vantagens da reprodução sexuada. Na Ideia-Central Não diferenciou a Seleção Natural e a Seleção Sexual até foram encontradas respostas que conceitualmente poderiam estar corretas, entretanto o aluno não indicou sobre qual dos dois processos estava respondendo. clx O que mais chama atenção é que na Ideia-Central Seleção Natural e Seleção Sexual como processos semelhantes os alunos consideraram a Seleção Sexual como um tipo de Seleção Natural (14%), mostrando que realmente não entenderam que são processos distintos. Consideramos essas respostas incorretas, pois partimos do princípio de que a atuação da Seleção Natural é diferente da atuação da Seleção Sexual, moldando características econômicas por um lado, e extravagantes pelo outro; e, que saber diferenciar os dois processos ajuda a entender melhor a biodiversidade existente. Porém, para nós, o pior resultado está na Ideia-central Seleção de características desvantajosas para a reprodução, pois parece que os alunos entenderam de forma deturpada o que estava sendo explicado, sendo essa a categoria com o maior número de respostas (27%) e o maior número de alunos que fizeram as atividades e que indicaram terem lido o texto (36% e 56%, respectivamente). Como justificativa, os alunos colocaram que nesse processo ocorre a seleção de características deletérias ou que dificultam a sobrevivência, mas que são selecionadas por aumentarem as chances de reprodução. Essas respostas estão erradas, uma vez que em processos seletivos não ocorre a seleção de características desvantajosas. Esse resultado também foi encontrado na questão Seleção Sexual das provas de 2009-2 e 2012-1. Então, após esse semestre, nos perguntamos se as atividades confundiram os alunos e se devemos fazer algumas reformulações para que continue a ser utilizada no ensino da Teoria Evolutiva. Entretanto, resultados que não foram satisfatórios são descritos por outros autores que trabalharam com o ensino da Teoria Evolutiva, como destacam Nehm e Reilly (2007). Para eles, atividades que exigem a participação dos alunos, em relação ao tema evolução, podem contribuir para o ensino do tema, mas ainda apresenta limitações em relação aos ganhos de conteúdos. E, essa conclusão é semelhante a nossa. 6.2.3.2 O que podemos concluir sobre as atividades? clxi Ao longo desse projeto foi feita uma tentativa de compreensão de como os alunos de um curso semipresencial de graduação em licenciatura em Ciências Biológicas aprendem conceitos que estão relacionados com a Teoria Evolutiva. Além da necessidade de se tentar entender as dificuldades que são encontradas para um ensino mais efetivo desse tema, também tivemos que levar em consideração a fato de esse curso estar inserido em um novo modelo de ensino que é a EaD. Sendo assim, escolhemos trabalhar com a Teoria Evolutiva, pois esse é um tema central das Ciências Biológicas (FUTUYMA, 2002; BAUMGARTNER e DUNCAN, 2009; CARVALHO et al. 2011), está previsto seu ensino em documentos oficiais que regulam a educação brasileira (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006) e trabalhos na área de ensino de evolução (BIZZO, 1991; SANTOS, 2002; GOEDERT, 2004; TIDON e LEWONTIN, 2004; NEHM e REILLY, 2007; SANTOS e CALOR, 2007; TIDON e VIEIRA, 2009; PRINOU et al., 2011) mostram dificuldades recorrentes na apreensão desse conteúdo. Outros fatores também contribuíram para a decisão de se utilizar esse tema. Em primeiro lugar o fato de ser tutora presencial desse curso a bastante tempo, inclusive da disciplina Evolução, e com isso, a percepção de que esse conteúdo permeava a graduação em diversas disciplinas. E, em segundo lugar, por perceber que os alunos apresentavam grandes dificuldades com esse tema quando cursavam a disciplina Evolução. Então, inseridos nesse contexto e utilizando dados que já estavam presentes no curso, como os módulos didáticos e as provas arquivadas, desenvolvemos as atividades didáticas. Pretendíamos trabalhar com o conceito de Seleção Natural, mas também inserir o conteúdo de Seleção Sexual, uma vez que é um processo importante na diversificação das espécies, mas que não tem sido abordado no ensino de evolução. Também queríamos que as atividades fossem realizadas através da apresentação de situações para os alunos analisarem, como forma de contribuir para uma participação ativa dos alunos em seu processo de ensinoaprendizagem, característica esperada dos alunos da EaD. Após a realização das atividades em dois semestres e a construção dos Discursos do Sujeito Coletivo, podemos considerar que os resultados foram aquém do esperado, porém dentro de um contexto já relatado em inúmeras pesquisas na área de ensino de evolução. clxii Os resultados mais satisfatórios foram sobre as conceituações do processo de Seleção Natural. Entretanto, alguns erros continuam aparecendo como, por exemplo, a não inclusão das mutações ao acaso como fonte de variabilidade, a confusão entre processos deterministas e estocásticos e etc. Porém, um dos principais erros que permanece está relacionado com o fato de os alunos continuarem explicando o processo de Seleção Natural como um processo consciente, em que o indivíduo muda para se adaptar ou sobreviver, ou que tem um agente guiando esse processo. Com isso, também se estabelecem dificuldades para a compreensão do conceito de adaptação e de sua relação com a temporalidade e localidade. Essa visão Lamarckista da evolução tem sido considerada por muitos autores um dos principais entraves para a compreensão da Teoria Evolutiva. Essa dificuldade é relatada em inúmeros trabalhos na área de ensino de evolução, em locais e com públicos bem diferenciados (ALTERS e NELSON, 2002; TIDON e LEWONTIN, 2004; CRAWFORD et al., 2005; NEHM e REILLY, 2007; BARDAPURKAR, 2008; SHTULMAN e SCHULZ, 2008; GREGORY e ELLIS, 2009; TIDON e VIEIRA, 2009; GREGORY e ELLIS, 2011; PRINOU et al., 2011; AGNOLETTO e BELLINI, 2012). Sendo assim, podemos considerar que as palavras de Agnoletto e Bellini traduzem bem qual é o principal problema trazido por esses obstáculos, em que a representação de uma evolução intencional, com determinações dos genes ou de determinação de um agente externo retira do conceito de evolução postulado por Darwin a dinâmica, o papel do acaso e a noção de que não há evolução para o melhoramento da espécie ou seu progresso, não há o melhor ou pior organismo (2012, p.29). Sobre o processo de Seleção Sexual os resultados não estavam de acordo com o esperado, pois gostaríamos que as atividades tivessem permitido a compreensão desse processo e, principalmente, suas diferenças em relação ao processo de Seleção Natural. Queríamos que os alunos conseguissem perceber que esses dois processos permitem uma melhor explicação sobre a diversificação das espécies ao longo do tempo. Sendo assim, a minoria dos alunos que participou das atividades e leu o texto extra conseguiu responder de forma adequada às perguntas presentes nas Avaliações Presenciais 2 (2012-1 e 20122). clxiii Uma visão Lamarckista desse processo também foi encontrada nas respostas, mas o que mais chamou a atenção foi que os alunos não conseguiram diferenciar esse processo do de Seleção Natural e principalmente de que as características moldadas por esse processo trazem alguma vantagem e não são características deletérias. Entretanto, como já foi indicado exaustivamente esse tem sido um tema de difícil ensino e devemos pensar em formas de melhorar essa estratégia ou de aumentar a adesão dos alunos, uma vez que ela só foi testada em dois semestres. Também devemos considerar que existe um distanciamento entre os documentos oficiais que regulam a educação brasileira, a realidade dos professores e futuros professores e de trabalhos acadêmicos, o que pode levar a obstáculos para a apreensão e ensino de temas importantes da biologia. Porém, fazemos parte de um contexto acadêmico que procura entender os problemas e melhorá-los no que se refere ao ensino da Teoria Evolutiva e, por isso, não devemos desistir de tentar melhorar essa realidade. No nosso caso, decidimos incluir um processo que, apesar de fazer parte da Teoria Evolutiva, não é abordado nas aulas do Ensino Médio ou Ensino Superior. Além disso, não encontramos trabalhos que fizessem o uso desse conceito em estratégias para o ensino de evolução. Julgamos que a inclusão do processo de Seleção Sexual numa atividade didática seja nossa maior contribuição para a área de ensino de biologia e que devemos continuar usando e avaliando essas atividades, em novos contextos se for possível, contribuindo para um ensino mais efetivo desse tema. clxiv CONSIDERAÇÕES FINAIS A ideia para essa tese se originou a partir da minha experiência como professora da Educação Básica e tutora presencial de um curso de graduação público semipresencial de licenciatura em Ciências Biológicas. Ao longo da minha prática docente fui percebendo que os alunos apresentavam maiores dificuldades na aprendizagem de determinados conteúdos, do que em relação a outros, sendo a Teoria Evolutiva um dos temas mais difíceis de ser ensinado e compreendido. O fato de ser tutora presencial da disciplina Evolução dessa graduação, também foi determinante na escolha do público-alvo desse projeto. Outro fator que contribuiu para essa decisão foi a tentativa de fechar um ciclo. Esse ciclo estava relacionado com a percepção de que a Teoria Evolutiva está prevista para ser ensinada desde a Educação Básica, associado ao fato de que esse é um tema que apresenta muitas dificuldades para ser ensinado e, por último, de que a graduação em questão é uma licenciatura, ou seja, é formadora de futuros professores da Educação Básica. Além disso, apesar de trabalhos na área de ensino de evolução mostrarem que as dificuldades para a compreensão desse tema permanecem, os autores dessas pesquisas indicam que novas estratégias para o ensino do tema devem ser desenvolvidas e testadas. Nessa perspectiva, tínhamos como objetivo principal o desenvolvimento de atividades didáticas que trabalhassem com conteúdos da Teoria Evolutiva. Como novidade, decidimos inserir a discussão do conceito de Seleção Sexual nessas atividades, pois esse foi um importante conceito desenvolvido por Darwin e que não tem sido abordado nas salas de aula. Para o desenvolvimento e análise das atividades criadas usamos dados referentes aos conteúdos da Teoria Evolutiva em livros didáticos do Ensino Médio, nos módulos didáticos das disciplinas dessa graduação que abordavam a Teoria Evolutiva em suas aulas e das provas arquivadas da disciplina Evolução, pois é a disciplina em que esse conteúdo é trabalhado de forma mais exaustiva. Em relação aos livros didáticos, escolhemos analisá-los, pois esse é um importante instrumento de consulta de professores e alunos. Os dados mostraram que os principais conceitos da Teoria Evolutiva Darwiniana são abordados de forma adequada nesses livros, com exceção do conceito de Seleção Sexual. clxv Esse mesmo resultado foi encontrado nos módulos didáticos das disciplinas escolhidas para análise. Nesse caso, os conceitos da Teoria Evolutiva são trabalhados ao longo dessa graduação, desde o primeiro período, mas o conceito de Seleção Sexual ou não é abordado ou isso é feito de forma inadequada. A constatação de que a Teoria Evolutiva é trabalhada ao longo de todo o curso, nos levou à etapa seguinte que foi tentar relacionar o que os alunos deveriam aprender, com o que realmente conseguiam compreender desse conteúdo. Para fazermos isso, analisamos questões das provas arquivadas da disciplina Evolução. Apesar de os resultados terem mostrado que muitas vezes os alunos não conseguem relacionar os conteúdos evolutivos com as questões que eram apresentadas, esses resultados estavam de acordo com referenciais da área de ensino de evolução que mostram dificuldades recorrentes para a compreensão desse tema. Então, julgamos que as atividades poderiam contribuir para o ensino dessa teoria, que é descrita em fontes de consulta, como os livros e módulos didáticos, mas que os alunos apresentam dificuldades. Decidimos que as atividades apresentariam situações que permitiriam a discussão dos conceitos de Seleção Natural e Seleção Sexual, conceitos centrais na Teoria Evolutiva Darwiniana, e que contribuem para uma melhor explicação da diversificação das espécies. As atividades foram propostas via plataforma virtual, uma vez que estávamos em um contexto de EaD e os alunos estavam distribuídos em polos localizados em todo o estado do Rio de Janeiro. As atividades foram realizadas na disciplina Evolução em dois semestres e, ao final de cada um, os alunos deveriam responder a uma questão obrigatória na Avaliação Presencial 2 que abordava o tema dessas atividades. Essas atividades não eram obrigatórias, sendo mais uma ferramenta de estudo para esses alunos. Infelizmente, a participação dos alunos foi baixa, o que não esperávamos. Entretanto, essa é uma característica da EaD, uma vez que os alunos são os principais responsáveis por terem uma participação ativa e o controle de seu processo de ensino. As respostas dos alunos referentes à questão sobre as atividades foram analisadas de forma qualitativa. Nesse caso, utilizamos a metodologia do clxvi Discurso do Sujeito Coletivo com o objetivo de caracterizar a representação social que forma esse grupo no que diz respeito ao tema evolução. Mais uma vez os resultados não estavam de acordo com o esperado, pois os alunos apresentaram erros recorrentes nas conceituações sobre o processo de Seleção Natural, sendo o principal deles a visão Lamarckista da evolução. Sobre o processo de Seleção Sexual, os resultados foram ainda mais insatisfatórios, pois pudemos perceber que muitas vezes os alunos não tinham ideia sobre qual conceito estava sendo perguntado e sua importância para a compreensão da diversidade biológica. Julgamos que devemos rever essas atividades, procurando identificar possíveis falhas ou controvérsias na apresentação dos conteúdos, o que pode ter dificultado a compreensão do conceito de Seleção Sexual. Porém, essa foi uma primeira tentativa de inclusão do conceito de Seleção Sexual em um contexto educacional. Com isso, pretendemos continuar testando e avaliando essas atividades com o objetivo de continuar contribuindo para um ensino mais efetivo da Teoria Evolutiva. clxvii REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, D. dos S., VILLARDI, R.M., VELLASQUEZ, F. da S. e REGO, M.C.L. da C. Aprendizagem na educação à distância via rede: uma perspectiva do uso da tecnologia em caráter positivo. Revista Iberoamericana de Educación, v.43, n.7, 2007. AGNOLETTO, R. e BELLINI, M. A representação social do conceito de evolução de Darwin por professores de biologia. Ensino, Saúde e Ambiente, v.5, n.1, p.12-31, abril 2012. ALONSO, K.M. A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares. 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Biociclos e Biomas. Recursos Naturais e Meio Ambiente. Poluição e desequilíbrios ecológicos. Novas tecnologias e seu risco ambiental. DISCIPLINA INTRODUÇÃO A ZOOLOGIA CARGA HORÁRIA: 75 H EMENTA: Introdução à Biologia Comparada: escolas sistemáticas; homologia e série de transformação de caracteres; agrupamentos taxonômicos; classificação zoológica e taxonômica. Origem dos Metazoários. Arquitetura animal. Estudo da anatomia e fisiologia funcionais externas e internas e dos aspectos ecológicos dos Metazoários: suporte e locomoção; alimentação e digestão; trocas gasosas e sistema circulatório; excreção e osmorregulação; sistema nervoso e órgãos dos sentidos; reprodução e desenvolvimento. DISCIPLINA POPULAÇÕES, COMUNIDADES E CONSERVAÇÃO CARGA HORÁRIA: 75 H EMENTA: Habitat e Nicho. Ecologia Fisiológica. Populações: conceitos, parâmetros, estratégias bionômicas, crescimento e regulação, estatísticas vitais. Relações entre os seres vivos. Comunidades: conceitos, parâmetros, sucessão, resistência e resiliência. Padrões globais de diversidade de espécies. Ecologia de populações e comunidades e conservação 19 Disponível em: www.cederj.edu.br. As ementas aqui disponibilizadas são das disciplinas escolhidas para leitura do módulo em função dos temas abordados na ementa. Foram selecionadas as disciplinas que indicaram trabalhar com a Teoria Evolutiva ou com conceitos da mesma. clxxvi 20 de espécies. A fragmentação de habitats. O homem e a natureza. DISCIPLINA EVOLUÇÃO CARGA HORÁRIA: 75 H EMENTA: Padrões e processos evolutivos; variabilidade gênica; forças evolutivas; migração, variação geográfica e especiação; relações interespecíficas; taxas de divergência e relógio molecular; genética da conservação; evolução e criacionismo DISCIPLINA INSTRUMENTAÇÃO PARA O ENSINO DE GENÉTICA (RCC)21 CARGA HORÁRIA: 75 H EMENTA: Elaboração e execução de experimentos e formas de abordagem e desenvolvimento de temas relativas aos conteúdos de Biologia Molecular, Genética e Evolução. Análise e avaliação da abordagem do tema em livros didáticos. Participação em atividades relacionadas oferecidas para alunos/professores da educação básica nas escolas conveniadas e em atividades de educação em Ciências junto à comunidade. 21 Apesar dessa disciplina possuir ementa compatível com o objeto de estudo do projeto, não foi analisada, pois não possui módulos didáticos e nem tutoria presencial, sendo todas as atividades realizadas à distância, via plataforma. clxxvii ANEXO II PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Comitê de Ética em Pesquisa: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Protocolo número: 2011/0152. Parecer: Aprovado. clxxviii APÊNDICE I MODELO DO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado(a), meu nome é Livia B. Nicolini e venho por meio deste e-mail convidá-lo a participar de minha pesquisa de doutorado. Sou aluna de doutorado do programa de Pós-Graduação em Ensino em Biociências e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. Meu trabalho tem como objetivo avaliar atividades didáticas desenvolvidas para a discussão dos conceitos de seleção natural e de seleção sexual, nesta disciplina, e que estarão disponíveis para você participar. Em função disto, você será convidado a participar de atividades que serão propostas na plataforma, principalmente com o formato de fóruns de discussão. Estas atividades não serão obrigatórias e não valerão ponto, serão mais uma ferramenta de estudo dos conceitos que estão presentes nos módulos e previstos na ementa do curso. Venho solicitar sua autorização para que eu possa usar os dados de suas respostas em tal atividade. Ressalto que só serão usados seus dados se você me autorizar e de que o sigilo dos mesmos será garantido, assim como o anonimato de quem participar. Peço que ser for autorizado o uso de seus dados, que me responda a este e-mail. Asseguro de que em qualquer momento você também poderá não autorizar a publicação de seus dados, assim como deixar esta pesquisa sem qualquer prejuízo pessoal. Abaixo estão todos os meus dados de contato, assim como da instituição. E, me prontifico a prestar qualquer esclarecimento que seja solicitado. Atenciosamente, Livia Baptista Nicolini Laboratório de Avaliação em Ensino e Filosofia das Biociências Instituto Oswaldo Cruz Fundação Oswaldo Cruz Avenida Brasil 4365 – Manguinhos Rio de Janeiro - R.J. - Brasil CEP: 21040-900 Telefones: (21) 2562-1831 e (21) 9316-7899 E-mail: [email protected] clxxix APÊNDICE II AULA EXTRA (Livia Nicolini e Ricardo Waizbort) TEORIA EVOLUTIVA: UMA SÍNTESE DE SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS OBJETIVOS: Ao final dessa aula, você deverá ser capaz de: Saber reconhecer e diferenciar os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual; Entender como esses dois processos integrados explicam de forma mais satisfatória o surgimento e manutenção da biodiversidade existente, incluindo a espécie humana. INTRODUÇÃO Você já se perguntou por que existem tantas variedades de formas, cores, cantos e comportamentos na natureza? O porquê de existirem grandes diferenças entre espécies aparentadas e/ou que ocupam nichos ecológicos semelhantes? Como, por exemplo, nos besouros da espécie Chiasognathus grantii, nos peixes Callionymus lyra, nos répteis Triton cristatus, nos pássaros Spathura underwoodi e nos mamíferos Tragelaphus strepsiceros. Chiasognathus grantii Callionymus lyra clxxx Triton cristatus Spathura underwoodi Tragelaphus strepsiceros Agora que vocês já estudaram a importância da permuta, das mutações e da reprodução sexuada como fontes de variação e das diferenças entre os indivíduos de uma espécie; e a deriva gênica como um dos processos que alteram a frequência dos alelos em uma população, vamos detalhar a Teoria Evolutiva de Charles Darwin discutindo suas implicações para a compreensão da biodiversidade existente; entendendo biodiversidade como o número de espécies existentes, as diferenças encontradas entre elas e as inúmeras adaptações características de cada uma. Iremos abordar seis conceitos principais de sua teoria, mas daremos maior ênfase aos processos de Seleção Natural e Seleção Sexual, pois em última instância são eles que atuam selecionando os indivíduos que possuem características que aumentem suas chances de sobrevivência e/ou reprodução. DETALHANDO A SELEÇÃO NATURAL... Ao longo das aulas dessa disciplina vocês entraram em contato com o pensamento darwiniano; uma forma de pensamento diferente tanto do fixismo, quanto da primeira tentativa de explicação da evolução das espécies feita por Lamarck. Mostraremos mais adiante, que novos estudos na área evolutiva têm apresentado hipóteses e dados que contribuem para corroborar ainda mais as ideias de Darwin, além de preencher lacunas que ele não conseguiu resolver. Mas, será que vocês conseguem sistematizar as ideias de Charles Darwin? Pensem um pouco sobre o que vem à mente de vocês antes de continuarmos... clxxxi Pensaram? Então vamos prosseguir com nosso histórico. Para facilitar o entendimento dos conceitos de Darwin, usaremos as contribuições de um importante filósofo e historiador da Biologia, chamado Ernst Mayr (e com certeza vocês já foram apresentados a esse grande pensador em aulas anteriores, como Grandes Temas em Biologia, Diversidade dos Seres Vivos, Introdução à Zoologia, etc.). Bem, continuando com nossa explicação, Mayr propôs que a Teoria Evolutiva de Charles Darwin na realidade é um sistema de cinco teorias que em conjunto explicam a evolução das espécies ao longo do tempo. Essas cinco teorias podem ser sistematizadas da seguinte forma: A Teoria da Evolução como Fato - a ideia científica de que as espécies de seres vivos se modificaram efetivamente com o passar do tempo geológico; A Teoria da Evolução Gradual - a ideia de que o processo de transformação das espécies é lento, gradual e que os processos que atuavam no passado são os que continuam atuando hoje; A Teoria da Origem Comum - a ideia, amplamente confirmada, de que quaisquer espécies compartilham ancestrais; a concepção de que os indivíduos, mesmo de espécies muito distintas, possuem uma relação de parentesco; A Teoria da Especiação Populacional - a ideia de que certas populações de uma espécie podem se transformar em populações de uma espécie nova; A Teoria da Seleção Natural - teoria sobre os mecanismos que estão envolvidos nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência diferenciadas em função das variações entre os indivíduos da população. Antes de prosseguirmos, vamos dar uma nova parada para tentar responder a seguinte pergunta: a evolução e o processo de seleção natural atuam sobre o quê? Sobre indivíduos ou sobre populações? Dito de outra forma: a evolução ocorre a organismos individuais ou a populações? Darwin já tinha destacado que a evolução não é um fenômeno que ocorre no indivíduo e sim nas populações, pois são as populações que mudam seu perfil genético, ou seja, sua aparência e capacidades se modificam ao longo do tempo clxxxii geológico; não mudam necessariamente para melhor, mas se transformam no processo de deixar descendentes sempre variáveis, o que aumenta a possibilidade de que pelo menos alguns desses descendentes estejam adaptados ao ambiente em que vivem. Retornando ao processo de Seleção Natural, temos que pensar que esse é um processo em que os indivíduos que possuem mais chances de sobreviver, se reproduzir e passar suas características (genes) para as futuras gerações são os que possuem maior valor adaptativo, e são esses indivíduos que tendem a deixar maior número de descendentes para as populações das gerações seguintes. Vamos a mais uma pergunta para vocês continuarem pensando sobre esse processo: o valor adaptativo é igual para todas as espécies em todos os ambientes? Essa pergunta é importante, pois uma crítica feita à Teoria Evolutiva é que algumas pessoas dizem que ela é tautológica, pois falar sobre a sobrevivência do mais apto é falar da sobrevivência do que sobrevive. Entretanto, Darwin já destacava que só podemos falar em adaptação se ela estiver relacionada com o local e a época de existência da espécie, pois se mudamos o nicho ecológico, o valor adaptativo muda. É esse tipo de clareza que devemos ter quando pensamos nos fenômenos evolutivos e que, a partir de agora, vocês não poderão deixar de ter em mente. Então, vamos pensar na seguinte situação: digamos que há muito tempo uma espécie de camelos tenha chegado às regiões desérticas; digamos que existisse uma população de camelos cujos indivíduos que a compõem não fossem iguais, mas variassem aleatoriamente no que se refere à retenção de água pelo corpo. Nesse caso, aqueles indivíduos que conseguissem reter mais água, teriam maiores chances de sobreviver nesse ambiente e, com isso, chegar à idade reprodutiva e passar essa característica aos seus descendentes. Após algum tempo, essa característica, reter mais água, terá se espalhado na população, sendo compartilhada pela maioria dos indivíduos e possuindo um alto valor adaptativo para esse nicho ecológico. clxxxiii Pensando nesse exemplo, podemos definir a Seleção Natural como um processo no qual populações de diversas espécies existentes interagem com o ambiente e o resultado é que alguns indivíduos, dentro de uma espécie, deixam mais descendentes do que outros. Com o passar do tempo, as populações tenderão a ter mais e mais indivíduos com variações que favoreçam a sobrevivência no ambiente em que vivem. Não podemos nos esquecer também que o ambiente comporta não só os fatores abióticos (luz, umidade, radiações solar, regime de ventos, etc.); mas também os fatores bióticos (alimentos vivos, presas, predadores, parasitas, filhotes, outros parentes...), as relações estabelecidas entre indivíduos de espécies diferentes e entre os indivíduos da mesma espécie. Com esse exemplo fica mais fácil de imaginar a seleção de características nas diversas espécies que estejam relacionadas diretamente com a sobrevivência. Mas será que todas as características estão relacionadas com a sobrevivência direta? Você consegue imaginar alguma característica que a Seleção Natural não consegue explicar de forma satisfatória? Pense um pouco antes de continuarmos. POR QUE INSERIR A SELEÇÃO SEXUAL COMO O SEXTO CONCEITO DE DARWIN? Ao longo de seu trabalho, algumas características intrigavam Darwin, pois eram características que claramente não estavam associadas à sobrevivência imediata. Darwin deu a esse processo o nome de Seleção Sexual. Nesse processo, as características em questão estão relacionadas com o sucesso reprodutivo. Podemos inferir que a reprodução também é um processo de competição entre organismos da mesma espécie, uma vez que cada indivíduo inconscientemente quer garantir a possibilidade de ter seus genes no fundo de genes da população, passando-os através das gerações. Em função disso, os indivíduos competem pelos melhores parceiros. Como consequência desse processo, temos a continuidade da espécie. Nesse caso, a Seleção Sexual é um processo evolutivo intraespecífico de clxxxiv escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. Você consegue imaginar que características poderiam ser essas? No primeiro caso, estariam as lutas ou competições entre machos por território, alimento ou outros recursos, incluindo a competição pela própria fêmea. No segundo caso, estariam as exibições de estruturas (formas, cores) ou comportamentos (danças, cantos, construções) realizadas normalmente por machos, o que levaria a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se acasalar. Esses são os casos da cauda dos pavões machos, das exuberantes cores das penas de certas aves, os cantos de várias espécies de pássaros, o brilho dos besouros, o desenho nas asas das borboletas, o chifre de certos mamíferos, enfim, um infindável número de características. O que também o surpreendia é que na maioria das vezes as características estavam presentes nos machos, sendo as fêmeas mais semelhantes aos filhotes, ou seja, mais discretas. O mais interessante é que essas características podem ser moldadas de formas bem diferenciadas em espécies que são aparentadas, como, por exemplo, no Mandrillus sphinx (mandril) e no Mandrillus leucophaeus (dril). Mandrillus sphinx (mandril) Mandrillus leucophaeus (dril) Além disso, as características surgidas através do processo de Seleção Sexual podem muitas vezes causar dificuldades para a sobrevivência do indivíduo, pois são características que chamam a atenção, como o canto dos pássaros ou a cauda do pavão (Pavo cristatus); ou que dificultam a própria alimentação como no macaco narigudo (Nasalis larvatus). clxxxv Pavo cristatus macho Pavo cristatus fêmea e filhote Nasalis larvatus macho e fêmea Podemos perceber então que muitas vezes os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual parecem ser antagônicos, pois enquanto o primeiro molda características que facilitam a sobrevivência, o segundo molda características que aumentam as chances de reprodução, mas que em alguns casos podem dificultar a sobrevivência. Entretanto, os dois processos associados contribuem para uma melhor explicação da biodiversidade existente. Charles Darwin fez essa proposta baseado em um grande número de evidências, indicando que os comportamentos ou estruturas extravagantes devem ser percebidos pelas fêmeas de alguma forma. Sendo assim, propôs que as fêmeas devem possuir algum poder discriminatório, em sua suposta capacidade mental, para escolher o que deve ser melhor para ela e seus futuros filhotes entre as pequenas variações dos machos que formam a população. Darwin não conseguiu explicar como essa escolha poderia acontecer, mas no decorrer do século XX o processo de Seleção Sexual foi retomado como tema importante no estudo da evolução das espécies. Seus desdobramentos é o que trabalharemos agora. A SELEÇÃO SEXUAL E SUAS IMPLICAÇÕES Essa parte final da aula será mais teórica, iremos descrever os desdobramentos conceituais em relação ao processo de Seleção Sexual, bem como uma proposta inovadora de aplicação do processo de Seleção Sexual à evolução do cérebro humano, tentando entender como as diferenças nos comportamentos de homens e mulheres levaram às características atuais de nossa espécie. A primeira informação que vocês devem saber é que em função de se tratar da escolha de parceiros reprodutivos, colocando as fêmeas em posição de destaque nesse processo, o conceito de Seleção Sexual ficou “esquecido” por muito tempo, por não estar de acordo com a estrutura social da época em que tal clxxxvi ideia foi formulada. Quando esse conceito foi retomado, vários modelos matemáticos surgiram para uma investigação mais consistente do tema. Em função dos novos estudos desse conceito, seus três princípios básicos foram estabelecidos ao longo do século XX. São eles: Princípio dos Indicadores de Aptidão - as estruturas geradas por Seleção Sexual são indicadores de aptidão, ou seja, o canto longo e melodioso de um sabiá, o papo extremamente colorido de certos lagartos, as garras desproporcionais de certos caranguejos, são formas confiáveis do macho dizer à fêmea que ele é um pretendente saudável e apto; Princípio da Seleção Sexual Descontrolada - é um mecanismo de descontrole no início do processo de Seleção Sexual, uma espécie de irracionalidade apaixonada capaz de fazer as fêmeas preferirem em massa determinado padrão, mesmo que sutil, em relação a outros, de forma que todos os outros padrões sumiriam; Princípio do Desperdício (Handicap) - estruturas muito custosas como a cauda do pavão, os cantos dos pássaros, as galhadas dos cervídeos, etc., obedecem a uma lógica de ostentação e desperdício e não de praticidade e funcionalidade. Como podemos perceber mais uma vez, a Seleção Natural e a Seleção Sexual podem ser opostas em muitos casos. Enquanto a Seleção Natural é econômica, a Seleção Sexual é anti-econômica, pois para ser um sinal confiável, deve ser custoso e com isso difícil de ser enganado ou imitado. Nesse contexto, o psicólogo Geoffrey Miller, ao usar esses princípios, propõe que nosso cérebro deve ter aumentado tanto de tamanho através do processo de Seleção Sexual. Você consegue imaginar alguma atividade de nosso cérebro que não esteja relacionada com a nossa sobrevivência direta? Pois é, manifestações artísticas, esportes de uma forma geral, jogos como o xadrez ou o futebol e conversas diárias são exemplos de atividades que fazemos e que muitas vezes não estão relacionadas com nossa sobrevivência, mas servem para mostrar nossa aptidão em diferentes áreas culturais, nosso clxxxvii status, e permite o estabelecimento de relações sociais. Sendo assim, de forma ousada, Miller sugere que as manifestações culturais dos diversos grupos de nossa espécie são a nossa cauda de pavão. Entretanto, e como exemplificamos acima, normalmente o processo de Seleção Sexual leva ao desenvolvimento de características custosas em apenas um dos sexos, mas no caso da espécie humana, o cérebro grande e com as mesmas capacidades se desenvolveu tanto em homens quanto em mulheres. Você consegue imaginar o porquê disso? Você consegue pensar em alguma característica que apenas a nossa espécie possua? Acertou quem pensou em uma linguagem elaborada. A linguagem permite a observação e reflexão sobre os dados do mundo, a produção de respostas em relação ao mesmos e a criação de um corpo de conhecimento transmissível para as futuras gerações. Por ser algo tão elaborado, além de ser transmitida, a linguagem precisa ser compreendida e, portanto, é necessário que o sistema nervoso – cérebro e mente – estejam desenvolvidos tanto em quem emite, quanto em quem recebe a mensagem. Embora já tenhamos mostrado que o grande desenvovimento do cérebro aconteceu nos dois sexos na espécie humana, será que homens e mulheres são iguais em tudo? Perguntamos isso porque existem além de muitos artigos científicos tratando desse tema, vários filmes, seriados, piadas de internet que brincam com as supostas diferenças entre homens e mulheres, principalmente em relação ao comportamento sexual. Será que isso são só brincadeiras ou será que tem algum fundo evolutivo e, com isso, surgiram através de processos evolutivos que atuaram de forma diferente em homens e mulheres? clxxxviii Então, durante o século XX e ainda hoje, muitos estudiosos das ciências sociais afirmam que as diferenças entre os gêneros são socialmente construídas, que depende da forma como os filhos são criados desde o nascimento, gerando uma polarização entre a Biologia e as Ciências Sociais. Ao contrário dessa ideia, estudos recentes sobre comportamentos humanos têm demonstrado que quando se trata da escolha de parceiros reprodutivos as mulheres tendem a ser mais seletivas que os homens22. A seletividade das fêmeas de muitas espécies, inclusive a nossa, pode ser explicada pelo gasto energético diferenciado durante as etapas do processo reprodutivo. Dê uma olhada na figura abaixo: Será que machos e fêmeas possuem o mesmo gasto energético na produção de seus gametas? As quantidades produzidas de cada um são iguais ao longo da vida dos indivíduos? Podemos dizer que grande parte das diferenças encontradas nos comportamentos sexuais de machos e fêmeas se justificam pelos custos diferenciados para produção de óvulos e espermatozóides. As fêmeas normalmente produzem poucos óvulos e essas células são as maiores encontradas no corpo da fêmea, em função da reserva energética que possui. Além disso, normalmente também são as fêmeas que geram e cuidam dos filhotes, portanto, devem escolher os melhores genes a contribuirem em sua prole. 22 Para os alunos que estiverem muito interessados nesse tema, recomendamos que assistam os documentários Instintos da BBC e Evolução da Scientific American. clxxxix Já os machos produzem pequenos espermatozóides, em grandes quantidades e praticamente durante toda sua vida desde que entra na idade reprodutiva. E, muitas vezes, em muitas espécies diferentes, os machos não ajudam no cuidado da prole. Nesse caso, interessa-os passar o maior número de cópias de seus genes para as futuras gerações, inseminando o maior número de fêmeas possível. Sendo assim, o investimento dos machos está na exibição de plumas, cores, cantos, construções, apêndices ou nas lutas, tentando ter um maior sucesso no acesso às fêmeas. No caso de nossa espécie, estudos sobre comportamentos diferenciados estão sendo realizados e alguns resultados interessantes têm surgido. Por exemplo, no documentário Instintos existe a descrição de uma experiência realizada em uma universidade de Londres em que foram escolhidos dois atores desconhecidos e fisicamente atraentes, cada um de um sexo, para abordarem no campus da universidade pessoas do sexo oposto. A atriz deveria convidar os estudantes para ir para cama com ela; e o ator deveria convidar as estudantes a irem para a cama com ele. Todos os rapazes convidados pela atriz aceitaram de pronto a idéia do programa. Todas as garotas que foram abordadas pelo ator recusaram a proposta. Isso poderia ser, sem dúvida, causado por nossa educação machista em uma sociedade ocidental. Mas esse tipo de recatamento pode também ser uma forma de escolha que as mulheres fazem. Os homens seriam mais franco-atiradores no sexo casual por que eles têm menos a perder, uma vez que o maior custo de uma gestação não planejada recai sobre a mulher. Outro experimento realizado na Universidade de Sterling, Escócia, foi feito com mulheres através de um programa de computador em que as participantes poderiam modificar fotos de rostos masculinos, alterando as feições para mais delicados ou mais másculos. Os resultados mostraram que as mulheres que estão ovulando preferem rostos mais másculos, enquanto que as que não estão preferem os mais delicados. Esses resultados estão de acordo com a ideia de seletividade feminina, uma vez que rostos mais másculos, com pescoço mais grosso, mandíbulas e queixos largos e cenho cerrado são os sinais típicos de força e saúde, qualidades genéticas que uma mulher deseja passar à sua prole. Outros estudos nessa área mostraram fortes indícios de dimorfismo em relação ao ciúme, pois em geral os homens sentem ciúmes quando sabem ou desconfiam que sua parceira pode ter tido relações sexuais com outros homens, o que poderia levar esses homens traídos a investir seus recursos em filhos que cxc não possuem seus genes. E, embora as mulheres possam experimentar ciúmes de modo parecido, seu sentimento está mais relacionado com a possibilidade do homem se envolver afetivamente com outra(s) mulher(es) e acabar por dirigir seus recursos (afetivos e financeiros) para outras fontes que não seus filhos em comum. Entretanto, vocês devem estar se perguntando: não existe a formação de casais duradouros na nossa espécie? Já podemos adiantar que a resposta à essa pergunta é sim. Mas existe um importante aspecto da nossa evolução que pode ter sido uma pressão seletiva à favor da formação de pares. Pense um pouco sobre essa resposta enquanto olha as seguintes imagens: Para responder a essa pergunta vamos relacionar três eventos da evolução do Homo sapiens: o aumento do nosso cérebro ocorreu na mesma época do desenvolvimento da postura ereta. Mas, a postura ereta levou à um estreitamento da bacia e, como consequência, a diminuição do canal pélvico. Nesse cenário, sobreviveram as fêmeas que estavam tendo filhotes com características prematuras, como por exemplo, uma caixa craniana mais maleável, representada nos neonatos principalmente por uma estrutura conhecida como moleira. A partir do momento que os filhotes nascem mais cedo, obviamente precisariam de maiores cuidados. Nesse contexto, a criação de laços deve ter sido uma estratégia vantajosa na criação dos filhos. Para finalizar essa nossa aula extra só falta esclarecer um ponto: quais seriam os mecanismos cerebrais envolvidos na atração e manutenção de laços entre homens e mulheres? Estudos nessa área começaram com a percepção de que no mundo animal, espécies aparentadas podem ter comportamentos sexuais bem diferenciados, como por exemplo o dos roedores arganazes do campo (Microtus ochrogaster) e arganazes da montanha (Microtus montanus). Os primeiros são sociáveis, monogâmicos e os machos ajudam no cuidado com a prole, já os cxci segundos exibem um comportamento não social, poligâmico e os machos não ajudam no cuidado com prole. Esses comportamentos antagônicos parecem estar relacionados com uma distribuição diferenciada no cérebro dos neurotransmissores de ocitocina e vasopressina. No caso da espécie humana, um estudo realizado pela antrópologa Helen Fisher em uma universidade americana, mostrou que no impulso para o acasalamento ocorrem momentos de atração, de impulso sexual e de criação de laços com os parceiros com a ativação de circuitos cerebrais específicos dos neurotransmissores dopamina, ocitocina e testosterona. Esses circuitos são independentes, mas interligados e a dopamina estaria diretamente relacionada com a atração inicial por um potencial parceiro, a testosterona estaria relacionada com o desejo sexual e a ocitocina com a criação de laços entre homens e mulheres. Como você pode perceber, tentamos apresentar as principais diferenças nos processos de Seleção Natural e Seleção Sexual entendendo que os dois devem ser trabalhados de forma conjunta para uma melhor compreensão da biodiversidade existente. Esperamos que a inclusão de aspectos da evolução de nossa própria espécie tenha contribuído para um melhor entendimento do tema. RESUMO A Teoria Evolutiva de Charles Darwin deve ser entendida como um sistema de seis conceitos fundamentais. O mais conhecido deles é o processo de Seleção Natural, que ajuda na compreensão da diversificação das espécies a partir do surgimento, ao acaso, de características que alteram o valor adaptativo da população e, portanto, podem facilitar ou prejudicar a sobrevivência do indivíduo que a possui. Entretanto, um dos processos evolutivos trabalhados por Darwin ficou esquecido por muito tempo, e até hoje não é incluído de forma satisfatória na conceituação da Teoria Evolutiva, que é o processo de Seleção Sexual. Por atuarem muitas vezes de forma anatagônica na seleção de características, esses dois processos explicam de forma mais satisfatória a biodiversidade existente, principalmente no que se refere às características consideradas extravagantes. Além disso, o processo de seleção sexual pode ser utilizado para tentar desvendar a evolução de nossa própria espécie, incluindo o aumento do cérebro humano, bem como as diferenças entre homens e mulheres em relação ao comportamento sexual, dentre outras características. EXERCÍCIO AVALIATIVO cxcii Olhe as seguintes imagens: a) b) Proponha uma explicação evolutiva para cada uma das características em destaque nas figuras acima. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARON-COHEN, S. (2004). Diferença essencial - a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres. Rio de Janeiro: Objetiva. BUSS, D. M. (2000). A paixão perigosa. Rio de Janeiro: Objetiva. CRONIN, H. (1995) A formiga e o pavão: altruísmo e seleção sexual de Darwin até hoje. Campinas: Papirus. DARWIN, C. (2002). Origem das espécies. Belo Horizonte: Itatiaia. ___________ (2004). A origem do homem e a seleção sexual. Belo Horizonte: Itatiaia. DAWKINS, R. (2001). O gene egoísta. Belo Horizonte:Itatiaia. FISHER, H. (2008). Por que amamos - a natureza e a química do amor romântico. Rio de Janeiro / São Paulo: Editora Record. GOULD, S. J. (1987). Darwin e os grandes enigmas da vida. RJ: Martins Fontes. HRDY, S. B. (2001). Mãe natureza: uma visão feminina da evolução: maternidade, filhos e seleção natural. Rio de Janeiro: Campus. MAYR, E. (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico. Brasília: EdunB. MILLER, G. F. (2000). A mente seletiva. Rio de Janeiro: Campus. cxciii APÊNDICE III DVD com as atividades gravadas cxciv APÊNDICE IV O que era esperado em cada uma das atividades Atividade 1 Olhe bem as imagens. A maioria das espécies representadas possui diferenças de estruturas ou comportamentos entre machos e fêmeas. Também foram colocadas espécies que não possuem grandes diferenças entre os dois sexos. Pensem sobre isso e respondam: As características que são diferentes entre machos e fêmeas estão relacionadas com a sobrevivência? Justifique sua resposta. Vocês deveriam indicar que as características estão relacionadas com as diferenças entre machos e fêmeas da mesma espécie e que, por isso, não estão relacionadas com a sobrevivência no ambiente. Atividade 2 Que processos podem ter contribuído para o surgimento dessas características diferenciadas? Tente estabelecer alguma ligação com a atividade anterior. Mesmo que ainda não ocorra a nomeação dos processos, vocês deveriam relacionar que os custos diferenciados de produção de gametas e do próprio processo de reprodução, podem estar associados às características morfológicas e comportamentais diferentes entre machos e fêmeas. Atividade 3 Proponha uma hipótese para explicar a existência de características diferentes entre machos e fêmeas, relacionando os tipos de gametas produzidos por cada um e o relato sobre os peixes mexicanos. O relato dos peixes mexicanos mostra que apesar dos custos da reprodução sexuada, sua grande vantagem é a produção de variabilidade genética na população. Essa variabilidade também está relacionada com os custos diferenciados de produção de gametas femininos e masculinos e, como consequência, de características morfológicas e comportamentais diferentes entre os sexos. Atividade 4 cxcv Como surgem as variações entre os indivíduos? Vocês viram, nessa atividade, diversas situações relacionadas com as características dos seres vivos. Quais situações podem ser explicadas pela Seleção Natural e quais pela Seleção Sexual? (Usar tanto as imagens, quanto os trechos de filmes). Discuta as diferenças dos dois processos. Bactérias resistentes – Seleção Natural; Linguagem – Seleção Natural e Seleção Sexual; Produção de ornamentos – Seleção Sexual; Salamandras venenosas – Seleção Natural; Pavões – Seleção Sexual; Característica A – Seleção Natural; Características B – Seleção Natural; Característica C – Seleção Natural; Característica D – Seleção Sexual; Característica E – Seleção Sexual; Característica F – Seleção Natural; Característica G – Seleção Sexual; Característica H – Seleção Natural e Seleção Sexual. Os dois tipos de processos seletivos têm como base as variações entre os indivíduos que surgem a partir de mutações ao acaso. O processo de Seleção Natural está relacionado com características que aumentam as chances de sobrevivência no ambiente e, com isso, o indivíduo consegue chegar à idade reprodutiva e transmitir seus genes às futuras gerações. O processo de Seleção Sexual está relacionado com a escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. No primeiro caso, estão as lutas ou competições entre machos por território, alimento ou outros recursos, incluindo a competição pela própria fêmea. No segundo caso, estão as exibições de estruturas (formas, cores e outros) ou comportamentos (danças, cantos, construções, etc.) realizadas normalmente por machos, o que levaria a escolha, pela fêmea, do macho com o qual irá se acasalar. Esses são os casos das caudas dos pavões machos, das exuberantes cores das penas de certas aves, os cantos de várias espécies de pássaros, o brilho dos besouros, o desenho nas asas das borboletas, o chifre de certos mamíferos, enfim, um infindável número de características. O mais interessante, é cxcvi que na maioria das vezes as características estão presentes nos machos, sendo as fêmeas mais semelhantes aos filhotes, ou seja, mais discretas. Muitas vezes, as características surgidas através do processo de Seleção Sexual podem causar dificuldades para a sobrevivência do indivíduo, pois são características que chamam a atenção, como o canto dos pássaros ou a cauda do pavão (Pavo cristatus); ou que dificultam a própria alimentação como no macaco narigudo (Nasalis larvatus). Entretanto, por serem extremamente custosas, são indicadoras de bons genes. Então, muitas vezes os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual parecem ser antagônicos, pois enquanto o primeiro molda características que facilitam a sobrevivência, o segundo molda características que aumentam as chances de reprodução, mas que em alguns casos podem dificultar a sobrevivência. Porém, os dois processos associados contribuem para uma melhor explicação da biodiversidade existente. Atividade 5 Qual é a explicação que vocês propõem para esse tipo de brincadeira? Concordam ou não com a possibilidade de ter algum paralelo com a realidade? Homens e mulheres querem coisas diferentes em um relacionamento? Essa atividade teve como objetivo ser uma forma engraçada e exagerada de fazer com que vocês começassem a pensar sobre a Evolução da nossa espécie com um novo olhar. O fato de existirem tantos filmes e livros que brincam com essas diferenças pode indicar que existe sim um paralelo com a realidade e com a nossa evolução. Atividade 6 Que processos podem ter contribuído para o surgimento desses comportamentos diferenciados? Eles são produtos de nossa herança biológica ou experiência de vida (o modo como somos criados)? Você consegue fazer alguma relação com as atividades 1, 2 e 3? A nossa espécie também sofreu processos evolutivos, assim como as outras espécies de seres vivos. Sendo assim, os custos diferenciados para a reprodução que discutimos em relação às outras espécies também são válidos para a nossa espécie, o que pode ter levado a comportamentos sexuais e reprodutivos diferentes entre homens e mulheres. A relação com outras atividades está no fato cxcvii de que possuímos reprodução sexuada, com custos energéticos diferentes para a produção dos gametas, corte e cuidado parental, o que se refletiu em processos seletivos diferentes entre homens e mulheres, no qual houve uma grande atuação da Seleção Sexual. Atividade 7 Relacione a reprodução sexuada, a evolução de nossa espécie e a escolha de parceiros. A reprodução sexuada é um processo que possui um alto custo energético, com isso a escolha seletiva de parceiros pode ter sido um importante passo na evolução de nossa espécie. Além disso, estudos recentes têm demonstrado que nosso cérebro e corpo possuem mecanismos que atuam na escolha de parceiros e que existe a atuação de neurotransmissores na atração, formação de pares e cuidado parental, que podem ter sido determinantes na nossa evolução. Atividade 8 Faça uma síntese das diferenças dos processos de Seleção Natural e de Seleção Sexual, exemplificando cada um. Na seleção natural ocorre a sobrevivência diferenciada de indivíduos de uma população. Nesse caso, variações surgidas ao acaso, mas que aumentem o valor adaptativo de determinada característica, aumentando as chances de sobrevivência do indivíduo e, com isso, a chegada à idade reprodutiva, são selecionadas e passadas às futuras gerações, ou seja, está relacionada com os mecanismos que estão envolvidos nas transformações das espécies, a partir das taxas de sobrevivência diferenciadas em função das variações entre os indivíduos da população. Na seleção sexual ocorre o estabelecimento de características que aumentam o sucesso reprodutivo, em função disso, os indivíduos competem pelos melhores parceiros e, como consequência, temos a continuidade da espécie. Nesse caso, a Seleção Sexual é um processo evolutivo intraespecífico de escolha dos parceiros reprodutivos, podendo ser intrassexual ou intersexual. Podemos perceber então que muitas vezes os processos de Seleção Natural e Seleção Sexual parecem ser antagônicos, pois enquanto o primeiro molda características que facilitam a sobrevivência, o segundo molda características que aumentam as chances de reprodução, mas que em alguns casos podem dificultar cxcviii a sobrevivência. Entretanto, os dois processos associados contribuem para uma melhor explicação da biodiversidade existente. Como exemplo de característica estabelecida pelo processo de seleção natural temos o olho humano e pelo processo de seleção sexual as cores de pássaros, cantos e ornamentos, como a cauda dos pavões. cxcix