Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira

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Seminário Coberturas de Madeira, P.B. Lourenço e J.M. Branco (eds.), 2012
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Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de
madeira – análise de alguns exemplos
Filipe Ferreira
AOF – Augusto de Oliveira Ferreira & Ca Lda.
[email protected]
SUMÁRIO
As coberturas são uma das mais importantes partes dos edifícios, dado conferirem a proteção
superior necessária aos agentes atmosféricos e apresentarem, entre outros, uma importância
arquitetónica e artística marcante, individualizando os edifícios, em muitos casos perpetuando
a sua imagem.
A madeira tem sido, desde tempos imemoriais, um dos elementos mais utilizados. As razões da
sua escolha perdem-se no tempo. Desde a não existência de outros materiais disponíveis, às
razões económicas ou tecnológicas a madeira tem sido usada ao longo dos séculos.
Por outro lado, as coberturas, estando sujeitas à ação do ambiente agressivo exterior, são
facilmente deterioradas, com o tempo. Quando as telhas se deslocam ou partem, verifica-se a
entrada de água das chuvas com a consequente deterioração de todo o interior do edifício. As
estruturas de madeira das coberturas são assim as primeiras a ser afetadas.
Na intervenção no património construído as coberturas são as primeiras a ser consideradas,
para garantirem assim a proteção de todo o restante interior dos edifícios.
Importa portanto refletir sobre o tipo de intervenção a fazer, sobre os materiais a aplicar, as
técnicas a utilizar. É fundamental o conhecimento das técnicas tradicionais de construção em
madeira e da sua aplicabilidade, a par das novas tecnologias. Cada caso concreto representa um
caso único de estudo, onde se deverá refletir, respeitando o definido nas cartas internacionais
em vigor. Contudo, para que uma intervenção seja bem sucedida é necessária uma equipa de
profissionais que abarquem todas as especialidades em causa, desde os projetistas aos que
executam o trabalho com o seu saber, passando por arqueólogos e historiadores. Essa equipa
deverá interagir entre si, de forma a garantir que o processo corra bem. O projeto de execução
é, a este nível, o começo de todo o processo. Durante os trabalhos de intervenção, surgem
frequentemente muitos dados novos, muitas surpresas, que irão condicionar a solução final.
Apresentam-se neste artigo alguns casos de estudo, de intervenções em alguns edifícios
representativos portugueses.
PALAVRAS-CHAVE: ESTRUTURAS DE MADEIRA, COBERTURAS EM MADEIRA,
REABILITAÇÃO, DEFICIÊNCIAS EQUIPAS MULTIDISCIPLINARES
1. CONTEXTO – BREVE ABORDAGEM DO TEMA
Nas intervenções em coberturas confrontamo-nos muitas vezes com situações limite, em que é
necessário optar por uma solução. Muitas vezes estamos na presença de operações simples de
manutenção, o que não oferece dificuldade, dado bastar limitarmo-nos a afinar ou substituir
algum elemento ou revestimento. Muitas vezes basta uma pintura com uma tinta de protecção.
O problema começa a surgir quando houve dano e a recuperação da estrutura passa, por
exemplo, pela substituição de algumas partes da sua estrutura ou, no caso limite, na
reformulação de toda a sua estrutura com eventual substituição integral.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 74
Um problema frequente nos nossos dias é o das estruturas em betão armado existentes nos
nossos edifícios antigos, executadas no século passado. A grande intrusividade dessas
estruturas traduziu-se numa enorme perda patrimonial, com a supressão dos sistemas
tradicionais de madeira e num grande problema para os edifícios, dado o comportamento
incompatível com o dos outros elementos, como por exemplo as ações estruturais sobre as
estruturas primitivas e a sua pouca durabilidade, ao nível das armaduras, bem como a
degradação acelerada que provocam nos outros materiais, por exemplo nas madeiras. As várias
tentativas pensadas para a sua remoção e substituição por estruturas semelhantes às primitivas
não se revelaram executáveis, dados os estragos que iriam provocar no edificado e até uma
certa apropriação aos edifícios. Teremos então de considerar a possibilidade de encarar essas
estruturas como uma fase mais na vida do edifício e adaptá-las às funções.
São estas e outras reflexões que se farão nos exemplos a apresentar.
2. OS VÁRIOS TIPOS DE ESTRUTURAS DE COBERTURAS EM MADEIRA
As coberturas dos edifícios antigos podem-se caracterizar por vários critérios, consoante a sua
forma, e os materiais executados, desde a estrutura de suporte até ao revestimento. Em síntese,
poderão enumerar-se os seguintes critérios, ver Tabela 1.
Tabela 1 – Critérios de caraterização de coberturas nos edifícios antigos.
Critérios
Geometria
Revestimentos utilizados
Materiais estruturais
Exemplos
Coberturas planas
Coberturas inclinadas
Coberturas Curvas
Telha
Pedra
Tijolo
Soletos (ardósia, madeira, cerâmicos)
Chapas laminadas metálicas (zinco, cobre, chumbo)
Entre outros
Madeira
Pedra
Tijolos Cerâmicos
Estruturas metálicas
Entre outros
Na intervenção em coberturas deverão ser analisadas as suas características para, se escolher o
melhor critério de intervenção, de forma a preservar a identidade do edifício, seja ela
arquitetónica, estrutural, artística ou simbólica.
No caso das estruturas de madeira importa refletir sobre a sua geometria e sobre a geometria
dos seus constituintes, como na Figura 1.
(a)
(b)
(c)
Figura 1 – Exemplos da geometria de estruturas de madeira e dos seus constituintes: (a) e (b)
Perspetivas de estruturas de cobertura de madeira, com as várias partes que a compõem; (c)
Estrutura de madeira sobre abóbada da Capela de S. Vicente, da Sé Catedral do Porto.
Filipe Ferreira
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Muitas vezes verificam-se geometrias complexas, de desenho apurado, de grande qualidade e
dimensões, que nos fazem refletir sobre as dificuldades de que se terá revestido a sua execução,
como no caso da estrutura da cobertura da Escadaria Nobre do Palácio da Bolsa, Porto,
conforme se poderá verificar na Figura 2.
(a)
(b)
(c)
Figura 2 – Intervenção na estrutura da cobertura da Escadaria Nobre: (a) Esquema estrutural
em 3D; (b) e (c) Aspeto das vigas treliçadas da estrutura.
O desenho das estruturas e dos seus acessórios é fundamental, tendo chegado aos nossos dias
exemplares de grande qualidade, como na Figura 3.
(a)
(b)
(c)
Figura 3 – (a) Exemplo de uma asna, com a estrutura secundária superior e acessórios
metálicos; (b) Exemplos de ligações de peças de madeira; (c) Cobertura em madeira, nas
Termas de Vidago.
3. A MADEIRA
As madeiras mais correntes nas construções, apresentadas neste artigo são, na sua maioria, o
castanho, o carvalho, o eucalipto e o pinho, nas suas variadas espécies. A grande maioria são
madeiras existentes no nosso país, outras foram importadas de países europeus, como, por
exemplo, a Letónia: Surgiram as madeiras provenientes de outros cantos do mundo, como
Africa, Brasil, entre outros.
4. ALGUMAS DEFICIÊNCIAS ENCONTRADAS NAS INTERVENÇÕES
Quando analisamos em pormenor uma construção, particularmente no caso de coberturas de
madeira, observamos várias anomalias, típicas da degradação como a fluência, a degradação
biológica e as consequências das ações termo-higrométricas, com predominância de umas ou
outras, caso a caso, em função dos vários fatores existentes, resultantes da especificidade da
construção, ver Tabela 2 e Figura 4.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 76
Tabela 2 – Anomalias mais usuais em estruturas tradicionais de cobertura em madeira.
Anomalias
Podridões
Deformações
Fungos
Possíveis causas
Insetos xilófagos
Presença de água
Má qualidade das madeiras
Secção mal dimensionada
Assentamentos, rotações do edifício
Ocorrência de danificações
Ligações deficientes entre as peças
Presença de água
Contacto com o ambiente exterior
Falta de manutenção
(a)
(c)
(b)
(d)
(e)
Figura 4 – Exemplos de anomalias mais usuais encontradas em estruturas de coberturas em
madeira; (a) e (b) Podridões; (c) Deformações; (d)e (e) Fungos.
5. OPÇÕES E METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO
A intervenção neste tipo de estruturas poderá ser feita em vários níveis, consoante o seu estado
de conservação ou alteração, as características arquitetónicas e a sua autenticidade. De uma
forma geral, poder-se-ão considerar vários níveis de intervenção, desde a menos intrusiva,
como reparação pontual de uma pequena parte, até à substituição integral, em casos extremos
de degradação, ver Tabela 3. Numa intervenção deste tipo, muitas vezes não há uma única
solução.
Filipe Ferreira
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Tabela 3 – Níveis de intervenção em estruturas de madeira em coberturas.
1.
2.
3.
4.
5.
Níveis de intervenção:
Reparação pontual de elementos degradados
Substituição pontual, com materiais e técnicas tradicionais
Substituição integral com materiais e técnicas semelhantes às existentes
Reforço de estruturas existentes com recurso à aplicação de elementos novos de outra
natureza
Substituição integral por uma nova solução estrutural com recurso eventual a novos
materiais e novas técnicas
Nas intervenções de reabilitação quer no património classificado, quer no Património corrente,
deverá ser seguida uma metodologia que salvaguarde as características do edifício. Essa
metodologia deverá compreender várias fases, ver Tabela 4.
Contudo, como foi já referido neste texto, os trabalhos de intervenção definitivos são sempre
pensados na fase de obra, com uma equipa multidisciplinar, que entenda o Património e os seus
problemas e responda com boas soluções aos imprevistos que sempre surgem nestas
intervenções.
Tabela 4 – Metodologia a seguir numa intervenção.
1.
2.
3.
4.
5.
5.
Intervenções de conservação, reparação e recuperação - Fases:
Recolha de informação de avaliação da capacidade de desempenho da construção
Determinação das causas da existência de danos
Avaliação correta da importância e extensão das degradações.
Escolha de medidas corretivas menos intrusivas e melhor adaptadas.
Definição atempada e planeada das intervenções.
Monitorização do comportamento, após as intervenções.
6. ALGUNS CASOS DE ESTUDO
Serão abordados de seguida alguns casos de estudo. A abordagem não será exaustiva,
abrangendo a totalidade das intervenções. Serão focados, em cada caso, apenas alguns casos de
realce, tendo sido escolhidos vários contextos diferentes. Serão analisadas, sumariamente, as
possíveis causas das anomalias, o enquadramento arquitetónico e histórico e as soluções
encontradas, ver Tabela 5.
Tabela 5 – Casos de estudo escolhidos.
Caso de estudo
Igreja Matriz de Caminha
Sé Catedral do Porto
Casa do Coro da Sé do Porto
Parque da Boavista, Braga
Materiais da estrutura
Madeira e B.A.
Madeira e B.A.
Madeira
Madeira
Caso apresentado
Reabilitação geral
Cúpula e Transepto
Estrutura nova
Reformulação
6.1. Reabilitação da Igreja Matriz de Caminha
6.1.1.
O Edifício
A Igreja Matriz de Caminha está classificada como Monumento Nacional, desde 1910. A sua
construção compreende duas fases, provavelmente: a primeira em 1428 e a segunda em 1488.
Foi alvo de várias intervenções, com modificações, ao longo da sua vida.
Sofreu recentemente obras de requalificação, que abrangeram a quase globalidade do edifício,
sendo de referir, as intervenções nas coberturas, Figura 5.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 78
Figura 5 – Igreja Matriz de Caminha.
6.1.2. Anomalias verificadas ao nível das estruturas da cobertura
A sua estrutura apresentava diversas anomalias, resultantes de intervenções anteriores
desadequadas e de falta de manutenção, com telhas partidas, falta de planeza das vertentes das
coberturas das coberturas, podridões generalizadas, com especial relevância nos apoios.
Os coroamentos das paredes estavam, na sua maior parte rematados por uma viga, nuns casos
frechal, em madeira, com podridões e noutros, em betão armado, com armaduras parcialmente
à vista, em estado de corrosão, em alguns casos, muito acentuado. Os apoios das peças de
madeira, como por exemplo os barrotes das estruturas das coberturas, encontravam-se com
podridão cúbica generalizada, com oxidações nos elementos metálicos de fixação. O
revestimento de telha das coberturas, telha “Lusa”, encontrava-se bastante deteriorado, com
telhas partidas e com acumulação generalizada de depósitos de folhas, esqueletos de ave e
guano, sobre as telhas e entre estas e os forros das coberturas. Estes também se encontravam
com podridão generalizada. Verificava-se a existência de térmitas nas estruturas de madeira,
ver Figura 6.
(a)
(b)
(c)
Figura 6 – Aspetos do estado de conservação dos madeiramentos das coberturas (a) Estado dos
revestimentos de telha e forro guarda-pó; (b) Estado do frechal em madeira e barrotes; (b)
Caso de um frechal em betão armado.
6.1.3. Intervenção
O projeto de intervenção de arquitetura esteve a cargo dos Arq.tos António Portugal e Manuel
Reis. O projeto de reforço estrutural esteve a cargo do Engº Mateus Gomes, o estudo do
tratamento das madeiras a cargo do Prof. Engº Amorim Faria e o estudo dos problemas
higrotérmicos a cargo do Prof. Engº Vasco Freitas. Compreendeu as seguintes fases, ver
Tabela 6.
Filipe Ferreira
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Tabela 6 – Igreja Matriz de Caminha – Tratamento das estruturas das coberturas em madeira
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
Fases da intervenção:
Trabalhos preliminares de proteção;
Remoções faseadas;
Aspiração e limpeza;
Mapeamento das anomalias e definição do plano de intervenção;
Remoção manual das partes não funcionais de madeira;
Desinfestação dos madeiramentos e do coroamento das paredes;
Substituição total ou parcial das partes disfuncionais;
Tratamento dos elementos em betão armado;
Fornecimento e aplicação de reforços em aço inoxidável;
Aplicação de parafusos autorroscantes em aço inoxidável;
Foi efetuada a proteção do edifício contra a entrada de águas das chuvas, através da colocação
de uma cobertura provisória. Foi protegido o património integrado através de colocação de
vedações e foi garantida a segurança das pessoas, por meio de redes, entre outros, como se
verifica na Figura 7. Foi implementado um plano de segurança.
(a)
(b)
Figura 7 – Proteção do edifício: (a) Cobertura provisória; (b) Rede anti-queda.
De seguida foi feita a remoção faseada dos revestimentos de telha e rufos metálicos, a que se
deu início à aspiração das estruturas de madeira com limpeza do forro e do extradorso dos
tetos.
Após a limpeza e remoções havia já condições para uma análise rigorosa do estado de
conservação dos madeiramentos, pelo que foi feito o mapeamento das anomalias, com o registo
nomeadamente de podridões, empenos, peças partidas, ausência de elementos estruturais, e
existência de elementos disfuncionais e feito o estudo de intervenção. Foi verificado o teor de
humidade das várias peças de madeira.
Em consequência, foi feita a remoção manual das partes não funcionais, das peças de madeira,
por desbaste.
Foi feita a desinfestação dos madeiramentos. A operação compreendeu a aplicação por
pincelagem e pulverização de produtos xilófagos. Foi feita também a injeção de produtos
xilófagos nas extremidades dos barrotes, junto aos frechais, para criar uma barreira mais eficaz
ao avanço das térmitas. Foi aplicada também uma calda termiticida sobre os coroamentos das
paredes com o mesmo objetivo, ver Figuras 8 e 9.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 80
(a)
(b)
(c)
Figura 8 – Aspetos do tratamento das estruturas de madeira das coberturas; (a) Medição do teor
de humidade; (b) Desbaste de podridões; (c) Pulverização com produto xilófago.
Figura 9 – Injeção de produto xilófago.
Foi feita a substituição total ou parcial das partes disfuncionais, por outras de madeira
semelhante em condições de resistência mecânica e aos insetos xilófagos. Nos casos de menor
intrusividade, foram aplicadas peças de madeira em substituição de outras existentes em betão
armado que imitavam madeira (Figura 10)
Figura 10 – Peças em madeira em substituição das pré-existentes em betão armado.
Na maior parte dos casos, os elementos existentes em betão armado foram mantidos, pois a sua
demolição e substituição por elementos semelhantes aos primitivos em madeira e pedra, seria
Filipe Ferreira
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demasiado intrusiva para o imóvel. Assim, foram tratados os elementos, a dois níveis, Figura
11:
• Ao nível do betão, removendo as partes em destaque e fazendo a reintegração volumétrica
com argamassas compatíveis;
• Ao nível das armaduras, removendo a oxidação pulverulenta existente, substuindo
armaduras não funcionais por outras semelhantes, aplicando produtos de proteção nas
existentes desprotegidas. Após o novo recobrimento das armaduras foram aplicados
produtos preservadores sobre o betão.
Foram aplicados reforços metálicos em aço inoxidável, nas zonas de ligação, quer em
substituição de outros existentes em ferro, já oxidados, quer em novos locais;
Finalmente, todos os pregos foram substituídos por parafusos autorroscantes em aço
inoxidável, dado estar a tratar de uma intervenção junto ao mar, Figura 12.
(a)
(d)
(g)
(j)
(b)
(e)
(h)
(l)
(c)
(f)
(i)
(m)
Figura 12 – Aspetos do tratamento e aplicação de armaduras: (a) Armaduras de ferro à vista;
(b) e (d) Remoção das partes em destacamento; c) Após a proteção das armaduras; (e)
Aplicação de camada de proteção do betão e das armaduras; (g) e (h) Furação e aplicação de
bucha química para fixação das próteses metálicas; (f) a (i) Sequência da aplicação de próteses
em aço inoxidável; (j) e (l) Próteses em aço inoxidável nas ligações das peças de madeira; (m)
Fixação do forro de madeira com parafusos autorroscantes em aço inoxidável.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 82
6.2. Sé do Porto - Recuperação na Capela do Santíssimo e do Lanternim do Transepto
A Capela do Santíssimo Sacramento situa-se a Norte da nave lateral esquerda da Sé Catedral
do Porto. É constituída por um corpo de planta circular, encimada por um zimbório.
A cobertura nesse corpo, em forma de cúpula incompleta, encontrava-se em estado de
degradação visível, sendo a base de apoio das telhas muito irregular em argamassa de muito má
qualidade, em forma de chapéu.
Foi uma intervenção muito complexa, projeto do Engº Pinho Borges. Dessa intervenção realçase a reconstituição da forma da cobertura, tendo-se recorrido a uma estrutura de madeira, em
cúpula, com aplicação de cambotas em madeira de castanho, de forma regular, afastadas da
base em argamassa, entretanto consolidada. As cambotas foram travadas por meio de tarugos
em madeira. Sobre elas foi executado um sistema de cobertura, compreendendo uma
membrana de sub-telha e telha mini canudo (Figura 13)
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
Figura 13 – Sé Catedral do Porto - Reabilitação da cobertura de madeira da Capela do
Santíssimo Sacramento: (a) Estrutura radial vista de cima; (b) Vista de frente, com as cambotas
e travessas; (c) Vista em planta, em projeto; (d) Pormenor da fixação dos barrotes no frechal;
(e) Vista do sistema de cobertura ventilada, com ripado, contra-ripado, membrana permeável
ao vapor e telha mini de canudo; (f) vista final, de cima.
No caso do Lanternim do Transepto, este apresentava fissuras preocupantes nos paramentos de
alvenaria de pedra, encontrando-se a cobertura com estrutura de madeira e telha em muito mau
estado. A abóbada nervurada sob a estrutura do telhado também se encontrava com
instabilidade na ligação entra as várias pedras, pelo que teria de ser consolidada (Figura 14).
O projeto de intervenção, a cargo da Arq.ta Ângela Melo e do Prof. Engº Paulo Lourenço,
compreendeu, em síntese, o estudo e interpretação das causas da fissuração. Compreendeu a
colocação de um anel em todo o perímetro do corpo do lanternim, no contorno dos paramentos
de pedra, pelo interior, e a execução de uma estrutura e cobertura de quatro águas, em madeira
de castanho, segundo as boas práticas de intervenção (Figura l4). Previamente foi feita a
consolidação da abóbada nervurada de pedra (Figura 15).
Filipe Ferreira
(a)
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(b)
(c)
Figura 24 – (a) Aspeto inicial e numa primeira fase da intervenção, com cobertura provisória,
após remoção da telha e estudo da estrutura; (b) Vista da abóbada nervurada antes da
consolidação; (c) Vista da nave da igreja.
Figura 35 – Intervenção no Transepto; Projeto da solução de reforço em anel, em aço
inoxidável, complementado com pregagens às paredes; Aspetos e pormenores da execução da
cintagem e pregagens.
A estrutura de madeira, de pavilhão, é constituída por 4 guieiros em madeira, madres e frechal
também em madeira, fixado para o anel em aço metálica atrás referido. No cruzamento das
peças de guieiro foi colocada uma peça de ligação também em madeira, sem apoio à abóbada
de pedra (Figura 16).
Figura 46 – Aspetos da execução da estrutura de madeira da cobertura.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 84
6.3. Remodelação, Recuperação e Restauro da Casa do Coro da Sé do Porto
A Casa do Coro da Sé Catedral do Porto encontrava-se com a cobertura em estado de
degradação irreversível, para além do facto de ser necessário reorganizar os espaços, com uma
nova distribuição dos vários pisos (Figura 17). Atendendo a esses fatores o projeto, da autoria
dos Arq.tos Brandão Alves e António Marques e do Prof. Engº Moreira da Costa, previu uma
estrutura contemporânea de base tradicional em madeira de pinho nórdico (Figura 18). É esta
opção estrutural que se pretende realçar neste exemplo.
(a)
(b)
(c)
Figura 57 – A Casa do Coro da Sé do Porto: (a) Alçado parcial; (b) Vista aérea sem a
cobertura, entretanto desmontada; (c) Aspeto da cobertura durante o desmonte.
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
Figura 18 – A Casa do Coro da Sé do Porto; (a) Alçado principal, em projeto; (b) e (c)
Desenhos de projeto; (d), (e) e (f) Diversas fases da montagem da estrutura de madeira.
6.4. Reabilitação das coberturas do edifício no “Parque da Boavista”, Braga
Os edifícios chegam aos nossos dias com as marcas que o tempo lhes deixou, tendo passado
por acontecimentos, que originaram uma alteração muitas vezes decisiva na sua estrutura e
utilização futura.
Filipe Ferreira
85
O edifício em causa, concluído em 1910, sofreu um grande incêndio na primeira metade do
século passado, que lhe destruiu a maior parte das coberturas e revestimentos de tectos, com,
por exemplo estuques. Nos trabalhos de reconstrução do edifício, que se seguiram, foi alterada
a cobertura, com uma má solução construtiva - construção de um algerós interior, que permitia
a entrada de águas das chuvas. Assim, a opção de intervenção, relativamente às coberturas,
consistiria em manter a última situação criada ou recriar a inicial, sendo esta última a opção
escolhida pela equipa, constituída pelos Engº Filipe Ferreira e Arq.tos Francisco Azeredo e
Lília Costa. Esta opção foi tomada por razões de coerência do desenho inicial e por razões
funcionais, para evitar a constante entrada de águas das chuvas no edifício (Figuras l9 e 20).
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 69 – (a) e (b) Vistas do edifício; (c) Desenho com a reabilitação após incêndio, com a
representação do algerós interior; (d) Desenho com a configuração atual, semelhante à
primitiva.
Figura 20 – Aspeto da estrutura de madeira da cobertura, constituída por ripado, contra-ripado,
membrana permeável ao vapor, isolamento térmico com 80 mm de espessura, forro,
constituído por contraplacado marítimo, com 19mm de espessura e estrutura depois de
reabilitada.
Recuperação de estruturas de coberturas tradicionais de madeira – Análise de alguns exemplos 86
7. REFERÊNCIAS
[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
Cóias V., Inspeções e Ensaios na Reabilitação de Edifício, Lisboa, IST Press, 2006.
Cóias
V.,
Reabilitação
Estrutural
de
Edifícios
Antigos,
Lisboa,
Argumentum/GECoRPA, 2006.
Appleton J., Reabilitação de Edifícios – Patologias e Tecnologias de Intervenção
Lisboa, Edições Orion, 2003.
Paula R.F; Cruz H., Reabilitação pouco intrusiva de vigas de madeira – um caso de
estudo, 2º PATORREB, Porto, 2006
Cruz P. J., Negrão J. H., Branco J. M. A Madeira na Construção CIMAD 04 – 1º
Congresso Ibérico A Madeira na Construção, 25-26/03/2004, Guimarães, Portugal,
2004.
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