SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ Humanização em casos de distúrbio neurovegetativo (DNV) / (pitiatismo) Washington Luiz Fernandes Discente do Curso de Graduação em Enfermagem UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá [email protected] Roberta dos Santos Souza Discente do Curso de Graduação em Enfermagem UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá [email protected] Renata Corrado Lins Discente do Curso de Graduação em Enfermagem UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guaruja [email protected] Gabriel Rodrigues de Mendonça Discente do Curso de Graduação em Enfermagem Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto - Campus Guarujá e-mail: [email protected] Gabriel Garbelini Fogaça Discente do Curso de Graduação em Enfermagem UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá [email protected] Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee Resumo A coleta de dados foi realizada através de bibliografias, artigos científicos e internet. Apresentando os principais sintomas do distúrbio neurovegetativo bem como suas causas e, principalmente, descrever de modo claro e objetivo o que é o distúrbio neurovegetativo, para que não aja mais uma abordagem errônea dos profissionais de saúde para com o cliente com DNV, devido ao fato de a abordagem do distúrbio neurovegetativo ser comumente errônea nos dias de hoje. Palavras-chave: Humanização. Distúrbio. Pitiatismo. Seção 1 – Curso de Graduação em Enfermagem – Meio Ambiente – Vulnerabilidade Ambiental. Apresentação: Oral. 1 1. Introdução O DNV é também chamado de PITI ou PITIATISMO devido os sintomas que o distúrbio causa. A maioria dos médicos não psiquiatras costuma adotar duas atitudes diante do paciente com DNV, a expressiva maioria deles adota uma atitude de rejeição, achando que os pacientes não são doentes de verdade ou são doentes que não têm nada, e uma minoria, infelizmente, acham que o DNV é uma doença e deve ser tratada como tal. Surpreendo tanto aos médicos quanto aos leigos, essa misteriosa “doença” pode apresentar sintomas sem qualquer substrato físico, sintomas que mudam segundo a época, os costumes e as conveniências, sintomas que podem desaparecer como em um passe de mágica. O distúrbio neurovegetativo sempre existiu na história humana, sempre acompanhou o ser humano desde sua introdução na vida gregária. Descrições de quadros de DNV são encontradas nos papiros egípcios que datam de 4 mil anos, como o de “Kahun”. O histórico documento descrevia vários sintomas encontrados em mulheres, normalmente representados por dores em diversos órgãos, variando até a impossibilidade de abrir a boca, caminhar e mexer as mãos. Na antiguidade, todos estes distúrbios eram remetidos a uma causa uterina. Este órgão, supostamente acometido de inanição por descaso matrimonial ou crueldade do destino, deslocar-se-ia através do corpo feminino, prejudicando ora aqui ora ali o funcionamento dos diversos órgãos. O tratamento consistia em fazer o útero retornar ao seu local de origem. Essa recolocação do útero se fazia mediante a inalação de substâncias fétidas ou através de estranhas estripulias vaginais que o colocariam em seu devido lugar. Platão (400 a.C), diz que “[...] também nas mulheres e pelas mesmas razões, a chamada matriz ou útero é um animal que vive nelas com o desejo de fazer filhos. Quando fica muito tempo estéril, após o período da puberdade, tem dificuldade em suportá-lo, indigna-se, erra por todo o corpo, bloqueia os condutos do hálito, impede a respiração, causa mal-estar extremo e ocasiona doenças de toda espécie”. Hipócrates, que foi contemporâneo de Platão, fala do distúrbio neurovegetativo no capítulo reservado às doenças femininas, e corrobora a idéia da movimentação do útero no interior do corpo da mulher também serve como explicação para outras doenças, além do DNV. Por exemplo, a suspensão das regras também era provocada por esta migração uterina. Se a mulher não mantinha relações sexuais e o ventre se encontrava vazio (não grávido), o útero sofria um deslocamento devido ao ressecamento e à leveza, (maiores que o normal), provocados pela ausência do coito. Hipócrates achava, de fato, que a sufocação da matriz (útero) ocorria, sobretudo, em mulheres que estavam em abstinência sexual e naquelas de maior idade. Em termos fisiológicos, era assim que o processo era descrito; Naquelas mulheres, os espaços encontrar-se-iam mais vazios que ordinariamente, o útero ressecado e mais leve deslocar-se-ia em direção aos 2 vários órgãos. Quando este se lançava sobre o fígado, causava uma sufocação súbita que interceptava a via respiratória “localizada no ventre”. Nestas ocasiões, os olhos se reviravam, a mulher tornava-se fria e lívida, cerrava os dentes, salivava abundantemente e assemelhava-se aos epilépticos em crise. O prognóstico era bom e o ataque sobrevinha em plena saúde. O útero também podia lançar-se sobre outros órgãos, como o coração, a vesícula, etc. A sintomatologia era variada: vômitos, afonia, dores de cabeça, esfriamento das pernas, etc. (ALBUQUERQUE, O. 2010). O tratamento hipocrático para DNV, à semelhança dos egípcios, consistia em reconduzir o útero ao seu lugar de origem através de remédios que eram inalados e fumigações de preparados exóticos. A relação entre distúrbio neurovegetativo e, digamos, preenchimento vaginal, era tão marcante que um bom remédio para os casos onde a doente perdia a voz e cerrava os dentes, seria introduzir-lhe na vagina um pessário (consolo) embebido em substâncias perfumadas até que o útero voltasse ao seu lugar. O tratamento preventivo, conseqüentemente, era o casamento para as jovens solteiras e o coito para as casadas. Descrições do quadro clínico histérico e/ou DNV, existem em abundância na história universal, como por exemplo, nas palavras de Celso, médico da Roma antiga, que descrevia a enfermidade da matriz dizendo que às vezes, as doentes perdem o conhecimento e caem ao solo como na epilepsia, tendo como diferença das verdadeiras convulsões apenas a sialorréia e um entorpecimento profundo. Portanto, guardando-se a distância cronológica entre os relatos de Platão e de Celso, vemos que o quadro de DNV atravessava vários séculos. Mas, a trajetória do eloqüente poder dos órgãos sexuais femininos não atravessava apenas séculos, ele se universalizava entre as diversas culturas com, basicamente, a mesma teatralidade. 2. Objetivo geral Apresentar os principais sintomas do distúrbio neurovegetativo, bem como, suas causas e, principalmente, descrever de modo claro e objetivo o que é o distúrbio neurovegetativo, para que não aja mais uma abordagem errônea dos profissionais de saúde para com o cliente com DNV. 3. Metodologia Este é um estudo descritivo exploratório de revisão bibliográfica que foi realizado no período de junho a julho de 2010. A coleta de dados foi feita através bibliografias, artigos científicos e internet. Nessa pesquisa foram utilizados textos que mais contribuíram com o tema devido ao seu modo de explanação e atualidade sobre o assunto. 4. Revisão bibliográfica Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam, principalmente, à possibilidade que se tem de classificar determinada personalidade como sendo desta ou daquela maneira de existir. Desta forma, 3 diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e característico numa determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-se possível sua classificação. (BALLONE, G. J. 2005). Caso ainda esta característica responsável por sua classificação (traço), subtraia desta pessoa (personalidade) a liberdade necessária para que ela seja livre e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de reagir ao mundo (prejuízo), aí então, ao invés de estarmos apenas diante de certo tipo de personalidade, estaremos diante de um Transtorno de Personalidade. No distúrbio neurovegetativo, o traço prevalente e mais unanimemente reconhecido entre diversos investigadores é o “histrionismo”. A palavra, que significa teatralidade, surge na Roma antiga para designar como histrião o comediante que representava papeis. Portanto, o histrionismo do portador de DNV é representado por seu caráter afetado, exagerado, exuberante como se estivesse fingindo. Sua representação sempre varia de acordo com as expectativas da platéia. É um comportamento caracterizado por colorido dramático, extrovertido e eloqüente, com notável tendência em buscar contínua atenção. Trata-se dos únicos distúrbios de personalidade mais freqüentes no sexo feminino. Os pacientes histriônicos tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações. São pessoas freqüentemente animadas e dramáticas, tendendo sempre a chamar atenção sobre si mesmas. De início elas costumam encantar as pessoas com quem travam conhecimento, principalmente devido ao seu entusiasmo, à aparente franqueza e fragilidade ou, simplesmente, devido à exímia capacidade de sedução. Tais qualidades, contudo, perdem sua força à medida que esses indivíduos passam a exigir continuamente o papel de "dono da festa". Representar papéis é a especialidade mais meritosa da histérica, assim, com muita propriedade ela representa a mulher. Vem daí a idéia de que essas pacientes costumam ser pseudo-hiper-sexuais, retrato superficial de sua pseudo-hiperfeminilidade. (BALLONE, G. J. 2005). 4.1 Quadro Clínico do DNV A expansão do saber médico acabou retirando a natureza "demoníaca" do pitiatismo, mas não conseguiu integrá-la adequadamente em suas classificações nem em sua seriedade clínica. O DNV desafiou e continua desafiando a semiologia médica: seus "sinais" e "sintomas" não respeitam sequer a fisiologia da Medicina, quanto mais à patologia. E mais do que isto, o DNV subverte a medicina clínica e a “boa vontade” dos médicos, em suma, até hoje o DNV é encarado como um transtorno, não do paciente, mas para o médico. Do ponto de vista descritivo e psicopatológico, o DNV é visto como uma neurose. Manifesta-se por sintomas variados, incomuns, bizarros e, muitas vezes, transitórios. Mais comumente é representado por perturbações sensoriais, como a cegueira, surdez, 4 afonia, dores ou anestesias localizadas, enxaquecas, contraturas musculares, e alterações motoras, através de dificuldades para andar, paralisias variadas, etc. (BALLONE, G. J. p. 45-113, 2005). O distúrbio neurovegetativo, em suas variadíssimas formas de expressão, pode se manifestar através de traços (histriônicos) marcantes de personalidade, através de Transtornos Histéricos da Personalidade e através dos Transtornos Histéricos propriamente ditos, como por exemplo, Transtornos Conversivos, Dissociativos, Hipocondria, etc. De modo geral as classificações internacionais de doenças mentais consideram incluídos nos Transtornos Histéricos ou Histriônicos os seguintes quadros: Amnésia Psicogênica, Fuga Psicogênica, Personalidade Múltipla, Despersonalização, Síndrome de Ganser, Transtorno de Somatização ou Somatoforme, Transtorno Conversivo, Transtorno Doloroso, Transtorno Dismórfico e Personalidade Histriônica. Um dado muito curioso no quadro clínico da histeria é que a cultura tem um papel extremamente importante no aparecimento e na forma dos sintomas. O cliente com DNV, por ser muito sugestionável, “idealiza” sintomas de acordo com aquilo que representa de verdadeiro. Isso significa que a doença é intencional e involuntária ao mesmo tempo; há algum planejamento (inconsciente), mas a pessoa não consegue libertar-se dele voluntariamente. Há muito tempo se conhecem as dificuldades encontradas pelos médicos no manejo clínico com essa clientela curiosa; os pacientes não doentes. Essas dificuldades se expressam de diferentes formas, com um traço comum relacionado à sensação de impotência, de desafio, de má fé e manipulação que eles despertam nos médicos. Uma característica quase universal do paciente com pitiatismo é sua dificuldade e relutância em reconhecer a participação do componente emocional no processo de seu adoecimento. Sua tendência natural, assim como ocorre com uma parte expressiva dos médicos clínicos, é localizar a doença no corpo. (CURÁTOLO, E. 2004). Nos serviços de saúde os clientes com DNV tendem a se tornar dependentes de psicofármacos e analgésicos, bem como responderem parcialmente às abordagens psicoterápicas usuais. Parece que quando eles sentem que podem, de fato, se curarem, insistem em abandonar o tratamento para manter presentes seus sintomas. Essa característica de relutância em entenderem-se emocionalmente adoecidos faz com que muitos profissionais os consideram inabordáveis. Normalmente eles sentem o encaminhamento para a saúde mental como uma desistência por parte dos médicos clínicos, como se a equipe não acreditasse na veracidade de suas queixas e lhes dificultassem a permanência no sistema de saúde. Nas situações onde o relacionamento médico-paciente se complica, normalmente devido ao fato clientes com DNV não aceitarem que o médico associe suas queixas físicas a algum fator emocional, a situação fica pior ainda quando o médico sentencia que... “o senhor não tem nada”, [...] “procure relaxar, tirar essas coisas da cabeça”, [...] “procure um psiquiatra”, e coisas assim. (CURÁTOLO, E. p. 130201, 2004). Muitas vezes, diante da constatação clínica de que esses pacientes não têm nada medicamente palpável, o encaminhamento para a saúde mental 5 funciona como uma espécie de vingança do clínico contra o corruptor da ordem médica. Esse encaminhamento é como se o profissional se libertasse do sentimento desagradável de impotência despertado pelo paciente. Na prática clínica estes pacientes são encaminhados aos ambulatórios de saúde mental sob o diagnóstico de poliqueixosos, somatizadores crônicos, portadores de queixas múltiplas ou doentes psicossomáticos. Outro sintoma que pode acompanhar pacientes histéricos, notadamente conversivos e dissociativos, e responsável pela antipatia que eles causam nos médicos e em funcionários da saúde, é a Mitomania. Tratase de ficções criadas pelos próprios pacientes, muitas vezes facilmente percebidas pelos outros, nas quais eles próprios podem acreditar. Ainda dentro das características dos clientes com DNV que contribuem para a reserva com que são recebidos pelos serviços de saúde, está a sensação que eles transmitem de perturbarem a ordem dos serviços. Não é incomum que façam complôs com outros enfermos, que promovam intrigas e semeiem discórdia entre o pessoal do serviço de saúde. De fato, a personalidade histérica ameaça e provoca e, apesar de sedutora, não se pode confiar, pois mente e frustra as expectativas dos médicos, do cônjuge, do amante, dos parentes, etc. A dificuldade de classificação médica desses pacientes começou desde que o diagnóstico de neurose histérica, onde se inclui a maioria desses pacientes, foi desmembrado pelas classificações internacionais (CID.10 e DSM.IV). Desde então, ainda não se obteve uma uniformidade quanto á classificação desses casos. (CURÁTOLO, E. 2004). Apenas do ponto de vista do politicamente correto, consideramos que, de certa forma, a CID-10 representou um avanço no sentido de agrupar os pacientes com queixas múltiplas e difusas numa outra alternativa nosológica; os Transtornos de Somatização. Com esse nome, as pessoas, antes tidas histéricas, puderam ser também consideradas à luz de alterações afetivas, além das comportamentais. 4.2 Nomenclaturas (distúrbio da conversão, da dissociação, da somatização, neuro vegetativo e ou pitiatismo) Há, como sempre houve, uma grande dificuldade de nomenclatura e classificação dos quadros onde o componente com distúrbio da neurovegetação é evidente. Para facilitar, didaticamente vamos considerar essas situações todas como fazendo parte dos Quadros do Espectro Histérico. Tanto os Transtornos Somatoformes, quanto os fenômenos Dissociativos e Conversivos, podem ser considerados transtornos psicorreativos, ou seja, aparecem sempre em resposta ou reação a algum evento de vida, a alguma emoção. Trata-se de uma resposta emocional a uma vivência traumática. De modo geral, o Transtorno de Somatização se caracteriza pelo salto do psíquico para o orgânico, com predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas (cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), na Conversão existe igualmente um salto do psíquico para o orgânico, mas, com 6 repercussão no “sistema de comunicação” da pessoa com o mundo, ou seja, em sua mímica, seus cinco sentidos, sua mobilidade e coordenação motora. Nos distúrbios de Dissociação há, da mesma forma, um salto do psíquico, porém, um salto do psíquico para o próprio psíquico. Aqui são afetadas a consciência e integração da pessoa com a realidade. Todos esses sintomas do Espectro Histérico são reversíveis e não obedecem à realidade orgânica ou fisiologia médica conhecida. Eles obedecem sim, a uma representação emocional que o sujeito tem de seus conflitos, de seu corpo e de seu funcionamento. Assim podemos observar uma perda total da visão em paciente com DNV, sem que o reflexo fotomotor se encontre alterado. Vale acrescentar que não se trata de simulação, os sintomas simbolizam a nível corporal, um conflito inconsciente. Enquanto o Transtorno de Somatização se caracteriza pela predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas (cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), no Distúrbio de Conversão estão comprometidas à funcionalidade dos órgãos e a capacidade de comunicação corporal social. Os problemas de Somatização normalmente envolvem a clínica médica devido ao comprometimento dos diversos órgãos, enquanto os transtornos Conversivos guardam uma grande semelhança com os problemas neurológicos. Assim sendo, na Conversão os sintomas aparecem sob a forma de perda da função de um ou de vários atributos necessários à vida de relação. Isso significa que a musculatura estriada e os órgãos sensoriais são afetados, podendo fazer surgir paralisias, anestesias, afonias, cegueira, crises convulsiformes, contraturas, desmaios, etc. Há uma perda parcial ou completa da integração normal da consciência. Esta perda do controle da consciência foi anteriormente denominada de Histeria de Conversão. Atualmente prefere-se a denominação de Conversão e Dissociação (CID.10) para os fenômenos onde o indivíduo fica, repentinamente, dissociado dos estímulos internos e externos. Trata-se da expressão de um conflito ou necessidade psicológica, onde os sintomas da perturbação não são voluntariamente produzidos e não podem ser explicados, após investigação apropriada, por qualquer mecanismo clínico conhecido. Classicamente o Transtorno Conversivo se manifesta por sintomas que sugerem uma doença neurológica, tais como paralisias, afonia, convulsões, perturbações da coordenação, acinesias, discinesias, cegueira, anestesias e parestesias. Como principal característica psíquica associada ao Distúrbio de Conversão, funcionando como uma espécie de personalidade pré-mórbida ou pré-requisito para a doença, está o Transtorno Histriônico (ou Histérico) da Personalidade. (GROOPMAN, J. 2007). É muito importante fazermos uma boa diferenciação entre sintomas conversivos e sintomas psicossomáticos, embora seja bom sabermos que essas duas manifestações também podem ocorrer num mesmo paciente com distúrbio da neurovegetação. Quando vivenciamos algum acontecimento, nossa percepção da realidade vem sempre acompanhada de um determinado afeto. Posteriormente, a evocação do ocorrido em nossa memória (representação) virá sempre acrescida do afeto que lhe foi peculiar à época da vivência. 7 Na Conversão e Somatização, a representação da realidade vivenciada, quando penosa, desagradável ou traumática é reprimida para o inconsciente e seu afeto, ou sua energia psíquica, é deslocada para uma zona do corpo, geralmente implicada na cena traumática, convertendo-se em sintoma. Isso pode ser o que acontece, por exemplo, em um cliente que chega “torto” (contratura) ao consultório, após ter participado de algumas práticas sexuais com o namorado, caso essa situação estivesse em choque com seus valores morais. Nesses casos não existem lesões orgânicas, embora sempre exista a queixa do sofrimento. (GROOPMAN, J. p. 15-33, 2007). Essas queixas conversivas, ou alterações funcionais, independem da anatomia real do corpo, ao contrário dos casos psicossomáticos, onde há sempre uma correspondência física. Na Doença Psicossomática existe, de fato, alteração orgânica, embora seja desencadeada, determinada ou agravada por razões emocionais. Outra diferença se refere aos órgãos implicados quando se trata de fenômeno conversivo. Na Doença Psicossomática o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é que seria mais atingido. Alguns autores aceitam a idéia de que, na Doença Psicossomática, o afeto seria suprimido devido alguma dificuldade para reconhecer e verbalizar sentimentos e emoções (alexitimia). Resumindo, a maneira mais didática de entender essa sucessão de termos parecidos e confusos pode ser assim: TERMO SIGNIFICADO Somatiforme ou Somatoforme Toda patologia psíquica que se faz representar no orgânico ou físico. Somatização Quando a parte física envolvida diz respeito aos órgãos e sistemas (circulatório, muscular, respiratório, vagina.) Conversão Quando a parte física envolvida diz respeito à comunicação corporal da pessoa (cinco sentidos, musculatura, coordenação.) Dissociação Quando a parte envolvida diz respeito ao próprio psiquismo (confusão mental, delírios, desorientação.) Psicossomática Doenças determinadas, agravadas ou desencadeadas por razões emocionais com alterações orgânicas constatáveis (asma, hipertensão, dermatites, diabetes). Tabela extraída do livro NAVARRO, F. Somatopsicopatologia. Editora Summus, p. 48, 1996. 8 Uma classificação bastante sensata desses distúrbios, principalmente do DNV, é oferecida pelo DSM.IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - American Psychiatric Association, 1994). Com objetivo exclusivamente didático, foi elaborado uma classificação que aproveita a classificação do DSM.IV e da CID.10 para os quadros do espectro histérico. 4.3 - Transtornos somatoformes Transtorno de Conversivo Transtorno Somatização Transtorno Doloroso e Hipocondríaco Transtorno Neurovegetativo Transtorno Dismórfico Corporal 4.4 - Transtornos dissociativos Amnésia Dissociativa Fuga Dissociativa Transtornos dissociativos do movimento Convulsões dissociativas Anestesia e perda sensorial dissociativas Transtorno Dissociativo de Identidade (Personalidade Múltipla) Estupor dissociativo Estados de transe e de possessão Transtorno de Despersonalização Síndrome de Ganser 4.5 Critérios de diagnóstico para distúrbio neurovegetativo No distúrbio neurovegetativo o paciente atribui seus sintomas a um transtorno somático de um órgão ou sistema controlado pelo Sistema Nervoso Autônomo (ou neurovegetativo). A diferença, se é que existe e vale a pena fazer, entre o Transtorno Neurovegetativo e o Transtorno de Somatização é que nesse último existem as queixas, mas não existem alterações clinicamente constatáveis como seria o broncoespasmo da asma ou a vasoconstrição arterial da hipertensão. No Transtorno Neurovegetativo, por sua vez, existem alterações funcionais sem lesão ou alteração morfológica, como ocorre no Transtorno Psicossomático. (NAVARRO, F. 1996). Normalmente as queixas neurovegetativas dizem respeito de um funcionamento alterado, a um hiper ou hipofuncionamento, como por exemplo, palpitações, transpiração, ondas de calor ou de frio, tremores, assim como por expressão de medo e perturbação com a possibilidade de uma doença física. No sistema cardiovascular, por exemplo, pode haver aceleração da freqüência sem nenhuma correspondência clínica. Para ilustrar melhor as diferenças de classificação podemos dizer que, se fosse uma Somatização no sistema cardiovascular, teríamos uma 9 palpitação sem aumento da freqüência ou uma dor sem alterações orgânicas. Se fosse um Transtorno Psicossomático do sistema cardiovascular teríamos uma extrassistolia de fundo emocional eletrocardiologicamente constatável. No Transtorno Neurovegetativo, por sua vez, teríamos um aumento da freqüência sem causa clínica aparente. (NAVARRO, F. p. 85-102, 1996). No sistema gastrintestinal o Transtorno Psicossomático pode se manifestar como aerofagia, flatulência, cólon irritável, diarréia, dispepsia, piloroespasmo, etc. Se fosse um Transtorno Psicossomático teríamos a úlcera digestiva, a retocolite ulcerativa, etc. No sistema respiratório costumam haver hiperventilação, suspiração, soluços, tosse persistente. O Transtorno Psicossomático nesse sistema seria representado pela asma brônquica (com broncoespasmo constatável). Na parte urogenital os sintomas neurovegetativos dizem respeito à disúria, polaciúria, nictúria, urgência miccional, etc. 4.6 Sintomas do distúrbio neurovegetativo a) vômitos. b) constipação. c) diarréia. d) dor torácica. e) náuseas. f) tonturas. g) dor abdominal. h) disfagia. i) Palpitações (Diferenciação do Ritmo Cardíaco). j) sensação de desmaio. k) tremores corporais. l) sudorese. m) dor inespecífica. n) dispnéia. Simplificando, acontece uma sobrecarga no organismo neurocentral, denominada também de pane geral, onde o sistema nervoso sofre danos reparáveis e não sendo de sérias proporções com retorno do perfeito estado clínico, o organismo consecutivamente, e de modo claro falando apaga completamente, más envolvendo e controlando órgãos internos, apenas o tecido osteomuscular, isto funciona basicamente como um relaxante. O indivíduo que se encontra neste estado, sente leve dormência em seus membros superiores e inferiores, disritmia cardíaca, desnível de pressão arterial e outros. (SIMONETTI, A. 2004). Vale lembrar que qualquer sintoma deve ser encarado à priori como de possível doença física , só podendo ser classificado como psicossomático apos afastar-se causas orgânicas. (SIMONETTI, A. p. 85-144, 2004). 5. Conclusão As representações subjetivas e psíquicas dos sintomas sentidos pelo paciente refletem sempre seu perfil sócio-cultural. Em camadas menos 10 diferenciadas da população notamos queixa de sintomas muito simples, como por exemplo, a menstruação que sobe para a cabeça, o sangue sujo, uma dieta pós-parto mal conduzida, a conseqüência desastrosa de olhar no espelho depois da refeição, uma mistura fatal de manga com leite, sustos capazes de provocar paralisias e assim por diante. Nos níveis mais diferenciados a representação da doença é melhor elaborada, como por exemplo, uma polineurite conseqüente à hipersensibilidade à algum medicamento. A manifestação emocional somatizada não respeita a posição sóciocultural do paciente, como podem suspeitar alguns, não guarda também relação com o nível intelectual, pois, como se sabe, a emoção é senhora e não serva da razão. O único fator capaz de atenuar as queixas é a capacidade de a pessoa expressar melhor seus sentimentos verbalmente. Quanto maior a capacidade de o indivíduo referir seu mal-estar através de discurso sobre suas emoções, como por exemplo, relatando sua angústia, sua frustração, depressão, falta de perspectiva, insegurança, negativismo, pessimismo, carência de carinho e coisas assim, menor será a chance de representar tudo isso através de palpitações, pontadas, dores, falta de ar, etc. Um dos primeiros passos para o tratamento dos pacientes com DNV deve ser conscientizá-los sobre a importante participação dos fatores emocionais na sintomatologia queixada, tentar uma mudança no significado cultural de suas doenças e incentivar maior honestidade pessoal sobre sua natureza emocional. O inimigo natural desta iniciativa tem sido sempre o aspecto depreciativo das ocorrências histéricas, ou o caráter ficcioso que a sociedade empresta aos componentes psicogênicos dos sintomas, ou ainda, à falsa idéia de que toda ocorrência psíquica depende da boa vontade do paciente e de sua cooperação voluntária. Entre os próprios médicos ainda é muito forte a idéia de que o cliente com DNV tenta enganá-los ou procede de má-fé. Às vezes e intimamente, o médico se aborrece porque as queixas somatiformes não obedecem ao que ele aprendeu nos livros tradicionais de medicina e, tão diferentes assim eles passam a representar um desafio a seus conhecimentos científicos e fisiopatológicos. O distúrbio neurovegetativo é um transtorno crônico e flutuante mas raramente apresenta remissão ou cura completa. É raro passar um ano sem que o indivíduo busque algum atendimento médico, normalmente levado por queixas somáticas medicamente inexplicáveis. Os critérios de diagnóstico tipicamente são satisfeitos antes dos 25 anos, mas os sintomas iniciais freqüentemente estão presentes desde adolescência. Os sintomas sexuais freqüentemente estão associados com desajuste conjugal. 6. Referencial bibliográfico 1. ALBUQUERQUE, O. À sombra de Hipócrates: Narrativas. Volume 33 da coleção Humanidades, Editora APPACDM Distrital de Braga, 2010 2. BALLONE, G. J. Transtornos do Espectro Histérico. in. psiqweb, 2005. 11 3. CURÁTOLO, E. Psiquiatria Infantil. Editora Malole LTDA, 2004. 4. GROOPMAN, J. Como os Médicos Pensam. Editora Agir LTDA, 2007. 5. NAVARRO, F. Somatopsicopatologia. Editora Summus, 1996. 6. SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. 4ª Edição – Editora Casa do Psicólogo LTDA, 2004. 12