simpósio internacional de ciências integradas

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SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS
DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ
Humanização em casos de distúrbio neurovegetativo (DNV) /
(pitiatismo)
Washington Luiz Fernandes
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá
[email protected]
Roberta dos Santos Souza
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá
[email protected]
Renata Corrado Lins
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guaruja
[email protected]
Gabriel Rodrigues de Mendonça
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
Unaerp – Universidade de Ribeirão Preto - Campus Guarujá
e-mail: [email protected]
Gabriel Garbelini Fogaça
Discente do Curso de Graduação em Enfermagem
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto – Campus Guarujá
[email protected]
Este simpósio tem o apoio da Fundação Fernando Eduardo Lee
Resumo
A coleta de dados foi realizada através de bibliografias, artigos
científicos e internet. Apresentando os principais sintomas do distúrbio
neurovegetativo bem como suas causas e, principalmente, descrever de
modo claro e objetivo o que é o distúrbio neurovegetativo, para que não aja
mais uma abordagem errônea dos profissionais de saúde para com o cliente
com DNV, devido ao fato de a abordagem do distúrbio neurovegetativo ser
comumente errônea nos dias de hoje.
Palavras-chave: Humanização. Distúrbio. Pitiatismo.
Seção 1 – Curso de Graduação em Enfermagem – Meio Ambiente –
Vulnerabilidade Ambiental.
Apresentação: Oral.
1
1.
Introdução
O DNV é também chamado de PITI ou PITIATISMO devido os sintomas
que o distúrbio causa.
A maioria dos médicos não psiquiatras costuma adotar duas atitudes
diante do paciente com DNV, a expressiva maioria deles adota uma atitude
de rejeição, achando que os pacientes não são doentes de verdade ou são
doentes que não têm nada, e uma minoria, infelizmente, acham que o DNV é
uma doença e deve ser tratada como tal.
Surpreendo tanto aos médicos quanto aos leigos, essa misteriosa
“doença” pode apresentar sintomas sem qualquer substrato físico, sintomas
que mudam segundo a época, os costumes e as conveniências, sintomas que
podem desaparecer como em um passe de mágica.
O distúrbio neurovegetativo sempre existiu na história humana,
sempre acompanhou o ser humano desde sua introdução na vida gregária.
Descrições de quadros de DNV são encontradas nos papiros egípcios que
datam de 4 mil anos, como o de “Kahun”. O histórico documento descrevia
vários sintomas encontrados em mulheres, normalmente representados por
dores em diversos órgãos, variando até a impossibilidade de abrir a boca,
caminhar e mexer as mãos. Na antiguidade, todos estes distúrbios eram
remetidos a uma causa uterina.
Este órgão, supostamente acometido de inanição por descaso
matrimonial ou crueldade do destino, deslocar-se-ia através do corpo
feminino, prejudicando ora aqui ora ali o funcionamento dos diversos
órgãos. O tratamento consistia em fazer o útero retornar ao seu local de
origem. Essa recolocação do útero se fazia mediante a inalação de
substâncias fétidas ou através de estranhas estripulias vaginais que o
colocariam em seu devido lugar.
Platão (400 a.C), diz que “[...] também nas mulheres e pelas mesmas
razões, a chamada matriz ou útero é um animal que vive nelas com o desejo
de fazer filhos. Quando fica muito tempo estéril, após o período da
puberdade, tem dificuldade em suportá-lo, indigna-se, erra por todo o corpo,
bloqueia os condutos do hálito, impede a respiração, causa mal-estar
extremo e ocasiona doenças de toda espécie”.
Hipócrates, que foi contemporâneo de Platão, fala do distúrbio
neurovegetativo no capítulo reservado às doenças femininas, e corrobora a
idéia da movimentação do útero no interior do corpo da mulher também
serve como explicação para outras doenças, além do DNV. Por exemplo, a
suspensão das regras também era provocada por esta migração uterina. Se a
mulher não mantinha relações sexuais e o ventre se encontrava vazio (não
grávido), o útero sofria um deslocamento devido ao ressecamento e à leveza,
(maiores que o normal), provocados pela ausência do coito.
Hipócrates achava, de fato, que a sufocação da matriz (útero) ocorria,
sobretudo, em mulheres que estavam em abstinência sexual e naquelas de
maior idade. Em termos fisiológicos, era assim que o processo era descrito;
Naquelas mulheres, os espaços encontrar-se-iam mais vazios que
ordinariamente, o útero ressecado e mais leve deslocar-se-ia em direção aos
2
vários órgãos. Quando este se lançava sobre o fígado, causava uma
sufocação súbita que interceptava a via respiratória “localizada no ventre”.
Nestas ocasiões, os olhos se reviravam, a mulher tornava-se fria e lívida,
cerrava os dentes, salivava abundantemente e assemelhava-se aos
epilépticos em crise. O prognóstico era bom e o ataque sobrevinha em plena
saúde. O útero também podia lançar-se sobre outros órgãos, como o
coração, a vesícula, etc. A sintomatologia era variada: vômitos, afonia, dores
de cabeça, esfriamento das pernas, etc. (ALBUQUERQUE, O. 2010).
O tratamento hipocrático para DNV, à semelhança dos egípcios,
consistia em reconduzir o útero ao seu lugar de origem através de remédios
que eram inalados e fumigações de preparados exóticos. A relação entre
distúrbio neurovegetativo e, digamos, preenchimento vaginal, era tão
marcante que um bom remédio para os casos onde a doente perdia a voz e
cerrava os dentes, seria introduzir-lhe na vagina um pessário (consolo)
embebido em substâncias perfumadas até que o útero voltasse ao seu lugar.
O tratamento preventivo, conseqüentemente, era o casamento para as jovens
solteiras e o coito para as casadas.
Descrições do quadro clínico histérico e/ou DNV, existem em
abundância na história universal, como por exemplo, nas palavras de Celso,
médico da Roma antiga, que descrevia a enfermidade da matriz dizendo que
às vezes, as doentes perdem o conhecimento e caem ao solo como na
epilepsia, tendo como diferença das verdadeiras convulsões apenas a
sialorréia e um entorpecimento profundo.
Portanto, guardando-se a distância cronológica entre os relatos de
Platão e de Celso, vemos que o quadro de DNV atravessava vários séculos.
Mas, a trajetória do eloqüente poder dos órgãos sexuais femininos não
atravessava apenas séculos, ele se universalizava entre as diversas culturas
com, basicamente, a mesma teatralidade.
2.
Objetivo geral
Apresentar os principais sintomas do distúrbio neurovegetativo, bem
como, suas causas e, principalmente, descrever de modo claro e objetivo o
que é o distúrbio neurovegetativo, para que não aja mais uma abordagem
errônea dos profissionais de saúde para com o cliente com DNV.
3.
Metodologia
Este é um estudo descritivo exploratório de revisão bibliográfica que foi
realizado no período de junho a julho de 2010. A coleta de dados foi feita
através bibliografias, artigos científicos e internet.
Nessa pesquisa foram utilizados textos que mais contribuíram com o
tema devido ao seu modo de explanação e atualidade sobre o assunto.
4.
Revisão bibliográfica
Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam,
principalmente, à possibilidade que se tem de classificar determinada
personalidade como sendo desta ou daquela maneira de existir. Desta forma,
3
diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e
característico numa determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta
personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-se possível
sua classificação. (BALLONE, G. J. 2005).
Caso ainda esta característica responsável por sua classificação (traço),
subtraia desta pessoa (personalidade) a liberdade necessária para que ela
seja livre e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de
reagir ao mundo (prejuízo), aí então, ao invés de estarmos apenas diante de
certo tipo de personalidade, estaremos diante de um Transtorno de
Personalidade.
No distúrbio neurovegetativo, o traço prevalente e mais unanimemente
reconhecido entre diversos investigadores é o “histrionismo”. A palavra, que
significa teatralidade, surge na Roma antiga para designar como histrião o
comediante que representava papeis.
Portanto, o histrionismo do portador de DNV é representado por seu
caráter afetado, exagerado, exuberante como se estivesse fingindo. Sua
representação sempre varia de acordo com as expectativas da platéia. É um
comportamento caracterizado por colorido dramático, extrovertido e
eloqüente, com notável tendência em buscar contínua atenção. Trata-se dos
únicos distúrbios de personalidade mais freqüentes no sexo feminino.
Os pacientes histriônicos tendem a exagerar seus pensamentos e
sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações
sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não
recebem elogios e aprovações. São pessoas freqüentemente animadas e
dramáticas, tendendo sempre a chamar atenção sobre si mesmas. De início
elas costumam encantar as pessoas com quem travam conhecimento,
principalmente devido ao seu entusiasmo, à aparente franqueza e fragilidade
ou, simplesmente, devido à exímia capacidade de sedução. Tais qualidades,
contudo, perdem sua força à medida que esses indivíduos passam a exigir
continuamente o papel de "dono da festa". Representar papéis é a
especialidade mais meritosa da histérica, assim, com muita propriedade ela
representa a mulher. Vem daí a idéia de que essas pacientes costumam ser
pseudo-hiper-sexuais, retrato superficial de sua pseudo-hiperfeminilidade.
(BALLONE, G. J. 2005).
4.1 Quadro Clínico do DNV
A expansão do saber médico acabou retirando a natureza "demoníaca"
do pitiatismo, mas não conseguiu integrá-la adequadamente em suas
classificações nem em sua seriedade clínica. O DNV desafiou e continua
desafiando a semiologia médica: seus "sinais" e "sintomas" não respeitam
sequer a fisiologia da Medicina, quanto mais à patologia.
E mais do que isto, o DNV subverte a medicina clínica e a “boa
vontade” dos médicos, em suma, até hoje o DNV é encarado como um
transtorno, não do paciente, mas para o médico.
Do ponto de vista descritivo e psicopatológico, o DNV é visto como
uma neurose. Manifesta-se por sintomas variados, incomuns,
bizarros e, muitas vezes, transitórios. Mais comumente é
representado por perturbações sensoriais, como a cegueira, surdez,
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afonia, dores ou anestesias localizadas, enxaquecas, contraturas
musculares, e alterações motoras, através de dificuldades para
andar, paralisias variadas, etc. (BALLONE, G. J. p. 45-113, 2005).
O distúrbio neurovegetativo, em suas variadíssimas formas de
expressão, pode se manifestar através de traços (histriônicos) marcantes de
personalidade, através de Transtornos Histéricos da Personalidade e através
dos Transtornos Histéricos propriamente ditos, como por exemplo,
Transtornos Conversivos, Dissociativos, Hipocondria, etc. De modo geral as
classificações internacionais de doenças mentais consideram incluídos nos
Transtornos Histéricos ou Histriônicos os seguintes quadros: Amnésia
Psicogênica, Fuga Psicogênica, Personalidade Múltipla, Despersonalização,
Síndrome de Ganser, Transtorno de Somatização ou Somatoforme,
Transtorno Conversivo, Transtorno Doloroso, Transtorno Dismórfico e
Personalidade Histriônica.
Um dado muito curioso no quadro clínico da histeria é que a cultura
tem um papel extremamente importante no aparecimento e na forma dos
sintomas. O cliente com DNV, por ser muito sugestionável, “idealiza”
sintomas de acordo com aquilo que representa de verdadeiro. Isso significa
que a doença é intencional e involuntária ao mesmo tempo; há algum
planejamento (inconsciente), mas a pessoa não consegue libertar-se dele
voluntariamente.
Há muito tempo se conhecem as dificuldades encontradas pelos
médicos no manejo clínico com essa clientela curiosa; os pacientes não
doentes. Essas dificuldades se expressam de diferentes formas, com um
traço comum relacionado à sensação de impotência, de desafio, de má fé e
manipulação que eles despertam nos médicos.
Uma característica quase universal do paciente com pitiatismo é sua
dificuldade e relutância em reconhecer a participação do componente
emocional no processo de seu adoecimento. Sua tendência natural, assim
como ocorre com uma parte expressiva dos médicos clínicos, é localizar a
doença no corpo. (CURÁTOLO, E. 2004).
Nos serviços de saúde os clientes com DNV tendem a se tornar
dependentes de psicofármacos e analgésicos, bem como responderem
parcialmente às abordagens psicoterápicas usuais. Parece que quando eles
sentem que podem, de fato, se curarem, insistem em abandonar o
tratamento para manter presentes seus sintomas.
Essa característica de relutância em entenderem-se emocionalmente
adoecidos faz com que muitos profissionais os consideram inabordáveis.
Normalmente eles sentem o encaminhamento para a saúde mental como
uma desistência por parte dos médicos clínicos, como se a equipe não
acreditasse na veracidade de suas queixas e lhes dificultassem a
permanência no sistema de saúde.
Nas situações onde o relacionamento médico-paciente se complica,
normalmente devido ao fato clientes com DNV não aceitarem que o
médico associe suas queixas físicas a algum fator emocional, a
situação fica pior ainda quando o médico sentencia que... “o senhor
não tem nada”, [...] “procure relaxar, tirar essas coisas da cabeça”,
[...] “procure um psiquiatra”, e coisas assim. (CURÁTOLO, E. p. 130201, 2004).
Muitas vezes, diante da constatação clínica de que esses pacientes não
têm nada medicamente palpável, o encaminhamento para a saúde mental
5
funciona como uma espécie de vingança do clínico contra o corruptor da
ordem médica. Esse encaminhamento é como se o profissional se libertasse
do sentimento desagradável de impotência despertado pelo paciente. Na
prática clínica estes pacientes são encaminhados aos ambulatórios de saúde
mental sob o diagnóstico de poliqueixosos, somatizadores crônicos,
portadores de queixas múltiplas ou doentes psicossomáticos.
Outro sintoma que pode acompanhar pacientes histéricos,
notadamente conversivos e dissociativos, e responsável pela antipatia que
eles causam nos médicos e em funcionários da saúde, é a Mitomania. Tratase de ficções criadas pelos próprios pacientes, muitas vezes facilmente
percebidas pelos outros, nas quais eles próprios podem acreditar.
Ainda dentro das características dos clientes com DNV que contribuem
para a reserva com que são recebidos pelos serviços de saúde, está a
sensação que eles transmitem de perturbarem a ordem dos serviços. Não é
incomum que façam complôs com outros enfermos, que promovam intrigas e
semeiem discórdia entre o pessoal do serviço de saúde. De fato, a
personalidade histérica ameaça e provoca e, apesar de sedutora, não se pode
confiar, pois mente e frustra as expectativas dos médicos, do cônjuge, do
amante, dos parentes, etc.
A dificuldade de classificação médica desses pacientes começou desde
que o diagnóstico de neurose histérica, onde se inclui a maioria desses
pacientes, foi desmembrado pelas classificações internacionais (CID.10 e
DSM.IV). Desde então, ainda não se obteve uma uniformidade quanto á
classificação desses casos. (CURÁTOLO, E. 2004).
Apenas do ponto de vista do politicamente correto, consideramos que,
de certa forma, a CID-10 representou um avanço no sentido de agrupar os
pacientes com queixas múltiplas e difusas numa outra alternativa
nosológica; os Transtornos de Somatização. Com esse nome, as pessoas,
antes tidas histéricas, puderam ser também consideradas à luz de alterações
afetivas, além das comportamentais.
4.2 Nomenclaturas (distúrbio da conversão, da dissociação, da
somatização, neuro vegetativo e ou pitiatismo)
Há, como sempre houve, uma grande dificuldade de nomenclatura e
classificação dos quadros onde o componente com distúrbio da
neurovegetação é evidente. Para facilitar, didaticamente vamos considerar
essas situações todas como fazendo parte dos Quadros do Espectro
Histérico.
Tanto os Transtornos Somatoformes, quanto os fenômenos
Dissociativos e Conversivos, podem ser considerados transtornos
psicorreativos, ou seja, aparecem sempre em resposta ou reação a algum
evento de vida, a alguma emoção. Trata-se de uma resposta emocional a
uma vivência traumática.
De modo geral, o Transtorno de Somatização se caracteriza pelo salto
do psíquico para o orgânico, com predominância de queixas relacionadas aos
órgãos e sistemas (cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), na Conversão
existe igualmente um salto do psíquico para o orgânico, mas, com
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repercussão no “sistema de comunicação” da pessoa com o mundo, ou seja,
em sua mímica, seus cinco sentidos, sua mobilidade e coordenação motora.
Nos distúrbios de Dissociação há, da mesma forma, um salto do
psíquico, porém, um salto do psíquico para o próprio psíquico. Aqui são
afetadas a consciência e integração da pessoa com a realidade.
Todos esses sintomas do Espectro Histérico são reversíveis e não
obedecem à realidade orgânica ou fisiologia médica conhecida. Eles
obedecem sim, a uma representação emocional que o sujeito tem de seus
conflitos, de seu corpo e de seu funcionamento. Assim podemos observar
uma perda total da visão em paciente com DNV, sem que o reflexo fotomotor se encontre alterado. Vale acrescentar que não se trata de simulação,
os sintomas simbolizam a nível corporal, um conflito inconsciente.
Enquanto o Transtorno de Somatização se caracteriza pela
predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas
(cardiovascular, digestivo, respiratório, etc.), no Distúrbio de Conversão
estão comprometidas à funcionalidade dos órgãos e a capacidade de
comunicação corporal social. Os problemas de Somatização normalmente
envolvem a clínica médica devido ao comprometimento dos diversos órgãos,
enquanto os transtornos Conversivos guardam uma grande semelhança com
os problemas neurológicos.
Assim sendo, na Conversão os sintomas aparecem sob a forma de
perda da função de um ou de vários atributos necessários à vida de relação.
Isso significa que a musculatura estriada e os órgãos sensoriais são
afetados, podendo fazer surgir paralisias, anestesias, afonias, cegueira,
crises convulsiformes, contraturas, desmaios, etc. Há uma perda parcial ou
completa da integração normal da consciência.
Esta perda do controle da consciência foi anteriormente denominada de
Histeria de Conversão. Atualmente prefere-se a denominação de Conversão e
Dissociação (CID.10) para os fenômenos onde o indivíduo fica,
repentinamente, dissociado dos estímulos internos e externos. Trata-se da
expressão de um conflito ou necessidade psicológica, onde os sintomas da
perturbação não são voluntariamente produzidos e não podem ser
explicados, após investigação apropriada, por qualquer mecanismo clínico
conhecido.
Classicamente o Transtorno Conversivo se manifesta por sintomas que
sugerem uma doença neurológica, tais como paralisias, afonia, convulsões,
perturbações da coordenação, acinesias, discinesias, cegueira, anestesias e
parestesias. Como principal característica psíquica associada ao Distúrbio
de Conversão, funcionando como uma espécie de personalidade pré-mórbida
ou pré-requisito para a doença, está o Transtorno Histriônico (ou Histérico)
da Personalidade. (GROOPMAN, J. 2007).
É muito importante fazermos uma boa diferenciação entre sintomas
conversivos e sintomas psicossomáticos, embora seja bom sabermos que
essas duas manifestações também podem ocorrer num mesmo paciente com
distúrbio da neurovegetação.
Quando vivenciamos algum acontecimento, nossa percepção da
realidade vem sempre acompanhada de um determinado afeto.
Posteriormente, a evocação do ocorrido em nossa memória (representação)
virá sempre acrescida do afeto que lhe foi peculiar à época da vivência.
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Na Conversão e Somatização, a representação da realidade vivenciada,
quando penosa, desagradável ou traumática é reprimida para o inconsciente
e seu afeto, ou sua energia psíquica, é deslocada para uma zona do corpo,
geralmente implicada na cena traumática, convertendo-se em sintoma.
Isso pode ser o que acontece, por exemplo, em um cliente que chega
“torto” (contratura) ao consultório, após ter participado de algumas
práticas sexuais com o namorado, caso essa situação estivesse em
choque com seus valores morais. Nesses casos não existem lesões
orgânicas, embora sempre exista a queixa do sofrimento.
(GROOPMAN, J. p. 15-33, 2007).
Essas queixas conversivas, ou alterações funcionais, independem da
anatomia real do corpo, ao contrário dos casos psicossomáticos, onde há
sempre uma correspondência física. Na Doença Psicossomática existe, de
fato, alteração orgânica, embora seja desencadeada, determinada ou
agravada por razões emocionais.
Outra diferença se refere aos órgãos implicados quando se trata de
fenômeno conversivo. Na Doença Psicossomática o Sistema Nervoso
Autônomo (SNA) é que seria mais atingido. Alguns autores aceitam a idéia de
que, na Doença Psicossomática, o afeto seria suprimido devido alguma
dificuldade para reconhecer e verbalizar sentimentos e emoções (alexitimia).
Resumindo, a maneira mais didática de entender essa sucessão de
termos parecidos e confusos pode ser assim:
TERMO
SIGNIFICADO
Somatiforme ou
Somatoforme
Toda patologia psíquica que se faz
representar no orgânico ou físico.
Somatização
Quando a parte física envolvida diz respeito
aos órgãos e sistemas (circulatório, muscular,
respiratório, vagina.)
Conversão
Quando a parte física envolvida diz respeito à
comunicação corporal da pessoa (cinco
sentidos, musculatura, coordenação.)
Dissociação
Quando a parte envolvida diz respeito ao
próprio psiquismo (confusão mental, delírios,
desorientação.)
Psicossomática
Doenças determinadas, agravadas ou
desencadeadas por razões emocionais com
alterações orgânicas constatáveis (asma,
hipertensão, dermatites, diabetes).
Tabela extraída do livro NAVARRO, F. Somatopsicopatologia. Editora
Summus, p. 48, 1996.
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Uma classificação bastante sensata desses distúrbios, principalmente
do DNV, é oferecida pelo DSM.IV (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders - American Psychiatric Association, 1994). Com objetivo
exclusivamente didático, foi elaborado uma classificação que aproveita a
classificação do DSM.IV e da CID.10 para os quadros do espectro histérico.
4.3 - Transtornos somatoformes
Transtorno de Conversivo
Transtorno Somatização
Transtorno Doloroso e Hipocondríaco
Transtorno Neurovegetativo
Transtorno Dismórfico Corporal
4.4 - Transtornos dissociativos
Amnésia Dissociativa
Fuga Dissociativa
Transtornos dissociativos do movimento
Convulsões dissociativas
Anestesia e perda sensorial dissociativas
Transtorno Dissociativo de Identidade (Personalidade Múltipla)
Estupor dissociativo
Estados de transe e de possessão
Transtorno de Despersonalização
Síndrome de Ganser
4.5 Critérios de diagnóstico para distúrbio neurovegetativo
No distúrbio neurovegetativo o paciente atribui seus sintomas a um
transtorno somático de um órgão ou sistema controlado pelo Sistema
Nervoso Autônomo (ou neurovegetativo). A diferença, se é que existe e vale a
pena fazer, entre o Transtorno Neurovegetativo e o Transtorno de
Somatização é que nesse último existem as queixas, mas não existem
alterações clinicamente constatáveis como seria o broncoespasmo da asma
ou a vasoconstrição arterial da hipertensão. No Transtorno Neurovegetativo,
por sua vez, existem alterações funcionais sem lesão ou alteração
morfológica, como ocorre no Transtorno Psicossomático. (NAVARRO, F.
1996).
Normalmente as queixas neurovegetativas dizem respeito de um
funcionamento alterado, a um hiper ou hipofuncionamento, como por
exemplo, palpitações, transpiração, ondas de calor ou de frio, tremores,
assim como por expressão de medo e perturbação com a possibilidade de
uma doença física.
No sistema cardiovascular, por exemplo, pode haver aceleração da
freqüência sem nenhuma correspondência clínica. Para ilustrar
melhor as diferenças de classificação podemos dizer que, se fosse
uma Somatização no sistema cardiovascular, teríamos uma
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palpitação sem aumento da freqüência ou uma dor sem alterações
orgânicas. Se fosse um Transtorno Psicossomático do sistema
cardiovascular teríamos uma extrassistolia de fundo emocional
eletrocardiologicamente constatável. No Transtorno Neurovegetativo,
por sua vez, teríamos um aumento da freqüência sem causa clínica
aparente. (NAVARRO, F. p. 85-102, 1996).
No sistema gastrintestinal o Transtorno Psicossomático pode se
manifestar como aerofagia, flatulência, cólon irritável, diarréia, dispepsia,
piloroespasmo, etc. Se fosse um Transtorno Psicossomático teríamos a
úlcera digestiva, a retocolite ulcerativa, etc. No sistema respiratório
costumam haver hiperventilação, suspiração, soluços, tosse persistente. O
Transtorno Psicossomático nesse sistema seria representado pela asma
brônquica (com broncoespasmo constatável).
Na parte urogenital os sintomas neurovegetativos dizem respeito à
disúria, polaciúria, nictúria, urgência miccional, etc.
4.6 Sintomas do distúrbio neurovegetativo
a) vômitos.
b) constipação.
c) diarréia.
d) dor torácica.
e) náuseas.
f) tonturas.
g) dor abdominal.
h) disfagia.
i) Palpitações (Diferenciação do Ritmo Cardíaco).
j) sensação de desmaio.
k) tremores corporais.
l) sudorese.
m) dor inespecífica.
n) dispnéia.
Simplificando, acontece uma sobrecarga no organismo neurocentral,
denominada também de pane geral, onde o sistema nervoso sofre danos
reparáveis e não sendo de sérias proporções com retorno do perfeito estado
clínico, o organismo consecutivamente, e de modo claro falando apaga
completamente, más envolvendo e controlando órgãos internos, apenas o
tecido osteomuscular, isto funciona basicamente como um relaxante. O
indivíduo que se encontra neste estado, sente leve dormência em seus
membros superiores e inferiores, disritmia cardíaca, desnível de pressão
arterial e outros. (SIMONETTI, A. 2004).
Vale lembrar que qualquer sintoma deve ser encarado à priori como
de possível doença física , só podendo ser classificado como
psicossomático apos afastar-se causas orgânicas. (SIMONETTI, A. p.
85-144, 2004).
5. Conclusão
As representações subjetivas e psíquicas dos sintomas sentidos pelo
paciente refletem sempre seu perfil sócio-cultural. Em camadas menos
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diferenciadas da população notamos queixa de sintomas muito simples,
como por exemplo, a menstruação que sobe para a cabeça, o sangue sujo,
uma dieta pós-parto mal conduzida, a conseqüência desastrosa de olhar no
espelho depois da refeição, uma mistura fatal de manga com leite, sustos
capazes de provocar paralisias e assim por diante. Nos níveis mais
diferenciados a representação da doença é melhor elaborada, como por
exemplo, uma polineurite conseqüente à hipersensibilidade à algum
medicamento.
A manifestação emocional somatizada não respeita a posição sóciocultural do paciente, como podem suspeitar alguns, não guarda também
relação com o nível intelectual, pois, como se sabe, a emoção é senhora e
não serva da razão. O único fator capaz de atenuar as queixas é a
capacidade de a pessoa expressar melhor seus sentimentos verbalmente.
Quanto maior a capacidade de o indivíduo referir seu mal-estar através de
discurso sobre suas emoções, como por exemplo, relatando sua angústia,
sua frustração, depressão, falta de perspectiva, insegurança, negativismo,
pessimismo, carência de carinho e coisas assim, menor será a chance de
representar tudo isso através de palpitações, pontadas, dores, falta de ar,
etc.
Um dos primeiros passos para o tratamento dos pacientes com DNV
deve ser conscientizá-los sobre a importante participação dos fatores
emocionais na sintomatologia queixada, tentar uma mudança no significado
cultural de suas doenças e incentivar maior honestidade pessoal sobre sua
natureza emocional. O inimigo natural desta iniciativa tem sido sempre o
aspecto depreciativo das ocorrências histéricas, ou o caráter ficcioso que a
sociedade empresta aos componentes psicogênicos dos sintomas, ou ainda, à
falsa idéia de que toda ocorrência psíquica depende da boa vontade do
paciente e de sua cooperação voluntária.
Entre os próprios médicos ainda é muito forte a idéia de que o cliente
com DNV tenta enganá-los ou procede de má-fé. Às vezes e intimamente, o
médico se aborrece porque as queixas somatiformes não obedecem ao que
ele aprendeu nos livros tradicionais de medicina e, tão diferentes assim eles
passam a representar um desafio a seus conhecimentos científicos e
fisiopatológicos.
O distúrbio neurovegetativo é um transtorno crônico e flutuante mas
raramente apresenta remissão ou cura completa. É raro passar um ano sem
que o indivíduo busque algum atendimento médico, normalmente levado por
queixas somáticas medicamente inexplicáveis. Os critérios de diagnóstico
tipicamente são satisfeitos antes dos 25 anos, mas os sintomas iniciais
freqüentemente estão presentes desde adolescência. Os sintomas sexuais
freqüentemente estão associados com desajuste conjugal.
6. Referencial bibliográfico
1. ALBUQUERQUE, O. À sombra de Hipócrates: Narrativas. Volume 33 da
coleção Humanidades, Editora APPACDM Distrital de Braga, 2010
2. BALLONE, G. J. Transtornos do Espectro Histérico. in. psiqweb, 2005.
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3. CURÁTOLO, E. Psiquiatria Infantil. Editora Malole LTDA, 2004.
4. GROOPMAN, J. Como os Médicos Pensam. Editora Agir LTDA, 2007.
5. NAVARRO, F. Somatopsicopatologia. Editora Summus, 1996.
6. SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. 4ª Edição – Editora
Casa do Psicólogo LTDA, 2004.
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