UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS DSC VOD-K São Carlos – janeiro/200 Objetivo: Determinar as temperaturas de transição característica de um polímero, o grau de cristalinidade para o PET, através da análise térmica de DSC. Introdução: Análise térmica é o conjunto de técnicas que permitem medir as mudanças de uma propriedade física de uma substância e/ou de seus produtos de reação em função da temperatura, enquanto a substância é submetida a uma programação controlada de temperatura. O DSC é uma técnica na qual se mede a diferença de energia fornecida à amostra e a um material de referência, termicamente inerte na faixa de temperatura considerada no experimento, ou o fluxo de calor entre amostra e referência de modo a se manter as substâncias em condições isotérmicas uma em relação a outra, enquanto ambas são submetidas a programação controlada de temperatura. Existem dois tipos de equipamentos de DSC: o DSC de compensação de potência e o DSC de fluxo de calor. Devido ao equipamento utilizado ser o DSC de fluxo de calor (da DuPont), então fará apenas a descrição deste. Neste tipo de equipamento cápsulas contendo amostra e referência são posicionadas em um disco que permite a transferência de calor entre as duas substâncias, de modo que ambas mantenham-se sempre em condições isotérmicas uma em relação a outra, independente da programação de temperatura a que estão sendo submetidas. Assim, quando a amostra sofre uma transição endotérmica ocorre transferência de calor da referência para a amostra, e quando ocorre uma transição exotérmica a transferência de calor ocorre da amostra para a referência. Conforme o calor é transferido através do disco, o fluxo de calor diferencial entre amostra e referencia é monitorado. Os termopares são conectados em série e medem o fluxo de calor diferencial usando o equivalente térmico da lei de Ohm: dQ/dt = T/RD ( dQ é o fluxo de calor; dt é o intervalo de tempo considerado; T é a diferença de temperatura entre a referencia e amostra e RD é a resistência térmica do disco). Existem algumas características dos polímeros que modificam as curvas de DSC, como: - Temperatura de transição vítrea: Caracterizada por uma mudança na linha base. É a temperatura na qual se inicia o movimento de segmentos da cadeia polimérica. - Temperatura de fusão cristalina: Caracterizada por um pico endotérmico. A fusão é uma característica de polímeros semicristalinos. Polímeros amorfos não apresentam pico de fusão quando submetidos ao aquecimento em DSC. - Temperatura de cristalização: Caracterizada por um pico exotérmico. O estudo da cristalização de polímeros é importante para se entender sua morfologia, e também em operações práticas na fabricação de plásticos, tais como extrusão e fiação de polímeros fundidos. O modo de cristalização afeta a densidade e a cristalinidade de polímeros e consequentemente suas propriedades mecânicas, térmicas e óticas. Alguns fatores importantes que influenciam a cristalização, tais como massa molar do polímero e a taxa de resfriamento (K/min), podem ser convenientemente estudados por DSC. A taxa de cristalização é, em geral, inversamente proporcional à massa molecular do polímero e a diferença entre a temperatura de fusão e o inicio da cristalização é diretamente proporcional à taxa de resfriamento. O grau de cristalinidade está diretamente relacionado às condições de resfriamento, consequentemente, da cristalização do polímero. A confiabilidade e reprodutibilidade dos dados de calor de reações e de transições medidos por DTA/DSC dependem da eliminação de fatores que não estão diretamente relacionadas com o calor absorvido ou liberado pela amostra. Esses fatores são divididos em fatores ligados ao aparelho e que podem ser controlados, tais como: taxa de aquecimento, atmosfera do forno, tipo de cápsula usada; e também os fatores relacionados às características da amostra, tais como: massa, condutividade térmica, granulometria e empacotamento da amostra. A técnica de DSC, aplicada a polímeros pode nos fornecer ainda: - temperaturas de transição vítrea, cristalização e fusão; - variações de entalpia dos processos; - calor específico; - porcentagem de cristalinidade; - presença de moléculas de água ligadas; - estudo das reações de polimerização e de cura; - avaliação da degradação térmica e oxidativa, entre outras características. Resultados e Discussões: Os gráficos obtidos para as duas análises estão em anexo. Os valores obtidos no termograma de DSC para Tg, Tm, Hf, Tc e Hc para o primeiro aquecimento são: Tg = 59C Tm = 234,25C (temperatura extrapolada) = 247,46ºC (temperatura de pico) Hf = 38,72 J/g Tc = 208,72oC (temperatura extrapolada) = 197,35oC (temperatura de pico) Hc = 43,46 J/g Os valores obtidos no termograma de DSC para Tg, Tm, Hf, Tc e Hc para o segundo aquecimento são: Tg = 73 ºC Tm = 235,87ºC(temperatura extrapolada) = 248,09ºC (temperatura de pico) Hf = 38,32 J/g Os valores de Tg encontrados na literatura para o PET amorfo, cristalino e cristalino e orientado foram de: 67C, 81C e 125C respectivamente. Esses valores são sensíveis à morfologia semi-cristalina. Comparando-se esses valores com o obtido pelo DSC para o primeiro aquecimento, pode-se concluir que a amostra é de um PET de cristalinidade relativamente baixa, devido ao seu valor de Tg próximo ao valor de Tg para o polímero amorfo. Comparando-se os valores para o segundo aquecimento, poderia-se supor que o maior valor de Tg apresentado seria devido a um aumento da cristalinidade, após o “tratamento térmico” a que a amostra foi submetida, e este fato poderia ser comprovado obtendo-se o novo Hc e calculando a nova cristalinidade. Os valores de Tm encontrados na literatura estão na faixa de 250 a 270C esses valores são para o PET 100% cristalino. O valor obtido experimentalmente foi inferior, como esperado, pois o PET analisado apresenta uma cristalinidade menor. Para um novo aquecimento, observou-se que os novos valores de Tm e Hf estão bem próximos dos valores obtidos anteriormente. Caso a amostra tivesse sido preparada a partir de dois “pellets” ou mais, poderia ter ocorrido uma separação dos “grãos” que ocasionaria a ocorrência dos dois picos observados (um fundiria primeiro que o outro), mas no experimento foi usado um único “pellet”, desconhecendo-se, dessa forma, a origem desse dois picos. Os valores de Hf encontrados na literatura variam de 113 a 144 J/g, para o PET 100% cristalino, dependendo dos autores que o determinaram. Para se escolher um valor e compará-lo com o obtido experimentalmente, deve-se analisar as condições desenvolvidas por cada autor para a determinação do Hf e escolher aquele em que as condições são mais próximas às usadas no experimento. O valor de Hf obtido experimentalmente foi na faixa de 38,72 J/g, valor este que está muito diferente do encontrado na literatura. Esta diferença está no fato de que o valor da literatura refere-se ao PET 100% cristalino e a amostra em estudo possui uma cristalinidade de aproximadamente 30%, como será visto através do cálculo da porcentagem de cristalinidade a seguir: % C = Hf(amostra) x 100 Hf(100% cristalino) Escolheu-se, arbitrariamente (dentro da faixa apresentada na literatura), o H de fusão do PET 100% cristalino como sendo 144 J/g e calculou-se o grau de cristalinidade da amostra de PET estudada. % C = 38,72 x 100 = 26.89 % 144 Conclusão: Pode-se concluir que o método de DSC é um bom método para se estudar e caracterizar um polímero. É um método relativamente simples, requer pouca quantidade de amostra, e oferece uma boa quantidade de informações, sendo que estas são relativamente fáceis de serem analisadas e comparadas. Além disso existem uma série de fatores que influenciam na curva obtida, que devem ser controlados e que podem ser estudados ( ex.: granulometria da amostra, taxa de aquecimento/resfriamento, atmosfera, etc.). No experimento em questão, concluiu-se que os valores encontrados para Tg, Tm, Hf e %C estão bastante coerentes. Bibliografia: - Simal, A.L., - Estrutura e Propriedade de Polímeros -, parte I, U1 eU2, DEMa, UFSCar, 1992; - Billmeyer Jr, F.W., - Textbook of Polymer Science -, 3rd Ed., J. Wiley & Sons – Inst. Publ., 1973; - Collins, E.A., Bares, J., Billmeyer Jr, F.W., - Experiments in Polymer Science -, J. Wiley & Sons – Inst. Publ. 1973. - Machado, L.D.B.,- Calorimetria Exploratória Diferencial Aplicada ao Estudo de Polímeros -, ABPol, 1999; - Handbook of polymer.